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e sinal do Reino
Irmãs vicentinas: da assistência do Albergue Santa Luíza de Marillac à inclusão social do Núcleo Papa João XXIII.
Não sem razão o papa João XXIII, ao propor, em 1961, a necessária atualização do pensamento de
Leão XIII, qualificou a Igreja como mãe e mestra.1 Ainda que alguns, desconhecendo a história, insistam em
acusá-la de inimiga do progresso, manda a verdade que se lhe reconheça o mérito de promotora do conhe-
cimento num período de ignorância, além de salvadora da cultura do Ocidente no transe de seu de maior
perigo. Tivesse ela assumido outra postura frente às invasões bárbaras, e da cultura, arte, ciência e técnica
legadas pelos criadores do saber ocidental, quiçá não nos restasse mais que cinzas. Quando, nos séculos V e
VI, sobre a Europa central e mediterrânea irromperam hordas deixando atrás de si um rastro de fogo, sangue
e morte, o acervo da cultura clássica foi preservado não pelas armas dos palácios dos reis, mas pela diligência
das catedrais e dos mosteiros.
Num período carente de ensino, coube à Igreja democratizar o saber criando escolas para estudantes
pobres junto às cátedras episcopais. Mais tarde, à sua sombra igualmente nasceram as universidades (UNI-
VERSIDADE, 1967, p. 496), começando por Bolonha (1119), seguida por Paris, a mais célebre, fundada
em 1150 e regulamentada em 1215, Oxford (1168), Colônia, Pádua, onde lecionou Santo Antônio (1195-
1231), Salamanca (1220), Cambridge (1224), Lovaina (1245) e incontáveis outras. Observa Daniel-Rops
que esse esforço de salvaguarda intelectual “não tinha como fim a pesquisa do conhecimento”. Foi uma ação
desinteressada de homens da Igreja que, “trabalhando com o cérebro e com os músculos, não tiveram em vis-
ta a satisfação pessoal, mas a glória de Deus”, à qual, como todos os esforços humanos, subordinavam as ativi-
dades da inteligência: “a cultura estava submetida à religião”. Também na investigação teológica, filosófica ou
científica a Igreja cultiva como único escopo o bom desempenho de sua missão específica, que é evangelizar.
1 Mater et Magistra designa a encíclica sobre “a evolução da questão social à luz da doutrina cristã”. Data de 15 de maio de 1961, 70º
aniversário da Rerum Novarum, pioneira e base do pensamento social da Igreja.
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“Mãe e mestra”, a Igreja de Cristo teve sempre muito a peito o desempenho de sua função educadora.
Não há uma crônica de trabalho missionário que não aponte, como atividade primeira em favor dos habitan-
tes locais a fundação de uma escola bem como o cultivo de hábitos de higiene, alimentação, abastecimento
de água, enfermagem, economia doméstica, agricultura, irrigação, adubação, criação de animais, seleção de
sementes, eletrificação, carpintaria, construção de casas e silos... Ao lado de agente da religião, o missionário
católico se fez invariavelmente reconhecer como promotor do progresso e da melhoria de vida da comunida-
de. O início da missão católica assinala invariavelmente a abertura de uma escola e de um ambulatório, antes
até que de uma capela. Traduzindo o Evangelho por “boa notícia” do amor de Deus endereçado a seus filhos,
a Igreja empenha-se em tornar visível a salvação, partindo das situações de vida em que eles se acham.
À semelhança dos antigos desbravadores que aqui vieram fincar seu rancho, também o primeiro bispo
não fechou os olhos aos clamores de uma região pioneira e inculta para cujo desenvolvimento urgia investir,
antes de tudo, na educação. Lembrado de que entre as funções do bispo figura também a de mestre da fé,
muito cedo se inquietou com a escassez de colaboradores para o aprimoramento do ensino escolar, reconheci-
damente precário: entendia que sem instrução não havia como assegurar aos diocesanos uma fé robusta capaz
de transformá-los em praticantes de uma religião esclarecida.
A obra da educação
Não precisou partir da estaca zero. Alguma presença da Igreja na área da educação já encontrou implan-
tada, embora de forma incipiente. Muito mais não se podia esperar de uma cidade ainda por completar dez
anos. No meio da mata em que brotava, não seria plausível esperar grande entusiasmo por estudo. Mais ur-
gente era trabalhar como um mouro para sobreviver. Das mesmas privações comungavam educadores, derru-
badores de mato e plantadores de café. Poucos estabelecimentos de ensino o bispo de Jacarezinho conseguiu
implantar. Além do pioneiro colégio Santa Cruz, em Maringá – a escola paroquial de Mandaguaçu era dirigida
pela mesma congregação religiosa – e de colégios católicos em Mandaguari e em Alto Paraná, funcionava
ainda, em prédio da Avenida Tiradentes, esquina com Rua Pedro Álvares Cabral, em Maringá, sob direção de
padre Cleto Altoé, um ginásio diocesano e uma escola técnica de comércio. Na 10ª reunião ordinária do seu
conselho diocesano, realizada em 26 de janeiro de 1955, dom Sigaud comunicou aos conselheiros a intenção
de adquirir o ginásio de Maringá. A ata registra: “S. Excia. viu-se obrigado a adquirir o Ginásio de Maringá
para a Diocese, a fim de que não caísse em mãos de protestantes.” (DIOCESE DE JACARÉZINHO, 1948,
f. 9). O prédio tinha sido inaugurado em 13 de maio de 1952, com autorização para funcionar concedida
pela portaria estadual nº 852, de 27 de setembro do mesmo ano. Contava com 197 alunos e permaneceu sob
direção de Anthero Chaves Santos desde a abertura até 15 de agosto de 1954, quando foi vendido à Mitra
Diocesana de Jacarezinho (REIS, 2004, p. 69). Esclarece o professor Geraldo Altoé – à época, já residente
em Maringá e, apesar do sobrenome, sem parentesco com padre Cleto –, que Zaqueu de Mello, proprietário
de colégio em Londrina, pretendia comprá-lo para fazer dele extensão de sua atividade educacional de cunho
marcadamente evangélico. “Protestante”, em meados do século passado, carregava para a grei católica um
travo de desconfiança, hoje felizmente superado, que correspondia a sentimento igual da outra parte. Para
diretor do agora ginásio diocesano, a escolha recaiu com naturalidade sobre o capixaba Altoé, de vez que fora
admitido na diocese como ex-salesiano, portanto egresso de um instituto religioso voltado à educação. Além
do encargo, prestava auxílio ao vigário da Santíssima Trindade, a paróquia do centro da cidade. Foi ainda ad-
quirido o direito de funcionamento, no mesmo prédio, da escola técnica de comércio. Conforme informação
de dom Armando Cirio, já naquela época havia intenção por parte do bispo de Jacarezinho de entregar aos
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2 A Rua Pedro Álvares Cabral, pela lei municipal nº 207/62, de 23 de abril de 1962, teve o nome alterado para Padre Marcelino
Champagnat. Depois da canonização de Champagnat, através da lei nº 4820/99, de 25 de junho de 1999, a denominação oficial
passou a São Marcelino Champagnat, embora as placas registrem apenas Rua Marcelino Champagnat.
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distantes. Na diocese, além do Colégio Santo Inácio, espalham seu serviço por sete comunidades:
- Casa Provincial Maria Missionária – sede do governo provincial, que coordena a vida de todas as casas
da congregação no Brasil e no Paraguai;
- Centro de Espiritualidade Rainha da Paz, ambiente perfeito para retiros espirituais de toda a região;
- Noviciado Rainha da Paz, onde as noviças da congregação cumprem o tempo de formação preparan-
do-se para a consagração religiosa;
- Lar Rainha da Paz, para as irmãs idosas, que são cuidadas com carinho recebendo atendimento em
todas as necessidades;
- Creche Menino Jesus, fundada em 1970, reconhecida de utilidade pública federal, a primeira a fun-
cionar em Maringá, construída com ajuda de Brescia, a italiana cidade-irmã de Maringá;
- Comunidade Mãe da Esperança, casa de encontros e
- Comunidade Nossa Senhora das Graças, no município de Sarandi onde, depois de colaborarem na
pastoral paroquial desde 1957, a partir de 1989 vêm cuidando de crianças carentes.
Nas fileiras da congregação do Santo Nome de Maria mais de uma vez a Igreja de Maringá foi buscar
irmãs para pesados encargos em áreas como catequese, Seminário Arquidiocesano, espiritualidade, formação
de agentes, vida paroquial etc. Dentre aquelas que, desde o ano de 1971, se estabeleceram ou se formaram
em Maringá, muitas vêm sendo encaminhadas a novos serviços em Ubiratã, Campina da Lagoa e Sarandi, no
Paraná, além de Mato Grosso, Amazonas, Tocantins e Paraguai.
