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Os Pais da Igreja constituem, em seu filão principal, um grupo de homens excepcionais

dos inícios do cristianismo. Didaticamente podemos classificar de “pais da igreja”,


aqueles homens que viveram entre o finalzinho do século primeiro até o século sexto no
ocidente e até o século sétimo, no oriente. Grosso modo, para que alguém possa figurar
nessa categoria, alguns requisitos se fazem necessários.

Em primeiro lugar, a antiguidade. Quando se fala de tradição no cristianismo,


antiguidade é posto. Nesse caso equivale dizer que ninguém será tomado por “pai da
igreja”, caso tenho vivido posterior aos limites históricos acima. O segundo requisito
básico é a ortodoxia. A sua doutrina e o seu ensino devem estar de acordo com a
mensagem dos apóstolos e mais, em conformidade com o que a igreja universal tomava
como sã doutrina naqueles dias.

Por que esse critério é importante: Porque existem muitos escritores eclesiásticos
ilustres desse mesmo período, contudo, não obstante terem contribuído
significativamente para o desenvolvimento do dogma cristão, por certas razões,
possuíam também sérias defecções doutrinárias ou abraçaram alguns ramos
heterodoxos, hereges ou espúrios do cristianismo. Casos emblemáticos de Tertuliano e
Orígenes, por exemplo.

Em terceiro, a comunhão com a igreja estabelecida e organizada daquela época. O senso


de unidade e pertencimento era muito importante. Essa comunhão era testada,
geralmente, nos sínodos e concílios, onde poderes, doutrinas e moralidade eram
estabelecidos para a ‘catolicidade’ ou ‘oecumene’ da igreja, espalhada e presente no
mundo conhecido.

Nesse período, cristãos com pensamentos heterodoxos ou que esposassem doutrinas


divergentes, eram excomungados da ‘grande igreja’. Dentre os pais, praticamente não se
encontra um caso desses. Testemunho e magistério reconhecido em seus dias, é o quarto
requisito. Quer pelo testemunho de Cristo dado, inclusive com o martírio, ou pelo
ensino, os seus contemporâneos reconheciam a influência e a autoridade comprovada de
um homem.

O último requisito necessário é a santidade de vida. Os Pais da Igreja, mormente,


viveram as virtudes cristãs e as práticas de piedade em sumo grau de santidade. Isso
significa dizer, o quanto um pecador pode santificar-se nesse mundo caído, tanto quanto
eles desejaram e buscaram essa santificação.

Para nós, cristãos do século vinte e um, há muito o que podemos aprender com esses
homens, distantes de nós no tempo por mais de dezesseis séculos. Muitos teólogos
afirmam que faz mais sentido, em nossos dias, ler os pais da igreja, do que os puritanos,
por exemplo. E, acho mesmo que há grande verdade nisso. O nosso século se parece
mais em muitos aspectos com os dias da patrística do que com os da Reforma.

Na era dos pais, a sociedade era tremendamente paganizada, os costumes e a moralidade


estavam corrompidos, prevaricação e corrupção capeavam a luz do dia e pecado e a
impiedade eram tratados como virtudes. Os cristãos eram risíveis com a sua doutrina e a
seu padrão moral aos olhos desse mundo, marginalizados e muitas vezes perseguidos.
Os nossos dias se parecem mais com uma fotografia tratada e colorida artificialmente
daqueles dias, do que com um quadro pintado dos costumes e da religião dos dias de
Lutero, Calvino e os puritanos. E o que há para se aprender dos pais da igreja para a
nossa igreja local e para o benefício de nossa espiritualidade?

1) Os pais da igreja tinham a alma encharcada das Escrituras e a mente saturada da


Palavra de Deus. O pressuposto para a validação do que era a verdade ou a visão de
como o mundo devia ser, recebia a sua iluminação dos textos revelados, das páginas da
Bíblia;

2) Os pais da igreja amavam o conhecimento e buscavam a verdade, onde essa pudesse


ser encontrada. Por isso, não rejeitavam a filosofia, os clássicos da antiguidade e não
desprezavam o aprendizado. Habilitavam as suas mentes e as suas almas para poderem
dar a traducibilidade de sua fé, em um contexto completamente ignorante das verdades
Bíblicas.

3) Amavam a Igreja, sua vida, sua missão, seu culto e seus santos. Valorizavam tanto a
instituição e sua governança, como a vida fraterna em comunidade e o amor fraternal.

4) Estavam inseridos no mundo e conscientemente se faziam presentes, em constante


diálogo e com discernimento, nas esferas de poder político com o desejo de influenciar
os poderosos com o Evangelho de Cristo e a ética cristã. O Culto, em sua concepção
patrística, era o que preparava o crente para o testemunho e a missão fora da
comunidade, na arena do mundo.

5) Possuíam aguçada consciência social e presença transformadora na realidade onde


estavam. Os pais da Igreja organizavam de tal maneira a diaconia da igreja, que os
pobres, os marginalizados, as viúvas, os órfãos e mesmo os leprosos, nunca eram
deixados apara trás. Sanatórios, dispensários, distribuição de alimentos, acolhida aos
peregrinos e orfanatos-escolas, já estão presentes em Gregório de Nissa, Basílio de
Cesaréia e Gregório Magno. Também uma crítica consciência política quanto aos
desgovernos e a corrupção política pode ser achada em João Crisóstomo, Atanásio e
Ambrósio de Milão.

6) Eram homens de profunda oração. Eram contemplativos na ação e a sua ação os


levava a uma oração contemplativa. Dedicavam-se pessoalmente a longos períodos de
oração e eram generosos com o tempo dado a oração em suas liturgias. Da oração
partiam para a missão. Com os frutos da missão, voltavam para a oração. A Oração era
a fonte e o ápice da missão. Que os grandes irmãos da patrística nos inspirem em pleno
século vinte um a ganharmos também o nosso tempo para Cristo.

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