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um jovem bispo
1 Informações familiares fornecidas por Alice Coelho Sproesser, irmã de dom Jaime Luiz Coelho, na residência deste, em Maringá,
em 10 de janeiro de 2006.
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vai trilhando. Aquilo vinha desmontar todos os sonhos até então construídos. A convocação do Santo Padre
atingiu-o com força igual à da imprevista ordem de Javé a Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa
de teu pai, para a terra que te mostrarei” (GÊNESIS 12, 1). Sentia-se útil à Igreja, abençoado no presbitério
de Ribeirão Preto. Por outro lado, não havia como escapar aos desígnios de Deus manifestos pelos legítimos
intérpretes de sua vontade, particularmente pelo bispo de Roma.
Ainda no dia 29 de novembro, lida a carta da nunciatura, uma curiosidade cheia de medo o fez con-
sultar o mapa, investindo largo tempo no inútil esforço de localizar a cidade na qual viveria o resto dos seus
dias. Maringá era por demais nova para figurar em mapas com mais de cinco anos, caso daquele que tinha em
mãos. Naquele tempo, em toda Ribeirão Preto, como, de resto, possivelmente em todo o Brasil, ninguém
conseguiria localizar em mapa aquela que seria denominada “cidade-canção”. Voltou o pensamento para dom
Manuel da Silveira D’Elboux, o venerado mestre que o acompanhava desde o Seminário Central do Ipiranga,
em São Paulo. De suas mãos recebera, em Ribeirão Preto, a ordenação presbiteral, quando ele era ainda bispo
auxiliar de dom Alberto José Gonçalves. Bispo diocesano desde 1946, dom Manuel fora, em 1950, transferi-
do para o Paraná, onde presidia, como arcebispo, a Província Eclesiástica de Curitiba. “Sem dúvida, ele deve
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CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS
Diocese de Jacarezinho (diocese de Londrina – diocese de Maringá)
PIO BISPO
Servo dos servos de Deus
Para perpétua memória
Julgamos, antes de tudo, nosso dever dividir Igrejas muito extensas e circunscrevê-las
a limites mais convenientes: nada é mais premente nem importante que proporcio-
nar a todas as pessoas que se orgulham do nome cristão um caminho mais seguro
de salvação, bem como providenciar-lhes todos os proveitos e benefícios da religião
católica. Quando, pois, tomamos conhecimento de que o venerável Irmão Armando
Lombardi, Arcebispo de Cesaréia e Núncio Apostólico na República do Brasil, so-
licitou a esta Sé Romana que, dividida a Igreja de Jacarezinho, fossem constituídas
duas dioceses, a fim de que os dignos habitantes do Norte do Paraná, no Brasil, não
ficassem privados dos necessários cuidados pastorais; e de que com isso concordam
Geraldo de Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, assim como Manuel da Silveira
D’Elboux, Arcebispo de Curitiba e os outros Ordinários locais da Província Eclesi-
ástica de Curitiba, de bom grado atendemos o pedido encaminhado. Por isso, tendo
ouvido o parecer dos nossos Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana encarregados
dos Negócios Consistoriais, depois de atentamente estudado o assunto e havendo
unanimidade por parte daqueles que têm ou julgam ter algum direito nesta divi-
são de regiões e de bens, fazendo uso do Nosso poder supremo, estabelecemos o
que segue. Separamos da diocese de Jacarezinho o território que compreende os
municípios conhecidos como: Londrina, Alvorada, Apucarana, Arapongas, Araru-
va, Astorga, Bela Vista, Cambé, Catugi, Centenário, Faxinal, Florestópolis, Ibiporã,
Jaguapitã, Lupionópolis, Porecatu, 1º de Maio, Rolândia, Sabáudia, Santo Inácio
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01/02/1956
+ Fr. ADEODATO I. Cardeal PIAZZA
Secretário da S. Congr. Consistorial
Hamleto Tondini
Diretor da Chancelaria Apostólica
Bernardo De Felicis César Federici
Protonotário apostólico Protonotário apostólico (PIO XII, 1956d, p. 486-488).2
2 Uma das primeiras providências do bispo de Maringá foi adquirir, através da nunciatura, toda a coleção da “Acta Apostolicae Sedis”,
órgão oficial da Santa Sé, o que levou dom Armando Lombardi a observar que Maringá talvez fosse então a única diocese brasileira
a possuir a coleção completa desse acervo documental. Até o final de seu governo diocesano, em 1997, dom Jaime continuou assi-
nando a publicação, tendo o cuidado de encadernar os fascículos em volumes anuais. A Cúria Metropolitana de Maringá guarda em
seu arquivo a série completa cujo primeiro volume foi publicado em 1909.
