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MEDITAÇÕES DIÁRIAS – ECLESIASTES

Pr. Gustavo Borner

NOTA [maio de 2021]: Resolvi “publicar” estas reflexões. Foram posts que fiz em meu facebook pessoal,
entre abril e julho de 2015, sobre o livro mais sensacional do Antigo Testamento, segundo a minha
opinião.
Não é um estudo. É só uma devocional, com uma pesquisa rápida sobre o tema ou versículo do dia, e
mais nada. Não corrigi, não atualizei. Resolvi que, mesmo que pense de forma diferente atualmente, o
que importa é não ficar estático, parado na vida com Deus, como se Ele fosse uma poça. Ele é um rio.
Este é o “rio” deste período da minha vida. Espero que ele te provoque, como provocou a mim. Fica e vai
com Deus. Abs.

Em 06/04/2015

CAPÍTULO 1

Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. Eclesiastes 1:1


Palavras de um pregador (assumiremos que seja Salomão, mas não se tem certeza). O livro é
basicamente isso: palavras de um qohelet, alguém que convoca uma assembleia (ekklesia, da qual vem a
palavra Eclesiastes). É uma incursão pra dentro, pra se perguntar o porquê de se fazer as coisas. O pra
quê de se fazer as coisas. E, principalmente, o resultado delas, qual o sentido de se viver e fazer tudo o q
se vive e faz.

Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. Eclesiastes 1:2
Segundo o pregador, tudo é vaidade. O termo hebraico é hebel, que quer dizer fôlego. Salomão está
dizendo que tudo passa, e rápido, como o ato de alguém inspirar e expirar. É um sopro de sopros. A
constatação é de que tudo é assim, tudo passa. As obras, as palavras, os trabalhos... o homem. Tudo
passa. Nada permanece para sempre.

Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? Eclesiastes 1:3
Que vantagem, que valor, que yitron tem o homem com todo o seu trabalho debaixo do sol? Nenhum.
Se tudo vai passar, e eu inclusive, de que adianta fazer qualquer coisa? Tudo é como um sopro. Debaixo
do sol, ou seja, nesta vida, nada tem sentido em si mesmo. É importante reparar que toda a
argumentação está em ver a vida como meramente uma existência terrena e transitória. Nada de divino
aqui, por enquanto. A intenção do pregador é transmitir a angústia que ele mesmo teve (como diz várias
vezes no livro) ao experimentar e viver tudo o que teve vontade. No fim, nada fez sentido.

Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo
os seus circuitos.
Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali
tornam eles a correr.
Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os
ouvidos se enchem de ouvir.
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do
sol.
Eclesiastes 1:4-9
As pessoas nascem e um dia morrem. E não parece que isso faz tanta diferença assim. Ninguém parece
notar. Ainda que pessoas na história da humanidade tenham dado contribuições fantásticas, a
transitoriedade da pessoa fala mais alto que suas obras, pelo menos pra ela mesma. Afinal, tudo que ela
fez não será usufruído por ela, mas por outros. As coisas acontecem em ciclo, num ciclo interminável e
incansável, sem novidades, e ainda assim o olho nunca se farta de ver e o ouvido de ouvir. Parece que
nunca nenhum som satisfaz por completo, como também nenhuma comida, nenhuma bebida, ou
nenhum bem, ou nenhum relacionamento. E isso se repete há tempos, desde que o mundo é mundo. O
que foi um dia tornará a ser; o que se fez, se tornará a fazer.

Em 07/04/2015
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de
nós. Eclesiastes 1:10
O fato de Salomão ter experimentado poder, riquezas, prazeres, sabedoria e trabalho de uma maneira
intensa, fez com que tudo parecesse incrivelmente entediante e repetitivo. Por isso ele pergunta: “há
algo de que se possa dizer, ‘veja, isto é novo!’ Não, já existiu há muito tempo...”. Como é um livro
filosófico, existencial, temos que entender o que está por trás desta afirmação. Salomão não está
dizendo que não havia novidades tecnológicas (como o sistema de irrigação de sua cidade) ou
arquitetônicas (como seu palácio), mas que nada disso lhe fazia sentir novo. Nenhuma novidade era algo
de fato novo, que renovasse a expectativa dele em viver. A penicilina (antibiótico descoberto em 1928),
a TV a cores, a internet e a inteligência artificial foram descobertas e invenções revolucionárias com as
quais Salomão nunca sonharia. Mas se ele vivesse hoje, diante disso tudo, ainda diria: “Há algo de novo?
Não”. Por quê? Porque o problema persiste: os olhos nunca se cansam de ver e os ouvidos de ouvir.

Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá
lembrança, entre os que hão de vir depois. Eclesiastes 1:11
Bom, se isso fosse verdade ao pé da letra, não deveríamos lembrar do próprio Salomão, que viveu em
aproximadamente 950 a.C. Ele mesmo vivia em uma cultura onde os antepassados eram lembrados
constantemente (Moisés, Davi, Abraão, Isaque, Jacó, José), em ritos e festas comemorativas. O que ele
está querendo dizer, então? Que acabou. Que a vida dessas pessoas se foi. Que a memória delas é
lembrada apenas algumas vezes. Ainda que se diga que a memória de alguns é preservada, é somente a
de alguns. Muito poucos. A maioria esmagadora das pessoas vem e vai sem qualquer lembrança
significativa e sua história de realizações se vai nas poeiras do tempo.

Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.


E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede
debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.
Eclesiastes 1:12-14
O pessimismo do pregador, o Eclesiastes, só se aprofunda. Foi rei em Israel e se ocupou de estudar tudo
o que se passava nas realizações humanas. Ao fazer isso se viu extremamente cansado e desanimado.
Tudo o que se faz é vaidade, é correr atrás de alguma coisa que parece estar ali, mas não está. Como
uma miragem no deserto, que quando dela você se aproxima, some e reaparece mais uns metros à
frente. E mais uma vez você corre até lá apenas para perceber que novamente ela se transportou para
outro lugar. Este ciclo de expectativa/realidade se abateu sobre Salomão de tal maneira que sua
conclusão foi: Tudo é vaidade, é sopro, é inútil, é uma aflição de espírito que, não importa o que você
faça, nada vai saciar.

Em 09/04/2015

Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.
Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os
que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o
conhecimento.
E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber
que também isto era aflição de espírito.
Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.
Eclesiastes 1:15-18
Estudando e observando, Salomão tentou ver se dava pra consertar o que é torto. Em conhecimento,
ele passou todos os governantes da época, se esforçando para compreender a sabedoria e a falta dela
(insensatez). E chegou a uma conclusão: tudo isto também é inútil. Pois o que é torto não pode ser
consertado, distinguir sabedoria de loucura não se aproveita. Porque quem conhece mais, e com
profundidade, sofre mais. O grau de conhecimento e sabedoria a que Salomão estava submetido por
dom divino (veja a história em 2 Crônicas 1: 7 a 12) levou-o ao colapso e desespero. Qualquer dom que
Deus possa nos dar, sem Deus, se torna nosso maior inimigo. Simplesmente pelo que Salomão está
dizendo, que a sabedoria não fazia dele Deus, com o poder de transformar tudo ao seu redor e dentro
de si, mas apenas o fazia enxergar. A idolatria que suas mil mulheres o levaram, a escravatura de seu
próprio povo, a luxúria, a busca pelo prazer fizeram Salomão sucumbir. Sua idade avançada mostrou a
ele que tudo o que viveu, na parte que se esqueceu de Deus, simplesmente não valeu a pena. Passou,
como fôlego. Inclusive sua sabedoria. O que é torto, não se endireita. A não ser que Deus o endireite.

CAPÍTULO 2

Em 10/04/2015

Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que
também isso era vaidade. Eclesiastes 2:1
Tentativa n° 2: buscar sentido na vida através do prazer. Tática velha, né? Salomão pensou: “já sei! Dá
pra resolver isso fácil. Pego minha carruagem, coloco as minas dentro (apenas 1% delas, no máximo, já q
ele tinha mil), e vou pra uma balada em Hebrom! Tomo bastante vinho, fumo um narguilê das Arábia e
depois volto zoando tudo com meus parceiro, exibindo as espadas e as armaduras q eu encomendei no
Egito!”. Não deu certo. E continua não dando certo pra ninguém. Trabalho num lugar que tenho acesso
a documentos de identidade o tempo inteiro. Volta e meia alguma senhora vem com uma emitida há 50
anos... é inacreditável! Algumas vezes a mulher da foto é tão bonita que não dá pra acreditar que seja a
mesma pessoa. Passa. Tudo passa. Colocar o sentido da vida nisso é pedir pra se frustrar, mais cedo ou
mais tarde.

Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta? Eclesiastes 2:2
Nessas condições, rir é loucura. É igual aquele amigo seu que foi pra night, bebeu todas e conta, no dia
seguinte, rindo a vera, que não lembra de nada! Mas que droga de graça tem em fazer mil coisas que
não se lembra de nada??? Nas primeiras vezes parece divertido, mas o tempo mostra que aquilo é sem
sentido. Que essa alegria não vale de nada. Nunca te trouxe nada de bom. Não te acrescentou nada.
Vejo alguém lendo e pensado: “Claro que acrescentou! São as experiências que a gente tem na vida, ué!
A vida serve pra viver e eu tô vivendo”. Que você tá vivendo, não tenho dúvida. Mas há caminhos
melhores pra viver. Como disse Vinícius de Moraes: “é melhor ser feliz do que ser triste... Mas pra fazer
um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza”, já antecipando algo que Salomão vai dizer
mais adiante. Dá pra viver, mas há muitas maneiras pra isto. Há muitas maneiras de ter sexo; pode ser
brincando de troca-troca na vida, deixando pedaços de sentimentos e de sonhos no meio do caminho,
ou casando e vivendo o sexo com que se ama, no corpo, na alma, no espírito. Há como ganhar dinheiro
enganando, manipulando, fingindo, “estelionatando”, esperando só o vento vir leva-lo de volta (ou vc
não acha mesmo que todas as pessoas que aparecem nas operações da Polícia Federal não juravam que
NUNCA nada ia acontecer com elas?) ou trabalhar e esperar de Deus a recompensa. Claro que você tá
vivendo. Quer mudar de jeito de viver, não?

Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne (regendo porém o meu coração com
sabedoria), e entregar-me à loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem
debaixo do céu durante o número dos dias de sua vida.
Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas.
Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto.
Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores.
Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e
ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e
cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie.
E fui engrandecido, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou
também comigo a minha sabedoria.
E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma;
mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu
trabalho.
Eclesiastes 2:3-10
Tentativa n° 3: viver os prazeres, mas manter a mente orientada pela sabedoria. Encher a cara na sexta
no happy hour e trabalhar na segunda. Comer no Burger King mas manter a academia em dia. Ir no
Maraca, beber com os amigos, mas correr pela Lagoa às 7h no dia seguinte. Trabalhar. Construir minha
casa. Fazer crescer meu negócio. Em outras palavras, buscar o máximo de prazer, mas tudo lícito. Nada
de errado. No caso de Salomão, construiu palácios, plantou uvas (ó a cachaça aí!), fez hortas, jardins,
tanques de água (pra regar essa floresta, né; e a gente aqui no “menos é mais” da Globo), contratou
empregados (na real, escravizou pessoas mesmo), criou gados e ovelhas. Extraiu muito ouro, prata, fez
joias, contratou músicos de vários estilos (do metal ao funk ostentação) e, serviu-se, nas palavras dele,
“...de um harém, a delícia dos homens” (mundo oriental de 3 mil anos atrás, antes que o Femmen
bloqueie minha página aqui). Se engrandeceu e foi o maior dos reis da história de Israel, mais famoso e
rico que seu pai, Davi. E depois disso tudo, no verso 10, ele diz “Na verdade, eu me alegrei em todo o
meu trabalho; essa foi a recompensa de todo o meu esforço”. Acho que é isso mesmo. O prazer junto
com a mente orientada gera essa sensação de recompensa interior, de satisfação. Isso é bom, bom
mesmo. Mas...

E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu,
trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia
debaixo do sol.
Eclesiastes 2:11
...quando tudo estava terminado, todo o trabalho feito, toda a vida gasta, todas as baladas curtidas,
como a sabedoria ainda estava com ele, a mente o acusou: “de que valeu isso, Saloma?”. De que vale
isso tudo? Valeu à época. Agora, não vale mais. É essa canseira que se abate sobre quem reflete sobre
sua vida. Uma canseira que, mais cedo ou mais tarde, vai bater à sua porta.

Em 12/04/2015

Então passei a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará o homem que seguir ao
rei? O mesmo que outros já fizeram.
Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as
trevas.
Os olhos do homem sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; então também entendi eu
que o mesmo lhes sucede a ambos.
Eclesiastes 2:12-14
Tentativa n° 4: contemplar a sabedoria em oposição à insensatez, à burrice (falando em termos chulos).
“Brilhantemente”, Saloma vê que a sabedoria é bem melhor. Que gênio, não?! Ele vê que o sábio
discerne as coisas, percebe os eventos de maneira mais clara, lida melhor com as dificuldades, com o
dinheiro e com o reino, que era o caso dele. Perspicácia e inteligência são ingredientes importantíssimos
pra quem deseja viver bem, comandar bem, seja sua casa ou sua empresa. Mas o escritor percebeu que
o destino do sábio e do louco é o mesmo: a morte. Sua 4ª tentativa também foi frustrada. Alguém que
foi tão sábio em vida deveria ser retribuído por isso. Não, não é assim que funciona. O destino de todos
é a sepultura.
Assim eu disse no meu coração: Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim; por que então
busquei eu mais a sabedoria? Então disse no meu coração que também isto era vaidade.
Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo, nos dias futuros, total
esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo!
Por isso odiei esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e
aflição de espírito.
Eclesiastes 2:15-17
Indignado, Salomão percebe que é feito do mesmo barro que qualquer tolo de seu reino. Que seus
órgãos apodrecem. Que sua mente enfraquece. Que suas forças se esgotam. Que sua vida,
inevitavelmente, escorre por entre seus dedos a cada minuto, num cronômetro regressivo no qual não
se sabe em que momento chegará a zero. Isso também – a sabedoria em si mesma, o dom que Deus
tinha lhe dado quando, bem novinho, começou a reinar – era vaidade, fôlego. Não haverá lembrança na
sepultura, do sábio ou do louco. Ali, todos os homens se igualam. Pra gente ter ideia do que ele está
dizendo, imagine o enterro de um rico e de um pobre; de um estadista e de um gari; de um grande
pacifista e de um estuprador. Pense. Pare de ler um pouco, agora... (...)... (...) Não te parecem todos...
injustamente iguais? Acabou. Simples assim. Isso não faz sentido, não é? É esse sentimento que
Salomão tem enquanto escreve esses versos. É esse sentimento de pequenez que Deus quer que você
sinta agora. Desfrute comigo e com Salomão este momento de nada, de vazio. Há tempo pra tudo,
inclusive pra isso. Salomão aborreceu esta vida, desprezou-a, porque o tudo de uma pessoa, de uma
hora pra outra, vira o nada. Tudo é correr atrás do vento, correr atrás de nada.

Também eu odiei todo o meu trabalho, que realizei debaixo do sol, visto que eu havia de deixá-lo ao
homem que viesse depois de mim.
E quem sabe se será sábio ou tolo? Todavia, se assenhoreará de todo o meu trabalho que realizei e em
que me houve sabiamente debaixo do sol; também isto é vaidade.
Eclesiastes 2:18,19
Tudo o que fez, Salomão terá que deixar para outra pessoa. Simplesmente porque seu cronômetro
chegará ao fim. Isso não faz sentido. Isso é vaidade! E quem herdar meus bens, materiais (casas, carros,
contas bancárias), intelectuais (estudos, invenções, teses) ou emocionais (filhos, esposa/marido) será
sábio ou tolo? Valorizará, como eu, cada uma dessas coisas, ou as desperdiçará, já que não teve o
mínimo esforço para construí-las? Não sei. Simplesmente não estarei aqui para reivindicar nada. Isso
também é vaidade e correr atrás do vento.

Em 14/04/2015

Então eu me volvi e entreguei o meu coração ao desespero no tocante ao trabalho, o qual realizei
debaixo do sol.
Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, conhecimento, e destreza; contudo deixará o seu
trabalho como porção de quem nele não trabalhou; também isto é vaidade e grande mal.
Porque, que mais tem o homem de todo o seu trabalho, e da aflição do seu coração, em que ele anda
trabalhando debaixo do sol?
Porque todos os seus dias são dores, e a sua ocupação é aflição; até de noite não descansa o seu
coração; também isto é vaidade.
Eclesiastes 2:20-23
Desespero. Indo na raiz da palavra, é não ter mais esperança. Não esperar mais nada. Salomão aplicou o
coração em não esperar mais nada. Uma autodefesa, um instinto de preservação da saúde mental que
ainda lhe restava. O fato de ter de deixar para um desconhecido todos os seus bens, todo o fruto que
seu penoso trabalho gerou, levou-o a não querer esperar mais nada. Tudo era e é vaidade.

Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que sua alma goze do bem do
seu trabalho. Também vi que isto vem da mão de Deus.
Pois quem pode comer, ou quem pode gozar melhor do que eu?
Eclesiastes 2:24,25
Diante desses dois primeiros capítulos, o pregador chega a uma conclusão dupla. Primeira, de que o que
há de melhor é comer, beber e se alegrar com o fruto do seu trabalho. Segunda, que ninguém pode ter
isso a não ser que Deus o dê. Mas e as tantas pessoas que não tem Deus e parecem aproveitar as coisas
boas da vida? Bom, ou elas não estão de fato aproveitando – suas ansiedades, preocupações e estresses
em manter o que tem e conquistar mais nunca as deixa desfrutar da alegria das coisas que conquistaram
– ou estão apenas gastando seus dias nos prazeres, apenas para perceber, um dia, que tais prazeres não
as satisfazem. Salomão vê que comer, beber e gozar o fruto do trabalho vem da mão de Deus. Ou Ele dá
ou não dá... É mais do que apenas fazer essas três ações. É, de fato, aproveita-las, sem colocar nelas sua
felicidade. A verdadeira felicidade está apenas em Deus. E o pregador sabia disso, pois quem aproveitou
mais os prazeres do que ele?

Porque ao homem que é bom diante dele, dá Deus sabedoria e conhecimento e alegria; mas ao pecador
dá trabalho, para que ele ajunte, e amontoe, para dá-lo ao que é bom perante Deus. Também isto é
vaidade e aflição de espírito.
Eclesiastes 2:26
Deus dá a quem é d’Ele sabedoria, conhecimento e alegria. Em contraste com os prazeres desvairados
que descreveu ou apenas com a sabedoria analítica que experimentou, Salomão percebeu que Deus
pode dar tudo isso e, ao mesmo tempo, a verdadeira alegria. Não vai depender da quantidade de bens
ou da intensidade dos prazeres que você consegue experimentar numa noite. Uma pessoa morando
numa favela pode ter comida, bebida, prazer, alegria com o que Deus lhe deu enquanto um morador da
zona sul pode ter canseira, preocupações, tédio, stress... apenas esperando o dia em que a morte o
chame e ele tenha que deixar seus carros, apartamentos, mulher, marido, filhos, netos para outros
desfrutarem. A arrogância humana não enxerga que não pode ter as coisas simplesmente pelo desejo de
tê-las ou pelo esforço próprio. Os verdadeiros bens vêm da mão de Deus. Se não, será tudo apenas
vaidade e aflição de espírito.

CAPÍTULO 3

Em 15/04/2015
Nos dois primeiros capítulos, o pregador se deparou com a vida humana e seus empreendimentos.
Usando a sua própria como máximo exemplo do que é “aproveitar a vida”, discorreu sobre tudo o que
se pode desejar, ter e fazer, de palácios a carros, de bois a escravos, de fama a mulheres. Na sociedade
oriental de 3 mil anos atrás, esses eram os sonhos de consumo. Hoje, na sociedade ocidental do séc. XXI
d.C., os alvos mudaram um pouco, não muito. O desejo por fama, dinheiro, reconhecimento e fruto do
próprio trabalho permanecem. Pelo movimento de libertação feminina, falar em se desejar muitas
mulheres virou crime de opinião – o problema é que o desejo delas de ter muitos homens ou mulheres
não, né... hehehe – mas de uma forma geral, as modas da intelectualidade vêm e vão e o ser humano
está na mesma: vazio. Essa foi a conclusão de Salomão nos dois primeiros capítulos – tudo é fôlego; tudo
é vaidade.

Mas, no final do capítulo 2, o discurso muda. Deus entra na história de desejos fracassados e frustrações
e dá, àquele que Lhe agrada, sabedoria, conhecimento e alegria. A meu ver, o pregador diz que Deus dá
a oportunidade de aproveitar aquilo que se conquistou, sabedoria e conhecimento, mas sem perder a
alegria. É o princípio de resolução que o livro tenta trazer, mas ainda de forma bem sutil, fraca até. A
partir do capítulo 3, Salomão percebe o movimento dos acontecimentos no tempo, tentando explicar o
significado das coisas pelo tempo que elas duram. Talvez esta seja a explicação. Vamos viajar nessa
máquina do tempo juntos.

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Eclesiastes 3:1
Há um tempo para tudo. E para cada um dos elementos deste tudo, há um tempo determinado. O
pregador enxerga um princípio universal que é parte da explicação que ele tanto deseja. Se as outras
tentativas de ver sentido na vida falharam, esta deve funcionar. Tudo tem seu tempo, e o ciclo obedece
a uma ordem que alguém lhe impôs. Mesmo que pareça ser o puro acaso que conduz a vida e tudo que
existe, Salomão diz que não, que o tempo para cada uma delas foi determinado. Se foi determinado,
algo ou alguém determinou. Se determinou, o fez com algum propósito. Por isso, todo propósito tem
um tempo para ocorrer. Não estamos vivendo como loucos para nada. Alguém nos colocou aqui e nos
deu um tempo para viver, que não conhecemos, e coisas para fazer.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Eclesiastes 3:2
O primeiro tempo básico, para cada um de nós, é o de nascer e morrer. Só nascemos com a certeza da
morte. Há um tempo do nascimento, onde tudo é novo, belo, potencialmente espetacular, festejado.
Pense num bebê de uma família amorosa. O nascimento da criança gera uma comoção e expectativa
impressionantes. E a única coisa que aquele criatura fez foi nascer. Mais nada. A expectativa de todos é
apenas tê-lo, com saúde, vivendo no meio deles. A presença de um ser humano recém nascido, ali,
diante dos nossos olhos, nos espanta. Ainda há esperança, algo novo nasceu. Aquele neném, que
crescerá e viverá, se assim Deus permitir, um dia encerrará seu ciclo também. Caso viva bastante, seu
corpo novo, de criança, será levado nas poeiras do tempo, dando lugar a um aspecto de luta, a luta da
vida. E os que choraram e sorriram com seu nascimento possivelmente nem ali mais estarão. Seus filhos,
netos e, talvez, bisnetos, chorarão a partida de algo que não viram chegar, reiniciando o ciclo com o
nascimento do próximo membro da família. Para Salomão, este movimento demonstra o controle do
tempo por alguém. O nascer/ morrer é um movimento que acontece em tudo na vida, não apenas no
plano físico. Nascimento e morte da alfabetização, do ensino médio e da faculdade; nascimento e morte
de uma amizade, da estada em uma cidade ou de um relacionamento amoroso qualquer; nascimento e
morte de uma parceria, de uma empresa, de uma banda. Tudo vem e vai. Não estamos aqui pensando
se é bom ou ruim que uma coisa específica nasça e que venha a morrer, mas apenas constatando que
isso ocorre.

Outro movimento bem comum é o de plantio e colheita. O pregador observava que em um tempo os
agricultores plantavam a semente, depois a viam crescer e, meses depois, colhiam seu fruto. Não é
normal colher sem plantar, ou plantar e querer colher no dia seguinte. Por mais que as técnicas
modernas de fertilização acelerem o processo das plantas, na vida muitas vezes não é assim. E o
problema é que nos acostumamos a pensar e ter, desejar e conseguir, de preferência, pra ontem. Se eu
comecei a plantar agora, quero ver o fruto agora. Não. Há tempo de plantar e tempo de colher. Davi
plantou um coração quebrantado e um relacionamento secreto com Deus, apascentando as ovelhas de
seu pai, e a colheita completa veio quase vinte anos depois, com o reino de todo o Israel. Da mesma
maneira, deitou-se por uma noite com a mulher de um grande amigo e a colheita veio muitos anos
depois, com sua casa destruída, o estupro de uma filha pelo próprio irmão, a deposição de seu reinado
por seu filho primogênito (Absalão, que matara Amnon, o primogênito verdadeiro; Quileabe seria o
segundo na linha sucessória, mas a tradição diz que ele morreu jovem) e sua morte pelas mãos do
general de guerra de Davi. Deus não se deixa escarnecer. Aquilo que o homem semear, isso também
colherá.

Em 16/04/2015

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;


Eclesiastes 3:3
Tempo de matar. Tem tempo pra isso? Apesar de polêmico, a bíblia fala de morte centenas, talvez
milhares de vezes. Dá pra fazer um seminário sobre o assunto morte (Tanatologia) na bíblia com muitas
páginas. Mas aqui é falado de tempo de matar. No velho testamento Deus usava Israel como
instrumento de juízo a outras nações, e usava as outras nações como instrumentos de juízo contra
Israel. Esse juízo era morte mesmo. Chegar e matar todo mundo. O conceito de nação teocrática (Deus
dirigindo diretamente uma nação) existia à época e Deus pode matar quem Ele quiser, como quiser. Um
dos 10 mandamentos é “Não matarás”, mas Ele não é absoluto. O exemplo claro disso é a reprovação de
Deus quando Saul resolveu poupar o rei Agague e o melhor das ovelhas quando da guerra contra os
amalequitas; a ira divina foi tão grande que, através de do profeta Samuel, destituiu Saul do trono (1 Sm
15: 1 a 28). É desse texto que vem a famosa frase: “É melhor obedecer do que sacrificar”. Quando Deus
manda matar, pecado é não matar.

Mas e hoje em dia? Com a vinda de Cristo, houve uma inauguração de um novo tempo, uma nova lógica,
uma nova nação. Israel é aquele que é nascido do espírito, não da carne, como diz Paulo em Romanos. A
teocracia se foi, Deus se move de outra maneira. Àquele que te ferir a face direita, dê a esquerda; se
alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas; não resista ao perverso (Mateus 5: 39). De Deus
é a vingança (Rm 12:19). Ainda sim, há uma série de situações em que matar é necessário, como na
legítima defesa, ou na defesa de um parente (filho, pai, mãe, neto etc) ou até humanitário (eutanásia de
casos irreversíveis), mas essa é uma discussão longa de Ética Cristã. Minha intenção aqui não é esta. Este
tempo de matar é bem mais amplo. Há um tempo de matar a mágoa, o rancor, a frieza, arrogância; um
tempo de matar os desejos pecaminosos, as cobiças, as mentiras, os relacionamentos errados; um
tempo de matar a si mesmo. Esse tempo se chama hoje.

Assim também há tempo de curar. Quando você mata essas coisas dentro de si, mesmo sabendo
necessário, há dor. Dói se negar. Mas, no tempo que Deus determina, essas feridas se fecham. É o
tempo de curar. É amputar o braço pra salvar o doente. Melhor entrar na vida caolho do que todo o teu
corpo ser lançado no inferno (Mt 5:29), e isto não tem um sentido apenas no dia da morte. Quem não
morre pra si, na verdade, não vive de verdade. Quem ganha a vida, perde; quem perde por amor a
Jesus, ganha, aqui mesmo, nessa vida corpórea, a melhor vida que se poderia viver.

Tempo de derrubar e tempo de edificar. Há coisas ilícitas que devem ser derribadas e ponto. Aquele que
mentia, não minta mais; quem furtava, não furte mais (Ef 4: 25 a 28). Derrubar essas coisas é
consequência de nossa vida cristã. Não apenas não mentir, não furtar ou não qualquer coisa, mas falar a
verdade, trabalhar, ou seja, construir. Destrua o que você construiu sem Cristo e construa outras coisas.
Há também um tempo de derrubar coisas boas, lícitas, que Deus fez, mas que agora Ele mesmo requer
que você derrube. VOCÊ derrube! Qual o sentido de continuar matando animais se o Cordeiro foi morto
de uma vez por todas? Não foi Deus que instituiu o sacrifício no Velho Testamento? E foi Ele mesmo
quem ofereceu Seu filho para morrer e apagar os pecados dos que creem no sacrifício definitivo de
Cristo. Deus construiu, Deus derrubou. Não foi Deus quem me deu meu pai e minha mãe? Sim, e é Ele
quem te dá sua esposa e manda que você saia de casa, se desgarre dos seus pais, e se una a ela. Não foi
Deus que me deu esse emprego? Sim, e pode ser Ele quem está te mandando sair. Ou entrar. Ou ir. Ou
ficar. A vida com Deus é dinâmica. Há tempo de construir e tempo de derrubar.

Em 17/04/2015

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;


Eclesiastes 3:4
Tempo pra chorar, prantear. É importante chorar, viver a tristeza com integridade. É um nível de viver a
“fossa” existencial que todos têm de passar. Sem isso, não se aprende nada. Chorar o fim de um ciclo, a
morte de alguém que se ama, a partida pra uma longa viagem, a frustração de um projeto não
concluído, a nota baixa, as brigas de família. Tempo de chorar, de estar triste. E também um tempo pra
rir, pra saltar, pra dançar de alegria! Comemorar a vida com Deus, não se levar mto a sério, se alegrar
com os amigos – nas coisas mais idiotas, como campeonato de cuspe à distância, ou nas sérias, como na
aprovação do vestibular – rir das próprias maluquices, viver bem o casamento e, principalmente, rir
porque Deus renovou as misericórdias dele hoje de manhã pra você.
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de
abraçar;
Eclesiastes 3:5
Tempo de espalhar pedras, de separar, de afastar-se de abraçar, de desconectar-se. Um tempo de não
projetar, de não construir, de abster-se. É o momento que os namorados que romperam precisam não
se ver mais, não se falar mais. Um tempo onde o fugitivo tem o direito de se esconder de quem o
persegue. Tempo onde aquela amizade doentia tem que parar. Tempo de espalhar, de deixar de
abraçar. Por outro lado, um tempo de ajuntar pedras, de construir a casa, de gravar o disco, de juntar os
amigos, de contar os sonhos e começar a construí-los, de abraçar a oportunidade de emprego que
surgiu, de se reconciliar com a sogra, o tio, o irmão, de voltar a falar com os amigos do colégio. Tempo
de ajuntar as pedras, de abraçar, de pegar, agarrar.

Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;


Eclesiastes 3:6
Tempo de buscar, de correr atrás, de ir até lá falar com ele(a), de sanar a dívida, de restaurar o
casamento. Tempo também de perder, de deixar, de desistir das fantasias maléficas, de falar com quem
não quer escutar. Tempo de guardar. Guardar o coração pra pessoa certa, guardar a língua pra falar na
hora oportuna, guardar o carro na garagem, guardar as coisas depois de brincar. Tempo de jogar fora a
roupa que não presta mais, de se livrar daquele armário que tá caindo aos pedaços, de se libertar das
mágoas bestas que te afastam de quem você ama. Jogar fora o orgulho, a tristeza que não acaba, a
autossuficiência, a falsidade, o pecado.

Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;


Eclesiastes 3:7
Tempo de rasgar o projeto, a frase que não encaixa na música, a roupa que só serve pra pano de chão.
Tempo de costurar os relacionamentos, a sociedade que ainda vale a pena, a mala de viagem que você
sabe estar cara à beça. Tempo de ficar calado – esse eu gosto – de só ouvir, de deixar outros se
expressarem, de deixar que outros questionem e você aprenda com a experiência alheia. Tempo de falar
– esse minha mulher gosta – de dizer o que sente, de dizer se gostou ou não, se quer ou não, de
expressar sentimentos, de desabafar.

Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.


Eclesiastes 3:8
Tempo de amar a vida, as pessoas, os amigos, os inimigos, o próximo, a boa comida, a música que te
alegra ou faz pensar. Tempo de amar a Deus. Tempo de odiar as próprias incoerências, os próprios
pecados e até a roupa contaminada pela carne. Odiar a injustiça, a indiferença e a corrupção,
principalmente aquelas que nascem de você mesmo, quando não ajuda quem está ao seu alcance, passa
a frente dos outros na fila ou pega o acostamento no engarrafamento. Tempo de guerra, de luta, de
entrar no tatame com a boca seca e o coração acelerado, de orar até o joelho sangrar, de lutar por
quem se ama, de interceder pelo irmão(ã) que se afastou. Tempo de paz, de serenidade, de calma, de
relaxamento, de ver um filme, de ouvir uma música e dormir na rede.
Sobre todas essas coisas, Deus nos pedirá conta. Há tempo pra tudo, e Ele pode nos dirigir a rir, chorar,
guerrear, ter paz... no tempo certo.

Em 20/04/2015

Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?


Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.
Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa
descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.
Eclesiastes 3:9-11
A pergunta da utilidade de todo o trabalho que se realiza retorna. Qual proveito? A resposta não é dada.
É apenas um lembrete constante de que, em si mesmo, todo o trabalho não faz sentido. Daí, o pregador
vê que Deus impôs um trabalho aos homens para exercitá-los. Um trabalho que vai muito além do
emprego que você e eu temos. É o trabalho de viver. É o trabalho de ter no coração o mundo todo, ou
seja, de desejar mais do que se consegue experimentar. Mais do que se consegue enxergar, tocar,
perceber. É o trabalho de querer descobrir tudo, de todos os tempos, ao mesmo tempo, mas ter apenas
uma pequena janela na história da humanidade para colocar isto em prática: a sua, a minha curta vida.
Não podemos des-cobrir, ou seja, tirar a cobertura, tirar o véu de tudo o que existe desde o princípio e
de tudo o que virá. A centelha do mundo, a conexão com o universo, está no coração do homem, a
capacidade para desvenda-lo não.

Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida;
E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de
Deus.
Eclesiastes 3:12,13
O que resta é aproveitar. Comer, beber e gozar do fruto do trabalho. Isto só pode vir de Deus. Mesmo
aqueles que não reconhecem em Deus coisa alguma, se comem, bebem e desfrutam do seu trabalho, é
porque Deus assim permitiu, assim proporcionou. Melhor do que essas 3 coisas é descobrir que foi Deus
quem as deu. Salomão encontrou este tesouro.

Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve
tirar; e isto faz Deus para que haja temor diante dele.
Eclesiastes 3:14
O que Deus faz permanece para sempre. Não que um passarinho, uma árvore ou um conjunto de
montanhas não possam deixar de existir, mas que tudo que Ele determina não acaba. Seus decretos não
mudam. Se um passarinho morre hoje, nasce outro amanhã. Se uma árvore cai, o solo é fertilizado. Se
uma cordilheira é aterrada, uma planície diferente é formada. Deus a todo o momento transforma a
criação, e não apenas a formou no início e a deixou seguir seu rumo evolutivo. Assim também é
conosco. Enganamos a morte gerando filhos que continuarão a humanidade, mas nós, individualmente,
passamos. O que Deus faz, porém, permanece para sempre. Salomão confronta a obra de Deus com a
obra dos homens, a primeira permanente, a segunda fugaz, como fôlego. E isso Deus faz pra que haja
temor diante d’Ele. É uma demonstração clara de seu poder e soberania.
O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou.
Eclesiastes 3:15
O que é, um dia, já foi, já aconteceu. E o que ainda nem aconteceu, também já foi. Não há nada novo.
Mas Deus pede conta do que se passa na sua vida. Ele não é apenas o Criador, mas o Mantenedor. Não
apenas o Legislador, mas o Juiz de todas as coisas. Ele fala e cumpre. Cria e fiscaliza. Dá e observa.

Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo havia impiedade, e no lugar da justiça havia iniqüidade.
Eclesiastes 3:16
Deus pede conta e julga com retidão. E o homem? Limitado demais para isso. Ainda que Deus use as
autoridades humanas e nós devamos obedecê-las (Rm 13: 1 a 8), no lugar da justiça sempre há injustiça,
em algum grau. No lugar do juízo há iniquidade. O confronto entre a obra divina e a humana não para
nas construções e realizações, mas abrange tudo. Deus e o homem são infinitamente diferentes em
qualidade. Deus não erra, não falha, não se equivoca, não julga mal, não estabelece coisas absurdas.
Nós é que, inevitável e irremediavelmente limitados, julgamos Suas obras mal feitas, seus juízos
precipitados e suas recompensas absurdas, enquanto nos gabamos de nossas obras maltrapilhas e juízos
ridículos. O pregador, ao fim da vida, enxerga que a cegueira humana só se aprofunda, e ao invés de
reconhecer sua pequenez, o ser humano se torna mais e mais arrogante, mais e mais distante de Deus.

Em 21/04/2015

Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e
para toda a obra.
Eclesiastes 3:17
O justo e o ímpio também são julgados em um tempo determinado. Deus deixa as pessoas conduzirem
suas vidas de maneira ímpia ou justa e, mais cedo ou mais tarde, pede contas de cada de cada um. Deus
não julga como nós. Tendo todo o conhecimento de todas as circunstâncias, história, legado, capacidade
de conhecer o que seja certo ou errado, lugar de nascimento, condição financeira etc, Deus é o único
que pode julgar os homens. Jesus diz que aquele que sabe a vontade do Senhor e não a faz será
castigado com muitos açoites, e o que não sabe não é poupado, mas levará menos açoites. A quem
muito é dado, muito será cobrado (Lc 12: 47). Pelo nível de revelação que Salomão tinha à época, ser
justo ou ímpio era uma questão de seguir as ordenanças. Deus havia dado uma lei e todos deveriam
respeita-la. Uns descumpriam muito, outros pouco, mas todos tropeçavam em algum ponto, o que fazia
de todos, sem distinção, transgressores da lei (Tg 2: 10). A fé no sacrifício do cordeiro, bode ou pombo
que era morto no lugar do transgressor, apontava para algo que ainda viria. A fé em Jesus, o cordeiro
que tira o pecado do mundo, é o que livra o pecador do justo juízo que sofreria. A partir daí, as boas
obras são consequência de uma vida que deseja, desesperadamente, não pecar e agradar a Deus, não o
oposto. As boas obras são o sinal de uma vida transformada, não a causa dela. Justo é quem crê e foi
justificado; quem não crê já está condenado (João 3: 18).

Disse eu no meu coração, quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que
assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais.
Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a
mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos
homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.
Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.
Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?
Eclesiastes 3:18-21
Um homem e um passarinho. Compare bem. O primeiro foi à lua, desenvolveu a cura para o câncer, tem
isolado o vírus HIV, compõe sinfonias, constrói estradas, aviões, navios, se comunica entre distâncias
inimagináveis... O segundo voa, alimenta seus filhotes e leva pólen de um lugar pro outro - se faz muitas
outras coisas, sinceramente, não sei. Apesar dessa diferença brutal, ambos têm o mesmo destino: a
sepultura. Ambos têm o mesmo fôlego, são pó e para o pó voltarão. Não há vantagem de um sobre o
outro, nesse sentido. O verso 21, apesar de parecer estar dizendo que não se sabe se o homem herdará
ou não o céu, na verdade, enfatiza outra coisa. A palavra “espírito” do verso 21 é a mesma para “fôlego”
no verso 19, ou seja, os fôlegos do homem e do passarinho simplesmente param de resfolegar, ambos
param de respirar, de viver. Salomão parece indicar que não se sabe se homem tem a esperança de
voltar à vida ou não; o único que pode dar este veredito é Deus; o homem, em si, não tem garantia
nenhuma depois da morte, se voltará ressuscitado um dia ou não.

Assim que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa
é a sua porção; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?
Eclesiastes 3:22
Se tudo o que temos é esta vida, então a única coisa boa que existe é desfrutar do trabalho que
realizamos. Olhando para o destino dos homens, o pregador diz: “aproveite a vida, porque a morte não
dá pra aproveitar”. Não há conhecimento, poesia, obras, trabalho, prazer quando se está morto. Há
apenas morte. A ressurreição ainda não era algo claro para Salomão, por isso ele tenta ensinar-nos a
viver da melhor maneira possível, sabendo que Deus um dia pedirá contas. Avançando para o tempo de
Jesus, Paulo diz que, se tivermos esperança apenas para esta vida, seremos os mais miseráveis dos
homens. Se não há ressurreição, vã é a nossa fé (1 Co 15: 16 a 19). Mas este não é o foco de Salomão
aqui. Como um livro meio “humanista”, ele quer fazer, a todo custo, que enxerguemos essa
transitoriedade e vivamos intensamente, aproveitando a vida de verdade.

CAPÍTULO 4

Em 22/04/2015

Depois voltei-me, e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e eis que vi as lágrimas
dos que foram oprimidos e dos que não têm consolador, e a força estava do lado dos seus opressores;
mas eles não tinham consolador.
Por isso eu louvei os que já morreram, mais do que os que vivem ainda.
E melhor que uns e outros é aquele que ainda não é; que não viu as más obras que se fazem debaixo do
sol.
Eclesiastes 4:1-3
A realidade por ela mesma, sem qualquer explicação ou divagação espiritual, é essa mesma. A maioria
das pessoas do mundo é oprimida, explorada, mal paga e enganada por um pequeno grupo de
opressores que detém o poder e o usa a seu favor, apenas. Seria melhor morrer do que viver assim ou,
ainda, nunca ter nascido. A constatação do pregador não é difícil de fazer, basta olhar pras nossas
cidades. Mesmo que nosso caso seja mais complexo, vemos opressores e oprimidos o tempo inteiro; em
alguns casos, nós somos os opressores, em outros, os oprimidos. Quando fazemos questão de prisão,
cadeira elétrica, fuzilamento etc para os “bandidinhos” entre 16 e 18 anos, ou até para menores de 16,
não conseguimos enxergar a opressão que nós mesmos exercemos sobre eles, como sociedade,
obrigando-os a estudar nos piores colégios, morar nos piores lugares, beber da pior água ou comer da
pior comida. Você pode até pensar: “mas eu nunca obriguei ninguém a nada!”, mas não percebe que
sua indiferença é uma forma de obrigação. É como querer ensinar o pescador a pescar numa lagoa
poluída; ele pode até achar um ou outro peixe bom, mas a maioria está morta, podre. Você pesca num
mar aberto, com anzol adequado e isca fresca e o garoto de rua só com uma linha e força de vontade. As
condições estão longe de ser iguais. Por outro lado somos, a classe média, oprimida na maior faixa de
imposto proporcional das classes; trabalhamos 4 meses para o governo, o que não seria absurdo se
tivéssemos educação, saúde, transporte, segurança, lazer e cultura na mesma proporção da
arrecadação. Só conseguimos enxergar a opressão que cai sobre nós, não sobre os outros. Não sou a
favor de impunidade, mas achar que o temor da lei é suficiente pra parar esses adolescentes de
delinquir é não querer ver o óbvio – a questão é complexa, mas essa punição pura e simples nada vai
adiantar. A responsabilidade é sua e minha, não apenas do governo. Se você é cristão, ao menos, deve
saber disso (“Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça
como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável
ao Senhor? O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o
pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” Isaías 58:5-7).

Também vi eu que todo o trabalho, e toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo.
Também isto é vaidade e aflição de espírito.
Eclesiastes 4:4
Continuando o panorama das observações da condição humana, o pregador enxerga a inveja. O
trabalho e a destreza em uma área surgem da competição entre as pessoas, do desejo de superar o
outro. Há uma competição sadia, em que você e o adversário estão ali para, no fim das contas,
superarem a si mesmos. Quando temos apenas a nós mesmos como parâmetro tendemos a nos
acomodar. A falta de desafio é muito ruim, e comparar seu desempenho com o de outra pessoa melhor,
na mesma área, ajuda muito a avançar. No meu caso, quando vejo alguém tocando ou cantando coisas
que gosto e não consigo fazer, uso aquilo como modelo, uma espécie de alvo imediato a alcançar; assim
que consigo chegar, parto pro próximo alvo. Na luta é a mesma coisa; sem um adversário real fica
impossível treinar de maneira completa e os pontos fortes do oponente te ajudam a corrigir os seus
fracos e vice-versa. Daí ter inveja é outro papo, outro espírito, outra dimensão. Posso ver alguém
cantando/tocando melhor e, pela inveja, desdenhar aquela arte, ou tentar “amarrar” a luta pra nunca
ser finalizado; ou, numa atitude humilde, pedir ao compositor uma dica, ao guitarrista que me ensine
aquela técnica, ao parceiro de luta que me explique como fazer aquele movimento. No primeiro caso
perdi pra minha inveja, no segundo, ganhei musicalidade, destreza na luta e amigos que me ensinam,
porque estou pronto a aprender. No primeiro caso meu orgulho venceu; no segundo, deixei Deus me
vencer.

Em 23/04/2015

O tolo cruza as suas mãos, e come a sua própria carne.


Melhor é a mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho, e aflição de espírito.
Eclesiastes 4:5,6
O tolo, pela preguiça, cruza os braços e destrói sua própria vida, come sua própria carne, acaba com a
vida dos filhos, e ainda acha que está certo. Preguiça acostuma, vira estilo de vida, dá prazer. Mas
também mata: “Tirando uma soneca, cochilando um pouco, cruzando um pouco os braços para
descansar, a sua pobreza o surpreenderá como um assaltante, e a sua necessidade lhe virá como um
homem armado” (Provérbios 6: 10-11); são palavras do mesmo autor. Da mesma maneira, é melhor ter
uma mão cheia com descanso do que as duas cheias junto com trabalho demais e muita aflição,
frustração. Aos poucos, Salomão vai descortinando sua visão sobre trabalho, descanso, aflição, desejos,
realizações, construções, e tudo pode ser descrito em uma só palavra: moderação. Nem trabalho demais
nem de menos. Nem ociosidade constante nem trabalho doentio. A primeira atitude te leva à ruína, a
segunda à loucura e frustração.

Outra vez me voltei, e vi vaidade debaixo do sol.


Há um que é só, e não tem ninguém, nem tampouco filho nem irmão; e contudo não cessa do seu
trabalho, e também seus olhos não se satisfazem com riqueza; nem diz: Para quem trabalho eu,
privando a minha alma do bem? Também isto é vaidade e enfadonha ocupação.
Eclesiastes 4:7,8
A observação continua. O pregador agora vê o self-made man em plenitude. Aquele se fez por mérito
próprio, que trabalhou e conquistou, que ralou e conseguiu, que... esqueceu de viver. A esposa, a filha,
o amigo, ninguém está ao seu lado. Ele os deixou no meio do caminho. Trabalhou para ninguém, talvez
nem para si mesmo. Ele nem perguntava: “Pra quem estou trabalhando?” porque não tinha “tempo a
perder”, sem se dar conta de que perdeu todo o seu tempo. Eu tenho essa tendência. Tenho mesmo. Se
me deixar à vontade, vou correndo atrás de tudo que é “importante” e deixo as essenciais de fora.
Tenho foco, mas foco demais é limitação de visão. Moderação, mais uma vez. Moderação é a chave.

Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.
Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá
outro que o levante.
Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará?
E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão
depressa.
Eclesiastes 4:9-12
Melhor é serem dois do que um, porque duas pessoas trabalham melhor, ganham melhor salário e, no
fim do dia, ainda saem pra tomar uma gelada. Melhor é aproveitar a juventude com a mulher que Deus
te deu do que passar os dias em aflição pra conseguir a próxima conquista. Melhor é viajar pra uma
cidade vizinha à sua com uma boa companhia do que rodar o mundo e ter apenas fotos pra postar.
Tenho certeza que alguém está pensando: “Eu prefiro ir sozinho!”. Esta também é uma tendência
minha, confesso de novo. Nada contra fazer coisas sozinho, nem viajar nem nada. Tem tempo pra tudo
debaixo do sol, mas com certeza o estilo de vida solitário é triste. E o pior, só nos damos conta quando já
estamos irremediavelmente solitários, velhos (ainda que novos cronologicamente), cheios de manias,
insuportáveis. Jesus passava períodos de solidão, mas era um intervalo entre encontros, e não um
intervalo de encontros num grande período de solidão. Se dois dormirem juntos, se aquecem. Se alguém
quiser prevalecer contra um, o outro defende. Na pior hora de sua vida, Jesus pergunta: "A minha alma
está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo". (...) Então, voltou aos
seus discípulos e os encontrou dormindo. "Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?"
perguntou ele a Pedro. Mateus 26: 38 e 40. Aqui há sabedoria.

Melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar.
Eclesiastes 4:13
A palavra para jovem no hebraico aqui é a mesma usada para José quando tinha 17 anos de idade (Gn
37: 30). O pregador sugere que um jovem pobre é melhor que um rei velho e insensato porque, dentre
outras interpretações, está aberto a conselhos, a mudanças, em contraste com o velho que não
consegue relacionar as situações da vida prática com sua experiência de vida (ver
http://www.iasdemfoco.net/eclesiastes/text/0005.htm para um excelente comentário de Eclesiastes 4,
especialmente para esta parte). Portanto, jovem e velho aqui não se refere à idade cronológica
primordialmente, ainda que passe por ela. A ideia é a de alguém aberto a coisas e ideias novas e outro
alguém fechado a novas propostas, sempre certo, que a ninguém escuta. Pode haver um jovem “velho”
e um velho “jovem”. Conheço muitos, e peço a Deus pra que eu não seja um jovem “velho”, pra que
quando eu for velho, ainda seja “jovem”.

Em 24/04/2015

Porque um sai do cárcere para reinar; enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre.
Vi a todos os viventes andarem debaixo do sol com a criança, a sucessora, que ficará no seu lugar.
Não tem fim todo o povo que foi antes dele; tampouco os que lhe sucederem se alegrarão dele. Na
verdade que também isto é vaidade e aflição de espírito.
Eclesiastes 4:14-16
Talvez falando do caso de sua família, Salomão continua descrevendo o novo e o velho rei. Alguns
comentaristas chegam a pensar que o novo rei descrito pode ser Davi, que veio de uma casa sem
importância em Israel para o trono do país, e que quando assumiu, todo o povo se alegrou, seguindo-o
em grande número. O velho rei, fechado a conselhos, louco, insensato, seria Saul. E o sucessor do novo
rei, a quem a população servira com desgosto, é o próprio Salomão. Apesar de ter colocado Israel no
“topo do mundo” da época, para construir tal império, colocou a população israelita em trabalhos
árduos demais, o que era inconcebível para um povo que tinha sido liberto do Egito justamente para
deixar de ser escravo (ver 1 Rs 12). Mesmo que não seja esse episódio a que esteja se referindo,
entende-se que a insatisfação crônica está não apenas no indivíduo, mas no povo como um todo. No
nosso caso mesmo, no Brasil, tivemos uma eleição em outubro passado e 3 meses depois já se falava em
impeachment, manifestações de milhares na Av. Paulista e um sem-número de insatisfeitos.
Obviamente que a vitória apertadíssima da presidenta Dilma tem suas consequências, mas é possível ver
como a massa muda de opinião rápida e bruscamente.

Saul morreu e a população se alegrou, pois era um rei louco; Davi subiu ao trono com muita alegria, mas
quando foi deposto por seu próprio filho Absalão, parte da população o apoiou (quem tinha poder para
depor Davi, principalmente) e a maior parte do povo simplesmente assistiu; Salomão assume, constrói
um império, é amado pelo povo, mas odiado também. Os militares, em 1964, dão um golpe (ou fazem
uma “revolução”, caso você queira assim) e a população assiste; o povo vai pra rua de cara pintada e
consegue uma eleição... indireta. Depois, se sucedem vários governos, agora eleitos pela nossa vontade,
a vontade do povo. Aparece um bonito, aclamado e charmoso que fatura a eleição, apenas para sofrer
impeachment logo depois. Passado um governo, assume, por duas vezes, o intelectual economista, que
reergue a economia mas deixa um número lastimável de desempregados. Após 3 tentativas, um
operário ganha a eleição, se reelege e, quando sai do governo, deixa uma multidão de partidos de
direita insatisfeitos, bem como parte da população, principalmente pela quantidade de escândalos
dentro de seu primeiro escalão. Uma dama se elege, se reelege e, hoje, já tem gente querendo o
economista de volta e até os militares. Nunca estamos satisfeitos, nem quando nós mesmos escolhemos
nossos governantes. Tudo isso não faz sentido, diz o pregador.

CAPÍTULO 5

Em 27/04/2015

Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que
oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
Eclesiastes 5:1
Guardar o pé para entrar em algum lugar. Para o israelita, que tinha muita dificuldade com alegorias,
tudo era colocado em termos físicos, literais. Colocar a planta do pé em algum lugar era ter uma ligação
íntima com ele, com o seu ambiente, com o seu espírito. Por isso, quando Deus fala com Josué que todo
o lugar que eles colocassem os pés seria deles, tinha um sentido de posse (Js 1:3); ou quando o povo
andava no deserto, era para um dia sair de lá, porque estavam peregrinando, apenas; ou quando não
podiam entrar no Santo dos Santos, a não ser o sumo-sacerdote uma vez ao ano, indicava separação,
santidade de Deus em relação ao homem, e ter algum “pé” estranho naquele lugar traria uma
consequência drástica: morte. Portanto, guardar o pé ao entrar na casa de Deus é ser reverente. Para
nós, que não temos mais templos, mas somos nós mesmos o templo, devemos ser reverentes com a
habitação de Deus. Ele mora em nós. Não somos de nós mesmos (1 Co 6: 15 a 20), não temos
propriedade, apenas posse. Portanto, devemos ser reverentes com o que vivemos. Uma palavra
empenhada por nós e não cumprida difama, em primeiro lugar, o nome que representamos; nossos
erros e acertos se misturam com o que o mundo vê de Deus. Somos cartas vivas (2 Co 3:2), e Deus
permite que nossas palavras se misturem às dele quando somos lidos pelos homens. Em meio aos
garranchos e frases mal feitas de nossa parte, Jesus é lido pelo mundo todo. É melhor que sejamos
prontos em ouvir a Deus do que a fazer sacrifícios de tolos, que não podemos cumprir – e, cá entre nós,
que às vezes Deus mesmo nunca pediu. O evangelho é simples, não necessita de muitos “frufrus”, altas
estratégias etc. Precisa apenas de um coração disposto a ouvir e obedecer.

Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de
Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras.
Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras.
Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que
votares, paga-o.
Melhor é que não votes do que votares e não cumprires.
Eclesiastes 5:2-5
Fazer votos com Deus era bem comum na Antiga Aliança. Antes de Jesus, o relacionamento de Israel
tinha muito a tônica de “merecimento X recompensa”. Ana (1 Sm 1), Jefté (Jz 11) e Jacó (Gn 28: 20-22)
são exemplos de votos famosos, alguns até meio desastrosos. É nesse contexto que o pregador diz para
não ser precipitado para falar, para votar qualquer coisa diante de Deus. E, caso vote, que cumpra logo o
voto. Por que esta preocupação toda? Porque ele sabe que somos falhos, emocionados demais e
tendemos tentar garantir alguma coisa para Deus para que Ele, assim, realize um pedido nosso. Salomão
prevê que tendemos a votar e não cumprir, por diversas razões, desde circunstâncias que nos impedem
de fato (como prometer doar um dinheiro para uma instituição no mês seguinte e ficar desempregado
no mês anterior) até motivos banais, como esquecer-se ou simplesmente não querer mais. O pregador
sabe que, com Deus, não se brinca. Ele está no céu, nós na terra. Mas, penso que fazer voto, hoje, não
tenha muito sentido. Jesus mesmo disse que nossa palavra não deve passar do sim e não. Se digo sim, é
sim e ponto; se não, é não e ponto. Não posso jurar por coisas que, simplesmente, não tenho o menor
poder sobre. Como posso jurar por Deus? Se eu errar, o que Ele vai fazer? Vai servir de fiador pro meu
voto? Não.

Paulo fez votos, mas o contexto também é diferente (At 18 e 21). A questão era outra: não causar
escândalo aos judeus, que diziam que ele era contra a Lei de Moisés. Nunca, em nenhuma de suas
cartas, ensinou seus discípulos a fazer qualquer voto, mas disse que se fez judeu para com os judeus,
para ganha-los. O apóstolo sabia que não poderia oferecer nada a Deus que Ele mesmo já não tivesse.
Obedecemos ao Senhor, fazemos qualquer coisa por Ele, independente de saber se Ele vai ou não
realizar nosso desejo. Prometer que vai dar uma oferta especial, fazer um jejum, subir uma escadaria de
joelhos ou ficar sem namorar por 1 ano se Ele fizer isso ou aquilo é uma infantilidade na história da fé.
Infantilidade no bom sentido, porque Deus permitiu isto uma vez na história, assim como permitiu
sacrifício de animais e proibiu marcas no corpo (tatuagens, na nossa linguagem). Jesus veio descortinar,
revelar o coração do Pai, que não está nos sacrifícios de ovelhas, mas no sacrifício de amor e louvor, não
no deixar de marcar o corpo, mas no marcar uma geração inteira com sua vida com Ele, não no ir ao
templo, mas em ser um templo ambulante, que carrega a presença d’Ele para onde você vai. Não no
fazer votos para ter algo em troca, mas em saber que tudo que se tem veio pela graça de Jesus, e aí não
tem jeito, você entrega toda a sua vida de volta, por amor.

Em 29/04/2015
Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que
razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos?
Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a
Deus.
Eclesiastes 5:6,7
Seguindo e reforçando a ideia dos versos anteriores, o pregador alerta para a precipitação diante de
Deus. Escutar x Falar é o tema principal destes 7 primeiros versos. Quem muito fala, não escuta. Quem
só quer satisfazer seus próprios desejos, sonha muito, e sonha mal. Sonha errado. E jura que está
sonhando certo. Ir ao santuário de Deus, ou seja, se aproximar de Deus e ESCUTA-LO é infinitamente
melhor do que se aproximar com uma lista de desejos, já dizendo como você quer que seja executado
cada um, a ordem preferencial e a música de fundo. A verdade é que quando escutamos Deus, os
sonhos d’Ele passam a ser os nossos, os nossos a serem d’Ele. Daí por diante, não faremos mais
sacrifícios de tolos, pecaremos menos com nossos lábios precipitados e egocêntricos; na multidão de
sonhos, há vaidades, assim também nas muitas palavras. Devemos temer a Deus, que é o princípio, a
chave da verdadeira sabedoria. Aí, nosso sim será sim, e o não, não (Mt 5: 33 a 37).

Se vires em alguma província opressão do pobre, e violência do direito e da justiça, não te admires de tal
procedimento; pois quem está altamente colocado tem superior que o vigia; e há mais altos do que eles.
O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo.
Eclesiastes 5:8,9
Numa transição para os próximos versos, e também antecipando uma ideia chave para todo o capítulo,
Salomão discorre sobre a injustiça social. Na verdade, deixa a entender que é algo comum, quase
inevitável. Quem tem mais poder, oprime o que está imediatamente abaixo de si na cadeia hierárquica.
O rei oprime seus oficiais, que por sua vez oprime seus capitães, que por sua vez oprimem seus
comandantes, que por sua vez oprimem seus soldados, que por sua vez oprimem a população média,
que por sua vez oprime os mais pobres. Não te maravilhes disso, diz o pregador, como se fosse algo de
outro mundo. Essa é a corrupção humana. Não devemos pensar que os mais pobres, por serem pobres,
são melhores que os ricos. Na verdade, se tivessem oportunidade, fariam o mesmo. Ou até fazem,
quando se veem numa relação de poder.

E como quebrar este ciclo vicioso? Alguém tem de padecer a perda. Alguém tem que perder. É assim em
tudo, não apenas no social. Numa discussão entre amigos, dependendo do limite, pra não perder a
amizade, que vale mais que aquela discussão, um deles tem que desistir. Não concordar,
necessariamente, mas desistir de ganhar. Em um negócio, quando todos querem se dar bem a custa dos
outros, alguém vai ter de “pagar o pato”. Numa discussão de casal, alguém tem que retroceder, pedir
perdão primeiro, se humilhar. Essa é a lógica do Reino. Felizes são os pobres de espírito, porque deles é
o reino dos céus; felizes os mansos, porque herdarão a terra; os perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino; os que choram, porque serão consolados (Mt 5: 1 a 12). Não resista ao perverso,
e se alguém te bater na face direita, oferece a esquerda. Se brigarem com você por um caderno, deixem
levar a mochila; se na partilha da conta do bar tentarem te obrigar a pagar a cerveja que você não
bebeu, paga também o salgado. Caramba, isso é impossível! Sim, é mesmo. Mas para Deus, nada é
impossível. É Ele quem nos recompensa; Ele mesmo é a própria recompensa.

Em 30/04/2015

Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda;
também isto é vaidade.
Eclesiastes 5:10
Clímax do capítulo. Quem ama o dinheiro, nunca se fartará dele. Quem ama as riquezas, a abundância,
nunca ficará satisfeito com o rendimento delas. Você nunca se perguntou por que pessoas tão ricas se
corrompem por causa de dinheiro? Por que homens que tem mulheres tão belas as traem com outras,
às vezes até menos belas? Será que eles são diferentes de mim? Por que, quando tenho, não fico
satisfeito? Porque quem ama as riquezas, nunca se fartará delas. É uma espécie de maldição divina. Se
você colocar o foco da sua vida na carreira, no carro do ano, na casa de praia, nas festas de amigos...
nunca se fartará deles. Se você beber dessa água, voltará a ter sede. O problema não está nas riquezas,
mas no coração daquele que as tem. Você pode ter apenas um barraco no morro e amar aquele barraco
mais que qualquer coisa na vida. É o seu porto-seguro; aliás, quer comprar outro barraco, já olhando o
mercado futuro de imóveis nas comunidades pacificadas do Rio e de Niterói. E você pode, também, ter
uma casa em Ipanema e não colocar nela sua felicidade. Usa-la, dispor dela quando necessário,
emprestar, chamar as pessoas pra estar lá com você, desfrutar do que é passageiro... Ainda que aquele
apartamento dure 200 anos, você não dura isso.

E, por outro lado, quem bebe da água que Jesus dá, nunca mais tem sede. Aqui vai uma explicação. Me
perguntaram isso numa reunião de adolescentes um dia e eu mesmo já tinha me perguntado o mesmo:
quando busco a Deus, também não volto a ter sede de Deus? Ou busquei uma vez na vida e isso foi
suficiente para sempre? Penso que, quando Jesus disse que a mulher samaritana (João 4: 1 a 26) voltaria
a ter sede, na verdade, estava alertando-a para o processo degradante da (in)satisfação do desejo dela.
Quanto mais ela buscava maridos, menos amada ela se sentia, quanto mais se enganava com uma falsa
religião, mais longe de Deus ficava. Por outro lado, quem bebe da água que Jesus dá, fica com mais
sede, mas no sentido de ser ainda mais pleno. Vê a falsidade de buscar a Deus em religiões, por isso vai
a Ele diretamente, e quer ainda mais! Quanto mais busca, mais feliz e realizado é. Portanto, o “voltar a
ter sede” que Jesus diz não enfatiza o número de vezes que a mulher foi buscar satisfação, mas a vida
insatisfeita que ela levava. Quem conhece a Deus, prossiga em conhecê-Lo (Os 6:3); sua vida será, a cada
dia, a cada busca, a cada negar-se a si mesmo, mais feliz, mais plena, mais inteira.

Onde os bens se multiplicam, ali se multiplicam também os que deles comem; que mais proveito, pois,
têm os seus donos do que os ver com os seus olhos?
Eclesiastes 5:11
Quanto mais a fazenda cresce, mais empregados são necessários para mantê-la. Quanto mais carros,
mais seguro, mais revisões, mais idas ao mecânico. Quanto mais casas, mais IPTU’s. Quanto mais
dinheiro, mais preocupações. Salomão está alertando para algo que ninguém contabiliza na hora de
buscar riquezas: o tempo e a energia que elas te demandam. Ainda que você delegue a vários
empregados cada uma dessas tarefas, passará boa parte de seu tempo trabalhando apenas para manter
a segurança das coisas que conquistou. Nada contra, mais uma vez, a buscar riquezas, mas não tenha
sobre elas a ilusão de que satisfarão você. Não adianta, não vão satisfazer. Qual a diferença, por
exemplo, de ter um Mavericks e ser um amigo de quem tem um Mavericks? Suponha que você, o amigo,
possa dirigir o carrão de vez em quando. Qual a diferença de um para o outro? Você pode pensar que há
várias diferenças – o dono tem a propriedade do carro, pode usar quando quiser, pode vender, pode
jogar numa ribanceira, pode... Na verdade, a diferença real é que o dono pode apenas dirigir mais vezes.
Ainda que seja dono “no papel”, quando o amigo está dirigindo, é ele que é o verdadeiro dono, ao
menos por alguns momentos. O dono por direito, como o pregador diz, só pode olhar e se alegrar um
pouco com o que conquistou. O status de ter aquele carro, o poder vender, o poder doar, o poder
queimar o carro inteiro e fazer um churrasco em cima, na verdade, é uma grande tolice. Ele só pode,
mesmo, dirigir. Mais nada. E, em breve, cansará do Mavericks, porque já não lhe causará aquela
sensação que um dia teve quando chegou à concessionária, ficou todo feliz de vê-lo, desejá-lo e comprá-
lo; sensação essa que, talvez, nunca mais teve depois que o possante passou a estacionar em sua
própria garagem.

Saindo do Mavericks, pense no seu Palio. Pense no seu apartamento. No seu salário. Nas suas
prioridades. Quem ama a riqueza, nunca se fartará delas. Busque a verdadeira riqueza, onde os ladrões
não escavam e roubam, onde a traça não corrói. Acumule tesouro no céu (Mt 6: 19 e 20). “Mas tem que
ir lá pra acumular”? Não, você acumula tesouros celestes daqui da terra mesmo. O céu veio pra cá junto
com Jesus. Conheça-o, caminhe com Ele e você mudará o foco da sua vida.

