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8 Uma Igreja no

caminho da maturidade

A sabedoria divina fez perceber-se na escolha dos pastores.


Os quatro arcebispos de Maringá: dom Jaime, dom Murilo, dom João e dom Anuar.
Decorridos 20 anos, a Igreja de Maringá apresentava um panorama bem diferente daquele que encon-
trara seu primeiro bispo quando pousou num campo de terra para encarar uma cidade ainda com cara de
povoação mal cuidada, coberta de lama e pó, cingida de mato por todos os lados. Ao comemorar, em 1977,
os 30 anos de fundação, Maringá figurava entre as principais cidades do Paraná, superada no interior apenas
por Londrina. Firmara-se igualmente como importante centro regional atraindo gente do vasto entorno de
Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Dela partiram, agora em movimento inverso, desbravadores no
rumo de novas frentes do crescimento econômico-social do Estado e do país. Muitos dos que para cá tinham
vindo cultivar a terra na época da colonização emigraram, a partir dos anos 70, indo contribuir no desenvol-
vimento de Umuarama, Cascavel, Campo Grande, Rondonópolis, Cuiabá e até Barreiras, na Bahia. O mesmo
fenômeno verificou-se na área religiosa. Mais de um bispo do cerrado e da Amazônia legal sentiu-se feliz por
receber leigos católicos “importados” do Paraná, muitos oriundos da diocese de Maringá. Ao atingir os 20
anos, a Igreja nascida no meio da mata dava mostras de uma fé adulta.1
Deve-se a dom Pedro Fedalto a criação da Província Eclesiástica de Maringá. Segundo ele, o arcebispo
de Londrina, dom Geraldo Fernandes acalentava, desde os anos 60, a idéia de uma Província Eclesiástica do
Norte do Paraná, com sede metropolitana em Londrina, mas dom Manuel sempre se opôs. Com a morte
deste, o bispo de Londrina, que tinha muita influência na nunciatura, conseguiu a criação da sua arquidiocese.
A coincidência é sintomática: dom Manuel faleceu a 5 de fevereiro de 1970; menos de nove meses mais tarde,
no dia 31 de outubro, foi criado o arcebispado de Londrina. Ainda hoje, bem humorado, Fedalto recorda:
“Eu fiquei 21 dias arcebispo do Paraná. Tomei posse no dia 28 de fevereiro (de 1971); ele (Fernandes) tomou
posse em 21 de março”. 2
Da mesma forma, outras regiões do Paraná sofreram notáveis mudanças a partir do final dos anos 60.
Com a abertura de suas terras ao agronegócio, também o Oeste paranaense transformou-se, passando do

1 Em assembléia da CNBB nessa época, dom João Batista Costa, SDB, bispo de Porto Velho (RO) agradeceu pela for-
mação cristã dos paranaenses que sua diocese recebia. E admitiu aos bispos do Paraná: “Iguais a esses podem mandar
mais” (Informação dada por dom Jaime Luiz Coelho, em Maringá, no dia 9 de setembro de 2006).

2 As informações de dom Pedro Fedalto foram colhidas em Curitiba pelo autor destas notas, na entrevista de 20 de
dezembro de 2005.
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antigo tropeirismo e da cultura ervateira para a vertiginosa expansão agrícola e agroindustrial que fez de
Cascavel importante pólo de uma região vasta e populosa. Em 1960 a cidade contava com tão somente 6055
habitantes. O cultivo da soja que, a partir de 1968, ocupou todo o seu solo agricultável provocou um “boom”
de desenvolvimento que atraiu a atenção também dos pastores da Igreja Católica, responsáveis por tornar
discípulos do Senhor todos os povos.
Desde 1965, Cascavel reivindicava a condição de bispado. Quando se implantou a Província Eclesiástica
de Londrina, já o Oeste do Paraná abrigava grande população espalhada por florescentes comunidades. Era
idéia do núncio apostólico, dom Carmine Rocco, criar também naquela região uma província eclesiástica
sediada em Cascavel. Estava disposto a fazê-lo em 1978, segundo Fedalto: “Ele me falou: ‘Vamos fazer uma
arquidiocese no Oeste’. Eu poderia ter dito que pusesse Umuarama e Campo Mourão como sufragâneas de
Cascavel, porque eram originariamente do território de Foz, não de Jacarezinho. Em todos os passos para a
criação de novas Igrejas particulares, sempre Curitiba era a primeira a ser consultada”.
Para três situações de população, economia e cultura distintas haveria então três províncias eclesiásticas:
Curitiba abrangeria a região metropolitana, parte dos Campos Gerais, o Sul e o litoral; Londrina englobaria
todo o Norte do Estado, cabendo a Cascavel o Sudoeste e o Oeste com os campos de Guarapuava, estenden-
do-se até o rio Ivaí. Nessa divisão, a cada uma das províncias de Curitiba e de Cascavel pertenceriam a sé ar-
quidiocesana e três dioceses sufragâneas, enquanto Londrina ficaria com a sede metropolitana e sete dioceses
sufragâneas. Seria uma divisão do Paraná em três conjuntos desiguais de Igrejas diocesanas: dois com quatro
dioceses, e um com oito.
Foi aí que Fedalto sugeriu ao núncio a criação, junto com Cascavel, também da província de Maringá.
Três razões ele aduzia para a existência de quatro em vez de três províncias: a) quem faz a unidade é o Regio-
nal; b) as arquidioceses não têm nenhuma influência sobre as dioceses; c) com maior número de províncias,
as reuniões abrigariam menor número de pessoas, facilitando a participação de todos e maior espontaneidade.
Rocco deixou-se convencer pela argumentação do arcebispo curitibano. Entretanto, não querendo melindrar
ninguém, decidiu-se pela criação, em 1978, não da arquidiocese, mas inicialmente da diocese de Cascavel.
Ano seguinte, no mesmo dia, elevou à condição de arquidioceses ambas as dioceses de Cascavel e de Maringá.
Sobre a criação da Província Eclesiástica de Maringá. Fedalto concluiu: “Eu propus que também se criasse
Maringá e a nunciatura aceitou. Dom Jaime sabe disso. Mas não consta em parte nenhuma”.
Constituídas as duas novas províncias, o Regional Sul II da CNBB assumiu uma configuração que, não
há como duvidar, “dificilmente será mudada nos próximos 30 ou 50 anos”. Para o historiador londrinense
José Gonzáles Garcia Neto, a repartição provincial espelha com rara felicidade quatro situações distintas pre-
sentes no Estado do Paraná: “Poderão surgir novas dioceses, mas o Estado foi muito bem dividido entre essas
quatro regiões pujantes”. No seu entender, a proximidade dos bispos entre si e junto de suas comunidades
garante maior eficácia ao trabalho pastoral (GARCIA NETO, 2006).
Nem todos manifestaram, pelo menos no início, igual entusiasmo pela divisão administrativa do territó-
rio paranaense. Dom Jaime recorda que o primeiro arcebispo de Londrina sustentava posição contrária à cria-
ção da arquidiocese de Maringá, só concordando por comunhão com o restante do episcopado. Por razões
distintas, embora não revelasse pública discordância, também o baiano dom Benjamin de Sousa Gomes, bispo
de Paranavaí, mostrava desagrado com a idéia. Mais de uma vez queixou-se de que a Bahia, com 18 dioceses,
separadas por distâncias imensas e péssimas estradas, tivesse apenas uma província eclesiástica, enquanto no
Paraná bastavam 4 dioceses para formar uma província. Como exemplo, lembrava que o bispo de Bom Jesus
da Lapa, para chegar a Salvador, levava quase um dia; no Paraná, em uma hora, qualquer bispo chega à sede de
sua província eclesiástica. Não se conformava com isso. Ainda assim, porém, avalizou a criação da arquidiocese
de Maringá. Para o Regional Sul II da CNBB, que já contava com duas províncias eclesiásticas, o ano de 1979
trouxe duas novas; uma no Norte, outra no Oeste.
A gênese da Província Eclesiástica de Maringá pode ser acompanhada pelas anotações de dom Jaime no
1º livro de atas das reuniões:

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A Igreja que brotou da mata


Por ocasião da 26ª Assembléia do Regional Sul II, que engloba os 25 Bispos do Para-
ná, realizada em Curitiba, de 18 a 22 de setembro de 1978, presente o Ex.mo Sr. Nún-
cio Apostólico, Dom Carmine Rocco, Sua Excelência, espontaneamente, anunciou o
desejo da criação de mais duas Arquidioceses ou Províncias Eclesiásticas no Paraná,
uma em Maringá e outra em Cascavel, tendo em vista a importância das duas cidades
no cenário estadual, e por serem “pólo” de uma grande região, favorecendo uma divi-
são pastoral para melhor programação e coordenação religiosa.
A indicação de Dom Carmine Rocco, que, de surpresa apanhou diversos Bispos, rece-
beu, no entanto, em princípio, a anuência de todos os Bispos do Regional Sul II, deven-
do os Bispos em pauta, de Maringá e Cascavel, iniciar o devido Processo Canônico para,
até ao final do ano de 1978, ser enviado ao Santo Padre o Papa João Paulo I, recente-
mente eleito, sucedendo ao Papa Paulo VI. No entanto, falecendo o Papa João Paulo I
no dia 28 de setembro de 1978, foi sustada a preparação do Processo Canônico.
Eleito o Papa João Paulo II no dia 16 de outubro de 1978, fui informado pela Nuncia-
tura Apostólica para iniciar o Processo Canônico e dar andamento ao mesmo.
Mas, tendo em vista a IIIª Assembléia do Episcopado Latino-Americano em Puebla,
México, marcada pelo Papa João Paulo II para 27 de janeiro de 1979 a 13 de fevereiro
do mesmo ano, e da qual fui um dos participantes, só depois pude coligir dados para
o Processo Canônico, e que foi entregue, pessoalmente, ao Sr. Núncio Apostólico,
durante a Assembléia Geral da CNBB, em Itaici – SP, realizada de 18 a 27 de abril de
1979 (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 1-2).

Anexa ao processo, foi entregue ao Núncio apostólico carta a ser remetida ao prefeito da Congregação
para os Bispos, com o seguinte teor:

Maringá, 16 de abril de 1979.

Eminência Reverendíssima.

O Arcebispo Metropolitano e Bispos da Província Eclesiástica de Londrina, Paraná,


Brasil, visando ao maior crescimento da Pastoral nesta região do Norte Novíssimo do
Paraná, pedem a criação da Província Eclesiástica de Maringá, incluindo as seguintes
dioceses, como sufragâneas: Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, sendo desmem-
brada assim, integralmente, da Província Eclesiástica de Londrina.
Apresentam a documentação anexa, para os estudos.
Atenciosamente,
(seguem as assinaturas)
+Geraldo Fernandes, Arc. de Londrina; +Eliseu S. Mendes, Bispo de C. Mourão; +Jai-
me Luiz Coelho, Bispo de Maringá; +Romeu Alberti, Bispo de Apucarana; +Pedro
Filipak, Bispo de Jacarezinho; +José M. Maimone, Bispo de Umuarama; +Conrado
Walter, Bispo Aux. de Jacarezinho.

Nota: a) – Dom Benjamin de Sousa Gomes, Bispo de Paranavaí, enviou, posteriormen-


te, à Nunciatura Apostólica a sua anuência. b) – A Diocese de Cornélio Procópio estava
vacante, e não foi pedida ao Vigário Capitular a sua assinatura.

A Sua Eminência Reverendíssima


Cardeal Sebastião Baggio
Prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos
Palácio das Congregações
Cidade do Vaticano (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 3).

Acrescentou ainda dom Jaime ao registro no 1º Livro de Atas da Província Eclesiástica de Maringá:
“O Regional Sul II, em requerimento apresentado por Dom Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba, e com a
assinatura de todos os Bispos do Paraná, fez idêntica solicitação ao Santo Padre para a criação das Províncias
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Eclesiásticas de Maringá e de Cascavel”. A seguir, reproduz correspondência que recebeu da Nunciatura,
protocolizada sob nº 2.172, nos termos abaixo:

Pessoal – Reservada
Sub Secreto Pontificio
Brasília, 27 de outubro de 1979.

Excelência Reverendíssima

É com imensa satisfação que posso comunicar que, acedendo ao pedido dos Exmos.
Senhores Bispos do Paraná, o Santo Padre se dignou elevar a Diocese de Maringá a
Sede Metropolitana, e nomear ao mesmo tempo Vossa Excelência primeiro Arcebispo
da nova Província Eclesiástica.
Pela presente permito-me pedir seu assentimento, por escrito, para poder comunicá-lo
à Santa Sé.
A notícia ficará protegida pelo Segredo Pontifício até a data da publicação, que será
comunicada oportunamente.
Na certeza de ter quanto antes uma resposta positiva, aproveito o ensejo para apresen-
tar a Vossa Excelência os sentimentos de minha religiosa estima e consideração, e enviar
fraternas saudações.
a) +Carmine Rocco
Núncio Apostólico

A Sua Excelência
Dom Jaime Luiz Coelho
Bispo de Maringá
Caixa postal 152
87100 – MARINGÁ – PR (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979,
p. 4-5).

Desta vez não houve a ansiosa opressão no peito provocada em dezembro de 1956 pelo primeiro se-
gredo pontifício. Naquela oportunidade, o cura da catedral de Ribeirão Preto sentiu faltar-lhe chão sob os
pés. Agora, um bispo acostumado às duras pelejas da região que viu crescer, sentia segurança para colaborar
na condução do povo de Deus instalado na ampla região da nova província eclesiástica. A informação da
data para divulgar a criação da arquidiocese chegou ao bispo de Maringá em correspondência da Nunciatura
Apostólica protocolada sob nº 3.021, que dizia:

Pessoal – Reservada
Brasília, 28 de novembro de 1979.

Excelência Reverendíssima

Como já é de seu conhecimento, Sua Santidade o Papa, acedendo ao pedido dos Ex-
mos. Senhores Bispos da Província Eclesiástica de Londrina, dignou-se elevar a Diocese
de Maringá à condição de Arquidiocese, como sede da nova Província Eclesiástica que
terá como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama. Ao
mesmo tempo o Santo Padre nomeou Vossa Excelência primeiro Arcebispo da nova
Arquidiocese de Maringá.
Como poderá observar pela Circular aqui anexa, a notícia será publicada oficialmente
no próximo dia 7 de dezembro, vigília da Festa da Imaculada Conceição.
Permita-me agora que me congratule sinceramente com Vossa Excelência por esta pro-
moção da parte do sucessor de Pedro, que vem não só ao encontro das aspirações dos
Exmos. Srs. Bispos do Paraná, mas e sobretudo vem coroar os muitos anos de seu
longo episcopado, exercido e vivido com o zelo, o amor e a segurança do Bom Pastor
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A Igreja que brotou da mata


que tudo tem feito para o bem da grei que lhe foi confiada. E, com os meus parabéns,
receba também os mais vivos agradecimentos pelo bem que tem feito pela Igreja no
Brasil e especialmente no Paraná.
Aproveito o ensejo que se me oferece para reiterar a Vossa Excelência os sentimentos
de minha mais alta estima e sincera consideração.
a) +Carmine Rocco
Núncio Apostólico.

A Sua Excelência
Dom Jaime Luiz Coelho
Bispo de Maringá
Caixa postal 152 - 87100 – MARINGÁ – PR (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE
MARINGÁ, 1979, p. 5-6).

No dia 7 de dezembro, órgãos da imprensa e emissoras de rádio e televisão trouxeram ao público,


juntamente com igual notícia sobre a Província Eclesiástica de Cascavel, o conhecimento sobre a criação da
Província Eclesiástica de Maringá e promoção de dom Jaime a seu arcebispo metropolitano.
Em matéria de primeira página, jornal maringaense informou:

O Papa João Paulo II acaba de criar a Província Eclesiástica de Maringá, desmembrada


da Arquidiocese de Londrina, elevando a Diocese de Maringá à categoria de Arquidio-
cese, tendo como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama.
Ao mesmo tempo, promove nosso Bispo Diocesano, Dom Jaime Luiz Coelho, a pri-
meiro Arcebispo da nova Arquidiocese de Maringá [...] Nesta mesma data, o Papa João
Paulo II está criando mais uma Província Eclesiástica no Paraná, a Arquidiocese de
Cascavel, com Dioceses sufragâneas de Palmas, Toledo e Foz do Iguaçu, promovendo
seu atual Bispo Diocesano, Dom Armando Cirio, a seu primeiro Arcebispo.
Uma das razões por Maringá ter sido elevada a Sé Metropolitana ou Arquidiocese foi
justamente sua situação de cidade pólo, centro de importantes regiões. Aliás, no pro-
cesso enviado a Roma especificou-se que, com a decadência do ouro em Minas Gerais,
o tropeirismo do século XVIII entrou em declínio, o que levou a modificar o panorama
do Paraná, no século XIX, na sua região sul. Uma vez separado de São Paulo, a cor-
rente migratória no Norte do Paraná foi fundando o que se chamou Norte Pioneiro
ou Norte Velho, com preponderância da corrente migratória mineira. No entanto,
os paulistas alargaram suas fronteiras em busca de terras roxas, onde surge Londrina
(Norte Novo) e depois Maringá (Norte Novíssimo). Do sul sobe a migração gaúcha lo-
calizando-se na região de Campo Mourão. Maringá torna-se assim o pólo desta região,
cercada de sub-pólos, como Apucarana, Paranavaí, Campo Mourão e Umuarama. Sua
posição geográfica confere-lhe papel privilegiado num raio vastíssimo de influência em
microrregiões homogêneas constituídas por aproximadamente 102 municípios, com
ligação com São Paulo e Mato Grosso. No programa da Igreja, Maringá é, pois, ponto
importante de uma Metrópole ou Sé Metropolitana da região (PAPA..., 1979, p. 1).

