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Dalton Thomas
Colinas de Golã, Israel
Setembro de 2018
PREFÁCIO
Dalton Thomas
Tauranga, Nova Zelândia
Novembro de 2011
[Livra-me] da oração por proteção
Dos ventos que sopram contra ti,
De temer quando devo almejar
De tropeçar quando devo alçar,
Livra da autopreservação
Este soldado que te segue, ó Capitão.
ELE ME BASTA
ELE ME BASTA
A chama das minhas convicções relativas à questão do martírio se
acendeu logo após a minha conversão. Ao estudar seu lugar no
Novo Testamento, na história da Igreja e nas profecias bíblicas,
essas convicções se tornaram mais fortes a cada ano que
passava. Mas só depois de ler uma declaração de Amy Carmichael
(1867-1951), senti a necessidade de passar essa minha convicção
para o papel e desafiar abertamente essa geração a acolhê-la como
sua.
Carmichael, depois de ouvir Hudson Taylor falar em 1887
sobre o chamado relativo às missões pioneiras, convenceu-se de
que o Senhor a chamava para as nações e para uma vida dedicada
ao ministério. Em pouco tempo, na condição de mulher solteira em
seus vinte e poucos anos, ela partiu da Irlanda em um navio
com destino a uma terra distante e hostil. Ela nunca mais
voltou. Depois de passar mais de 55 anos na Ásia, sem nunca ter
retornado para casa, encontrou-se com o seu Criador, face a face,
por meio de uma morte natural, aos 83 anos de idade. Antes de
morrer, ela pediu que nenhuma pedra fosse colocada em cima de
sua sepultura. Assim ela foi enterrada em solo indiano, e acima de
sua sepultura há apenas um bebedouro para pássaros.
Entre seus escritos, encontramos o seguinte:
Na noite em que parti para a China, em 3 de março de 1893,
minha vida, do lado humano, foi quebrada para nunca mais ser
consertada. Mas ele me basta.[17]
Poucas palavras tiveram um impacto tão grande em minha
vida quanto essas. Como David Livingstone (1813-1873) que, antes
dela, após derramar sua vida na África, disse: “Eu nunca fiz um
sacrifício”.[18] Carmichael dá testemunho de uma verdade preciosa
e sublime: o chamado ao martírio não é a exaltação da morte tanto
quanto a exaltação de Cristo. O martírio é a expressão consumada
do afeto sagrado por aquele que acreditamos ser mais precioso do
que a vida e por quem vale a pena sofrer a dor da morte.
Ao dizer: “Ele me basta”, ela estava afirmando: “Valeu a
pena”. Ou melhor: “Ele é digno”. Ao longo das décadas de luta, dor,
perda, aflição, solidão, trabalho e tribulação, ela se convenceu de
que ele bastava. À luz de tudo o que tinha deixado, tudo o que tinha
perdido, tudo o que tinha suportado, ela declarou que faria tudo de
novo, porque tudo valeu a pena. Ele é digno. O Senhor era mais
valioso para ela do que a vida e muito mais digno de tudo o que ela
poderia perder com a morte. Ele era tudo para ela. Todas as suas
motivações estavam nele.[19]
Embora sua vida tenha sido “quebrada”, sua alma estava
satisfeita. Cristo era para ela como “um tesouro escondido em um
campo” pelo qual ela “venderia alegremente tudo para comprá-lo”.
[20]
É por isso que, quando um potencial candidato a missionário
questionava como era ser missionária, Amy respondia que a vida
missionária era simplesmente “uma oportunidade para morrer”.[21]
Amy Wilson Carmichael não morreu como mártir. No
entanto, viveu como mártir. Sua alegre submissão à vontade
soberana do seu Mestre, sem levar em conta a preservação da sua
própria carne mortal, expressa bem o verdadeiro
espírito do chamado do Evangelho: dar o que não se pode reter
para ganhar o que não se pode perder.[22]
Essa é a essência da chama da teologia bíblica do
martírio: alegremente “considero tudo como perda, por causa da
sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”.
[23]
Somente essa perspectiva pode colocar o tema principal e o
santo chamado em seu contexto apropriado.
A morte é um meio. Cristo é o fim. A alegria é o motivo. E
gloriosa é a jornada.
CAPÍTULO UM
O MARTÍRIO NO PRESENTE
É fundamental reconhecermos também a proeminência do
martírio no presente. Em termos estatísticos, o assunto do martírio é
mais relevante agora do que em qualquer outro tempo, pelo fato de
que agora há maior incidência.
Na edição de 2002 da Tabela Anual de Estatística sobre
Missão Global, David Barrett estimou que “aproximadamente 164
mil cristãos [morreram] como mártires [naquele ano] e que o número
médio de mártires cristãos cresceria a cada ano até chegar a 210
mil no ano de 2025”.[30] De acordo com a pesquisa de Barrett, houve
aproximadamente 45 milhões de mártires no século 20.[31] Isso
significa que o século passado viu mais mártires do que todos os
outros séculos anteriores juntos. Em seu livro I Nuovi Perseguitati (O
Novo Perseguido), o jornalista italiano Antonio Socci argumenta
que 65% de todos os mártires cristãos foram mortos no século 20.[32]
Enquanto você estiver lendo este livro, santos serão mortos
por sua fé em algum lugar do mundo. Para os crentes em nações
como Nigéria, Indonésia, Bangladesh, Irã, Colômbia e Coreia do
Norte, a questão do martírio é uma dura e cruel realidade. Ignorar o
assunto é desonrar aqueles que, neste momento, são confrontados
com a ameaça de violência por causa de sua fé em Cristo.
Enquanto nós, no Ocidente, podemos tratar o assunto do
martírio como secundário e irrelevante para a nossa fé, o
testemunho dos mártires ao redor do mundo, em
nossa própria geração, nos exorta a reconsiderar. Em vista da
crescente violência contra os cristãos nas nações, é mais provável
que aqueles que rejeitam a questão do martírio sejam aqueles
cujas crenças são secundárias e irrelevantes, pois as estatísticas
mostram que eles são a minoria.
