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Fichamento: Memórias sobre a escravidão

Introdução de Graça Salgado

Introdução pág 5 à 8

A intensidade com que os acontecimentos políticos se desenrolaram na sociedade brasileira da


década de vinte do século passado teve como cenário inspirador o desfecho de um arrastado
processo de emancipação, o fim da condição colonial e o grave momento de convocação as
elites nacionais para a construção, a partir de 1822, de um Estado independente.

- Em 1821 foi publicado em Coimbra uma contundente crítica ao sistema escravista do Brasil:
Memória sobre a necessidade de abolir a introdução de escravos africanos no Brasil. Seu autor,
João Severino Maciel da Costa (1769-1833), o futuro marquês de Queluz, formado no convívio
das ideias liberais que então vicejavam pelo Velho Mundo, estudou direito em Coimbra.

- Criticava o comercio de escravos e a permanência do sistema

P.7 (...) O liberalismo ilustrado era, certamente, a fonte inspiradora dessas novas ideias. Com
as quais parte da geração da independência havia tomado contato através de viagens e de
estudos em universidades europeias. Sobretudo Coimbra

(...) Esses homens tinham a percepção do espaço que, na sociedade brasileira da época,
ocupava a escravidão

(...) propugnavam uma substituição dirigida e gradual da mão-de-obra escrava pelo trabalho
livre, por meio do incentivo à vinda de colonos estrangeiros ao Brasil

P.8

- Nas ideias de Maciel da Costa uma economia baseada na agricultura e escravos eram ideias
fora de seu tempo

Memória sobre a necessidade de abolir a introdução dos escravos africanos no Brasil, sobre
o modo e condições com que esta abolição se deve fazer e sobre os meios de remediar a
falta de braços que ela pode ocasionar

- João Severiano Maciel da Costa

Memória P.13

“Sobre a necessidade de abolir a introdução dos escravos africanos no Brasil, sobre o modo e
condições com que esta abolição se deve fazer e sobre os meios de remediar a falta de braços
que ela ocasionará’

P. 14 (...) mas a Inglaterra quis decididamente a extinção desse sistema de trabalho que dera
nome a Martinica, Guadalupe, São Domingos e Suriname. E foi quanto bastou, empregando
para isso a sua não equivoca preponderância nas célebres convenções com que se fechou a
cena dos desastres causados pela guerra da revolução.

-Portugal estava numa situação deferente pois não podia convir na abolição imediata da
introdução dos escravos “sem preparo e sem um prazo arrazoado para tomar suas medidas,
sob pena de arruinar a agricultura e comércio dos seus estados. Assim, concedeu o mais que
podia conceder, e zeloso de dar provas de humanidade e filantropia, matéria com que
Inglaterra envolve a questão, prometeu tomar medidas para a abolição deste comercio de
homens, que já ferira o coração do soberano e de seus ministros, conhecendo perfeitamente
os inconvenientes dele.

- A notícia de que a abolição da escravidão no Brasil está próxima deixava os proprietários


inquietos. “Uns, porque entendem que o sistema de cultura por escravos é o que nos convém
exclusivamente; outros, porque não veem (dizem eles) os meios prontos de substituírem
novos trabalhadores aos escravos. É preciso desabusar uns e animar outros”.

(...) mostraremos primeiro que o comércio dos escravos, conquanto contrário à humanidade,
não é tão horrível como o pintam seus antagonistas; segundo, examinaremos que motivos terá
Inglaterra para instar com tanto afinco na abolição universal dele; terceiro, mostraremos que a
introdução dos escravos africanos, indefinida quanto ao número deles e quanto ao tempo de
sua duração, é contrária à segurança e prosperidade do Estado; quarto, diremos quando
deverá verificar-se a abolição total da introdução dos mesmos e alisaremos os efeitos que
naturalmente se devem esperar dela; quinto, indicaremos os meios pelos quais se poderá
manter o nosso trabalho agrícola independente dos escravos africanos; sexto,
desenvolveremos sumariamente cada um deles; sétimo decidiremos as duas questões:
primeiro, se o trabalho agrícola do Brasil é incompatível com as forças físicas e constituição dos
trabalhos europeus, segundo, se a cultura e trabalhos feitos por escravos são mais lucrosos
que por homens livres; oitavo, diremos que providencias se dariam sobre nossas possessões
africanas.

