Você está na página 1de 8

REMINISCÊNCIAS

O texto que agora tens em mãos são situações reais ou imaginárias filtradas por quem as
viveu ou imaginou, e as impressões que causaram em seu espírito. Cada um enxerga as
coisas a seu modo, dá importância a coisas diferentes. O que se plasma no espírito de
um pode não ter importância para outro. Assim, o que vais ler, são situações,
impressões, e não relatos de coisas que se deram tal qual. Muitas das situações e pessoas
aqui apresentadas são reinventadas, revisitadas e não têm, necessariamente, uma relação
factual com a realidade. Relata-se somente a criação de um mundo criado à nossa
medida, como diz Miguel Torga.

Diz Torga no prefácio da A CRIAÇÃO DO MUNDO: “Todos nós criamos o mundo à


nossa medida. O mundo longo dos longevos e curto dos que partem prematuramente. O
mundo simples dos simples e o complexo dos complicados. Criamo-lo na consciência,
dando a cada acidente, fato ou comportamento a significação intelectual ou afetiva que a
nossa mente ou sensibilidade consentem. E o certo é que há tantos mundos como
criaturas. Luminosos uns, brumosos outros, e todos singulares”. Então aqui vai, em
palavras, a recriação do meu mundo, vivido, imaginado, sonhado.

PARTE I – A MENINICE

- Dá um beijo à tua avó!

E mesma voz repetia:

-Dá um beijo à tua avó!

Fui levantado do chão por dois braços e aí vi o interior do caixão. Parecia a minha avó,
mas não era a minha avó. Lá estava a cama, a arca, a fogueira, os chás para as mezinhas,
a varanda, as escadas em dois vãos, tudo era como era. Mas aquela mulher no caixão
não era a minha avó. Parecia, mas não era. A minha avó era quente, viva, de gênio
irrequieto, mesmo estando entrevada na cama. Aquela que estava no caixão não tinha
nada disso. Era uma estranha.

De novo a voz no meu ouvido:

- Vá lá, dá um beijo na tua avó!

A custo me inclinei e beijei a testa fria. Este foi o meu primeiro encontro pessoal com a
morte.

Aquela caminhada do dia de Natal de 1968 fora totalmente diferente das outras:

- Pra onde vão?

- Pra festa de Janeiro de Baixo!


E lá abalávamos todos felizes e gaiteiros para a terra paterna. Éramos apelidados de
escudeiros. E a família dos escudeiros, feliz, seguia caminho até à areeira de Janeiro de
Baixo, onde se gritava pelo barqueiro. Isso até nem era necessário. No outeiro podia-se
divisar uma figura miúda, toda de preto, atenta à areeira e falando ao barqueiro para que
passasse o Acácio com a família.

Tia Maria, irmã de nosso pai, era a primeira a nos receber em sua casa onde a Maria,
sua filha e nossa prima, mais velha que nós, arrumava algo para a merenda: não podia
faltar o morangueiro misturado com água e açúcar para refresco. Partiu nossa avó, mas a
casa da Ti Maria continuou sendo nosso refúgio e lugar de peregrinação toda a vez que
havia festa, romaria ou jogo de futebol. Ela e nossa prima marcaram toda a nossa
meninice.

Falei que a morte de minha avó de Janeiro de Baixo foi o meu primeiro encontro real e
pessoal com a morte. Já tinha tido uma experiência anterior de perda: a morte do meu
avô José Maria Cortes.

Vivíamos na Casa do Vale. Sentados à fogueira chegou alguém com um recado:

- tia Isaura, é para ir depressa aos Almeidas que tem um telefonema de Lisboa.

Então ela foi depressa e passado algum tempo ouvimos os gritos dela pela rua abaixo.
Corremos para a rua e ela vinha à oliveira grande chorando alto. Tinha morrido no
Barreiro o nosso avô José Maria Cortes.

A nossa mãe partiu para o funeral no Lavradio e nós ficamos uma semana livres, pelos
quelhos do Vale, e entregues a uma criada que não nos dominava. A morte de nosso avô
acontecera muito longe e aquilo que os olhos não veem o coração pouco sente,
principalmente em criança.

