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Instituto Federal de São Paulo (IFSP-CJO)

Leitura e Produção de Textos – 2023/1


Atividades de COESÃO E COERÊNCIA

1. Leia o texto e circule os elementos de coesão interparágrafos e sublinhe os elementos de


coesão intraparágrafos:

Atenção: A coesão intraparágrafo ocorre quando são utilizados elementos coesivos dentro dos parágrafos.
Já a coesão interparágrafos acontece quando há o uso desses elementos entre os parágrafos.

As primeiras duas décadas do século XXI, no Brasil e no mundo globalizado, foram marcadas por
consideráveis avanços científicos, dentre os quais destacam-se as tecnologias de informação e
comunicação (TICs). Nesse sentido, tal panorama promoveu a ampliação do acesso ao conhecimento, por
intermédio das redes sociais e mídias virtuais. Em contrapartida, nota-se que essa realidade impôs novos
desafios às sociedades contemporâneas, como a possibilidade de manipulação comportamental via dados
digitais. Desse modo, torna-se premente analisar os principais impactos dessa problemática: a perda da
autonomia de pensamento e a sabotagem dos processos políticos democráticos.
Em primeira análise, é lícito postular que a informação é um bem de valor social, o qual é
responsável por modular a cosmovisão antropológica pessoal e influenciar os processos de decisão
humana. Nesse raciocínio, as notícias e acontecimentos que chegam a um indivíduo exercem forte poder
sobre tal, estimulando ou suprimindo sentimentos como empatia, medo e insegurança. É factual, portanto,
que a capacidade de selecionar – via algoritmos – as reportagens e artigos que serão vistos por
determinado público constitui uma ameaça à liberdade de pensamento crítico. Evidenciando o supracitado,
há o livro “Rápido e devagar: duas formas de pensar”, do especialista comportamental Daniel Khaneman,
no qual esse expõe e comprova – por meio de décadas de experimentos socioculturais – a incisiva
influência dos meios de comunicação no julgamento humano. Torna-se clara, por dedução analítica, a
potencial relação negativa entre a manipulação digital por dados e a autonomia psicológica e racional da
população.
Ademais, é preciso compreender tal fenômeno patológico como um atentado às instituições
democráticas. Isso porque a perspectiva de mundo dos indivíduos coordena suas escolhas em eleições e
plebiscitos públicos. Dessa maneira, o povo tende a agir segundo o conceito de menoridade, do filósofo
iluminista Immanuel Kant, no qual as decisões pessoais são tomadas pelo intelecto e influência de outro.
Evidencia-se, assim, que o domínio da seletividade de informações nas redes sociais, como Facebook e
Twitter, pode representar uma sabotagem ao Estado Democrático.
Em suma, a manipulação comportamental pelo uso de dados é um complexo desafio hodierno e
precisa ser combatida. Dessarte, as instituições escolares – responsáveis por estimular o pensamento
crítico na população – devem buscar fortalecer a capacidade de julgamento e posicionamento racional nos
jovens. Isso pode ser feito por meio de palestras, aulas e distribuição de materiais didáticos sobre a
filosofia criticista e sociologia, visando aprimorar o raciocínio autônomo livre de influências. Em paralelo, às
grandes redes sociais, interessadas na plenitude de seus usuários, precisam restringir o uso indevido de
dados privilegiados. Tal ação é viável por intermédio da restrição do acesso, por parte de entidades
políticas, aos algoritmos e informações privadas de preferências pessoais, objetivando proteger a
privacidade do indivíduo e o exercício da democracia plena. Desse modo, atenuar-se-á, em médio e longo
prazo, o impacto nocivo do controle comportamental moderno, e a sociedade alcançará o estágio da
maioridade kantiana.

2. Preencha as lacunas com expressões adequadas para a retomada do referente indicado:

a) Para Elizabeth Taylor: Elizabeth, ela, sujeito oculto, a atriz, Elizabeth Taylor
b) Para o casamento: o casamento, seu último casamento, seu oitavo casamento, -lo, o evento.

Todos ficam sempre atentos quando se fala de mais um casamento de ______________. Casadoura
inveterada, ______________ muitas vezes disse que o amor sempre merece uma chance.
______________ já está em seu ______________. Agora, diferentemente das vezes anteriores,
______________ de Elizabeth Taylor foi com um homem do povo que ______________ encontrou numa
clínica para tratamento de alcoólatras, onde ______________ também estava. Com toda a pompa,
______________ foi realizado na casa do cantor Michael Jackson, e a imprensa ficou proibida de
presenciá______________. Ninguém sabe se será ______________.