A instalação canônica foi marcada para 20 de janeiro de 1980. Assim que tomou conhecimento da
decisão de Roma, o bispo de Maringá deu por terminadas as suas preocupações com o assunto, depois do
processo que já vinha sendo tocado desde 1978. Com o falecimento do papa João Paulo I, de fugaz passagem
pelo trono de Pedro, o tema permaneceu em suspenso. Voltou, porém, à cena logo no início do pontificado
de João Paulo II, tornando-se uma de suas primeiras decisões a respeito da Igreja do Brasil.
O arcebispo eleito remeteu então ao papa a seguinte carta:

Maringá, 22 de dezembro de 1979.

Beatíssimo Padre
Sua Santidade Papa João Paulo II
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Ao receber, por intermédio da Nunciatura Apostólica no Brasil, a notícia de que Vossa
Santidade se dignou elevar a Diocese de Maringá à categoria de Arquidiocese, como
sede da nova Província Eclesiástica, desmembrando-a da Província Eclesiástica de Lon-
drina, e tendo como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umua-
rama, e ao mesmo tempo nomeando-me primeiro Arcebispo da nova Arquidiocese de
Maringá, desejo, filialmente, agradecer a Vossa Santidade a confiança em mim deposi-
tada, bem como, mais uma vez, protestar a minha inteira fidelidade à Sé de Pedro na
íntima comunhão com Vossa Santidade.
Com a continuada proteção de Deus e da Virgem Imaculada, a Quem consagrei a
guarda do meu Sacerdócio, espero continuar fiel à Igreja até à morte.
Com renovados agradecimentos, em nome também dos meus queridos Fiéis, e pedin-
do a Bênção Apostólica, rogo ao Menino Deus, neste abençoado Natal, as melhores
graças para Vossa Santidade, e a promessa das minhas pobres orações.
Filialmente,

a) +Jaime Luiz Coelho


Arcebispo Metropolitano de Maringá (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ,
1979, p. 8-9).

Na publicação oficial de criação da Província Eclesiástica de Maringá com a elevação da diocese de


Maringá à categoria de arquidiocese e sede da nova província, foi dado ao conhecimento de todos o texto
da bula Quamquam est munus, do papa João Paulo II, lavrada a 16 de outubro de 1979. Diz o texto latino:

João Paulo II Bispo Servo dos Servos de Deus


Para perpétua memória

Embora seja tarefa dos Romanos Pontífices e seu principal ofício apresentar aos fiéis
a íntegra fé em Jesus Cristo, propagá-la e defendê-la das insídias dos erros, ninguém
ignora que igualmente a organização de dioceses e províncias muito contribui para o
aumento da mesma religião, alcançando benefícios e atenuando males. Pelo que, tendo
os Veneráveis Irmãos do Regional Sul II da Conferência dos Bispos do Brasil unanime-
mente pedido que, dividida a Província eclesiástica de Londrina, fosse criada uma nova,
a de Maringá, Nós, tendo ouvido tanto o Venerável Irmão Carmine Rocco, Arcebispo
titular de Justinianóplis na Galácia e Núncio Apostólico no Brasil, quanto os Nossos
Veneráveis Irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana encarregados da Sagrada Congre-
gação para os Bispos, decretamos o que segue. Da Província eclesiástica de Londrina
desmembramos a diocese de Maringá e a incluímos entre as Igrejas metropolitanas, com
os direitos e encargos próprios de tais Igrejas. Constituem a nova Província: a mesma
sede, Maringá, e as dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, que serão
sufragâneas, conforme as normas do direito. Promovemos ainda o Venerável Irmão Jai-
me Luiz Coelho, Bispo de Maringá, à dignidade arquiepiscopal e de metropolita, com
direitos e honras próprios, além das correspondentes obrigações, nutrindo a esperança
de que quem diligentemente administrou a diocese ainda mais cuidadosamente venha a
governar a arquidiocese. Lembramos ao Venerável Irmão Carmine Rocco que, em razão
das faculdades de que goza, execute fielmente o que estabelecemos acima; se necessário,
pode delegar a sua execução a outro, desde que revestido da dignidade eclesiástica. No
final, sejam redigidas Atas das quais prontamente se enviem cópias autênticas à Sagrada
Congregação para os Bispos. Revogam-se todas as disposições em contrário.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 16 de outubro de 1979, no primeiro ani-
versário de Nosso Pontificado.

+ Sebastião Cardeal Baggio, Prefeito da S. Congregação para os Bispos


Agostinho Cardeal Casaroli, Secretário de Estado
Marcello Rossetti, Protonotário Apostólico
Angelo Lanzoni, Protonotário Apostólico (JOÃO PAULO II, 1979, p. 1501-1503).
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A Igreja que brotou da mata


Carta 12 - Bula de criação da Província Eclesiástica de Maringá.

Conforme previsto, no início do ano seguinte a catedral agora metropolitana engalanou-se para a solene
celebração eucarística presidida pelo núncio apostólico, durante a qual se deu a instalação canônica da nova
arquidiocese e a tomada de posse de dom Jaime Luiz Coelho como seu primeiro arcebispo. Atendendo à
determinação da bula de criação, foi lavrada a ata, que documentou para a posteridade:

Ata da instalação canônica da Arquidiocese de Maringá – Paraná – Brasil

No dia 20 de janeiro de 1980, na Catedral de Nossa Senhora da Glória, em Maringá,


durante a concelebração eucarística, às 10 horas, presente o Ex.mo e Rev.mo Sr. Dom
Carmine Rocco, Arcebispo titular de Justinianópolis na Galácia e Núncio Apostólico no
Brasil, não tendo chegado as bulas de criação da nova Arquidiocese de Maringá, que tem
como sufragâneas as Dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama, recentemente
criada pelo Santo Padre o Papa João Paulo II, e de nomeação do seu primeiro Arcebispo
Dom Jaime Luiz Coelho, foi lido o decreto da Nunciatura Apostólica, erigindo solene-
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Os 50 anos da Diocese de Maringá


mente a Província Eclesiástica de Maringá e declarando sua Catedral diocesana elevada a
Catedral metropolitana, bem como autorizando o Ex.mo e Rev.mo Sr. Dom Jaime Luiz
Coelho a tomar posse da Província Eclesiástica como Arcebispo de Maringá.
Ao ato estavam presentes os Srs. Arcebispos Dom Jaime Luiz Coelho; Dom Geraldo
Fernandes, de Londrina; Dom Pedro Fedalto, de Curitiba; Dom Armando Cirio, de
Cascavel; os Srs. Bispos Dom Benjamin de Sousa Gomes, de Paranavaí; Dom José Ma-
ria Maimone, de Umuarama; Dom Geraldo Pellanda, de Ponta Grossa; Dom Pedro Fi-
lipak, de Jacarezinho; Dom Romeu Alberti, de Apucarana; Dom Luiz Eugênio Perez,
de Jales; Dom Diógenes Silva Matthes, de Franca; Dom Geraldo Majella Agnelo, de
Toledo; Dom Domingos Wisniewski, de Cornélio Procópio; Dom Joel Ivo Catapan,
Auxiliar de São Paulo; Dom Luiz Colussi, Auxiliar de Londrina; Padre João Oscar Ne-
del, S.J., representante do Sr. Bispo de Campo Mourão, Dom Eliseu Simões Mendes;
Mons. Alfredo da Fonseca Rodrigues, representando o Sr. Arcebispo de Botucatu,
Dom Vicente Marchetti Zioni; o Ex.mo Sr. Governador do Estado do Paraná, General
Ney Amynthas de Barros Braga; o Sr. Prefeito de Maringá, Dr. João Paulino Vieira
Filho; Dona Guilhermina Cunha Coelho, mãe de Dom Jaime Luiz Coelho; Waldivino
Coelho, irmão do novo Arcebispo; Padre Sidney Luiz Zanettini, Cura da Catedral,
Padre Geraldo Schneider, Procurador da Mitra Arquidiocesana; Padre Bernardo Cnu-
dde, Pároco do Espírito Santo; sacerdotes, religiosas, demais autoridades e fiéis, que
presenciaram e testemunharam a solenidade.

Para constar, lavrou-se esta Ata, em quatro vias, que vão por todos assinadas.
Catedral Metropolitana de Maringá, 20 de janeiro de 1980.
+Carmine Rocco, Núncio Apostólico; +Jaime Luiz Coelho, Arcebispo de Maringá;
+Geraldo Fernandes, Arcebispo de Londrina; +Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba
+Armando Cirio, Arcebispo de Cascavel; a) Guilhermina Cunha Coelho; a) Waldivino
Coelho; a) Ney Braga e Nice Braga; a) Dr. João Paulino Vieira Filho, Prefeito Mu-
nicipal; seguem outras assinaturas de bispos, sacerdotes e leigos presentes, conforme
relação supra (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 13-14).

A vida pastoral implantada, a seguir, no Noroeste do Paraná veio confirmar a previsão de dom Pedro
Fedalto, segundo a qual as novas províncias eclesiásticas garantiriam maior agilidade e participação mais
intensa das suas Igrejas-membro. No dia 24 de março de 1980, 23º aniversário da diocese3, em Maringá,
no prédio da antiga ADAR, foi realizada a primeira reunião da nova província eclesiástica. Presentes o arce-
bispo e os três bispos sufragâneos, cada qual acompanhado de vários assessores, foi escolhido padre Orivaldo
Robles, pároco de Marialva e coordenador do Setor Pastoral de Jandaia do Sul, como secretário para as
reuniões da província. Estabeleceram-se os temas sobre os quais versariam as reuniões e ainda a freqüência
das reuniões. Ficou acordado:

Quanto ao conteúdo das reuniões, a conclusão da assembléia foi a de que deverão


ser estudados assuntos referentes às prioridades pastorais do Regional e das Dioceses:
CEBs, Família, Paróquia e Diocese. Também os grandes documentos da Igreja univer-
sal ou do Brasil. Ainda assuntos referentes à vida do clero, como agente privilegiado
da Pastoral. Ao final votou-se a freqüência das reuniões da Província. Por nove votos
contra três, foram escolhidas duas reuniões anuais, com duração de dois dias cada
(PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MARINGÁ, 1979, p. 26-28).

Para conhecimento das preocupações que marcaram o início da Província Eclesiástica de Maringá, com-
prometida com a missão evangelizadora e atenta à Palavra de Deus, ao magistério e à realidade do Noroeste

3 Como é fácil perceber, dom Jaime, sempre que possível, marcava para eventos importantes uma data significativa da história da Igreja
em Maringá. Muito lembrado é 24 de março, dia da instalação canônica da diocese, em 1957.
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A Igreja que brotou da mata


paranaense, seja permitido apresentar parte das históricas reuniões pioneiras.
Da ata da 2ª reunião da província, realizada em 5-6 de agosto de 1980, no Centro Diocesano de For-
mação, em Umuarama:

Dirigindo o plenário, Pe. Almeida procurou colher seu consenso quanto às conclusões
dos círculos da manhã:
1. Quanto aos dados da realidade pastoral:
- Cresce a consciência da necessidade da presença dos leigos na evangelização.
- Há indícios, na Igreja do Paraná, de um início de incentivo aos que contribuem para
a fisionomia de uma Igreja comprometida com o homem, v.g., no caso das promissó-
rias rurais da região de Medianeira; no episódio Itaipu; no trabalho da Pastoral Rural,
sobretudo em relação ao sindicalismo. Em nível nacional foram lembrados os fatos da
greve dos metalúrgicos do ABC paulista e a solidariedade prestada a dom Paulo Eva-
risto Arns, em S. Paulo.
- Há positivos sinais de pertença à Igreja pelos leigos, manifesta na preocupação da
hierarquia com o leigo, na existência dos conselhos de Pastoral.
- Deve-se reconhecer, porém, que ainda persistem sinais negativos:
- Na quase totalidade dos leigos não conscientizados e, mesmo entre os que se
julgam conscientizados, é ainda muito pronunciada a dicotomia fé-vida.
- Os leigos são formados de maneira clerical, para trabalhos ligados ao minis-
tério ordenado: nossos leigos ainda se dedicam quase só a atividades ligadas
aos sacramentos e à oração, e estão ausentes de sua área de atuação específica;
consideram-se colaboradores do clero, sentem-se um pouco menores na Igreja,
despreparados e inseguros, necessitando da presença do sacerdote.
- Falta formação permanente dos leigos, não existe organização laical: não pode-
mos ainda falar entre nós da existência de um laicato (cristãos conscientes de sua
missão própria e articulados entre si na Pastoral).
- Não se nota claramente a consciência de que, pelo batismo e pela crisma, o
cristão é inserido na Igreja a título próprio. Isto se deve, talvez, à antiga menta-
lidade, com a Ação Católica, do mandato para garantir a ligação do laicato com
a hierarquia. (Foi notada, neste ponto, a necessidade de fazer-se distinção, mas
não separação, entre hierarquia e laicato, como partes integrantes e necessárias
do mesmo Corpo de Cristo que é a Igreja).
2. Quanto à reflexão teológica:
- Firmou-se a identidade do leigo: alguém incorporado diretamente a Cristo, em quem
foi criada uma realidade nova pelo batismo.
- Daí decorre sua ação pastoral: em nome próprio, como Igreja, da qual é partícipe
atuante pelo batismo e crisma, ele tem o direito e o dever de exercer a sua missão.
- A maneira própria de o leigo atuar a sua missão é ordenar a criação segundo o plano
de Deus.
3. Quanto às diretrizes pastorais:
- Promover, como já se faz parcialmente, a participação dos leigos em todas as etapas
do processo de planejamento pastoral, nos vários níveis de Igreja: comunidade, paró-
quia e diocese.
- Promover a constante formação dos leigos, incentivar a sua criatividade, determinar
as suas funções próprias, bem como as do padre.
- Observar a lógica pastoral em que as prioridades sejam perseguidas com maior em-
penho.
- Garantir a representatividade dos leigos, mantendo fidelidade à orientação do V Plano
Regional: “Realizar a Igreja na Base”.
Após o intervalo, o plenário, coordenado ainda pelo Pe. Almeida, procurou, com base
nas conclusões anteriores, apresentar algumas
Sugestões para a formação de um laicato organizado:
• Criar o Conselho Diocesano de Leigos, formado pelos presidentes de movi-
mentos e responsáveis pelos serviços pastorais.
• Assumir as CEBs como o lugar de participação do leigo na Igreja.
265

Os 50 anos da Diocese de Maringá


• Incentivar os grupos de reflexão e as CEBs, encaminhando para elas os movi-
mentos.
• Nos cursos, reuniões e estudos do clero, procurar descobrir os elementos de
uma teologia do leigo, a partir do Vaticano II, Medellín, Evangelii Nuntiandi,
Puebla e os pronunciamentos de João Paulo II, já que a ação pastoral depende
da visão teológica.
• Aproveitar todas as oportunidades de contato com os leigos (cursos, encontros,
cursilhos, reuniões de grupos e CEBs) para levar-lhes esses elementos de teologia,
a fim de que descubram sua identidade na Igreja.
• Não ter medo de dar oportunidade aos leigos, correndo, embora, o risco de
imperfeições que necessitem de correção, a fim de habituá-los a participar.
• Convidar os leigos a participarem da programação pastoral.
• Dar ciência ao leigo dos acontecimentos e problemas que lhe dizem respeito. [...]
Com a participação de todos, cada Diocese apresentou sua situação, chegando-se aos
seguintes elementos comuns:
Quanto às CEBs:
- Designar com esse conceito um razoável número de pessoas articuladas entre si,
formando uma comunidade de oração, estudo da fé e ação social transformadora, vi-
venciando os vários elementos da vida eclesial. Distinguir dos grupos de reflexão, onde
reduzido número de pessoas se reúne para o estudo da fé.
- Aceitar de fato a CEB como prioridade pastoral.
- Fazer dos grupos a base da vida cristã.
- Empregar o método clássico do ver-julgar-agir.
- Levar a uma vida de oração (liturgia), fé (catequese) e amor (união, testemunho e
dimensão social da fé).
- Levar a CEB a abrir-se aos demais níveis da Igreja (família, paróquia e diocese).
- Programar um encontro provincial de experiências sobre CEBs.
- Mobilizar todas as iniciativas pastorais em função da CEB. Assim, a formação dos
ministros extraordinários da Eucaristia, Pastoral Rural, encontros de preparação aos
sacramentos, catequese, Pastoral da família, Pastoral vocacional e os eventuais contatos
com o padre encarregado da Pastoral rodoviária (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE
MARINGÁ, 1979, p. 26-32).