Parágrafo primeiro

- Autor diz que comprar e vender homens ofende sim a humanidade, pois eles nascem livres

- Um dos argumentos é que o homem abusa da liberdade

p.16 (...) entendo que uma parte dos homens nasce para servir à outra, fez entrar a escravidão
na sua organização política. Outra, entendendo que a liberdade era a moeda equivalente ao
valor da vida e que a vitória lhe dava direito à dos vencidos, fazia com eles essa comutação

- Escravidão tem lugar de humanidade

(...) Os antagonistas deste comércio exageram os males dos africanos na América e atenuam os
que eles sofrem na África; até pretendem que a venda deles aos estrangeiros é a causa das
guerras que se fazem mutuamente os régulos para a pilhagem de homens com que alimentem
o comércio exterior

-Argumenta que exportar os cativos feitos na guerra tem evitado uma terrível carniçaria
humana “porque, sendo elas ordinariamente feitas por amor da segurança recíproca, o
assassinato dos vencidos é de necessidade”.

Parágrafo segundo (que motivos terá o governo britânico para instar com tanto afinco pela
abolição universal do comércio dos escravos africanos)

- Inglaterra pretendia colonizar a África

p.18 (...) Ora, o plano da colonização da África é essencialmente contrário pela continuação do
comércio dos escravos, com o qual estão engodados os régulos africanos.

(...) sabe-se que os homens de bem há muito fazem votos pela abolição do comércio de
escravos africanos, mas nem os bons desejos nem os clamores da filosofia e da religião
puderam sufocar o amor do lucro que dos braços deles percebiam as nações da Europa.
-O projeto de colonizar a África é grande, é nobre, é digno de uma grande nação

-Autor argumenta que a introdução de escravos no Brasil é contrária à segurança do Estado e


que independente das solicitações do governo britânico deveríamos nós mesmos procurar
evitar

Parágrafo terceiro (A introdução dos escravos africanos, indefinida quanto ao número deles e
quanto ao tempo de sua duração, é contrária à segurança e prosperidade do Estado)

P.20 (...) A verdadeira população – a que faz a sólida grandeza e força de um império – não
consiste em manadas de escravos negros, bárbaros por nascimento, educação e gênero de
vida, sem pessoa civil, sem propriedade, sem interesses nem relações sociais, conduzidos
unicamente pelo medo do castigo e, por sua mesma condição, inimigos dos brancos, mas sim
em grande massa de cidadãos interessados na conservação do estado e prosperidade nacional
e nascidos da propagação pátria, favorecida por leis sabias e justas e por um governo paternal.

P.21 (...) Todos são ligados pelo interesse comum: só os escravos são desligados de todo
vinculo social e, por consequência, perigosos

- Em todas as nações civilizadas é a classe do povo que forma a maioria de indivíduos, e é nesta
classe que reside a força nacional, os defensores da pátria. No Brasil por conta do trabalho
escravo a população é composta de maneira que não constitui essa classe, e esse defeito pode
influir no método de governo

- O povo de baixo é formado de negros escravos e libertos, que fazem causa comum entre si.
“Com tal população, o Estado não tem um apoio contra os desvarios da classe média, a quem
dão valor, fortunas e instrução, e todo o corpo social está à discrição daquele em que reside a
força física”

- Se a população livre cresce, cresce também a de escravos e sempre numa proporção


desvantajosas, pois cada homem livre não pode dispensar ao menos um escravo

- Deviam confiar nos braços livres, pois não havia aperfeiçoamento no trabalho forçado

P.23 (...) A força pode obrigar o escravo ao trabalho, mas a vontade não admite coação e,
desgraçadamente, os meios com que a dos homens livres se estimula são inaplicáveis aos
escravos. Sabemos mesmo, por experiência, que os da África são destituídos de talento, no
que são que são inferiores aos nossos índios, que têm provada habilidade para ofícios
mecânicos

-Brasil estava atrasado em conhecimento

P.24 (...) Não somos também de opinião que prefiramos comprar os produtos de manufaturas
estrangeiras a fabricá-los nós mesmos pela razão de nos faltarem os meios de obtê-los tão
bons e tão baratos

- Autor tinha uma visão crítica do liberalismo “O erro nasce principalmente de se pretender
aplicar ao comércio de nação para nação a regra de uma absoluta e ilimitada liberdade que só
convém ao comércio interior de província para província da mesma nação”

P.27 (...) E consentiremos nos que este magnifico império de tal sorte se inunde da raça deles
com o rodear dos anos venha o Brasil a confundir-se com a África?
P.28 (...) Assim o faz soberba Inglaterra, modelo de patriotismo e de política; assim faremos
nós também, destinados visivelmente pela providência a figurar entre os maiores impérios da
Terra

Parágrafo quarto (Do tempo que deve ainda durar a introdução dos africanos no nosso
território; com que condições se fará a abolição e qual será seu resultado)