3. Reescreva o texto Rick e a girafa, de Carlos Drummond de Andrade, evitando a repetição


excessiva do termo girafa:

No Jardim Zoológico tem uma girafa, neste domingo azul, a girafa olha do alto para as crianças, e
parece convidar as crianças para um passeio no dorso com a girafa. Há uma escada perto, e se for
encostada perto da girafa, Ricardo (Rick é o seu apelido) poderá chegar até a girafa.
O garoto mede a distância que vai do chão ao lombo da girafa, e julga-se em condições de vencê-la.
Uma vez lá em cima da girafa, cavalgando o pescoço da girafa, e segurando os chifres da girafa, pedirá à
girafa, depois de umas voltas pelo Jardim com a girafa, que a girafa o leve por aí, percorrendo o mundo.
A girafa presa há tanto tempo, a girafa há de estar ansiosa de liberdade. Não será difícil transpor a
cerca. A girafa espera que Rick proponha a girafa a aventura. Ninguém se atreverá a travar os passos da
girafa, e Rick vai dirigir a girafa nos rumos que aprendeu no atlas escolar. O problema é descer de vez em
quando da girafa, para Rick alimentar-se de biscoitos, fazer necessidades e dormir. Camarada, a girafa irá
se deitando aos poucos, primeiro a girafa vai dobrando devagar as pernas, depois a girafa vai se
inclinando lentamente para o lado, e afinal a girafa arriando com suavidade a carga infantil.
Mas para subir outra vez, como se arranjaria ele? Escada não haverá. Mesmo deitada, a girafa é difícil
de subir. A imaginação não lhe fornece recurso plausível. O sonho frustrou-se. Rick levanta o braço direito
e, com a mão espalmada em gesto de adeus à girafa que gentilmente o convidara, esclarece: — Muito
obrigado. Fica para outra ocasião, quando eu crescer.

4. O texto apresenta coesivos inadequados, reescreva o trecho de maneira adequada.

Características do internetês como abreviações, repetição de vogais, modificações do registro gráfico e as


chamadas “risadinhas” estão associadas às possibilidades de registro gráfico-visual de certos padrões
rítmico-entoacionais, que são assim registrados pelo sujeito. Não se trata, mas, de degradação da
modalidade escrita do português. Então, pois, que a presença desses fatos linguísticos da fala na escrita
produzida no contexto da tecnologia digital portanto aponta, de certo, para a identidade de um grupo ou de
uma comunidade que quer se reconhecer por eles e por meio deles ser reconhecido, e, a fim de, para a
heterogeneidade característica da linguagem. [...]

5. Leia o texto, completando-o com os termos a seguir:

ademais – por exemplo – muito – se – para que – assustadoramente – no momento que – destarte – visto
que – é evidente – hodiernamente

Por que reciclar?


________________ a reciclagem de materiais é ________________ importante, tanto para diminuir o
acúmulo de dejetos quanto para poupar a natureza da extração inesgotável de recursos.
________________, reciclar causa menos poluição ao ar, à água e ao solo, ________________a
produção de lixo vem aumentando ________________ em todo o planeta. Visando uma melhoria da
qualidade de vida atual e ________________ haja condições ambientais favoráveis à vida das futuras
gerações, faz-se necessário o desenvolvimento de uma consciência ambiental. ________________o
consumidor pode auxiliar no processo de reciclagem das empresas. ______________ separamos todo o
lixo produzido em residências, impedimos que a sucata se misture aos restos de alimentos, o que facilita o
seu reaproveitamento pelas indústrias. ________________, evitamos também a poluição. Nos países
desenvolvidos, como França e Alemanha, a iniciativa privada é encarregada do lixo. Fabricantes de
embalagens são considerados responsáveis pelo destino dos detritos e o consumidor também tem que
fazer a sua parte. ________________uma pessoa vai comprar uma pilha nova, ________________, é
preciso entregar a pilha usada.

Exercícios adaptados de KIST, V. Coesão Textual: possibilidades de atividades didáticas a partir da grade específica do ENEM.
Dissertação (Mestrado em Estudos Linguíticos) – Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, SC, p. 137, 2022.

6. A crônica O tempo, de Rubem Alves, está com os parágrafos fora de ordem. Ordene suas
partes de forma que a coerência e a coesão da crônica sejam mantidas.

