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Cap.

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O próximo trambique seria realizado na cidade de Hortolândia por indicação de


Jorge Fagundes. Elias deveria se passar por um Bispo Italiano vindo do vaticano ao
Brasil. Esta visita especial seria feita a Capela de São Marcos, uma das mais antigas de
São Paulo. A mesma tinha sido tombada pelo Patrimônio Histórico do Estado, porém,
ainda estava aguardando verbas para uma restauração. Elias deveria interpretar o Bispo
que custearia a reforma da igreja, Juliano Fagundes e seu irmão Mauro seriam os
restauradores vindos de Palermo na Itália, Jorge Fagundes lhes concederia um furgão
para transportarem o ouro e a prata da Capela. O metal precioso guardado lá dentro,
estava avaliado no mercado negro em novecentos mil reais a um milhão e meio. A
igreja fora construída na época da colonização e reformada no tempo do império. O
ouro e a prata que os portugueses usurparam das reservas indígenas da região, foram
utilizados em sua decoração. O metal derretido seria transformado em barras, assim
Elias teria sua parte e os Fagundes a deles.

Antes de partirem, Elias ensaiava seu novo personagem que se vestia com os
adornos clericais de um superior da igreja. Um crucifixo folheado a ouro que deveria se
passar por ouro maciço. O cabelo era uma peruca bem lisa e negra junto com lentes de
contato azuis, isso dava um ar italiano à figura clerical. O jeito de andar era lento como
se carregasse a imagem de uma santa nos braços. O sotaque era mais italiano que
brasileiro e levemente afetado. Estava pronto o tal Bispo Italiano que se chamaria:
‘Viadoluto de Chipre’.

Partiram a Hortolândia em dois carros, Elias com sua família e Fagundes com a
dele. Paulete e L ficariam num hotel e Elias ficaria hospedado na Capela de São
Marcos. O Bispo Viadoluto de Chipre trazia um documento importantíssimo vindo do
vaticano, era uma ordem judicial escrita em latim (assinada por Vossa Santidade o
Papa). No documento, o Pontífice autorizava a disponibilização de um cheque em
branco, poderia ser assinado por qualquer um dos guardiões da Capela. O Falso Bispo
Italiano e o cheque, ambos foram muito bem recebidos pelos Padres.

O Padre que realizava as missas chamava-se Aluísio e o Pároco assistente se


chamava Crispiniano. A igreja estava em péssimas condições: o madeiramento
carcomido pelos cupins, as paredes com rachaduras enormes e o teto ameaçando
desabar nas cabeças dos fiéis. Numa volta que Elias deu dentro da Capela já conseguiu
perceber os relicários e imagens de ouro e prata. Para facilitar as coisas deveria
conquistar a confiança dos Padres que já acreditavam que ele fosse um Bispo vindo do
vaticano, só para custear a restauração de um Patrimônio brasileiro. Teria que entrar no
quarto deles e dopá-los, para que dormissem o suficiente, pelo menos até que o roubo
das relíquias fosse efetuado. Jorge Fagundes não lhe deu muito tempo, ele só teria três
dias para facilitar a entrada do grupo na igreja.

O comportamento dos dois Padres punha suas masculinidades na berlinda de


Elias: eram bastante trejeitados e efeminados para não serem gays. Neles tudo era
afetado em demasia: desde a maneira como seguravam uma taça de vinho (assim com o
dedo mindinho erguido e levantado à frente dos outros). Ou o andar meio rebolado dos
quadris. No jeito de falarem possuíam uma entonação efeminada, imitando muito mau a
voz feminina. Também usavam um falso sotaque italiano que parecia um arremedo da

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voz do Papa. Do mesmo modo que um malandro conhece o outro apenas de olhar: Elias
que era gay sentia que os Padres também eram. Só restava saber se gostavam mais de
ser ativos ou passivos. Dependendo da opção-homossexual dos religiosos, naquela
mesma noite sua operação estaria terminada.

O quarto dos dois Padres ficava no andar de cima, próximo ao sino da Capela.
O quarto onde ficaria hospedado o Bispo Viadoluto era no andar de baixo, perto do
confessionário, não era muito confortável, mas as condições da igreja também não o
permitiam que fosse. Um quartinho simples onde se hospedava o Bispo João Pinto no
Rego, daquela diocese. Tinha uma cama de casal, o que era um pouco estranho a um
homem celibatário, mas Elias não estranhou muito, pois assim como existem casais que
gostem de dormir em camas separadas, também existem solteiros que gostem de mais
espaço na hora de dormir.