Apesar de pequeno muita coisa ficou na minha memória sobre o meu avô José, de quem
herdei o nome. Vejo o velho avô sentar-se à fogueira na casa da avó Delfina e
adormecer com o copo de esmalte na mão, com uma mistura de café e vinho quente e,
às vezes, com migas de pão. Pertencia à Igreja Lusitana e frequentava uma pequena
igrejinha na Rua das Taipas no Bairro Alto, em Lisboa, desde os tempos em que ali fora
aguadeiro. Nos anos sessenta, quando ia passar uma temporada no Barreiro, continuava
frequentando Igreja Lusitana e ali pagava o dízimo.

Era de Janeiro de Baixo e casara em Janeiro de Cima com a avó Delfina. Com o
dinheiro ganho em Lisboa foi comprando uns terrenos dos quais muito se orgulhava e,
com seu empenho, produziam bem e faziam com que em sua casa houvesse fartura.
Tinha especial apreço pelos Chães onde foi escavando a fraga e havia construído uma
pequena casa rural com um curral para o burro e como apoio ao cultivo dos oldeiros.

Enquanto semeava e colhia também se dedicava à venda de sardinha, com o burro, pelas
terras em volta. Um dia andava eu dando as minhas voltas de jovem por essas serranias,
a pé, e cheguei a Adurão. Uma senhora idoso me perguntou:
-Vêm de onde?

- De Janeiro de Cima

- São de que família?

- Bom, o meu avô era o José Maria Cortes.

- Ainda o conheci bem, a vender por aqui sardinhas...

Outra coisa interessante do avô José Maria foi o pacto que fez com a avó Delfina: todos
os filhos foram batizados na Igreja Católica e ali foram catequizados, porque, dizia ele,
“um homem sem Deus é como uma terra sem água”.

Aos domingos ia à missa na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Assunção, mas só


participava na liturgia da Palavra, ou seja, ficava na igreja até ao ofertório, para poder
escutar a Palavra de Deus e a homilia do padre: Os homens, no coro, mediam o acerto
das palavras do padre pela cabeça do avô Zé Maria: se abanava de modo afirmativo, o
padre estava falando bem, se abanava de modo negativo, o padre estava saindo dos
trilhos da sã doutrina.

A casa do Vale foi a casa da minha meninice. É verdade que nasci na Rua do Meio e a
primeira taberna do ti Acácio era numa loja do meu tio Adelino Cortes, meu tio. Os
barris do vinho subiam dos Linhares pelo quelho que estava bem em frente. Depois
tivemos a taberna numa loja alugada ao Ti Zé Maria da Barroca. Finalmente, viemos
para a casa do Vale entre as casas do tio Zé Gaspar e a tia Nazarica, ao lado do Tio
Alfredo Gatalhão e da Tia Rita e frente ao tio Isidro. Essa foi minha primeira casa de
verdade e a primeira taberna em terreno próprio.

A Casa atravessava da Rua do Vale até ao quelho e tinha entrada pelos dois lados. O
lado do quelho dava para a casa e também para uma esterqueira que, no inicio, ficava
logo por baixo da cozinha e que servia para os homens da taberna. Depois essa
esterqueira foi eliminada e a cozinha veio para baixo, para esse mesmo lugar.

A primeira cozinha era no alto e era muito fria. Batia o vento de todos os lados e dava
para um terraço que ficava ao nível do telhado da tia Nazarica. O nosso Bocho, o
Carriço, subia do terraço para o telhado da vizinha e fazia alguns estragos por lá. Era
uma guerra por causa do Carriço. O tio Acácio, meu pai e dono do criminoso, chegou de
França, na sua primeira vez de emigrado, e foi cumprimentar a vizinha Nazarica. Ela
olhou bem na cara dele e disse como cumprimento:

-O seu cão estragou-me todo o telhado, mas por algum lado lhe há-de sair!