Em 04/05/2015

Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.
Eclesiastes 5:12
Muitas riquezas, muitas ocupações. Muitas posses, muitas preocupações. Poucas riquezas, menos
preocupações. Pensando, talvez, em sua própria experiência, o pregador percebe o fim das riquezas, o
seu último gosto... apenas preocupações. Como ninguém, ele vê o engano em que se meteu, vê que a
satisfação na vida não tem relação direta com o que se tem, antecipando o que Jesus disse: “Cuidado!
Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade
dos seus bens” (Lucas 12: 15). Como já dissemos, podemos ter bens e nossa riqueza neles, ou seja, nos
portaremos como mordomos das coisas materiais que Deus nos permitiu ter, e não donos. Nosso
tesouro estará em outro lugar, onde a traça não come e os ladrões não roubam.

Há um grave mal que vi debaixo do sol, e atrai enfermidades: as riquezas que os seus donos guardam
para o seu próprio dano;
Porque as mesmas riquezas se perdem por qualquer má ventura, e havendo algum filho nada lhe fica na
sua mão.
Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu tornará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho,
que possa levar na sua mão.
Assim que também isto é um grave mal que, justamente como veio, assim há de ir; e que proveito lhe
vem de trabalhar para o vento,
E de haver comido todos os seus dias nas trevas, e de haver padecido muito enfado, e enfermidade, e
furor?
Eclesiastes 5:13-17
“Traição! Fui traído pelas riquezas! Elas me enganaram! Vivi a vida inteira correndo atrás delas e, agora,
à beira da morte, terei de deixar tudo pra outra pessoa! Vim nu ao mundo, voltarei nu para o pó!” Este é
um outro modo de escrever esse trecho. O pregador viu que confiar nas riquezas é confiar na coisa
errada. Simplesmente, ela vai te abandonar, mais cedo ou mais tarde. Se você tem riquezas, siga os
conselhos de Paulo para Timóteo: “Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam
arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê
ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras,
generosos e prontos para repartir” (1 Tm 6: 17 e 18). Sei que ter riquezas é um conceito relativo. A
primeira vez que ganhei meu salário achei que estava rico! Imagina um adolescente que só ganhava
mesada, de repente, ganhar mais de 3 salários mínimos! Me senti um sultão das Arábia! Eu poderia ter
confiado naquela “riqueza”, mas resolvi agradecer a Deus pela bênção que Ele havia me dado e vivi com
modéstia, repartindo, principalmente na comunidade em que estava, com os que precisavam mais,
ofertando mais etc. Não é a quantidade de dinheiro que se tem, mas principalmente a quantidade de
coração que você deixa no dinheiro.

Eis aqui o que eu vi, uma boa e bela coisa: comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu
trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, todos os dias de vida que Deus lhe deu, porque esta é a sua
porção.
E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas e bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua
porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.
Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida; porquanto Deus lhe enche de alegria o seu coração.
Eclesiastes 5:18-20
Retomando o tema de “aproveitar enquanto é tempo”, Salomão diz para não colocar o coração e a
confiança na riqueza, mas, por outro lado, aproveitar sem culpas o que Deus lhe deu. Se ele te deu uma
casa, louve a Ele por isso! Seja grato! Se te deu um carro, dirija! Se te deu uma bicicleta, pedale! Se te
deu uma moto, não caia (huahuahuaha)! Se te deu casa de praia, pega a farofa, a molecada, o papagaio
e o periquito e vai pra lá! Passa aquele óleo de motor na pele e pega um bronze! Por que? Porque um
dia vai acabar, e você não se lembrará de mais nada. A vida passa muito rápido. Assim como é loucura
confiar nas riquezas, é maluquice não desfrutar das coisas que Deus te deu, sabendo que você não as
tem, mas te foram emprestadas. Assim, você será livre para emprestar, doar, dispor daquilo que Deus te
entregou. Será livre das riquezas, podendo usá-las sem culpa.

CAPÍTULO 6

Em 05/05/2015

Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e é mui freqüente entre os homens:
Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja,
e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isto é vaidade e má
enfermidade.
Eclesiastes 6:1,2
O argumento no hebraísmo é circular, ou seja, frequentemente se retoma a ideia anterior, com outras
palavras, mas se acrescenta algo novo, sempre num crescendo de intensidade. O pregador continua
suas observações. Repara que Deus dá bens e honra a um homem, de modo que não lhe falte nada...
mas, na verdade, falta. Não usufruir de tais bens é uma loucura! Bom, mas se a pessoa já tem bens, já
tem honra, já tem riquezas das mais variadas, isto já é aproveitar, certo? Errado. Outro vem, e aproveita
em seu lugar. O pregador não é contra o trabalho, nem com ter tesouros, mas sim em trabalhar
incessantemente para ter tesouros. Será que o cara não percebe que a vida tá indo embora e ele não
pode comprar tempo pra usufruir das coisas que ele tanto se dedicou? Na verdade, se repararmos bem,
mesmo com tempo, muitos não conseguem desfrutar de nada que adquiriram. Se acostumaram com a
adrenalina do jogo, do ganho, do estudo, do ser o melhor empresário, o melhor médico, o melhor... que
não se dão o direito de viver o resto das coisas. Isso, Salomão diz, não faz sentido! Quem vai aproveitar a
casa não é ele, mas a mulher, os amigos, os filhos, os vizinhos, os empregados. E o pior, ninguém vai
aproveita-lo também, ninguém vai conviver com ele, ter o prazer de sua companhia.

Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos, e se a sua alma
não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele.
Porquanto debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome.
E ainda que nunca viu o sol, nem conheceu nada, mais descanso tem este do que aquele.
E, ainda que vivesse duas vezes mil anos e não gozasse o bem, não vão todos para um mesmo lugar?
Eclesiastes 6:3-6
Um homem ou mulher pode gerar cem filhos, ter 5 casas, 2 lanchas, 3 cachorros, 2 motos, 1 avião e sua
alma nunca aproveitar, de verdade, nenhum deles. Não é apenas viver na casa, brincar com os
cachorros, dar um beijo de boa-noite nos filhos... É aproveitar! Só Deus pode dar isso! E se Ele não der,
ou você não tiver humildade pra pedir, uma criança que nasce morta é melhor que você. A curta vida
que ela teve foi mais descansada, teve mais propósito que a sua. Que a minha. Vamos acordar enquanto
é tempo! Ainda que vivêssemos dois mil anos, não valeria viver desse jeito, porque um dia vamos
morrer. Deus nos deu uma vida curta aqui. Só Ele pode nos ensinar como vivê-la de verdade.

Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu apetite.
Porque, que mais tem o sábio do que o tolo? E que mais tem o pobre que sabe andar perante os vivos?
Melhor é a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também isto é vaidade e aflição de espírito.
Eclesiastes 6:7-9
E a insatisfação volta. Me parece que o pregador é inconformado com essa condição! Por que eu nunca
me satisfaço? Por que? Porque está tentando se satisfazer com algo que não satisfaz. Porque estamos
tentando matar a sede com o que não é água, ou a fome com o que não é pão (Is 55: 1 e 2). Só o ouvir, o
obedecer, o amar ao Senhor nos satisfaz. Todo o resto nos deixará a boca seca e o estômago vazio.
Melhor é se contentar com o que se tem do que vaguear o apetite, ou seja, melhor é viver feliz com o
que Deus te deu do que infeliz com o tanto que você pode conquistar. Melhor é viver feliz, com Jesus,
tendo muito ou pouco, do que tendo muito, e na verdade, nada tendo. Se não, será só vaguear o
apetite, só mudar o alvo. Repare que Salomão não é contra o trabalho, o correr atrás das coisas, o ter
alvos que, normalmente com a vida, vão mudando e crescendo, mas ter nisso o seu coração. Eu posso
ter/fazer as mesmas coisas que meu amigo da faculdade; podemos conquistar as mesmas coisas, passar
nas mesmas provas, mas eu ter meu coração no Senhor e ele nos concursos; eu me fartar do bem do
Senhor e ele do esforço próprio; eu fazer por impulso do meu Deus e ele pelo impulso da falta que tem
no peito.

Em 06/05/2015

Seja qualquer o que for, já o seu nome foi nomeado, e sabe-se que é homem, e que não pode contender
com o que é mais forte do que ele.
Eclesiastes 6:10
O sentido não é muito claro, mas parece que Salomão diz q o homem foi descoberto, no sentido de ter
sido flagrado. Sua existência foi desvendada! Seu nome foi conhecido! Na cultura antiga, conhecer o
nome de alguém era saber seu segredo mais íntimo, sua fonte de poder (ver
https://professorwallace.wordpress.com/2012/06/01/a-escolha-do-nome-entre-os-judeus/). Quando
Moisés é enviado aos hebreus e pergunta o nome daquele que o envia, Deus responde com algo que
não é nome, mas qualidade do ser - “Eu sou o que Sou”, ou seja, eu sou aquele que é, desde sempre, o
que nunca foi criado em tempo algum, o que sempre existiu e sempre existirá. Nós mesmos não
sabemos o Nome de Deus; ainda que Ele tenha várias denominações na Bíblia, são todos descritivos de
qualidades - Elohim, Deus forte e poderoso; Yahweh, ou Jeová, que é Senhor. Através de Jesus,
conhecemos o nome, a face de Deus – quem o vê, vê o Pai, quem não o vê, não conhece o Pai.

Por ter sido descoberto, flagrado, o homem sabe que não tem como lutar contra o que é mais forte do
que ele. O primeiro “mais forte” que me salta aos olhos em Eclesiastes é a morte. Como lutará o homem
contra isso? Em segundo lugar, e talvez ainda mais forte, é a morte do sentido da vida, a morte
espiritual, o nunca se satisfazer. O homem luta contra isso desde sempre e vem perdendo todas as
batalhas sucessivamente. O único que vence a morte física e, além disso, pode dar vida – dois aspectos
complementares mas diferentes – é o nosso Senhor Jesus! Ele morreu a nossa morte pra vivermos a Sua
vida, aqui e agora, como é dito em Rm 6: 23: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito
de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”.

Na verdade que há muitas coisas que multiplicam a vaidade; que mais tem o homem de melhor?
Pois, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua vida de vaidade, os
quais gasta como sombra? Quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?
Eclesiastes 6:11,12
Quanto mais palavras, mais vaidade. Que mais tem o homem de bom? Não é só isso mesmo? Quem vai
dizer a ele o que vai acontecer aqui depois que ele se for? O livro da velhice de Salomão revela seus
olhos secos, sua perplexidade ante sua curta vida. Confesso que me parece um pouco exagerada essa
ênfase; eu ainda não sei que gosto é este, o gosto de se aproximar da morte. Penso que aqueles que
vivem com Deus, ainda que sua carne se corrompa, ainda que sua mente os traia, ainda que seus pés
não sejam tão firmes, ficam, na verdade, cada dia mais vivos (“...ainda que o nosso homem exterior se
corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”. 2 Coríntios 4:16). Essa revelação poderosa
ainda estava turva para o pregador. Por isso, quer fazer a vida valer a pena? Eu quero e muito. Quero
seguir este exemplo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo
por mim” Gálatas 2:20.

CAPÍTULO 7
Em 7/5/2015

Melhor é a boa fama do que o melhor ungüento Eclesiastes 7:1 (a)


O bom nome. A boa fama, o conceito que têm sobre você, sua reputação. Eu costumo dizer que
reputação é uma coisa que não serve pra nada ou, se servir, não é algo que se deva perseguir. Jesus não
se preocupava com sua reputação, penso eu. Nunca ligou para o que pensavam dele, não media suas
ações a partir da expectativa dos outros. Aliás, acho que ele teve um nome um pouco sujo na praça, pois
pra “ser crucificado, boa coisa esse rapaz não fez, né?”, pensava o povo quando gritava “Crucifica-o!”.
Mas veja o que o pregador está dizendo: é melhor ter um bom nome, vale mais isso do que um bom
perfume. É mais agradável, tem mais proveito, cheira melhor um conceito positivo que as pessoas têm
sobre vc do que uma roupa cara. Te aceitarão melhor pelo que sabem de você do que pelo que veem
externamente. O que sabem sobre você é mais importante do que a aparência externa que você quer
mostrar. Com isso, concordo plenamente. A ênfase aqui está na tensão entre a aparente beleza exterior,
seus ornamentos e perfumes e a visão que as pessoas têm sobre você. Preocupe-se mais em ser bom,
ter um bom nome, do que parecer bom, cheirar bem - não que passar um perfume seja ruim; afinal dá
pra ter um bom nome e cheirar bem ao mesmo tempo. Mas se o pregador está dizendo que um é
melhor do que o outro é por uma razão: nós tendemos a tentar causar boa impressão não com o que
somos, mas com o que conseguimos maquiar. Isso, diz o pregador, uma hora vai cair; a chuva vai molhar
e a chapinha vai embora. O make up vai te abandonar na hora que você mais precisar.

...e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.


Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos
os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.
O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.
Eclesiastes 7:1 (b)-4
Morte. É um dos temas preferidos do livro, sem dúvida. Mas uma coisa é mto importante aqui:
importante para quem? Para os mortos ou para os vivos? A pergunta é óbvia, mas preste atenção: é
importante PARA OS VIVOS conhecerem o dia da morte. Porque, depois da morte, não há
conhecimento, não há palavra, não há consciência – pelo menos, não até certo momento. E o mais
importante: depois da morte, não há mais volta. Por isso é mais proveitoso ir à casa onde há luto do que
à casa onde há festa, porque na primeira refletimos sobre o fim de TODOS os homens, aplicamos nosso
coração nisso.
O coração do sábio, ou seja, o pensamento do sábio, sua reflexão, está na casa do luto. É a casa do luto,
da tristeza, da lamentação, que o faz considerar sobre a vida. Ele não ignora a vida como ela é. Já o tolo
só presta atenção na casa onde há festa, se entorpecendo, se drogando com doses diárias de alegria que
não o farão ser alguém melhor, viver melhor. Em outras palavras, Salomão está dizendo que a morte, a
tristeza, a dor, ainda que sejam frutos do pecado, são aproveitados por Deus para nos ensinar. Só um
Deus poderoso consegue usar coisas tão ruins para fins bons, proveitosos. É por meio do sofrimento que
somos aperfeiçoados, justamente como Jesus foi (“Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus,
por causa de quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento, o autor
da salvação deles”. Hebreus 2:10).

E, cá pra nós, não é mesmo o dia da morte melhor que o da vida? Sim é! A morte é uma passagem, um
bilhete para um lugar ainda desconhecido, mas com um Deus bem conhecido. Assim será! Ao menos
para nós, que não ignoramos os sofrimentos daqui. No dia do maior sofrimento que passarmos, já
estaremos aperfeiçoados, prontos para, na hora da morte, recebermos a coroa da vida.

Em 8/5/2015
Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que ouvir alguém a canção do tolo. Eclesiastes 7:5
A repreensão do sábio pode mudar a sua, a minha vida. Não é boa no momento em que se recebe, mas
dá muito fruto. Várias razões para isso, mas me vêm à mente agora algumas: 1) o sábio não dá conselho
em benefício próprio, mas em benefício do ouvinte; 2) o sábio repreende pq é necessário repreender,
pq a pessoa se tornou digna de repreensão; 3) só quem é repreendido e aceita a repreensão é um outro
sábio, pois o tolo nunca aprende e não deseja aprender; 4) o sábio de verdade, além de receber, ama a
repreensão, pois entende que isto o levará para mais perto do maior amor da vida dele, Jesus (“Fira-me
o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me, será um excelente óleo, que não me quebrará a
cabeça...” Salmo 141:5).

A canção do tolo é boa. Repare a diferença: repreensão e canção; bronca e música; tomar uma chamada
bem dada ou escutar um sonzinho manero. Óbvio que a segunda opção é melhor que a primeira, quer
dizer, é mais fácil que a primeira. É aquele momento crítico em q vc pode ouvir seus amigos de bar ou
seu amigo de verdade; aquele momento em q seu pai conversa de maneira séria com vc e sua amiga do
colégio te diz o oposto; aquela hora em q vc tem q sentar, discutir, orar e chorar com sua mulher ou, pra
fugir da situação, vai jogar bola ou videogame. É a repreensão do sábio e a canção do tolo o tempo
inteiro batendo à nossa porta. Pra qual deles vamos abrir?

Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é o riso do tolo; também isto é vaidade.
Eclesiastes 7:6
Os espinhos, quando incendiados, pegam fogo, estalam (crepitam), mas logo se apagam. O fogo
produzido pelos espinhos não queima o suficiente para aquecer uma panela, apesar de ser bem
barulhento. Assim é o riso do tolo: faz muito barulho, é bonito de ver, mas não produz nada. É só
pirotecnia, só fogos, só fogo de palha... ou melhor, fogo de espinhos. É aquele tipo de risada que o cara
dá depois de dizer “Caraca, fui malzão na prova...Huahuahuah”; “Caraca, perdi meu dinheiro todo na
rua...huauah”; “Meu marido é mó otário, acredita em tudo q eu falo..hauhuahua”; “Minha filha come
aqui na minha mão...huaauhua”... Eu poderia citar mil exemplos. Nessas risadas sem graça, só quem ri é
o reino das trevas, é o inimigo (do hebraico Xatan e do grego Satanas, que significam inimigo ou
adversário). Para resumir essa risada, o pregador utiliza a palavra preferida dele no livro: vaidade. Mas o
que vaidade tem a ver com isso? Como já dissemos lá no capítulo 1, vaidade é tudo que passa, que é
efêmero; é tudo que, sendo passageiro, se vc decidir nisso se apoiar, será chamado de louco. Confiar nas
riquezas é confiar em algo passageiro; confiar nos prazeres só vai te trazer dor, e não vai demorar muito;
confiar no seu esforço próprio tem data de validade. E rir igual um idiota? É vaidade, é loucura. Uma
hora vc vai ver que não tem graça nenhuma.

Em 11/05/2015

Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio Eclesiastes 7:7 (a)
Apesar de já ter dito algumas vezes, não é demais repetir: há muitas maneiras de se ler a bíblia. Porém,
em Eclesiastes, deve haver o dobro de maneiras. Um livro carregado da humanidade, da depressão e
frustração de um rei que, apesar de ter tudo, descobriu vaidade em tudo, não é fácil de ler. Ou melhor,
não é fácil ler e encontrar Deus ali, em cada palavra. Mais uma vez, leia como quem lê os momentos
finais de alguém q buscou satisfazer todos os seus desejos e q percebeu, em um diálogo consigo mesmo
e com Deus, q nada disso valeu a pena.

Nessa perspectiva humana, puramente humana, Salomão continua o cap. 7 do livro. Vê que a opressão
faz enlouquecer o sábio; o opressor, o tirano, o cruel consegue corromper os valores mais caros de um
homem. Para mim, este é o primeiro momento em q o pregador vê q nem a sabedoria poderá salvar
alguém, nem a si mesmo. Sendo bem, mas bem sincero, na hora do perrengue, se vc contar só com
sabedoria, vc tá lascado. No momento em q seu filho está na cama de um hospital, ou na hora em q vc
está se afogando no mar de Itacoatiara (é uma praia de Niterói q às vezes resolve brincar com vc e se
esquece de te devolver pra areia), no dia q vc não passou no vestibular ou no momento q tem alguém te
extorquindo, te humilhando, te batendo na cara... Nessas horas, parece q a sabedoria some e vc e eu
viramos bicho. Não pensamos direito. Não ouvimos. Não vemos. Não nada. Só nos debatemos, gritamos,
grunhimos. O opressor faz isso com o sábio. O sábio, meu amigo, nessas horas vira tolo, fica louco. Esse
verso 7 do cap. 7 é crítico no livro. O pregador, q tanto louva a sabedoria, a vê indo embora,
abandonando-o qdo ele mais precisa dela.

Há momentos em q apenas e tão somente a graça de Deus nos sustenta. Não há palavras, não há
grandes conselhos, nem teologias, nem explicações. Qdo há alguém nos oprimindo, só a paz de Jesus
nos evita de ficarmos loucos, de perdermos a fé, de perdermos a esperança, de perdermos o chão. Aliás,
parece q tiramos força de onde não existia e prosseguimos. Ao invés de ficarmos loucos e confundidos,
nossa conduta é q confunde os outros. Nossa paz confunde os sábios desse mundo. Nossa alegria irrita
as pessoas comuns q não admitem, não entendem COMO podemos viver bem passando por algo
terrível. Como morrer pode ser viver? Como perder pode ser ganhar? Como se humilhar pode trazer
exaltação a alguém? Temos exemplo. Jesus venceu a morte morrendo. Venceu o mundo sendo
perseguido. O opressor não tirou a sabedoria dele, mas ele teve de suar sangue. O preço é alto e a
recompensa bem mais alta. Deus usa as coisas loucas pra confundir as entendidas: “Porque a loucura de
Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem” (1
Coríntios 1:25).

...e o suborno corrompe o coração. Eclesiastes 7:7 (b)


Do mesmo modo, pensando humanamente, o suborno corrompe o coração, a mente. O sábio, muitas
vezes, na hora q está precisando, abandona a sabedoria e abraça a loucura, aceitando um jeitinho q
Deus abomina. Em questão de segundos vira louco, se corrompe. Repare a pontinha de decepção de
Salomão com a sabedoria. Não há ser moralmente tão justo q não fique tentado com um dinheiro fácil.
Você pode pensar: “eu não fico”. Então vamos lá. Qdo vc tá voltando da Região dos Lagos e tem um
engarrafamento de 20 km com uma meia dúzia de malandros passando no acostamento, vc não fica
tentado a ir junto? Ou qdo tem a fila das barcas de sexta-feira às 17h, vc não tenta dar uma furada? Ou
qdo vc vai no aniversário do Guanabara e tem 30 carros rodando o estacionamento e aparece uma vaga
de idoso do seu lado, vc pega ou deixa q outro malandro tão “idoso” qto vc pegue o lugar? A corrupção
está no coração humano. Mesmo q vc não faça nenhum desses exemplos q eu dei, dependendo do grau
de dificuldade em q vc se encontrar ou do humor q estiver no dia, o suborno pega vc. A sabedoria te
abandona e vc, de novo, vira bicho. Desconfie de si e do seu discurso. É mais honesto. Se humilhe,
reconheça q vc não consegue sozinho e se renda a quem pode te transformar de dentro pra fora.

Em 12/5/2015

Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de
espírito.
Eclesiastes 7:8
O fim das coisas, o desenrolar da questão é melhor do q o início dela. De cara, já pensei em um monte
de coisas q são melhores no início, não no final. Eu gosto mais da sexta do q do fim do domingo; a
sensação de começar o fim de semana, a expectativa de ter alguns dias de folga pela frente me parece
melhor q a própria folga. É melhor tb uma bike nova do q o fim dela, cheia de ferrugem, com pneu
furado e com o banco rasgado. Melhor é a música nova, q acabou de sair, do q aquela q já toca há anos,
q de tanto tocar não te causa mais surpresa nenhuma. O carro novo, o emprego novo etc. Acho q não é
sobre isso q o pregador está dizendo. A segunda parte do verso diz q o paciente é melhor do q o
orgulhoso; repare, o paciente não é melhor q o apressado, q o sem paciência, mas melhor q o altivo, q o
orgulhoso.

O paciente espera as coisas q ele plantou germinarem, crescerem e um dia darem fruto. O paciente tem
um relacionamento novo e não espera tudo desse relacionamento de cara, mas vai construindo, passo a
passo, uma amizade mais profunda, um casamento mais bonito, um relacionamento mais amoroso com
o filho. O paciente se submete a situações desgastantes, como a conversar com alguém q o interpretou
mal, ou estudar para um vestibular muito difícil, ou iniciar uma atividade física q só vai dar resultado dali
a meses. O paciente sabe q tem tempo para as coisas, e q o fim será melhor q o início. O orgulhoso não.
Não quer pagar o preço de nada e espera q tudo venha de graça: a casa, o relacionamento com a mulher
ou marido, a cumplicidade e o carinho dos filhos, o corpo saudável. Vê o paciente sendo respeitado e
pensa q é passe de mágica, q isso veio do nada. Olha pro vizinho e o vê saindo pra jantar com a família,
todos felizes, e fica se perguntando por que nenhum dos seus filhos tem vontade de sair com ele; talvez
porque, quando eles tinham 4 ou 5 anos, não tinha paciência pra brincar com nenhum, ou quando eram
adolescentes, não sentava pra conversar; resolvia tudo com dinheiro ou com bronca.
Jesus começou seu ministério aos 30 anos. Passou 29 anos aprendendo, sendo carpinteiro, honrando
seus pais, indo à sinagoga, ouvindo o Pai. Depois, passou 3 anos ensinando, curando, sofrendo, sendo
traído, perdoando, chorando, sendo perseguido. E por fim foi morto. E só então ressuscitou e, neste
exato momento, está à destra de Deus Pai.

O fim das coisas é melhor que o início, a não ser q sejamos orgulhosos. Gosto de pensar q todo mundo
tem doses de paciência e de orgulho. Qdo lemos um verso desse tendemos a pensar em uma pessoa
orgulhosa e outra paciente. Não, pense em vc. Eu penso em mim. Há um homem orgulhoso dentro de
mim, q quer colher onde não plantou, q quer ser exaltado sem primeiro ser humilhado. Esse homem
que eu quero matar todo dia. Mate o seu também e deixe Deus fazer crescer dentro de você o homem
paciente e humilde.

Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira repousa no íntimo dos tolos.
Eclesiastes 7:9
“Tá bom, mas não se irrite!” (Chaves). Não seja irritadinho, não fique apressado em se irar, não fique
com raiva rápido, por pouca coisa. Esse tipo de ira está alojada no íntimo dos tolos. Mas isso não é
involuntário? Ficar com raiva não é meio parecido do q ficar com sede, ou com fome, ou com sono? Blz.
Vc está com sede, mas preso no engarrafamento. Não tem vendedor ambulante nenhum e nem vai ter
nos próximos 10 km. O q vc faz? Abre a janela e começa a gritar: “Eu quero água agora! Alguém me traz
uma água aqui! Ô amigo do carro da frente, pega a sua garrafinha aí, q eu tô vendo, e passa pra cá!”.
Não, né! Vc espera, porque não tem jeito. Uma visita vai à sua casa e derruba o copo de suco de uva na
sua toalha nova. O q vc faz? Grita pra ela na hora: “Agora vai me comprar uma nova! Se eu lavar e não
sair a mancha, vai ter q me dar outra!”. Ah, tb não né. O q isso quer dizer? Que nós controlamos nossas
reações. Se vc é uma pessoa q tem tendência a se irar, comece a controlar seus impulsos. Peça a Deus. É
um treinamento, e Ele é um excelente professor.

O verso não está dizendo para nunca se irar, mas não se apressar para irar-se. Nunca se irar é muito
ruim, tb. Nossa ira é contra a injustiça, contra o mal, contra o nosso próprio pecado. Mas viver irado,
irritado, é pedir pra tomar as piores decisões da vida e depois se perguntar “o que eu fiz de errado?”.
Essa ira fácil, essa ira q fica pronta igual macarrão instantâneo, não traz nada de bom, não traz a justiça
de Deus. Se nos irarmos, q seja pelas coisas q Deus se ira.

Em 13/5/2015

Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria
esta pergunta. Eclesiastes 7:10 (leia devagar).
Saudade. Sentimento mais curioso q alguém pode ter. Uma amiga um dia me disse q saudade fede. É
uma sensação de ter o q já se teve, mas q agora não se tem mais. É a perda do q um dia já foi fácil, já
esteve ali, perto. Esta é aquela saudade de quem não vai voltar mais; um sentimento avassalador. Vc faz
tudo pra se livrar dele, desde ocupar o tempo e a cabeça o dia todo até dormir “como se não houvesse
amanhã”; foge disso como a escuridão foge qdo se acende uma vela.

Quando é a saudade de quem vamos ver dali a um pouco, se torna um sentimento ótimo, de perda
momentânea, q nos faz valorizar o q temos tão fácil, tão barato. Essa saudade nos mostra, nem q seja
por um momento, q aquela pessoa não é nossa, não faz parte do nosso rol de bens e direitos. Nos
mostra a fragilidade da vida, q nos priva, nem q seja por algumas horas, das pessoas q mais amamos,
nos lembrando q, um dia, elas podem não estar mais ali. Aí, qdo finalmente há o reencontro, podemos
viver com mais intensidade, impulsionados pela saudade q nos chateava, como uma pedrinha no sapato,
minutos atrás.

Saudosismo. É a falta do modo de viver de antes, da casa onde se morou quando pequeno, do cheiro do
café naquela hora da manhã, da vó chamando “vem almoçar, garoto, já tá tarde!”, da cidade natal,
daquela música, naquela hora, com aquela pessoa. É a saudade de um estado de coisas, de um mundo q
não existe mais. Eu sinto saudade de muitas coisas da minha infância e adolescência; de outras, não
tenho a menor falta. Seja como for, elas me construíram, fizeram parte do q sou hoje. Vc tb deve estar
aí, em frente ao computador/celular/tablet/whatever pensando... divagando... viajando na máquina do
tempo mais incrível do mundo q é a sua cabeça. Essa capacidade de se lembrar das coisas e vivê-las de
novo em nossa mente é incrível; chegamos, quando falamos de certas situações, a sentir o cheiro do
lugar; se fecharmos os olhos, vemos tudo como era, até a arrumação dos móveis na casa. Isso é ótimo. É
um dom q Deus deu apenas aos seres humanos.

Então, contra o q o pregador está falando? Está dizendo q não é sábio se lembrar do passado? Não. Não
é isso. Ele mesmo, pra escrever o q escreveu, teve de revisitar todo o seu passado, suas conquistas,
glórias, fama e dinheiro para chegar às conclusões q chegou. Está dizendo, então, q o passado não pode
ser, de nenhum modo, melhor q o presente? Também não. Seria uma sandice não perceber q algumas
coisas, em alguns pontos do passado, eram de fato melhores do q alguma situação atual. Se, por ex,
estava empregado em um bom emprego há 2 anos atrás e agora estou desempregado, comparando um
e outro momento, pelo menos com relação à renda, o momento passado é melhor. Não é contra esta
constatação óbvia q Salomão fala. De burro ele não tem nada

O q ele está dizendo é simples: não é SÁBIO pensar, dizer, ficar afirmando q os dias do passado são
melhores do q os de hoje. Não pq, de algum modo, não sejam, mas pq não é sábio. Não adianta. Vc não
vai, com todo o seu saudosismo, fazer aquele tempo voltar. Lembrar-se dele é uma coisa, viver preso a
ele é outra. Essa pergunta "Por que os dias do passado foram melhores que os de hoje?” esconde uma
insatisfação com o presente e uma alienação dele. Por mais legais q sejam as músicas q vc ouvia na
década de 70, 80 e 90, o tempo passou. Pode continuar escutando, mas não fique dizendo “ah, no
passado é q tinha música de verdade”, pq essa era a mesmíssima frase q a geração de 1930, 1940 e 1950
usava qdo escutava as músicas de 70, 80 e 90. Vc pode até achar melhor, direito seu, mas viva o hoje.
2015. Tecnologia, cultura cada vez mais globalizada, internet, comida de micro-ondas. Misture dentro de
si o q é bom do passado e o q é bom do hoje. Seja crítico consigo mesmo e veja se, daqui a 1 ano, não
vai estar dizendo, do exato dia de hoje, como ele foi bom. Q coisa doida! A verdade é q o passado nós
podemos manipular, mexer, reinventar. Aliás, fazemos isso sem perceber o tempo inteiro. Tendemos a
ver as coisas q passaram (e até as que vivemos agora) com as nossas lentes, sempre maquiando,
melhorando ou piorando uma realidade q não temos mais acesso. Mas viver mesmo, só hoje. Vamos
aprender com o passado para vivermos melhor o presente q recebemos de presente.

Tão boa é a sabedoria como a herança, e dela tiram proveito os que vêem o sol.
Eclesiastes 7:11
A sabedoria é uma como uma herança. Faz bem ao seu possuidor. Beneficia aqueles q veem o sol, pq os
q morreram não podem mais ser sábios – lembre-se sempre q Salomão está escrevendo sob uma
perspectiva humana, do aqui e do agora. Em um link com o verso anterior, a sabedoria serve para hoje.
É um bem caro, q Deus dá a quem pede – “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que
a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (Tiago 1: 5). Se vc está abrindo os olhos e
vendo o sol, viva de maneira sábia. É possível viver o hoje de maneira tola e, daqui a 10 anos, ficar
reclamando como o passado era bom. Na verdade, mto do q vivemos hoje é colheita do q nós mesmos
plantamos há alguns anos. Não tudo, mas uma boa parte. No que depender de nós, plantemos com
sabedoria, pois poderemos dizer: “como os dias de hoje são melhores do que os do passado!”.

Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento
é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.
Eclesiastes 7:12
Por que viver com sabedoria? Pq ela serve de proteção, como serve o dinheiro. A diferença é q a
sabedoria dá vida ao seu possuidor... Já o dinheiro... Não traz vida ao seu possuidor. Acumular riquezas,
pura e simplesmente, é acumular o nada. É como o Tio Patinhas (caramba, q desenho velho!), q nadava
nas suas moedinhas de ouro. Pensa bem, não é melhor nadar na água? Deve ser horrível nadar naquele
monte de metal. Eu sei, ninguém fica nadando, literalmente, em notas de dinheiro ou em cartões de
crédito. O desenho é uma figura do q está no coração. Ao nadar naquelas moedas, Tio Patinhas se sente
protegido, seguro, poderoso. Salomão está dizendo q o dinheiro não traz isso. Mas a sabedoria traz.
Leia os 3 versos agora, em Eclesiastes. Leia-os em conjunto. O saudosismo alienante, a sabedoria para o
hoje e a confiança equivocada no dinheiro. Percebe como podemos viver mal? Percebe o quanto
podemos viver alienados, sofrendo sem necessidade? Vivamos com sabedoria. O tempo é um bem q
não volta. O tempo q vc está vivendo agora, lendo este texto, não voltará nunca mais. Viva com temor,
reverência a Deus. Esta é a chave da sabedoria.

Em 14/5/2015

Atenta para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?
Eclesiastes 7:13
Vamos atentar para a obra de Deus. Quem pode endireitar o q ele fez torto? Se Ele deixou algo ruim
acontecer, como trazer de volta? Mesmo q possamos consertar alguma coisa ruim, como apagar o
trauma? Como mexer no passado? Há um ditado q diz q pra tudo tem jeito, menos pra morte. De certa
forma sim. Nos adaptamos a tudo. Mas adaptar-se não é a mesma coisa q endireitar. Vc se adapta a um
dia frio colocando um casaco, mas não muda o tempo frio; se adapta a uma nota ruim na prova
estudando pra outra, mas não muda a q passou; é consolado pela morte de um parente, mas não o faz
voltar dos mortos. Quem pode endireitar o q Deus fez ficar torto?

Um dia, a long time ago, nada era torto. Tudo era bom, delicioso, farto, alegre, vivo. Vivíamos com Ele, q
nos visitava na viração do dia, no fim da tarde. Sem dor, sem cansaço, sem rugas. Sem contas, só contos.
O céu era a nossa relação! Um dia, quebramos Sua confiança e morremos. Pra q pudéssemos ter uma
chance, Ele enviou um q não tinha erro, q pagaria pelo nosso desvio. Desde então, vamos voltando pra
aquele lugar de maravilhas. Ainda sim, há muitas coisas tortas, dentro e fora de nós, q não têm como ser
endireitadas.

Então, considere, quem pode endireitar o q Ele fez torto? Eu sei quem. Ele pode. Aliás, Ele começou a
fazer isso há 2 mil anos atrás. O Reino de Deus está perto, está dentro de nós. O Reino de Deus está
próximo, já chegou com poder. Deixe o Rei reinar em você. Só Ele pode endireitar o q Ele mesmo
entortou, por causa do nosso pecado.

No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a
este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.
Eclesiastes 7:14
Perspectiva puramente humana porém sóbria da vida. No dia em q tudo estiver bem, não precisa virar
filósofo: goze do bem. Aproveite. Saia, brinque, ria, cante, gaste, canse. No dia mal, considere. Veja o
quanto você é frágil, o quanto não sabe nada sobre o futuro, o quanto não tem controle. Deus fez tanto
um quanto o outro dia pra mostrar ao homem sua pequenez; pode pensar q está seguro no presente e
q, por isso, pode controlar o futuro, mas bastam algumas doses de dias maus para perceber q não está
no controle de nada. Considere isso e louve ao Senhor no dia bom e no dia mau.

Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há ímpio que prolonga os
seus dias na sua maldade.
Eclesiastes 7:15
Continuação da perspectiva humana do Eclesiastes sobre a vida. Basta ler o verso e constatar q o q ele
está dizendo é verdade. Já vimos o justo morrer cedo e o injusto viver longos dias. Já vimos o errado se
dar bem e o certo se dar mal. Já vimos o q mente ganhar o prêmio e o q é sincero ficar por último. Nessa
vida sem sentido, já vimos de tudo.

Em primeiro lugar, isto causa indignação. Não deveria ser assim, não é? O justo deveria viver bem e
muito; o injusto e perverso deveria viver mal e pouco. O honesto deveria ganhar bastante e o desonesto
deveria ter só pão e água. Minha dica pra quando você pensar assim: aplique este rigor a você mesmo.
Se vc mentir, uma única vez sequer, desminta pra todo mundo. Se passar o sinal vermelho, dê meia
volta com o carro, chame o guarda q não te viu, e peça-o pra te multar. Se for indelicado com alguém,
peça perdão na hora, não importando se está certo ou errado, com vontade ou não. Dá pra fazer isso
tudo? Dá. Mas isso não vai, mesmo assim, te tornar um justo.
Em segundo lugar, viver muitos dias não quer dizer viver bem. Posso viver muito e mal ou pouco e bem.
O injusto, por mais dias q viva, vive sem viver. Viver fazendo e pregando o mal é como viver com um
câncer. De tanto enganar, ele já não confia em ninguém; de tanto trair, ele não se entrega a nenhum
relacionamento; do tanto q teve de trapacear para ter dinheiro, não tem mais amigos; de tanto q se
esbaldou na farra, não tem mais saúde; de tanto q viveu sem noção, não tem mais noção pra viver. Não
tem mais sentido. É uma prisão sem grades. Converse com um ímpio q se converteu recentemente ou
lembre-se com honestidade sobre sua vida sem Cristo q vc vai logo perceber q “beleza” é essa vida longa
do injusto.

Em último lugar, quem é justo? Quem foi justificado. Não há justo, nem um sequer (Rm 3:10). A
perspectiva humana do pregador só serve pra comparar humanos corrompidos com outros menos
corrompidos um pouco, mas não com a verdadeira justiça de Deus. Quem foi justificado, ainda que viva
pouco, viveu bem, intensamente. Morrer não é deixar de existir, mas apenas o passo 2 da existência. É
passar de fase. É ir para o lugar onde a traça e o ladrão não destroem o tesouro q vc, daqui, acumulou
lá.
Nessa vida eu já vi de tudo. O justo morrer cedo e o injusto morrer tarde. Mas não vi ninguém
zombando de Deus. De Deus não se zomba.

Em 15/5/2015

Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?
Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?
Bom é que retenhas isto, e também daquilo não retires a tua mão; porque quem teme a Deus escapa de
tudo isso.
Eclesiastes 7:16-18
Parece-me estranho esse papo de “não seja muito justo e sábio nem muito ímpio e louco”, ou “não seja
tão fiel nem muito infiel” ou “não seja tão crente nem tão incrédulo”. Estranho nada, parece demoníaco
mesmo. Mas eu sou garoto moderno, vivo no século XXI, mais de 3 mil anos depois do Saloma. Temos q
dar uma contextualizada nisso.

O pregador está, pouco a pouco, se deparando com os limites da sua sabedoria. Por melhor q seja o
dom q Deus um dia lhe deu quando ele, novinho, pediu sabedoria ao invés de riquezas ou morte dos
inimigos (2 Cr 1: 11 e 12), não é o único dom q alguém precisa. É um dom excelente, já falamos aqui,
mas não o único. Tem limites.

Mesmo assim, não tá descendo bem essa ideia de ser meio tolo/meio sábio, meio ímpio/meio justo.
Deus odeia isso. O q afinal esse velhote tava dizendo? Lendo os versos seguintes, parece-me que ele
percebe q quem é muito sábio, desculpe a redundância, sabe demais. Vê demais, conhece demais, ouve
sem querer ouvir. Além de conhecer muitas coisas, se conhece a si mesmo. Aí vira um problema.
Começa a conhecer que, na verdade, não conhece nada. Então, lendo mais do que a letra crua desses
versos, repare a intenção dele: não dá pra se garantir no seu próprio conhecimento. Ele poderá levá-lo à
loucura, a morrer cedo. É como comer da árvore do conhecimento do bem e do mal e achar que não vai
morrer, pq apenas Deus conhece o bem e o mal e não morre. Busque muito conhecimento, mas tenha
sempre, SEMPRE em mente que não há limites para o conhecimento, e que você nunca conheceu, como
Deus, tudo o que há, tudo o que existe.

Salomão chega a dar esse conselho maluco de “nem tanto ao mar, nem tanto à terra” pq começou a ver
limites na sabedoria dele. No desespero, falou: melhor ser um pouco mau, um pouco malandro, se não
você não sobrevive! Ele se utiliza de um argumento ao extremo, ao absurdo, muito conhecido da poesia
hebraica (como Jesus quando disse pra arrancar a mão, se ela nos fizer pecar), pra expressar uma ideia,
neste caso: não dá pra se garantir sozinho. À medida que os versos avançarem, veremos isto.
Assim, ser um pouco tolo, um pouco ímpio, não é no sentido de tentar ser mau, mas no de se
reconhecer como já sendo mau. Quem teme a Deus, evitará a ambos os extremos, o de tentar ser sábio
e bom e viver apenas por sua sabedoria e justiça, e o de viver na maldade. Quem teme a Deus, na
verdade, se garante na sabedoria e bondade dele, mesmo se reconhecendo tolo e mau.

A sabedoria fortalece ao sábio, mais do que dez poderosos que haja na cidade.
Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.
Tampouco apliques o teu coração a todas as palavras que se disserem, para que não venhas a ouvir o
teu servo amaldiçoar-te.
Porque o teu coração também já confessou que muitas vezes tu amaldiçoaste a outros.
Eclesiastes 7:19-22
A sabedoria fortalece o sábio, disso Salomão sabe, mas ele também sabe, por ser sábio, que não é sábio
o tempo inteiro. Que não é sábio inteiramente. Dentro dele tem um tolo, um tirano, um homem mau,
um injusto. Quem se aproxima de Deus vê isso na hora. Se não consegue ver maldade em você, pode ter
certeza, você tem miopia. Compre outros óculos, compre colírio para os seus olhos, para que veja (Ap
3:18). Não há um justo sequer, diz o pregador no verso 20, frase que Paulo usou em Romanos 3: 10. Por
isso, não dê tanta importância quando falarem coisas ruins sobre você, afinal, você também já
amaldiçoou outros; não tenha tanta raiva assim da corrupção no Brasil, afinal, você também é corrupto;
não fale mal da vida dos outros para tentar viver melhor a sua. É da natureza humana ser assim, errado.
Então vamos errar, certo? Não. Vamos colocar a nossa fé em quem pode nos mudar. E quando ele nos
mudar, vamos saber que não fomos nós que nos mudamos, que não foi a nossa sabedoria que nos
salvou, que Ele usou até a nossa impiedade pra nos trazer pra perto dele. Nesse dia, vamos trazer
muitos, que andavam nas trevas como nós um dia andamos, e levá-los para a LUZ!

Em 18/5/2015

SABEDORIA, FRUSTRAÇÃO E FEMINISMO


Tudo isto provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe de mim.
O que já sucedeu é remoto e profundíssimo; quem o achará?
Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para
conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura.
Eclesiastes 7:23-25
Vamos começar com os mais fáceis: sabedoria e frustração (hehehehe). Salomão começou o livro se
dizendo sábio, contando suas vitórias, taxando de vaidade tudo que se fazia debaixo do sol. O cara, o
pregador, o qohelet. Depois, viu que só a sabedoria, do jeito que ele estava buscando, não dava jeito pra
tudo na vida; na hora do perrengue, do aperto mesmo, viu que precisaria contar com algo mais que a
sabedoria. E agora? Agora vê que nem mesmo ele, o cara, o pregador, o playboy do Oriente Médio, tem
sabedoria de verdade. Viu que a sabedoria estava longe dele. O tempo, as frustrações em tentar
satisfazer seus desejos, a falta de respostas naturais pra tudo que existe, o sofrimento do justo e a “vida
boa” do injusto, as mulheres do seu harém, a grana, a velhice batendo à porta (junte harém com velhice
e falta de Viagra q vai entender melhor o perrengue dele) e, por fim, a morte... tudo isso fez o pregador
olhar pra trás e pensar: será que eu sou sábio mesmo? Não. Se fosse, teria resposta pra isso tudo e,
simplesmente, não tenho. A realidade é bem distante, e profunda, e inescrutável.

Se você acompanhou nem que sejam 3 estudos desses que tenho feito, uma coisa reparou: a frequente
frustração do pregador com alguma coisa. A cada grupo de 4 ou 5 versos ele se depara com alguma
coisa que é vaidade, ou loucura, ou sem sentido. Cada hora é uma nova frustração. Ora com a vida, ora
com os prazeres, ora com o dinheiro, ora consigo mesmo. E quanto mais o livro corre, mais ele vai vendo
seu limite.

O pregador chega a uma nova crise nesses versos, a crise de ver que não sabia discernir as coisas muito
bem. A sabedoria, que ele tanto buscou, estava longe. Deve ter se lembrado de algo que ele mesmo um
dia escreveu: “... com os humildes está a sabedoria” (Provérbios 11:2), e tentava se humilhar, pra ver se
entendia alguma coisa. Veja, não que ele não tivesse condições de analisar, de calcular, de ser perspicaz.
Isso ele tinha de sobra. O próprio livro de Eclesiastes é uma análise profunda. Outra que é clássica e
aparece até nos episódios de Chapolin (me amarro!) é o caso das duas prostitutas que brigavam por
uma criança e ele mandou que cortassem o guri no meio (dá uma olhada em 1 Rs 3: 16 a 28). Essa foi
irada! O problema não era esse. A questão era a sabedoria pra ele mesmo, pra sua própria vida; era essa
que fugia dele.

O que podemos fazer pra não cairmos no mesmo poço que o amigo Saloma caiu? Nos humilharmos
diante do Senhor Jesus. O evangelho é o Poder de Deus; não precisa da nossa ajuda. “Porque nada me
propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (...). Para que a vossa fé não se apoiasse
em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1 Coríntios 2: 2 e 5).

E eu achei uma coisa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coração são redes e laços, e cujas
mãos são ataduras; quem for bom diante de Deus escapará dela, mas o pecador virá a ser preso por ela.
Vedes aqui, isto achei, diz o pregador, conferindo uma coisa com a outra para achar a razão delas;
A qual ainda busca a minha alma, porém ainda não a achei; um homem entre mil achei eu, mas uma
mulher entre todas estas não achei.
Eclesiastes 7:26-28
(Antes, devo dizer que esta análise leva a generalizações; se você, mulher, não é assim, do jeito que vou
descrever, não invalida o que acontece em regra; use o que escrevo pra tentar se enxergar).
Vamos à parte escabrosa, àquela que as mulheres vão me excluir do facebook e me denunciar pro Mark
Zuckerberg. Salomão tinha mil mulheres. Isso mesmo; não eram 10, nem 50, nem 630. Eram mil,
camarada. Mais mulher que gente (huhauauha, zuação hein!). Convivendo com esse ser, reparou que
ele tinha um poder que os da classe dele não tinham, ou não como elas: o da manipulação. Um homem,
quando vai brigar ou resolver algo com outro, em geral, fala tudo na lata. Se for amigo, então, fala na
hora: “Po, teu cabelo tá igual um ninho de pombo hein (me dizem isso direto)”; “ Tá malhando só braço,
cara? Pq tu tá igual uma casquinha de sorvete, grande em cima e fininho embaixo”. Mulheres, em regra,
não. Se a amiga está com um cabelo meio barro/meio tijolo, tem que ter um jeitinho pra falar; a comida
dela, ainda que seja uma bosta, tem que comer e dizer que tá bom. Mas, vamos dizer que você, mulher
não é assim. Agora, seja honesta: quem é mais inteligente nas relações, o homem ou a mulher? Quem
enxerga melhor, quem seduz, quem pensa mais, quem questiona? A mulher, sem dúvida.
E elas sabem disso. Mulheres competem o tempo inteiro. E os homens, não? Claro que sim, mas a
competição masculina é mais franca, mais visível. Homens se vestem pra impressionar mulheres;
mulheres se vestem pra impressionar mulheres. Homens reparam no corpo das mulheres; mulheres
reparam no corpo das mulheres. Ele deseja a mulher; a mulher quer o que a outra tem, e se a outra não
tiver, melhor ainda, porque ela se sentirá mais segura.

E, diante desse quadro, o pregador, sinistro e garanhão, enxerga um tipo de mulher: a piriguete, versão
3.000 a.C. Ele diz que, quem cai nas mãos dela, amargará algo pior que a morte, pq a morte, pelo
menos, é um sofrimento só, mas viver com uma dessas é um sofrimento constante. Não é viver com
uma dessas; deixa eu me expressar melhor: o que ficar apaixonado por uma dessas. O que ficar de
quatro por uma dessas; e mulher, meu amigo, monta, domina, deixa o cara pensar que ele é quem está
dominando, quando não é. Mas não é assim com homem também? Menos. Bem menos. Homens não
tem essa malandragem toda, não a maioria. As mulheres treinam a vida relacional desde pequenas, e
ainda que haja homens sedutores e galinhas, pode escrever o q eu vou te falar: um dia ele vai cair nas
redes de uma mulher dessas, daquelas profissionais, e o cara vai se sentir um amador. Quando ele
menos esperar, vai ficar na rua da amargura, sem pai nem mãe.

E quem é a piriguete? Quer minha opinião? Você, mulher, que está lendo. “Que ofensa, quem é você,
muleque, pra falar comigo assim?!”. Calma! Entenda, não é que você faça isso... mas que tem potencial
pra fazer. Não precisa ser solteira. Você pode manipular seu marido, seu namorado, seus amigos, seus
pais... e você sabe que pode, deixa de hipocrisia. Mas, um dia, Deus, que é mais malandro que você, vai
fazer tudo vir à tona. Não há nada oculto que não venha a ser revelado (Marcos 4:22).
E você, mulher, que foi enganada e manipulada por outra, ou por uma que roubou seu marido ou está
levando seu filho pro buraco, não tente usar das mesmas armas pra lutar contra. Esse jogo é sujo, feio e
maligno. Se renda a Deus, em humildade. Ele vai te resolver. A vingança é dele, não sua.
Por isso, o pregador diz, pra finalizar (e as mulheres, dessa vez, me denunciarem à ONU): entre mil
homens, achei um que prestava; entre mil (talvez as mil dele, né), não achei nenhuma. Por que? Porque
homem é melhor que mulher? Não, ele já disse, versos antes, que não tem nenhum justo, nenhum
sequer. Nem ele, nem eu. Mas, entre as mulheres, nesse mundo caído, que aparentemente é dominado
por homens, elas mandam o tempo inteiro, se fazendo de vítimas. Mas, ele mesmo disse, a busca não
terminou. “Mulher virtuosa, quem a achará?”. Graças ao Senhor, Deus me deu a minha. Homem, peça a
sua ao Senhor. Mulher, seja uma.

Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.
Eclesiastes 7:29
Eu podia estar escrevendo muitas coisas... Mas fui querer inventar de escrever sobre esses assuntos
polêmicos. Fui em busca de intriga... Agora, vou ter que aguentar a rebordosa.

CAPÍTULO 8

Em 19/5/2015

MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM É OTÁRIO

Quem é como o sábio? E quem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem faz brilhar o seu
rosto, e a dureza do seu rosto se muda.
Eu digo: Observa o mandamento do rei, e isso em consideração ao juramento que fizeste a Deus.
Não te apresses a sair da presença dele, nem persistas em alguma coisa má, porque ele faz tudo o que
quer.
Porque a palavra do rei tem poder; e quem lhe dirá: Que fazes?
Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo
e o juízo.
Eclesiastes 8:1-5
Salomão retoma seu fôlego e louva a sabedoria. Afinal, ele nunca disse q ela não servia, mas sim q tinha
limites e que ele mesmo não era tão sábio quanto imaginava. A sabedoria que Deus dá faz brilhar o
rosto, ou seja, aproxima de Deus (como Moisés, em Êxodo 34: 35, e o próprio Jesus, em Mateus 17: 2).
Com o rosto brilhando, o pregador toma fôlego e dá outro ensino: manda quem pode, obedece quem
tem juízo. Em primeiro lugar porque, quem pode, que neste texto é o rei, pode porque Deus o colocou
lá (Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de
Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Romanos 13:1). Nunca gostei dessa ideia.
Ela sempre me pareceu incompleta. Há uma serie de governos que entraram de maneira abrupta no
poder, com frequência oprimindo boa parte da população e que, hoje, são as autoridades. Se olharmos
para os países da Ásia, especialmente do Oriente Médio, aí mesmo que é difícil acreditar que Deus os
colocou lá. Parece que obedecer é ser otário, manipulado, fraco, idiota.

Mas é o que a bíblia diz. Ela não diz q um governo tem q ser democrático para ser de Deus – nós, no
Brasil, estamos a pouco menos de 30 anos de um retorno à democracia e sempre, em todas as eleições,
vejo o povo votando e reclamando, votando e reclamando –nem que deva ser popular, ou totalmente
justo, segundo o meu conceito. Pra nos ajudar, pensemos em governos menores como o Reitor de uma
Universidade, a direção de uma escola, um professor em sala de aula, um pastor em uma pequena igreja
ou um pai dentro de casa. Independentemente se esses governos foram eleitos pela vontade do grupo
ou não, sempre haverá uma massa de insatisfeitos, q reclama e quer derrubar o governo vigente.
Sempre, sem exceção, pode pensar aí. Em alguns casos menos, outros mais, mas quando você tinha
entre 10 e 17 anos, quantas vezes pensou q tinha pais melhores que os seus, ou que você, quando fosse
pai ou mãe, faria de um jeito muito melhor? Ou quando não falou mal de um professor ou reclamou da
direção da faculdade? E não tem a ver com o Brasil só não. A Europa há bem poucos meses deflagrou
uma greve geral, em uma total insatisfação das pessoas com as autoridades.

Penso que há maneiras boas, lícitas e divinas de questionar um governo (quando digo governo não
estou falando só do estatal, mas de qualquer governo). Não sei qual em cada caso, mas com direção de
Deus e bom-senso, dá pra descobrir. É possível, na maioria dos casos, conversar com seus pais;
protocolar reclamações na universidade; colocar a verdade em uma reunião no trabalho, sem
constranger os presentes; se candidatar a vereador, prefeito, senador, nas próximas eleições; estudar
pra se tornar Juiz etc. E quando a autoridade não escutar, o que eu faço? Apesar de ser um pouco fora
de moda, ore. Ore mesmo. Aliás, Paulo diz pra orarmos pelas autoridades. Deus as colocou lá; Deus
pode tira-las de lá. Não vejo, pelo menos até agora, qualquer direção bíblica para nós, cristãos, nos
levantarmos em rebelião ensandecida contra as injustiças; há muitas maneiras de se levantar contra as
injustiças sem cometer outras injustiças. Para nós, os fins não justificam os meios. Se cremos mesmo, de
verdade, que Deus colocou lá as pessoas que estão em autoridade, então temos de crer que Ele nos
ouve e pode as tirar de lá.

Com frequência, depois que nós somos as autoridades, as coisas mudam de figura. Ou você acha que o
político ladrão veio de Marte, onde tudo lá é corrupto? Ele veio do povo, igual a mim e a você. Você
entende o que é estar nesta posição de destaque quando se torna pai/ mãe, diretor de escola, professor
em sala de aula, síndico do condomínio, guarda de trânsito, Juiz, pastor, vereador etc, e a expectativa de
todos é que você resolva todos os problemas, de todo o mundo, de maneira rápida, eficiente e, de
preferência, do jeito que cada um quer.

Portanto, respeite o rei; ele faz o que quer. Não seja irreverente na presença dele, guarde os
mandamentos que ele te der. Obedeça. E se ele for injusto, ore. E seja misericordioso. Um dia, o rei
pode ser você.

Em 20/5/2015

QUANDO A DESOBEDIÊNCIA É OBEDIÊNCIA


Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo
e o juízo.
Eclesiastes 8:5
Apesar de ter falado sobre o verso 5 anteriormente, é necessário repeti-lo. A ideia que está nele fecha o
que veio antes (versos 1 a 4) e inicia o que vem depois (versos 6 a 8).
Relembrando o que já vimos, é interessante, é sábio e é agradável diante de Deus obedecer ao rei, a
quem está no comando de alguma coisa. Não porque quem esteja no comando seja infalível, mas
porque Deus o colocou ali. Há espaço para questionamentos, até sérios (desde que com respeito), mas
há uma verticalidade que Deus se agrada em ver mantida. Se rebelar contra a ordem vigente e derruba-
la de qualquer maneira é abrir espaço para, em pouco tempo, ser derrubado pelos próximos rebeldes.
Sei que o assunto é longo e complexo, mas as diretrizes básicas estão aí.

O verso 5 é interessante. Diz que quem guardar os mandamentos não sofrerá mal algum; ou, em outra
tradução, quem obedecer às ordens do rei não sofrerá mal algum. A ideia é a mesma, mas em cada uma
há um foco. Na primeira, “mandamentos” parece meio genérico, como vindo de Deus, e na segunda são
as ordens diretas do rei, da pessoa investida em autoridade. Ainda que as duas ordens (a de Deus e a da
pessoa investida em autoridade) não sejam a mesma coisa, uma decorre da outra. O que está em
autoridade está sob a ordem d’Ele, por isso, obedecer à autoridade é obedecer ao próprio Deus;
desobedecer à autoridade, por consequência, é desobedecer a Deus.

Mas é assim mesmo? Sim, é. “Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando
contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos. Pois os
governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo
da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá” (Romanos 13: 2,3).

Mas e nas situações injustas? E quando a autoridade me manda fazer algo que Deus proíbe ou proíbe o
que Deus manda? Neste caso, vemos os próprios apóstolos e Jesus “desobedecendo”. O evangelho está
acima das autoridades que Deus instituiu. Um exemplo é a proibição de pregar o evangelho: “Então [o
Sinédrio, autoridade religiosa da época], chamando-os novamente, ordenaram-lhes que não falassem
nem ensinassem em nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: “Julguem os senhores mesmos se
é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus”. Pois não podemos deixar de falar do
que vimos e ouvimos" (Atos 4: 18-20).

Fora casos como esses, são raras as hipóteses de desobedecermos uma autoridade em condições
normais. Podemos pensar em casos esdrúxulos – como um governo que manda eu matar meu filho
porque passei a taxa de natalidade – mas seria um exercício mental inútil aqui, pra nós brasileiros.
Talvez pensando nas vezes em que a autoridade ficar insana, louca, Salomão diz no final do verso que
“...o coração sábio saberá a hora e a maneira certa de agir”, mas isso é exceção à regra de todo o
argumento que ele construiu. Aliás, só tem exceção porque há regra.
A verdade é que, quando somos guiados pelo Espírito Santo, raramente entramos em embate direto
com as autoridades constituídas. Não podemos tentar usar a vida dos apóstolos e de Jesus, que foram
contra ordens satânicas específicas das autoridades da época, para nos rebelar pelo nosso simples
prazer de sermos contra algo. O clima de revolta destrói; raramente constrói algo. Jesus, os apóstolos,
Lutero, Calvino, Boff e outros, não estavam tentando destituir a ordem constituída, mas apenas
escutaram Deus e obedeceram à Sua Palavra. Repare, eles foram os perseguidos, não os
perseguidores!!! Quando a igreja de Jesus se torna a perseguidora, a rebelde, ela se demoniza. Não
somos contra a igreja católica, ou contra o governador, ou o presidente, ou o professor, ou o chefe. Se
nossa vida, em Deus, incomodar outros, não será de caso pensado. Estamos apenas vivendo o
Evangelho.

Em 21/5/2015
SABER A HORA DE FALAR E A HORA DE FICAR CALADO. E RESPEITAR PARA SER RESPEITADO (O
PENSADOR, GABRIEL).
Porque para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.
Porque não sabe o que há de suceder, e quando há de ser, quem lho dará a entender?
Eclesiastes 8:6,7
A hora certa e a maneira certa de agir. De novo... por todo o livro. Tudo bem, é poesia hebraica, que
repete a mesma coisa 200 vezes, mas Deus fala por poesia também. Pra nós, desse tempo corrido, toda
hora é hora e a maneira certa é “qualquer maneira”. Como ter tranquilidade pra saber o que fazer e,
sabendo o que, como fazer? E sabendo como, quando fazer? Ou quando não fazer? Acho isso muito,
muito difícil. Por que eu acho? Porque o sofrimento pesa sobre mim, e quando pesa, quero me ver livre
depressa. Eu busco conforto o tempo inteiro, não desconforto. Se me coloco em um desconforto é pra
ter algo melhor mais à frente, que me trará conforto. Quem malha, luta, corre, pedala experimenta
bastante desconforto. Nem precisa ser atleta de alto rendimento pra passar por isso. No nível amador já
se experimentam dores, stress, nervosismo na competição, problemas nas articulações. Mas pra que
isso? Pra um conforto depois. Não precisa ser conforto físico. Pode ser o conforto de saber que é bom,
de ser reconhecido, de ultrapassar seus próprios limites. Conforto da alma.

Mas há uma maneira certa e uma hora certa pra agir. Falando de luta, pelo menos no jiu jitsu, é fácil
perceber isso. Você pode ficar um tempo sendo amassado, tendo um cara pesando em você,
arranhando sua cara, mas se estiver numa posição boa, é só esperar a hora certa, a hora do vacilo, do
descuido dele, e fazer o movimento da maneira certa. Agora, se for de qualquer maneira e em qualquer
hora, pode até ser q dê certo, mas vai ser na sorte. A chance de dar errado é mil vezes maior, e você
ainda vai ter sinalizado pra ele o seu golpe, o q vai facilitar muito na hora dele defender.
Na vida também é assim. A palavra certa, na hora certa, é totalmente diferente da mesma palavra na
hora errada. Soam opostas. Dizer uma coisa de forma branda, sutil, é totalmente diferente de dizer de
maneira dura e áspera - e eu não estou dizendo que ser sutil é sempre bom e ser áspero é sempre ruim;
sei que na maioria das vezes é, mas nem sempre; pense nas vezes que Jesus foi duro, seco, áspero q vc
vai entender.

Tá pesando o sofrimento? Não haja de qualquer maneira. Não faça de cabeça quente. Não responda a
primeira coisa q vier na lata. Pode te custar um emprego, uma amizade, um favor do rei. Da mesma
forma, nunca fazer nada, esperar demais, deixar o ponto passar, também pode te custar muita coisa.
Talvez a vaga na faculdade, ou o concurso que você quer, ou o amor do seu filho, ou o ministério no qual
Deus quer q vc o sirva.

Não sabemos o que vem no futuro, Deus não nos deu esse mole. É confiar nele e ponto. Se ele te disser
pra fazer de uma maneira, faça, ainda que você não goste e não pareça ter muito sentido na hora. Não é
fácil pra mim, não é fácil pra você, não é fácil pra ninguém, mas Ele está conosco.
Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem tampouco tem ele poder
sobre o dia da morte; como também não há licença nesta peleja; nem tampouco a impiedade livrará aos
ímpios.
Eclesiastes 8:8
Ninguém tem poder sobre o espírito pra o reter, ou seja, pra mantê-lo grudado no corpo. O dia que
Deus chamar, seu espírito vai e seu corpo fica. Nessa luta não tem armas. O dia da morte serve para nós,
os vivos. É para entendermos que viver aqui não é brincadeira, ainda que possamos e devamos brincar
bastante. Nem a maldade livra aqueles que a praticam; um dia ela se volta contra eles de uma maneira
que eles não podem aguentar.

O seu cronômetro e o meu está correndo, e não sabemos quanto falta. Vamos viver sabiamente. Amém.

Em 22/5/2015

A SOLIDÃO DO DOMÍNIO
Tudo isto vi quando apliquei o meu coração a toda a obra que se faz debaixo do sol; tempo há em que
um homem tem domínio sobre outro homem, para desgraça sua.
Eclesiastes 8:9
Quem é comandado frequentemente reclama. Mas e quem comanda? Depois de dar uma série de
conselhos sobre como servir ao rei, o pregador diz: “Há ocasiões em que um homem domina sobre
outros para a sua própria infelicidade”. O quê? Tá brincando? Quem é dominado é infeliz; quem domina
é feliz. Será?

Salomão sabia bem o que era dominar sobre muita gente. Um dos reinos mais famosos e, talvez, o mais
rico da época, estava nas mãos dele. Poderia fazer o que quisesse, quando quisesse e com quem
quisesse. Poderia se dar ao luxo de viajar por lugares do mundo sem ficar preocupado com a conta
bancária. Pessoas de outros povos – como o famoso caso da Rainha de Sabá – vinham procura-lo apenas
para escutar sua sabedoria. Ele era um misto de monarca e pensador, nerd e pegador, playboy e
coaching.

E que raio de infelicidade é essa que quem domina sente? Posso listar algumas aqui. O exercício de
domínio te faz cair na real sobre muitas coisas. Você não se sente uma pessoa melhor só por dominar;
as pessoas não te amam, necessariamente, mas têm medo de você; se não têm medo, têm inveja, ou
raiva. Se você domina, muitos se aproximarão com interesses que não são sobre você mas sobre o que
você pode dar. E, o pior de todos: você sente que, a qualquer momento, pode perder o domínio e não
restar mais nada na vida para se garantir, se abraçar.

Jesus sabia disso. Aliás. Pausa.

