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EIXO INTEGRADOR

INTERÁREAS
Sugestão de Temas – Parte I

ENSINO FUNDAMENTAL
PRESIDÊNCIA
Paulo Skaf

SUPERINTENDÊNCIA
Alexandre Ribeiro Meyer Pflug

GERÊNCIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO


Roberto Xavier Augusto Filho

GERÊNCIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA


Ivy Daniele Gavazzi Sandim

PROJETO 2020
Supervisão de Currículo, Inovação e
Recursos Didáticos
curriculo.educacao@sesisp.org.br

GERÊNCIA EXECUTIVA DE OPERAÇÕES


Roberta Salles Mendes

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Bruno Viana
Érica Barbosa
Kamila Uchino
Sandro Monteiro

REVISÃO ORTOGRÁFICA
Emanuel Galdino
Karina Costa

2020
Todos os direitos reservados ao SESI-SP
Av. Paulista, 1.313 – São Paulo – SP - CEP: 01311-923 | Tel.: (11) 3146-7000 | www.sesisp.org.br
2
“A função de planejar o currículo é uma das facetas mais
relevantes dentro do conjunto de práticas relacionadas com sua
elaboração e desenvolvimento, recolhendo aspectos de ordem
técnica e pedagógica mais genuínos, através dos quais adquire
forma e fica preparado para a sua implantação na prática...”

(Sacristán, 2000, p. 281)

3
4
APRESENTAÇÃO

Este guia é direcionado a você, profes-


sor do Eixo Integrador Interáreas, com
o objetivo de subsidiá-lo com informa-
ções e orientações fundamentais para
que sua ação docente atenda ao prin-
cípio da interdisciplinaridade e ao de-
senvolvimento de competências, como
protagonismo, autonomia, responsabili-
dade e criatividade.

O material está organizado em três


volumes: Eixo Integrador Interáreas –
Orientações Gerais; Eixo Integrador In-
teráreas – Sugestão de Temas – Parte I
e Eixo Integrador Interáreas – Sugestão
de Temas – Parte II.

Este é o segundo volume da coleção e


contém sugestões de temáticas para o
ensino fundamental - 6º ao 9º, que vi-
sam articular os saberes dos diferentes
componentes curriculares e áreas do
conhecimento. Os temas descritos aqui
são sugestões, porém cada unidade es-
colar tem autonomia para propor novos
temas de acordo com seu contexto e
interesse dos seus alunos.

A leitura desse documento é importan-


te e poderá, junto ao terceiro volume,
Eixo Integrador Interáreas – Sugestão
de Temas – Parte II, nortear este traba-
lho nos anos do ensino fundamental.

Bom trabalho!

5
SUMÁRIO

#TAMOJUNTO
8
...TIC-TAC... A REVOLUÇÃO DAS IMAGENS
14 33

A CIDADE É NOSSA CHEGOU O FIM E AGORA?
21 38
“A QUEM PERTENCEM CORPO EM DES(ORDEM)
AS AMÉRICAS?” 42
26
CRUZADAS CONTEMPORÂNEAS
50

DA GERAÇÃO BABY BOOMER À
GERAÇÃO ALFA
54
DE ENERGIA E CONSCIÊNCIA LIMPAS!
60
DE LAMPIÃO AO BAIÃO: CULTURA E
TRADIÇÃO
64
DIZEM QUE O APRESSADO COME
CRU... MAS COME!
72
“DNA” DA ALIMENTAÇÃO
76
ENGRENAGENS URBANAS
81
ERA UMA CASA MUITO
ENGRAÇADA...
88
EXPRESSÕES URBANAS:
DIALOGANDO COM A CIDADE
94
FOME DE QUÊ? INVENTAR E CRIAR: E SÓ
101 COMEÇAR!
128
GASTAR E POUPAR É SÓ
PLANEJAR LET’S PLAY!
109 JOGO E IMPROVISAÇÃO
133
HABEAS MENTES
117

7
#TAMOJUNTO

Fonte: Thinkstock 2016.

Apresentação do tema
A família se reunia após o jantar para impactos dos meios de comunicação
ouvir a radionovela; os amigos da rua de massa e das tecnologias de infor-
se encontravam no sábado à tarde mação e comunicação (TICs) sobre as
para assistir ao novo filme de John relações (sociais, econômicas, ambien-
Wayne; no trabalho, todos comentam tais, culturais etc.) existentes na comu-
quem deve ganhar a disputa no reality nidade, por meio da investigação da
show do momento; o pessoal da classe realidade local (estudo do meio).
marca uma caça a certo personagem
de certa animação japonesa no parque A substituição das experiências pre-
perto da escola. Em que se asseme- senciais pelas virtuais; a exacerbação
lham e em que se diferenciam essas do imediatismo, do consumismo e da
situações? Neste Eixo, será abordada superficialidade nas relações humanas
a temática “Tecnologia e Sociabilida- e físicas; a alienação do indivíduo; a
de”, em que se propõe a análise dos fragilização dos limites entre público

8
e privado; as mudanças nas formas cipalmente num momento em que a
de mobilização e de manifestação construção da identidade de crianças,
dos cidadãos; as contribuições para a adolescentes e jovens imbrica-se às
transparência e a democratização das interações das redes sociais e às men-
informações e dos conhecimentos; as sagens veiculadas pelos meios de co-
questões de cunho financeiro e econô- municação. Já as Ciências da Natureza
mico; e os processos de dependência podem contribuir com a análise dos
tecnológica são alguns dos aspectos desdobramentos físicos e ambientais
que podem ser abordados nesse Eixo, decorrentes da virtualização das rela-
dependendo das escolhas dos estu- ções e do desenvolvimento das tec-
dantes em conjunto com o professor. nologias de comunicação. Matemática
pode se debruçar sobre os impactos
O objetivo do trabalho é contribuir econômicos, financeiros, de empreen-
para a ampliação da capacidade de dedorismos e da construção e elabora-
leitura crítica da realidade, a partir da ção de novos algoritmos, por exemplo,
compreensão da influência do rádio, tanto para a compreensão do fenôme-
do cinema, da TV e da internet, desde no como para seu desenvolvimento.
o seu surgimento até a atualidade, na
forma como os sujeitos se relacionam Por fim, a área de linguagens pode
em seus diversos espaços de convi- trabalhar a questão da ruptura das
vência, nos âmbitos público e privado. fronteiras de linguagens existentes e
dos choques e/ou sincretismos cul-
Com isso, busca-se que os estudantes turais decorrentes. Obviamente são
tenham condições de avaliar o lugar sugestões, o tema é bastante amplo e
dos meios de comunicação e da in- permite um trabalho inter, intra e /ou
ternet no mundo contemporâneo, no multidisciplinar.
Brasil, no cotidiano da comunidade
em que vivem e em sua própria vida, Contextualização
para que possam vislumbrar manei-
ras de participar socialmente e de se Segundo relatório da União Interna-
relacionar com as pessoas fundamen- cional de Telecomunicações (UIT),
tadas em princípios democráticos e agência da Organização das Nações
solidários, associados às questões de Unidas (ONU) dedicada a temas rela-
poder em todas suas vertentes. cionados às tecnologias da informa-
ção e comunicação (TICs), nos últimos
A contribuição das Ciências Humanas 15 anos o alcance da internet passou
reside justamente nessa possibilida- de 6,5% para 43% da população global
de de superar as visões maniqueístas, (ONU, 2016). O acesso de casa passou
redutoras e generalizantes, buscando de 18% em 2005 para 46%, passados
substituí-las por análises que consi- dez anos (JÚNIOR, 2015). O relatório
derem a complexidade do real, prin- da UIT mostrou também que, apesar

9
de o número de celulares em uso no partilhamento e a divulgação de in-
mundo ter passado de 7 bilhões, cer- formações e de, sob alguns aspectos,
ca de 4 bilhões de pessoas no mundo facilitar o dia a dia das pessoas, permi-
não estão conectadas à internet, ou tindo a realização de tarefas que antes
seja, cerca de 3,2 bilhões de pessoas despenderiam mais tempo ou mais
no mundo têm acesso à internet, a recursos, as TICs propiciam ao usuário
maioria delas nos países em desen- vivências no campo da imaginação e
volvimento. Esses números tendem a da fantasia. No ambiente virtual, num
crescer, e consequentemente também jogo online, por exemplo, qualquer um
seus desdobramentos. pode voar, ficar invisível, ser princesa,
monstro e pirata, ou conhecer o fundo
Dados da Agência Nacional de Tele- do mar.
comunicações (2016) informam que
o Brasil registrava, em abril de 2016, Todo esse potencial de utilização,
256,43 milhões de linhas ativas na te- somado aos interesses das grandes
lefonia móvel. Segundo uma pesquisa corporações no retorno de seus in-
do Ibope feita em parceria com uma vestimentos na área, explica em parte
empresa de tecnologia, 68 milhões de o lugar que as TICs ocupam na vida
pessoas usaram a internet pelo smar- contemporânea e a percepção que se
tphone nos três primeiros meses de tem de que um mundo sem internet
2015, sem contar os tablets e os ce- já não é mais possível. A presença da
lulares equipados com outras tecno- tecnologia em quase todos os campos
logias; dos 20 aplicativos mais usados da atuação humana é encarada por
no Brasil, sete são de redes sociais ou muitos como “sinal do progresso”, um
de mensagens instantâneas, sem falar fato desejável e indiscutível. No entan-
dos bancos, e-mails e outros serviços to, existem aqueles que tendem a de-
(VILAÇA, 2015). monizar as mídias sociais e a internet
como se fossem a origem de todos os
A expressividade dos números pode “males do mundo moderno”.
ser explicada pela riqueza de expe-
riências proporcionada pelo uso da Numa perspectiva crítica, é possível
internet. Num clique, pode-se loca- vislumbrar na relação das pessoas com
lizar amigos, participar de coletivos as TICs tanto fatores de emancipação
políticos, ampliar a rede de contatos quanto de alienação do sujeito. De um
profissionais, contratar serviços, fazer lado a internet permite, por exemplo,
compras, assistir a filmes e vídeos, ou- a democratização e a transparência na
vir músicas, visitar museus, criar e vei- divulgação das informações, por meio
cular conteúdos etc. de ações como o Portal da Transpa-
rência, pelo qual qualquer cidadão
Além desse poder de ampliar o re- tem acesso às informações da admi-
pertório cultural, de favorecer o com-

10
nistração pública. Por outro lado, a internet favorece a vigilância, o controle e a
violação de direitos à privacidade dos cidadãos, como nos exemplos dos sistemas
de localização, rastreamento e coleta de dados por empresas especializadas para
efeito de marketing virtual personalizado (Big Data).

Da mesma forma, o anonimato proporcionado pelo ambiente virtual pode tanto


gerar experiências criativas e divertidas, como no caso de diversos aplicativos e
games, quanto incentivar a disseminação de preconceitos e discursos de ódio in-
citando a violência, como nos casos de ofensas de cunho racista, homofóbico etc.
nas redes sociais.

Desafios

Fonte: Fale... 2016.

Fonte: Coutinho 2016.

11
Qual a relação entre as tecnologias Que lugar (finalidades, preferências,
de informação e comunicação e as frequência, modos e estilos de uso
relações sociais no mundo contem- etc.) ocupam a internet e as mídias
porâneo? sociais em nossa comunidade?

Como o surgimento do cinema, do rá- A fixação em redes sociais e mensagens


dio, da televisão e dos computadores instantâneas e a dependência em jogos
interferiu no cotidiano dos brasilei- eletrônicos são fenômenos recentes, mas
ros, especialmente em suas relações já fazem parte da rotina dos consultórios
humanas (sociais, econômicas, cultu- de psiquiatria e psicologia em diversas
rais, ambientais, etc.)? partes do mundo, constituindo-se numa
das preocupações dos profissionais da
O Papa Francisco, [...] deu sua primeira área de saúde pública e da educação.
entrevista a Eugenio Scalfari, um jorna- Meninas e meninos têm perfis de depen-
lista italiano que é um ateu autoprocla- dência diferentes. Eles têm mais interes-
mado. Foi um sinal: o diálogo real não é se pelos jogos online. [...]. Já as meninas
falar com gente que pensa igual a você. dedicam-se mais às redes sociais. [...]
As redes sociais não ensinam a dialogar “Às vezes, não dá tempo de atualizar
porque é muito fácil evitar a controvér- e elas já estão checando de novo”, diz.
sia…. Muita gente as usa não para am- Para essas garotas, número de curtidas,
pliar seus horizontes, mas [...] para se solicitações de amizade, comentários
fechar [em] zonas de conforto, onde o positivos e notificações de mensagens
único som que escutam é o eco de suas são como o combustível que alimenta a
próprias vozes, [...]. As redes são muito dependência (OLIVETO, 2014).
úteis, oferecem serviços muito prazero-
sos, mas são uma armadilha (BAUMAN, Quais os impactos do uso da internet
2016). e das mídias sociais em nossa comu-
nidade?

Na atualidade não podemos confiar


em todas as informações da internet
e dos meios de comunicação em ge-
ral. Como identificar as intenções de
seus autores?

12
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (Anatel). Brasil fecha abril de 2016 com
256,43 milhões de acessos. 03 jun. 2016. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/institu-
cional/noticias/noticia-dados-01/1181-brasil-fecha-abril-de-2016-com-256-43-milhoes-de-
-acessos-2>. Acesso em: 6 set. 2016.

BANKSY Shares Vancouver Street Artist’s Work. The Huffington Post. 03 maio 2014. Dis-
ponível em:<http://www.huffingtonpost.ca/2014/03/05/banksy-vancouver-street-artist-
-iheart_n_4906494.html> Acesso em: 6 set. 2016.

BAUMAN, Zygmunt. “As redes sociais são uma armadilha”. Entrevista de Ricardo de Que-
rol. El país. 9 jan. 2016. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/30/cultu-
ra/1451504427_675885.html>. Acesso em: 8 set. 2016.

COUTINHO, Laerte. Isto se chama CA-NE-TA. Quer uma pra você? Hugo Baracchini. Dispo-
nível em:<http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/index-hugo.html>. Acesso em: 6 set. 2016.

FALE ilimitado...Fale pessoalmente. Frases de reflexão. Disponível em: <http://www.frases-


dereflexao.net/frase/fale-ilimitado-fale-pessoalmente>. Acesso em 2 set. 2016.

JÚNIOR, Edgard. UIT diz que número de celulares no mundo passou dos 7 bilhões em
2015. EBC.27 maio 2015. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/tecnologia/2015/05/ui-
t-diz-que-numero-de-celulares-no-mundo-passou-dos-7-bilhoes-em-2015>. Acesso em 6
set. 2016.

OLIVETO, Paloma. Vício em internet e eletrônicos pode ser tão forte quanto dependência
química. Disponível em: <http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2014/10/23/in-
terna_tecnologia,582417/vicio-em-internet-e-eletronicos-pode-ser-tao-forte-quanto-a-de-
pendencia-quimica.shtml>. Acesso em 21 nov. 2016.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). União Internacional de Telecomunicações.


Disponível em: <https://nacoesunidas.org/agencia/uit/>. Acesso em 5 set. 2016.

SÃO PAULO (Estado). Lei n° 12.730, de 11/10/2007. Assembleia Legislativa do Estado de


São Paulo. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=74333>. Acesso em: 6 set.
2016.

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema SESI-SP


de Ensino, São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

VILAÇA, Vladimir. Tecnologia e uso do celular mudam o jeito do brasileiro se relacionar. G1,
23 jun. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/hora1/noticia/2015/06/tecnologia-e-uso-
-do-celular-mudam-o-jeito-do-brasileiro-se-relacionar.html>. Acesso em 5 set. 2016.

THINKSTOCK. Iconset-flat -Communication. Fotografia. Disponível em: <http://www.thinks-


tockphotos.com/image/stock-illustration-iconset-flat-communication-01/507754326/po-
pup?sq=507754326/f=CPIHVX/s=DynamicRank>. Acesso em: 07 dez.2016

13
...TIC-TAC...

Fonte: Istockphoto, 2019.

“Alice: Quanto tempo dura o eterno?


Coelho: Às vezes apenas um segundo.”
(CARROL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. São Paulo. Editorial Arara Azul, 2002)

Apresentação do tema
A todo momento, somos lembrados da -se a investigação das percepções,
hora do café da manhã, almoço, jantar, visões e experiências dos estudantes
a hora da novela, a hora de ir trabalhar, e da comunidade local relacionadas à
a hora de ir ao médico e a hora de brin- temporalidade.
car. Por que será que é assim?
Quem determina quanto tempo um
Neste tema serão abordadas as rela- trabalho precisa para acontecer? Por
ções entre homem, tempo e cultura. que parece que o tempo de jogar
Por meio da análise de objetos de com meus amigos passa mais rápido
cultura material e imaterial, propõe- do que quando tenho que estudar? O

14
que é o tempo? O tempo está no re- O estresse decorrente da intensifica-
lógio? Que diferenças existem entre o ção das tensões entre o tempo bioló-
tempo da natureza, o tempo biológico gico, o tempo da natureza e o tempo
e o tempo social? social é apenas um dos desdobramen-
tos da complexa relação entre o sujei-
Propiciar os espaços para que os estu- to e o tempo na contemporaneidade.
dantes elaborem problemas e propor Ainda que não resulte em doenças, o
atividades que os permitam aprofun- descompasso entre os ritmos internos
dar sua percepção sobre as dimensões e externos, o tempo dos afetos e o
do tempo; pensar sobre o significado tempo do mundo, entre o que se de-
do tempo em sua vida, na sociedade seja e o que é necessário realizar pode
em que vivem e em outras culturas; gerar angústias, desconfortos e preo-
refletir sobre suas experiências de cupações. Um breve exame em sites,
temporalidade; reconhecer-se como jornais e revistas indica que a visão de
ser temporal; compreender o tempo tempo predominante em nossa socie-
como construção social e identificar dade pode estar relacionada a uma sé-
as formas de organização do tempo rie de patologias da atualidade.
em seus espaços de convivência são
aspectos importantes do trabalho O estresse é apenas um indício de
com esse tema. como nossa organização social possui
contradições que atingem indivíduos
A ideia é aproximar os estudantes de de todas as idades, inclusive crianças:
questões fundamentais na construção
de sua autonomia, possibilitando um Fora a escola, estudam línguas estran-
olhar mais cuidadoso tanto para as- geiras e informática, fazem natação,
pectos subjetivos quanto para aspec- balé, judô e não têm tempo para mais
tos objetivos relacionados aos fatos nada. É preciso desde cedo aprender a
e experiências do seu cotidiano e de organizar a vida. Sem dúvida, o trabalho
sua comunidade. A exploração desses é essencial na vida de adultos e crianças,
aspectos pode contribuir para a am- mas não é tudo. Todos precisam de lazer
pliação de sua capacidade de leitura e a maioria das pessoas estressadas não
crítica da realidade e sua capacidade sabe sentir prazer (MELEIRO, 2018).
de organização.
Somente essa razão já justificaria a es-
colha do tema TEMPO para ser deba-
Contextualização tido na escola, mas, ao considerarmos
Mas quem é que se preocupou até ago-
outras especificidades do processo de
ra em formar estes jovens para um bom
desenvolvimento dos estudantes, a
uso do ócio?
necessidade desse debate demonstra
ser ainda mais pertinente.
(Domenico De Masi)

15
Quem convive mais proximamente Todos os pedaços têm nome: se-

com crianças e adolescentes, espe- gundo, minuto, hora. [....] Existem

cialmente professores e familiares, ob- máquinas do tempo grandes e pe-

serva que elas enfrentam grandes de- sadas [...]. Para indicar que passou

safios quando se encontram nos anos uma parte do tempo, [...] a máquina

do ensino fundamental. Acostumadas grita e um espírito bate no ferro que

com as formas específicas de condu- está do lado de dentro. Produz-se

ção do trabalho nas séries iniciais do muito barulho, um grande estrondo

ensino fundamental, os estudantes nas cidades europeias quando uma

precisam lidar com o impacto das parte do tempo passa.

mudanças de sua rotina escolar tradu-


zidas em aumento da quantidade de Ao escutar este barulho, o Papa-

professores, de componentes curri- lagui queixa-se: “Que tristeza que

culares e suas respectivas demandas, mais uma hora tenha se passado”.

necessidade de adequar-se a tempos O Papalagui faz, então, uma cara

menos flexíveis em aulas de 50 minu- feia, como um homem que sofre

tos. muito; e, no entanto, logo depois


vem outra hora novinha. Só consi-

A organização da agenda é um gran- go entender isso pensando que se

de desafio de meninos e meninas des- trata de doença grave. [...] Quase

sa faixa etária, principalmente nesse todos andam olhando para o chão

momento de transformações físicas e balançando com os braços para

e emocionais e em uma sociedade caminhar o mais depressa possível.

imediatista e utilitarista. Identificar as [...]. Dá a impressão de que aque-

origens dessa lógica de organização le que anda depressa vale mais e

do tempo é importante para ampliar é mais valente do que aquele que

a consciência sobre as possibilidades anda devagar (SCHEURMANN, s/d,

de mudanças e busca de alternativas. p. 49-52).

De acordo com a obra de Erich Outro autor critica a concepção de


Scheurmann (1878-1957), já em 1920, a tempo da civilização ocidental eu-
Europa ocidental se ressentia da per- ropeia. Difere, no entanto, quanto
da de uma relação mais próxima com ao lugar de onde observa: enquan-
a natureza. Segundo o chefe Tuavii, to o chefe samoano não pertence
aborígene samoano de Tiavéa, da ilha à cultura do Papalagui, George
deUpolu, o Papalagui1: Woodcock, apesar de não ser eu-
ropeu, tem uma relação profunda
[O Papalagui] divide o dia tal qual um com o objeto de sua crítica, uma
homem partiria um coco mole com uma vez que compartilha da mesma
faca em pedaços cada vez menores. tradição cultural. Segundo ele:

1
Termo samoano que significa aquele que furou o céu, uma alusão ao homem branco, ao europeu.
16
Não há nada que diferencie tanto a so- vivem ditados como “Passarinho que
ciedade ocidental de nossos dias das acorda cedo bebe água limpa” e “Os
sociedades mais antigas da Europa e últimos serão os primeiros”.
do Oriente do que o conceito de tempo.
Tanto para os antigos gregos e chineses Da mesma forma, cabe analisar como a
quanto para os nômades árabes [...], o própria ordem capitalista produz suas
tempo é representado pelos processos crises e cria alternativas, que, por mais
cíclicos da natureza, pela sucessão dos divergentes que pareçam em relação
dias e das noites, pela passagem das à ordem em vigor, contribuem para a
estações. [...] O relógio transformou o manutenção do próprio sistema.
tempo de um processo natural em uma
mercadoria que pode ser comprada, Isso pode ser comprovado com a ocu-
vendida e medida como um sabonete. pação do mercado pelos defensores
[...]. Na igreja e na escola, nos escritórios do equilíbrio, da calma e da tranqui-
e nas fábricas, a pontualidade passou a lidade, os propagadores das dicas e
ser considerada como a maior das vir- conselhos contra a tensão da vida mo-
tudes. O que acontece com quem não derna. Além de ouvir música, tomar
se ajusta, não se adequa aos ritmos do um cafezinho e comer um pãozinho na
relógio? [...] O homem que não conse- chapa, diversas publicações de divul-
gue ajustar-se deve enfrentar a desapro- gação científica entram na onda “zen”
vação da sociedade e a ruína econômica e prescrevem a meditação, o canto, o
a menos que abandone tudo, passando riso e a arte como terapias contra o
a ser um dissidente para o qual o tempo estresse.
deixa de ser importante [...] (WOOD-
COCK, 1998). De qualquer forma, experiências de
temporalidade que contrariam o pa-
Nas duas obras, identificam-se as ba- drão convencional de uso do tempo
ses da concepção de tempo herdadas ajudam a ampliar o repertório cultural
dos europeus e que predominam na dos estudantes e o entendimento so-
sociedade brasileira. bre suas próprias sensações, que po-
dem entender porque a percepção de
No entanto, ainda que haja uma con- tempo varia de pessoa para pessoa e
cepção hegemônica de tempo, não há conforme a atividade realizada:
uma visão única de tempo em nossa
sociedade. A pluralidade é evidencia- Quando está brincando, a criança exte-

da quando se observa que em nossa rioriza uma felicidade de dar inveja. Ela

cultura coexistem diferentes discursos, não está preocupada com a escola nem

representações, experiências e per- com a lição de casa sem fazer. Curte

cepções sobre o tempo. Um exemplo aquele momento. Com o adulto é dife-

disso pode ser verificado no universo rente. Os momentos felizes duram pou-

dos provérbios populares em que con- co, porque logo está preocupado com

17
problemas, às vezes, insolúveis. A que se
deve essa insatisfação permanente do
adulto? (VARELLA, 2018).

