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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

FACULDADE DE TEOLOGIA

LICENCIATURA EM TEOLOGIA (1.º grau canónico)

JOSÉ FILIPE FERNANDES DA SILVA

Missões Franciscanas no Japão


(1593-1597)

Trabalho de História do Cristianismo Moderno


sob orientação de:
Profº Dr. José Paulo Abreu

Braga
2022
Índice
Chegada dos Franciscanos ao Japão................................................................................3
Missão Franciscana no Japão..............................................................................................3
Apostolado no Japão.............................................................................................................5
Método Catequético................................................................................................................8
Causas do Martírio..................................................................................................................9
Outras causas que levaram ao martírio dos missionários, foram:.......................10
Condenação dos missionários e via até ao martírio....................................................11
Martírio dos missionários no Japão.................................................................................15
Processo de Canonização...................................................................................................16
Curiosidades..........................................................................................................................16
Bibliografia..............................................................................................................................17
Antes de abordar a missão Franciscana no Japão, irei fazer um breve
enquadramento histórico do Japão no período em que os Franciscanos
chegaram a este.

No dia 15 de agosto de 1549, Francisco Xavier, Jesuíta, desembarcou no


Japão e começou a pregar o cristianismo. Por volta de 1550, a guerra civil no
japão é crónica. Dá-se a introdução das armas de fogo e a construção das
cidades revolucionam as condições da guerra.1

Depois de um longo período de divisão e de lutas internas, o Japão


começou a sua unidade política e a sua potencia militar, sobretudo ao comando
do príncipe e governador Toyotomi Hideyoshi. Este conseguiu submeter a sua
autoridade sobre todo o império, além disso, desejava fazer do Japão um
grande império asiático.2 No dia 25 de julho de 1587, decretou a expulsão dos
Padres Jesuítas e condenou a prática da religião cristã.3

Em 1590, o imperador do Japão mandou um legado a Manila ao


4
governador espanhol Goméz de las Marinas com uma carta cheia de
arrogância e de ameaças.

Chegada dos Franciscanos ao Japão


Os Franciscanos chegaram ao Japão em 1582, quando dois Franciscanos
desembarcaram neste território devido a um desvio que uma embarcação
portuguesa teve de fazer 5, porém, a missão neste país insular da Asia Oriental
só iria começar no ano de 1593.

Missão Franciscana no Japão


No dia 30 de maio de 1593, o Padre Pedro Batista juntamente com outros
três companheiros partiu de Manila (Filipinas) em direção ao Japão. 6 Entre os
três companheiros encontrava-se Frei Gonçalo García que tinha sido
catequista no Japão durante 10 anos e por essa razão, encontrava-se em grau
de ser o interprete e guia dos irmãos. 7
1
Moraes, RELANCE DA HISTÓRIA DO JAPÃO, 95–97.
2
Moraes, 96.
3
Moraes, 99.
4
Ribadeneira, Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e lettere.
5
Archivum Franciscanum Historicum.
6
Correia, A Concepção de Missionação na Apologia de Valignano.
7
Ferrini e Ramirez, Santos franciscanos para cada dia.
Numa carta de Frei Pedro Batista ao governador de Manila, no dia 7 de
janeiro de 1594, este refere-se da sua audiença com Hideyoshi, governador
japonês: “O Senhor é Deus e nós obedecemo-lo. Ele é o Rei que governa pela
sua autoridade. De nenhum modo podemos, portanto, reconhecer-vos como
Senhor de Luzon; Estamos na verdade, prontos como a Vossa Senhoria nos
pediu na carta enviada o ano passado a Manila de concluir um “Pacto de
amizade” e a prometer observar fielmente tal Pacto…”8

A resposta de Frei Pedro Batista num primeiro momento provocou um


certo desacato, porém, a sua intervenção acabou por ser vista de bom grado
pelo governador. E deste modo, o governador não só permitiu aos Frades de
abrir uma casa no seu país, como também prometeu ajudar no seu
sustentamento.9 Para além disto, Hideyoshi escreveu e selou um documento
no qual confirmava o “Pacto de amizade” com as Filipinas.10

