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REDENÇÃO FAMILIAR

Copyright 2020 Autor da Fé Editora


Categoria: Vida cristã

Primeira edição — 2020


Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução total ou
parcial sem a permissão
escrita dos editores.

As citações bíblicas foram extraídas


da edição Almeida Revista e Corrigida

Autor: Anderson Silva

Projeto Gráfico e editorial: Autor da Fé Editora

Coordenação editorial: Filipe Mouzinho


Nos dias atuais, até na igreja, o matrimônio está destituído de
significado. Perdemos um fator de extrema importância para o conceito
matrimonial, que é o redentor. No final do texto de Efésios 5, o apóstolo
Paulo faz uma analogia entre a aliança que Jesus Cristo tem com a Igreja
e o conceito matrimonial terreno, humano. Nessa passagem, ele aborda
assuntos muito importantes, como a submissão da mulher ao homem, o
amor do homem em relação à mulher, dentre outros.
O fato é que precisamos urgentemente entender aspectos bási-
cos, como o conceito criacional de Deus para o casamento. Ao lermos
sobre a criação em Gênesis, vemos um grande rompimento da relação
entre o homem e a mulher por causa do pecado. Quando conectamos
esse acontecimento com o que o apóstolo Paulo diz em Efésios 5, enten-
demos algo de grande importância para nós: o casamento não propor-
ciona apenas felicidade, prazer, deleite e alegria, mas precisa carregar o
conceito redentor. Por isso, a analogia usada pelo apóstolo Paulo sobre o
matrimônio é o relacionamento entre Cristo e a Igreja. É por meio dele
que contemplamos o que chamamos de redenção.
Sem Jesus, nossa vida não seria possível, porque não existiria
redenção. Da mesma forma, quando vivemos um matrimônio, não de-
vemos encarar o nosso cônjuge a partir do que ele é ou faz, mas a partir
de uma perspectiva criacionista. Independentemente de seus atos, ele
foi criado por Deus e era semelhante a Ele, mas, por conta do pecado
original, também se tornou refém de outro campo de influência, não
sendo mais quem deveria ser.
Quando entendemos isso, também encaramos o matrimônio a
partir desse conceito redentor, combatendo junto com Jesus Cristo a
velha natureza do nosso cônjuge e construindo, com a ajuda do Senhor,
um ambiente que coopera para que essa pessoa seja quem ela seria caso
o pecado não existisse.
Por vivermos numa sociedade que celebra o hedonismo, o cul-
to ao prazer e a felicidade, muitas vezes não temos relações duráveis e
vemos até os nossos casamentos com prazo de validade, de forma pré-
-datada. Se você entra em um relacionamento apenas para ser feliz, a
verdade é que você não quer ter trabalho. Entretanto, o conceito mais
belo e profundo de uma aliança matrimonial é entender que Deus conta
com você na redenção do seu cônjuge.
Você faz parte do propósito redentor de Deus para a humani-
dade! Quando aceita essa verdade e exerce esse papel, é como se o seu
lar se tornasse uma filial do Céu aqui na Terra e sua família se tornasse
parte desse plano divino.
Boa leitura!
SUMÁRIO
1 - VOCÊ TEM A FAMÍLIA QUE MERECE..................................................... 7

2 - A OMISSÃO DOS HOMENS E O FEMINISMO...........................27

3 - A INIMIZADE ENTRE O HOMEM E A MULHER.......................41

4 - HOMEM COM “H” MAIÚSCULO.................................................................55

5 - SABEDORIA FEMININA....................................................................................... 71

6 - RESPONSABILIDADE PATERNAL...........................................................83

7 - DÍZIMOS E DIVÓRCIO.........................................................................................97

8 - A IGREJA É O REFLEXO DA FAMÍLIA.................................................117


VOCÊ TEM A FAMÍLIA
QUE MERECE
“Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e
eles se tornarão uma só carne. O homem e sua mulher viviam nus, e não
sentiam vergonha.”
(Gn 2.24–25)

“Este é o registro da descendência de Adão: Quando Deus criou o ho-


mem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou. Quando
foram criados, ele os abençoou e os chamou Homem.”
(Gn 5.1)

O
bserve bem o texto de Gênesis 5, o qual começa di-
zendo que Deus criou o homem (“h” minúsculo).
Ao se referir à mulher, também utilizou a inicial
“m” em letra minúscula. No final do versículo, porém, o texto ex-
pressa que Deus “os abençoou e os chamou Homem”, com “H” mai-
úsculo. Se você ficou confuso, fique tranquilo! A seguir, lhe explica-
rei a minha linha de raciocínio e como interpreto a Palavra.
“Família” não é um mero detalhe, ela possui um propósito. Apa-
rentemente, do capítulo 2 ao capítulo 5 de Gênesis, não há uma cro-

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nologia, e, no meu ponto de vista, o que foi dito no capítulo 5 deveria


anteceder o que está escrito em Gênesis 2.
No capítulo 2, está escrito: “O homem deixará pai e mãe”, só que
Deus ainda não havia criado pai e mãe em Gênesis 1. Então, a quem
Deus falou o versículo 24? Será que foi para Adão e Eva? Provavelmen-
te não, pois Adão poderia questionar o que seria “pai” e “mãe”. Assim,
a explicação de Gênesis 2.24 baseia-se no pecado que aconteceria no
capítulo 3. Com isso, concluímos que, antes da existência do pecado,
Gênesis 1 já estava confirmado.
Devido à entrada do pecado na humanidade, o que acontece hoje
é o oposto — não existe mais a unidade e o propósito, por isso, precisamos
nos esforçar para unir o que foi separado. A maioria das versões da Bíblia
está traduzida por “se tornarão uma só carne”, mas, no hebraico, língua ori-
ginal do Antigo Testamento, está escrito: “se tornarão uma só pessoa”. Veja
como é importante entendermos o capítulo 5. Eva não existia antes do pe-
cado, e também não havia individualidade dentro do casamento. Por quê?
De acordo com o capítulo 5, Eva estava em Adão e Adão estava
em Eva, ou seja, os dois eram um só. Por isso, não há relação mais per-
feita, plena e importante diante de Deus do que o casamento. Diante dos
homens, sim, mas diante do Senhor, não. O matrimônio é a relação mais
importante da existência, pois ninguém, segundo Deus, é uma só carne
com mãe, pai ou filho.
Por que o casamento não está dando certo nos dias atuais? Por-
que as pessoas priorizam todos em detrimento de quem realmente é
importante. O fato é que não somos mais um só com o nosso cônjuge,
mas, por causa da fé e da obediência, temos que nos tornar. No entanto,
antes, éramos, pois Adão era Eva e Eva era Adão. Um estava no outro,
um vivia para o outro.
Se você pensa em plenitude familiar, se você quer que seus filhos
cresçam emocionalmente saudáveis e consigam reproduzir os seus va-
lores, desista de amar os seus pais mais do que você ama a sua esposa.
Desista de amar os seus filhos mais do que você ama o seu cônjuge!

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É por isso que os casamentos estão dando errado, porque estamos em


desobediência. Por que devo amar mais a Keila (minha esposa) do que
a minha própria mãe? Porque eu sou a Keila. Segundo Deus, é claro, e
não segundo o que acho. O problema é que os amigos, o time de futebol,
os pais e as crianças são todos amados, e o cônjuge é apenas um detalhe.
Diante disso, eu lhe pergunto: como um casamento pode dar
certo assim? Essa é a ordem que nos foi dada: “o homem deixará pai e
mãe”, ou seja, é um “divórcio” geográfico, emocional, econômico e es-
piritual. A partir do matrimônio, os pais e todos os outros se tornam
parentela — “família” é o que você iniciou com o seu cônjuge. É difícil,
é duro, mas é verdade. Podemos depender dos nossos parentes momen-
taneamente até alçarmos vôo, mas o Senhor nos disse para deixá-los.
Afinal, por que Deus disse que o homem precisa deixar pai e
mãe? Porque ser homem, mulher, pai e mãe não é mero detalhe de
gênero, é uma missão. Todo ser humano nasce com a necessidade de
pertencer e viver em comunidade, e costumo dizer que paternidade e
maternidade possuem três “P”s” embutidos, baseados na carência do
ser humano. Todos nós precisamos ser protegidos, supridos e enviados.
O primeiro “P” é relativo à provisão, o segundo significa proteção, e o
terceiro se remete à plataforma, envio, destino — ir e fazer pelos outros
o que foi feito por você dentro desse ciclo. Assim, entre 18 e 24 anos, no
máximo, o indivíduo precisa concluir o seu ciclo de pertencimento a
uma comunidade terapêutica e educacional, que é a família. Depois des-
se período, Deus diz: “Cumpra o seu destino, cumpra o seu propósito”.
Outro ponto importante a ser destacado se encontra em Gênesis
2.25, que diz: “Eles estavam nus, mas não se envergonhavam”. Esse ver-
sículo pode ter vários sentidos, e este é com o qual mais me identifico:
casamento é a única condição de verdadeira intimidade do casal, em
que você pode ser autêntico sem sofrer censuras. Por isso, perceba o
poder grandioso da aliança.
Inclusive, abro um parênteses para falar sobre as mães, princi-
palmente as mães de homens. Culturalmente, é bastante comum haver

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rivalidade entre sogras e noras. Sabe qual o motivo disso? O filho ter se
casado e a mamãe não ter deixado de mimá-lo. A probabilidade de que
isso seja verdade é altíssima, porque por mais que o pai (marido) seja
presente, talvez ele não tenha sido um só com a esposa. Então, mesmo
sendo uma senhora adulta, ela possui carências a serem preenchidas, as
quais busca descarregar nos filhos. Por isso, muitas mães são possessivas
e acabam se tornando rivais das noras, ao querer disputar a masculini-
dade do filho — tenha em mente que isso não é ligado ao âmbito erótico,
apenas psicológico, emocional e social.
Se isso acontece na sua casa, é porque o seu pai não amou a sua
mãe da maneira cristocêntrica, então ela continuou com carências. Por
outro lado, quando uma mãe é suprida por um verdadeiro homem, ela
dirá: “Eu não quero nada com o meu filho, quero curtir o meu marido”.
Isso é muito raro de ver, pois estamos em constante desobediência a
Deus, e o ciclo social de uma família disfuncional nunca para.
Existem dois tipos de orfandade paterna: quando o pai abando-
na ou falece, e quando o pai vive na mesma casa, mas não passa de um
objeto decorativo. Se uma mãe é casada há 50 anos com um homem
decorativo, ela não é resolvida e muito menos madura, porque não teve
um homem de verdade ao seu lado — um homem como Jesus. Você
pode até dizer: “Ah, mas meu pai esteve presente!”, e é exatamente sobre
isso que estou falando! Ser homem é uma missão, e se o seu pai não foi
um missionário em casa, ele não cumpriu o seu propósito. O resultado
disso é que a esposa continua carente, e muito provavelmente os filhos
desse homem também são.
Em todos os lugares, existem adolescentes se desviando dos ca-
minhos de Deus, saindo da igreja e desobedecendo aos pais. Por que?
É simples. Quando os filhos ainda são crianças, eles obedecem a todas
as ordens recebidas, porém, quando chegam à adolescência, eles não
querem mais obedecer, porque acham que já têm autonomia suficiente.
Quem é o responsável por isso? O pai que não foi um missionário. Ser

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missionário é entender que seus filhos têm carências a serem supridas, e


nem todas elas são preenchidas com oração e/ou igreja.
O fato é que existe hora para tudo — para ir ao cinema, para
brincar, há o momento do “eu te amo”, do “senta aqui no meu colo”,
mas também tem a hora da repreensão. Às vezes, a criança não teve
nada disso, porque os pais achavam que tudo era espiritual. Entenda:
igreja é lugar de criança fazer barulho enquanto oramos! Jesus não
os censurou quanto a isso. Seria antinatural ou um dom divino uma
criança, aos sete anos, ter interesse nas coisas celestiais. É um chama-
do divino uma criança orar em línguas nessa idade, pois isso foge ao
natural! O normal é vermos crianças agitadas e tendo atitudes infantis
no momento do culto.
Você já notou que vários dos meninos mais trabalhosos e que fo-
ram criados dentro da igreja se tornaram pastores? Isso acontece porque
os pais entenderam as fases! Toda criança possui uma carência de ser ela
mesma, e quando o pai é um cristão radical, obriga essa criança a orar e
a estar presente em todos os cultos, enquanto ela queria ver “Thor” no
cinema. Isso acaba gerando o não suprimento das suas demandas.
Você acha que é por acaso que existem, na igreja do Senhor,
muitos marmanjos cantando “musiquinhas” de garoto para Jesus?
Esse é um problema psicológico, trata-se de almas não curadas.
Quando a Bíblia nos revela que Deus é Pai, isso não quer dizer que
Ele vai visitar o nosso playground do passado para brincar conosco.
Na verdade, Ele está falando sobre destino, não sobre passado. Se
você não teve pai e mãe, Ele entrará nessa lacuna e lhe dará proteção,
provisão e destino.
Certa vez, um amigo ficou chateado comigo porque escreveu
uma música que dizia: “1, 2, 3 Jesus se esconde, eu me escondo, vamos
ver”. É até bonitinho, mas essa é a voz da nossa alma, não corresponde à
Bíblia. Consegue imaginar Billy Graham, aos 99 anos de idade, brincan-
do de pique-esconde com Jesus? Não! A paternidade de Deus está longe

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disso. Ela se baseia no futuro e em ter as feridas curadas, para que nos
tornemos cura e medicina para outros.
Essa é a forma de Deus trabalhar. Onde você tem feridas,
Deus cria uma unção, uma autoridade e uma compaixão. Quem não
teve pai, Deus transforma em um pai espiritual. Quem passou fome,
Deus traz prosperidade para saciar a fome de outros. Por isso, preci-
samos curar o ciclo da ofensa, e essa equação precisa fechar, seja por
meio dos pais naturais ou de Jesus. Caso contrário, a vida adulta se
tornará disfuncional.
Sabe por que eu sou como sou e tenho o rosto todo tatuado?
Porque essa ferida não fechou. Eu deveria ter recebido dos meus pais a
palavra: “Deixará pai e mãe”. Assim acontece com uma garota que é ero-
tizada cedo demais. Ela busca a figura paterna no colo dos homens. Da
mesma forma, ocorre com um homem violento, um menino que entra
numa gangue, um rapaz que toma anabolizante. Este último perdeu sua
identidade, e agora são apenas os músculos que o representam. É assim
com quem compra um carrão e chama a atenção com o som alto — essa
é a forma de se sentir importante e de ser elogiado.
O problema é que chega a hora de dormir e logo a sensação aca-
ba. O que essas pessoas fazem no dia seguinte? Aumentam a potência
do som, fazem mais uma tatuagem, aumentam a dose do anabolizante
e diminuem mais ainda o comprimento da roupa. Tudo isso para ter
provisão, proteção e plataforma, por mais que sejam falsas. Percebe o
quanto esse processo é interminável? Essa é a importância de deixar pai
e mãe e priorizar o cônjuge. É a noção primária que todo ser humano
deveria ter — olhar para o padrão de família cristocêntrico e decidir em
espírito que reproduzirá essa verdade.
Felizmente, não é mais um seminário, uma palestra ou uma pre-
gação que irá resolver os nossos problemas matrimoniais, mas uma de-
cisão: o pai voltar para casa e arrepender-se de não ter sido um missio-
nário, organizar uma agenda para ter tempo de dar atenção à esposa, aos

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filhos etc. — isso é o necessário para suprir as necessidades de provisão,


proteção e plataforma de cada um dos seus amados.
Particularmente, sou intencional em todos os meus processos
e não passo por nenhuma experiência sem aprender. Graças a Deus,
aprendo rápido e consigo analisar comportamentos de forma veloz.
Você sabe quem está por trás da igreja perfeita? A família que não fun-
ciona, a que transfere responsabilidades. Se você me permite ir direto ao
ponto, contarei a experiência de um casal que marcou um jantar comigo
para comunicar que sairia da igreja.
Durante o jantar, esse casal me maltratou com duras palavras,
dizendo que eu não era pastor, que eu era um mercenário e que eu não
amava vidas. A primeira coisa em que pensei foi na minha conta ban-
cária; o meu extrato prova o quanto eu amo vidas. Era algo tão absurdo
que a Keila, minha esposa, me olhava com dó, como se dissesse: “Como
você aguenta ouvir tudo isso calado?”. Realmente foi difícil, mas no fi-
nal, o Espírito Santo me deu graça, discernimento e me lembrou das
teorias de Freud para analisar o comportamento de cada um.
Então, tomei a palavra e disse para o marido: “Filho, eu não sou
o seu pai biológico, eu sou pai da sua fé. O pai da sua existência é Deus.
Eu não posso receber a condenação por 30 anos de uma vida que eu não
gerei. Então, o que vai resolver o seu passado é a sua decisão. Eu não
posso ir ao seu passado e resolver algo que você não quer. Depois de
tudo o que falou, percebo que você está querendo transferir sua orfan-
dade para mim, e eu não a aceito. Eu sou apenas o pai da sua fé, e não o
da sua vida”.
Da mesma forma, falei à esposa. Confesso que fui duro, e peço
para que você não se choque. Não foi fácil, mas a verdade precisava ser
dita com amor. Eu falei: “Filha, eu não vou ter relações sexuais com
você. A sua carência não é de pastor, não é de uma boa igreja, não é de
gabinete, não é de discipulado, não é que eu ligue e muito menos que
eu me importe com você. O problema é que você está carente de um
homem de verdade. Você precisa de um homem que a ame como Jesus

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a ama. Filha, há quanto tempo você não tem relações sexuais com o seu
marido?” Depois que terminei de falar, ela abaixou a cabeça e começou
a chorar, dizendo: “Há seis meses, ele não me toca!”.
Deu para entender o que acontece? O fato é que o problema não
está na igreja, porque ela não existe como pessoa física. A igreja é apenas
uma representação coletiva e social das nossas individualidades. Não
há como você pegar o telefone e ligar para uma igreja, simplesmente
porque ela é o encontro das nossas famílias. O que não funciona na
sua casa, certamente não funcionará na igreja, e tudo o que você está
fazendo em sua casa, você vai fazer aos domingos na igreja. Se não há
amor em casa, não há amor na igreja. Se você não resolve problemas em
casa, você não resolve problemas na igreja. Tudo isso entra no rolo do
divórcio! “Ah, não gostei do que o pastor falou. Vou embora!”. Se você
pensa dessa forma, é porque acontece o mesmo na sua casa: para todo
problema, você ameaça o outro de divórcio.
A culpa não está na igreja, porque ela representa o encontro dos
nossos lares. Se eu estou ligado com Deus na segunda-feira, o que terei
no domingo? A presença de Deus! Temos que ir à igreja para dar, não
apenas para receber. Se eu perdoo minha esposa na quarta, então eu
posso perdoar um irmão no domingo; se dei uma oferta a alguém na
quinta, vou ofertar ao irmão no domingo.
Família, porém, não é um mero detalhe. Se você quer uma igreja
perfeita, precisa consertar a sua família e ofertá-la como um presente.
Como pode existir uma igreja perfeita se sua família está longe disso?
Nós, pastores, às vezes não somos tão amáveis quanto Jesus. Acabamos
rodeando um problema que já deveria ter sido resolvido há bastante
tempo. Quando o dia da resolução chega, no entanto, não tem como
ser de outra forma: “Querido(a), o problema está na sua casa. Não ve-
nha colocar a culpa na igreja. Eu não estou em pecado e muito menos
a igreja. Seguimos a Bíblia, temos uma doutrina sã, discipulamos to-
dos os membros e estamos em um processo contínuo de santificação.
Onde está o problema?” Quando o crente está desencontrado em casa,

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reclama de tudo o que vê na igreja: “Ah, eu não gostei do LED que colo-
caram” “não gostei do rapaz do louvor”, “não gostei do batom da irmã”.
Sendo bem sincero, isso é atitude de gente mal-amada. Afinal, se você
está feliz em casa, por que vai criar problema para os outros?
Não tem nada mais lindo do que encontrar uma família da igreja
pela cidade em um dia de domingo. Eu choro fácil! Muito provavelmen-
te, essa família nunca chegará à igreja para dar dor de cabeça a ninguém,
porque ela já está bem. Agora, se o marido chega à igreja de “pá virada”,
a primeira coisa que vê é problema. Isso só pode ser proveniente de uma
família atribulada. O fato é que, onde há amor, há o mínimo de esforço
para ver as coisas além das aparências. Em um lar equilibrado, há diá-
logo, humildade e arrependimento. Esse assunto é muito importante e,
nos próximos capítulos, falarei um pouco mais sobre a relação entre a
família e a igreja.
Quando Adão e Eva pecaram, o Senhor proferiu uma sentença,
um tipo de maldição para ambos — “À mulher, declarou: “Multiplicarei
grandemente o seu sofrimento na gravidez; com sofrimento você dará à
luz filhos. Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará”. E ao ho-
mem declarou: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto
da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por
sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua
vida. “ (Gn 3.16–17) Então, ser homem e mulher é uma missão; elas são
distintas, mas precisam se encontrar e andar de mãos dadas.
O divórcio não vem pela diferença, mas pela igualdade. Se o ma-
rido e a mulher são diferentes, que motivo há para o divórcio? Ora, pen-
se comigo: para que você se interessasse pelo seu cônjuge, certamente
você buscou características diferentes das suas, não é verdade? Afinal, é
impossível unir duas mãos esquerdas, só é possível juntar a mão esquer-
da com a direita. Assim, é necessário quebrarmos alguns tabus.
O primeiro deles é: Eva não pecou por conta da omissão de Adão,
apesar de ele ter sido omisso. Antes de acontecer o pecado original, eles
eram um, estavam em concordância. Se lermos atenciosamente o capí-

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tulo 2 de Gênesis, observaremos que Eva viu o fruto e quis comê-lo. Os


movimentos humanistas e progressistas, como o feminismo, dizem que
a mulher é um ser ideologicamente quase superior ao homem, mas a
Bíblia diz que Eva quis provar o que era proibido. A Palavra de Deus é
clara ao afirmar que a rebelião é como um pecado de feitiçaria. Então,
Adão ficou tão chocado ao ver Eva comendo o fruto que ficou paralisa-
do, enfeitiçado.
Entenda algo: quem tem o poder de criação é a mulher, o ho-
mem tem o poder de execução. É como se o homem fosse o pedreiro,
mas a arquiteta, a engenheira é a mulher. É por esse motivo que em
Provérbios 14.1 está escrito: “Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas
a tola derruba com as próprias mãos.” Nesse contexto, a palavra “edifi-
car” é empregada no sentido de construir a partir de um fundamento.
Quem pôs o fundamento? O homem. No entanto, quem constrói? A
mulher. Ela consegue acelerar ou destruir processos porque tem o do-
mínio emocional da situação, além de ter a beleza e o prêmio que atraí o
homem. O fato foi que Eva quis pecar.
Em Gênesis 3.9, contudo, Deus não perguntou por ela, mas quis
saber aonde estava Adão. Sabe por quê? Porque todo homem tem uma
missão. Ser liderada pelo homem não é apenas uma prerrogativa femi-
nina, mas toda criação estava submissa a Adão. Assim, o homem repre-
senta a peça chave da sociedade no plano divino, é por isso que o Diabo
tem tanto prazer em castrar a masculinidade. Da mesma forma, Deus
bradou: “Maldita é a terra por sua causa” (Gn 3.17). Ou seja, a terra que
outrora era bendita por causa do homem, tornou-se maldita também
por causa dele. Por isso, quase todos os males sociais são resultado de
ações masculinas: crimes, comunidade carcerária, violência doméstica,
estupro, pedofilia, roubos, furtos, homicídios etc. Infelizmente, o ho-
mem deixou de ser guardião de tudo o que Deus criou, sobretudo, ele
perdeu a relação íntima que tinha com o Criador.
O texto também diz que Adão andava sempre nu e não se enver-
gonhava. Você sabe o motivo disso? Em Salmos 8, Davi disse o seguinte:

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“Deus criou o homem um pouco menor do que os anjos, e o vestiu de gló-


ria e majestade.” Segundo conjecturas teológicas, por conta da queda, o
nosso espírito tornou-se interno, e quando nascemos de novo, o espírito
do homem se conecta interiormente ao espírito do Senhor. No caso de
Adão, era diferente. Como ele fora criado à imagem e semelhança de
Deus, o seu espírito não era apenas interior, mas também exterior, por
isso, ele estava nu e não sentia vergonha da sua nudez. Você, homem,
precisa entender essa questão com muita responsabilidade. A terra é
maldita por sua causa, e só pode se tornar bendita por seu intermédio.
Quais são suas atitudes frente à vida, ao trabalho, à igreja e em relação
à sua família?
É importante deixar claro que “liderança” é uma coisa, e “domí-
nio” é outra bem diferente. O que Jesus Cristo estabeleceu como lide-
rança? A servidão. Sendo assim, ser liderado é o mesmo que ser protegi-
do. As mulheres precisam entender o poder da submissão, e os homens
precisam entender que poder é força executada contra alguém, o que é o
contrário de autoridade. O fato é que machismo não existe, o que existe
é uma maldição. Por isso, o texto em Gálatas 3.13 diz que o Senhor se
tornou maldição em nosso lugar, ou seja, Ele pagou o preço na cruz por
nós. O homem que perde para Jesus nesses quesitos, se torna mais do
que vencedor.
Como homem redimido, santificado, marido e pai de família,
eu sei qual é o limite entre reconhecer a beleza de uma mulher e me
tornar um predador. Jesus não disse que eu não deveria olhar para
uma mulher. Se uma mulher é bela, por que eu diria o contrário? Não
vou ser santo ao dizer que ela é feia, mas como homem de Deus e
santificado, eu posso dizer, sim, que ela é bonita. Porém, tenho con-
vicção de que não é minha. O problema é que as pessoas fazem uma
confusão em relação à santidade. O que o Senhor orientou foi que
não olhássemos para uma mulher com desejos impróprios. Se você

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não consegue, a sua transformação ainda não aconteceu da maneira


como deveria. O certo é olhar apenas uma vez e admirar, porque, se
você olhar novamente, a chance de pecar é altíssima. Portanto, bus-
que o discernimento do Espírito Santo.
Em minha casa, somos bem resolvidos. A Keila pode achar qual-
quer homem bonito ao meu lado, e eu também posso achar qualquer
mulher bonita ao lado dela. Inclusive, minha esposa até me cutuca para
que eu veja. Contudo, quando não somos redimidos, isso é motivo para
brigas, violência e até divórcio. Eu, graças a Deus, consigo olhar para
uma mulher e saber o limite da pecaminosidade porque nasci de novo.
O mesmo se aplica quando percebo que pequei no tom de voz usado
contra alguém. Eu tenho consciência, pois o Espírito habita em mim.
Então, homem, você não tem justificativas para ser um preda-
dor. Jesus Cristo foi crucificado para que os nossos pecados fossem re-
solvidos. Isso é tão verdade que sempre cito os discípulos de Jesus. Você
consegue lembrar-se de algum pecado sexual dos apóstolos? Jamais de-
vemos usar os homens do Antigo Testamento para fazer esse tipo de
comparação, pois na Antiga Aliança, quem morria para que os pecados
do povo fossem perdoados era o cordeiro animal, mas, no Novo Testa-
mento, quem morreu foi o Cordeiro de Deus.
Para provar que você tem a família que merece, observe o texto
em Efésios 5.22: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao
Senhor”. Esse é o momento em que as mulheres tremem. Não tem como
amar uma verdade bíblica lendo apenas um versículo, não é verdade?
Para amar o versículo, é necessário ler o capítulo. Se ficarmos isolados
em um versículo, provamos que Jesus é ladrão. Em Mateus 21.2, por
exemplo, Ele disse: “Entrem na cidade, desamarrem o jumento e tragam

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para mim”. No entanto, o texto continua. Por essa razão, é necessário ler
o capítulo inteiro.
Sabe como o texto em Efésios 5.22 começa? “Sede imitadores de
Deus como filhos amados”. Ou seja, o padrão a ser seguido é muito ele-
vado! Ninguém mudou porque foi ofendido, insultado ou agredido, mas
porque foi amado de maneira incondicional por Deus. Então, o que Ele
quer dizer é: “Olhe para o seu problema, por maior que seja, e reproduza
o mesmo padrão que tive em relação a você”. O fato é que Efésios 5.22
não fala apenas de submissão, ele vai um pouco além. Existe uma vír-
gula no meio do caminho, então, ou você, mulher, é transformada nesse
momento, ou nunca viverá a vontade de Deus. O que diz após a vírgula?
Como ao Senhor. Agora, a situação “piorou”, pois, se é “como ao Se-
nhor”, é necessário ter adoração. Portanto, o homem só mudará quando
a mulher encontrar uma linguagem contemplativa tão reverente capaz
de quebrar pedra e derreter gelo.
Pedro disse isso em sua primeira carta: “Se o marido de vocês
não responde à fé, ele pode ser salvo sem palavra alguma”. Sabe por quê?
Porque esse não é um silêncio para o homem, mas um silêncio para
Deus. Aqui está o segredo! Não é o merecimento do homem, é o mere-
cimento de Jesus. Então, o que Cristo diz a você nesse texto é: pegue o
sentimento que você tem, enquanto Me adora, e canalize-o para a sua
relação com seu marido. “Ah, pastor, eu não aguento. Eu lavo, passo,
cozinho para esse homem, e ele não me valoriza!”. Querida, você não
terá nenhum resultado se faz a coisa certa com um sentimento do diabo.
Você só terá resultado se fizer o que é certo com o sentimento de Jesus.
No século passado, viveu um grande homem de Deus que só
se converteu aos 51 anos de idade. Pense como o cara era bruto! No
país onde ele e a família moravam nevava bastante, e a mulher o
converteu amando Jesus. Ela sempre foi uma excelente esposa e uma

21
REDENÇÃO FAMILIAR

irrepreensível dona de casa. No entanto, ele não queria deixá-la ado-


rar a Deus. Ele disse:
— Você não vai à igreja.
E ela respondeu:
— Esse é o limite da minha submissão a você.