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ao dileto filho Jaime Luiz Coelho, Cura da Catedral de Ribeirão Preto, primeiro Bispo
eleito da Diocese de Maringá, saudação e bênção apostólica. É nosso dever atender às
necessidades da Diocese de Maringá, criada no dia primeiro de fevereiro do corrente,
através da Bula “Latissimas partire”, até agora desprovida de seu pastor. Ouvido, pois,
o parecer dos Nossos Veneráveis Irmãos Cardeais encarregados dos Negócios Con-
sistoriais da Santa Igreja Romana, pela Nossa Autoridade apostólica, elegemos-Te,
dileto filho, para Bispo e Pastor da mesma Sé Catedral de Maringá, que constituímos
sufragânea da Arquidiocese de Curitiba. Entregamos-Te, portanto, o governo e a
administração desta Diocese no que se refere tanto aos assuntos religiosos quanto
aos bens temporais, ao mesmo tempo em que Te conferimos os direitos e as honras,
os ofícios e as obrigações anexas a este digníssimo múnus. Para Tua comodidade,
concedemos-Te o direito de seres devidamente sagrado fora da Cidade Eterna por
um Bispo digno, de acordo com a Tua preferência, assistido por dois outros, todos
em comunhão com a Sé Romana; a esse venerável Irmão, que para isso escolheres,
por estas Nossas Letras, conferimos a delegação. Queremos, além disso, que antes da
sagração e da tomada de posse da diocese, perante algum Bispo em comunhão com
a Sé Romana, faças a profissão de fé católica e o juramento tanto de fidelidade a Nós
e aos Pontífices Romanos quanto contra os erros dos Modernistas, de acordo com as
fórmulas prescritas; deles enviarás com presteza à Sagrada Congregação Consistorial
cópias com assinaturas e carimbos teus e do outro bispo. Se não fizeres o juramento
nem emitires a profissão de fé, tanto a Tua pessoa quanto o Bispo que Te sagrar incor-
rerão ambos nas penas cominadas pelo Direito. Quanto ao benefício que tiveste até
hoje, como Cura da Catedral de Ribeirão Preto, ordenamos, conforme o Direito, seja
tido como vago, devendo ser preenchido por Nós e por esta Sé Apostólica. Dito isto,
dileto filho, fazemos votos a Deus de todo o coração para que, propício, fecunde o
Teu trabalho, Te guarde a Ti e aos Teus fiéis. Dado em Roma junto de São Pedro, no
dia três de dezembro do ano do Senhor de mil novecentos e cinqüenta e seis, décimo
oitavo do Nosso Pontificado.
3 Bula = escrito solene ou carta aberta provida de sinete de chumbo, em geral de forma redonda, que se prende ao documento ou carta
32 atestando-lhe a autenticidade.
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4 O texto original em latim é conservado em quadro exposto na sala de visitas da residência de dom Jaime Luiz Coelho.
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O Sumo Pontífice, por Divina Providência Papa Pio XII, para prover com solicitude
o bem espiritual dos fiéis cristãos do Norte do Paraná, no Brasil, criou, no dia 1º de
fevereiro de 1956, a diocese de Maringá.
