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O lugar da literatura patrística na vida e

missão das igrejas ao longo dos tempos

Prof. José Carlos de Souza


• Introduzir o estudo da literatura
patrística, distinguindo seus conceitos
fundamentais, campo de pesquisa, lugar
na história dos cristianismos e os
recursos disponíveis para a sua
compreensão.
• Avaliar a relevância dos estudos
patrísticos para a teologia na atualidade.
 Qual a importância dos Pais da Igreja para o nosso
tempo?
 Como seus escritos foram lidos ao longo da história?
 Que autoridade tem sido atribuída à sua obra?
 Como e por que a Igreja Cristã recorre à tradição
patrística?
 Essas questões são importantes, pois tem prevalecido
no protestantismo brasileiro, uma forte tendência para
desprezar o estudo sistemático e regular da teologia
em seus primeiros anos.
 Dimensão histórica cerceada...
• “A tarefa teológica não começa do nada em
cada período ou com cada ser humano. O
cristianismo não salta do Novo Testamento
para o presente, como se não tivéssemos nada
para aprender com a nuvem de testemunhas
existentes neste meio tempo. Durante séculos,
os cristãos tentaram interpretar a verdade do
Evangelho para o seu tempo. Nessa tentativa,
a tradição desempenhou um papel importante
no sentido duplo de tradição como processo e
como conteúdo...” (Igreja Evangélica Metodista
da Alemanha. In: Viver a Graça de Deus).
• O cristianismo não recomeça a cada geração.
• Dentro da comunidade de fé, ninguém pode se
declarar independente em relação à história.
• O que somos hoje,
como igreja, tem
origens e
desdobramentos.
• Podemos aprender
algo com isso?
• O termo patrística vem de “pais”, título
dado a autores cristãos, bispos em sua
maioria, que estabeleceram as bases
sobre as quais se constituíram as igrejas
cristãs.
• Patrologia é o estudo da vida, obras e
pensamento dos Pais da Igreja.
• Sua importância tem sido reconhecida
praticamente em toda história do
movimento cristão.
I. Na Igreja Primitiva
II. Na Idade Média
III. Humanismo e Reforma
IV. Do fim do século 16 ao
começo do século 19
V. John Wesley
VI. Nos séculos 19 a 21
VII. Perspectiva Latino-americana
• Emprego da linguagem familiar na comunidade
cristã e a aplicação do título de pais aos seus
líderes.
• De qualquer forma, já na IGREJA ANTIGA,
referir-se aos escritos patrísticos conferia
autoridade às afirmações teológicas e o
exemplo de vida dos Pais fortalecia o
testemunho da Igreja.
• Nos debates teológicos, cada vez mais
eram invocadas as suas opiniões.
• A referência aos Pais dá legitimidade à doutrina da
Igreja, como expressou Basílio de Cesareia : “O
que ensinamos não é o resultado de nossas próprias
reflexões, mas o que aprendemos dos santos Pais”.
• A partir das controvérsias dos séculos 4 e 5, torna-se
cada vez mais comum recorrer à tradição patrística
para fundamentar uma opinião.
• Mas é somente no início do século 6 que se elabora
a 1ª lista dos escritores
reconhecidos como Pais da
Igreja (cf. decreto atribuído
a Gelásio ).
• O interesse histórico, embora em menor
grau, também está presente, sobretudo
com finalidade apologética: comprovar
a superioridade moral do povo cristão e
antiguidade de sua fé. Exemplos:
• Eusébio de Cesareia  História
Eclesiástica (324)
• Jerônimo  De Viris Illustribus (392),
com 135 biografias de autores cristãos.
• Ambos têm continuadores.
• Sem inovações, a IGREJA MEDIEVAL
apenas dá continuidade às linhas
esboçadas pela Igreja Antiga.
• Na teologia medieval, conhecida como
escolástica, citar os Pais é algo
indispensável , ainda que nem sempre
se deu a devida atenção ao seu contexto.
• Também se manteve o interesse em
conhecer a trajetória biográfica dos pais.
• Grande contribuição: o cuidado na
preservação dos textos.
• Coube aos HUMANISTAS, com o lema “de
volta às fontes”, retomarem o interesse
histórico pelo estudo dos Pais da Igreja.
• O surgimento da imprensa possibilitou a
publicação de edições críticas dos “Pais”.
• Mas foram os REFORMADORES que puseram
os Pais no centro dos debates teológicos em
razão de sua insistência na fórmula “só as
Escrituras”.
• Ao insistir na autoridade da Bíblia,
Lutero não renunciou à tradição, mas
introduziu uma norma crítica na
interpretação das textos dos patrísticos.
• Era preciso lê-los com discernimento!
• Outros reformadores foram além dele.
• Melanchton e Calvino não hesitaram em
empregar os escritos dos Pais na polêmica com a
teologia católica romana.
• Calvino valorizou ainda mais os escritos
dos Pais da Igreja, orientando a sua utilização.
• Institutas IV, 9,8-9: “...de modo algum
afirmo que se devam rejeitar todos os
concílios... Não é o que pretendo. Gostaria
que toda vez que se apresente um decreto de
um concílio se pergunte diligentemente em
que época ele se reuniu, qual o motivo, com
que finalidade e quem estava presente. A
seguir, que se examine, segundo o padrão da
Escritura, o assunto discutido...”.
• Do século 16 ao 19, a controvérsia religiosa
impele a tomar a pesquisa sobre os Pais com
mais seriedade e, pouco a pouco, supera-se o
círculo vicioso dos debates, reconhecendo o
valor singular da literatura patrística.
• Entre os muitos pensadores e líderes
cristãos que valorizaram a literatura
antiga da Igreja está John Wesley
que recorreu a ela com frequência.
• “Nós consequentemente temos de nos
voltar para os seus escritos [dos Pais]
embora não tenham a mesma autoridade
das Sagradas Escrituras [...]”, porque:
1) eles “eram cristãos”;
2) “descrevem um Cristianismo
verdadeiro e genuíno”;
3) em acordo com as Escrituras;
4) “Reverencio muito estes antigos
cristãos com todas as suas falhas porque
vejo tão poucos cristãos atualmente”.
• Desenvolvimento da história como ciência
• Publicação de textos como a
monumental coleção do Pe. Migne
entre 1844-1866 (382 volumes!).
• Coleção Patrística da Paulus
• Os estudos patrísticos procuram
abranger a vida como um todo, não
apenas a teologia.
• Com isso, ganham espaço na esfera pública.
Reconhecer a presença das mulheres, das assim
denominadas mães da Igreja
Ir além do círculo greco-romano
Superar o predomínio da dogmática

