Você está na página 1de 10

CENTRO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BATISTA DO ESPÍRITO SANTO

CURSO DE TEOLOGIA - ÊNFASE EM MINISTÉRIO PASTORAL

AUGUSTO CEZAR COZER

PESQUISA SOBRE A LITERATURA SAPIENCIAL NA BÍBLIA

Análise apresentada para a disciplina de


Hermenêutica I, no curso de Teologia - Ênfase em
Ministério Pastoral, do Centro de Educação Teológica
Batista do Espírito Santo - CETEBES.

Prof. Antonio C.G. Affonso.

VILA VELHA
2019
Literatura Sapiencial na Bíblia

A literatura Sapiencial na Bíblia evangélica é formada pelos livros de Jó, Provérbios,


Eclesiastes, alguns Salmos e Cântico dos Cânticos, na Bíblia Católica acresce a
essa lista os livros de Eclesiástico e Sabedoria.

Sapiencial tem sua origem na palavra latina sapientia, que significa "sabedoria".
Sendo assim, sapienciais seriam aqueles livros que trazem a experiência, a cultura,
numa palavra, a sabedoria do povo de Israel.

A exemplo dos povos vizinhos, Israel também teve seus escritos sapienciais. Mais
do que isso, a própria cultura de Israel foi influenciada pela cultura dos povos
vizinhos. Muitos relatos bíblicos se assemelham a de outros povos. Com exceção
dos Salmos, esses livros normalmente não recebem a mesma atenção que os
outros, principalmente os proféticos e o Deuteronômio.

A literatura sapiencial normalmente fala das coisas da vida do dia a dia do povo e
engloba a sabedoria popular, nascida do meio do povo, e a sabedoria culta, nascida
na corte. Essa literatura não descreve apenas a cultura e a sabedoria de Israel, mas
também sua espiritualidade. É uma literatura que floresceu principalmente no
período pós-exílico.

Parte da literatura sapiencial é atribuída a Salomão, conhecido como patrono da


sabedoria em Israel. Assim como a Moisés é atribuído o Pentateuco. Na verdade,
Salomão pode ter escrito algo dessa literatura, mas não é toda dele e da sua corte.

Sabedoria não são somente os conhecimentos que adquirimos na escolha e nos


livros. A sabedoria bíblica é vista como a arte de viver bem, transmitida de pai para
filho. São instruções para o bem viver e um sinal de educação, senão vejamos:
“A sabedoria da pessoa sensata é discernir o seu próprio caminho” (Pr 14,8a).

A verdadeira sabedoria é a arte de discernir entre o que promove a vida e o que a


prejudica.

A sabedoria é uma experiência universal, não é exclusividade de um povo ou nação.


A sabedoria é mais antiga que a Bíblia e o próprio povo de Israel. Sua origem se
perde no tempo e no espaço. Ela é como fonte antiga de onde brota sempre água
nova. No mundo bíblico, ela teve início na vida do povo. Ela é fonte da qual o povo
descobriu as leis, que defendem a vida e ajudam a organizar as famílias e os clãs
tribais.

Para os Judeus, a verdadeira sabedoria humana tem uma fonte divina. Deus pode
comunicar e comunica a sabedoria a quem lhe apraz. Eis porque os escritores
Sapienciais se comprazem em contemplar a divina sabedoria: sabem que a deles
emanou Dela.

A literatura Sapiencial é importante para a visão cristã pois ensina através da


disciplina, reflexão, amadurecimento e coragem. Ensina que podemos aprender com
os próprios erros, aproveitar momentos de sofrimento para transformar
positivamente o caminho futuro a seguir.
E ainda nos orienta a corrigir passos que muitas vezes foram dados em meio a
tropeços, medos, incertezas e talvez até mesmo uma grande vontade de desistir,
motivando o cristão a seguir em frente na caminha rumo ao alvo de nos tornarmos
cada vez mais semelhantes a Jesus.

