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Fanon Condenados da terra #intern

A descolonização é sempre um fenômeno violento


Em qualquer nível que a estudemos – encontros interindividuais,
denominações novas dos clubes esportivos, composição humana
das cocktails-parties, da polícia, dos conselhos administrativos dos
bancos nacionais ou privados – a descolonização é simplesmente a
substituição de uma “espécie” de homem por outra “espécie” de
homens. Sem transição, há substituição total.
O colono tira a sua verdade, isto é, os seus bens, do sistema
colonial
O mundo colonizado é um mundo dividido em dois. A linha divisória,
a fronteira, é indicada pelos quartéis e delegacias de polícia. Nas
colonias o interlocutor legal e institucional do colonizado, o porta-
voz do colono e do regime de opressão é o gerdarme ou o soldado.
O intermediário do poder utiliza uma linguagem de pura violência. O
intermediário não torna mais leve a opressão, não dissimula a
dominação. Exibe-as, manifesta-as com a boa consciência das
forças da ordem. O intermediário leva a violência à casa e ao
cérebro do colonizado.
A zona habitada pelos colonizados não é complementar da zona
habitada pelos colonos. Estas duas zonas se opõem , mas não em
função de uma unidade superior. Regidas por uma lógica
puramente aristotélica, obedecem ao princípio da exclusão
recíproca: Não há conciliação possível. 28/29
Não basta ao colono afirmar que üs valôres desertaram, ou melhor ja~ mais habitaram, o
mundo colonizado. O indígena é declarado impermeáve:l à ética, ausência de valôres, como
também ne~ gação dos valôres. :É, ousemos confessá~lo, o iinimigo dos va~ lôres. Neste
sentido, é o mal absoluto.

Não chama o homem colonizado para a via de Deus mas para a via do Branco, a via do patrão,
a via do opressor. E como sabemos, neste negócio são muitos os chamados e poucos os
escolhidos

“, Por vezes êste maniqueísmo vai até ao fim de sua lógica e desumaniza o colonizado. A rigor,
animaliza-o. E, de fato, a. linguagem do colono, quando fala do colonizado, é uma linguagem
zoológica. Faz alusão aos movimentos répteis do a:ma~ relo, às emanações da cidade indígena,
às hordas, ao fedor, à população, ao bulício, à gesticulação. O colono, quando quer descrever
bem e encontrar a palavra exata, recorre constantemente ao bestiário.
Quando o colonizado passa a pensar em suas amarras, a inquietar o colono, enviam~lhe_boas #intern
almas que, nos "Congres~ sos de: cultura", lhe expõem a especificidade, as riquezas dos a
valôres ocidentais. Mas tôdas as vêzes que se trata de valô~ res ocidentais produz~se, no
colonizado, uma espécie de re~ tesamento, de tetania muscular. No período da desco~
lonização apela~se para a razão dos colonizados. Propõem~lhes valôres seguros, explicam~lhes
abundantemente que a desco~ lonizaç,ão não deve significar regressão, que: é preciso
apoiar~se em valôres experimentados, sólidos, citados. Ora, acontece que quando ouve um
discurso sôbre a cultura oci~ dental, o colonizado saca da faca de mato ou pelo menos se
certifica de que a tem ao alcance da mão. A violência com que se afir,mou a supremacia dos
valôres brancos, a agressi~ vida de que impregnou o confronto vitorioso dêsses valôres com os
modos de: vida ou de pensamento dos .colonizados fazem com que, por uma justa reviravolta
das coisas, o CQJo~ nizado .t:ia com escárnio ante a evocação de tais valôres. No contexto
colonial, o _colono só dá por findo seu trabalho de desancamento do colonizado quando êste
último reconhece em voz alta e inteligível a supremacia dos valôres brancos. No período de
descolonização a massa .colonizada zomba dêsses mesmos valôres, insulta~os, vomita~os.

O que o colonizado viu em seu solo é que podiam im~ punemente prendê~lo, espancá~lo,
matá~lo à fome; e nenhum professor de moral, nenhum cura, jamais veio receber as pan~
cadas em seu .lugar nem partilhar com êle o seu pão. Para o colonizado, ser moralista é, de
modo bem concreto, impor si~ lênci~ à soberba do colono, despedaça~lhe a violência osten~
tosa, numa palavra: expulsá~lo francamente do panorama.

Então o colonizado descobre que sua vida, sua respiração, as pulsações de seu coração são as
mesmas do colono. Descobre que uma pele de colono não vale mais do que uma pele de
indígena. Essa descoberta introduz um abalo essencial no mundo. Dela decorre toda a nova e
revolucionária segurança do colonizado. Se, com efeito, minha vida tem o mesmo peso que a
do colono, seu olhar não me fulmina, não me imobiliza mais, sua voz já não me petrifica. Não
me perturbo mais em sua presença. Na verdade, eu o contrario. Não somente sua presença
deixa de me intimidar como também já estou pronto para lhe preparar tais emboscadas que
dentro de pouco tempo não lhe restará outra saída senão a fuga.