Ainda em 1957: por carta, dom Jaime iniciou entendimentos com o médico Álvaro Barcellos Sant’Ana,
residente no Rio de Janeiro, para aquisição de uma área de sua propriedade, em Maringá, que compreendia
toda a quadra delimitada pelas avenidas Curitiba e Rio Branco, Rua Luiz Gama e Praça Manuel Ribas. O
terreno continha antigo hospital de madeira desativado. Era intenção do bispo abrir, de frente para a Praça
Manuel Ribas, um espaço destinado à adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. Convidou a Congrega-
ção das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, nas quais pensava, já antes da posse, para ali, num primeiro
momento, abrirem um pensionato. A congregação, fundada em 1928, pelo bispo de Campinas, dom Fran-
cisco de Campos Barreto (1920-1941), expandiu-se rapidamente, alcançando até o Rio Grande do Sul onde
fundou nova província. No ano de 1952 eram já 1012 irmãs estabelecidas em 59 casas por todo o Brasil. Em
resposta ao bispo, datada de 1º de julho de 1957, a madre geral, com sede em Campinas, prometeu enviar
irmãs no final do mês seguinte; o prédio foi então alugado pela diocese e, aos 15 de agosto daquele ano, foi
fundada a Casa Nossa Senhora da Glória. As primeiras cinco religiosas chegaram no dia 27 e no dia 30 desse
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Em Mandaguari, liderada pela paróquia Nossa Senhora Aparecida, além da Escola Primária São Tarcísio
(1961), foram criados: Escola Paroquial São Vicente Pallotti, em 1963; Ginásio e Colégio Industrial e Agríco-
la Rainha dos Apóstolos, em 1968, e Centro de Treinamento Profissional, que iniciou em 1971, todas obras
com a marca do dinamismo de padre Max Kaufmann, SAC. Não obstante sua personalidade forte que lhe
dificultava, às vezes, ajustar-se às normas da Igreja diocesana, padre Max exerceu em Mandaguari um trabalho
religioso-educativo de extraordinário alcance.
Dos atuais colégios a parcela maior partiu de começo bastante humilde, quase sempre em construções
de madeira que, no decorrer dos anos, foram-se fortalecendo com a generosa colaboração dos fiéis das comu-
nidades atendidas. As congregações religiosas voltadas à educação direcionaram seu trabalho, nos primeiros
tempos, preferencialmente à infância e à adolescência femininas. É compreensível, considerando o ambiente
árduo da lavoura e o ensino deficiente das escolas públicas dos primeiros tempos. Muitas vezes o “colégio”
das irmãs não ia além de despojadas salas de madeira onde valentes educadoras ministravam as primeiras
letras, complementando o conteúdo escolar com noções básicas para a formação individual, familiar e social
da mulher.
Manda a verdade que se afirme, também na área da educação, o pioneirismo de dom Jaime. A ele se
deve a instalação de todos os estabelecimentos católicos de ensino durante os quarenta anos de seu governo
diocesano. Mais ainda: um recuo às origens leva a descobri-lo na implantação da maior universidade da região,
a Universidade Estadual de Maringá, bem assim da Pontifícia Universidade Católica do Paraná aqui.
A PUC-PR estabeleceu sua presença em Maringá no ano de 2004, quando ofereceu à comunidade os
dois primeiros cursos de Nutrição e Enfermagem, iniciando as aulas no dia 14 de fevereiro. Fruto de longos
entendimentos mantidos entre a Província Eclesiástica de Maringá e a direção da PUC-PR, em 2006 foi aber-
to o curso de Filosofia. Cumpridas as formalidades da legislação, veio a público, depois de ansiosa espera das
dioceses interessadas, a autorização para o curso de Filosofia:
GABINETE DO MINISTRO
3 Não religioso, evidentemente, mas aqui incluído como integrante das iniciativas da Igreja voltadas à educação em Maringá. Nos
vários seminários diocesanos espalhados por todo o Brasil, não poucos cidadãos encontraram o primeiro impulso para alavancar a
escalada do saber e da solidez de princípios, rumo à sua realização profissional e cidadã.
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Ginásio Maringá construído pela CMNP, adquirido pela diocese de Jacarezinho, antigo prédio do Colégio Marista.
A Igreja que brotou da mata
Assim que os irmãos assumiram o colégio, seu diretor, padre Cleto Altoé, retornou a Jaciguá (ES), pró-
ximo de Cachoeiro de Itapemirim, de onde viera para Jacarezinho, antes da criação da diocese de Maringá. A
escola técnica de comércio permaneceu ainda sob direção da diocese, tendo como diretor o bispo e continu-
ando, como curso noturno, a funcionar no mesmo prédio, agora transformado em Colégio Marista.4
A presença dos irmãos maristas foi decisiva para a abertura da PUC-PR câmpus de Maringá. Ao recebê-
los aqui, no início de 1958, nem em sonho dom Jaime poderia prever que estava, naquele instante, lançando
em solo maringaense a semente inicial da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Além do colégio e da PUC-PR, os irmãos estabeleceram parceria com o Núcleo Social Papa XXIII,
responsabilizando-se por um Centro Social Marista para crianças e adolescentes, para suas famílias e comuni-
dade, segundo o espírito do fundador São Marcelino Champagnat.
Em relação à Universidade Estadual de Maringá, a participação do bispo foi mais clara e direta. Ao
tempo de sua posse, para as autoridades estaduais Maringá representava pouco mais que um celeiro de votos,
perdido no meio do mato, distante da capital para onde se voltava quase exclusiva a atenção dos governantes.
O deputado estadual maringaense Néo Alves Martins procurou junto ao bispo o apoio que julgava importan-
te para a criação de um curso superior, o primeiro que se instalaria na cidade onde só havia ensino até o nível
médio. No relatório referente ao ano de 1959, enviado à nunciatura apostólica com data de 10 de janeiro
de 1960, dom Jaime escreveu que “por motivos políticos desejava um deputado local criar uma Faculdade
Estadual de Filosofia, Ciências e Letras” (COELHO, Maringá, 1961, f. 2). Com olhar posto no futuro, que
projetava a cidade como pólo comercial de vasta região, o bispo inclinava-se bem mais para a abertura de
uma Faculdade de Ciências Econômicas em cuja implantação decidiu investir todo o seu prestígio. Sua opção
acabou por triunfar: a lei estadual nº 4070, de 28 de agosto de 1959, criou a FECEM − Faculdade Estadual
de Ciências Econômicas de Maringá. Atendendo pedido feito pelo governador Moysés Lupion, dom Jaime
aceitou o cargo de primeiro diretor, para o qual foi nomeado pelo decreto governamental nº 25.606, de 21
de setembro de 1959. Teve a seu lado o professor Geraldo Altoé, designado secretário. A 15 de outubro do
mesmo ano, no gabinete do secretário estadual da Educação Nivon Weigert, em Curitiba, tomou posse do
cargo. Os meses seguintes foram gastos nas providências necessárias à instalação dos cursos. O reconheci-
mento da escola pelo Governo Federal veio pelo decreto nº 48.431, datado de 27 de junho de 1960. No dia
20 de setembro do mesmo ano aconteceu a instalação oficial seguida de provas classificatórias e matrículas
de alunos para o ano letivo de 1961. A faculdade começou por funcionar no prédio do Colégio Marista, à
época na Avenida Tiradentes, mudando-se depois para o pavimento superior do atual Instituto Estadual de
Educação, de onde, por fim, se transferiu ao atual câmpus da UEM. Por exigência da Secretaria de Estado
da Educação, o diretor devia também ministrar aulas, motivo que levou o bispo a introduzir no currículo a
cadeira, antes inexistente, de Ética e Sociologia, da qual se tornou professor. Era sua preocupação assegurar
à primeira escola de nível superior em Maringá uma orientação cristã. O primeiro curso, oferecido em 1961,
foi o de Economia, que entre 1961 e 1963 matriculou um total de 89 alunos. No dia 14 de janeiro de 1965
houve a solene colação de grau da primeira turma, graduada no final do ano letivo de 1964. Quatro anos mais
tarde, tinha início o processo da criação oficial da Universidade Estadual de Maringá.
Dom Jaime foi diretor da FECEM desde sua criação até 1962, quando, pela portaria 5.369/62, passou
o cargo a doutor Zeferino Mozatto Krukowski. Por conta de impreteríveis encargos, que o forçavam a pro-
longados afastamentos da cidade − visitas pastorais a todas as paróquias e, particularmente, presença exigida
4 A CMNP construiu o Colégio Maringá (chamado Ginásio Maringá na época da transferência à diocese de Jacarezinho), tornan-
do-se credora da importância despendida na construção. É o prédio de pavimento único, com 50m de fachada, ainda em uso na
Avenida Tiradentes, nº 963, na esquina com a Rua Marcelino Champagnat. Não tendo saldado inteiramente o débito, o professor
Anthero vendeu a escola, passando o compromisso à Mitra Diocesana de Jacarezinho. Com a criação da diocese de Maringá, em
1956, a ela foi transferida a dívida restante que, por sua vez, os irmãos maristas, estabelecidos em Maringá, assumiram e quitaram
junto à Companhia.
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5 Sessões do Concílio designam os quatro períodos em que os bispos estiveram reunidos em Roma para as discussões conciliares: de 11
de outubro a 8 de dezembro de 1962; de 29 de setembro a 4 de dezembro de 1963; de 14 de setembro a 21 de novembro de 1964,
e de 14 de setembro a 8 de dezembro de 1965. De todas dom Jaime participou integralmente.
6 A queda no número de monges verificou-se na Itália, berço da fundação brasileira. Para lá foram então transferidos os que aqui se
encontravam há menos de um ano, provocando o fechamento da casa.
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7 A contagem foi feita pelo autor destas notas no dia 29 de agosto de 2006. Dentre os padres sepultados (Raimundo Le Goff, Mathias
Jorge, Friedrich (Fritz) J. K. Gerkens, Pedro Ryo Tanaka, Levi de Oliveira Silva, Aparecido Reis de Lima e Wagner dos Santos) os dois
últimos não trabalharam na diocese, mas têm em Maringá suas famílias. Os irmãos religiosos falecidos pertenceram aos maristas e
aos enfermeiros da Santa Casa. Além das 23 religiosas sepultadas, outras três da congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição
tiveram os restos mortais trasladados para Nova Trento (SC), onde a congregação construiu jazigo próprio.