Da ata da 3ª Reunião da Província Eclesiástica de Maringá, que se realizou no Centro de Obras Sociais
da Diocese de Paranavaí (COSDIPA), na cidade de Paranavaí, nos dias 25-26 de março de 1981:

Pela Arquidiocese de Maringá Pe. Almeida falou sobre as CEBs, analisando, a partir das
experiências relatadas na revista SEDOC, de 1975 a 1980, a caminhada das CEBs no
Brasil. Focalizou sobretudo o documento “Conclusões do III Encontro Intereclesial
das Comunidades de Base Igreja, Povo que se Liberta”, e a reflexão do Pe. Eduardo
Hoonaert “Comunidades de Base: dez anos de experiência” (SEDOC, Petrópolis, n.
118, jan./fev.1979, p. 700-710, 710-732) anotando:
- Passos certos: a) Relatividade do sistema clerical-paroquial.
b) Papel positivo da mulher na Igreja.
- Impasses: a) Treinamento ainda elitizante dos líderes.
b) Encontro da religião oficial com a cultura popular.
- Pistas para o futuro: a) Ideologia subjacente aos esforços destes 10 anos (dependência
cultural da Igreja brasileira diante da européia).
b) Igreja como libertadora desse esquema, pelo seu ser missionário e comunitário.
Os grupos, reunidos por diocese, chegaram às seguintes conclusões:
1._Quanto à relatividade do sistema clerical-paroquial:
Sinais e conseqüências do questionamento que as CEBs fazem à paróquia clerical:
- Passagem de uma pastoral apenas sacramental para uma pastoral também evangeliza-
dora e de vivência.
- Despertar do clero para a dignidade, atribuições, direitos e deveres do leigo.
- Consciência maior do leigo a respeito do seu próprio ser e agir cristão.
266

A Igreja que brotou da mata


- Inserção dos movimentos na pastoral das CEBs.
- Mobilização mais numerosa de leigos com participação correta na pastoral.
- Descentralização do ministério da palavra, antes exercida exclusivamente pelo clero.
- Idem para a animação da oração e exercício das responsabilidades administrativas
(ressaltando-se a figura dos conselhos).
- Valorização da figura da mulher e do jovem.
- Criação de novo espaço de comunhão e participação.
Dificuldade: verificam-se casos em que a CEB repete o esquema clerical da paróquia.
2. Quanto ao encontro com a cultura e religiosidade popular:
- Dificuldade em manter equilíbrio e harmonia entre a cultura (e religião) oficial e a
popular.
- Desprezo às vezes inconsciente da parte dos cristãos ditos conscientizados para com
as formas populares de cristianismo.
- Marginalização e sentimento de inferioridade por parte dos representantes da cultura
popular.
- Radicalismos de agentes pastorais no trato com expressões religiosas e culturais do
povo.
- A própria religiosidade popular é fonte, às vezes, donde brotam as CEBs.
3. Quanto ao treinamento dos líderes:
- É válida a observação de Hoonaert sobre a formação clerical e pedagogia opressiva
no treinamento de lideranças leigas. Daí o surgimento de “mini-padres”, líderes leigos
individualistas e prepotentes.
- Há casos de padres que apenas distribuem sacramentos: não se esforçam para a forma-
ção de líderes, esperando tudo da Diocese.
- Certos segmentos da sociedade (médicos, p. ex.) mostram-se impermeáveis à ação
da Igreja.
4. Quanto ao relacionamento com as estruturas injustas:
- Percorre-se o caminho mais fácil e imediato: obras de misericórdia e assistência. É
insuficiente, mas constitui uma passagem.
- As realidades anti-evangélicas começam a ser descobertas. Vai-se formando o discer-
nimento cristão. Faltam atitudes cristãs.
- Há preocupação com a manipulação política ou econômica das CEBs.
Apresentação do VII Plano de Pastoral da diocese de Paranavaí, mostrando sua co-
nexão com o VI Plano Bienal de Pastoral da Igreja no Paraná. Idem para o Plano de
Pastoral da diocese de Campo Mourão. Observação de dom Benjamin sobre o aspecto
particular de nossas dioceses do Paraná que se esvaziam progressivamente. Dom Jai-
me reafirmou as preocupações de dom Benjamin (PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE
MARINGÁ, 1979, p. 35-39, grifo do autor).

Por essa amostra é lícito precisar o rumo evangelizador tomado pelas Igrejas da nova província eclesiás-
tica. Foram, em verdade, assumidos de forma conjunta compromissos pastorais que, há tempo, se enfatizavam
nas dioceses por força das orientações do Regional Sul II, responsável primeiro, como Fedalto lembrara em
1978, pela unidade da Igreja no Estado. Dividido o Regional em quatro blocos menores, tornou-se mais
exeqüível a consecução de metas propostas; mais ágil a implementação de agendas assumidas. A medida sig-
nificou um avanço para as quatro dioceses do Noroeste. Dois dias inteiros de reunião, vividos num ambiente
de amor fraterno e zelo do Evangelho, de estudo e de oração comum − revelaram-se providência acertada na
escolha de caminhos para toda a província. Não só por gratidão, mas também por justiça, é importante reve-
renciar homens e mulheres daquele tempo que, ao lado do metropolita, assumiram a responsabilidade pelas
Igrejas de Maringá, Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama.
Quase trinta anos passados, não há como fechar os olhos às transformações por que passou a região,
a começar pelo esvaziamento que, no início dos anos 80, dom Benjamin e dom Jaime deploravam. Outras
mudanças houve e continuará seguramente a haver, o que reforça a necessidade de um caminhar conjunto
das dioceses. Na unidade e na ajuda mútua se encontra a fórmula de superação dos obstáculos interpostos por
situações novas. Como o demonstra o recente arranjo adotado na formação dos futuros presbíteros. Inteli-
267

Os 50 anos da Diocese de Maringá


gentemente, foi unificada em Maringá a formação acadêmica para a Filosofia de toda a província, enquanto
Londrina passou a concentrar a formação teológica dos seminaristas de ambas as províncias norte-paranaen-
ses. Quanto a outras áreas (humano-afetiva, espiritual, social, pastoral...) cada diocese as assume, imprimindo
à formação dos futuros presbíteros os traços de suas opções diocesanas. Embora recente e de resultados por
avaliar, tudo aponta para o êxito da iniciativa. O futuro dará o veredicto.

O servo bom e fiel


No dia 10 de novembro de 1980, durante a 7ª Assembléia Geral de Pastoral da agora arquidiocese
de Maringá foram criados os vicariatos episcopais. Na prática, foram elevadas a essa condição as três regiões
pastorais existentes desde 1968, ao mesmo tempo em que os responsáveis pelas paróquias-sede foram eleitos
vigários episcopais, recebendo o título de monsenhores: Bernardo Cnudde, para o vicariato episcopal de Ma-
ringá; Berniero Lauria, para o vicariato episcopal de Nova Esperança e Orivaldo Robles, pároco de Marialva,
para o vicariato episcopal de Jandaia do Sul.
Na condição de arcebispo metropolitano, dom Jaime permaneceu ainda por mais de dezessete anos à
frente da Igreja de Maringá. Sob seu governo foi inaugurado o curso de Filosofia do qual se beneficiaram,
inicialmente, as quatro Igrejas da província; foi ordenado bispo o primeiro presbítero da Igreja de Maringá,
padre Vicente Costa, e foi alçada a catedral metropolitana à dignidade de basílica menor, a primeira do Paraná.
Acima de tudo, porém, prosseguiu a evangelização do povo de Deus, no empenho dos agentes de pastoral
liderados por aquele que de todos se fez pai e irmão.
Não houve mais da parte da Santa Sé convite como os feitos no passado em que, por duas vezes, em
1962 e em 1970, dom Jaime recebeu consulta sobre seu interesse de se transferir para cidades consideradas
de maior importância que Maringá. Ao núncio apostólico em ambas as ocasiões ele esclareceu que, conquan-
to inteiramente submisso à vontade de Deus na comunhão com o sucessor de Pedro, se lhe fosse permitido
optar, sua preferência era permanecer em Maringá. E aqui continuou.4 Ao completar os 75 anos, idade
da aconselhada renúncia dos bispos, apresentou sua disposição de entrega do cargo. Surpreso, entretanto,
pela impressionante vitalidade que o via exibir, o papa João Paulo II, quando o recebeu na visita ad limina
apostolorum, 5 observou: “Setenta e cinco anos? Com essa cara?”. Acabou deixando-o ainda por seis anos no
comando da Igreja de Maringá.
No 40º aniversário da instalação canônica da diocese, por cair o dia 24 de março na segunda-feira após
o domingo de Ramos, a efeméride foi transferida para o dia 6 de abril seguinte. Na catedral basílica repleta
de povo, reuniram-se doze arcebispos e bispos do Paraná, todos os presbíteros da arquidiocese e de outras
procedências, seminaristas, religiosos e inúmeros fiéis para uma celebração rara no mundo e, mais ainda, no
Brasil: os quarenta anos de um bispo à frente da mesma Igreja. Os fogos de artifício que espocaram na Praça
Pio XII pintaram na escuridão daquela noite o painel das quatro décadas de fulgor de uma Igreja que brotou
da mata, da lama, da poeira, do suor e das lágrimas de milhares de homens e mulheres de fé que, desde 1957,
seguiram os passos de um condutor seguro: o bispo que veio de longe.
Durante reunião conjunta do clero, no dia 7 de maio de 1997, dom Jaime comunicou oficialmente o
nome do novo arcebispo a sucedê-lo na sede maringaense, dom Murilo Sebastião dos Ramos Krieger, bispo
diocesano de Ponta Grossa e, desde 1995, presidente do Regional Sul II da CNBB, cuja posse foi posterior-
mente agendada para o dia 11 de julho seguinte.

4 No dia 21 de agosto de 1975, em visita ao cardeal Sérgio Pignedolli, foi convidado a se transferir ao Vaticano para trabalhar com
ele na Secretaria para as Comunicações Sociais. O bispo de Maringá argumentou que, aos 59 anos, não estava em idade para isso.
Concordou o cardeal, observando que ele aparentava idade bem menor (informação dada por dom Jaime Luiz Coelho, em 5 de
outubro de 2006).

5 Tradução; “à soleira das portas dos apóstolos”, i. é, aos pés de Pedro e Paulo, sepultados em Roma. Visita feita a cada 5 anos pelos
bispos em sinal de unidade das Igrejas locais com a sé apostólica. Os bispos do Brasil fazem-na de forma conjunta, segundo os Re-
gionais da CNBB. Usa-se a forma abreviada “ad limina”.
268

A Igreja que brotou da mata


A vida (re)começa aos 40
No dia 7 de maio de 1997 veio a público a aceitação pelo Santo Padre da renúncia apresentada por dom
Jaime, em conformidade com o cân. 401 §1, que prevê: “O bispo diocesano que tiver completado 75 anos de
idade é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice que, ponderando todas as circunstân-
cias, tomará providências”. Ao arcebispo de Maringá faltavam então exatos 80 dias para completar 81 anos.
Ao mesmo tempo em que acatou o pedido de renúncia, o sumo pontífice nomeou seu sucessor através de bula
exarada em latim, como os documentos oficiais da Igreja, com os dizeres:

JOÃO PAULO Bispo,

Servo dos Servos de Deus,

ao venerável irmão Murilo Sebastião Ramos Krieger, membro da Congregação dos Pa-
dres do Sagrado Coração de Jesus, até agora Bispo de Ponta Grossa, transferido para a
Sede Metropolitana vacante de Maringá, saudação e Bênção Apostólica. Com a renúncia
ao ofício do governo dessa Igreja, apresentada pelo seu dirigente anterior, o venerável
irmão Jaime Luiz Coelho, que, por dezessete anos ininterruptos, esteve à frente dessa
mesma Igreja, o caríssimo rebanho maringaense anseia ardentemente por um pastor e
mestre da vida católica. Pelo que mais seguramente se recomenda a essa necessidade
pastoral, dirigimo-nos hoje a ti, venerável irmão, que quisemos elevar ao episcopado
na Igreja e a quem observamos exercendo honrosamente, até agora, o ofício episcopal
junto à comunidade eclesial de Ponta Grossa, assim como também, antes disso, desen-
volvendo fecundo ministério em tua Arquidiocese de Florianópolis. Ouvido, pois, o
prudente parecer da Congregação para os Bispos, e confiando muito na tua força inte-
rior, considerados o teu trabalho e as qualidades de tua visão pastoral, fazendo uso da
plenitude de Nossa autoridade apostólica, Nós te dispensamos de todos os vínculos com
a tua anterior Igreja de Ponta Grossa e te constituímos legítimo Arcebispo Metropoli-
tano da comunidade de Maringá, com todos os direitos e privilégios, bem como com
cada um dos deveres e encargos inerentes a tal administração, conforme os sagrados câ-
nones. Enquanto zelosamente instruíres o teu clero e o povo fiel sobre teu ofício de seu
dirigente espiritual, estarás contribuindo para redobrado fervor apostólico, bem como
para fertilíssimo desempenho da ação episcopal, na renovação e no consolo do rebanho
de Maringá, e não duvides de que abundantes luzes e forças do sacratíssimo Coração do
misericordioso Redentor se derramarão sempre sobre o teu trabalho.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia sete de maio do ano do Senhor de mil
novecentos e noventa e sete, décimo nono do Nosso Pontificado.

ass.) João Paulo II, Papa


ass.) Tarcísio Nardi, Protonotário Apostólico Supranumerário (JOÃO PAULO II,
1997a, p. 428).

Depois de quarenta anos, a retirada de cena de dom Jaime para alguns poderia significar uma ameaça à
sobrevivência, nesta terra, da Igreja que jamais conhecera outro dirigente. Mas a sensação de orfandade que,
eventualmente, um ou outro tenha experimentado, cedeu lugar à certeza de que, para a Igreja de Maringá, se
a vida não começa aos quarenta, nessa idade ela recomeçou, a partir da vinda do novo pastor, não exatamente
um desconhecido vindo de longe. Presidente do Regional Sul II, ele já vinha estendendo sua atuação por todo
o Estado. Dois meses depois da nomeação, Krieger foi empossado no ofício de arcebispo metropolitano de
Maringá. O documento que registrou o fato pode ser consultado nos arquivos curiais:

Ata da posse canônica de dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, arcebispo metro-
politano de Maringá

No dia 11 de julho de 1997, às 19h30m, durante Concelebração Eucarística na Ca-


269

Os 50 anos da Diocese de Maringá


tedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória de Maringá, segundo
as normas do Código de Direito Canônico, tomou posse canônica da arquidiocese de
Maringá, no Paraná, Brasil, o 2º arcebispo metropolitano de Maringá, dom Murilo
Sebastião Ramos Krieger, SCJ, nomeado por Sua Santidade papa João Paulo II a 7 de
maio de 1997, em substituição ao 1º arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho.
Presentes à referida posse canônica: dom Jaime Luiz Coelho, 1º arcebispo de Maringá;
dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto, arcebispo de Curitiba; dom Albano Bortoletto
Cavallin, arcebispo de Londrina; dom Lúcio Inácio Baumgaertner, arcebispo de Casca-
vel; dom Virgílio de Pauli, bispo de Campo Mourão; dom José Maria Maimone, bispo
de Umuarama; dom Rubens Augusto de Souza Espínola, bispo de Paranavaí, outros
senhores bispos, consultores diocesanos, sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas,
autoridades e fiéis.
Após a saudação oficial do 1° arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, a obe-
diência do clero e homenagem dos religiosos, leigos e seminaristas e excelentíssimas
autoridades, o 2º arcebispo metropolitano de Maringá, dom Murilo Sebastião Ramos
Krieger, SCJ, usou da palavra assumindo o seu novo cargo na Igreja de Deus que está
em Maringá.
Para constar, como secretário “ad hoc”, eu, monsenhor Orivaldo Robles, consultor
diocesano e pároco da Comunidade Paroquial Santa Maria Goretti, nesta cidade de
Maringá, lavrei a presente Ata, que será assinada por alguns dos presentes.