A consciência de tempo e a noção de


finitude legaram aos grupos humanos
a transcendência, a religiosidade e a
arte. Cada cultura, no entanto, diante
desse elemento comum, constitutivo
de nossa humanidade, aborda o tempo Monges tibetanos desenham uma mandala de areia colorida
Fonte: Istockphoto, 2019.
de maneira singular. Por isso, a abor-
dagem do tema favorece o reconhe-
cimento do tempo como construção
social e abre espaço para as escolhas
que os estudantes possam fazer sobre
formas pessoais de lidar com o tempo.

Desafios

Como você organiza seu tempo?


Como você e as pessoas com quem
Crianças brincam ao ar livre
você convive se relacionam com o Fonte: Istockphoto, 2019.

tempo?

Escultura em areia
Fonte: Istockphoto, 2019. Fonte: Istockphoto, 2019.

18
Tempo de brincar, tempo de rezar,
tempo de criar: o que esses tempos
têm em comum?

Se tomarmos como exemplo as mú-


sicas O voo do besouro, de Rimsky-
-Korsakov, executada geralmente a
Fonte: Istockphoto, 2019.
190 bpm e com poucas pausas em
Oferta de serviços como aulas de tai-
comparação à música Gymnopédie nº
-chi-chuan e ioga, iniciativas como a
1, de Erik Satie, executada geralmen-
do movimento slow food2: existem ati-
te a 70bpm, repleta de longas pausas,
vidades semelhantes a essas em sua
podemos perceber a importância do
comunidade?
tempo na música.
Qual a opinião das pessoas de sua
Que sensações as audições destas
comunidade em relação a esses tipos
peças musicais provocam em você?
de atividades?

Qual a importância do tempo na mú-


Oráculos, pitonisas, videntes, quiro-
sica? E na “partitura da vida”, qual o
mancia, baralho cigano, leitura de
valor do ritmo, do andamento e das
vísceras, tarô, cartomancia, I-Ching,
pausas nas demais dimensões da vida
sonhos: o ser humano deseja saber o
humana (estudos, trabalho, diversão
que vai acontecer e para isso utiliza
etc.)?
diversas técnicas e métodos. Prever o
Futuro sempre cativou o ser humano.

Desenhos animados como Os Jet-


sons, Ben10, Samurai Jack, Hora da
Aventura; filmes como De Volta para
o Futuro, Bill e Tedd – Uma Aventura
Fantástica e O Exterminador do Fu-
Cena de Zootopia (2016), animação norte-americana. turo são exemplos de obras de ficção
Flecha e Preguiscila trabalham no Departamento de
Trânsito de Zootopia. O contraste entre os ritmos de que apresentam visões de um futuro
Flecha (bicho-preguiça) e Judy (a coelha) é tratado com ora agradável e promissor (utopia) ora
humor. Fonte: Youtube, 2019
desalentador e sombrio (distópico).

Como é a organização do tempo em


sua casa, em seus espaços de convi-
vência (escola, igreja, clube etc.) e em
sua comunidade? Quais os problemas
de sua comunidade em relação à or-
ganização do tempo? Fonte: Istockphoto, 2019.

2
Fundado em 1986, o Slow Food tem como princípio básico o direito ao prazer da alimentação.
19
O mundo daqui a 1000 anos: qual a visão de futuro do grupo?

Existem serviços desse tipo em sua comunidade?

Por que as pessoas buscam essas respostas sobre o futuro?

Referências
CARROL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. São Paulo. Editorial Arara Azul, 2002

DE MASI, Domenico. O ócio criativo: entrevista a Maria Serena Palieri. Rio de Janeiro: Sex-
tante, 2000.

DURÃO, Fábio Akcelrud. Duas formas de se ouvir o silêncio: revisitando 4’33”. Revista Kri-
terion, vol.46, no.112, FFCH-UFMG, Belo Horizonte, dez.2005. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=s0100-512x2005000200023&script=sci_arttext> Acesso em: 29
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SCHEURMANN, Erich. O Papalagui. Rio de Janeiro: Marco Zero, s/d, p. 49-52. Disponível
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-do-relogio-de-george-woodcock.html> Acesso em 26 set. 2018.

20
A CIDADE É NOSSA

Fonte: Thinkstock, 2016.

Apresentação do tema

A temática a ser abordada parte da organização e interação das relações


ideia de que a cidade é um importante econômicas, sociais, ambientais e po-
espaço onde se evidenciam as rela- líticas.
ções sociais, manifestam-se os pro-
cessos de produção e concretizam-se O debate da cidade que queremos
diversas culturas. vem crescendo em todos os segmen-
tos da sociedade, pois a cidade é nos-
Dessa maneira, estudar a cidade é am- sa! Contudo, independentemente do
pliar a consciência sobre ela, enten- posicionamento de cada segmento, é
dendo o processo de industrialização partilhada, entre os grupos que pen-
e urbanização, seu crescimento de- sam o espaço urbano, a concepção
mográfico e consequentemente seus de planejamento como recurso funda-
processos de segregação, condições mental para a superação dos desafios,
de vida e infraestrutura precárias. Por- fragilidades e/ou precariedades en-
tanto, é importante observar a cidade frentadas pela população das cidades.
e perceber as necessidades existentes
e a expressão dos descontentamentos É necessário refletir sobre a estrutu-
no espaço urbano, que agregam dife- ração do território da cidade, os mo-
rentes configurações de acordo com a vimentos sociais urbanos, os meios

21
de consumo, a mobilidade urbana, Além da capital paulista, outras cida-
a habitação, a saúde, a educação, o des também têm esse problema. A
emprego, o turismo, a comunicação, a prioridade em relação ao transpor-
distribuição de renda, a coleta do lixo, te individual acaba por superlotar as
o abastecimento de água e esgoto, o grandes cidades no Brasil e no mundo.
transporte coletivo, a segurança, a po- Um exemplo é Cuiabá-MT:
luição etc. e pensar tudo isso, também,
de modo sustentável. A ocupação da cidade sem planejamen-
to prejudica, e muito, a mobilidade dos
Nesse sentido, a proposta de trabalho moradores em Cuiabá. Com crescimento
com essa temática contribui para am- desordenado, Cuiabá possui bairros dis-
pliar a consciência dos estudantes so- tantes do centro da cidade, o que preju-
bre a cidade, promovendo questiona- dica o ir e vir dos moradores (G1, 2015).
mentos sobre a complexidade da vida
urbana e dos diferentes tipos de gestão. Diante disso, Castellar (2011) destaca
a importância de elaborar um trabalho
sobre essa temática, pois ela ofere-
Contextualização ce vários conceitos e conteúdos para
As cidades e a sua vida urbana são pensar com o estudante a fim de fa-
representações de desenvolvimento, vorecer a compreensão e análise, por
urbanização e crescimento econômi- exemplo, de questões que envolvem o
co. Segundo Taurion (2011), as cidades tipo e o uso dos solos, das bacias hi-
são centros econômicos de inovação, drográficas, as atividades econômicas,
cultura, conhecimento e aplicações, as diferentes ocupações do espaço
mas também de imensos desafios so- urbano e os problemas que atingem a
ciais e econômicos e, por isso, ele su- vida dos habitantes da cidade.
gere que é preciso gerar novos mode-
los de uso da infraestrutura urbana de Além disso, o sistema de saúde, de
forma inovadora. educação, distribuição de renda e
acesso ao bem-estar social acabam
Vejamos o caso de São Paulo: com por estabelecer o Índice de Desenvol-
mais de 10 milhões de habitantes re- vimento Humano (IDH), que agrega
sidentes, tem vários projetos imobi- as dimensões: longevidade, educação
liários espalhados pela cidade, que, e renda. De acordo com os dados do
segundo Rose (2012), priorizam o Radar 20153 , o IDHM (Índice de Desen-
transporte individual e, consequen- volvimento Humano dos Municípios)
temente, aumentam os congestiona- de 2011 a 2014, a média dos IDHs dos
mentos. Isso evidencia a falta de pla- municípios passou de 0,738 a 0,761.
nejamento urbano apesar de termos Isto se deve ao aumento de renda, a
tecnologia disponível para resolver o maior escolaridade, a diminuição da
problema.
3
ATLAS BRASIL. O IDHM. 2013. Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/idhm/>. Acesso em: 25 nov. 2016
22
mortalidade infantil e ao aumento da espécie de guia que estabelece regras

expectativa de vida. Estudar e com- e parâmetros para o desenvolvimen-

preender cada um dos fatores rela- to do município por um período de 10

cionados é importante para uma com- anos. MARCONI, Elisa; BICUDO, Francis-

preensão mais ampla da sua própria co. Da cidade que temos à cidade que

cidade e da gestão administrativa. queremos. Revista Giz. Out. 2013. Dis-


ponível em: <http://revistagiz.sinprops.
Desse modo, diversos aspectos serão org/?p=4641>. Acesso em: 05 nov. 2016.
abordados neste trabalho, tais como
as dinâmicas de reorganização espa- Qual a importância do Plano Diretor
cial, as relações estabelecidas entre os para a organização de uma cidade?
sujeitos e entre os sujeitos e a nature- Sua cidade tem Plano Diretor (ou Es-
za, as origens e as funções dos crité- tatuto da Cidade)? Como ele foi ela-
rios de estabelecimento de níveis de borado?
qualidade de vida, a convivência en-
tre diversas culturas, a influência dos A partir da década de 1930, então, ex-

equipamentos urbanos e da oferta de pandiu-se o modelo chamado de Estado

serviços públicos e privados sobre o de Bem-Estar Social, no qual o Estado é

desenvolvimento social e econômico organizador da política e da economia,

da população, as mudanças e perma- encarregando-se da promoção e defesa

nências nas narrativas e nos discursos social. O Estado atua ao lado de sindi-

dos cidadãos sobre sua cidade, entre catos e empresas privadas, atendendo

outros. às características de cada país, com o


intuito de garantir serviços públicos e

Por meio da investigação do lugar proteção à população. GASPARETTO

onde se vive – a sua cidade – e da ela- JUNIOR, Antonio. Estado de bem-estar

boração de projetos e soluções em social. InfoEscola. Disponível em: <http://

busca tanto da cidade possível quanto www.infoescola.com/sociedade/estado-

da cidade desejada, busca-se contri- -de-bem-estar-social/>. Acesso em: 05

buir para o desenvolvimento da crítica, nov. 2016.

da imaginação, criatividade e da cons-


ciência do estudante como potencial Que serviços devem ser garantidos
agente de transformação da realidade. pelo poder público à população das
cidades? Esses serviços são garanti-
dos em nossa cidade?

Desafios Realizado pelo IBOPE Inteligência, o

No último dia 26 de setembro, o pre- IRBEM (Indicadores de Referência de

feito de São Paulo, Fernando Haddad, Bem-Estar no Município) revela o nível

entregou à Câmara Municipal a propos- de satisfação dos paulistanos em relação

ta de Plano Diretor para a cidade – uma à qualidade de vida e ao bem-estar em

23
São Paulo. Desde a primeira medição do
estudo, em 2008, as áreas nas quais os
DAS CIDADES DA UTOPIA
respondentes manifestam maior grau de
E PARTICULARMENTE DA
satisfação dizem respeito à vida privada,
CIDADE DE AMAUROTA
à religião e ao consumo [...] O respeito
aos direitos humanos é o atributo que Amaurota se estende em doce
mais cresceu neste ano. Também aumen- declive sobre a vertente de
tou a satisfação com a cultura da paz e uma colina. Sua forma é de
a recusa à violência entre as pessoas na quase um quadrado. [...] As
cidade. As áreas de maior insatisfação ruas e as praças são convenien-
estão diretamente relacionadas às ins- temente dispostas, seja para o
tituições governamentais, tais como [...] transporte, seja para abrigar-se
transporte e trânsito, acessibilidade para do vento. [...] Os habitantes da
pessoas com deficiência, segurança, de- Utopia aplicam aqui o princípio
sigualdade social, transparência e parti- da posse comum. Para abolir a
cipação política. PAULISTANOS avaliam ideia da propriedade individual
qualidade de vida na cidade. 22 jan. 2015. e absoluta, trocam de casa to-
Ibope. Disponível em: <http://www.ibo- dos os dez anos e tiram a sor-
pe.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Pau- te da que lhes deve caber na
listanos-avaliam-qualidade-de-vida-na- partilha. [...] Os utopianos atri-
-cidade.aspx>. Acesso em: 5 dez. 2016. buem a Utopus o plano geral
de suas cidades. Este grande
Qual o nível de satisfação dos habi-
legislador não teve tempo de
tantes de nossa cidade em relação à
concluir as construções e em-
qualidade de vida e ao bem-estar?
belezamentos que tinha proje-
tado; isso demandava o traba-
Em linhas gerais, qual a visão dos
lho de muitas gerações. Assim,
habitantes sobre nossa cidade? E,
legou à posteridade o cuidado
segundo seus moradores, quais os
de continuar e aperfeiçoar sua
principais problemas, características
obra. [...] (MORUS, Thomas.
e qualidades de nossa cidade?
Utopia. Domínio público.

Disponível em: <http://www.


dominiopublico.gov.br/pesqui-
sa/DetalheObraForm.do?se-
lect_action=&-co_obra=2301>.
Acesso em: 09 nov. 2016).

Que cidade queremos? A cidade que


queremos é possível? O que precisa
ser feito e qual o nosso papel para a
Fonte: Fórum da Construção, 2016
construção da cidade que queremos?

24
A partir da opinião dos moradores, o que mudaríamos e o que manteríamos em
nossa cidade?

Seria possível existir uma cidade que fosse boa para todos os seus moradores?
Por quê? E se tivéssemos o poder de transformar sonhos em realidade, como
seria a nossa cidade ideal?

Referências

CASTELLAR, Sônia Maria Vanzella. “A cidade como método de estudo na educação geográfica”. In:
LA CHE, Nubia Moreno; RODRIGUES, Alexander Cely. Ciudades Leídas Ciudades Contadas: La ciudad
latino-americana como escenario didáctico para la enseñanza de la geografía. Bogotá: Universidad
Distrital Francisco José de Caldas, 2011, p. 153-170.

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<http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2015/10/falta-de-planejamento-prejudica-mobilidade-ur-
bana-em-cuiaba.html>. Acesso em 25 nov. 2016.

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sala de aula: algumas considerações. In: SIMPÓSIO DE ESTUDOS URBANOS, 2: A dinâmica das cida-
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com/image/stock-illustration-urban-landscape-flat-city/513641330/popup?sq=city/f=CPIHVX/s=Dy-
namicRank>. Acesso em: 08 dez.2016.

25
“A QUEM PERTENCEM AS AMÉRICAS?”

Fonte: Thinkstock 2016.

Apresentação do tema
A proposta desse tema é a investiga- Brasil, estima-se que havia cinco mi-
ção da cultura indígena presente em lhões de índios. Atualmente eles não
todo o continente americano. Muitas passam de 850 mil, organizados em
vezes, ouve-se a expressão “o índio” 230 povos que falam cerca de 180 lín-
de forma genérica e exótica, porém guas. Esses dados revelam o genocídio
existem muitos povos indígenas que dessa população, que não foi diferente
viviam e ainda vivem nos territórios na América do Norte. Quando os eu-
brasileiros e americanos, que possuem ropeus chegaram à essa região, exis-
diferentes costumes, línguas e rituais. tiam cerca de 20 milhões de índios no
território, em pouco tempo eles foram
Quando os portugueses chegaram ao reduzidos a 2 milhões, devido a guer-

26
ras, carestias e epidemias de doenças O genocídio da população indígena
trazidas pelos “colonizadores”. Eles também mata a cultura desses povos
formavam mais de 240 grupos ou na- sábios. Estima-se que muitas línguas
ções que falavam línguas diferentes, já foram extintas, além de costumes,
mas tinham costumes semelhantes. jogos, cerâmicas, conhecimento sobre
Cheyennes, apaches, navajos, coman- a natureza e as plantas medicinais etc.
ches, blackfeet e sioux eram algumas
das principais nações indígenas dessa
parte do continente americano, no sé-
Os índios não eram vermelhos.
culo XIX. Todas viviam na região co-
Para se proteger do sol,
nhecida como Grandes Planícies da
algumas tribos costumavam
América do Norte, uma vasta área que
passar terra sobre a pele ou
se estende do rio Mississipi em dire-
pintavam-na, e isso dava a eles
ção ao oeste do continente. Os povos
uma tonalidade avermelhada.
que resistem sofrem por falta de ter-
A cor da pele dos índios norte-
ras, doenças, fome, alcoolismo e uma
americanos é a mesma dos
taxa enorme de suicídio. A beleza da
seus antepassados longínquos
cultura desses povos também tem so-
que vieram da Ásia,
frido com o descaso e o preconceito, e
aparentados aos modernos
assim línguas, costumes, lendas, jogos
chineses, mongóis, japoneses e
etc. estão sendo extintos.
coreanos.

Portanto, romper estereótipos e pre-


(PELLEGRINI, 2015)
conceitos, alertar para o genocídio
da população indígena e encantar os
estudantes com a riqueza de suas ma-
nifestações artísticas, costumes, histó-
rias, rituais, línguas, práticas corporais,
entre outros aspectos dessas culturas,
são alguns dos desafios do trabalho
com esse Eixo.

Contextualização
Ninguém ignora o que se passa com o
índio. Mas, para mostrar seu drama, não
é necessário expor só a degradação,
Fonte: Thinkstock 2016.
a decadência. É igualmente importan-
te deixar patente o quanto ele foi belo,
digno e forte, e a grandeza do que está
sendo destruído (Orlando Villas-Bôas).

27
Os povos que habitavam a América No Brasil, ainda hoje os povos indíge-
Central e a região dos Andes antes da nas precisam resistir e lutar para sua
chegada dos europeus eram os maias, sobrevivência. As terras indígenas,
incas e astecas. Os maias formavam mesmo depois de demarcadas, sofrem
uma civilização avançada, organizada invasões de fazendeiros, garimpeiros
em cidades-estado, que chegou a ter 1 etc. A fome, o suicídio, o abandono, o
milhão de habitantes com sistemas de alcoolismo são alguns problemas gra-
esgoto e água mais avançados que os ves que os povos indígenas enfrentam.
da Europa na época. Além disso, eles Alguns dados nos mostram um pouco
tinham uma escrita hieroglífica, conhe- da situação precária em que vivem:
cimentos em astronomia e uma agri-
cultura bem desenvolvida. Os astecas (...) De acordo com relatório do Conse-

viviam no México e sua grande ativi- lho Indigenista Missionário (CIMI), em

dade era o comércio. Os incas viviam 2014 foram assassinados 138 índios, a

nos planaltos andinos, dedicavam-se maioria decorrente de conflitos com in-

à agricultura e ao pastoreio, e viviam vasores de seus territórios. A omissão

em aldeias. Resistiram à invasão e ao do Poder Público foi também responsá-

domínio espanhol durante quarenta vel pelo falecimento de 21 índios adultos

anos. Seu último imperador foi Tupac por falta de acesso ao sistema de saúde

Amaru, que morreu em 1572, quando – uma doença comum como a gripe, por

terminou o Império Inca. Essas civili- exemplo, é responsável por 15,3% das

zações foram massacradas durante o mortes entre índios adultos. A mortali-

período da colonização. Hoje existe dade infantil entre a população indígena

um número reduzido de descendentes atinge índices inaceitáveis: 41,9 crianças

desses povos, resistindo pela preser- mortas por mil nascidas vivas, quando a

vação do que restou de sua cultura. média nacional é a metade, 22 crianças


mortas por mil nascidas vivas. Além dis-
Em 29 de dezembro de 1890, na Dako- so, números da DataSUS mostram que
ta do Sul, nos Estados Unidos, cerca de a principal causa de óbito entre crian-
400 índios Sioux, principalmente mu- ças indígenas de até 9 anos de idade é
lheres e crianças, foram exterminados a desnutrição, esse grupo representa,
pelas tropas norte-americanas. Esse sozinho, 55% do total das mortes por
ataque, conhecido como o Massacre desnutrição no Brasil. (...) No Brasil, os
de Wounded Knee (joelho ferido) põe índios ocupam o último lugar na escala
fim às guerras indígenas que se alastra- social. São os mais invisíveis dos invisí-
ram na América do Norte após o início veis, os mais discriminados entre os dis-
da colonização no século XVII e, assim, criminados, os mais ultrajados entre os
os brancos declaram a conquista dos ultrajados. Estão mortos, antes mesmo
territórios do Oeste (West e Far West). de morrer. (...) (RUFFATO, 2016).

28
FILMES

Há 27 anos, a Assembleia Nacional Constituinte foi marcada pela defesa


da Emenda Popular da União das Nações Indígenas. No dia 4 de setembro
de 1987, o porta-voz do emergente Movimento Indígena fez discurso
histórico que logrou reverter a conjuntura política anti-indígena naquela
legislatura do Congresso Nacional. O pronunciamento contundente do
defensor Ailton Krenak, com a presença de espírito do gesto de luto, foi ato
decisivo para a aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de
1988 pelos parlamentares constituintes. (Vídeo disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=k-WMHiwdbM_Q>. Acesso em 10 nov. 2016)

Vídeo que explica didaticamente a situação atual dos povos indígenas


brasileiros: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y_tKDCBim-
TQ>. Acesso em 10 nov. 2016

O Filme Xingu (2012, Brasil), dirigido por Cao Hamburger, conta a história
dos irmãos Orlando (Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo
Villas-Bôas (Caio Blat), que resolvem se alistar no programa de expansão
na região do Brasil central, incentivado pelo governo. Com enorme poder
de persuasão e afinidade com os habitantes da floresta, os três se tornam
referência nas relações com os povos indígenas, vivenciando incríveis
experiências, entre elas a eterna conquista do Parque Nacional do Xingu.
(Adaptado de ADORO CINEMA, 2016).

Dados da Fundação Nacional do Índio


Escalpo. Um trunfo de péssimo (Funai) indicam que a população indí-
gosto, consistia na parte superior gena no Brasil, de acordo com o Censo
do couro cabeludo de um inimigo de 2010, é de aproximadamente 896
morto em combate. Foi inventado mil pessoas, sendo que 57,5% delas
pelos franceses e ingleses, que vivem em terras indígenas oficialmen-
ofereciam um prêmio para cada te reconhecidas. Vemos que, mesmo
indígena morto, e exigiam uma tendo um órgão oficial de proteção ao
prova corporal de que esse índio povo indígena no Brasil (Funai), o ge-
tinha sido realmente eliminado. nocídio não para de acontecer; basta
Em época tardia, começou a ser procurar nas mídias alternativas e em
adotado também pela resistência estudos que vêm sendo realizados nas
indígena (PELLEGRINI, 2015). universidades para ver a luta constan-
te desse povo pela vida.