O MARTÍRIO NO TEMPO DO FIM
Finalmente, da mesma forma que começamos nosso estudo, é
imperativo reconhecermos a proeminência do martírio no fim desta
era.
As Escrituras proféticas são abundantemente claras ao afirmar
que a maior expressão de martírio ocorrerá com a geração que
presenciará a volta do Senhor, depois de “todo o mundo” receber
um “testemunho” do “evangelho do reino”.[33] A penetração
do Evangelho em cada nação, tribo e língua resultará numa
resposta sangrenta. Isso não quer dizer que as missões do fim dos
tempos serão infrutíferas. Pelo contrário, homens, mulheres e
crianças de todas as nações serão fiéis a Jesus. O impulso final em
direção ao evangelismo global é que será recebido com
veemente ira. Jesus disse que, à medida que o evangelho do
reino for proclamado em toda a terra, durante a época tumultuada
da tribulação, os crentes “serão odiados de todas as nações” e “os
entregarão à morte”.[34] O impacto dessa onda de perseguição sem
precedentes reivindicará a vida dos seguidores de Cristo em “todas
as nações, tribos, povos e línguas”.[35] Essa é uma realidade
profética surpreendente. Todas as nações serão tingidas de
vermelho com o sangue dos fiéis. Esses mártires do fim dos tempos
“sairão da grande tribulação” para serem contados entre o “número
completo” de mártires que, segundo Jesus, já foi determinado pela
soberania de Deus.[36]
Os textos proféticos falam de uma calamidade no fim desta
era, em que um tirano satânico terá autoridade para “pelejar contra
os santos e vencê-los”.[37] Os cristãos serão “entregues em suas
mãos” e serão “despedaçados” quando ele “fizer guerra contra os
santos” e “prevalecer contra eles”.[38] Durante o tempo final de
“tribulação”, aquele tirânico “homem da iniquidade”[39] “destruirá os
poderosos e o povo santo”[40], à medida que “sai com grande furor
para destruir e exterminar a muitos”[41]. Naquele dia, muitos “cairão
pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo”.[42]
O martírio será tão evidente na hora final que Jesus declarou
ser um dos principais sinais dos tempos, indicando a proximidade da
sua volta e o fim dos tempos.[43] Se ignorarmos ou descartamos
esse assunto agora, selamos a nossa sorte como a daqueles que
estarão despreparados para se “levantar” e “resistir” em meio à
tempestade que está por vir.
O VIVER É CRISTO
Apesar de ser predominantemente um modo de morrer, o martírio
também deve ser considerado um modo de viver. Disto devemos ter
certeza: não há morte verdadeira para Cristo que não seja o fruto de
uma vida verdadeira para Cristo. Ou seja, ninguém jamais morreu
pelo Senhor sem primeiro ter vivido por ele. É por isso que Paulo
pode dizer: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é
lucro”.[50]
A supremacia de Cristo sobre todas as coisas na vida e na
morte é o fundamento teológico para o chamado ao martírio. Não se
pode dizer: “o morrer é lucro”, até que se possa dizer: “o viver é
Cristo”. E não se pode dizer: “o viver é Cristo” sem pensar na “morte
como ganho”. Escapar de um em detrimento do outro é deturpar o
evangelho. Eles permanecem juntos e estão interligados.
Quando andamos com a convicção de que Cristo vale mais do
que a vida, e é muito mais digno do que o momentâneo aguilhão da
morte, abraçamos o verdadeiro espírito do martírio. O mandato para
“perder as nossas vidas”[51] e “não amá-las mesmo em face da
morte”[52] baseia-se inteiramente no mandamento bíblico de
“deleitar-se no Senhor”[53]. O evento do martírio como morte é,
portanto, a expressão consumada e final da nossa alegria em
Deus, em vida.
Portanto, abraçar o chamado ao martírio não está tão
relacionado com o objetivo de morrer bem, mas sim amar bem. No
entanto, quanto mais nosso amor por Jesus amadurecer em
intensidade e fervor, mais nosso amor por nossas vidas diminuirá. À
medida que o Senhor, em sua graça, nos leva a tal amor,[54] nos
encontraremos anelando por ele com um desejo tão ardente que
seremos obrigados a dizer o que Paulo disse [parafraseado]: “Qual
dos dois escolherei [entre a vida e a morte]? Eu não posso dizer. Eu
sou duramente pressionado entre os dois”[55]. Tal é a linguagem de
amor de um mártir.
Steve Saint, filho do missionário mártir Nate Saint, explica o
que motivou seu pai:
Papai se esforçou para descobrir o que a vida realmente é. Ele
encontrou identidade, propósito e satisfação em ser obediente
ao chamado de Deus. Ele tentou, testou e se comprometeu
com isso. Eu sei que o risco que ele assumiu, que resultou em
sua morte e consequentemente separação de sua família, não
foi para satisfazer sua própria necessidade de aventura ou
fama, mas em obediência ao que ele acreditava ser a vontade
de Deus para sua vida. Creio que ele seja mais conhecido por
ter morrido por sua fé, mas o legado que ele deixou para seus
filhos foi sua disposição para, primeiramente, viver por sua fé.
[56]
O MORRER É LUCRO
Até que consideremos a morte como um ganho, estaremos vivendo
aquém dos propósitos de Deus. É por isso que Paulo declarou que
sua maior ambição era “o conhecer, e o poder da sua ressurreição,
e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na
sua morte”.[57] O amor a Cristo que não está disposto a sofrer e a
fidelidade a ele que não seja “até à morte” são desprovidos da
natureza apostólica.[58] Tal amor e fidelidade não podem ter origem
na carnalidade. Eles são o fruto da obra da graça; o transbordar de
uma alma satisfeita. Portanto, o chamado para “sofrer” e “morrer” é,
em primeiro lugar e acima de tudo, um chamado para encontrar
aquele que nos faz ver a morte como ganho e o sofrimento como
incomparável ao peso de glória que temos nele.