E deu de costas toda brava. E o meu pai lá lhe foi colocar no lugar algumas telhas mal
ajustadas. Isso eram coisas do momento. Como a casa era pequena e ocupada por baixo
pela taberna, foi feita uma porta para uma das lojas da casa da tia Nazarica e alugamos a
loja, onde ficaram os matraquilhos e uma dorna com milho, entre outras coisas. Por
falar da dorna, lembro que passamos um dia inteiro procurando o meu irmão Tó Luís e
só no fim do dia sentimos um barulho na loja e vimos que ele estava escondido no meio
do milho, dentro da dorna.

Mas a tia Nazarica também tinha um gato ladrão que todos os dias destapava o testo às
panelas e tachos com comida. E aquilo se repetia todo o santo dia. Numa vinda de meu
pai a Portugal ele saiu à porta da taberna para conversar um pouco com o Manuel
Padeiro (que ainda não era padeiro) que estava a sair do quintal e se deu conta que o
gato gatuno ladrão estava no balcão em frente, todo faceiro, lambendo a pata e se
lavando. Fez um sinal ao ti Manel, entrou e voltou com a arma em punho. PUM!! Foi só
um descarga. Logo o ti Manel pegou no ladrão fuzilado, o meteu numa saca e foi na
direção do rio.

No outro dia andava a tia Nazarica procurando pelo gato:

- Oh Isaura não viste por aí o meu gato?

E os olhos do Tó Luis, meu irmão, esbugalhados e quase a contar toda a história para a
dona do gato. Antes que abrisse a boca foi puxado para a cozinha e ali pegou um cala a
boca.

A taberna foi a minha prisão de criança. Como era o mais velho, que remédio senão
atender ao balcão encavalitado em cima dum garrafão de 10 litros de vinho branco,
empalhados e resistentes. Antes de saber ler e escrever ia para casa de Dona Virgínia
aprender a contar dinheiro e a fazer trocos. Acho que me enganei ou me enganaram
muitas vezes lá no Vale. Quando a brincadeira estava no melhor lá vinha aquele grito:

-ZEEEEEEZIIIIITOOOO.

- Olha, é a tua mãe “aimanina”.

Com aquele grito nos ouvidos não havia maneira de continuar o jogo do leão ou às
escondidas. Pernas para que vos quero. Na verdade era o jeito de todas as mães. O nome
de qualquer um podia ser escutado a qualquer momento, era a hora trágica do chinelo no
rabo. Ainda era bom, porque se dizia que alguns pegavam em casa de cinto ou com uma
corda molhada.

Os reis da taberna eram o vinho, a aguardente e a onça de tabaco. Mas havia um


príncipe que também teve o seu lugar na taberna: o pirolito.

O pirolito era uma bebida gasosa, continha água, ácido cítrico e gás carbônico e a
garrafa não tinha rolha nem cápsula, pois possuía no interior uma esfera de vidro que
servia de tampa, (empurrava-se a esfera de vidro para baixo, de modo ao gás sair e
permitir a saída do liquido). Desapareceu porque era difícil de lavar para reutilizar e as
fábricas fecharam nos anos 60 por questões sanitárias. Ficaram muitas garrafas por
recolher e, então, era quebrar garrafas para poder retirar o berlinde para brincar.
Tínhamos um pequeno curral logo adiante, ao lado da tia Delfina Tomé, na mesma Rua
do Vale, com um palheiro e uma área desocupada entre o palheiro e a casa da tia
Delfina, onde ficaram encalhadas as caixas com as garrafas de pirolito. Ali era a nossa
mina, quando se necessitava.

Foi por causa da taberna que apanhei a primeira bebedeira, com uns seis anos de idade.
Chegou uma malta lá na taberna e compraram castanhas e um garrafão de vinho para
fazer um magusto no Cabeço. Pediram à minha mãe para eu poder ir com eles. Desse
grupo faziam parte alguns filhos do Tio Eduardo Mendes: o Dito, o Julio e outros. Lá
fomos e durante o magusto bebiam e no fim me ofereciam o copo e diziam: escorre o
resto. E eu ia escorrendo. O magusto acabando e eu rindo e caindo tonto. Trouxeram-me
ao “baluto” e me entregaram à minha mãe. Fui deitar, mas tudo rodava e eu parecia que
vomitava as tripas. Nunca me tinha sentido tão mal em toda a minha vida.