Após a audiência, os quatro Frades foram levados para Kyoto, capital do


império, e lá ficaram hospedados temporariamente na casa de um oficial de
Hideyoshi, chamado Hasegawa. Porém, nem tudo foi tão positivo para os
Frades, dado que, o imperador ocupado com os seus ofícios de estado, se
esqueceu da promessa feita em Nagoya aos Frades. Deste modo, os
Franciscanos experimentaram vários inconvenientes, entre os quais: o oficial
do Império contribuía pouco para o seu sustentamento, portanto os Frades
eram obrigados a pedir esmolas aos nativos, além disso, a casa onde eles
moravam era muito pequena, estas causas e outras dificultaram a sua prática
religiosa.11

Porém, estes meses não foram de todo negativos, pois, comoveu vários
civis:” Aquilo que mais nos comovia e gerava em nós um durável afeto
respetivamente aos Franciscanos, era vê-los sempre alegres e serenos além
de viverem rodeados de tanta sofrença, eram ricos na sua pobreza”.12

Perante este cenário, o Padre Pedro Batista decidiu agir de forma


individual, indo falar com o governador quando este um dia passou por Kyoto.
8
Ribadeneira, Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e lettere.
9
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:19.
10
Moraes, RELANCE DA HISTÓRIA DO JAPÃO, 102.
11
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:19–20.
12
Zavarella, 6:21.
Hideyoshi sabendo do ocorrido, ordenou imediatamente a Maeda de procurar
para os Franciscanos uma casa e um terreno e permiti-los viver segundo a sua
regra, não só a Kyoto, mas, em todo seu território”.13

Em poucos meses, foram construídos dois pisos do convento. Após a


esta construção, seguiu-se a construção de uma Igreja e dois hospitais com
capacidade para cinquenta camas cada um. Estes foram construídos para dar
assistência aos pobres e aos necessitados. Num breve período, ao redor do
Convento, dedicado a Santa Maria dos Anjos, houve um florir de obras de
caridade.14

O governador das Filipinas satisfeito do êxito da missão diplomática do


Padre Pedro Batista, enviou no ano de 1594 a Hideyoshi outros três
Franciscanos, que ficaram no Japão para ajudar na missão. Assim, o número
dos Frades missionários no Japão subiu para sete.15

Nagasaki era o centro principal da Igreja no Japão e era também o porto


ao qual chegavam a maior parte das naves provenientes dos diversos Países 16,
aqui Frei Pedro Batista desejou abrir uma casa.17

Apostolado no Japão
Os Padres Jesuítas trabalhavam no Japão a mais de 45 anos, por isso,
era importante perguntar o parecer do Superior dos Jesuítas sobre a missão
que iriam começar, a fim de evitar conflitos entre ambas as partes.

Assim, quando Pedro Batista em dezembro de 1594 chegou a Nagasaki,


a sua primeira ação foi visitar o Provincial Padre Peter Gómez, douto e gentil
Jesuíta Espanhol. Este depois de examinar os Frades aprovou o seu
estabelecimento no Japão e lhes deu um reescrito com claras diretivas.18

13
Zavarella, 6:23.
14
Zavarella, 6:22.
15
Correia, A Concepção de Missionação na Apologia de Valignano.
16
«Os Locais dos Criptocristãos na Região de Nagasaki (UNESCO)».
17
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:22.
18
Zavarella, 6:25.
Em Nagasaki surgiram logo no início da missão alguns problemas, sendo
estes com o Superior da missão dos Padres Jesuítas. 19 Aqui, os Frades se
preocuparam com os pobres e com os enfermos assumindo a construção de
uma leprosaria na periferia da cidade. Esta fundação enfrentou vários
problemas, sendo um dos principais: “Que Hideyoshi tinha prometido de abrir
uma só casa a Nagasaki e esta para a comodidade dos comerciantes
portugueses”. Porém, Frei Pedro Batista respondeu ao governador: “Hideyoshi
permitiu aos Franciscanos de abrir uma casa não só a Kyoto, mas também
noutras partes do Japão”. 20