( ) A outra foi inventada por homens que sabem que a vida não pode ser medida com calendários e
relógios. A vida só pode ser marcada com a vida. Os amantes do Cântico dos Cânticos marcavam o tempo
do amor pelos frutos maduros que pendiam das árvores. Quando as folhas dos plátanos ficam amarelas
sabemos que o outono chegou.

( ) “Sapio”, no latim, quer dizer, “eu saboreio”. O sábio é um degustador da vida. A vida não é para ser
medida. Ela é para ser saboreada.
Um texto bíblico diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos um coração
sábio”. Acho que Jesus sorriria se eu acrescentasse ao “Pai-Nosso” outra súplica:

( )Terceiro movimento, “Ipê-branco”, moderato, em que o veludo dos oboés cantam a mansidão. Seria
bom se nós, como os ipês, nos abríssemos para o amor no inverno. A precisão dos números marca o
tempo das máquinas e do dinheiro. O tempo do amor se marca com o corpo. Um calendário é coisa
precisa: anos, meses, dias, horas, que são marcados com números. Esses números medem o tempo. Mas
os pedaços de tempo são bolsos vazios: nada há dentro deles. O bolso vazio do tempo se torna parte do
nosso corpo quando o enchemos com vida. Aí o tempo não mais pode ser representado por números. O
tempo aparece como um fruto que vai sendo comido: é belo, é colorido, é perfumado.

( ) Há duas formas de marcar o tempo. Uma delas foi inventada por homens que amam a precisão dos
números, matemáticos, astrônomos, cientistas, técnicos. Para marcar o tempo de forma precisa, eles
fabricaram ampulhetas, relógios, cronômetros, calendários.

( ) Nesses artefatos técnicos, todos os pedaços do tempo – segundos, minutos, dias, anos – são feitos
de uma mesma substância: números, entidades matemáticas. Não há inícios nem fins, apenas a
indiferente sucessão de momentos, que nada dizem sobre alegrias e sofrimentos. Apenas um bolso vazio.
Nele, a alma não encontra morada. Nas Olimpíadas, a performance dos corredores e nadadores é medida
até os centésimos. Fico a me perguntar: “Como é que conseguem? Que diferença faz?”.

( ) Sugeri que algum compositor compusesse uma sinfonia ou uma brincadeira musical em três
movimentos. Primeiro movimento, “Ipê-rosa”, andante tranquilo, em que os violoncelos cantam a paz e a
segurança. Segundo movimento, “Ipê-amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com a
dos ipês, fazem soar a exuberância da vida.

( ) Daquilo que ele supostamente escreveu, restam apenas fragmentos enigmáticos. Dentre eles, um me
encanta: “Tempo é criança brincando, jogando; da criança o reinado”.

( ) E, à medida que vai sendo comido, vai acabando. Vem a tristeza. O tempo da vida se marca por
alegrias e tristezas. Há inícios e há fins. Tempus fugit; o tempo foge. Portanto, carpe diem: colha o dia
como um fruto que amanhã estará podre. Viver ao ritmo de alegrias e tristezas é ser sábio.

( ) “A fruta nossa de cada dia dá-nos hoje…”. Caqui, pitanga, morango à beira do abismo, melancia…
Heráclito foi um filósofo grego fascinado pelo tempo. Contemplava o rio e via que tudo é rio. Percebeu que
não é possível entrar duas vezes no mesmo rio; na segunda vez, as águas serão outras, o primeiro rio já
não existirá. Tudo é água que flui: as montanhas, as casas, as pedras, as árvores, os animais, os filhos, o
corpo… Assim é tudo, assim é a vida: tempo que flui sem parar.

( ) Os ipês-rosas e amarelos anunciam o inverno. Qual a magia que informa os ipês, todos eles, em
lugares muito diferentes, que é hora de perder as folhas e florescer? E sem misturar as cores. Primeiro os
rosas, depois os amarelos e, finalmente, os brancos.

( 11 ) Para nós, o tempo é um velho, cada vez mais velho, sobre quem se acumulam os anos que
passam e de quem a vida foge. Heráclito, ao contrário, diz que o tempo é criança, início permanente,
movimento circular, o fim que volta sempre ao início, fonte de juventude eterna, possibilidade de novo
começos. Tempo é criança? O que o filósofo queria dizer exatamente eu não sei. Mas sei que as crianças
odeiam Chronos, o deus dos cronômetros, dos segundos, dos centésimos de segundos O relógio é o
tempo do dever: corpo engaiolado.

Rubem Alves, do livro “Do universo à jabuticaba”. São Paulo: Editora Planeta, 2010.

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