Segundo Cazavechia, a maior dificuldade quando falamos sobre a literatura


sapiencial diz respeito ao fato de termos poucas referencias históricas o que torna
difícil a datação e a identificação do ambiente em que se desenvolveram a tradição
sapiencial (apud GOTTWALD, 1988, p. 523).

Ainda de acordo com Cazavechia, o conteúdo é variado e as diferenças podem ser


explicadas pelas distintas situações em que cada um se desenvolveu, pela
diversidade do público e pelas finalidades distintas. O saber cosmológico foi utilizado
principalmente no âmbito profissional, sacerdócio. Tradições didáticas pré-exílicas
tinham interesses voltados à administração central e regional (apud MAIER, 2005, p.
104).

Segue abaixo os principais pontos de cada livro, extraído do site: comshalom.org

Jó:

O livro aborda o tema por que sofrem os bons?. O povo antigo de Israel via como
castigo do pecado o sofrimento com isso aqueles considerados bons não sofriam,
com o tempo foi se vendo que não era bem assim não necessariamente acontecia
está realidade sobre o sofrimento. Esta concepção se impunha aos Judeus pelo fato
de que ignoravam a existência de uma póstuma consciente; julgavam que após a
morte o indivíduo perdia a lucidez da mente e se encontraria adormecido no sheol,
incapaz de receber alguma sansão. Por isto admitiam a retribuição do bem e do mal
nesta vida mesmo.

É com este pano de fundo que se realiza o livro de Jó um homem reto, que perde
bens e saúde, três amigos diz para ele confessar os pecados graves que ele
cometeu por ver tamanho sofrimento, mas Jó se diz inocente e diz que está situação
é inexplicável. Eliu tenta dar uma explicação que o sofrimento dos bons é para que
eles não se orgulhem. Deus então intervém calando Jó e seus amigos por que quem
é capaz de sondar os desígnios da Providencia de Deus.

Deus é sábio demais para que precise prestar contar dos seus planos. Então Jó
reconhece a sua incapacidade de julgar a Deus e Deus devolve a saúde e os bens
materiais.

Por conseguinte, reverencia e confiança constituem a atitude que o autor sagrado


quer incutir diante do problema da dor. Pondo em cheque a explicação antiga, ele
não sabe propor nova sentença, que dependeria da revelação de vida póstuma
consciente e da obra do Cristo Jesus.

Todavia o livro indica a solução pratica estritamente religiosa,que é valida até hoje.
Sim; mesmo depois de Cristo o homem não pode indicar o porque de todos os seus
sofrimentos; faça porem um ato de confiança absoluta na infalível Providencia
Divina. E não será frustrado.
O Novo testamento voltará a tratar do assunto, mostrando que o sofrimento é
disposto por Deus não como mera punição do pecado, mas como remédio do
próprio mal; o patíbulo da Cruz sobre o Calvário foi erguido como arvore da vida e da
ressurreição gloriosa. O Homem portanto, não sofre unicamente para pagar um
tributo à justiça mas para se purificar do pecado e voltar ao Pai com Cristo – que é
suma felicidade.

É preciso para compreender o sofrimento olhar para as realidades futuras, vida após
a morte, assim poderá colher os frutos das obras praticadas na terra. Em Jesus, o
justo que sofre em expiação dos pecados alheios e ressuscita dentre os mortos vem
com um sentido novo ao sofrimento. O livro de Jó se coloca em divisão entre uma
mentalidade do antigo testamento para o novo testamento.

O autor do livro é um judeu. O herói do livro é um xeque edomita e o cenário é Edom


(por volta da era patriarcal).

Data do livro: Pós Exílio, fim do séc. V, provavelmente. A Narrativa em prosa é


anterior à composição poética (Ez 14, 14-20),parece ser muito antiga e conhecida. A
história de Jó deve ter circulado oralmente durante muitos anos antes de ser lançada
por escrito, como a temos atualmente.

Eclesiastes:

O nome grego Eclesiastes é a tradução do hebraico Qoheleth = o homem que fala


na qahal ou na assembleia, ou o orador, o pregador. Este autor pertence ao circulo
dos sábios.