29
Essas problemáticas mostram a urgên- brancos. (...) A Bienal de Cinema Indí-

cia de tratar sobre o tema para a for- gena, que acontece em São Paulo de 7

mação de cidadãos mais conscientes a 12 de outubro de 2016, quer interferir

de seu papel de transformação dessa nessa realidade exibindo 53 filmes feitos

realidade nos próximos anos. Como por cineastas índios – 11 deles produzi-

aponta Orlando Villas Boas, é preciso dos por mulheres. (...). Não há estética

também valorizar a beleza e sabedoria que abarque toda a produção recente

da cultura dos povos indígenas, mora- retratada pela Bienal de Cinema Indíge-

dores originais desse nosso continen- na. Para Pedro Portela, as linguagens são

te americano. diversas e os métodos também, e o úni-


co fator que os une é a simplicidade dos
Desafios equipamentos utilizados (muitos deles
foram filmados com celular).
Calcula-se que quando os primeiros
homens brancos aqui aportaram havia “Os Kayapó, os Maxakali e os Yanoma-
cerca de 5 milhões de índios. Hoje, mais mi não editam muito seu material, pre-
de 500 anos depois, eles não passam de ferem sequências grandes. Já os Baré
850 mil, segundo dados do IBGE. (...) os gostam de mais cortes, uma montagem
indígenas foram vítimas de um verda- mais picotada. Os guarani-Kaiowá e os
deiro genocídio, que extinguiu etnias, tikuna fazem videoclipes. Os primeiros,
línguas, culturas. E, o mais inacreditável, inclusive, cantando hip-hop, que é uma
em pleno século XXI continuam sendo extensão de sua luta pela terra”, relatou
perseguidos e tendo seus direitos bási- o curador à mesma agência.” (MORAES,
cos desrespeitados, por conta da omis- 2016).
são do Estado, que no Brasil, antes de
ser expressão de aspirações coletivas, é O uso da tecnologia pode fazer com
fortaleza de interesses privados (RUF- que os índios percam sua cultura tra-
FATO, 2016). dicional? Qual a influência do cinema
para a (des)valorização da cultura in-
Quais as razões do genocídio indígena dígena?
no Brasil? O que é possível fazer para
acabar com a morte e o abandono dos
povos indígenas brasileiros? Como
acontece a morte de uma língua e uma
cultura? A cultura indígena é respeitada
e valorizada pelos brasileiros? Por quê?

“Um passeio pelo circuito de filmes de


Disponível em:
qualquer cidade, em qualquer semana,
<https://ehtcomics.
mostra: cinema é, na maioria arrebata- wordpress.com/>.
Acesso em 19 dez.
dora das vezes, coisa de homem e de 2016.

30
Brinquedo “Forte apache”. Imagem do filme Jornada Sangrenta/Column South (1953).
Disponível: <http://www.gpformodelismo.com/artigos/ Disponível em: <http://articlesfilmesantigosclub.blogspot.
equipe-do-blog-minias-forte-a-fantastica-historia-dos- com.br/2014/08/a-saga-de-audie-murphy-parte-2_29.
-mais-de-50-anos/>. Acesso em 19 dez. html>. Acesso em 19 dez. 2016.

O que essas imagens revelam sobre as representações simbólicas dos índios cria-
das pelos EUA e disseminadas para outros países e culturas? Quais interesses
podem estar implícitos nessa maneira de representar os índios?

31
Referências

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2016. Disponível em: <https://educezimbra.wordpress.com/2016/09/26/305-etnias-e-274-linguas-es-
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XINGU. Adoro Cinema. Disponível em <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-201699/>. Acesso


em: 18 nov. 2016.

32
A REVOLUÇÃO DAS IMAGENS

Fonte: Thinkstock 2016.

Apresentação do tema

Nossa visão de mundo se constrói desde a mais tenra idade por meio das
imagens que construímos dele. Uma das fontes básicas para nossa cognição é a
produção de imagens por nossos olhos.

O conhecimento sobre o funcionamento da visão permitiu a construção de diver-


sos aparelhos para geração de imagens, como fotografias e filmes. E as tecnologias
modernas ampliaram as possibilidades de produção dessas imagens, de modo que
hoje podemos ver o que os nossos olhos não poderiam ver naturalmente (na faixa
do ultravioleta e do infravermelho). Permitem ainda armazenar essas imagens em
mídias diversas, tanto analógicas quanto digitais, além de produzir a sensação de
profundidade com os filmes em 3D.

Fonte: Thinkstock 2016.

33
Assim, o trabalho com esse tema pre- Contextualização
tende instigar os estudantes a pesqui-
Todas as pessoas tomam os limites de
sarem desde aspectos sobre o fun-
seu próprio campo de visão, pelos limi-
cionamento de nossa visão, passando
tes do mundo (Arthur Schopenhauer).
pelos princípios das primeiras fotogra-
fias e filmes, até chegar às formas de
O amor acrescenta uma preciosa visão
fotografia e filmagens modernas, às
aos olhos (William Shakespeare).
imagens obtidas por equipamentos
que filmam no escuro, aos monitores Foi descoberta uma nova forma de se
e aparelhos de TV modernos, às ima- olhar o universo (Stephen Hawking, 2016).
gens de satélites e aos mapeamentos
que permitem vermos imagens reais A frase do cientista Stephen Hawking,
em vez de desenhos. referindo-se à comprovação experi-
mental das ondas gravitacionais, sus-
Nossos pais utilizavam máquinas foto- cita uma questão: o que significa ver?
gráficas que registravam imagens em
negativos que precisavam ser levados Nossa forma de olhar para o mundo
até o laboratório fotográfico para se- não se limita mais aos olhos e a sua
rem reveladas. Dessa forma, podiam forma de detectar determinadas on-
escolher que fotos seriam vistas pelas das eletromagnéticas. Durante muito
outras pessoas, mas não tinham mui- tempo achamos que essa era a única
tas opções. Nos dias atuais, os mais forma de “ver” e conhecer as coisas.
variados equipamentos permitem que Ao longo de sua história, o homem
obtenhamos fotos a qualquer momen- desenvolveu formas de retratar o que
to, sem limites de quantidade, que po- nossos olhos registravam.
demos postar em redes sociais. Nossa
imagem pode estar sendo registrada Os seres humanos que viviam em ca-
a cada instante, no elevador, na rua, vernas já registravam em paredes ima-
no shopping. Essa maior quantidade gens para representar o mundo revela-
e disponibilidade da imagem pode ter do por seus olhos. Os usos de imagens
aumentado a preocupação das pes- em pinturas e esculturas revelavam
soas com a imagem delas? as visões culturais de cada povo. Por
exemplo, os antigos gregos esculpiam
Assim, o tema pretende que os seus deuses como seres com caracte-
estudantes compreendam as diversas rísticas especiais e os humanos com
formas de produzir e transmitir ima- corpos musculosos; já na Europa me-
gens, como nos relacionamos com as dieval, além das esculturas, as pintu-
imagens e como elas podem interferir ras de quadros se tornam uma grande
em nossa forma de pensar. forma de representação de imagens e
surgiram os grandes pintores; por ou-

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tro lado, os povos orientais, com suas Desenvolver o pensamento crítico
tradições milenares, esculpiam ser- com relação aos conhecimentos é
pentes e deuses com características um papel importante da escola (PER-
não humanas. RENOUD, 1999). Conhecer melhor os
avanços da ciência para poder aceitá-
Os computadores e os equipamentos -los e aplicá-los para gerar benefícios
eletrônicos como as TVs de plasma ou para a sociedade também é funda-
de LCD, com suas formas de armaze- mental. Busca-se, com esse tema, en-
namento digital, abriram outras possi- tender o papel da imagem em nossos
bilidades para o registro e a divulga- dias e nossas vidas.
ção de imagens.

As tecnologias de imagem do interior


Desafios
do corpo, como o raio X e a tomogra-
fia, ajudam a compor os diagnósticos A criatividade dos estudantes será
médicos e a guiar as intervenções para primordial para o desenvolvimento
a cura de problemas de saúde. deste Eixo. Os questionamentos, as
hipóteses e as soluções dos estudan-
As lunetas, na Idade Média, ajudaram tes devem ser incentivados e aprimo-
Galileu Galilei a conhecer melhor a rados no decorrer dos trabalhos. A
estrutura do nosso Sistema Solar e a seguir, alguns desafios são apresenta-
construir uma nova forma de interpre- dos como disparadores dos trabalhos,
tar o mundo. No entanto, as imagens mas outros desafios poderão surgir no
da Lua e de alguns planetas não eram decorrer do desenvolvimento do Eixo
aceitas pelas autoridades de sua épo- conforme os rumos da pesquisa.
ca como reais; eles chegavam a consi-
derar que eram um truque de Galileu. Mesmo que a vontade humana de
registrar suas ideias e suas visões de
Os telescópios modernos criaram uma mundo em imagens sempre tenha es-
visão do Cosmos e da sua vastidão tado presente, o surgimento da língua
nunca antes alcançada pela humani- falada e, posteriormente, da escrita
dade. fizeram a tradição cultural avançar no
uso da palavra, dando prestígio à Li-
O que se pretende com esse temaé que teratura e à Filosofia. Mas, nos sécu-
os estudantes reflitam, investiguem, los XIX e XX, com o surgimento e os
compreendam e se posicionem com avanços no registro de imagens, como
relação à criação de imagens pela hu- a fotografia e o cinema, houve um
manidade e à forma como essas ima- forte abalo nessa tradição cultural. E,
gens foram utilizadas e apropriadas mais recentemente, com os celulares e
pela sociedade ao longo da história. a internet, as imagens adquiriram im-
portância sem precedentes.

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Como a mudança de prestígio da pa- Referências
lavra para a imagem mudou nossas
PERRENOUD, P. Formar professores em con-
relações com o mundo à nossa volta?
textos sociais em mudança. Prática reflexiva e
Como a facilidade de tirar fotos ou
participação crítica. Revista Brasileira de Edu-
filmar momentos interfere no modo cação, n. 12, set. dez. 1999.
contemporâneo de interagir com as
imagens? STEPHEN HAWKING: “Foi descoberta
uma nova forma de se olhar o universo”.

Segundo a página eletrônica do pe- El país. 11 fev. 2016. Disponível em: <http://
brasil.elpais.com/brasil/2016/02/11/cien-
riódico El País, a televisão tal como a
cia/1455208679_481462.html>. Acesso em: 05
conhecemos hoje não existiria se não
dez. 2016.
fosse o engenheiro e físico britânico
John Logie Baird, que idealizou um
Indicações de consulta
sistema capaz de transmitir a distân-
cia som, voz e movimento. Depois de Cegos e visão:
vários testes conseguiu, em 1926, que
BRITÂNICA se surpreende ao conseguir ver
fosse exibida em uma tela a cabeça
as horas após implante de olho biônico. Bem-
de uma marionete. Mais tarde, com
-estar G1. 06 jan. 2016. Disponível em: <http://
os avanços na construção de equipa- g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/01/bri-
mentos de obtenção de imagens, pro- tanica-se-surpreende-ao-conseguir-ver-horas-
cessou-se uma revolução em diversas -apos-implante-de-olho-bionico.html>. Acesso
áreas como a Biologia, a Medicina, a em: 05 dez. 2016.
Física, a Geofísica, a Geologia, a Geo-
CAPUTO, Victor. Após 40 anos, homem volta
grafia, a Astronomia e praticamente
a ver com ajuda de olho biônico. Exame. 22
todo o conhecimento humano. maio 2016. Disponível em: <http://exame.abril.
com.br/ciencia/apos-40-anos-homem-volta-a-
Com isso em vista, como se pode pro- -ver-com-ajuda-de-olho-bionico/>. Acesso em:
duzir e utilizar imagens para ajudar a 05 dez. 2016.
sociedade a conhecer sua realidade e
MÃE cega enxerga seu bebê pela primeira
a planejar suas ações sobre ela, em
vez. Época negócios, jan. 2015. Disponível em:
questões como a saúde, a economia, <http://epocanegocios.globo.com/Informa-
ou o planejamento urbano? cao/Acao/noticia/2015/01/mae-cega-enxer-
ga-seu-bebe-pela-primeira-vez.html>. Acesso
em: 05 dez. 2016.

PESSOAS cegas conseguem ver com os ouvi-


dos. Diário da Saúde. 31 mar. 2011. Disponível
em: <http://www.diariodasaude.com.br/news.
php?article=cerebro-cegos-cortex-visual-en-
xergar-pelos-sons&id=6324>. Acesso em: 05
dez. 2016.

36
Ondas gravitacionais: ISHIKAWA, Júlia Tami. Professor discute na
USP o papel da imagem na sociedade con-
DOMÍNGUEZ, Nuño. Ciência confirma a teoria temporânea. Agência Universitária de Notícias,
das ondas gravitacionais de Albert Einstein. v. 43, n. 41. Disponível em: <http://www.usp.br/
El país. 12 fev. 2016. Disponível em: <http:// aun/exibir?id=3436>. Acesso em: 16 nov. 2016.
brasil.elpais.com/brasil/2016/02/11/cien-
cia/1455201194_750459.html>. Acesso em: 05 TESSAROLO, Felipe. Observatório de impren-
dez. 2016. sa. 16 jun. 2015. Disponível em: <http://obser-
vatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/o-
EM 6 pontos: a descoberta que confirma -poder-de-uma-imagem/>. Acesso em: 16 nov.
teoria de Einstein e muda modo como ve- 2016
mos universo. BBC. 11 fev. 2016. Disponível
em: <http://www.bbc.com/portuguese/noti-
cias/2016/02/160209_ondas_gravitacionais_
mdb>. Acesso em: 05 dez. 2016.

GARCIA, Rafael. Experimento vê ondas gravi-


tacionais, fenômeno previsto por Einstein. G1.
11 fev. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.
com/ciencia-e-saude/noticia/2016/02/expe-
rimento-ve-ondas-gravitacionais-fenomeno-
-previsto-por-einstein.html>. Acesso em: 16
nov. 2016.

MOREIRA, Isabela. Físicos detectam novas on-


das gravitacionais. Revista Galileu. 15 jun. 2016
Dispo- nível em: <http://revistagalileu.globo.
com/Ciencia/noticia/2016/06/cientistas-de-
tectam-novas-ondas-gravitacionais.html>.
Acesso em: 05 dez. 2016.

TVs plasma e LCD:

LANDIM, Wikerson. Como funcionam as telas


de LCD, LCD de LED e Plasma. Tecmundo.
24 set. 2010. Disponível em: <http://www.
tecmundo.com.br/led/5534-como-funcionam-
-as-telas-de-lcd-lcd-de-led- e-plasma.htm>.
Acesso em: 16 nov. 2016.

O poder da imagem na sociedade moderna:


EL PAÍS. Doodle celebra a primeira demons-
tração da televisão. Disponível em: <http://
brasil.elpais.com/brasil/2016/01/26/tecnolo-
gia/1453795784_604817.html>. Acesso em: 16
dez. 2016.

37
CHEGOU O FIM E AGORA?

Fonte: Thinkstock, 2016

Apresentação do tema

Este tema propõe um trabalho que de diminuir o acúmulo de lixo, cons-


aborde a conscientização sobre o que cientizar sobre o quanto se gasta e o
é lixo, qual a produção no cenário mun- quanto se deixa de ganhar com a in-
dial, a quantidade que produzimos dústria do lixo, além de se ter respaldo
diariamente, o custo desta produção, para cobrar do poder público atitudes
quanto desse lixo é recolhido, reapro- que possam promover condições sa-
veitado e destinado a locais corretos, tisfatórias, tanto no seguimento social
a possibilidade de reduzir a produção, quanto no ambiental, tais como: a
a importância de separar os materiais criação de áreas verdes, a arboriza-
recicláveis para a coleta seletiva, entre ção urbana e o saneamento básico,
outras situações envolvendo o lixo. entre muitas outras atitudes que são
fundamentais, já que a gestão do lixo
Tendo sempre como base a pesquisa é um dos maiores desafios que o Brasil
e a aplicação dos conhecimentos das enfrenta.
diferentes áreas do saber, o tema será
desenvolvido com profundidade em O estudo também permeará a questão
torno da resolução dos desafios lan- da indústria de reciclagem brasileira e
çados, propondo soluções que pos- buscará soluções para tornar acessível
sam transformar comportamentos e a coleta seletiva a todos os brasileiros,
atitudes da comunidade local, a fim já que, seis anos após a aprovação da

38
Política Nacional de Resíduos sólidos, Japão, necessidades básicas dos seres

a maioria das cidades brasileiras não humanos, como água limpa e segurança

possui programas de coleta seletiva. alimentar, podem estar sob ameaça por
conta de práticas impróprias na gestão
Serão levantados dados sobre quais de resíduos. Isso porque, seguindo es-
programas de coleta seletiva existem, timativas, a classe média mundial terá
quais são os mais exitosos, quais par- crescido de 2 bilhões para quase 5 bi-
cerias os municípios que praticam a lhões, e, com ela, os efeitos de hábitos
coleta seletiva fazem, por exemplo, de consumo, a considerar os atualmente
com empresas privadas, qual o nú- praticados, irracionalmente nocivos ao
mero de empregos, quais os números meio ambiente (ECYCLE, 2016).
econômicos que os programas ofere-
cem, entre outras informações. Enfim, A cada ano que passa, há um aumen-
espera-se que, através da pesquisa, to considerável na produção de lixo no
do levantamento de dados, da refle- Brasil. Atualmente são produzidas cer-
xão, da exposição e troca de ideias e ca de 250 mil toneladas diariamente,
da aplicação dos conhecimentos das e quase metade dessa produção tem
diferentes áreas do saber, sejam esses uma destinação inadequada, sendo
conceitos já estudados e que ainda depositada em lixões e aterros contro-
venham a ser, os estudantes possam lados.
entender de forma mais consistente as
questões referentes ao lixo e possam A expansão das indústrias e o cresci-
sugerir soluções viáveis e coerentes mento das cidades levaram ao aumen-
para a sua comunidade to excessivo da quantidade de lixo,
que se deve ao crescimento do poder
Contextualização aquisitivo e ao perfil do consumo de
A cada ano, 1,3 bilhão de toneladas uma população. Pesquisas realizadas
de lixo são produzidas em cidades do pelo IBGE indicam que cada ser huma-
mundo todo. Essa quantidade ainda no produz, em média, um pouco mais
deve dobrar. De acordo com o Pro- de 1 quilograma de lixo por dia. Atual-
grama da ONU para o Meio Ambiente mente, a produção anual de lixo em
(Pnuma), em 2025 o número chegará todo o planeta é de aproximadamente
aos 2,2 bilhões, colocando-nos em uma 400 milhões de toneladas.
espécie de crise global de lixo, em que
o principal vilão é a má gestão por par- Parte do lixo produzido e que poderia
te dos governos (SANTOS, 2016). ser reciclado não o é. E, com isso, o
Brasil perde milhões de reais, fazendo
Segundo os profissionais que participa- com que se perca não apenas dinhei-
ram do encontro “Parceria Global sobre ro, mas, também, a possibilidade de
Gestão de Resíduos (GPWM na sigla devolver vida à natureza.
em inglês)”, realizado em Osaka, no

39
Dados mostram que mais de 78 milhões morar a coleta realizada poderiam
de brasileiros, ou 38,5% da população, ser enviadas aos gestores públicos?
não têm acesso a serviços de tratamento
e destinação adequada de resíduos sóli- Uma prefeitura de uma cidade de 200
dos. Além disso, mais de 20 milhões de mil habitantes gasta, em média, R$ 8
pessoas não dispõem de coleta regular de milhões por ano com o transpor-
lixo, pois cerca de 10% dos materiais ge- te de lixo. Se ela reciclasse todos os
rados não são recolhidos (MACIEL, 2015). resíduos sólidos, além de economizar
os R$ 8 milhões, ainda ganharia R$ 15
milhões reciclando, inclusive, o lixo or-
Desafios gânico (Sabetai Calderoni – 1997 – Os
Toneladas de matérias-primas, prove- bilhões perdidos no lixo).
nientes dos mais diferentes lugares
do planeta, são industrializadas e con- Quais propostas poderiam ser envia-
sumidas, gerando rejeitos e resíduos das para que os gastos com a coleta
que são comumente chamados de e o transporte do lixo fossem redu-
lixo. Apenas 2% do lixo produzido é zidos pela prefeitura de sua cidade?
destinado à coleta seletiva, mas muito A partir da investigação da realidade
desse lixo, separado para reciclagem, local, qual(is) proposta(s) de cunho
não recebe destinação adequada, ten- de preservação ambiental e de ga-
do como destino os mesmos lugares nho econômico poderia(m) ser de-
do lixo comum. senvolvida(s)?

Seria isto lixo mesmo? Qual é a quan-


tidade de lixo produzida em sua casa
e em sua escola? Como funciona o
programa de separação de lixo reali-
zado em sua escola? E em casa, como
vocês realizam a separação do lixo?

Em dez anos, o número de municípios


que implantaram programas de recicla-
gem no país aumentou de 81 para mais
de 900. Mas isso não representa nem
20% das cidades (PAIVA, 2015).

Qual o destino do lixo que produ-


zimos em nossa sociedade? Como
funcionam os programas de coleta na
sua cidade (orgânico e reciclável)?
Quais sugestões/projetos para apri-

40
Referências

10 NÚMEROS assustadores que revelam o descaso do Brasil com o lixo. EcoD. 2014. Disponível em:
<https://sustentando-profanselmo.blogspot.com/2014/08/10-numeros-assustadores-que-revelam-o.
html>. Acesso em: 23 ago. 2016.

ECYCLE. Estimativa revela que quantidade de lixo produzido no mundo será 70% maior em
2030. ECycle. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/component/content/article/38-no-mun-
do/1157-estimativa-revela-que-quantidade-de-lixo-produzida-no-mundo-sera-quase-70-maior-
-em-2030.html>. Acesso em: 22 ago. 2016.

MACIEL, C. Produção de lixo no Brasil cresce 295 em 11 anos, mostra pesquisa. EBC, Agência Brasil.
2015. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-07/producao-de-lixo-no-
-pais-cresce-29-em-11-anos-mostra-pesquisa-da-abrelpe>. Acesso em: 31 ago. 2016.

SANTOS, P. 9 soluções para o lixo. Revista Galileu. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/


Revista/Common/0,,EMI325029-17579,00-SOLUCOES+PA- RA+O+LIXO.html>. Acesso em: 22 ago.
2016.

PAIVA, R. Apenas 3% de todo lixo produzido no Brasil é reciclado. Jornal Hoje. 9 abr. 2015. Disponível
em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/04/apenas-3-de-todo-o-lixo-produzido-no-brasil-
-e-reciclado.html>. Acesso em: 1 set. 2016.

RODRIGUES, L. F.; CAVINATTO, V. M. Lixo: de onde vem? Para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997.

RIBEIRO, Thiago. O lixo. Mundo Educação. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/


geografia/o-lixo.htm>. Acesso em: 1 set. 2016.

http://pt.slideshare.net/clarissatrojack/projeto-vasconcelos-jardim-lixo-jonas

http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=1706

CALDERONI, Sebatai. Os bilhões perdidos no lixo. Humanitas, 2003.