(continua)

Eu pequeno, ainda me lembro de ir para a igreja e, do lado da minha avó, no meio da


igreja, fixar meu olhar de criança no Cristo ensanguentado, que estava bem no meio do
altar- mor, e rezar confiadamente pelo meu pai que estava em França, como minha mãe
pedira antes da missa. E no bolso levava a minha moeda para a bacia das almas, que era
de cobre,e fazia um barulho estranho quando lá caia uma moeda.

Nesta igreja aconteceram muitas histórias. Cada um lembra-se das suas. Vou contar uma
das mais antigas que me lembro:

Na hora do parto da minha irmã Albertina, lá na casa do Vale, eu e meus irmãos, Tó


Luis e Julio, fomos mandados para a taberna, com a proibição de subirmos as escadas
internas, que davam acesso aos quartos e sala. Ficamos ali de castigo e quando a
Albertina nasceu escutamos um choro e perguntei:

- que foi isso?

Alguém que estava conosco, não sei se a nossa vizinha Lurdes irmã do Manuel,
respondeu:

- Isso é um gato a miar

E nós rindo dissemos:

- nada disso, é um irmão.

Naquele tempo havia um grande secretismo sobre nascimentos e tudo o que se


relacionasse com isso.

Algum tempo depois ia realizar-se o batizado da Albertina e foram convidados para


padrinhos a Isaura e o Ilídio, nossos primos. No dia do batismo os dois ainda andavam
ao “Portacarvalha” a trabalhar com o Titi.

Minha mãe me pediu para ir dizer ao padre, penso que era o Pe. Branco, que os
padrinhos iam chegar atrasados para o Batizado. Como a missa estava demorando muito
e o padre sempre de costas, resolvi subir dois degraus do altar, e, diante de um sacristão
aflito, comecei a puxar a casula do padre, para que ele me desse um minuto de atenção.
E como ele parecia que não queria se virar, lá gritei o meu recado:

- Os padrinhos da minha irmã ainda estão ao “Portacarvalha” e vão chegar atrasados.

E fui à vida.

Um dia à noite resolvi passear com a Albertina ao “baluto”. Saímos do Vale, fomos
pelo Adro da igreja e voltamos correndo. Ela rindo. Chegando bem ao lado da Oliveira
Grande tropecei e aí vamos nós para o meio do chão. Ralei-me todo, até a cara, e a Tina
ficou sem um arranhão, mas eu não o sabia naquele momento. Fui a medo para casa
com a Albertina nos braços e eu todo sujo e ensanguentado. A taberna cheia e aquele
espetáculo. Examina aqui, examina ali, ainda saí daquela como herói. A menina não
tinha nenhum arranhão.

Naquele tempo todos tinham um poleiro de galinhas perto de casa, ou nos Linhares, que
era área livre para isso. O Linhares não tinham cercas, arames ou muros. Para as
crianças era o grande espaço da liberdade: procurar ninhos pelas pernadas ou nas tocas
das oliveiras, grilos, jogar à bola, escorregar na lama para a qual a gente urinava para
ficar mais escorregadia...

Como ia falando, quando morava no Vale tínhamos dois poleiros. Um dia eu e uma
menina, mais ou menos da minha idade, devíamos ter cinco ou seis anos, entramos no
poleiro do Quelho, já que as galinhas estavam fora, “para nos conhecermos melhor.” O
problema é que mal entramos o gravelho da porta se fechou e nós ficamos lá dentro. O
jeito foi tentar sair pelo buraco por onde saíam as galinhas. Tentei sai, para abrir a porta
à menina, mas é o sais. Fiquei com metade do corpo fora e metade dentro. Não ia nem
prá frente, nem pra trás. Que aflição. “empurra, empurra”, gritava eu para a
companheira. Até que, depois de muita luta, saí e abri a porta à dama. Por sorte ninguém
passou e viu aquele espetáculo.

- Zézito vai aos Linhares tapar o poleiro das galinhas.

