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• A ficção aproxima-se da
realidade com intuito de
produzir no leitor alguns Sobre o livro e seu enredo:
questionamentos.
No nível discursivo representam o cotidiana e a
• A ficção também provoca a
mistura de dialetos em Luanda.
aproximação do universo da
obra à estruturas mentais de Contexto realista.
certos grupos sociais (D No nível fabular a leitura flui em descrições
´ONOFRIO,1999).
poéticas, diálogos e imagens que despertam a
• E a obra exige imaginação do leitor, como as águas que correm
necessariamente a presença do misteriosamente pelas paredes do primeiro andar
artista criador (CANDIDO, do prédio onde mora boa parte dos personagens.
2006, p.33)
No nível atorial cada personagem traz um drama particular, e suas características são anunciadas no
próprio nome como:
• MariaComForça, VendedorDeConchas, JoãoDevagar, Paizinho,
• DomCristalino- por estar a muitos anos envolvido com questões aquáticas, estava prestes a vencer
a privatização da água, trabalhava a muito tempo no MinstérioDaIndústria, passando por outros
postos do falecido SocisalismoEsquemático. (p.155)
• ManRiscas ou ArturArriscado- radialista que cobriu a guerra civil e passou por diversas situações
arriscadas. (p.80)
• Odonato- o personagem central que entra em um processo de invisibilidade porque decide não
comer, e decreta um jejum social. Odonato que remete a uma libélula transparente que voa, o que
de fato ocorre no final da trama.
• Feixes de luz viajantes de distância e imensidão sideral, atravessavam o corpo daquele homem sem
obedecer aos limites lógicos da sua anatomia. (p.31)
• Enfim, cada personagem está ligado ao seu papel social na obra.
No nível reflexivo a atmosfera vai da melancolia ao bom humor, os conflitos entre o
moderno e as tradições africanas. Entre esses conflitos os problemas sociais da falta de
água, da corrupção nas esferas publicas, as relações de poder, subserviência e ativismo
político.
Um eclipse representa uma expectativa mística de mudança, uma esperança que viria do
céu.
A literatura como testemunho
A diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo que o homem diz ou escreve,
tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele (BLOCH,2001,p.58).
Segundo D´Onofrio:
A crítica sociológica considera a literatura, ao lado de outras atividades artísticas, como
produto e expressão da cultura e da civilização nas diversas fases de seu desenvolvimento.
(1999, p.35)
Além de, presentes na Literatura Angolana a discursividade coloquial do universo da
sociedade crioula, hábitos, costumes e a estratificação social, é latente a crítica social.
Dentre as questões sociais, a fome que grassa nessa sociedade é uma consequência do
agravamento da situação social, o número de famílias em situação de pobreza, indigência e
miséria, o distanciamento entre os pobres e os ricos, são situações em comum entre esses
países periféricos.
A literatura como testemunho
A descolonização não passa nunca despercebida, dado que afeta o ser, modifica
fundamentalmente o ser, transforma os espectadores esmagados pela falta do essencial em
atores privilegiados, amarrados de maneira quase grandiosa pelo correr da História.
Introduz no ser um ritmo próprio, provocado pelos novos homens, uma nova linguagem,
uma nova humanidade. A descolonização é realmente a criação de homens novos. Mas esta
criação não recebe a sua legitimidade de nenhuma força sobrenatural: a «coisa» colonizada
converte-se, no homem, no próprio processo pelo qual ele se liberta ( FANON,1968,
p.121)
A literatura como testemunho
Protagonista de sua história, o homem transformado pelo processo de liberdade, ao qual se refere
Fanon, deveria criar homens novos, com novas perspectivas, considerando a busca pela equidade
social uma das mais relevantes nesse processo.
Esse contexto de equidade social está subjacente na narrativa. No diálogo do jornalista
PauloPausado com a autoridade responsável pelo abastecimento de água na cidade, o assessor
politico SantosPrancha:
- falta água em Luanda, demasiadas vezes, o abastecimento está completamente irregular [...]
- ah sério? não tinha sentido nada [...]
-mas a população já sente há algum tempo, senhor Assessor. é como lhe disse, a oposição
começa a falar [...]
–a falar?[...]-bem-sorriu o assessor SantosPrancha – eu entendo pouco de água – abanou o copo
de whisky na direção do jornalista (ONDJAKI, 2013, p.93).
A opressão colonial se transformou em opressão econômica,
A literatura como testemunho
A desfaçatez da autoridade diante dos mínimos sociais reclamados pelo jornalista, não é
somente uma voz a reclamar os direitos negados a uma população empobrecida são como
“ecos de vozes emudecidas”(BENJAMIM, 1987)
Fanon, traz um conceito extremamente atual para o contexto angolano: “esses chefes de
governo são os verdadeiros traidores da África, porque a vendem ao mais terrível dos seus
inimigos: a ignorância”( 1961, p.121).
A dinâmica da linguagem literária reflete um contínuo principiar dos fatos, o livro reúne
um arcabouço de informações a serem amplamente estudadas e investigadas.
Importante não só como uma investigação literária, mas como testemunho histórico de
uma civilização que recentemente saiu da dominação colonial.
Referências
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet; prefácio Jeanne Marie Gagnebin. 3. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1987. (Obras escolhidas; v.1).
BLOCH, Marc. Apologia da história: ou o Oficio de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade .9ed.Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul,2006.
D´ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto1. São Paulo: ed. Ática, 1999.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Ed.Civilização Brasileira, 1968.
ONDJAKI. Os Transparentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 408 p. FOUCAULT,
Michel, 1926-1984. Tradução Salma Tannus Muchail. As palavras e as coisas: uma
arqueologia das ciências humanas. 8 ed. São Paulo : Martins Fontes, 1999.(Coleção tópicos).
SAUVY, Alfred. Terceiro mundo. In: FARIAS, Caroline. InforEscola. Disponível em:
<infoescola.com>.Acesso: 28 de jun 2017.