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O prestígio dos mosteiros atraiu muitas doações dos fiéis, que temiam sofrer as penas
do inferno por seus pecados. O temor dos devotos, fossem ricos ou remediados, enriqueceu as
ordens religiosas. Por volta do ano 1000, quando se completava o milésimo ano do nascimento
de Jesus, propagou-se a crença de que o fim do mundo estava próximo e, em decorrência, o
Juízo Final. Nesse ambiente de angústia generalizada, ocorreram muitas doações de terras e
bens para os mosteiros. O medo do fim do mundo voltou a afligir a população em 1033, quando
se contava mil anos da Paixão de Cristo, resultando em novas doações.
A estratégia de conceder terras à Igreja para conseguir o perdão dos pecados e aplacar
a ira de Deus revelava uma expressão religiosa ainda muito rude. Mas, em função do
empobrecimento dos nobres, que não mais transmitiam aos herdeiros suas terras e bens, a
transferência de riquezas da nobreza para a Igreja foi declinando com o tempo. Paralelamente,
entre os leigos, camponeses e nobres, foram surgindo outras formas de expressar a
espiritualidade, como o retiro para uma vida isolada, casta e simples, e a peregrinação aos
lugares considerados santos, como Santiago de Compostela, na península Ibérica.
Gregório VII condenou o concubinato dos padres (nicolaísmo), isto é, o costume que
muitos tinham de viver com mulheres, como se fossem casados; condenou também a venda de
cargos eclesiásticos (simonia) e a nomeação de bispos e abades pelos senhores feudais, reis e
imperadores.
A valorização da Regra de São Bento e a busca pelos ideais do cristianismo primitivo,
como a humildade, a obediência ao Evangelho e a propagação da fé, marcaram profundamente
a Baixa Idade Média. A ordem de Cister, criada em 1098, por exemplo, conjugava a oração ao
trabalho intelectual e manual. Ao contrário dos religiosos de Cluny, entre os cistercienses os
dormitórios e demais aposentos eram modestos, sem nenhum conforto, como prova da
humildade que deviam observar na vida reclusa. Em sinal de pobreza, usavam um hábito de lã
sem tingimento; eram vegetarianos e faziam apenas uma refeição por dia. A ordem abriu-se
ainda para os camponeses, responsáveis por cultivar os campos e realizar as transações
comerciais do mosteiro. A admissão de camponeses na ordem de Cister contribuiu para que,
progressivamente, o trabalho manual passasse a ser visto como um aprimoramento espiritual.
Cristandade desafiada
A palavra heresia é de origem grega e significa escolha. Para a Igreja católica, herege
era todo aquele que difundia ou praticava uma crença contrária aos dogmas (princípios e
doutrinas inquestionáveis) do catolicismo, sacramentos e mandamentos da Igreja ou questionava
o poder eclesiástico, sobretudo a autoridade do papa.
Os cátaros desprezavam o mundo material e acreditavam que o dever das pessoas era
transformar a realidade e estabelecer uma comunhão com Deus por meio de uma vida moral
irrepreensível. Praticavam jejuns periodicamente, não comiam carne e reprovavam as relações
sexuais, por acreditar que elas tornavam o espírito escravo do corpo.
Segundo os cátaros, Jesus era um anjo que veio ao mundo para indicar o caminho da
salvação. Como não reconheciam a legitimidade da Igreja, foram perseguidos pelas autoridades
laicas e religiosas. Diversas comunidades foram destruídas, principalmente no Languedoc, no
sul da atual França. Nessa região, parte da nobreza e dos artesãos aderiu ao movimento cátaro,
e foi preciso convocar uma cruzada, que durou 20 anos (1209-1229), para combater esse
movimento.
Em 1235, para reprimir o catarismo, foi criado o tribunal da Inquisição, que não deu
trégua aos cátaros.
Francisco abraçou a pobreza evangélica com um gesto teatral, diante dos habitantes de
sua cidade: despiu suas roupas e declarou que abandonaria a casa de seu pai e passaria a viver
de esmolas. Ele pretendia seguir fielmente a vida de Cristo e dos apóstolos.