Cabendo ao Núncio Apostólico do Brasil a execução de tudo o que dispõe aquela
Bula, Nós, Armando Lombardi, por mercê de Deus e da Sé Apostólica, bispo titular de
Cesaréia de Filipe, desejoso de pôr em prática o mandato pontifício e exercer fielmente
as faculdades a nós concedidas, pelo nosso presente Decreto de Execução, decretamos,
estabelecemos e mandamos o seguinte:
Primeiro: Desmembramos e separamos da diocese de Jacarezinho todo o território
ocupado pelos municípios enumerados na citada Bula Apostólica: Maringá, Alto Para-
ná, Jandaia do Sul, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Nova Esperança, Paranavaí.
Como nestes últimos tempos outros municípios foram criados e deles desmembrados,
a saber: Bom Sucesso, Cruzeiro do Sul, Floraí, Loanda, Nova Londrina, Paraíso do
Norte, Paranacity, Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do
Ivaí, São Carlos do Ivaí, São João do Caiuá, São Jorge, São Pedro do Ivaí, Tamboara,
Terra Rica, também estes e outros municípios que deles se desmembrem igualmente
desmembramos e separamos. Do território completo destes municípios erigimos e de-
claramos ereta a nova diocese chamada de Maringá, cujos limites se definem e circuns-
crevem pelos mesmos limites do conjunto dos municípios acima mencionados.
Segundo: Ordenamos que o bispo da diocese estabeleça sua sede e domicílio na cidade
de Maringá, colocando a cátedra episcopal na igreja da mesma cidade dedicada a Nossa
Senhora da Glória, que automaticamente elevamos à dignidade de Catedral, conceden-
do-lhe as honras, direitos e privilégios que competem às outras igrejas catedrais.
Terceiro: Estabelecemos também que a diocese de Maringá seja sufragânea da Igreja de
Curitiba; igualmente, que o bispo de Maringá permaneça juridicamente subordinado
ao arcebispo metropolitano de Curitiba.
Quarto: Estabelecemos que, o mais cedo possível, o bispo de Maringá crie o Cabido
dos Cônegos; enquanto não for possível, em seu lugar, sejam nomeados os Consultores
diocesanos, conforme prescreve o cân. 423 do Código de Direito Canônico.
Quinto: A mesa episcopal constará ou dos rendimentos da Cúria, ou de outras doa-
ções e ofertas dos fiéis, ou de dote oferecido pela cidade ou pelo Estado do Paraná,
ou finalmente dos bens que, após a divisão das propriedades da mesa de Jacarezinho,
couberem proporcionalmente à nova diocese, segundo o cân. 1500 do CDC.
Sexto: Desejamos e mandamos, sob grave encargo de consciência, que o mais breve
possível o bispo de Maringá construa pelo menos o seminário menor, e dele escolha os
melhores jovens para enviá-los ao Pontifício Colégio Pio Brasileiro, em Roma, a fim
de se formaram nas disciplinas de Filosofia e Teologia. Quanto ao seminário maior,
observem-se cuidadosamente as normas exaradas para o Brasil.
Sétimo: Ao entrar em vigor este Nosso Decreto de Execução, ficam incardinados à
diocese de Maringá os clérigos que, de modo regular e em razão do sagrado ministé-
rio, moram no seu território; presumem-se pertencentes à nova diocese os seminaristas
nascidos no seu território, ainda que estudem em outro lugar.
Oitavo: Desejamos, além disso, que, quanto antes, da Cúria de Jacarezinho sejam en-
viados à diocese de Maringá todos os documentos e registros que de alguma forma
digam respeito à nova sede episcopal, aos seus clérigos, fiéis ou bens temporais.
Nono: Por fim, determinamos e prescrevemos que este Nosso Decreto de Execução
passe a vigorar no mesmo instante em que, na igreja Catedral de Maringá ou em outro
lugar por Nós aprovado, o auditor da Nunciatura Apostólica do Brasil, Reverendíssimo
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a) +Armando Lombardi
Arcebispo de Cesaréia de Filipe e Núncio Apostólico no Brasil
a) Mario Peressian
Secretário da Nunciatura Apostólica (LOMBARDI, 1957b, 3 f.)