O intelectual colonizado assiste, numa espécie de auto-de-fé, a destruição de todos os seus


ídolos: o egoísmo, a recriminação orgulhosa, à imbecilidade infantil de quem quer ter sempre a
última palavra. Esse intelectual colonizado, atomizado pela cultura colonialista, descobrirá
igualmente a consistência das assembleias de aldeias, a densidade das comissões do povo, a
extraordinária fecundidade das reuniões de quarteirão e de célula. O interesse de cada um não
cessa mais de ser doravante o interesse de todos porque, concretamente, serão todos
descobertos pelos legionários e portanto massacrados, ou serão todos salvos.

De certo tempo para ca fala-se muito em autocrítica, mas será que se sabe que ela é, antes de
tudo, uma instituição africana? Seja nas djemaas da Africa do Norte ou nas reuniões da Africa
ocidental, manda a tradição que os conflitos surgidos numa aldeia sejam debatidos em
público. Autocrítica em comum, é certo, mas com uma nota de humor porque todo mundo
está à vontade, porque em ultima analise todos queremos as mesmas coisas. O cálculo, os
silêncios insólitos, as segundas intenções, o espirito subterrâneo, o segredo, tudo isso o
intelectual vai abandonando à medida que imerge no povo. E é verdade que se pode dizer
então que a comunidade triunfa já neste nível, que ela segrega sua própria luz, sua própria
razão.
Mas 0' felá, o desempregado, o faminto, não se gaba de ter a verdade. Não diz que é a #intern
verdade, porque: o é em seu próprio ser. a

Não é que o povo seja refratário à análise. Gosta de receber explicações, gosta de
compreender as articulações de um argumento, gosta de ver para onde vai. Mas o intelectual
colonizado, no início de sua coabitação com o povo, privilegia o detalhe e chega a esquecer a
derrota do colonialismo, o objeto mesmo da luta.

O colono faz a história e sabe que a faz. A história que escreve não é portanto a história da
região por ele saqueada, mas a história de sua nação no território explorado violado e
esfaimado. A imobilidade a que está condenado o colonizado só pode ter fim se o colonizado
se dispuser a por termo à historia da colonização, à historia da pilhagem, para criar a história
da nação, a história da descolonização.