Depois de viver algumas semanas com os Jesuítas, Frei Pedro Batista e o


seu companheiro, Frei Gonçalo García, com a aprovação das competentes
autoridades, se transferiu para o Hospital de São Lazaro, situado fora da
cidade. Além deste hospital, P. Pedro Batista decidiu construir um Hospital
dedicado a Santa Ana, que depressa se encheu de vários enfermos, tendo
levado a construção de um segundo hospital, dedicado a São José. Os Frades
procuravam tratar não só a enfermidades corporais, como tratar das suas
almas.21

Depois de um ano de estadia em Nagasaki, Fr. Pedro Batista em


novembro/ dezembro de 1595 retornou a Kyoto e se alegrou ao ver os dois
hospitais construídos. Deste modo, pensou que deveria aproveitar da boa
disposição de Hideyoshi em relação aos Franciscanos e tentou abrir uma casa
na grande cidade de Osaka. Porém, também aqui encontrou muitas
dificuldades, pois, além dos cristãos serem poucos, só uma família é que os
quis acolher. Assim, não puderam permanecer em Osaka e tentaram
permanecer algum tempo na cidade vizinha Sakai, mas, também nesta a sua
presença não era desejável. Finalmente, no mês de abril de 1596, o leigo Leo
Karuzarna pode comprar uma pequena casa para os Frades em Osaka.22

Os temorosos cristãos não ousavam a ajudar os Franciscanos e, assim,


estes sofriam com a escassez de alimentos. Porém, um Senhor pagão, que
tinha causado muitas dificuldades aos Frades, depois de uma visita de P.
19
Correia, A Concepção de Missionação na Apologia de Valignano.
20
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:23.
21
Zavarella, 6:21–22.
22
Zavarella, 6:24–26.
Pedro Batista e da explicação deste sobre como os Frades viviam, este homem
pagão tornou-se um grande zelador dos Frades e motivou outros pagãos a
ajudarem os Frades.23

Assim, os Frades tanto em Kyoto, como em Nagasaki e em Osaka


fundaram numerosas escolas para a instrução dos jovens cristãos e pagãos.
Os Frades confiaram esta obra aos Irmãos da Terceira Ordem.24

Um Padre de Manila, após uma visita ao Japão, testemunhou:”


verdadeiramente, meu querido Padre, vi na missão do Japão coisas
maravilhosas, capazes de comover os corações mais duros. Vi religiosos de
grande doutrina joelhados diante dos leprosos, a tratar-lhes das chagas,
beijando-lhe depois com grande reverencia por amor de Deus. São homens
que falam pouco comprem obras prodigiosas através do serviço de Deus e pelo
bem espiritual do próximo. E a vida que tentam vivenciar é pobre, humilde,
penitente, verdadeiramente Franciscana, lhes rende perfeitamente similar aos
primeiros companheiros do Seráfico Patriarca”. Assim como este testemunho,
ocorreram outros tantos, entre os quais dos Padres Jesuítas no Japão.25

Neste tempo chegavam muitos Frades provenientes de Manila ao Japão,


a fim de confirmar o Pacto de amizade concluído no ano precedente, entre o
governador das Filipinas e do Japão.26

Um destes Frades que chegaram de Manila em 1595, foi o Frei Jerónimo,


que iriasse tornar o fundador da segunda vaga missionaria no Japão e o
primeiro promotor da causa de beatificação dos mártires. 27

Um ano depois, Fr. Pedro Batista pediu mais missionários ao Provincial,


que chegaram a Nagasaki em junho de 1596, sendo estes Fr. Martim de
Aguirre da Ascensão e Fr. Francisco Blanco. Ambos seriam mortos e
martirizados em Nagasaki.28

No dia 19 de outubro de 1596, um ciclone forçou outros dois Franciscanos


a desembarcarem no porto da ilha Saikoku. Sendo estes o clérigo Filipe de las
23
Zavarella, 6:22–23.
24
Zavarella, 6:24.
25
Ribadeneira, Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e lettere.
26
Correia, A Concepção de Missionação na Apologia de Valignano.
27
Correia.
28
Correia.
Casas (mártire no japão), e o Fr. João Pobre de Zamora (segundo promotor da
causa de canonização dos Mártires).29

Método Catequético
Nos anos de 1600 o Budismo enraizou no Japão.