Maringá, 11 de julho de 1997.

+Murilo SR Ramos Krieger, scj


+Jaime Luiz Coelho
+Lúcio I. Baumgaertner
+Pedro A. M. Fedalto
+Albano Cavallin
+Virgílio de Pauli
+(ilegível)
Jairo Morais Gianoto (prefeito municipal)
Edith Dias (vereadora)
René Pereira da Costa (juiz)
Mons. Orivaldo Robles
Mons. Júlio Antônio da Silva
Mons. Antônio de Pádua Almeida
+Armando Cirio (arcebispo emérito de Cascavel)
+Walter Michael Ebejer, OP (bispo de União da Vitória)
Mons. Bernard Cnudde
+Eusébio Oscar Scheid, SCJ (arcebispo de Florianópolis-SC)
Padre Nunzio Reghenzi (ROBLES, 1997c, 1 f.).

270

A Igreja que brotou da mata


Posse de dom Murilo
11 de julho de 1997

Dom Murilo sucedeu a dom Jaime, tomando posse no dia 11 de julho de 1997: o abraço, a entrega do báculo
(cajado do pastor para reger o rebanho sagrado), a entronização na cátedra (símbolo do serviço de ensinar) e a assinatura da ata.
271

Os 50 anos da Diocese de Maringá


A partir da posse, a Igreja Católica em Maringá começou a conhecer mais de perto seu novo pastor.
Catarinense de Brusque, ele nasceu em 19 de setembro de 1943, sexto dos nove filhos do casal Oscar Krieger
e Olga Ramos Krieger. Dentre os irmãos, Magali e Milton Roque, assim como os pais, já faleceram. Ainda
criança, entrou para a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, também conhecidos como
dehonianos, por causa do fundador, padre Leão Dehon (1843-1925). Cursou o seminário menor em Corupá
(SC), fez noviciado em Jaraguá do Sul (SC), Filosofia em Brusque, e Teologia em Taubaté (SP). Professou
os votos perpétuos em 2 de fevereiro de 1967, ordenando-se presbítero na sua cidade natal, no dia 7 de de-
zembro de 1969. Iniciou o ministério na paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté, onde fundou
o movimento Shalom para jovens, assumindo depois, de 1974 a 1979, na mesma cidade, as funções de reitor
do Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus. Estudou Espiritualidade, em Roma, no ano de 1980. Em
1981, foi escolhido superior provincial da congregação, passando a residir em São Paulo onde foi alcançá-lo,
em 16 de fevereiro de 1985, a eleição para a sede titular de Lisínia,6 como bispo auxiliar de Florianópolis.
Segundo sua irmã Maria Teresinha K. Merico, “chegou a comentar, na época, que estava pronto a responder
não ao papa João Paulo II”, mas aceitou o encargo como escolha de Deus.7 Recebeu a ordenação episcopal
no dia 28 de abril do mesmo ano, escolhendo como lema de seu episcopado Deus caritas est = Deus é amor
(1JOÃO 4, 16). A 8 de maio de 1991, foi nomeado bispo diocesano de Ponta Grossa, tomando posse no dia
22 de julho do mesmo ano. Foi escolhido, em 1995, presidente do Regional Sul II da CNBB. Eleito arcebis-
po de Maringá no dia 7 de maio de 1997, tomou posse no dia 11 do mês de julho seguinte.
Ao longo do exercício de seu ministério, Krieger escreveu diversos livros: Shalom, a paz ao alcance da
juventude, Loyola, traduzido para o italiano e o espanhol; Deixa meu povo ir, Paulus, traduzido para o es-
panhol; Peregrinos do Reino, cidadãos do mundo, Santuário; Apascenta minhas ovelhas, idem; Alegre-se: Deus
é amor, Loyola; O primeiro, o último, o único Natal, Loyola; Com Maria, a mãe de Jesus, Paulinas (lançado
em Maringá, em noite de autógrafos, a 14 de novembro de 2001); Um mês com Maria, Paulinas (lançado
em 30 de março de 2003), publicado também em Portugal e traduzido para o italiano, para o inglês e para o
espanhol, e Maria na piedade popular, Paulus.
Apaixonado pelos meios de comunicação, que reputa espaços privilegiados de evangelização nos dias
de hoje, cultivou com eles cordial relacionamento em todo o seu governo arquidiocesano. Não obstantes os
encargos na arquidiocese e no Regional, manteve na mídia compromissos múltiplos, como artigo no Brasil
Cristão, revista mensal da Associação do Senhor Jesus, de Valinhos (SP); artigo no Mensageiro do Coração de
Jesus, revista mensal do AO; artigo dominical no O Jornal do Povo, de Maringá; idem no O Diário do Norte do
Paraná, às quintas-feiras; programa radiofônico semanal gravado na Rede Milícia Sat, além de missa mensal
na TV Cultura de Maringá.
No começo da administração de Krieger houve em Maringá uma reunião de aparência despretensiosa
que, no entanto, viria a produzir frutos de grande significado cristão. No dia 22 de agosto de 1997 reuniram
lideranças católicas e de outras confissões cristãs:

Desejado há anos, o encontro, após longa preparação, reuniu pastores, representando


Igrejas Evangélicas, e membros da Comissão arquidiocesana do diálogo ecumênico e
inter-religioso da Igreja Católica. A reunião teve por objetivo estabelecer metas visando
maior aproximação, convívio fraterno entre católicos e evangélicos e, oportunamente,
a formação de um conselho ecumênico para realizações conjuntas, fundadas no desejo
de elevação da dignidade humana e maior empenho pela paz do mundo [...] Estiveram
presentes, representando a Igreja Católica, o padre Júlio Antônio da Silva e os mem-
bros da Comissão arquidiocesana: Irivaldo Joaquim de Souza, Raul Pimenta, Tereza

6 Como sucessor dos apóstolos, todos os bispos são responsáveis pelo governo da Igreja no mundo inteiro. Quando nomeia um bispo
auxiliar, a Igreja lhe confere o governo simbólico de uma Igreja antiga cuja sede talvez nem mais exista, mas o título é conservado.
Lisínia foi sede episcopal da antiga Ásia Menor, no território da Turquia de hoje.

7 Informação constante das notas biográficas, enviadas via fax, de Florianópolis, no dia 7 de agosto de 2006.
272

A Igreja que brotou da mata


Scatambulo da Silva, Maria Scatambulo, Anadir Gonçalves de Lima, Benedita Lira de
Barros Belotti, Dejair Manini, Hermenegildo Caniatto e Jairo Vilela de Paula. Das
demais confissões religiosas: representando a Igreja Evangélica de Confissão Luterana
no Brasil, o pastor Elemar Mai; a Igreja Presbiteriana Independente, o pastor Luiz Ale-
xandre Solano Rossi; a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, o pastor Ricardo Schadt,
todos de Maringá, e a Igreja Presbiteriana de Nova Esperança, o pastor Edrei Daniel
Vieira. Por motivo de força maior, não pôde comparecer o pastor Neivair de Jesus
Mendes Matoso, da Igreja Metodista (SOUZA, 1997, p. 5).

Essa reunião assinalou o passo primeiro para a origem do benemérito MECUM – Movimento Ecumê-
nico de Maringá, de presença marcante na sociedade de Maringá e região, agrupando representantes de várias
confissões cristãs e de outros credos. Seu compromisso de união dos povos pela paz ficou patente em várias
oportunidades, como na 3ª Noite pela Paz, realizada em 14 de agosto de 2006, na mesquita muçulmana de

Noite de Oração pela Paz

Auditório da Câmara Municipal de Maringá


5 de outubro de 2001

1 - Rev. Rubem Almeida Mariano.........................................................................................................................................................................Igreja Presbiteriana Independente


2 - Rev. Edrei Daniel Vieira.....................................................................................................................................................................................Igreja Presbiteriana Independente
3 - Xeique Mohmed Elgasin Abbaker-Al Ruheidy............................................................................................................................................................ Comunidade Muçulmana
4 - Sra. Neda Fatheazam...............................................................................................................................................................................................Comunidade Mundial Fé Baha’i
5 - Rev. Elemar Mai..................................................................................................................................................................... Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil
6 - Dr. Alaor Gregório de Oliveira.................................................................................................................................................................Associação União e Consciência Negra
7 - Dr. Francisco José de Souza....................................................................................................................................................................................Associação Espírita de Maringá
8 - Monge Eduardo Ryoho Sasaki.................................................................................................................................................................................................. Comunidade Budista
9 - Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger............................................................................................................................................................................Arcebispo Metropolitano
10 - Rev. Luiz Alexandre Solano Rossi..................................................................................................................................................................Igreja Presbiteriana Independente
11 - Sra. Oscarina Venâncio Martins..........................................................................................................................................Centro de Umbanda Antônio Querino de Moraes
12 - Pe. Júlio Antônio da Silva...................................................................................................................................................................................Assessor Católico de Ecumenismo
13 - Dr. Irivaldo Joaquim de Souza....................................................................................................................Coordenador do MECUM - Movimento Ecumênico de Maringá 273
14 - Rev. Ricardo Schadt......................................................................................................................................................... Igreja Evangélica Luterana Comunidade São Marcos
Os 50 anos da Diocese de Maringá
Maringá, que reuniu xeiques muçulmanos, monja budista, bispos e padres católicos, representantes da Igreja
luterana, da Igreja anglicana e do CLAI – Conselho Latino-americano de Igrejas, líder espírita, representante
da fé baha’i e líder das religiões afro-brasileiras.
Disposto a constituir na arquidiocese o vigário geral que o Direito Canônico prescreve ao bispo para
“que, com poder ordinário e de acordo com os cânones 476-481, o ajude no governo de toda a diocese”, já
na primeira reunião do clero, dom Murilo solicitou por escrito a indicação de nomes para o ofício. Em conse-
qüência, no dia 25 de setembro de 1997, publicou a nomeação de monsenhor Orivaldo Robles como vigário
geral da arquidiocese pelo prazo de três anos, repetindo-a, no dia 25 de setembro de 2000, “por mais três
anos a contar desta data”. Com a nomeação do vigário geral, perderam sua razão de ser os vigários episcopais,
bem assim a divisão da arquidiocese em vicariatos. Por outro lado, em razão do crescimento populacional,
novas paróquias foram sendo criadas predominantemente na cidade de Maringá, agravando a desproporção
entre os três núcleos do vicariato centro. Em 1998, o centro-1 e o centro-3 agrupavam 5 paróquias cada um,
enquanto o vicariato centro-2 reunia nada menos que 15. Para a readequação que se fazia necessária, foi as-
sumida a nova denominação de Região Pastoral, ficando a Igreja de Maringá composta, a partir de 1999, de
5 Regiões Pastorais: Oeste, com 10 paróquias; Centro, com 7 paróquias e a Missão Nipo-brasileira; Centro
Norte, com 9 paróquias; Centro Sul, com 10 paróquias, e Leste, com 9 paróquias. Evidentemente, com a
posterior criação de novas paróquias, esses números foram acrescidos.
No início de 1998, ante a imensidão do trabalho administrativo, Krieger pediu a monsenhor Júlio
Antônio da Silva, cura da catedral, a indicação de um auxiliar de confiança. A escolha recaiu em Osmar
Zaninello, servidor municipal aposentado e cristão de grande vida interior, um dos mais profundos conhece-
dores de administração pública de todo o país. Como lembraria mais tarde o arcebispo, “em vez de ganhar
muito dinheiro assessorando qualquer prefeitura municipal, ele preferiu colocar seus conhecimentos, como
voluntário, a serviço da Igreja”.8 Sua competência e dedicação levaram-no a desembaraçar questões difíceis
relacionadas a imóveis espalhados por todas as paróquias até os extremos da arquidiocese. Só a contragosto
aceitou o registro profissional como diretor de patrimônio da Mitra Arquidiocesana de Maringá: recusava-se
a receber salário, ainda que inferior às suas qualificações. Vítima de infarto fulminante, Zaninello faleceu na
noite de 23 de agosto de 2004. Num reconhecimento de sua integridade e testemunho cristão, a liturgia de
exéquias contou com a presença de 14 padres. Dom Murilo, já arcebispo de Florianópolis, veio presidir as
celebrações fúnebres.
Na paróquia Santa Maria Goretti, em salão adaptado, de vez que a igreja matriz estava em reforma, no
dia 14 de março de 1998, dom Murilo conferiu o presbiterato a Pedro Jorge Delgado Bento, primeiro padre
por ele ordenado para sua nova Igreja.
Passados três meses e meio, no dia 1º de julho, foi conhecida a eleição, pela Santa Sé, de padre Vicente
Costa como bispo titular de Aquæ Flaviæ9 e auxiliar de Londrina. O fato se revestiu de grande significado
por ser Costa o primeiro membro do presbitério de Maringá escolhido para o episcopado. Na noite de 19
de setembro do mesmo ano, coube a Krieger presidir a celebração eucarística em que, na catedral basílica de
Maringá, padre Vicente foi ordenado bispo. No dia 11 de outubro, grande caravana deslocou-se até Londrina
para, como afirmou Krieger, “devolver-lhe” Vicente. De Malta ele veio como seminarista com destino a Lon-
drina, transferindo-se a Maringá em 1971; agora, 27 anos depois, Maringá o conduziu de volta a Londrina na
condição de bispo, agradecendo os valorosos serviços de evangelizador prestados em Maringá na catedral, em
Sarandi, em São Jorge do Ivaí e em toda a arquidiocese, como coordenado de pastoral.

8 Homilia da missa de corpo presente de Osmar Zaninello, em Maringá, no dia 24 de agosto de 2004.

9 Aquæ Flaviæ (Chaves, cidade de Portugal) foi diocese do Império Romano criada em 427 e extinta em 462. Situava-se no território
da atual arquidiocese de Braga, em Portugal.
274

A Igreja que brotou da mata


Dom Vicente Costa, primeiro padre
da Igreja de Maringá eleito bispo

Ordenação episcopal na catedral basílica de Maringá em


19 de setembro de 1998.

O novo bispo ladeado pelos dois arcebispos.

O novo bispo ladeado pelos dois arcebispos.

Posse como bispo auxiliar, na catedral de


Londrina, no dia 11 de outubro de 1998.

275
Dom Jaime impõe as mãos ao novo bispo.

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Memória, quase história

Ao irmão que ficou bispo

Hoje é fácil reconhecê-lo como um dos nossos. Não fosse o leve sotaque, ninguém diria
que nasceu em lugar distante. Até o sobrenome é igual ao de muita gente que teve aqui seu
berço. O espírito brincalhão, a gargalhada fácil e a paixão pelo futebol tornam você mais brasi-
leiro que muitos de nós. Não fomos nós, foi você que nos escolheu para irmãos.
Só Deus sabe quanto lhe custou. Acompanhei, ainda estudante, a chegada dos primeiros
malteses. Pude sentir como foi lhes dura a vida no nosso meio. Sei que fardo carregaram para
identificar-se com uma cultura tão estranha à sua.
Você, em especial, pagou caro pela inculturação tomada a sério, como sempre foi tudo
o que fez. Quando deixou sua pátria, não fazia a mais remota idéia do que viria encontrar.
Devem tê-lo assustado os conflitos do novo ambiente. Eram os conturbados anos pós-68.
Reduto universitário por índole e ofício, a Curitiba da época não se mostrava exatamente uma
ilha de serenidade. Especialmente nos seminários, onde desaguavam as inquietudes todas de
um tempo de mudanças. Para quem vinha de um mundo de seculares firmezas, quem sabe lhe
tenha acenado a tentação de fazer o caminho de volta. Mas, como os antigos exploradores do
Novo Mundo, você queimara suas caravelas ao chegar à nossa praia. Tinha vindo numa viagem
sem volta.
Você resistiu. Sua carta de navegação indicava apenas um rumo: em frente.
Lembro os primeiros anos, quando seu estômago – que não fora consultado – teimava
em não aceitar o esquisito cardápio do país que lhe oferecemos. Nós, que o amávamos, chega-
mos a temer pela sua saúde. Até pela sua vida. Companheiros seus morreram com poucos anos
de Brasil. E você desfilava a magrez de um palito.
Sem falar nos desencantos do ministério, que esses, ao longo da vida, você os guardou
sempre consigo. Por trás do sorriso constante, ninguém adivinhava decepções que só você
conhecia. Acostumados à sua fortaleza, ao apoio jamais negado, não o imaginávamos carecer
de um ombro amigo. Suas lágrimas a poucos de nós você admitiu mostrar. Até nesses momen-
tos, ao franquear-nos o terreno íntimo de sua dor, talvez estivesse mais ajudando que sendo
ajudado.
Hoje, nada mais disso importa. Você nos trouxe, em dose redobrada, a alegria de servir
o povo, esse povo que é nosso e você transformou em seu. Mostrou-nos, com naturalidade, o
padre que o Pai e os irmãos esperam. Revelou-nos a largueza de coração e o vigor de espírito
que em nós procuram os homens deste final de século. Ajudou-nos a descobrir no presbitério
a nossa família mais verdadeira. Fez-nos ver como, mais forte que o sangue, a ordenação pres-
biteral cria laços que a vida é incapaz de romper.
Ao se tornar bispo, você continua padre. Nunca deixe de ser o padre Vicente que nos
elegeu seus irmãos (ROBLES, 1998, p. 16).

