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FACULDADE DE DIREITO DA UFBA
DIREITO E MOVIMENTOS SOCIAIS
Docente: Prof.(a) Sara da Nova Quadros Côrtes
Discente: Anderson Matos da Silva Santana
FICHAMENTO
1- Indicação bibliográfica
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Capítulo 1 – Da violência. Tradução de José
Laurênio de Melo. Coleção Perspectiva do Homem. Volume 42. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira S. A., 1968. 25 – 85.
“Ao dar-se conta da impossibilidade de manter seu domínio nos países coloniais,
a burguesia colonialista resolve iniciar um combate de retaguarda no terreno da cultura,
dos valores, das técnicas etc. (...) Para a população colonizada o valor mais essencial,
(...) é em primeiro lugar a terra: a terra que deve assegurar o pão e (...) a dignidade. Mas
esta dignidade nada tem que ver com a dignidade da "pessoa humana". Dessa pessoa
humana ideal jamais ouviu falar. O que o colonizado viu em seu solo é que podiam
impunemente prendê-lo, espancá-lo, matá-lo à fome; e nenhum professor de moral, (...)
veio receber as pancadas em seu lugar nem partilhar com ele o seu pão.” (pág. 33)
“O colono faz a história. (...) Ele é o começo absoluto: "Esta terra, fomos nós
que a fizemos". É a causa contínua: "Se partirmos, tudo estará perdido, esta terra
regredirá à Idade Média”. (pág. 38)
“A história que escreve não é a história da região por ele saqueada, mas a
história de sua nação no território explorado, violado e esfaimado. A imobilidade a que
está condenado o colonizado só pode ter fim se o colonizado se dispuser a por termo à
história da colonização, (...) para criar a história da nação, a história da descolonização.”
(pág. 38)
“Os políticos que tomam a palavra, que escreve nos jornais nacionalistas, fazem
o povo sonhar. Evitam a subversão, mas, na realidade, introduzem terríveis fermentos
de subversão na consciência dos ouvintes ou dos leitores. Muitas vezes servem-se da
língua nacional ou tribal. Isto também alimenta o sonho, permite à imaginação cabriolar
fora da ordem colonial. Às vezes ainda esses políticos dizem: "Nós os negros, nós os
árabes", e esta denominação satura de ambivalência durante o período colonial recebe
uma espécie de sacralização”. (pág. 52)
“O bandido (...) que domina o campo durante vários dias com os gendarmes no
seu encalço, o indivíduo que sucumbe numa peleja depois de ter abatido quatro ou cinco
policiais, o que se suicida para não denunciar seus cúmplices, constituem para o povo
guias, (...) "heróis". E é inútil, evidentemente, dizer que tal herói é um ladrão, um
crápula (...). Se o ato pelo qual este homem é perseguido pelas autoridades colonialistas
é um ato dirigido, exclusivamente contra uma pessoa ou um bem colonial, então a
demarcação é nítida, flagrante. O processo de identificação é automático.” (pág. 53)
“Mas hoje os governos dos países colonialistas sabem (...) que é muito perigoso
privar as massas de seu líder. Pois em tal situação o povo, não estando mais freado,
precipita-se na sublevação, (...) nas chacinas bestiais". As massas dão livre curso a seus
"instintos sanguinários" e impõem ao colonialismo a libertação dos líderes (...) O povo
colonizado, que espontaneamente investira sua violência na empreitada colossal da
destruição do sistema colonial, vai encontrar-se em pouco tempo com a palavra de
ordem inerte, infecunda: "Libertem X ou Y"”. (pág. 55)