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A EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA IDADE MÉDIA E A

INFLUÊNCIA DA IGREJA NO PENSAMENTO


OCIDENTAL

Diogo Quirino Buss

RESUMO

Educação Religiosa na Idade Média e a Influência Da Igreja No Pensamento Ocidental diz


respeito ao estudo da organização, estrutura e forma de ensino na Idade Média, fazendo uma
abordagem sobre os movimentos dentro da Igreja surgidos neste período e suas características.
Trata também, das reestruturações da forma de ensino durante o período, as mudanças no foco da
educação e a influência do modelo criado pela Igreja Católica no Mundo Ocidental.

Palavras-chave: Idade Média; Mundo Ocidental; Educação.

1 INTRODUÇÃO

A Idade Média (segundo a historiografia clássica, período compreendido entre 473 d.C. à
1453 d.C.)foi um período marcado fortemente pela hegemonia da Igreja Católica sob todos os
aspectos. Foi um período de intensas transformações que até hoje influenciam o pensamento
Ocidental.

Neste estudo visa-se mostrar as características da educação nesse período, as transformações


sofridas e a influência da Educação Cristã no pensamento do Mundo Ocidental.

2 EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

Devido à invasão de povos bárbaros, a cultura greco-romana quase foi destruída, fato que
não aconteceu em grande parte graças à atuação da Igreja Cristã, pois somente através da educação
religiosa foi possível reeducar os povos.

Na Idade Média, a Igreja católica dominava o cenário religioso. A Igreja, detentora do poder
espiritual influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade
Média. Também tinha um grande poder sobre a economia, pois possuía grande quantidade de terras
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e até mesmo servos que trabalhavam em seu favor. Os monges viviam em mosteiros e eram
responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande parte do tempo rezando e
copiando livros e a bíblia.

Durante a Idade Média, a doutrina da Igreja foi o guia da educação dos povos da Europa.
Esta doutrina se opunha ao conceito liberal e individualista dos povos gregos, e também ao conceito
de educação prática e social dos romanos.

Clemente de Alexandria (150 – 215 d.C) sustentava a idéia de que a filosofia pagã era uma
forma de se chegar ao Cristianismo, ou seja, que a filosofia pagã era o evangelho helenizado.

Certo tempo depois, porém, alguns membros da Igreja começaram a se opor ao saber pagão,
especialmente à filosofia grega. Isto fez com que os convertidos à religião cristã, antes de serem
admitidos como membros efetivos da Igreja, necessitassem de um período de preparação. Para isto,
foram criadas as escolas catecúmenas, onde eram instruídos por um sacerdote a respeito da religião
Cristã, ou seja, recebiam a catequese. Após certo tempo, as crianças também passaram a freqüentar
essas escolas, onde, junto com a catequese, aprendiam canto, leitura e escrita.

Com o crescimento elevado dessas escolas, tornou-se necessário formar mestres, o que levou
algumas escolas catecúmenas a se tornarem escolas de catequistas (mestres responsáveis pelo
ensino da catequese).

Alexandria foi a escola de catequistas mais importante nessa época, chegando a se


caracterizar como escola superior com o primeiro grande educador desse período, Clemente de
Alexandria. Clemente entendia que a educação superior deveria iniciar com as ciências
humanísticas e após a Filosofia e a Teologia. Outro educador dessa época foi Orígenes, que criou
escolas de ensino superior para preparação de bispos e funcionários eclesiásticos que foram
nomeadas escolas episcopais (elas receberam esse nome por terem sido criadas nos bispados).
Também nessa época criaram-se escolas secundárias (de gramática e retórica) direcionadas ao
conhecimento das ciências gregas.

Outra escola surgida nessa mesma época foi a monacal ou monástica. Organizada pela
Igreja, seu modelo estava ligado à vida nos mosteiros. Relacionando com o sentido etimológico, a
palavra “mosteiro” significa solitário. O monge era um religioso que buscava perfeição, isolando-se
do mundo.
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Entre mosteiros existentes em 529, o da Ordem Beneditina, destaca-se como de maior


importância. Os monges beneditinos eram submetidos a uma disciplina rígida, regada a dedicação
ao trabalho manual e intelectual. O maior objetivo da educação era o aprendizado das escrituras
sagradas. As escolas romanas de gramática e retórica foram substituídas pelas escolas monacais,
desenvolvendo uma formação religiosa.

Segundo Nunes (apud COSTA, p. 3), até o aparecimento da literatura vernácula (séculos XI
e XII), a manutenção e produção de praticamente todos os textos escritos foi feita pelos monges
cristãos. Eles preservaram a cultura antiga, graças a seu meticuloso trabalho realizado nos
mosteiros, no qual eles copiaram os escritos antigos, salvando-os assim das invasões bárbaras da
Alta Idade Média. Parkes e Hamesse (apud COSTA, p. 3) afirmam que, além disso, eles lideraram
uma revolução cultural sem precedentes: inventaram nossa caligrafia (minúscula carolíngia), o livro
(folio) e nossa forma de leitura (em silêncio), expandindo ao máximo a capacidade cerebral de
reflexão profunda.