O livro discorre de falar da vaidade ou da deficiência dos bens. É um monologo,


onde o autor discute consigo mesmo a respeito da possibilidade de encontrar a
felicidade no gozo do prazer, no trabalho, no cultivo da sabedoria, nas riquezas, e
verifica que em tudo existe decepções para o homem; todos os bens se assemelham
a vaidade;isto é, a sopro ou vento: escapam quando alguém os quer segurar nas
mãos.

Quem lê o livro, pode, à primeira vista, ficar confuso, por algumas realidades como:
pessimismo em relação a tudo, parece não ter ideal,nem animo na vida, dar-se a
impressão de materialismo por incentivar o gozo dos prazeres, todos viemos do pó e
ao pó voltaremos.

Para ter uma compreensão real da realidade do livro é preciso verificar estes pontos:

• O autor de Eclesiastes não tinha uma consciência de uma vida póstuma.


Compartilhava a ideia de que, após a morte, o ser humano entra em estado de
torpor e se torna incapaz de receber a retribuição de seus atos bons e maus; por
conseguinte Deus exerce sua justiça aqui na terra em todos os homens. Ora o autor
de Eclesiastes tem um certo desanimo por ver que os ímpios são sadios, ricos e os
fieis sofrem perseguições e miséria.
• O autor é um homem pratico que fala do que observa e experimenta.Fala que na
verdade, ninguém vê a alma de um percorrer a sua trajetória depois da morte deste.

• Quando o autor recomenda o gozo dos prazeres materiais ele não faz como os
ateus: ao contrario, na falte de perspectiva de recompensa no além, ele convida
seus discípulos a gozar dos bens que Deus lhes dá no decorrer desta vida. Tem
algumas passagens que podemos verificar Ecl.2,24; 9,9. Se Deus dá alguém prazer,
o autor julga legitimo usufruí-lo como sendo dom de Deus.

• As realidade sem nexo deste livro é um conflito do autor diante das possibilidades
de encontrar a felicidade. Com isso ele chega a uma conclusão que a passagem Ecl.
12,13s. Esta conclusão bem mostra que o autor não é um cético, nem um ateu;
depois de haver discutido o problema da retribuição, ele o acha insolúvel; por isso,
chama seu discípulo para o realismo: sejamos fieis a Deus e entreguemos nossas
obras ao julgamento do Senhor. Nesta proposição está timidamente expressa a
esperança de que haverá retribuição póstuma. Qualquer ímpeto de desespero ou
revolta é superado por esse fecho do livro, que representa a ultima palavra do autor
temente e submisso a Deus.

• As posturas de amargura significam a insatisfação da criatura humana que espera


uma resposta cabal para os seus anseios naturais.Todo homem foi feito para a vida,
a justiça, a verdade, o amor… de modo que, quando não os encontra sente
amargura; O autor, através de suas afirmações quase irreverentes, pedia a
revelação da vida póstuma consciente, na qual cada um encontrará a plena
satisfação das aspirações mais fundamentais que Deus lhe deu. Assim o autor
segue caminho para o Evangelho; é um brado a demanda do Evangelho. A sua
mensagem de temer a Deus e observar os mandamentos é absolutamente valida
também para os Cristãos; no Novo testamento, porém, é completada pela certeza de
que existe a justa retribuição no além, de modo que todas as desordens
escandalosas da vida presente serão apagadas,cedendo à plena ordem.

Provérbios:

É o livro mais representativo da literatura Sapiencial bíblica.O titulo Provérbios traduz


o hebraico Meschalim que significa “sentenças, máximas, normas”.

O conteúdo do Provérbios serve para orientar sabiamente a vida do leitor, seja no


plano individual, seja no social. Afirma claramente o temor de Deus como principio
da verdadeira sabedoria e que só em Deus o homem deve colocar sua confiança. O
livro consta de nove coleções. A coleção mais antiga é atribuída ao rei Salomão que
são as duas primeiras coleções.