Dias depois daquele histórico 7 de dezembro de 1956, o futuro bispo recebeu em casa a visita de padre
Germano José Mayer, palotino alemão, responsável pela paróquia Nossa Senhora da Glória, de Maringá, que
seria elevada à condição de igreja catedral. Pôde enfim apreciar fotos da cidade e receber informações sobre a
nova Igreja que lhe caberia governar. Pela primeira vez, teve o consolo de verificar que Maringá aparecia em
mapa. Pelo menos naquele, aberto à sua frente, publicado pela Colonizadora Sinop, sediada em Maringá, que
padre Germano tivera o cuidado de levar consigo.
O recém-eleito tratou logo de fazer o retiro espiritual disposto pela sabedoria da Igreja, atenta à prepa-
ração dos candidatos a novas responsabilidades, sempre que estão prestes a assumi-las. Recolheu-se, na vizinha
cidade de Batatais (SP), ao Colégio São José, dirigido por padres claretianos, onde tinha estudado no ano de
1931. Era período de férias escolares. Em completo silêncio, isolado de tudo e de todos, consagrou oito dias
à meditação sobre o encargo que estava prestes a assumir. Sentia-se confuso, cheio de medo.
Hoje ainda, em tom de brincadeira, recorda que, ao observar o humilde porteiro do colégio, assaltou-o
um sentimento estranho, talvez inveja: “Ah, como seria bom se eu fosse aquele porteiro. Não estaria nesta
angústia nem precisaria me preocupar com o futuro. A obrigação dele é só atender a porta”. Noutro dia,
absorto em pensamentos, caminhava pelo pátio quando, à distância, viu um cavalo que pastava na maior
tranqüilidade. Pensou na vida do animal e comparou-a com a sua de padre eleito bispo. Veio-lhe à cabeça:
“Que bom se eu fosse aquele cavalo. Não teria que enfrentar o que me espera. Ele, sim, é feliz. Não tem com
que se preocupar”. Depois, arrependido, procurou padre Bento Uriarte, CMF, pedindo-lhe que o ouvisse em
confissão. Queria ser perdoado da inveja que sentira do porteiro e da vontade de ser cavalo.
No dia 19 desse mês, uma quarta-feira, achava-se no Rio de Janeiro para entrevista que agendara com o
núncio apostólico. Antes do encontro, entrou na igreja dos capuchinhos, na Tijuca. Pediu ao porteiro algum
frade para atendê-lo em confissão. – “O senhor prefere um padre velho ou novo?” quis saber o atendente.
– “Não importa, basta que me confesse”. Veio um frade velhinho, que lentamente arrastou os pés até o con-
fessionário. Recorda o primeiro bispo de Maringá: “Prorrompi num choro incontido e só conseguia dizer:
– Padre, eu fui nomeado bispo. Com imensa doçura, o velho frade tentou me consolar: – Meu filho, isso não
é pecado”.
e fazer faxina. Durante o primeiro mês depois da posse, ainda contou com a ajuda de Alice e Odila (Ângela
também ficou) e de Fátima Biagini, cunhada de Odila. Após o retorno delas para Ribeirão Preto, com o
auxílio do garoto José Carlos Pires de Paula, mais tarde seminarista, que vinha depois da aula, ainda por três
meses a mãe comandou os serviços domésticos na casa que nem remotamente lembrava os paços episcopais de
então. Era uma construção baixa de alvenaria na rua Lopes Trovão, quase esquina com avenida Curitiba, sem
luxo e com espaço para o estritamente necessário. Abrigava ainda uma saleta pegada ao escritório do bispo,
que levava o solene apelido de cúria diocesana. Mais tarde, fez-se necessária a construção, na garagem, de um
anexo para, ainda que precariamente, acomodar a cúria.
