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COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE O QUE SÃO ?

UMA COMPREENSÃO A PARTIR DOS DOCUMENTOS DA IGREJA


LATINO AMERICANA : MEDELLÍN, PUEBLA E APARECIDA

Quando discutimos sobre CEB´S nem sempre estamos falando da mesma


realidade, já que existe muita confusão na cabeça das pessoas que compôem
nossas comunidades. Este pequeno texto quer resgatar o conceito de ceb´s a
partir dos documentos de Medellin, Puebla e Aparecida.

Faremos uma pequena introdução para relembrar a origem das ceb´s e iremos em
seguida, direto para os documentos a fim de podermos entender o conceito de ceb
´s a partir dos mesmos.

Este texto, na verdade, será quase só uma coletânea de textos das conferências do
CELAM a fim de, através deles, descobrirmos o verdadeiro sentido e
originalidade das CEB´S

a. A ORIGEM DAS CEB´S ( EXCERTOS DO TEXTO: A


ORIGINALIDADE HISTÓRICA DE MEDELLÍN – C. BOFF)

Até Medellín, a Igreja no Continente era a reprodução do modelo da Igreja


européia, em seu modo de organização, em sua problemática teológica e em suas
propostas pastorais. Era uma "igreja-reflexo" não uma "igreja-fonte", como se
exprimiu o Pe. H. de Lima Vaz, intelectual a quem muito deve a igreja brasileira.
Portanto, a Igreja latino-americana, mais que ser igreja da América Latina, era
mais propriamente a Igreja européia na América Latina. Era, de fato, uma igreja
em estado de minoridade, tutelada, privada de sua legítima autonomia
institucional.

Dizíamos que a Igreja do continente, até Medellín, era substancialmente a


extensão da Igreja européia na América Latina. Efetivamente, num primeiro
momento, a Igreja na América Latina foi uma igreja ibérica, espanhola ou
portuguesa que fosse.

Num segundo momento temos na América Latina uma Igreja "romanizada". Foi
quando, na segunda metade do século passado, por várias causas, o modelo
ibérico foi suplantado pelo fenômeno da chamada "romanização". Essa se
caracterizou por um modelo de igreja extremamente centralizado no clero, na
prática dos sacramentos e nas devoções de santos recentes e "oficiais",
destacando-se a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
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Foi só com o Vaticano II que se deram as condições de emergência de uma Igreja


continental em sua originalidade e em sua diferença em relação ao modelo da
igreja européia. Precisamente, Medellín pode ser visto como a recepção criativa
do Vaticano II na América Latina. O título do documento dessa Conferência soa:
"A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio". Como se
intui, à diferença dos outros Concílios que influíram no Continente (Trento e
Vaticano I), a proposta do Vaticano II funcionou aí como inspiração e não mais
como padrão a ser simplesmente copiado.

Medellín, no caminho aberto pelo Vaticano II, que rompeu a "aliança


constantiniana" (M.-D. Chenu), foi decisivo para dar à Igreja da AL o perfil de
uma igreja livre do poder, próxima dos pobres e companheira do povo em sua
caminhada libertadora. No Brasil em particular, com o documento do Regional
da CNBB Centro-Oeste "Marginalização de um povo" e o documento do
Nordeste II "Ouvi os gritos do meu povo", a Igreja marcava, de modo resoluto,
sua ruptura com o Poder e ao mesmo tempo sua aproximação com o povo pobre.

Medelín foi o verdadeiro "divisor de águas" na história da igreja do Continente,


de tal modo que se pode falar do "antes de Medellín" e do "depois do Medellín".
Os bispos que fizeram aquela conferência estavam conscientes da importância
histórica daquele momento. Na "Introdução às Conclusões" proclamam
explicitamente uma "nova época da história" e a definem precisamente em
termos de "libertação": "Estamos no umbral de uma nova época da história de
nosso Continente. Época plena de um desejo de emancipação total, de libertação
de qualquer servidão... Notamos aqui os prenúncio do parto doloroso de uma
nova civilização..." (n. 4).

. Os traços que iriam definir em seguida o perfil teológico-pastoral da Igreja do


continente e que desde Puebla são chamados por todos e claramente de "opção
pelos pobres", "teologia da libertação" e "Comunidades Eclesiais de Base", estão
em Medellín bem presentes, mas aí não estão ainda claramente delineados e nem
explicitamente designados.