Foi procurando um livro que não fosse à bíblia para distrair-se que descobriu os
fetiches do Bispo: um creme lubrificante para sexo anal. Uma revista G Magazine.
Revistas e vídeos gays. Um envelope de preservativos e a fotografia de um rapaz muito
bonito. O jovenzinho da foto aparecia numa pose submissa em que beijava a mão do
Sacerdote (deveria ter uns 15 a 18 anos, no máximo). Se já sabia o segredo do Bispo,
restava saber os dos Padres.

Teve três provas da orientação sexual dos religiosos, durante o almoço se


trataram por seus apelidos, Aluísio era Lili e Crispiniano era Pinpim. Os nomes eram
comuns, mas os apelidos não eram lá muito másculos. Depois do almoço veio à sesta.
Com a desculpa de ver o quarto em que os Padres dormiam, Elias foi junto com eles
bisbilhotar: a cama era de casal e ainda maior que a do Bispo João Pinto no Rego. Se os
dois dormiam juntos, formavam um casal e isto desfazia por completo suas esperanças
de conquistar os religiosos. Um pouco mais tarde as esperanças de Elias voltaram: o
bairro em que ficava a Capela de São Marcos chamava-se Nova Viena e era um bairro
bem pobre, onde meninos e meninas carentes se prostituíam. Aconteceu uma coisa que
o levou a crer que os Padres eram Gaysófilos (ou seja, eles deveriam ser uma mistura de
Gays e Pedófilos).

Ali pelas 6:0h da tarde, dois rapazinhos de Nova Viena visitaram a paróquia,
pareciam íntimos de Padre Lili e Padre Pinpim, pois foram chegando e subindo a escada
que conduziria ao aposento dos religiosos. As portas ficaram fechadas numa situação
estranha, onde havia dois homens e dois meninos, um quarto e apenas uma cama de
casal. Elias não precisou ir lá em cima para saber o que estava acontecendo. Lá embaixo
ele ficou segurando um rosário de orações e rezando o Pai Nosso, para que o tempo
passasse. Quando os meninos desceram os degraus da escada, já estava quase na hora da
missa, poucos foram os fiéis que assistiram à celebração.

Os Padres dormiam cedo, às nove da noite se recolheram. Elias esperou até que
o silêncio da noite viesse e falasse de desejos escondidos, mas o que o silêncio não
pergunta, também não sabe responder. Somente os dois homens deitados e abraçados lá
em cima, poderiam falar daquilo que nenhum de seus crentes saberia entender. Elias
sabia a resposta, porque além de não crer, era gay assumido. Era homossexual, mas não
era um ‘Doente’ como seu pai queria que ele pensasse que fosse. Riu de si mesmo por
aquela ironia do destino: “O Pastor odiava os Padres e naquela noite seu filho
adormeceria entre eles”.

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Subiu devagar até a porta do quarto e quem veio atendê-lo foi o Padre Lili.
Elias inventou a desculpa predileta das mulheres e crianças: estava com medo de dormir
sozinho. Não sabia o porquê, mas sabia que estava com medo! A Capela de São Marcos
com suas paredes caindo aos pedaços era assustadora. O vento que uivava lá fora se
parecia com os uivos dos lobos no cio: isto tudo, eram coisas que deveriam fazer tremer
os corações solitários. Ele, o Bispo Viadoluto, era um servo de Deus e dos homens,
mas, no entanto, não tinha quem o servisse de companhia, numa noite fria como aquela.
A chorumela sentimental pareceu surtir o efeito desejado. Em pouco prazo os três
homens dividiam a mesma cama.

Vestiam-se com uma espécie de camisolão branco eclesiástico, Padre Lili


estava deitado à direita, a esquerda estava Padre Pinpim. Entre os dois clérigos o Bispo
Viadoluto se exprimia, por causa do espaço reduzido da cama: afinal, a cama era
grande, mas não tinha sido feita para um trio. Elias pensou que se eles fossem gays
realmente, tomariam a iniciativa de uma aproximação física. Depois se condenou por
pensar tal coisa (aquilo era um preconceito, não era porque um homem era gay que
sairia por aí se agarrando com outro, assim sem mais nem menos). Poderiam ser
homossexuais, mas não eram prostitutos. Para certas coisas é preciso o romantismo, mas
como preliminar de uma paixão só será necessário às situações e as aparências dos
envolvidos ou do cenário que os envolve. Os Padres já sabiam que ele sabia de suas
preferências sexuais. A situação de estarem deitados juntos favorecia a todos. A
aparência deles e do lugar o agradava, se ele os agradasse pela sua aparência, então o
amor aconteceria antes do amanhecer. Elias encostou suas nádegas em Padre Pinpim,
este em resposta as acariciou.