Por influência do linguajar dos netos, muitos dos quais para Maringá se deslocavam durante as férias,
dona Guilhermina acabou transformando-se na “vó” de padres, de seminaristas e de quantos partilhavam a
casa. Porque dom Jaime deu início em Maringá a um jeito de ser bispo que ninguém tinha visto antes. Derru-
bava barreiras, encurtava distâncias, levava qualquer pessoa a sentir-se acolhida, valorizada, importante. Com
simplicidade, colocava-se à altura do outro, despertando-lhe confiança para uma aproximação sem medo. Era
o avesso do que, muitas vezes, até de forma constrangida, se viam forçados a pôr em prática os bispos daquele
tempo. Presos a um modelo de Igreja de corte piramidal, encastelavam-se numa redoma de distanciamento
do seu clero e, particularmente, dos seus diocesanos, o que lhes reservava, por conseqüência, em muitos casos,
a enervante solidão da autoridade mais temida que amada. Não raro, a atuação do bispo identificava-se com
o exercício de um poder absoluto e discricional. Havia, por certo, quem justificasse tal interpretação. Outros,
ao contrário, faziam de tudo para romper o círculo de isolamento criado pelo cargo. Mas nem deles dependia
modificar por inteiro o quadro. Não se mudam da noite para o dia costumes sedimentados pelo gotejar de
séculos. Assim, ao bispo estava geralmente destinada a sorte do pássaro em gaiola de ouro. O próprio dom
Jaime confessa ter ouvido de dom Mousinho, logo após sua eleição: “Pode ir-se acostumando com a solidão
da vida de bispo. A partir de agora, será ela a sua companheira”.
Em postura revolucionária para a época, o jovem bispo mostrou independência frente aos cânones
ditados pela praxe de uma Igreja pré-conciliar e fielmente observados pela maioria. Desde o primeiro mo-
mento, assumiu o volante de seu próprio veículo, uma “perua” Willys adaptada a partir de um jipe, o bravo
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Promessa
Primeiro ano de bispado da cidade de Maringá, 1957. Tempo de muita
chuva e de geadas históricas, que se repetiam com impressionante regula-
ridade. Para as incipientes lavouras de café não havia praga maior. O novo
bispo pede aos fiéis que ajudem na construção do seminário e da catedral.
Faz uma promessa: “Se vocês me ajudarem, eu prometo cinco anos sem
geada”. Muitos comentam que é loucura. Era viva a lembrança de 1953
e 1955. Chega o inverno e, com ele, o pavor. Dia 20 de julho, após uma
semana de chuva, o tempo limpa de repente. Vem a noite. A temperatura
começa a cair sem parar. O céu é uma redoma azul, onde faíscam estrelas
de intenso brilho. Cresce a angústia. À meia-noite, um grupo de pessoas
bate à porta de padre Germano José Mayer: “Padre, abra a igreja. Preci-
samos rezar pra não vir geada”. A oração entra pela fria madrugada. Nin-
guém arreda pé. Quando amanhece, de coração na mão, vão todos espiar
lá fora. Forte cerração encobre a vista. Quando se dissipa, o alívio. Em vez
do manto branco da morte, o mesmo verde de encher os olhos. Como no
dia anterior. Milagre ou não, coragem ou loucura do bispo, só voltou a
gear depois de 1962.
Segurança
Primeira visita a Paranacity, dia 23 de maio de 1957. Havia pratica-
mente só a rua central, leito da estrada para Presidente Prudente, uma des-
cida que dava no areão lá embaixo, antes da subida do outro lado. A igre-
jinha de madeira ficava afastada, à esquerda, na parte baixa. Uma multidão
se junta, no campo de aviação, para recepcionar o visitante. Forma-se o
cortejo, que se move pela rua de terra. Lá atrás, caminha a grande atração
para muitos que nunca tinham visto um bispo assim de pertinho. Querem
aproximar-se, tocá-lo, beijar-lhe o anel. Os responsáveis esforçam-se por
manter a ordem. Ensaiam um cordão de isolamento ao seu redor, tentan-
do protegê-lo do assédio. Não dá muito resultado. Uma senhora tenta, de
um lado e de outro, furar o cerco. O povo se atropela, a poeira levanta,
o calor sufoca. Alidi Ropelato, corpulento e suado, já cansou de pedir,
repetidas vezes, que ela espere até chegar à igreja. A mulher não desiste.