[Pensa, divaga comigo: Deus vendo o céu, as estrelas, o mundo, os animais, os planetas. Vendo a si
mesmo, na trindade. De repente, cria um ser diferente, que é alma e espírito, como os anjos, mas tem
matéria, corpo, como os animais; mas não é nem anjo, nem animal, nem deus. É gente. Uma classe nova
de ser. No fim de cada tarde Ele vem conversar com essa gente, um casal, de um jeito especial que
nunca havia feito na história da criação. Dá a este ser a possibilidade de ter uma vontade diversa da
d’Ele, que sempre foi soberana. Aliás, Ele já havia dado essa possibilidade antes, aos anjos, mas os
condenou sumariamente por isso. Então, essa gente aderiu à rebelião angelical, pensando poder ser
igual a Deus. E o que Deus fez? Após dizer a sentença – morte – começou uma história milenar para
salvar a humanidade. A gente. Mais que isso, deixou seu maior tesouro sofrer horrores nas mãos do
homem, apenas para salvá-lo. Por que? Bom, não sei porque. Talvez porque apenas dominar sobre
outros é infelicidade. Felicidade é viver junto, é conviver. “Então Deus era infeliz? Era solitário?” Você
que tá dizendo... eu só estou divagando].

Play. Jesus sabia disso. Sabia bem. Em uma das passagens mais bonitas de todo o Evangelho, na minha
opinião, ele diz o seguinte: “Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre
elas são chamados benfeitores. Mas, vocês não serão assim. Pelo contrário, o maior entre vocês deverá
ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa,
ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve” (Lucas 22:25-
27). Nosso Senhor, que é rei sobre tudo, sabia que dominar era parte central dos atributos de Deus, e
dele inclusive, como Deus que era. Mas Ele revelou algo que Deus escondeu ou foi muito sutil no Velho
Testamento: o de que Ele, mesmo sendo grande, soberano, dominador... quer ser amado. Amado por
nós. Nós, aquele ser que Ele vinha conversar no jardim, no cair da tarde. Esse Deus ama. Esse Deus
serve. Esse Deus, que está na mesa, sai da mesa e NOS serve. Esse é um caminho sobremodo excelente,
que só conhece quem vive.

Agora volta pra Salomão, olha pra ele, e com essa revelação, constate: quem só domina sobre os outros,
como vive? Infeliz. Quem ama e é amado por seus amigos, súditos, filhos, empregados, esse é feliz.

Assim também vi os ímpios, quando os sepultavam; e eles entravam, e saíam do lugar santo; e foram
esquecidos na cidade, em que assim fizeram; também isso é vaidade.
Eclesiastes 8:10
Quem só domina sobre os demais, inevitavelmente, tem medo da sepultura. Tem medo da morte. Na
revelação parcial que Salomão tinha – a nossa também é, mas ele não sabia o que acabei de escrever
sobre Jesus, o homem Deus – sua constatação sobre o valor da vida terminava no cemitério. Sua vida
era uma busca por enganar o relógio, experimentando tudo que pudesse experimentar, dos prazeres da
mente aos prazeres do corpo, pra ver se conseguia se sentir vivo de verdade.

Talvez você esteja lendo e não se dê conta de que você também domina. Você pode ser alguém famoso
(atriz, músico renomado, jogador de futebol, lutador de MMA), ou poderoso (político, presidente de
uma grande empresa), ou importante (pastor de uma grande igreja, líder de um movimento sindical,
embaixador da ONU)... ou pode ser pai/mãe, com filhos, ou um mero estudante de ensino médio. Se
você só dominar sobre os demais, sejam poucos ou muitos, seja pelo poder político e econômico, seja
pela influência do seu carisma, serás infeliz. Sua vida será um contar regressivo até o cemitério.

Quer não ter medo ou neura da morte? Venha para a vida. Eterna. Conheça o Pai. Conheça o Filho, que
Ele enviou. Se abra ao Espírito, não endureça seu coração quando ele bater em sua porta, como está
fazendo agora. Aí, você vai saber o que é amar de verdade. Vem pra minha família. Vem, enquanto dá
tempo.

Em 17/06/2015

A JUSTIÇA E OS JUSTICEIROS. OS FELIZES E OS INFELIZES.


Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está
inteiramente disposto para fazer o mal.
Eclesiastes 8:11
Quando há muita injustiça, o coração das pessoas trama o mal. Quando os crimes não são castigados o
sentimento de impunidade dá uma irritada nas pessoas, que se mistura com uma sede de vingança que
quase sempre não termina bem. Temos vários casos como esses em 2014 e 2015 no Brasil,
especialmente no Rio de Janeiro. Lembro-me de um menor de idade que foi preso, pelo pescoço, a um
poste com uma tranca de bicicleta após ser pego roubando, no bairro do Flamengo; em Teresina, no
Piauí, um ladrão foi deixado em cima de um formigueiro, também amarrado, depois de ter tentado
assaltar uma casa. O caso mais chocante foi o de uma moradora do Guarujá, São Paulo, de 33 anos, que
agredida por moradores, morreu por causa dos ferimentos, depois de ser confundida com um retrato
falado e uma foto de uma suposta sequestradora de crianças; soube-se, depois, que o retrato falado era
de 2012 (dois anos antes) e que a fotografia era uma brincadeira de um site. Morreu por engano.
Morreu por raiva. Morreu pelo ódio dos que tem medo.

Quem tem muita raiva, na verdade, tem muito medo. O medo leva as pessoas a cometerem atos
escabrosos. Por isso que fazer justiça é diferente de ser justiceiro. O que faz justiça julga segundo
padrões elevados, recolhe o maior número de provas possível, pergunta, inquire testemunhas etc. Dá
muito mais trabalho, mas tem que ser assim. O único que pode executar juízos sumários é quem
conhece todas as coisas e todas as circunstâncias possíveis e imagináveis, que é Deus. Nós, limitados,
instituímos juízes para trazer a espada, que não vem sem motivo. “Você quer viver livre do medo da
autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá”. Romanos 13:3.

Mas e quando o juízo sobre os que praticam o mal não vem? Recentemente, um médico, andando pela
Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, foi esfaqueado por um menor de 16 anos, o que trouxe indignação nos
moradores, comoção nos jornais etc. A classe média ficou em polvorosa. Afinal é um absurdo – e é
mesmo, não estou sendo irônico. Mas, não vejo a mesma indignação quando um menor é baleado na
cabeça nas favelas do Rio.

Percebe como temos juízos seletivos? Como nossa “justiça” não é justa? Como nossas opiniões rápidas
não trazem o bem? A ira do homem não traz a justiça de Deus (Tiago 1: 20). Não traz. Resta-nos sermos
justos, praticarmos o bem, o que é bem diferente de sermos justiceiros, tentando vingar-nos do “mal”
que está lá fora, que não sou eu. E orarmos, para que Deus faça Justiça – com J maiúsculo – na terra, na
nossa terra. Se orarmos e vivermos com dignidade, olhando primeiro para os nossos crimes antes dos
crimes alheios, Deus vai sarar a nossa terra. De outro modo, estamos ferrados.
Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, contudo eu sei com certeza que
bem sucede aos que temem a Deus, aos que temem diante dele.
Porém o ímpio não irá bem, e ele não prolongará os seus dias, que são como a sombra; porque ele não
teme diante de Deus.
Eclesiastes 8:12,13
Parece, no início, que o ímpio está se dando bem e o justo se dando mal. Parece que quem é corrupto é
feliz e quem trabalha honestamente, infeliz. Mas pode ficar tranquilo: só parece. Um dinheiro ganho
com fontes desonestas traz tantos problemas, tantos estresses, tanta falta de paz ao seu possuidor que
se ele não tivesse esse dinheiro, seria mais feliz. Faz um teste: converse com pessoas que já ganharam
dinheiro enganando, subornando, e vê se não é assim. Mas converse com alguém que já esteja fazendo
isso há um tempo e que seja honesto na avaliação – honesto ao menos pra reconhecer isso.
Quem mostra respeito diante de Deus e dos homens, vive feliz. Muito mais feliz do que qualquer político
corrupto com 2 casas em Miami, 3 iates e uma conta na Suíça. Quem ama sua esposa vive mais feliz do
que o cara que a cada fim de semana pega uma diferente. Quem educa seus filhos no temor do Senhor
tem muito mais frutos dos que o colocam pra assistir TV o dia inteiro ou delegam sua paternidade pros
parentes, vizinhos e empregados. Sabe aquele papo de que “dinheiro não traz felicidade”? É verdade.
Não traz mesmo.

Quem ama a Deus e anda em seus caminhos, é abençoado. Tem dinheiro sim, tem prazer, tem família,
tem filhos, tem vida. E quem só tem dinheiro e busca prazer... só tem dinheiro e prazer. E depois, só
dinheiro, porque o prazer vai embora. E, um dia, nem dinheiro mais, porque ele é traiçoeiro. E ainda que
viva a vida toda com dinheiro, não terá mais prazer. E quando morrer, nem dinheiro vai adiantar, porque
esse não pode comprar as coisas que vêm depois desta vida.
Para os ímpios, nada irá bem, porque os seus dias, como sombra, serão poucos. E os justos? Terão e já
experimentam a vida eterna. E que é a vida eterna? É a que vem após a morte? Não. Jesus respondeu:
“Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” João
17:3.

Em 18/06/2015

A MONTANHA RUSSA DOS SENTIMENTOS NOSSOS DE CADA DIA


Ainda há outra vaidade que se faz sobre a terra: que há justos a quem sucede segundo as obras dos
ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade.
Eclesiastes 8:14
Saloma acabou de dizer que os dias do ímpio serão poucos, que as coisas serão melhores para os que
temem a Deus, que a vida do ímpio parece boa em um primeiro momento mas vai à ruína logo depois,
que a vida dos que mostram respeito diante de Deus será melhor... E agora me sai com essa de que “o
ímpio recebe o que o justo merece e o justo recebe o que ímpio merece”. Aff, quem não merece essa
oscilação de pensamentos sou eu, que tenho de ficar tentando decifrar a mente desse maluco!
Porém, logo passa minha breve irritação, por um simples motivo: meus olhos e pensamentos também
oscilam assim. Lembre-se, Eclesiastes é o livro da perspectiva humana sobre a vida. Não é assim que
nossa vida é? Uma hora temos certeza de quem Deus é, das coisas que Ele faz, de que vale a pena servi-
lo, de que o ímpio vai de mal a pior, e que a vitória é minha e tem sabor de mel (heheheh)! Aí, aquele
seu amigo que vive “colando” passa de ano e você fica em dependência. Aquele emprego que você orou
pra ter é ocupado por um conhecido do gerente. A promoção que você merece foi dada à garota que
“pega” o chefe... Pronto, lá se foi a vitória e o sabor é de fel…

Essas coisas acontecem? Direto. Muito. Elas servem a um monte de propósitos, mas não quero lista-los
agora. A única coisa que quero que tenhamos clareza é a de que não vamos vencer sempre. Deus não
quer isso. Houve um cara, pregador apaixonado, que entregou sua vida à pregação do arrependimento;
falou sem medo, colocou o dedo na cara dos poderosos políticos e religiosos, disse que tava chegando o
Vingador (tipo o de “Caverna do Dragão”, mas do “bonzinho”), que ia recolher o trigo no celeiro e
queimar a palha em fogo inextinguível... e sabe o que aconteceu? Ele foi primeiro-ministro do governo
do Vingador! Errado. Foi só preso mesmo. Da cadeia, prestes a ser decapitado, mandou uma pergunta
pro chefe: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Mateus 11:3). O chefe
respondeu: "Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os mancos
andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são
pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa" (Mateus 11:4-6).

Somos vitoriosos, independentemente do resultado. Vitória é uma questão de a quem você pertence e
não o que você conquista. Eu quero e ainda tenho muitas coisas pra conquistar, de verdade, mas a
maior vitória foi conquistada por mim, e que nessa seja depositada a minha, a sua alegria.

Então louvei eu a alegria, porquanto para o homem nada há melhor debaixo do sol do que comer, beber
e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo
do sol.
Aplicando eu o meu coração a conhecer a sabedoria, e a ver o trabalho que há sobre a terra (que nem de
dia nem de noite vê o homem sono nos seus olhos);
Então vi toda a obra de Deus, que o homem não pode perceber, a obra que se faz debaixo do sol; por
mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a achará; e, ainda que diga o sábio que a conhece,
nem por isso a poderá compreender.
Eclesiastes 8:15-17
Como não há sentido nessa vida, comamos e bebamos que amanhã morreremos! Bota o samba
comendo solto, que hoje eu quero me acabar! Comer, beber e se alegrar é a melhor coisa que alguém
pode fazer da vida, afinal, uma hora tudo acaba mesmo, né?! Trabalhamos tanto pra quê? Que pelo
menos, em alguns instantes, a gente se divirta, tome umas birita, coma um churrasco e tá bom. Esses
serão meus companheiros: um copo de cerveja, uma picanha na brasa e os amigos em volta.
Esse foi o verso 15. Nos versos 16 e 17 Salomão, de novo, cai na real, pela milésima vez no livro, e
percebe que sua sabedoria é nada diante do que Deus faz, diante dos mistérios do Altíssimo. De tanto
tentar descobrir o sentido das coisas e não conseguir, se rende ao que o mais simples e incauto dos
homens faz pra se distrair, que é comer, beber e festejar. Pra quê tanto trabalho, tanto esforço, tanto
acordar cedo e dormir tarde se, um dia, eu vou morrer?
Entendo bem o que o pregador sentiu. Essa foi a pergunta da minha conversão, com 13 anos de idade. A
angústia de não conseguir encontrar respostas pra coisas do tipo “pra que raios eu estou aqui?”, “pra
que estudar se um dia eu vou morrer?” e outras indagações de gente “doente”, me levaram ao limite. E,
um dia, eu fiz um teste. Pedi, escondido no meu quarto, que “...se você existir, Deus, tira essa angústia
de mim”, e Ele tirou. Achei ser coisa da minha cabeça, auto-sugestão. Na semana seguinte a angústia
voltou, e novamente eu pedi. Na terceira semana, sempre sendo atendido, comecei a me render.
Renda-se você também.

Viver por viver é uma canseira sem fim. É um teatro em que você busca aplausos o tempo inteiro, para
ter alguns segundos de felicidade naquele momento de sucesso e, logo em seguida, cair em um poço de
depressão e non sense. E na próxima apresentação da vida, você TEM que estar bem, bonito(a) e
confiante, afinal a plateia merece um bom show! Saia desse palco. Pare de atuar. Se você está cego,
passe a ver; se está manco, passe a andar; se está surdo, escute o que estou te dizendo! Será, então,
pela primeira vez, feliz de verdade.

Em 19/06/2015

CAPÍTULO 9

COMAMOS E BEBAMOS QUE AMANHÃ VIVEREMOS


Deveras todas estas coisas considerei no meu coração, para declarar tudo isto: que os justos, e os sábios,
e as suas obras, estão nas mãos de Deus, e também o homem não conhece nem o amor nem o ódio;
tudo passa perante ele.
Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao
impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura
como ao que teme o juramento.
Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o
coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto
vivem, e depois se vão aos mortos.
Ora, para aquele que está entre os vivos há esperança (porque melhor é o cão vivo do que o leão morto).
Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco
terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento.
Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre,
em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.
Eclesiastes 9:1-6

Muitas linhas dedicadas a inquirir o significado das coisas foram gastas pelo pregador. Aos poucos, em
um crescendo, suas ideias são retomadas e ampliadas. Justos e injustos, puros e impuros, tolos e sábios,
todos estão na mão de Deus e têm um destino comum: a morte. Não apenas morte, mas o que sucede
ao justo sucede ao injusto. A chuva que inunda a casa do tolo inunda a do sábio também. A doença que
acomete o injusto vem também sobre o justo. Ninguém sabe o que os espera, se amor ou ódio. O
homem pode encher seu coração de maldade, mas seu fim será o sheol.

Quem está vivo, ainda tem esperança, pois quem está morto não espera nada. Para estes, amor ou ódio,
escassez ou fartura, nada mais faz qualquer sentido. Não têm mais acesso a este mundo.
Nós, cristãos, falamos muito da vida após a morte. A recompensa de encontrar o Senhor cara a cara é
muito forte para nós. Mas Salomão não era cristão; era israelita, da tribo de Judá. Sua visão acerca das
coisas pós-vida era muitíssimo limitada. Vamos fazer o exercício de pensar segundo as limitações que
tinham os que viviam essa época, com essa porção da revelação de Deus.

Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada
das tuas obras.
Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.
Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol,
todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste
debaixo do sol.
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu
vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.
Eclesiastes 9:7-10
Salomão já disse, em vários trechos anteriores, o que sucede ao ímpio, como ele se coloca em situações
de escárnio e que seu fim sempre é triste, solitário e miserável. Deixando o ímpio de lado, agora, tendo
refletido sobre a brevidade da vida e do fim inevitável que espera a todos nós, o pregador dá um
conselho: viva! Viva de verdade! Goze os dias, os poucos dias dessa vida sem sentido que vivemos aqui.
Coma com prazer a sua comida, beba com prazer o seu vinho, esteja sempre com vestido de festa e com
a cabeça cheia de óleo; desfrute a vida com a mulher da sua mocidade, a mulher que você ama (ou o
homem, caso você seja mulher), em todos os poucos dias sem sentido que Deus lhe dá. Por quê? Porque
esta é a sua recompensa na vida pelo árduo trabalho que realizou debaixo do sol.
Três coisas gritam nesta parte do texto.

A primeira delas é a ordem: com prazer, comer a comida; com prazer, beber a bebida; ter prazer para
passar os dias com mulher da sua mocidade. É sutil, mas Salomão está dizendo que você deve comer,
beber e fazer qualquer outra coisa já com prazer no coração, e não esperar comer e beber para ter
prazer. A gratidão por estar vivo e poder comer, beber, se alegrar, já é motivo de prazer. O prazer está
no estar vivo e não em fazer essas coisas. Quem come para ter prazer, bebe para se alegrar ou arranja
uma namorada pra suprir sua carência, nunca fica satisfeito. A satisfação é algo que antecede a estas
coisas.

A segunda é o motivo da celebração. Comer, beber, namorar e festejar, por quê? Porque Deus se
agradou do que você fez (verso 7). Deus se agradou do que você fez! Por isso faz sentido comer, beber,
rir até faltar ar nos pulmões... porque Deus se agrada de você. Quando Deus se orgulha de você, e você
sente isso, todas as coisas fazem sentido.
Em terceiro e último lugar, viva estas coisas boas sabendo que esta é a única recompensa que a vida
pode te dar. Não vá achando que é muito mais do que isso porque não é. Corremos de um lado para o
outro pensando que as comidas mais refinadas, as bebidas mais exclusivas e o prazer da melhor
companhia são uma parte do que esta vida pode oferecer. Pior que não é. Isso é tudo que esta vida
pode oferecer. Salomão não maquia a realidade. Ele sabe o que o trabalho árduo pode trazer... e só traz,
no fim, cansaço. Mas, se você se agradar de Deus e Deus de você, essas coisas terão gosto, cor e será
maravilhoso vivê-las. Mas não aumente o que a vida pode te dar. É só isso mesmo.

A verdade é que só aproveita tais prazeres quem, antes, se farta da presença de Deus. Ele é o maior
prazer que alguém pode ter. A partir daí, com prazer nele, tudo o mais passa a ter sentido, mesmo nessa
vida sem sentido. Comemos, bebemos, passamos os dias com a pessoa amada, sabendo que isso é o
início de uma vida inteira de descobertas, seja aqui, seja além. Na carne ou no espírito.

Em 22/06/2015

QUEM RI POR ÚLTIMO?


Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a batalha, nem tampouco
dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas
que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos.
Eclesiastes 9:11
Pela lógica salomônica – e acho que também pela nossa lógica – o mais forte tem que vencer a luta, o
mais veloz tem que vencer a corrida, o instruído e inteligente tem que passar no vestibular e o mais rico
tem que conseguir a garota que quiser - com o perdão do viés machista, mas isso acontece até hoje.
Mas Salomão diz que nem sempre. Nem sempre o veloz vence, o melhor atleta ganha, o mais inteligente
é honrado e o mais rico consegue a garota que quer (na verdade, a garota que justamente não liga para
a riqueza dele é a que ele irá se apaixonar – pronto, me redimi do machismo!).

E é isso mesmo que acontece. A primeira vez que competi de faixa roxa, no jiu jitsu, éramos só eu e mais
dois. Um faltou e o outro desceu de categoria, pra tentar algo com o pessoal mais leve (meu peso é
mosquito sem asa: 70kg com o kimono, e eu não passava de 66,5kg). Por causa disso fizemos duas lutas.
A primeira eu tentei um triângulo voador (golpe que me sinto mais à vontade) e o cara defendeu como
se estivesse tomando água de coco na praia. Depois, passou minha guarda e colocou o “100 kilos”.

Acabou a luta e eu perdi. Quase fui tentar convencer a arbitragem que não precisava de mais uma luta,
mas estava tão sem ar que não conseguia falar. Na segunda luta, lá vem o monstro pra cima de mim. Só
me lembro de ele tentar passar minha guarda, não conseguir, eu colocando a meia-guarda, raspando e
ainda passando. Resumo: ganhei a luta. Na verdade, ganhei a competição, porque ele ganhou de mim a
semifinal e eu ganhei dele a final. Do lado de fora eu ouvia minha academia e minha sogra gritando feito
malucos “em nome de Jesus” e depois me confessando que pediram pro cara perder as forças. Foi o que
aconteceu. Ele perdeu as forças e eu venci.
Isso é justo? Não, não é justo. Justo seria ele vencer. Justo seria, sempre, o mais inteligente pegar a
vaga. O mais bonito ser mais feliz no casamento. A mais cobiçada do colégio ter o cara mais bonito e
legal. O melhor músico ganhar o reality show. Isso acontece, mas nem sempre. Por quê? Porque o
tempo e o acaso afetam a todos. Isso não tem exceção: o acaso e o tempo afetam a todos. Um dia você
é o cara, amanhã você não é ninguém. Hoje você pensa que não tem a menor chance, mas quando vai
pra entrevista do emprego, incrivelmente, a vaga é sua.

… que também o homem não sabe o seu tempo; assim como os peixes que se pescam com a rede
maligna, e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enlaçam também os filhos dos
homens no mau tempo, quando cai de repente sobre eles.
Eclesiastes 9:12
E, além disso, ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, ninguém sabe quanto tempo resta. Assim
como os peixes estão nadando numa boa no rio e a rede os pega, ou como o passarinho que está
voando serelepe pelo bosque e o laço o apanha, assim é a vida. De uma hora pra outra tudo muda, e o
que você tinha não tem mais, ou que você não tinha, agora tem.

Deus é o maior piadista da história. Ninguém ri melhor do que Ele, porque Ele ri por último. A que eu me
lembro, que foi mais legal, foi quando ele foi pego pelos seus inimigos, levado a um tribunal, julgado de
maneira ilegal, entregue a um governador romano, açoitado pelos soldados, cuspido pelo povo e
crucificado diante de homens, anjos e demônios. Ali, camarada, acabou tudo. Tudo! Já era; pra tudo
tinha jeito, menos pra morte. O líder do movimento, o cara que fez de multiplicação de pão a discurso
filosófico, de fazer andar o paralítico a se transfigurar em um monte, estava morto. Os discípulos, com
um medo terrível, foram se esconder. Pedro voltou a pescar, afinal, tinha que voltar à realidade, tinha
que colocar comida na mesa e não viver aquele mundo cor de rosa que o nazareno pregava.

A morte sorriu pra Jesus. E por três dias sorriu pra mim. E talvez esteja sorrindo pra você agora. Mas ao
terceiro dia, o impossível acontece: Jesus ressurge dos mortos! E o poder que ele tem está disponível
pra você, se crer n’Ele. Venha rir por último junto comigo. Abra mão de ter de conquistar tudo por você
mesmo e seja conquistado por esse amor, essa força, esse poder. Hoje pode ser a sua última
oportunidade.

Em 23/06/2015

O GRITO DOS LOUCOS E O SUSSURRO DOS SÁBIOS


Também vi esta sabedoria debaixo do sol, que para mim foi grande:
Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens, e veio contra ela um grande rei, e a cercou e
levantou contra ela grandes baluartes;
E encontrou-se nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria, e ninguém se
lembrava daquele pobre homem.
Eclesiastes 9:13-15
Parece que o pregador, enquanto fala, se depara com situações imaginárias. É como se fosse um
observador de várias telas de cinema, dispostas à sua frente, uma ao lado da outra, e nelas estão
passando cenas diversas do cotidiano. Ele vê e descreve o que vê; depois que termina de descrever,
passa para a próxima tela e inicia uma nova descrição. A cada cena algo o impressiona, o chama a
atenção.

A cena que Salomão agora vê é a de uma cidade cercada pelos inimigos. No mundo antigo os reinos
eram formados por cidades, às vezes distantes umas das outras por um vasto campo inabitado. Quando
uma nação inimiga chegava raramente tentava conquistar todo o reino, mas ia sitiando as cidades, ou
seja, colocava seu exército cercando os muros citadinos até que a população, do lado de dentro,
morresse de fome, sede ou se rendesse antes pelo medo. A cidade que Salomão imagina é pequena,
tem poucos habitantes, e o rei que vem contra ela é poderoso; ele a cerca com seus dispositivos de
guerra (baluartes) e espera o momento de atacar.

De repente, um sábio, já velho, livra a cidade com sua sabedoria. Porém, ninguém dá valor a isso. Como
se nada tivesse acontecido, como se aquele dia de pavor nunca tivesse ocorrido, os cidadãos voltam a
viver suas vidas e nem ao menos agradecem ao sábio.

Nossa vida é uma cidade pequena. Os inimigos são muitos e poderosos. O dinheiro, as seduções, as
doenças, as propostas, os atalhos ilegais, as mentiras, as confusões, as trapaças, o avanço da idade nos
cercam e dizem: estou só esperando o momento certo, o momento em que você vai estar fraco, aí
então te atacarei! De repente, com sua sabedoria, um sábio nos livra. Uma oração, um suportar do
nosso mau humor, um dinheiro que ele arruma na hora do aperto, um pedido de misericórdia feito à
pessoa que quer nos processar ou nos encher de pancada, um leite quente à noite enquanto ardemos
em febre ou várias conversas pra tentar nos dissuadir de fazer uma loucura.

Aí, por causa desse sábio, a gente se safa. Deus o usa e nós não temos a consequência daquele episódio
trágico que iria vir. Como se nada tivesse acontecido, como se aquele perigo não fosse sério, como se a
morte nunca tivesse batido à porta, continuamos a vida e não agradecemos ao sábio nem nos
lembramos mais dele.

Quem é este sábio? Muitas pessoas. Depende da situação. Com frequência é um pai, uma mãe, um
pastor, um amigo verdadeiro, um ancião, um mestre, um professor. Não que por estar em uma dessas
funções essas pessoas sejam, necessariamente, sábias, mas se forem pessoas direitas, comprometidas
com Deus e com você (comigo), inevitavelmente serão usadas pelo Senhor pra nos ajudar. E quando
estivermos livres da situação, quando o perigo já estiver passado, deixemos a pressa e o orgulho de lado
e agradeçamos. O sábio vai ficar muito, muito feliz. É o maior presente que nós podemos da-lo.
Se a gente passar batido e fingir que nada aconteceu, o sábio pode até ficar um pouco triste, mas terá
feito a sua parte. E nós, os apressados e ingratos? Inevitavelmente vamos passar por outro teste, outro
problema, e pode ser que, neste, não haja ninguém para nos ajudar.
Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre foi desprezada, e
as suas palavras não foram ouvidas.
As palavras dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o clamor do que domina entre os
tolos.
Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, porém um só pecador destrói muitos bens.
Eclesiastes 9:16-18
A sabedoria vale mais que mil armas; um bom testemunho tem mais poder que 30 Ak-47 (metralhadora
russa). O amor triunfa sobre a guerra e sobre o medo. Mas pensa aí, quem tem mais ibope? Do que se
fala mais: do amor ou da guerra? Há mais propaganda para o terror, o supérfluo e o bizarro ou para a
sabedoria, o amor, a consciência? Nem precisa pensar muito. O que mais nos impressiona é a doutrina
do medo, da força, mas o que mais tem poder, na verdade, é a fraqueza do amor. “Porque... a fraqueza
de Deus é mais forte do que os homens” (1 Coríntios 1: 25b).

A palavra dos sábios, daquele tipo de pessoa que tentei descrever no comentário acima, deve ter mais
peso do que das pessoas que só alarmam, só desesperam, só gritam e só dizem o que você quer ouvir. O
sussurro do sensato tem que ser mais ouvido do que o grito de quem domina sobre os tolos, do que o
famoso que influencia multidões com suas maluquices.

A sabedoria é melhor do que qualquer arma de guerra. Na verdade, a sabedoria que vem do alto é “A”
melhor das armas de guerra, mas um pecador, um insensato, causa muita dor e destrói muitas coisas
boas, construídas ao longo de anos. Quem, hoje, você irá escutar, o sábio ou o louco, o que sussurra
verdades ou o que grita mentiras? Escolha o caminho da sabedoria. “Escolhe, pois, a vida”
(Deuteronômio 30: 19b).

Em 24/06/2015

CAPÍTULO 10

O CHEIRO DO RALO

Assim como as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o ungüento do perfumador, assim é,
para o famoso em sabedoria e em honra, um pouco de estultícia.
Eclesiastes 10:1

No mundo antigo, no qual vivia o pregador, os perfumistas tinham um procedimento um pouco


demorado e bem artesanal para fazer uma essência. Depois de fazer os preparos, deixava o produto
dentro de uma vasilha para curtir, “pegar” o cheiro que deveria ter. Porém, se não tivesse cuidado, uma
mosca poderia entrar no frasco e curtir a marola também. Por causa do inseto, que certamente morreria
ali dentro, a essência que seria utilizada para vários frascos de perfume se perderia, pois o aroma estaria
totalmente contaminado. Lá se iriam dias, meses de trabalho. O nome do perfume, ao invés de “aroma
do campo”, seria “o cheiro do ralo”.
Assim como a pequena mosca estraga o perfume, um pouco de insensatez leva ao fim da sabedoria e da
honra. Isso é bem verdade. Anos de amizade, daquelas que vem desde o colégio, pode acabar com uma
discussão e um “fora” que você dê; uma estrutura familiar pode se desfazer com uma aventura de um
fim de semana de um dos cônjuges; a confiança que você tem no seu médico, que te acompanha por
anos, pode terminar com um erro que ele cometa no seu corpo. Você beberia água de uma garrafa que
tivesse duas gotas de chorume?

O perfume continua lá, mas a contaminação é evidente. Tem jeito pra esses casos? Tem, mas não pense
que será fácil, que sairá de graça, que será indolor. Dá pra refazer a amizade, reconstruir a família,
recobrar a confiança no médico, jogar a água da garrafa fora e lavá-la, mas em todos estes processos
haverá perdas. O melhor e mais inteligente a fazer é não deixar a mosquinha entrar. E se já entrou?
Retire a mosca, não coloque a culpa no vento que a trouxe, nela própria ou no seu azar. Assuma sua
displicência e corrija. Deus pode restaurar sua sensatez e sua honra.
Sob este parâmetro, Salomão desenvolve o capítulo. O que ele está dizendo? “Fique atento aos
detalhes, às mínimas coisas; elas podem fazer toda a diferença na sua vida”. Vamos lá.

O coração do sábio está à sua direita, mas o coração do tolo está à sua esquerda.
E, até quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o seu entendimento e diz a todos que é tolo.
Eclesiastes 10:2,3
Prevendo a insistência do leitor – e talvez lembrando-se de sua própria teimosia – o qohelet dá um
incentivo, uma chamada: não entendeu que uma mosca, um detalhe, um deslize pode por tudo a
perder? Se você for sábio, vai atentar nas minhas palavras, mas se for tolo, vai querer pagar pra ver, e
vai pagar caro. O sábio se inclina pra sabedoria, ou seja, presta atenção no conselho e reflete, pensa,
critica, mas não ignora; o tolo acha que é só sair “caminhando e cantando e seguindo a canção”, mas
não presta atenção no resto da música de que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. O
pregador tá dizendo: “Acorda! É a sua vida que está em jogo!”.

Levantando-se contra ti o espírito do governador, não deixes o teu lugar, porque a submissão é um
remédio que aplaca grandes ofensas.
Eclesiastes 10:4
O primeiro conselho é que, se uma autoridade se levantar contra você, pegue em armas, convoque os
amigos e faça uma luta armada. Não, não é isso! Tirando casos graves de manutenção da vida ou de
resguardar a fé, na maioria das vezes temos de nos submeter, mesmo diante de injustiças. Damos a
Deus o que é de Deus e a Cesar o que é de Cesar, ou seja, em princípio, não precisamos desagradar a
Deus para agradar o governante e vice-versa. Deus não quer a parte de Cesar, e a menos que Cesar
queira a parte que devo a Deus, conviveremos bem.

O pregador enfatiza que a submissão, a tranquilidade evita muito erros, aplaca grandes ofensas. Nossa
arma é a integridade, a verdade, a submissão, não a revolta, a ira, a luta armada. Quem brande a
espada, por ela é abatida. Somos o povo da paz em meio à guerra, obedecemos mesmo sendo
chamados de idiotas porque acreditamos que a verdadeira Justiça vem do alto e que a nossa justiça tem
de superar muito a dos fariseus e escribas, que obedecem à vista. Nós não, obedecemos por
consciência, obedecemos de coração. E em caso de injustiças, pense como os Racionais MCs: “o
promotor é só um homem, Deus é o juiz”.