276

A Igreja que brotou da mata


Krieger cuidou de reunir normas referentes a agentes e organismos eclesiais, unificando legislação dis-
persa na arquidiocese. Assim foram dados à publicidade o “Manual dos Ministros Extraordinários da Comu-
nhão Eucarística”, composto por padre Luiz Antônio Bento (1999), e o livro “Estatutos, Diretórios e Sub-
sídios” (2002), com disposições sobre os vários conselhos, a formação sacerdotal e diaconal, os sacramentos
e documentos diversos.
Pertence ao seu governo arquidiocesano ainda a criação das paróquias: São Bonifácio (1998), em Ma-
ringá; São Paulo Apóstolo (1999), em Sarandi; Santa Joaquina de Vedruna (2000); Santa Rita de Cássia
(quase-paróquia em 1999, paróquia em 2001); Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (2001); Nossa Senhora
Aparecida, na Vila Esperança (2001: quase-paróquia, 2002: paróquia), as quatro últimas em Maringá; Nossa
Senhora da Esperança (2000), quase-paróquia em Sarandi, e São Francisco Xavier (2000), paróquia pessoal
para japoneses.
Em seu tempo de arcebispo em Maringá ocorreu a virada do milênio, com a implementação das medi-
das pastorais recomendadas em nível mundial e nacional. Ao longo do ano 2000, ele presidiu nas paróquias
a celebrações do jubileu preparadas para categorias especiais de cristãos: ministros ordenados, operários, mo-
toristas, famílias, exército (com policiais militares e civis), justiça, religiosos, agricultores, comunicadores,
idosos, crianças, professores e jovens. O objetivo foi marcar momentos fortes de evangelização para grupos
específicos da sociedade civil e da Igreja.

Abertura das celebrações do 3º milênio cristão, no Natal de 1999.

À época também de seu governo tiveram início, nas Regiões Pastorais, escolas de formação para leigos,
com duração de três anos, frutos de antiga aspiração e precursoras do curso de Teologia para Leigos, criado
pela PUC-PR câmpus de Maringá.
Fato marcante para a vida desta Igreja verificou-se com a nomeação, em 1º de março de 2001, de padre
Bruno Elizeu Versari para o cargo de ecônomo arquidiocesano. No prosseguimento da administração do pri-
meiro arcebispo, sem descurar compromissos pastorais, Versari tornou-se responsável, ao lado de Zaninello
e de Roseli Aparecida Ernega, secretária da Cúria Metropolitana desde 1º de março de 1999, por colocar a
arquidiocese de Maringá entre as mais bem organizadas, sob o ponto de vista administrativo, contábil e fiscal,
de todo o país. Além da preocupação com a eficiência no desempenho dos compromissos do cargo, Krieger
foi agraciado com feliz escolha de auxiliares competentes.
Depois de quatro anos como bispo auxiliar de Londrina, dom Vicente Costa foi transferido para a
diocese de Umuarama, que assumiu em 13 de dezembro de 2002, na catedral do Divino Espírito Santo, à
qual acorreram 20 bispos, 90 padres, 70 religiosos e religiosas, 60 seminaristas e incontáveis fiéis não só da
sua nova diocese, mas de Londrina e de Maringá, trazidos por ônibus especialmente fretados. A Província
Eclesiástica de Maringá recebeu de braços abertos o filho querido.
Para surpresa de toda a arquidiocese, no dia 20 de fevereiro de 2002, veio a público a notícia da trans-
ferência de dom Murilo Krieger para a sé metropolitana de Florianópolis. Depois de 40 anos do governo de
dom Jaime, ninguém imaginaria que seu sucessor permanecesse em Maringá por apenas 5 anos incompletos.
Um dos seus derradeiros atos na arquidiocese foi a dedicação da capela do Seminário Arquidiocesano
Nossa Senhora da Glória, por ele oficiada no dia 22 de abril. A obra representou a última etapa de construção
277

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Capela do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória.

do seminário. Quando foi aberto para abrigar a Filosofia, no início de 1983, dom Jaime deu por encerrada sua
longa trajetória de construtor. Desde o longínquo ano de 1958, sempre se encontrou em andamento alguma
edificação que lhe exigia tempo e cuidado. Sobre a capela do seminário costumava dizer que a deixaria como
tarefa para seu sucessor. Contudo, ao entrar o ano de 1990, sentiu despertar o arquiteto que dormia dentro
de si e decidiu completar o projeto do seminário que acalentava desde a posse. Atacou então as obras da ca-
pela, inaugurando-a no dia 1º de dezembro do mesmo ano, quando era reitor padre Júlio Antônio da Silva.
Nos anos seguintes, com o reduzido número de seminaristas, no entanto, ela entrou em desuso. Decorridos
dez anos, padre Sidney Fabril, reitor do seminário e assessor de liturgia da arquidiocese, juntamente com o
arquiteto Hélio Moreira Júnior, o artista Zanzal Matar e outros profissionais, assumiu a tarefa de dar à capela
as características atuais. E, às vésperas de deixar Maringá, no dia 22 de abril de 2002, dom Murilo celebrou
a sua solene dedicação. Coroava-se, dessa forma, a longa saga da construção do seminário que todo bispo,
graviter onerata conscientia, recebe como pesado encargo.
Na noite seguinte, 23 de abril, apesar de sexta-feira, a catedral basílica encheu-se com o povo que acor-
reu para se despedir do arcebispo na sua última missa em Maringá, que ganhou os contornos de “celebração
grandiosa, bela, mas triste”.
À posse do novo arcebispo de Florianópolis, no dia 27 de abril de 2002, compareceu muita gente de
Maringá. A celebração eucarística aconteceu no ginásio de esportes do Colégio Catarinense, onde se abriga-
ram cerca de 2000 pessoas, entre as quais 21 arcebispos e bispos, 220 padres, o governador do Estado e a
prefeita da capital, respectivamente Espiridião e Ângela Amin, marido e mulher.

278

A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história

O enviado

“Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Não era ele a luz, mas
veio para dar testemunho da luz” (JOÃO 1, 6.8). Assim se refere o evangelista João ao seu
homônimo, o Batista, que preparou os caminhos do Salvador.
O envio é um tema recorrente na Bíblia. Designa a ação de Deus, que, visando o bem
dos homens, manda alguém para lhes prestar serviço. Por mais que configure uma honra, o
envio jamais deixa de ser um serviço. Disso o enviado tem consciência bem clara.
Entre nós, nos últimos anos, houve um homem, também enviado por Deus, que se
chamava Murilo. Não era ele o Senhor, o dono (do latim dominus) do rebanho, mas, em seu
nome, prestou o serviço de representá-lo (= torná-lo presente), guiando o rebanho para que
lhe fosse fiel.
Ao longo de quatro anos e pouco, toda semana, os leitores se acostumaram a encontrar
neste espaço a sua palavra. Ao se despedir, foi seu pedido que não deixássemos vazios os canais
de comunicação por ele ocupados. Na distribuição das tarefas de substituí-lo, coube-me man-
ter a coluna até que venha a ser ocupada pelo novo arcebispo.
Tenho certeza de que para os leitores não foi boa troca. Que fazer? Na vida nem sempre
se ganha.
Estivemos em Florianópolis para acompanhar nosso ex-arcebispo que, a contragosto, lá
deixamos. Para todos que lá fomos o abraço que lhe demos na despedida foi cheio de afeto,
mas também de dor. “Foi muito bom ter trabalhado com você”, me disse. Não consegui res-
ponder-lhe uma palavra. Estava mudo.
Assim é o dom Murilo que aprendemos a amar. Para cada um, uma palavra bem pessoal
e amiga. Despojada de qualquer pieguice ou frescura. Carregada, ao mesmo tempo, com todos
os tons da apreciação do outro. Do reconhecimento do seu valor.
Acredito ser essa, se não a maior, com certeza, uma de suas maiores virtudes. Ninguém
dele se aproxima e volta sentindo-se o mesmo. Ele trata o interlocutor de um jeito que o faz
sentir-se importante. Porque, de uma forma ou de outra, somos todos importantes. Cada um
tem algo pessoal, só seu, que a ninguém mais foi concedido. Algo que permite descobrir-se
músico de um instrumento único na orquestra da vida. Dom Murilo nos faz ver isso.
Quando alguém toca essa finíssima corda do coração da gente, já nos ganhou para o res-
to da vida. Talvez assim se explique por que dom Murilo conquista todos que dele se achegam.
Se chamados a falar de suas qualidades, podemos enumerar um montão. Nem sempre perce-
bemos essa, tão evidente, aliás, e tão marcante. Há algum tempo, ouvi de um amigo: “Dom
Murilo tem a capacidade de ver sempre o lado positivo das pessoas”. Verdade. Mas há mais que
isso. Ele tem a rara sabedoria, verdadeiro dom de Deus, de mostrar à pessoa sua singularidade
no concerto da obra divina.
Talvez isso nos ajude a entender sua afirmativa, repetida à exaustão, de que “Deus é
amor”. Possivelmente, ele a tenha entendido melhor que nós. E deseja que também cheguemos
a essa verdade, para ele tão clara, como quer que se torne para nós (ROBLES, 2002a, p. 2).

279

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Administrador arquidiocesano
Em Maringá, dia 1º de maio seguinte, reuniu-se na Cúria Metropolitana o colégio de consultores para,
atendendo ao que dispõe o CDC, eleger o administrador arquidiocesano encarregado de governar proviso-
riamente a arquidiocese até a posse do novo pastor. Foi eleito o cura da catedral, monsenhor Júlio Antônio
da Silva, conforme documenta a

Ata da eleição e posse do Administrador arquidiocesano da Arquidiocese de Maringá

Encontrando-se vaga a sede da Arquidiocese de Maringá, por transferência de seu ex-


Arcebispo, Dom Murilo S. R. Krieger, para a Sé Metropolitana de Florianópolis (SC),
dia 1º de maio de 2002, às 11h00, em Maringá (PR), no prédio da Cúria Metropoli-
tana, reuniu-se o Colégio de Consultores para a eleição do Administrador arquidioce-
sano, conforme prevê o cân. 421 §1, que diz: “No prazo de oito dias após a notícia da
vacância da sé episcopal, deve ser eleito pelo Colégio de Consultores o Administrador
diocesano, que governe provisoriamente a diocese”.
Justificada a ausência de padre Edmar Peron, atualmente estudando em Roma, compa-
receram os demais membros do Colégio de Consultores: monsenhor Orivaldo Robles,
decano do mesmo Colégio, monsenhor Antônio de Pádua Almeida, coordenador ar-
quidiocesano de pastoral, monsenhor Júlio Antônio da Silva, cura da Catedral, padre
Bruno Elizeu Versari, ecônomo da Arquidiocese, padre Israel Zago, pároco, e padre
Luiz Antônio Bento, vigário paroquial.
Após oração invocando luzes do Espírito Santo, teve início a votação secreta, cujos
votos, por serem em número reduzido, foram recolhidos pelo secretário do Conselho e
apresentados ao decano, que os conferiu, passando à proclamação dos nomes votados.
Ao final da apuração, verificou-se o seguinte resultado: monsenhor Orivaldo Robles:
1 voto, e monsenhor Júlio Antônio da Silva: 5 votos. Por maioria absoluta foi eleito
monsenhor Júlio Antônio da Silva, assim proclamado e reconhecido pelo Colégio de
Consultores da Arquidiocese de Maringá, que imediatamente lhe deu posse no novo
ofício.
Agradecendo a confiança dos colegas, o novo Administrador arquidiocesano pediu a
colaboração para o fiel desempenho de seu novo cargo, até que a Arquidiocese receba
seu novo Arcebispo.
Com uma oração final de entrega nas mãos de Nossa Senhora da Glória, padroeira da
Arquidiocese, o Administrador arquidiocesano encerrou esta histórica sessão de vota-
ção, a primeira na vida da Arquidiocese de Maringá, da qual eu, padre Luiz Antônio
Bento, secretário do Colégio de Consultores, lavrei a presente Ata, que vai assinada
por mim, pelo Administrador arquidiocesano e pelos demais membros presentes do
Colégio de Consultores da Arquidiocese de Maringá.

Maringá, 1º de maio de 2002.

aa) Mons. Júlio Antônio da Silva


Mons. Orivaldo Robles
Mons. Antônio de Pádua Almeida
Pe. Bruno Elizeu Versari
Pe. Luiz Antônio Bento
Pe. Israel Zago (BENTO, 2002a, 1 f.).

280

A Igreja que brotou da mata


A profissão de fé, que a legislação da Igre-
ja exige do administrador antes da posse, acabou
esquecida no dia da eleição, sendo feita no dia se-
guinte, 2 de maio, quando o colégio de consultores
se reuniu, a convite de padre Francisco Robl, para
almoço em sua casa.
Na sua regência administrativa, monsenhor
Júlio acompanhou os demais bispos do Regional
Sul II da CNBB (Paraná) na visita ad limina, nos
dias 29-31 de agosto de 2002. Foi recebido pelo
papa João Paulo II, juntamente com dom João
Braz de Aviz, arcebispo eleito de Maringá, e dom
Jaime, que se encontrava em Roma.
Em 3 de agosto de 2002, dom Murilo Krie-
ger veio a Maringá colher os frutos de sua iniciativa
de implantar na arquidiocese o diaconato perma-
nente. Na catedral basílica ele ordenou nesse dia os Inauguração do CEPA - Centro de Pastoral da Arquidiocese, em 21 de setembro de 2002.
dez primeiros diáconos permanentes da Igreja de
Maringá: Airton de Almeida, José Ribeiro dos San-
to, Bento Chináglia, Oscar José dos Santos, Waldemir Antonio Michelin, Mário Savelli Marques, Francisco
Crubelati, Benoni Rosa de Miranda, Jair Benalia e César Ribeiro de Castro.
Sob a administração de monsenhor Júlio Antônio da Silva, no dia 21 de setembro de 2002, a arqui-
diocese inaugurou seu centro de pastoral, o CEPA cujas instalações foram abençoadas por dom Jaime. O
coordenador de pastoral, monsenhor Antônio de Pádua Almeida, lembrou alguns responsáveis pela obra. Em
primeiro lugar, dom Jaime, construtor do prédio da antiga ADAR; depois, dom Murilo, entusiasta do novo
centro; também padres Luiz Antônio Bento e Sidney Fabril, coordenadores de pastoral no período da refor-
ma das instalações; Osmar Zaninello, acompanhante diário das obras, e a paróquia da catedral, que ajudou
financeiramente a coordenação de pastoral.
Krieger voltou ainda a Maringá para ser homenageado, na noite de 2 de outubro de 2003, em sessão
solene da Câmara Municipal. Na oportunidade, enumerou três virtudes da gente desta cidade e da região, por
ele atribuídas à evangelização aqui praticada pela Igreja Católica: acolhida, criatividade e alegria. Recomen-
dou que todos se esforçassem por conservá-las como valores distintivos de um povo e de uma Igreja que ele
aprendeu a amar intensamente e dos quais prometeu jamais se esquecer.