Romper com um conceito estreito de ortodoxia

Valorizar a literatura apócrifa


• Importância da teologia latino-americana
e seu interesse pela patrística.
• Denúncia da manipulação ideológica dos
Pais e Mães da Igreja e da tradição cristã
em geral.
• Recuperação do discurso profético de
defesa da vida e oposição a todas as
formas de violência e injustiça.
“Talvez dês esmolas. Mas, de onde as tiras, senão de
tuas rapinas cruéis, do sofrimento, das lágrimas, dos
suspiros? Se o pobre soubesse de onde vem o teu
óbulo, ele o recusaria, porque teria a impressão de
morder a carne de seus irmãos e de sugar o sangue
de seu próximo. Ele te diria palavras corajosas: não
sacies a minha sede com lágrimas de meus irmãos.
Não dês ao pobre o pão endurecido com os soluços
de meus companheiros de miséria. Devolve a teu
semelhante aquilo que reclamaste e eu te serei muito
grato. De que vale consolar um pobre, se tu fazes
outros cem?” [Gregório de Nissa, em c. 330, apud
Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido, 1977, 31].
CEPAMI – CENTRO ECUMÊNICO DE ESTUDOS
DOS PAIS E MÃES DA IGREJA
• Características da recepção
criativa da patrística
1. Uma leitura popular;
2. Uma leitura orante;
3. Uma leitura ecumênica;
4. Uma leitura feminina;
5. Uma leitura crítica.
• A teologia cristã tem raízes profundas que, de
fato, sempre reconheceu.
• Enfrentando grandes desafios, a antiguidade
cristã estabeleceu firmes fundamentos sobre
os quais as igrejas se desenvolveram.
• A unidade alcançada, porém, não
anulou a diversidade, as opiniões ou
formas diferenciadas que, pouco a
pouco, foram surgindo.
• Não se pode ignorar essa história!
• Analisadas as formas como as igrejas têm
utilizado a literatura patrística ao longo do
tempo, qual a sua opinião: é válido, útil, ou
mesmo necessário, empregar os Pais e Mães
da Igreja na reflexão teológica hoje?
• Como você e a igreja de que é parte encaram
os escritos da Igreja Antiga? Eles são
valorizados ou não? Por quê?
• Você julga importante fazê-lo?
• Que sugestões poderia dar para implementar o
estudo e a revalorização dos textos patrísticos?
• BENOIT, André. A atualidade dos Pais da Igreja.
São Paulo: Aste, 1966, p. 11-34.
• CAMPBELL, Ted A. John Wesley and Christian
Antiquity. Nashville: Abingdon Press, 1991.
• GUIMARÃES, Marcelo. “Ler os Pais e Mães da
Igreja desde a América Latina”. In: Boletim do
CEPAMI, fev/1996, nº 8, p. 4-8.
• JEDIN, Hubert (ed.). Manual de Historia de la
Iglesia. Barcelona: Herder, 1980, v. I, p. 51-91.
• SOUZA, José Carlos de. “Quem não tiver tradição
que atire a primeira pedra... Wesley e a literatura
cristã antiga”. In: Mosaico – Apoio Pastoral. São
Bernardo do Campo: FaTeo/Umesp, Ano XII, nº
30, Jan/Mai-2004, p. 4-5.

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