Salomão foi considerado o maior sábio de Israel, é chamado “Provérbios de


Salomão”. Um ponto importante é o elogio da mulher virtuosa. Os escritores do novo
testamento parecem aludir mais de uma vez a passagem em que a Sabedoria é
personificada. Cristo é dito Sabedoria e poder de Deus em I Cor 1,24.30; Cl 2,3;
existia junto ao Pai desde toda a eternidade, por ele tudo foi feito; habitou entre os
homens por própria iniciativa; a estes comunica a verdade e vida.
Sabedoria:

O livro é chamado, nos antigos manuscritos, Sabedoria de Salomão donde de fez


livro da Sabedoria.

Este louvor a Sabedoria decorre em três partes:

1. 1,16-5,24 – A Sabedoria e fonte de retidão e de imortalidade. Comparações entre


o justo e o ímpio; mostra que a prepotência dos maus sobre os bons na vida
presente cederá à inversão das sortes. Os ímpios serão vitimas de horrível
decepção ao passo que os justos reinarão com Deus na vida póstuma. O Sábio é
aquele que desde a vida presente, sabe escalonar os valores de modo definitivo,
não se deixando iludir por bens transitórios opostos a lei de Deus

2. 6,1-9,19 – A origem e os predicados da sabedoria são propostos.É dom de Deus,


que deve ser implorado e que é, de modo especial, útil aos reis.

3. 10,1 – 19,20 – Retoma a primeira parte do livro. O autor estabelece uma


comparação entre os ímpios (Egípcios idolatras) e os justos (Israelitas). Esta
sabedoria guia coletividade do povo. Esta parte é uma releitura do Êxodo em estilo
de Midraxe, isto é de modo a realçar a lição religiosa dos acontecimentos passados.

Do ponto de vista doutrinário, Sabedoria é de grande importância não só por


apresentar tal imagem da Sabedoria, mas também por desvendar um pouco a sorte
póstuma do homem. A concepção do Sheol (lugar subterrâneo, onde estariam,
inconscientes, bons e maus depois da morte)cede a noções mais próximas do Novo
Testamento e mais exatas. Com efeito; segundo o autor, o homem, criado por Deus
com especial benevolência consta de corpo e alma. A alma não é preexistente ao
corpo, existe uma harmonia entre corpo e alma. Deus fez o homem para a
imortalidade, de acordo com a sua imagem, mas foi por inveja do diabo ou tentador
que a morte entrou no mundo. Acontece, porém, que as almas dos justos, depois de
vida reta levada na terra, gozam de plena felicidade ou do fruto de suas labutas.
Assim o problema do mal, tão tormentoso para Jó, Ecl, se resolve na teologia do AT;
a prosperidade dos maus e os sofrimentos dos bons já não são a ultima palavra de
Deus; mas é após a vida terrestre que se exerce plenamente a justiça de Deus,
restabelecendo a reta ordem dos valores.

Eclesiástico:

Em hebraico é chamado: Palavra ou Sabedoria do filho de Sirac; grego chama de


Sabedoria de Jesus, filho de Sirac ou Sabedoria de Sirac; os Cristãos de origem
latina chamam de Eclesiasticus, pois o livro era apresentado aos catecúmenos
preparando-se para o batismo, era um manual de iniciação dos bons costumes e à
historia do Antigo Testamento; era o livro da Eclésia (Igreja); daí dizer-
se“Eclesiástico”.

Revela o pensamento Israelita evoluído. Alguns temas: Bom comportamento: temor


de Deus, amizade, os anciãos, as mulheres, a riqueza, a pobreza, a doença, a
medicina, os deveres de estado. Outro tema mais teológico que é o Saber: a gloria
de Deus.
O ponto mais alto do livro como em provérbios e outros é a sabedoria personificada,
mas agora é uma pessoa mais unida a Deus e distinta, o que de certo modo
antecipa a realidade de João. Chama atenção também a realidade da identificação
com a Torá (Lei).

