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Nova casa ao lado do Centro Paroquial e do cemitério velho. Ruas por todo o lado. Rua
para o jogo da bola, rua para o escola, rua para o Espírito Santo, rua para a Eira. Um
nunca acabar de ruas. A rua da escola e a rua que dava para o rio e Jogo da bola eram
separadas por duas enormes oliveiras e tinha um desnível bastante acentuado entre elas.
A rua do rio levava para o divertimento, a alegria da praia da mosca. A rua de cima
levava para o martírio da escola, principalmente quando a professora era uma fera.
Tivemos professoras compreensivas, tivemos professoras exigentes e tivemos
professoras feras. Algumas casadas, a maioria solteira. Algumas permaneceram solteiras
por toda a vida, outras casaram anos mais tarde.
A casa de altos e baixos tinha duas escadarias, uma que dava para a rua e a outra para o
quintal. Quartos em cima, taberna em baixo. O café, a mercearia, a cozinha de cima a
sala e outras ampliações foram construções e adaptações posteriores, conforme se ia
necessitando e tendo algum dinheiro.
A primeira classe foi tranquila. Agora a segunda classe, já morando ao lado do centro
paroquial, foi um terror para mim e todos os alunos da escola de baixo. A professora era
o terror. Já tínhamos televisão no café e eu ficava vendo televisão até mais tarde, ou
ajudando no serviço do café. Vinha o sono na escola. Algumas vezes levava com a água
do jarro das flores pela cara. Ou a unha da professora se cravava ferozmente na minha
orelha ou de qualquer outro aluno.
Algumas crianças não queriam de jeito nenhum ir para a escola, eram levadas
arrastadas, outras borravam-se todos de medo pelo caminho. Coitada da criança que era
chamada ao quadro. Coitada da que errava na ardósia a conta ou fazia um erro no
ditado. Terror dos terrores era o dia da tabuada. Reguada para todo o lado quando não se
tinha a cantilena na ponta da língua.
- Meu avô é capaz de fazer uma régua para a senhora Professora. Vou dizer a ele.
Olhar mortífero de toda a escola na direção da menina que se ofereceu para trazer uma
régua nova. Era uma traição.
-Meu avô já fez a régua. Está aqui. E ele mandou dizer que não é nada.
Começa a aula. ABC com a primeira classe, ditado para a segunda, tabuada para a
terceira, montanhas e rios de Portugal para a quarta. No meio da aula a neta do
carpinteiro gaguejou numa resposta. Expectativa na sala. A professora levanta da mesa
de régua em riste e... zás. Primeira reguada naquela que trouxera a régua.
Depois da aula foi rir da cara da coitada que queria agradar à professora e foi a primeira
a apanhar. Era bem feito mesmo.
A professora era tão fera que nem a sobrinha e afilhada poupava. Um dia, numa ida ao
quadro, a coitada apanhou tanto com uma cana que todos na sala ficaram com muita
pena. Mas não havia nada a fazer. Na sala de aula a professora era a lei. Havia que
obedecer e calar.
Como já disse também tivemos professoras serenas e capazes de ensinar sem impor o
terror dentro de sala. A terceira e quarta classe as fiz tranquilamente com uma
professora exigente e justa, que também usava a régua, mas de uma forma totalmente
diferente e muito raramente.
Quando não acampava ali, gostavam de acampar lá para a Cova da Alagoa perto de um
curral que o Tio Manuel Lúcio tinha por ali. Alguns usavam o palheiro para dormir e
subiam por uma escada de madeira que depois não tínhamos coragem de usar por causa
das verrugas.