Abordando a relação entre sofrimento e alegria na vida do
crente, John Piper explica:
Medimos o valor de um tesouro escondido por aquilo que
teremos prazer em vender para comprá-lo. Se vendermos
tudo, consideramos o valor como supremo. Se não o fizermos,
o que temos é mais valorizado. “O reino dos céus é
semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo
homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de
alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo”
(Mt 13.44). A extensão de seu sacrifício e a profundidade de
sua alegria mostram o valor que ele coloca no tesouro de
Deus. Perda e sofrimento, alegremente aceitos em favor do
reino de Deus, mostram mais claramente ao mundo a
supremacia da dignidade de Deus do que toda adoração e
oração.[59]
Com uma vida riquíssima em experiências, J. Hudson Taylor
(1832-1905), o famoso missionário pioneiro na China, declarou a
mesma mensagem:
É no caminho da obediência e do serviço realizado de forma
sacrificial que Deus se revela mais intimamente a seus
filhos. Quanto mais custoso, maior é a alegria. O momento
mais tenebroso se torna o mais reluzente, e a maior perda, o
maior ganho. Enquanto a tristeza dura pouco tempo e logo
passará, a alegria é muito mais elevada... é eterna.[60]
[tradução livre]
O PARADOXO DO MARTÍRIO
O martírio é um paradoxo. Perde-se tudo para ganhar tudo. No
entanto, somente porque o valor daquilo que ganhamos excede, em
muito, o valor daquilo que perdemos, é que podemos enfrentá-lo
com alegria. Aqui está o verdadeiro espírito do martírio: é a
expressão consumada da alegria dos santos em Cristo.
Paulo prefaciou sua declaração de morte como ganho,
explicando que sua maior ambição era “honrar” Cristo “pela vida ou
pela morte”. Em outras palavras, a questão não era a superioridade
da vida sobre a morte ou da morte sobre a vida, mas sim a
superioridade de Cristo sobre tudo. É por isso que Paulo também
afirmou que qualquer coisa que ele pudesse “ganhar” na vida e tudo
o que ele pudesse “perder” na morte seriam insignificantes à luz do
magnífico valor de Cristo.
Até que estejamos individualmente e coletivamente
convencidos de que Cristo é mais precioso do que a “vida” e vale
muito mais do que a dor da “morte”[61] ainda não o teremos
conhecido como deveríamos conhecer. Até que estejamos
convencidos de que vale a pena derramar o nosso sangue – se isso
for exigido de nós – para fazer Cristo conhecido entre as nações,
ainda precisamos conhecê-lo mais. Até que o nosso hino se torne “o
viver é Cristo, e o morrer é lucro”[62], ainda temos que conhecê-lo
como ele deseja ser conhecido, como “um tesouro em um campo” e
“uma pérola de grande valor” pela qual seria sensato “vender com
alegria tudo o que temos para comprá-la”.[63] Até que o testemunho
da Igreja entre as nações ecoe essa antiga glória apostólica através
das fendas de vasos de barro como você e eu, podemos e devemos
ter certeza de que ainda não testemunhamos aquilo para o qual
fomos chamados.
Os indivíduos que estão livres da assustadora prática de evitar
a morte são uma ameaça aos poderes e principados do ar e um
incômodo para os homens pecadores que odeiam aquele de quem
sua alegria testemunha. Assim, não devemos enfatizar o martírio
como um modo de vida, a ponto de subestimá-lo como um aspecto
real de morte. Quando os discípulos ouviram o chamado de Jesus,
convidando-os a segui-lo, negando-se a si mesmo, tomando a sua
cruz e perdendo a sua vida, eles não entenderam que se tratava de
uma metáfora. Depois de algumas décadas de vida com Cristo,
quase todos eles foram executados por sua lealdade ao Cordeiro. E
não foi porque procuraram a morte, mas porque sua alegria e seu
tesouro estavam em Cristo.
UM LINDO DESPERDÍCIO
Antes de descer a Jerusalém para a Páscoa, ocasião em que seria
morto, Jesus parou em Betânia – um dos poucos lugares em Israel
onde o nosso Senhor podia descansar e estar entre amigos.
Uma noite, no jantar, exatamente uma semana antes da
crucificação,[80] uma jovem chamada Maria se aproximou de
Jesus. Em sua mão, ela trazia um vazo cheio com um óleo precioso.
Embora o frasco fosse pequeno, o conteúdo (óleo ou perfume)
correspondia ao salário de um ano de trabalho.[81] Compelida por um
irresistível senso de necessidade, ela abriu seu alabastro e
despejou o conteúdo sobre a cabeça e sobre os pés de Jesus, antes
de “secá-los com seus cabelos”. Ao fazê-lo, “encheu-se toda a casa
com o perfume do bálsamo”.[82]
Em um momento único e sagrado, essa jovem mulher se
desfez do que hoje seria o equivalente a 40 mil dólares. Uma
expressão tão generosa de devoção era fruto de sua convicção de
que o valor de seu precioso perfume era ofuscado pelo valor do
Deus-Homem, diante de quem ela estava.
Assim que o óleo foi derramado, a atmosfera na sala mudou, e
as tensões começaram a aparecer. Alguns indivíduos se
apressaram para interromper o que acreditavam ser um episódio
constrangedor e embaraçoso. Judas, o traidor que mais tarde
vendeu Jesus às autoridades por 30 shekels, foi o primeiro a
levantar a voz em protesto, declarando publicamente a tolice de tal
ato. Buscando humilhar a jovem mulher, ele informou àqueles na
sala que seu perfume valia um ano de salário e que poderia ter sido
mais bem gasto em empreendimentos ministeriais.
