Você está na página 1de 31

DISCIPLINA: Pentateuco e Históricos

PROF.: Pe. Ednaldo Virgílio da Cruz

LIVROS HISTÓRICOS

A denominação “Livros Históricos”, que é uma categoria cristã e


surge por volta do século IV d.C. nos escritos dos Padres da Igreja, apresenta
ao leitor da Bíblia algumas contradições evidentes, no que diz respeito a
posição canônica, quando esse compara a forma desses livros com a sua
coleção. Na verdade, tanto na disposição hebraica quanto na cristã, existe
uma sequência narrativa que parte da criação e termina com o final dos dois
reinos, Israel e Judá, sequência esta apresentada nos livros que vão do Livro
do Gênesis ao Segundo Livro dos Reis. Na perspectiva cristã, são
introduzidos entre os Livros Históricos outros textos que propõem uma
sequência paralela (em parte narrativa e em parte com escopo integrativo),
ou seja, os dois livros das Crônicas e os de Esdras e Neemias, nos quais se
desenvolve um arco temporal que se estende de Adão até a reconstrução da
comunidade hebraica em Jerusalém e em Judá, obra de dois dirigentes que
gozavam dos favores da corte persa. A esses livros, na tradição cristã
católica, ortodoxa e reformada, se acrescentam os livros de Rute e Ester,
enquanto somente os católicos e os ortodoxos incluem a essa denominação
os livros de Tobias, Judite e 1 e 2 Macabeus.1
A tradição hebraica, ao contrário, considera separadamente os
cinco primeiros livros da Bíblia e os designa sob a denominação de Torá

1
No cânon das Igrejas de língua grega e eslava é incluido ainda o Terceiro Livro dos Macabeus.
(instrução, lei). Os livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis são, por
sua vez, designados Profetas Anteriores e são, portanto, compreendidos
como um primeiro conjunto – em referência à coleção sucessiva designada
Profetas Posteriores – que reúne o testemunho e a palavra dos intermediários
entre Deus e o povo que desempenharam um papel decisivo no
desenvolvimento e na definição da religião hebraica.2 Os outros livros que a
tradição cristã denomina históricos pertencem à Terceira seção da Bíblia
Hebraica - os escritos (Ketubim): Rute, Ester, Esdras, Neemias, Crônicas,
Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus.
Eis o elenco dos dezesseis livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1–
2 Samuel, 1–2 Reis, 1–2 Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester,
1–2 Macabeus.
Nestes livros narra-se a história de Israel desde a conquista da terra
prometida por Josué (1180 a. C.) até quase a época do Novo testamento.
Encerra-se com a morte de Ptolomeu, o assassínio de Simão (1Mc 16,22).
Esta história não aspira a ser completa nem exaustiva, mas seletiva, no
sentido de que a finalidade dos historiadores sagrados foi primariamente a
de desenvolver uma tese religiosa servindo-se dos fatos. Dentre o imenso
arsenal de informação que tiveram em mãos, retransmitiram a posteridade
aquelas notícias que de perto ou de longe tinham conexão com verdades
religiosas, morais e cultuais. Todavia, mais que da história de Israel
propriamente dita, cabe falar de história do progresso da revelação, das
vicissitudes do pacto da aliança ou das relações de Deus para com seu povo
eleito. Apesar de que esta história seja parcial, incompleta, excessivamente
sóbria e escrita com métodos deficientes em comparação com aqueles que
são empregados pela historiografia moderna, contudo, é muito superior a das
outras antigas nações orientais, tanto “por sua antiguidade como pela fiel

2
O Talmude afirma: “A sequência dos profetas é: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Jeremias, Ezequiel, Isaías
e os Doze” (Baba Batra 14b).
narração de fatos, o qual seguramente procede do carisma da divina
inspiração e do fim peculiar da história bíblica, que é religioso”3.
Pelo fato de ser Deus o autor principal de todas e cada uma das
partes autênticas destes livros, se exclui dos mesmos todo erro formal. A
inerrância bíblica é absoluta e total, de fato e de direito, em tudo o que o
autor afirma e no sentido em que o faz. Além das notas inerentes a todo livro
inspirado, encontram-se nos múltiplos livros históricos do Antigo
Testamento distintas formas de dizer e narrar, métodos históricos próprios
da índole, formação intelectual e condições de vida de cada escritor, do
ambiente cultural que respiraram, etc. Não é uniforme neles a maneira de
utilizar as fontes de informação, orais e escritas. Algumas vezes as citam
explicitamente, outras as incorporam em todo ou em parte de seu livro sem
aviso prévio.
Cada autor, segundo os tempos, lugares e necessidades dos
destinatários de seu livro, teve uma finalidade concreta ao escrever, pela qual
as páginas de seu livro devem julgar-se a luz do fim proposto.

1. DIVISÃO
Os livros históricos ocupam a maior parte do Antigo Testamento.
Poderemos dividir esse conjunto em quatro grupos:

1º - Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis.


Formam um relato mais ou menos contínuo, apresentando a
história do povo desde a conquista da terra até o exílio na Babilônia. Tais
livros mostram que a história de Israel depende da atitude que o povo toma
na aliança com Deus. Se o povo é fiel a aliança, Deus lhe concede a bênção,
que se concretiza no dom da terra e na prosperidade. Se o povo é infiel, atrai

3
Pio XII, Divino afflante Spiritu: “Enchiridion Biblicum” (Bologna 2004) n. 558
para si mesmo a maldição, que se traduz em fracasso histórico e perda da
terra. Estes livros contemplam um arco temporal bastante amplo que pode
ser dividido em quatro etapas:
a) Época da conquista (Js);
b) Época precedente à monarquia (Jz);
c) Época do início da monarquia (1–2 Sm e 1Rs 1–11);
d) Época dos dois reinos (1Rs 12–2Rs 25).

2º - 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias.


Abarcam o tempo do pós-exílio babilônico até meados do séc. III
a.C. A preocupação básica é fundamentar e organizar a comunidade depois
do exílio na Babilônia (Esdras e Neemias). Para isso, seus autores repensam
toda a história do povo, a fim de fundamentar a vida da comunidade judaica
e sua forma de governo, polarizada pelo culto no Templo de Jerusalém (1 e
2 Crônicas).

3º - Rute, Tobias, Judite, Ester.


Mais do que história propriamente dita, esses livros são narrativas.
Sua intenção é apresentar modelos particulares de vivência e aplicação da fé
dentro de situações difíceis, principalmente as enfrentadas pelos judeus fora
de sua terra.

4º - 1 e 2 Macabeus
Relatam a resistência heroica de um grupo de judeus diante da
dominação estrangeira que ameaça destruir a identidade cultural e religiosa
da comunidade judaica.