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Uma clínica como a Santa Casa, erigida na Operária, foi um avanço de Maringá no
trato com a pobreza, e a Igreja Católica teve papel vital nessa obra. Os religiosos ale-
mães fundadores da casa viram na vila humilde uma fecunda oportunidade para exercer
seu ofício na ajuda ao próximo. Todos os irmãos tinham formação profissional na área
médica, e às vezes passavam as noites em claro cuidando dos enfermos, seja do bairro,
seja de outras localidades. A Santa Casa, como é conhecida popularmente, não se res-
tringia às suas atribuições hospitalares; fornecia alimentação gratuita ao povo carente,
ampliando o seu campo assistencial (MARINGÁ, 2002, p. 106-107).
Em maio de 1957, dois meses depois de sua posse, dom Jaime recebeu uma comissão encabeçada por
médicos da cidade, que a ele se dirigiu mostrando interesse de criar um grande hospital regional. São palavras
suas sobre a intenção que percebeu em alguns profissionais, por detrás da proposta apresentada:
A conclusão que tirei: ‘matar’ a Santa Casa, e a construção de novo Hospital, com o
Bispo à frente das obras. Depois de tudo pronto, far-se-ia uma placa de homenagem
aos membros da Comissão, e o Hospital seria entregue à classe médica. É claro que a
minha resposta seria uma negativa; eu lhes propus: se os Srs. quiserem ‘transformar’ a
Santa Casa em um grande Hospital, estou pronto, continuando o mesmo como uma
obra da Igreja e sob sua direção. Vamos aguardar os resultados... (DIOCESE DE MA-
RINGÁ, 1957a, f. 48, grifo do autor).
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Mas os problemas não ficaram de todo sanados nesse encontro. A idéia do bispo não parece ter suscitado
muito interesse na classe médica de então. No dia 11 de setembro, “devido às críticas e restrições à Santa Casa”,
conforme referiu, dom Jaime convocou a Sociedade Médica local para uma reunião no Grande Hotel Maringá.
Era o mais nobre palco para solenidades e eventos de peso. Na oportunidade, deixou claro: “as portas da Santa
Casa estão abertas a todos os Srs. Médicos, contanto que saibam respeitar o Código de Moral Médica.” Apro-
veitou para agradecer “a colaboração efetiva de todos” (DIOCESE DE MARINGÁ, 1957a, f. 63).
Ao longo de todo o seu episcopado, continuou mantendo a postura de defensor da Santa Casa por ver
nela real prestadora de serviço aos doentes pobres. Quase nenhum hospital da época atendia pessoas incapazes
de pagar pelo tratamento. Não poucas vezes, por rádio ou jornal, o bispo sustentou acalorado debate com
figuras “importantes” no esforço de garantir à Igreja, através da Santa Casa, o elementar direito de prestar
socorro médico a pessoas necessitadas.
Devido à atuação não só competente, mas carinhosa das irmãs, nos primeiros tempos a Santa Casa por
pouco não monopolizou por inteiro o atendimento a parturientes da cidade e da região. A excelente qualidade
dos serviços oferecidos desde os primórdios levou à conquista de um feito extraordinário: em 2003, quando foi
celebrado o cinqüentenário da chegada dos irmãos a Maringá, nada menos do que dois terços das crianças aqui
nascidas tinham vindo ao mundo na maternidade da Santa Casa. Pelo espaço de quase 50 anos, até em horas
perdidas da noite, inclusive de domingos, irmã Maria Callista, enquanto teve forças, pôde ser vista ocupada na
maternidade ou no berçário. Em suas experientes mãos nasceram mais de 25.000 crianças. Mais de 300 muni-
cípios paranaenses têm população inferior a essa cifra.8 À razão de 1,36 parto por dia, não é impossível que irmã
Callista tenha superado as marcas mais expressivas de conceituados obstetras deste imenso país.
Depois de 17 anos de atendimento, em especial à população menos aquinhoada de posses, a diocese
viu-se impossibilitada de prosseguir na função de mantenedora da Santa Casa de Misericórdia. Impunham-se
mudanças no prédio de madeira, que clamava por reformas inadiáveis, além do alcance financeiro da Mitra Dio-
cesana. O bispo decidiu abdicar, em favor da Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora,
da posse da área de terras e das instalações existentes do hospital e do noviciado dos religiosos. A transferência
de propriedade, por doação sem ônus, foi celebrada no dia 24 de maio de 1971, e a congregação dos irmãos
deu à casa de saúde o novo nome de Hospital e Maternidade Maria Auxiliadora – Santa Casa de Maringá.
Desde o final dos anos 40, praticamente desde seu nascimento, a cidade de Maringá acostumou-se com
o espetáculo de gente indo e vindo em busca de emprego. No início, eram trabalhadores rurais, sem outra
qualificação além dos próprios braços, atrás de alguma colocação nas muitas propriedades de café que se
abriam com a derrubada do mato. Perambulavam pela cidade e, como não dispunham de dinheiro, também
8 O número representa 75,19% do total de 399 municípios do Estado. Entre os nascidos na maternidade da Santa Casa de Maringá
figura o ex-prefeito e deputado federal Ricardo Barros.
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9 Dados recentes: ano de 2003 = 38.200 pessoas atendidas; em 2004 = 30.270; ano de 2005 = 36.374. No 1º semestre de 2006 pas-
saram pelo albergue 16.697 pessoas (14.822 homens, 1.028 mulheres, 803 idosos e 44 crianças).
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O 5º Encontro de presidentes da Sociedade de São Vicente de Paulo, em Mandaguari, no dia 27 de julho de 1975.
Em Maringá funciona também o Lar dos Velhinhos, fundado pelo Rotary Club e entregue à Congrega-
ção das Irmãzinhas da Imaculada Conceição que, desde 8 de maio de 1966, conta com o amoroso trabalho
dessas religiosas. Com muito trabalho elas o ampliaram até alcançar as atuais condições de atendimento aos
“vovôs” e às “vovós”, como carinhosamente os chama irmã Firmina Maria, diretora há mais de quatro décadas.
Desde 1968 as irmãs recebem o reforço de voluntários do chamado Grupo de Serviço São José.
Muitas obras de assistência social e também de promoção humana foram ou são desenvolvidas por ins-
piração da Igreja Católica em Maringá e região. Na impossibilidade de relacionar de forma completa tudo o
que se implantou nesses 50 anos, é oportuno citar alguns sinais da ação de uma Igreja servidora presente em
nosso meio, como:
• Obra do Berço de Maringá, destinada ao atendimento de gestantes carentes, com orientação para o
parto e preparação de enxovais para recém-nascidos. Quando de sua fundação, foi dirigida pelas Mis-
sionárias de Jesus Crucificado. Com a saída destas, permaneceu desativada por muitos anos até que,
no dia 13 de fevereiro de 1997, foi reassumida pela paróquia Cristo Ressuscitado. Na mesma linha e
com o mesmo espírito deve lembrar-se o Roupeiro Santa Rita de Cássia.
• Lar Escola da Criança, fundado por senhoras pioneiras do Clube da Amizade, que abre nova pers-
pectiva de vida humana e cristã a crianças, adolescentes, jovens e a famílias empobrecidas através da
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Irmã Jeanne teve a ventura de se reunir a jovens portadores de uma generosidade raramente encontrável
mesmo em pessoas dessa idade. Transmitindo-lhes o entusiasmo de uma fé engajada, ajudou-os a descobri-
rem a dimensão social do Evangelho. Seu amor aos pobres não era montado sobre discursos, mas vivido com
as pessoas de carne e osso do Mandacaru. Entre os muitos que compuseram o Grupo Lebret, recordam-se
nomes como Licínio Lima, irmãos Rosemeire e Walter Coimbra de Campos, Nadir dos Santos Vaz, Guiomar
Germani, Washington Castilho, Maria de Jesus Cano, Renato Rua de Almeida, Katsuko Nakano, Basílio
Bacarin, Deise Deffune, José Benedito Pires Trindade, Deise Barros, Elpídio Serra e sua irmã Neusa, Judite
Barbosa, Neusa Casagrande e muitos outros. Infelizmente, irmã Jeanne, gravemente enferma, deixou Marin-
gá no dia 2 de junho de 1967, voltando à França para tratamento de saúde, vindo a falecer no início de 1969.
O Grupo Lebret recebeu, então, no segundo semestre de 1967, assistência de padre Orivaldo Robles, que
lecionava Filosofia no curso clássico do Colégio Gastão Vidigal para vários de seus integrantes. Chegando,
no início de fevereiro de 1968, padre Antônio de Pádua Almeida, a partir de março, acompanhou o grupo
pelo espaço de aproximados oito meses. A intervenção policial do dia 12 de outubro de 1968 no congresso
da UNE celebrado em Ibiúna (SP) praticamente assinou a sentença de morte para aquele punhado de jovens
idealistas que Maringá produziu. “O fracasso do 30º Congresso da UNE foi a gota que faltava para empurrar
os estudantes da clandestinidade para a ilegalidade”, opina enviado especial da “Folha de São Paulo” (SILVA,
1993). Com a entrada em vigor do AI-5, em dezembro de 1968, os componentes do Grupo Lebret disper-
saram-se, buscando cada qual uma forma de participação nos rumos da comunidade local ou do país. Uma
parte optou por participação política em agremiações de esquerda que surgiram naquele período, algumas até
radicais e de práticas não inteiramente conformes aos princípios do Evangelho.