Em Eclesiástico o autor assina o livro, chama-se segundo o LXX(Eclo 50,27(29)


“Jesus, filho de Sirac, filho de Eleazar, de Jerusalém”. Sirac deve ter sido um sábio
pertencente ao grupo dos sábios de Jerusalém. Ele mesmo apresenta uma peça
notável sobre a sabedoria em si mesmo Eclo 51,13-30. Siracides desde Jovem
estudou muito o antigo testamento, ouviu outros sábios, meditou em questões
fundamentais da vida humana, viajou em terras estrangeiras consultando assim
novas fontes de saber, fundou a “Casa ou Escola da Sabedoria” em Jerusalém. Ele
era consciente da sua função de mestre por isso ele assinou o livro que ele fez.
50,27, isto não era costume do antigo testamento.

É um livro muito parecido com o Provérbios mais de uma disposição mais arrumada.

Salmos:

Salmo vem do grego ‘psalmo’ que significa melodia (cantar hinos com o
acompanhamento de cardas.

Psalterion significa melodia tirada de um instrumento de corda.Saltério = é coleção


de 150 salmos colecionados em um livro próprio na Bíblia.

Os salmos foram cultivados pelo povo de Israel, individualmente e coletivamente.


Sua forma geral é de poesia lírica e cantada,normalmente acompanhada de
instrumentos de corda (Cítara ou harpa),Assim foi que os salmos foram florescendo
no coração do povo ao longo da história de Israel.

Os Salmos são orações destinadas ao uso comunitário litúrgico ou simplesmente


redigidas para servir à piedade particular. Supõe diversas situações de animo:
Adoração, louvor, perseguição, saudades do santuário, desejo de Deus, confissão
dos pecados, alegria, tristeza,doença…

Eram escritos dependendo da situação que o povo estava vivendo. A composição do


livro foi lenta e gradual, obra de diversos autores.

A Importância dos salmos na Igreja:

O saltério é a oração do próprio Jesus. Cristo não só interpretou, citou, orou, mas
sobretudo os viveu. Por isso também é a nossa oração, é a oração de Israel e da
Igreja (Mt 27,39 – Sl 22,8 ; Mt27,43 – Sl 22, 9 ; Jo 19,24 – Sl 22,19).

Os salmos expressam sentimentos de confiança, de temor, de humildade, de


esperança, de alegria, de júbilo …

A oração salmódica é um diálogo entre o homem vivo e o Deus vivo.


Os Salmos devem ser vividos e não só recitados, pela Igreja os salmos são dirigidos
a Jesus.

A Numeração dos Salmos:

Nas Bíblias, os salmos possuem duas numerações diferentes. Um dos números


corresponde a numeração dos salmos na Bíblia Hebraica e o outro a numeração da
tradução do "Setenta".

O Cântico dos Cânticos:

O título deste pequeno livro é, na realidade, um superlativo,algo como: “o Cântico


mais bonito”; o melhor cântico; “o canto por excelência”

É tradicionalmente atribuído a Salomão, mas ele não é o autor.

A linguagem do livro é muito posterior a Salomão, provavelmente foi escrito por volta
da primeira metade do séc. IV a.C.

O tema é o amor de Salomão pela Sulamita (a mulher digna de Salomão,uma


interpretação alegórica – o esposo Deus e a esposa a filha de Sionou seja o povo de
Israel) que é guarda de vinhas e pastora.

O Autor do Cântico quis descrever as peripécias do amor que nasce e, após muitas
vicissitudes, se consuma nas núpcias, para ilustrar o relacionamento vigente entre
Javé, o Deus da Aliança, e Israel, o povode dura cerviz rebelde. Em perspectiva
Cristã, pode-se identificar o Cristo com o Esposo do cristão e a Igreja com a Esposa.
Sem duvida, o amor de Deus se revela, de modo muito vivo, na Paixão do Senhor
Jesus, quando Cristo se entrega pelos pecadores, contrariando todas as regras do
bom senso humano.

Cenas de veemente amor e as descrições minuciosas da figura da esposa não


devem escandalizar o leitor, mas lembram-lhe o estilo dos orientais, sempre dado a
termos concretos e exuberantes; tais passagens devem levar a compreender ainda
melhor o extraordinário amor de Deus pelo seu povo. Os grandes místicos
descobrem no Cânticos dos Cânticos as fases da Vida Espiritual.