Elias acariciado nas nádegas disse:

__O que sai da boca vem do coração e se entrar alguma coisa por aí, eu juro
que te eu excomungo! Escolha outro lugar pra por sua mão!

É claro que a ameaça de excomunhão foi dita tom de brincadeira e era mais um
convite às vontades do Falso Bispo. Elias virou-se de barriga para cima dando a
entender que era Gay-Ativo, tanto pela posição em que ficou quanto pela rigidez de seu
membro. Padre Lili foi quem pareceu entender melhor aquele recado: de uma maneira
tímida começou a acariciar o abdômen masculino. Sua mão esquerda desceu pela trilha
cheia de pelos, como uma serpente a rastejar, sobre uma pedra de mármore (desceu
lentamente até alcançar o órgão que já implorava por seus carinhos). Padre Pinpim
beijou de leve o rosto daquele que já era objeto da atenção do colega: este virou seu
rosto de frente ao dele e os dois beijaram-se como amantes.

O Bispo Viadoluto disse com uma voz vigorosa:

__ Que seja feita a nossa vontade... Façamo-nos amor de verdade!

Com aquela rima melosa que parecia letra de Sertanejo Universitário, o ato da
paixão teve início. Elias que era um transmissor de doenças venéreas por opção, teve a
ideia de dar aos religiosos o mesmo castigo que deu a Julia, ou seja, um monte de sarnas
para se coçarem acompanhadas por uma coleção de doenças sexualmente
transmissíveis. Usou a desculpa do esquecimento: dizendo que seus preservativos

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ficaram lá na Itália. Não adiantou, pois os Padres estavam prevenidos e tinham uns 30
envelopes de camisinhas, mas o Bispo Viadoluto lhes disse que era alérgico a
preservativos fabricados em outros países, ou deixavam de usar, ou usavam e deixavam
de fazer...

Os Padres optaram pela irresponsabilidade sexual (mal sabiam o que lhes


aguardava) sarna para se coçarem; sífilis e talvez até AIDS. Só não engravidariam
porque, devido às próprias leis da natureza isto seria um milagre. A festa a três começou
a noite, indo até alta madrugada: quando os olhos não queriam dormir, mas os corpos já
imploravam por um descanso.

No silêncio nascido do esgotamento sexual, veio às conversações da amizade.


Elias entendeu o quanto os dois religiosos eram carentes de atenção, seus dois ombros
foram usados pelos clérigos, enquanto desabafavam seus conflitos de existência.
Acontece que os votos de castidade do catolicismo eram muito rígidos, além disso,
quase todos os devotos da castidade seguiam a risca estes preceitos. Talvez os dois
Padres e o Bispo João Pinto no Rego, fossem os únicos sacerdotes do mundo,
envolvidos em homossexualismo e pedofilia. Por isso, sentiam falta de alguém com
quem pudessem falar a respeito destas coisas. Depois de saberem da orientação sexual
do Bispo Viadoluto, eles tinham mais uma alma gêmea com que desabafarem. Longe
das formalidades de um confessionário, vieram as declarações que só a alcova dos
amantes poderia permitir. Falaram sobre tudo que ainda era considerado como tabu
(homossexualismo, pedofilia, sexo seguro, doenças venéreas, escândalos envolvendo a
proteção do vaticano, Ateísmo e mais uma infinidade de coisas). O que conversaram se
fosse escrito, daria um livro de umas 10.000 páginas.

Cada um dos três homens contou sua história, os Padres contaram as deles
primeiro. Elias ficou calado e ouvindo, para ter tempo de inventar o que contar.

Padre Aluísio jamais teve dúvidas de suas tendências homossexuais, mas


devido à religiosidade de sua família sempre reprimiu seus sentimentos. Sua mãe dizia
que ele deveria orar para afastar o mal. O rapaz perguntou quando saberia sobre a cura
de suas tendências homossexuais. Sua mãe disse-lhe: “Quando sentir que o que sente é
um mal, então é porque as preces estão funcionando.” Não funcionou, com a puberdade,
o efeito colateral dos desejos reprimidos era a ânsia de saciá-los. Sua mãe ainda lhe
revelou que teve um sonho: nele, viu Jesus Cristo nitidamente, este queria Aluísio em
suas obras.