Até que, perdendo a paciência, ele explode: “Ô dona, vá amolar o bispo”.
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Valentia
Dom Jaime encontra-se com o prefeito Américo Dias Ferraz (1957-
1961) a caminho de reunião que o alcaide estava para fazer com os verea-
dores na Câmara Municipal. Com a confiança que tem no amigo, Américo
mostra-lhe dois revólveres: “Vou colocar em cima da mesa para discutir
com eles. Quero ver quem vai ter peito de me enfrentar”. O bispo pede
que lhe entregue as armas e vá de mãos limpas. Insiste, mas nada conse-
gue. O prefeito é osso duro de roer. Mineiro matuto e turrão, pouco lhe
importa agradar ou não as pessoas. Cultiva, por isso, inimizades ferozes.
Pioneiros recordam a surra de “guaiaca” que, numa barbearia, levou de
Aníbal Goulart Maia acompanhado de dois jagunços. Ou de “guasca”,
dada por desconhecidos, a mando de Aníbal, segundo outra versão. Por
vingança, uma turba ensandecida ateou fogo à casa do desafeto. Para de-
sespero da esposa, Dirce de Aguiar Maia, primeira professora de Maringá
e finíssima dama, móveis, documentos, roupas, livros, obras de valor, até
os presentes das crianças comprados para o Natal que se aproximava −
tudo foi consumido, num incalculável prejuízo à família. Episódios dessa
natureza deixavam angustiada a pobre mãe do bispo ao descobrir em que
mundo o filho agora vivia.
Visita
A paróquia de Paranavaí era administrada por frades carmelitas ale-
mães. Acostumados com dom Sigaud residindo na longínqua Jacarezinho,
gozavam de grande autonomia que a proximidade do bispo certamente
faria mudar. Por isso, a criação de bispado em Maringá não lhes trouxe
especial contentamento Desde a primeira visita a Paranavaí, dom Jaime
não se sentiu exatamente bem-vindo. Deixou registrado que, entre todas,
esta foi a paróquia que lhe causou maiores aborrecimentos, acrescentan-
do: “Os frades, com freqüência, conversam em alemão num desejo, quem
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Aniversário
Recém-chegado do Japão, padre Miguel Yoshimi Kimura morou, no
começo, em casa de dom Jaime. Sua primeira preocupação foi aprender
a difícil língua do novo país. Por algum tempo, também padre Francisco
Javier Peregrina López, mais tarde vigário de Nova Esperança, morou na
casa do bispo. Pândego, divertia-se ensinando palavras erradas ao pobre
Kimura. Num dos aniversários do bispo, foi-lhe preparada uma festinha no
auditório da Rádio Cultura. Além do salão amarelo do Grande Hotel, era
dos poucos ambientes disponíveis em Maringá para eventos sociais, artísti-
cos ou culturais. O apresentador foi professor José Hiran Salée, que ainda
tocou flauta e dirigiu um coralzinho de alunos seus. Ao piano, responsável
pela parte musical, maestro Aniceto Matti. Presentes os casais Tita-Alfredo
Maluf, Elvira-Durval dos Santos e outros. López pede ao apresentador
um espaço para Kimura, explicando que ele fará uma homenagem a dom
Jaime declamando uma quadrinha, decorada com dificuldade por causa da
língua. Com o respeitoso silêncio da platéia, o “orador” recita algo assim:
“Dom Jaime: Desejo para o senhor / As qualidades do bode: / Além do
forte fedor, / Cabelo, barba e bigode”.
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