• Obra de Assistência Social Nossa Senhora do Rosário, chamada, de início, Vila Papa João XXIII,
fundada em Floresta por padre Antonio Luigi Martinelli em 1970, com decidido apoio de católicos
de Brescia, na Itália, que começou como orfanato. A partir de 30 de maio de 1998, já no governo
arquidiocesano de dom Murilo, confiada às religiosas do Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração
de Jesus, direcionou suas atividades no rumo de uma escola de ofícios, de reforço escolar, de forma-
ção e entretenimento para crianças carentes.
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• Centro Social Madre Rafaela Ybarra, de Marialva, iniciado em 1986 pelo corajoso impulso de irmã
Rosa Celeste Parede Hamilton, construído com apoio da comunidade local e ajuda dos organismos
católicos “Misereor” (Alemanha), “Manos Unidas” (Espanha) e “Drei König” (Áustria). Desenvol-
ve suas atividades junto de pessoas carentes da Vila Brasil, Vila Messias, Vila Antônia e Conjunto
João de Barro. Começou como catequese de bairro e hoje oferece chance de vida melhor a crianças e
adolescentes de ambos os sexos através de reforço escolar e de cursos de formação para o trabalho.
• Instituto Promocional Jesus Nazareno, das irmãs da Congregação de São João Batista, estabelecidas
desde 16 de junho de 1992, em Mandaguari, na paróquia Bom Pastor, onde, além de auxílio no
trabalho paroquial, promovem cursos de artes e ofícios, atividades educativas e socializadoras para
pessoas de menor poder aquisitivo.
• PROMEC – Proteção ao Menor Carente de Sarandi, fundada em 1989 por irmã Antona Dröge, das
Missionárias do Santo Nome de Maria. Com ajuda de católicos alemães do “Adveniat” foi constru-
ído o prédio situado na Avenida Jaçanã, 941 onde mais de 100 crianças da 1ª à 5ª série do ensino
fundamental recebem reforço escolar no contra-turno de aulas, além de cursos de informática, arte-
sanato, de recreação etc. De início, funcionaram cursos de eletricidade, serralheria, panificação etc.
que, por força do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi preciso desativar. A obra é dirigida pelas
religiosas da mesma congregação da falecida irmã Antona.
Sem condição de seguir adiante, o Centro Cultural da Juventude, ficou apenas no desejo do bispo que,
em compensação, teve seu nome ligado ao nascimento da UMES – União Maringaense dos Estudantes Secun-
dários. Não existindo curso superior na cidade, Carlos Alberto Borges, presidente do grêmio estudantil da es-
cola técnica de comércio (que pertencia à diocese e funcionava no prédio do Colégio Marista), representava os
estudantes do nível mais “adiantado” de Maringá. Decidido a dar à população estudantil maior consciência de
classe e poder de representação, convocou todos os colégios para a assembléia de fundação da UMES. Apesar
da euforia pelo primeiro título de campeão mundial de futebol, conquistado pelo Brasil ao meio-dia,11 o antigo
Cine Maringá, na avenida Getúlio Vargas, recebeu, na tarde daquele 29 de junho de 1958, uma multidão de
estudantes. A ata de fundação da entidade estudantil de Maringá conserva, entre outras, a assinatura de dom
Jaime Luiz Coelho, bispo diocesano, que também apoiou o anseio de uma sede para a nova entidade. Borges
tinha em mente uma UMES de forte presença na área cultural, social, esportiva e de lazer para os estudantes
da cidade. Mas a construção da sede representou verdadeira aventura, bem mais difícil do que previra. Doutor
Hermann Moraes Barros, diretor-gerente da CMNP, morava em São Paulo e vinha, em avião particular, qua-
se toda semana, inspecionar obras de Londrina, Maringá e Cianorte. Da parte da CMNP havia interesse de
vender toda a área loteada. Era importante, por isso, que os proprietários não retardassem o levantamento de
construções nos lotes adquiridos. Contudo, associações profissionais de Maringá beneficiadas com doação de
áreas para suas sedes, demoravam a construir, causando desagrado à direção da Companhia. Sabendo que os
estudantes também queriam pedir um terreno, Barros não se deixava encontrar com facilidade. Acompanhado
de uns cinqüenta colegas, Borges postou-se então no escritório da CMNP, à espera do diretor-gerente. Não
houve como deixar de receber a delegação. O presidente da UMES propôs: “Doutor Hermann, o senhor não
precisa fazer a doação agora. Só escriture o terreno para a UMES quando tivermos a sede pronta”.12 Venceu.
A Companhia cedeu o terreno da Avenida Cerro Azul, em frente à Câmara Municipal de Maringá, escolhido
pelos estudantes entre outros dois propostos, por causa da proximidade, na época, com o Colégio Gastão
Vidigal. O prédio, terceiro no lado esquerdo da avenida, no abandono a que foi relegado, nem vagamente
lembra as memoráveis discussões cívicas dos anos 60, quando ali funcionou o único restaurante acessível aos
bolsos estudantis. Campanhas, rifas, bailes, promoções de todo tipo foram empreendidos para levantá-lo e,
dessa forma, assegurar a posse do terreno. A construção, moderna para a época, foi erguida a partir de planta
doada pelo engenheiro Luty Vicente Kasprowicz, e sólida bastante para resistir às intempéries e ao descaso das
décadas seguintes. Inaugurada em 1960, com a presença do governador eleito Ney Braga e de dom Jaime, até
hoje não conseguiu a escritura de doação da CMNP que, no entanto, continua assegurando à UMES sua posse
e uso, sem jamais ter deixado de respeitar a palavra empenhada pelo diretor-gerente daquela época.
O Centro do Professorado Católico sucumbiu depois de pouca duração; os professores interessados em
vínculo associativo preferiram fortalecer a própria entidade classista, a APP – Associação dos Professores do
Paraná, criada na capital, em 26 de abril 1947, que ainda ensaiava os primeiros passos no Norte do Paraná.
Ao conseguir a doação, na saída de Maringá em direção a Paranavaí, de cinco alqueires paulistas para a
construção do seminário diocesano, o bispo não abriu mão da antiga área de um alqueire, mais precisamente
de 23.747,00m², ao lado do cemitério municipal, previamente reservado pela empresa colonizadora para essa
11 Sem televisão, as partidas eram acompanhadas pelo rádio, na voz de locutores famosos como Pedro Luís, Edson Leite e outros. Por
causa do fuso horário, a final entre Brasil e Suécia começou às 11h do Rio, hora oficial do Brasil, à época.
197
Não eram destituídas de fundamento as previsões do comandante da 5ª Região Militar. Além do arce-
bispo, outras instâncias devem ter sido mobilizadas. Atentos ao descontentamento que ameaçava expandir-se
mais, e orientados de cima, com certeza, por seus superiores, em Maringá, o juiz Zeferino Krukowski e um
capitão do exército tentaram demover dom Jaime da intenção de marchar com os agricultores. Inútil. O bispo
não arredou pé, integrando-se à comitiva que partiu para o Rio de Janeiro, capital federal na época, aonde
os cafeicultores pretendiam fazer chegar suas reclamações. O Ministério da Justiça classificou a marcha como
“movimento subversivo” e enquadrou-a nas sanções da Lei de Segurança Nacional. Na véspera do dia 18, um
batalhão do 13º Regimento de Infantaria, da cidade de Ponta Grossa, acampou nas imediações do km 115 da
antiga estrada oficial, em área do atual município de Sarandi. A comitiva com o bispo à frente foi detida por
soldados armados de fuzis e metralhadoras. Sem permissão de continuar, viu-se forçada a tomar o caminho
de volta. Não obstante a curteza da marcha, ela alcançou repercussão nacional. Numa época sem televisão,
Maringá encheu-se de repórteres dos maiores jornais e emissoras de rádio, que carregaram até os mais altos
gabinetes da República a insatisfação dos produtores do Norte paranaense. A ordem vinda do Rio era taxa-
198
Na campanha eleitoral de 1960 pela sucessão do governador Lupion, o bispo de Maringá manifestou-se
publicamente pelo candidato Ney Aminthas de Barros Braga, do PDC, contra os outros dois, Nelson Macu-
lan, do PTB, e Plínio Franco Ferreira da Costa, apoiado pelo governador, em coligação partidária liderada
pelo PSD. Braga era admirador do ideal “Economia e Humanismo”, desenvolvido pelo padre dominicano
francês Louis Joseph Lebret (1847-1966) cujos estudos nas áreas da economia, do humanismo e do desen-
volvimento exerceram larga influência no pensamento social católico brasileiro de então. Descontente com
o governo de Lupion, que não queria ver continuado por Plínio, e não reconhecendo, por outro lado, em
Maculan qualidades mínimas de governo, dom Jaime adotou postura política que surpreendeu e também des-
13 Pe. Valério Alberton, SJ, então diretor da Federação das Congregações Marianas no Paraná.
199
era preciso lançar o movimento publicamente com a maior repercussão possível. Ora,
os militantes comunistas haviam planejado para o mês de agosto, em Maringá um
‘congresso de trabalhadores rurais’, do qual deveria participar o grande líder das ligas
camponesas do Nordeste, Francisco Julião. Aos olhos dos católicos, ele viria para ‘in-
sultar os trabalhadores rurais e incitá-los à revolta’, difundindo ‘suas idéias esquerdistas
e comunistas’. De fato, isso significaria a entrada das ligas de Julião na região, conside-
rada uma área sensível devido à grande concentração de trabalhadores rurais oriundos
do Nordeste. Os dirigentes da Igreja, indignados, consideraram o evento como uma
afronta comunista. Era a gota d’água que faria transbordar a paciência cristã e um bom
pretexto para desencadear o movimento dos bispos. Mas uma dura prova aguardava o
principiante movimento cristão (SILVA, 2006, p. 224-225).14
Numa época de nervos à flor da pele, não houve como evitar o choque entre representantes da Igreja
– padres, congregados marianos, alunos de colégios católicos – e militantes do Partidão. A polícia foi cha-
mada: “o coronel mandou descer o cacete... freira apanhou, padre apanhou, todo mundo apanhou... veio
bomba, jatos de água, veio o corpo de bombeiros. Virou uma praça de guerra; quebra-pau, um confronto
terrível”, contaria mais tarde um dos participantes do congresso de trabalhadores rurais ao professor Ângelo
Priori (2001, p. 175), que escreveu sobre o episódio. As versões apresentadas pelo lado católico são distintas,
embora não haja como esconder que estudantes e congregados marianos tiveram uma reação feroz, absoluta-
mente inesperada pelos congressistas do PCB.