41
CORPO EM DES(ORDEM)

Fonte: Thinkstock, 2016


Apresentação do tema
O corpo é alvo de mecanismos de sim seguem até a vida adulta, quando,
opressão, vigilância e subordinação às muitas vezes, os padrões midiáticos im-
normas impostas pela sociedade. Des- põem modos de ser e de se comportar.
de a infância, as crianças já são sub-
metidas a normas disciplinares que Com o desenvolvimento das ativida-
afetam o movimento e a expressão des, pretende-se que os estudantes
de seus corpos: devem andar em fila, problematizem o papel do corpo e sua
dormir na hora determinada, sentar na relação com os diferentes modos de
hora que os adultos exigem etc. E as- produção de sentido (verbal, corporal,

42
linguística, artística etc.) na contem- ções sociais, hábitos, ideologias etc.
poraneidade, reflitam sobre os este- Pensar o corpo como algo produzido
reótipos e padrões estéticos impostos na e pela cultura é, simultaneamente,
pela mídia, pela indústria da moda, um desafio e uma necessidade. Uma
pela sociedade do consumo etc. na necessidade porque ao desnaturalizá-
cotidianidade, e criem novas possibi- -lo revela, sobretudo, que o corpo é
lidades diante deles. histórico. Isto é, mais do que um dado
natural cuja materialidade nos presen-
Desse modo, debates, exibição de ví- tifica no mundo, o corpo é uma cons-
deos, leitura de imagens e, fundamen- trução sobre o qual são conferidas
talmente, vivência/experimentação diferentes marcas em diferentes tem-
corporal são estratégias a serem uti- pos, espaços, conjunturas econômicas,
lizadas ao longo das atividades com grupos sociais e étnicos (GOELLNER,
o objetivo de instigar os estudantes a 2003, p. 28).
pensar o papel do corpo e sua relação
com o mundo. Dessa forma, problematizar o corpo,
desnaturalizando hábitos, posturas e
Contextualização comportamentos, é uma necessidade,
A Igreja diz: o corpo é uma culpa. pois se trata de revelar uma grande
A ciência diz: o corpo é uma máquina. quantidade de discursos que forma-
A publicidade diz: o corpo é um negócio. tam o corpo a partir de padrões ex-
O corpo diz: eu sou uma festa. ternos a ele. O objeto de estudo é o
(Eduardo Galeano) corpo histórico, que revela a socie-
dade em que se está inserido. Nessa
As influências que recebemos, seja perspectiva, Kondratiuk e Neira (2013)
assistindo à televisão, seja escutando postulam que, desde o nascimento
rádio, lendo um livro, vendo uma pro- até a morte, o corpo é transforma-
paganda, trabalhando, indo à escola, do em quadro vivo que retrata usos,
praticando um esporte etc., acabam costumes, saberes e ditos. As normas
por definir nosso corpo e a maneira sociais o tornam texto à medida que
que nos movimentamos e nos com- inscrevem nele as regras por meio das
portamos, criando ao mesmo tempo quais o educam. Assim, se o corpo é
uma imagem ideal de um modo de ser texto, ele pode e deve ser lido e de-
e estar no mundo. batido a partir das múltiplas leituras
possíveis, em busca do pensamento
O corpo de uma pessoa não é apenas crítico, para refletir sobre os procedi-
a sua materialidade individual: ele está mentos de opressão e submissão do
inserido numa cultura, e os traços des- corpo às regras e imposições de pa-
sa cultura podem ser observados no drões e beleza que desrespeitem a au-
corpo de alguém. Ele é o registro de toestima e a individualidade.
um tempo e espaço, revelando posi-

43
Além disso, Abreu (2011) afirma
que vivemos dentro de um siste-
ma que não estimula a poética e a
expressão dos nossos corpos. Isso
A mulher Mursi era a preferida
se dá desde os anos iniciais das
dos mercadores de escravos. Para
crianças na escola, que, com seus
encontrar um modo de salvar as
rituais padronizados de espaço e
mulheres, os Mursi impuseram a
tempo, inibe as expressões criati-
perfuração do lábio, uma vez que
vas, desestimulando-as: todos em
assim, deformadas, perderiam o
fila, sentados e de preferência ca-
valor. Com o passar do tempo,
lados. Ou seja, tudo é padronizado,
os homens da tribo não só se
os tempos e os espaços são iguais.
habituaram à deformação da
Não há estímulo às formas de ex-
companheira, como passaram a
pressão corporais, às sensações fí-
admirar o seu novo visual, a tal
sicas, à alegria, à criatividade. Para
ponto de considerar o procedimento
a autora, estamos inseridos em um
um indispensável fascínio feminino,
sistema no qual os corpos estão
ícone de beleza
submetidos a gestos pré-progra-
mados, ligados a modelos, obe-
(O EXTRAVAGANTE..., 2010).
dientes e mansos.

Por outro lado, podemos vivenciar


processos criativos que permitam
explorar novas formas de expres-
são a partir do corpo e das diversas
linguagens. A área de Linguagens
é locus privilegiado da experimen-
tação de maneiras de expressar
ideias e sentimentos, seja pelo
texto verbal, seja por formas não
verbais de comunicação. Assim,
por meio desse Eixo Integrador,
os estudantes serão sensibilizados
e estimulados a questionar pre-
conceitos e tabus que fomentam
um corpo único, um modelo a ser
seguido e desejado. Ampliar essa
percepção é fundamental para
que a beleza de todos os corpos
e modos de ser e de se comportar
sejam também valorizados.

44
A empresa Victoria’s Secret fez uma campanha intitulada “O corpo
perfeito”, que criou muita indignação pela internet.

A imagem do anúncio mostra várias modelos que se enquadram na


beleza estereotipada. A campanha recebeu muitos comentários negativos,
o que obrigou a marca a mudar o slogan “Um corpo para cada corpo”.

Apesar de terem colocado outro título, a maioria das mulheres do mundo


continua a não se sentir representada no cartaz. Rapidamente, as redes
sociais se inundaram com o hastag #iam perfect (eu sou perfeita), e
milhares de garotas, jovens, e senhoras mostraram o desagrado pelo
estereótipo de beleza (VICTORIA’S..., 2014).

Outro aspecto importante a ser inves- e podem ser impostas, como no caso
tigado são as transformações que o do uso do espartilho, por exemplo.
corpo tem sofrido na contemporanei-
dade, desde os piercings e tatuagens Na história da arte, o corpo sempre
até modificações corporais como im- foi objeto de inspiração para a cria-
plantes, alargadores e mutilações. O ção artística; porém, o que antes era
corpo é a principal posse do indivíduo observado à distância em olhares
contemporâneo, e assim ele o trans- contemplativos hoje é o suporte, a
forma como quiser. Mas as transforma- superfície em que o artista pinta ou
ções corporais não são tão modernas mesmo a materialidade da obra, como

45
no caso da body art. Na música hoje, o Como a mídia influencia na formula-
corpo também pode ser instrumento ção de padrões de beleza? Quais são
musical, com a percussão corporal. Na as consequências da imposição de
literatura, as impressões dos escrito- um padrão único de beleza?
res sobre o corpo revelam o contexto
histórico em que ele está imerso e as
visões de cada época em relação ao
corpo.

Portanto, o corpo é um tema comple-


xo que pode ser trabalhado por varia-
das perspectivas a serem definidas a
partir da escuta atenta do grupo de
estudantes que desenvolverá essa te-
mática, percorrendo os caminhos re-
flexivos que façam mais sentido para
o grupo, visando ao pensamento críti-
co, à conscientização e à liberdade de
expressão e experimentação nas va-
riadas linguagens que compõem essa
área de conhecimento.

Desafios Fonte: Gettyimages 2020

Temos visto um verdadeiro massacre


A busca pela aceitação em um grupo,
humano, de mulheres, adolescentes se
ainda que não intencional, faz parte de
matando para atingir um inatingível pa-
nossas vidas e provoca na adolescên-
drão de beleza imposto pela mídia. Em
cia problemas como baixa autoesti-
uma sociedade democrática, as mulhe-
ma, ansiedade,
res tornaram-se escravas da indústria
bullying etc. En-
da beleza, tão difundida pelos meios de
contrar um gru-
comunicação, os quais têm dilacerado a
po em que exis-
nossa juventude, pessoas que estão per-
ta identificação
dendo o prazer de viver, tornando-se so-
é importante,
litárias, por estarem inconformadas com
mas saber lidar
sua forma física, controlam alimentos
com as diferen-
que ingerem, para não engordar; esta es-
ças é essencial
cravidão assassina a autoestima, produz
para a cidada-
uma guerra contra o espelho e gera uma
nia.
autorejeição terrível (SILVA, 2014).
Fonte: Gettyimages 2020

46
Como as pessoas costumam lidar com quem têm um corpo, jeito de se vestir ou
se comportar muito diferente? Como o trabalho corporal nos seus mais diferen-
tes aspectos pode auxiliar a trabalhar a aceitação?

O espartilho, durante muitos anos, não era uma escolha individual da mulher.
Pensando nisso, como e de que maneira os padrões de beleza foram vistos ao
longo da história e quais são as modificações observadas hoje em sua comuni-
dade e no mundo?

Modificações corporais com espartilho. Fonte: <http://www.artenocorpo.com/206/a-modificacao-corporal-com-espartilho-cor-


seting>. Acesso em 23 nov. 2016

Como é possível expressar sentimentos, sons e ideias com o corpo?

47
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48
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-da-sua-definicao-de-corpo-perfeito-e-o-mundo-respondeu-com-uma-dose-de-realidade/>. Acesso
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WIKIPÉDIA. Imagem. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/79/Rikba-


ktsa.jpg>. Acesso em: 7 out. 2016.

49
CRUZADAS CONTEMPORÂNEAS
verificar se esses motivos se asseme-
lham àqueles que se apresentam em
diversas escalas, inclusive em sua vida
cotidiana.

Sob essa perspectiva, podem ser ana-


lisados os motivos que levam as pes-
soas à “guerra no trânsito”; à “guerra
no tráfico”; à “guerra dos sexos”; ao
“conflito de gerações”; às diversas
manifestações de ódio e de intolerân-
cia contra homossexuais (homofobia),
contra mulheres (misoginia, feminicí-
dio), contra estrangeiros (xenofobia)
e/ou migrantes, contra negros e indí-
genas (racismo) ou contra militantes
políticos; e até mesmo ao bullying,
que, principalmente na faixa etária,
pode vir a ser um dos mais graves pro-
blemas da escola.

Fonte: Thinkstock, 2016.


Ao evidenciar as motivações das
guerras e ao reconhecer as diferenças,
Apresentação do tema
respeitando o próximo e execrando
Por que há guerras? Por que há con- a cultura do ódio e a ideia de que só
flitos desde sempre na história? Por é possível resolver conflitos por meio
que há guerras em todos os lugares da violência em todas as suas formas
do mundo, independentemente da lo- (física, psicológica, simbólica), o estu-
calização geográfica e das populações dante pode, a partir do trabalho de-
envolvidas? E por que há conflitos em senvolvido neste Eixo, assumir em sua
todas as relações humanas, na família, vida cotidiana, atitudes éticas, funda-
no trabalho, na escola, na rua etc.? mentadas nos princípios da tolerância,
da cooperação e da solidariedade.
Ao identificar os motivos que levam
os homens a utilizar a violência para
resolver conflitos, os estudantes po-
dem, ampliando o conceito de “guer-
ra”, numa perspectiva polissêmica,

50
Contextualização De todos os fatos mencionados é
possível depreender que os conflitos
Nos últimos tempos, ler o jornal se tor-
ocorrem na perspectiva de que o eu
nou uma experiência entristecedora e re-
(país, grupo e/ou indivíduo) se consi-
voltante. Só tem desgraça: bombardeios
dera melhor do que o outro e que, na
em Gaza, conflitos com separatistas na
impossibilidade de um acordo de coe-
Ucrânia, o brutal avanço do Estado Islâ-
xistência, o eu só pode existir com a
mico no Iraque e na Síria. Às vezes pare-
anulação do outro, do diferente – seja
ce que o mundo inteiro está em guerra
pela dominação ou pelo extermínio.
(AGUIAR, 2014).

Daí a relevância do trabalho com este


Segundo o Instituto Avante Brasil, com
Eixo, em que se propõe a investigação
base no Global Status Report on Road
dos conflitos em suas diversas escalas
Safety (2013), da Organização das Na-
temporais e espaciais, buscando rela-
ções Unidas (GOMES, 2014), o Brasil
ções entre o macro (mundo, país) e o
é o quarto país do mundo em mortes
micro (localidade).
no trânsito, ficando atrás somente de
China, Índia e Nigéria. Cerca de 40 mil
A ideia com este trabalho é identificar
pessoas morreram em acidentes de
os aspectos comuns entre os conflitos
trânsito em 2013 no nosso país.
humanos – intolerância à diversidade
(política, religiosa, ideológica, de gê-
De acordo com o Instituto de Pesquisa
nero etc.), ganância, individualismo,
Econômica Aplicada (IPEA), a taxa de
desejo por poder, glória e fama etc. –,
homicídios no Brasil atingiu recorde
principalmente aqueles que desem-
em 2014 (TAXA...2016), com o maior
bocam em situações de violência sob
número absoluto de homicídios no
suas diversas formas (física, simbólica,
mundo. Foram cerca de 60 mil mortos.
psicológica etc.), para promover a ci-
dadania, a reflexão enquanto sujeito
Para se ter uma ideia da dimensão
histórico e a capacidade de se colocar
desses números, a EBC -Empresa Bra-
no lugar do outro num exercício de
sil de Comunicação (PEDUZZI, 2013)
alteridade, compreender-se como um
informa que, em dez anos, a Guerra do
ser em conflito e gerador de conflitos,
Iraque (2003-2013) contabilizou cer-
avaliar os motivos causadores de con-
ca de 170 mil mortos, ou seja, quase
flitos e assumir sua parcela de respon-
o mesmo número de pessoas mortas
sabilidade diante das problemáticas
num período de dois anos em situa-
do seu convívio.
ções do cotidiano em nosso país.

51
Desafios
“...a guerra acontece pelo simples fato de
não haver nada que a impeça” (RESEN-
DE, 2004).

“...as crianças sírias se tornaram, devido


à sua vulnerabilidade, as vítimas que
mais simbolizam os horrores de uma
guerra que devasta o país há mais de
cinco anos” (CRIANÇAS..., 2016).

Criança síria após ataques. FONTE: https://newslinemagazi-


ne.com/wp-content/uploads/2017/01/Syrian-boy-Ambulan-
ce-The-National-e1484221899934-300x248.jpg

Fonte: Por Viuas Seguras, 2019

Por que fazemos guerra?


sa comunidade? Como os conflitos
Os motivos que levam povos, civiliza- aparecem em nosso cotidiano?
ções e/ou nações a guerrear uns con-
tra os outros poderiam ser associa- Professor, você pode consultar o mapa
dos aos que ensejam os conflitos ou interativo do índice de paz global
as manifestações de ódio e violência 2016: VISION OF HUMANITY. Global
verificados em situações cotidianas? Peace Index. Disponível em: <http://
www.visionofhumanity.org/#/page/
Quais os lugares, as formas e os moti- indexes/global-peace-index>. Acesso
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52
Referências

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RESENDE, Carlos Augusto Rollemberg de. Resenha do livro: O Homem, o Estado e a Guerra: uma
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53
DA GERAÇÃO BABY BOOMER À
GERAÇÃO ALFA

Fonte: Thinkstock, 2016.

Apresentação do tema
O desafio de trabalhar um Eixo que flitos entre gerações. Trata-se de uma
envolve saberes de todas as áreas do questão perene no campo das rela-
conhecimento do ensino fundamental ções humanas e responsável por di-
– 6º ao 9º é muito grande. Assim, para versas manifestações culturais, políti-
bem lograr essa árdua, mas salutar ta- cas, econômicas, científicas etc.
refa, é necessário o estabelecimento
de um tema amplo e capaz de sugerir Como se vê, essa temática sugere um
o diálogo entre os saberes curricula- trabalho com interseção das distintas
res. áreas de conhecimento, dada a multi-
plicidade de impactos e desafios que
Pensando à luz dessa demanda, a te- podem surgir. A modo de ilustração,
mática a ser desenvolvida por e com a convivência entre as diferentes ge-
nossos estudantes tangencia os con- rações é muito complexa, uma vez

54
que valores e interesses são bem di- Contextualização
ferentes. Mas a convivência também
é fundamental para a transformação,
reconstrução e releitura das tradições A dinâmica geracional, embora possí-
presentes nos espaços comuns, nesse vel de ser naturalizada ou tida como
sentido de maneira muito ampla, per- processo natural à vida, vai além dis-
passando as esferas familiares, escola- so, pois coloca em questão diferentes
res, comunitárias, religiosas e políticas. elementos como: o desenvolvimento
dos diversos grupos com qualidade
Refletir e propor ações de convivência de vida; os processos de inclusão e
entre as diferentes gerações também exclusão; as relações culturais; as me-
é importante pela troca de sabedorias, diações tecnológicas mais usadas pe-
conhecimentos e modos de pensar so- las gerações; o envelhecimento popu-
bre as relações com o mundo. Dá-se lacional; as demandas sociais ligadas
assim um movimento de renovação ao cuidado e equilíbrio entre as gera-
entre as gerações e, com isso, de re- ções; as mudanças de personalidades,
novação da própria humanidade. Não gostos, interesses e, principalmente, a
raro, alguns estudantes questionarão questão do convívio.
o fato de terem que tomar contato
com figuras, pensamentos e soluções O Instituto Brasileiro de Geografia e
científicas temporalmente distantes Estatística (IBGE) já em 2002 observa-
da geração deles; pois bem, quando va a tendência de envelhecimento da
isso se dá com o objetivo de assegurar população brasileira. Segundo dados
processos cognitivos, tem-se na práti- censitários, os idosos em sua maioria
ca o valor das trocas intergeracionais. são mulheres brancas e moradoras de
áreas urbanas. Além disso, os núme-
Toda essa discussão é basilar para ros do Censo mostram que a principal
as relações sociais, pois sugere um renda dos idosos é a aposentadoria,
pensar crítico sobre, por exemplo, o que significa que o crescimento da
políticas públicas e educacionais que população idosa e a diminuição da na-
favoreçam a troca de experiências e talidade afetarão o sistema previden-
vivências entre as gerações. ciário, exigindo a estruturação de no-
vas políticas públicas que respondam
Nesse sentido, integrando e aplicando a isso.
os conteúdos e as experiências, a pro-
posta do trabalho com esta temática Além de poder ampliar o repertório
deve levar os estudantes a assumir de conhecimento, discutir essas políti-
uma posição ética frente às mudanças cas públicas e algumas das dimensões
geracionais, buscando solucionar os transversais que se apresentam nessa
desafios decorrentes desse dado ine- temática-ética, meio ambiente, vida
gável. afetiva / sexual, pluralidade cultural,

55
trabalho e consumo, saúde, economia por exemplo, geração X, geração Y e
e busca pelo bem-estar – pode favo- geração baby boomers, as quais apre-
recer a minimização de conflitos no sentam características distintas. Iden-
trabalho, por exemplo, onde ocorrem tificar os tipos de geração e seus com-
divergências de opiniões em função portamentos é objeto de estudo para
de visões diferentes entre as gerações. encaminhar propostas de convivência
Afinal, cada geração pode apresentar e relações interpessoais em vários am-
formas de agir e pensar distintas, dada bientes: escola, trabalho, igreja etc.
a diversidade de culturas, de níveis de
instrução, de crenças, de ideologias, Estabelece-se assim o desafio de ela-
de expectativas. borar propostas das diferentes áreas
do conhecimento, que melhor apro-
De acordo com o dicionário Aurélio veitem o potencial de cada geração
(2010), entende-se por “geração” o nos diversos ambientes de convívio.
“conjunto de indivíduos nascidos pela
mesma época: a geração do pós-guer- No Brasil há uma preocupação cres-
ra; o espaço de tempo (aproximada- cente da Sociedade Brasileira de Hi-
mente 25 anos) que vai de uma ge- pertensão (SBH) diante do aumento
ração a outra”. Neste mesmo âmbito do sedentarismo, que segundo a enti-
de definição de geração, Motta (2010) dade é um dos principais fatores de hi-
afirma que o termo coorte é utilizado pertensão (SBH, 2015). Este pode ser
como uma referência estatística ou um exemplo de tópico que agregue
demográfica que designa um conjunto diferentes gerações (crianças, jovens e
de indivíduos nascidos em um mesmo idosos) em torno do objetivo de dis-
intervalo de tempo, expostos a deter- cutir a importância da atividade física
minados eventos de caráter demográ- e da alimentação saudável na preven-
fico. ção de doenças.

Neste sentido, uma equipe de traba- É importante atentar para não tratar
lho que seja composta por pessoas de as questões relacionadas ao assunto
diferentes faixas etárias, ou seja, de de forma homogeneizadora, ou seja,
diferentes gerações, pode apresentar enxergando as gerações como cole-
um desafio para o gestor, afinal, as tividades centradas, com identida-
visões profissionais irão variar diante des claras e definidas (DOMINGUES,
da postura profissional, da posição na 2002). A vida social se constitui a
empresa, do foco no trabalho, da rela- partir de uma rede interativa, multidi-
ção com a liderança etc. mensional, na qual atores individuais e
coletividades se influenciam de forma
De maneira geral, vemos em diversos mútua causalmente. Desse modo, não
veículos de comunicação uma classi- é possível compreender, por exemplo,
ficação para as diferentes gerações, como a juventude vê a sociedade e a

56
si mesma sem entender como ela é Assim, abordar a importância de com-
vista pelos idosos e como eles veem a preender e respeitar as diferenças cul-
sociedade. turais e desenvolver a boa convivência
entre as diversas gerações é objetivo
Isso posto, a subjetividade coletiva geral deste Eixo.
acaba tendo um importante papel na
representação dos sujeitos, pois os di- Desafios
versos grupos, com suas respectivas A solidariedade intergeracional pode
preferências, acabam por influenciar reverter não só na quebra de precon-
e ser influenciados por todo um con- ceitos sociais frente ao envelhecimento,
junto de práticas culturais que os per- como na melhoria da qualidade de vida
meiam: de jovens e idosos. [...] O convívio dos
É importante frisar que isso permite
idosos com os seus filhos e netos pode
conceituar as diversas gerações, mas
beneficiar mutuamente as gerações, no
também relacioná-las com outras sub-
sentido do aprimoramento dos conheci-
jetividades coletivas, com as quais se
mentos em relação a história familiar, a
entrecruzam, como gêneros, raças, em-
cidade onde residem, ao mundo, e fora
presas, as diversas divisões do estado
do contexto familiar, pode facilitar o es-
moderno, a família etc., elas mesmas
tabelecimento de uma nova amizade/
também constituídas, em sua multidi-
afetividade que desencadeie a solida-
mensionalidade, relacionalmente. Evi-
riedade, e o desenvolvimento cognitivo
dentemente, as gerações têm-se subdi-
social (FRANÇA, 2010).
vidido em classes, gêneros e raças desde
sempre. Contudo, a pluralização dos Na comunidade local como os jovens
estilos de vida, a multiplicação de “tri- se relacionam com os mais velhos?
bos” e grupos com sobretudo distintas Como promover um movimento de
sensibilidades e preferências estéticas, valorização do convívio dos mais jo-
mas por vezes igualmente com com- vens com as demais gerações? Como
portamentos diferenciados, agudiza a estimular as trocas intergeracionais
heterogeneidade dessas subjetividades nos ambientes escolar, comunitário e
coletivas (DOMINGUES, 2002, p. 69). social?

Não podemos, portanto, negar a plu- Antigamente uma geração era definida a
ralidade dos grupos que coexistem cada 25 anos, porém, nos dias de hoje, já
na sociedade contemporânea, não não se espera mais um quarto de século
apenas de mesma faixa etária, como para se instaurar uma nova classe ge-
também de gerações diferentes, con- nealógica. Atualmente os especialistas
vivendo nos mais diversos contextos apontam que uma nova geração surge a
públicos, como meios de transporte, cada 10 anos apenas. Nas empresas, isso
escolas, empresas, entre outros. implica em pessoas de diferentes idades

57
e costumes vivendo em um mesmo am-
biente de trabalho, trocando experiên-
cias e gerenciando conflitos em períodos
cada vez menores (CARVALHO, 2012).

Como conviver com tanta diversidade


geracional? Qual o efeito destas dife-
rentes gerações na cultura dos povos?

Fonte: Flamir, 2011.

O que muda de uma geração para ou-


tra? Como a mídia aborda esse assunto?

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SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP).


Referencial Curricular

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59
DE ENERGIA E CONSCIÊNCIA LIMPAS!

Fonte: Thinkstock 2016.

Apresentação do tema

Historicamente a humanidade vem uti- sua substituição, como o metano pro-


lizando recursos naturais finitos para a duzido pelas fezes dos animais, o calor
geração de energia elétrica como os do Sol que incide nos telhados e a luz
combustíveis fósseis, com as termelé- solar.
tricas lançando para o ar toneladas de
gás carbônico, que geram problemas O avanço tecnológico permite o uso de
ambientais, ou inundando grandes diversas fontes alternativas de energia
áreas para formação das represas das para uma produção descentralizada
usinas hidrelétricas. de energia elétrica ou térmica, tornan-
do possível manter as atividades pro-
Por outro lado, inúmeros recursos são dutivas e o conforto e bem-estar das
desperdiçados pela sociedade que populações, sem aumentar a extração
poderiam ser utilizados tanto para a de recursos naturais. Mesmo assim, é
geração de eletricidade quanto para tarefa de todos pensar também na ne-

60
cessidade de adotar um novo estilo de dade. Cerca de 2,7 bilhões dependem
vida e novos padrões de consumo. de madeira, carvão mineral e vegetal
ou resíduo animal para cozinhar e se
Assim, rever necessidades, evitar des- aquecer.
perdícios, reutilizar, reciclar e criar
soluções inovadoras e sustentáveis Nos países industrializados, o pro-
devem ser temas trabalhados em toda blema da energia está relacionado
escola. A partir da investigação e pes- ao desperdício e à poluição, e não ao
quisa de tecnologias disponíveis para abastecimento. Em todo o mundo,
geração e uso racional de energia, seu uso ineficiente prejudica a produ-
professores e estudantes têm como tividade econômica, e suas emissões
desafios desenvolver a capacidade associadas contribuem significativa-
crítica e criativa a favor da sustenta- mente para o aquecimento danoso ao
bilidade socioambiental, articular os nosso planeta. Uma alternativa para
saberes das áreas de conhecimento e seguir adiante de maneira sustentá-
incentivar o protagonismo estudantil, vel é a utilização de outras fontes de
concretizando os resultados num pro- energia. Com elas, os países podem
jeto autoral. ultrapassar os limites dos sistemas tra-
dicionais e construir as economias de
Contextualização energia limpa do futuro.