, Medellín deu à nossa igreja os elementos essenciais, que, amadurecidos na


década seguinte, até Puebla, configuraram as três instituições que se podem dizer
próprias ou típicas da Igreja latino-americana, a saber: a Opção pelos Pobres, a
Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base. Ora, basta enunciar
essas três realidades para pensar imediatamente na Igreja da AL.
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b. AS CEB´S NOS DOCUMENTOS DE MEDELLÍN

As CEBs nasceram logo nos inícios dos anos 60, portanto, antes de Medellín,
mas essa Assembléia as legitimou e generalizou. De fato, pede-se aí que o
CELAM "estude" o fenômeno, ainda recente, das "Comunidades cristãs de base"
(Doc. XV, n. 32), as "divulgue" e "na medida do possível as coordene" (n. 12). O
Documento XV, intitulado "Pastoral de Conjunto", dedica todo um parágrafo (n.
10, 11 e 12) a este tema.

Vamos colocar aqui algumas afirmações de Medellín que nos ajudam a


compreender o entendimento que se tem sobre o assunto no documento:

Nº VI – Pastoral de Massas

Recomendações pastorais:

Procurar a formação do maior número de comunidades eclesiais nas paróquias,


especialmente nas zonas rurais ou entre os marginalizados urbanos. Comunidades
que se devem basear na Palavra de Deus e realizar-se, enquanto seja possível, na
celebração eucarística, sempre em comunhão e sob a dependência do bispo.

A comunidade se formará na medida em que seus membros adquirirem um


sentido de pertença que os leve a ser solidários numa missão comum, e consigam
uma participação ativa, consciente e frutificante, na vida litúrgica e na
convivência comunitária. Para isso, se torna mister fazê-los viver como
comunidade, inculcando-lhes um objetivo comum: alcançar a salvação mediante
a vivência de fé e de amor.

IX – LITURGIA

ELEMENTOS DOUTRINÁRIOS

A instituição divina da liturgia jamais pode ser considerada como um adorno


contingente da vida eclesial, já que «nenhuma» comunidade cristã se edifica se
não tem sua raiz na celebração da Santíssima Eucaristia, pela qual se inicia toda a
educação do espírito da comunidade. Esta celebração, para ser sincera e plena,
deve conduzir tanto às várias obras de caridade e mútua ajuda como à açâo
missionária e às várias formas de testemunho cristão.
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O Documento XV, intitulado "Pastoral de Conjunto", dedica todo um


parágrafo (n. 10, 11 e 12) a esse "achado" pastoral latino-americano:

Comunidades cristãs de base

A vivência da comunhão a que foi chamado, o cristão deve encontrá-1a na


«comunidade de base»: ou seja, em uma comunidade local ou ambiental, que
corresponda à realidade de um grupo homogêneo e que tenha uma dimensão tal
que permita a convivência pessoal fraterna entre seus membros. Por conseguinte,
o esforço pastoral da Igreja, deve estar orientado à transformação dessas
comunidades em «família de Deus», começando por tornar-se presente nelas,
como fermento por meio de um núcleo, mesmo pequeno, que constitua uma
comunidade de fé, esperança e caridade (LG 8; GS 40) . A comunidade cristã de
base é, assim, o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve em seu próprio
nível responsabilizar-se pela riqueza e expansão da fé, como também do culto
que é sua expressão. Ela é, pois, célula inicial da estrutura eclesial e foco de
evangelização e, atualmente, fator primordial da promoção humana e do
desenvolvimento.

Elemento capital para a existência de comunidades cristãs de base são seus


líderes ou dirigentes. Estes podem ser sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas
ou leigos. É desejável que eles pertençam à comunidade por eles animada. A
escolha e formação dos líderes deverá ter acentuada preferência na preocupação
dos párocos e bispos, os quais terão sempre presente que a maturidade espiritual
e moral depende em grande parte da assunção de responsabilidade em um clima
de autonomia (GS 55) .

Os membros destas comunidades, «vivendo conforme a vocação a que foram


chamados, exerçam as funções que Deus lhes confiou: sacerdotal, profética e
real», e façam assim de sua comunidade num sinal da presença de Deus no
mundo» (AG 15) .