O Padre Aluísio agiu por muito tempo contra sua natureza, mas além de não
deixar de ser gay, ainda tornou-se pedófilo. O medo de ser repreendido pelos homens
mais velhos o levava a abusar da inocência dos mais jovens. Arrependeu-se de ter feito
os votos, mas já era tarde para trilhar outros caminhos.

Padre Crispiniano sempre foi um religioso e lia a bíblia até três vezes ao dia,
queria mesmo era tornar-se Pastor, mas na adolescência desistiu do sonho. Foi quando
perdeu sua virgindade com uma garota que decidiu que queria ser Padre. A menina
contou seus defeitos para todo o colégio onde estudavam: Crispiniano tinha um pênis de
uns cinco centímetros quando estava ereto e flácido deveria ter de um a dois cm. Ainda
por cima tinha ejaculação precoce (a moça que o desvirginou saiu dizendo que seu
órgão genital parecia um grão de amendoim). A somatória destas qualidades, contadas

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numa boa prosa o fez motivo de deboche. Entrou para o seminário pensando num
compromisso que o levasse a castidade: então descobriu o homossexualismo passivo,
onde a ejaculação e o dote não fazem diferença. Disse também que a pedofilia veio
como consequência de suas carências afetivas, gostava dos meninos pobres porque estes
não tinham dinheiro, enquanto ele tinha o dinheiro, mas lhe faltava outras coisas...
Assim todos estavam na falta de algo e poderiam se compensar.

Elias pensou que aquele fosse o momento de fazer alguma coisa boa: nunca
tinha parado para pensar na Pedofilia, mas depois de se tornar um pai adotivo percebeu
as consequências horríveis que os Pedófilos trazem à sociedade. É verdade que este
desvio de conduta nos Padres era algo muito raro, uma coisa da qual quase não se tinha
notícia no Brasil, por isso mesmo estava inclinado a ajudar os dois clérigos em suas
taras. Falou bem de si mesmo para desdizer dos comportamentos alheios, perguntou
quem eram os meninos, se o Bispo João Pinto no Rego sabia e se sabia também
participava. Fez um interrogatório alternado com sermão.

Os Padres disseram que muitos meninos de Nova Viena mantinham relações


sexuais com eles, a troco de dinheiro. Deveriam ser uns 30 a 40 meninos. Padre Lili
disse que mantinha uma lista com o nome de todas as crianças: Elias mais que depressa
pediu para vê-la. Eram umas dez folhas de caderno manuscritas. Tinha nomes, idades,
endereços e se não havia telefones de contato era porque as crianças eram famintas e
iam atrás dos Padres, ao invés de serem procuradas por eles. O menino mais novo
deveria ter uns seis anos e o mais velho uns 16.

Elias imaginou se não seria melhor envenenar os Padres ao invés de dopá-los,


mas quem era ele para condená-los por algo que ele também já havia praticado. A
diferença é que foram só umas duas vezes, com uma menina que agora era sua filha. Já
os Padres vinham cometendo aqueles crimes há anos. O Bispo Viadoluto iria aconselhar
os Padres Pedófilos, mas se visse que eles não tinham jeito: os mataria envenenados, na
noite daquele mesmo dia.

Elias soube que o rapaz bonito da fotografia era amante do Bispo João Pinto no
Rego, seu nome era Fernando e estava com 17 anos. Era fiel ao amante e se não o traía,
não era por falta de chances, mas sim pelos mimos e carinhos do religioso. Todas as
visitas do Bispo na cidade de Hortolândia coincidiam com seus encontros amorosos. Os
Padres desconfiavam que o dinheiro a ser usado na restauração da Capela de São
Marcos, era desviado para os presentes caros de Fernando. Num bairro miserável igual
Nova Viena onde as pessoas não tinham o que comerem, o garoto andava de moto
abaixo e acima (provavelmente a moto tinha sido comprada com o dinheiro da Diocese).

Elias disse que os dois Padres não deveriam se intrometer com a vida alheia,
Deus cuidaria do Bispo João Pinto no Rego ao seu tempo. Eles deveriam se preocupar
era com seus desejos Pedófilos. Um homossexual não era nem doente nem criminoso:
era apenas um ser humano, com opção sexual diferente da maioria. Ser Gay poderia até
ser pecado, mas não era a toa que Pedofilia era crime. Os Pedófilos destruíam a parte
mais importante da vida humana: A Infância!