Movidos pela sua aparente compaixão pelos pobres, os outros
discípulos começaram a olhar para ela com o mesmo olhar de
desprezo (é preocupante que os futuros líderes da Igreja fossem tão
facilmente influenciados por tal enganador). Quando a fragrância do
óleo encheu a casa, os ânimos começaram a esquentar. Mateus
registrou a cena da seguinte maneira:
Vendo isto, indignaram-se os discípulos e disseram: Para que
este desperdício? Pois este perfume podia ser vendido por
muito dinheiro e dar-se aos pobres. (Mt 26.8-9)
Os que estavam presentes na sala julgaram excessiva,
desnecessária e tola a demonstração de devoção de Maria. E isso
os deixou furiosos.
Imagine a cena. A família da mulher, observando de forma
distante e horrorizada o que ela acabara de fazer; Judas, de pé,
apontando-lhe o dedo com desdém; e o resto dos discípulos
murmurando suas objeções presunçosas enquanto aguardavam
uma reação de Cristo. Diante de tudo isso, Maria estava
trêmula. Com lágrimas de amor ainda escorrendo em seu rosto e
com o óleo de devoção de seus cabelos, seu coração batia com o
medo da incerteza, pois como poderia ela saber como Jesus
reagiria? Ele demonstraria o mesmo desprezo dos demais? Ou ele
se sentiria honrado por seu gesto?
Seu coração foi logo tranquilizado quando Jesus,
sensivelmente, validou o seu sacrifício diante de todos, dizendo:
Mas Jesus, sabendo disto, disse-lhes: Por que molestais esta
mulher? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres,
sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me
tendes; pois, derramando este perfume sobre o meu corpo, ela
o fez para o meu sepultamento. Em verdade vos digo: Onde for
pregado em todo o mundo este evangelho, será também
contado o que ela fez, para memória sua. (Mt 26.10-13)
Maria de Betânia foi dominada pela devoção amorosa. E
resultou na renúncia espontânea de sua estabilidade financeira para
os próximos anos. O que quer que os 300 denários pudessem
representar para ela, Jesus valia mais. Ela abriu mão de qualquer
benefício social que esse dinheiro pudesse lhe trazer, pois preferia
ocupar o lugar que Jesus lhe assegurava. Seja qual for o privilégio
que essa herança lhe pudesse trazer, Jesus valia mais.
Jesus ficou profundamente comovido com sua atitude. Para
silenciar seus críticos e consolar seu coração temeroso, ele falou.
Sua atitude foi “linda”. Foi sábia. Foi virtuosa. E foi pura. Ele
declarou que a atitude dela era fruto de uma revelação de sua morte
iminente. Sua extravagância foi uma resposta à extravagância dele.
Sabendo que ele logo derramaria seu sangue das veias sagradas,
Maria sentiu que nada seria mais adequado naquele momento do
que derramar aquele óleo precioso de seu vaso de alabastro.
Finalmente, ele disse que sua atitude deveria ser eternamente
lembrada e contada em todas as nações onde o Evangelho fosse
anunciado. Jesus queria que os discípulos se lembrassem desse
momento para sempre. Além disso, ele queria que todas as nações
se lembrassem disso para sempre.
Amigos, eu lhes pergunto: A herança que é sua em Cristo é
mais valiosa do que tudo que você tem? Ah, que graça é poder
amá-lo com tamanho desprendimento! Você derramará a seus pés
aquilo que considera mais precioso? Você se entregará totalmente a
ele e não se importará quando o mundo desprezar sua atitude: “Veja
como ele está simplesmente jogando fora a sua vida” ou “Que
desperdício de tempo e energia”. Vamos perseverar diante da
vergonha terrena e abrir mão de tudo por causa de uma
recompensa celestial maior.
AS NEGAÇÕES – JOÃO 18
Logo depois que Jesus curou o guarda, repreendeu Pedro e foi
levado pelos guardas, Pedro foi novamente confrontado com a
questão do martírio. Quando Jesus foi levado à corte do sumo
sacerdote, Pedro ficou do lado de fora, aguardando notícias do que
estava por vir naquela noite trágica. Lá, foi abordado por uma criada
encarregada de vigiar a porta da corte e, mais tarde, por um parente
do homem que ele havia atacado. Esse foi o cenário da famosa
tripla negação de Pedro ao seu Senhor. Perguntaram-lhe se era um
seguidor de Jesus e se era o homem que havia desembainhado a
espada no jardim contra o soldado, ao que Pedro respondeu: “Não
sou eu”. Na terceira vez que disse isso, o galo cantou, exatamente
como Jesus havia profetizado. Isso deu início às 72 horas mais
sombrias já experimentadas por Pedro.
A PRAIA – JOÃO 21
Em Mateus 16, Pedro rejeita o chamado ao martírio. Em João 13,
ele o aceita, mas de maneira pecaminosa. Em Lucas 22, ele
manifesta sua rejeição ao chamado e o espírito corrompido com o
qual ele o aceitara no cenáculo. Finalmente, em João 18, ele se
retira em covardia e publicamente nega a Jesus por três vezes.
No entanto, a história chega ao seu clímax redentor em João
21, onde Jesus aparece na praia ao amanhecer e chama Pedro,
Tomé, Natanael, Tiago e João, que decidiram voltar a pescar após a
morte do seu Rabino.
É difícil imaginar a agonia mental de Pedro nesse momento da
história. Pode-se argumentar que os outros discípulos haviam
permanecido fiéis ao seu Senhor até o fim. No entanto, Pedro não o
havia negado apenas uma vez, mas três vezes e, portanto, havia
quebrado a comunhão com Cristo. Alguns comentaristas sugerem
que foi em confusão, desânimo e humilhação que Pedro voltou para
a sua ocupação anterior, talvez sentindo a sua própria falta de valor
para um chamado superior.