2. FORMA LITERÁRIA
A forma literária apresenta diferenciações interessantes:
O livro de Josué inclui materiais de gêneros diversos: Js 2–11 contém
episódios que derivam com grande probabilidade da tradição narrativa do
povo, por vezes relacionadas a lugares bem definidos ou a áreas geográficas,
enquanto Js 13–21 inclui listas, que poderiam ter origem de caráter
administrativo, ainda que algumas traiam com frequência sua possível
origem na erudição escrita. O livro se conclui em seguida com dois discursos
do protagonista (Js 23–24).
O livro dos Juízes também apresenta uma composição peculiar que
aparece como resultado da coleção de tradições diferentes e determinadas
por pontos e vista bastante diversos. É possível indicar uma subdivisão do
livro, inicialmente já do ponto de vista formal: 1,1–2,5 tem a função de
introdução: o corpo do livro (2,6–16,31) trata a respeito dos “juízes”,
contudo não numa sequência temporal, mas em uma série de episódios que,
seja pela ambientação geográfica, seja pela sequência dos dados
cronológicos, se apresentam essencialmente como autônomos; Jz 17–21
serve como apêndice e incorporam tradições antigas.
Os livros de Samuel, ao contrário, e os livros dos Reis, expõem em
uma linha narrativa contínua o caminho que levou à formação dos dois reinos
e à sua dissolução, mas uma observação mais detalhada mostra que as
diversas partes que os compõem manifestam om frequência uma importante
autonomia, a tal ponto de serem consideradas por muitos intérpretes como
blocos independentes de tradições:4
✓ A referência às ações de Samuel (1Sm 1–7) onde ele é apresentado
como profeta de YHWH (1Sm 3,20), mas também como último juiz
(1Sm 7,6.15).

4
Cf. RÖMER, T. Dal Deuteronomio ai libri dei Re – Introduzione storica, letteraria e teologica. Turim:
Claudiana, 2007, p. 13-16.
✓ A ascensão de Saul ao trono (1Sm 8–12) que apresenta versões
diferentes do modo pelo qual Saul se tornou rei de Judá e de Israel
(cap. 10–11).
✓ O declínio de Saul (1Sm 13–15), que prefigura a sorte futura do reino
(a dicotomia Norte-Sul, na qual o Reino do Norte é assinalado com
uma mancha original; o culto ilegítimo praticado em nítido contraste
com o código deuteronomista; o fim da experiência monárquica já que
os preceitos divinos foram descumpridos).
✓ A história de Davi narrada em 1Sm 16–2Rs,11 é distinta em duas
grandes seções: a primeira trata da ascensão de Davi ao trono (1Sm
16–2Sm 5), na qual se ressalta o ciúme de Saul em relação ao seu rival,
que contrasta com o comportamento dos seus filhos: Jônatas e Micol
em relação a Davi; 2Sm 6–8 inclui, por sua vez, alguns blocos
independentes de tradições diferentes que fazem uma ponte para a
seção seguinte: o relato da arca (cap. 6); o oráculo de Natã (cap. 7), o
elenco dos sucessos militares de Davi e o de seus funcionários (cap.
8).
✓ A segunda parte da história de Davi (2Sm 9–1Rs 2) é frequentemente
chamada de história da sucessão ao trono ou história da corte
(designação mais aceita atualmente).
✓ A história de Salomão (1Rs 3–11) apresenta uma estrutura bipartida,
determinadas pelas duas aparições divinas ao rei (3,4-15; 9,1-9): na
primeira parte Salomão é apresentado como rei exemplar e piedoso
((1Rs 3–8), na segunda (1Rs 9–11), mesmo ressaltando a pompa e os
sucessos de Salomão, a descrição culmina com a sua apostasia, devida
ao fato de que ele se deixou influenciar por mulheres e divindades
estrangeiras (1Rs 11).
✓ Em seguida se apresenta a história paralela dos dois reinos e esse
conjunto pode ser definido como história dos reis de Israel e de Judá
(1Rs 12–2Rs 17). A conclusão (2Rs 18–25) é dedicada ao último
período do reino de Judá até a conquista de Jerusalém pelos babilônios
e a concessão da graça a Joaquim (2Rs 25,27-30).

3. AUTORIA
Da mesma forma para o Pentateuco, também para os “Profetas
anteriores” os rabinos identificaram os autores com os próprios
protagonistas dos livros, ou com os contemporâneos aos fatos narrados.
Assim se afirma no Talmude Babilônico: “Josué escreveu o livro que tem
o seu nome e os últimos oito versículos da Torá. Samuel escreveu o livro
que tem o seu nome e os livros dos Juízes e Rute [...]. Jeremias escreveu
o livro que tem o seu nome, os livros dos reis e Lamentações: (Baba
Bathra 14b-14a). As afirmações do Talmude foram acolhidas sem
objeções importantes até o século XVI, época na qual se assiste ao
surgimento da pesquisa crítica sobre a Bíblia.

4. GUIA PARA A LEITURA DE CADA LIVRO


a) LIVRO DE JOSUÉ
Moisés antes de morrer transmite toda sua autoridade a Josué (cf.
Nm 27,18-23) para conduzir o povo à terra prometida e também sua
divisão entre as doze tribos de Israel. Ele estava cheio do espírito de
sabedoria, pois Moisés havia posto suas mãos sobre ele (Dt 34,9);
confiou-lhe a missão de velar sobre a estreita observância da Lei.
Portanto, o livro constitui, a continuação lógica do relato do Pentateuco
e, ao mesmo tempo, o início de uma nova época na história do povo eleito,
que vê realizadas as promessas feitas aos antepassados e lançadas as bases
do próprio futuro como nação.
O livro foi escrito em hebraico; descreve a invasão, a conquista e a
divisão da terra de Canaã por Israel, apresentado como um grupo nacional
organizado em doze tribos e sob o comando eficaz de Josué, sucessor de
Moisés. Essa imponente sequência narrativa que inicia com o livro do
Gênesis e termina com os livros dos Reis, Josué apresenta com traços
épicos os filhos de Israel, escolhidos por YHWH, tomaram posse de uma
terra já habitada, mas destinada a eles.

1. JOSUÉ
Filho de Nun5 (Ex 33,11; Nm 11,28; 13,8.16; Dt 1,38; 32,44; Js 1,1),
da tribo de Efraim (Nm 13,8), distinguiu-se no combate contra os
amalecitas (Ex 17,8-16), acompanhou Moisés ao Sinai (Ex 24,13; 32,17),
tomou parte, como representante de sua tribo, na expedição de
reconhecimento em Canaã (Nm13,8; 14,38), opondo-se, juntamente com
Caleb, a ação desmoralizadora dos outros que pintaram o país e seus
habitantes como inconquistáveis. Justamente por ter exortado o povo a
colocar sua confiança em Deus, que manteria suas promessas, foi
assegurado a ambos o privilégio de entrarem em Canaã (Nm 14,30.38;
26,65; 32,12). Moisés escolhera Josué como seu servo ou ministro (Ex 24,
13), quando este devia ser ainda bem jovem (Ex 33,11, onde se diz que ele
é na a̒ r)6, associando-se ao serviço da Tenda da aliança. Quando Moisés,
já perto da morte, pede a Javé que indique a ele quem deverá ser o seu
sucessor, para que o povo não fique como rebanho sem pastor (Nm
27,15ss), Javé designa Josué, que é investido por Moisés na sua mesma