O termo sustentabilidade foi cunha- Entende-se por energia limpa aquela


do em 1987 pelo Relatório Brundtland que não polui ou que polui menos que
da Organização das Nações Unidas as tradicionais; por sustentável, a que
e estabeleceu que desenvolvimento mantém o ciclo equilibrado de produ-
sustentável é aquele que “satisfaz as ção e consumo; e por renovável a que
necessidades do presente sem com- é produzida com o uso de recursos na-
prometer a capacidade das gerações turais que se renovam.
futuras satisfazerem as suas próprias
necessidades” (TORRESI et al., 2010, Pode-se classificar a energia solar e
p.1). Deve considerar as sustentabili- a eólica como limpas, sustentáveis e
dades ambiental, econômica e socio- renováveis em sua essência, pois, para
política. Sendo assim, a econômica e a sua instalação e utilização, não há pro-
sociopolítica só existem se for manti- dução de resíduos liberados no solo,
da a ambiental. na água ou no ar. Muitas outras fontes
de energia podem também ser classi-
Segundo o Departamento de Informa- ficadas em uma dessas categorias ou
ção Pública das Nações Unidas (ONU, em todas.
2012), uma em cada cinco pessoas no
planeta – ao todo 1,3 bilhão de pes- A conservação do meio ambiente deve
soas – ainda não tem acesso a eletrici- estar inserida em uma política de de-

61
senvolvimento do país, mas é impor- Para auxiliar nesse trabalho, apresen-
tante enfatizar que ela não é respon- tamos alguns desafios aos estudantes:
sabilidade apenas do governo, mas de A energia elétrica é um dos bens de con-
toda a sociedade. sumo fundamentais para a humanidade,
porém 75% da energia produzida no
Os cidadãos no dia a dia também con- mundo é consumida por apenas 25% da
tribuem com a sustentabilidade quan- população. A eletricidade pode ser ge-
do utilizam sacolas reutilizáveis no rada das mais variadas formas, podendo
supermercado, fazem uso racional da assim provocar diversos tipos de impac-
água nas residências ou reciclam seu to ao meio ambiente (PUC- RS, 2010).
lixo. Mas deixam a sustentabilidade de
lado quando consomem o desneces- Quais os desafios (tecnológicos, eco-
sário, gerando desperdício de recur- nômicos e sociais) a serem enfren-
sos naturais e da energia utilizada ao tados na instalação de uma unidade
longo de toda a cadeia produtiva, o produtora de energia limpa em uma
que produz ainda mais resíduos e po- moradia ou escola?
luentes.
Com a recente entrada em vigor do
A disseminação e o compartilhamento Acordo de Paris, documento que sela
de informações pela internet também um compromisso global de combate
podem contribuir com a sustentabili- às mudanças climáticas, deveremos
dade. Um exemplo disso são os diver- testemunhar uma expansão sem pre-
sos projetos disponíveis na rede, ao cedentes de fontes de energias mais
alcance da população geral, de aque- limpas e sustentáveis nas próximas dé-
cedores solares, geradores de energia cadas. Um estudo do Instituto de Eco-
elétrica, entre outros equipamentos nomia e Análise Financeira de Energia
que utilizam materiais de baixo custo (IEEFA), publicado pela Revista Exame
em sua construção. (2016), mostra que a transição para as
energias renováveis está acelerando, e
Desafios
a um ritmo mais rápido que o previsto.
Utilizar energia limpa não é só esco-
O desafio principal deste tema é fazer lher um tipo e instalá-lo; deve-se reali-
com que os estudantes reflitam sobre zar um estudo de viabilidade no local,
o uso racional de energia e sejam in- envolvendo a área, a forma do telhado
centivados a pesquisar e investigar as e até a incidência solar ou de ventos
opções tecnológicas para a sustenta- no local.
bilidade energética de uma residência
ou escola. Dessa forma, os estudantes Qual seria a sua pegada ecológica se
mobilizam seus conhecimentos na a fonte de energia atual em seu muni-
busca de soluções para elaboração de cípio ou região fosse substituída por
projetos de uso da energia. outra?

62
O desenvolvimento humano sempre Indicações de consulta
esteve associa- do ao uso da energia.
Durante décadas, as fontes de ener-
gia eram abundantemente disponíveis AKATU. Consumo consciente para um futuro
sus- tentável. Disponível em: <http://www.aka-
para as necessidades humanas, e o
tu.org.br/ Temas/Sustentabilidade>. Acesso
meio ambiente era considerado um
em: 30 ago. 2016.
grande reservatório.
AMÉRICA DO SOL. Simulador solar. Disponí-
Como seria possível, em uma resi- vel em:<http://www.americadosol.org/simula-
dência ou em uma escola, substituir a dor/>. Acesso em 08 set. 2016.
energia proveniente de hidrelétricas
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ES-
por uma energia mais limpa, renová-
TADO DE SÃO PAULO. Um futuro com energia
vel ou sustentável? sustentável: iluminando o caminho. Tradução
de Maria Cris- tina Vidal Borba. São Paulo:
Referências FAPESP, 2010. Disponível em: <http://www.
fapesp.br/publicacoes/energia.pdf>. Acesso
BARBOSA, Vanessa. As tendências mundiais em: 31 ago. 2016.
da transição para as energias renováveis.
Revista Exame.com. Disponível em: <http:// PEGADA ECOLÓGICA. A calculadora. Dispo-
exame.abril.com.br/economia/as-tendencias- nível em: <http://www.pegadaecologica.org.
-mundiais-da-transicao-para-as-energias-re- br/2015/index.php>. Acesso em 06 set. 2016.
novaveis/>. Acesso em: 08 dez.2016

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. De-


parta-mento de Informação Pública. Fatos so-
bre energia sustentável. Rio de Janeiro: ONU,
2012. Disponível em: <http://www.onu.org.br/
rio20/energia.pdf> Acesso em: 31 ago. 2016.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO


RIOGRANDE DO SUL. Faculdade de Engenha-
ria. Grupo de Eficiência Energética. USE - Uso
Sustentável da

Energia: guia de orientações/PUCRS, FENG,


GEE, PU; coord. PROAF. Porto Alegre: PUCRS,
2010.

TORRESI, Susana I. Córdoba de; PARDINI, Vera


L.; FERREIRA, Vitor F. O que é sustentabilida-
de?. Química Nova, v. 33, n. 1, p. 1, 2010.

63
DE LAMPIÃO AO BAIÃO: CULTURA E
TRADIÇÃO

Fonte: iStock 2019.

Apresentação do tema

A cultura nordestina é muito rica e Neste sentido, os estudantes serão


diversificada e constitui a identidade desafiados a elaborar suas próprias
marcante de sua população. Há na li- representações acerca da cultura nor-
teratura, na dança, na gastronomia, na destina por meio de pesquisas, produ-
música, na religião, no artesanato etc., ção de cordéis, xilogravuras, danças,
manifestações artísticas populares apreciação cultural, culinária, artesa-
que expressam as condições sociais, nato etc., sempre a partir de proble-
históricas, políticas e econômicas do máticas que afetam sua realidade lo-
povo nordestino. cal e dos conhecimentos adquiridos

64
Contextualização
ao longo de sua vida, com o objetivo Na cultura nordestina podemos iden-
de aproximar e compreender essa cul- tificar características das etnias que
tura em toda sua complexidade. formaram o nosso povo: índios, negros
e europeus, motivo pelo qual tornou-
Desse modo, para que os estudantes -se muito valorizada e diversificada.
realizem esse aprofundamento, suge- Os aspectos sociais do Nordeste são
re-se a realização de pesquisas a fim muito ricos e repletos de raízes cul-
de situar toda esta diversidade cultu- turais. Estudar essa cultura, essa arte,
ral: Como se constituiu? Onde melhor esse modo de vida, será uma ótima
se adaptou? Quais suas característi- oportunidade de os estudantes per-
cas? Na minha comunidade é possível ceberem que os aspectos sociais da
identificar algumas dessas expressões região trazem elementos próprios,
artísticas? Pode-se explorar a temáti- como a linguagem e os símbolos que
ca enfocando desde sua trajetória e representam os fatos históricos ali ex-
influência europeia até os dias atuais. pressos, além de arte, alimentação, li-
teratura, música, danças, entre outros,
Além disso, pode-se ampliar a pesqui- e o quanto influenciam na cultura e no
sa para a esfera da influência da cultura modo de ser dos cidadãos dos outros
nordestina em outras regiões e países, estados, principalmente pela expres-
como por exemplo, na região norte, no sividade e pela grande presença de
Sudeste, em países latino-americanos nordestinos em outras regiões do país.
e até em outros continentes. Quais
comparações, críticas e reflexões são Na dança, podemos explorar o mara-
possíveis de se estabelecer em relação catu, que tem origem africana, con-
às características e ao contexto dessas siderado um dos mais antigos ritmos
culturas populares junto à cultura nor- afro-brasileiros. Ele foi baseado nas
destina? cerimônias de coroação dos reis do
Congo e tem marcadamente a percus-
Por fim, uma mostra literária pode ser são durante sua execução, produzindo
promovida, no dia de apresentações aquilo que conhecemos como “baque
dos trabalhos do Eixo, para que os es- virado”, um tipo de som que marca
tudantes exponham suas criações ar- certo “chamamento” de todos para a
tísticas: apresentação de dança, leitu- dança. Assim como a capoeira e ou-
ra de cordéis acompanhada de vários tras danças típicas nordestinas, como
instrumentos musicais (viola, sanfona, frevo, bumba-meu-boi, congada, coco,
violão, zabumba, pandeiro etc.), mural xaxado etc., sua prática é considera-
de xilogravura, dentre outras possibili- da uma forma de resistência negra no
dades a serem definidas entre profes- Brasil contra a dominação portuguesa
sor(a) e turma. e, com o tempo, passou a ser incorpo-
rada à cultura brasileira.

65
SUGESTÕES DE FILMES E VÍDEOS:

REDE GLOBO. Literatura de cordel. YouTube. 5maio 2009. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=Kx6PZOC2WtQ>. Acesso em: 24 de
set. 2018.

CAJUEIRO, Ítalo (Dir.) A moça que dançou depois de morta.


YouTube. 30 dez. 2011. Disponível em: <https:// www.youtube.com/
watch?v=Y3nUM08IR3g>. Acesso em: 24 de set. 2018.

Os nordestinos e o preconceito nosso de cada dia. Disponível em: <http://


www.socialistamorena.com.br/os-nordestinos-e-o-preconceito-nosso-de-
cada- dia/>. Acesso em 17 set. 2018

Com o projeto “Maracatu: A desconstrução de preconceitos”, Marcos,


professor de Educação Física, a partir da sugestão de uma estudante,
aprofundou o estudo sobre o Maracatu, e, com isso, precisou desconstruir
algumas narrativas preconceituosas que emergiam dos próprios alunos.
Aos poucos, com ajuda de discussões, pesquisas, vivências e trabalhos,
os alunos conheceram o contexto social e histórico da escravidão e desta
manifestação cultural folclórica afro-brasileira, ampliando os saberes. Como
finalização do trabalho, tiveram que preparar coletivamente um cortejo
para a abertura de um seminário étnico municipal. Educador Nota 10 - 2018
Marcos Ribeiro das Neves. Disponível em: <https://www.youtube. com/
watch?time_continue=3&v=fyKigfEZqww>. Acesso em: 24 set. 2018.

Na música popular, destacam-se rit- culinária brasileira, sendo o resultado


mos tais como: samba de roda, baião, da fusão aculturada de hábitos ali-
xote, forró, axé e frevo, dentre outros mentares do português colonizador,
ritmos. O movimento armorial do Re- do indígena espoliado e do escravo
cife, inspirado por Ariano Suassuna, africano, através de pratos que falam
fez um trabalho erudito de valorização das raízes e que simbolizam a região,
desta herança rítmica popular nordes- sofrendo constantes modificações
tina. Outro exemplo é Antônio Nóbre- de cunho local, econômico, político e
ga, um dos expoentes mais conheci- cultural (CAMPOS et al, s/d). Campos
dos no gênero. ainda traça um panorama da culinária
atrelada à geografia da região, consi-
No campo da gastronomia, o Nordes- derando sua grande dimensão, locali-
te possui uma das culinárias mais ricas zação e realidade:
em sabores, aromas e cores, fruto da

66
a culinária nordestina brasileira está de- com muitos detalhes; os produtos fei-
terminada não só pela sua colonização, tos em argila, madeira (por exemplo,
mas também pela sua situação geográfi- da carnaúba, árvore típica do sertão)
ca, onde são nítidas as diferenças culiná- e couro, com traços bastante particu-
rias entre as cidades litorâneas, próximas lares; além das rendas, que ganharam
ao mar, rios, lagoas e mangues, com as destaque no artesanato cearense.
cidades interioranas de uma cultura agrí-
cola e pecuária bem diferenciadas, pro- No campo das artes visuais e da lite-
porcionando pratos típicos feitos com ratura, uma das maneiras que o nor-
carne seca e bode, acrescidos ou não de destino encontrou para evidenciar as
milho, ricos em calorias (CAMPOS et al, condições sociais, culturais, históricas,
s/d, p. 01). políticas e econômicas de seu povo foi
a produção da xilogravura e dos cor-
Frutos do mar e peixes são bastan- déis (poema popular que pode ser es-
te utilizados na culinária do litoral, crito ou recitado). Xilogravura signifi-
enquanto que no sertão predominam ca gravura em madeira. É uma técnica
receitas baseadas no uso da carne e antiga, de origem chinesa, em que o
derivados do gado bovino, caprino e artesão utiliza um pedaço de madeira
ovino. Nuances regionais acentuam para entalhar um desenho, deixando
as diferenças: nomenclatura dos pra- em relevo as partes que pretende re-
tos, predominância de doces, o uso produzir. Em seguida, utiliza tinta para
do azeite de dendê, pirão, moqueca, pintar a parte em relevo do desenho.
baião-de-dois, carne-de-sol, queijo Na fase final, é utilizado um tipo de
de coalho, vatapá, acarajé, panelada, prensa para exercer pressão e revelar
buchada, canjica, arroz de coco, feijão a imagem no papel ou em outro su-
de corda, sururu etc. Algumas frutas porte (SOARES, 2011). A xilogravura é
regionais - não necessariamente nati- muito popular na região Nordeste do
vas da região são: seriguela, cajá, bu- Brasil, onde estão os mais populares
riti, cajarana, umbu, macaúba, juçara, xilogravadores (ou xilógrafos) brasi-
bacuri, cupuaçu, murici e a pitomba, leiros, e era frequentemente utilizada
além de outras também comuns em para ilustração de textos de literatu-
outras regiões. ra de cordel. Alguns cordelistas eram
também xilogravadores, como, por
O artesanato é também uma parte re- exemplo, o pernambucano J. Borges
levante da produção cultural do Nor- (José Francisco Borges).
deste, sendo inclusive a fonte de ren-
da de milhares de pessoas por toda a A xilogravura também tem sido repro-
região. Devido à variedade regional de duzida em peças de azulejo, com dese-
tradições de artesanato, é difícil ca- nhos de menor dimensão. Esta é uma
racterizá-los todos, mas destacam-se das técnicas que o artesão pernambu-
as redes tecidas e, às vezes, bordadas

67
cano Severino Borges tem utilizado em blico. Um dos poetas da literatura de
seus trabalhos (SOARES, 2011). cordel que fez mais sucesso até hoje
foi Leandro Gomes de Barros (1865-
A literatura de cordel pode ser consi- 1918). Acredita-se que ele tenha escri-
derada uma forma de poesia popular to mais de mil folhetos. Mais recentes,
impressa e divulgada em folhetos ilus- podemos citar os poetas José Alves
trados com o processo de xilogravu- Sobrinho, Homero do Rego Barros,
ra. Além das xilografias, também são Patativa do Assaré (Antônio Gonçal-
utilizados desenhos e clichês zinco- ves da Silva), Téo Azevedo, Zé Melan-
grafados para ilustrar os cordéis, que cia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa,
ganharam este nome porque, em Por- Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra,
tugal, eram expostos amarrados em João de Cristo Rei e Ignácio da Catin-
cordões estendidos em pequenas lojas gueira (ARAÚJO, 2016).
de mercados populares ou até mesmo
nas ruas (ARAÚJO, 2016). Ariano Suassuna, José Lins do Rego,
Guimarães Rosa e João Cabral de Melo
A literatura de cordel chegou ao Brasil Neto foram influenciados pela literatu-
no século XVIII, por meio dos portu- ra de cordel, dentre tantos outros es-
gueses. Aos poucos, foi se tornando critores brasileiros renomados.
cada vez mais popular. Nos dias de
hoje, podemos encontrar esse tipo
de literatura principalmente na região Desafios
Nordeste do Brasil. Ainda é vendi- O Nordeste brasileiro é composto pe-
da em lonas ou malas estendidas em los estados de Alagoas, Bahia, Ceará,
feiras populares. De baixo custo, ge- Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí,
ralmente esses pequenos livros são Rio Grande do Norte e também por
vendidos pelos próprios autores. Fa- Sergipe. Cada um deles possui grande
zem grande sucesso em estados como evidência a respeito dos seus aspec-
Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba tos culturais. Afinal, o Brasil é muito
e Bahia (ARAÚJO, 2016). conhecido principalmente pela sua
cultura típica nordestina que é sempre
Os principais assuntos retratados nos regada a elementos bem diversifica-
livretos são: festas, política, secas, dis- dos, como dança, música, artes visuais
putas, brigas, milagres, vida dos can- etc.
gaceiros, atos de heroísmo e morte,
ou seja, assuntos recorrentes e perten- Cultura Nordestina. Disponível em: <https://
centes à realidade local do escritor. www.iped.com.br/materias/enem-gratis/cultu-
ra-nordestina.html>. Acesso em: 18 out. 2018.
Em algumas situações, esses poemas
são acompanhados de violas e recita- Quais são as manifestações popu-
dos em praças com a presença do pú- lares de outros países? Alguma se

68
assemelha às nordestinas? Como se Diante disto, que tal pesquisar a pro-
configuram? Elas buscam evidenciar gramação cultural da sua cidade, da
as características históricas, políticas sua escola, do seu estado? O que está
e sociais do seu povo? Como? acontecendo?

Os temas mais abordados pelos cor- Apresentações de dança, teatro, sho-


delistas são diversos e polêmicos: ws, circo, cinema, aquelas expressões
o cotidiano do pobre, o cangaço, o organizadas, a partir da cultura popu-
amor, os castigos do céu, os mistérios, lar, como repente, mamulengo, pre-
os milagres, os crimes, a corrupção; sepada, os autos, maracatu, cirandas,
ou seja, temas relacionados à vida e à chulas, boi-bumbá, afoxé, entre ou-
realidade local do artista. tros, servem como objeto de pesqui-
sa no processo educativo envolvendo
Nas comunidades em que os alunos toda a comunidade escolar. Numa di-
vivem, quais fatores podem servir de dática intercultural, a comunidade ga-
tema para a produção de cordéis ou nha uma dupla dimensão: a de agente
xilogravuras? E na escola? Para reali- educador e a de sujeito que se educa.
zar essa produção, qual seria o primei-
ro passo? O que pode ser produzido na sua
escola com vistas a contemplar a te-
O dinamismo cultural pode se expres- mática desse tema? Vocês percebem
sar conforme vários calendários: civil, alguma influência da cultura nordes-
religioso, ecológico, regional, sazonal, tina nas práticas culturais da sua co-
desportivo, institucional e emocional- munidade, abrangendo assim a arte,
-biográfico. a gastronomia e o lazer?

Fonte: <http://www.socialistamorena.com.br/os-nordestinos-e-o-preconceito-nosso-de-cada-dia/>. Acesso em: 17 set. 2018

69
Por que o nordestino ainda sofre preconceito em nosso país? Quais as origens
desse preconceito? Além de conhecer a cultura e produzir trabalhos acerca do
tema, o que pode ser realizado na sua escola com o objetivo de promover a des-
construção e a diminuição desse preconceito?

Referências

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70
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VIDOTTO, E. F. Literatura de cordel e xilogravura no ensino da arte: conhecendo o artista Arnaldo


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As Danças Nordestinas. Disponível em: <http://noritmonordestino.blogspot.com/2012/06/as-dan-


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Literatura de cordel é declarada Patrimônio Cultural do Brasil. Disponível em: <https://oglobo.globo.


com/cultura/literatura-de-cordel-declarada-patrimonio-cultural-do-brasil-23083154>. Acesso em: 24
set. 2018.

71
DIZEM QUE O APRESSADO COME
CRU... MAS COME!

Fonte: iStock, 2019

Apresentação do tema

O artigo 25 da Declaração Universal No final do século XVIII, o pastor e


dos Direitos Humanos diz que toda economista inglês Robert Malthus de-
pessoa tem direito a um padrão de senvolveu a teoria afirmando que a
vida capaz de assegurar a si e a sua Terra, com seus recursos limitados, só
família saúde e bem-estar, inclusive seria capaz de alimentar um número li-
alimentação, vestuário, habitação, cui- mitado de pessoas. Caso a população
dados médicos, entre outros serviços humana ultrapassasse esse limite, ela
indispensáveis. sofreria redução, através de ondas de
fome, pestes ou guerra.