Em um dos episódios mais belos dos evangelhos, Jesus
recompõe o cenário em que ele se apresentou a Pedro e o chamou
para segui-lo. Jesus se aproximou de Pedro pela primeira vez na
praia, em Lucas 5, depois de os pescadores passarem uma longa
noite sem sucesso. Aqui, em Lucas 21, o Senhor se aproxima de
Pedro novamente sob as mesmas circunstâncias – outra longa noite
sem peixes. Em ambas as passagens, Jesus ordena aos homens
que lancem suas redes no lado direito do barco. Na primeira
ocasião, em Lucas 5, as redes se partiram. No entanto, aqui em
João 21, é dito que “não obstante serem tantos [peixes], a rede não
se rompeu” (v. 11).
Na segunda vez em que estão na praia, a resposta de Simão
Pedro ao Senhor ressurreto é profundamente comovente. Apenas
alguns capítulos antes, lemos sobre ele se encolhendo, se
distanciando e negando a Cristo; aqui, vemos o mesmo homem,
com o coração partido, saltando na água, desejando
desesperadamente diminuir a distância que o separa de seu
Senhor. Em essência, Jesus estava oferecendo um recomeço a
Pedro. Ele estava lhe concedendo a chance de entregar sua vida
novamente. Sim, Pedro tropeçou [e caiu], mas não para permanecer
caído, e Jesus não permitiu que esse fosse o fim da sua
história. Aqui, “ao clarear da madrugada” (v. 4), anunciando um novo
dia depois de uma noite improdutiva, Jesus provaria ternamente que
suas misericórdias são de fato “novas a cada manhã” e “grande é a
sua fidelidade”.[88] Olhando nos olhos tão envergonhados de Pedro,
Jesus perguntou calmamente:
Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro:
Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele
respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse:
Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela
segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe
respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus:
Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe
perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro
entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me
amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu
sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas
ovelhas. Em verdade, em verdade te digo que, quando eras
mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde
querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e
outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto
para significar com que gênero de morte Pedro havia de
glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe:
Segue-me. (Jo 21.15-19)
No final da história da transformação de Pedro, com a
comunhão restaurada, encontramos Jesus profetizando a Pedro
sobre sua futura execução. Depois de exortá-lo a abraçar o
chamado à liderança com a ordem de “apascentar os meus
cordeiros”, “pastorear as minhas ovelhas” e “apascentar as minhas
ovelhas”, Jesus o encarregou mais uma vez de abraçar o chamado
ao martírio. Ele revelou que as mãos de Pedro estariam
“estendidas” quando ele estivesse “sendo vestido” e fosse “levado
para onde ele não queria ir”. Ele derramaria sua vida como uma
oferta ao homem mais bondoso que ele já conhecera. E essa oferta
“glorificaria grandemente a Deus”.
MARTÍRIO E MISSÕES
O DESEJO DE ED MCCULLY
Muitos missionários na segunda metade do século passado
encontraram coragem para abraçar o chamado pioneiro após o
assassinato dos “cinco no Equador”. Em uma carta datada de 22 de
setembro de 1950, quase seis anos antes de sua morte, Ed McCully
escreveu para Jim Elliot explicando como Deus o havia chamado
para dedicar sua vida entre os povos não alcançados:
Desde que assumi esse trabalho, algumas coisas aconteceram.
Eu tenho passado meu tempo livre estudando a Palavra. Todas
as noites o Senhor parece se apoderar um pouco mais de mim.
Duas noites atrás, eu estava lendo Neemias. Eu terminei o livro
e o li novamente. Ali estava um homem que deixou tudo no que
dizia respeito à posição para fazer um trabalho que ninguém
mais poderia fazer. E porque ele assim o fez, todo o
remanescente em Jerusalém se voltou ao Senhor. Os
obstáculos e os impedimentos desapareceram e uma grande
obra foi feita. Jim, eu não poderia fugir disso. O Senhor estava
falando comigo. No caminho de casa ontem de manhã, fiz uma
longa caminhada e cheguei a uma decisão que sei que é do
Senhor. Com toda honestidade diante do Senhor, digo que
ninguém ou nada além dele mesmo e da sua Palavra tem
qualquer influência sobre o que decidi fazer. Eu tenho um único
desejo agora: de levar uma vida de total renúncia para o
Senhor, colocando toda a minha energia nisso.
Talvez ele me envie para algum lugar onde o nome de Jesus
Cristo não seja conhecido. Jim, eu estou crendo em sua
Palavra e colocando-a à prova. É como se tivéssemos de
assinar um documento em branco, assim como já o fizemos
quando nos convertemos e lhe entregamos nosso coração.
Então por que não estender isso para toda a nossa vida? Se a
vida eterna não é real, então não nos resta mais nada; teremos
desperdiçado toda a nossa vida, sem a esperança de uma vida
futura. Mas se a vida eterna é real, então tudo o que o Senhor
diz é verdadeiro também. Ore por mim, Jim.[98]
Entre aqueles que foram impelidos às missões pelo martírio de
Ed McCully e seus companheiros encontra-se David Sitton. David
investiu a maior parte de sua vida adulta ao trabalho de levar o
Evangelho ao povo tribal de Papua-Nova Guiné. Em seu
livro Reckless Abandon (Abandono Total) (inspirado na carta acima),
ele escreve sobre como o Senhor o chamou para o ministério
pioneiro. Sua perspectiva de “risco” é profunda:
Aqui está minha justificativa para enviar regularmente
missionários com o Evangelho para um ambiente hostil: o risco
assume a possibilidade de perda e é sempre determinado pelo
valor da missão. O Evangelho é tão valioso que nenhum risco é
irracional. Ganhamos a vida ao perdê-la pelo Evangelho. Se eu
viver, estou no lucro e continuo a pregar a mensagem de
Cristo. Se eu morrer, ganho ainda mais, pois estarei
diretamente com Cristo e ainda posso levar algumas tribos
comigo.