Os diversos poemas descrevem o curso deste amor: Começa com o primeiro


despontar até a união nupcial, passando por fases de hesitação. Não existe uma
sequencia lógica, todavia existe uma evolução progressiva em sentido do amor. Não
fala de Deus, apresenta cenas de forte paixão; é o que tem provocado estranheza
através dos séculos suscitando outras interpretações.

Vejamos algumas:

O Cântico é um poema de amor ( uma coleção de poemas de amor), com os temas


típicos e os tópicos dos cantos de amor de todas as épocas(apresenta notadas
semelhanças com canções de amor egípcias e sírias).
"No decurso dos séculos o Cântico foi interpretado de muitas maneiras, mas
nenhuma obteve a aceitação universal". Os dois enfoques dominantes são os
seguintes:

a) Interpretação Alegórica: A obra seria uma alegoria, Deus seria o Amado e o povo
a amada (João fala de Jesus como noivo e dá a entender que a Igreja é a noiva –
talvez por influência do Cântico). Essa linguagem (nupcial) é muito usada por
profetas (Oséias, Jeremias e Ezequiel).

b) Interpretação literal : O Cântico é um louvor do amor humano como foi desejado e


criado por Deus (Cantos de festa de casamento). No livro não se fala de Deus
(diretamente): fala-se do homem e da mulher tal como são: "Não é bom que o
homem esteja só".

Atraindo a atenção para o elemento pessoal do casamento, o Cântico não só


proporcionou uma visão mais equilibrada com enriqueceu o conceito de casamento:
o amor revela o valor único de uma pessoa e estabelece uma real igualdade entre o
homem e a mulher; é significativo que a liberdade de escolha por parte da mulher é
aqui pressuposta como coisa evidente. No contexto também se percebe a
concepção de união monogâmica e indissolúvel.

Portanto, uma vez reconhecido o amor como elemento constitutivo do casamento,


lado a lado com a fundação de uma família, o indivíduo deixou de ser absorvido no
grupo. É um passo decisivo no que se concerne ao reconhecimento da dignidade
pessoal de todo homem e de toda mulher.

O livro é interessante também do ponto de vista da cultura judaica, pois reproduz


costumes matrimoniais até hoje vigentes no povo judeu: assim, por exemplo, a
celebração das núpcias na primavera e durante sete dias: tais dias são chamados “a
semana do rei”, pois, enquanto duram, o esposo e a esposa fazem as vezes de rei e
rainha; antes do dia final, a esposa, tendo uma espada na mão direita dirige coros
que cantam a beleza dos dois nubentes; finalmente, o esposo, acompanhado por
seus amigos, vai buscar a esposa à noite e a leva para o seu domicilio.

Em suma, o Cântico dos Cânticos é mais um documento que, do seu modo, atenta o
mistério da aliança de Deus com os homens, que enche toda a historia sagrada.

REFERÊNCIAS

Silva, C.M.D. ; Ló, Rita de Cácia . Caminho não muito suave: cartilha de literatura
sapiencial bíblica. 2. ed. Campinas: Editora Alínea, 2012. v. 1. 168p .

LUZA, Nilo. Livros Sapienciais. Disponível em:


https://www.paulus.com.br/portal/colunista/nilo-luza/livros-sapienciais-1-
introducao.html#.XOaR0RZKjIU/ Acesso em 23 de maio de 2019.
COMSHALOM. Os livros Sapienciais da bíblia. Disponível em:
https://www.comshalom.org/os-livros-sapienciais-da-biblia/ Acesso em 23 de maio de
2019.

CAZAVECHIA, William Robson. Sabedoria e Educação na Antiguidade: A Literatura


Sapiencial Judaica. Disponível em:
http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2015/anais/william_robson_cazavechia
_4.pdf/ Acesso em 23 de maio de 2019.

Você também pode gostar