72
É possível que no ano de 2050 tenha- Contextualização
mos uma população de aproximada-
Um estudo do Instituto Internacional de
mente 9 bilhões de habitantes e teme-
Investigação sobre Políticas Alimentares
-se que a produção de alimentos não
(IFPRI, na sigla em inglês) mostra que
acompanhe esse ritmo de crescimento
pelo menos 1 bilhão de pessoas sofrem
populacional, o que poderá gerar uma
de desnutrição no planeta. A situação
série de conflitos.
é considerada grave na América Latina,
especialmente na Bolívia, na Guatemala
Nesse sentido e com o objetivo de
e no Haiti. As informações são da BBC
esclarecimento e conscientização so-
Brasil (CRAIDE, 2011).
bre os impactos da fome no mundo e
suas implicações, como o desperdício
Segundo um relatório da Organização
ou a influência econômica no acesso
das Nações Unidas (ONU), 795 mi-
à alimentação, os estudantes deverão
lhões de pessoas ainda passam fome
pesquisar sobre os números da fome
no mundo. Na última década, mais de
no Brasil, no estado de São Paulo e nas
167 milhões saíram desta situação e,
comunidades onde estão inseridos
se considerarmos os últimos 25 anos,
para, assim, entender sobre esse as-
o número foi reduzido em 216 milhões.
sunto e pensar em soluções que pos-
A América Latina e a Ásia registraram
sam minimizar os problemas a esse
progressos particularmente positivos.
respeito nos locais onde vivem.
Já o continente africano continua em
alerta vermelho. A subnutrição fragili-
É sabido que as questões culturais, so-
za a saúde, tornando a pessoa suscetí-
ciais e econômicas interferem no com-
vel a doenças. Houve uma diminuição
portamento das pessoas em relação
relativa no mapa da fome, mas a reali-
ao consumo correto dos alimentos,
dade ainda é alarmante.
ora pelo alto custo de determinados
gêneros alimentícios de primeira ne-
Segundo a Organização das Nações
cessidade, ora pela busca desenfrea-
Unidas para a Agricultura e Seguran-
da do “corpo perfeito”, ora pela troca
ça Alimentar (FAO), citada pelo por-
da compra de algum item básico para
tal Tiberiogeo (2010), um ser humano
alimentação por alguma tecnologia de
passa fome quando consome menos
última geração, por exemplo. Assim,
de 1.800 quilocalorias por dia, o mí-
este tema busca a discussão sobre as
nimo para levar uma vida saudável e
questões da fome e o quanto nossas
produtiva. A pesquisa intitulada Índi-
comunidades são impactadas por essa
ce Global da Fome 2010, mostra que
problemática.
a fome se revela principalmente por
meio da desnutrição infantil – quase
a metade dos afetados são crianças.
Os níveis mais altos se encontram na

73
África subsaariana e no sul da Ásia. A de pessoas vivem na insegurança ali-
crise econômica e o aumento nos pre- mentar. Todos os dias, uma de cada
ços globais dos alimentos fizeram com oito vai dormir com fome.
que o número de desnutridos voltasse O desperdício de mais de 1,3 mil milhões
a crescer, após cair entre 1990 e 2006. de toneladas de comida todos os anos,
O IFPRI considera a situação “extre- que equivale a cerca de um bilhão de
mamente alarmante” em três países, dólares (€736 mil milhões), está a ge-
todos africanos (Chad, Eritreia e Repú- rar grandes perdas econômicas para o
blica Democrática do Congo). Outros mundo, ao passo que aumenta a pressão
26 países vivem situação “alarmante”. sobre os recursos naturais necessários
para alimentar o planeta”, afirma o di-
Contudo, o Brasil é considerado pelos retor-executivo do UNEP, Achim Steiner
pesquisadores como um caso de su- (AS OITO..., 2013).
cesso na questão do combate à fome.
Segundo o estudo, entre 1974 e 1975, Desafios
37% das crianças brasileiras eram sub- Em 2013, 52 milhões de brasileiros tive-

nutridas. O índice caiu para 7% entre ram algum tipo de dificuldade para com-

2006 e 2007, melhora atribuída aos prar alimentos. Apesar de o número ser

aumentos nos investimentos em pro- alto, ele está em queda. Segundo dados

gramas de nutrição, saúde e educação do PNAD, entre 2009 e 2013, a quantida-

ocorridos desde o fim da década de de de casas com insegurança alimentar

1970. Entre 1996 e 2007, muito da me- caiu de 30,2% para 22,6%. No entanto, 7

lhora na nutrição infantil se deveu a milhões de pessoas ainda passam fome

mais creches, rendas familiares maio- no Brasil. Disponível em: <http://exame.

res, melhoras no atendimento de mães abril.com.br/brasil/cai-o-numero-de-

e crianças e maior cobertura de supri- -brasileiros-sem-dinheiro-para-comprar-

mento de água e serviços sanitários, -comida/>. Acesso em 21 nov. 2016.

diz o estudo, que também cita o Bolsa


Família, avaliado como “um bem-suce- Quais estratégias, referentes à produ-
dido programa de redução da pobreza ção de alimentos ou distribuição de
que integra nutrição, saúde e metas de renda, são possíveis para diminuir o
educação” (AUMENTO..., 2010). número de pessoas que passam fome?
A fome oculta é um fenômeno pouco

O desperdício de comida é outra divulgado, mas, quando em estágio

questão que contribui para a fome no avançado, este problema silencioso dei-

mundo. Um terço de toda a comida xa o organismo mais fraco e vulnerável a

produzida no mundo vai para o lixo. inflamações e infecções. A fome oculta

Há perdas no campo, no transpor- possui outra característica, é aquela no

te, no armazenamento e no processo qual o indivíduo não ingere a quantidade

culinário. Por outro lado, 870 milhões mínima de calorias diárias, o resultado
disso é a desnutrição ou subnutrição

74
que assola 800 milhões de pessoas em no mundo. Amambai Notícias. 2011. Disponí-
todo mundo. Disponível em: <http:// vel em: <http://www.amambainoticias.com.br/
epoca.globo.com/vida/noticia/2015/04/ mundo/1-bilhao-de-pessoas-passam-fome-no-
-mundo>. Acesso em: 1 set. 2016.
fome-oculta-um-problema-real.html>.
Acesso em 21 nov. 2016. ESCOLA adota novo método para evitar des-
perdício de alimentos. Portal Brasil. 2014.
Como saber se alguém passa fome? O Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/edu-
que pode ser feito para que todos pos- cacao/2014/08/escola-adota-novo-metodo-
sam ter acesso aos nutrientes mínimos -para-evitar-desperdicio-de-alimentos>. Aces-

para uma alimentação saudável? so em: 1 set. 2016.

Decidida a acabar com o desperdício


FOME oculta: um problema real. Época. 2015.
da merenda escolar, a diretora do Co- Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/
légio Estadual Helena Kolody, em Terra noticia/2015/04/fome-oculta-um-problema-
Boa (PR), resolveu adotar o sistema de
FREITAS, E. de. A fome no mundo atual. Mun-
bufê. Os alunos escolhem e se servem
do Educação. Disponível em: <http://mundoe-
dos alimentos. Segundo Maria Regina
ducacao.bol.uol.com.br/geografia/a-fome-no-
Machado Colonello, a mudança, intro-
-mundo-atual.htm>. Acesso em: 1 set. 2016.
duzida no início do ano, resultou em
redução de 98% no desperdício de ali- PIACENTINI, P. A fome no mundo. Revista

mentos. Disponível em: <http://portal.


Pré-Univesp, n. 59, jul. 2016. Disponível em:
<http://pre.univesp.br/a-fome-no-mundo#.
mec.gov.br/ultimas-noticias/389-ensi-
V7W4PvkrLIU>. Acesso em: 1 set. 2016.
no-medio-2092297298/20732-escola-
-paranaense-adota-sistema-capaz-de- SCHESCHKEWITZ, D. Fome pode representar
-reduzir-o-desperdicio>. Acesso em 21 risco à segurança mundial. DW Made for minds.
nov. 2016. Nov. 2011. Disponível em: <http://www.dw.com/
pt/fome-pode-representar-risco-%C3%A0-se-
guran%C3%A7a- mundial/a-15524227>. Acesso
Que ações locais podem ser feitas para
em: 1 set. 2016.
combater o desperdício de alimento?
SOUZA, B. Mais de 7 milhões de pessoas pas-
Referências sam fome no Brasil. Exame.com. 2014. Dispo-
nível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/
AS OITO soluções para reduzir a fome no mun-
noticias/cai-o-numero-de-brasileiros-sem-di-
do até 2050. Greensavers. 2013. Disponível em:
nheiro-para-comprar-comida>. Acesso em: 1
<http://greensavers.sapo.pt/2013/12/03/as-oi-
set. 2016.
to-solucoes-para-reduzir-a-fome-no-mundo-
-ate-2050/>. Acesso em: 1 set. 2016.

AUMENTO da fome no mundo. Tiberiogeo.


2010. Disponível em: <http://www.tiberiogeo.
com.br/AssuntoController/buscaAssunto/90>.
Acesso em: 21 set. 2016.

CRAIDE, S. 1 bilhão de pessoas passam fome

75
“DNA” DA ALIMENTAÇÃO

Fonte: Thinkstock 2016.

Apresentação do tema
A melhor forma para ter uma vida lon- da é uma forma de seguir uma dieta
ga e com saúde é ter uma alimentação equilibrada. Os valores nutricionais
saudável. Alimentar-se bem, em uma precisam ser levados em conta e co-
sociedade de consumo que disponibi- nhecê-los é imprescindível para uma
liza muitas coisas não saudáveis, nem alimentação adequada.
sempre é fácil, pois demanda planeja-
mento e seleção de comida boa e sau- Os aspectos a serem trabalhados
dável que nem sempre está acessível nesse tema estão voltados para um
no local de trabalho, nas escolas, nas problema desafiador relacionado à
ruas e nos parques. alimentação, com o estudante sendo
protagonista de sua aprendizagem,
Incluir no prato alimentos de diversos realizando pesquisas e enfrentando
setores e com a quantidade adequa- desafios que abordem vários assuntos

76
sobre produção, distribuição, qualida- Contextualização
de do alimento e cultura alimentar, en-
Alimentação é um tema muito vasto,
volvendo problemas locais e globais.
que pode ser abordado sob vários
aspectos. Nunca antes na história da
É esperado, também, que se amplie a
humanidade houve tanta preocupa-
capacidade de trabalhar em equipe,
ção com a alimentação humana, seja
desenvolvendo a colaboração mútua,
para suprir a fome de alguns, seja para
a resolução de problemas e a aplica-
prevenir problemas como a obesida-
ção de diferentes conhecimentos às
de. O fato é que a população mundial
novas situações. Dessa forma, é im-
cresce, e já esbarra nos 7 bilhões de
portante estimular as discussões en-
habitantes, com aumento da faixa etá-
tre os estudantes, motivá-los a ler e a
ria dos idosos e também do número
investigar, para que possam resolver
de pessoas obesas que não para de
questões sobre os hábitos alimentares
crescer.
e as esferas de influências que possam
condicioná-los.

Comida é patrimônio; Comida é bem


Sendo assim, desde o início do traba-
material e imaterial; Comida é identida-
lho, os estudantes podem pesquisar
de, memória e afeto; Comida é diálogo
sobre alimentação para conhecer e se
de saberes; modos de viver, produzir e
adaptarem aos problemas que cercam
comer (FLANDRIN; MONTANARO,1998).
esse tema e incidem na população. Ou
ainda, investigar a relação entre a pro-
A Organização Mundial da Saúde
dução de alimentos e o ambiente.
(2016) preconiza que “uma boa nu-
trição é um elemento fundamental da
Há relevância em se pesquisar a his-
boa saúde. Uma má nutrição pode re-
toricidade desse tema para dar um
duzir a imunidade, aumentar a vulne-
toque especial na motivação dos es-
rabilidade às doenças, alterar o desen-
tudantes, pois pode ajudá-los a com-
volvimento físico e mental, e reduzir a
preender alguns problemas e a pensar
produtividade.”
em resoluções para situações de seu
cotidiano, além de possibilitar que os
A preocupação com esse assunto
seus conhecimentos prévios se apre-
foi foco do Ministério da Saúde, que
sentem mais aflorados.
lançou o novo Guia Alimentar para a
População Brasileira (ROCHA, 2010).
Este tema precisa incitar a curiosida-
Esse guia orienta sobre cuidados e
de, e promover criatividade e pesquisa
caminhos para alcançar uma dieta
de campo, favorecendo aos estudan-
saudável. Diferente de outros mate-
tes a compreensão de que o processo
riais similares aborda a ideia de que
de pesquisa possibilita a produção do
alimentação é mais do que a ingestão
conhecimento.

77
de nutrientes. De acordo com esse alimentação humana se distingue da
material, a pirâmide alimentar deixa animal? Pelo tipo de alimento que
de estar no foco da atenção para pen- consome ou por sua variedade? Pelo
sar em outras questões relacionadas à modo que os prepara antes de comê-
alimentação. -lo? Portanto, esse tema possui grande
relevância, afinal, a história do homem
Os diversos aspectos da alimentação se distingue bem da do animal em re-
envolvem conhecimentos de várias lação a sua alimentação.
áreas. Assim, trata-se de envolver
esse tema no contexto social, cultural, Faz parte da cultura humana o fato de
científico e tecnológico. No contexto selecionar e optar por determinado
social, apresenta-se sob a forma de tipo de alimento. Por exemplo, diz-se
história pessoal, pois todas as pessoas que as massas alimentícias (como o
possuem uma determinada história de macarrão) surgiram na China, e que
alimentação, que faz parte da cultura Marco Polo as trouxe para Veneza. No
de base de todos! (FLANDRIN; MON- entanto, estudos afirmam que já eram
TANARO,1998). consumidas no sul da Itália, e acaba-
ram por ser um alimento típico na cul-
Depois da Segunda Guerra Mundial, tura desse país.
a fome tornou-se preocupante e con-
solidou o fato de a alimentação estar Outros estudos afirmam que banque-
intrinsecamente ligada à situação eco- tear deitados, como os gregos e os
nômica, à produção agrícola, ao preço romanos faziam, causa regurgitação
dos alimentos e ao tamanho da popu- e má digestão e, com o tempo, esses
lação. A estagnação na economia e hábitos para comer foram modifica-
nas práticas agrícolas, assim como o dos. Talvez tenha sido por isso que
aumento do desemprego, incide sobre adquirimos o hábito de comer senta-
a alimentação, tornando-se um pro- dos. Entendendo também que nada
blema de saúde pública. é por acaso, temos o exemplo do uso
do garfo, que só se tornou utensílio de
A historicidade também é relevante, mesa habitual depois da peste negra,
levando-se em conta que a história época em que os europeus passaram
da alimentação se confunde com a a utilizar talheres individuais.
da humanidade. Classificado no Rei-
no Animal e historicamente onívoro, Com o crescimento populacional e a
o homem tem hoje uma variedade de produção em larga escala em grandes
alimentos disponíveis. Sendo assim, plantações, e a consequente necessi-
estudar a sua alimentação e jorna- dade de meios de transporte de distri-
da neste planeta é muito interessan- buição até os consumidores, passou a
te. Dessa investigação podem surgir existir o desperdício de alimento, ori-
várias perguntas: Como e por que a ginado nesse processo, que se tornou

78
uma das grandes preocupações das menu mais exótico ao paladar estran-
sociedades atuais. geiro. Se os espetinhos de escorpião e
salgadinhos de gafanhoto já assustam,
O abastecimento de alimento é um o que dizer da sopa de ninho de an-
problema mundial e pode se tornar dorinha ou do ovo preto?” (...) Consi-
maior ainda com o aumento da popu- derado uma das iguarias mais finas (e
lação e a pobreza. Assim, pesquisar esquisitas) do cardápio chinês, o ovo
sobre alimentos, fabricação, cultivo, preto, chamado de pithan, é um ovo
tradição e origem da cultura de alguns de pata que fica enterrado por 100
alimentos ajudam a ampliar os conhe- dias depois de ser coberto com limão,
cimentos dos estudantes. cinzas, chá e sal”.

Além da preocupação com a boa ali- De que forma os aspectos sociais e


mentação, a fome e o acesso ao ali- culturais influenciam a alimentação?
mento ainda são problemas globais. Como esses aspectos influenciam a
Além disso, um terço de toda a comi- alimentação de uma cidade, de um
da do mundo vai para o lixo por perda bairro, de uma residência?
no transporte ou mau uso nas residên-
cias. Portanto, também é oportuno es- A segurança alimentar é uma preocu-
tudar esse assunto. pação quando se trata das condições
de ingerir alimento saudável. A própria
Entende-se o título deste trabalho indústria não favorece a aproximação
considerando o sentido conotativo das pessoas com essas informações,
de DNA, com ideias além da usual, ou pois tende a dificultar a compreensão
seja, no sentido figurado e ligado ao da origem dos ingredientes, de como
contexto da alimentação. foram processados. Os rótulos vêm
com excesso de nomes específicos da
Desafios Química e causam estranheza e pou-
As perguntas aqui apresentadas po- co entendimento para leigos, que são
derão ser úteis durante o trabalho a maioria dos consumidores. Como
(norteadoras), mas outras certamente identificar a origem dos alimentos
surgirão durante a fase de desenvolvi- que se quer consumir tendo seguran-
mento. ça alimentar? Como facilitar o enten-
dimento dos rótulos com a industria-
A alimentação é muito importante para lização desses alimentos?
todos por motivos evidentes. Para Ju-
liana Vines do jornal online “Gazeta do Atualmente, há um crescimento exa-
Povo”, experimentar o inusitado é sair gerado da preocupação com a quan-
da rotina e conhecer sabores e cultu- tidade dos alimentos que se ingere.
ras. “A China talvez seja o país com o Isso pode gerar ansiedade e dúvidas
em relação à comida. Esse fato pode

79
socializar ou dessocializar as pessoas, pois pode desenvolver a culpa em se comer
demais ou de menos, gerando transtornos alimentares. Os padrões estéticos da
atualidade pedem o crescimento de músculos e a exibição da extrema magreza.

Por que os grupos se preocupam tanto com aquilo que é imposto pela mídia como
esteticamente aceito? Em que a tecnologia pode melhorar o comportamento das
pessoas em relação a esse problema?

Referências

FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. His- tória da alimentação. Tradução: Luciano Vieira
Machado e Guilherme João de Freitas Teixeira. 4. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

OMS – Organização Mundial da Saúde. Disponível em: <http://assertbrasil.com.br/a-organizacaomun-


dial-da-saude-oms-esclarece-2/>. Acesso em: 21/11/2016.

ROCHA, Mônica. Guia alimentar para população brasileira, 2015. In: JORNADA DE ATUALIZAÇÃO
TÉCNICA DE FISCAIS DO SISTEMA CFN/CRN, 4, São Paulo, 2015. Apresentação. Disponível em:
<http:// www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2015/12/Guia Alimentar-da-Populacao-Brasileira.pdf>.
Acesso em: 09 set. 2016.

SESI-SP. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino: Ensino Fundamental. 1 ed. São Paulo:
SE- SI-SP Editora, 2016.

VINES, Juliana. Experimente o inusitado. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/bom-


gourmet/comidas-exoticas/>. Acesso em: 09 dez. 2016.

Indicações de consulta

ABREU, Edeli Simioni de et al. Alimentação mundial: uma reflexão sobre a história. Saúde e Socieda-
de, v. 10, n. 2, ago./dez. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0104- 12902001000200002>. Acesso em: 09 set. 2016.

PROENÇA, Rossana Pacheco da Costa. Alimentação e globalização: algumas reflexões.


Ciência e Cultura, v.62, n.4, out. 2010. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.
php?pi-d=S0009-67252010000400014&script=ci_arttext >. Acesso em: 26 set. 2016.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

80
ENGRENAGENS URBANAS

Fonte: Istock, 2019

Apresentação do tema

O papel da indústria no processo his- dústria é (ou foi) muito importante no


tórico de construção e desenvolvi- desenvolvimento da cidade. Procurar
mento das cidades é o foco deste Eixo compreender como se deu esse pro-
Integrador. Para além da abordagem cesso ajuda a compreender a situação
da relação entre os processos de in- em que se encontra a localidade, a fa-
dustrialização e urbanização, o tra- mília e o próprio estudante, membro
balho com este Eixo Integrador visa dessa comunidade. Reconhecer-se
a estabelecer certas reflexões sobre enquanto sujeito histórico, geográfico
a indústria no espaço urbano e seu e social permite ao jovem ampliar sua
impacto tanto na produção material perspectiva sobre a realidade em que
quanto na produção cultural, no Brasil se insere e lhe dá subsídios para seu
e no mundo. posicionamento diante dessa realidade.

No Brasil, especificamente na Região Assim, contemplando a relação exis-


Sudeste, em muitos municípios a in- tente entre a urbanização e a indus-

81
trialização, este Eixo Integrador vem para a compreensão do espaço social
provocar a reflexão para que os estu- contemporâneo.
dantes compreendam a influência da
indústria (ou alguma outra atividade Os impactos e a influência da indústria
econômica predominante e significa- – ou outro agente econômico do setor
tiva) em sua localidade; descubram de comércio ou serviços na fundação
aquilo que move(u) a sua cidade para e na configuração da localidade (cida-
o lugar onde se encontra no cenário de, bairro, comunidade), em seus as-
estadual – em relação às outras cida- pectos econômicos, sociais, políticos
des do estado e no cenário nacional, e ambientais são o foco deste Eixo da
em relação às demais cidades brasi- área de Ciências Humanas.
leiras. Procura identificar a(s) ativida-
de(s) econômica(s) predominante O objetivo principal deste projeto é in-
atualmente na localidade e compará- tegrar e aplicar conteúdos e experiên-
-la com aquela atividade que, muitas cias temáticas em projetos de estudos
vezes, foi a principal responsável pela do meio, refletindo a partir da realida-
origem da cidade, empresa ou ativida- de dos próprios estudantes.
de econômica que lançou as bases de
A partir das experiências dos estudan-
sua fundação e/ou sustentação. Tal in-
tes com o estudo do meio, busca-se
vestigação é essencial para conhecer o
identificar e refletir sobre a relação
seu espaço de vida e, por conseguinte,
entre indústria, ou setor econômico,
reconhecer-se enquanto sujeito histó-
e a cidade, visando a integrar os co-
rico e social. Conforme Monte-Mór
nhecimentos das áreas do conheci-
(2016, p. 15):
mento, levando os jovens à reflexão
É essa espacialidade social resultan-
sobre as questões econômicas, políti-
te do encontro explosivo da indústria
cas, sociais, ambientais, culturais etc.,
com a cidade – o urbano – que se es-
daí advindas, no sentido de fornecer
tende com as relações de produção (e
subsídios para identificar problemas e
sua reprodução), por todo o espaço
– por que não? – Propor soluções ino-
onde as condições gerais de produção
vadoras, desenvolvendo assim a cons-
(e consumo) determinadas pelo capi-
ciência de pertencimento à cidade. A
talismo industrial de Estado impõem-
ação a partir dessa reflexão conscien-
-se à sociedade burocrática de consu-
te sobre a relação entre o indivíduo/
mo dirigido, carregando, no seu bojo, a
comunidade e a cidade é a efetivação
reação e a organização políticas pró-
do real exercício da cidadania.
prias da cidade. Essa é a realidade – a
sociedade urbana que se coloca hoje
como virtualidade e objetividade no
Brasil, constituindo-se em condição

82
Contextualização

O Brasil é hoje um país urbano. A taxa conscientemente sobre as questões


de urbanização do estado de São Pau- da cidade, atribuindo as devidas res-
lo é ainda mais alta que a do país e, ponsabilidades aos diversos agentes
se considerarmos a Região Metropo- públicos e privados da localidade, pro-
litana de São Paulo (RMSP), a taxa de pondo soluções e cobrando resultados,
urbanização é 100% em quase todos exercitando assim a sua cidadania.
os municípios. Praticamente todos nós
vivemos hoje em cidades. O estado de As questões de ordem econômica
São Paulo concentra o maior número (emprego, acesso aos bens e serviços);
de estabelecimentos industriais do questões de ordem ambiental (po-
Brasil, embora esteja em um processo luição, desmatamento, favelização);
de desindustrialização há mais de uma questões de ordem política (seguran-
década e a participação da indústria ça, transporte, habitação, impostos)
na produção de riqueza do estado, deverão ser levantadas pelo estudante
atualmente, não seja tão significativa e abordadas no sentido de conhecer
como é, por exemplo, no Pará ou no suas origens e, conhecendo-as, pro-
Amazonas4. por soluções para os problemas coti-
dianos da própria comunidade, uma
Estudar a cidade é ampliar a consciên- vez que estas questões influenciam na
cia sobre ela e sobre si mesmo. Estu- expansão do distrito industrial de um
dar as organizações econômicas que município.
fizeram (e fazem) a cidade crescer e se
desenvolver é fundamental para que O ponto de partida é a identificação
o jovem tome decisões conscientes da relação indústria/cidade nos pro-
sobre seu posicionamento diante da dutos culturais presentes no cotidiano
realidade. Compreender a dimensão dos jovens, como os desenhos anima-
dos impactos das ações corporativas dos, os filmes e games. Deve-se en-
na comunidade – tanto os impactos tender que tais produtos não podem
positivos quanto os negativos – é ser compreendidos senão a partir do
fundamental para o desenvolvimento seu modo de produção. E que esse
da postura crítica, inovadora e em- modo de produção carrega múltiplas
preendedora do jovem. Compreender significações simbólicas e ideológicas.
o processo histórico de urbanização, Como diz Miranda (1978, p. 160):
vinculado quase sempre ao processo
de industrialização, é importante para Seus objetos [da indústria cultural], não

que o estudante saiba posicionar-se importa o que comuniquem, atendem

3
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Perfil da Indústria nos Estados. Brasília: CNI, 2014. Disponível em: <http://arqui-
vos.portaldaindustria.com.br/app/cni_estatistica_2/2014/11/06/166/Perfil_da_Iundustria_nos_Estados_Novembro2014.pdf>.
Acesso em: 05 out. 2016.
83
a necessidades e são projeções da cul-
tura dominante. São passíveis de serem
construídos e interpretados conforme
as aspirações das diferentes camadas
sociais e, todavia, seu papel social é
um só, seu significado cultural é único.
O capitalismo, introduzindo a técnica, a
ciência e o modelo de racionalidade de
“Ford inaugura 1ª fábrica de motores do
raiz positivista baniu as formas mágicas
Nordeste em Camaçari, na BA
pelas quais o homem supria suas neces-
Investimento total é de R$ 400 milhões para
sidades de compreender e controlar o
produzir 210 mil motores/ano
mundo. E a “Era da Ciência” propôs a su-
pressão das necessidades humanas pela
O centro de produção inaugurado conta
utopia da abundância promovido pelo
40 robôs, 34 centros de usinagem, além
desenvolvimento técnico, a explicação
de 100% dos equipamentos interligados
do mundo e da sociedade pela “racio-
por wi-fi. Segundo informações do
nalidade” comtiana, e seu controle pela
governo estadual, a fábrica de motores
“democracia”. Contudo, tais promessas
gerou 300 empregos diretos, sendo que
não foram cumpridas, nem se mostra-
90% deles baianos. Os trabalhadores
ram passíveis de serem sustentadas (MI-
passaram por 380 mil horas de
RANDA, 1978, p. 160).
treinamento especializado.