Concluo que “perder minha vida” pelo Evangelho é literalmente
impossível, porque meus anos na terra têm menos valor em
comparação ao Evangelho eterno... Se isso for verdade, não há
risco significativo para mim como portador do Evangelho de
Cristo. Se algum chefe tribal cortar a minha cabeça, ele estará
me fazendo um favor. Pense nisso. Se eu puder (não por
obrigação) entregar minha vida em algum pântano remoto na
floresta, e Deus usar a minha morte como um testemunho para
que algumas pessoas, entre algum povo não alcançado, em
algum lugar do mundo, voltem seus olhos para Cristo e para
sua mensagem, isso não é um “risco” ruim para mim. Eu não
perdi; eu venci! Terá sido a barganha de toda uma vida, porque
Jesus vale muito mais do que minha pequena vida.[99]
Se, como embaixadores do Evangelho, não estamos dispostos
a sofrer tanto quanto sofrem soldados e bombeiros, será que é por
que não valorizamos Cristo e o Evangelho o suficiente para nos
sacrificarmos significativamente por seu avanço nas regiões não
alcançadas? Jesus simplesmente não vale o risco para muitos de
nós? Qual é o limite a partir do qual não vale mais a pena seguir
pregando o Evangelho?
CONCLUSÃO
A nossa proclamação do “evangelho do reino para todo o mundo”[103]
será minada se o nosso desejo de preservar nossa vida competir
com o nosso desejo de “completar o [nosso] chamado e ministério, o
qual recebemos do Senhor Jesus, para testificar do evangelho da
graça de Deus”.[104] Ou, para dizer de forma positiva, nossa
contribuição para o cumprimento da Grande Comissão por meio das
missões globais será na mesma medida da nossa convicção de que
vale a pena fazer Cristo conhecido entre aqueles que estão
perecendo, oferecendo o investimento de nossas vidas
mortais. Sem essa convicção, simplesmente não poderemos
contribuir.
CAPÍTULO SEIS
O MARTÍRIO E O ISLÃ
MARTÍRIO E MINISTÉRIO
MARTÍRIO E O FIM
MARTÍRIO E MATURIDADE
“O SOAR DA TROMBETA”
“A GLÓRIA DO IMPOSSÍVEL”
O ESPÍRITO PIONEIRO
Esses líderes de Deus não foram armados com machadinhas e
sinetes, mas com a espada do Espírito e com o cinturão da
verdade. Eles foram e abriram caminho para aqueles que vieram
depois. Suas cicatrizes foram o selo de seu apostolado, e eles
também se gloriaram nas tribulações.
Como apóstolos pioneiros, eles “levavam sempre no corpo o
morrer de Jesus, e recomendavam-se a si mesmos como ministros
de Deus nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nas vigílias, nos
jejuns”.
Thomas Valpy French, bispo de Lahore, a quem o Dr. Eugene
Stock chamou de “o mais distinto de todos os missionários da
Church Mission Society”, tinha o verdadeiro espírito pioneiro e
conhecia a glória do impossível. Após 40 anos de trabalhos
abundantes e frutíferos na Índia, ele renunciou o seu episcopado e
planejou alcançar o interior da Arábia com o Evangelho. Ele era um
gigante intelectual e espiritual. “Viver com ele era beber de uma
atmosfera espiritualmente estimulante. Como o ar de Engadina
(destino favorito dos turistas na Suíça) é para o corpo, assim era
sua intimidade para a alma. Foi um aprendizado estar com ele. Para
ele, não havia nada de que um homem não devesse abrir mão –
casa, esposa ou saúde – se o chamado de Deus fosse claro. Mas,
de fato, todos sabiam que ele só exigia deles aquilo que ele próprio
já havia feito e estava sempre fazendo.” E quando Mackay, de
Uganda, fez o extraordinário apelo por uma missão direcionada aos
árabes de Omã, pedindo “meia dúzia de jovens, escolhidos das
universidades inglesas, para empreender a fé”, esse veterano
coração de leão, aos 66 anos de idade, foi o único a se candidatar.
Era a glória do impossível se manifestando. No entanto, quando
estava em Muscat, pouco antes de sua morte, ele escreveu:
Se eu não conseguir encontrar um ajudante e guia fiel para a
jornada ao interior, capacitado para lidar com os árabes e obter
suprimentos básicos e necessários (e desejo pouquíssimo),
posso tentar ir para o Bahrein ou para Hodeida e Saná [no
Iêmem], e se não der certo, posso retornar para o norte da
África novamente, em alguma região serrana; pois sem uma
casa para nos abrigar, o clima seria insuportável para mim –
pelo menos durante os meses mais quentes – e o trabalho
ficaria parado. Mas eu não vou desistir, por favor, Deus, mesmo
que temporariamente, dos meus planos de ir para o interior; a
menos que todas as estradas e rodovias estejam fechadas,
seria pura loucura tentar executá-los.
"Eu não vou desistir" – e ele não desistiu até morrer. Nem a
Igreja de Cristo desistirá do trabalho pelo qual ele e outros como ele
entregaram suas vidas em Omã. O trabalho continua.
A AMBIÇÃO APOSTÓLICA
As províncias não alcançadas da Arábia e do Sudão aguardam os
homens com o espírito do bispo francês. Então a ambição de
alcançar outras regiões, a partir de centros já alcançados, mesmo
quando esses mesmos centros enfrentam problemas de ordem
social e precisam de apoio, não é utópica ou fictícia, mas
verdadeiramente apostólica. “Tenho, pois, motivo de gloriar-me”,
disse Paulo, “pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado,
para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito:
Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo
os que nada tinham ouvido a seu respeito” (Rm 15.20-21). Ele
escreveu isso ao deixar uma cidade tão importante quanto Corinto,
e continua afirmando que essa é a razão pela qual ele ainda não
tinha visitado Roma, mas que ele esperava fazê-lo a caminho da
Espanha! Se os confins mais extremos do Império Romano faziam
parte de seu itinerário, pois já havia pregado Cristo de Jerusalém ao
Ilírico no primeiro século, certamente, no início do século 20, nossa
ambição deveria ser a de entrar em todos os campos não ocupados,
para que: “Possam vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e
compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito”.
