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Universidade Federal Fluminense

Instituto De História

Disciplina: História Moderna E Contemporânea III

Professora: Renata Schittino

Aluna: Eduarda Aragão Pereira

Roteiro para apresentação do primeiro capítulo do livro “Os Condenados da Terra” (1968)
de Frantz Fanon.

Frantz Fanon (1925-1961), intelectual negro natural da Martinica, antiga colônia francesa
localizada no mar do caribe, fato que propiciou a questão da colonização europeia dos
povos africanos estar muito presente na obra do autor. Se destacou no cenário acadêmico,
profissional e militante com seus estudos e práticas politicamente engajadas. Participou da
Segunda Guerra Mundial na Resistência Francesa, quando estudou medicina na
Universidade de Lyon, na França, se especializando em psiquiatria, onde se envolveu no
partido político argelino de cunho socialista, Frente da Libertação Nacional (FNL).

Escrito neste contexto, “Os Condenados da Terra”, trata da colonização e seus efeitos
devastadores, ao se dar conta da violência imputada pelos colonizadores aos colonizados,
abordando principalmente, o processo histórico de descolonização do qual o autor era
expectador. Caracterizando a colonização como “[...] o encontro de duas forças
congenitamente antagónicas que extraem precisamente a sua originalidade dessa espécie
de substância que segrega e alimenta a situação colonial.”(FANON. 2010, p 31)

Seu livro traça um panorama político, histórico e psíquico da colonização na Argélia e na


África, notando que as piores injustiças da história estiveram alinhadas com as ideologias
colonialistas e que apenas a violência poderia fazer frente a essas violentas e arbitrárias
formas de exploração colonial.

Sendo assim, o primeiro capítulo, intitulado violência, é uma reflexão sobre os desafios do
processo de descolonização. Abordando a construção da violência no inconsciente coletivo
do povo colonizado, por meio de uma perspectiva psicanalista, propondo não só a violência
física, mas também psicológica, que afeta diretamente a construção identitária de um povo.

Apontando o mundo colonizado como compartimentado, entre o que é do colono e o que


pertence ao colonizador, reconhece assim, um maniqueísmo que se reflete numa divisão
entre o mundo colonial e metropolitano, fazendo uma crítica direta a tradição cristã que
corrobora na desumanização da figura do colono. Ressaltando a forma animalesca como é
tradado os costumes, modos e valores desses povos, como sendo, “[...] elemento corrosivo,
destruidor de tudo o que o rodeia, elemento deformador, capaz de desfigurar tudo o que se
refere à estética ou à moral, depositário de forças maléficas, instrumento inconsciente e
irrecuperável de forças cegas.”(FANON. 2010, p 37)

Para Fanon só há uma forma de reagir a imposição colonizadora, expulsando o estrangeiro


do território, suprimindo-o definitivamente. O autor vê na “luta de libertação”, a única saída
para os povos colonizados, criticando o processo de descolonização que buscava unificar
esses dois mundos e reafirmando que “o mínimo exigido é que os últimos se tornem os
primeiros.” (FANON, 1968, p 34).

O autor evidencia toda a violência que o colonialismo gera nos povos colonizados, que
durante todo o processo sofreram tantas formas de violência, que ela está presente na
formação identitária desses povos, sendo assim, a violência se torna a única forma de
reação para a transformação dessa realidade.

“A violência assumida permite por sua vez, aos extraviados e aos proscritos,
voltar, recuperar e integrar-se no seu grupo. A violência é entendida assim
como a mediação real. O homem colonizado liberta-se em e pela violência.
Esta prática ilumina o agente porque lhe indica os meios e o fim.”(FANON.
2010, p 83)

Sendo assim, para Fanon, não há conciliação, o colono sempre será um inimigo,
convidando o povo a tomar parte na luta por sua libertação. A obra convida os engajados
a refletirem seus meios e táticas, e principalmente, sua forma de organização.

Referência

FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Juiz de Fora. Editora UFJF, 2010.

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