Como um furacão, por onde Julião passava, havia conflito. A sua chegada ao aeroporto
de Maringá foi esperada com impaciência pelos militantes das Congregações Marianas.
Dom Jaime tinha preparado ‘o povo católico’ para que não deixasse o avião pousar.
Apesar disso, Julião conseguiu chegar até o Congresso dos sindicalistas do PCB. Se-
gundo um padre, o confronto começou logo na sessão de abertura da reunião, quando
alguns estudantes questionaram Julião, no momento em que ele expunha suas visões
sobre a reforma agrária. O conferencista recusou a polêmica e os estudantes foram
‘expulsos do local’. À tarde, durante o desfile da FAP, em nome de Deus, o Congresso
dos ‘vermelhos’ foi cercado e agredido. O padre Osvaldo Rambo relatou: ‘Um grupo
de marianos já foram... na frente (do lugar) da reunião deles, já começaram a... mexer
com eles, a incomodá-los, atirando pedras pra dentro, vaiando, gritando. [...] O padre
André Torres, que levava uma carabina em baixo da batina, comandava um ‘bando de
garotos’ nas ruas, ‘provocando tumultos nas ruas e pedindo justiça para os campone-
ses’. Puseram fogo nos cartazes. Eles vieram ‘para quebrar tudo’, para ‘acabar com o
14 O autor traz também a opinião contrária de padre Osvaldo Rambo, para quem foram os comunistas que marcaram o congresso,
depois de anunciada a fundação da FAP: “quando os comunistas souberam da nossa reunião grande pra fundar a Frente Agrária Para-
naense, eles também começaram a organizar uma concentração, uma reunião de esquerdistas e de comunistas... a quatro quarteirões,
num salão... mesmo dia, mesmas horas” (SILVA, 2006, p. 227).
200
Admitindo, embora, alguma dose de verdade nos relatos que Silva e Priori ouviram, é preciso descontar
exageros compreensivelmente criados pela paixão da hora. Só em mente exaltada ou alheia aos fatos caberia
admitir que em 1961 o Colégio Marista de Maringá tivesse 3.000 alunos adolescentes e jovens − ninguém
convocaria crianças para confronto dessa natureza15 −, que na praça houvesse 30 padres juntos, que sob a veste
clerical padre André carregasse uma carabina. Era impossível um padre portar arma sob a batina pela simples e
boa razão, referida por dom Jaime, testemunha ocular, de que os padres, naquele dia, prevendo o confronto,
se apresentaram em trajes civis. Por outro lado, não eram 30, mas três apenas misturados aos manifestantes:
padres Osvaldo Rambo, André José Torres e Francisco Peregrina Lopes. Somados alunos do Marista e da Es-
cola Técnica de Comércio, que funcionava à noite no mesmo prédio, dificilmente alcançariam três centenas.
O PCB mobilizava-se junto aos camponeses sempre se adaptando às peculiaridades locais. Principal mote
das ligas camponesas no Nordeste brasileiro, o discurso da reforma agrária não se apresentava tão sedutor no
Norte do Paraná onde os latifúndios, em 1961, eram extremamente raros: a colonização empreendida pela
CMNP tinha privilegiado a pequena e a média propriedade. Em vista disso, a campanha desencadeada pelos
comunistas, mais que tudo, visava criar sindicatos de trabalhadores rurais com diretorias fiéis ao PCB. Depois,
seriam unificados numa confederação que lhes garantisse a orientação ideológica do campesinato norte-parana-
ense. A FAP nasceu com o claro propósito de barrar o avanço do comunismo na área rural. A mobilização dos
bispos revestia um cunho ideológico: tratava-se, na verdade, de defender a fé cristã do ataque de uma doutrina
materialista e atéia. Por isso, entre suas principais atividades estava a criação dos mesmos sindicatos, mas entre-
gues à coordenação de pessoas cristãs. Eram objetivos da Frente Agrária Paranaense, lançada pelos bispos:
15 Depois de 45 anos, em 31 de outubro de 2006, o Colégio Marista de Maringá, incluindo as crianças da Educação Infantil, contava
1.644 (mil, seiscentos e quarenta e quatro) alunos, conforme resposta da secretaria do Colégio a consulta do autor deste relato.
201
Francisco Julião, o primeiro sentado. Ao A tropa de policiais que reprimiu com violência o
microfone, Armando de Lima Uchoa, prefeito de confronto nas ruas de Maringá.
Nova Esperança.
A FAP é pioneira na fundação, dentro do Estado do Paraná, dos sindicatos de trabalhadores rurais. Em
1969 contavam-se no Estado do Paraná mais de 100 sindicatos fundados por ela ou sob sua inspiração, um
trabalho desenvolvido, na diocese de Maringá e região, de forma muito intensa, por padre André José Torres
e também por padre Osvaldo Rambo, da paróquia São José. Heller da Silva apresenta números diferentes.
Para ele, quando em 1964 os militares tomaram o poder, os sindicatos fundados por católicos seriam 46, ou
ainda 41, senão 35 apenas, enquanto havia 86 sindicatos dos comunistas (SILVA, 2006, p. 258). Para levar a
termo o programa da Frente Agrária Paranaense, Rambo ainda fundou, em 1964, a Cooperativa Agrícola de
Maringá, destinada a pequenos proprietários rurais, com abrangência de 37 municípios. Da cooperativa era
ele o diretor-presidente, cabendo a seu primo Arno Wilibaldo Vier, dentista e agricultor, o cargo de diretor-
gerente. À semelhança de Priori, também Heller da Silva reconhece ao PCB e à Igreja Católica um papel de
capital importância na história do sindicalismo rural:
Apesar de suas diferenças ideológicas, seus discursos sobre a postura sindical se apro-
ximavam: devoção, disponibilidade e desinteresse eram constantes. Entretanto, para
a maioria destes militantes (sejam cristãos ou marxistas) suas atividades podiam tra-
zer-lhes um capital social e um capital cultural-formal, praticamente inacessível por
outros caminhos. [...] Semelhante aos sindicatos comunistas, o ponto de referência
dos católicos era sempre a observância da legalidade e dos direitos dos lavradores. As
suas divergências começavam, porém, na definição do que era direito e do que não
era. O conjunto de pontos de contato entre os dois sindicatos permitia, para além dos
conflitos, a aparição de uma espécie de cumplicidade entre um certo número de agen-
tes posicionados em campos antagônicos. [...] Apesar do papel desempenhado pelos
202
No ano de 1965, dom Jaime criou em Maringá a ADAR – Associação Diocesana de Assistência Rural,
obra promocional em benefício do homem do campo ao qual oferecia cursos de tratorista, de administrador
rural, formação em liderança sindical, plantio, adubação, técnicas de colheita e silagem etc., além de outros
cursos, especialmente voltados a pessoas do sexo feminino, como artes culinárias, corte e costura, alfabetiza-
ção de adultos, higiene, puericultura etc. A obra não desfrutou de vida longa. Irmã Jeanne Gaudin, principal
animadora do trabalho da ADAR, adoeceu gravemente e retirou-se para a França em 1967. A nova situação
política, por outro lado, estendeu seus reflexos também à vida do homem do campo, inviabilizando os pro-
jetos da ADAR.
A partir de 1964, com a entrada em cena dos governos militares, mudou radicalmente o panorama
agrícola do país e, por conseqüência, do Norte do Estado. Os anos 70 assistiram o surgimento da conveniente
ilusão do “milagre econômico”. Em nome do crescimento do bolo da renda nacional, a agricultura brasileira
foi entregue à economia de mercado, que passou a privilegiar de forma quase absoluta a produção para o
comércio exportador. Alargaram-se enormemente as fronteiras agrícolas transformando o Brasil no paraíso
das grandes empresas produtoras de insumos agrícolas em escala planetária. A geada de 1975 terminou por
sepultar inteiramente qualquer resquício da monocultura cafeeira que dera início à exploração agrícola da re-
gião, quarenta anos antes. Para alcançar o posto de um dos maiores produtores de grãos em que se converteu,
o Paraná viu-se forçado a abandonar a agricultura familiar praticada em pequenas propriedades, que fora um
dos traços mais marcantes do cultivo da terra naqueles não tão distantes, mas hoje definitivamente passados
tempos pioneiros.