“Não conhecemos um apóstolo sequer que tenha ido às nações
mediante a imposição de um simples comando. Cada um deles
foi movido pelo amor ao que lhe foi prometido quando recebeu
sua missão. Tudo era instintivo e natural. Eles eram igualmente
controlados pela visão comum, mas tinham várias visões
pessoais que os atraíram para onde eram necessários.
Nos primeiros dias do cristianismo, havia uma ausência do
espírito individualista. A maioria dos apóstolos morreu fora da
Palestina, embora a lógica humana os proibisse de deixar o
país até que fosse cristianizado. O instinto individualista é
morte para a fé, e se os apóstolos permitissem que isso
controlasse seus motivos e ações, teriam dito: “A necessidade
em Jerusalém é tão profunda, nossas responsabilidades para
com as pessoas de nosso próprio sangue tão óbvias, que
devemos nos dedicar ao princípio de que a amor começa em
casa. Depois de termos conquistado o povo de Jerusalém, da
Judeia e da Terra Santa em geral, então teremos tempo
suficiente para ir às nações; mas nossos problemas políticos,
morais e religiosos são tão grandes aqui nesse lugar, que é
manifestamente absurdo inclinar nossos ombros para receber
uma nova carga.”
Foi a grandeza da tarefa e sua dificuldade que motivou a Igreja
primitiva. Sua aparente impossibilidade foi a sua glória; seu caráter
mundial, sua grandeza. Isso continua sendo verdade nos dias de
hoje.
“Fico satisfeita”, escreveu Neesima, do Japão, “quando penso
no maravilhoso crescimento do cristianismo no mundo, e acredito
que se esse movimento encontrar algum obstáculo, ele avançará
com uma velocidade cada vez maior, assim como as águas de um
riacho, que correm mais rápido quando existem obstáculos no seu
curso.”
ESPERANÇA E PACIÊNCIA
Aquele que ara o solo virgem deve arar em esperança. Deus nunca
desaponta seus lavradores. A colheita sempre segue o tempo da
semente. “Quando chegamos ao nosso campo pela primeira vez”,
escreveu o missionário Hogberg, da Ásia Central, “era impossível
reunir algumas poucas pessoas para ouvir as boas novas do
Evangelho. Não podíamos chamar as crianças para a escola
dominical. Nós não podíamos distribuir evangelhos ou folhetos. Ao
construir a nova base, também construímos uma pequena capela.
Então nos perguntamos: ‘Será que um dia essa sala ficará cheia
com muçulmanos ouvindo o Evangelho?’. Nossa pequena capela
ficou cheia de ouvintes e ainda precisamos de uma sala maior! Dia
após dia pregamos o quanto permitem nossas forças, e os
muçulmanos não mais se opõem a ouvir a verdade do Evangelho.
‘Antes de vocês chegarem aqui, ninguém havia falado ou pensado
em Jesus Cristo; agora em toda parte se ouve o seu nome’, disse-
me um maometano. No início do nosso trabalho, eles jogaram fora
os evangelhos, os queimaram ou os devolveram; agora eles os
compram, beijam, levam-no à testa e ao coração, demonstrando a
mais alta estima que um muçulmano tem por um livro.”
Mas o lavrador pioneiro deve ter muita paciência. Quando
Judson estava preso a correntes, em um calabouço birmanês, um
colega de prisão perguntou, com um sorriso de desprezo, pela
perspectiva da conversão dos pagãos. Judson respondeu
calmamente: “As perspectivas são tão brilhantes quanto as
promessas de Deus”. Atualmente, não há outro país tão inacessível
ou onde as dificuldades sejam maiores do que a Birmânia dos dias
de Judson, quando ele as enfrentou e prevaleceu.
TENTE IR
Paulo tentou entrar na Ásia, mas o Senhor não permitiu. Ele então
tentou ir para Bitínia, mas “o Espírito Santo o impediu”. Ainda assim,
ele continuou tentando ir. Há pelo menos seis cidades em Atos 16.1-
6 às quais Paulo tentou levar o Evangelho. Somente depois dessas
tentativas foi que o Senhor lhe concedeu a visão do macedônio. Ele
acordou na manhã seguinte e foi imediatamente para as regiões do
norte. O que isso nos diz? Seja radical ao abraçar o “ide” e Deus
será radical ao conceder-lhe uma orientação específica.
Eu nunca fui chamado para ser missionário. Eu não fui
convocado. Eu me ofereci. Nenhum chamado especial foi
necessário. Eu escolhi ir. Eu quero ir. Eu sou obrigado a ir. Para
onde eu vou é uma questão determinada por uma Bíblia aberta
(Romanos 15.20-21) e um mapa aberto das regiões não alcançadas
onde Jesus ainda não é conhecido. Ir para representar Jesus e com
Jesus até os confins da terra é o privilégio ao qual se dedicar por
toda uma vida.
SOBRE O AUTOR
[105]
Acesse joshuaproject.net para mais informações.
[106]
Esse tipo de estatística varia dependendo de quem e como as informações
estão sendo coletadas. O Joshua Project é a fonte mais confiável em virtude da
extensão de suas pesquisas.
[107]
LINGEL, J. Consider Again Your Vocation. i2 Ministries (website).
Disponível em: <http://www.i2ministries.org/index.php?
option=com_content&view=article&id=13:consider-again-your-
vocation&catid=27:articles-category&Itemid=72>. Acesso em: nov. 2011.