O Bispo Viadoluto discursou sobre si mesmo para ser usado como exemplo.
Ele por ser gay ativo jamais se interessou por meninos, mas por duas vezes abusou de
uma menina entregue aos seus cuidados: esta era explorada por sua própria irmã. Depois

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que viu a monstruosidade cometida arrependeu-se, rezou 3.000 Pais Nossos e 6.000 Ave
Maria e por último adotou a menina de 12 anos como sua filha. O que os dois Padres
vinham fazendo na Capela de São Marcos era abominável aos olhos de Deus, mas ainda
havia tempo de se corrigirem. Sendo gays escolhessem homens maiores de idade, mas
as crianças não! Os Padres começaram a chorar: Padre Pinpim pediu que o Bispo lhes
penitenciasse. Só queriam uma cura para a Pedofilia e uma indulgência baseada nesta.

Elias disse-lhes que deveriam parar de uma vez, mas se não conseguissem,
fizessem como no vício do cigarro: parassem aos poucos e só fizessem suas perversões
com os meninos já iniciados nelas. Daquele dia em diante não deveriam corromper a
inocência dos que ainda fossem inocentes. O Bispo Viadoluto perguntou a frequência de
suas relações pedófilas, Padre Lili disse que todos os dias. A receita oferecida foi a da
‘Dieta Sexual’, só deveriam praticar Pedofilia aos sábados à noite, os outros dias da
semana deveriam procurar Gays de suas faixas etárias. Ou se curavam em seis meses ou
iam para uma ilha deserta, onde não houvesse crianças. Deveriam rezar 2.000 Pais
Nossos e 3.000 Ave Maria. Depois de curados, se nunca mais voltassem a praticar
aqueles atos, estariam perdoados, pois o Bispo Viadoluto se responsabilizaria por suas
almas, diante de Deus.

Elias olhou os clérigos enquanto dormiam, pensou que não havia outro meio de
livrá-los daquele mal: teria que matá-los! Não sabia se cometeria o crime com veneno,
ou com porretadas na cabeça quando estivessem dormindo. Só sabia que ele não era um
assassino, mas se via na obrigação de matar os dois religiosos. Desde que Caim matou
Abel as pessoas vinham se matando umas as outras, por motivos fúteis, mas sentia que
matar aqueles homens não seria um ato leviano: seria um favor para a sociedade. Porém,
quando se lembrava de L pensava em desistir, agora era o pai adotivo de uma criança,
não queria dar mais este mau exemplo à garota.

Não conseguia imaginar outra forma de ajudar os Padres Pedófilos e suas


vítimas: era assassiná-los ou castrá-los (se bem que os Padres eram homossexuais
Ativo-Passivos: com os meninos infantes eles eram ativos ou se contentavam com
perversões do tipo sexo oral, mas com os garotos adolescentes preferiam o
homossexualismo passivo) por isso a ideia de matar sempre parecia a Elias a mais fácil
e prática das soluções, para resolver aquele problema.

Elias sentia por experiência própria que a tal ‘Dieta Sexual’ não funcionava, a
utilizou na adolescência para deixar de ser gay e não resolveu. Se os Padres fizessem
aquele regime, isso só iria engordar as suas taras por crianças. Se pelo menos aquilo
fosse um hábito comum dentro da igreja, poderia deixar os dois viverem, mas aqueles
Padres e o Bispo, com certeza eram os únicos clérigos Pedófilos do mundo. Elias tinha
sonífero, mas não tinha veneno. Conhecia algumas marcas de inseticidas que sua avó
usava para matar ratos e baratas. Quando amanhecesse iria numa loja de materiais
agrícolas, compraria um mata baratas tão forte que eliminaria os Padres.

O último homem a dormir, também foi o último a acordar. Pela janela antiga do
quarto da Capela de São Marcos os primeiros raios de sol entraram, acariciando a face
do Falso Bispo que acordara naquele instante. Uma bandeja com café da manhã e dois
amantes, disputavam a atenção de um terceiro. Foi assim que os dois Padres em seus
camisolões levaram o desjejum de Elias, até a cama onde um corpo nu os desafiava a
olharem seus atributos.