5
Nun. Em 1Crônicas 7,27 o Texto Massorético traz Non. A LXX – Nauh (Eclo 46,1), derivaria de uma
leitura errônea de NAYH por NAYN. Nun significa peixe.
6
O termo possui um significado bastante elástico e não basta por si só para estabelecer a idade de Josué, a
não ser aproximadamente. Mas a notícia de 24,29 segundo a qual Josué morreu com cento e dez anos, após
os 40 anos no deserto e após 35 anos, aproximadamente, decorridos entre a entrada em Canaã e a morte,
autoriza-nos a concluir que no segundo ano do êxodo já contaria uns 35 anos, coetâneo mais ou menos de
Caleb, com o qual foi enviado para explorar o país de Canaã(cf. Nm 13s); ora Caleb tinha 85 anos (14,10)
na época da primeira divisão (em Guilgal), quando também Josué é chamado de velho (13,1).
autoridade numa solene cerimônia religiosa (Nm 27,18-23; cf. Dt
31,7s.14s.23).
Observou-se que a presença de Josué nos relatos do Pentateuco não
é muito notável. Na fonte J, ele aparece pela primeira vez em Ex 17,8, sem
apresentação, como alguém já conhecido, como o ajudante militar de
Moisés, o qual lidera a batalha contra Amalec. Depois disso ele
acompanha Moisés a montanha (Ex 24,13; 32,17), compartilha a
proximidade de Moisés com Iahweh (Ex 33,11) e, age como seu
aconselhado impetuoso (Nm 11,28). Em ambas as fontes J e P, Josué
figura no episódio do envio dos espiões (Nm 13-14), mas ele é claramente
subordinado a Caleb (cf. Nm 14, 24, 30). Especialmente na fonte P ele é
uma figura secundária; seu nome é duas vezes dado como Oséias (Nm
13,8; Dt 32,44), e Eleazar o sacerdote, o precede no comando relativo as
tribos transjordânicas (Nm 32,28) e na distribuição da terra (Nm 34,17; cf.
Js 14,1; 17,4; 19,51; 21,1). Mesmo em Deuteronômio seu papel é menor;
ele é mencionado somente nas últimas partes do livro, antecipando seu
divino comissionamento como sucessor de Moisés (Dt 3,28; 31,14,23).
Na tradição judaica tardia, Josué é uma conexão essencial na cadeia
de transmissão da Torá a partir de Moisés.
Na tradição cristã, Josué se torna um protótipo do guerreiro cristão
e, em vários períodos específicos da história são feitas alusões a Josué
como justificação para ações militares extremas, assim como as cruzadas.
Josué representa um modelo de liderança que não encontrará mais
um seguidor propriamente dito, implicitamente preparando o leitor da
história sucessiva ao seu nefasto resultado. A lei dada a Moisés no Sinai é
o ponto de referência, constantemente mencionado pelos chefes e pelo
povo: observando a lei, Israel demonstra a sua fidelidade ao pacto com
YHWH, mas o livro é encerrado propriamente com a previsão da
infidelidade do povo ao deus ciumento, o qual, assim como realizou suas
promessas, poderia agora levar a cabo também as maldições apenas ao
pacto (cf. Js 23,6-16; 24,19-20), se o parceiro humano se demonstrasse
infiel. O livro culmina com o convite ao povo a um solícito
reconhecimento em relação a Deus que doou a terra prometida aos
antepassados.

2. Título
Enquanto os títulos dos diversos livros do Pentateuco são tirados
do conteúdo (LXX) ou das palavras iniciais (TM)7. O livro que agora é
objeto de nosso estudo é designado de acordo com o nome daquele que
sucedeu a Moisés na direção do povo hebraico e tem, no relato, a parte
preponderante ou de protagonista: Josué (cf. Ex 33,11; Nm 11,28; 27,18;
32,28). Isto não quer dizer, todavia, que lhe caiba a paternidade da obra
literária, nem, talvez, que tudo aquilo que se narra na obra tenha sido
efetivamente realizado ou levado a termo por ele.
Na literatura sapiencial também encontramos referência a pessoa
de Josué. O texto de Eclo 46,1: “Josué, filho de Nun, sucessor de Moisés
no ofício profético”8. Cujo texto deu ocasião de atribuir a Josué o livro
que leva seu nome. Todavia, o título refere-se ao conteúdo do mesmo,
não a seu autor. O mencionado texto de Eclesiástico 46,1 diz apenas que
Josué sucedeu a Moisés na missão profética (Ex 17).

3. Estrutura
O livro é composto por duas partes principais:

7
Sem qualquer acréscimo no TM e nos LXX, excetuando alguns códices que acrescentam uioi, Nauh. A
versão siríaca acrescenta discípulo de Moisés, enquanto São Jerônimo combina transcrevendo, hebraico e
grego: Josué Ben Nun id est Jesus Nave.
8
Conta a Vulgata não só os LXX (dia,docoj Mwush/ evn profhtei,aij) como também o original hebraico
(mešärët möšè benabô̒”ah, literalmente: ministro de Moisés no ofício profético), dizem mais explicitamente
que Josué foi sucessor ou ministro de Moisés
1ª) 2–12: incluem um conjunto de relatos que narram a conquista do
país e os seus preparativos;
2ª) 13–22: contém sobretudo listas que documentam a divisão do país
entre as doze tribos.
Essas duas partes são emolduradas por discursos (cap. 1: discurso
de YHWH a Josué, discurso de Josué ao povo; cap. 23–24).

O relato começa com a notícia de uma transferência de poder (1,1):