[108]
ZWEMER, S, M. Raymund Lull: First Missionary to the Moslems. Diggory
Press, 2008, Kindle Edition, Prefácio.
[109]
1 Co 1-3.
[110]
Cl 1.24.
[111]
At 9.16.
[112]
OTIS JR, G. The Last of the Giants: Lifting the Veil on Islam and the End
Times. Grand Rapids, MI: Chosen, 1991, 261, 263.
[113]
ZWEMER, S. M. Raymund Lull: First Missionary to the Moslems.
Introdução.
[114]
Ibidem, cp. 3.
[115]
TUCKER, R.From Jerusalem to Irian Jaya: A Biographical History of
Christian Missions. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2010, Kindle Edition, cp. 2.
[116]
Ibidem.
[117]
ZWEMER, S. M. Raymund Lull: First Missionary to the Moslems. cp. 5.
[118]
TUCKER, R. From Jerusalem to Irian Jaya: A Biographical History of
Christian Missions, cp. 2.
[119]
ZWEMER, S. M. Raymund Lull: “First Missionary to the Moslems, cp. 9.
[120]
Ibidem.
[121]
Ibidem.
[122]
Ibidem.
[123]
Veja At 6-7.
[124]
GUINNESS, H. Sacrifice. Chicago: IVP, 1947, 59-60.
[125]
LAKE, J. G. JOHN G. LAKE ANTHOLOGY: THE COMPLETE COLLECTION
OF HIS LIFE TEACHINGS. LIARDON, R. (ORG.). NEW KENSINGTON, PA:
WHITAKER HOUSE, 1999, 36-41.
[126]
Dn 12.1-7; Jr 30.5-7; Mt 24.9-31.
[127]
Ap 7.9-14.
[128]
Tradicionalmente os doze discípulos têm sido representados em trabalhos
artísticos como homens mais velhos. Isso é muito improvável. Quando Jesus os
chamou, ele estava agindo de acordo com os costumes rabínicos de chamar e
treinar jovens para o ministério. Os doze discípulos eram provavelmente jovens
adultos na faixa dos vinte anos.
[129]
Veja Is 63.18; Dn 8.13-14; 9.26-27; 11.30-12.13; Mt 24.15-31; 2 Ts 2.1-11; Ap
11.1-2.
[130]
Alguns citam Colossenses 1.23 e Romanos 1.8 como evidência de que o
evangelho já havia sido proclamado a todas as nações no primeiro século. Este
autor acredita que se trata de um manuseio pobre do texto e recomenda o artigo
de PIPER, J. Has the Gospel Been Preached to the Whole Creation Already?
In: Desiring God (website). Disponível em:
<http://www.desiringgod.org/blog/posts/has-the-gospel-been-preached-to-the-
whole-creation-already>.
[131]
Ap 13.
[132]
1 Jo 2.
[133]
2 Ts 2.
[134]
Dn 7; 8; 11.
[135]
Ef 4.11-13.
[136]
Mt 24.9-14; Ap 6.9-11; 7.9-14; 12.7-12.
[137]
Mt 16.18-19.
[138]
Jo 17.20-26.
[139]
Ef 4.11-15.
[140]
Hb 6.1-3.
[141]
1 Pe 2.1-3.
[142]
HOVEY, C. To Share in the Body: A Theology of Martyrdom for Today’s
Church. Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2008, Kindle Edition, 18-19.
[143]
1 Pe 4.1.
[144]
“Os do Caminho” foi o nome adotado pela comunidade cristã primitiva para se
referir a eles mesmos (At 9.2; 18.26; 19.9, 23; 22.4; 24.14,22).
[145]
Rm 8.29.
[146]
Fp 3.10-11.
[147]
Jó 1 e Zacarias 3 nos dizem que Satanás tem acesso às cortes do céu. Paulo
falou dele como “o príncipe do poder do ar” (Efésios 2.2) e “o deus desta era” (2
Coríntios 4.4). Atualmente ele mantém uma posição temporária de autoridade em
“lugares celestiais” (Efésios 6.12). Durante a tribulação final, ele será deslocado
dessa posição antes de sua derrota final.
[148]
Alguns ensinam que Apocalipse 12 descreve o despejo histórico de Satanás
do céu, afirmando a ideia de que esse evento já aconteceu. No entanto, o texto e
seu contexto deixam claro que se trata de um evento escatológico futuro que
ocorre durante a “Grande Tribulação” (Apocalipse 7.14; Mateus 24.15-31; Daniel
12.1-7). Observe a relação entre Satanás sendo lançado para baixo e os santos o
vencendo: “Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o
dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram;
nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga
serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi
atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos. Então, ouvi grande voz do céu,
proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a
autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo
que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por
causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e,
mesmo em face da morte, não amaram a própria vida. Por isso, festejai, ó céus, e
vós, os que neles habitais. Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós,
cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12.7-12).
[149]
At 20.27.
[150]
Ap 12.11.
[151]
Hb 11.32-40.
[152]
Ap 5.9-10.
[153]
Fp 1.20-21.
[154]
LAKE, J. G. John G. Lake: The Complete Collection of His Life Teachings.
LIARDON, R.(org.). New Kensignton PA: Whitaker House, 1999, 36-41.
[155]
ZWEMER, S. The Unoccupied Mission Fields of Africa and Asia. The
Student Volunteer Movement; 1st. ed. 1911.
[156]
SITTON, D. Don’t Complicate the Missionary Call. In: To Every Tribe
(website). Disponível em:
<http://66.132.241.23/uploads/Dont_Complicate_the_Call.pdf>. Acesso em: 2011.
[157]
Para mais informações sobre David Sitton e o ministério Every Tribe
Ministries, visite: http://www.toeverytribe.com.
[158]
STEARNS, B. and A. Run With The Vision. Bethany House Publishers, 125-
126.