O terceiro arcebispo
A regência provisória do administrador não se estendeu por longo interregno, porquanto, dois meses
e meio passados, no dia 17 de julho de 2002, foi dada a conhecer a eleição de dom João Braz de Aviz, bispo
de Ponta Grossa, para a sede metropolitana de Maringá (JOÃO PAULO II, 2002b, p. 11). Aviz era velho
conhecido de alguns padres de Maringá, colegas seus de estudos de Filosofia e de Teologia, feitos em Curi-
tiba; sua ligação com a Igreja de Maringá, antiga e profunda. Na assembléia do Regional Sul II, realizada no
Mossunguê, em Curitiba, nos dias 14-19 de setembro de 1980, a coordenação eleita para a CRC – Comissão
Regional do Clero foi composta pelos padres Antônio de Pádua Almeida, coordenador; João Braz de Aviz,
vice-coordenador, e Orivaldo Robles, secretário. De outros padres de Maringá mais jovens Aviz foi reitor
e/ou professor no curso de Teologia, em Londrina.

281

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Padre João Braz de Aviz e o autor no V Curso de Formadores do DEVYM-OSLAM, em Toluca, México (1986).

O novo arcebispo maringaense nasceu em Mafra (SC), no dia 24 de abril de 1947. É o segundo de
um grupo de oito filhos do casal João Avelino e Juliana Hacke de Aviz, ambos falecidos. Conta entre seus
irmãos com mais um padre e uma religiosa. Ainda criança, a família se transferiu para Borrazópolis, pequeno
município norte-paranaense. Em 21 de abril de 1958, ingressou no Seminário Menor São Pio X, dos padres
do PIME – Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras,10 em Assis (SP), onde estudavam na época os semi-
naristas menores da diocese de Londrina. Com a criação, em março de 1964, da diocese de Apucarana, para
ela se transferiu, de vez que a paróquia de Borrazópolis passou à jurisdição da nova diocese. Cursou Filosofia
no Seminário Provincial Rainha dos Apóstolos, em Curitiba, onde foi colega de alguns padres de Maringá.
Depois, em Roma, estudou de 1967 a 1972 na Pontifícia Universidade Gregoriana, obtendo a licenciatura
em Teologia. Foi ordenado padre por dom Romeu Alberti, no dia 26 de novembro de 1972, na catedral de
Apucarana. Entre os encargos pastorais exercidos figuram: pároco de várias paróquias de sua diocese (1973-
1984); reitor do seminário maior – Instituto de Filosofia de Apucarana (1984-1985); diretor espiritual no
seminário do Ipiranga, em São Paulo, além de reitor do seminário maior de Londrina (1986-1988). De 1989
a 1992 freqüentou a Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma, onde obteve o doutorado em Teologia
Dogmática. Cura da catedral de Apucarana e professor de Teologia Dogmática no Instituto Paulo VI, de
Londrina (1991-1994), além de coordenador de pastoral de sua diocese, foi eleito, em 6 de abril de 1994,
bispo titular de Flenucleta11 e auxiliar de Vitória (ES), tendo-se ordenado bispo em Apucarana, no dia 31
de maio de 1994. Para lema do seu episcopado escolheu o dístico “Todos sejam um” (JOÃO 17, 21), em
português, diferente da maioria, que opta por um dito bíblico expresso em latim. Empossado no dia 9 de
junho do mesmo ano, permaneceu na capital do Espírito Santo pelo espaço de 4 anos, recebendo, a 12 de
agosto de 1998, a nomeação para bispo diocesano de Ponta Grossa, diocese que assumiu em 15 de outubro
do mesmo ano. Depois de 4 anos incompletos, foi-lhe comunicado que o Santo Padre o queria na condução
da arquidiocese de Maringá.
No dia seguinte à tomada de conhecimento de sua eleição, o colégio de consultores da arquidiocese
encaminhou-se a Ponta Grossa para apresentar-lhe os cumprimentos de sua nova Igreja. Ao mesmo tempo,
com ele os consultores discutiram providências concretas e imediatas, como os pormenores da posse, que
ficou definida para o dia 4 de outubro próximo, uma sexta-feira, às 19h30, na catedral basílica de Maringá.
Nesse data, em clima de alegria e fé, Aviz foi apresentado à Igreja de Deus presente em Maringá, que
se fez representar por grande concurso de povo reunido na catedral basílica Nossa Senhora da Glória. A posse
do terceiro arcebispo de Maringá deu-se, segundo o costume, com a leitura pública da bula oficial de sua

10 “Estrangeiras” não consta mais do nome, mas a sigla permanece igual.

11 Flenucleta era sede episcopal da antiga Mauritânia Cesariense, dos romanos, no Norte da África, atual Argélia.
282

A Igreja que brotou da mata


nomeação, enviada pela Santa Sé e redigida em latim, cuja tradução diz:

JOÃO PAULO Bispo,

Servo dos Servos de Deus,

ao venerável irmão João Braz de Aviz, até agora bispo de Ponta Grossa, transferido à
Igreja Metropolitana de Maringá, saudações e bênção apostólica.
Como é nosso dever administrar a cura espiritual e pastoral de todo o Povo de Deus,
o nosso pensamento voltou-se, de modo especial, para a Igreja Metropolitana de Ma-
ringá, cuja sede se encontra atualmente vacante, devido à transferência do seu último
arcebispo, nosso venerável irmão Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ.
Examinando o assunto com grande atenção, confiantes, Nós nos dirigimos a ti, Venerá-
vel Irmão, que, ornado de excelentes qualidades da alma e do intelecto, como também
largamente recomendado pelas tuas atividades pastorais, julgamos idôneo para gover-
nar essa mesma Igreja. Portanto, acatando a resolução da Congregação dos Bispos e
liberado do vínculo anterior, pela nossa autoridade apostólica, te constituímos Arcebis-
po de Maringá, com todos os direitos e igualmente todas as obrigações que, segundo
as normas, competem a tal ofício.
Ademais, pedimos que tua nomeação seja reconhecida pelo clero e pelo povo da tua
arquidiocese para que saibam dessa incumbência a ti concedida. Exortamos ainda os
nossos queridos filhos e filhas para que, com grande alegria te aceitem como pastor e a
ti, Venerável Irmão, se unam pelos vínculos do amor, da unidade e da obediência.
Pedimos também que, enquanto cumprires o teu ministério, brilhem em ti as virtudes
cristãs e humanas. Esperamos que, ao assistires com plena dedicação cristã aos fiéis de
tua comunidade, possam eles refletirem contigo as palavras da Bíblia: “Todo sumo
sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído para o bem dos homens nas coisas
que se referem a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Heb 5, 1).
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos dezessete dias do mês de julho do ano do
Senhor de dois mil e dois, vigésimo quarto de nosso pontificado.

a) João Paulo II, Papa (JOÃO PAULO II, 2002a, 1 f.).

A competente ata foi lavrada e lida ao final, para que todas as formalidades fossem cumpridas e o acon-
tecimento oficial ganhasse registro para a posteridade:

Ata da posse de Dom João Braz de Aviz, Arcebispo Metropolitano de Maringá

No dia 4 de outubro de 2002, na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória,


em solene celebração da Eucaristia, tomou posse como arcebispo metropolitano de
Maringá o excelentíssimo senhor dom João Braz de Aviz, até então bispo diocesano de
Ponta Grossa, no Estado do Paraná.
Às 18h30, em frente à Catedral, diante do povo que o aguardava, dom João foi recep-
cionado por monsenhor Júlio Antônio da Silva, administrador arquidiocesano da Igreja
em Maringá e cura da Catedral, juntamente com dom Murilo Sebastião Ramos Krieger
e dom Jaime Luiz Coelho, seus digníssimos arcebispos predecessores.
Na sacristia do templo, onde entrou depois de breve visita ao Santíssimo Sacramento,
antes de paramentar-se, o arcebispo eleito foi recebido pelos senhores arcebispos e
bispos presentes, em número superior a duas dezenas, do Paraná e de outras regiões do
Brasil, pelos membros do Colégio de Consultores da arquidiocese de Maringá, presbí-
teros de Maringá e de outras procedências, diáconos e seminaristas.
Na Catedral, entre a multidão vinda de várias paróquias, faziam-se presentes também
religiosos, e autoridades militares e civis, representando os Poderes Judiciário, Execu-
tivo e Legislativo.
A celebração eucarística foi presidida pelo arcebispo eleito, tendo a seu lado os arce-
283

Os 50 anos da Diocese de Maringá


bispos predecessores em Maringá, e também dom Lúcio Baumgaertner, presidente do
Regional Sul-2 da CNBB, e dom Pedro Fedalto, arcebispo de Curitiba.
Ao início da santa missa, antes do Hino de Louvor, o administrador arquidiocesano
examinou as Letras Apostólicas e ordenou a sua leitura, dando a posse a dom João Braz
de Aviz no ofício de arcebispo da Igreja que está em Maringá.
A seguir, o novo arcebispo foi saudado por monsenhor Júlio, por padre Obelino Silva
de Almeida, representando o presbitério de Maringá, por irmã Katarina Klar, repre-
sentando os religiosos, por Marcos Eduardo Pintinha, representando os leigos, por
dom Murilo e por dom Jaime. Recebeu também os cumprimentos do senhor João
Ivo Caleffi, vice-prefeito municipal, Antônio Carlos Marcolin, presidente em exercício
da Câmara de Vereadores, e de José Cândido Sobrinho, juiz representando o Poder
Judiciário.
Teve prosseguimento a santa missa, com os atos costumeiros de uma Eucaristia solene
e histórica para a Igreja de Maringá. Ao final, eu, padre Luiz Antônio Bento, secretário
do Colégio de Consultores, lavrei a presente Ata que vai por mim assinada, pelos exce-
lentíssimos senhores arcebispos e bispos, dom João Braz de Aviz, dom Murilo Krieger,
dom Jaime Luiz Coelho, dom Lúcio Baumgaertner, dom Pedro Fedalto e pelos mem-
bros do Colégio de Consultores da arquidiocese.

Maringá, 4 de outubro de 2002.

Assinaturas: Pe. Luiz Antônio Bento


+João Braz de Aviz
+Murilo SR Krieger, scj
+Jaime Luiz Coelho
+Lúcio Ig. Baumgaertner
+Pedro A. M. Fedalto
Mons. Orivaldo Robles
Mons. Júlio Antônio da Silva
Pe. Edmar Peron
Mons. Antônio de Pádua Almeida
Pe. Bruno Elizeu Versari
Pe. Israel Zago (BENTO, 2002b, 1 f.).

A gestão de Aviz à frente da Igreja de Maringá foi marcada, antes de tudo, pela simplicidade de um
homem que se fez aceito, com muita naturalidade, pelas pessoas humildes do povo. De todos os pastores que,
até os dias atuais, conduziram o rebanho católico da arquidiocese, dom João foi − também pelo seu curto
governo − aquele que menos se fez conhecer na cidade de Maringá.
Assumindo a nova Igreja, ele nomeou vigário geral monsenhor Júlio Antônio da Silva, colega desde os
tempos de seminário, com quem sempre manteve cordial amizade. Fixou então como meta inicial conhecer,
na inteireza possível, a situação da parcela do povo de Deus que lhe tocou dirigir. Para isso, restaurou uma
prática à qual o primeiro bispo atribuiu grande importância, não só nos primórdios, mas durante as quatro
décadas de seu governo diocesano: as visitas pastorais. Aviz planejou caminhar da periferia para o centro,
visitando primeiro as paróquias mais distantes. Começou pela paróquia de Inajá, no extremo oeste, junto ao
rio Paranapanema. Era sua intenção, após vencida a etapa de visitas na Região Pastoral Oeste, fazer o mesmo
percurso na Região Pastoral Leste, a partir de São Pedro do Ivaí. Só então visitaria as numerosas paróquias
das regiões mais centrais. Não lhe foi dado tempo para cumprir o projeto.
Pouco depois de sua posse, retornou de Roma padre Edmar Peron, que concluíra curso de mestrado
em Teologia Dogmática com ênfase em Sacramentos, dessa maneira enriquecendo o corpo docente do curso
teológico de Londrina onde estudam seminaristas do Norte do Paraná. Ao mesmo tempo, como assessor de
liturgia em nível arquidiocesano, Peron veio dar novo impulso a uma área que jamais deixou de receber da
Igreja de Maringá cuidadosa atenção, desde o tempo de padre Raimundo Le Goff, fielmente acompanhado
por maestro Aniceto Matti. Confiado ao zelo, entre outros, de padres Francisco Jobard, Vicente Costa, Bruno
284

A Igreja que brotou da mata


Posse de dom João
04 de outubro de 2002

A acolhida de dom Murilo. Os três arcebispos.

O abraço na transmissão de governo.

285
Dom João na cátedra de mestre da fé.

Os 50 anos da Diocese de Maringá


E. Versari e Sidney Fabril, a (arqui)diocese de Maringá sempre reconheceu à sagrada liturgia importante fun-
ção celebrativa e evangelizadora. Confirma-o a revelação de dom Murilo para quem as celebrações na catedral
basílica de Maringá figuram entre as mais cuidadas que lhe foi dado presidir em seu ministério episcopal.
Dom João preocupou-se ainda em dar continuidade à obra tão cara a dom Jaime e a dom Murilo de
levar a palavra de Deus aos recantos mais distantes, através dos modernos meios de comunicação. Em vista
desse propósito, deu grande incentivo à equipe sob comando do advogado Irivaldo Joaquim de Souza, que se
entregou, de corpo e alma, à tarefa de remodelar a TV 3º Milênio, cedida por monsenhor Gerhard Schneider
à arquidiocese.
Outro distintivo de sua gestão foi a responsabilidade partilhada com o maior número possível de cola-
boradores. Seus longos encontros com lideranças começavam por generoso tempo dedicado à oração. Cabe
lembrar a mudança ocorrida no Conselho Arquidiocesano de Pastoral que, por sua decisão, foi ampliado para
os atuais 63 membros, autêntica mini-assembléia quadrimestral de um dia inteiro, aberto com celebração da
Eucaristia, para decisões sobre a caminhada da Igreja Particular de Maringá. O conselho, “fonte de diálogo e
ânimo”, para Aviz revelou-se também avalista de uma pastoral sem distorções, não paralela, com movimentos
eclesiais independentes ou paróquias isoladas do concerto da Igreja arquidiocesana. A interação contínua com
os padres, no trato aberto de todos os assuntos, inclusive os mais espinhosos, levou o arcebispo a confessar:
“Para mim haver duas ou três linhas entre o clero não é problema. Problema acontece quando deixamos de
ter pontos comuns” (AVIZ, 2004, p. 6-9). Foi dado também peso maior ao Conselho de Assuntos Econômi-
cos da arquidiocese, reforçando sua co-responsabilidade, ao lado do bispo, no cuidado dos recursos indispen-
sáveis à Igreja para o fiel desempenho da missão evangelizadora.

Reunião do Conselho Arquidiocesano de Pastoral,


modelo colegiado de governo diocesano, em 19 de outubro de 2003.

Já no final de seu tempo em Maringá aconteceu, no ginásio de esportes do Colégio Marista, o 4º Inte-
reclesial das CEBs do Regional Sul II, que reuniu, de 21 a 24 de fevereiro de 2004, um total de 950 delega-
dos, além de assessores, bispos e coordenadores de plenário. O tema foi “CEBs, espiritualidade libertadora”, e
o lema, “Seguir Jesus no compromisso com os excluídos”. Todas as dioceses do Estado se fizeram representar
no evento, que celebrou uma caminhada histórica da Igreja do Paraná desde os anos 60.

286

A Igreja que brotou da mata


4º Interclesial das CEBs do Regional Sul II (Paraná), de 21 a 24 de fevereiro de 2004, no Colégio Marista.

Da disposição de iniciar conhecendo todas as comunidades da Igreja arquidiocesana dom João Braz de
Aviz não realizou a quinta parte. Faltava-lhe visitar uma paróquia da Região Pastoral Oeste e as outras quatro
regiões inteiras quando, no dia 28 de janeiro de 2004, convocou para o café da manhã o colégio de consulto-
res que, atônito, ouviu dele a notícia de que o Santo Padre, no dia 7 de janeiro, portanto, havia três semanas,
o tinha removido para a sé metropolitana de Brasília. Ficou agendada sua missa de despedida da arquidiocese
para 19 de março próximo, na catedral basílica. No dia 23 de março, embarcou com destino a Brasília, onde
foi empossado quatro dias mais tarde.
Para quem chegou com sorriso de irmão e sonho de cumprir aqui o resto de seus dias, a meteórica
passagem por esta Igreja representou uma provação de fé. Mais de uma vez, Aviz confessara que vir para Ma-
ringá significara sua volta para casa. Afinal, toda a sua vida conheceu como único referencial a terra vermelha
e o povo caloroso do Norte do Paraná. No comunicado oficial de sua despedida, não escondeu a surpresa de
verificar que estava, como reconheceu, “apenas iniciando minha missão episcopal em Maringá”. Sua perma-
nência no cargo foi de 16 meses.
Quem dele se aproximou − digam-no os irmãos das comunidades visitadas − deixou-se encantar pelo
carinho, pelo sorriso aberto e, mais que tudo, pela intensidade de amor alegre ao Deus uno e trino, modelo
de toda espiritualidade cristã. Ele representou um sinal luminoso de que no meio das provações da vida há
sempre espaço para a alegria e a esperança – desde que se cultive a fé vivida em comum.
Sua posse na capital federal aconteceu na manhã do dia 27 de março de 2004, na catedral, diante de
33 cardeais, arcebispos e bispos, de mais de 250 presbíteros, e de cerca de 1500 fiéis, meia centena dos quais
de Maringá.