Nesse sentido, podem surgir inúmeras


A cerimônia de inauguração na Bahia
representações dos estudantes a par-
começou por volta das 11h e contou com
tir da temática proposta, já que ela re-
a presença também do governador da
laciona cidade e indústria de uma for-
Bahia, Jaques Wagner, e do presidente da
ma dinâmica, tendo como referência a
montadora no Brasil, Steven Armstrong,
realidade local.
e do Ministro dos Transportes, Cesar
Borges.”
Desafios PRIMEIRA fábrica de motores do Nordeste é inaugurada em Ca-
maçari. G1, abr. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/bahia/
noticia/2014/04/primeira-fabrica-de-motores-do-nordeste-e-i-
naugurada-em-camacari.html>. Acesso em 06 out. 2016.

Fonte: G1, 2014

84
Na região há alguma empresa – ou
segmento de algum setor econômico
(indústria, comércio ou serviços) – que
é responsável pela maior parte dos
empregos? De que maneira esse ele-
mento influencia as diversas relações
sociais da comunidade, como, por
exemplo, a criação ou o desapareci-
mento de demandas de mão de obra?
Como se dá esse processo? Fonte: <http://exame.abril.com.br/topicos/samarco>
Acesso em 06.out.2016

GM quer demitir mais 1,5 mil metalúrgi-


cos em São Caetano.
A GM comunicou ao Sindicato dos Me- “Samarco é condenada a pagar R$ 70
talúrgicos de São Caetano a intenção de mil em indenizações em Colatina.
demitir 1,5 mil trabalhadores na fábrica
Foram julgadas 35 ações de pedidos de
São Caetano, no ABC paulista.
indenizações por danos morais. Definiu-
— Vamos trabalhar para evitar as demis-
-se o valor de R$ 2 mil para cada indeni-
sões. Entregamos algumas propostas
zação a ser paga.
para eles e confio no nosso poder de
negociação — disse Aparecido Inácio da
Segundo o juiz Salomão Akhnaton Zo-
Silva, o Cidão, presidente do Sindicato.
roastro Spencer Elesbon, em todas as
— Não sei onde vai parar essa situação —
35 petições, os moradores reivindicavam
lamentou Cidão, lembrando que há me-
a reparação por danos morais sofridos
nos de um mês a montadora cortou 500
após a tragédia da barragem de Mariana,
empregados em São José dos Campos e
ocorrida em novembro de 2015, quando
outros 500 na unidade de São Caetano
os rejeitos da empresa desceram por
em julho.
toda a extensão do rio, deixando-os sem
GM quer demitir mais de 1,5 mil metalúrgicos em
São Caetano. O Globo. 29 fev. 2016. Disponível abastecimento de água por alguns dias.”
em: <http://oglobo.globo.com/economia/gm-
-quer-de-mitir-mais-15-mil-metalurgicos-em-sao-
SAMARCO condenada a pagar R$ 70 mil em
-caetano-18776900#ixzz4MP7ui2lP>. Acesso em:
indenizações em Colatina. G1, out. 2016. Dispo-
06 out. 2016.
nível em: <http://g1.globo.com/espirito-santo/
desastre-ambiental-no-rio-doce/noticia/2016/10/
samarco-e-condenada-pagar-r-70-mil-em-inde-
O que aconteceria se a empresa “X” nizacoes-em-colatina.html>. Acesso em: 07 out.
2016.
da região demitisse grande parcela
de funcionários? De que maneira a
comunidade seria afetada?

85
O que aconteceria se a empresa “X” a vez da memória operária. 2014. Dispo-

da cidade provocasse um grave aci- nível em: <http://www.cartacapital.com.

dente ambiental? De que maneira a br/blogs/outras-palavras/em-sao-pau-

comunidade seria afetada? Que atitu- lo-a-vez-da-memoria-operaria-5373.

des podem prevenir isso? html.>. Acesso em 06 dez. 2016.

Qual a visão dos moradores da comu-


nidade sobre a empresa “X”? Qual o
impacto da presença da empresa “X”
nas histórias de vida dos moradores
de nossa comunidade? Que ações po-
dem ser promovidas para valorizar a
memória local?

Fonte: Gould; Moreira, 2014.

“Arlindo nasceu em 1950 no Recanto dos


Humildes. Mas foi em 1957 que se mu-
dou para a Vila Triângulo, vila operária
da Companhia de Cimento Portland Pe-
rus, onde os trabalhadores como o pai
de Arlindo, Seu Orlando, moravam com
suas famílias. E foi ali, nas imediações da
indústria, que se deram as maiores lem-
branças da infância e juventude do me-
nino. Arlindo, como outros tantos jovens
da época, já ocupava aquele espaço, an-
tes das greves ou movimentos culturais.

Naquela época, final dos anos 50, os


portões eram abertos, as famílias dos
operários eram bem-vindas, fosse para
levar as marmitas aos pais e maridos,
fosse para as travessuras da molecada.
“A gente pegava rabeira no trenzinho da
fábrica. Quando tinha vagãozinho de ci-
mento, eu entrava e lá ele [o guarda] não
via. Não tinha porta, não tinha degrau,
nada”

GOULD, L.; MOREIRA, J. Em São Paulo,

86
Referências

ADORNO, T. A indústria cultural. In: COHN, G (Org.) Theodor Adorno. São Paulo: Ática, 1986.

COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. São Paulo: Brasiliense, 1980, p. 17.

DIMENSTEIN, G. Aprendiz do futuro: Cidadania hoje e amanhã. 7 ed. São Paulo: Ática, 1999.

MIRANDA, Orlando. Tio Patinhas e os mitos da comunicação. 2 ed. São Paulo: Summus, 1978.

MONTE-MÓR, Roberto Luís. O que é urbano, no mundo contemporâneo, Revista Paranaense de


Desenvolvimento, Curitiba, n. 111, p. 09-18, jul./dez. 2006.

PRIMEIRA fábrica de motores do Nordeste é inaugurada em Camaçari. G1, abr. 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/bahia/noticia/2014/04/primeira-fabrica-de-motores-do-nordeste-e-inaugura-
da-em-camacari.html>. Acesso em 06 out. 2016.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 19. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2000.

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino,


São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

TAURION, Cezar. As Cidades do Século 21. IDG Now. 24 jan. 2011. Disponível em: <http://idgnow.com.
br/blog/tecnologia/2011/01/24/as-cidades-do-seculo-21/>. Acesso em: 06 out. 2016.

THINKSTOCK. City with cogwheel. Fotografia. Disponível em: <http://www.thinkstockphotos.com/


image/stock-photo-city-with-cogwheel/470576058/popup?sq=%20Urban%20gears/f=CPIHVX/s=-
DynamicRank>. Acesso em: 08 dez. 2016.

87
ERA UMA CASA MUITO ENGRAÇADA...

Fonte: iStock, 2019

Apresentação do tema

Todo ser humano tem preocupação abrigo artificial, ou seja, edificado pelo
em se abrigar e, assim, desde os pri- homem para sua proteção. Nossas
mórdios da humanidade, procurou se casas, em bairros e cidades, são to-
proteger das intempéries da nature- das construídas por meio de técnicas
za e de potenciais inimigos, como os específicas que, atualmente, podem
predadores. Seja em cavernas, como se consolidar mediante princípios de
registro mais antigo de um abrigo, seja economia e de sustentabilidade, ade-
em cabanas, barracas, casas e edifí- quando-as e transformando-as em ca-
cios, o ser humano foi aprendendo a sas funcionais.
se abrigar da melhor forma possível,
construindo, dessa maneira, suas pró- Dessa forma, o desenvolvimento deste
prias instalações. Com isso, o homem tema tem como foco a busca de so-
desenvolveu, geração após geração, luções para a construção civil, e, para
mecanismos para se abrigar artifi- isso, os estudantes devem investigar
cialmente. E da preocupação de se como construir mais gastando menos.
abrigar surgiram as técnicas de “cons- Assim, propõe-se um trabalho de ir a
trução”, que é a representação de um campo, recolher medidas reais e pes-

88
quisar como são feitas as construções moradias, também serão estudados,
civis e quais são os objetos de conhe- e a partir daí os estudantes aplicarão
cimento das diferentes áreas do saber conhecimentos diversos para criar
envolvidos no processo. Essa temática soluções criativas materializadas em
vai ao encontro da discussão de dois croquis ou plantas, na construção de
grandes problemas enfrentados para cômodos ou, ainda, na construção de
as construções de moradias, que são casas para pets, de forma que pos-
os pequenos terrenos, muitas vezes sam demonstrar na prática os estudos
ocasionados por desmembramentos realizados durante o processo.
ou outros vários motivos, e a degra-
dação do meio ambiente, que muitas Contextualização
construções ocasionam.
A necessidade do homem na busca
Com o trabalho deste tema, os estu- de abrigos é refletida em números:
dantes terão contato com os princí- de acordo com Leite Júnior (2013),
pios dos sistemas elétrico e hidráulico em 2010, no Brasil existiam 12,5 (28%)
e estudarão conceitos que possibilitem milhões de domicílios permanentes a
economia e o uso racional de água e mais que em 2000, que totalizavam
energia elétrica, evitando ao máximo 57,3 milhões de domicílios, de acordo
o desperdício. Além disso, poderão in- com os censos realizados pelo IBGE,
vestigar os impactos no saneamento, produzindo então uma média anual de
a fim de entender os princípios da sus- 1.254.742 domicílios. Do total construí-
tentabilidade nas construções. do nessa década, 10,8 milhões são ca-
sas (86,5% do total de domicílios), e 1,9
Outros tópicos que serão estudados, milhão, apartamentos. Essas constru-
como a regulamentação da documen- ções resultaram, na década de 2000,
tação das construções civis, a posse em uma área total construída de 1,68
dos terrenos, incluindo a usucapião, a bilhão de metros quadrados.
construção em mananciais, o mercado
imobiliário e as regras que o regem, Se considerarmos que nos anos seguin-

auxiliarão os estudantes a compor o tes foram produzidos o mesmo número

cenário econômico em que estão in- médio de unidades por ano, ocorrido na

seridos e, com isso, ter bagagem para década anterior, podemos estimar, que

tomar as decisões propostas para essa entre 2000 e 2015 foram produzidas

temática. 18.821.130 novas unidades. Aplicando a


mesma lógica, obtemos uma nova área

Assim, os custos, os tipos de materiais, total construída, no período entre 2000

a utilização de materiais alternativos, a e 2015, de cerca de 2,5 bilhões de m2

utilização da natureza como modelo, (LEITE JÚNIOR, 2013).

os tipos de plantas, entre outros tó-


picos que impactam a construção de No entanto, percebemos que esse au-

89
mento nas construções faz com que Júnior (2013), a estimativa da quanti-
as populações tenham vidas transfor- dade de entulho produzido por metro
madas de maneira não positiva pelas quadrado, na construção de edifícios,
construções realizadas de maneira ir- calculada pelos professores Artemária
regular. Em 2013, só na cidade de São Andrade, Ubiraci Souza, José Paliari e
Paulo, foram registradas 900 mil casas Vahan Agopyan, da Escola Politécnica
construídas irregularmente. Isso quer da Universidade de São Paulo, é de
dizer que as casas são feitas em luga- 49,58 Kg.
res perigosos, sem infraestrutura, com
potencial de infiltração e desmorona- Se multiplicarmos esse coeficiente
mento. Segundo o portal de notícias pela área total construída supracitada,
G1 (2013), verificamos que 124 milhões de tone-
ladas de entulho foram produzidas
em qualquer comunidade na periferia no período de 2000 a 2015.
das grandes cidades, há casas que fo-
ram ampliadas para cima, por falta de De acordo com Pinto (1999), citado
espaço. São pavimentos erguidos sobre pela Abrecon (2015), o Brasil apre-
a laje, conforme a família vai aumentan- senta uma produção média anual de
do, com sacrifício dos moradores e qua- resíduos de construção e demolição
se sempre sem planejamento. (RCD) de 500 kg/hab. Consideran-
do que, pelo IBGE, o país possuía,
Um fator que também influencia na em 2014, 202.033.670 de habitantes,
desordem e no crescimento não plane- e que a massa unitária do RCD é de
jado das moradias é o alto custo apon- 1.200 kg/m3, estima-se que a geração
tado nos materiais de construção e na anual de RCD seja 84.180.696 m3. E
mão de obra. O Sindicato da Indústria menos de 45% é reciclado pelas 310
da Construção Civil (Sinduscon) apon- usinas de reciclagem de RCD do país.
ta que o custo unitário básico (CUB)
de construção por metro quadrado Dessa forma, muito se tem pensado a
chegou a um valor médio no Brasil de respeito das construções civis. A preo-
R$ 1.262,87 em junho de 2016, sendo cupação com o barateamento e a adap-
que para a Região Sudeste, no mes- tação ao crescimento da população é
mo período, o CUB médio foi de R$ constante. Arquitetos e engenheiros
1.291,55, uma variação de 3,10% em re- buscam saídas para a necessidade de
lação a maio do mesmo ano, a maior moradias, para a crise econômica e
da história desde 2007 (CBIC, 2016). para a degradação do meio ambiente,
criando inovações como:
Outro ponto que deve ser considera-
do é o fato de que as construções são • A casa de papelão. Segundo
potenciais poluidoras, uma vez que a Exame.com (A CASA..., 2016), a casa
geram muitos resíduos. Segundo Leite revoluciona a arquitetura tradicional: é

90
fabricada com papelão e de maneira Desafios
sustentável, tem uma vida útil de 50
anos e respeita até três vezes mais o O estilo de vida das pessoas reflete di-

meio ambiente, podendo ser 100% re- retamente no conceito de moradia das

ciclada após o uso; mesmas. Há uma preocupação constan-


te com questões sustentáveis, baratas e
• Normalmente casas quadra- ambientais, e aspectos como esses for-
das gastam menos paredes. Uma pa- talecem a tendência de se criarem solu-
rede acabada custa em torno de R$ ções para as construções de moradias e
140,00. Assim, apenas em eliminação adaptações de projetos (SEBRAE, 2016).
de paredes e mudança na planta, a
economia pode chegar a R$ 2.300,00 Como criar projetos de moradias que
em uma casa de 53 m2 (MIRANDA, atendam a essas necessidades?
2014);
A construção de novos domicílios, para
o atendimento das necessidades de mo-
• Robôs que constroem casas
radia da população é um aspecto funda-
em dois dias. O portal Olhar Digital
mental para a manutenção da qualidade
(ROBÔ, 2015) aponta que o robô con-
de vida e dignidade do ser humano (LEI-
segue determinar o posicionamento
TE JÚNIOR, 2013).
preciso de cada tijolo em determina-
das estruturas. Depois disso, corta seus
Dessa forma, quais construções po-
próprios tijolos e os transporta até o
dem ser propostas que sejam viáveis
local de construção. Um mecanismo
dos pontos de vista financeiro e am-
automatizado na extremidade de seu
biental?
braço funciona como um guindaste,
erguendo as peças. Depois disso, os
Visando o conceito que se tem hoje
tijolos são colocados individualmente
sobre a construção civil tradicional, no
no cimento;
uso inconsciente dos recursos natu-
rais o homem vem poluindo, destruin-
• Construções que imitam a na-
do a natureza ao seu redor, com suas
tureza. Segundo Rodrigues et al (2011),
construções, sem se preocupar com o
esse tipo de construção caracteriza-se
impacto ambiental. Por isso e muito
como bioconstrução. A bioconstrução
mais, surge a proposta da construção
engloba as construções ecológicas,
sustentável, que tem como base a ex-
sustentáveis e bioclimáticas (adap-
ploração consciente e inteligente dos
tadas ao clima), desenvolve e aplica
recursos disponíveis, buscando novas
métodos e técnicas específicas de
alternativas sustentáveis para essa
construção, tais como a terra-crua,
construção, já que os recursos naturais
que usa o barro como a principal ma-
devem ser preservados (RODRIGUES
téria-prima, e assim pode-se produzir
et al., 2011).
um ambiente resistente e confortável.

91
Assim, quais soluções, modelos e protótipos podem ser apresentadas para adaptar
as necessidades locais e pessoais às necessidades de uma construção sustentável?

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DEMOLI-


ÇÃO (ABRECON). Relatório Pesquisa Setorial 2014/2015: A reciclagem de resíduos de construção e
demolição no Brasil. São Paulo/SP, 2015. Disponível em: <http://www.abrecon.org.br/pesquisa_seto-
rial/>. Acesso em: 24 ago. 2016.

A CASA de papelão que revoluciona a arquitetura tradicional. Exame.com. 25 jun. 2016. Disponível
em: <http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/a-casa-de-papelao-que-revoluciona-a-arqui-
tetura-tradicional>. Acesso em: 24 ago. 2016.

CÂMARABRASILEIRADAINDÚSTRIADACONSTRUÇÃO Banco de Dados: CUB Médio Brasil: Custo


Unitário Básico de Construção por m2. 2016. Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/menu/
custo-da-construcao/cub-medio-brasil-custo-unitario-basico-de-construcao-por-m2>. Acesso em:
24 ago. 2016.

LEITE JÚNIOR, H. de F. Materiais consumidos e resíduos gerados pelos novos domicílios construí-
dos no Brasil nos últimos 12 anos. 2013. Disponível em: <http://www.hamiltonleite.com.br/ novosdo-
micilios.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2016.

MIRANDA, C. Construção de casas: como economizar 8 mil na sua obra. Construir barato. 11 dez.
2014. Disponível em: <http://www.construirbarato.com.br/economia/construcao-de-casas/>. Acesso
em: 24 ago. 2016.

ROBÔ pedreiro constrói casa inteira em 2 dias. Olhar Digital. 2015. Disponível em: <http://olhardigital.
uol.com.br/noticia/robo-pedreiro-constroi-casa-inteira-em-2-dias/49504>. Acesso em: 24 ago. 2016.

RODRIGUES, C. H. F. et al. A Natureza Cria, Conserva e Ensina. E-xacta, Belo Horizonte, v. 4, n. 2.


Edição Especial Interdisciplinaridade, 2011, p. 49-57. Editora UniBH.

G1. São Paulo tem quase 900 mil casas construídas irregularmente. 2013. Disponível em: <http://
g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/01/sao-paulo-tem-quase-900-mil-casas-construidas-irre-
gularmente.html>. Acesso em: 24 ago. 2016.

SEBRAE Inteligência Setorial. Minicasas: tendência na construção civil. 2016. Disponível em: <ht-
tps://www.sebraeinteligenciasetorial.com.br/produtos/boletins-de-tendencia/minicasas-tendencia-
-na-construcao-civil/576920eb35533219001887e0>. Acesso em: 24 ago. 2016.

92
Indicações de consulta

ARAÚJO, P. J. P.; DUARTE, R. G. F. Utilizando conceitos matemáticos por meio da informática: cons-
trução de uma casa na visão de um pedreiro. 2013. Disponível em: <https://webcache.oogleusercon-
tent.com/search?q= cache:cITL9dAgeh4J:https://periodicos.set.edu.br/index.php/cadernoexatas/
article/download/837/572+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 29 ago. 2016.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Susten-


tável. Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável. Curso de Bioconstrução. Texto elabo-
rado por Cecília Prompt. Brasília: MMA, 2008. Disponível em: <https://comosereformaumplaneta.files.
wordpress.com/2013/09/curso-debioconstruc3a7c3a3o.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Técnicas de Construção. Texto


elaborado por Alessandro Guimarães Pereira. Brasília: Universidade de Brasília, 2009. Disponível
em:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=622-tecnicas-
-de-construcao&Itemid=30192>. Acesso em: 24 ago. 2016.

MIRANDA, C. Construir barato. Site. Disponível em: <http://www.construirbarato.com.br>

TVESCOLA. Matemática em toda parte. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/tve/videoteca/


serie/matematica-em-toda-parte>. Acesso em: 29 ago. 2016.

93
EXPRESSÕES URBANAS:
DIALOGANDO COM A CIDADE

Fonte: ThinkStock, 2014

Apresentação do tema

Seja nos grandes centros urbanos, As formas como as pessoas – sobre-


seja em cidades pequenas, os muros tudo os jovens – interagem com as
e espaços públicos são suportes para cidades produzem formas de expres-
formas de expressão que desafiam os são próprias de seus grupos identitá-
padrões artísticos e sociais. Neste Eixo rios, que fazem dos espaços urbanos
Integrador, pretende-se que os estu- o “território” de suas tribos. Práticas
dantes investiguem suas cidades com como o skate, a dança de rua e o par-
foco em manifestações artísticas e em kour revelam o quanto a paisagem
práticas corporais intrinsecamente li- urbana é vivida e experimentada por
gadas aos espaços públicos urbanos, uma juventude que desafia os seus
ou seja, que fazem da cidade o pano limites. Para além das práticas corpo-
de fundo para suas expressões. rais, outra forma de dialogar com a ci-

94
dade é interagir com ela por meio da Contextualização
arte. Fortemente relacionada às cultu-
ras periféricas, a arte urbana refere-se Enfeitar a cidade, transformar o urbano

à manifestação artística e pública que com uma arte viva, popular, da qual as

se apropria dos espaços da cidade e, pessoas participem, é a minha intenção

por não estar restrita a galerias e cen- (Alex Vallauri).

tro culturais, aproxima o público de


formas de expressão que integram, Os muros enquanto suporte para ma-
muitas vezes, mais de uma linguagem, nifestações acompanham toda a his-
como graffiti, instalações, cartazes tória da humanidade. Na Pré-História,
lambe-lambe, poemas, break, danças os antepassados do homem moderno
de rua etc. utilizavam as paredes das cavernas
para fazer inscrições em forma de
Sempre polêmica, a arte urbana ques- desenhos rudimentares, o que ficou
tiona fronteiras e o senso comum, ao conhecido como arte rupestre. No Im-
problematizar questões como: grafi- pério Romano, as inscrições em muros
te é arte? Pichação é arte? É crime? – algumas com palavras e desenhos
É possível que se produza e se faça obscenos – mostram que esse já era
circular a poesia pelo espaço urbano um suporte para o diálogo entre os
quase artesanalmente, fora do circuito homens e a esfera pública.
comercial, sem o suporte das grandes
editoras e dos críticos literários? Os
estudantes tomarão contato com uma
forma de arte ainda estigmatizada e
considerada subversiva, mas que tem
conseguido cada vez mais ser legiti-
mada como forma de dar voz a grupos
sociais marginalizados e expressar as
múltiplas identidades que ocupam os
espaços públicos. Ao estudar sobre
intervenções urbanas, os estudantes
conhecerão praticantes e artistas de
rua de diferentes partes do mundo,
poderão registrar as manifestações
características de suas próprias cida-
des e apresentá-las por meio de ex-
posições, painéis, criação de cartazes
lambe-lambe, curtas-metragens.

