Você está na página 1de 15

O PADROADO PORTUGUÊS

PADROADO
É a outorga, pela Igreja de Roma, de um certo grau
de controle sobre uma igreja local ou nacional a um
administrador civil. Foi uma instituição que, a partir do
século XIII, com as monarquias ibéricas criaram para
estabelecer alianças com a Santa Sé. As coroas ibéricas
exerceram grande influencia na administração eclesiástica
de seus impérios ultramarinos. O padroado português
consistia na concessão de privilégios e na reivindicação de
direitos, invocando a coroa sua qualidade de protetora das
missões eclesiásticas na África, na Ásia e no Brasil.
Através deles, a monarquia promovia, transferia ou afastava
clérigos; decidia e arbitrava conflitos nas respectivas
jurisdições das quais ela própria fixava os limites.
AS ALIANÇAS NO PADROADO
BULAS PAPAIS
Dum Diversas
É uma bula papal publicada em 18 de junho de 1452 pelo Papa
Nicolau V. Através desta, dirigida ao rei Afonso V de Portugal, o
pontífice afirma:"
(...) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com
nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir,
buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer
outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como
também seus reinos, ducados, condados, principados e outras
propriedades (...) e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão, e
apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os
reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados,
condados, principados e outras propriedades, possessões e bens
semelhantes (...).
"Esta bula é considerada por alguns historiadores como uma
resposta à ameaça sarracena, quando houve o grande choque
cultural entre cristãos, muçulmanos e pagãos, conhecidos e temidos
pelos cristãos por fazer em escravos, matarem e estuprarem. A Bula
tinha por objetivo final, contudo, a conversão dos muçulmanos e
pagãos escravizados. Em 8 de janeiro de 1554, estes poderes foram
estendidos aos reis da Espanha.
BULAS PAPAIS
Romanus Pontifex

Foi uma bula pontifícia emitida pelo Papa Nicolau V


para o Rei Afonso V de Portugal, datada de 8 de Janeiro
1455. Neste documento, e na sequência da anterior bula
Dum Diversas de 1452, o papa reconhecia ao reino de
Portugal, nomeadamente ao rei Afonso V e sucessores
como o Infante D. Henrique, o seguinte:
“A propriedade exclusiva de todas as ilhas, terras, portos e
mares conquistados nas regiões que se estendem "desde
o cabo Bojador e cabo Não (atual cabo Chaunar), ao longo
de toda a Guiné e mais além, a sul."
O direito de continuar as conquistas contra muçulmanos e
pagãos nesses territórios.”
DIREITOS E OBRIGAÇÕES

- Apresentação para o s benefícios eclesiásticos, incluindo os episcopais


- Conservação e reparação das igrejas, mosteiros e lugares pios das
dioceses
- Indicação ou suspenção dos clérigos nas áreas sob sua administração
- Construção de prédios apropriados ao desenvolvimento dos cultos.