Moisés terminara a sua missão (cf. Dt 34,10-12), mas o povo tem
necessidade de um novo líder para completar a iniciativa empreendida
com a saída do Egito. O discurso divino (1,2-9) se constitui como a
retoma de motivos já conhecidos: a descrição da terra nos v. 3-4 repete a
que Moisés já fizera em Dt 11,24-25; a promessa do v. 5b retoma Dt
31,23; a tarefa confiada a Josué (v. 6b) e o repetido encorajamento (v.
6.7.9) retomam as últimas palavras de Moisés a Josué e ao povo (Dt 31,6-
8.23); a garantia divina de que ninguém poderá resistir à Josué (v. 5a),
retoma aquela que já fora dada a Israel em Dt 7,24. Ao mesmo tempo, o
discurso divino anuncia a trama que virá a seguir: a travessia do Jordão
(v. 2; cf. cap. 3–4; 22); a conquista (v. 3-5; cf. cap. 6–8; 10–12), a
concessão da terra (v. 5; cf. cap. 13–21) e a obediência à Lei (v. 7-8; cf.
cap. 5; 7; 9; 23–24).
Em 1,4 o território da Terra Prometida é descrito como em Dt
11,24. A última exortação de Josué (1,7-8) coloca a obediência à Lei
como fator central, a qual, segundo a perspectiva do Deuteronômio, é
codificada em um séfer (texto escrito). O pedido que Deus formula a
Josué eleva a sua figura ao grau de realeza e está alinhado com o que Dt
17,18-19 prescreve para o rei. Prontamente Josué se põe a trabalhar para
realizar o que Deus lhe ordenara (1,10-15).
Com o capítulo 2, a cena muda e remete agora ao território a ser
conquistado. Antes da travessia do Jordão, Josué envia exploradores ao
país, que chegam à Jericó e se hospedam junto a uma prostitua chamada
Raab (2,1-24). O episódio de desenrola em três diálogos: entre Raab e os
emissários do rei de Jericó (v.3-5), entre Raab e os espiões no terraço da
sua casa (v. 8-14), entre os espiões em fuga pela janela de Raab (v.16-
21). O envio dos espiões está alinhado com a situação narrativa que prevê
uma guerra iminente (cf. 7,2; Dt 1,22-25; Jz 18,2-10).
Tal qual a travessia do Mar dos Juncos, também a travessia do
Jordão representa um evento decisivo na história do povo de Israel e isso
justifica o espaço que a narrativa lhe dedica (3,1– 4,24). Em ambos os
casos o povo passa de uma condição a outra: no Mar dos Juncos passa da
escravidão a uma existência guiada e sustentada por YHWH, em direção
à realização da promessa feita aos pais; no Rio Jordão, passa de uma
existência nômade para sedentária. Em ambos os casos o movimento não
é completamente linear: tanto o caminho do deserto quanto a posse da
terra, exigem uma adesão fiel a Deus. O deserto, de fato, desafia a
necessidade de segurança e de garantias para a vida (água, comida,
proteção) e o povo em dificuldade murmura contra YHWH, acusado de
ignorar o seu sofrimento. Analogamente, o ingresso no país se apresenta
como um grande desafio, pois o território é habitado: isso indica que a
travessia é o prelúdio de uma guerra que exigirá do povo confiança
absoluta no poder do seu Deus de assegurar a vitória.
A vida no país é inaugurada em Guilgal – que será depois sede de
um santuário – por meio de dois atos rituais: a circuncisão (5,1-9) e a
celebração da Páscoa (5,10-12). Ambos recordam aos filhos de Israel o
fundamento da sua identidade: a promessa aos pais a partir de Abraão, a
quem a narrativa bíblica remete a circuncisão como sinal do pacto com
Deus (Gn 17,9-14) e o evento salvífico que garantiu a redenção ao povo
e do qual a Páscoa é memorial (cf. Ex 12,1-19).
Segue-se então o relato da conquista de Jericó (5,13 – 6,27). Jericó
é uma espécie de porta de acesso à terra. Como Jordão, também os muros
de Jericó representam uma barreira a conquista, mas Deus a supera sem
qualquer esforço, realizando a promessa de Dt 9,1-3.
A seção que vai de 7,1 – 8,29 apresenta uma sequência contínua,
construída ao redor de dois blocos: a violação do anátema (7,1-26) e a
conquista da cidade de Hai (8,1-29).
Em 8,30-35 é narrada a construção de um altar sobre o Monte Ebal
e a inscrição da Lei sobre pedras. Aqui, como nas narrativas patriarcais
(cf. Gn 12,7), ela representa uma implícita reivindicação da posse da
terra.
No capítulo 9, após uma breve apresentação da reação dos reis
cananeus (v. 1-2), a narrativa prossegue descrevendo a trama através da
qual os habitantes de Gabaon firmaram uma aliança com os filhos de
Israel (v. 3-15).
O capítulo 10 inclui duas narrativas distintas ligadas entre si pela
localização geográfica, visto que ambas se referem às operações bélicas
no sul da Palestina. A primeira identifica como antagonista de Israel uma
coalizão de cinco reis (10,1-27), enquanto a segunda é um relato analítico
da campanha militar contra as cidades cananeias do Sul (10,28-43).
Depois de ter assegurado o controle sobre as regiões centrais e
meridionais, as operações militares rumam em direção ao Norte, onde os
filhos de Israel devem enfrentar uma coalizão de reis cananeus (11,1-23).
O padrão narrativo do capítulo segue o modelo do anterior: a coalizão do
Norte é paralela à do Sul. Assim como é paralela a função de Jabin e
Adonisedec.
Em 12,1-24 novamente se expõe uma síntese dos sucessos
alcançados.
O relato da distribuição da terra (13,1 – 21,45) inicia com uma
palavra de YHWH (13,1-7), como exordiava o relato da conquista (Js 1).
Em Js 1,1-9 se tratava de um encorajamento para empreender a
conquista, aqui o acento é posto sobre o território que ainda não foi
conquistado. A idade avançada de Josué concorda com a sua menção
antes da chegada ao Sinai (cf. Ex 17,8-14), onde já era um guerreiro e
um líder entre o povo. Em Js 24,29 ele tem cento e dez anos. Em nível
narrativo essa referência à idade de Josué tem a função de marcar a
transição entre a primeira fase (conquista de Canaã) e a segunda
(distribuição da terra). A idade avançada recorda ainda 11,18, onde se
sublinha a longa duração da conquista.
As batalhas contra os reis e as cidades mostraram que a
transformação da “terra de Canaã” em “terra de Israel” é o êxito da
confluência entre a inciativa divina e da resposta ativa de Israel.
A distribuição da terra é concluída em Js 21,43-45 com um
sumário: aquilo que fora antecipado em 1,2-6 agora se cumpriu.
O capítulo 22 se divide em duas partes: incialmente Josué despede
as tribos situadas a Leste do Jordão que contribuíram com a conquista (v.
1-8). Antes de atravessar o Jordão, os combatentes dessas tribos
construíram um altar, gerando uma disputa com as outras tribos que se
resolveu pacificamente (v. 9-14). A narrativa é determinada pelas
declarações dos protagonistas: na primeira parte, a de Josué, que
confirma as promessas e ordem divina (v. 2-5), na segunda, o diálogo
entre as tribos (v. 16-29).Vale ressaltar a ausência de Josué na segunda
parte, de modo que na disputa entre as tribos ele não tem função alguma,
indicando que a sua função se encerra quando a conquista estava
concluída e ele deixa agora o campo a outras figuras institucionais –
sacerdotes e chefes – aos quais cabe a tarefa de dirimir as disputas entre
as tribos.
O gênero literário do capítulo 23 deve ser compreendido à lux de
textos análogos, habitualmente definidos como testamentos e ligados a
personagens famosos: os patriarcas (cf. Gn 48–49; 50,22-26), Moisés
(todo o Deuteronômio), Davi (cf. 1Rs 2,1-9). O paralelismo mais claro é
com Moisés, sobretudo pela parte final.
Js 24 é paralelo a Js 23, enquanto apresenta um novo discurso de
Josué. Com efeito, enquanto o capítulo 23 se apresenta como um sumário
do livro de Josué, o capítulo 24, por sua vez, como uma conclusão de
todo Hexateuco. O capítulo 23 não sai do horizonte do Deuteronômio,
enquanto que o capítulo 24 tem uma perspectiva mais ampla.

4. Temas

✓ O dom da terra é central, expresso pelo verbo natán, que aparece nove
vezes no capítulo 1tendo YHWH ou Moisés como sujeitos. Além
disso, a fórmula “dar a terra” (v. 3) é fundamental na profissão de fé
ao longo de todo o livro (cf. 2,9.14.24; 5,6; 8,1; 9,24; 18,3; 22,4;
23.13.15.16; 24,13). A terra prometida é o compêndio de todos os
bens, unida necessariamente a adesão incondicional do povo ao
Senhor.
✓ A principal afirmação teológica do livro de Josué está em 21,43-45.
✓ A fidelidade do povo se comprova no cumprimento da lei e no culto
no templo que o Senhor escolheu. A lei é uma lei do amor, ao Senhor
e ao próximo, que se verifica como solidariedade e assistência ao débil
e despojado.
✓ O anátema: como consequência do anterior, a destruição e eliminação
total (cultural) dos vencidos, seu aspecto positivo está em que o povo
deve fugir da contaminação dos cananeus, pois está claro que se o
povo é fiel ao Senhor, o Senhor está com Israel e combate a seu favor.