Quando o assunto é submissão a Deus, eu cheguei ao limite. Se


eu fosse uma mulher repreensível, eu aceitaria o que você está dizendo
e não iria buscar ao Senhor, mas de que você pode me acusar? Dê-me
um motivo! Será que você não é amado? Cuidado? E os nossos filhos?
A nossa casa? Dê-me uma justificativa para que eu não possa adorar
a Deus.
Ele retrucou:
— Se você for, não volta mais.
Ela ergueu a cabeça e disse:
— Está bem! — E foi.

Quando voltou, ele havia trancado a casa inteira. Diante daqui-


lo, não sobrou alternativa, e a esposa teve que dormir do lado de fora,
como um cachorro. Às 6h, o marido abriu a porta aos chutes, enquanto
a esposa congelava ao relento. Então, ela deu um salto, abriu um sorriso
e disse:
— Bom dia, meu amor. Não vá embora ainda, eu preciso prepa-
rar o seu café.
Ela pegou o marido pela mão, levou-o até à mesa, fez o café,
preparou sua marmita e abençoou o seu dia. Quando ele pegou a
marmita e se aproximou da porta, cumpriu-se o que Jesus Cristo
havia dito no Evangelho de João: “O Espírito de Deus, que convence
o homem do pecado, da justiça e do juízo”. Aquele homem soltou a

22
ANDERSON SILVA

marmita e começou a chorar copiosamente. Ele voltou para dentro


de casa e perguntou à sua mulher:
— Quem é você? Por que você não me odeia na medida em que
a odeio?
Ela disse:
— Eu tento, mas não consigo. Eu só posso dar a você o que te-
nho. E eu não tenho mais ódio dentro de mim.
Sabe quantas pessoas o ministério desse homem ressuscitou?
Vinte e uma! Ele foi usado como um instrumento de cura por Deus, e
outras milhares foram curadas. Gosto de brincar e dizer que quem tem
moral com o Trono é a sua esposa, que não ressuscitou mortos, mas
converteu o homem que os ressuscitou.
Na verdade, aquela mulher seguiu o “como ao Senhor” de Efé-
sios 5.22. As suas atitudes não eram sobre o seu marido, mas sobre Je-
sus. Então, não existe um método para seguir esse versículo, é apenas
adoração a Ele. É pegar as angústias e dores e centralizá-las em Jesus,
buscando Nele um novo comportamento, uma nova linguagem e uma
nova maneira de ser. O fato é que o homem possui uma maneira de ser
despertado. Por que as mulheres não têm obtido resultado nenhum?
Porque não sabem tocar o coração do valente. O homem não precisa
de sensibilidade e nem de amor, ele precisa da linguagem certa, e essa
linguagem é a honra. Por isso, Deus usou a submissão.
O respeito ao heroísmo que o homem carrega, por mais que este-
ja adormecido, é a maneira de despertá-lo. Por conta disso, ele funciona
pelo respeito. O esposo machista diz: “Se você não fizer, você apanha!”.
Entretanto, se a mulher de Deus não fizer, ela não acorda o espírito do
marido. O amaldiçoado de Adão diz: “Se eu acordar e o meu café não
estiver na mesa, você vai ver!” No entanto, quando a mulher entende o
Evangelho, a mesa estará posta como um instrumento de redenção, pois

23
REDENÇÃO FAMILIAR

aquilo estimula a masculinidade do homem. Se aquilo que o toca não é


feito pela esposa, ela nunca conseguirá acordar o seu espírito.
Assim, as mulheres precisam fazer o que é certo guiadas pelo
sentimento que têm por Jesus. Na realidade, o Senhor não pediu algo
pesado para as esposas. Você, mulher, acha que Ele pediu algo pesado
demais ao ordenar que fosse submissa ao seu marido? Veja o que diz
Efésios 5.25: “Maridos, amem vossas mulheres como Cristo amou a igreja
e a si mesmo se entregou”. O que Deus quis dizer com isso? Ele pediu
tudo aos homens — o Senhor ordenou que morrêssemos. Sabe por que
a igreja, a sociedade e a família não estão funcionando? Porque a mulher
não sabe adorar o heroísmo do homem, e o homem não sabe morrer
pela mulher. Entre investir na esposa e comprar rodas novas para o car-
ro, adivinha o que escolhemos? Em vez de fazer algo pelo casamento,
o marido prefere priorizar a mãe, os filhos, ou gastar em uma televisão
maior para assistir à Copa.
Os homens também precisam entender que a mulher tem um
instinto. Ela só respeita heróis, não vilões. É por esse motivo que mui-
tos reclamam da submissão que não recebem. A Igreja tem o Jesus que
merece pelo alcance de seu nível de intimidade, e Jesus tem a Igreja que
merece a partir do nível de Seu sacrifício. Isso explica porque você não
pode reclamar do seu cônjuge, pois o homem tem a mulher que merece,
e ela é resultado do seu nível de sacrifício. Da mesma forma, a mulher
tem o marido que merece, pois ele é resultado do seu nível de submissão
e respeito. Se a sua mulher não o respeita, possivelmente ela não tem ao
seu lado um homem que está morrendo como Jesus morreu. Se você
tem ao seu lado um homem que não a protege, possivelmente ele é re-
sultado da sua falta de respeito e submissão.
Por exemplo, você pode ser uma mulher extremamente empo-
derada e feminista, mas se você vai à igreja, durante 40 minutos você
adora a um homem. Então, o “x” da questão não é o homem, mas o he-
roísmo. O fato é que você vai à igreja adorar a Jesus, e quanto a isso não
há problema algum. Jesus disse: “Se não fizer o que ordeno, você não é

24
ANDERSON SILVA

meu discípulo”, assim, você e nenhuma outra mulher reclamam com Ele
por conta disso, porque sabem que Jesus é o herói que as salvou.
Portanto, homens e mulheres só obedecem a heróis. Será que
você tem morrido por sua esposa, por seus filhos e por seus valores?
Ou você é uma bomba relógio que só consegue ser fiel quando é vi-
giado? Por que a senha do celular da sua esposa é simples, e a sua
é complicada? O que você está escondendo? Está fugindo de quem?
Lembre-se: mulher não respeita vilões, apenas heróis. Por outro lado,
toda mulher possui uma importante missão. Na maioria das vezes em
que ouvem ou leem esse tipo de mensagem, logo querem apontar o
dedo para o que o marido deveria ser, mas, na verdade, o que precisa
haver, no mínimo, é compaixão.
Amada, Deus disse que o mundo é maldito por nossa causa.
Então, você não sabe o que é ter a pressão dentro de si, de querer fa-
zer o bem e o mal estar logo ao lado. E isso se torna mais difícil ainda
quando não temos suporte. “Ah, mas o meu marido não fala!” Será que
você está pronta para saber tudo o que Adão colocou dentro de nós?
Que não é sobre você? Que você não é amada? Que você não é o mo-
tivo da vida do seu marido? O fato é que somos malditos por conta de
Adão até perdermos totalmente para Jesus. Será que você está pronta
para saber o que está dentro de nós sem enfartar e fugir de medo? Re-
flita um pouco sobre isso.
Mulher, facilite a vida do seu marido: honre-o! Da mesma forma
você, homem: ajude sua esposa, ame-a, priorize-a. Lembre-se: a igreja
pode mudar, e a sociedade também, basta apenas você decidir.

25
A OMISSÃO DOS
HOMENS E O FEMINISMO
N
a sociedade, há uma estrutura histórica cultural que favo-
rece o homem e desmerece a mulher. Para nós, cristãos,
isso não pode ser uma realidade, já que Gênesis relata a
existência de uma maldição através da qual o homem se tornou não o que
escolheu ou aprendeu a ser, mas o que ela o influenciou a se tornar.
Conforme mencionei no capítulo anterior, ser liderado pelo ho-
mem não é uma prerrogativa exclusiva para as mulheres, pois a Palavra
diz que toda criação, se desejar agradar ao Senhor, deve ser liderada
pelo homem. É por esse motivo que a ausência masculina afeta toda a
estrutura social e espiritual. O homem, se você me permitir essa licença,
é Deus na Terra, e eu posso provar isso a partir de uma lógica bíblica.
Existem duas personagens na Bíblia que mostram que, quando
uma mulher não é liderada, ela exerce domínio e, como consequência,
atrai uma maldição sobre si, ou seja, uma desordem espiritual e social.
Quem são essas personagens? Eva e Jezabel — duas mulheres que esta-
beleceram um desastre social quando inverteram a ordem que o Cria-
dor havia estabelecido.
Como já sabemos, Eva assumiu as rédeas ao dialogar com a ser-
pente, enquanto Adão assumiu uma postura de omissão, já que ele esta-
va com Eva e nada fez para impedi-la. Pior, ainda comeu o fruto que sua
mulher lhe deu. Jezabel, por sua vez, também provou que, quando uma

29
REDENÇÃO FAMILIAR

mulher “vira a pá”, não há quem a segure. Elias tinha acabado de matar
quase mil homens, mas correu para se esconder em uma caverna quan-
do soube que Jezabel o desejava. É por isso que a Bíblia diz que a mulher
sábia edifica o seu lar, mas a tola, o derruba com as próprias mãos.
O feminismo é um movimento que quer dar poder à mulher,
mas sem restaurar o homem. É por isso que afirmo que ele é um Ban-
d-Aid para um câncer. O que cura o câncer não é um Band-Aid, mas
quimio e radioterapia, ou seja, um tratamento. O fato é que a mulher só
estará verdadeiramente empoderada e protegida se pensarmos sobre a
necessidade da devolução do homem ao seu lugar de origem.
Sou pastor em Brasília e discipulador de homossexuais. De
modo geral, homens que vivem na homossexualidade dizem: “Eu nasci
assim”, ou “fui abusado na infância”. Por outro lado, nenhuma mulher
homossexual que discipulei até hoje disse: “Eu nasci assim”, ou “fui abu-
sada”. Sabe o que elas dizem? “Cansei!” Não é que elas aprenderam a
amar outras mulheres, o problema é que, como não há homens de ver-
dade, uma “gambiarra” acaba servindo. A prova disso é que, na maioria
dos relacionamentos lésbicos, uma é feminina e a outra é máscula. Até
na homossexualidade Deus está certo, pois há um cabeça, um protetor,
provedor e sacerdote, dizendo: “Este é o caminho”.
Quando Adão pecou, ambos foram amaldiçoados. Deus disse
à Eva que o seu desejo seria para o seu marido e ele a dominaria. Para
Adão, Deus falou: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher [...]” (Gn
3.17). Isso é extremamente sério e não quer dizer que o homem não
deva ouvir a sua mulher, mas que ele só deve fazer isso depois de ouvir a
Deus. O motivo do desastre foi que o homem deixou de ouvir o Criador,
simplesmente porque primeiro deu ouvidos à sua mulher. É por isso que
o homem é o agente destruidor da sociedade.
A sociedade diz que o caminho é o progresso, e que devemos dar
poder à mulher. Entretanto, ela só é empoderada e torna-se uma feminista
aos 20, 30 ou, no máximo (se estiver meio surtada), aos 40 anos. Se você
estudar sobre os grandes nomes do feminismo, como Simone de Beauvoir,

30
ANDERSON SILVA

Frida Kahlo, e observar os seus estilos de vida, perceberá que é de chorar. O


discurso e a filosofia podem até fazer sentido, mas a vida não tem nenhum!
Francis Schaeffer chamou isso de “o salto irracional”, pois o mundo quer
progresso sem o Criador. Isso é loucura, precisamos de redenção!
Imagino que Adão tenha ficado irado porque Eva destruiu os pla-
nos da colonização de Deus. Sabe por que o homem quer destruir você,
mulher? Sabe por que ele a assedia, não a ama, não a protege ou investe em
você? Porque ele está irado pelo motivo de você querer dominá-lo. Desde o
jardim, Adão está chateado com Eva. O apóstolo Paulo diz que não foi Adão
quem pecou, mas a mulher pecou e fez com que ele pecasse, e é por estar
chateado que ele deseja ofendê-la, possuí-la, diminuí-la e usá-la.
Um homem se mantém apaixonado por uma mulher até conseguir
o que quer. Quando consegue, deixa de “amá-la” rapidamente, revelando
que nunca a amou de verdade. Por isso, quando o homem não consegue
conquistar, faz o que for preciso para alcançar o seu objetivo, mas, depois
que consegue, torna-se incapaz de dar um “bom dia” para a sua companhei-
ra. Isso não se aprende, mas está dentro de nós, é o nosso DNA corrupto.
É justamente sobre isso que o apóstolo Paulo fala quando afirma que tem
vontade fazer o bem, mas o mal se faz presente. Ele está dizendo que o pe-
cado não é um comportamento, mas uma persona, uma natureza, um estilo
de vida. Quando um indivíduo é empoderado em Cristo, essa estruturação,
personalidade e natureza é desfeita. O fato é que essa maldição precisa ser
quebrada, e a nossa família precisa ser devolvida para Gênesis 1.26, ou seja,
ser redimida, colonizada, receber a bênção e ser abençoadora.
Todo ser humano foi criado por Deus para pertencer. A mulher, em
sua força e sensibilidade, foi criada para pertencer ao cuidado de alguém.
Homem, talvez o problema da mulher não seja a submissão, mas a ausência
de missão. Saiba quem você é e para onde está indo, assim, você facilitará
(e muito) a vida de sua esposa. O dilema é você ficar parado, infrutífero, e
querer respeito e submissão de sua mulher. Assim fica difícil!
Gênesis 2.18 afirma que Deus deu a Adão uma auxiliadora que
lhe fosse idônea. Em hebraico, a palavra “idônea” significa “alguém
como diante dele”. Então, o Senhor olhou para todo ser criado e com-

31
REDENÇÃO FAMILIAR

provou que não havia conexão ou ser correspondente ao homem. Adão


não poderia se relacionar com uma leoa, porque não há complemen-
taridade, reenvio ou retroalimentação, por isso, Deus criou o ser que
reagiria àquilo que Adão é: a mulher.
Por que será que hoje a mulher é masculinizada e o homem é
feminilizado? Porque ela está tentando equilibrar a sociedade. Muitos
reclamam e dizem que as mulheres não respeitam mais os homens, mas,
na verdade, elas estão apenas reagindo à fraqueza do homem contempo-
râneo, que escolhe chorar, enquanto deveria ir à guerra.
O que a esposa faz nesse caso? Assume o posto de guerreira,
porque o marido escolheu ficar em casa jogando videogame. A verdade
é que os homens não devem reclamar da força das mulheres, mas de sua
própria omissão. O papel feminino é ajudar, erguer o homem e cooperar
para que ele alcance o sucesso que Deus tem reservado. Entretanto, ela
não ajudará um homem fraco, omisso, sem identidade, postura, que não
serve sua igreja local, não guia os seus filhos, não abraça os seus proble-
mas, não se reinventa em crises, não protege a reputação de sua esposa
e não freia a opinião dos seus pais.
Em minha casa, meus pais não “cantam de galo”, pois o Senhor
ordenou que eu me divorciasse deles nos âmbitos financeiro, geográfico e
existencial. Eu respeito as suas opiniões, mas eles não têm e nem devem dar
opiniões definitivas sobre o meu lar. “Pai, eu te amo, mas quando o assunto
for meu lar ou minha família, cale-se!”, essa deveria ser a postura adotada
por um homem casado diante desse tipo de questionamento.
O fato é que sua esposa não está ao seu lado para ser um proble-
ma. Se houvesse masculinidade e hombridade, o feminismo não existi-
ria, pois ele é a tentativa da devolução frustrada do que a mulher tem
perdido ao longo dos anos. Inicialmente, isso aconteceu por conta do
pecado, mas, progressivamente, ocorre devido à toda estruturação so-
cial que favorece o homem e desmerece a mulher.
O feminismo não é inútil em sua totalidade, mas ele não resol-
ve o problema. Pelo menos, ele serve para proteger a mulher até que a
solução chegue. Por exemplo, sem a Lei Maria da Penha, o que seria da

32
ANDERSON SILVA

mulher? Quando uma esposa está sendo violentada em casa, a solução


não é orar, mas retirá-la do campo de influência do abusador. A solução
é chamar o pastor, o corpo diaconal e pegar o marido de jeito. Um ho-
mem idiota e machista só muda quando apanha ou se converte. Homem
que é homem peita homem. Se ele peita uma mulher, mas não consegue
enfrentar um homem, algo está errado.
O que eu vou compartilhar agora é doloroso, mas necessário. Há
algum tempo, eu e Keila tiramos um primo da corda após ter se enforca-
do. Nunca me esquecerei dessa cena, na qual levantei o corpo do rapaz,
enquanto Keila retirava a corda. Aquele homem enfrentou o alcoolismo
durante cinco anos e acabou com sua vida de forma trágica. Algum tem-
po depois, chegou até nós uma intimação da Polícia Civil decorrente da
violência doméstica que ele tinha cometido contra a sua esposa. Aquilo
me fez perceber o quanto o caso é grave, pois a lei só chegou quando a
mulher já havia morrido.

A REDENÇÃO PROTEGE
O homem nasceu para ser provedor, protetor e profeta social,
aquele que aplaca o crime cometido contra a infância, o lar, a fé ou a
mulher. O homem não pode querer resolver os problemas da sociedade
sendo um assediador. Se colocarmos um homem bonito em uma rua
com 30 mulheres, talvez apenas uma assobie ou fale algo, apesar de to-
das o acharem bonito.
Certa vez, fui ao cinema assistir “Liga da Justiça”. Era só o Thor
aparecer e tirar a camisa para as mulheres começarem a gritar. A Keila
disse que, quando foi assistir ao filme com as mulheres da igreja, elas só
faltavam orar em línguas nas cenas mais fortes. É óbvio que uma mulher
acha um homem bonito e também pode acabar cometendo adultério
emocional na mente (afinal, esse não é um pecado exclusivo do ho-
mem), mas por ser menos ofensiva e não ter a missão de ser protetora,
provedora e profeta social, consegue segurar melhor a onda. Agora, se

33
REDENÇÃO FAMILIAR

você colocar uma mulher na rua com 30 homens, que Deus a livre de ser
molestada moral ou fisicamente pelos 30.
Há quanto tempo você, homem, não dá uma dura num cretino?
Redenção é proteger, entretanto, não resolveremos o problema enquanto
formos esses cretinos. Quem somos nós, afinal de contas? Aqueles que são
capazes de travar um ambiente imoral quando chegam à roda dos amigos?
Não porque somos moralistas, mas porque somos homens posicionados e
firmes no que cremos. “Ah, mas ela é minha mulher!”, o sujeito pode dizer.
“Mas ela não é o seu saco de pancadas. Consegue peitar um homem?”, essa
seria a minha resposta. Isso se chama santidade social.
Certa vez, recebi uma carta da escola do meu filho mais velho
solicitando que eu comparecesse a uma reunião, pois ele havia se envol-
vido em uma briga com um de seus colegas. Diante daquele recado, eu,
sabendo da boa criação que dei, chamei-o e perguntei:
— Paulo, o que é isso?
— Eu só pratiquei o que o senhor me ensinou. Foi o senhor
quem me disse que eu deveria proteger aqueles que são vulneráveis e
que correm perigo — disse ele. E continuou:
— Um amigo estava batendo em uma coleguinha, e eu entrei na
frente, dei uns murros nele, levei uns também, mas evitei que ele batesse
na minha amiga — concluiu Paulo.
Eu me senti perdido, pois precisava, ao mesmo tempo, repre-
ender aquela atitude do meu filho e elogiá-lo. Havia um pecado e uma
santidade envolvidos naquela situação — o pecado, por ter brigado, e a
santidade, por ter protegido. Diante daquela situação, pedi sabedoria ao
Senhor e deixei passar um dia. Na segunda-feira, fui correr e o chamei
para ir comigo. Depois do exercício, sentamos e falei:
— O seu pai está muito feliz pelo que você fez, pois proteger é o
papel do homem de Deus, mas jamais tenha prazer na violência. Você
só pode agir com violência quando o objetivo for parar outra violência.
Não é sobre ferir o agressor, mas evitar a ação dele. Não tenha prazer em
brigar, mas em parar uma briga, nem que seja agredindo momentanea-
mente alguém. Entendeu?

34
ANDERSON SILVA

— Entendi — disse ele.


Essa história me faz lembrar outra situação: a de uma esposa
que apanhava do marido. Ela havia saído de casa por não aguentar
mais a situação em que vivia, e, passado algum tempo, o pastor pen-
sou que fosse o momento dela voltar e a motivou, dizendo que a igre-
ja a apoiaria e oraria com ela. Só que, ao chegar em casa, a mulher
apanhou novamente de seu marido, um Major do Exército. Diante
do ocorrido, o pastor foi até a sua casa, pegou as crianças, a esposa,
algumas roupas e enfrentou o homem, dizendo que, a partir daquele
momento, ele a estava tirando da sua influência e acolhendo-a em
sua casa, sob sua proteção.
O pastor estava com sua “gangue santa”, mais conhecida como os
diáconos da igreja, e enfrentou aquele Major, perguntando se ele teria
coragem de repetir o que havia feito diante deles. “Até você se converter
e se tornar um homem de Deus, nós não devolveremos essa mulher ao
seu campo de influência. Ou você se converte e se entrega à cruz ou o
seu divórcio começa agora!”, disse o pastor.
Esses são os verdadeiros homens de Deus, os que não cometem cri-
mes sociais contra mulheres e as protegem dos homens que os cometem.
Jesus foi uma voz de dignidade à mulher porque era um homem original e
sem pecado, bem diferente de Adão e seus filhos amaldiçoados.

PRATICIDADE

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados [...].”


(Ef 5.1)

É impossível falar sobre redenção e não citar praticidade, afi-


nal eu preciso ter certeza de que você está recebendo fundamentos e
aprendendo como praticá-los em casa. Para entendermos e praticar-
mos a redenção, precisamos tratar sobre a linguagem existencial do
homem e da mulher, que são completamente diferentes.