As pessoas do povo procuravam a buda misericordiosa, Amitabha, que


lhes mostrou meios fáceis para se salvarem, já as pessoas da classe mais
elevada seguiam Shinran, segundo este os homens deviam de evitar qualquer
desejo, para interromper o Nirvana. 30

Todas as duas teorias eram fundadas no conceito do Karma.

Porém, nem todos eram crentes e alguns principalmente da classe alta só


procuravam o bem-estar e o prazer.

Quanto aos ensinamentos dos Franciscanos estes seguiam a diretiva


dada pelo Provincial dos Jesuítas. Segundo esta, para converter os pagãos
eram necessários três pontos: “primeiro, a salvação não é possível em
nenhuma seita budista; segundo, existe um só Deus, criador do mundo. Ele
deu uma lei e os homens devem observá-la para alcançar a salvação; terceiro,
a alma é imortal e existe uma outra vida na qual os homens que têm um único
Deus e observam a sua lei gozarem da verdadeira felicidade para toda a
eternidade. Aqueles que não O reconhecerem e não observarem a Sua lei,
serão condenados a eterna sofrença.” Estes primeiros ensinamentos duravam
três dias e eram seguidos de uma instrução sobre a fé, sobre os mandamentos
de Deus e sobre os sacramentos, que duravam outros quatro dias,
compreendendo assim um curso de sete dias intensivos. 31

Então, os catecúmenos que desejavam receber o baptismo, deviam


escrever num livreto de orações: o Credo, o Pai Nosso, a Ave Maria, o
Decálogo e se o desejassem outras orações, depois de serem admitidos ao
baptismo.32

29
Correia.
30
«Religião E Astrologia».
31
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:31–33.
32
Comby, Para ler A HISTÓRIA DA IGREJA (2), 2:123.
Os Franciscanos sabiam das suas experiências missionarias, que os bons
cristãos não se formavam sem muito esforço. Assim, estes antes de admitirem
qualquer um ao baptismo, procuravam ensina-lhes de novo todos os artigos da
fé, as condições matrimoniais dos catecúmenos e a observar todas as
prescrições da Igreja.33

Por fim, convictos de que os catecúmenos tinham cumprido todos os


requisitos procedia-se ao baptismo, uma vez baptizados deviam estar prontos a
morrer pela fé do que a renegar esta.34

Causas do Martírio
Os Missionários conseguiram logo nos primeiros anos um grande êxito na
sua missão, o que levou os bonzos a iniciar uma luta contra os cristãos e
contra os missionários. Ao princípio se limitaram a fazer troça da nova religião
e dos seus adeptos. Porém, quando viram que isto não afetava em nada os
Frades, tentaram outro tipo de abordagem mais hostil. Porém, o P. Pedro
Batista era muito hábil no confronto dos argumentos e no fazer destes
confrontos uma propaganda missionaria, que bem cedo recebeu o nome de
“Grande Bonzo do Ocidente”, antes deste este título tinha sido atribuído a
Francisco Saverio. Sucessivamente, os bonzos tentaram mais vezes trazer
para seu lado Hideyoshi, acusando os Franciscanos de serem contrários a lei
do estado e perigosos para a segurança pública. 35 Assim, também fizeram
através do governador de Kyoto, intimidando-o a promulgar um decreto de
expulsão semelhante aquele de 1587 contra os missionários.36 Porém, os dois
governadores se limitaram a responder que não viam algum perigo para o país
da parte dos religiosos e que esses apresentavam por virtude zelo e dedicação
ao serviço dos pobres. 37

Outras causas que levaram ao martírio dos missionários, foram:


A guerra na Coreia em 1592, que se tornou em derrota. Pois, os seus
comandantes queriam entrar logo na China, porém, o imperador os parou. E os