Recomenda-se a elaboração de estudos sérios, de caráter teológico, sociológico e


histórico, a respeito destas comunidades cristãs de base, que hoje começam a
surgir depois de terem sido ponto-chave na Pastoral dos missionários que
implantaram a fé e a Igreja em nosso continente. Recomenda-se, também, que as
experiências que foram realizadas sejam divulgadas pelo CELAM e coordenadas
na medida do possível.

c. AS CEB´S NOS DOCUMENTOS DE PUEBLA


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Encontramos em Puebla, posicionamentos que refletem a rica e variegada


experiência das CEBs no continente, assim como as tensões existentes,
acompanhadas de algumas advertências. Puebla liga o surgimento dos
movimentos comunitários à longa caminhada pastoral da Igreja no continente,
onde o protagonismo do laicato se concretizou nas inúmeras irmandades e
confrarias. Afirma o documento na sua introdução histórica que estas foram: "...
espinha dorsal da vida religiosa dos crentes e a fonte remota, mas fecunda dos
atuais movimentos comunitário da Igreja latino-americana" (P 09).

Constata ainda que elas amadureceram e se multiplicaram: "As comunidades


eclesiais de base que em 1968 eram apenas uma experiência incipiente
amadureceram e multiplicaram-se, sobretudo, em alguns países. Em comunhão
com seus bispos e como o pedia Medellín converteram-se em centros de
evangelização e em motores de libertação e de desenvolvimento" (P 96).

Os bispos reconhecem igualmente sua fecundidade: "A vitalidade das CEBs


começa a dar seus frutos: é uma das fontes de onde brotam os ministérios
confiados aos leigos: animação de comunidades, catequese e missão" (P 97).

Lamentam que, por vezes, houve descuido na formação e tensões na esfera


política: "Em alguns lugares não se deu atenção conveniente ao trabalho de
formação das CEBs. É lamentável que em algumas partes, interesses
visivelmente políticos as pretendam manipular e afastar da autêntica comunhão
com seus bispos" (P 98).

De todos os modos, ao tratarem das tendências da evangelização no futuro,


afirmam que a Igreja: "Reconhecerá a validade da experiência das CEBs e
estimulará seu desenvolvimento em comunhão com seus pastores" (P 156).

Liga mais adiante CEBs e Pastoral familiar, na luta por superar o agudo
individualismo que marca a realidade contemporânea: "Nota-se uma reação em
muitos países tanto no despontar da pastoral familiar quanto na multiplicação das
CEBs, onde se torna possível -em nível de experiência humana- uma intensa
vivência da realidade da Igreja como família de Deus" (P 239).

Os bispos dedicam todo um capítulo aos centros de comunhão e participação,


incluindo aí, depois da família, "as comunidades eclesiais de base, paróquia,
igreja particular". De modo mais direto, a reflexão sobre as CEBs encontra-se no
bloco que vai do número 629 ao 643.

Ao final do número 640, os bispos levantam a questão que ainda hoje se repete
em muitos ambientes eclesiais: "... quando é que uma pequena comunidade pode
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ser considerada verdadeira comunidade eclesial de base, na América Latina?" (P


640).

Vejamos os textos:

Nº 629. Está comprovado que as pequenas comunidades, sobretudo as


comunidades eclesiais de base criam maior inter-relacionamento pessoal,
aceitação da Palavra de Deus, revisão de vida e reflexo sobre a realidade, à luz do
Evangelho; nelas acentua-se o compromisso com a família, com o trabalho, o
bairro e a comunidade local. Destacamos com alegria, como fato eclesial
relevante e caracteristicamente nosso e como “esperança da Igreja” (EN 58), a
multiplicação das pequenas comunidades. Esta expressão eclesial nota-se mais na
periferia das grandes cidades e no campo. Constituem elas ambiente propício
para o surgimento de novos serviços leigos. Nelas se tem difundido muito a
catequese familiar e a educação dos adultos na fé, de forma mais adequada ao
povo simples.

Nº 630. Todavia, não se deu suficiente atenção à formação de líderes educadores


da fé e de cristãos responsáveis nos organismos intermediários do bairro, do
mundo operário e agrário. Quem sabe, por isso mesmo não hajam faltado
membros de comunidades ou comunidades inteiras que, atraídos por instituições
puramente leigas ou ideologicamente radicalizadas, vão perdendo o autêntico
senso eclesial.

Nº 640. Nas pequenas comunidades, mormente nas mais bem constituídas, cresce
a experiência de novas relações interpessoais na fé, o aprofundamento da palavra
de Deus, a participação na eucaristia, a comunhão com os pastores da Igreja
particular e um maior compromisso com a justiça na realidade social dos
ambientes em que se vive. Pergunta-se quando é que uma pequena comunidade
pode ser considerada verdadeira comunidade eclesial de base na América Latina?