5. Redação
As hipóteses sobre a composição do texto são várias, mas em geral
se reconhece que foi a linguagem deuteronomista quem conferiu ao texto
a sua fisionomia atual e perspectiva unitária. A hipótese mais aceita é a
de que os relatos da primeira parte (cap. 1–12) retomam fontes mais
antigas (por exemplo, o Livro do Justo – cf. Js 10,13 – e as tradições do
santuário de Guilgal), ou ainda que se baseiam sobre uma versão
precedente da atual, a qual apresentava uma perspectiva diferente. Sobre
a antiguidade das fontes, a discussão recente mostrou a estreita relação
formal e conteudística desses textos com os relatos da conquista militar
assíria e neobabilônica: teriam, portanto, surgido em época assíria a fim
de contrastar a ideologia militar assíria e sublinhar que o próprio Deus
tinha doado a terra aos filhos de Israel.
O debate sobre a origem dos materiais da segunda parte (cap. 13–
21) é mais articulado, visto que entra em campo a tese de possíveis
acréscimos sacerdotais à redação. Por exemplo, na segunda parte, o papel
de Josué perde importância na distribuição da terra em relação ao
sacerdote Eleazar, que é inclusive citando antes de Josué (cf. 14,1; 19,51;
21,1-2). A menção da tenda do encontro (18,1; 19,51) também demonstra
o interesse em incluir detalhes sacerdotais no relato da distribuição da
terra.
Chega-se à conclusão de que o livro de Josué foi composto por um
ou mesmo por vários autores desconhecidos, utilizando documentos ou
tradições orais de notável antiguidade; mas a redação atual é
relativamente recente, embora não tanto quanto pretendia a teoria
documentária9. Por outro lado, a data da redação definitiva importa
relativamente pouco, uma vez admitida a antiguidade e valor das fontes
incorporadas.

b) Juízes

Há uma diferença fundamental entre o livro de Josué e o dos


Juízes: enquanto no primeiro o papel central é cumprido por um
personagem que domina tanto os relatos quanto toda a composição do
livro, no segundo entram em cena uma sucessão de figuras muito
diferentes, em geral sem continuidades entre si.

1. TÍTULO

O título do livro deriva do nome dado aos personagens cujas


façanhas são contadas: Šôfetîm (2,16-19), Juízes. O termo designa
pessoas escolhidas diretamente por Deus, dotadas de carisma especial e
repletas de espírito divino em ordem a uma ação salvífica: a libertação do
povo da opressão inimiga. Após a vitória, durante o resto da vida, todos
eles eram cercados de particular veneração, que lhes permitia exercer uma
certa autoridade, especialmente no campo religioso, suscitando no povo
um espírito de maior fidelidade ao Deus da aliança. A autoridade dos
juízes não tinha nenhum caráter régio: não promulgavam leis, não
impunham tributos, e o seu cargo não era hereditário nem derivado de
eleições populares10.

9
Alguns retardavam a redação definitiva até o séc. III, mas para após o exílio, para poder explicar a presença
ou, ao menos, o influxo de P (Código sacerdotal).
10
Via de regra, a judicatura de um juiz, isto é, a sua autoridade, não se estendia para além dos limites de
uma ou de poucas tribos. Somente Eli e Samuel tiveram uma autoridade mais ampla que abrangia,
provavelmente, todo o Israel. Mas, diversamente dos anteriores, estes últimos não eram chefes de exércitos
(cf. 1 Sm 7,8-17). As empresas gloriosas dos juízes, embora normalmente vitoriosas, tinham pouca duração
e não registravam fatos bélicos de grande alcance ou conquistas de notável importância: tratava-se de ações
defensivas, que desviavam mas não eliminavam o sentimento de inquietude e o individualismo próprio
dessa época.
2. ARGUMENTO E ANÁLISE
O livro trata do período que transcorre entre a conquista da terra e
o surgimento da monarquia e apresenta o Israel daquele tempo governado
por líderes militares carismáticos denominados “Juízes”, título que não
designa somente quem administra a justiça, mas o líder, o condutor,
aquele que governa e delibera.
A obra oferece um florilégio esquemático, não uma narração
histórica completa11. O tom das histórias é popular e heroico, exalta a
força, a astúcia, a coragem e também a fidelidade religiosa dos
personagens que são protagonistas. O livro se inicia a partir da conclusão
do livro de Josué (Jz 1,1) e coloca em foco o fato de que a conquista ainda
não estava completa: esse tema é silenciado em Josué (cf. Js 21,43-45),
enquanto no início dos juízes ganha prioridade, onde os filhos de Israel
perguntam quem – isto é, qual tribo deverá combater por primeiro os
cananeus e tomar posse do território demarcado. O fato de que a questão
seja apresentada diretamente a YHWH coloca em destaque que Israel não
tem um líder político, do mesmo modo que a última observação do livro
sinaliza que naquele tempo não havia rei em Israel (21,25).
É uma história pragmática mediante a qual o hagiógrafo quis
ilustrar o conceito fundamental da justiça divina para com o povo da
aliança: Deus castiga a Israel sempre que este se mostra infiel, mas
liberta-o quando, arrependido, regressa a Ele (cf. 2,11-18). Para tal
objetivo o hagiógrafo escolheu seis quadros históricos, que relatou com
pormenores mais desenvolvidos (juízes maiores) e outros seis, que são
expostos em brevíssimas pinceladas (juízes menores), obtendo desta
forma o número de doze juízes, correspondente ao número das tribos de
Israel.

11
O autor italiano - A. PARENTI, classifica então, o livro como uma coleção de memórias dos diversos
heróis.
3. DIVISÃO
Divide-se em três partes:
1,1–3,6: seção introdutória
3,7–16,31: narrativa sobre os juízes
17–21: relatos conclusivos sobre as tribos de Dã e Benjamim.

4. COMPOSIÇÃO
A notícia do Talmude12 segundo a qual o profeta Samuel seria o
autor do livro dos juízes não é provável13. Assim o prova a diversidade
cronológica dos documentos que compõem o livro. Jz 18,1 e 19,1 supõem
a monarquia já em função e os seus efeitos benéficos; é evidente que esses
capítulos são posteriores a Saul. De outro lado, 1,21 afirma que os
Jebuseus ainda ocupam Jerusalém, conquistada por Davi no sétimo ano
de seu reinado (2 Sm 4,1-10): o autor da introdução deve ter escrito
anteriormente a esta data.
Segundo a opinião hoje mais difundida acerca da composição do
livro dos Juízes, a obra é fruto de um longo e complicado processo que
deve ter durado séculos e no qual colaboraram diversos compiladores de
tradições e diversos redatores. Malgrado a diversidade de alguns
pormenores, as grandes linhas da composição do livro podem ser
resumidas da seguinte maneira: Primitivamente, havia tradições orais
separadas, baseadas em fatos históricos reais, ciosamente conservadas e

12
O Talmude é uma obra que compila discussões rabínicas sobre leis judaicas, tradições, costumes, lendas
e histórias. É um detalhamento e comentário das tradições judaicas a partir das leis compiladas por Moisés
na Torá, em geral, e na Mishná, no detalhe. O Mishná foi redigido pelos mestres chamados Tannaím ou
Tanaítas, termo que deriva da palavra hebraica que significa ensinar ou transmitir (uma tradição). Os
Tanaítas viveram entre o século I e o III dC. A primeira codificação é atribuída a Rabi Akivá (50–130), e
uma segunda, a Rabi Meír (entre 130 e 160 dC), ambas versões foram escritas no atual idioma aramaico
ainda em uso no interior da Síria .