35
REDENÇÃO FAMILIAR

Quando lemos ou falamos sobre submissão fora de um contexto,


isso oprime a mulher, a qual simplesmente não quer nem ouvir falar sobre o
assunto. O verso que destaquei foi exatamente o primeiro de Efésios 5, pois
o padrão dessa orientação é redentor, e não social, patriarcal ou opressivo.
O apóstolo Paulo não começou este capítulo falando sobre o padrão
da Babilônia, do Egito, de Sodoma ou Gomorra, que, por causa da subver-
são da identidade de um povo, fez com que Deus os destruísse. Na verdade,
quando a Bíblia fala sobre essas cidades, ela não está se referindo a lugares
geográficos, mas falando sobre identidade e natureza. Quando João as cita
no livro de Apocalipse, ele se refere à tipificação da identidade subvertida
de uma nação. Deus julga e destrói as cidades, mas também constrói outra
a partir da redenção da identidade de um povo. Assim, quando o apóstolo
Paulo diz que o homem deve ser imitador de Deus como filho amado, ele
não se refere ao padrão da Terra, mas ao padrão da Nova Jerusalém, onde
tudo começa em Deus, e não em nós.
Assuntos como família, submissão, autoridade e destino só são
dolorosos se não tiverem Deus como padrão. A submissão só é dolorosa
para a mulher quando ela não é praticada a partir do exemplo cristocên-
trico, por isso a importância de o assunto começar em Deus. É Ele quem
tem o mapa, é ele que precisa ser ouvido quando o assunto é família.
Sabe por que Adão não protegeu Eva? Porque ela assumiu o poder
que era do homem. É como se ela estivesse tirando a pilha de Adão, castran-
do-o e enfraquecendo-o. Quando ela assumiu o destino da família, pecou
contra o profetismo, pastorado, apostolado e todas as outras características
do homem, as quais acabaram morrendo. Por isso, ao falar sobre redenção,
o apóstolo Paulo diz que a mulher deve se submeter em tudo, pois, se ela
não ativar o marido à partir da linguagem que ele entende, ele não acordará.

COMPARTILHE FUNÇÕES COM SUA ESPOSA


Compartilhar funções fora e dentro de casa é bíblico. O pai é tão
responsável pelos filhos quanto a mãe, além disso, também deve coope-
rar nos serviços de casa. Homem, você pode lavar a louça e ensinar o seu

36
ANDERSON SILVA

filho a lavar o banheiro. Eu fiz esse teste e não causa impotência sexual,
então fique tranquilo!
Falando sério, quando você compartilha funções, está trazendo
equilíbrio e harmonia ao seu lar. Para muitos, isso é quase a morte, mas
você lembra que eu disse que, quando o homem morre, a mulher adora?
Então, ao servir, você está influenciando sua parceira a respeitá-lo.
Certa vez, a Keila disse que estava surtando e precisava sair para
não pirar. Eu perguntei para onde queria ir, e ela disse que não sabia,
mas pediu que eu lhe desse algum dinheiro e ela resolveria. Eu dei o di-
nheiro, e ela convidou algumas mulheres da igreja para irem ao Outba-
ck. Ao chegarem lá, foram vistas por alguns irmãos da nossa igreja que
perguntaram por mim. “Ele ficou em casa com as crianças”, ela respon-
deu. Aqueles homens não sabiam onde enfiar a cara. Era como se eles
dissessem que achavam aquilo um absurdo, mesmo sem abrir a boca.
Quando ela voltou para casa, estava descansada e menos “neu-
rótica”, afinal, tinha conversado sobre assuntos normais com outras
pessoas e espaireceu um pouco. Ao final, ela ainda voltou melhor para
mim. Com isso, entendo que toda mulher não só pode, como deve sair
sozinha. Apesar de isso ser fundamental para um casamento pleno,
muitos homens não deixam suas parceiras saírem sozinhas, pois pen-
sam que elas têm a mesma predisposição para fazer o que, na verdade,
eles querem.
Existe um tipo de intimidade que está cada vez mais rara nos
casamentos contemporâneos. O chamego aleatório, o tocar, o acordar,
dar “bom dia” e dizer que ama estão cada vez mais escassos. Por quê?
Porque a falta de intimidade em uma área afeta todas as outras. Se não
há cumplicidade para lavar as louças ou criar um filho, não existirá in-
timidade em mais nada. Quando ela não existe, tudo vira um peso, até
mesmo o sexo se torna um fardo. Entretanto, quando há intimidade, até
a relação sexual melhora, afinal, ambos podem compartilhar suas prefe-
rências e desejos sem ofender um ao outro.

37
REDENÇÃO FAMILIAR

Martinho Lutero, depois de cansar de ser padre e de experimen-


tar um relacionamento amoroso, afirmou que “o verdadeiro papel de
um homem de Deus é sair pela manhã para trabalhar e deixar a sua
mulher com anseio pelo seu retorno. Da mesma forma, o maior papel
de uma mulher cristã é dar motivos para que esse homem deseje voltar”.
Se você quer uma igreja plena, transformadora e missionária, dê
um presente a Jesus: entregue a sua família como o primeiro altar da sua
fé. Aqui em Brasília, estou exercitando a realização de cultos domésticos
todo domingo pela manhã. Todo homem de família tem que chamar a
sua esposa e filhos para orar em casa, e por mais que comece de forma
tímida, ninguém deve desanimar. É óbvio que anos de omissão não são
solucionados em minutos, mas escolha começar, mesmo com timidez.
Saiba que você é responsável pela cultura do Reino em sua casa. Mostre
à sua esposa que você deseja liderar o destino do seu lar.
Existe um grande dilema na Igreja do Senhor: filhos adolescentes
que se desviam, mesmo tendo crescido na igreja. Diante disso, muitos
pais pensam que falharam. Na verdade, às vezes o problema não é falha
dos pais, mas a falta de humanidade. Eles podem ter visto fé demais,
igreja demais, demônios demais, e acabaram vendo vida de menos.
Aquele adolescente queria ter uma espiritualidade natural, mas recebeu
uma antinatural, forçada. Depois que sai da infância, ele simplesmente
não quer mais ser forçado a aceitar uma espiritualidade estética, mas
quer assistir ao filme que não assistiu, se divertir com a brincadeira que
não brincou e dar o sorriso que não deu.
Certo dia, enquanto Keila e os meninos dormiam na sala, eu tra-
balhava — antes de me dedicar integralmente à obra, eu era designer. Às
4h, percebi que o site em que eu estava baixando imagens continha slides
pornográficos. Quando olhei para o lado e vi todos dormindo, o Diabo
veio e lançou uma sugestão: “Todos estão dormindo, pode olhar!”. Eu
comecei a rir de gargalhar diante daquela situação. Por quê? Porque não
é mais sobre ser pego no flagra, mas sobre ser livre. O Filho me liber-

38
ANDERSON SILVA

tou! E o mesmo deveria acontecer com os adolescentes. Eles precisam se


sentir livres e desenvolver uma comunhão pessoal e natural com Deus.
Gostaria de terminar este capítulo convidando você a fazer uma
autoanálise. Será que você não é o gatilho para um mau comportamento
do seu cônjuge? Antes de julgá-lo pelo que ele não é, se pergunte se não
foi você quem o levou até lá. Acorde! Para uma criança, o ambiente é
mais eloquente do que as palavras, por isso que “as piores” crianças dos
retiros e cultos viram pastores, pois, apesar dos seus problemas, o am-
biente santo da igreja os fundamentava.
Você quer mudança? Crie um ambiente propício para isso! Ho-
mem, gere um ambiente adequado que dará poder à sua esposa. Mulher,
crie um ambiente adequado, no qual os seus filhos aprenderão valores
inabaláveis e eternos.

39
A INIMIZADE ENTRE O
HOMEM E A MULHER
I
nfelizmente, já não existe mais fé verdadeira a partir dos
nossos lares. Que fé é essa, que ama o próximo, mas não
ama quem está ao lado? Que ama o que está distante, mas
ignora aquele com quem convive todos os dias? Que deseja evangelizar
o perdido, mas não evangeliza o que foi achado? É triste ver que mui-
tos se sentiam mais amados por Deus quando estavam perdidos do que
quando se tornaram filhos. Por mais louco que pareça, esta é a realidade:
muitos acreditam que é melhor continuar sendo amado como um per-
dido do que como um filho.
Eu não quero feri-lo ao escrever essas palavras, mas sacudi-lo e
fazer com que você entenda que Deus pode não se agradar ou não rece-
ber o que você tem oferecido. Por quê? Porque Ele não quer o que você
faz, Ele quer quem você é!
O que eu gostaria de falar neste capítulo é exatamente das dificul-
dades familiares e matrimoniais — consequência da inimizade entre o ho-
mem e a mulher. “Ah, mas eu nem sou casado, pastor”, você pode estar pen-
sando. Não se preocupe! Um dia você será, e, independentemente disso, é
importante que você consiga absorver esses ensinamentos.
O fato é que o homem e a mulher se tornaram inimigos, seja
explícita ou implicitamente. A mulher foi criada para ser amada, prote-
gida e receber a provisão do homem, todavia, ele não cumpre mais essas

43
REDENÇÃO FAMILIAR

funções, pois é apenas atraído pela beleza feminina sem necessariamen-


te amar a sua essência. Assim, as esposas já não estão mais interessadas
nos maridos. A consequência disso é que as famílias se tornam cada vez
mais feridas.
Não é que o homem negou o direito da mulher, o problema é
que o protetor de tudo o que foi criado passou a ser um opressor. É
como falei nos capítulos anteriores: submeter-se ao homem não é um
privilégio das mulheres, afinal, tudo foi criado para estar sob a liderança
e o governo do homem. Contudo, será que é de qualquer homem? Não,
apenas daquele que é a imagem de Deus! Entretanto, o pecado o feriu,
fazendo com que o protetor deixasse de proteger e começasse a oprimir
todos os seres, principalmente as mulheres.
Nós não iremos resolver essa problemática de qualquer maneira.
Só conseguiremos solucioná-la consultando o Criador e ouvindo o que
Ele tem a dizer sobre todas essas questões.
Eva pecou e convenceu Adão a pecar. Com isso, ele se desco-
nectou de um propósito porque desobedeceu a Deus ao ouvir a mulher.
Quando Deus perguntou onde ele estava, iniciou-se um diálogo que
mudaria o destino de toda a humanidade. Foi exatamente ali que come-
çou a síndrome de Adão — a síndrome masculina da omissão.
Qual é a principal característica do homem caído da atualidade? Ele
é um opressor. De forma resumida, a opressão masculina acontece de duas
formas: ou o homem cria o problema, ou se isenta de resolvê-lo. Se você que
lê este livro é mãe solteira, sabe muito bem do que estou falando.
Com a resposta de Adão, a síndrome também abraçou Eva, que pas-
sou a dizer que o ato não tinha sido culpa dela, mas do Diabo. Acredito que
se tivesse mais alguma mulher ali, provavelmente ela daria continuidade à
correntinha e acusaria o próximo. Foi nesse momento que Deus começou o
diálogo que representa o fundamento de uma maldição.
Essa inimizade involuntária faz com que a mulher não mais con-
temple ou reconheça a figura masculina. Da mesma forma, encoraja o
homem a não mais amar ou proteger a mulher. É como dizemos na mi-

44
ANDERSON SILVA

nha terra: é um esforço da “gota serena” fazer com que a mulher respeite
o homem e com que o homem ame a mulher. Por conta disso, a relação
se tornou predatória, pois a mulher passou a amar e respeitar somente
o homem que merece, assim como o homem passou a amar apenas a
mulher que aceita ser o seu “capacho”.
Assim, Deus ordenou à Eva que o seu desejo, a sua autonomia, in-
dividualidade e personalidade fossem apenas para o seu marido, que a do-
minaria. Entretanto, você já sabe a diferença entre domínio e liderança. O
próprio Jesus confirmou esse ensinamento e inverteu a pirâmide ao dizer
aos Seus discípulos que o maior entre eles seria o que servisse.
A deturpação desses termos é tão real que nós, homens, se tivermos
uma chefe mulher, podemos até nos comportar bem em sua presença, mas,
se não formos bem resolvidos, nos sentiremos contrariados ao receber uma
ordem. “Quem ela pensa que é, mulherzinha folgada?!”, talvez esse fosse o
seu pensamento ao passar por essa situação. Se fosse um homem na chefia,
seria tranquilo, mas, como é uma mulher de pulso firme, você fica “grilado”.
A comunidade carcerária, por exemplo, é majoritariamente
masculina. Isso comprova que quem é dado a quase todos os males não
é a mulher, mas o homem. Obviamente, por também ser pecadora, a
mulher é má, mas ela não foi criada para proteger. Uma grande diferen-
ça se mostra por meio da estrutura física masculina em relação à femi-
nina. Você pode escolher a mulher mais forte que conhece e ela ainda
terá dificuldades para derrubar um homem — a não ser que ela tenha
experiência com técnicas de artes marciais. Se você escolher o homem
mais frágil que conhece, notará que ele conseguirá derrubar uma mu-
lher. Desculpe-me o exemplo dramático, mas só quero que você entenda
o meu ponto de vista.
Você pode ser um homem incrível e estar constantemente na
igreja ouvindo a Palavra de Deus, mas, se chegar em casa e descobrir
que alguém falou mal de sua mãe, você não vai orar e pedir direção a
Deus sobre o que deve fazer. O fato é que o homem é instintivo, menos
sensível, menos sábio e tem um senso de mundo diferente. Eu gosto de

45
REDENÇÃO FAMILIAR

imaginar um exemplo no qual Deus pede a um homem para que derru-


be uma parede. Ele, com todo o seu instinto, vai contra a parede e bate
com a cabeça na tentativa de derrubá-la. A mulher, por sua vez, usa a
sua sabedoria para criar uma marreta e a entrega ao homem, mostran-
do que ele não precisaria morrer para concluir a tarefa. O que eu quero
dizer com isso? Que homem e mulher se complementam! Sempre que
existe redenção do homem e da mulher, a dança é suave, perfeita, e exis-
te um encaixe ideal entre a força e a sensibilidade.
O que a Bíblia diz em relação ao homem em Gênesis 3.17 é mui-
to forte: “Maldita é a terra por sua causa [...].” Se você for um homem fiel
ao que está escrito, reconhecerá que somos os maiores causadores dos
males. Não é a mulher que abandona o lar na maioria dos casos, mas
os homens. Elas querem permanecer, tentar, mas eles geralmente não.
É óbvio que não é algo exato e que existem mulheres piores do que os
homens, mas essa é a realidade majoritária.
O Evangelho significa redenção e reconstrução, e representa o
propósito capaz de devolver à realidade o que existiria caso o pecado
não existisse. O que seria a família se o pecado não existisse? Como
seriam os nossos lares? Quem seria o homem? Quem seria a mulher? É
exatamente por esse motivo que o Evangelho existe, para nos devolver o
que foi perdido. O Evangelho não quer que você seja “melhor”, mas que
tenha a oportunidade de ser quem você seria.

“Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido


é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é
o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita
a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus mari-
dos. Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e
entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo
lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja
gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e incul-
pável. Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como

46
ANDERSON SILVA

a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do
mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele
cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do
seu corpo. Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua
mulher, e os dois se tornarão uma só carne.”
(Ef 5.22–31)

Na minha interpretação, a maldição acaba mediante ao que o


apóstolo Paulo escreveu nos versículos acima, ou seja, a morte que se
iniciou no Éden acaba em Efésios 5. Aqui, uma porta é destravada, uma
chave é girada, e conquistamos a possibilidade de entrar na realidade
que nos leva à plenitude.
A mulher que não é amada, consequentemente, está ferida. As-
sim, a última coisa que uma mulher nesse estado deseja é respeitar al-
guém que simboliza a opressão. Recentemente, vi uma tirinha muito
curiosa no Facebook, mas que talvez represente a realidade de muitas
mulheres que lêem este livro. A postagem dizia: “Você está na rua à
meia-noite e escuta passos próximos a você. Ao olhar com a visão peri-
férica, percebe que alguém está logo atrás. Quem você prefere que seja:
o Diabo ou um homem? Comentem”. Quase todas as mulheres que dei-
xaram um comentário naquele post disseram que preferiam que fosse o
Diabo. Com isso, percebemos o quanto as mulheres querem distância
dos opressores, daqueles que simbolizam a sua dor. Elas não são feridas
apenas na rua, muitas vezes foram ou continuam sendo feridas por seus
pais, maridos, e por aí vai.
Vale mencionar que esse tipo de dano também pode ser causado
por más palavras. A violência psicológica talvez seja pior do que a física,
pois o que é dito pode ser muito pior do que o que é feito. Diante disso,
vem a Palavra de Deus, que diz: submeta-se! Isso faz com que muitas
mulheres “pirem” e se perguntem como isso pode ser o fim da maldição.
O texto de Efésios 5 relata o fim da maldição, pois o que está
escrito é redentor. O fato é que, quando uma mulher se volta para Deus,

47
REDENÇÃO FAMILIAR

Ele muda a sua perspectiva e mostra que aquele opressor pode ser, in-
clusive, uma vítima. O Senhor mostra que o homem nem sempre é o
que é porque escolheu ser, mas porque uma realidade maior o domina
e faz com que ele seja quem não deveria. Deus é capaz de mudar a pers-
pectiva da mulher ao mostrar que aquele homem, símbolo de sua dor,
é alguém que também foi ferido. Sabe o que acontece quando a mulher
compreende essa questão? Ela torna-se cooperadora de Deus na reden-
ção desse homem caído, e um instrumento para que ele seja redimido.
Mulher, como é o seu relacionamento com o Senhor? Qual a sua
postura? O que você sente? Saiba que a mesma atitude que você tem
diante de Deus, deve ter diante do homem. Quando a mulher encara o
marido a partir do senso de adoração, ela esmurra o homem interior de
seu companheiro, o qual sabe que não merece ser amado. Assim, esse
homem defeituoso acaba não tendo para onde fugir por apenas receber
amor e ser bem servido. É exatamente como ocorre no exemplo do ho-
mem bruto que mencionei no primeiro capítulo, lembra?
Quanto mais o homem está longe de ser um herói, mais a mu-
lher deve sentir as dores de Cristo, entendendo que ela não só pode
como deve fazer algo que o aproxime da cruz, e não importa se isso vai
demorar cinco, dez ou vinte anos. O meu próprio pastor exigiu 14 anos
de dedicação de sua mulher para se entregar a Jesus. Ele sempre a leva-
va para os cultos de moto e bêbado, tornando cada ida um verdadeiro
milagre divino. Quanto mais ela orava, mais bêbado ele ficava. Hoje,
todos enxergam uma bela igreja, com seus mil membros e outras 15
espalhadas pelo Brasil, mas não imaginam tudo o que já enfrentaram.
Quando alguém diz que ele é uma bênção, sabe qual é a resposta? “Sou
nada! Bênção é a minha mulher, que perseverou 14 anos até que algo
acontecesse”. Mulher, se você estiver com pressa, jamais conseguirá ver
o que Deus está preparando!
O marido é o cabeça da mulher. Quando o homem não está no
lugar que Deus separou, a vida simplesmente não funciona. Esse cabeça

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ANDERSON SILVA

ao qual me refiro é o “mandachuva”? Não, o guardião! Aquele que morre


primeiro, que gera e protege.
Nos relatos de Gênesis, a mulher foi feita para complementar o
que já existia, não para fazer. Isso até parece injusto, porém, o ponto-cha-
ve não é a capacidade, e sim o fato de Deus ter complementado o que
estava acontecendo na Terra com a sabedoria da mulher. Essa questão
é tão verdade que, quando você encontra um “macho-alfa”, um cristão
de verdade, logo percebe que sua esposa é tranquila e que tudo funciona
em suas vidas. Entretanto, quando o homem é passivo, a mulher, que foi
feita para complementar, acaba o atacando. Isso não acontece porque
ela quer, mas porque foi feita para completar o que está acontecendo. A
consequência dessa distorção é o espírito dominador.
Se você analisar a vida de uma mãe solteira, a que se tornou
“pãe”, por mais que ela seja bem resolvida quando jovem, ao chegar
aos 40 anos, o peso emocional começa a ter um grande impacto. Afi-
nal, ela passou décadas desempenhando um papel pessoal, social e
familiar que não foi criada para exercer sozinha, já que precisa de uma
força que a complemente. Quando essa mulher se aproxima da tercei-
ra idade, essa realidade pesa ainda mais. Eu sou pastor de senhoras,
e frequentemente as escuto perguntando se Deus ainda lhes dará o
privilégio de serem amadas.
Essas mulheres fizeram acontecer, foram “homens” dentro de
casa, mas se cansaram, porque não foram criadas para isso. Qualquer
mulher pode ter dinheiro, ser chefe de 300 pessoas ou até uma Juíza
Federal, mas ainda assim foi criada para pertencer a alguém. Por mais
independente que seja, toda mulher deseja voltar para casa e ser amada,
voltar e pertencer a um abraço. Ela pode ter muito dinheiro, mas o seu
conforto está na certeza de que possui um homem disposto a morrer
para protegê-la. Esse homem não usurpa as suas conquistas, mas as usa
como stand by, apenas para momentos de emergência.
O fato é que, infelizmente, a mulher moderna recusa essa reali-
dade por conta da inimizade com o homem. Por mais que eles se casem,

49
REDENÇÃO FAMILIAR

o divórcio está presente nas mais diversas áreas da vida. Existe muito
essa separação de: seu dinheiro, meu dinheiro; suas contas, minhas con-
tas. Tem casais que nem sabem quanto seus parceiros ganham! A verda-
de é que a vida não vai funcionar, enquanto o homem não voltar para a
posição que Deus separou. Basta observar como uma mãe pega o bebê.
A própria posição que o Senhor criou para a mulher segurar o seu filho
demonstra proteção, segurança e pertencimento. Quando o pai pega a
criança, é totalmente diferente. De forma resumida, a mãe foi responsa-
bilizada por Deus para dar toda a provisão emocional, enquanto o pai
foi criado para dar a provisão moral que a criança precisa.
Você sabia que o ser humano é mais prejudicado pela ausência
do pai do que da mãe? Isso é psicologia, pois o pai simboliza o ponto de
referência para o filho, assim como o homem simbolizava o ponto de
referência para toda a criação. É como se a figura masculina fosse uma
“minidivindade”, a expressão do governo de Deus na Terra. Mais à fren-
te, discutirei sobre responsabilidade paternal.
Minha esposa detectou essa questão no departamento infantil
da nossa igreja. Apesar de clamarmos para que os homens se tornem
professores, eles simplesmente não querem, e deixam essa função
para as mulheres. Vale destacar que não faço essa afirmação de for-
ma preconceituosa, mas os poucos professores que existem, muitas
vezes, são homossexuais.
Se você visitar o departamento infantil da sua igreja e observar
que só existem professoras, perceberá que elas entram numa verdadeira
guerra para controlar as crianças. É como se a voz feminina não tivesse
toda a autonomia ou autoridade para frear a criança. Entretanto, basta
você pedir a um homem para colocar ordem, e todas irão se calar. Uma
pessoa radical pode dizer que isso acontece porque o homem é opressor,
mas eu penso de outra forma, e acredito que as crianças reconhecem
que o homem é o responsável por estabelecer a direção, a missão. Por
isso, o homem precisa voltar a essa posição de governo. Por favor, não

50
ANDERSON SILVA

estou dizendo que lugar de mulher é na pia ou no fogão, pois acredito


que a mulher pode chegar onde quiser e, sobretudo, onde Deus quiser.
Uma pesquisa comprovou que mulheres entre 24 e 30 anos es-
tão, geralmente, na segunda ou terceira graduação, enquanto muitos ho-
mens de 35 anos ainda moram com os pais e não têm planos concretos
para as suas vidas. Outra pesquisa, do Instituto Schaeffer, comprovou
que os maiores consumidores não são crianças ou adolescentes, mas
homens adultos entre 22 e 38 anos de idade. Infelizmente, os homens
de hoje são meninos — homens apenas na aparência, mas infantis no
entendimento, nas responsabilidades e na postura.
Quando louvamos, a voz da congregação é predominantemen-
te feminina. É bem difícil ouvirmos vozes graves e firmes. A maioria
dos líderes de departamento também são mulheres, pois elas cobrem a
omissão que os homens cometem. É óbvio que elas precisam estar onde
estão, mas também precisam que os maridos estejam com elas. Quer
um exemplo de mulher que está ferida e cansada por todo esforço que
precisou fazer? Minha mãe. Por ter sido mãe e pai, o seu emocional está
extremamente desfalecido. Ela não foi criada para ser pai, mas para ser
uma mulher forte, sensível e protegida.
Na Bíblia, a Igreja é representada por uma figura feminina. Cris-
to, por outro lado, é o Noivo, o Homem responsável por proteger, prover,
transformar, guardar, defender e morrer pelo alvo do Seu amor. Quando
o apóstolo Paulo diz que o homem deve amar sua mulher como Cristo
amou a Igreja, ele fala sobre uma masculinidade heroica que exerce sua
liderança aprendendo a morrer e a renunciar.
As mulheres precisam de seus maridos, precisam da provisão
que podemos proporcionar, mas o que a maioria dos homens escolhe
fazer? Priorizar o que não tem importância! Isso não é liderar! O ho-
mem erra inclusive no sexo ao decidir ir primeiro, quando deveria se
preocupar com a mulher e entender que o corpo feminino funciona de
maneira completamente diferente. Muitas mulheres não conhecem o
potencial sexual de seus corpos porque o homem sempre se preocupou

51
REDENÇÃO FAMILIAR

apenas consigo. Você sabia que o homem tem orgasmo sexual indivi-
dualizado, enquanto a mulher tem orgasmo sexual potencializado? É
verdade! O homem tem um orgasmo por vez, enquanto a mulher pode
ter até 15. No entanto, para que isso aconteça, o homem precisa saber
como o corpo feminino funciona emocionalmente, amando a mulher e
deixando de tratá-la como um objeto sexual.
O amor de um homem para com a sua esposa é o maior ensina-
mento que existe para os filhos. Homem, você tem medo de que os seus
filhos se percam nesse mundo difícil? Então, eu vou dar-lhe uma tarefa.
Você pode até não orar ou ler a Bíblia com eles, mas se você quiser in-
fluenciá-los para que não saiam dos caminhos do Senhor, permita que
essa criança assista ao amor que você tem pela mãe deles. Permita que o
seu filho veja o amor que você tem pela sua esposa!

“Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o


alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos
membros do seu corpo. Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se
unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. Este é um mis-
tério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja. Portanto, cada um
de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o
marido com todo o respeito.”
(Ef 5.29–33)

Sabe por que você não tem um bom casamento? Porque você
ama todas as pessoas antes de amar a sua esposa (se é que você a ama
verdadeiramente)! A Bíblia não diz que você é uma só carne com sua
mãe, pai ou filho, mas diz, inúmeras vezes, que você é uma só carne
com a sua mulher ou o seu marido. Sabe quem deveria ser a pessoa mais
amada da sua vida? Adivinha? É por esse motivo que o seu casamento
vai mal, porque você não ama o seu cônjuge como a si mesmo.
A minha própria mãe não entendia isso. Certa vez, comprei uma
briga com ela, pois insistia em interferir na minha casa e na criação dos

52
ANDERSON SILVA

meus filhos. Além disso, criticava minha esposa, ao dizer que ela não sa-
bia lavar a louça, fazer arroz etc. Isso inflamou o meu coração ao ponto
de eu ter que chamá-la e dizer que ela não tinha nenhuma autoridade
dentro da minha casa.
Falei que ela era minha mãe apenas quando eu estivesse em
sua casa, mas, na minha, havia um novo ciclo de autoridade, e lá
quem mandava era a minha esposa, e não ela. Também esclareci que
ela não criaria os meus filhos e não ditaria como eles viveriam. Para
tentar melhorar a nossa relação, eu precisava dizer que ela já tinha
sido a pessoa mais importante da minha vida, mas que, a partir do
momento em que me casei, e se tornou a segunda mais importante.
Afinal, eu havia me tornado uma só carne com minha esposa. Então,
finalizei a conversa perguntando se ela acreditava em Deus e na Sua
Palavra. Quando ela respondeu que sim, afirmei que apenas estava
crendo e agindo conforme o que está escrito.
Quais são suas atitudes em relação à pessoa mais importante da
sua vida? Se for a sua mãe, como você a trata? Se for o seu cônjuge, como
você se dirige a ele? Em momentos de crise, você é o tipo de pessoa que
rompe e cai fora, ou que permanece e cria possibilidades? A verdade é
que a maioria dos lares não tem sido referência, as pessoas não podem
olhar para nós e encontrar um exemplo a ser seguido.
Frequentemente, falamos sobre salvação eterna e futura, mas
não falamos sobre salvação vigente, presente e imediata. Estamos aguar-
dando ser salvos para a Eternidade, mas nossas vidas estão perdidas, e
os nossos casamentos, enfraquecidos. Todavia, tenho uma boa notícia
para te dar: vida eterna não é aquilo que está por vir, mas o que vem
quando Cristo reina em nossas vidas. A salvação começa agora! A reali-
dade futura que viveremos pode ser experimentada hoje!
Precisamos ser redimidos por Deus para termos um novo estilo
de vida. Quando Deus criou a humanidade, criou homem e mulher, não
homem, mulher e filhos. A relação primária é entre macho e fêmea. A
relação mais significativa é a matrimonial. Se fosse o contrário, Deus

53
REDENÇÃO FAMILIAR

teria criado pai e filho(a), ou mãe e filho(a), mas sabemos que não foi
isso o que Ele fez.
O problema não é você amar os seus filhos, mas amá-los mais
do que o seu cônjuge. Como pai, você foi criado por Deus para liberar
o seu filho para seguir um caminho quando ele alcançar a maioridade.
Tenha em mente que o seu filho não divide a vida com você e não vai
permanecer com você até os 70 ou 80 anos. Ele foi criado para estar
com você, mas sabe quem foi criado para permanecer com você? O seu
cônjuge. Se você é filho, essa mesma lógica deve nortear o seu relaciona-
mento com seus pais. Quem vai ficar com você até o fim, ajudar a trocar
sua dentadura e dormir com você, será a sua esposa ou marido, não sua
mãe ou seu pai. O fato é que as famílias atuais são fracas porque muitos
escolhem resistir a essas verdades e não conseguem praticá-las, já que
não permitem que a realidade desça aos seus corações.
Quando decidi ser um bom marido? A partir do momento em que
vi minha mãe apanhar pela primeira vez. Quando me converti, Jesus disse
que me ajudaria nessa missão. A tatuagem da Keila no meu pescoço não
é uma prova do meu amor, mas um lembrete ao meu pai de que eu não
vou fazer o que ele fez: não vou abandonar, como ele abandonou; não vou
permitir que meus filhos passem fome, como ele permitiu; e não vou deixar
que meus filhos apanhem ou sofram bullying por não ter quem os defenda.
As mulheres não querem mais os homens porque eles não as
protegem. Essa é a diferença entre a homossexualidade feminina e a
masculina. Enquanto a masculina é complexa e certos homens sentem
que nasceram assim, a feminina não possui esse traço, mas geralmente
é baseada em traumas. São mulheres que encontram no amor de outras
aquilo que deveriam encontrar no amor dos homens, como a segurança
de que precisam. Em uma relação entre duas mulheres, a probabilidade
de você detectar que uma delas foi ferida, violentada, que odeia homens
ou viu o seu pai cometendo atos absurdos contra a sua mãe é gigante.
Chegou a hora dos homens voltarem aos seus lugares! Apenas as-
sim nossos filhos aprenderão o que é a vida e o que é o propósito de Deus!

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HOMEM COM “H”
MAIÚSCULO
A
reestruturação familiar a partir da redenção do ho-
mem e da mulher é um tema extremamente impor-
tante que o Senhor tem imprimido em meu espírito.
Esse assunto remete ao resgate da hombridade e da feminilidade,
não apenas no aspecto doméstico e social, mas principalmente no
espiritual. Só a título de esclarecimento: quando falo do homem, não
me refiro ao gênero masculino, mas a um propósito.
Assim, Deus só pode estabelecer um propósito poderoso quan-
do o homem e a mulher compreenderem que, juntos, são capazes de
formar uma tempestade redentora na Terra.

MASCULINIDADE: A FORÇA MOTRIZ


A família é o núcleo apostólico mais poderoso no âmbito social.
Nem mesmo a Igreja tem esse poder, pois ela age como um agente “em-
poderador”. Para você entender melhor o que digo, farei uma analogia.
Considere a Igreja como sendo um posto de gasolina, e o cristão, um
veículo. Como sabemos, carros não habitam em postos, mas o moto-
rista tem que passar por ele para abastecer o seu automóvel e continuar
seguindo o seu destino. No caso da Igreja, ela cumpre o seu propósito
quando abastece, dá significado e sentido para que o cristão siga o seu
desígnio, o seu objetivo divino de vida.

57
REDENÇÃO FAMILIAR

Entretanto, não foi a Igreja que caiu no Éden, mas a família. As-
sim, o plano original de Deus não envolve a instituição em si, mas Ele
deseja que tudo aconteça por meio da Igreja. Na verdade, o Senhor não
está construindo um templo, mas uma cidade na qual a família é a célula
apostólica transmissora do propósito divino.
“E Jesus? Por que Ele não se casou?”, muitos questionam. Lem-
bre-se de que Jesus é Deus, e não podemos atribuir uma característica
humana Àquele que é uma divindade. Por conta disso, Deus não pos-
sui as mesmas necessidades fisiológicas sexuais que nós e, consequen-
temente, não precisaria se casar. Além disso, Ele já possui uma família,
que somos nós.
No caso de Paulo, ele não apenas optou por não se casar, como
também possuía o dom para o celibato. Ele não tomou essa decisão de
forma sofrida, porque foi capacitado a viver daquela forma. Por mais
que Paulo não tenha se casado, ele era um doutrinador da realidade
familiar e estimulava a formação do Homem com “H” maiúsculo. Esse
é um propósito de Deus que pode ser observado no capítulo quatro do
livro de Efésios.

“E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros
para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfei-
çoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação
do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo [...].”
(Ef 4.11–14)

Quando preguei na Europa pela primeira vez, algumas pas-


toras chegaram a implorar para que eu fizesse algo por elas. Elas
pediam para que eu voltasse ao Brasil, discipulasse homens e os en-
viasse para lá. Aquelas mulheres tinham saído do Brasil há 15, 20, 30
anos e estavam morrendo espiritualmente, tudo isso porque os ho-

58
ANDERSON SILVA

mens mantinham-se adormecidos, o que é de interesse do Diabo. Ou


seja, a masculinidade não funcionava mais como uma força motriz,
uma força geradora de movimento.
O ponto-chave é que Homem com “H” maiúsculo representa o
poder capaz de modificar o individual, o familiar, o espiritual e o social
até que cheguemos à maturidade, à varonilidade e à medida da estatura
de Cristo. Para isso, precisamos entender que, se a masculinidade do
homem não for redimida, se ele não voltar ao seu lugar original, não
haverá potencialidade.

MORDOMOS DO REI
Não existe nenhum relato bíblico de que Adão e Eva adoravam a
Deus, jejuavam, ofertavam, dizimavam, congregavam, amavam ou per-
doavam. Ou seja, obedecer a Deus não era uma necessidade da criatura
que vivia à imagem e semelhança perfeita do seu Criador. Na verdade,
as necessidades de culto e obediência a Deus são para os homens caídos,
para os filhos de Adão.
Apenas três seres humanos experimentaram uma existência sem
pecado: Jesus, Adão e Eva. Só eles sabem como é viver assim, por isso,
não precisavam ter uma obediência litúrgica. A existência sem pecado
era uma forma de adoração a Deus, e tudo o que Adão fazia Lhe glori-
ficava. Assim, Gênesis não relata o oferecimento de ofertas por parte de
Adão. A primeira vez que isso aconteceu foi por meio de Caim e Abel,
depois que o pai deles pecou.
Pensamos que nossa adoração é uma forma de suprir algum
tipo de carência do Criador, como se Ele estivesse menos potente, aba-
tido ou diminuído. Com isso, enganamo-nos ao acreditar que, ao ado-
rar, atribuímos força, potência e soberania a Ele. Assim, adoração não
é uma necessidade de Deus, pois Ele é autoexistente, autosuficiente e
não precisa ou depende de nada e de ninguém. Será que você acha que
o nosso pecado tirou algo de Deus? Se fosse assim, o que nossa santi-
dade acrescentaria a Ele?

59
REDENÇÃO FAMILIAR

O culto é necessário porque Deus quer nos responder. A úni-


ca maneira de Ele curar o pecador é através do seu quebrantamento,
reverência e adoração. O fato é que, quando nos colocamos diante do
Criador, Ele preenche os lugares vazios dentro de nós. Frequentemente,
achamos que Deus precisa do que possuímos, mas, parafraseando C. S.
Lewis: “O homem que julga ter um ministério, e a partir desse ministé-
rio busca fazer algo para Deus, é como uma criança tola que, no dia do
aniversário de seu pai, pede-lhe dinheiro para comprar um presente e
lhe entrega como se o presente não tivesse sido pago com o dinheiro do
aniversariante. Só um tolo acha que o pai ganhou algo além de poesia”.
É como está escrito: “Tanto a prata quanto o ouro me pertencem,
declara o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.8) — tudo pertence a Ele. Quando
Davi desejou construir um templo para o Senhor, Deus disse que havia
muito sangue em suas mãos e que ele apenas acumularia as ofertas para
a construção. Naquela ocasião, quem iria fazer a construção era o seu
filho. Foi preciso que Davi pedisse para o povo parar de ofertar, porque
o que tinha já era muito.
Ao orar em agradecimento, Davi disse: “Mas quem sou eu, e
quem é o meu povo para que pudéssemos contribuir tão generosamente
como fizemos? Tudo vem de ti, e nós apenas demos o que vem das tuas
mãos.” (1 Cr 29.14) Entenda que Deus não precisa de nada disso, mas
Ele nos ama de tal forma que nos vê como pequenos do Reino — “Não
tenha medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar o Reino a vo-
cês.” (Lc 12.32) A nossa obediência é poesia e algo de que Ele se agrada,
não por necessidade, mas por amor.
De igual modo, Deus não precisa do nosso dinheiro. Ele quer
nos treinar e nos reconfigurar à generosidade que teríamos se o pecado
de Adão jamais tivesse existido. Quando Deus nos aconselha a amar, Ele
não ganha nada com isso, e, ao entregarmos algo, o que importa não
é o objeto, mas a linguagem espiritual de devolução do DNA que está
oculto em Cristo Jesus. Assim, tornamo-nos nova criatura, e ela não
está mais configurada na herança adâmica, afinal, recebemos o DNA

60
ANDERSON SILVA

de Jesus. O que devemos fazer é ofertar e dizimar a carne, até que nos
tornemos o dízimo em Espírito e em verdade.
Você sabe por que não vivemos milagres quando o assunto é
dinheiro? Porque a maioria de nós age como se fosse suficiente entregar
apenas 10% de tudo o que recebemos. Na realidade, os 10% só têm po-
der para gerar respostas do céu a partir do momento que entendemos o
real propósito disso. Mesmo que o dízimo seja dado, estaremos vulne-
ráveis em relação aos 90% restantes, pois eles também possuem dono e
nós somos apenas mordomos.
Na história em quadrinhos do Batman, existe o mordomo que
trabalha na casa de Bruce Wayne, o Alfred. Mesmo não sendo o Batman,
ele anda no carro do Batman, acessa as contas do Batman e conhece a
identidade secreta do Batman. Em termos práticos, o Alfred não salvará
a cidade, afinal, ela já possui um herói. Da mesma forma, só viveremos
o extraordinário de Deus se a nossa vida for vulnerável nas mãos Dele.
A questão não está no que fazemos ou dizemos, mas se Deus
responderá ao que foi dito ou feito. Caim ofertou, mas em pouco tempo
a sua oferta resultou em um homicídio. Como é possível uma oferta se
transformar em um homicídio num curto período de tempo? O inte-
resse de Deus não está no que falamos ou no que fazemos, mas se Ele
pode responder ao que foi apresentado. Em nossos próprios termos, a
obediência continua sendo desobediência.

A OFERTA QUE MOVE OS CÉUS

“Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim. Pela


fé, ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas.
Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala.”
(Hb 11.4)

Mesmo depois de morto, Abel ainda fala. Existe um enorme es-


paço de tempo entre ele e o escritor de Hebreus, mas pela intimidade

61
REDENÇÃO FAMILIAR

com o Senhor, o escritor afirma sem medo de errar que, mesmo depois
de morto, ainda é possível ver Abel falando com Deus por meio da sua
oferta, que já não existe mais, mas que permanece representando uma
atitude agradável ao Senhor.
É normal acharmos que a nossa obediência é um esforço ou uma
imposição, mas, na realidade, é uma derrota. Se queremos viver o extraordi-
nário de Deus, precisamos entender que a obediência é uma rendição. A vi-
tória está em entender que só podemos ser mais do que vencedores quando
nos rendermos Àquele que venceu. O problema é que queremos ser mais
do que vencedores nos afundando em tarefas que nos levam a atitudes car-
nais. Louvamos de forma carnal, cantamos de forma carnal, obedecemos de
forma carnal, mas não é esse o desejo de Deus. Ele quer nos responder! Para
que isso aconteça, precisamos oferecer um culto agradável a Ele. Não é essa
a problemática das nossas orações? Achamos que orar é apenas falar com
Deus, mas dessa forma torna-se um monólogo. A oração consiste, princi-
palmente, em ouvir o que Ele tem a nos dizer.
Sabe por que o seu propósito familiar não está dando certo? Por-
que existem momentos em que você escolhe obedecer a Deus, e outros
em que escolhe ignorá-lo. Quem vive dessa forma não entendeu o que
é viver o Reino. Precisamos entender que, no Reino de Deus, mesmo
quando não queremos obedecer, obedecemos, já que existe um legisla-
dor, uma autoridade máxima. Para aqueles que querem enxergar o Rei-
no por um ponto de vista democrático, o Senhor também pede que algo
seja feito. O problema é que nenhum deles consegue concluir a tarefa
por completo, apenas em parte. É nesse tipo de pessoa que o Diabo ama
investir, buscando a oportunidade certa para dar o bote.
Por outro lado, existem aqueles que possuem tanta reverência,
amor e temor que já quebraram a calculadora há tempos. Eles não fa-
zem uma vez, mas cinco, dez, 20, 50 vezes mais do que Deus pediu. Com
essas pessoas, o Diabo nem perde tempo, porque ele não é capaz de mi-
nar a extravagância do amor de Deus. O fato é que Satanás não tem for-
ça contra aqueles que já entenderam que tudo o que possuem tem dono.

62
ANDERSON SILVA

RESPONDA COM A SUA VIDA

“Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus [...].”


(Rm 3.23)

Cremos na passagem acima, mas não entendemos que alguém


só pode ser destituído de algo para o que, um dia, tenha sido instituído.
Destituir consiste em impedir alguém de usufruir algo que lhe pertence.
Com isso, o texto sugere que a glória de Deus nos pertencia, mas acaba-
mos perdendo-a ao sermos destituídos.
Você sabe qual é a obra do Evangelho? Seria cantar para Deus
todas as nossas necessidades? Não! Nós não devemos pensar que o Se-
nhor precisa do nosso louvor para ser agradado. O que Ele deseja é ver
respostas no nosso espírito, caráter, casamento, cotidiano, valores, na
nossa consciência e postura. Ele nos dá respostas a partir daquilo que
estamos dispostos a entregar.
Por exemplo, quando o assunto é financeiro, costumamos agir
como grandes conhecedores e cheios de sabedoria. Também juntamos
inúmeras páginas apologéticas e calvinistas de teologia e acreditamos
que em seis meses nos tornaremos grandes conhecedores de Jesus. A
questão é que não importa o quanto saibamos e o quanto tenhamos de
conhecimento, mas as experiências e intervenções de Jesus em nossas
vidas. Não importa se a oferta entregue é em forma de comida, sangue
ou dinheiro, o que importa é se o Senhor tem lhe respondido e suprido
as suas necessidades.
Se observarmos o padrão da oração do Pai Nosso — “Seja feito
na Terra como é no Céu” —, notamos que o Céu está em desacordo
com a Terra. Milagres não são necessários no Céu porque lá não há
ausências. Quando um milagre acontece, é porque Deus está suprindo
uma necessidade. Quando ocorre uma cura física, por exemplo, o Céu
nos diz que o corpo humano não foi criado para se deteriorar. Então, a
cura física não é um favor, mas uma amostra do corpo que Adão possuía

63
REDENÇÃO FAMILIAR

antes da queda e do corpo que teremos quando Jesus voltar. Da mesma


forma, o milagre financeiro também não é um favor. Por isso, devemos
parar de buscar respostas que justifiquem a nossa distância da realidade
em Jesus.

 NDE HÁ MILAGRE, O NÍVEL DE


O
RESPONSABILIDADE AUMENTA
Há cerca de quatro anos, tirei minha habilitação e comprei um
carro zero. Apesar de ter sido uma conquista, a situação foi bem com-
plicada para mim, e a Keila não entendia o que estava acontecendo. Eu
disse a ela que estava com medo, afinal, nunca tive nada na vida, e temia
a possibilidade de idolatrar o carro em vez de apenas usufruí-lo. Ela,
porém, me acalmou, e disse que para cada dia bastava o seu próprio mal.
Alguns dias depois, quando entrei no carro, uma canção que eu
já havia ouvido diversas vezes falou fortemente ao meu espírito. Desli-
guei o carro e só conseguia chorar e dizer que amava Jesus. Meu filho
mais velho estava comigo e ficou sem entender a situação. Ele achou
estranho o fato de eu estar chorando, mas respondi que estava feliz por
me lembrar de onde Jesus tinha me tirado e para onde estava me condu-
zindo. Cheguei em casa muito feliz e dizendo à Keila que eu conseguiria
dar o carro, caso Deus me pedisse. Lembro-me de que ela ficou preo-
cupada, achando que o Senhor havia me pedido o carro como oferta.
Eu respondi que não era o caso, mas que já estava disposto a entregá-lo.
Passaram-se três anos e, em um culto, o Senhor me disse que havia
chegado o dia de entregar o meu carro. O encontro estava uma benção, mas
quando tive a certeza de que aquele era o dia, fiquei mais feliz ainda.
Muitas vezes, aqueles que discipulamos enxergam a extravagân-
cia do amor de Jesus como uma problemática. Já fui muito censurado
por ter uma família, uma igreja, filhos e continuar dando meus carros.
Sempre respondo que, se Deus sabe de tudo da minha vida e ainda as-
sim pede o meu carro, é porque Ele sabe que não pode levar o carro
daqueles que questionam minhas atitudes. Esse tipo de pensamento fala

64
ANDERSON SILVA

muito sobre a forma com a qual as pessoas lidam com seus relaciona-
mentos, porque, se existe um problema em ser generoso com Deus, pro-
vavelmente a pessoa não conseguirá ser generosa com o seu cônjuge.
Toda essa problemática está intimamente ligada ao divórcio, porque ele
revela o fim da generosidade.
As pessoas precisam mudar a mentalidade de que o que impor-
ta é a colheita. O privilégio não está nos frutos, mas no ouvir. Nossa
obediência não está restrita apenas às respostas, pois elas são um fa-
tor secundário. Você já parou para pensar que, quando escolhemos
ouvir, o Criador do universo pode parar a Sua agenda, pois viu em
nós alguém disponível para escutar? Assim, Ele se agrada de nós e
diz: “Preciso fazer um saque, mas não há em quem sacar, estão todos
surdos!”, mas nós estamos disponíveis e respondemos: “Eis-me aqui,
saque tudo! Tudo é teu!”.
Cerca de um ano após o episódio da oferta do carro, fui pregar
em uma igreja em Goiânia. Um jovem veio até mim chorando, e disse
que Deus havia pedido para que ele me desse o seu carro. Então, ele me
entregou a chave, e com tristeza, recebi e me sentei. Pensei que aquilo
era um “Cavalo de Tróia”, que o jovem estava confuso e que aquela não
era a vontade de Deus.
Depois de alguns minutos, uma pessoa sentou ao meu lado e
perguntou se eu não estava feliz em ter ganhado o carro. Eu respondi
que não e, ao mesmo tempo, perguntei a Deus o porquê de não estar fe-
liz com o ocorrido. Deus me respondeu e disse que o carro não era meu,
por isso eu estava me sentindo daquela forma. O Senhor me lembrou de
uma oração que eu havia feito há 12 anos, em que eu pedia para que Ele
me fizesse prosperar para que eu ajudasse pessoas, e que Ele tinha toda
liberdade em escolher quem eu iria abençoar. Naquele momento, perce-
bi que a minha oração estava sendo atendida e não deu tempo nem de
passar o carro para o meu nome — Ele já havia me falado que o veículo
tinha destino certo. Cinco minutos após ter recebido o automóvel, eu já
o tinha ofertado a outra pessoa.

65
REDENÇÃO FAMILIAR

Outra vez, eu estava pregando em Balneário Camboriú, e um ca-


sal me deu uma quantia em dinheiro destinada a um projeto que tenho,
a fim de construir cisternas no Nordeste. Quando estava voltando para
casa, recebi uma mensagem que me tocou profundamente. No texto,
uma moça me perguntava como era possível crer em prosperidade se
tudo ia mal em sua vida financeira. Ela não tinha condições de colocar
os seus filhos numa creche, sua geladeira estava vazia e ela estava prestes
a ser despejada. Tudo aquilo fez com que ela sentisse que Deus havia
se esquecido de sua situação. As palavras da moça doeram em mim de
forma avassaladora! Ela me pedia encarecidamente para que eu orasse
por sua vida, e respondi que eu era a resposta de oração.
Naquele momento, Deus me disse que eu não iria construir uma
cisterna com o dinheiro que havia recebido: aquela moça era a cisterna
do mês. Ele me direcionou a ofertar a quantia a ela. A moça até ques-
tionou minha decisão, mas fui firme e respondi que não agi por dó ou
piedade. Ao fazer aquilo, eu estava apenas devolvendo ao Dono do uni-
verso o que Ele havia me entregado.
Alguns dias depois, fiz uma oração na qual eu dizia que se a
igreja de Brasília falhasse na minha provisão, Deus tinha o poder de
converter o coração dos Seus servos em outros lugares do Brasil, e até
da Igreja mundial, para que, por meio deles, eu tivesse o meu sustento.
Depois dessa oração, pessoas do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa
entraram em contato comigo, afirmando que o Senhor havia colocado
em seus corações o desejo de me abençoar.
Os momentos de milagre são aqueles em que devemos estar mais
alertas, pois o Diabo está sempre à espera da nossa reação para ver se
agiremos como homens ou como meninos diante do que Deus nos deu.
Quando você receber algo, tenha temor, pois Ele se agradou de você e
lhe deu uma resposta, elevando o seu nível de responsabilidade. Saiba
que, onde há milagre, o nível de responsabilidade aumenta.
Houve um tempo em que o Senhor permitiu que tivéssemos três
carros na garagem. Eu sabia que alguns dos que estavam ali já tinham

66
ANDERSON SILVA

dono, por isso não me empolgava em tê-los. Quando chegou a hora de


entregá-los, levei os carros para fazer revisão e, no domingo seguinte,
entreguei as chaves para as pessoas, dizendo: “Deus lhe respondeu!”. É
dessa forma que a igreja deveria viver o seu propósito, e é isso o que a
sociedade espera de nós: que tenhamos alegria em dar. Essa é a manifes-
tação do “H” maiúsculo por meio da Igreja e dos cristãos.
Muitas pessoas acham que a Keila se chateia pelo fato de eu
dar os carros que ganho. Quando chego em casa avisando que ganhei
um automóvel, ela pergunta onde está, e eu já digo que entreguei a
outra pessoa. A reação dela é simplesmente rir. Ela não se importa,
porque sabe que a vida de quem ama a Jesus é um milagre. O nosso
presente é resultado do nosso amor por Jesus ontem, o nosso futuro
é resultado do nosso amor por Jesus hoje. Precisamos apenas nos
questionar se somos dignos da confiança de Deus para sermos usa-
dos como cofres nesta Terra e como pessoas dignas de terem em si o
endereço dos Céus. O Pai deseja agir de maneira milagrosa em todas
as esferas da necessidade humana, e nós somos aqueles que levarão
a transformação.