Nº 641. A comunidade eclesial de base, enquanto comunidade, integra famílias,


adultos e jovens, numa íntima relação inter-pessoal na fé. Enquanto eclesial, é
comunidade de fé, esperança e caridade; celebra a palavra de Deus e se nutre da
eucaristia, ponto culminante de todos os sacramentos; realiza a palavra de Deus
na vida, através da solidariedade e compromisso com o mandamento novo do
Senhor e torna presente e atuante a missão eclesial e a comunhão visível com os
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legítimos pastores, por intermédio do ministério de coordenadores aprovados. É


de base por ser constituída de poucos membros, em forma permanente e à guisa
de célula da grande comunidade. “Quando merecem o seu título de eclesial idade,
elas podem reger, em solidariedade fraterna, sua própria existência espiritual e
humana” (EN 58).

Nº 642. Os cristãos unidos em comunidade eclesial de base, fomentando sua


adesão a Cristo, procuram uma vida mais evangélica no seio do povo, colaboram
para questionar as raízes egoístas e de consumismo da sociedade e explicitam a
vocação para a comunhão com Deus e com os irmãos, oferecendo um valioso
ponto de partida para a construção duma nova sociedade, “a civilização do
amor”.

Nº 643. As comunidades eclesiais de base são expressão de amor preferencial da


Igreja pelo povo simples; nelas se expressa, valoriza s purifica sua religiosidade e
se lhe oferece possibilidade concreta de participação na tarefa eclesial e no
compromisso de transformar o mundo.

Nº 644. A paróquia realiza uma função de Igreja em certo sentido integral, já


que acompanha as pessoas e famílias no decorrer de toda a sua existência, na
educação e crescimento na, fé. É centro de coordenação e animação de
comunidades, grupos e movimentos. Aqui, amplia-se mais o horizonte de
comunhão e participação. A celebração da eucaristia e demais sacramentos torna
presente de maneira mais clara a totalidade da Igreja. O seu vínculo com a
comunidade diocesana é garantido pela união com o bispo, que confia a seu
representante (normalmente o pároco) o cuidado pastoral da comunidade. A
paróquia vem a ser para o cristão o lugar de encontro, de fraterna comunicação
de pessoas e de bens, superando as limitações próprias às pequenas comunidades.
Na paróquia se assume, de fato, uma, série de serviços que não estão ao alcance
das comunidades menores, sobretudo em nível missionário e na promoção da
dignidade da pessoa humana, atingindo-se, assim, os migrantes mais ou menos
estáveis, os marginalizados, os separados, os não-crentes e, em geral, os mais
necessitados

d. AS CEB´S EM APARECIDA
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Em Aparecida, foi proposta uma Igreja "discípula" de Jesus e toda ela


missionária, com especial apelo às CEBs(13), para se colocarem à frente do novo
esforço missionário da Igreja, tudo isto sintetizado em alguns parágrafos muito
densos, de tom positivo e encorajador:

nº 178. Na experiência eclesial da América Latina e do Caribe, as Comunidades


Eclesiais de Base têm sido escolas que têm ajudado a formar discípulos e
missionários do Senhor, com o testemunho da entrega generosa, até derramar o
sangue, de muitos de seus membros. Elas abraçam a experiência das primeiras
comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47).
Medellín reconheceu nelas uma célula inicial de estruturação eclesial e foco de fé
e evangelização. Enraizadas no coração do mundo, são espaços privilegiados
para a vivência comunitária da fé, mananciais de fraternidade e de solidariedade
e alternativa à sociedade atual fundada no egoísmo e na competição desapiedada.

Nº 179. Queremos decididamente reafirmar e dar novo impulso à vida e missão


profética e santificadora das CEBs, no seguimento missionário de Jesus. Elas têm
sido uma das grandes manifestações do Espírito na Igreja da América Latina e do
Caribe depois do Vaticano II. As comunidades eclesiais de base, no seguimento
missionário de Jesus, têm a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade e
a orientação de seus pastores como guia que assegura a comunhão eclesial.
Demonstram seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples
e afastados, e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres. São fonte
e semente de variados serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na
Igreja"(14).