O monaquismo surgiu devido ao descontentamento de alguns cristãos com a fusão da Igreja


com o mundo material. Com a idéia que o mundo material seria o caminho para o pecado, o
isolamento foi o caminho encontrado para buscar a perfeição. As escolas monacais foram as
substitutas das escolas de gramática e retórica romanas, desenvolvendo uma formação religiosa
voltada para os meninos-monges, e tendo como atividades centrais leitura, memorização, cálculo e
canto. Nelas predominava uma educação que baseava-se na vida simples, na valorização do meditar
e contemplar e no desapego às coisa materiais e classificadas profanas.

2.1 Reestruturação do Ensino por Carlos Magno

Carlos magno, a partir do século XIII e início do século IX, deu início à reforma da vida
eclesiástica, e por conseqüência, da educação. Inicialmente sua atenção foi destinada à educação do
clero e dos monges, e em seguida definiu que o povo todo precisava ser educado, desde que o
propósito central fosse religioso. Proclamou a obrigatoriedade da educação, e organizou-a em três
graus: educação elementar (voltada à sociedade), educação secundária (mosteiros e cardeais), e a
educação superior (sábios). A educação elementar era ministrada pelo sacerdote, nas paróquias, a
elementar, nos mosteiros e catedrais, e a terceira, pelos sábios que instruíam na Escola Imperial ou
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Palatina, destinada a preparar os futuros funcionários, sendo que esta era itinerante, seguindo os
deslocamentos da corte.

Com o declínio da vida exclusivamente feudal e com o crescimento das cidades, do


comércio, etc, houve a necessidade de outros conhecimentos, especialmente saber ler, escrever e
calcular. Com isso, a educação voltava-se para atender necessidades da vida prática, sendo buscada
especialmente pela burguesia. Com isso, surgiram as escolas conhecidas como escolas seculares ou
escolas leigas. Nelas a autoridade municipal contratava professores leigos, e funcionavam
geralmente na rua, na casa do professor ou na porta de igrejas, e sua clientela era desde meninos até
homens de maior idade.

Também havia formações para os ofícios, como ferreiro, marceneiro, autorizadas e


regulamentadas pelos grêmios e corporações de cada ofício.

Durante a Idade Média também, por volta do século XI, que se educou os cavaleiros:
soldados com habilidade no manejo de armas, oriundo das classes nobres, embora houvesse
também eventualmente a participação de camponeses e aventureiros ricos. Na educação do
cavaleiro, a atividade intelectual não tinha importância: o que importava eram as atividades
relacionadas à caça e guerra, e as que se referiam à formação espiritual. Ou seja, não era importante
se um cavaleiro não sabia ler nem escrever, mas era imprescindível ter certas virtudes, como a
honra, fidelidade, coragem, fé e cortesia. Estes homens eram submetidos a um rigoroso código de
honra, e severa disciplina moral.

Em relação às mulheres, quando estas pertenciam à classe pobre não possuíam acesso à
educação formal, trabalhando arduamente ao lado de seus maridos. As de classe nobre, no máximo,
aprendiam música, religião, trabalhos manuais e alguns rudimentos de artes liberais, tudo isso no
próprio castelo.

Apenas com a criação das escolas seculares que as meninas burguesas tiveram acesso à
educação formal. Quando meninas conseguiam ser enviadas aos mosteiros, eram educadas e
consagradas à Deus.

2.3 Escolástica
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Escolástica foi um movimento católico que tinha como objetivo explicar a fé cristã de uma
maneira mais racional, ou seja, buscava a harmonia entre a fé e a razão. Acreditava-se que não
havia conflito entre saber e fé, entre Filosofia e Teologia, entre razão e revelação.

Embora tenha provocado uma mudança fundamental de se pensar e efetivar o processo


educativo, ainda tratava de transmitir o conhecimento como um instrumento a serviço da fé.

Tomás de Alquino, um dos principais filósofos da escolástica, defendia a idéia de que era
através da inteligência do aluno que a aprendizagem desenvolvia-se, atuando sobre os dados que
eram observados pelos sentidos. Para ele, Deus era o verdadeiro mestre, que criou-nos como
portadores da razão, que nos ilumina, mas que também pode cometer falhas. A Educação, com a
ajuda indispensável do mestre, desenvolve as potencialidades dos alunos. Este movimento foi o
predecessor do que deu origem à Educação Moderna.

Segundo Larroyo (apud GERBER, 2001), a Escolástica sociologicamente é considerada um


tipo de vida intelectual, um estilo de pensar e filosofar que se estendeu por mais de seis séculos.

3 A INFLUÊNCIA DA IGREJA NO PENSAMENTO OCIDENTAL

O aparecimento do Cristianismo provocou uma profunda transformação, não apenas de


ordem cultural, política e nas instituições sociais, mas, principalmente, uma mudança de
mentalidade. Pelo fato de marcar a ruptura com o mundo antigo, e ser central e hegemônico durante
mais ou menos três séculos, o Cristianismo mudou os rumos da história ocidental.