O “H” MAIÚSCULO
Quando preguei na Igreja Por Amor, do meu amigo Victor Azeve-
do, de longe pude notar que ele foi impulsionado por alguém que exerce o
“H” maiúsculo. Ele foi discipulado por Leandro Barreto, e muitos acabam
pensando que ele foi apenas um pai na vida do Victor, e que é apenas um
apóstolo que tem cuidado da “galera do Reino”.
Não se trata apenas de paternidade, mas também de masculinida-
de. O Leandro teria todos os motivos para não estar em sua igreja, exer-
cendo o papel que Deus o chamou para desempenhar. Ele é um cara boni-
to e jovem que poderia estar em qualquer outro lugar, mantendo relações
sexuais com quem quisesse, usando drogas e fazendo qualquer outro tipo
de loucura. No entanto, ele está nesta posição, amando Jesus, sendo puro,

67
REDENÇÃO FAMILIAR

guardado por Deus, exerendo o papel de um bom marido e de um líder


firme. Isso gera um choque social, porque, para o mundo, o Leandro
está desperdiçando a sua vida e estragando o seu destino.
Ao conversar com o Victor, ele me confessou que pensava em ser
apenas um ministro itinerante. Até que, certo dia, o Leandro perguntou
se ele tinha conhecimento de que existia uma igreja dentro dele. Com
isso, Leandro expressou o “H” maiúsculo, provendo, protegendo e en-
viando o Victor — esse é o sentido da masculinidade.
Há um tempo, li uma pesquisa que afirmava que 70% da mem-
bresia da igreja brasileira é feminina, evidenciando que a fidelidade
feminina tem se mostrado mais potente do que a masculina. Essa pes-
quisa, e muitas outras evidências, nos revelam que o interesse primor-
dial do Diabo não está na mulher, mas no homem, na peça motriz.
Voltando a Gênesis 3.9, observamos que Deus chama o homem
com “h” minúsculo, e não o Homem (homem e mulher unidos em um pro-
pósito). Com isso, nos mostra que estava chamando a responsabilidade de
Adão. Aquilo que algumas mulheres intitulam como “machismo” tem como
base essa maldição, que é a consequência do silêncio de Adão. O homem é
homem em qualquer lugar do mundo, ele age como opressor ou omisso em
qualquer cultura, mas nada disso foi aprendido, é inato. Está na natureza do
homem caído não amar quem ele deveria proteger, prover e enviar.
Por outro lado, a mulher é sábia, porém emotiva. O homem é
cartesiano em seu raciocínio, conseguindo pensar em apenas uma coisa
por vez. Então, a única maneira de criar um propósito familiar é ter o
homem assumindo o seu lugar e tomando as rédeas. Homem, você não
é passageiro nessa jornada, você é o motorista!

EFÉSIOS 5.22 E O DNA “H” MAIÚSCULO

“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor [...].”


(Ef 5.22)

As mulheres erroneamente empoderadas afirmam: “Ah, o


apóstolo Paulo era machista! Mandava as mulheres ficarem caladas

68
ANDERSON SILVA

na igreja!”. “Eu não vou ler as cartas de Paulo, ele era machista!”. Cal-
ma! Antes de emitir qualquer opinião, é preciso entender que, naquele
contexto, as mulheres seguiam religiões pagãs antes de serem resgata-
das pelo Evangelho.
Naquelas religiões, o sacerdócio era desempenhado pelas mu-
lheres. Por esse motivo, quando se convertiam ao Evangelho, elas aca-
bavam querendo exercer cargos altos na igreja. Contudo, o papel de sa-
cerdote é do homem.
Assim, Deus estava falando por meio de Paulo para uma igre-
ja gentílica que estava mudando o seu comportamento de forma pro-
gressiva, e as mulheres ainda não conseguiam exercer de forma plena
os princípios do Evangelho. Os homens daquela antiga religião, por
sua vez, estavam mortos para o seu propósito como cabeça, pois es-
tavam acostumados a não serem sacerdotes. O desejo de Deus era
ressuscitá-los aos seus postos e, segundo os preceitos divinos, ho-
mens mortos espiritualmente são ressuscitados por mulheres vivas
espiritualmente. Entretanto, por conta de seu antigo caráter sacer-
dotal, elas queriam que os homens fossem despertados na mesma
medida em que elas haviam sido, pois desejavam servir a Deus e
ponto final. O que elas não sabiam é que essa atitude poderia acabar
terminando de matar os seus maridos.
Diante disso, Paulo ensinava que, se elas desejavam ressuscitar
os seus maridos, seria necessário erguê-los com a linguagem correta:
respeito e honra. Em vez de se pronunciarem nos cultos, elas poderiam
chegar nas suas casas e expor aos seus maridos os seus questionamen-
tos, por mais que já soubessem as respostas de suas perguntas.
Assim sendo, acredito que a intenção do apóstolo Paulo era ofe-
recer uma estratégia de sabedoria às mulheres — ao agir dessa forma,
elas levariam seus maridos aos sentimentos de honra e respeito, desper-
tando-os e gerando neles o DNA do “H” maiúsculo.
Portanto, mulher, se seu marido ainda não está rendido ao Se-
nhor, você deve exercer o papel missionário em casa até que o seu “H”
maiúsculo seja formado.

69
SABEDORIA FEMININA
F
alar sobre a mulher em um contexto conjugal, matrimonial
e familiar engloba princípios que servirão como norte para
as demais configurações relacionais. Não pense que, por
não ser uma mulher, isso não se aplica a você! Saiba que a sabedoria femini-
na é um princípio de vida que deve ser entendido por todos.
O relacionamento entre homem e mulher é uma complementa-
ridade de capacidades. Os dois são muito distintos, mas se completam.
A mulher não poderia viver sem a força do homem, e o homem não
funcionaria sem a capacidade de percepção e sensibilidade da mulher.
Quando o homem e a mulher se complementam a partir dos dons que o
Senhor depositou sobre cada um, a vida a dois funciona de forma mais
leve. Tudo funciona como se o homem executasse uma obra e a mulher
fosse a arquiteta.
A sabedoria feminina é capaz de perceber aquilo que o homem
não consegue e, a partir disso, as mulheres conseguem falar a coisa certa
e da forma certa, possibilitando que o homem seja o que precisa ser.
Por outro lado, todo homem funciona baseado em valores de
honra, dignidade, hombridade e masculinidade. Você sabia que, no ori-
ginal, a palavra “reverência” significa “homenagem”? Isso nos revela que
a atitude da mulher para com o homem deve ser de profundo respeito,
reconhecendo que ele é o executor de tudo o que ela percebe.

73
REDENÇÃO FAMILIAR

Da mesma forma que a mulher pode falar a coisa certa e da for-


ma certa, ela também pode expressar a coisa certa da forma errada, seja
com ou sem o uso de palavras. Se o homem percebe desonra em suas
atitudes, ele fica impossibilitado de agir em relação às suas funções fa-
miliares e sociais. Com isso, ele pode até continuar suprindo o que for
preciso, mas não consegue se tornar o homem que a esposa sonhou,
pois ela não ofereceu o combustível de que ele precisa para avançar.

 OR QUE ADORAÇÕES EXTRAVAGANTES NÃO


P
FUNCIONAM?

“Eles seguirão o SENHOR; ele rugirá como leão. Quando ele rugir, os
seus filhos virão tremendo desde o ocidente.”
(Os 11.10)

Muitos se incomodam pelo fato de eu acreditar que canções extra-


vagantes de adoração não funcionam com Jesus. Muitos cantam: “Jesus, eu
te amo, quero te abraçar, sentar em seu colo...”. “Jesus, fofinho, paizinho...”
Para mim, essas são apenas frases de efeito que dão significado às nossas
emoções. Sabe por que essas canções não funcionam? Porque Jesus é ho-
mem, tão macho que a Bíblia o relata como Leão da tribo de Judá.
Esse tipo de adoração pode até ser boa (emocionalmente falan-
do), mas a verdade é que precisamos sair dessa cilada emocional. O fato
é que homens não funcionam com amor. Por mais que isso o choque,
é possível ser comprovado. Basta você desonrar um homem e tentar
amá-lo. Duvido que funcione! Com os homens sensíveis da pós-moder-
nidade pode até rolar, mas com homens de verdade, não.
Se Jesus fosse mulher, Ele poderia até se agradar desse tipo de
louvor, nos quais as pessoas cantam que querem vestir a Sua camisa.
Contudo, Jesus é homem, e com Ele isso não cola! Em João 14.21 Jesus
diz: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me
ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me

74
ANDERSON SILVA

manifestarei a ele.” Ou seja, não adianta ir até Jesus dizendo que deseja
vestir a Sua camisa se você desonra a Sua palavra. Fique esperto!

A MULHER VIRTUOSA DE PROVÉRBIOS 31


Muitas mulheres julgam o Evangelho como machista, mas a ex-
posição de Provérbios 31 é um dos textos áureos sobre a dignidade que
Deus confere à mulher. O autor nos mostra que a função doméstica não
representa um cativeiro, e a mulher pode ser muito mais do que a socie-
dade dita ou do que ela mesma pensa sobre si. Observe o texto:

“Ditados do rei Lemuel; uma exortação que sua mãe lhe fez: “Ó meu
filho, filho do meu ventre, filho de meus votos, não gaste sua força com
mulheres, seu vigor com aquelas que destroem reis. Não convém aos reis,
ó Lemuel; não convém aos reis beber vinho, não convém aos governantes
desejar bebida fermentada, para não suceder que bebam e se esqueçam
do que a lei determina, e deixem de fazer justiça aos oprimidos. Dê
bebida fermentada aos que estão prestes a morrer, vinho aos que estão
angustiados; para que bebam e se esqueçam da sua pobreza, e não mais
se lembrem da sua infelicidade. Erga a voz em favor dos que não po-
dem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz
e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados”.
Uma esposa exemplar; feliz quem a encontrar! É muito mais valiosa que
os rubis. Seu marido tem plena confiança nela e nunca lhe falta coisa
alguma. Ela só lhe faz o bem, e nunca o mal, todos os dias da sua vida.
Escolhe a lã e o linho e com prazer trabalha com as mãos. Como os na-
vios mercantes, ela traz de longe as suas provisões. Antes de clarear o dia
ela se levanta, prepara comida para todos os de casa, e dá tarefas às suas
servas. Ela avalia um campo e o compra; com o que ganha planta uma
vinha. Entrega-se com vontade ao seu trabalho; seus braços são fortes
e vigorosos. Administra bem o seu comércio lucrativo, e a sua lâmpada
fica acesa durante a noite. Nas mãos segura o fuso e com os dedos pega
a roca. Acolhe os necessitados e estende as mãos aos pobres. Não receia

75
REDENÇÃO FAMILIAR

a neve por seus familiares, pois todos eles vestem agasalhos. Faz cober-
tas para a sua cama; veste-se de linho fino e de púrpura. Seu marido
é respeitado na porta da cidade, onde toma assento entre as autorida-
des da sua terra. Ela faz vestes de linho e as vende, e fornece cintos aos
comerciantes. Reveste-se de força e dignidade; sorri diante do futuro.
Fala com sabedoria e ensina com amor. Cuida dos negócios de sua casa e
não dá lugar à preguiça. Seus filhos se levantam e a elogiam; seu marido
também a elogia, dizendo: “Muitas mulheres são exemplares, mas você
a todas supera”. A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a
mulher que teme ao Senhor será elogiada. Que ela receba a recompensa
merecida, e as suas obras sejam elogiadas à porta da cidade.”
(Pv 31.1–31)

O capítulo 31 de Provérbios não é um compilado de versos da


sabedoria de Salomão, mas da mãe de Lemuel, rei de uma nação vizinha.
Crendo que a Bíblia é a manifestação e a revelação de um testemunho,
muitos homens viveram e compartilharam as experiências da mulher de
Provérbios 31. O que ela compartilha são os frutos de suas atitudes, não
apenas uma teoria comportamental. Como mãe de um rei, ela provavel-
mente era uma mulher experiente, sábia e capaz de falar com autoridade
sobre o caminho que um jovem deveria trilhar. A questão é que essa
mãe fala sobre si, e não dá sugestões, mas o mapa de um tesouro.
“Ah, mas é muito difícil ser como ela”. Essa é a primeira desculpa
que muitas mulheres apresentam. Esse posicionamento demonstra que
quem pensa dessa forma acredita que a Bíblia é apenas teórica, e não
o testemunho de pessoas que disseram “sim” para Deus e, consequen-
temente, aprenderam a viver melhor. No versículo 10, por exemplo, a
mulher virtuosa não se mostra apenas como uma mulher, mas como um
“ser feminino”. O fato é que a mulher cristã revela um conceito muito
mais elevado.
Existe algo interessante usado nesse contexto para a palavra “vir-
tuosa”. Em hebraico, “virtuosa” não é um termo feminino, é uma palavra

76
ANDERSON SILVA

masculina. Assim, ser a mulher de Provérbios 31 não é apenas gostar da


cor rosa, montar um vasinho de flores e colocá-lo no púlpito para que
todos digam: “Nossa, que varoa virtuosa!”. Os detalhes, a cor rosa e a
feminilidade até fazem parte, mas não são a totalidade do que estou ex-
pondo. Por se tratar de uma palavra masculina, o sentido de ser virtuosa
representa a força interior, a capacidade de realização e poder.
Nos últimos 30 anos, as mulheres vêm dando respostas basea-
das em uma leitura superficial das Escrituras. De modo geral, o levante
feminino não foi uma atitude sábia. Uma das consequências disso foi
cooperar para que o homem pós-moderno desenvolvesse uma alma fe-
minina. Vale destacar que não estou falando de homossexualidade, mas
da falta de responsabilidade por parte dos homens. Afinal, até para ser
homossexual é preciso ser homem.
No passado, parecia existir uma autorização social para que o
homem fizesse o que bem entendesse, e a mulher, por sua vez, deveria
suportar qualquer tipo de atitude. Os homens tinham amantes, pratica-
vam violência doméstica, abuso psicológico e sexual, desrespeitavam a
esposa e ela era obrigada a ser uma “Amélia”. Com o levante feminista
pós Segunda Guerra Mundial, a mulher começou a responder social-
mente a todas essas formas de opressão. Hoje, no campo emocional, a
mulher pós-moderna é masculina e tem mais força do que o homem,
que está cada vez mais feminino.
A justificativa mais recorrente dos homens de 35 anos que ainda
moram com suas mães é a de ainda não terem encontrado a mulher
perfeita. O que eles não entendem é que um homem de verdade constrói
a mulher perfeita. Diante disso, a pergunta que faço é: homem, você é
macho o suficiente para transformar uma mulher em um ser perfeito?
Pense um pouco sobre isso. É vergonhoso, mas já ouvi vários homens
dizendo: “Amor, só se for de mãe”, e isso me lembra de um princípio que
meu pastor me ensinou: “Se amor é só de mãe, então se case com a sua!”.
Você tem coragem de se casar com a sua mãe? Se não tem, resolva-se e
se case com uma mulher de verdade!

77
REDENÇÃO FAMILIAR

REALIDADE DISTORCIDA
Ao conversar com as mulheres de hoje, notaremos que muitas
delas já não aceitam tudo. São mulheres que vão para cima, que compe-
tem de igual para igual e, se tiverem alguns músculos, chamam até para
brigar! A situação é tão preocupante que já ouvi pastoras aconselhando
suas filhas a trabalharem e não dependerem de homem nenhum. Como
assim? A mulher foi feita para depender do homem, e vice-versa. Eu
fui feito para depender da Keila, e ela foi fita para depender de mim.
Não há como estes ensinamentos serem corretos: “Vivam juntos, mas
tenham vidas paralelas”, ou: “Garanta-se economicamente, porque, no
fundo, homem nenhum presta”. Essas linhas de raciocínio nos mostram
o quanto tudo está socialmente distorcido.
Concordo que lugar de mulher não é na cozinha, mas muitas
assumiram postos de trabalho dignos sem carregar sabedoria. Assim
que experimentaram a liberdade, negaram princípios e acabaram vol-
tando para suas casas sem serem mulheres de um homem. Pelo con-
trário, agem como se seus maridos fossem inimigos e como se preci-
sassem garantir suas vidas sem eles. Dessa forma, a mulher criou um
ambiente de colisão dentro do lar e, com o passar do tempo, o homem
foi se assustando.
Costumo citar a minha mãe como um exemplo disso. Ela fez
com que a vida dos seus filhos desse certo porque lutou sozinha, mas a
sua própria vida não funcionou, porque precisou ser mulher e homem
ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, ela foi ficando cansada, falida,
ranzinza e vendo problemas em tudo e todos. Quem está ao seu redor
precisa ter muito cuidado com as palavras, pois tudo o que lhe é dito a
fere e ofende. Por quê? Porque, um dia, o traidor a feriu, decepcionou e
não foi o homem que ela precisava.
Esse tipo de situação magoa muito, e só quem passa por isso sabe
realmente o peso que este acontecimento tem. É necessário, porém, ha-
ver esforço em Cristo para que consigamos transpor essa força maligna
que o Diabo tem lançado na sociedade com o intuito de inverter valores

78
ANDERSON SILVA

e distorcer realidades. Afinal, ele sabe que as relações conjugal e familiar


são o ponto de partida para uma ligação saudável com Deus.

FAZENDO A COISA CERTA DO JEITO CERTO


Certa vez, estava lendo a história de Benny Hinn. Ele conta que,
tempos atrás. Teve um sonho em que via o Senhor voltando e dando
recompensas às pessoas. Em sua visão, o galardão era representado por
coroas com pedras preciosas, e ele viu o seu nome escrito em uma delas.
Quando olhou para o lado, viu uma coroa exatamente igual à dele, mas
com outro nome escrito. Aquilo o incomodou, e Benny logo pensou:
“Quem é essa pessoa que ousa ter uma coroa igual a minha? Quem no
mundo é como Benny Hinn?”.
Então, ele contou que um anjo o chamou e, junto com ele, apro-
ximou-se uma mulher, a Maria (nome fictício). Naquela situação, Benny
se perguntava quem seria essa tal de Maria. Enquanto o anjo segurava as
duas coroas iguais, Jesus, sorrindo, abraçou Benny Hinn, colocou a co-
roa em sua cabeça e disse: “Seja bem-vindo, bendito de meu Pai”. Apesar
disso, Benny continuava preocupado sobre quem seria a tal da Maria.
Jesus, por sua vez, foi ao encontro da mulher e disse o mesmo:
“Seja bem-vinda, bendita de meu Pai”. Nesse momento, ele não se
aguentou — perguntou ao Senhor se Ele sabia quem era Benny Hinn
e afirmou que havia feito grandes obras na Terra. Jesus respondeu
positivamente, e Benny perguntou quem era a Maria e porque ela
havia recebido a mesma recompensa que ele. Então, Maria tomou a
palavra e respondeu dizendo que ela foi a mulher que orou por ele
durante toda a sua vida. Em complemento, o Senhor disse que, sem
Maria, Benny Hinn não teria dado nenhum fruto, já que foi ela quem
o sustentou espiritualmente.
Por meio daquele sonho, Deus quebrou o orgulho, a altivez e a
prepotência, e mostrou que Benny Hinn também era pó da terra. Esse
testemunho é um exemplo da capacidade que a mulher possui de fazer
com que as coisas deem certo, da forma correta.

79
REDENÇÃO FAMILIAR

O PODER DA MULHER VIRTUOSA


Há cerca de oito anos, quando a Igreja Vivo Por Ti ainda era um
embrião, Keila e eu nos casamos. Eu a tirei de casa e prometi prover e
proteger sua vida, pois Deus havia falado comigo e me dado um propó-
sito. Então, saímos de Brasília e largamos nossas famílias e a igreja para
fazer a obra do Senhor. Com o tempo, começamos a passar fome, por-
que eu não ganhava o suficiente para ser o guardião da vida da minha
esposa. Inclusive, Keila chegou a perder cerca de 5kg por conta da fome
que passamos.
Em uma noite crítica, na qual me dei conta de que não havia
mais condições para continuar, pensei em entregar o meu ministério.
Comecei a achar que tudo tinha sido coisa da minha cabeça, que eu
tinha imaginado que Deus havia falado comigo, pensei que havia en-
tendido tudo errado. Às 3h eu estava chorando, dizendo ao Senhor que
o amava, mas que não estava sabendo lidar com a situação. De repente,
notei uma sombra atrás de mim — era a Keila. Ela me abraçou e disse:
“Eu confio em você. Eu sei que Deus o chamou, então não, se preocu-
pe comigo. Vai dar tudo certo!”. Diante daquilo, chorei ainda mais. Era
como se eu estivesse no inferno e uma mão poderosa houvesse apareci-
do para me resgatar. Quase que instantaneamente, senti como se tivesse
a força de Davi. Acho que se existissem 50 leões naquela sala, eu poderia
tê-los matado a dentadas. Pense em um cara que se sentiu um macho
poderoso!
O fato é que a forma como uma mulher se expressa pode levan-
tar ou acabar de vez com um homem. Hoje, todos que me ouvem pregar
podem nem saber, mas são fruto do que a Keila me disse anos atrás. Por
esse motivo, uma mulher forte é artigo raro. Quem a achará? Não basta
ser uma simples mulher, ela precisa ser virtuosa.
Imagine a seguinte situação: o seu marido sai para trabalhar
cedo e rala o dia inteiro, trabalhando muito para levar provisão ao lar.
Agora, pense no seu filho que ama biscoito recheado, mas come apenas
o recheio, e joga o resto fora. Quando ele vai até o lixo e descarta o bis-

80
ANDERSON SILVA

coito, você o puxa e pede para que pegue, explicando que aquele biscoito
é fruto do suor do trabalho do pai dele, e que aquele ato é um descaso
com o esforço daquele que acorda às 5h e trabalha o dia inteiro para
prover o melhor para a família. Isso funciona! Você ensina o que é certo
ao menino e lança o fundamento da honra.
Em um de seus provérbios, Salomão diz que a palavra lançada é
como um dique rachado. Dique é o mesmo que represa, então, quando
uma mulher fala da forma errada, libera palavras que ferem um ponto
certeiro, rachando o dique. Sendo assim, águas furiosas fluirão e o engo-
lirão. Então, mulher, não queira ter um homem morto ao seu lado. Ele
depende das suas palavras para viver!

RECONHEÇA E EXERÇA A SUA FUNÇÃO

“O coração de seu marido está nela confiado [...].”


(Pv 31.11)

Um homem sabe que sua honra é guardada a partir do que sua


mulher é. Ele sabe que está protegido, assim como a mulher sabe que
está protegida ao comprovar que está ao lado de um homem de verdade.
Certa vez, fomos para Maceió, e minha madrinha nos deu uma
aula sobre virtuosidade. Nós a convidamos para passear, mas ela disse
que não iria, porque o seu marido havia saído e estranharia chegar em
casa e não a encontrar. Ela disse que precisava estar lá quando ele che-
gasse, mas que iria conosco em outra ocasião, depois de tê-lo avisado.
Esse é um exemplo real de um homem que tem o coração confiado à
sua mulher.
É fantástico um homem reconhecer que é fruto das ações de sua
mulher, e vice-versa! Em meus momentos com Keila, ela diz que eu de-
veria agradecer a Deus por sua vida, pois, antes dela chegar, eu não sabia
sorrir. Eu era tão travado, tão sério com os assuntos do Senhor, que rir
era quase um pecado. Quem não conhece a minha família intimamente

81
REDENÇÃO FAMILIAR

deve pensar que a Keila é doida. Podemos estar conversando com ami-
gos, e do nada ela solta uma de suas gargalhadas. Ela é aquele tipo de
pessoa que pode estar em um velório, mas que ainda assim é capaz de
ter uma crise de risos.
Sem a mulher despretensiosa que tenho, acho que já teria surta-
do. Ela é o meu sorriso em meio às trevas. Eu posso estar querendo mor-
rer, mas ela consegue melhorar o meu dia ao aparecer com uma de suas
piadas. Se não fosse por ela, eu poderia até ter desenvolvido depressão.
A gargalhada da Keila é o meu resgate humano.
Casados ou não, precisamos reconhecer as nossas funções —
homens devem agir como homens, e mulheres precisam agir como
mulheres, cada parte consciente das suas responsabilidades. Pedro foi
ousado ao escrever: “Como Sara, que obedecia a Abraão e lhe chamava
de senhor” (1 Pe 3.6). Aqui, a questão não é gramatical e o foco não é
no termo usado por Sara, mas na ação reverente que ela teve frente a
Abraão. Apesar desse ser o pavor das mulheres atuais, escolha fazer o
contrário do que a sociedade dita, e veja a vida funcionar!
Só eu sei das vezes em que quis desistir quando vi desonra da parte
da minha esposa, mas também tenho convicção da renovação que senti ao
ouvir palavras ou perceber olhares de honra e respeito. Por isso, mulher,
entenda que você possui duas armas poderosas: sensibilidade e sabedoria.
Eu sempre digo que, se o homem falhar em ouvir a voz do Espírito
ou da Palavra, ele deve, ao menos, ouvir a sua esposa. Se ela for uma mulher
virtuosa, jamais falhará. É o tal do “sexto sentido”, ou aquele conselho de
mãe: “Meu filho, estou sentindo que você não deve sair hoje”. O homem vê
apenas o tijolo e o cimento, mas a mulher já está vendo a planta da constru-
ção. Se ela rasgar a planta, o homem não saberá mais para onde ir. É por isso
que, atualmente, muitos estão estagnados. O plano de construção está se
perdendo porque a mulher não está conseguindo se comportar adequada-
mente diante da vida, não está sabendo incentivar o homem a ser homem.
Mulher, seja virtuosa e persevere! Não existe maior legado do
que ver seus filhos decidindo construir uma família baseados no exem-
plo que tiveram em casa.

82
RESPONSABILIDADE
PATERNAL
N
este capítulo, aprofundaremos um pouco mais a ques-
tão da responsabilidade do homem como pai. Certa
vez, uma amiga que estava vivendo o rito de passagem
do noivado usou um exemplo maravilhoso, que guardei em meu co-
ração. Ela fazia uma distinção entre a importância da mãe e do pai na
formação familiar, psicológica e social de um filho.
De acordo com o exemplo dado por minha amiga, a mãe é o
fundamento emocional de todo ser humano. Isso é tão evidente que,
desde o nascimento do bebê, ela o chama para si a fim de guardar, ama-
mentar e proteger o recém-nascido. Assim, todo afeto maternal e a for-
mação emotiva são transmitidos para a criança. A mulher, no entanto,
por Deus e pela própria Palavra, não pode ser responsabilizada em sua
totalidade pela formação moral do ser humano. O homem é quem pos-
sui a maior parte dessa responsabilidade.
Enquanto a mãe cria o filho para si, o pai cria-o para o mundo. Nós,
homens, somos destrambelhados, mas geralmente criamos os filhos sinali-
zando o propósito e fazendo com que eles olhem para o amanhã.
Não é à toa que, nos dias atuais, vivamos quase um desastre so-
cial em vários aspectos. As responsabilidades foram mudadas e os va-
lores estão sendo invertidos. O homem já não quer mais ser respon-
sabilizado por aquilo que sempre foi de sua alçada, apoiando-se num
discurso baseado no lema: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu
faço”. O fato é que o homem atual prefere viver na mentira.