Exemplo, um entre muitos, do engajamento da Igreja em causas sociais deu-se na greve dos operários da
Cia. Norpa Industrial, em 1968, seguidos, depois, pelos colegas da Cia. Cruzeiro. Conta Reginaldo Dias:
No domingo, 07 de outubro, os operários das duas indústrias [...] fizeram um ato pú-
blico, no qual receberam solidariedade de sindicatos, associações estudantis e membros
do clero [...] O impasse persistiu, na medida em que a empresa recusou a proposta e
ameaçou promover demissão em massa, caso a greve não cessasse até as 16 horas da-
quele dia. Entrou em cena, então, o bispo da cidade que, tendo manifestado solidarie-
203
Misturado aos trabalhadores no acampamento montado diante da fábrica, de batina preta, faixa roxa
e cruz peitoral, o bispo dirigiu-se aos policiais: “Se vocês entrarem aqui para espancar os operários, vão ter
que bater em mim também.” Não houve violência, mas as negociações com a empresa foram penosas e não
de todo satisfatórias para os trabalhadores, apesar da mediação da autoridade episcopal. Mais do que ganhos
financeiros, contudo, valeu o testemunho de solidariedade da Igreja a pobres operários numa greve que o
próprio comando constatou incapaz de manter-se por mais tempo.
Ainda que menos visíveis, nem por isso de menor valor, também em outras áreas de atividade humana se
fez sentir a presença fraterna da Igreja de Maringá. No dia 24 de novembro de 1978, “O Diário” estampava
em primeira página a manchete: “Após 15 anos Maringá e região ganham hoje junta de Conciliação e Julga-
mento”. O texto historiava a longa participação de dom Jaime na conquista, que pode assim resumir-se:
Em 1967 o Sindicato dos Empregados do Comércio de Maringá deu entrada em processo adminis-
trativo (prot. nº TST-3-177/67) no Tribunal Superior do Trabalho, à época com sede no Rio de Janeiro,
pleiteando a criação da Junta de Conciliação e Julgamento na Comarca de Maringá. No dia 14 de outubro
de 1968, aproveitando audiência com o presidente Arthur da Costa e Silva, em Brasília, para tratar da TV
Cultura de Maringá, referendando o pedido do Sindicato dos Empregados do Comércio de Maringá, dom
Jaime entregou ofício solicitando a criação da Junta na cidade. Thelio da Costa Monteiro, presidente do Tri-
bunal Superior do Trabalho, em 20 de março de 1969 enviou a dom Jaime ofício (prot. TST-3-177/67-GP
123/69) informando andamento do processo, que aguardava apenas informações pedidas ao juiz da Comarca
de Maringá, Cyro Maurício Crema (este respondeu, no dia 31, ressaltando “o interesse do bispo diocesano
de Maringá pela criação da esperada Junta de Conciliação e Julgamento de Maringá”). Jarbas Passarinho, mi-
nistro do Trabalho, em visita a Maringá, no dia 26 do mesmo mês recebeu em mãos um ofício no qual dom
Jaime reforçava o anseio de Maringá e região pela criação da Junta, aproveitando para pedir sua oportuna
influência. Em 20 de junho, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho informou ao bispo ter encami-
nhado, com parecer favorável, ao ministro da Justiça, o prot. nº TST-3-177/67, recomendando a criação da
Junta, com jurisdição sobre as vizinhas comarcas de Mandaguaçu e de Marialva. Três dias depois, telegrama
de João Zoghbi, diretor geral do TRISEC, informava a dom Jaime que o processo tinha sido encaminhado
ao Ministério da Justiça, onde recebera o nº MJ 18885.
As coisas, porém, movimentam-se devagar nos escaninhos da burocracia de Brasília. Somente no dia 24
de novembro de 1978 se instalou a Junta de Conciliação e Julgamento na Comarca de Maringá com compe-
tência sobre 36 cidades da região, compreendendo, além de Maringá, os municípios: Alto Paraná, Astorga,
Atalaia, Colorado, Cruzeiro do Sul, Doutor Camargo, Engenheiro Beltrão, Fênix, Floraí, Floresta, Flórida,
Guaraci, Iguaraçu, Itambé, Ivatuba, Japurá, Jussara, Lobato, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Munhoz
de Melo, Nossa Senhora das Graças, Nova Esperança, Ourizona, Paiçandu, Paranacity, Presidente Castelo
Branco, Quinta do Sol, Santa Fé, São Carlos do Ivaí, São Jorge, São Tomé, Terra Boa e Uniflor. O juiz que
assumiu a Junta de Maringá, Ismael Gonzalez, recepcionado, às 9h30, no aeroporto pelo prefeito João Pauli-
no Vieira Filho, autoridades e lideranças sindicais, dali se dirigiu diretamente à residência de dom Jaime, cuja
participação foi intensa e decisiva para o objetivo alcançado (APÓS..., 1978, p.1-2).17
No campo político eleitoral, a campanha para prefeito do município deu a conhecer, em 1968, um
16 Os membros do clero a que Dias se refere eram padres Almeida e Orivaldo, ligados ao Grupo Lebret, que moravam na residência
episcopal. A pedido do comando da greve, convidaram o bispo para dialogar com operários e patrões.
17 Os “15 anos” da manchete contaram-se provavelmente a partir da ditadura militar, implantada no início de 1964.
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Quem atravessou os chamados “anos de chumbo” recorda o clima de desconfiança que dominou o país,
subitamente convertido em imenso salão sob controle de um onisciente “big brother” que tudo anotava, re-
gistrava e guardava como prova contra os cidadãos. Fosse qual fosse a profissão exercida ou o cargo ocupado,
a pessoa corria perigo de ser rotulada de subversiva, bastando não agradar aos senhores do poder. Denúncia
gratuita, motivada por vingança, inveja ou antipatia, era suficiente para comprometer a vida de quem nunca
sonhara estar sob suspeita. Pelo menos um membro do presbitério de Maringá teve, naquele tempo, sorte
igual à do bispo. O Arquivo Público do Paraná guarda pasta nº 03120, com documentos e informações refe-
rentes a “Orivaldo Robles – padre”, onde consta ofício de 6 de março de 1969 do chefe do SNI, agência de
Curitiba, ao delegado da DOPS/PR cuja resposta foi dada em 30 de agosto do mesmo ano:
1. Esta Agência teve conhecimento de que o Padre Oriovaldo (sic) Robles, da Paró-
quia de Maringá-PR, em suas pregações dominicais, critica o Exmº Sr Presidente da
República e as Fôrças Armadas, como corruptas; atua no meio estudantil; é pregador
do amor livre (sic), e, finalmente, que a população de Maringá repudia a sua atuação.
2. Em face do expôsto, tenho a honra de me dirigir a V.S. para solicitar informações
quanto: veracidade dos fatos apontados; caso se confirmem, ampliar; dados de qua-
lificação, antecedentes políticos e ideológicos da pessoa referida e outros dados [...].
Em resposta [...] informo que, quanto à ideologia política do Padre Orivaldo Robles,
a mesma é francamente para a esquerda, pois o referido sacerdote, quando dos seus
sermões, se aproveitava para atacar às Forças Armadas, porém somente assim proce-
dia quando os mesmos não eram irradiados, e, quando tivemos conhecimento de tais
discursos, foi justamente na ocasião em que V.S. enviou um agente para conseguir a
gravação dos mesmos. Outrossim, informo à V.S., que o Padre Oswaldo (sic) Robles,
é grande amigo do estudante Francisco Timbó de Souza elemento este fichado nesta
Especializada como Subversivo, com o qual mantém sempre contato (ARQUIVO PÚ-
BLICO DO PARANÁ, 1969-1973, f. 9, 1).19
Apesar de constar, na certidão expedida em 12 de abril de 1971, pela Delegacia de Ordem Política e
Social de Curitiba, que “não figura o requerente como indiciado em Inquérito Criminal por infração à Segu-
rança Nacional, inexistindo ainda decreto judicial de prisão preventiva”, Robles foi excluído do corpo docente
do Ginásio Estadual Maria José Rocha Braga e também da Escola Normal Regional Claudino dos Santos,
ambos na cidade de Paranacity, nos quais lecionava, e por cuja paróquia respondia na época. Na Inspetoria
Regional de Ensino, em São João do Caiuá, aonde foi chamado no dia 4 de junho de 1971, recebeu comu-
nicação da inspetora Anirce Bolter Veltrini de que estava proibido de lecionar em estabelecimentos oficiais
de ensino. Conquanto tivesse Antônio Tortato, prefeito de Paranacity, de todas as formas, envidado esforços
18 A alusão à 4ª Cia. Inf. de Apucarana refere-se, provavelmente, à visita feita por dom Jaime àquele quartel, em 1969, para exigir a sol-
tura de A. A. de Assis, poeta e jornalista de Maringá, brutalmente arrancado da cama, de madrugada, por soldados fardados daquela
Cia. e para lá conduzido sob suspeita de atividade subversiva. Um jovem ativista de política estudantil, natural de São Fidélis (RJ),
como Assis, tinha sido detido no Sudoeste do Paraná com seu endereço no bolso, passado provavelmente por algum conterrâneo
conhecido de ambos. Sobre os exemplares de “Voz Operária”, pela imprensa dom Jaime denunciou a manobra, alertando para o
falso envio do jornal pelo Vaticano, que tinha o evidente propósito de comprometer a Igreja Católica perante o governo brasileiro.