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Assim como as águas das chuvas lavam as imundícies das ruas, a luz do dia tem
o poder de desfazer os pensamentos sombrios que nos acometem durante a noite: foi
assim também com Elias que já não estava tão certo de sua obrigação de matar os dois
Padres. Como tinha a certeza de ser Gay e não ser Pedófilo, também tinha de ser um
malandro sem nunca ter sido assassino. Por isso já pensava num plano que punisse os
clérigos sem tirar-lhes a vida. Faria de tudo para não matá-los e só os mataria se não
tivesse outro jeito. Depois do café da manhã o Bispo Viadoluto pediu licença aos Padres
para dar uma volta em Hortolândia e conhecer Nova Viena. Com este passeio, Elias
conseguiu comprar o veneno que seria usado, caso sua criatividade não lhe desse outra
solução mais amena.

Elias quis saber sobre as finanças da Capela de São Marcos: Padre Lili e Padre
Pinpim ao falarem do caixa da igreja foram desanimadores (não entrava quase nada e os
fiéis não estavam ocupando nem a metade dos assentos). As condições da igreja
escorraçavam seus visitantes, para bem longe dela. O teto ameaçava desabar sobre suas
cabeças. O único banheiro disponível tinha uma aparência de 500 anos. Os bancos
estavam carcomidos de cupim. Devido aos buracos nas paredes havia infestação de
ratos e baratas. A única coisa cara e bonita que ainda tinham era o ouro das relíquias. O
Bispo João Pinto no Rego dizia que a grande dúvida da diocese era se valia a pena
restaurar a Capela, afinal, se a restauração não trouxesse maior número de fiéis
perderiam dinheiro com algo que já estava perdido, pois as pessoas estavam mais
interessadas em milagres do que em quinquilharias feitas de ouro.

Elias viu naquela frase do Bispo um pensamento filosófico e a reinventou


enquanto a escrevia entre aspas em sua mente: “As pessoas estão mais interessadas em
milagres do que no ouro, já eu faço qualquer milagre por ele!”. Em suas andanças pelo
Brasil operando milagres, o Pastor Fausto descobriu que para Deus nada é impossível.
Já os malandros não faziam impossíveis, mas por dinheiro, viravam a letra M de cabeça
para baixo e a encaixavam no alfabeto como se fosse um W. Os Padres queriam
conversar, já ele queria pensar: numa maneira de inventar um milagre, nem difícil e
muito menos milagroso.

Os Padres ficaram furiosos com a ideia... Como alguém que se dizia servo de
Deus poderia sugerir um absurdo daqueles: além de ser pecado era sacrilégio, além de
ser uma trapaça ainda era um crime que poderia levá-los a cadeia... A sugestão não
poderia ser de ninguém menos que do Bispo Viadoluto: eram duas santas, mas se uma
chorasse, resolveriam os problemas financeiros da Capela. A parede onde estava o altar
de São Marcos era a mesma do quarto dos Padres, o santo padroeiro no meio, Nossa
Senhora das Dores à direita e Santa Luzia à esquerda.

As cabeças das duas imagens deveriam ser furadas e ocas, depois cobririam os
buracos feitos na nuca, deixando orifícios de quatro milímetros. Duas grandes
mangueiras hospitalares usadas no transporte de soro deveriam ser ligadas as cabeças
das imagens. As mangueiras seriam embutidas na parede e maquiadas para jamais
serem descobertas, suas outras pontas ficariam no quarto dos clérigos que despejariam o
líquido que se passaria por lágrimas. Seriam lágrimas falsas, mas eram melhores que as
lágrimas originais: por não darem trabalho as pranteadoras. Os buracos feitos nos olhos
das Santas deveriam estar de dentro para fora, o exterior dos olhos não precisava ser

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perfurado (como as imagens eram feitas com barro, o líquido em seus interiores
provocaria infiltrações que passariam por choro).

As lágrimas que viessem primeiro deveriam ser feitas do soro caseiro (como o
soro é meio salgado e adocicado e se assemelha ao sabor da lágrima, isto seria para o
caso de algum curioso colocá-las na boca para ver o que eram). Estas eram as lágrimas
comuns!

É como diz o ditado goiano: “Com o tempo vão-se os sentimentos, pois a


curiosidade que matou o gato não o mataria se não fosse com novidades’’. Quando não
se impressionassem com o mais simples do choro, viria uma diversidade deste”.
Lágrimas de mel, lágrimas de sangue ou de algo parecido, lágrimas de vinho, lágrimas
com perfume, lágrimas com sabor de frutas vermelhas e frutas cítricas. Enfim, seria
choro para todos os gostos.