85
REDENÇÃO FAMILIAR

Nos textos de Efésios 5 e Gênesis 2, por exemplo, vemos o Senhor


usar Paulo e Moisés para falar sobre o contexto matrimonial. “Por essa
razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se
tornarão uma só carne.” (Ef 5.31). Quando leio essa passagem, a primeira
interpretação que tenho é que as figuras paterna e materna dentro de um
lar são responsáveis pela formação da prole. Cada um tem o seu nível de
importância e possui o papel de proteger, dar provisão e moldar o caráter
do filho e, no momento da maturidade, liberar o seu destino. Você só está
apto a deixar pai e mãe se eles fizerem de você uma pessoa de caráter e
capaz de encarar os desafios que um dia eles tiveram que enfrentar.
Se o homem é o fundamento moral da formação do ser humano,
ele também é responsável pela compreensão do filho sobre aspectos so-
ciais e familiares dentro do núcleo familiar, ou seja, a própria persona-
lidade da criança é formada pela influência masculina. Por que os dias
atuais representam um desastre? Porque as três últimas décadas com-
provam a ruptura da responsabilidade masculina no lar.
Nos últimos tempos, o fenômeno familiar é representado pelo
núcleo constituído por mãe e filho, como bem disse o rapper Mano
Brown: “Uma negra e uma criança nos braços. Solitária na floresta de
concreto e aço”. Grande parte dos adultos que estão nas igrejas foram
criados apenas por mães, e muitos são órfãos de pais vivos.
As conclusões ou repercussões na fase adulta de alguém que
não teve um núcleo familiar em sua formação, principalmente com
a falta da figura masculina, são desastrosas em vários aspectos, e
podem culminar em um indivíduo inseguro, violento, transgressor,
omisso etc. Tome como exemplo um rapaz que usa camisas de tama-
nho “G”. Imagine que ele começa a frequentar uma academia, a tomar
suplementos, fazer dieta e ficar “bombado”. Depois de três meses, ele
já está inchado e resolve comprar novas roupas. Ao chegar à loja,
abandona os tamanhos grandes e vai direto para a sessão infanto-ju-
venil, a fim de comprar uma camisa “PPPP”. Quando chega à escola,
casa ou à igreja com os braços de fora, as pessoas falam: “Como você

86
ANDERSON SILVA

está forte!”. O que isso significa? Que ele está recebendo o que o pai
não deu: elogio e atenção. Como tudo isso passa, o próximo passo é
tomar esteroides, para chamar mais atenção ainda.
O que motiva alguém a entrar em uma gangue? O cara sobe em
um megaedifício para pichar e colocar sua tag no topo, só para outro
passar e dizer: “Que doido! Ele colocou o nome lá em cima!”. O que essa
pessoa ganha com isso? Pertencimento. O pai não gerou comunidade,
inclusão ou aceitação, e não o elogiou. Há outro cara na gangue, contu-
do, que diz: “Você é o cara!”. Quando isso perde o valor, o sujeito sai da
pichação, pega uma arma e vai para o crime, tudo isso porque ele está à
procura de um pai substituto.
Há inúmeros motivos para a existência da homossexualidade.
Como pastor de homossexuais, gosto de observar alguns comporta-
mentos. A homossexualidade masculina é diferente da feminina, pois
possui muitos fatores motivacionais, e você precisa explorar mais a fun-
do a individualidade de cada um.
Ao observar a homossexualidade feminina, percebo que quase
todas as lésbicas são resultado da ruptura da imagem masculina. Elas
não são o tipo “eu acho que nasci assim”, isso é muito raro de acontecer.
Geralmente, quando a mulher apresenta traços masculinos precoces,
existe algo muito além de uma simples escolha. Por isso, há inúmeros
casos de mulheres que se relacionam com outras por conta da frustra-
ção em relação ao homem.
Quando há uma ruptura nessa relação entre pai e filha, ou você
vai atrás dessa figura, ou foge dela, como um sinal de punição. Então,
aquele que era responsável por ser o seu guardião foi o culpado por ter
rompido o seu processo. Talvez, um filho que tenha tido o seu processo
rompido por seu pai deseje ser um “super-homem” para disputar com
ele ou, ao mesmo tempo em que foge do pai, busque em outro homem
a figura do seu próprio.
No Rio de Janeiro, tenho um amigo pastor que encontrou um
travesti na rua e resolveu acolhê-lo. Ele o amou, tirou-o da rua e propor-

87
REDENÇÃO FAMILIAR

cionou uma vida digna ao rapaz, mas, emocionalmente, o moço ainda


desejava permanecer preso ao passado.
Num dia dos pais, o pastor encontrou esse homem, que disse:
— Feliz dia dos pais, pastor. Tenho uma surpresa para você! Você
é como um pai para mim, e eu queria te oferecer algo.
O pastor perguntou o que ele queria fazer, e o homem respondeu:
— Eu gostaria de sentar no seu colo e te dar um presente!
Veja só, um cara de 35 anos de idade querendo agir como uma
criança. A resposta do pastor foi a seguinte:
— É o filhinho do papai! Senta aqui no colo do papai!
Assim que o homem sentou, o pastor deu-lhe um tapa e disse:
— Não há como você voltar ao passado e sentar no colo do seu
pai. Já passou, já foi! O seu pai é o seu fantasma. Ou você vai viver que-
rendo voltar para uma realidade que nunca irá acontecer, ou você as-
sume a responsabilidade pelo seu futuro. Eu estou aqui para te ajudar
a construir um futuro, mas eu não posso ser o substituto do seu pai. Só
existe a possibilidade de você progredir. Do contrário, viverá traumati-
zado em seus cativeiros emocionais!
O mais interessante disso tudo é que muitos têm essa ruptura com
os pais mesmo quando eles estão presentes. Essa responsabilidade não assu-
mida gera danos terríveis. Hoje, já adultos, muitos se encontram mal resol-
vidos. O que é a igreja atual? Ela representa uma congregação de lunáticos.
A maioria das pessoas vai à igreja buscando um pai no pastor e uma mãe na
pastora. Por isso, as rupturas familiares estão afetando, inclusive, a Casa do
Senhor. Como um pastor pode ser o substituto da figura paterna? Nenhum
ser humano merece sofrer esse peso.
Quando penso sobre isso, lembro-me de quando eu não era crente
e ainda estudava. Eu era maconheiro, skatista, vivia drogado e xingava mui-
to os professores. Em minha sala, havia uma moça magrinha, bonitinha e
que costumava ir desarrumada para a aula. Um dia, entretanto, ela chegou
com uma linda trança no cabelo e um vestido. Quando a vi, logo disse, sem
nenhum interesse: “Nossa, como você está bonita. O seu cabelo ficou muito

88
ANDERSON SILVA

bom, e o seu vestido é muito bonito!”. Com isso, nos três dias seguintes, ela
apareceu novamente de trança e vestido.
No final da semana, acabou o período de provas e todos sumi-
ram. Quando fui sair da sala, ela colocou a mão na porta, disse: “Você
não vai sair!”, e a trancou. Bem, nem preciso dizer como a história ter-
minou. Tempos depois, já crente, orei, me arrependi e pensei sobre
como a vida é frágil e que as pessoas são vulneráveis e precisam ter os
seus valores bem fundamentados. Ela era uma mulher jovem, de 19 ou
20 anos, mas casada. Se uma mulher cedeu ao elogio de um drogado, o
que acontecia em sua casa? Talvez ela fosse chamada de burra, estúpida,
idiota e muitos outros adjetivos desagradáveis.
O fato é que nossos filhos são formados também pelas nossas
palavras. Que tipo de palavras você utiliza no seu ambiente familiar?
Certa vez, eu estava em Jaú, e um irmão de igreja me avisou que a
sua família estava chegando. Ele me pediu para dar uma atenção especial
a um de seus primos, pois o seu pai pegava muito pesado, chamando-o
de “viadinho” e de outros nomes ruins. Logo pensei que se tratava de um
adolescente, mas me surpreendi ao ver duas crianças de seis e sete anos de
idade. A minha vontade era bater naquele pai, afinal nada daquilo, fazia
sentido. Pensei que o caso era sobre um adulto brigando com o pai ou um
adolescente querendo “engrossar o pescoço”, mas descobri que se tratava de
uma criança! Como esse menino vai crescer? Que tipo de adulto se tornará?
Há cerca de três anos, atendi uma irmã. Ela era bonita, uma fun-
cionária pública que já havia conquistado muito na vida, porém era tris-
te, e às vezes flertava com a depressão. Conversamos durante três horas,
até que ela revelou que o relacionamento com sua mãe não era bom, e
que se lembrava de uma experiência que teve aos seis anos, quando fez o
desenho de uma girafa para a sua mãe. Ao ver a pintura, a mãe zombou,
rasgou o papel e a chamou de imbecil, dizendo que aquele desenho em
nada se parecia com uma girafa.
Na hora em que ela contou o ocorrido, o Espírito Santo me disse
que aquele era o fundamento de todo o problema. Então, expus a raiz

89
REDENÇÃO FAMILIAR

da questão e expliquei o porquê dela viver triste e em depressão, mesmo


sendo uma mulher realizada. A verdade é que tudo o que ela queria con-
quistar era o desenho de uma nova girafa para provar à sua mãe que es-
tava conseguindo vencer. Continuei dizendo que aquilo era injusto, pois
ela sempre desenhava uma nova girafa, mas sua mãe não estava interes-
sada em elogiá-la. Aquela era a hora de esquecer o desenho, a sua mãe
e começar a construir sua própria vida. A questão é que ela precisava
entender que o passado não se costura e que é impossível construir um
futuro tentando compensar o passado. Assim, devemos entregar a Jesus
todas as nossas dores e permitir que Ele as transforme em testemunho.
Outro dia, vi um vídeo de um homem tirando pus do braço por
conta do uso de anabolizantes. Os comentários deixados no vídeo eram
de pessoas chamando-o de idiota, zombando da situação e até dizendo
que ele tinha que morrer. Ao ler aquelas palavras, eu só conseguia cho-
rar e clamar pela misericórdia de Deus em relação à nossa geração. Se
há núcleo familiar e proteção, há conselhos para situações como essa.
Graças a Deus, Jesus Cristo é um expert em milagres, mas o que
pode acontecer se o seu filho não encontrar o caminho do Senhor? Se Jesus
não tivesse cruzado o meu caminho, hoje eu seria o resultado de tudo aqui-
lo que o meu pai fez e deixou de fazer. Se eu parasse para contar, precisaria
escrever outro livro.
Essa é a realidade do século XXI, da pós-modernidade: uma ge-
ração socialmente neurótica por conta da orfandade. Você acha que é à
toa que Deus se revela como Pai? Será que é à toa que a Palavra diz que
Ele é Pai dos órfãos? Não é fácil ser homem, líder e pai. Diariamente,
busco conhecimento, ferramentas e cursos que possam me tornar um
homem, um pastor e um pai melhor. Entretanto, a verdade é que a nossa
geração carece de modelos e exemplos.
Quando olho para a igreja brasileira, não vejo muitos líderes,
mas homens que querem enriquecer às custas do Evangelho. Recor-
ro à igreja e espero ver pais espirituais que se importam, mas não
os encontro. Fico extremamente angustiado diante dessa realidade.

90
ANDERSON SILVA

A Vivo Por Ti é uma igreja que abraça todo tipo de pessoa, mas, se
você parar para observar, todos são órfãos desesperados por amor
e ajuda. Imagine a minha aflição ao ver que não existe um homem
atrás de mim que possa me dar confiança para que eu seja um líder
para essas pessoas!
O fato é que precisamos assumir nossas responsabilidades,
mas os modelos simplesmente não existem. Muitos desejam e que-
rem ser pessoas melhores, mas não encontram fontes que os auxi-
liem rumo a essa mudança. Sabe como me renovo para amar ainda
mais as pessoas? Saio da minha cidade para me deparar com realida-
des piores do que as que geralmente encontro. Quando isso acontece,
volto para casa amando ainda mais o que já tenho, disposto a andar
mais uma légua.
Em Jaú, acompanhei o caso de uma linda médica que se envolveu
com crack e passou a morar debaixo de um vagão abandonado. Além disso,
ela havia tido três filhos dentro dessa realidade. Quando um irmão foi abrir
uma igreja que ficava próxima ao local, viu aquela situação e tirou as crian-
ças daquela mulher. O mais chocante de tudo foi ver as criancinhas tendo
crises de abstinência de pedra, pois, enquanto estava grávida, a mãe fumava.
Esse é o tipo de realidade que me faz ser um líder e um pai melhor, a fim de
perseverar diante dos problemas.
Ter um filho autista também me incentiva a não fazer acepção de
pessoas. A verdade é que ninguém me ensinou coisa alguma, mas eu de-
cidi fazer alguma coisa! Este é o meu convite para você que lê este livro:
faça algo! Se você não agir, ninguém agirá no seu lugar. Se você não for o
pai que precisa ser, ninguém será no seu lugar. Se você não for o homem
que precisa ser, os seus filhos precisarão ser o alvo de evangelização da
Igreja de amanhã!

“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo
com o passar dos anos não se desviará deles.”
(Pv 22.6)

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REDENÇÃO FAMILIAR

No versículo acima, o sábio diz que eu devo instruir meus filhos


no caminho, não diz que devo ser o caminho para que eles sigam. Quan-
do eu ensino no caminho, não sugestiono ou indico, mas estou compro-
metido e me coloco como o sinal para que eles me sigam.
O desespero no coração da maioria dos pais é que talvez haja
um sentimento de fracasso quando percebem que falharam na forma-
ção dos filhos ou que eles não estão obedecendo às orientações. Se você
se identifica com isso, quero dizer-lhe que a sua responsabilidade não é
fazer com que o seu filho lhe obedeça, mas estar onde você precisa estar,
para que ele possa encontrá-lo quando decidir caminhar corretamente.
Quando era jovem, você provavelmente fez o que quis, foi um pe-
cador nato e fez muita bobagem, mas, quando decidiu mudar, por acaso
Jesus havia saído de Seu lugar? Não, porque o Senhor é comprometido com
o que diz. Assim, a nossa missão não é empurrar os nossos filhos, mas ser
modelos nos quais eles deverão se espelhar, mesmo que isso demore 15 ou
20 anos. O mais maravilhoso é que tudo o que você ensinou ou vai ensinar
ainda pode ser acessado por eles, desde que se arrependam. O problema é
que faltam homens que assumam suas responsabilidades.
Lembro-me da vez em que discuti com um punk anarquista, te-
ísta, todo politizado e várias outras coisas. Ele dizia que Deus não existia
e que eu era um fanático. Quando questionei porque ele pensava daque-
la forma, logo me respondeu que, se Deus existisse, não haveria crianças
passando fome e morando na rua. Como eu conhecia bem o homem,
perguntei a ele com quantas mulheres se relacionava e se já tinha filhos.
A sua resposta foi que se relacionava com quatro mulheres e tinha dois
filhos. Diante disso, pedi que ele se imaginasse tendo esse tipo de flerte
com várias mulheres por mais alguns anos, e tendo mais cinco filhos.
Projetando a existência dessas crianças para daqui a 20 ou 30 anos,
imagine que tipo de vida eles estariam levando, já que não participaram do
núcleo familiar. Então, conclui meu raciocínio dizendo que os seus filhos
seriam os lunáticos que perturbariam a sociedade no futuro. Indignado,
ainda perguntei como ele tinha coragem de questionar a existência de Deus

92
ANDERSON SILVA

pelo fato de crianças passarem fome. Elas se encontram nessa situação exa-
tamente porque homens como ele não assumiram suas responsabilidades!
Naquela época, eu ainda era muito carnal, e fiquei tão revoltado que quis
brigar, dizendo que era pastor, mas não otário.
Como podemos colocar na conta de Deus o que, na verdade, é fruto
da nossa omissão e falta de responsabilidade? A igreja é o meio pelo qual
Deus assume as responsabilidades da omissão dos homens. Para os que não
tiveram pai, a igreja se torna um pai, e para os que não tiveram família ou
casa, a igreja se torna família e casa. O fato é que Deus é o Pai dos órfãos, e
a igreja existe (ou deveria existir) para consertar o mundo.

EXEMPLO DE “NÃO PAI”


Quero finalizar este capítulo com dois exemplos: o de pai e o de “não
pai”. O exemplo de “não pai” encontra-se em Isaías 39. Observe o texto:

“Naquela época, Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei da Babilônia,


enviou a Ezequias cartas e um presente, porque soubera de sua doença e de
sua recuperação. Ezequias recebeu com alegria os enviados e mostrou-lhes o
que havia em seus depósitos: a prata, o ouro, as especiarias, o óleo fino, todo o
seu arsenal e tudo o que se encontrava em seus tesouros. Não houve nada em
seu palácio ou em todo o seu reino que Ezequias não lhes mostrasse. Então o
profeta Isaías foi ao rei Ezequias e perguntou: “O que aqueles homens disse-
ram, e de onde vieram”? “De uma terra distante”, Ezequias respondeu. “Eles
vieram da Babilônia para visitar-me”. O profeta perguntou: “O que eles viram
em seu palácio”? Ezequias respondeu: “Viram tudo que há em meu palácio.
Não há nada em meus tesouros que não lhes tenha mostrado”. Então Isaías
disse a Ezequias: “Ouça a palavra do Senhor dos Exércitos: Um dia, tudo o que
há em seu palácio bem como tudo o que os seus antepassados acumularam até
hoje será levado para a Babilônia. Nada ficará, diz o Senhor. E alguns de seus
próprios descendentes serão levados, e se tornarão eunucos no palácio do rei da
Babilônia”. “É boa a palavra do Senhor que você falou”, Ezequias respondeu.
Pois pensou: “Haverá paz e segurança enquanto eu viver.”
(Is 39.1–8)

93
REDENÇÃO FAMILIAR

Se você prestou bem atenção nesse texto, notou que o rei fez o
que não estava autorizado, e mostrou todo o segredo do seu reino. En-
tão, Deus levantou um profeta para repreendê-lo e dizer que tudo o que
existia seria tomado pelo reino da Babilônia, inclusive os filhos gerados,
que seriam levados como escravos e castrados para servir à autoridade
máxima da Babilônia.
Diante disso, Ezequias aceitou a Palavra e ficou tranquilo, afinal
quem iria sofrer as consequências seriam os filhos, e não ele. A verdade
é que Ezequias não era homem e muito menos pai, pois quem é pai e
homem tem responsabilidade em longo prazo, gera um legado e escreve
o livro que será lido pela próxima geração. Nesse caso, o posicionamen-
to de Ezequias é exatamente igual ao de um homem pós-moderno. Ele
quer ter uma mulher e filhos, mas foge de suas responsabilidades.
O fato é que a responsabilidade do homem pós-moderno passou
a ser apenas pagar uma mesada. Eu não quero trazer esse peso para
as exceções, mas estou me referindo aos cretinos que agem deliberada-
mente dessa forma.

EXEMPLO DE PAI

“Eles partiram de Betel, e quando ainda estavam a certa distância de


Efrata, Raquel começou a dar à luz com grande dificuldade. E, enquan-
to padecia muito, tentando dar à luz, a parteira lhe disse: “Não tenha
medo, pois você ainda terá outro menino.” Já ao ponto de sair-lhe a vida,
quando estava morrendo, deu ao filho o nome de Benoni. Mas o pai deu-
-lhe o nome de Benjamim.”
(Gn 35.16–18)

Perceba que, nessa passagem, dois nomes foram dados para a


mesma criança — a mesma realidade foi vista através de duas óticas dis-
tintas. No hebraico, “Benoni” significa “filho da minha dor”, e, mediante
a um parto trabalhoso e ao enfrentamento da morte, o último suspiro

94
ANDERSON SILVA

de Raquel foi exatamente essa palavra. Com isso, toda vez que aquele
garoto fosse chamado de Benoni, seria lembrado e punido pela morte
da própria mãe.
Eu não sou místico, mas é interessante saber que a nossa perso-
nalidade carrega traços que concordam até mesmo com o significado
do nosso nome. Se você pesquisar o significado do seu, notará caracte-
rísticas em sua personalidade que combinam com a sua descrição. Ra-
abe, por exemplo, significa “a insolente”. Eu já tive uma ovelha com esse
nome e ela era exatamente assim.
O fato é que Deus muda o seu nome através de Jesus e, quando
você briga com Ele, assim como aconteceu com Jacó. As mudanças de
nome na Bíblia são extremamente significativas, e podem representar
desde uma nova estação na vida do indivíduo até uma mudança de tra-
jetória, já que o seu nome era negativo. O nome de Jacó significava “o
usurpador”, dessa forma, quando negociou com o irmão, ele agiu con-
forme a sua alcunha. Entretanto, quando Jacó brigou com Deus, ele re-
cebeu um novo nome, e teve o seu destino transformado.
É interessante perceber que, na história narrada em Gênesis 35,
Jacó estava à porta esperando o parto do seu filho. Ao ouvir o nome que
o bebê havia recebido, ele recusou imediatamente aquela identidade e
declarou que ele se chamaria Benjamim, que significa “filho da minha
força”. Na cultura judaica, principalmente, o conceito familiar era de
extrema importância, além de representar uma responsabilidade muito
importante para o homem. O exemplo de Jacó nos mostra como deve
ser o posicionamento masculino que, ao perceber que o futuro do seu
filho está em jogo, logo intervém.
Trazendo essa questão para a nossa realidade, você não pode,
de maneira nenhuma, aceitar a negatividade que seu filho recebe sem
se posicionar, sem defendê-lo. Se um filho pode ser prejudicado pela
ausência ou palavras negativas do pai, imagine o que ele pode se tornar
com um pai presente ecom palavras positivas? Eu não estou dizendo
para ignorar a instrução e a correção, mas para não negligenciar a im-

95
REDENÇÃO FAMILIAR

portância de outros fatores, como o amor, o acolhimento, o apoio no


fracasso, viver em comunidade e o elogio, mesmo quando o resultado
está longe de ser perfeito.
Chegou a hora de fazermos algo para que nossa sociedade se
torne melhor. Repare que não estou falando apenas de família ou de es-
piritualidade, mas da sociedade, que vai muito mal exatamente porque
os homens fugiram e continuam fugindo.
Eu entendo perfeitamente o motivo desse desejo, afinal, muitas ve-
zes também tenho vontade de fugir. Quando vemos que os modelos não
estão presentes e que não sabemos o que fazer, o primeiro ímpeto é querer
escapar da situação. É por isso que muitos homens adultos ainda possuem
videogames, pois precisam de um escape para os momentos de confusão
e quando não sabem o que fazer. Entretanto, mesmo nessa situação, Deus
quer que façamos algo! Afinal, os danos causados pelos erros cometidos são
menos graves do que os causados pela omissão. Proteja, guarde, brigue e
defenda! É melhor errar por guardar do que por ser omisso.

96
DÍZIMOS E DIVÓRCIO
“Desde o tempo dos seus antepassados vocês se desviaram dos meus
decretos e não os obedeceram. Voltem para mim e eu voltarei para vocês,
diz o Senhor dos Exércitos. Mas vocês perguntam: Como voltaremos?
Pode um homem roubar de Deus? Contudo vocês estão me roubando. E
ainda perguntam: Como é que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
Vocês estão debaixo de grande maldição porque estão me roubando; a
nação toda está me roubando. Tragam o dízimo todo ao depósito do
templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova, diz
o Senhor dos Exércitos, e vejam se não vou abrir as comportas dos céus
e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las.
Impedirei que pragas devorem suas colheitas, e as videiras nos campos
não perderão o seu fruto, diz o Senhor dos Exércitos. Então, todas as
nações os chamarão felizes, porque a terra de vocês será maravilhosa, diz
o Senhor dos Exércitos.”
(Ml 3.7–12)

V
ocê pode até ter estranhado o título deste capítulo, mas
eu quero provocá-lo e ajudá-lo a recalcular a rota da
sua vida. Além disso, quero que você perceba a ligação
que existe entre o altar e o seu lar, pois, se você profana um, consequen-

99
REDENÇÃO FAMILIAR

temente profanará o outro. Assim, por meio desta leitura, você notará
que a qualidade de uma área da sua vida está totalmente ligada ao que
irei destrinchar.
Fiz questão de começar este capítulo com o texto que encontra-
mos Malaquias 3, pois sei que a primeira coisa que você pensou foi: “Aff!
Isso é sério? Falar sobre dízimo?”. Entretanto, acredito que, assim como
aconteceu comigo, você aprenderá a nunca mais ter medo desse texto.
Muito pelo contrário, você vai passar a amá-lo, basta apenas se permitir
entendê-lo verdadeiramente.
Antes de mergulharmos nas Escrituras, gostaria de chamar a sua
atenção para três coisas que me instigaram a estudar a fundo o capítulo
três do livro de Malaquias. A primeira coisa é o fato de Deus reclamar
um roubo material, apesar de ser Espírito. Se Deus é Espírito, Ele não
participa do que é material. Assim sendo, por que um Deus espiritual
diz que está sendo materialmente roubado? Esse é um paradigma que
precisa ser solucionado!
O segundo ponto é que Malaquias 3 é o único texto em que Deus
chama o ser humano para brigar ao dizer: “Ponham-me à prova”. O ter-
ceiro e último ponto é exatamente a sequência, quando Deus disse que,
se eles Lhe obedecessem e o colocassem à prova, veriam que as com-
portas dos céus seriam abertas. Quando essa palavra encontrou o meu
coração, logo fiquei “facinho” para Jesus.
De modo geral, todos podem abrir uma porta, tanto Deus quan-
to o Diabo, e até nós mesmos. Além disso, é importante mencionar que
portas são abertas por dentro e por fora, diferentemente de janelas.
Quando Deus diz que abrirá janelas, a coisa muda de figura.
Por exemplo, se você sai de sua casa e tranca tudo, alguém pode
entrar pela sua janela? Não, afinal, ela só pode ser aberta por dentro. As-
sim, o que Deus diz é que, se fizermos o que Ele orienta, adivinha quem
será o responsável pelo resultado? Ele mesmo! Como isso vai acontecer
não importa, mas, conforme o livro de Atos narra diversas vezes, será de
repente. Quando você obedecer às ordenanças de Deus, não se preocu-

100
ANDERSON SILVA

pe em calcular o tempo, mas deixe que Ele promova o “de repente”. Per-
mita que Ele chegue de surpresa! Será que você tem dado a Deus uma
oportunidade para surpreendê-lo? O fato é que você só vai aprender a
amar versos como o de Malaquias 3.10 quando entender que Deus não
está falando sobre dinheiro, mas sobre vida.
No início, afirmei que, quando ferimos o altar, ferimos o lar. Ou seja,
quando ferimos a fé, ferimos a vida, e quando ferimos Deus, também feri-
mos o próximo. Por incrível que pareça, Ele está falando sobre vida, sobre o
que somos na segunda-feira. Sabe por que você precisa concordar comigo?
Porque Atos 17.24 diz que o Senhor não habita em templos construídos por
mãos humanas. Ele não depende de nada e nem de ninguém.
Muitas vezes, pensamos que estamos dando algo ao Senhor por
meio das nossas sementes, mas, a partir de agora, você vai entender que,
quando separamos o dízimo, amamos, perdoamos e obedecemos. O
principal é que fazemos isso não para Deus, mas para nós mesmos.
A vida que não começa com Deus é muito difícil de terminar com
Ele. Todo assunto que não começa com Ele também não termina bem.
Quando eu era imaturo, acreditava que era um exagero afirmar que a Bíblia
fala menos sobre fé, salvação, amor e perdão do que sobre dinheiro. Em
partes, eu estava certo, afinal, se formos analisar, a palavra “dinheiro” apa-
rece mais de 2.400 vezes na Bíblia, enquanto as demais aparecem menos de
300 vezes. Apesar da quantidade de vezes, isso não representa um exagero.
Com isso, percebemos que quase toda a linguagem de Jesus nos
evangelhos é sobre dinheiro, posse, trabalho e propriedade privada. Um
grande exemplo é a parábola dos talentos. Embora muitos achem que
os talentos representam habilidade, na verdade, significa uma medida
monetária — como a dracma. É como se o Senhor estivesse dizendo que
deu R$10 para um homem, R$5 para outro e R$1 para o outro.
Depois de Jesus, nem o Diabo é chamado de senhor na Bíblia,
mas sabe quem é chamado dessa forma? O dinheiro. A Palavra afirma
que, sem Deus, o dinheiro é capaz de dominar as nossas vidas, afeições

101
REDENÇÃO FAMILIAR

e prazeres. Quando o dinheiro é mal utilizado, como a Bíblia o chama?