- Quando o congresso americano quis abolir a introdução dos africanos em todo o seu
território os estados do Sul foram contra, e subscreveram tal medida na qual propuseram um
prazo de 20 anos. “ É provável que esta súplica fosse calculada sobre a situação política dos
mesmos estados queremos dizer que eles tivessem em vista aproveitar as despesas já
avançadas cm a cultura, a dificuldade de achar prontamente trabalhadores livres para
substituir aos escravos e de dar nova direção à sua indústria e trabalhos subitamente

- Os EUA estavam em circunstâncias mais favoráveis que o Brasil

P.29 (...) é manifesto que não podemos nós, menos avançados em conhecimentos sem
esperança bem fundada de podermos adquirir uma rápida população branca sem outra
nenhuma indústria senão a cultura dos mesmos gêneros coloniais, abandonar subitamente, de
um dia para outro, o sistema geralmente estabelecido do trabalho por escravos, sem nos
expormos a grandes embaraços e desordem universal

-Principal objetivo da agricultura deveria ser a subsistência nacional

- Na agricultura seria possível dispensar os braços africanos, porém nas minas não de acordo
com os raciocinadores, mas de acordo com o autor também se devia dispensar os das minas
“não pensemos deste modo, somos de acordo com os homens entendidos na matéria que
uma reforma geral deve empregar novo método de mineração dirigido por mãos hábeis, sem o
que tal ramo de indústria, inteiramente dependente do acaso e sem o auxílio das infinitas
invenções que facilitam o trabalho e simplificam as operações, será sempre ruinoso para quem
o empreender”

(...) Feito esta reforma, não nos inquietaria o receio de falta de braços porque nenhuma dúvida
há em empregarmos os europeus neste gênero de trabalho já cultivado e aperfeiçoado na
Europa. Não vemos também a razão por que não tiraremos grande partido dos braços dos
nossos indígenas, que não são menos robustos que os mexicanos, sobre os quais pesa todo o
trabalho da mineração

P.32 (...) Além disto, imensos anos ainda depois de cessar a introdução dos africanos durará a
raça crioula deles, igualmente robusta e já afeita ao trabalho. O caso está sabe-la conservar e
adiantar

-A abolição da introdução de escravos com providencias adequadas “diminuição e a falta


mesmo deles poderia produzir assinaladas vantagens para a nossa indústria e isto por uma
saudável reação do gênio industrioso da nação portuguesa”.

Parágrafo quinto (por que meio se poderá manter o nosso trabalho agrícola independente dos
braços dos escravos africanos)

- Achar os braços para substituir os africanos era uma dificuldade

- Ele via a escravidão como um mal que precisa ser evitado


- É necessário atrair os homens livres “pelos meios que fazem obrar o homem livre, que de
necessidade hão de ser lentos e tardios, mas por isso mesmo mais seguros e duradouros,
como nunca serão os que forem filhos da violência e da força” p.34

P.35 (...) Lembram-nos quatro: primeiro, poupar os escravos existentes e promover a


propagação entre eles; segundo, inspirar o amor do trabalho nos homens livres da classe do
povo de todas as cores e força-los mesmo a isso; terceiro, empregar os povos indígenas: tanto
os que já estão avilados como os que se puderem atrair; quarto, procurar trabalhadores
europeus.

Parágrafo sexto (exposição sumária de cada um dos meios indicados)

Artigo I – poupar os escravos e promover entre eles o casamento

- A humanidade e a religião impõe que eles se devem tratar bem os seus semelhantes, pois
escravos são homens e filhos do Criador de tudo

(...) Assim mesmo a população escrava durará muitos anos depois da abolição total dela, para
isto, porem seria preciso tomar medidas severas

P.36 (...) Com todas as forças do nosso coração chamamos a atenção do governo para regular a
polícia do transporte dos africanos e sua introdução em nossos portos

(...) O escravo, a quem se marca o seu trabalho diário, goza de uma espécie de liberdade e
anima-se com a esperança de ter, por seu, o tempo que lhe sobra e, por isso, trabalha com
desabafo e mais de vontade, contanto que a tarefa seja arrazoada. Esta é a prática geral nas
colônias estrangeiras, confirmada pela experiência

(...) O casamento é indispensável porque a libertinagem impede a propagação, acarreta


enfermidades, embaraça a boa disciplina e produz outras muitas consequências funestas.
Comete-se por toda parte o erro de não ter nas fábricas de escravos um número
proporcionado de escravas, porque elas são necessárias para o tratamento dos homens,
educação das crianças, cuidado dos velhos e serviço dos hospitais.