Pregando os ideais de igualdade, solidariedade, humildade, a dedicação ao próximo pela


castidade e pobreza, o zelo pelo amor, dentre vários outros valores, o Cristianismo deu ao homem
uma visão diferente do mundo. Os valores da sociedade cristã eram fundamentados no Evangelho, e
sendo assim esses ensinamentos repassados através da Igreja deveriam ser seguidos.

Após a morte e ressurreição de Cristo, não haviam escolas propriamente ditas. As crianças
aprendiam em casa as narrativas das Escrituras, das histórias dos profetas, enfim, os ensinamentos
cristãos. Quando ficavam mais velhas, deveriam recitar passagens bíblicas relativas à doutrina e
deveres religiosos.
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Progressivamente o Cristianismo foi se expandindo, através do desenvolvimento de uma
prática educativa e teorização prática própria, não só internamente, mas também em relação à
comunidade externa, o que fortaleceu muito o poder da Igreja. não só religioso, mas também o civil
e administrativo.

Com a expansão do Cristianismo para novas comunidades, em especial ao mundo Ocidental,


tornou-se necessário fixar numa doutrina os dogmas, o culto e a disciplina dessa religião, a fim de
garantir uma interpretação única, período este denominado Patrística. Era assim chamada por
representar o pensamento Cristão que se seguiu à época do Novo Testamento. A Patrística era
então, o pensamento dos Padres da Igreja, ou seja, dos construtores da Ideologia Católica, guias e
mestres da doutrina cristã.

Com o passar do tempo, houve a necessidade de apresentar a doutrina eclesiástica de forma


científica, o que foi realizado por Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes. No decorrer do
tempo, buscou-se conciliar a Filosofia pagã grega, sobretudo a de Platão com a doutrina religiosa e
moral do Cristianismo, sendo que em termos filosóficos, foi elaborada a Teologia Cristã, e neste
trabalho destacou-se Santo Agostinho.

Agostinho permanece uma figura central tanto no cristianismo como na história do


pensamento ocidental. Sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente
por Plotino, Agostinho foi importante para o batismo do pensamento grego e sua entrada na tradição
cristã, e posteriormente na tradição intelectual européia. Também importantes foram seus
adiantados escritos influenciadores sobre a vontade humana, um tópico central na ética, e que se
tornaram um foco para filósofos posteriores, como Schopenhauer e Nietzsche.

É largamente devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a


doutrina do pecado original, e a Igreja Católica Romana sustenta que batismo e ordenações feitos
fora dela podem ser válidos (a Igreja Católica Romana reconhece ordenações feitas na Igreja
Ortodoxa Oriental e Ocidental, mas não nas igrejas protestantes, e reconhece batismos de quase
todas as igrejas cristãs). Os teólogos católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de
que Deus existe fora do tempo e no "presente eterno"; o tempo só existe dentro do universo criado.

O pensamento de Agostinho foi também basilar em orientar a visão do homem medieval


sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do
conhecimento, mas entendia que a fé em cristo vinha a restaurar a condição decaída da razão
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humana, sendo portanto mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação das escrituras
deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo
natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do gênesis como o que chamariamos hoje
de um "texto alegórico", vão influenciar fortemente a Igreja medieval, que terá uma visão mais
interpretativa e menos literal dos textos sagrados.

São Tomás de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do
pensamento grego e cristão. Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de
Agostinho foram João Calvino e Cornelius Jansen. O calvinismo se desenvolveu como parte da
teologia da Reforma, enquanto que o Jansenismo foi um movimento dentro da Igreja Católica;
alguns jansenistas entraram em divisão e formaram sua própria igreja.

Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um doutor da


Igreja. Seu dia é 28 de agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo
padroeiro dos cervejeiros, impressores, teólogos, e de um grande número de cidades e dioceses.

4 CONCLUSÃO

A Educação na Idade Média pelo que se pode ver, era na realidade uma educação voltada
para a religiosidade, para a doutrina dos ensinamentos Cristãos, deixando um pouco de lado as
outras formas de conhecimento.

A Igreja era a responsável principal e quase que exclusiva pelo ensino, e isso lhe garantiu ser
o centro e a hegemonia no que diz respeito a vários aspectos por muitos anos. As pessoas eram
educadas para praticar e repassar os ensinamentos bíblicos, apesar de, com o crescimento das
cidades e as mudanças no contexto histórico em geral, terem sido incorporadas algumas mudanças
neste modo de ensino.

Com a expansão do Cristianismo para novas comunidades, em especial ao mundo Ocidental,


fixou-se numa doutrina os dogmas da Igreja, sendo que estes influenciam ate hoje a forma de pensar
no Ocidente.
5 REFERÊNCIAS
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COSTA, Ricardo. A Educação na Idade Média. A busca da Sabedoria como
caminho para a Felixidade: Al-Farabi e Ramon Llull. Disponível em:
<http://www.ricarodcosta.com/univ/felicidade.htm>. Acesso em: 02 maio 2006.

GERBER, Diana Mara. Et al. História da Educação – Educação a distância –


Caderno pedagógico 1. Florianópolis: UDESC, 2001.

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