287

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Memória, quase história

O novo arcebispo de Maringá

Os católicos de Ponta Grossa não devem estar acreditando no provérbio segundo o


qual o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. No espaço de cinco anos, pela segunda vez,
vão entregar a Maringá o seu bispo. Como dom Murilo, o novo arcebispo é catarinense de
nascimento e não completou 60 anos. Natural de Mafra (SC), muito cedo veio para o Paraná,
criando-se em Borrazópolis. Entrou para o seminário em 1958. Ordenou-se padre em 1972.
Dia 24 de abril passado fez 55 anos.
Chama-se dom João Braz de Aviz. Como José Amaury, o irmão mais velho, pároco na
capital do Estado, foi colega de alguns de nós no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, em
Curitiba, nos anos 60. Brincávamos, lembrando-lhes que, em idos tempos, não teriam sido
aceitos no seminário. Ser filho de açougueiro era impedimento para tornar-se padre. E seu
pai, João Avelino, era então o melhor açougueiro de Borrazópolis. Os Aviz exibiam grande
robustez física, por conta de uma alimentação em que, desde a infância, carne era prato co-
mum. Quando, vez por outra, num passeio, resolvíamos fazer churrasco, adivinhe quem, por
ter prática, cuidava de tudo.
João sempre foi atuante no presbitério de sua diocese, desde os tempos de dom Romeu
Alberti. Além de pároco, foi formador na Filosofia e Teologia em São Paulo, Apucarana e
Londrina. Cursou Teologia em Roma, para onde voltou a fim de fazer o doutorado. Em 1994,
foi nomeado bispo auxiliar de Vitória (ES), de lá se transferindo, em 1998, para Ponta Grossa.
Dom João Braz de Aviz será empossado arcebispo de Maringá na catedral, no vindouro 4 de
outubro, dia de São Francisco de Assis.
Faz parte de sua biografia um episódio dramático, quase milagroso, quando pároco
de Ivaiporã. A caminho de Palmital, cidade próxima, para celebrar missa em lugar do padre
ausente por viagem, na estrada, foi dominado por ladrões, que passaram a trocar tiros com
os ocupantes de um carro transportador de valores, que esperavam assaltar. Forçado a cami-
nhar, de mãos erguidas, para o veículo blindado, foi alvejado no abdome por um disparo de
espingarda que o prostrou por terra. Os bandidos fugiram. O carro forte seguiu caminho. Ele
ficou estirado na estrada, sangrando durante horas. Removido para Pitanga, foi depois levado
para hospital em Ponta Grossa. Surpreendentemente, recuperou-se por completo, mas ainda
carrega no corpo mais de 120 caroços de chumbo. Por troça, aconselhamo-lo a levar sempre
consigo uma radiografia e o atestado médico para exibir em aeroporto ou banco, quando for
barrado pelo detector de metais.
Esse é o nosso futuro arcebispo. Simples, correto, amigo, alegre, forte na provação, fiel
a seus deveres. De grande vida interior e profundo amor à Igreja. Damos graças ao Senhor,
que não deixa sem pastor o seu rebanho. Aguardamo-lo com fé e esperança. Conhecemos a
herança de dom Jaime e dom Murilo, que caberá a ele administrar. De coração aberto aco-
lhemo-lo como o “bendito que vem em nome do Senhor”. E nos colocamos a seu lado para
construirmos juntos a Igreja desejada por Cristo neste início de 3º milênio cristão (ROBLES,
2002b, p. 2).

288

A Igreja que brotou da mata


A história se repete
À Igreja de Maringá parece reservada a sina do ineditismo. Tornou-se sede de bispado antes dos dez
anos de fundação da cidade; foi dirigida pelo mesmo pastor durante quatro décadas; da mesma sé diocesana
recebeu dois arcebispos; teve um governo episcopal relâmpago, de 15 meses e 3 dias; por último, em menos
de dois anos, elegeu dois administradores arquidiocesanos. Depois de longo período de estabilidade, uma
agitação de tirar o fôlego. Para quem aprecia mudanças, de 1997 a esta parte foi um tempo de festa.
No dia 30 de março de 2004, na paróquia Santa Maria Goretti, reuniram-se os membros do colégio de
consultores para a eleição do administrador da arquidiocese, cuja sede se encontrou vaga com a transferência
do pastor para Brasília. Do importante acontecimento foi lavrada ata nos seguintes termos:

Ata da eleição e posse do Administrador arquidiocesano da Arquidiocese de Maringá

Estando vacante a sé metropolitana de Maringá pela posse de dom João Braz de Aviz
como arcebispo de Brasília, em atendimento ao que dispõe o Código de Direito Ca-
nônico, cân. 424ss, no dia 30 de março de 2004, às 9h00, na Paróquia Santa Maria
Goretti, na cidade de Maringá, reuniu-se o Colégio de Consultores para a eleição do
administrador arquidiocesano. Compareceram todos os seis membros do Conselho:
monsenhores Orivaldo Robles, decano, Antônio de Pádua Almeida, Júlio Antônio da
Silva e padres Israel Zago, Bruno Elizeu Versari e Edmar Peron. Inicialmente, na capela
do Santíssimo Sacramento, dentro da igreja matriz, os Consultores rezaram suplicando
fidelidade aos desígnios de Deus e luz para atender ao verdadeiro bem da santa Igreja.
Depois, em sala própria, realizou-se o escrutínio secreto que apontou como resultado: 4
(quatro) votos para monsenhor Antônio de Pádua Almeida, coordenador da ação evan-
gelizadora da Arquidiocese e pároco da Paróquia Divino Espírito Santo, 1 (hum) voto
para monsenhor Orivaldo Robles, e 1 (hum) voto para padre Israel Zago. O decano do
Colégio de Consultores declarou eleito o mais votado, proclamando-o administrador
da arquidiocese de Maringá até a posse do novo arcebispo. Na aceitação do resultado
da eleição, o novo administrador arquidiocesano agradeceu a confiança dos seus pa-
res, ressaltando a necessidade da efetiva colaboração de todas as lideranças da Igreja
local, particularmente do Colégio de Consultores, condição indispensável para o bom
andamento da vida da Igreja Particular de Maringá, especialmente neste período de
espera do novo arcebispo. À continuação, diante dos Consultores, o administrador fez
a profissão de fé, conforme dispõe o cân. 833 n. 4, do CDC. Terminada a profissão, o
administrador recebeu os cumprimentos dos demais membros do Colégio de Consulto-
res, convidando-os para a oração que deu por encerrada esta reunião de eleição da qual
lavrei a presente Ata, que vai assinada por mim, padre Edmar Peron, secretário ad hoc,
pelo administrador arquidiocesano e pelos demais membros do Colégio de Consultores.
Maringá, 30 de março de 2004.

Pe. Edmar Peron


Mons. Antônio de Pádua Almeida
Mons. Orivaldo Robles
Mons. Júlio Antônio da Silva
Pe. Israel Zago
Pe. Bruno Elizeu Versari (PERON, 2004, 1 f.).

Eleito administrador arquidiocesano, Almeida viu-se forçado a dividir com os demais membros do
colégio as celebrações do sacramento da crisma agendadas por Aviz até o final do ano. Continuando pároco,
sem previsão de vinda do novo pastor, ser-lhe-ia impossível, em todos os finais de semana, deslocar-se a várias
paróquias da arquidiocese.
De 21 a 30 de abril, Almeida participou, em Itaici, município de Indaiatuba (SP), da 42ª Assembléia
Geral da CNBB. No meio dos bispos do Paraná reviveu o clima de co-responsabilidade pastoral que tinha
longamente dividido no Regional Sul II, durante os anos 70 e 80. A volta a Itaici trouxe-lhe à memória os
289

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Inauguração da TV 3º Milênio

Dom João benze as novas instalações. Padre Almeida e doutor Irivaldo desatam a fita.

anos de coordenador de pastoral, quando, mais de uma vez, acompanhou dom Jaime àquelas memoráveis
assembléias que há décadas se verificam no casarão dos jesuítas. A qualidade de administrador da arquidiocese
assegurou-lhe na assembléia direito a voto igual ao de um bispo. A respeito, seu antigo diretor espiritual no
seminário e arcebispo de Londrina, dom Albano Cavallin, passou-lhe um bilhete com os jocosos dizeres: “Al-
meida, aqui você é mais importante que dom Paulo (Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo). Você vota,
ele não”. O estatuto da CNBB veda aos bispos eméritos o voto nas assembléias do colegiado.12
Em sua gestão administrativa abriu-se a nova etapa da TV 3º Milênio, depois de reformulada inteira-
mente por obra de Irivaldo Joaquim de Souza. Dom João Aviz veio de Brasília para, no dia 16 de julho de
2004, inaugurar as novas instalações, em cerimônia que contou com a presença de dezenas de padres, educa-
dores, autoridades e representantes da imprensa. Coube ao administrador arquidiocesano e a Souza, diretor-
presidente, desatarem a fita simbólica dando por inauguradas as novas instalações da TV 3º Milênio.
Após oito meses de vacância da sé episcopal, no dia 29 de setembro de 2004, foi dada a notícia oficial
da eleição do quarto arcebispo metropolitano de Maringá, dom Anuar Battisti, até então bispo de Toledo, no
sudoeste do Estado (JOÃO PAULO II, 2004b, p. 11).
Antes de passar às mãos do novo arcebispo o comando da arquidiocese, Almeida recebeu dos padres
jesuítas a paróquia de São José Operário que, desde a fundação, em 14 de agosto de 1954, permanecera sob
seus cuidados. Em vista da diminuição de padres e da opção por trabalho em áreas de missão, mais de uma vez
tinha o provincial da Companhia de Jesus manifestado desejo de entregar à Igreja arquidiocesana a paróquia
que, por mais de 50 anos, os jesuítas atendiam em Maringá. Nunca houve, anteriormente, a possibilidade de
satisfazê-lo. Sob a administração de Almeida, finalmente, a diocese de Umuarama solicitou uma paróquia,
onde pudessem residir seus seminaristas estudantes de Filosofia na PUC-PR, câmpus de Maringá. Em contra-
partida, enviaria dois padres para atendimento paroquial e aos seminaristas. No dia 4 de janeiro de 2005, em
solene Eucaristia com grande concurso de povo e numerosos padres, a Companhia de Jesus devolveu à Igreja
de Maringá a comunidade paroquial de São José Operário. No papel de administrador arquidiocesano, Almei-
da recebeu a paróquia que conservava em Maringá a lembrança viva da gloriosa saga iniciada em 1610 pelos
filhos de Inácio de Loyola nestas terras de Guairá. No seguinte dia 15, tomaram posse padres Wilson Galiani
e Antônio Luiz Catelan Ferreira, da diocese de Umuarama. Idêntica medida foi tomada em parceria com a
diocese de Campo Mourão, que se responsabilizou, no início de 2006, após entendimento com o quarto
arcebispo metropolitano, pela paróquia de Mandaguaçu para onde enviou, juntamente com seus seminaristas,
também padres Paulo Roberto de Lima e Edinaldo Velozo da Silva.

12 Informação passada ao autor, em Maringá, por Almeida, no dia 4 de maio de 2004.


290

A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história

Um bom administrador

Numa de suas internações na Santa Casa, infelizmente necessárias já de algum tempo,


quando ainda não se sabia quem haveria de ser o novo arcebispo nem quando iria chegar,
cônego Pedro Makiyama, de Doutor Camargo e Ivatuba, assim se expressou: “Por que vem
bispo de fora? Escolhe Almeida bispo. Está bom assim”. Quando chegou a saber, padre Almei-
da, com a veia humorística que todos admiram, reagiu no estalo: “Precisamos cuidar bem do
Makiyama. Não posso perder esse voto”.
Brincadeira à parte, a verdade é que, na sua habitual fala pausada, quase inaudível, do
estritamente necessário, dispensando artigos e enfeites de linguagem, o bom Makiyama, exem-
plo de simplicidade e de grandeza interior, apenas disse em voz alta o que a maioria (não só
dos colegas, mas de todos que o conhecem) pensou sempre. O período de transição que atra-
vessamos sob seu comando foi bem uma prova.
Não é fácil a missão do administrador diocesano. Que o diga padre Júlio, que passou
por isso. Sem abandonar as responsabilidades da paróquia, que inevitavelmente sofrem redu-
ção no atendimento, não sendo bispo, o escolhido passa a carregar o peso das atribuições (e
atribulações) episcopais. São inacreditáveis a dimensão e a quantidade de questões às quais
ele é chamado a dar resposta. Não admira que alguns padres, pelo que se ouve dizer, tenham
recusado a nomeação para o episcopado.
Ao final destes quase oito meses, é dever de justiça registrar o acerto do Colégio de
Consultores quando, a 30 de março último, escolheu padre Almeida para administrador arqui-
diocesano. Não há como questionar a competência e habilidade com que ele soube conduzir o
governo da arquidiocese. Nesse período, tivemos à frente da Igreja de Maringá um presbítero
sábio, prudente, justo, extremamente preocupado com o bem da Igreja. E ainda, para felicidade
nossa, dotado de um bom humor que a todos conquista. Mesmo quando dele se diverge, é qua-
se impossível deixar de querer-lhe bem. Esse dom raro, presente de Deus, veio facilitar bastante
o enfrentamento de situações penosas que, de outra forma, trariam desgastes maiores à Igreja.
Deus o abençoe, Almeida [...] Quem, como você e Julinho, carregou esse fardo, há de
ter o nome inscrito no “livro da vida do Cordeiro” (Ap 21, 27) (ROBLES, 2004c, p. 12).

291

Os 50 anos da Diocese de Maringá


O arcebispo do jubileu
O quarto arcebispo de Maringá é gaúcho de Alto Honorato, município de Lajeado (RS), onde nasceu
em 19 de fevereiro de 1953, terceiro dos oito filhos do casal Anicheto Battisti e Edorilda Knipof dos Santos,
falecida. Tem uma irmã, Lourdes, religiosa da Congregação de São Carlos, e um irmão, José, padre paloti-
no. Os demais irmãos, todos homens, são casados. Ainda criança, em 1963, transferiu-se com a família para
Tupãssi (PR), ingressando, ano seguinte, no seminário menor de Toledo onde cursou o ensino fundamental.
Depois estudou no seminário de Cascavel e completou o antigo segundo grau no Seminário São José, de
Curitiba. Também na capital paranaense cursou Filosofia, na PUC-PR, enquanto residia no Seminário Rainha
dos Apóstolos, iniciando, a seguir, o curso de Teologia no Studium Theologicum. Depois de um período de
cinco meses de formação espiritual em Frascati, na Itália, veio para a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da
Assunção, em São Paulo, onde fez os dois últimos anos de Teologia (1979-1980). Recebeu de dom Geraldo
Majella Agnelo a ordenação presbiteral em Toledo, no dia 8 de dezembro de 1980. De 1981 a 1985, foi
reitor do seminário de Toledo, pároco e professor universitário; depois, reitor da comunidade dos seminaristas
maiores do Oeste do Paraná em Curitiba.

Padres João Braz de Aviz e Anuar Battisti durante o V Curso de Formadores (1986),
em frente à embaixada brasileira, na Cidade do México.