O livro foi escrito enquanto ele estava envolvido no processo de


independência da Argélia, logo se aprofundava cada vez mais no
seu pensamento anticolonial e crítica ao imperialismo.
Paulo freire cita os condenados da terra para pensar a relação entre
opressor e oprimido
Fanon nesse texto pensa a descolonização enquanto obra do
próprio colonizado, libertar-se da opressão deve ser obra do
oprimido, logo não deve ser consentida pelo opressor, mas
conquistada pelo oprimido, enfatiza assim o protagonismo do
colonizado, em sua libertação
Cita o racismo como mecanismo estruturante da sociedade
capitalista, logo o racismo pra ele não é algo solto, mas tem essa
função objetiva
Pro fanon não basta mudar minha visão de mundo para que eu
deixe de ser alienado, é preciso mudar o mundo, porque para ele a
luta não é só de ideias, é uma luta prática
Fanon nasceu na Martinica no caribe e sendo uma colônia francesa
os martinicanos cresciam aprendendo que eram franceses, tendo
isso em vista quando ele sai do caribe e vai pra frança ele tem um
choque de realidade ao perceber que para os franceses ele não era
francês
TCC ensaios sobre a alienação do negro que vira o livro pele negra
máscaras brancas.
Ele fala sobre alienação colonial: impossibilidade da gente se
constituir enquanto sujeito da nossa história, então se eu to numa
relação social onde eu não tenho as possibilidades de me constituir #intern
a
como sujeito, eu to numa situação alienada mesmo que eu tenha
consciência de tudo que ta acontecendo, saiba quem são os
inimigos etc.
Pensa alienação nessa relação, subjetivo e objetivo
Vivemos numa sociedade em que a regra de humanidade é branca,
isso quer dizer que se eu não me porto como branco eu não
consigo ultrapassar as barreiras que a sociedade põe, logo toda vez
que eu tento ser aceito como humano, eu me deparo com a barreira
da cor, então muitas vezes usar a máscara branca é uma estratégia
de sobrevivência.
Só que isso tem consequencias e é nesse ponto que ele explora as
consequencias subjetivas.
Embora ser humano seja razão e emoção, a sociedade ocidental
costuma separar razão e emoção como coisas distintas, logo a
sociedade ocidental tende a dizer que o ser o humano é a razão, e
a emoção ela bota no campo da natureza como algo que precisa
ser controlado ou que no caso ameaça a razão.
“pra me humanizar eu preciso embranquecer”
“Da parte mais negra de minha alma, através da zona de meias-
tintas, me vem este desejo repentino de ser branco/ Não quero ser
reconhecido como negro, e sim como branco. / Ora—e nisto há um
reconhecimento que Hegel não descreveu—Quem pode
proporcioná-lo, senão a branca? Amando-me ela me prova que sou
digno de um amor branco. / Sou amado como um branco. Sou um
branco. / Seu amor abre-me o ilustre corredor que conduz à
plenitude, / Esposo a cultura branca, a beleza branca, a brancura
branca. / Nestes belo seios brancos que minhas mãos onipresentes
acariciam, é da civilização branca, da dignidade branca que me
aproprio” (ibid, 69)
Esse negro movido pelo ódio ao branco, vai ter a tendencia de
explicar todos os conflitos como culpa do outro e não perceber
aonde ele também ta errando e pode ser diferente, então, é
necessário superar esse ódio.
Pro fanon quando eu dou risada do branco que não sabe sambar,
eu to dando risada do preto que não sabe filosofar porque também
pode existir a tendencia de inverter a dualidade razão e emoção, no #intern
a
caso se a razão é superior pro branco e emoção é superior pro
negro, não se percebe nos dois polos as características e potenciais
presentes em cada um dos polos, para o negro e para o branco.
Pro fanon a luta não é exclusivamente pela preservação da cultura
identitária, a luta é pela preservação do ser humano, e inclusive
para a abertura da possibilidade do ser humano ressignificar essa
cultura.
Fanon também trabalha com o horizonte de universalidade e a
afirmação do gênero humano, do humanismo que ajuda a superar
muita das fragmentações e particularismos presentes hoje em
várias lutas anti-opressão como a luta antirracista, antipatriarcal,
antilgbtfóbica, etc. – Jones Manuel
No primeiro capitulo ele fala da violência, de como essa relação de
dominação entre a metrópole e colônia se da por um profundo
processo de violência
No condenados da terra ele faz um chamamento não para o
proletariado, como marx, mas para o colonizado.
O processo de colonização, essa aventura do espírito que a europa
plasmou como sendo a única maneira de civilizar o mundo inteiro,
era e tinha na verdade outra proposta, tornar a violência, a língua
universal.- Renato Nogueira
Em alienação e liberdade, há uma denuncia. Em que medida o
racismo e a colonização contribuem decisivamente pra transformar
esse outro inventado pelo branco colonizador, num louco.
Fanon pretende alforriar os colonizados da loucura inventada pelos
colonizadores.
Se alguns críticos de fanon diriam que a violência torna a politica
impossível, fanon propõe uma dialética, diante da violência colonial,
a reação dos colonizados através da violência seria a única
possibilidade de combater a perversidade do gozo canalha
daqueles que colonizam, e transformam os corpos em objetos, e
que tornam esses coropos abjetos.
Fanon insiste, a violência revolucionaria da colônia é o antidoto.
Medico que cuida daqueles que foram colonizados e tiveram #intern
a
arrancados de si o direito ao seu território cultural
No jogo da violência existem inúmeras maneiras de expressão,
inúmeras modalidades, dentro elas, a subtração de juízo, por um
tipo de jogo de espelhos macabro, é como se o colonizador
pudesse dizer ao colonizado que o que ele enxerga, que o real não
é real. Impondo um tipo de dissonância cognitiva dissonância
estestica e de toda ordem até que uma dissonância existencial faça
com que a única maneira de recusar a dominação seja a loucura.
Nesse sentido é como se fanon estivesse a dizer: um dos efeitos do
racismo que não pode ser combatido, da colonização, do racismo e
de sua junção simbiótica que não pode ser combatido pela violência
é justamente a sutileza do projeto de enlouquecimento, fanon
destaca muito bem os meandos desse processos, os denuncia e se
pronuncia sobre.
A única maneira de enfrentarmos as desigualdades, de postularmos
um mundo mais democrático, um mundo mais justo, é enfrentando
o racismo, enfrentando os efeitos da colonização. Fanon nos
convoca com seus escritos sobre alienação e liberdade, para uma
descolonização do pensamento. - Renato Nogueira