A Polícia jamais descobriria aquela trapaça, pois aqui no Brasil e no exterior


ninguém nunca inventou um truque de uma Santa de Barro que chorasse: eles seriam os
pioneiros neste tipo de fraude.

Padre Lili disse que não poderiam violar as Santas. As duas mulheres estavam
ali há muito tempo, sendo que uma delas era a mãe de Jesus, não haveria indulgência no
mundo que os livrasse do fogo do inferno! Os fiéis esperavam por milagres, aquilo seria
só um truque de prestidigitação amador: ninguém em sã consciência acreditaria que era
um fenômeno sobrenatural!

Já o Padre Pinpim tinha medo do Bispo João Pinto no Rego, aquilo iria trazer
mais dinheiro para a Capela de São Marcos que para a Diocese. Se o Bispo não queria
dispor de dinheiro para restauração do lugar, também não iria querer arriscar-se com
trambiques que poderiam ser descobertos! A igreja estava um pouco abandonada,
desacreditada pela falta de uns milagres, mas o que se haveria de fazer. Era entregar a
coisa nas mãos de Deus e ter fé. Lá um dia os fiéis voltariam a lotar a Capela
novamente.

Quem refutou o discurso dos Padres com argumentos mais contundentes foi o
Bispo Viadoluto. Quem era o Padre Lili, para criticá-lo por violar imagens? Ele como
suposto representante de Deus não passava de um simples violador de crianças, um
Pedófilo: o que era pior, violar estátuas ou crianças? Ao sugerir uma coisa daquelas,
sabia o que estava fazendo, afinal, era o Bispo. Além do que, se houvesse algum
sacrilégio, a responsabilidade ficaria em 80% para quem teve a ideia e 30% para os que
a puseram em prática. Os fiéis não eram tão céticos como alguns de seus Sacerdotes,
eles iriam acreditar no ‘Falso Milagre’, para que ‘Milagres Verdadeiros’ acontecessem.
Teriam fé e ela os levaria as coisas simples da vida que seriam os ‘Falsos Milagres’! As
estátuas eram representações simbólicas das Santas, mas não eram elas. Deveriam
pensar naquilo como uma cirurgia, os médicos violavam o corpo para salvar uma vida
dentro dele. Já os Padres e o Bispo, violariam as imagens sagradas, mas o fariam para
salvarem sua casa que morria por falta de uns milagrezinhos!

Agora sobre os questionamentos do Padre Pinpim: quem era o Bispo João Pinto
no Rego para criticá-los? Ele além de não dar um centavo à restauração da Capela,
ainda usava o dinheiro da igreja, comprando presentinhos para o amante! Era como

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Maquiavel dizia: os ‘fins justificam os meios’. É no lugar onde foi feita a costura que a
roupa se rasga, mas não existe um pano rasgado que não sirva como um remendo: por
meio do dinheiro os Padres corrompiam a inocência das crianças de Nova Viena, agora
com esta ideia poderiam usar o dinheiro para salva-las da miséria em que viviam!

Quando os primeiros prantos das Santas viessem, as peregrinações começariam.


Padre Crispiniano era Pedófilo, mas adorava crianças, com os donativos arrecadados
poderia construir uma creche para os menorzinhos que ainda não tinham sido abusados.
Também construiria uma casa de recuperação para os adolescentes, vítimas de abuso
sexual (esta última instituição seria para corrigir os traumas psicológicos: provocados
pelos próprios Padres).

É verdade que o Papa tinha mandado o cheque em branco para a restauração da


Capela, mas os dois clérigos poderiam usar aquele dinheiro para outras coisas ao invés
de investirem em algo que não era de suas obrigações. Afinal, a restauração deveria ser
custeada pela Diocese. O Pontífice mandou o dinheiro por que precisavam, mas se
deixassem de precisar poderiam fazer com ele o que quisessem. Se não queriam o
agrado monetário do Vaticano, problema deles. O Bispo Viadoluto é que não devolveria
nada a instituição italiana: esta já era rica demais, mixaria não lhe faria falta!

Foi como diz o ditado: “Um porco sujo enlameia o que estiver limpo para fazer
menção honrosa à imundície suína’”! Os Padres aos poucos foram se deixando
corromper pelos maus conselhos de Elias. Além de já estarem complicados diante de
Deus pelos pecados que tinham, cometeriam uma trapaça abusando da credulidade dos
fiéis.