13
Baba Bthra 15a.
transmitidas. Algumas destas se referiam as tribos do Norte, outras as do
sul. Embora na época pré-monárquica a escrita fosse bastante rara em
Israel, algumas memórias, como o Cântico de Débora (Jz 5,1-31) e o
apólogo de Jotam (9,7-15), foram redigidas por escrito. Compiladores de
tradições reuniram cuidadosamente as lembranças do passado,
respeitando não só os dados históricos, mas em boa medida a própria
forma da narração. Desta maneira, após algumas gerações, toda a
narração adquiriu sua forma estereotipada, mantendo o colorido do
ambiente e da época, com algumas nuanças derivadas dos narradores.
A coletânea proveniente do norte compreendia as histórias de Ehud
(Aod), Barac-Débora, Gedeão e Abimelec (3,12-9,57). Nelas já se
inculcava a condenação da infidelidade do povo transgressor do pacto
(2,11ss.19; 3,12; 4,1; 6,1-10), a que se contrapõe a fidelidade de Javé
(2,1ss.20ss; 3,15) e, além disso, a aversão ao regime monárquico (c. 9).
A compilação originária do sul compreendia as histórias de Otoniel
(3,1-11), Jefté (10,6-12,7) e Sansão(13,1-16,31).
Primeira redação: Após a queda do Reino do Norte (722 a. C.) as
duas coletâneas independentes foram fundidas, na época do rei Ezequias,
por um compilador judeu. Este precisou suas idéias religiosas na breve
introdução (10,6-16) que revela bastante claramente uma afinidade de
pensamento com o profeta Oséias.
Segunda redação: A esta primeira redação seguiu-se uma outra
chamada deuteronomista. O segundo redator, animado por uma
concepção teológica da história como aparece no Deuteronômio, quis
escrever uma história nacional unitária, retomando o que já fora posto por
escrito e dando um significado israelítico geral aos acontecimentos
limitados a cada tribo em particular ou a um grupo de tribos. A este
redator devemos também a inserção do esquema pragmático
quadripartido (pecado, castigo, arrependimento, libertação), a insistência
no significado religioso das antigas narrações e o reconhecimento de um
papel especial devido a tribo de Judá. Deste modo as antigas compilações
chegaram a assumir uma estrutura orgânica e homogênea.
Um redator posterior acrescentou a obra as notícias referentes aos
juízes menores: fragmentos de histórias locais, de biografias de chefes de
clã, que combateram bravamente contra os inimigos. Estas notícias não
se deviam perder. O primeiro apêndice foi elaborado segundo os
princípios da tradição sacerdotal. O segundo apêndice, com suas cifras
hiperbólicas e a apresentação de um Israel reunido em assembléia de
culto, recebeu a forma atual no tempo do exílio.
Forma definitiva: Todo o livro atingiu a forma que apresenta hoje
na época de Esdras, quando sua lição fundamental se impunha mais que
nunca ao Israel pós-exílico: indicar aos sobreviventes que a apostasia é
sempre punida e não existe vantagem alguma em pactuar com os vizinhos
pagãos.

5. GÊNERO LITERÁRIO
a) Duplicidade de relatos
A história de Barac e Débora apresenta duas versões
independentes: uma em poesia (cap. 5), muito antiga, contemporânea dos
acontecimentos, redigida na língua do norte, e em outra em prosa (cap.
4), posterior, com algum provável acréscimo (por ex., a menção de Jabin,
rei de Hazor) e com preocupação religiosa mais acentuada.
A história de Gedeão resulta de dois e, talvez, de três documentos
antigos, contendo anedotas, como o oráculo do orvalho (6,36-40) e a
escolha dos trezentos guerreiros (7,2-8), tradições etiológicas cultuais,
como a legitimação do altar de Ofra (6,11-24), a destruição do altar de
Betel e uma notícia referente ao nome de Ierubaal (6,25-32), narrações
heróicas, com o estratagema de Gedeão (7,11b-21) e as façanhas por ele
realizadas no outro lado do Jordão 8,4-21). Observam-se duas narrações
de vocação e de ereção de altar (6,11-24.25-32), uma dupla convocação
das tribos (6,33-40), divergências na luta contra os madianitas e uma
dupla conclusão da batalha.

b) Grinalda de relatos
A tradição referente a Abimelec (c. 9) é formada por uma grinalda
de relatos. O episódio de Gaal talvez tenha sido inserido mais tarde (9,26-
40). A vingança de Abimelec contra Siquém é narrada em dois trechos
paralelos (9,41-45.46-49). O apólogo de Jotam (9,8-15), uma das
primeiras e mais antigas composições gnômicas em Israel, foi
introduzido na história em função antimonárquica, mas não se acomoda
a situação a não ser de forma muito aproximativa, excetuando-se o trecho
final.
A história de Jefté (10,6-12,7) é formada provavelmente pela fusão
de diversas tradições transjordânicas relativas a origem de Jefté, aos
direitos dos israelitas sobre os territórios situados além-Jordão, as
lamentações rituais sobre a filha de Jefté e as dificuldades existentes
entre as tribos de Galaad e de Efraim.

c) Façanhas de Sansão
As façanhas de Sansão (cc. 13-16) repousam numa tradição
popular, que tem por base a existência de um danita dotado de
extraordinário poder, que lutou sozinho contra os filisteus. Encontramo-
nos diante de um conjunto de histórias individuais e de anedotas bastante
desconexas, sobre as quais foi abordando a fantasia popular. Dividem-se
em duas séries, a primeira das quais abrange os cc. 13ss, com uma
introdução deuteronômica, a outra, o c. 16, com final diferente (16,31b).
d) Os apêndices
O primeiro apêndice, que trata das origens do Santuário de Dan
(17s), é um trecho muito antigo, que revela uma certa hostilidade contra
o reino do norte e uma acentuada simpatia pela monarquia davídica.
O segundo apêndice (19ss) parece uma combinação de fontes
diversas e de antigas tradições relativas ao santuário de Mispa e de Betel,
ao escandaloso crime cometido em Gilbea. Revela uma concepção
centralizada e ideal de Israel, que não é do tempo dos juízes. Observam-
se igualmente expressões que lembram o tempo do pós-exílio.

e) Variedades de elementos
No livro dos Guises pode-se destacar a variedade de elementos
tanto estilísticos quanto doutrinais que o compõem: dados objetivos
transmitidos em forma de narrações populares, nas quais abundam o
anedótico, o pormenor irônico e tragicômico, as narrações épicas (cc. 4-
8), as descrições heroicas populares (cc. 13-16), intermédios de orações
(5,31; 16,28; 21,3), diálogos (11,6-28), enigmas (14,14), oráculos
proféticos (6,8ss), um apólogo (9,8-15), um poema épico (5,1-31).