Os informes são respostas a pedidos de renovação de passaporte. A certidão fornecida pela Delegacia de Ordem Política e Social
reconhece não haver “indiciamento do requerente em inquérito criminal por infração à Segurança Nacional nem decreto de prisão
preventiva” (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ, 1969-1973, f. 13).
19 O autor destas notas fez pedido da documentação existente a seu respeito e também de padre Almeida e irmã Jeanne. Em e-mail de
23 de março de 2006, a Sala de Pesquisa do Arquivo Público do Estado, de Curitiba, respondeu: “Encontramos dossiê individual do
Pe. Orivaldo Robles contendo ofícios de 1969, requerimentos para magistério estadual, certidão para fins de magistério, atestado de
conduta. O dossiê 2956 – cx. 447 contém 14 páginas. Os outros nomes, Pe. Antonio de Pádua Almeida e Irmã Jeanne Gaudin, não
possuem documentação”.
206
Depois disso [cerco, em outubro de 1968, de estudantes a comício de Paulo Pimentel e ame-
aça de intervenção da Polícia Militar], logo em seguida, no mês de dezembro, foi decre-
tado o AI-5 e, na mesma semana, eu e mais dois maringaenses fomos convocados pelo
DOPS. Eu fiquei quase um dia detido. Quem eram esses três maringaenses? Eu, Francisco
de Souza e o padre Orivaldo Robles (SOUTO MAIOR, 2006, p. D5, grifo nosso).
Na caminhada de quatro décadas à frente da Igreja de Maringá, o primeiro bispo firmou-se como con-
dutor de sua Igreja no rumo do crescimento espiritual, sem descuido do aprimoramento cultural, moral, eco-
nômico e social do povo que lhe coube dirigir. Deixou impressa a marca de uma Igreja voltada à evangelização
de pessoas de carne e osso, participantes do mundo real e contraditório em que vivemos. Nunca se cansou de
incentivar padres, religiosos e fiéis cristãos leigos a se inserirem nos desafios concretos da sua comunidade em
vista do bem-estar, da paz e da convivência harmônica entre os cidadãos.
Por toda a extensão da arquidiocese de Maringá, embora com falhas decorrentes da natureza humana,
desde há muito, vem fazendo-se ouvir a voz da Igreja na defesa dos menos favorecidos e na luta por vida digna
para todos. Não em nome de ideologias nem de interesses políticos, mas por seu compromisso com o Evange-
lho de Cristo, a Igreja Católica enfrenta – e entre nós os exemplos estão à mostra, bastando ter olhos para ver
– delicadas questões como o desemprego e a falta de oportunidades para as novas gerações; o déficit habita-
cional; as carências no campo da educação, da saúde e da segurança; o agronegócio que esmaga a agricultura
familiar; o aviltamento dos preços dos produtos agrícolas; a insegurança dos pequenos agricultores diante
de intempéries e malogro de safras; o direito ao repouso dominical de cortadores de cana, no campo, e de
comerciários, na cidade; a insegurança dos assentados do MST; a incerteza dos trabalhadores sazonais (bóias-
frias); a falta de indústrias de transformação que gerem mão-de-obra próxima ao produtor; o esvaziamento
dos pequenos municípios; a exploração da mulher e do menor; a corrupção de muitos que detêm o poder em
qualquer nível; a injusta retribuição do trabalho... e uma interminável série de inquietações suportadas pela
maioria da população. Se elas incidem sobre a vida de homens e mulheres preocupados com o bem de todos
os cidadãos, aos membros da Igreja não são, de forma nenhuma, indiferentes. Ao contrário:
Atenta às orientações da CNBB, a Igreja de Deus de Maringá esmerou-se, em especial nas décadas de
1970-1980, por converter-se em Igreja servidora, como proposto, à época, na chamada linha 6 do Plano
de Pastoral de Conjunto,20 e hoje, nas quatro exigências da evangelização inculturada. Desde os primeiros
lampejos da inspirada contribuição latino-americana que foram as CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, a
diocese de Maringá, ao lado de outras do Paraná, abraçou com fervor essa “uma nova forma de ser Igreja” e
dispôs-se a caminhar em busca de outra sociedade possível. Na esteira aberta pelo Concílio Vaticano II, por
Medellín e Puebla, o Paraná foi alertado para modalidades de inserção da fé na vida que antes não eram postas
em prática. Em sintonia de pensamento e trabalho com o Regional Sul II da CNBB, a Igreja maringaense não
estranhou comprometer-se com as situações e os reclamos vivos do seu povo.
Embora não falte quem, por desinformação ou malícia, insista em classificá-las de forma diversa, é opor-
tuno ressaltar a validade de celebrações populares como a Romaria do Trabalhador e Romaria da Terra, além
de organismo como a CPT – Comissão Pastoral da Terra, muitas vezes acusada de contrária ao Evangelho.
Às três se liga de forma indissociável, na nossa arquidiocese, o nome de padre Zenildo Meggiato.21 Com-
prometido com a causa da terra e do trabalhador rural, ele não se ocupa com estéreis discussões de gabinete,
mas enfrenta corajosamente as causas do sofrimento de irmãos excluídos de uma sociedade injusta. Seu en-
volvimento com a pobreza não se traduz em discurso ideológico, mas em exemplo de despojamento pessoal
e comunhão com os fracos. Incompreendido, processado várias vezes, ameaçado de morte, não se cansa nem
desanima. Em nosso meio, Meggiato afirma-se como liderança evangelicamente solidária com o homem do
campo do Paraná e do Brasil.
20ª Romaria da Terra do Paraná, realizada em São Pedro do Ivaí, no dia 21 de agosto de 2005.
20 O histórico PPC, elaborado pelo episcopado brasileiro para o qüinqüênio 1966-1970, direcionava a ação da Igreja para seis linhas: 1.
unidade visível, 2. missão, 3. catequese, 4. liturgia, 5. ecumenismo e 6. presença no mundo. Em maio de 2004, foi relançado como
nº 77 da série “documentos da cnbb” (coleção azul).
21 A arquidiocese de Maringá realizou, em 1º de maio de 2006, a 17ª Romaria do Trabalhador. A Romaria da Terra de 2006 foi a 21ª
promovida no Paraná. A CPT, entidade nacional ligada à CNBB, foi fundada em 1975. Na cidade paranaense de Cascavel aconte-
ceu, em janeiro de 1984, o primeiro encontro do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
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22 Observação feita ao autor destas notas após missa na igreja Santa Maria Goretti, em Maringá, no dia 19 de maio de 2006.
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23 Nesse ano, o autor destas notas ouviu de operários da antiga SANBRA – Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro que, depois
de bater o ponto, muitos ouviam o programa no seu radinho de pilha para só depois pedalarem a bicicleta de volta para casa. O pro-
grama jovem só terminou com a saída de Almeida para dois anos de estudos em Roma, e a transferência de Robles para Paranacity.
24 “O Jornal” foi fundado em 1953 por Manoel Silveira; seu editor era Ivens Lagoano Pacheco que, no início de 1957, se tornou
diretor-proprietário. Nos anos 60, foi assumido por Ardinal Ribas, que lhe mudou o nome para “O Jornal de Maringá”, mas a se-
gunda parte aparecia em letras menores, fazendo com que fosse chamado, de forma abreviada, pelo antigo nome. A mesma redução
aconteceu com a “Folha do Norte do Paraná”, chamada popularmente “Folha do Norte”, ou simplesmente “Folha”. O atual “O
Diário do Norte do Paraná” é chamado “O Diário”, tout court. Quanto aos outros matutinos atuais da cidade, o “Jornal do Povo” se
inscreve na linha sucessória do pioneiro “O Jornal”, como seu legítimo herdeiro, enquanto o “Hoje” nasceu como “Hoje Maringá”.
25 Em dezembro de 2005, sem explicação, a Gazeta do Povo deixou de publicar o artigo semanal que, por convite do diretor, dr. Fran-
cisco da Cunha Pereira Filho, dom Jaime escrevia desde os anos 70.
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Com a habitual franqueza, dom Jaime lamentou o que definiu como subserviência da TV Cultura de
Maringá à todo-poderosa matriz do Rio. Inútil. Os emissários disseram: “Não viemos dialogar; viemos trazer
esta solução já tomada”.
A determinação fechou o espaço que a Igreja Católica, co-fundadora em Maringá da TV Cultura, con-
seguiu manter desde 1974 para veicular sua mensagem evangelizadora.
inauguração das novas instalações da TV 3º Milênio, mantida pela Igreja Católica atra-
vés da Fundação Nossa Senhora de Lourdes. Com 250 m² de área construída, as novas
instalações comportam estúdio, sala de edição, sala de redação, duas salas de espera
com camarim, guarita e sala de reuniões, ambientes climatizados e com revestimentos
acústicos, de acordo com normas técnicas que visam principalmente preservar a quali-
dade de som e imagem da emissora (SERRA, 2004, p. 6-7).
A TV 3º Milênio iniciou o ano de 2006 com 24 horas de transmissão, das quais três contam com pro-
gramação diária local. O restante do tempo é ocupado por retransmissão de programas da TV Século 21, de
propriedade da Associação do Senhor Jesus, com sede em Valinhos (SP). Com essa medida, a arquidiocese
pretende cumprir mais fielmente os objetivos para os quais implantou a emissora. Em reunião no dia 19 de
agosto de 2006, o Conselho Curador aprovou a aquisição de novos equipamentos e a inclusão de melhorias
na prestação dos serviços da emissora.