Em 25/06/2015

DISTRIBUIÇÃO DE CARGOS
Ainda há um mal que vi debaixo do sol, como o erro que procede do governador.
A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo.
Vi os ervos a cavalo, e os príncipes andando sobre a terra como servos.
Eclesiastes 10:5-7
Salomão se volta para analisar a distribuição de cargos de um reino, o que me parece estranho, já que o
soberano, à época, era ele mesmo - é bom dizer, apesar de já falado, que não se tem certeza absoluta
ter sido exatamente o filho de Davi o escritor de Eclesiastes, apesar de haver bons indícios para isso. Na
análise, o pregador vê um mal, um erro, um deslize, especificamente feito pelo governador, por aquele
que preside: colocar em cargos altos o tolo e o rico em cargos baixos.

Confesso que fiquei confuso com a dicotomia entre tolo e rico aqui. Fui procurar no hebraico e a palavra
é vaashyrym (‫ירים‬
ִ ִ‫)ו עעש ש‬, que quer dizer rico mesmo. Seria mais óbvio, levando-se em conta o que o texto
já vinha dizendo nos nove capítulos anteriores, que a diferença fosse entre tolo e sensato, néscio e
sábio, não entre tolo e rico. Afinal, um tolo pode ser rico também e um sábio pode, perfeitamente, ser
pobre.
Seja lá o que quis dizer com esta palavra, especificamente, uma coisa está clara: colocar os tolos em
posição de destaque e deixar quem tem, naturalmente, destaque, em lugar de pouca honra, é um mal
terrível.

Não é uma questão de privilegiar quem já tem muito. Precisamos nos livrar de nosso pensamento
ocidental-democrático-laico por um instante. Se transporte para a época que você irá entender melhor.
Israel era uma nação onde Estado e religião eram inseparáveis. A lei de Moisés servia para conflitos civis
e para sacrifício de animais diante de Iavé. Portanto, para o hebreu, riqueza e pobreza estavam
diretamente ligadas às bênçãos que Deus havia ou não derramado sobre uma pessoa. Se alguém era
rico, Deus o estava aprovando; se era pobre, o estava reprovando. Se era rico e caía em grande
desgraça, algo de muito ruim havia feito. Se estava em desgraça e conseguisse prosperar, é porque
estava fazendo o correto. Vemos este pensamento o tempo inteiro no Velho Testamento. As promessas
de Deus para Israel, a maioria delas, é condicional: se você, Israel, andar nos meus caminhos e guardar
os meus estatutos, será próspero, terá terras, gado, IPhone e PS4; mas, se não andar, ficará estrangeiro
em terra estranha, não terá gado, vai usar em um Samsung Galaxy Ace e ver novela da Globo numa TV
de tubo (ler os capítulos Ezequiel 18 e Deuteronômio 29). Há algumas exceções, como foi o caso de Jó,
que não pecou para ser amaldiçoado, mas esta era a regra de pensamento.

Para confirmar o que estou dizendo, recordemos o episódio do Jovem Rico (Mateus 19: 23 a 26). Ao
dizer para os discípulos que era mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico
entrar no Reino dos céus, os discípulos maravilharam-se muito e perguntaram “Então, quem pode ser
salvo?”. Por que eles fizeram esta pergunta? Porque, na mente deles, se alguém que já era rico (leia-se,
já era abençoado por Deus, sua conduta já era aprovada pelo Altíssimo) não podia se salvar, então o
pobre não teria chance! Jesus disse algo que revolucionaria suas mentes: “Aos homens é impossível,
mas para Deus, todas as coisas são possíveis”. Jesus disse que é impossível, para qualquer homem, rico
ou pobre, se salvar. Mas não para Deus.

Depois deste longo parêntese, voltemos pra Salomão. Entendendo suas intenções e a revelação que
tinha até então, de que o rico era abençoado por Deus e, por isso, aprovado, qual seria o sentido de
colocar um tolo, alguém visivelmente despreparado e não abençoado, em um cargo que atingiria tantas
pessoas? Porque não colocar alguém preparado, ao invés de um tolo? Qual o sentido de um príncipe
andar a pé e um servo andar a cavalo? Isso não fazia sentido para a mente dele. E, se você pensar bem,
também não faz para a nossa.

Hoje, nós escolhemos nossos governantes. Em tese, deveríamos estar sempre satisfeitos, mas não é isso
o que ocorre. Com frequência vemos que colocamos tolos no lugar de “ricos”, néscios em lugar dos que
encheram sua vida de conhecimento e preparo; elegemos o engraçado, o bizarro, o que aparenta
melhor. Mas, calma aí, você me diz: “Já elegemos desde almofadinhas e economistas até torneiros
mecânicos; já nos governaram pessoas de extrema direita, militares e ricos; e de esquerda,
trabalhadores da classe operária e guerrilheiros. Quando erramos e quando acertamos?”. A questão é
complexa, mas alguns princípios podemos tirar disso tudo.

Em primeiro lugar, o governador aqui é Você. Isso mesmo, você é o governador do texto. Você que tem
a opção de colocar em sua vida pessoas de alta posição, desde a que vai comandar a cidade que você
vive até a que te aconselha quando está passando por um problema. A responsabilidade por quem afeta
nossa vida não é dos outros, é nossa. Nós escolhemos quem está nos “altos cargos” de nossa existência.
Em segundo lugar, ao escolher os ocupantes desses cargos, arque com as consequências. Se o Prefeito
ou Governador que você escolheu não agradou, lembre-se disso na próxima eleição e não apenas no
benefício imediato que o candidato pode lhe trazer (como uma matrícula de escola ou um saco de
cimento pra sua casa). Da mesma maneira, quando fizer amizades e confiar nelas, é melhor escolher
alguém que lhe diga a verdade do que só tente te agradar. Lembre-se: em época de eleição, todos só
dizem o que você quer ouvir.

Em último lugar, tenha critérios do Reino de Cristo para as suas escolhas. Não veja segundo as
aparências, mas segundo os princípios da palavra de Deus. Salomão só via o que lhe tinha sido revelado,
e era até mais simples (o abençoado era rico, o não abençoado era pobre). Hoje, não. Jesus nos revelou
o coração do Pai, que vê o interior das pessoas. O homem vê o exterior. A melhor maneira de sabermos
com quem estamos lidando é vendo os frutos que a pessoa produz. Vivemos a era do discurso. Todo
mundo tem alguma coisa a dizer sobre qualquer assunto, de futebol a bioética, de identidade de gênero
a pesquisas espaciais, mas poucos têm frutos. Em nossos dias, muitos príncipes parecem escravos e
escravos parecem príncipes. O procedimento dirá quem é quem.
Em 26/06/2015

ÁGUA QUE MATA SEDE TAMBÉM AFOGA


Quem abrir uma cova, nela cairá, e quem romper um muro, uma cobra o morderá.
Aquele que transporta pedras, será maltratado por elas, e o que racha lenha expõe-se ao perigo.
Eclesiastes 10:8,9
Salomão alterna sua observação da vida e da vaidade humana com provérbios. Ao mesmo tempo em
que contempla a vida dos homens e seus muitos afazeres diários, frenéticos e sem sentido, usa o tema
imediato para comunicar conselhos e verdades mais profundas. É difícil, porém, saber qual a verdadeira
intenção do pregador ao proferir estes ditados, porque a maioria deles não carrega um, mas vários
significados, às vezes até opostos. Sabedor disso já faço a mea culpa e entrego a você o que Deus me
revelou por agora.

Quem cava um poço, derruba um muro, arranca pedras ou corta lenha, está realizando um trabalho
visando a um resultado. Normalmente, o poço é cavado para ter água, o muro é derrubado para
construir uma casa nova ou uma estrada, as pedras são arrancadas para serem utilizadas em uma
construção e a lenha é cortada para fogueira ou para fazer um barco. Seja qual for a aplicação destes
trabalhos, em qualquer deles há riscos e devemos estar cientes disso. Construir alguma coisa, realizar
um trabalho, por mais nobre e necessário que seja, expõe o trabalhador a um perigo. Deus não elimina
os riscos para você.

A faculdade é um bom exemplo. Deus pode ter-lhe aberto a porta de uma universidade federal, depois
de muito estudo e dedicação. Cavando esse poço você poderá matar sua sede e de sua família (ganhar
dinheiro para sustentar a si e seus filhos), mas vigie, porque a ideia é tirar água do poço, não cair dentro
dele. A mesma fonte que te sustenta hoje pode ser sua ruína repentina amanhã.

Passar em um concurso é derrubar um muro, transpor o que te impedia de chegar do outro lado, de ver
“a terra que Deus tinha lhe prometido”, como Israel diante das muralhas de Jericó. Então, depois de
passar, tudo será lindo e florido! Não. Há cobras por detrás do muro, há inimigos morando em Canaã.
Enquanto estiver demolindo, atente para que as cobras não te piquem. Depois que você estiver
ocupando o cargo, propostas surgirão. Pode ser a de ganhar mais dinheiro de maneira ilegal, ou de
assinar o ponto e não trabalhar, ou de tratar mal os cidadãos (afinal, ninguém mais tira seu emprego,
né?!), ou muitas outras.

Criar os filhos pode ser arrancar as pedras de um chão duro. Depois de muitas conversas, orações e
paciência, enfim sua prole está crescida, trabalhando, vivendo. Cuidado pra que esse “amor” não te
cegue para tudo o mais ao seu redor. Enquanto cuida dos filhos, viva outras coisas, continue ativo na
obra de Deus, cuide do seu marido (ou mulher), cuide de si mesmo, cuide de sua saúde. Um dia as
crianças, não mais crianças, vão embora e viverão suas vidas. Ame-os intensamente, mas viva a sua vida
também. Isso os ajudará a viver a deles.

Ter um casamento feliz é cortar, todos os dias, lenha para uma fogueira. No início do relacionamento o
fogo é quase que instantâneo, mas pode ser só de palha - logo, logo se consome e apaga. Quem é
casado sabe que é de gravetos diários que a relação continua queimando. Enquanto corta a lenha, fique
atento para que os pedaços não atinjam você. O trabalho diário pode ser cansativo e, um dia, pode ser
que esteja de saco cheio, fique displicente, corte a madeira de qualquer jeito e se machuque. Aí, vai
virar pro seu cônjuge e dizer: “Só eu corto lenha nessa casa! Ninguém me ajuda! Tô todo cortado aqui!”.

Tenha sensibilidade e perceba uma coisa: é inevitável cortar lenha e não se cortar, arrancar pedras e não
se machucar, derrubar um muro sem se arriscar ou cavar um poço e reduzir a zero as chances de cair
nele. Deus não mudará a natureza das coisas para poupar você ou eu. Cabe a nós, com sabedoria e
muita, muita ajuda e misericórdia dele, atentarmos para o verdadeiro propósito delas. Família, trabalho,
casamento, sucesso, prazer são coisas boas, lícitas, mas não são inocentes. Na verdade, nós não somos
inocentes. Nosso coração é enganoso e tende a colocar no trabalho de nossas mãos a confiança de
nossa vida. No fim, podemos sair tão machucados que não vamos mais querer aquela bênção que o
próprio Deus nos entregou. A mesma água que mata a sede é a que afoga; a diferença entre remédio e
veneno é a dose.

Um dia, conversando com um músico profissional de Niterói, ele me confessou que estava de “saco
cheio” de tocar. Surpreso, perguntei a ele: “Mas cara, você não era fissurado em tocar? Não era isso que
você queria tanto, tocar na noite?”. Ele, um pouco decepcionado, respondeu: “Estou cansado. Queria
ter feito a mesma coisa que você, passado em uma prova de concurso público e fazer música por
hobbie”. A lenha que ele tanto queria pra se aquecer o cortou tanto que estava preferindo mudar de
profissão. Veja, não que você não possa mudar de profissão, cansar de uma e ir para outra. Problema
algum nisso. Mas saiba que tudo, tudo o que Deus te dá pra fazer, tem seus perigos. O principal deles é
colocar nas realizações todas as suas esperanças. Mudar de emprego, de cônjuge, de cidade, de
faculdade não vai adiantar, só retardar o mesmo processo. Vamos seguir com o Senhor como nosso
alvo, vivendo a vida e as coisas que ele nos dá para fazer como pequenas tarefas, porque a maior tarefa
de nossa vida é, na verdade, ama-lo sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Em 29/06/2015

LENHA, CORTES, AMIGOS E RECOMPENSA


Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se deve redobrar a força; mas a sabedoria é
excelente para dirigir.
Eclesiastes 10:10
O machado é um instrumento de corte, especialmente de lenha, a mesma lenha que ele fala no verso
anterior. Quem corta a lenha corre o risco de se cortar, porque o atrito do ferro com a madeira é tão
violento que pedaços podem voar contra o lenhador. Já falamos que isso é inevitável, que é da natureza
das coisas ter certo grau de risco, e que Deus não isenta as bênçãos que Ele mesmo nos dá de terem
esse potencial destruidor contra nós.

A propósito, fui questionado sobre esse fato, de Deus não nos livrar de muitas coisas, e acho bom
esclarecer. Em primeiro lugar, todo esse comentário é apenas uma visão sobre o assunto. Acho ótimo
quando alguém questiona porque aprendo mais. Em segundo lugar, não disse que Deus não irá nos
livrar do mal, mas que não irá nos livrar da possibilidade do mal acontecer. Quando disse que Deus não
mudaria a natureza das coisas por nós, é porque podemos ter a impressão de que, para nos poupar, irá
eliminar qualquer possibilidade de errarmos, de cairmos. Jesus nos ensinou a pedir que o Pai nos
livrasse do mal, que não nos deixasse cair em tentação, mas não disse para pedirmos “Pai, não deixe
que nenhuma tentação nunca apareça na minha frente!”. Não, isso Ele não vai fazer. O que ocorre é
que, com o tempo, de tanto rejeitarmos as propostas de Satanás, aquela tentação quase já não tem
mais força sobre nós. E aí, Ele nos livrou? Claro que sim! Se não tivesse nos dado força pra rejeitar,
cairíamos inevitavelmente. Mas a possibilidade de pecar, a escolha, essa Ele não tirou.

Voltando ao machado. Quando trabalhamos em alguma coisa, é necessário estarmos preparados. Se o


machado estiver cego, pra tirar a mesma quantidade de lenha despenderemos muito mais energia.
Salomão diz que a sabedoria é proveitosa nesses momentos. Muitas vezes estamos fazendo um esforço
enorme pra conseguir o que queremos, estamos trabalhando duro. Com o tempo, é normal ficarmos
cansados, perdermos o foco, não sermos tão precisos para conseguir aquele objetivo. De tanto
trabalharmos, a lâmina fica cega. Pra tirar a quantidade de lenha que queremos, temos de fazer uma
força descomunal.

Nesses momentos é melhor parar. Pare. Perca alguns minutos, horas, dias para afiar esse machado. É
mais sábio. Se não souber como afia-lo, peça conselho a pessoas sábias, peça a ajuda de um amigo
verdadeiro. Nesse verso, o pregador utiliza a metáfora da lâmina cega junto com a sabedoria. As duas
passagens que falam sobre isso, escritas por ele mesmo, é que na multidão de conselhos há sabedoria
(Provérbios 11: 14) e que como ferro com ferro se afia, o amigo afia seu companheiro (Provérbios 27:
17). Sábios e amigos verdadeiros, ou seja, gente que é comprometida com Deus e comprometida com
você. Essa é a fórmula do sucesso: nos cansaremos menos para ter o mesmo resultado, ou até um
resultado muito melhor, além de não ficarmos sozinhos.

Uma vez um amigo pastor me disse que chegar ao sucesso não era o mais importante, mas sim com
quem você chegava lá. Hoje acho que entendo um pouco melhor o que ele quis dizer. O lugar de
conquista, de sucesso, é tão gostoso, maravilhoso e recompensador quanto solitário, vazio e sem
sentido. O dia que chegamos naquele tão sonhado sonho (redundância proposital aqui), um sentimento
de vazio toma conta. Mas se estivermos com amigos, família, irmãos, nossa conquista é partilhada com
todos, e é isso que dará todo o sentido para aquela vitória.

Lenha, conquista, sabedoria, amigos... Onde tudo isso se junta? Paulo diz que nós fomos selados com o
Espírito Santo da promessa, que servirá de redenção da possessão adquirida (Efésios 1: 13). Essa figura
vem do primeiro século, quando os senhores compravam mercadorias nos portos, especialmente lenha.
Ao invés de retirarem logo a madeira do depósito, mandavam algum empregado ir lá e marcar, com um
selo, o que eles já tinham comprado. Aquele selo comprovava a obrigação que o dono do
estabelecimento tinha em entregar o produto ao seu verdadeiro dono, quando viesse buscar o que era
seu. Ninguém mais tirava aquele selo.
O escritor de Hebreus diz que Jesus, pela alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz (Hebreus 12:
2). Jesus suportou ser pendurado no madeiro porque tinha um prêmio proposto. Sabe qual? Você e eu.
Nós somos o Seu prêmio. Nós somos Sua maior conquista. Ele comprou, com seu sangue, para Deus,
gente de todos os lugares da terra, e nos marcou, com seu selo de propriedade, para nos buscar no dia,
mês e hora marcados. Aquele dia, que ansiamos tanto, está chegando.

Releia esse estudo e veja se Jesus não está nele inteiro. Mas releia mesmo! Madeira, sabedoria,
propósito, cortes profundos, amigos, cansaço, desânimo, vitória, recompensa e, um dia, resgate. Só tá
faltando o último. Eu estou ansioso. E você, está?

Em 30/06/2015

OS ENCANTADORES DE SERPENTES
Seguramente a serpente morderá antes de estar encantada, e o falador não é melhor.
Nas palavras da boca do sábio há favor, porém os lábios do tolo o devoram.
O princípio das palavras da sua boca é a estultícia, e o fim do seu falar um desvario péssimo.
O tolo multiplica as palavras, porém, o homem não sabe o que será; e quem lhe fará saber o que será
depois dele?
O trabalho dos tolos a cada um deles fatiga, porque não sabem como ir à cidade.
Eclesiastes 10:11-15
Encantador de serpentes. Só vi em filmes, mas pesquisando no Google, rapidamente percebi a
malandragem. Já tinha ouvido falar que estes encantadores, na verdade, não encantam nada. Quando
tiram a tampa do cesto, o movimento natural da cobra, principalmente da Naja, é erguer parte do
corpo. Quando saem, acompanham o movimento da flauta, e é isso que parece fazer com que elas
estejam dançando. Na verdade, a Naja é praticamente surda, não tendo a menor relevância o som da
flautinha, a não ser para os turistas.

Se Salomão conhecia ou não o truque, não temos como saber. O que importa é que, enquanto
“encantada”, a cobra não morde. Está entretida em acompanhar o encantador. Se ela morder, para que
serve o encantador? Terá sido apenas show, músicas, turbante, teatro. Muita preparação para nada.
Palavra é encantamento; pode ser um encantamento eficaz ou fajuto, benéfico ou maléfico. Jesus
quando falava, encantava as multidões (no sentido de prender a atenção das pessoas); um palestrante
motivacional pode fazer o mesmo. Pedro discursava diante de milhares, assim como Billy Graham e
Charles Spurgeon. Lembro-me também de muita gente, na década de 90, ouvir o Padre Quevedo e o Dr.
Fritz brasileiro. Encantamentos variados.

Há diferença nos encantamentos? Sim, muita. Qual? O resultado, o fruto. As palavras de Jesus duram
até hoje, transformam a vida de milhões de pessoas todos os anos porque tinham e têm autoridade. Eu
e você (supondo que O conheça) somos prova disso. Pedro evangelizou milhares de judeus, Graham
anunciou o evangelho na América e ao redor do mundo nas décadas de 80 e 90 e Spurgeon expunha as
escrituras para milhares de ingleses em meados do séx. XIX. Foram seguidores dos passos de Cristo,
cada um a seu modo e para um público distinto na história.

Padre Quevedo se ocupou bastante com parapsicologia, na tentativa de explicar que tudo o que é
sobrenatural consiste puramente em ação da mente humana, negando, por exemplo, a existência de
demônios. Já o Dr. Fritz, totalmente oposto ao Padre, operava só com o poder da mente e através de
espíritos.

Julgue você mesmo e perceba os encantamentos. Jesus, Spurgeon e Graham levaram a palavra de Deus,
enquanto Quevedo e Fritz se ocuparam de fábulas. A palavra do primeiro grupo trouxe inúmeros
benefícios. Mesmo que você não seja cristão, Jesus é o paradigma do Ocidente. Spurgeon e os puritanos
colocaram as bases do que a sociedade inglesa é hoje, assim como o pastor Billy nos EUA – mesmo que
ambas as nações estejam se afastando tanto de seus ensinos. Quevedo e Fritz passaram, suas
influências se foram, ninguém fala mais deles.

As palavras do sábio trazem benefícios mas as do insensato destroem. As palavras do sábio encantam e
trazem vida, as do tolo encantam e trazem engano. As palavras do sábio nos atraem para atentar para
coisas sérias, enquanto as do tolo são apenas teatro, como um encantador de serpentes. Como a Naja,
ficamos surdos, olhando pra flautinha.

No início, o que o tolo diz parece apenas tolice, mas depois o estrago enorme. Só para desfazer o tanto
de besteiras que um tolo consegue incutir na mente de alguém – pode ter sido na sua – é um trabalho e
tanto. Na verdade, o maior prejudicado com o discurso do tolo é ele mesmo. O verso 15 diz que ele se
cansa tanto que nem consegue achar o caminho de casa; de tanto afirmar a mentira, não consegue mais
saber o que é verdade. Se isso não é o inferno, não sei mais o que é.

Voltando a Quevedo e Fritz, repare bem. O padre tem razão em muitos de seus diagnósticos. Vários
casos que ele acompanhou para provar a charlatanice dos supostos curandeiros eram mesmo mentiras.
O dr. Fritz tem relatos de muitas pessoas que se dizem curadas, e não duvido que tenham sido. Então,
qual o problema deles? Ambos têm verdade misturada com mentira. O padre, ao negar que não existe
nada no mundo espiritual a não ser Deus, nega a própria Bíblia; Jesus expulsou muitos demônios e foi
tentado pelo Diabo no deserto. Era ele também um louco e enganador? E as pessoas que ainda hoje são
libertas de espíritos malignos, estão todas fingindo? Já Fritz, ainda que tenha curado muitos, o fez
justamente por ações de espíritos enganadores. Segundo a Bíblia, não há comunicação de mortos com
vivos, ninguém incorpora o espírito de outra pessoa que já morreu. Se há milagres, ou é pelo espírito de
Deus ou por espíritos de demônios, como aquela menina que previa “o futuro”, em Atos. Paulo expulsou
o espírito e arrumou um problema com seus donos, que lucravam muito com a ação demoníaca (Atos
16: 16 a 22).

Há muitos enganadores hoje, pastores inclusive. O engano e a mentira não respeitam classe social nem
religião. Elas podem penetrar em qualquer ambiente, basta que você dê lugar. A única maneira de não
cair neste encantamento maligno, de não ficar confuso com mil propostas e caminhos diferentes, é
olhando para Jesus e seus ensinos. Ele disse que nunca nos desampararia e que enviaria o Espírito Santo
para nos guiar a toda verdade.

“Ah, mas você está dizendo isso porque é crente! Qual garantia me dá que o mentiroso aqui não é
você?” Nenhuma. Não tenho garantias. A verdade que prego é demonstrada por minha vida e pela vida
de muitos outros que se renderam a Cristo. Seja sábio hoje e se renda a Ele você também.

Em 1/07/2015

SE VOCÊ É JOVEM AINDA


Ai de ti, ó terra, quando teu rei é uma criança, e cujos príncipes comem de manhã.
Bem-aventurada tu, ó terra, quando teu rei é filho dos nobres, e teus príncipes comem a tempo, para se
fortalecerem, e não para bebedice.
Eclesiastes 10:16,17
Salomão já falou um bocado sobre reis, governantes, corrupção, ganância. Como um bom livro de
sabedoria, retoma o mesmo tema, várias vezes, mas com enfoques diferentes. Agora, ocupa-se na idade
ou, melhor dizendo, na maturidade de quem governa.

O próprio Salomão começou a reinar entre 17 e 21 anos de idade; a bíblia diz que ao subir ao trono
ainda era “moço e tenro” ou “jovem e inexperiente” (1 Cr 29: 1). Apesar de sua sabedoria, fez muitos
banquetes, realizou obras faraônicas e elevou os gastos públicos a níveis estratosféricos, já que em sua
corte havia mil mulheres (1 Reis 11: 1 a 3). Grosso modo, são mil funcionários públicos com status de
“princesa”. Imagine sustentar essas mulheres todas, mais seus pais, irmãos e agregados? Além disso,
estabeleceu em Israel algo detestável, a corveia: escravizar o próprio povo israelita para concretização
das obras públicas. Apesar de a Bíblia dizer que tal prática não ocorreu (I Reis 9: 22), a história e a
conversa dos líderes do povo com Roboão, filho de Salomão (I Reis 12: 4), indicam que, em algum
momento, a mão de obra utilizada foi mesmo israelita.

Então, que “moral” tinha o pregador para falar? Aos que consideram não ter sido Salomão o escritor de
Eclesiastes a resposta é mais fácil, mas gosto de pensar que foi ele mesmo quem redigiu o livro.
Pensando em si mesmo e em seu reinado, provavelmente o pregador se pegou em muitos deslizes.
Aliás, o livro inteiro é sobre isso, sobre o maior deslize de todos, o de achar que a vida tem resposta para
si mesma. Não apenas reinado, mas prazeres, mulheres, carros e cavalos. As besteiras que fez como
governante são apenas mais um item da reflexão.

Sentindo na pele a dor de suas falhas, o pregador diz que a terra sofre quando o rei é jovem demais.
Que os banquetes, as festas, os gastos, levam os mais fracos à ruína. É uma matemática simples: os
recursos não são ilimitados. Se tem alguém gastando muito, certamente tem alguém com muito pouco.
O rei pode e deve comer bem, ter a melhor comida e a melhor bebida do reino; seu posto condiz com
isso, mas o exagero leva ao sofrimento e Deus disto não se agrada.

A pergunta óbvia que surge é: o que é exagero? Quanto é “muito”? Impossível responder com números.
Ter um celular a 30 anos atrás era luxo, hoje se consegue comprar um com menos de R$100. Carro com
direção hidráulica e ABS eram opcionais caros, hoje é praticamente item de segurança. Ter um
computador era opulência, hoje é banal. Além do mais, em cada cidade, em cada bairro e em cada
família a situação é distinta. Não há como estabelecer um padrão único. Além de burro seria
pecaminoso de minha parte.

Porém, quando se anda com Deus, sabemos o que é exagero e o que é falta. Ser “evangélico” não nos
ensina isso, mas andar com o Senhor e em obediência à Sua palavra sim, ensina. Sempre teremos os
pobres conosco (Jo 12: 8), mas cabe a nós levar a eles o reino de Deus, com cesta básica ou abraços,
escola ou carinho.

Insisto em pensar que o rei e o governante não são o Presidente da República, o Governador, o dono da
empresa ou o chefe no trabalho, apenas. Estes são os mais aparentes. Gosto de entender que cada um
de nós, em algum grau, exerce um reinado. “Mas eu sou estudante, só recebo mesada dos meus pais
para comprar lanche no colégio!”; você é rei do seu tempo, das suas palavras, ações e até do pouco
dinheiro que tem. É o governante da sua mochila, soberano dos seus cadernos, comandante de suas
atitudes diante dos amigos.

Não importa, cada um de nós pode ser opressor ou oprimido, basta olharmos para as muitas relações
em que estamos inseridos – pais x filhos, patrão x empregado, empresário x banco, pastor x igreja,
marido x mulher. E é bom dizer que opressão pode vir de qualquer do lados. Não pense que só pais
negligenciam filhos ou pastores manipulam igrejas. Abra sua mente. O filho pode dar grandes problemas
aos pais, o empregado pode chantagear o patrão, o empresário pode fraudar o banco, a igreja pode
escravizar seu pastor e a mulher manipular seu marido.

Especificamente nas posições de comando, de fato não é bom que governe quem é “jovem demais”. A
probabilidade de algo dar errado é muito maior, já que a falta de experiência está ligada a instabilidades
emocionais e julgamentos precipitados. Sei que mensurar o que é “jovem” também é difícil e aqui
também cabe submissão a Deus e às autoridades constituídas. Um bom parâmetro para saber se alguém
está pronto para governar é ver se sabe ser governado. Quem mais tem autoridade é quem mais
obedece. Quem mais dá ordens é o que sabe receber ordens. Jesus recebeu do Pai toda a autoridade
porque O obedeceu em tudo, até a morte (Fl 2: 5 a 9).

Feliz é a terra onde o governante come no devido tempo, não para se embriagar. Feliz é a casa onde pais
promovem seus filhos e filhos não mentem para seus pais; feliz a empresa onde empregados trabalham
com honestidade e empresários melhoram salários e condições; feliz a igreja que ama seu pastor e o
pastor que dela cuida. Estas são as nossas nações. Feliz a nação cujo Deus é o Senhor (Salmos 33: 12).

Em 2/7/2015

MANUTENÇÃO E FESTA NO APÊ


Por muita preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidão das mãos a casa goteja.
Eclesiastes 10:18
Manutenção. Coisa difícil pra nós, brasileiros. Gostamos do que está “fedendo” a novo. Do carro do ano.
Do celular que saiu hoje. Do tênis que é lançamento, seja da loja ou de camelô. Não temos muito a
cultura, pelo menos no Sudeste, de tentar reparar o que está quebrado, aproveitar o que ainda tem
meia vida. Ou trocamos, se temos dinheiro e oportunidade, ou deixamos definhar de tão velho, tão sujo,
tão desgastado.

É uma generalização. Sei que há muitas exceções mas ainda prevalece esse comportamento. Pense nos
locais públicos, nas ruas, nas praças, nos ônibus, nas escolas; pense nas roupas do seu armário, na sua
bicicleta e na sua moto. Ainda que tenhamos um mínimo de cuidado, tendemos a deixar de lado o que
não é mais novidade e, na primeira oportunidade, ônibus são trocados, praças são demolidas e
reconstruídas, roupas são passadas para outra pessoa e a bike vira cabide dentro de casa.

Em viagem para a Europa, percebi quanto o velho continente continua velho – isso é elogio, não crítica.
O chuveiro, o sistema de encanamento, as ruas, as roupas das pessoas, as casas, os monumentos e o
transporte público duram anos, décadas e continuam perfeitamente próprios para o uso.
Valorizamos uma cultura muito consumista, talvez tão ou mais consumista que a dos EUA, em alguns
aspectos. Mesmo lá não vi tanta preocupação com roupas como se tem aqui, principalmente nas
mulheres. Além disso, várias vezes vi 2 crianças em um carrinho de bebê só, automóveis antigos pelas
estradas e muita gente bebendo água de bica nos parques da Disney (lá dá pra beber, mas isso não é
vergonha para eles).

Acho que nossa cultura do “novo que já ficou velho” facilita a rapidez dos relacionamentos. Somos
rápidos em gostar, em se interessar; compramos a ideia rápido! Gostamos dos primeiros meses do
namoro, do jogo de conquista no bar, da superficialidade das festas da faculdade, mas não temos muita
paciência para fazer a relação durar e até melhorar, se fortalecer. Mais uma vez, ou troco ou deixo “a
vida me levar”. Com o tempo, aquela alegria já desbotou, o riso é amarelo e os encontros profundos, de
fato, são rápidos, ainda que se passem dias juntos.

Para rir se fazem banquetes, e o vinho produz alegria, e por tudo o dinheiro responde.
Eclesiastes 10:19
A festa é feita para divertir. E é pra se divertir mesmo. O vinho e a cerva gelada dão aquela alegria boa.
Beba! Conheceu o “amor” da sua vida? Tome um porre de felicidade! Chegou aquele grande amigo de
longe? Saia pra farrear! Isso é bom. Tem que ser vivido mesmo.

Mas não para por aí. Aquela garota maravilhosa pode ter chulé. O cara pode roncar alto, ou só falar de
um assunto. Ele pode ter fingido que gosta de comida japonesa pra te agradar. Sim, ela ouve Anitta, não
Paralamas. Ele gosta de Faustão e Augusto Cury, não de Roda Viva e José Saramago. Ela tem toda a
coleção da Alinne Barros e ainda canta junto... desafinando. E aquele amigo legal? Está na sua casa há
15 dias. Não lava a louça, dorme até tarde no sofá e come seu iogurte grego.

Chega, né! Vai pro próximo relacionamento, dá uma desculpa pro amigo e sai dessas furadas! Sabe o
que Salomão diz? Vinho é bom, dá alegria, festa é pra divertir, banquete é pra comer, mas tudo isso
custa dinheiro, tempo, esforço.

Quem tem preguiça existencial não passa da festa, do encontro casual. Pensa aí nos amigos de verdade
que você tem, na família, na sua mulher, no seu marido, na sua filha adolescente e no seu filho pequeno
hiperativo e veja se não tem uma preguiça crônica em investir, em dar tempo e, em muitas vezes, só
aturar a chatice deles mesmo.