De Mamom.
De modo geral, os seres humanos possuem uma forte tendência
para mentir, mas as suas ofertas sempre falam a verdade. Caim, assim
como Ananias e Safira, provou que podemos até mentir, mas, no mo-
mento da oferta (seja dando ou retendo), falamos a verdade sobre o que
acontece dentro do nosso ser. É por isso que a forma através da qual me
relaciono com Deus nas finanças determina a qualidade de vida que
tenho na segunda-feira.
Para você entender o poder de Malaquias 3, é necessário ler o
livro todo. Aqui em Brasília, o Senhor me treinou rápido. Quando vejo
pessoas mal conectadas com a igreja, desgostosas em relação ao domin-
go e cheias de discordâncias e opiniões, logo olho para o que está por
trás disso — o lar. Toda a sua verdade ou mentira tem início na sua casa,
ou seja, na segunda-feira. Se o que você deseja falar a mim não começa
na sua casa, não tenho como ouvi-lo. Primeiro, volte para o seu lar, re-
solva-se, e só então conversaremos.
Basta observar e você perceberá que a maioria absoluta das pes-
soas que deseja o divórcio possui um problema na raiz da generosidade.
O próprio divórcio é uma problemática acerca da generosidade, pois de-
monstra que o indivíduo cansou de doar, ofertar, renunciar, dar a outra
face, e agora deseja obter os seus direitos.
Se o divórcio representa o fim da generosidade, o que ela é fora
do casamento? Um treinamento. Servir a igreja, ao pobre, ao próximo,
ao órfão ou à viúva é um treinamento para o domingo, para a glória de
Deus, e também para o seu benefício. Quando você peca, não é Deus
quem morre, mas você. Da mesma forma, quando você se santifica,
quem recebe vida é você. Assim, ao considerarmos que se dizimarmos
e ofertarmos, Ele abrirá as janelas dos Céus, entendemos que Deus está
dizendo que a bênção é para nós, não para Si. O Senhor não precisa de
nada e teria motivos suficientes para desistir do ser humano, no entanto,
o Seu amor por nós o leva a agir dessa forma.

102
ANDERSON SILVA

Se sabemos que somos beneficiados, por que ainda temos di-


ficuldades e demoramos tanto para dar o que Ele pede? Eu não sei se
onde você mora existe esse tipo de crente, mas em Brasília há pessoas
infantis que insistem em discutir se dizimar é uma prática do Novo ou
do Antigo Testamento. Esse tipo de discussão me dá preguiça, e logo
encontro uma oportunidade para me retirar, deixando a pessoa com a
Keila que, por sinal, ama conversar. Eu não tenho nem forças para dia-
logar com esse tipo de gente.
Eu sou um “dizimista religioso”, mas tenho um catálogo de mila-
gres vividos. Um indivíduo tão “sabido” como esse deveria saber ao me-
nos que as ofertas do Antigo Testamento não eram baseadas em dinhei-
ro, afinal, a sociedade da época era agrária e sobrevivia da agropecuária.
O importante é entendermos que não se trata do objeto da oferta, mas
da sua linguagem. Não é simplesmente o que faço, mas quais são minhas
atitudes a partir do meu amor por Deus. Assim, é triste ver que Jesus de-
seja aprofundar a Sua relação conosco, mas muitos se enganam ao dizer
que estão mergulhando no rio da revelação sem se darem conta de que
ainda estão com a água nos tornozelos.
Sim, o dízimo é algo relacionado ao Antigo Testamento, eu con-
cordo com esse posicionamento, mas Paulo diz que a Lei é “aio”, que
no grego significa “pedagogo”. Sabe o que é ser um pedagogo? É atuar
como um instrutor de crianças. O apóstolo também diz que, enquanto
um indivíduo é criança, ele é escravo e, consequentemente, não pode
usufruir da herança. No entanto, ele também diz que, quando chegou a
plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu filho. Com isso, entendo que a
Lei representa a 1ª e a 2ª série, mas a Graça representa a faculdade.
Se já existia um padrão de obediência e santidade em Moisés,
e na época os homens eram dizimistas, eu deveria me envergonhar de
questionar esse princípio ou perguntar se ele deve ser seguido atual-
mente. Se em Moisés os homens eram dizimistas, mas em Jesus eu me
recuso a ser, estou dizendo que Moisés é superior a Jesus, e que em Cris-
to posso viver da maneira que bem entendo. É por isso que tenho pre-

103
REDENÇÃO FAMILIAR

guiça de participar desse tipo de conversa. Como um indivíduo que se


diz tão inteligente não entende algo tão básico?
O dízimo pertence à Lei, mas na Graça eu sou dizimista porque sou
todo Dele, e tudo o que é meu pertence a Ele. Na verdade, na Graça, deve-
ríamos entregar 90%, e ficar apenas com 10%. O fato é que ela representa
mais do que isso, é Deus anulando as barreiras e chamando-nos para o mais
profundo, é Deus nos sentando à mesa e revelando a Sua agenda.
Se um indivíduo discute se dízimo é comida, você acha que ele
está pronto para sentar à mesa da intimidade e ouvir qual plano Deus
tem para redimir o mundo? Você acha que um cara que discute boba-
gens como essa está pronto para viver as profundezas que Paulo men-
ciona para a igreja em Corinto? Ele mesmo diz que nós não recebemos
o espírito do mundo, mas a mente que procede de Cristo. Se você insis-
tir em manter essa mentalidade, comprovará que Ele nunca o chamará
para viver “o mais”. Será que Jesus pode pedir os seus dias se você está
discutindo se dízimo é comida? Será que Ele pode fazer com que você
mude de estado para a Sua glória?
Esse tipo de conjectura afeta diretamente quem somos fora da
congregação. É o que aconteceu com Caim e Abel em Gênesis 4. No
relato, Caim saiu de casa para adorar a Deus e, no meio do caminho,
matou o seu próprio irmão. No entanto, quando Moisés fala inspirado
pelo Espírito, ele diz que Deus se agradou de Abel e de sua oferta. Por
outro lado, a rejeição de Deus em relação a Caim não está ligada di-
retamente à sua oferta, mas à sua postura. Entenda que, se Deus pede
algo, o objetivo não é a oferta, mas o ofertante. Um exemplo disso é a
história de Abraão e Isaque. Quando Deus pediu Isaque, na verdade,
desejava Abraão. Afinal, quem era Isaque? A barreira, o empecilho
para a prosperidade do chamado, da visão e da missão de Abraão, que,
ao se prender ao bom, desabilitava o melhor de Deus.
Quando mergulhamos nas Escrituras, comprovamos que Deus
não prometeu Isaque, mas uma descendência. Ele disse: “A sua descen-

104
ANDERSON SILVA

dência será incontável como as estrelas”, mas até Abraão entender o real
sentido dessa palavra, demorou cerca de 25 anos. No Novo Testamento,
o apóstolo diz que, pela fé, todos nós somos descendentes de Abraão, ou
seja, Deus falava a respeito de mim e de você.
Quando Deus nos pede algo, é porque aquilo irá de encontro à nos-
sa prosperidade em todas as áreas da vida. Na verdade, Deus está querendo
desentulhar a nossa jornada. Você se lembra da parábola do jovem rico? O
seu dinheiro era o entulho, a muralha que ele precisava transpor, e ele não
conseguiu. Se Deus não precisa, Ele está pedindo apenas para ajudá-lo. É
como se Ele estivesse dizendo: “Tire isso do caminho, essa é a muralha con-
tra a sua jornada, o seu destino e o seu futuro”.
Aqui vale também lembrar que, antes do pecado, não haviam
mandamentos, pois Adão e Eva eram voluntários para viver tudo o que
Deus tinha separado para eles. Por causa do pecado, a vontade de Deus
passou a ser delegada a nós através da Lei, já que não mais existe essa
voluntariedade. O amor bíblico, por sua vez, é um mandamento, pois
Deus nos obriga a amar. Será que Ele nos obrigará para sempre? Não!
Ele quer que cheguemos a um nível de maturidade em que entendamos
que, quanto mais vivermos na prática do amor, mais perceberemos em
nós a morte de Adão.
É exatamente sobre isso que Richard Foster fala no livro “Cele-
bração da Disciplina”. Ao mencionar o jejum, o teólogo diz que os cris-
tãos não gostam de jejuar porque essa prática os deixa irritados, mas
Rick Joyner quebra essa ideia ao dizer que, quando agimos dessa forma,
perdemos de vista a finalidade do jejum: revelar que somos irritados, e
por isso precisamos tomar uma atitude.
O objetivo do jejum não é ganhar um carro, assim como não é o
jejum que me dá direito à minha herança. Um exemplo disso é o meu filho,
que não precisa implorar por algo que já é dele. Da mesma forma, se ele qui-
ser ter um videogame, não é necessário jejuar, apenas pedir. O jejum não é
para que eu adquira bens, pois os alcanço pedindo ao Pai em oração. O seu
objetivo é matar Adão dentro de mim e entender como ele me faz mal. Se

105
REDENÇÃO FAMILIAR

acho que sou mais crente por jejuar, esse ato só revelará o quão maligna é a
herança de Adão e o quanto ainda preciso mortificar a minha velha nature-
za para tomar posse da nova em Cristo Jesus.
Deus não precisa, mas Ele pede para que a herança de Adão caia
por terra e a de Jesus tome posse do meu interior. O escritor de Hebreus,
no capítulo 8, afirma que chegaria o dia em que Deus faria uma nova
aliança com o seu povo, imprimindo Sua lei nas mentes e nos corações.
Com isso, Deus mostra que sairá da externalidade da nossa obediência
e emergirá na sua essencialidade.
O fato é que não fomos feitos para viver à base de mandamentos
eternamente, mas precisamos entender que eles existem porque somos
involuntários, e que somente com o amadurecimento podemos deixar
de andar por uma ordem externa e passar a andar baseados numa per-
cepção interna. Este é o objetivo do amadurecimento: Deus não precisar
mais pedir para que eu ame, porque percebi que a prática do amor o que
combateria a minha velha natureza e evidenciaria a nova. Dessa forma,
amo sem que o Senhor precise me pedir, pois deixei Moisés para trás e
agora caminho com Jesus.
Isso aconteceu com os discípulos da Igreja no primeiro século.
Estevão foi um deles. Ele tanto entendeu e cresceu em fé que conse-
guiu fazer a mesma oração de Jesus na cruz, enquanto estava sendo
apedrejado: “Perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo!”. João,
o apóstolo do amor, foi enviado para a ilha de Patmos. Naquela época,
o imperador era Domiciano, e a sua ordem foi que executassem João,
não o crucificando ou degolando, mas colocando-o numa caldeira de
azeite fervente. Assim foi feito, mas quando o imperador viu que João
não havia morrido, teve medo e ordenou que o tirassem do convívio
social e o exilassem na ilha de Patmos.
O curioso é que, quando lemos as cartas de João, não notamos
nenhuma menção ao que sofreu mediante às ordens do imperador. Por
quê? Porque, quando permitimos, a nossa natureza pode ser transfor-
mada a partir do caráter de Jesus. Não é comum vermos o apóstolo

106
ANDERSON SILVA

reclamando de perseguição, xingando os romanos ou os imperadores.


Muito pelo contrário, na sua primeira carta, notamos que a linguagem
de João era dócil e amável.
Por incrível que pareça, o objetivo da verdadeira oferta é você
mostrar que está desistindo de ter o controle. Se eu digo a Deus que es-
tou desistindo e entregando o controle da minha vida a Ele, isso corres-
ponde a um treinamento para que eu consiga desistir de ferir a minha
esposa, o meu filho e o meu próximo. Se eu me esvazio de mim em prol
do Senhor, posso perfeitamente me esvaziar em prol do meu próximo.
É exatamente por esse motivo que há ligações entre o lar e o altar, e a
igreja e a sociedade.
Você sabe por que Deus nos pede submissão? Para que sejamos li-
bertos da ditadura de ter tudo funcionando do nosso jeito. Se você entender
isso, verá uma mudança poderosa no seu casamento e nos seus relaciona-
mentos. De fato, Deus não ouve orações egoístas. Você pode estar orando
há dez anos pelo seu marido, mas será que a sua oração é em benefício
dele, ou em seu próprio? Reveja as suas motivações, e não se chateie caso o
Senhor não responda esse tipo de oração. Agora, se você está orando para
que o seu marido tenha um encontro com Deus, desejando que ele seja be-
neficiado, certamente o Senhor irá atender a sua petição.
Existem problemas que não se resolvem apenas com oração, mas
com o bom senso. Um relacionamento só dá certo se você aprender a
ser um bom perdedor, a dar a outra face e a desistir de ferir o outro por
achar que está certo. Deus teria vários motivos para desistir do relacio-
namento com o ser humano, mas Davi afirma que as misericórdias do
Senhor se renovam a cada manhã e, por isso, não somos destruídos.
A relação com Ele é viável, pois Deus não está me ofendendo a
partir dos meus defeitos. Ele sabe que, em meio a 100 defeitos, eu tenho
pelo menos uma qualidade. Foi isso que salvou Pedro após ter negado
Jesus três vezes. Quando Cristo foi conversar com Pedro, Ele não falou
sobre o erro cometido, mas perguntou se o amava. No final, a mensagem
que importa é que a relação de Jesus com Pedro só foi possível porque

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REDENÇÃO FAMILIAR

o próprio Senhor soube perder. Resultado? Três dias depois de cometer


o pior pecado de sua vida, Pedro foi ordenado como pastor. Quem mais
poderia fazer isso? Certamente, eu não conseguiria.
Para que as suas orações passem a funcionar, avalie se você está
em obediência à Palavra. Por exemplo, muitas vezes, quando me pedem
para orar por casamentos, eu me recuso, pois na maioria delas, o que
falta é bom senso e posicionamento.
A Bíblia diz que há uma influência maligna que persegue mui-
tas mulheres, é o chamado “espírito de Jezabel”. O nome Jezabel significa
“desposada”, aquela que não tem marido. Com isso, entendemos que uma
mulher casada só surta quando o seu próprio marido provoca essa reação.
Quando o homem não é o tipo de esposo que Deus espera que ele seja, logo
empurra a mulher para uma prática amaldiçoada. Como consequência, ela
surta porque vive como Jezabel, sem marido, sem amor, sem proteção etc.
Nessa situação, um homem de verdade resolveria os problemas do
seu lar assumindo responsabilidades, cuidando das crianças e ajudando nos
serviços de casa, enquanto a esposa descansa. Para o homem, o sexo come-
ça mediante ao ato sexual, mas, para a mulher, a relação começa quando o
dia se inicia. Toda mulher é visual e sensorial. Ela pode até dar o corpo a
você, mas é provável que mantenha a alma longe, pois está ferida e ofendida.
Não se engane, o contrário também pode ocorrer! A esposa pode
querer solucionar o seu casamento apenas com oração, mas se esquece
de que a Bíblia diz que ela deve ter estima e honra pelo seu marido. Não
adianta querer orar pelo marido, enquanto o desrespeita. Nunca irá fun-
cionar! Lembre-se: não adianta pedir algo a Deus se, em primeiro lugar,
você não deu matéria-prima a Ele.
Então, voltemos à questão da generosidade. Se formos generosos
em um aspecto, consequentemente seremos em todas as áreas da vida.
Da mesma forma, se agirmos com egoísmo, isso se aplica a tudo que
iremos fazer. O provável motivo do fracasso das pessoas é que elas não
sabem perder, e a maior confusão que podemos fazer é pensar que, se

108
ANDERSON SILVA

estamos indo bem e andando em obediência em algumas áreas da vida,


temos o direito de obrigar Deus a cuidar das outras.
A verdade é que desobedecer a Deus abre um precedente para a
ação maligna. Você pode ser um bom dizimista, mas isso não obriga o
Senhor a torná-lo um bom marido, pois uma coisa não tem nada a ver
com a outra. Isso representa outra esfera de obediência. Por mais que
um aspecto influencie o outro, os sucessos são independentes. Portanto,
o seu papel é buscar princípios bíblicos para obedecer a Deus em tudo.
Em 1 Coríntios 12, encontramos um texto sobre dons espiritu-
ais. Não sei você, mas eu amo os dons. Profecia, discernimento, oração
em línguas, interpretação e cura são alguns deles. No primeiro século,
os escritos originais não contavam com a divisão por capítulos, versícu-
los e títulos, mas tudo fazia parte de um texto só. Com isso, podemos
concluir que as palavras do apóstolo Paulo no capítulo 12 estendem-se
ao que está escrito no capítulo 13.
O texto de 1 Coríntios 12 começa falando sobre os dons que a
igreja em Corinto tinha em abundância, mas, no capítulo 13, Paulo de-
clara que lhes mostraria um caminho extraordinariamente melhor. O
que foi revelado no capítulo 12 é algo maravilhoso, mas ainda é “coisa de
menino”, ou seja, os dons são influência do Espírito, eles simplesmente
acontecem! Basta lermos Mateus 7, no qual Jesus afirma que muitos di-
rão que expulsaram demônios, curaram enfermos e realizaram milagres
em Seu nome, mas não o conheceram. Assim, o dom funciona porque
não é algo intrínseco ao ser humano, mas proveniente de Deus. Onde o
nome de Jesus for clamado, algo acontecerá. Contudo, ainda que eu fale
a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino
que ressoa ou como o prato que retine (1 Co 13.1).

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não


se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facil-
mente, não guarda rancor.”
(1 Co 13.4–5)

109
REDENÇÃO FAMILIAR

Aproveitando o ensejo, gostaria de falar sobre o poder da renúncia


motivada pelo amor. No meu entendimento, ofertar significa perder. Em
outras palavras, é um treinamento para a minha segunda-feira. Se eu não
consigo doar, automaticamente não consigo perder. Se eu não consigo per-
der, não sei como viverei durante toda a semana. É por isso que, muitas
vezes, a igreja se torna um mero refúgio, ou uma substituição de relação.
Os piores problemas que enfrentei dentro da igreja como pastor
foram relacionados a pessoas que me chamavam de pai. O problema
não é porque me chamavam dessa forma, mas porque queriam que eu
fosse a redenção do que não existia em suas casas. No final das contas,
um dia eu era pai e, no outro, um demônio. Quando acontece o contrá-
rio e alguém diz que sou como um pai e vem bem, vívido e frutífero de
sua casa, essa é uma relação benéfica para ambas as partes.
Há pouco tempo, Keila se lembrou da pior experiência que tive
em relação a isso. Na nossa igreja, havia uma pessoa que me chamava
de “paizinho”, e todos percebiam que aquilo não “descia redondo”. Ela
era uma moça desengonçada de segunda a sábado, não lidava bem com
suas relações sociais, mas frequentava a igreja e dava uma de “super san-
ta” ao me chamar daquele jeito.
O fato é que Deus quer mais do que isso, e é através de suas ofer-
tas que Ele deseja encontrá-lo e reconstruí-lo. Se eu edifico um altar,
voltarei para casa como um presente para a minha família. Sabe por
quê? Porque o meu altar ampliará o meu lar. Se eu estabeleço uma re-
lação correta com Deus, consequentemente volto melhor para a minha
esposa, e assim, criamos juntos um ambiente adequado para potencia-
lizar a nossa fé aos domingos. Se há generosidade entre nós como um
casal, também haverá generosidade entre nós como igreja.
Então, o simples fato de não gostarmos de algo não nos dá o di-
reito de pedirmos carta de divórcio. Assim como a família, a igreja deve
ser o lugar onde você permanece por decisões diárias de amor. “Eles não
merecem, mas eu decido amá-los”: essa deve ser a nossa resposta diante
das circunstâncias que se apresentam no dia a dia. Pode ser que tudo

110
ANDERSON SILVA

pareça estar errado, mas, se você faz votos diários de amor e os cumpre
em sua família, tenha a certeza de que terá a igreja que merece.

“O filho honra seu pai, e o servo o seu senhor. “Se eu sou pai, onde está
a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me
devem?”, pergunta o Senhor dos Exércitos a vocês, sacerdotes. São vocês
que desprezam o meu nome! Mas vocês perguntam: De que maneira
temos desprezado o teu nome? Trazendo comida impura ao meu altar! E
mesmo assim ainda perguntam: De que maneira te desonramos? Ao di-
zerem que a mesa do Senhor é desprezível. Na hora de trazerem animais
cegos para sacrificar, vocês não veem mal algum. Na hora de trazerem
animais aleijados e doentes como oferta, também não veem mal algum.
Tentem oferecê-los de presente ao governador! “Será que ele se agradará
de vocês? Será que os atenderá?”, pergunta o Senhor dos Exércitos.”
(Ml 1.6–8)

Quem tem a capacidade de profanar a relação com Deus desprote-


ge todas as demais relações que possui. Se eu não sou fiel a Deus, todas as
pessoas que Ele me confiou correm perigo, a começar pela minha esposa.
O Novo Testamento diz que todos os crentes em Cristo se tornaram
sacerdotes, por isso não existem desculpas para pensar que isso não é verda-
deiro. Enquanto alguns não ofertam, existem aqueles que até ofertam, mas
de forma inadequada, apresentando um sacrifício defeituoso e, para piorar,
pensando que não existe problema nenhum em fazer isso.

“Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio


entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele
endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema
o Senhor e evite o mal. Isso lhe dará saúde ao corpo e vigor aos ossos.
Honre o Senhor com todos os seus recursos e com os primeiros frutos de
todas as suas plantações; os seus celeiros ficarão plenamente cheios, e os
seus barris transbordarão de vinho.”
(Pv 3.5–10)

111
REDENÇÃO FAMILIAR

Entregar as primícias significa dar ao Senhor os primeiros frutos


do que recebemos. Quer ver como a maioria dos crentes age de forma
incoerente? Um exemplo disso é buscar a Deus no divórcio sem nem ter
oferecido as primícias do namoro. Frequentemente, o crente entrega a
Deus a dívida, mas não entrega os primeiros frutos de nada que ganha.
Esse tipo é daquele que vive de promessas, projetando sua responsabi-
lidade para o futuro e esquecendo-se de que o Senhor nos ordena a ser
fiéis no pouco para que recebamos o muito. Assim, devemos primeira-
mente reconhecê-Lo, caso contrário, nossa vida não funcionará.
Há 15 anos, eu ofertava e dizimava apenas R$1. Lembro-me de
dividir os R$10 que tinha e ofertar R$1 em cada conta. Certo dia, o pas-
tor me encontrou na porta do banco e perguntou se era eu quem estava
depositando R$1 em sua conta. Eu “tremi na base” por achar que seria
confrontado, mas respondi que sim. Aquele pastor me abraçou e disse:
“Isso só pode ser atitude de um gigante na fé! Vai chegar o dia em que
você poderá ofertar R$20 mil”. Hoje, as pessoas olham para a minha
vida e perguntam por que as coisas são “tão fáceis” para mim, mas mal
sabem elas do sofrimento de anos atrás. O fato é que eu estava dando a
matéria-prima para Deus construir o meu futuro.
Há alguns anos, quando fui a um banco depositar uma oferta
missionária de R$4.000, fiquei muito emocionado por ter essa condição,
e o Senhor sussurrou em meu ouvido: “Sabe por que você pode contri-
buir com esse valor hoje? Lembra-se do R$1 que você dava anos atrás?”
Deus não precisa da sua oferta, mas deseja usá-la para construir o seu
futuro. Muitas vezes, as pessoas não têm futuro porque não existiu ofer-
ta — a matéria-prima — para que o destino delas fosse traçado.
Caim morreu porque a sua oferta não representava a transmissão
de seu coração. Para ele, não havia futuro, pois suas ofertas vinham apenas
de suas mãos, sem permitir que a influência divina mudasse o seu caráter.
Por outro lado, Abel ofertava e entregava a Deus o controle de tudo.
Dizer que alguém é generoso quando se tem um pão é uma coi-
sa, mas afirmar que é um cristão generoso tendo um milhão na conta

112
ANDERSON SILVA

ouvindo a conversa é outra completamente diferente. Prometer algo a


Deus sem ter nada até o Diabo consegue, mas dizer que será fiel no mui-
to é uma prova de fogo em relação ao caráter humano.
Em minha casa, não existem crises ou discussões em relação a
ofertar o que se tem, pois, quando pedi a Keila em casamento, deixei
muito claro que tudo o que eu tinha era um colchão e um fogão sem
botijão. Apesar da escassez de bens materiais, ela se casaria com um
homem que ama a Jesus e que estaria disposto a entregar tudo o que
conquistasse, caso Ele pedisse. Essa conversa aconteceu em uma lancho-
nete. Seis meses depois, estávamos casados.
Durante os últimos anos, já vivemos de tudo. Andamos por
duas horas para ir aos cultos, choramos ao ver nossos pés feridos e
passamos por muitas outras experiências. Atualmente, quando prego
em outros países, muitos têm interesse em me ver, mas tenho certeza
de que isso não aconteceria há 10 anos, quando eu só chorava e mal
tinha o que comer.
Naquela época, um profeta foi até a minha casa e disse que via o
nosso ministério saindo das ruas, estabelecendo-se em um galpão preto
e sendo ramificado para os Estados Unidos e para a Europa. Sabe o que
eu tinha para oferecer àquele homem? Apenas bolacha e café. Hoje, a
minha vida não está fácil como alguns dizem, porém, existe um cami-
nho que foi pavimentado há 10 anos.
Da mesma forma, em minha casa não existe a possibilidade para
o divórcio. Não digo isso porque acho que somos bons, mas porque
amamos Jesus, e, enquanto existir um altar, também haverá um lar. Nos-
sas vidas foram criadas para reconhecer que o mundo possui um Cria-
dor, e, quando declaro que Deus é o primeiro, quero dizer que a minha
vida realmente funciona. É como falei anteriormente: Deus não quer
ser honrado em benefício próprio, mas em benefício do ser humano.
Enquanto você não honra a Deus, é como se fosse o iPhone do ano, só
que sem bateria e carregador. De que adianta? Além de ser o carregador,
Deus é a energia que o faz funcionar!

113
REDENÇÃO FAMILIAR

Se o prefeito ou o sargento da sua cidade o chama para conver-


sar, tenho certeza absoluta de que você logo ficará nervoso, pois sabe
que terá que adequar a sua linguagem, postura e vestimenta. Você age
dessa forma porque não sabe ao certo como se portar diante de uma
figura de autoridade. É por isso que Deus diz que devemos pegar as
ofertas impuras e oferecê-las a essas autoridades seculares, para ver se
elas irão gostar, louvar por nossas vidas ou nos fazer algum favor. Assim,
lembro-me do texto em Malaquias 1 que diz: se o filho honra o Pai, onde
está a honra que é devida a Deus?

“Não temos todos o mesmo Pai? Não fomos todos criados pelo mesmo
Deus? Por que será então que quebramos a aliança dos nossos ante-
passados sendo infiéis uns com os outros? Judá tem sido infiel. Uma
coisa repugnante foi cometida em Israel e em Jerusalém; Judá deson-
rou o santuário que o Senhor ama; homens casaram-se com mulheres
que adoram deuses estrangeiros. Que o Senhor lance fora das tendas
de Jacó o homem que faz isso, seja ele quem for, mesmo que esteja
trazendo ofertas ao Senhor dos Exércitos. Há outra coisa que vocês
fazem: Enchem de lágrimas o altar do Senhor; choram e gemem por-
que ele já não dá atenção às suas ofertas nem as aceita com prazer.
E vocês ainda perguntam: “Por quê?” É porque o Senhor é testemu-
nha entre você e a mulher da sua mocidade, pois você não cumpriu
a sua promessa de fidelidade, embora ela fosse a sua companheira,
a mulher do seu acordo matrimonial. Não foi o Senhor que os fez
um só? Em corpo e em espírito eles lhe pertencem. E por que um só?
Porque ele desejava uma descendência consagrada. Portanto, tenham
cuidado: Ninguém seja infiel à mulher da sua mocidade. “Eu odeio o
divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel, e “o homem que se cobre de
violência como se cobre de roupas”, diz o Senhor dos Exércitos. Por
isso tenham bom senso; não sejam infiéis.”
(Ml 2.10–16)

114
ANDERSON SILVA

Perceba que, no texto anterior, está o motivo pelo qual acontece o


divórcio marital. Deus começou falando sobre oferta e terminou o trecho
tratando sobre o lar. Apesar daquelas pessoas cobrirem o altar com choro,
lágrimas e pranto, o Senhor não estava aceitando as suas ofertas e nem tinha
prazer no que vinha das mãos daquele povo. Assim, antes de Deus receber
algo das suas mãos, Ele precisa ter a certeza de que recebeu o seu coração.
Mesmo chorando e pranteando, o Senhor pode estar testemunhando a nos-
sa infidelidade semanal ao ver o que praticamos longe do altar. Então, Ele
deixa claro que não se agrada mais do que é oferecido, porque o homem
deixou de ser fiel à mulher de sua mocidade.
O fato é que Deus não quer uma oferta que encubra erros, mas
ofertas que sejam extensão dos acertos. O Senhor está interessado em
ofertas que venham de dentro para fora. Ele não vai fingir que somos
bons só porque ofertamos apenas aos domingos, mas nos garante que,
se decidirmos ser uma oferta para quem nos rodeia, veremos o upgrade
que a nossa fé sofrerá. Se o seu amor a Deus não consegue transformar
quem está no seu lar, como você acha que a sua fé vai transformar quem
não mora com você?
Fazer missões não é fugir, pois o Senhor deseja vocacionados.
“Ah, eu quero evangelizar em outros países porque o meu lar não pres-
ta!”, é o que muitos expressam, mesmo sem falar uma palavra sequer.
Longe de mim querer feri-lo, mas eu quero instigá-lo a recalcular a rota!
Marque um jantar em sua casa na segunda-feira e peça perdão aos pa-
rentes que você já feriu. Que tal você, marido, pedir perdão à sua esposa
e aos seus filhos por não estar conseguindo liderar o seu lar baseado
em Deus? Que tal você, homem, assumir responsabilidades com a sua
igreja ao decidir fazer um culto doméstico em seu lar? Saiba que você
a poupará de muitos problemas se decidir edificar uma igreja em casa.
Avalie a proximidade entre o altar e o seu lar, entre o seu egoís-
mo e a qualidade da sua relação com Deus e com o próximo. Você é ca-
paz de renunciar ou está mais para aquele que deixa a esposa perecer às
custas de ter o carro do ano? Você é aquele que consegue ver sua família

115
REDENÇÃO FAMILIAR

à míngua, desde que não deixe de investir no que é prazeroso para você?
Você é capaz de amar um mendigo, mas não consegue pedir perdão ao
seu filho? Você quer viver orando na igreja, mas não é capaz de levar o
seu filho ao cinema? Você quer ver anjos e demônios toda hora, mas não
é capaz de sentar à mesa de casa para falar sobre as bobagens da vida?
Até isso você precisa avaliar, pois talvez esteja sem frutos exatamente
por ser “espiritual” demais.
Seja generoso na vida. Garanto que você também será generoso
na igreja. Seja generoso com o seu cônjuge, e você será generoso com os
seus líderes, pastores e irmãos. Perdoe os seus parentes, e você também
perdoará os irmãos da sua igreja. Permita que o altar se comunique com
o seu lar, e vice-versa! Não isole ou valorize apenas uma das partes: es-
colha conectar as pontas!

116
A IGREJA É O REFLEXO
DA FAMÍLIA
“Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou
açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado.”
(Mc 15.15)

O
campo missionário de maior dificuldade para o cristão
não é a África ou o Afeganistão, mas o seu lar. A nos-
sa casa é, provavelmente, o ambiente mais hostil que
podemos enfrentar. Eu costumo dizer que, em alguns casos, o desejo
de fazer missões na África é mais uma questão de covardia do que de
valentia, porque o desejo de fazer missões pode estar, na verdade, ca-
muflando uma fuga da responsabilidade diária que temos em relação às
nossas famílias. Ao lerem isso, alguns podem se perguntar o que existe
de errado em querer amar e ajudar pessoas de outras nações. Tudo bem,
entendo esse ponto de vista, mas precisamos compreender que nenhum
amor tem eficácia se for direcionado apenas para alguém que você nun-
ca viu ou com quem tem pouco contato.
A hostilidade do lar como campo missionário está em lidar com
as mesmas pessoas quando elas não são merecedoras do nosso amor.
Assim, parece-me mais fácil ir à África, abraçar uma prostituta na rua,
ajudar pessoas que nunca vi antes e com as quais, provavelmente, não

119
REDENÇÃO FAMILIAR

terei um compromisso cotidiano. Por outro lado, a vida diária nos revela
que não somos tão bons assim, e nos dá diversas justificativas para não
amar, insistir, permanecer e perseverar. Por isso, evangelizar aqueles que
não convivem diariamente conosco se torna mais fácil.
Há dias em que desejo pular no pescoço da Keila, mas eu enten-
do que sou um missionário e ela é o meu campo. Se o meu evangelis-
mo serve para um estranho, por que não serviria para ela? A primeira
pessoa que deve perceber que sou extremamente temente, reverente e
apaixonado por Jesus é a mulher que dorme ao meu lado.
Não é à toa que o núcleo familiar idealizado por Deus está sendo
desfeito, porque é visto apenas como uma possibilidade, enquanto o ide é
tido como uma realidade. Muitos querem fazer missões fora, mas se es-
quecem da missão que assumiram ao dizer “sim” no altar. Ao agirem dessa
forma, impossibilitam a formação e a perpetuação do núcleo familiar.
A fé não começa na igreja, mas é compartilhada nela. Na ver-
dade, tudo começa na família, pois ela é a célula apostólica. Essa in-
versão de papéis tem feito com que tudo dê errado. A igreja virou um
reduto de consumidores, onde todos querem a bênção, mas ninguém
quer ser o Abençoador. Muitos vêm para “sacar”, mas poucos querem
“depositar”. Assim, a igreja não deve ser o local em que as pessoas ape-
nas se encontram com Deus, mas um lugar no qual nos reabastecemos
e devemos ser abençoadores, evidenciando que Ele está conosco e nos
usando como Seus instrumentos.
Na igreja em que pastoreio, sempre brinco, pedindo para que
os irmãos não testem a minha paciência, senão eu fecho as portas e
vou embora. Em minha casa, já somos igreja, pois lá o “H” maiúsculo
está estabelecido. Da mesma forma, posso ser igreja no carro, na rua,
no restaurante ou em qualquer lugar. A presença de Jesus não está li-
mitada a um lugar geográfico, mas a um propósito apostólico. Vivendo
apoiado nessa revelação, tenho a capacidade de mudar realidades e
cenários nos quais estou inserido.

120
ANDERSON SILVA

O IDE REVERSO
Há algum tempo, desenvolvi uma técnica que chamo de “ide re-
verso”, ou evangelismo reverso. Na língua original do Novo Testamento,
o ide de Mateus 28 não é um imperativo verbal, assim como na língua
portuguesa. O grego possui a voz média, diferentemente do português,
em que existe apenas a voz ativa e a passiva.
A voz média replica-se da seguinte forma: quer você aja ou re-
cepcione a ação, você é um participante dela. Por isso, a melhor maneira
de entender o ide, em sua essência gramatical, é “indo”, exercendo. Se
interpretarmos o ide de forma errada, podemos gerar uma dicotomia.
Por exemplo, o empresário que sustenta uma obra entra em crise, acre-
ditando estar errado por agir contrário à Palavra de Deus. Todavia, ele
quer o Senhor em sua vida e procura ser obediente, mas sua visão errada
o faz pensar que, se ele não abandona um lugar físico, o ide não está
sendo exercido.
Se colocássemos um particípio ou gerúndio, entenderíamos que
o Senhor não está nos pedindo para abandonar algo e começar outra
coisa, mas nos dizendo: “Viva a vida! Case-se, trabalhe, viaje, crie seus
filhos, dirija, malhe, mas não deixe de fazer discípulos em todas as na-
ções”. Se todos nós fôssemos chamados para fazer a obra de forma inte-
gral, quem a sustentaria? E se todos sustentassem a obra, quem a viveria
de forma integral?
O ponto em que quero chegar é que a igreja é resultado de nossas
famílias. Não existe igreja boa e eficaz sem famílias redimidas que erguem
altares domésticos. A igreja não é o local onde o cristão encontra Deus, mas
um lugar onde o cristão autêntico revela seu encontro diário com o Pai.

“Portanto, que diremos, irmãos? Quando vocês se reúnem, cada um de


vocês tem um salmo, ou uma palavra de instrução, uma revelação, uma
palavra em uma língua ou uma interpretação. Tudo seja feito para a
edificação da igreja.”
(1 Co 14.26)

121
REDENÇÃO FAMILIAR

Na passagem acima, as revelações do apóstolo Paulo nos mos-


tram que não existe crente de mãos vazias. A Bíblia também afirma que
a Igreja é a Noiva de Jesus, mas a falta de comprometimento diário com
Deus nos mostra que podemos ser uma noiva que se divorcia do Amado
durante seis dias na semana, e tenta se apaixonar por Ele apenas aos do-
mingos. Imagina como seria o encontro da Igreja com Deus aos domin-
gos se ela tivesse um relacionamento íntimo e diário com Ele? Quem
aguentaria a força da Igreja?
A Igreja do primeiro século não possuía templos. O autor Francis
Schaeffer relata que os templos daquela época eram formados por famílias
vizinhas que, ao se converterem, doavam suas casas e derrubavam as pare-
des, para que pequenos templos fossem formados. Quando lemos a palavra
“templo”, entendemos como uma posse de uma igreja, mas, no Antigo Tes-
tamento, os templos não pertenciam a ela, mas à religião judaica. Assim, a
Igreja nunca adorou em templos judaicos, o mais longe que chegava era no
Pórtico de Salomão, um pátio exterior aos templos. Sabe qual era a menta-
lidade dos fiéis do primeiro século? Para eles, a Igreja era Alguém (Jesus), e
não um lugar. A Igreja era um povo, um movimento apostólico.
Sem ter um templo sequer, a Igreja do primeiro século fez com que
imperadores deixassem de dormir ao pensar em sua potência. É por isso
que Nero incendiou Roma e acusou a Igreja de ter cometido o ato. Como
consequência, diversos cristãos foram colocados em troncos, queimados
para servir de iluminação nas ruas de Roma. É o que diz o autor Tim Keller:
“Você não mata cara bacanas, você só mata ameaças”. Jesus não era um cara
bacana, mas uma ameaça ao sistema político vigente da época, e continua
sendo inimigo do sistema político deste mundo caído.

A REFORMA COMEÇA NO LAR


Você sabe onde começa o avivamento? No lar! Todo avivamento
precisa ser acompanhado de uma Reforma. Ele até pode acontecer na
igreja, mas precisa começar no lar, pois esse é o odre que recepciona o
vinho. A Reforma nada mais é do que o lar reerguido, redimido.

122
ANDERSON SILVA

Conheço pessoas que frequentam conferências todos os anos,


mas o seu caráter nunca foi redimido. Conheço pessoas que sempre
caem no poder, mas nunca se levantam no poder. Da mesma forma, co-
nheço pessoas que falam a língua dos anjos, mas nunca falaram a língua
de Jesus. Sabe qual o motivo disso? Não há Reforma em suas vidas, por
isso, o vinho se perde.
Avivamento sem Reforma é como um vinho derramado no
chão. A conferência tem alguma culpa? Não, mas o seu papel é dar o
start, uma ativação e atualização de vida. Entretanto, a falta de mobili-
zação individual e a responsabilidade cotidiana para gerir o que foi re-
cebido nos momentos de mobilização coletiva fazem com que o objetivo
se perca. Nós vamos aos cultos e somos ativados, mas, ao sairmos dele,
transportamo-nos para uma “filial do inferno”, que não temos trabalha-
do para construir e redimir.
O problema é que investimos tudo na igreja, mas nada em nos-
sas casas. Assim, a solução para a conversão de nossos parentes não é
apenas a oração, mas também o bom senso. Chamar o pastor de pai sem
ao menos ter assumido a responsabilidade de redimir a sua relação com
os seus pais não faz sentido nenhum!
Eu, por exemplo, sou pai de três meninos — troquei as suas fral-
das, levei-os ao hospital nas madrugadas e chorei as suas dores. Imagine
que, num belo dia, um dos meus filhos, depois de 15 ou 20 anos, decide
chamar de pai alguém que acabou de entrar na sua vida, mas sem nunca
terem me tratado com o devido respeito. Se ele agisse dessa forma, cer-
tamente não me incentivaria à conversão, pois estaria praticando uma
cultura de desonra. Só é verdade na igreja o que é uma extensão do lar.
O respeito que o líder espiritual recebe deve ser um reflexo do respeito
que é exercido em casa.
No ministério, as pessoas que mais me traíram, abandonaram e
feriram foram aquelas que me chamaram de pai. Muitos questionam se
eu me importo quando alguém me chama de “paizinho”. Ora, Timóteo
chamava Paulo de pai, então não vejo nenhum problema nisso. Entre-

123
REDENÇÃO FAMILIAR

tanto, é válido lembrar que Timóteo não tinha pai (apenas mãe e avó
foram relatadas), por isso Paulo exerceu esse papel. Provavelmente, não
existiria nenhum problema se Timóteo tivesse um pai e, ainda assim,
chamasse Paulo dessa forma, desde que aquela atitude fosse uma exten-
são do respeito já existente em casa. A verdadeira paternidade espiritual
é aquela que estimula a volta ao passado para apaziguar, ressignificar e
seguir o seu destino. Assim, é preciso estabelecer a cura em casa, para
depois fazer da igreja um lar.

UM AVIVAMENTO DE LONGEVIDADE
Tudo o que tenho dito até aqui não é para sua tristeza, mas para
o seu avivamento, um avivamento de longevidade. O que temos dis-
cutido sobre avivamento tem pernas curtas: começa na conferência e
morre na segunda-feira, tornando-nos pessoas nostálgicas que acabam
morrendo espiritualmente.
Muitas vezes, quem vive dessa forma só se empolga ao ver no-
mes de “gringos” sendo confirmados em grandes eventos. Contudo,
temos muitos pregadores no Brasil que estão cheios da Palavra e que
carregam uma mensagem incrível, são pessoas profundas, avivadas e
sérias. Eu não os troco por nenhum desses nomes internacionais que
tantos admiram.
O fato é que muitos vivem por empolgação, não por amor. É
como Apocalipse 2 relata: podemos ser como os crentes da igreja em
Éfeso, que trabalhavam arduamente, não toleravam homens maus e su-
portavam sofrimentos, mas ainda assim precisavam de uma mudança,
pois haviam perdido o primeiro amor. Podemos chamar esse primeiro
amor de “paixão”, um primeiro estímulo. Sabe aquela vontade de servir e
de fazer a mesma coisa com amor durante anos e anos? É isso! O Senhor
não deseja que percamos essa alegria, essa paixão, mas isso só é possível
se assumirmos responsabilidades cotidianas.
Você deseja uma igreja melhor? Então leve Jesus para a sua casa!
Deseja uma igreja missionária? Faça missões em casa! Se agirmos dessa

124
ANDERSON SILVA

forma, nossos filhos nos enxergarão de outra maneira, e assim estare-


mos forjando possíveis grandes nomes que serão citados em livros no
futuro. As pessoas acham que é nepotismo, mas é lindo ver um pai pas-
sar o bastão para o seu filho na congregação. Isso configura um diálogo
multigeracional — “Deus de Abraão, Isaque e Jacó” — É um exemplo
desse passar de bastão.
Na verdade, essa oração deveria ser feita com mais frequência
nas igrejas, lembrando-nos que Deus não está interessado em quebras
geracionais. Quando a Bíblia nos afirma que Deus é Deus de Abraão,
Isaque e Jacó, ela está falando de extensão de bençãos, transmissão de
legado, empoderamento, envio e capacitação para cumprir um destino.
A Bíblia está falando sobre pais sendo tudo o que devem ser, oferecendo
plataforma para os seus filhos e netos. Assim como o que acontece de
errado é perpetuado até que alguém o quebre, o que é positivo é perpe-
tuado da mesma forma.

RESPONSABILIZE-SE!
Gostaria de finalizar este livro combatendo a fantasia da igreja
perfeita. Especificamente em Brasília, não existe fidelidade congrega-
cional. As pessoas são meras consumidoras, como se estivessem em um
mercado. Muitas não gostam do louvor, reclamam do departamento
infantil, das pregações etc. O problema é que a busca pela igreja per-
feita revela a disfuncionalidade das famílias. É como falei nos capítulos
anteriores: os indivíduos estão projetando nas igrejas aquilo que falta
em suas casas. Se somos capazes de resolver nossos problemas domés-
ticos, que tipo de problema não seríamos capazes de resolver na igreja?
A Arca possui uma logística, mas é melhor estar dentro dela do que
apodrecer do lado de fora! Se vivemos bem em casa, projetaremos esse
bem em qualquer outro lugar.
Minha esposa quase entrou em depressão por ser frequentemente
pressionada a exercer o ministério pastoral, ser teóloga, missionária, orar
em línguas, interpretar, bater escanteio e cabecear. Eu sempre digo que ela

125
REDENÇÃO FAMILIAR

não precisa ser nada disso, pois a minha única necessidade é que ela sorria
para mim todos os dias. Dessa forma, Satanás fica preocupado, pois ele sabe
que esse é o energético que me motiva a continuar. Ver a Keila triste, princi-
palmente por conta da tentativa de suprir as expectativas alheias, me deixa
mal e traz à tona o pior de mim. Eu não desejo uma pastora em casa, o que
eu quero é ter a minha esposa e o seu sorriso.
O fato é que a igreja perfeita é apenas uma questão de perspecti-
va. Sem medo algum, posso dizer que sou pastor de uma igreja porque
Jesus mandou. Se Ele me mandasse estar em uma Assembleia de Deus
e me pedisse para usar um terno verde com gravata amarela, eu iria
obedecer. Se eu fosse enviado por Deus para a Igreja Universal do Reino
de Deus, você ouviria falar de mim porque eu seria o melhor obreiro do
Edir Macedo. Então, eu não mudo de igreja porque quero, mas porque
existe um Deus que guia a minha vida. À medida em que os ciclos mu-
dam, e o Senhor me direciona, eu me movo.
Não procure a igreja perfeita, mas dê sua família saudável para
sua igreja. Deseja uma igreja boa? Pare de ser um defraudador e seja um
homem, um exemplo para os seus irmãos na fé.
De modo geral, a igreja está sendo responsabilizada por atitu-
des que não são dela. Na verdade, ela está sendo responsabilizada pelos
frutos de nossa omissão. D. L. Moody, um grande evangelista do século
passado, dizia: “Se você quer saber se um homem é um verdadeiro cris-
tão, não pergunte ao seu pastor, pergunte à sua esposa”. Se eu tiver uma
conversa com sua esposa, com seus pais ou com o seu filho, será que
eu poderia perguntar quem você é? O que você acha que eles respon-
deriam? Lembre-se: a igreja é o encontro coletivo de nossas individua-
lidades, mas, se não há responsabilidade com o lar, que igreja existirá
aos domingos? Se a família briga e se omite durante toda a semana, o
que será da igreja aos domingos? Entretanto, se existe amor, perdão,
investimento, cotidiano familiar, os domingos serão mais do que uma
multidão sedenta por bençãos, serão um movimento apostólico eficaz.
Você só cria problemas para a igreja se esses problemas são
uma realidade em sua casa. Por outro lado, aquele que oferece solu-

126
ANDERSON SILVA

ções para a Casa do Senhor faz isso porque está oferecendo soluções
em seu próprio lar. Aquele que perdoa o irmão também é aquele que
futuramente perdoará o cônjuge, o filho, o pai e o passado, já que ele
está se resolvendo fora da liturgia.
Quem colonizou a Terra em Gênesis 1 e 2 foi uma igreja ou uma
família? Quando Deus julgou a Terra por intermédio de um dilúvio,
quem a reorganizou, uma igreja ou uma família? Se a nossa família nos
vê andando pela fé, ela nunca mais se esquecerá. Ore em casa, adore em
casa, humilhe-se diante de Deus em casa, perdoe, chore, quebre a ver-
gonha e leve Jesus até a sua casa. Da mesma forma, saia de suas crises,
deixe de lado suas infantilidades, assuma a sua responsabilidade! Erga
um altar e deixe Jesus usar a sua casa para a evangelização do mundo.
Se amamos Jesus, devemos fazer algo em relação a esse amor.
Posicione-se! Decida! Deus quer e pode fazer algo por você, mas Ele
precisa que você seja digno de confiança. Se Ele atendesse ao seu mila-
gre hoje, você teria sabedoria para administrar o que recebeu? Se você
recebesse um emprego, dinheiro ou influência, será que uma dessas coi-
sas lhe fará bem ou mal? Existem pessoas que pedem um carro a Deus e,
quando recebem, fogem Dele a 200 km/h. Com esse tipo de atitude, só
resta ao Senhor tratar essas pessoas como crianças, porque elas não são
capazes de assumir responsabilidades. Deus deseja fazer grandes coisas,
mas Ele precisa de homens que decidam deixar um legado.
Tenha em mente que a sua casa pode ser um instrumento re-
dentor nas mãos de Deus. Nossas famílias, casamentos e até a forma
como criamos os filhos devem cooperar para o cumprimento desse
propósito. Cada divórcio é a morte de uma pequena civilização que
poderia ser forjada por uma família funcional em Cristo. Quando
uma família termina, um propósito deixa de existir. Da mesma forma,
quando uma família surge, surge também um novo propósito.
Portanto, não há desculpas! Se tomarmos a decisão certa, vive-
remos o nosso propósito com nosso cônjuge e filhos, afetando positiva-
mente a sociedade em que estamos inseridos.

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