São Luis, rei da França


A união Estado-Igreja, a manutenção
dos poderes e conquistas.
BENEPLÁCITO RÉGIO
Beneplácito é um preceito que mandava que as
determinações da Igreja Católica, para terem validade no
território de Portugal, tinham que receber a aprovação
expressa do monarca. Esta prerrogativa do rei existia já ao
tempo de D. Pedro I, se não antes, e foi abolida em 1487, no
reinado de D. João II.
Nas Ordenações afonsinas (Livro II, Título XII), mantém-se até
15 de Março de 1487, data em que foi abolido a pedido
expresso de Inocêncio VIII.
Contudo, a Coroa continuou a exercer controle
indireto sobre certos atos e documentos eclesiásticos, e o
beneplácito régio voltou mesmo a ser instituído pouco tempo
depois e a alargar-se. A imposição deste direito do Estado só
terminou no período da República.
EVANGELIZAÇÃO
São Francisco Xavier, a serviço de El-Rei D. João III, chega
a Índia em 1542, permanecendo em Goa.
- Em 1545 se dirige para Malaca.
- Em 1548 regressa a Cochim
- Em 1549 inicia a evangelização do Japão
- Morre em 3 de dezembro de 1552
MISSÕES NA AMÉRICA
CATEQUIZAÇÃO – ASSIMILAÇÃO – CONVERSÃO –
INTEGRAÇÃO
A ação dos jesuítas foi de extrema importância para a
pregação da fé, consolidação da conquista lusitana e
penetração do poder espiritual nas novas terras de África,
América e Ásia.
A aliança, motivada pelo padroado, Estado-Igreja,
sustenta o processo de catequização do império lusitano,
porem alguns fatores promoverão o fim desta união, como:
- A União Ibérica
- A presença de outras nações, colonizadoras-
evangelizadoras
- Os ideais iluminista (despotismo esclarecido)
- Disputas entre europeus e nativos na obtenção de cargos
eclesiásticos no Oriente.
- Processo de decadência das monarquias nacionais.
A DECADÊNCIA DO PADROADO
PORTUGUÊS NA ÁSIA
Nos primeiros anos de conquista da Ásia apenas Portugal
mantinha, nestas terras colônias, feitorias e missões. Conforme acordo
estabelecido entre Igreja e Estado lusitano, os missionários deveriam
passar por Lisboa e, posteriormente embarcar desta cidade para as
localidades indicadas pelo rei de Portugal. Alem do mais, as carreiras
de navegação para África e Ásia eram de exclusividade do portugueses.
Em 1608, o Papa Paulo V revogou este favor para as ordens
mendicantes e , em 1673 o Papa Clemente X estendeu este favor aos
clérigos seculares. Assim seguiam para o oriente missionários que não
estavam mais sob a vigilância de Portugal mas sim sob a pressão da
Santa Sé.
Ainda no século XVII a Santa sé enviava bispos ao Japão, Índia
e arredores do império. Sem prévia consulta, a Igreja toma as rédeas
da evangelização sem mais pedir-exigir auxílio lusitano para a
catequização.
ADMINISTRAÇÃO E CONFLITOS ÉTNICOS-
RELIGIOSOS
Admitir nas ordens, especialmente nas jesuítas, nativos
recém convertidos esbarrava em uma certa discriminação. Pois,
como poderiam os “cristão novatos” se comparar aos velhos e
calejados “cristãos adultos”?
No caso indiano o sistema de castas colaborava
enormemente para tais teorias, pois já esta enraizado velhas
desconfianças em relação as ditas classes inferiores.
Em outras regiões do império se observam as mesmas
medidas, porem mais amenas.
No caso do Brasil, que foi, além de catequizado,
efetivamente colonizado, se observa a permanência do padroado
até os finais do século XIX com a proclamação da república. Nota-
se também, de certo modo, a criação de uma Igreja Católica “ao
modelo americano”. Podemos perceber tis traços religiosos
peculiares quando se analisam os aspectos da teologia da
Libertação e movimentos sociais (ditos de inspiração católica).
As perseguições sofridas pelos jesuítas e sua expulsão
das colônias imperiais lusitanas levou a uma escassez de
vocações, o que incentivava a entrada de nativos nas diversas
ordens.
havia também a atuação da inquisição que barrava a
tentativa de ordenação de nativos ou ex-escravos. O papel das
ordens religiosas no Brasil, especialmente a Jesuíta, seria o de
colaborar, não somente na catequização mas também na
estruturação da colônia de maneira que esta viesse a se
adequar às necessidades políticos-religiosas já estabelecidas
pela prática do padroado.
Em 1757, quando são expulsos os jesuítas do Brasil, tal
ordem começa a desmoronar, não que se concretize um
verdadeiro caos, mas sim se estabelece uma grande
desconfiança na manutenção da ordem, anteriormente
conquistada. O Brasil tinha tudo para não dar certo, mas parece
que algumas coisas funcionaram e por incrível que pareça, ainda
funcionam.
.

MATOS, Henrique Cristiano José. Nossa história: 500 anos de presença da


Igreja católica no Brasil . TOMO I – 2ª ed. – São Paulo: Paulinas: 2010
____________________. Nossa história: 500 anos de presença da Igreja
Católica no Brasil. TOMO II – 2ª ed. – São Paulo: Paulinas: 2010
MOURA, Laércio Dias. Educação Católica no Brasil. São Paulo: Ed.
Loyola, 2000.
OLIVEIRA, Pe. Miguel de. História da Igreja. 4ª edição, união gráfica.
Lisboa: 1959.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil: São
Paulo: Companhia das Letras, Segunda edição. 1995
TERRA, João Evangelista Martins. Catequeze de índios e negros no
Brasil colonial. Aparecida. SP: Editora Santuário, 2000.
VILHAÇA, Antônio Carlos. O pensamento católico no Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
“O europeu que, forçando a tradição bíblica, fizera do Deus dos hebreus
o rei dos homens, agora tinha de incluir aquela indianidade pagã na
humanidade do passado, entre os filhos de Eva expulsos do Paraíso, e
do futuro, entre os destinados à redenção eterna.”

Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.

Você também pode gostar