Artigo II – inspirar o amor do trabalho aos homens livres da classe do povo de todas as cores

p.37 (...) O maldito sistema de trabalho por escravos, além de outros males, fez-nos o
grandíssimo de infamar de tal sorte o trabalho agrícola que os homens livres da mais baixa
classe antes querem morrer de fome e entulhar as vilas e cidades na mentalidade e na miséria
do que receberem um pão honrado ganhado por seus braços

(...) O seu sumo bem é possuírem um escravo para o serviço de porta afora e uma escrava para
o doméstico – do trabalho para ganhar o pão não se cura. Em uma palavra: a ociosidade é no
Brasil nobreza e a preguiça aqui fundou seu trono

P.38 (...) Não seria, porém, menos interessante diminuir, quanto fosse possível, a população
dos homens livres de cores misturadas que inundam a sociedade, sem educação, sem
ocupação e aliás habilidosos.

A facilidade com que entre nós se dão as liberdades concorre, em grande parte, para o
aumento desproporcionado desta classe. A grande maioridade delas parece provir do orgulho
dos senhores que, tendo filhos de concubinagem com escravas, não querem (costumam eles
dizer) deixar seu sangue na escravidão.
Artigo III – empregar indígenas

- Via o desprezo do trabalho indígena como um grande dano no sistema de trabalho escravo

P.39 (...) que prosperidade não seria a nossa, hoje, se em vez de inundarmos nosso belo
território de bárbaros africanos escravos

P.40 (...) pois os indígenas com portugueses bem escolhidos seria o meio eficaz de ensiná-los a
trabalhar e a fazê-lo com mais proveito, até mesmo porque este era o meio mais natural e
suave de ir apagando a linha de divisão que separa as duas castas que tem péssimas
consequências, bem previstas pelo legislador

- Para o autor era melhor escravizar os índios pois não eram tão selvagens

Artigo IV – Atrair europeus

P.44 (...) No estado em que se acha a Europa, tantas famílias arruinadas, tantos indivíduos
desgraçados, tanta gente hábil sem emprego e descontente, não nos seria difícil engrossar
nossa população branca com os emigrados dela. Concorreria muito para isto a ideia que ali há
da riqueza do Brasil e a justa opinião que é mais fácil adquirir fortuna em um país nascente do
que em outros já avançados em indústria.

Parágrafo sétimo (o trabalho agrícola do Brasil será incompatível com a força física dos
trabalhadores europeus? A agricultura com escravos será mais lucrosa?)

- Acreditava-se que os europeus não aguentariam o trabalho agrícola no Brasil

- Fala da questão do calor das capitanias é mais suportável que o de Portugal

- Argumenta que o trabalho nas minas na Europa é bem mais violento que plantar cana-de-
açúcar, café, algodão, cacau etc.

P.49 (...) E supondo que a despesa com escravos deve ser menor que a necessária com homens
livres e que a força dominical é capaz de fazer trabalhar os escravos quanto nunca se obterá
dos homens livres, que não estão lucrativo como o feito por aqueles

(...) Estabelecer recompensas aos que se distinguirem, como temos visto aconselhado por
alguns filantropos de gabinete, é tempo perdido porque é do interesse do escravo não dar a
conhecer a extensão de sua capacidade, que pode vir a ser-lhe funesta.

- É contra a ideia de que se gasta mais com homem livre do que com o escravo, pois o escravo
desperdiça e não economiza.

Parágrafo oitavo (que providências se darão sobre nossas possessões na África)

P.51 (...) Abolida que seja a exportação dos africanos, acaba o ramo principal que alimentava o
comercio daquelas possessões e naturalmente os capitalistas transportarão seus fundos a
outros países e as abandonarão. Em tal caso a miséria será completa e talvez mesmo que o
governo não tenha meios de conservar ali uma administração porque o comércio dos gêneros
selvagens do continente, ainda que fosse maior do que é atualmente, não é o que há de fazer
riqueza e prosperidade dele

(...)Parece-nos contudo que no caso de se adotarem estas ideias duas condições seriam
essenciais: primeiro fechar estreitamente e sem nenhuma modificação os portos daquele
continente ao comércio estrangeiro: segundo, fazer transportar os produtos da agricultura
africana diretamente aos nossos portos do Brasil. Numa palavra: considerar a África como
verdadeira colônia e governa-la sob o mesmo regime.

- As coisas estavam acontecendo e eles ainda estavam vendo que decisão tomar

-Autor termina fazendo um apelo a união das capitanias com Portugal e África

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