33
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:32–33.
34
Zavarella, 6:33.
35
Zavarella, 6:34.
36
G. Tuchle e C.A. Bouman, Nova História da Igreja, 248.
37
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:35.
chineses se aproveitaram para invadir a Coreia, forçando os japoneses a
retirar-se.38

Hideyoshi pediu à China que mandassem um embaixador a abaixar a sua


própria bandeira afrente deste e que o reconhecessem como Imperador da
China. Porém, estes rejeitaram.39

Em julho de 1596 ocorreu uma terrível erupção vulcânica40 que destruiu a


cidade de Honshu. Dois meses depois, ocorreram violentos e persistentes
terramotos e tempestades em alto mar que destruíram várias cidades e
mataram inúmeras pessoas.41

No dia 20 de outubro de 1596, a embarcação espanhola «San Felipe»


partia de Manila para o México com cerca de duzentos soldados e alguns
religiosos, porém, ao fim de três meses de navegação, o navio ficou
gravemente danificado e viu-se obrigada a refugiar-se no porto de Hirado, na
ilha de Shikoku. O governador da ilha atraído pelos bens materiais valiosos que
seguiam no barco, pensou em confiscar e oferecer a riqueza a Hideyoshi, a
quem mandou uma embaixada para ter a devida aprovação. Desta forma,
Hideyoshi aproveitou-se do seguinte contexto: “O rei Espanhol quando queria
possuir-se de uma terra, enviava em primeiro os religiosos com o pretexto de
pregar a lei cristã e depois os soldados para a conquistar”. A fim de, reter toda
a riqueza que se encontrava no navio. Por infelicidade, um dos marinheiros
com medo das ameaças dos Japoneses acabou por confirmar esta versão do
governador japonês. 42

Os inimigos dos missionários aproveitaram para fazer de novo pressão


sobre Hideyoshi, para que este se decidisse a condenar todos os missionários
espanhóis que se encontravam a Kyoto e a Osaka, à prisão nos seus
respetivos conventos. Este decreto foi exclusivamente aos Franciscanos e aos
seus colaboradores, dado que, os Franciscanos eram missionários
espanhóis.43

38
Moraes, RELANCE DA HISTÓRIA DO JAPÃO, 97.
39
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:36.
40
«Vulcões no Japão».
41
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE.
42
«Relación de la arribada al Japón del galeón San Felipe y martirio de franciscanos”».
43
«Relación de la arribada al Japón del galeón San Felipe y martirio de franciscanos”».
Para piorar a situação, com a influência continua dos bonzos e dos
governadores locais, que davam ao imperador falsas informações sobre os
espanhóis, levou a que Hideyoshi se tornasse uma besta selvagem contra os
missionários, mais propriamente os Franciscanos.44

Estes acontecimentos levaram ao martírio de alguns missionários e de


alguns cristãos nativos.

Condenação dos missionários e via até ao martírio


Como resultado das ordens de Hideyoshi, no dia 8 de dezembro de 1996,
o governador de Kyoto inferior, colocou guardas na casa dos Franciscanos e
passante dois dias na casa dos Jesuítas. No mesmo dia também foram
colocados guardas nas casas de Osaka. No dia 11 de dezembro, o imperador
convocou Mitsunari e mais uma vez decretou a pena capital para todos os
missionários e cristãos, que no mesmo dia foram informados das ordens do
imperador.45

Foram dias de verdadeiro terror. Porém os missionários não perderam a


calma, nem deixaram de atender às suas obras de piedade, nem a assistência
aos pobres, aos enfermos, e a todos os fiéis que continuavam a ir até eles.