A regra escrita por Francisco era mais rigorosa do que a de São Bento: proibia a
propriedade de qualquer bem material; previa que os franciscanos se dedicariam ao trabalho
manual, podendo mendigar para obter alimento; proibia qualquer reação às hostilidades da
população; e restringia o uso do cavalo a casos de extrema necessidade. Seus frades deveriam
andar a pé, tal como os apóstolos.
No início, Francisco de Assis não contava com o apoio da Igreja, sobretudo por causa
do elogio que fazia à pobreza. Mas a firmeza de seus propósitos, o número de seguidores que
conquistou e sua obediência à hierarquia eclesiástica acabaram por vencer a resistência da
Igreja. Francisco foi canonizado em 1228, dois anos após a sua morte.
A devoção à pobreza expandiu-se para a península Ibérica, onde nasceu a ordem
dominicana, cujo fundador foi Domingos de Gusmão. Filho de nobres castelhanos, Domingos
iniciou a carreira eclesiástica como pregador. Participou de missões para reconciliar os cátaros
com a Igreja, mas irritou-se com o envio da cruzada contra o catarismo, pois pretendia combater
a heresia com argumentos teológicos.
Fundou então, na cidade de Toulouse (na atual França), em 1216, a ordem dos
pregadores, reconhecida pelo papa Honório III, baseada na pobreza mendicante, na pregação
e na educação. Assim como os franciscanos, os dominicanos recusavam a propriedade de bens
materiais e pediam esmolas para obter alimento, mas, ao contrário daqueles, recebiam rigorosa
educação teológica, com o objetivo de esclarecer os fiéis e evitar que a população cometesse
heresias.
A ordem dominicana concentrou-se principalmente em cidades com universidades, como
Paris, Bolonha e Oxford. Nos séculos seguintes, os dominicanos se destacaram como
inquisidores, sendo várias vezes nomeados pelos papas para investigar possíveis desvios da fé.
Alguns escreveram manuais para instruir os inquisidores e livros para identificar feiticeiras. Foi o
caso dos dominicanos alemães Sprenger e Kramer, autores do Martelo das bruxas, escrito no
século XV.
A partir do século XII, a construção das catedrais ganhou impulso com a prosperidade
das rotas comerciais e o desenvolvimento urbano. Por determinação do papa Gregório VII,
transformou-se no coração da cidade.
No século XIII, com o estilo arquitetônico gótico (termo derivado do idioma falado pelos
godos), as catedrais atingiram seu apogeu. Esse estilo se caracterizava pela grandiosidade das
construções, espaços interiores amplos, torres com telhados piramidais, arcos com a forma de
ogivas, pinturas e vitrais produzidos com refinamento artístico. Suas paredes muito altas e
maciças simbolizavam o poder do bispo.
A Escolástica
Tomás de Aquino nasceu em 1225 em Rocca Secca, no sul da península Itálica.
Ingressou na ordem dominicana em 1244 contra a vontade dos pais. Formou-se depois em
Filosofia na Universidade de Nápoles. Enviado a Paris, estudou com o teólogo Alberto Magno.
Posteriormente, ensinou em diversas universidades, mas se destacou como teólogo, formulando
uma das principais obras do mundo medieval.
Segundo Tomás de Aquino, Deus era a força que impulsionava todas as demais, desde
o princípio do mundo. Como todo efeito tinha uma causa, a primeira das causas só poderia ser
Deus, origem de todas as coisas. Em outras palavras, para Tomás de Aquino, quanto mais o
homem fizesse uso da razão ou do intelecto, mais se aproximaria de Deus.
Tomás de Aquino resumiu sua filosofia religiosa em uma obra intitulada Suma Teológica.
Mais tarde seu pensamento ficou conhecido como filosofia tomista ou Escolástica. Serviu de
base ao ensino teológico nas universidades medievais, marcado pela busca de uma conciliação
entre a fé e a razão.
Por tudo isso, tornou-se conhecido como o Anjo das Escolas ou Doutor Angélico. Faleceu
em 1274 e foi canonizado em 1323, tornando-se São Tomás de Aquino.