Mas, quem investe pode sacar depois. Como disse o sábio: “Atures e serás aturado”; “Ouvi a ladainha da
mulher e ganharás um prêmio à noite”; “Deixarás o homem jogar PS4 e terás um marido feliz”; “Não
tentarás convencer o marido com um sermão de 2 horas e meia”; “Não irriteis vosso filho, afinal ele já
tem que aprender química”; “Arrumarás a cama para que sua mãe não morra de tanto cuidar da casa”;
“Falarás a verdade para seu amigo, mesmo que ele fique chateado com você”... “em verdade vos digo
que não haveria livros suficientes para descrever todas as coisas que tendes de aturar... Mas tende bom
ânimo, porque um dia precisarás ser aturado também”.

O único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário; e nosso trabalho é descansar no
Senhor, receber capacitação para essas tarefas e saber que, se ele nos amou, temos de amar uns aos
outros. É a manutenção da vida que está em jogo. E creia: a recompensa vale a pena.

Em 3/7/2015

UM PASSARINHO ME CONTOU
Nem ainda no teu pensamento amaldiçoes ao rei, nem tampouco no mais interior da tua recâmara
amaldiçoes ao rico; porque as aves dos céus levariam a voz, e os que têm asas dariam notícia do
assunto.
Eclesiastes 10:20
Saloma, garoto experiente, diz: “Não banque o malandro, não fale mal pelas costas, não seja valente
quando está longe de quem você está insultando”. Para um oriental, como ele, é pavorosa a ideia de
insurreição injustificada, de fofoca da vida alheia, seja de quem for. Porém, quando se está falando mal
de alguém investido de autoridade, o buraco é mais embaixo. É tipo o Chaves falando que o Seu
Madruga parece uma múmia desdentada e, quando vira pra trás, tá lá Seu Madruga pronto pra lhe dar
mais um cascudo.

A comédia com personagens infantis nos ensinam muitas coisas – a mim, pelo menos, o Chaves ensinou
muito, hehehe. Já brincou de esconde-esconde com uma criança bem pequena? Ela nunca se esconde
direito... sempre deixa uma perna, um braço ou, às vezes, o corpo todo à mostra. Repara como elas
falam “mal” dos pais praticamente na frente deles, acreditando estarem a milhas de distância? Lembro
quando eu tinha uns 6 ou 7 anos de idade e meu tio dizia que colocava um espião na janela da minha
sala no colégio, só pra ver se eu estava estudando. O que eu fiz? Continuei fazendo bagunça, mas longe
da janela... Seria mais fácil se ele tivesse me dito que, na verdade, era uma espiã e que o “nome” dela
era “professora”.
É sobre isso que o pregador quer nos alertar. Não seja ingênuo. Como a criança que acha que se
escondeu só de colocar as mãozinhas nos olhos e não enxergar mais nada, assim é quem fala contra o
rei e pensa que nunca chegará aos ouvidos dele. Nem em seu quarto amaldiçoe o patrão, porque um dia
isso lhe virá ao conhecimento.

“ Impossível. Se eu falar mal de alguém dentro da minha casa, quem vai saber? Só eu e minha família
mesmo ”. A menos que tenha uma escuta ou câmera escondida na sala-de-estar, realmente é muito
difícil que seu chefe saiba o que você fala dele. Mas, pense, ele não precisa saber. Quem fala mal dos
outros, um dia, se trai. Ninguém consegue ir amaldiçoando, falando mal de alguém e continuar, para
sempre, sorrindo para ela como se nada estivesse acontecendo. Um dia sua língua “coça” e você conta
para um colega de trabalho; ou “levanta da cama com o pé esquerdo” e, na primeira tarefa que seu
chefe pede, dá um “fora” nele; ou envia um email cheio de “revelações e verdades” para a pessoa
errada, talvez exatamente a que teve sua vida “revelada”. Um dia a verdade vem à tona e, além da
maldade que cultivou no coração, sua hipocrisia ficará evidente.

Você acha mesmo que algum dos empresários ou políticos investigados pela operação Lava Jato da
Polícia Federal, que investiga os escândalos da Petrobras, pensava que suas falas seriam divulgadas para
o mundo inteiro, só porque um dedo-duro (lá eles chamam de “delator”) resolveu contar tudo e ter uma
pena mais branda? Você realmente pensa que a CIA norte-americana cogitava que Edward Snowden,
um mero técnico de segurança da informação, jogaria na internet todos os países que o Tio Sam já
espionou, incluindo o Brasil? Devem saber até o que a Dilma come no almoço! Se nem a CIA consegue
manter suas “tretas” a salvo, você acha mesmo que pode manter as suas?

“Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O
que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro
de casa, será proclamado dos telhados” (Lucas 12: 2 e 3). Quer um conselho? Pare de falar mal da vida
alheia, de esconder coisas erradas achando que não vai ser pego. Se você se arrepender, pode ser que
Deus te livre e nunca tenha que passar por nenhum constrangimento. Será apenas mais uma das
centenas de consequências que Ele nos poupa, não nos dando o que merecemos, por causa de Seu
grande amor. Mas, se endurecer seu coração, é só esperar o noticiário. Um dia estará na boca do povo.

Em 6/7/2015

CAPÍTULO 11

LANÇA O TEU PÃO SOBRE AS ÁGUAS E DEPOIS DE ALGUNS MINUTOS ELE ESFARELARÁ
Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
Eclesiastes 11:1
Este verso está no “Top 5” dos mais conhecidos do livro de Eclesiastes. Ao mesmo tempo em que fico
feliz de chegar o tempo de aprender com ele, também fico receoso. Geralmente quando uma passagem
da bíblia é muito popular, há tantas interpretações quantas sejam o número de leitores. Cada um diz o
que “sente” e aí fica um bolo doido.

O título expressa minha primeira reação ao ler o verso: como é que alguém lança o pão na água e ele
retorna depois de muitos dias? Se for um pão de forma, em minutos vai esfarelar. Se for um pão francês,
vai encharcar todo. Aliás, mesmo que ele volte, pra quê eu vou fazer isso? Pra comer pão molhado? E
ainda depois de muitos dias? Maluquice. Isso não faz o menor sentido.

Aí, comecei minha saga pra entender o significado do que o doido do Saloma tava querendo dizer. Vi de
tudo. Uns dizem que é o comércio marítimo de trigo, que apesar de ser um negócio arriscado, era muito
lucrativo à época. Outros, que se trata da caridade, porque o pão é o alimento e a água é as nações, e se
você der seu pão para as pessoas, um dia isto retornará. Ainda vi um que dizia ser o grão que se lançava
nas cheias do Rio Nilo e, quando as águas baixavam, as sementes brotavam e davam muito trigo. Achei
tudo muito mirabolante e não me convenci. Mesmo que desse pra interpretar dessas maneiras, tinha
que ser algo mais simples, mais direto.

Então, vi uma interpretação que fez muito sentido, e é a que vou apresentar. A base histórica para ela
foi retirada do sermão do Pr. Rodrigo Silva “Lança o teu pão sobre as águas” (link no final do texto).
“Lançar o pão sobre as águas” é uma expressão idiomática, como “trocar os pés pelas mãos” ou “caiu na
rede, é peixe”. Sabemos o que significam as duas últimas, não a primeira. Se entendermos o que quer
dizer o verso 1 deste capítulo, todo o restante fará sentido. A partir dele, Salomão faz paralelos, algo
típico da poesia hebraica.

Nossa poesia ocidental trabalha com rimas (“Teu amor é um barato/ Por isso eu gosto de comer no
prato”), mas a hebraica com repetições ou antagonismos. A mesma ideia com palavras diferentes ou
uma ideia contrapondo a outra, esta é a maneira de um israelita fazer poesia. Ex: “O homem inteligente
não faz dívidas demais/ O varão sábio não se precipita nas finanças”. É quase a mesma coisa, não é?!
Um exemplo bíblico de paralelismo (repetição) é Provérbios 4: 14: “Não entres pela vereda dos ímpios/
nem andes no caminho dos maus”. No capítulo 12, verso 1 do mesmo livro, vemos um exemplo de
antagonismo: “O que ama a instrução ama o conhecimento/ mas o que odeia a repreensão é estúpido”.

A poesia era tão importante para eles que quando alguém fazia um sermão, toda a argumentação era
em prosa (como este texto que você está lendo) mas, de repente, quando aquele que estava pregando
começava a falar em poesia, todos prestavam atenção! Era a parte mais importante da mensagem, o
fechamento da ideia! Por isso ela era repetida ou contrariada, pois fazia os ouvintes pensarem,
memorizarem o que haviam escutado.

Ok, mas até agora não sabemos o que significa “Jogar o Wickbold na piscina”. A palavra pão em hebraico
(lehem) é a mesma para grão. Isso já muda muita coisa. Jogar o grão na água não é o mesmo que jogar o
pão. Então por que a tradução usou “pão”? Para isso, temos que viajar no tempo, o que vai nos ajudar a
entender uma série de outras passagens bíblicas.
O processo para ter o grão do trigo em mãos era muito trabalhoso. Em primeiro lugar, só há 2 estações
chuvosas em Israel, uma em março/abril, chamada serôdia, e outra em outubro/novembro, conhecida
como temporã. Fora deste período, nenhuma gota cai do céu. Não é como no Brasil, onde temos chuvas
várias vezes por ano. Lá, nos períodos de seca, a terra fica dura como um bloco de cimento.
Depois que cai a chuva, as sementes de trigo são plantadas e as famílias esperam um bom tempo para
que germinem. Quando o trigo cresce, se agarra nele uma erva daninha chamada joio; e não adianta
tentar ir colhendo o joio antes do tempo da colheita, se não o trigo vem junto - lembra de Jesus dizendo
para esperar o tempo certo da colheita para separar o joio do trigo (Mateus 13: 24 a 30)?

Época da ceifa. Colhe-se o trigo e, com ele, o joio, uma boa quantidade de terra, palha etc. Tudo é
levado para a eira, que nada mais é que um buraco no chão, de formato circular. Só a partir daí é
iniciado o processo de separação do trigo: primeiro, as mulheres batem, para tirar o “grosso” da sujeira;
depois, com uma parelha (dupla) de bois ou jumentos, unidos por um jugo ou “canga”, que arrastam
uma prancha, o trigo é debulhado; em um terceiro momento, restou pouca palha, e então, com uma pá,
o agricultor joga para o alto as sementes; o trigo volta para a pá, porque é pesado, e a palha voa com o
vento.

A bíblia é um livro simples. As imagens do cotidiano são usadas para transmitir verdades eternas. O jugo
dos bois é a madeira que os une, e frequentemente os machuca e incomoda. Jesus disse para tomarmos
o jugo dele (Mt 11: 29), porque era suave. Paulo disse para que não nos puséssemos em jugo desigual
com os incrédulos. Se um boi fosse mais alto que o outro, mais rápido, mais arisco etc, não poderiam
trabalhar juntos, por isso jugo desigual. Assim também, do terceiro momento da separação do trigo,
vêm passagens como a de João Batista se referindo a Jesus, que tem a pá em sua mão, recolherá o trigo
no seu celeiro e queimará a palha em fogo inextinguível (Lucas 3: 17).

Agora o trigo não tem mais sujeiras. Está “santificado”, separado do restante. É o momento de dar a
cada trabalhador a sua porção, que a leva para casa e a guarda em seu depósito. Estocados os grãos, as
mulheres da casa, na medida em que necessitam fazer o pão, os colocam entre pedras e amassam, para
fazer farinha de trigo. Lembre-se que não havia geladeira, frigorífico. Grão dura meses em um clima
desértico. Carne vermelha era consumida em Israel duas ou três vezes por ano, na festa da Páscoa (o
cordeiro pascal), em uma festa de casamento ou em uma ocasião muito especial (por isso a indignação
do irmão mais velho do filho pródigo, reclamando ao pai que nunca tinha recebido sequer um cordeiro
para festejar com seus amigos – Lucas 15: 30).

À medida que o trigo vai sendo utilizado para fazer farinha, o estoque vai terminando. Não existe
mercado, loja de conveniência ou restaurante. Ou se tem farinha ou não se come. E a chuva parece que
não chega nunca! O pai de família, vendo a situação, diminui a quantidade e a frequência da comida: em
vez de 2 vezes por dia, passam a comer uma; em vez de comer todos os dias, comem dia sim, dia não.
Enquanto isso, clamam a Deus pela chuva. Há um momento crítico que o estoque de trigo está tão baixo
que não se pode mais utilizá-lo para fazer farinha. Por quê? Porque aquele trigo será usado para a
próxima plantação. Dar todo o trigo é saciar a fome imediata e esperar a morte chegar. Terão de se
alimentar de outras coisas, como frutas, não mais com o básico, com o pão.

Então, vem a chuva. E quando vem, forma poças de água no chão. É neste momento que a família, com
fome, pega seu único alimento, o trigo, e o lança sobre as águas; lançam seu "pão" sobre as águas. O
trigo, a confiança que tinham, está ali, na terra, e só depois de muitos dias haverá a colheita como
recompensa. Sim, mas o que isso tem a ver conosco hoje? Quando queremos pão ou qualquer outro
alimento, vamos ao mercado e compramos. Não moramos no Oriente Médio. Nem Israel hoje vive
assim! Para que isto nos serve? Cenas do próximo capítulo...

Em 8/7/2015

LANÇA O TEU PÃO SOBRE AS ÁGUAS E AO TERCEIRO DIA VOCÊ O ACHARÁ


Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
Eclesiastes 11:1
(continuação)
Depois de termos visto o que é “lançar o pão sobre as águas...” para depois de muitos dias achá-lo,
temos que saber o que isso significa para nós. Para os israelitas, pão era símbolo de provisão, de
necessidade básica. Não ter pão era não ter o mínimo. Abrir mão do pouco trigo que se tinha e,
consequentemente, do pão que dali viria, para plantar, era um ato de fé. Penso que todos, mesmo os
ateus, têm atos de fé, como crer que o mundo, o universo e tudo o mais veio do nada, de combinações
aleatórias – sei que eles não dizem que é fé, mas que não têm outras razões comprovadas para crer de
forma diferente, mas penso que, ainda sim, é um “tipo” de fé.

Qual é o nosso pão de hoje? Acho que varia muito. Para uns é ter dinheiro para passar o mês com a
família, para outros é ter saúde mental; para alguns é conseguir ter paz com sua esposa e para outras é
não se lançar de vez na depressão. Alguns precisam de adrenalina o tempo inteiro, ou de se sentirem
confortavelmente seguros, ou simplesmente ter toda a rotina sob seu controle. Somos muito estranhos
em nossas “necessidades” e estranhamente diferentes.

Na verdade, acho que somos incrivelmente parecidos. Acho que todos queremos as mesmas coisas.
Antes de tudo, desejamos ser muito, muito amados. Quando eu era mais novo pensava que isso era
papo de propaganda de margarina ou final de filme feliz de Hollywood. “Todo mundo quer dinheiro,
fama, sexo, popularidade... com isso você consegue amor!”. Nem preciso dizer que estava
redondamente enganado. O esforço é sempre por ser amado; cada um corre atrás do jeito que pode pra
sentir esse amor.

Acho que todos desejamos paz. Por mais que a guerra seja necessária, o alvo é a paz. Não tô falando de
“paz sem voz, pois paz sem voz não é paz, é medo”. É mais que tranquilidade, é muito mais que ausência
de conflito. Não é ausência de barulho, ou de tiros na rua, ou de alguém te perseguindo. É mais... muito
mais.
Todos desejamos suficiência. Na verdade, desejamos mais que suficiência. Eu quero pra mim, pro outro
e pra quem mais me pedir. Quero tanto que, na verdade, não quero nada. Já terei tudo. Quem tem
tudo, nada lhe falta.

Queremos alegria. Queremos mais que alegria, queremos gozo. Gozar é mais do que o orgasmo na
cama. Aquele momento de prazer “loko”, de êxtase que um casal tem, é uma prévia do que queremos
sentir pra sempre, o tempo inteiro. Uma droga que não passa o efeito e não faz mal.
Desejamos liberdade. Mais que poder ir onde quiser, a hora que quiser e com quem quiser. Muito mais
que poder comprar tudo que der vontade, ou fazer o que der na telha. Uma liberdade que a gente sinta
dentro, na alma, nas entranhas.

Queremos viver pra sempre. Não envelhecer. Queremos amadurecer, adquirir sabedoria, conhecimento,
capacidades e o corpo acompanhar tudo o que pensarmos. Que a mente pense tão rápido quanto um
computador da NASA. Queremos ser jovens pra sempre.

Agora acorda. Acorda! Ninguém tem isso! Vamos correr atrás do que existe, conquistar nossos alvos,
ganhar dinheiro, viajar pelo mundo, arrumar um parceiro(a) e ser feliz... Ser feliz? Feliz? Não, ser feliz é
muito subjetivo. Isso não dá, nunca ninguém tá totalmente feliz. Contente-se com isso.

É verdade, ninguém está totalmente feliz, totalmente alegre, totalmente em paz. Ninguém está
totalmente suprido, ou gozando a vida o tempo todo, amando e sendo amado como deseja, ganhando
todas as lutas. Ninguém. Mas há um caminho. Um caminho que, na verdade, é o primeiro passo para a
“chegada”. Um caminho que, quando se caminha, a paz vai retornando, o sol vai brilhando, o coração
vai se sentindo completo, a vida vai começando.

Mas para isso você tem que lançar o seu pão sobre as águas. Tem que desistir de guardar o resto de
segurança em si mesmo, de esperança nas coisas que ainda lhe sobram, ou de tentar viver o máximo do
pouco de existência que ainda lhe resta - mesmo que você só tenha 5 anos de idade. Tem que acreditar
em mim. Isso. Acreditar em mim. Vir comigo e começar a trilhar o caminho que comecei faz 18 anos,
quando a angústia me dominava e a falta de sentido pra vida era minha companheira todos os dias. Lá,
eu lancei meu pão sobre a água. Larguei minha última dose de dignidade e orgulho próprio e me
humilhei, crendo no que outros estavam me dizendo. Morri, é verdade...

...mas agora estou vivo. Vivo! Ainda caminhando, claro, tropeçando, obviamente, mas todo dia me sinto
mais eu, mais livre! O melhor dia é o hoje; o amanhã não me pertence, mas está nas mãos de quem eu
pertenço. Lance hoje o seu pão sobre as águas. Ao terceiro dia, você o achará.

Em 9/7/2015
LOUCOS DESTE MUNDO E LOUCOS PARA O MUNDO
Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
Eclesiastes 11:2
A atitude de lançar o pão - no caso o grão de trigo - na água e esperar germinar são atitudes de fé. É
esperar que a natureza, comandada por Deus, irá trazer de volta o que plantamos. Agora a perspectiva é
a de repartir com outras pessoas. O paralelismo fica evidente no “repartir com sete/ repartir com oito”,
reforçando e aumentando a ideia de que partilhar, além de divino, é sábio. A razão dada é que não
sabemos que mal poderá vir sobre a terra, não sabemos o dia de amanhã.

A priori, há dois motivadores para o conselho do mestre. O primeiro é que, como não sabemos o que
sucederá, ou se estaremos vivos daqui até o dia seguinte, não faz sentido guardar, guardar, guardar. Há
mais propósito em repartir, partilhar. A vida é muito melhor vivida quando nosso tempo, nossos bens,
nossa casa, nossa existência não é só nossa, mas de outros. Não sabemos que mal há de vir sobre a
terra. Por que só acumular? “Louco, amanhã pedirão tua alma, e o que você terá para oferecer?”
Dinheiro no banco? Carros na garagem? Títulos na parede do escritório? Acorda do mundo encantado e
vem pra real. Você não sabe que mal há de vir sobre a terra. Não sabe.

A outra razão para o verso é um pouco menos nobre, mas sensata. Reparta com sete e com oito porque,
quando o mal vier, eles te socorrerão. Talvez não todos, mas alguns, por gratidão. “Granjeai amigos com
as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos
eternos” (Lucas 16: 9). As riquezas deste mundo acabam, faltam, uma hora ou outra. Amigos são
riquezas maiores que elas. “Mas se eu ganhar amigos com minha riqueza, não serão amigos verdadeiros,
serão interesseiros”. Depende. Se você estiver tentando ganhar a amizade deles com dinheiro, aí sim,
com certeza terão interesse apenas no dinheiro. Mas se utilizar estas mesmas riquezas para beneficiá-
los, para repartir, para dar livremente o que, na verdade, é seu, eles verão seu coração. Se não virem,
pode ter certeza que Deus verá. Para Deus importa mais o porquê fazemos algo do que aquilo que
estamos efetivamente fazendo. A motivação para repartir é muito mais importante do que dar o
dinheiro, ou o tempo, ou os bens.

Leia de novo, junte as duas motivações que listei e você verá que não há nada de anticristão nelas.

Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra, e caindo a árvore para o sul, ou para o
norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará.
Eclesiastes 11:3
A nuvem tá carregada, o céu tá preto. Precisa ser gênio pra saber que vai chover? Não, né. Então.
Quando a chuva cai, coisas acontecem. Primeiro, molha tudo, ou molha bastante coisa. Dentro de casa,
muitas vezes, não molha, mas às vezes sim. Às vezes cai a energia. Postes desabam, ruas inundam, fica
tudo meio sujo – pelo menos aqui no Rio de Janeiro. Qualquer pessoa sabe disso. Algumas coisas são
óbvias: quando uma chuva cai, derruba a árvore, e pra onde ela tombar, ali vai ficar – a menos que
alguém a retire. É uma ampliação da ideia da incerteza da vida. Salomão está te dando motivos de sobra
pra não confiar no amanhã. Lança o teu pão sobre as águas, reparte com sete e até com oito, porque a
chuva vai cair, a árvore vai tombar... Não está vendo a nuvem carregada?
Outro rapaz disse algo parecido: “E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e
combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda” (Mateus 7: 27).

Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.
Eclesiastes 11:4
Comece a agir hoje. Passe a ter fé agora. “Mas eu não tenho!”. Então peça. Se pedir não está sendo
suficiente, busque. Se buscar não está adiantando, bata na porta. Até abrir. Deus não é sarcástico – por
mais que às vezes pareça ser. Ele vai te responder. Mas tem que confiar n’Ele, acreditar na palavra d’Ele,
gastar tempo conversando com Ele. Quem fica olhando o vento esperando sempre a melhor
oportunidade, nunca veleja. Quem fica olhando pras nuvens esperando o momento de plantar, nunca
colhe. Não seja preguiçoso – estou falando de coisas espirituais, principalmente. O melhor dia pra você
se render, ter fé e começar a trabalhar é ontem. Como ontem já foi, comece agora.

Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher
grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.
Eclesiastes 11:5
Os argumentos vão aparecendo na mente e o Saloma vai mandando. Assim como não sabemos o
caminho do vento e como os ossos se formam no ventre da mulher grávida, também não entendemos
as obras que Deus faz. “Mas agora nós sabemos como se comporta o vento e como se formam os
ossos... bla, bla, bla”. Dã... Sabe onde termina o universo? Já deu um passeio em Saturno? Sabe o que se
passa exatamente na cabeça de uma mulher (essa é impossível)? Nunca sabemos tudo, e cada vez que
conhecemos algo, vemos que estamos a anos-luz de saber coisas básicas. Salomão deu exemplo de
eventos que ele não compreendia. Temos os nossos de hoje. Assim como o mundo, os planetas e a
nossa própria mente ainda são um mistério para nós, assim são os desígnios de Deus.

Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual
prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.
Eclesiastes 11:6
Plante, trabalhe, creia, chore, invista. Comece hoje o seu caminho com Jesus. Homens e mulheres de
Deus caminham com passos de fé, trabalhando duro na seara, honrando um Rei que não veem com
olhos humanos. Andam tateando, crendo no que ninguém acredita, servindo pessoas, falando com
todos pra, de alguma maneira, salvar alguns. Deus não nos deu garantias sobre nosso trabalho. Algumas
sementes que plantarmos cairão em terra boa, mas tantas outras cairão entre espinhos, em solos
pedregosos ou se perderão pelo caminho. Não sabemos qual delas germinará.

Mas, ainda bem, este não é nosso papel. Nossa parte é seguir, obedecer, plantar, sabendo que, no
Senhor, nosso trabalho não é vão. Que a paz que declinamos a todos, se não for recebida, retornará
para nós. Que obedecemos às autoridades não à vista, mas de coração, como ao Senhor. Que vivemos
como palhaços em meio a acrobatas, loucos em meio a PHD’s, ovelhas em meio a lobos.
Porém, sabemos bem quem somos e para onde estamos indo. Somos loucos, mas não ao ponto de
confiar nas riquezas daqui. Enquanto o mundo faz suas acrobacias, somos palhaços felizes, arrancando
sorrisos dos pequeninos. Vivemos a loucura da fé. Somos ovelhas de um pasto, conhecemos a voz do
nosso pastor e o seguimos, todos os dias. Até a consumação dos séculos.

Em 10/7/2015

A JUVENTUDE QUE NUNCA MORRERÁ


Certamente suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.
Porém, se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das
trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade.
Eclesiastes 11:7,8
O final do livro está chegando e com ele a conclusão que Salomão conseguiu obter de toda a sua
observação da vida “debaixo do sol. Com poesia, ele diz: “A luz é agradável; é bom ver o sol”. É ótimo
acordar em uma manhã como a de hoje, um pouco fria, com os raios do sol escorrendo por entre as
árvores. É ver que ainda tem mais um dia, mais uma chance, mais um recomeço. É ver que Deus ainda
está mantendo o universo pelo seu poder.

É bom ver o sol também porque, mesmo que ele estivesse aí, eu e você poderíamos não o estar vendo.
Talvez já tivéssemos partido ou o passar dos anos estivesse escurecendo nossa vista. Ou estivéssemos
em uma prisão, ou no hospital, ou trancados dentro de casa, com medo de tudo – se você estiver em um
destes lugares, lembre que só prendem sua alma e seu espírito se você deixar; seja livre agora para ver o
sol, mesmo que ele esteja coberto pelas nuvens.

Voltando... É bom ver a luz, é agradável, traz alegria. Por mais que alguém viva, deve se alegrar em toda
a sua vida. Por mais que os anos passem, deve se esforçar por viver contente, não apenas sobreviver. É
óbvio que todo mundo quer se alegrar, mas não é óbvio que todos lutem, busquem isso... ou que
busquem da maneira correta.

E, por mais que veja a luz, deve se lembrar que nem todos os dias são assim. Há dias de trevas, dias em
que se reservou, para cada um de nós a escuridão, o breu, o silêncio mortal de Deus. Dias tão escuros
que quase nos esquecemos de como é a luz. Sim, estes dias existem, e talvez você esteja em um deles.
A notícia boa e a ruim é que ambos estes dias, seja de luz ou de trevas, passam. Tudo é sopro, tudo é
vaidade.

Começamos a desenhar o início do fim do livro.

Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos
caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará
Deus a juízo.
Eclesiastes 11:9
Opa, verso conhecido. Lindo, recitado milhares de vezes em congressos de jovens pelas igrejas. Vamos
tentar entendê-lo no contexto: ter fé para lançar o pão sobre as águas; ser inteligente e repartir o que se
tem; não pensar que catástrofes só existem na vida dos outros, porque você não conhece os desígnios
de Deus; plantar, trabalhar, não ficar à toa, e esperar que Deus faça germinar o que Ele quiser; ver a luz,
lembrando-se de que dias de trevas existem, preparando-se para eles...

... E aí o pregador, já velho, experiente, enfadado de observar tudo, olha para o jovem. Fica parado,
talvez vendo algum passar pelo lado de fora de seu palácio... e lembra de sua juventude. Tantos
conselhos, tantos provérbios, tantos pensamentos. Percebe que ele, Salomão, está passando. Que a vida
está acabando, que está chegando o acerto de contas, quando a morte se senta diante dele e começa a
puxar papo.

“Se alegre jovem, aproveite! Seja feliz por estar novo, ande por onde seu coração mandar, até onde a
vista alcançar!”. Se tivesse 20 anos, Salomão pararia por aí. Se alegre, vá pra farra, curta a vida
adoidado. E depois...? Depois curta de novo!... Mas ele sabe que não é assim que funciona. A vida pede
contas, aqui mesmo, do que gastamos em nossa juventude. Sair da faculdade porque estava com
preguiça de estudar pode custar anos, décadas de ralação desnecessária. Beber e dirigir, achando que
nada vai acontecer, pode custar a sua vida e a de seus amigos dentro do carro. Sair pegando todo
mundo pode custar seu casamento ou sua autoestima.

“Então não dá pra me alegrar! Vou ter que viver como um velho, sendo ainda novo?”. Não. “Abra sua
mente”, lembra?. As poucas coisas que não são interessantes (ou que não são interessantes a longo
prazo) de serem vividas nem se comparam com as que são, de verdade, ótimas pra se viver. Curtir uma
praia, rir até a barriga doer com as piadas ridículas dos amigos, dançar, estudar (sim, estudar é
manero!), fazer uma luta, uma corrida, tocar um instrumento, festejar, viajar, chorar as desilusões
amorosas da adolescência (na hora não é bom, mas depois que você lembra, é mó engraçado), tentar
ficar naquele bendito slackline (ô troço difícil), escrever... E pra quem conhece coisas mais maravilhosas
ainda... Adorar, ler a bíblia, orar, pregar pros amigos e inimigos, perdoar, ser perdoado, fazer amizades
na igreja que vão durar até sua velhice. Enfim, ser feliz. Caminhar por lugares até onde a vista alcança -
aonde você vai chegar depende para onde você está olhando.

De tudo, Deus pedirá contas. Sinceramente, nem penso nestas “contas” como algo essencialmente para
depois da morte, mas para o aqui, nesta vida mesmo. Deus não se deixa escarnecer. O que você plantar,
colherá, bom ou ruim. E se a sua plantação foi ruim, peça misericórdia, perdão ao Senhor, pra que Ele
reverta esse quadro. Se você ainda pode ler estas palavras, não importa a sua idade, ainda é jovem o
suficiente pra isso.

Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são
vaidade.
Eclesiastes 11:10

Jovem, não se ire. Não se precipite. Remove da tua carne o mal. Porque sua adolescência e juventude
irão passar. Sinceramente, o que tem a ver uma coisa com a outra? Tudo bem, remover da carne o mal,
não se irar, mas o que tem a ver isso com o fato de a juventude ser passageira?
Tudo. Tem tudo a ver. Salomão enxerga no jovem, no mancebo, o potencial para viver tudo de bom que
a vida tem, mas também vê que ele carrega coisas perigosas em sua “mochila” existencial. Para o
adolescente tudo é muito, tudo é agora, tudo é exagerado. A festa nunca foi mais ou menos, ou foi
“irada” ou foi “um saco”. O garoto bonito da escola não é só bonito, é um “deus grego”. Se o biscoito é
bom, come o pacote inteiro. Adora bife. Odeia frango. Só ouve rock. Só escuta pagode.

Claro que muitas dessas generalizações são furadas. Eu mesmo ouvia rock e pagode (na verdade tentei
ser funkeiro, depois rockeiro, depois nada). O que quero dizer é que a intensidade das coisas para o
jovem é maior do que para o adulto. É a pressa, a urgência, tudo pra ontem. Pra agora.
Nisso, as dores vêm. Hoje eu acho engraçado ter sofrido por umas 2 ou 3 meninas no colégio, mas na
época parecia que eu ia morrer! E não estou usando força de expressão. Eu estava morrendo? Não,
claro que não, mas era o que eu sentia, ué! A primeira nota baixa (se não me engano, um 4 em
matemática, na 7ª série) foi uma facada no peito. Lembro até o gosto da angústia. E quando entrei pra
igreja e comecei uma banda? Em 3 horas de ensaio brigávamos 2 horas, lanchávamos 30 minutos e
ensaiávamos a meia-hora que sobrava.

A verdade é que lá, neste período, comecei a ver meus erros, a querer respeitar meus pais, a amar
minha mãe, a ser menos chato com os amigos, a escrever músicas (toscas, na época, mas foi onde
comecei), a tocar um instrumento (e competindo pra ver quem tocava mais, óbvio), a fazer grandes
amizades, a andar de bicicleta, a amar a Jesus. Tudo junto, ao mesmo tempo. Aquele, de 18 ou 20 anos
atrás, é parte de mim hoje. Tive que aprender a não me irar, a não guardar rancor, a remover da minha
carne o mal, a perdoar, a abaixar a cabeça e aprender. E, na boa, foi maravilhoso.

Não se limite aos meus exemplos. Você pode ter tido uma vida completamente diferente da minha ou
pode estar agora mesmo na juventude e não se identificar com os exemplos que dei, mas tenho certeza
que, internamente, você sentiu – ou sente – essa montanha russa dentro de você. Afasta a ira do seu
coração. Não vale a pena. Remove da sua carne o mal. Porque sua juventude vai passar e não vale a
pena perdê-la com iras, rancores e pecados. Viva-a de modo sadio, bonito, intenso, porque ela vai
passar. Ou não... pode ser jovem ainda, dentro de você.