Entre os veículos de comunicação da Igreja de Maringá também consta um jornal impresso mensalmen-
te. Sua origem remonta a 1995. Depois de insistentes pedidos das lideranças, que voltavam a cada assembléia
anual da paróquia, no mês de maio daquele ano, a comunidade paroquial Santa Maria Goretti, de Maringá,
iniciou a publicação de um tablóide mensal de 12 páginas, ao qual chamou Santa Menina. Por três anos, o
modesto mensário cumpriu sua missão, noticiando e comentando igualmente os acontecimentos da Igreja
arquidiocesana.
Como sucessor do primeiro arcebispo de Maringá, dom Murilo Krieger assumiu o governo da arqui-
diocese em julho de 1997, revelando-se, desde o começo, um entusiasta dos meios de comunicação de massa.
Uma de suas primeiras preocupações foi dotar a Igreja de Maringá de um jornal. Ao tomar conhecimento
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Desde 1998, de fevereiro a dezembro, onze meses por ano, com 12 páginas – excepcionalmente com
16, ou com inclusão de algum encarte –, o tablóide é oferecido nas igrejas paroquiais para distribuição gra-
tuita aos fiéis. Das 2.000 unidades que imprimia ao tempo de jornal paroquial, atualmente a tiragem alcança
19.000 exemplares, na tentativa de prestar à Igreja arquidiocesana um serviço de informação e, quanto pos-
sível, também de formação, colaborando na tarefa de evangelizar. Com serviço voluntário prestado desde
o primeiro dia, a mesma equipe que em 1995 iniciou o Santa Menina prossegue ao longo de 130 edições,
totalizando, no mês do cinqüentenário de instalação da diocese de Maringá, a marca de 1.926.000 exemplares
impressos. Desde sua criação até abril de 2005, Maringá Missão continuou administrativamente ligado à paró-
quia Santa Maria Goretti. Por decreto de dom Anuar Battisti, sucessor de dom João Braz de Aviz, no dia 27
de maio desse ano, foi finalmente elevado a jornal da arquidiocese, na condição de atividade não lucrativa ca-
racterizando serviço prestado pela arquidiocese de Maringá para ser distribuído nas paróquias que a integram,
tendo por sede a Cúria Metropolitana, situada na Avenida Tiradentes, nº 740, em Maringá. Como origem
dos recursos financeiros para impressão e funcionamento do jornal o documento especificou a importância
advinda do rateio dos custos entre as diversas paróquias, na proporção da quantidade de exemplares utiliza-
dos por cada uma, além de possíveis ofertas de patrocínio. O decreto de criação, na realidade, fora preparado
ainda no governo de Aviz que, pela brevidade de sua permanência à frente da arquidiocese, acabou não lhe
apondo a sua assinatura.27
Outra iniciativa, ainda na área da comunicação, desejada por dom Murilo em sua gestão à frente da Igreja
de Maringá, foi a aquisição de uma emissora de rádio para levar mais longe a mensagem de Deus. Admirador
do bom trabalho realizado pela Rádio Santana, de Ponta Grossa, sua diocese anterior, dispôs-se a implantar
algo parecido no Norte do Paraná. No seu entender, o rádio continua a representar, especialmente nas comu-
nidades do interior, um dos mais eficientes instrumentos de formação de opinião e de comportamento.
Vencida a demorada fase de busca e discussão com diversos empresários do setor, optou pela Rádio
Colméia de Mandaguaçu Ltda., emissora de rádio AM, de propriedade do grupo formado por Basílio Za-
nusso, Marcos Antonio Rocco e Antonio Saes, com sede na vizinha cidade de mesmo nome, que, após ouvir
o Colégio de Consultores, comprou para a Igreja arquidiocesana. Constituiu, no dia 12 de abril de 1999,
a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória de Maringá como sua mantenedora. A ata de instalação foi
registrada no dia 16 de junho do mesmo ano, sob nº 3801, no livro A-5 do Registro Civil de Pessoas Ju-
rídicas de Maringá. O pagamento dos R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), valor da emissora estabelecido
pelos proprietários, obedeceu a prazos acordados compatíveis com a situação financeira da arquidiocese.
Substancial parcela da importância, na forma de doação, aportaram as congregações dos irmãos Maristas das
Escolas e dos irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora por meio de seus governos provinciais. O restante
27 O jornal “Maringá Missão” é enviado a leitores amigos de praticamente todos os Estados do Brasil e de países como Itália, França,
Alemanha, Holanda, Portugal, Peru, Argentina, Costa do Marfim e outros.
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Tabefe
Desde antes do incêndio que destruiu a linda igreja de madeira, pa-
dre Adelino Fórmolo era o vigário de Santo Antônio, na vila do mesmo
nome. Gaúcho emprestado pela diocese de Caxias do Sul, era dono de rara
simpatia e incrível facilidade de fazer amigos. Mas que ninguém o tirasse
do sério. Num sábado santo, data em que a liturgia da Igreja não prevê ce-
lebração nenhuma, na escadaria da matriz, um senhor lhe pede que batize
uma criança. Responde que nesse dia é impossível, terá que ser em outra
ocasião. O homem insiste. O padre torna a explicar. Se a criança estivesse
doente, haveria motivo, mas não era o caso. A conversa sobe alguns deci-
béis, proporcionais à insistência do pedido. Adelino desiste. Está retirando-
-se, quando ouve um palavrão cabeludo. Volta-se como um raio: “Você
não repete o que falou”. O homem não se intimida: “Filho da...” O resto
é dito já no pó da rua, aonde o lança inesperado sopapo estalado na orelha.
Ele vai queixar-se ao bispo. Literalmente. Não demora, dom Jaime manda
chamar o padre: “Adelino, onde já se viu uma coisa dessas? Você é padre,
um homem de Deus. Tem cabimento agredir um paroquiano?”. Ele aceita
humilde a episcopal reprimenda. A alguns colegas confidencia mais tarde:
“O bispo está certo. Tinha que me chamar atenção mesmo. Mas o cara me
chamou de fdp. Se chamar de novo, eu bato outra vez”.
Cinema
Além de futebol, outra paixão de padre Novaes era cinema. Nas fé-
rias, ele costumava convidar os seminaristas Orivaldo e Geraldo Schneider
para assistir filmes nos cines Maringá e Paraná, raramente no cine Hori-
zonte, na Vila Operária. Nessas ocasiões, vestia batina, porque assim en-
trava de graça. E exigia o mesmo privilégio para os acompanhantes. Uma
vez, no cine Paraná, o trio entrou com a projeção em andamento. De
repente, perceberam que a película era diferente da anunciada. Não era
exatamente pornô, mas continha cenas um tanto ousadas. Novaes virou
bicho. Dirigiu-se à gerência, onde lhe explicaram que o filme previsto, tra-
zido pela Viação Garcia, não tinha chegado, então rodaram outro. Depois
de dizer poucas e boas, chamou os companheiros e retirou-se. Dirigiram-
-se a Marialva. Novaes parou a camionete na frente do cinema: “Vá lá,
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Prevenção
Primeiros anos de vida da diocese. Maringá não tinha água tratada.
Dom Jaime apanhou terrível infecção intestinal, uma giardíase que o acom-
panhou por longos e sofridos anos. Para ele as visitas pastorais, que jamais
deixou, passaram a ser um suplício. Perdeu a conta das vezes em que, em
capelas rurais onde estava crismando, ao necessitar de um banheiro, verifi-
cava que simplesmente inexistia tal peça. Comprovou, por amarga experi-
ência, a dolorosa verdade do que é relatado como piada, mas talvez tenha
mesmo acontecido. No sertão baiano um bispo ter-se-ia hospedado em
casa de rico fazendeiro, senhor de muitas terras e gado, mas de cultura pou-
ca e hábitos rudimentares. Não vendo nos aposentos nenhum sinal de sani-
tários, delicadamente o bispo foi informar-se com o anfitrião. O fazendeiro,
chamando-o fora, estendeu o braço e apontou: “Olhe, seu bispo, daqui
até o Piauí o senhor use à vontade”. Por conta das humilhações sofridas,
dom Jaime desenvolveu verdadeira obsessão por sanitários nas residências
dos padres. Sua casa atual, incluindo área de serviço e residência das irmãs,
conta com “apenas” dezesseis. Quando lhe foi apresentada a planta da casa
paroquial de Santa Maria Goretti, aos existentes ele mandou ajuntar outros
três: a casa conta agora com sete sanitários. Diante da exigência do aumen-
to do número de banheiros para a construção da futura casa paroquial de
São Mateus Apóstolo, um dos membros da comissão estranhou: “Lá em
casa tem sete pessoas e só um banheiro. Aqui, para um padre o senhor quer
três.” Mas o bispo não arredou pé: “Ou constroem mais ou não autorizo a
casa paroquial. Nem crio a paróquia”. Foi atendido.
Humor
Padre Adelino Formolo fez um vasto círculo de amigos em Maringá.
Era famoso por seu eterno bom humor. Conhecia invejável repertório de
piadas, muitas de conteúdo bastante apimentado, que prendiam durante
horas seus ouvintes. Em reuniões do clero, aonde ele chegava, logo se for-
mava uma roda. Para localizá-lo bastava ouvir de onde vinham explosões
de gargalhadas. Padre Jorge Scholl, jesuíta da igreja São José, com a serie-
dade dos setenta e poucos anos, certa vez externou seu desagrado: “Não
gosto das piadas de padre Adelino: são todas do umbigo para baixo.” E
Adelino, sem deixar a peteca cair: “Não seja por isso, padre Jorge. O se-
nhor quer que eu conte uma sobre seios?”.
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