ROUSSO, Henry. “Você não estava lá!” In: A última catástrofe.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2016, p. 16-30.
Na história do tempo presente, diferente do estudo das outras periodizações
da História, o historiador está muito mais próximo de seu objeto de estudo temporalmente falando, e pode ser até mesmo uma testemunha direta, e/ou têm contato com testemunhas/atores dos acontecimentos escolhidos como objeto de análise. O historiador do tempo presente tem que lidar com dois preconceitos ao lidar com um período tão perto de si. O primeiro, é herdeiro das correntes historiográficas da segunda metade do século XIX, como o Positivismo, o qual afirma que o historiador tem que se manter distante de seu objeto, “[...], o historiador observa um passado encerrado, uma história acabada, [...].”(ROUSSO, 2016). Cabendo ao historiador pretender uma leitura/escrita objetiva, distante, pois ali estava a “verdadeira História”. O segundo preconceito é um movimento oposto, no qual a experiência prevalece sobre o conhecimento. A memória dos acontecimentos é mais valorizada que a abordagem interpretativa dos "vestígios" pela história. A história do tempo presente está caracterizada por ser um procedimento perpassado pelo conflito entre a história e a memória, distância e proximidade, etc. O tempo presente se identifica por uma ficção científica que permite atuar no presente sem submeter-se a um contexto do passado, “O historiador do tempo presente faz ‘como se’ ele pudesse agarrar na sua marcha o tempo que passa, [...], desacelerar o afastamento e o esquecimento que espreitam toda experiência humana.” ( ROUSSO, 2016), conferindo-lhe dimensão e duração. O tempo presente particulariza-se por ter sua atenção em um presente permeado pelo contexto de um passado ainda influente, próximo. Não reduzindo-se a um mero instante, é possuidor de uma memória consciente ou não, que lhe confere noção de realidade e sentido. Das quatro principais divisões da História; Antiguidade, Medieval, Era Moderna, somente a Contemporânea detém uma periodização plausível de constante incerteza. A contemporaneidade pode ser variável, começando em 1789 ou em 1989, como ROUSSO aponta, e seu término, móvel. O que mais se discute sobre a História Contemporânea é acerca de seu início, o debate atravessa inúmeras áreas do conhecimento. O último terço do século XX é objeto de questionamento para saber se ele inaugura ou não uma mudança de “regime de historicidade”. segundo François Hartog, o marco inicial mais conhecido da Idade Contemporânea, o ano de 1789, representa o princípio de um regime de historicidade futurista, enquanto que o ano de 1989 traria o prelúdio de uma historicidade presentista. Porém, ROUSSO discorda de Hartog quanto à última data, criticando a escolha por ela assinalar o fim de um período de guerra, mais precisamente da Guerra Fria. ROUSSEAU sugere que o presentismo tenha início décadas antes, nos anos de 1970. Entre as décadas de 1950 e 1970 desenvolve-se a história do tempo presente, remontando uma tradição das origens gregas da historiografia, presente em Tucídides.