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Universidade Regional de Blumenau - FURB

Disciplina: Teoria da História e História da Historiografia


Docente: Dominique Santos
Aluna: Alyne Neves

O que é e qual a importância da Teoria da História e da História da Historiografia


para a formação do (a) Historiador (a) profissional?

Antes do ambiente acadêmico, muito se é reclamado da temerosa Teoria da História e


História da Historiografia, no primeiro contato, até com certa atitude brusca, ela quebra
algumas verdades impostas pelo modelo não acadêmico.Ver a História como ciência
legitimada, entendendo os seus processos, complicações, modos,métodos,formas, recortes, só
é possível graças à teoria.Escolher materiais e evidências e analisar em um processo sério
com auxílio de mediadores teóricos e metodológicos conectando os fatos e os conectando
novamente com novos pensamentos. A respeito da sistematização da Teoria o professor
Doutor José D’assunção barros diz:

¨A teoria vai como se acercando do seu objeto e do seu


problema, estabelecendo uma visão de fora, ainda que sistemática
e,de toda maneira, capaz de posteriormente transmitir assim o
âmago do objeto examinado¨ (BARROS, pg.37 2011)

O que conversa exatamente com o ofício do historiador, e a característica filosófica da


análise teórica, é olhar o seu objeto de estudo com uma visão de fora, científica e
profissional. Este texto acadêmico ser feito em 2022 não é um fato histórico, mas as cartas de
Johann Baptist von Spix são, porque algum historiador confirmou, sistematizou e
examinou.O Historiador é um selecionador( Edward Carr 1996). Quando Ranke disse, a
respeito do historiador “apenas mostrar como realmente se passou” (wie es eigentlich
gewesen) cultuou a ideia que temos por vezes ainda hoje, um Historiador ligado apenas ao
passado, a uma História Factual,portanto sem diálogo, que satisfizesse todos.
Mas os Alemães implantaram conceitos importantes para a história hoje, a crítica
documental e o Historicismo reconhecer a singularidade do objeto historiográfico, montagem
dos grandes arquivo, necessidade de estabelecer um padrão metodológico diferente das
ciências da natureza instituição de uma historiografia que começa a se apresentar como
científica consolidação da figura do “historiador” como um tipo específico de profissional e
intelectual, e não eruditos mais diversificados, como os naturalistas que por ali andavam. Por
vezes alguns pensamentos entravam em paradigma com o positivismo,o qual difuso
acompanha as suas obras, pela forma escolhida, como por exemplo Ranke, que dizia melhor
o historiador atuar com sentido de ¨neutralidade¨. O que sabemos ser impossível, já que a
história não se faz neutra, não existe teoria e nem Historiografia neutra. A respeito do
conceito de historicismo José D'assunção Barros explica:

Qualquer época, para um historicista alemão, tinha a sua própria


importância e deveria ser examinada consoante critérios a ela
adequados, bem como de acordo com seus próprios valores. O mesmo
raciocínio valia para as diversas espacialidades, e cada nação deveria
ser compreendida em sua singularidade. O projeto inicial do
Historicismo Alemão, conforme se pode ver, é por um lado tão
conservador quanto o do Positivismo francês( BARROS pg.10 2010)

Conceitos esses ligados à História nacional, portanto não universalista como o


positivismo Francês. Ideias de um Homem mais universal, e de uma história não particular
com Johann Gottfried von Herder e Giambattista Vico.
O mais deleitante nessas situações de estudos de debates para o Historiador é analisar
esse diálogo e essas visões tão ambíguas, a compreensão dos debates historiográficos teóricos
e da cartela de possibilidades que já se foram utilizadas para a escrita e estudo da história é
gigantesca, percebendo que a história querendo ou não sempre foi diálogo entre a e b, como
contrário do que Ranke pensava há política, opinião do historiador, e com toda certeza a
historiografia e a teoria proposta ou escrita irá desagradar alguém, e desses feitos nasce o
debate, e o enriquecimento, sem atrito não há novas ideias.
E isso nos leva a Marc Bloch que estabeleceu a noção de História Problema, seu
primeiro ponto A história era a importância do presente para a compreensão do passado. A
história não deveria ser a ciência do passado, como também não deveria ser definida como
uma ciência do homem, mas ciência dos homens, ou melhor, dos homens no seu tempo. Foi
Marc Bloch junto com Lucien Febvre que em 1929 criaram a escola dos Annales, que
constituiria um novo modelo de Historiografia.
Há uma nova noção de documentos, para Bloch, eles são vestígios, eleva-se a noção
de que o passado era uma ¨estrutura em Progresso¨, não algo destinado a ter sua permanecia
intocada e para sempre. O historiador assume sua característica de investigador, o mais claro
dos documentos não diz sua verdade quando não é interrogado, é o questionamento que
delimita a condição da análise eleva ou diminui a importância dele. Fazendo oposição a Le
Goff chamou de ¨ imperialismo de documentos¨.
Também se fala no conceito de interdisciplinaridade. Toda disciplina é construída por
um certo campo de interesse( BARROS pg 13) a oposição e contraste com outros campos, e a
partir da obra do sociólogo Émile Durkheim que Bloch reconheceu a importância da
interdisciplinaridade e rechear a prática da história com questões afeitas à durações mais
Longas. Modificando as formas de ver as coisas neste ou naquele campo de discurso(
BARROS pg 120)
Então com uma disciplina já construída, já temos a teoria, o método é discutido acerca
dele de que nem todos podem selecionar fatos sem a alcunha de Historiador, fazer recortes,
conhecer as teorias, e o método de pesquisa, sério e responsável mas Mark T. Gilder Us
(2000, p. 134-135) cita Iggers:

“o historiador sempre está preso ao mundo dentro do qual ele se


pensa, e seus pensamentos e percepções estão condicionados pelas
categorias de linguagem nas quais ele opera”.( GILDER US 2000, p.
134-135)

Michel Foucault e Hyden White comentam a respeito que uma concepção de linguagem
emergiu como sistema independente de sinais e símbolos, que se referem não a algo externo
mas somente a si mesmos. Ferdinand de Saussure, linguista, afirma que a linguagem molda
imagens da realidade mas não se refere a essa, então seria a História Literatura mentirosa?
White chama de não-disconfirmabilidade (nondisconfirmability) o fato de que todas
narrativas históricas serem igualmente plausíveis, ou igualmente falsas (FULBROOK, 2002,
p. 29) O fato de que a realidade histórica seja acessível somente através da língua não
deveria permitir afirmar que nós somente teríamos que estudar a linguagem (NOIRIEL, 1998,
p. 124-125).
As propostas de White ignoram a proposta de História e propriedades do discurso,é
importante ter em vista que ¨O trabalho dos historiadores evidenciaria o passado de maneira
abrangente e tentaria estabelecer uma interpretação do passado que serviria a outras ciências
humanas. O trabalho trazia à tona as épocas, as condições e as mentalidades estudadas
(THOMPSON, 2004, p. 62). Acerca da escrita e da crítica em relação à literatura e a escrita
historiográfica mary fulbrook

A criatividade e a imaginação entram inevitavelmente no trabalho


histórico, porque historiadores são seres humanos (FULBROOK,
2002, p. 73).

Segundo Ginzburg, o relativismo de White seria tão perigoso que poderia ser até
mesmo responsável pelo revisionismo “negacionista”, fenômeno que “envergonha” os
historiadores.
Apesar de tudo o discurso tem seu poder, caráter persuasivo, convencer,
hermenêutico, interpretar, heurístico, de discurso de outrem e pedagógico, explicar, a escrita
acerca da história pode gerar debate. Seria ou não História Literatura? A literatura é uma
expressão artística da sociedade possuidora de historicidade, e deve ser levada em
conta nos estudos de história como fonte documental. Deve-se levar em conta que a literatura
por vezes é ficção, e a história é feita com fatos e fontes.
Há uma multiplicação de campos históricos e a ampliação de outras que já
conhecemos a séculos a partir do século XX. História política, História Militar, História da
igreja. Das mais recentes História Econômica, Micro História, História Cultural, História das
Mentalidades, História da Morte, História do tempo, História da sexualidade, História dos
subalternos etc.. os campo muito avançaram com base nas novas teorias e formas com
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.
Apenas com o diálogo entre duas Escolas Teóricas, Annales e a germânica(não
querendo aparentar que a história seja feita apenas delas) e a revisão de alguns termos
teóricos e conceitos, já se tem o nascimento de diversos debates, e noções, que toda narrativa
se apoia em uma visão, em alguma teoria, e se torna fundamental, soando até utilitarista, que
o historiador tenha domínio sobre elas e saiba identificar seus recortes e sistematizações.
Também se dá a importância de repensar, já que toda opinião e pensamento tem uma raiz, e
por vezes não compactua com seu discurso e o que pretende se referir. Ela também se faz
importante pois está a par dos debates de antes e hoje com atitude filosófica, responder
questões e perguntas com escopo teórico, e no momento de escrever um artigo, trabalho
acadêmico, saber o que se fala acerca dele, defender ou criticar.
REFERÊNCIAS

CARR, Edward.Historiador . In: História o que é S. l.: s. n, 1996 p. 1- 190.

BARROS, J.D. ESCOLAS HISTÓRICAS: DISCUSSÃO DE UM CONCEITO A PARTIR


DE DOIS EXEMPLOS PRINCIPAIS: A “ESCOLA HISTÓRICA ALEMÔ E A “ESCOLA
DOS ANNALES. Revista Esboços , [S. l.], p. 1-30, 3 jun. 2010.. Acesso em: 10 jun. 2022.

BARROS, J.A. Teoria da História: princípios e conceitos fundamentais. 1. ed. [S. l.]: Vozes,
2013.

BURKE, Peter. A Escola dos Annales: 1929-1989. São Paulo: Edit. Univ. Estadual Paulista,
1991.

SUTERMEISTER*Paul. A meta-história de Hayden White: uma crítica construtiva à


“ciência” histórica. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, n. 97, p. 1-6, 10 jun. 2022.
Disponível em: https://periodicos.uem.br. Acesso em: 8 jun. 2022.

BLOCH, Mark. Apologia a História: ou o ofício do historiador. 1. ed.traduzida. Rio de


Janeiro: CIP, 2002. 153 p.

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