Temos acesso a uma carta de P. Pedro Batista quando este se


encontrava na prisão em Kyoto a outro Padre que se encontrava na prisão em
Osaka: “Querido irmão, Jesus Cristo esteja sempre com vocês! Eu experimento
uma grandiosa consolação no receber da vossa carta, que Deus vos conserve
são e vos ajude potencialmente a inflamar no seu serviço aos cristãos que,
como me disseste, estão dispostos a sofrer tudo pelo seu amor. Seja sempre
bendito o Senhor! Assim é por nós, que estamos todos cheios de alegria e de
consolação no Senhor, por nos ver em torno de numerosos guardas dentro e
fora da nossa morada. Sim, nos temos como graça sermos perseguidos pelo
seu amor…” Nesta carta podemos ver a sua força de animo e uma serenidade
de espírito que é sem dúvida fruto de uma união com Deus.46

44
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:35.
45
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE.
46
Ribadeneira, Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e lettere.
No final de 1596 estavam no Japão 11 Franciscanos. Cinco no convento
de Kyoto, um na casa de Osaka, três na casa de Nagasaki e dois estavam fora
das casas Franciscanas.47

Os governadores Meada e Mitsumari procuravam de obter o perdão dos


Jesuítas, que eram portugueses e um Edito de expulsão para os franciscanos,
que eram espanhóis. Assim, Hideyoshi perdoou os Jesuítas, porém, continuou
a querer a pena máxima dos Franciscanos.48

Os padres missionários que residiam a Nagasaki foram carregados por


uma nave portuguesa para Manila.49 Já, os que moravam em Osaka foram
arrastados e condenados a morte, juntamente com um terciário franciscano e
dois jovens de 13 e 15 anos, que queriam abraçar a vida religiosa. Ainda em
Osaka, além dos Jesuítas estarem livres da sentença de morte, três deles
foram arrastados e uniram-se aos quatro Franciscanos.50

Em Kyoto, centro da missão, foram arrastados cinco missionários, entre


os quais P. Pedro Batista, este ordenou a P. Jerónimo di Gesù de mantar-se
escondido e de assumir a missão se este fosse assassinado.51

O edito do imperador abrangia o arresto de todos os colaboradores dos


frades, porém, devido ao elevado número de 170 colaboradores, as
autoridades locais se limitaram a escolher vinte e seis.52

Os mártires japoneses de 1597 foram: “seis franciscanos (cinco europeus


e um de Goa), 17 da Ordem Terceira de São Francisco (16 japoneses e um
coreano) e três jesuítas japoneses (Paulo Miki, João de Goto e Diogo Kisaï).” 53

Hideyoshi deu estreitas ordens de mutilar as faces dos cristãos, cortando-


lhes as orelhas e o nariz, de arrastá-los pelas vias de Kyoto, Osaka e Sakai, de
conduzi-los a Nagasaki e lá os crucificar.54

47
Correia, A Concepção de Missionação na Apologia de Valignano.
48
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE.
49
Ribadeneira, Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e lettere.
50
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
51
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:40.
52
Zavarella, 6:40.
53
«Vice-Postulação da Causa de Canonização do Beato Carlos Spínola e Companheiros Mártires».
54
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:42.
Quando veio publicada a sentença contra os Franciscanos, os padres
Jesuítas de Kyoto procuraram de libertar Fr. Paulo Miki e os seus dois
companheiros. Porém, esta investida foi sem êxito.55

No dia 31 de dezembro de 1596, Fr. Martinho da Ascensão e Fr. Paulo


Miki com os seus quatro companheiros, foram conduzidos a Kyoto, sobre
escota e lá foram presos.56

No dia 2 de janeiro de 1597, em Kyoto, durante a tarde, quarenta


soldados invadiram o convento e prenderam os Frades que se encontravam na
Igreja a celebrar a sua última missa. O Frades antes de serem presos cantaram
o “Te Deum” para agradecer a Deus por a graça de receberem o martírio.57

No dia 3 de janeiro de 1597, os Frades foram conduzidos em praza


pública para serem mutilados na presença da população de Kyoto.58

Os mártires aproveitavam da devida ocasião para pregar a proibida


religião e explicar o porquê de serem assim felizes por derramar o seu próprio
sangue.59

No dia seguinte, houve outro cortejo a Osaka e a Sakai. Em cada cortejo


vinha exposto uma placa, que indica o motivo do seu martírio:” Estes homens
são punidos porque pregaram uma religião proibida”. 60