https://www.youtube.com/watch?v=nzH-vm-MO38

Como coloca fanon, colonização, é um processo de ocupação


militar direta, que se fundamenta pela força e esse processo de
ocupação que tem fundamento na força e na violência, ela cria um
universo simbólico e ideológico de relações sociais de negação total
do colonizado.
Fanon se utiliza da dialética senhor/escravo de Hegel e a descreve
como dialética colonizador/colonizado estando o colonizado numa
pior condição que o escravo na metáfora hegeliana, pois o escravo
não é reconhecido como um eu, como uma pessoa, ele ta num
processo de desumanização tão violenta e brutal que é negado até
mesmo o seu processo de autorreconhecimento. Qualquer vinculo
de reconhecimento é quebrado. O colonizador se representa como
a personificação do humano, do belo, do inteligente, civilizado,
cristão, empreendedor etc, e o negro é um nada de tudo isso, é #intern
a
mostrado como feio, animalesco, brutalizado, despido de razão.
Não é que faltava liberalismo nas colonias, as colonias foram
colonizadas por estados, políticos, empresários, jornalistas que se
diziam liberais
Fanon coloca uma questão central para pensar a violência do
oprimido, que é, o intelectual, se ele é realmente comprometido com
o processo de libertação, ele deve questionar a violência dos
opressores, e não pode naturalizar esse processo de violência, ele
deve perceber que a escolha pelos oprimidos pelo uso ou não da
violência, não é uma escolha ética, é uma imposição objetiva da
realidade colonial, o liberalismo nas colonias é um processo de
desumanização e dominação brutal e para responder a ele é
necessário a luta armada.
“os latifundiários nunca foram desarmados”
Fanon colocou que a violência é uma dimensão objetiva da
resistência dos esporados num contexto colonial. Mas também
sabia que a violência embora assuma particularidades nas
colonias , que como disse marx, desfila nua e assume formas
elegantes nas metrópoles, países de capitalismo dependente como
o brasil rambem convive com violência onipresente com os de baixo
“o Brasil tortura mais pós ditadura que na época da ditadura, mas
tem uma diferença fundamental hoje, os alvos da tortura são
predominantemente trabalhadores pretos, favelados que não
chamam tanta atenção, não são jornalistas famosos, escritores
famosos, estilistas famosos, como os setores da classe média que
eram atingidos diretamente pela ditadura de 64.”
O cerne da ideologia liberal é que eles sempre negam ou
relativizam a violência de hoje, ou então tratam a violência como um
mero desvio de uma forma perfeita e ideal de república, democracia
e de estado de direito, como se esse desvio um dia, pudesse ser
corrigido, Só que toda vez que os oprimidos resolvem retrucar
violentamente, ai vem os gritos sobre violência, falta de diálogo,
radicalismo
A lição que fanon coloca nos condenados da terra é: se a gente
quer discutir ética na política, vamo discutir ética concretamente, se
você tem um processo de desumanização total e dominação
absoluta, de brutalização total do outro, esse dominador, #intern
a
colonizador, não tem moral nenhuma pra pedir diálogo, pra pedir
pacificação pra apontar uma suposta violência, do colonizado

Começa com uma violência territorial, o colonizador ocupa o país e


nos expulsa para as bordas.
A europa tem toda essa qualidade de vida, essa liberdade,
tecnologia, coisas boas que a gente tem como referencial, não por
mérito, não porque “ah eles são muito capazes de organizar
economicamente seu país, um povo trabalhador e tal” não é essa a
questão que ta sendo colocada, porque a europa só se transformou
em motivo de referencia positiva em termos de avanço, porque ficou
rica às custas do trabalho africano escravizado
Logo não basta uma reparação moral dos europeus falando que
estão arrependidos que liberam a independência das colonias e ta
tudo quites, mas devem uma dívida enorme, maior que todas as
dividas que os bancos do mundo exploram dos assalariados, maior
até que todos os próprios bancos, é uma dívida monetária, material,
porque a riqueza europeia e hoje estadunidense, é uma riqueza da
África, o ouro diamante etc.
Se o capitalismo fosse racional, a europa não ficaria rateando e
realmente ajudaria economicamente maciçamente a África pra
manter ou aumentar e construir o próprio mercado, mercado
consumidor e tal
Pra onde vai a tecnologia se tem como base um sistema de
opressão, talvez para as mãos dos de maior condição pra ter um
videogame e sendo incentivados a serem, pela indústria cultural de
jogos, viciados e bons no call of duty, para controlarem robôs
enquanto chacinam os oprimidos sem mais precisar assim de
comoção pública pela morte dos seus, diante da revolta do
colonizado, Estando dessa forma como força imbatível colonizadora
e opressora afirmando e se utilizando da força de trabalho escrava
moderna disfarçada de condições assalariadas, para a construção
de tecnologias modernas que ajudem o povo a levantar sem saber,
na escala midiática de manipulação e alienação, as armas que a si
mesmos apontarão.

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