6. Esquema quadripartido
Este esquema destaca a profunda doutrina teológica contida nos
fatos históricos: pecado, castigo, arrependimento, libertação.
O povo se afasta do Deus da aliança, em aberta infidelidade – 2,11;
3,7.12; 4,1;6,1; 10,6; 13,1. A reação divina ao comportamento infiel do
povo consiste no castigo. Alquebrados pelo castigo divino, os israelitas
se arrependem e voltam ao seu Deus (3,9.15); 4,3; 6,6; 10,10).
A fase final é a libertação. Deus demonstra sua compassiva
bondade enviando um libertador e humilha os inimigos pelas mãos de
Israel (2,16; 3,9.15.30; 4,23ss; 8,28).
7. Grandes temas
a) Contraste entre a lealdade de Deus com seu povo e a infidelidade
do povo com seu Deus, representado respectivamente na
suscitação do juiz (carismático) por parte de Deus para libertar o
seu povo e o abandono de Israel do caminho do Senhor (idolatria,
etc.) uma vez superado o apuro ou a aflição. Assim Israel podia
entender que o exílio (Sitz im Lebem do livro) era o justo juízo
de Deus por seu pecado.
b) A esperança do perdão e da salvação, contudo, estão no Senhor,
que escuta o clamor sincero de seu povo arrependido. Um Deus
e um povo: Yhwh é o Deus de Israel, e Israel é o povo de Deus.
Sua fórmula: o Shemá.

8. Juízes maiores
São, no entanto, suscitados por Deus para salvar a sua tribo do
ataque de inimigos externos. Em relação a estes, podemos determinar o
nome, a tribo e os inimigos que combateu:
3,7-11: Otoniel da tribo de Caleb contra os arameus.
3,12-20: Aod da tribo de Benjamim contra os moabitas.
4–5: Débora e Barac da tribo de Neftali contra os cananeus.
6–9: Gedeão da tribo de Manassés contra os madianitas.
10,6–12,7: Jefté da tribo de Galaad contra os amonitas.
13–16: Sansão da tribo de Dã contra os filisteus.

9. Juízes menores
Sobre alguns juízes são fornecidas apenas brevíssimas notícias e,
por isso, são chamados de Juízes menores: Samgar, Tola, Jair, Ibsã, Helon
e Abdon (Jz 3,31; 10,1-5; 12,8-15).
10.Guia para a leitura
No início do livro se menciona por duas vezes a morte de Josué (Jz
1,1; 2,8).
A função da seção introdutória (1,1–3,6) é a de expor o início de
um período de desobediência que contrasta nitidamente com o período
precedente.
Depois de ter exposto o modelo que preside o surgimento dos juízes
de Israel, passa-se ao primeiro exemplo, centrado sobre um personagem
conhecido em Js 15,17: Otoniel, filho de Cenez, irmão de Caleb (Jz 3,7-
11). Trata-se do único juiz que tem traços exclusivamente positivos: foi
escolhido por causa de suas façanhas anteriores, obtém uma vitória
definitiva, garantindo repouso a terra (v. 11) até sua saída de cena. Além
disso, somente no caso de Otoniel a presença do espírito (v. 10) determina
a relação imediata com a vontade de Deus.
Os episódios narrados no centro do livro (3,7–16,31) estão
inseridos num quadro interpretativo dos acontecimentos, que é exposto
tanto no contexto (2,6-9) quanto nas introduções às histórias de cada juiz
em particular (cf. 3,7-11;1,12-15; 4,1-3; 6,1-10; 10,6-16. Esses trechos
independentes de algumas variações, refletem um esquema em seis
etapas:
1ª) os filhos de Israel fazem o que é mau aos olhos do Senhor (seguindo
divindades estrangeiras);
2ª) o Senhor os entrega nas mãos dos inimigos;
3ª) os filhos de Israel são oprimidos;
4ª) eles, então, gritam ao Senhor;
5ª) o senhor suscita um juiz e lhe dá força para libertar o povo;
6ª) o inimigo é derrotado e Israel permanece em paz por alguns anos.
Antes de agir Gedeão submete Deus a uma prova, que deverá
superar (6,36-40); Jefté pronuncia seu voto trágico (11,29-40); Sansão faz
coisas impressionantes, mas nenhuma delas leva à libertação de Israel.
Em seguida, entra em cena, envolvido em traços cômicos, Aod
(3,12-30). Ele tem uma característica física: é canhoto (v. 14).
Apenas uma breve observação (3,31) noticia o heroísmo de
Samgar, um personagem que, segundo muitos intérpretes, não era hebreu,
enquanto “filho de Anat”, uma divindade semítica. Ele derrota os filisteus
com uma “aguilhada de bois”, uma das tantas armas não convencionais
usadas pelos heróis de Israel.
O que se segue narra as proezas de Débora e Barc (4,1–5,31),
justapondo duas narrativas diferentes, uma em prosa (Jz 4) outra em
poesia (Jz 5). Diferentemente dos outros juízes, Débora não é chamada
ou promovida para ser juíza: ela já exerce a função (4,4) e é ela que,
desempenhando uma função profética, convoca Barac e lhe comunica a
ordem divina de empreender uma campanha militar contra Jabin, rei de
Hasor.
Um grande espaço é dedicado à história de Gedeão (Jz 6,1–8,35),
reunindo episódios recolhidos de várias tradições. A sua atividade é
desenvolvida no contexto da opressão dos madianitas (6,1-10) e é
introduzida por dois episódios os quais tem também uma função
etiológica: no primeiro, o anjo do Senhor aparece à Gedeão e o episódio
culmina com a ereção de um altar (v. 11-24); no segundo, Gedeão destrói
um altar dedicado à Baal (v. 25-32).
A história de Abimelec (9,1-57) interrompe tanto o esquema
narrativo – ele não é juiz – quanto o teológico. Após o reconhecimento
do pecado de Israel (8,33-35) ao invés da notícia de uma punição,
encontramos a história de Abimelec. O contexto sugere que a usurpação
do poder real por parte de Abimelec seja uma das manifestações do
pecado do povo, ou, até mesmo a sua punição. O fim de Abimelec morto
por uma mulher (9,35), recorda o assassinato de Sísara (cap. 4-5).
Precedida por uma breve exposição sobre os feitos de Tola e Jair
(10,1-5) a história de Jefté (10,6–12,7) ilustra ainda mais a degeneração
da situação divina que se exprime na ameaça dos amonitas (10,6-18), a
escolha do chefe recai sobre Jefté. O narrador informa que ele era filho
de uma prostituta (11,1) e que fora condenado ao exílio pelos filhos do
seu pai, Galaad.
A história de Sansão (13,1–16,31) é estruturada em uma série de
episódios centrados sobre o herói. Desde o início se coloca em evidência
a excepcionalidade do personagem, como demonstra o amplo espaço
reservado ao anúncio de seu nascimento (13,1-25). Ele se deixou atrair
por mulheres que se revelam problemáticas: a mulher de Tamna (14,1–
15,20), a prostituta de Gaza (16,1-3) e Dalila (16,4-31). Não obstante a
oposição dos seus genitores (14,3), Sansão desposa uma mulher filisteia.