Em Sakai estes permaneceram até ao dia 9 de janeiro. Naquele mesmo


dia foram conduzidos a Osaka, para receber a comunicação da sua sentença
de morte.61

Em Osaka, o imperador confirmou a sentença de morte e ordenou que


fosse escrito sobre uma grande tabua e que fosse visível por toda a estrada de
Osaka a Nagasaki, as seguintes palavras: “Estes homens, que, por si mesmo
se chamaram embaixadores das Filipinas, entraram no Japão e sem

55
Zavarella, 6:43.
56
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
57
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:41.
58
Zavarella, 6:42.
59
Zavarella, 6:43.
60
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
61
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:43.
permissão, se meteram a pregar a proibida religião cristã. Por isto, agora são
condenados a morrer sobre a cruz em Nagasaki”.62

Quando os acusados ouviram o conteúdo da sentença, ficaram cheios de


alegria, pois, a eles tinha sido concedido morrer sobre uma cruz, como Cristo,
por terem pregado a Lei de Deus. 63

Os Mártires começaram a sua “Via Crucis “desde Osaka até Nagasaki, no


dia 10 de janeiro. Assim deviam fazer 800 quilómetros. Ribadeneira (biógrafo)
disse que fizeram parte do trajeto em pequenas embarcações e a outra parte a
pé.64

No dia 13 de janeiro de 1597, quando a notícia da sentença de morte


chegou a Nagasaki, os três frades que lá moravam foram obrigados a deixar a
casa e foram levados para o navio português ancorado no porto.65

No dia 14 de janeiro sobre a via para Nagasaki, Fr. Pedro Batista


escreveu a Fr. Garovillas, seu Provincial em Manila, para continuar a mandar
missionários para o Japão.66

No dia 28 de janeiro, uma semana antes do martírio, Fr. Martino enviou


uma carta ao seu amigo Fr. Antony Morgan, em Manila, para que cuidasse da
missão. 67

No dia 2 de fevereiro, três dias antes do martírio, Fr. Pedro Batista


escreveu uma carta aos frades que estavam em Nagasaki, no navio português.
“Dei ordens a Fr. Jerónimo di Gesù, de ficar escondido em Kyoto e cuidar dos
cristãos; se fosse possível, um de vocês que fique como companheiro e o
ajude”.68

O Provincial Jesuíta mandou Fr. John Rodriguez em Sonogi, onde este se


aproximou dos Mártires e obteve o permisso para falar com eles. Este pediu a
62
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
63
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:44.
64
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
65
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:45.
66
Ribadeneira, Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e lettere.
67
Ribadeneira.
68
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
mando de todos Jesuítas presentes no Japão, perdão aos Franciscanos, por
sua vez, os Franciscanos agiram da mesma forma.69

Na noite do dia 4 de fevereiro, os Mártires foram presos em pequenas


embarcações e conduzidos a Tokitsu, onde passaram uma gélida noite.70

Na manhã do dia 5, foram conduzidos diretamente ao hospital de São


Lazaro, aqui encontraram dois padres Jesuítas, aos quais foi permitido escutar
algumas confissões. P. Pedro Batista pediu a P. Pasio, Jesuíta, de apresentar
todas as desculpas por a pena causada ao bispo.71

Martírio dos missionários no Japão


No dia 5 de fevereiro de 1597, pelas 10 horas, o sacrifício dos Mártires
era cumprido, em Tateyama, numa colina oposta da cidade, perto do hospital
de S. Lazaro, a pedido dos portugueses. Assim, os soldados prendiam os
missionários às cruzes com cordas e arcos. 72

Alguns dos missionários presos às cruzes oravam em silencio, outros


cantavam hinos e salmos e outros perdoavam em alta voz o imperador e os
que o tinham levado a morte.73

Entre as 11 e as 12 os soldados acabaram o serviço que tinham


começado. Atravessando lanças pelo peito dos Mártires. 74

Nagasaki se tinha preparado já há dois dias para receber os mortos. O


lugar do martírio estava rodeado de inúmeras pessoas, que nem as fustigadas
dos soldados eram capazes de os ter afastados.75