Exerceu a presidência da OSIB – Organização dos Seminários e Institutos (filosóficos e teológicos) do


Brasil, e da Organización de Seminarios Latinoamericanos (OSLAM); participou em Roma, da assembléia geral
do Sínodo dos Bispos sobre formação presbiteral, em 1990. Ocupou em Bogotá, Colômbia, de 1991 a 1995,
a secretaria executiva do DEVYM – Departamento de Vocaciones y Ministerios, do CELAM. Administrador
diocesano de Toledo de 1995 a 1998, foi, a 15 de abril, eleito bispo da diocese, recebendo a ordenação episcopal
no dia 20 de julho de 1998. Para o quatriênio 2003-2007 é responsável pela seção de Seminários e Ministérios
Ordenados, do CELAM, e pela Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada, da CNBB.
O novo bispo escolheu para diretriz de seu ministério episcopal a recomendação paulina Ambulate in
Domino = Andai no Senhor (COLOSSENSES 2, 6). Em que pese o esvaziamento populacional dos últimos
anos, a arquidiocese a ele confiada, em suas 52 paróquias, distribuídas pelos 27 municípios da área, compor-
tava em 2004 uma população estimada de 620.466 pessoas. Nessa multidão a parcela maior, ou 476.317
pessoas, i. é, 76% do total, concentrava-se na região metropolitana (Maringá: 308.894 habitantes; Sarandi:
83.624; Paiçandu: 36.151; Marialva: 29.212, e Mandaguaçu: 18.436).13
No início da semana seguinte ao conhecimento do nome do arcebispo, em 4 de outubro, os membros
do colégio de consultores da arquidiocese deslocaram-se a Toledo para apresentar-lhe cumprimentos e tratar
da nova situação eclesial de Maringá. Ficou acertada a posse de Battisti para o dia 24 de novembro, uma
quarta-feira, às 20h00, em missa solene na catedral basílica.

13 Para os mesmos 27 municípios, estimativa do IBGE apontava, em 1º de julho de 2006, um total de 664.420 habitantes, dos quais
cinco totalizavam 517.275: Maringá (324.397), Sarandi (88.747), Paiçandu (37.096), Mandaguari (33.841) e Marialva (33.194).
292

A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história

Querido irmão Anuar

Olhando para trás, dou-me conta de que, há mais de 40 anos, liguei minha vida à sua.
Naquele tempo, a gente ingressava numa Igreja Particular através da tonsura. Era o rito de
admissão do seminarista como clérigo. Quando a recebi, aos 22 anos, integrei-me no clero
de Maringá. Você era então uma criança de 10 anos. O sacramento da Ordem veio depois
qualificar-me como extensão do bispo, sem o qual não faz sentido nosso oficio de presbíteros,
servidores do povo de Deus. O padre só é padre através do bispo e em comunhão com ele.
Prometi obedecer-lhe e respeitá-lo quando você era um garoto de 13 anos e nem sem
sonho atinaria com o que estava acontecendo. Ao final de minha ordenação presbiteral, em
dezembro de 1966, dom Jaime tomou entre as suas as minhas mãos e perguntou: “Prometes a
mim e aos meus sucessores obediência e respeito?” “Prometo”, respondi. Eu não tinha como
saber, mas naquela hora aceitava seu comando de pastor e mestre. Com 38 anos de antecedên-
cia, eu já o reconhecia meu ponto de referência na missão evangelizadora que só posso exercer
em comunhão com você e sob seu governo.
Em dom Jaime aprendi a ver a figura do pai. Quando o conheci, eu era um adolescente
de 16 anos. Nos 40 seguintes, acostumei-me com a sua atuação de supervisor da ação evange-
lizadora, a quem coube orientar o povo de Deus presente nesta Igreja que está em Maringá.
Igreja que ele gerou e continuou acalentando desde o berço, entre as privações e as rudezas
de uma região carente de tudo. Para quem observa com atenção, não há nela hoje um único
espaço de vida católica, ainda o mais escondido, que não revele a sua presença. Para a Igreja de
Maringá ele foi pai, mãe, operário, catequista, padre e bispo.
Com você será diferente. Perdoe-me se não me animo a reconhecê-lo como pai. Gosto
mais de vê-lo como um irmão, que vem para uma casa que é sua, mas em cuja construção eu
estou também, há tempo, colocando minha frágil pedrinha, pequena e cheia de falhas. Na con-
dição de segundo mais antigo entre os padres de Maringá, asseguro-lhe que você pode chegar
e sentir-se em casa. Diferentemente de Jesus ao entrar no mundo (cf. Jo 1, 11), saiba que você
vem para o que é seu e os seus o recebem com carinho.
Se me escapa o pronome “você”, é por conta da intimidade que mantêm irmãos no trato
diário. Em nada diminui o respeito, acatamento e obediência que lhe devo na fé e na comu-
nhão eclesial. A Teologia me ensinou e a fé me assegura que, em comunhão com o bispo de
Roma, o sucessor dos apóstolos em Maringá agora se chama Anuar.
Por sua boca, irmão e bispo, o Senhor fala à sua Igreja que está em Maringá. É assim que
o recebo. Assim o recebemos todos; pode estar certo (ROBLES, 2004a, p. 2).

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Dando cumprimento à decisão tomada na 2ª Semana Brasileira de Catequese (Itaici, 2000) e no Sulão
de Catequese (Campo Grande-MS, 2002), em Curitiba, de 9 a 11 de outubro de 2004, o Regional Sul II/
Catequese realizou um congresso estadual sobre o tema “Catequese com Adultos”. Participaram reconheci-
das autoridades catequéticas do Brasil, como dom Albano Cavalin e dom Ladislau Biernaski, os teólogos freis
Vitório Mazzuco e Antônio Moser; os professores doutor Bortolo Valle e mestre Clóvis Amorim, além dos
especialistas em catequese padres Nilson Caetano Ferreira e Luiz Alves de Lima, SDB. O administrador tam-
bém compareceu acompanhado da coordenação arquidiocesana da catequese. Na ocasião, Maringá assumiu a
organização, ano próximo, de um seminário arquidiocesano sobre Catequese com Adultos em sintonia com a
atual orientação catequética do Brasil.
A posse de dom Anuar Batttisti trouxe a Maringá o cardeal primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Ag-
nello, arcebispo de São Salvador da Bahia e presidente nacional da CNBB, a quem Battisti chama de padrinho
por lhe ter conferido o diaconato, o presbiterato e por ter sido um de seus ordenantes episcopais; o núncio
apostólico dom Lorenzo Baldisseri; os arcebispos predecessores em Maringá, dom Jaime, dom Murilo e dom
João; vários arcebispos e bispos de outras regiões do Brasil, e todo o episcopado do Regional Sul II, incluídos
bispos idosos e até alguns com problemas de saúde. Entre os fiéis participantes, muitos de outras regiões,
especialmente de Toledo, com destaque para os familiares do novo arcebispo, seu pai, irmãos, cunhadas e
sobrinhos. O fato mereceu o registro em ata assim redigida:

Ata da posse de Dom Anuar Battisti, Arcebispo Metropolitano de Maringá

Aos vinte e quatro de novembro de dois mil e quatro, durante solene concelebração
eucarística na Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, em
Maringá, no Estado do Paraná, às 20h00, na presença do eminentíssimo cardeal dom
Geraldo Majella Agnelo, primaz do Brasil e arcebispo de São Salvador da Bahia, pre-
sidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; dos excelentíssimos senhores
dom Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico no Brasil; dom Lúcio Ignácio Baumga-
ertner, arcebispo de Cascavel, presidente do Regional Sul-2 da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil; dom Jaime Luiz Coelho, 1º arcebispo de Maringá; dom Murilo
Sebastião Ramos Krieger, arcebispo de Florianópolis; dom João Braz de Aviz, arcebis-
po de Brasília; dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto, arcebispo emérito de Curitiba;
dos senhores bispos da Província Eclesiástica de Maringá, além de duas dezenas de
senhores arcebispos e bispos; de monsenhor Antônio de Pádua Almeida, administrador
arquidiocesano e dos membros do Colégio de Consultores da arquidiocese de Marin-
gá; de uma centena de presbíteros e de numerosos fiéis, inclusive de outras confissões
religiosas, tomou posse como arcebispo da arquidiocese de Maringá o excelentíssimo
senhor dom Anuar Battisti.
Para constar, como decano do Colégio de Consultores, lavrei a presente Ata, que as-
sino, e será assinada pelo cardeal primaz, núncio apostólico, arcebispos citados e pelo
administrador arquidiocesano, participantes da celebração.

Maringá – PR, aos vinte e quatro de novembro de dois mil e quatro.

Assinaturas: Mons. Orivaldo Robles


+G. M. Card. Agnelo, arcebispo
+Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico
+Anuar Battisti, arcebispo
+Lúcio Ig. Baumgaertner, arcebispo
+Jaime Luiz Coelho, arcebispo
+Murilo SR Krieger, scj, arcebispo
+João Braz de Aviz, arcebispo
+Pedro A. M. Fedalto, arcebispo
Mons. Antônio de Pádua Almeida, administrador (ROBLES, 2004d, 1 f.).

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A Igreja que brotou da mata


Posse de dom Anuar
24 de novembro de 2004

O núncio apostólico dom Lorenzo Histórica foto reunindo os quatro arcebispos que a Igreja de Maringá recebeu
Baldisseri entrega o báculo. nestes 50 anos de história.

Dom Anuar com dom Jaime, primeiro arcebispo. O segundo arcebispo, dom Murilo, com dom Anuar.

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O terceiro arcebispo, dom João, com dom Anuar.

Os 50 anos da Diocese de Maringá


No momento previsto da celebração litúrgica, o administrador, provisoriamente responsável até ali pelo
governo arquidiocesano, mandou proceder à leitura pública da bula de nomeação de dom Anuar Battisti para
o ofício de arcebispo metropolitano de Maringá. Redigido em latim, diz o documento oficial:

JOÃO PAULO Bispo,

Servo dos Servos de Deus,

ao venerável irmão Anuar Battisti, até agora bispo de Toledo, no Brasil, escolhido arce-
bispo metropolitano de Maringá, saudações e bênção apostólica.
Levando avante a caminhada espiritual de todos os fiéis, cumprimos o diligente dever
de concedermos a cada comunidade eclesial dispersa por toda a terra pastores idôneos
e mestres nas coisas divinas. Queremos agora, de modo especial, suprir as necessidades
pastorais da Igreja metropolitana de Maringá, visto que seu último bispo, o venerável
irmão João Braz de Aviz, foi por nós nomeado arcebispo metropolitano de Brasília.
Apressamo-nos, portanto, a nomear um novo pastor para a arquidiocese de Maringá,
e tu, venerável irmão, que nos últimos seis anos executaste o utilíssimo trabalho do
progresso espiritual da comunidade dos fiéis de Toledo, no Brasil, foste por Nós consi-
derado inteiramente digno dessa promoção.
Portanto, aconselhados pela Congregação dos Bispos e pela autoridade apostólica, te
constituímos arcebispo metropolitano de Maringá com todas as obrigações e com to-
dos os direitos e encargos. Cuidarás diligentemente para que tua nomeação seja conhe-
cida pelo clero e pelos fiéis. Exortamo-los a que, com generoso entusiasmo, te aceitem
como pastor, e contigo cultuem a Deus onipotente no seu dia-a-dia com maior zelo,
observando seus mandamentos com grande ardor. Confiamos que tu, calcado na fé no
divino Mestre e no amor de sua Mãe santíssima, serás zeloso no ministério, principal-
mente na prosperidade espiritual de tua arquidiocese.
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos vinte e nove dias do mês de setembro do ano
do Senhor de dois mil e quatro, vigésimo sexto do nosso pontificado.

ass.) João Paulo II, Papa


ass.) Francisco Bruno, Secretário Apostólico (JOÃO PAULO II, 2004b, 1 f.).

A celebração eucarística na catedral basílica de Maringá representou momento de especial relevância ao


reunir responsáveis por parte da história da Igreja do Paraná, homens dos quais, nos últimos 50 anos (e até
antes disso), vem dependendo a vida da Igreja Católica neste pedaço do Sul do Brasil.
Sabedor das dificuldades que encontraria para conhecer as singularidades de uma Igreja até então es-
tranha, o novo arcebispo recorreu à experiência do ex-administrador, nomeando Almeida seu vigário geral.
Assim, não apenas o constituiu substituto nas ausências inevitavelmente provocadas pelas funções continentais
e nacionais, como o quis a seu lado para permanentes consultas no dia-a-dia.
Não tardou muito para o quarto arcebispo ordenar padre o primeiro candidato da sua nova Igreja. Na
paróquia São Paulo Apóstolo, em Sarandi, no dia 23 de julho de 2005, ele conferiu o presbiteato a Rildo da Luz
Ferreira, a quem, no dia 30 de janeiro, tinha ordenado diácono em Inajá.
Entre 26 e 28 de agosto de 2005 aconteceu na paróquia Santa Maria Goretti, em Maringá, o 1º Semi-
nário Arquidiocesano de Catequese, evento de abrangência estadual, que reuniu catequistas de 42 paróquias
da arquidiocese em torno do tema “Catequese com Adultos”, refletindo orientação da Igreja do Brasil hoje.
Entre os palestrantes convidados, padres Nilson Caetano Ferreira, de Apucarana; Gilson C. de Camargo, de
Curitiba; Paulo César Gil, de São Paulo e irmã Araceli G. X. da Roza, do Regional Sul II. Como prata da casa,
padre Almeida e Regina Mantovani. O novo arcebispo de Maringá foi apresentado ao pequeno exército dos
catequistas, força evangelizadora da Igreja de Maringá desde os heróicos tempos dos congregados marianos,
filhas de Maria e AO.

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A Igreja que brotou da mata


Carta 13 - Bula de nomeação de dom Anuar Battisti arcebispo de Maringá.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


1º Seminário Arquidiocesano de Catequese em Maringá, 2005.

No dia 5 de dezembro de 2005, novamente a catedral basílica se vestiu de festa para a celebração do
jubileu de prata de ordenação presbiteral de Battisti, que trouxe a Maringá dez arcebispos e bispos, quase
uma centena de padres, familiares do arcebispo e grande número de fiéis. Foi uma Eucaristia simples, mas
comovente, com a participação dos corais infanto-juvenis Santa Maria Goretti e do Colégio Santa Cruz, num
total de 120 figurantes, que prestaram a dom Anuar inesquecível homenagem.
Após conquista do doutorado em Teologia Moral, obtido na Pontifícia Universidade Lateranense, de
Roma, padre Luiz Antônio Bento reassumiu seus encargos pastorais, no início de 2006, compondo simul-
taneamente o corpo docente de Teologia na Faculdade Missioneira de Cascavel e no Instituto Paulo VI, em
Londrina. A arquidiocese comprova, assim, cuidado com a capacitação do seu presbitério, ao mesmo tempo
em que providencia professores para os cursos de Teologia (Londrina) e Filosofia (Maringá) de todo o Norte
do Paraná. Com o mestrado de padres Edmar Peron (Teologia Dogmática, na área de Sacramentos) e Onildo
Gorla Jr. (Pastoral Familiar), Bento reforça o grupo de professores das disciplinas teológicas. Para a Filosofia
o presbitério de Maringá conta com os dois primeiros mestres, padres Leomar Antônio Montagna (PUC-PR,
câmpus de Curitiba) e Sidney Fabril (UEM, Maringá).
Coroando vitoriosa caminhada de formação presbiteral da Igreja de Maringá cujo primeiro passo re-
monta a 15 de agosto de 1958, com o lançamento das pedras fundamentais da catedral e do Seminário Nossa
Senhora da Glória, dom Anuar inaugurou, no dia 13 de junho de 2006, as novas instalações do Seminário de
Teologia Santíssima Trindade, localizado na Rua Capitão Pedro Rufino, 495, no Jardim Europa, em Londri-
na. Nele residem, pelo espaço de 4 anos, os seminaristas de Maringá, enquanto cursam Teologia na PUC-PR,
câmpus de Londrina.

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A Igreja que brotou da mata


À semelhança do ano jubilar judaico, a solene abertura do jubileu da diocese de Maringá, no
dia 4 de fevereiro de 2006, fez-se ao som do shofar, enviado pelo rabinato de São Paulo.

Quis a Providência Divina reservar a Battisti a oportunidade de conduzir a Igreja que está em Maringá
por ocasião do jubileu de ouro de sua criação e instalação canônica. As solenidades tiveram início no dia 4 de
fevereiro de 2006, com a Eucaristia de abertura do ano jubilar, estendendo-se até o encerramento, no dia 25
de março de 2007.
A mesma sagrada Eucaristia sinaliza o encerramento das comemorações do cinqüentenário. Ao oferecer
o sacrifício do Filho de Deus encarnado, a arquidiocese adora, louva e dá graças Àquele que não cessa de
operar entre nós a sua ação salvadora. Ao mesmo tempo, se penitencia pelas fraquezas no cumprimento da
missão e implora forças para maior fidelidade na nova etapa da história aberta à sua frente.
Não poderia haver melhor maneira de dar glória a Deus pelas cinco décadas em que nestas plagas, com
trabalho sem descanso, foi levada adiante a pregação do Evangelho, na obediência ao mandato do Senhor
expresso no tema do jubileu de ouro: “Ide e fazei discípulos...” (MATEUS 28, 19).

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