Em 13/7/2015

CAPÍTULO 12

NÃO ADIANTA FUGIR


Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e
cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;
Eclesiastes 12:1
O ápice. O clímax do livro. O momento de reflexão máxima, de conclusão de Salomão sobre toda a sua
avaliação da “vida debaixo do sol”. Tudo é aqui, é terreno, é passageiro, é vaidade. Tudo que começa
está fadado a terminar, mais cedo ou mais tarde. A vida do ímpio e a vida do justo passam, os prazeres
passam, os animais, as plantas, os desejos, as ideias, os projetos, o som das canções, as propriedades, os
amores, as conversas, os amigos, a vida. A juventude também passa.

O pregador está velho, viu de tudo o que poderia ser visto. Já leu tudo o que poderia ser lido. Desfrutou
de um harém – as “delícias” dos homens, na linguagem dele -, construiu palácios, estabilizou um reino e
até edificou um templo em honra a Jeová. Por que, então, se sentia tão vazio, tão angustiado? Se tudo o
que poderia ter sido conquistado ele, efetivamente, conquistou, por que o drama? Envelhecer é normal,
não?

Acho que a resposta pode estar no primeiro verso mesmo. “E lembra-te do teu Criador...”. Este “E” (yod
em hebraico) que inicia o capítulo é suprimido em muitas versões. O assunto da juventude começou no
verso 9 do capítulo 11. Volta lá e recomece ler. Eu espero... (…)
...Já leu? Então, este “e” é como se fosse um lembrete final em forma de conclusão. É como se o
pregador tivesse feito todo o seu discurso para um determinado jovem e terminado com aquele ar feliz
de “alegre-se, jovem, na sua mocidade...apenas saiba que Deus lhe pedirá contas...”. O papo ou a
palestra termina e Salomão diz “E lembra do teu Criador”; o jovem já vai se levantando quando ouve um
“Ah, a propósito, uma última coisa; não vai agora não que eu tenho só mais um detalhe pra te falar”. E
então inicia-se uma verdadeira Alegoria à Velhice. É curioso este contraste da juventude e da velhice no
mesmo verso, unidas ao Criador.

Se você viajou comigo pela mente de Salomão durante todo este livro pode entender o que ele está
sentindo agora. Se tudo acontece e morre aqui, qual é a melhor fase da vida? A juventude, óbvio! É
quando tudo acontece, quando a mente quer e o corpo responde, quando os sonhos estão todos
frescos, a cabeça está limpa e a disposição nunca acaba. É a idolatria da novidade, do que é recente,
zero km, último modelo. É a passarela das vaidades da vida, a propaganda do bem-estar, a beleza que
não precisa de maquiagem. É a juventude.

Tenho 31 anos. Idade muito maneira. Não sou adolescente, já terminei a faculdade faz tempo, me casei
com a melhor mulher do mundo, tenho um emprego, exerço o ministério, faço música, pratico esporte,
escrevo. Tenho bom relacionamento com a maior parte das faixas-etárias, de pré-adolescentes a idosos.
Não me sinto tão longe nem de um nem de outro. Sou um jovem adulto. Apesar de tudo ser legal, me
conheço o suficiente pra saber que nada disso bastaria. Nada. Tudo seria pouco, eu ia precisar de mais.
É aí que Salomão está tomando o jovem apressado pela mão e dizendo: lembre-se do seu Criador, antes
que venham dias onde você dirá “não tenho mais prazer”. E que dias são esses? A velhice. A partir deste
ponto o pregador abandona o tema “vaidade” e se volta para ele mesmo, para sua condição física e
mental. Percebe, como se estivesse anestesiado até agora, que a vida passou. Que o corpo e o tempo
que ele pensava serem eternos, na verdade, foram empréstimos de curtíssimo prazo, sem possibilidade
de devolução. Um estalar de dedos e a vida passa.

Como já disse sobre mim há pouco, sei que nada do que tenho poderia me fazer feliz. Se não tivesse
encontrado Deus aos 13 anos – ou Ele me encontrado – sei que estaria agora procurando o pote de ouro
no fim do arco-íris. Estaria buscando, feito louco, satisfazer as necessidades de minha curta vida. Estaria
envelhecendo, gastando os dias; velho em um corpo novo. E só quando a velhice chegasse, me daria
conta da futilidade da vida. Fico feliz de ter sido alertado disso tão novo.

Vamos, a partir de agora, entrar na poesia de Salomão, nesta Ode à Senilidade.


[AVISO: não recomendado para pessoas que desejam avaliar sua própria existência].

Em 14/7/2015

ANTES QUE VENHAM OS DIAS MAUS


Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e
cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;
Eclesiastes 12:1
Sinceramente, não dá pra ter certeza absoluta de que foi Salomão que escreveu este livro. Parece que
sim, mas este verso me deixa meio intrigado. Não foi o jovem Salomão que pediu sabedoria a Deus ao
invés de riqueza, fama e morte dos inimigos? Não foi ele o monarca com maior estabilidade e riquezas
da história de Israel até hoje? Além disso, não foi ele quem escreveu centenas de provérbios, conselhos
práticos de como viver bem e temendo a Deus?

Sim, foi. Mas houve um momento em que o coração dele se desviou, porque amou muitas mulheres
estrangeiras, das quais Deus havia falado “não chega nem perto, cara!... elas vão corromper seu você!”.

Não deu outra. As minas cirandaram a cabeça do matuto. E não tem como não cirandar. Deus disse que
ia, então se ia, é porque ia – profundo, não?! Deus sabe que todas as nações são "multifacetadas", que
cada um acredita no que quer, vive como quer, adora outro deus, ou deuses, ou deus nenhum. Que, por
causa disso, tem objetivos diferentes, prioridades diferentes, visões de mundo muito distintas.
Externamente, pro Saloma, eram só mulheres, como as de Israel, mas ele, tão sábio, não se ligou no
abismo que separava ele e seu povo dos outros. Ou se ligou, mas quis pagar pra ver.

E pagou. Pagou caro. Esqueceu-se de seu Criador nos dias de sua mocidade (1 Reis 11: 1 a 3). A força de
sedução das mulheres foi mais forte que seu caminho com Jeová. Justamente na velhice adorou
Astarote, Milcom, Quemós e até Moloque, o deus amonita que recebia crianças pequenas como
sacrifício. E agora, já quase partindo, começa a escrever seu último conselho. Conhecendo tudo o que
conhecia, escreveu “E lembre-se do Seu Criador... porque eu me esqueci dele e me arrependi
amargamente (essa última parte é por minha conta)”.

Às vezes supomos que Deus exagera em algumas coisas que nos diz. Não sei se foi o caso de Salomão,
mas é o nosso, com certeza. Se Jesus te disse pra não fazer algo, não faça. Não pague para ver. Não seja
teimoso. Não é fácil sempre saber o que Deus quer; a bíblia não é como uma bula de remédio ou uma
receita de bolo que você apenas segue as instruções ao pé da letra. Se fizermos isto iremos pecar –
como o “Se a tua mão te escandalizar, arranca ela fora (Mt 5:30)” NÃO deve ser seguido literalmente.
Mas depois que o Senhor já falou de diversas maneiras, já usou algum irmão ou irmã, te deu aquela
palavra em um culto, usou seu pastor ou qualquer outra coisa que fez você ver claramente o que Ele
quer, por favor, não seja burro! E me desculpe a franqueza; o primeiro potencial burro aqui sou eu.
A chave para entender este verso é, na minha visão, a parte que diz “antes que venham os maus dias e
deles você venha a dizer ‘não tenho prazer’”. Salomão não teve prazer na velhice por qual motivo? Só
porque não tinha mais vigor ou porque a morte estava chegando? Não. Ainda que a proximidade do fim
seja aterrorizadora, quem conhece a Deus sabe como envelhece o crente e o ímpio. A alegria, o
contentamento e a gratidão do primeiro e a amargura, o descontentamento e a ingratidão do segundo.
Salomão esqueceu seu maior tesouro. Tinha as delícias dos homens, tinha grana, fama, exército e
sabedoria, mas tudo, de repente, não fazia mais qualquer sentido. O prazer dele se fixou nestas coisas e,
fatalmente, elas o traíram.

Agora ele está partindo, vendo a areia da ampulheta escorrendo e não pode fazer mais nada. Neste
verso está o primeiro “Antes”, uma advertência à inevitabilidade do fim. Vamos "ouvi-lo".

Em 15/7/2015

A BELA DESCRIÇÃO DO QUE É MAU


Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;
Eclesiastes 12:2
Após ter chamado a atenção do jovem, o pregador começa a descrever a velhice em uma belíssima
poesia. Há algumas divergências de interpretação 1 e os próprios rabinos discordam em alguns pontos,
mas vou apresentar a maneira que me pareceu mais fiel ao texto e à poesia hebraica da época. Sinta-se
livre – como em qualquer estudo sobre a bíblia – para buscar suas próprias interpretações 2.

Estamos diante da descrição de uma tempestade. Ela vem, não há como pará-la. Quando ela chega o sol,
a luz, a lua e as estrelas escurecem. E depois da chuva, mais nuvens. É o segundo “Antes”. A tempestade
vem e tudo vai escurecer. Não é uma possibilidade, é uma certeza. Antes que tudo se escureça, lembre-
se de quem é a sua luz. Antes que a tormenta venha, prepare seu barco. Antes que todos os sinais
celestes sumam e te deixem desorientado, sem saber para onde é o norte ou o sul, se agarre na bússola.
Antes que a velhice venha, lembre-se. Lembre-se!

Outra interpretação possível é a de que, tanto neste verso quanto nos seguintes, as figuras representem
partes do corpo e dos sentidos de um idoso. Neste caso, tudo escurece porque o velhinho já não

1
COSTA, Luciano Medeiros. O Livro de Eclesiastes. Uma Análise Geral e uma Análise específica do Texto de Ec 12:1-
8. Em http://www.angelfire.com/zine2/lucianocosta/antigotestamento/eclesiastes.PDF. Acesso em 15/7/2015.

2
Por exemplo, ver http://www.mundobiblico.com.br/content/index.php?
option=com_content&view=article&id=36:interpretacao-de-eclesiastes-12-18&catid=6:estudos-
biblicos&Itemid=15. Acesso em 15/7/2015.
enxerga mais. Acredito, porém, que este verso está focando na chegada da velhice em si, representada
pela escuridão. Os versos seguintes é que começam a descrever as partes do corpo.

No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os


moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;
Eclesiastes 12:3
Nos versos 3 e 4 a descrição é de um casarão velho. A tempestade chegou e o abrigo está muito antigo.
Diante da tempestade (a velhice), o casarão (o corpo) responde de forma diferente da que respondia
quando era novo, forte e muito bem guardado por soldados.

Os guardas da casa são os braços e a representação da fragilidade do idoso em se proteger das ameaças
externas. Seus guardas tremem, não são mais firmes. Não podem mais defendê-lo como antes. O mal de
Parkinson é simbolizado pela falta de firmeza dos guardadores principais de uma casa nobre do mundo
antigo. Os guardas agora não guardam mais nada. Outra interpretação possível é a de que são os joelhos
trementes do idoso.

Os homens fortes podem ser as pernas, que não oferecem mais firmeza, curvando-se diante dos
inimigos, ou do maior inimigo, que neste caso é o tempo. Homens fortes que agora são fracos. Os que
acreditam que os guardas são os joelhos veem os homens fortes como símbolo dos braços.
As moedoras eram duas pedras circulares (uma sobreposta à outra) entre as quais se moíam diversos
tipos de cereal para transformá-los em farinha 3. O simbolismo aqui é mais óbvio: os dentes, que de tão
poucos não mais servem para mastigar a comida.

Os que olham pelas janelas são as pessoas de dentro da casa, observando a vida do lado de fora. Se a
casa é o corpo, as janelas são os olhos que agora veem pouco, decifrando apenas vultos na escuridão.

E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e
todas as filhas da música se abaterem.
Eclesiastes 12:4
Há muita divergência para interpretar os detalhes, mas as portas da rua se fechando por causa do baixo
ruído da moedura parecem refletir a intolerância do idoso a quaisquer ruídos que perturbem seu sono
ou descanso. Por isso, mesmo uma ave, um passarinho cantando, o acorda. Seu sono é leve. Acordar ao
som das aves também sugere que ele se levanta bem cedo, quando os primeiros passarinhos começam
a cantar.

As filhas da música podem simbolizar as cordas vocais. Estão abatidas, fracas, ressaltando a pouca
energia do idoso em gritar, falar, cantar e, por causa disso, se expressar. Não é apenas uma questão de
volume mas de comunicação com o mundo exterior. Toda a melodia que poderia encantar a vida de
outras pessoas agora é quase inaudível.

3
Em http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200003060. Acesso em 15/7/2015.
Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira,
e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os
pranteadore andarão rodeando pela praça;
Eclesiastes 12:5
Na primeira parte do verso é suspenso o uso de imagens. Fala-se de maneira mais direta. Diante do
quadro geral de fragilidade, o idoso começa a ser mais cauteloso, a temer situações que antes sequer
notava. Passa a ter medo de altura e de passear pelas ruas – os pavores do caminho.
Voltando às figuras. As flores de uma amendoeira são cinza, quase brancas. A árvore cresceu, deu fruto
e agora suas flores alvas contrastam com a cor amadeirada dos galhos e do caule. A referência é clara
aos cabelos brancos.

Um objeto levíssimo, como um gafanhoto, é um peso. Qualquer coisa a ser carregada parece ter uma
tonelada. Qualquer trabalho é muito custoso, muito cansativo. Em outras traduções se lê “o gafanhoto
andar se arrastando”, sugerindo o andar vagaroso do idoso.

O perecer do apetite sugere tanto a perda do sabor da comida quanto o ter pouca fome. Além disso, a
libido, o apetite sexual diminui. Na verdade, o desejo geral pela vida vai se esgotando.
Tudo isso por uma simples razão: o homem está indo para sua morada eterna. Está indo para a morte.
Repare na construção de pensamento de Salomão. O casarão, que é seu corpo, um dia foi forte. Parecia
indestrutível, parecia inabalável. Parecia eterno. Mas, na verdade, a casa em que morou era provisória.
A eterna está em outro plano, outra dimensão. É para lá que ele está indo. É para lá que eu estou indo. É
para lá que você está indo.

Os pranteadores já andam pelas ruas. Um dos grandes eventos no mundo antigo era a morte de alguém.
Era uma verdadeira procissão. Muitas pessoas choravam dias em honra ao morto. Em algumas famílias,
quando não havia pessoas suficientes para dignificar o momento, contratavam-se “choradores”
profissionais. No Brasil, eram chamadas de carpideiras, mulheres que eram pagas para esse trabalho, no
mínimo, estranho.

A perspectiva puramente humana da proximidade da morte é bem retratada nestes versos. A


decadência, a falta de força, de vigor, de desejo e de sentido enchem a mente do pregador. Vamos
avançar para o terceiro e último “Antes” no próximo estudo.

Em 16/7/2015

A POESIA DA MORTE E DA VIDA


Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à
fonte, e se quebre a roda junto ao poço,
Eclesiastes 12:6
Este é, talvez, o verso mais obscuro do capítulo, se tentarmos desmembrá-lo detalhe por detalhe.
Alguns comentaristas tentam associar o cordão de prata à espinha, a taça de ouro à cabeça etc. Não
consegui enxergar esta intenção no pregador. Como está perto verso 7, que é a conclusão poética do
capítulo e do próprio livro, penso que as figuras pormenorizadas dão lugar à descrição do assunto
principal: o fim.

O fio de prata se rompe, a taça de ouro se despedaça. É o primeiro par de figuras para simbolizar a
morte. Os metais nobres aqui descritos sugerem que, mesmo uma juventude que tenha todo vigor, uma
vida que pareça que não vai terminar, pode simplesmente se quebrar.

O par seguinte é o cântaro que se despedaça junto à fonte e a roda que se quebra junto ao poço. Para
retirar água de uma cisterna os israelitas cavavam poços e se utilizavam de um jarro preso a uma corda
que passava por uma roda – como se fosse uma roldana moderna. É a figura a fragilidade da vida. O
jarro simbolizando nosso corpo, ambos feitos do barro, e a roda remetendo ao tempo, o frágil
instrumento que nos conduz até a água - simbolizando a vida. De repente, a roda se quebra – o tempo
se esgota - e todos os planos terminam, o jarro se quebra. Em um piscar de olhos, nossa vida passa.

Agora junte tudo e sinta a respiração do pregador ficando ofegante ao falar sobre essas coisas. As
figuras vêm num crescendo; não há mais longas descrições mas apenas duas ou três palavras que
antecipam o clímax. Ele dá exemplos vários, argumentando desde o início do livro sobre a vaidade, o
sopro que é a vida. Para você entender o que quero dizer, vou repetir uma palavra neste verso que
enfatizará a urgência do argumento: “Antes que se rompa o cordão de prata, antes que se quebre o
copo de ouro, antes que se despedace o cântaro junto à fonte, e antes que se quebre a roda junto ao
poço”.

É o último “Antes” dos três que ele emprega no capítulo. Neste ponto, é como se o leitor do livro
estivesse prestes a morrer também e Salomão precisasse ser rápido para convencer-lhe da vaidade da
vida. É como se ele lhe implorasse: “Por favor, presta atenção no que estou dizendo! Antes que isso
aconteça, lembre-se do Seu Criador!”.

E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.


Eclesiastes 12:7
E a finalização poética do capítulo: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o
deu”. Fim. Não há mais palavras, conhecimento, argumentos, planos, projetos, nada. Acabou. Game
over. Tchau.

Antes que isso aconteça, saiba o porquê de você estar aqui. Podemos viver a vida inteira para nosso
próprio umbigo, nossos prazeres, ou até para satisfazer a expectativa de outras pessoas. Triste vida em
vão que teremos levado. O pregador diz qual é a vida que vale a pena: a que se lembra, a que tem em
mente quem é o Criador. Um poeta, conhecido meu, disse o seguinte: “...até a dor serviu pra que eu
pudesse entender/ que a criatura é pro Criador”.

Você veio de um lugar e não há um dia sequer que seu espírito não deseje voltar para lá. Ao longo da
vida tentamos enganá-lo com outros lugares como fama, conquistas, prazeres, viagens a outros países,
viagens em álcool ou baseado, sexo, religião, filantropia, trabalho, amigos, casamento, descasamento,
recasamento... até que seu espírito não aguenta mais tanta enrolação e te sussura: “eu quero voltar pra
casa; me escuta, eu quero voltar pro meu lar, pro meu Criador”.

Você pode continuar ignorando. Sim, você pode forçá-lo a ficar calado enquanto o entope de toda a
sorte de porcarias espirituais, como alguém faminto há dias pode se encher de bala e brigadeiro. Um
dia, porém, ele vai te vencer. Seu corpo não mais vai aguentar, seu espírito continuará existindo mas sua
matéria apodrecerá. Neste tempo, será tarde demais. Seu espírito se encontrará com o Criador talvez
em circunstância não muito ideal.

Ou pode agora, neste exato momento em que lê este estudo, deixar seu espírito falar. Converse com ele
e veja se não tem razão. Veja se alguma coisa faz sentido sem Deus, sem ama-lo, buscá-lo, conhecê-lo.
Ouça-o. Ouça Salomão. Escute a mim. Escute a Deus.

Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.


Eclesiastes 12:8
Tudo é vaidade. Se não há depois, se não há ressurreição, se não há uma conclusão, um julgamento,
nada aqui faz sentido. Paulo chega a dizer que “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19). Nem a esperança em Jesus se completa apenas nestes
poucos momentos em que aqui estamos. Há outro lugar, outro existir além deste.

Para começarmos a viver aqui, de verdade, só em Cristo. Ele nos dá sentido, motivação, vida! E quando
fecharmos os olhos para este mundo, abriremos em outro. A existência neste plano é apenas o início.
Mas podemos e devemos começar a vida eterna aqui, agora.

Parece que o pregador não enxergou isto. Toda a sua descrição da velhice tem como pano de fundo a
vida que levou longe do Criador. Aí sim, de fato, o quadro que ele pinta faz sentido: as dores na coluna,
os braços tremendo, as pernas vacilantes, a falta de desejo, a falta de tudo, principalmente de sentido.
Só consegue ver o material, o que está diante dos olhos; só o natural lhe salta aos olhos enquanto o
sobrenatural é esquecido.

Quem, porém, uma pessoa vive com o Criador, cada dia fica mais nova, como Calebe, que aos 85 anos
disse: “Ainda estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; tenho agora tanto vigor para ir à
guerra como naquela época!” (Josué 14:11). E há muitos outros exemplos como Moisés, Abraão, Jó,
Paulo e o apóstolo João. Homens que viveram longos dias, que carregaram em seus corpos mortais a
poção da vida. Paulo resume: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do
poder seja de Deus, e não de nós/ Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior
se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (2 Coríntios 4: 7 e 16).

Já vivemos dias maus. Lembre-se de Seu Criador e conheça o que é viver de verdade.
Em 17/7/2015

VIAGEM AO CENTRO DE SI MESMO


Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
Eclesiastes 12:8
(continuação)
"Tudo sem sentido! Sem sentido! ", diz o mestre. "Nada faz sentido! Nada faz sentido!”. Este é o grito
desesperado do qohelet, do Eclesiastes. Ouvi dizer em algum lugar que “quem pensa muito é infeliz”
porque acaba por descobrir que nada tem sentido em si mesmo nesta vida. Acho que é por isso que me
identifico tanto com o livro. Minha conversão não ocorreu quando estava com algum problema na
família, ou envolvido com drogas, ou magia negra, ou sendo ameaçado por traficantes, ou porque tinha
adulterado. Só tinha 13 anos, não deu tempo de ter tantas emoções. O start de meu desespero pessoal
foi: “Nada faz sentido; não tem porque dormir, acordar, estudar, voltar pra casa, um dia trabalhar e
depois morrer”.

Não conheço muitas pessoas que se chegaram a Deus com este pano de fundo. Pelo menos uma eu
descobri: Salomão (se é que foi ele mesmo escreveu). Ele pra lá de 70 anos e eu com 13. Parceiros de
crise. Muito parecidos. A diferença é que ele era milionário, rei de um país, tinha mil mulheres e um
exército gigantesco e eu de classe média-baixa, rei dos meus patins, com três mulheres (minhas duas
avós e minha mãe) e com um exército de soldadinhos de plástico. Fora estas coisas bobas, no que é
importante, eu e ele nos identificamos muito.

Acho que você pode também, depois de acompanhar esta saga comigo, estar sentindo as mesmas
coisas. Já se passou um tempo desde que começamos juntos a mergulhar na mente de um “insano”. E
mergulhar na mente de alguém pode te levar a sentir as mesmas coisas, como o ator que, de tanto
“entrar” no personagem, não consegue mais “sair” dele – sempre me lembro do Heath Ledger, que
interpretou o Coringa em “Batman: o Cavaleiro das Trevas” e parece ter mergulhado demais 4 no algoz
do morcego mocinho.

Acho que vale a pena entrar neste personagem de Eclesiastes. Ver suas crises, seus dilemas, suas
conquistas e derrotas. Loucura mesmo é viver sem pensar na vida como ela é, e o pregador pensa
demais. A sociedade não sofre mais de pensar, mas de tanto não pensar, não refletir seriamente, não
atentar para sua própria vida e para o sentido profundo de sua existência. O mundo tecnológico nos deu
tanto conforto, satisfação, diversão que abrimos mão de termos ao menos uma reunião quinzenal
conosco mesmo, uma mesa redonda em nossa mente.

Mais que atentar para o que foi dito, podemos evitar este erro. Podemos viver para o Criador, para
4
Ver “Estréia de ‘Batman’ levanta questão: o Coringa levou Heath Ledger à morte?”, no site G1, em
http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL652101-7086,00-
ESTREIA+DE+BATMAN+LEVANTA+QUESTAO+O+CORINGA+LEVOU+HEATH+LEDGER+A+MORTE.html. Levantaram-
se especulações sobre se a morte do ator tinha ligação com o trastorno que sofreu em sua personalidade ao
interpretar o Coringa. Acesso em 17/7/2015
agradá-lo, conhecê-lo, honrá-lo e, principalmente, amá-lo. Tudo o que fizermos, comendo ou bebendo,
entrando ou saindo, indo ou voltando, será para a glória de Deus, do nosso Deus. Isso é viver, é
aprender. Hakuna Matata5!

E, quanto mais sábio foi o pregador, tanto mais ensinou ao povo sabedoria; e atentando, e
esquadrinhando, compôs muitos provérbios.
Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e escreveu-as com retidão, palavras de verdade.
Eclesiastes 12:9,10
Muitos provérbios, muita sabedoria, muita vida nestes versos. Leia e releia este livro sem preguiça
mental ou espiritual e se torne mais sábio, mais consciente e mais feliz. Ao invés de guardar suas
reflexões e experiências com Deus, Salomão partilhou conosco o momento mais delicado e frágil de sua
vida. Acho que nem em seu mais ambicioso sonho imaginou que nós, mais de 3 mil anos depois,
estaríamos lendo seus conselhos.

Graças a Deus não estamos apenas fazendo uma viagem psicológica, mas lendo a Palavra de Deus. O
pregador escreveu coisas retas e verdadeiras, e em meio às suas crises, Ele se mostrou. Por ser um livro
voltado apenas para a perspectiva humana da vida, não é de imediato que enxergamos Jesus nestas
páginas – a não ser em algumas passagens – mas quando combinamos com o restante das Escrituras,
vemos quanto Eclesiastes é um livro para hoje, para nossos dias insanos. São os pensamentos de um
quase-maluco que de doido não tem nada.

Mais uma vez, a loucura de Deus se mostrou mais sábia que a sabedoria dos homens.

Em 20/7/2015

MAIS QUE O CÉU, QUE A TERRA E QUE O MAR


As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem fixados pelos mestres das assembléias,
que nos foram dadas pelo único Pastor.
Eclesiastes 12:11
Jesus aparece em Eclesiastes, agora de maneira mais clara. Não que Salomão soubesse disso, até porque
Deus era o pastor de Israel no antigo testamento, mas a figura mais óbvia de Deus como Pastor,
inegavelmente, veio com o homem Jesus. Ele apascentou as ovelhas perdidas de Israel e, de quebra,
seus funcionários espalharam a notícia boa para o maior número de pessoas que conseguiram, pros
gentios. E aí foi passando, passando e chegou até você e até mim.

As palavras do sábio, os conselhos do mestre são como pregos bem fixados, como aguilhões.
Machucam, mas firmam sua fé. Incomodam, mas te mantém de pé. Falam a verdade sem rodeios, mas
5
Antes que algum crente diga que a frase é uma adoração a um deus doido ou uma frase do tipo “mata teus pais”,
minha intenção é apenas fazer uma brincadeira. Pelo que pesquisei, a frase quer dizer “aproveita a vida” ou “viva
sem preocupações”. Para outros significados veja http://anna-lyzing.com/2012/03/28/the-dark-side-of-hakuna-
matata/. Acesso em 17/7/2015
te livram da morte. Reconhecendo a inspiração que teve para escrever cada palavra deste livro tão
intrigante, aparentemente tão humanista, tão voltado para a vida terrena, o pregador reconhece que
cada linha veio do único Pastor. Eu nunca tinha atentado de perto para este verso. Ele é, junto com o
testemunho de toda a bíblia, a comprovação de que Eclesiastes veio de Deus pra nós. O nosso Pastor,
que dá a vida pelas ovelhas, usou nosso irmão mais nerd, Saloma, pra trazer, da nerdisse dele, um
relance da mensagem da cruz: “Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do
homem não consiste na abundância das coisas que possui” (Lucas 12:15).

Muitos não gostam de Eclesiastes pelo pessimismo que emprega, por parecer humano demais e divino
de menos. Isso gera uma preguiça, um preconceito velado contra o que está escrito. Aí selecionamos as
partes mais legais pra postar no face ou colocar no projetor da igreja e perdemos a riqueza do que Deus
falou através deste cara, o homem que tudo teve e descobriu que esse tudo era nada. Pensa aí, se Deus
viesse numa nuvem branca agora e lhe dissesse que tem uma carta pra você, super intelectual, cheia de
“charadas”, que pode mudar toda a sua visão sobre a existência, a natureza, os bens, os prazeres, as
riquezas, a juventude e a velhice, você não ia querer ler? Pois bem, isto é Eclesiastes. Não precisa de
nuvem branca pra enxergar isto.

Como já disse e repeti, este livro é palavra de Deus e, se assim é, Deus é quem está falando. A gente tem
tempo pra fazer tanta coisa, ler qualquer romance barato, ouvir 2.553 músicas por dia, ver TV, ficar
horas na internet mas não tem pra mergulhar na Palavra? Nem preciso dizer que tem alguma coisa
errada.

Escute o Pastor. Essas palavras vêm dele.

E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.
Eclesiastes 12:12
Reconhecendo a finitude das letras, das ciências, dos livros, o qohelet diz que não há limites para
estudar. O conhecimento é ótimo, mas ele não termina nunca. É um poço sem fundo e sem respostas
satisfatórias. Não é um desincentivo ao estudo, mas Salomão está colocando as coisas em seu devido
lugar. Não há limites para conhecer as diversas matérias que existem; o muito estudar é só enfado da
carne, é ficar cansado. Eu, particularmente, quando estudo muito qualquer matéria secular me sinto
estafado, como se tivesse perdido tempo. Tenho que parar um pouco e me voltar para as palavras e
letras que realmente importam, que de fato mudam a vida das pessoas e a minha, as palavras de Deus.

Aí posso, momentos depois ou no dia seguinte, voltar a estudar o que tenho de estudar.
Salomão sabia disso. Ele era muito sábio, e como Deus não é mágico, ao invés de fazer o jovem rei saber
tudo do dia pra noite, obviamente utilizou a leitura para treiná-lo. Confiando na sabedoria humana,
como confiou nas riquezas, nas mulheres e nos prazeres, parece ter, durante a vida, negligenciado a
verdadeira fonte de sabedoria e conhecimento, que é o Senhor. Imagino o quanto ele ficou cansado.
Agora, já idoso, percebe que a vida é muito mais do que apenas se afundar em livros e saber milhares de
assuntos; na verdade, conhecimento de verdade é saber as coisas certas. Pra isso, só ouvindo o bom
Pastor.

De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o
dever de todo o homem.
Eclesiastes 12:13
Tendo escrito esta obra-prima, o pregador não apenas resume mas conclui seu pensamento: “Teme a
Deus e guarde seus mandamentos”. Por quê? Porque isso é ESSENCIAL para o homem, ou seja , é da
essência do ser humano conhecer Deus. Sem Ele nada somos, nada podemos, nada tem graça, nada vale
a pena. Tudo é enfado, “... tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”... mas quanto
mais fugimos dela, mais perto ela se chega a nós. Como um cachorro que tenta morder o próprio rabo,
corremos e cansamos, buscando a felicidade onde ela não está, matando a sede com o que não é água e
se alimentando do que não é pão (Isaías 55: 1 e 2).

Jesus, ampliando esta palavra, disse sobre o temor de Deus e o guardar dos mandamentos: “Quem tem
os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu
Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele". (...) Se alguém me ama, guardará a minha palavra. Meu
Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele MORADA. Aquele que não me ama não guarda as minhas
palavras. Estas palavras que vocês estão ouvindo não são minhas; são de meu Pai que me enviou” (João
14: 21, 23 e 24 – grifo meu). Ainda alguma há alguma dúvida de que você e eu precisamos MUITO ler,
compreender e viver a palavra de Deus?

Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja
mau.
Eclesiastes 12:14
Deus há de trazer a julgamento tudo o que foi feito, mesmo à surdina, escondido, seja bom ou mal. Deus
não é um cão sem dentes, um velho barbudo que não consegue levantar da cadeira, um lunático criador
de todas as coisas que fica brincando de jogar futebol com as estrelas e coloca os planetas como trave.

Se fosse assim, teria destruído a raça humana. Sinceramente, no lugar dele eu teria feito isso, e bem
provavelmente você também. Mas Ele é melhor e maior que nós e nossos pensamentos. De tão
apaixonado, entregou o que tinha de melhor, o Seu filho, Seu ÚNICO filho, para nos ensinar como é viver
de verdade, e ainda morreu em nosso lugar e nos ressuscitou, juntamente com Ele. Quando não damos
atenção às palavras do Senhor, quando não lemos sua palavra, não oramos, não estamos em comunhão,
não pregamos o Reino de Deus aos pobres, é esta grande salvação que estamos negligenciando. Pobres
de nós! Graças a Deus por Cristo Jesus, nosso Senhor! Se não fosse Ele, estaríamos ferrados. Porque com
o entendimento servimos à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado (Romanos 7: 25).

Crer, esta é a tua “obra” e a minha. Não temos capacidade, em nós mesmos, de vivermos a vida que
Jesus viveu. Ele, através do Seu Espírito, nos ensinará o caminho, no caminho. Não fique desesperado,
porque “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a
carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus...” nos “... livrou da lei do
pecado e da morte” (Romanos 8: 1,2).

Maranata, vem logo Jesus! Se possível, vem enquanto digito estas palavras! Se não, te aguardo junto
com meus irmãos, fazendo a tua obra, mas morrendo de saudade. Te amo, como diz minha vó pra mim
“... mais que o céu, que a terra e que o mar”.

Amém!

FIM

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