O bispo Martinez, ao qual não tinha sido dada permissão de assistir de


perto o martírio. Vendo como os Mártires tinham dado o seu sangue por Cristo,
se ajoelhou, invocou os seus santos nomes e recitou a oração da Missa dos
Mártires.76

69
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:47–49.
70
Zavarella, 6:49.
71
Zavarella, 6:49–50.
72
Zavarella, 6:49.
73
Zavarella, 6:50.
74
Zavarella, 6:50.
75
Álvarez Taladriz, José Luis, «Relaciones e informaciones de San Martín de la Ascensión y fray Marcelo
de Ribadeneira. Osaka, 1973.»
76
Zavarella, L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE E FILLIPINE, 6:50–51.
Depois do martírio muitos Japoneses e Portugueses cristãos, visitaram a
“Santa Montanha”, onde os missionários foram crucificados.

Segundo a tradição dos Japoneses, os corpos dos Mártires


permaneceram sobre a cruz muitos dias. Isto obrigou o bispo a proibir, sobre
pena de excomunhão, de tirar relíquias e pediu também as autoridades civis de
meterem guardas no lugar da execução. Porém, não resultou de nada, pois,
alguns cristãos continuaram a pegar pequenas relíquias. Após 9 meses,
quando Hideyoshi permitiu que fossem removidos os corpos, não encontrou
mais nenhum, nem as próprias cruzes.77

Processo de Canonização
O triunfo dos mártires foi reconhecido oficialmente muito cedo, já que, no
dia 14 de setembro de 1627, o Papa Urbano VIII os declarou Beatos e Pio IX,
no dia 8 de junho de 1862, os canonizava solenemente na presença de 216
cardeias e bispos.

Curiosidades
Hoje o Japão dedica 21 Igrejas aos Mártires Franciscanos.

Bibliografia

Fonte principal: Zavarella, Salvatore. L`EVANGELIZZAZIONE IN GIAPPONE


E FILLIPINE. Vol. 6. Assisi: Porziuncula, 2011.

Álvarez Taladriz, José Luis. «Relaciones e informaciones de San Martín de la


Ascensión y fray Marcelo de Ribadeneira. Osaka, 1973.», 1973.
Documentos franciscanos de la cristiandad de Japón, 1593-1597.
Archivum Franciscanum Historicum. Vol. 83. Firenze: Collegii S. Bonaventurae,
1990.
Comby, Jean. Para ler A HISTÓRIA DA IGREJA (2). 3a. Vol. 2. Vila Nova de
Gaia: Editorial Perpétuo Socorro, 2001.
Correia, Pedro. A Concepção de Missionação na Apologia de Valignano.
Lisboa, 2008. CCCM, sem data.
77
Zavarella, 6:52–53.
Ferrini, Giuliano, e Guillermo Ramirez. Santos franciscanos para cada dia.
Porziuncula, 2000.
G. Tuchle e C.A. Bouman. Nova História da Igreja. 2a. Petrópolis, 1983.
Moraes, Wenceslau. RELANCE DA HISTÓRIA DO JAPÃO. 2a. Parreira A. M.
Pereira . Lda, 1972.
«Os Locais dos Criptocristãos na Região de Nagasaki (UNESCO)», sem data.
https://www.japan.travel/pt/world-heritage/hidden-christian-sites-in-the-
nagasaki-region/.
«Relación de la arribada al Japón del galeón San Felipe y martirio de
franciscanos”». Archivo General de Indias (Sevilla), 1597. Filipinas 79.
Archivo General de Indias (Sevilla).
«Religião E Astrologia», sem data. Breve História do Budismo no Japão
(ndu.ac).
Ribadeneira, Fr. Marcello. Storia delle isole dell´arcipelogo delle Filippine e
lettere. Barcelona, 1601.
«Vice-Postulação da Causa de Canonização do Beato Carlos Spínola e
Companheiros Mártires», sem data. https://pontosj.pt/martiresdojapao/.
«Vulcões no Japão», sem data.
https://www.dadosmundiais.com/asia/japao/vulcoes.php.

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