Conclusão
Os juízes são os “libertadores” ou “salvadores”, como gostava de
os chamar Lutero, os “guias e chefes carismáticos” como preferia chamá-
los Max Weber. A missão dos juízes era pessoal e temporal. Uma vez
superado o perigo, voltavam à vida anterior e as tribos se governavam
cada uma por sua conta. As tribos continuavam em sua vida autônoma.
Não consta que tenha existido uma organização política que fosse
comum a todas elas.

c) RUTE
Poucos livros da Bíblia deixam o leitor tão favoravelmente
impressionado por uma história tão ordinária quanto a de Rute, dentro da
qual, todavia, os protagonistas e o narrador sabem acolher a intervenção
providencial do Deus de Israel.

1. Título
O livro de Rute, um dos escritos mais breves do Antigo
Testamento, toma o seu nome dos moabitas, de que narra à história. Na
Bíblia hebraica ele se acha entre os ketûbim e é o segundo dos cinco
megillot ou rolos festivos; lidos por ocasião das solenidades hebraicas.
Rute é lido na shebu’ót (Festa das semanas ou Pentecostes14. Tal leitura
ainda em uso entre os israelitas – provavelmente se devia ao fato de que
os episódios de Rute (1,22-3,17) se desenrolam no período da colheita
(1,22; 2,23). Na Vulgata e na LXX colocam o livro logo após o dos Juízes.

2. Argumento
O relato tem um início trágico e um final no qual todo conflito é
resolvido, como uma confiante abertura ao futuro. Entre esses dois
extremos se passa uma história que tem como centro duas mulheres, que
fizeram uma experiência amarga (1,20) da vida, particularmente Noemi:
precisou imigrar por conta de uma carestia, como já tinham feito seus
antepassados15 e, ao final, perdeu todos os seus parentes. Rute, por sua
vez, vive a tragédia inversa: a tragédia se consuma para ela no seu próprio
país, onde perde o marido.
Antonio Neves de Mesquita diz que o livro de Rute nos coloca face
a face com um drama familiar16. Nesse drama surgem vários problemas:
✓ O problema da crise financeira;
✓ O problema da imigração;

14
Acerca desta festa, cf. Ex 23,16; Nm 28,26; Lv 23,15-22 e Dt 16,9-22.
15
Tenha-se em mente Abraão e Sara em Gn 12,10-20 e Jacó e os seus filhos segundo Gn 46-47.
16
MESQUITA. Antonio Neves de. Estudo nos livros de Josué, Juízes e Rute. Casa Publicadora
Batista, Rio de Janeiro, 1973. p. 231.
✓ O problema da doença;
✓ O problema da morte;
✓ O problema da viuvez;
✓ O problema da pobreza;
✓ O problema da amargura contra Deus.
Ao mesmo tempo, o livro de Rute nos fala sobre:
✓ A força da amizade;
✓ A beleza da providência;
✓ A recompensa da virtude.
O livro é um dos mais belos romances da Bíblia. John Peter Lange
diz que esse livro que contém apenas 85 versículos é como um jardim
engrinaldado de rosas perfumadas, cuja beleza e conteúdo jamais podem
ser suficientemente enaltecidos17.

3. Autor
Existe uma tradição judaica que atribui o livro de Rute a Samuel,
mas os críticos permaneceram silenciosos a respeito. O autor do livro é
desconhecido. Discutiu-se, no entanto, o gênero do autor: era homem ou
mulher? A maioria dos comentários apoia a autoria masculina, embora
esta seja questionada atualmente: o tema, o predomínio de protagonistas
femininos e, sobretudo, o ponto de vista da história, sugerem uma
presença feminina na composição do livro.

4. Data de composição
As propostas de datação estendem-se desde a época de Samuel até
o século III a. C. Podem ter-se em mente três grandes posições: a) o livro
data de uma época pré-exílica, situada entre os séculos X e VIII a.C.

17
LANGE, John Peter. Lange’s commentary on the Holy Scriptures. Vol. 2. Zondervan Publishing House.
Grand Rapids, Michigan, 1980, p.3.
b) o livro foi escrito nos tempos do exílio c) sua composição data-se no
pós-exílio.
A maioria dos exegetas opta por datar o livro entre os séculos V e
IV a. C.

5. Estrutura - I
A obra divide-se em duas grandes metades simétricas: A primeira
abrange os dois primeiros capítulos e a segunda os outros dois:
✓ Primeira cena: retorno de Noemi (Rt 1,1-22)
✓ Segunda cena: plano de Noemi (Rt 2,1-23)
✓ Terceira cena: execução do plano de noite na eira de Booz (Rt 3,1-18)
✓ Quarta cena: o casamento de Rute e Booz (Rt 4,1-13a)
✓ Primeiro final: o filho de Rute (v. 13b)
✓ Segundo final: bênção a Noemi (vv.14-17)
✓ Terceiro final: genealogia de Davi (vv. 18-22)

5.1. Estrutura – II18


Propõe-se a seguinte divisão de acordo com os capítulos:
1 O retorno de Noemi e Rute a Belém
2 Rute respiga no campo de Booz
3 Rute deita-se com Booz na eira
4,1-7 Booz desposa Rute e Noemi obtém o “resgate”
4,18-22 Genealogia final.

6. Gênero literário
A exegese alemã tende a classificar o livro de Rute no gênero
literário da novela.

18
VECCHIA. Flavio Dalla. Livros históricos. Petrópolis/RJ: Vozes, 2019, p. 102.
Rute é como um romance, do qual Goethe vai dizer: “o livro é a
mais graciosa pequena unidade que nos foi transmitida de forma épica e
idílica”19. O enredo de Rute é atraente exatamente por “desviar da tensão
para a serenidade idílica e novamente para a tensão, até que todas as
dificuldades sejam solucionadas e um final feliz seja alcançado”20.
Recentemente surgiram reservas com relação a essa classificação.
Entre as principais propostas21 vale citar:
a) E. F. Campbell confrontou a narrativa do livro de Rute com os relatos
de Gn 24, a história de Jose, Gn 38, episódio do livro dos Juízes
(especialmente Jz 3,15-29) e cenas da história da corte de Davi (1Sm
9–20), chegando a propor como gênero literário a “história breve”.
b) I. Fischer, ao contrário, demonstrou que Rute tem ligação com os
relatos que lemos no gênesis (particularmente Gn 12; 19,30-38; 24;
38) e compõe uma nova “história de gênesis”.

19
E. ZENGER et al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003, p. 187. A este respeito, a
argumentação de Carlos Mesters é diametralmente oposta: Rute é um livro que denuncia a situação em que
se encontravam os pobres de Judá no século V a.C., migrando conforme as perspectivas de encontrar
alimento e condições de vida, trazendo como consequência direta a mistura de raças. As mulheres
estrangeiras, por sua vez, não eram bem acolhidas, pois Rute recebeu vários avisos de se prevenir da
violência contra a mulher (cf. C. MESTERS, Rute, p. 9). E. Zenger (Kommentar, 1992, p. 22-25) considera
ainda que o livro de Rute constitui uma novela sapiencial, pois “a narrativa desenvolve, na personagem de
Rute e também no de Booz, ideias mestras de um agir solidário, que visam a incentivar uma prática de vida
correspondente”.
20
Cf. A. BRENNER, Rute a partir de uma leitura de gênero. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 11.
21
VECCHIA. Flavio Dalla. Livros históricos, p. 102-103.

Você também pode gostar