CONCLUÍNDO
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Em 1982 a CNBB lançou um documento intitulado “ As comunidades eclesiais


de base na Igreja do Brasil” aprovado na 7ª reunião ordinária do Conselho
Permanete Doc 25. No documento reafirma a importância das CEB´S para a
Igreja latino americana e de novo se reafirmam as características que fazem de
uma comunidade uma CEB. Vejamos alguns trechos:

Nº3. Fenômeno estritamente eclesial, as CEBs em nosso país nasceram no seio


da Igreja/instituição e tornaram-se “um novo modo de ser Igreja”. Pode-se
afirmar que é ao redor delas que se desenvolve, e se desenvolverá cada vez mais,
no futuro, a ação pastoral e evangelizadora da Igreja.

Nº40. Células vivas da Igreja, as CEBs (...) têm colaborado poderosamente na


renovação das paróquias e dos vários processos pastorais, no sentido de uma
crescente comunhão e participação. (...) Na prática de sua vida elas têm
encontrado surpreendentes caminhos de uma evangelização, catequese e liturgia
encarnadas, muito ligadas à palavra de Deus. Em sua “fome e sede de justiça”,
têm encontrado caminhos de uma prática ecumênica concreta. Desenvolvem,
ainda, um fenômeno de intercomunicação participativa e da formação do senso
crítico diante da massificação dos meios de comunicação. (...) São uma
alternativa de educação para os que buscam uma sociedade nova, onde o
individualismo, a competição e o lucro cedem lugar à justiça e à fraternidade.

Nº63. O novo que as CEBs trouxeram foi o fato de oferecerem, dentro da Igreja,
um espaço para o próprio povo simples participar da evangelização da sociedade
através da luta pela justiça. Nesse sentido, as CEBs têm se manifestado como
lugar privilegiado de educação para a justiça e como instrumento de libertação.

Nº72. Para ser membro de uma CEB, não basta, portanto, a prática da justiça. É
preciso mais, é preciso explicitar essa prática na pessoa e na obra de Cristo.
Igualmente, não basta a uma CEB promover os valores do Reino. Para ser fiel à
sua identidade, essa promoção tem de guardar uma relação constante e explícita à
pessoa e missão de Jesus Cristo, Filho de Deus, e seu mistério pascal, através do
qual se deu a instauração do Reino de Deus na humanidade.

Nº79. Isso não quer dizer, porém, que as CEBs sejam um novo movimento de
leigos. A CEB não é um movimento, é nova forma de ser Igreja É a primeira
célula do grande organismo eclesial ou, como diz Medellín, “a célula inicial de
estruturação eclesial”. Como Igreja, a CEB guarda as características
fundamentais que Cristo quis dar à comunidade eclesial. A CEB é uma maneira
nova de realizar a mesma comunidade eclesial que é o Corpo de Cristo. Por isso
mesmo, o ministério pastoral ou hierárquico faz parte da CEB.
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O Bispo ou o padre não são de fora, não são meros assessores ou


acompanhantes. Sua presença, mesmo não contínua, tem um sentido especial e
único, já que, como em qualquer comunidade eclesial, eles tornam presente o
Cristo-cabeça.

Nº80. Para as CEBs, portanto, não basta que, como qualquer movimento cristão,
estejam unidas a seus Bispos e padres. As CEBs são células do corpo eclesial e
por isso, guardam laços de natureza mais íntima no relacionamento com os
pastores que, em nome do Senhor, estão à frente das Igrejas. Isso não suprime a
justa autonomia das CEBs no desenvolvimento de sua vida e missão própria, mas
acarreta especiais exigências de comunhão e corresponsabilidade eclesial.

- Os bispos reunidos na 48a Assembleia Geral aprovaram uma Mensagem ao


Povo de Deus sobre as Comunidades Eclesiais de Base. No texto eles fazem a
pergunta com que terminamos este texto:

Os desafios postos às CEBs hoje: a sociabilidade básica no clima cultural


contemporâneo: Com as grandes mudanças que estão acontecendo no mundo
inteiro e em nosso país, as CEBs enfrentam hoje novos desafios: numa sociedade
globalizada e urbanizada, como viver em comunidade? Nascidas num contexto
ainda em grande parte rural, serão capazes de se adaptar aos centros urbanos, que
têm um ritmo de vida diferente e são caracterizados por uma realidade plural?
Dentro desse contexto, há outro desafio: como transmitir às novas gerações as
experiências e valores das gerações anteriores, inclusive a fé e o modo de vivê-
la? Só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma Fé será capaz de
dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea.

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