Nos anos 60 as luzes na aldeia eram muito fracas e lá para os Linhares ainda era pior.
Era o reino da absoluta escuridão, contrastando com o Reino da Liberdade diurna.
Anoitecia. Lá fui eu com certo receio. Passei pelo Quelho que vai dar à Rua do Meio,
continuei pelo Quelho ao lado da tia Emília e tia Ana, baixei pelo Quelho do tio
Antônio Alfaiate e lá fui rumo ao poleiro, já de noite. Quando tapei o poleiro, ainda
abaixado, escutei:

- harraaaay, harraaaay, harraaay, harraaaaay

Gelei, as minhas pernas tremeram e não sabia o que fazer. No meio daquela escuridão e
aquele som: harraaaaaaay......

Ergui devagar as costa e, apavorado, enfrentei com o olhar a escuridão. Não ousava dar
um passo. Então vi uma luz lá ao fundo, uma pequena luz salvadora. Dirigi-me para ali,
tremendo de medo, apavorado. Era a casa de tia Lucília. Chamei. Ela apareceu na porta
e entrei logo, falando do horrendo grito na escuridão. Ela riu:

- Não precisas de ter medo. É só uma coruja.

Deu-me algo para beber e comer e me despediu mais reconfortado. Apesar disso galguei
os Quelhos num instante, fugindo do Reino das Trevas.

Durante muito tempo a nossa cuidadora foi a Lurdes, nossa vizinha, que morava do lado
de cima, no Quelho. Meu pai emigrado, a taverna, a horta e tantas outras coisas, ela era
a nossa salvadora na hora de comer, do banho e também nas histórias. As primeiras
histórias que escutei foram contadas por ela, sobretudo nos dias de inverno, na cozinha e
à lareira. Por essas histórias tivemos acesso ao reino da fantasia, ao mundo dos ladrões e
facínoras, muito longe do mundo fechado de Janeiro de Cima.

Era uma vez... E entravamos num outro universo, numa outra dimensão, sem
precisarmos de televisão, computador ou telemóvel. E escutávamos...

Agora quase ninguém vive pelo Vale e os seus Quelhos, mas naquele tempo estavam
repletos de moradores. Já falei em outra publicação do Tio Alfredo Gatalhão, com seu
Quintal, centro cultural dos adolescentes e jovens. Ali se tirava o diploma em tudo o que
não se aprendia em casa, nem na escola. Mas era uma escola só para rapazes, onde as
raparigas não tinham vez.

Outra figura que me lembra bem era da Tia Rita. Morava ao lado da casa do Tio José
Gaspar. Vinha em casa, com uma pinha para buscar lume para acender a fogueira. Ou a
tia Maria das ovelhas que tinha o curral no patio onde desemboca o Quelho mais
apertado e ficava brava quando lhe diziam:

- Tia Maria me venda um borreego dos seus.

Ou a figura do Sebastião com um molho de estrume todo “escarrafocedo” com aquele


seu lábio saliente todo guloso para a aguardente.

Um dia meu pai olhou para aquela casa no Vale e disse:

- Vou fazer uma casa num lugar mais soelheiro e mudar para lá. A aldeia estava
expandindo-se lentamente e o Vale deixara de ser o centro da aldeia. E eu, além de
mudar de casa, estava fazendo uma nova experiência: a escola.
A Nova casa da família foi construída bem em frente do cemitério velho. O que o meu
pai queria era uma casa com bastante ar e sol. Isso ele consegui. A construção manteve
o mesmo plano da casa do Vale: habitação em cima e taverna embaixo. O mais
interessante é que tínhamos duas escadas que levavam ao andar de cima.

Uma que subia direto da rua e a outra ia até ao quintal, cozinha e despensa onde tinha a
salgadeira, o e o vinho. No pequeno corredor entre a cozinha, a despensa e a porta para
a taverna se dependurava o porco para ser aberto, cortado e salmourado.

A cozinha era bastante pequena e fria. Mas a lareira era grande para cozinhar o caldeiro
dos porcos e o dos tremoços do domingo. Ficava logo ao lado da taverna e tinha um
pequeno buraco na parede para ver quem entrava na taverna.

Esta era a casa primitiva com quintal para coelhos e galinhas bem na frente do salão
paroquial, apesar do terreno não ser nosso. Encostado à casa do Sr, Isidoro da Costa
havia o curral do porco e a retrete.

Você também pode gostar