Padre Lili falou por ele e o colega, iria aceitar a proposta com umas condições.
Não violariam as duas imagens, assim o pecado de sacrilégio lhes seria cobrado pela
metade. Eles escolheriam apenas uma das Santas, baseando-se na importância
hierárquica da mesma. Entre as mulheres da Santidade, Nossa Senhora era a que
ocupava o cargo mais alto. Então a imagem que escolheriam seria a de Santa Luzia,
além de ser de nível hierárquico menor, ainda tinha feito um milagre envolvendo
oftalmologia. Os Padres afirmaram que só aceitariam aquela sugestão, porque a Capela
precisava de reformas. No mesmo dia, umas duas horas depois, Elias já tinha comprado
os materiais e instalado o sistema fraudulento dentro da igreja.

O filho do Pastor decidiu trilhar os caminhos de Caim e se tornar assassino.


Estava decidido a matar os Padres, aquele plano da Santa Pranteadora era só uma parte
do que Elias reservara a suas vítimas. Os Padres seriam mortos. O Bispo João Pinto no
Rego que ele não poderia matar iria preso. A igreja católica ficaria desmoralizada por
uma fraude. Padre Lili e Padre Pinpim iam ser envenenados ainda naquela noite. Contra
o Bispo Pedófilo seriam reunidas provas incriminadoras de seus envolvimentos com
crianças. Depois de tudo isso viria uma denúncia anônima de fraude contra a Capela de
São Marcos por forjar um milagre.

Elias pensou em matá-los a pauladas, mas viu que não teria coragem. Além de
ser sua primeira vez fazendo aquele tipo de coisa, poderia ser que um deles sobrevivesse
e um dia o crime fosse descoberto. O que iria dizer a pequena L se ela soubesse que era
um assassino? Tudo tem uma razão de ser e algum proveito, mas quando alguém destrói
uma coisa é para que deixe de existir: “Enquanto os dois Padres Pedófilos existissem, as

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crianças de Nova Viena trocariam sexo por pão e inocência por malícia. Os dois
clérigos morreriam por uma causa nobre”.

De olhos fixos no veneno que havia comprado Elias não mediu a dose:
simplesmente entornou o frasco dentro de uma jarra com chá gelado. Estava de
tardezinha e ele queria ver os homens morrendo, para depois ligar ao Jorge Fagundes
avisando que viesse buscar o tesouro da Igreja. Entrou no quarto dos Padres e para
convencê-los a tomarem bastante chá, disse que este continha um energético italiano.
Deveriam tomar tudo, pois aquela noite seria mais especial que a outra.

O primeiro a cair foi o Padre Pinpim e tentou agarrar-se a um candelabro de


prata enquanto derreava, seus olhos pareciam não acreditarem no sorriso que brincava
nos lábios do Bispo Viadoluto. No chão trocou um olhar ainda lúcido por um estertor
convulsivo. Enquanto via o colega morrer, Padre Lili também se aproximava do túnel
escuro aonde a visão ia da realidade a inconsciência. Antes de começarem os primeiros
espasmos, o Padre Lili agarrou as bordas das vestes do Falso Bispo, ainda conseguiu
olhar seu assassino nos olhos e dizer:

__Eu te esconjuro...

Elias imaginou se aquela frase pela metade era uma maldição ou uma referência
ao que tinha dito em tom de brincadeira na noite anterior. Se fosse uma maldição, não
lhe faria mal, pois acreditava que os mais azarados e amaldiçoados são justamente os
que levam estas coisas a sério. Agora se fosse uma referência ao que tinha dito,
significava que o Padre estava apaixonado por ele, mas nada disso importava: já que o
que pensaram e sentiram os mortos pertence aos seus tempos de vivos.

Elias Checou o pulso e os batimentos cardíacos dos religiosos. Depois de


certificar-se do falecimento, os deixou onde estavam. Desceu as escadas em direção ao
telefone da igreja e discou os números que trariam seu contratante ao local. Quando foi
a loja onde comprou o veneno, ligou ao Jorge Fagundes, pediu que o outro lhe trouxesse
umas coisas para organizarem mais um golpe. Não disse que tinha planejado assassinar
os Padres, mas não era necessário dizer, pois logo todos ficariam sabendo. Com certeza
o Patrão não iria se incomodar, pois se fossem presos e a chance disso acontecer era
mínima, ele confessaria aquele crime com prazer.

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