95
Séculos se passaram e, na contempo- stencil, que eram repetidas em série.
raneidade, as manifestações públicas Já nos anos 1990, o graffiti ampliou
nos muros, viadutos e nas mais diver- sua presença para as periferias no ras-
sas partes das cidades continuam mais tro do movimento hip hop. Para Paulo
vivas do que nunca, como intervenção, Carrano, coordenador do Observa-
denúncia e arte urbana, dando voz a tório Jovem do Rio de Janeiro, “toda
grupos muitas vezes marginalizados. a cultura hip hop, incluindo o graffiti,
Um dos movimentos que melhor ex- é ato resistente numa cidade que so-
pressam atualmente esse fenômeno é nega direito, sonega a voz. Ela ocupa,
o graffiti. Da forma como conhecemos traz visibilidade, dá voz. Além disso, o
hoje, o graffiti surgiu nos anos 1960, graffiti tem um papel de revitalização
na cidade de Nova York, quando al- – dá vida ao que não tem cor”. Nesse
guns jovens começaram a marcar as sentido, o graffiti humaniza e trans-
paredes da cidade. Com o passar do forma o espaço urbano. Embeleza,
tempo, essas marcas foram se desen- ao mesmo tempo em que defronta a
volvendo cada vez mais e evoluindo cidade e suas contradições, obrigan-
por meio de diferentes técnicas e de- do-a a contemplar sua própria miséria.
senhos, que passaram a ser introduzi-
dos nessa manifestação cultural.

Museu Aberto de Arte Urbana em São Paulo. Disponível em:


http://maissantana.blogspot.com.br/2011/11/primeiro-mu-
-seu-aberto-de-arte-urbana-de.html

Disponível em: https://resistenciaemarquivo.wordpress.


com/2014/04/17/pelos-muros-da-ditadura-acoes-de-resis-
tencia-a-ditadura/
Mesmo estando incorporado à vida
urbana e fazendo parte da identidade
No Brasil da década de 1960, os muros das cidades, há pessoas que conside-
foram suportes de protesto e denún- ram o graffiti poluição visual e vanda-
cia política contra a ditadura militar lismo, e não uma forma legítima de
instaurada em 1964. Em São Paulo, arte. Essa é uma crítica muito comum a
intervenções com caráter artístico se outras formas de diálogo e expressão
expandiram na década de 1970, pri- que utilizam o espaço urbano como
meiro através das pichações poéticas cenário, por exemplo, os cartazes lam-
e depois com as intervenções com be-lambe, o skate e o parkour.

96
Disponível em:
http://www.engeplus.com.br/noticia/esporte-amador/2013/basquete-de-rua-ganha-espaco-no-parque-das-nacoes.
Acesso em: 11 nov. 2016

• Documentário “Grafite vs Pichação - Antropologia Visual” – depoimento


de Recife: “Acho que a pichação é a cicatriz da cidade.”. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=khOQqgNNNRc>. Acesso em: 10 nov. 2016.

• Documentário “Expressão da Rua”. Disponível em: <https://www.youtube.


com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g>. Acesso em: 10 nov. 2016. Aborda as temáticas
graffiti, pichação, lambe-lambe, stencil e sticker, para mostrar que esse tipo de
manifesto também não se limita apenas a grafitagem/picho. Foram ouvidos órgãos
públicos, interventores, fontes oficiais e públicas.

• Documentário “Olhodarua”. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?-v=paX2UJ54FsU>. Acesso em: 10 nov. 2016.

• Documentário “Contra a Parede” (2015) - tensões entre graffiti da galeria e


graffiti da periferia. Depoimento final: “O graffiti salvou minha vida”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=oTGoxcKF- vHo>. Acesso em: 10 nov. 2016.

• Filme “Atenção: isto pode ser um poema”. Disponível em: <https://www.


youtu- be.com/watch?v=ki4P1SiHW6k>. Acesso em: 10 nov. 2016. O filme busca
mostrar, por meio de releituras, como uma intervenção em espaço público pode
dar uma nova poética à cidade.

97
Desafios

Qual o impacto dos espaços urbanos, dá outras providências.


das práticas corporais e das manifes-
tações artísticas urbanas na constitui- Art. 65. Pichar ou por outro meio
ção da identidade dos jovens de sua conspurcar edificação ou monumento
comunidade, do seu país e do mundo? urbano: Pena - detenção, de 3 (três)
meses a 1 (um) ano, e multa.
Embora autoral, o graffiti é arte intrin-
secamente democrática. O desenho fica § 1° Se o ato for realizado em monu-
exposto a toda população sem distin- mento ou coisa tombada em virtude
ção ou restrição basta olhar a cidade. do seu valor artístico, arqueológico ou
A efemeridade lhe insere um sentido de histórico, a pena é de 6 (seis) meses a
desprendimento. A noção de posse da 1 (um) ano de detenção e multa.
obra é eliminada. “O graffiti mantém um
diálogo muito rico entre os transeuntes e § 2° Não constitui crime a prática de
o poder público. Levanta questões sobre grafite realizada com o objetivo de va-
de quem é a cidade. Resgata o verdadei- lorizar o patrimônio público ou privado
ro conceito de público”, explica a grafi- mediante manifestação artística, des-
teira Ziza de São Paulo. (MARTINS, 2010) de que consentida pelo proprietário e,
quando couber, pelo locatário ou ar-
(…) O grafiteiro e artista plástico Zezão, rendatário do bem privado e, no caso
por exemplo, procura sempre locações de bem público, com a autorização
vazias, abandonadas, com backgrounds do órgão competente e a observância
deteriorados. É conhecido mundialmen- das posturas municipais e das normas
te por seus graffitis azuis nas galerias editadas pelos órgãos governamen-
subterrâneas. Ele dá cor aos intestinos tais responsáveis pela preservação e
e vísceras de São Paulo. “Enxergo minha conservação do patrimônio histórico e
arte como um curativo da cidade. Esse é artístico nacional. (BRASIL, 1998)
o sentido do graffiti para mim. Levar arte
para as pessoas que habitam os rincões Que tensões podemos identificar ao
esquecidos da metrópole. É quase um tratar de intervenções urbanas, prá-
exorcismo do lugar”, contou. (GUTIER- ticas corporais e manifestações artís-
REZ, 2013) ticas que utilizam espaços públicos
para se manifestarem? Como seria
Lei 9605/98: Lei de Crimes Ambientais possível equilibrar a liberdade de ex-
pressão e as leis que regem a convi-
Dispõe sobre as sanções penais e ad-
vência em sociedade?
ministrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e

98
A arte pública só é legítima nas ruas?
O que acontece quando a arte de rua
vai para os museus e galerias?

Disponível em: http://www.abcdoabc.com.br/santo-andre/


noticia/sabina-tera-oficina-lambe-lambe-sabado-25-22792.
Acesso em: 10 nov. 2016.

“Das ruas para o museu. A arte contem-


Disponível em: <https://muitasmidias.wordpress.
porânea dos grafiteiros ganhou espaço com/2015/06/26/a-resistencia-lambe-lambe-a-midia-carta-
z-ainda-comunica-algo-novo/> . Acesso em: 07 nov. 2016.
no ambiente formal do Museu de Arte
Contemporânea de São Paulo. Em vez
do cenário urbano, paredes brancas são As cidades são cenário e suporte
o pano de fundo. São 60 trabalhos. Me- para intervenções urbanas que aliam
tade de grafiteiros italianos, metade de a arte ao protesto, como pichações,
brasileiros. O pai da ideia é Vittorio Sgar- cartazes lambe-lambe, poemas. Quais
bi, secretário de Cultura de Milão. (...) mensagens costumam ser vinculadas
por essas manifestações artísticas?
Apesar do reconhecimento em abrir as
portas do museu para esse tipo de arte,
há quem discorde e prefira ver o grafite
só nas ruas. “Na minha opinião, não tem
que ser legalizado, porque vai ficar uma
coisa chata, domesticada”, disse Daniel
Medeiros, grafiteiro conhecido como
“Boleta”.

Nas telas de Yá, uma das poucas repre-


sentantes da classe feminina, traços de
poesia e rebeldia. “A gente mostra que
a arte pode ser realizada por qualquer
pessoa, de qualquer classe social e que
não é uma elite artística. Então, que isso
se mantenha”, pediu a artista Yara Bar-
ros, a Yá”. (G1, 2008)

99
Referências

BRASIL. Lei 9605/98: Lei de Crimes Ambientais. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Palácio do
Planalto. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 16
nov. 2016.

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g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL265934-5605,00-GRAFITE+GANHA+ESPACO+EM+MU-
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GUTIERREZ, Carolina. Dia do Graffiti: arte de rua, poesia e protesto. Outras palavras. 25 mar. 2013.
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RONDINELLI, Paula. Parkour. Brasil Escola. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/educacao-


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SESI-SP. Revista Ponto. V. 1. São Paulo: SESI-SP Editora, 2013.

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino.


São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

100
FOME DE QUÊ?

Fonte: Flamir, 2011.

Apresentação do tema
A cultura pode ser entendida como um sim como as diversas maneiras de ali-
dos elementos que diferencia os seres mentação. Os modos de produção dos
humanos dos outros animais, sendo res- alimentos, seu consumo e distribuição
ponsável por marcar a trajetória do ho- foram e são essenciais na formação
mem ao longo do tempo e espaço, num cultural do ser humano. Nesse senti-
movimento constante em que o homem do, esta temática aborda o alimento
faz cultura e ela faz o homem. Dessa e a cultura, procurando estabelecer
forma, ela é uma das necessidades hu- relações entre ambos e viabilizar a in-
manas, assim como o alimento. Se os terpretação de uma das dimensões do
nutrientes são necessários para a pró- ser humano enquanto produtor e pro-
pria sobrevivência, são muitas as formas duto da cultura. O conceito de alimen-
para obtê-los, uma vez que os alimentos to é visto não só como necessidade
são preparados de acordo com a dinâ- biológica, mas como veículo a partir
mica das diferentes sociedades. do qual se produzem símbolos, signi-
ficados, sentidos e modos de vida. Os
Os idiomas, as religiões, os vestuários alimentos e suas relações com as so-
são expressões da cultura humana, as- ciedades, as religiões, a política, a ética

101
e a economia serão exploradas nesse De acordo com Juca Ferreira, cultura
trabalho, destacando os seus aspectos é uma necessidade básica de qualquer
históricos, simbólicos e antropológi- ser humano. O que nos distingue dos
cos, sua função social, suas diversas outros animais é esse imperativo de
formas de produção, consumo e distri- simbolização (MANO, 2010).
buição. Também se buscará entender
como eles se relacionam com o corpo A alimentação, por ser distinta entre
e o ambiente. Tais enfoques serão tra- muitas culturas, é um aspecto que
tados através de visões sociais sobre pode distanciar ou aproximar povos e
padrões cultural e socialmente colo- identidades, pois marca semelhanças
cados, e problematizados em seus as- e diferenças estabelecidas conforme
pectos políticos e econômicos, como a os recursos ambientais e econômi-
produção dos alimentos em escala por cos, e os nutrientes que compõem os
meio da tecnologia, o consumo massi- alimentos consumidos nas diversas
ficado, a propaganda, os padrões esté- regiões. Mais que tudo isso, o com-
ticos e a ditadura das dietas. portamento alimentar do ser humano
está relacionado a questões religiosas,
Tendo como base essas reflexões e à comensalidade e à função nutricio-
partindo dos desafios propostos neste nal das refeições. A alimentação revela
guia, os estudantes poderão elencar a estrutura da vida cotidiana em um
problemáticas relacionadas ao alimen- sistema simbólico de códigos sociais,
to, identificadas na escola ou em sua que operam estabelecendo relações
comunidade, em seus múltiplos senti- dos homens entre si e com a natureza.
dos socioculturais associados.
O início da cultura alimentar, que nos
Por meio do entendimento do macro- diferencia como povos e nos torna dis-
contexto do significado do alimento tintos de outras espécies animais, foi
em seus vários sentidos, os estudan- demarcado pelos primeiros hominídeos
tes poderão desenvolver um trabalho que se reuniam em volta de fogueiras.
que proponha soluções viáveis para os Sabendo que o ser humano é a única
problemas identificados e, se possível, espécie que tem a capacidade de mo-
colocá-las em prática, interferindo po- dificar os seus alimentos, o fogo foi o
sitivamente na comunidade e impac- ponto-chave nessa transformação cul-
tando sua própria visão de mundo. tural, que evoluiu e permanece até hoje.
Pode-se dizer que a alimentação em si
Contextualização diferencia vários povos, mas o fogo apa-
rece em todas as culturas e já é um pres-
Acho que seria plausível afirmar que as suposto da aquisição de hábitos cultu-
mudanças de dieta são mais importan-
rais, especialmente alimentares, que se
tes do que as mudanças de dinastia ou
modificam ao longo do tempo, com in-
até de religião (George Orwell, O cami-
nho para Wigan Pier).
corporações e trocas entre as pessoas.

102
A permanência de certos hábitos ali- res humanos. Fome de cultura, de mú-
mentares é cultural, aprendida e trans- sica, de arte, de representações sobre
mitida nos núcleos familiares e nas si e sobre o outro são outras deman-
comunidades – ambientes que hoje re- das que surgem na constituição dos
cebem grande influência da mídia e da grupos sociais e na forma como o ser
agroindústria. Produzimos, compra- humano construiu o próprio entendi-
mos e consumimos nossos alimentos mento sobre si mesmo.
de acordo com diversos fatores condi-
cionantes, como a distribuição de ren- A fome no sentido fisiológico leva o
da na sociedade, os grupos e classes ser humano a experimentar inúmeras
sociais, as diferenças culturais, a hie- sensações na busca pelo alimento e na
rarquia, os estilos de vida, o status, as sua saciedade. As representações re-
regras, as formas e representações co- ferentes a essas necessidades elemen-
letivas, imaginárias e também de acor- tares são múltiplas e se diferenciam
do com crenças diversas (CANESQUI; conforme as particularidades de cada
GARCIA, 2005). A cultura da socieda- sociedade. Por um lado, teríamos as
de acaba por induzir gostos e formas representações referentes ao alimento
de alimentação sociais, e estabelece o nas diferentes culturas; por outro, ou-
que é tabu, proibido, sagrado, o que tras necessidades culturais e sociais, à
causa asco e o que é desejável. medida que o ser humano se organiza
em sociedades mais complexas.
Graças à tecnologia, nós somos a
primeira sociedade apta a produzir Além da comida como necessidade
alimento suficiente para toda a po- de se manter vivo, os locais de pro-
pulação do planeta. Historicamente, a dução e preparo são também dimen-
população, ainda em grande parte ru- sões culturais e sociais. Na pré-histó-
ral, não dispunha de meios capazes de ria, por exemplo, havia desenhos que
suprir suas necessidades alimentares. representavam a caça aos animais. Já
Assim, era constante a escassez de a cozinha doméstica moderna, his-
alimentos no abastecimento da popu- tórica e culturalmente ocupada pela
lação, mas, ainda hoje, com todas as mulher, tornou-se também um espa-
possibilidades disponíveis, a fome é ço a ser ocupado pelos homens, dian-
um dos maiores problemas mundiais. te das reflexões e mudanças sobre o
papel de cada gênero. Além disso, os
No entanto, se num primeiro momento meios de comunicação e a Era da In-
a fome de comida se limita ao senti- formação trouxeram consigo uma in-
do fisiológico, às necessidades de se finidade de receitas de diversas par-
manter vivo, existem também outras tes do mundo, e o compartilhamento
dimensões que a fome alcança, o que de informações sobre os alimentos e
expressa necessidades culturais e sim- as próprias necessidades do corpo
bólicas que nos constituem como se- em termos de nutrientes.

103
As representações sobre o alimento cultura, a arte, o desenvolvimento da
na literatura e nas artes visuais são criticidade e as representações sim-
constantes e múltiplas ao longo da bólicas são tratadas como necessida-
história. Sua dimensão cultural apare- des das sociedades, que ao longo do
ce, por exemplo, na obra Casagrande tempo desenvolvem suas formas de se
& senzala, de Gilberto Freyre (1933), representar. Perceber esses elemen-
em que ele demonstra de forma lite- tos como necessidades e veículos de
rária a relação entre culinária e classe promoção social é o principal objetivo
social. Freyre é uma referência para se desse tema. É preciso ter acesso ao
pesquisar comida e relações sociais. universo cultural, como marca social e
Ele chega a aspectos como o signifi- histórica do homem e das sociedades,
cado social das panelas, dos utensí- para uma inserção social ampla, que
lios, dos rituais religiosos, assim como propicie ao indivíduo a capacidade de
defende a cultura alimentar do Brasil, se ver como fruto de uma cultura já
destacando também a relação íntima desenvolvida, mas também como pro-
com a ciência e a política na sociologia motor de transformações à medida
da alimentação (SILVA, 2016). que são demandadas.

Os hábitos alimentares, o cardápio e


Desafios
a culinária são elementos essenciais
de diferenciação e reconhecimento de Apresentamos aqui diversos exemplos
culturas, sociedades e regiões ao redor que servem como disparadores para
do mundo. A disponibilidade de recur- as discussões e debates em sala de
sos naturais diferentes em cada parte aula. No entanto, é importante lembrar
do planeta e constituintes da base na- que eles sempre devem remeter à rea-
tural da transformação em alimentos, lidade do estudante, estabelecendo
em suas diversas formas de produção ligação entre os problemas apresenta-
(caça e coleta ou cultivo e criação/do- dos e a própria realidade da classe.
mesticação de animais) e distribuição
(comunitária, ritualística ou industrial, Atualmente, estima-se que 1 bilhão de
comercial) – leva ao desenvolvimento pessoas em todo mundo sofram com
de culturas extremamente distintas ao o problema da fome, que está relacio-
redor do mundo. Há uma estreita rela- nada diretamente às questões econô-
ção entre a diversidade material (dada micas, à miséria de parte significativa
pelos recursos alimentares naturais) e da população, no Brasil e no mundo.
a diversidade cultural entre as regiões, (BONFIM, 2004, p. 4)
em todas as escalas.
Quais ações podem ser desenvol-
Além desse aspecto fisiológico da vidas para minimizar os impactos
fome e todas as representações re- da fome na nossa sociedade, envol-
ferentes à comida, nessa temática, a vendo tantos aspectos econômicos

104
e materiais quanto as dimensões socioculturais, simbólicas e imateriais? Como
combater essa problemática em suas diversas dimensões em nossa escola e em
nosso bairro?

Cores:
Formas Frustas
Formas Típicas Casos Espóradicos
Formas Típicas Crises Epidêmicas
Formas Típicas Endências

Símbolos:

Carência Proteicas

Carência de Cálcio sem


Manifestações Raquitismo

Carência de Ferro - Anemias


Alimentares

Carência de Cloreto de sódio

Carência de Iodo - Bócio Cretínico

Carência de Vitamina A (Hemeralalopia,


Xeroses, Xerofitalpia e Queratomalacia

Carência de Vitamina B1 Áreas:


1 - Amazônica
Carência de Vitamina B2 Ariboflavinose
2 - Nordeste Açucareiro
Carência de Ácido Nicotínico - Pelagra
3 - Sertão Nordestino
Carência de Vitamina C - Escorbuto 4 - Centro Oeste
Carência de Vitamina D - Raquitismo 5 - Extremo Sul

O mapa traz dados relacionados à carên- Você tem sede de quê?

cia nutricional em várias regiões do Brasil. Você tem fome de quê?


A gente não quer só comida,
Nesse sentido, como está a qualida- A gente quer comida, diversão e arte.
de daquilo que se come no país e no A gente não quer só comida,
mundo? Como isso influencia a cultu- A gente quer saída para qualquer parte.
ra de um povo? Por que estar alimen- A gente não quer só comida,
tado pode não ser sinônimo de estar A gente quer bebida, diversão, balé.
bem nutrido? A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer. [...]
Bebida é água.
Comida
Comida é pasto.
(Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer /Sérgio Britto)

105
A fome é certamente o problema cuja
definição se mostra mais controversa.
Haveria inicialmente que se distinguir
a fome aguda, momentânea, da fome
crônica. (MONTEIRO, 2013).

Na região da escola existe fome?


Fome de quê? Como diagnosticar
que tipos de necessidades existem
na região? Elas se restringem ao ali-
mento? Que necessidades específicas
caracterizam os seres humanos?

Gláucio Soares (apud Castro, 1980:


26), cunharia a expressão “fome polí-
tica”, ao denunciar a falta de partici-
pação popular nos negócios públicos
(BONFIM, 2004).
Fonte: Thinkstock, 2016.

Considerando os dias atuais, o que


se entende por “fome política”? As Que mudanças alimentares essas duas
pessoas do bairro ou do município imagens representam? Qual a base
percebem essa fome? Que caminhos constitutiva dos alimentos do nosso co-
de participação e no município? O tidiano? Que tradições familiares estão
que se poderia fazer para aumentar presentes nas práticas das refeições?
o nível de participação política na co- Que fatores influem na nossa escolha
munidade ou no município, saciando do que comer?
essa “fome”?

106
Referências
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vel em: <http://www.areliquia.com.br/artigos%20anteriores/71MitGrecR.htm>. Acesso em:
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LEITE, Mazé. A sombra de Caravaggio II - Realismo, sua obsessão. Portal Vermelho. 15 ago.
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LIMA, Mariana da Silva; BUENO, André. A queda do jardim: impressões da Rússia no século
XIX. Graphos. João Pessoa, v. 12, n. 1, jun. 2010. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/
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NATUREZA-MORTA. Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em: <http://enciclopedia.itau-


cultural.org.br/termo360/natureza-morta>. Acesso em: 8 nov. 2016.

PAULINO, Maria de Lourdes Mendes Vicentini. Como funciona o corpo humano? Disponível
em: <http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/2_qualidade_ vida_humana/Museu2_quali-
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TUDO É MATEMÁTICA. Blogspot. Disponível em: <http://cantinhodamatemagica.blogspot.


com.br/2011/04/matematica-na-alimentacao.html>. Acesso em: 8 nov. 2016.

108
GASTAR E POUPAR É SÓ PLANEJAR

Fonte: Thinkstock, 2016.

Apresentação do tema
O dinheiro e suas formas de utilização A abordagem de conteúdos ligados à
não são mais assuntos só de “gente educação financeira pode capacitar os
grande”. Para que os estudantes refli- alunos a entenderem melhor o mundo
tam, precisamos nos questionar: de que em que vivem, torná-los cidadãos crí-
maneiras eles têm lidado com o tema? ticos que conseguem.
Quais as dúvidas no trato com o di-
nheiro? Como a família participa disso? Entender as notícias veiculadas atra-
Quais influências a sociedade exerce? vés dos meios de comunicação, pre-
Qual o papel da escola nesse processo? pará-los para ingressar no mundo do
trabalho, consumir, questionar, inda-
Os conceitos ligados ao dinheiro e às gar sobre seus direitos e analisar quais
finanças são importantes para uma os seus deveres.
melhor compreensão dos estudantes
quanto ao meio em que estão inse- Nesse sentido, é notória a necessidade
ridos e saber lidar com eles constitui de preparar nossos estudantes para
fator de inclusão e pode ajudar em entenderem de maneira consciente o
transformações sociais, como aponta planejamento financeiro. Assim, este
Oliveira (2007, p.20): tema busca desenvolver conhecimen-

109
tos, habilidades e competências na re- à manipulação do consumo e o seu
lação com o dinheiro e com o consumo, impacto no meio ambiente.
possibilitando que os jovens aprendam
a lidar com finanças para tornarem-se Tendo em vista a importância de com-
adultos mais aptos a administrar suas preender e de aprender a realizar um
vidas financeiras de forma responsável. bom planejamento financeiro para aju-
dar as famílias, as empresas e até os fu-
Além disso, visa despertar no estudan- turos empresários a levarem uma vida
te um olhar sobre a importância de se economicamente mais saudável, os
preparar para o futuro ao desenvolver estudantes poderão realizar pesquisas
a compreensão de que as decisões de sobre como planejar as finanças e rea-
hoje afetam o amanhã, em todas as lizar investimentos financeiros e planos
dimensões (social, individual, familiar), de negócios. Com isso, aplicarão co-
passando pelo planejamento pessoal, nhecimentos para criar soluções viáveis
pela conservação e o correto uso dos para cada realidade encontrada, como
recursos naturais. planilhas de gerenciamento financeiro,
planos de negócios, relatórios de ati-
Assim, este tema tem como objetivos: vidades de investimento, entre outras
ferramentas que possam facilitar o pla-
• Ajudar os jovens a conhecer os as- nejamento, respondendo aos questio-
pectos financeiros inseridos em nossa namentos “Como fazer? ”, “Por onde co-
sociedade, nas diversas dimensões, meçar? ”, “Qual é o caminho a seguir? ”.
tais como os fatores culturais, históri-
cos e sociais relacionados a esse co- Também será possível explorar aspec-
nhecimento; tos que possam levar os estudantes
a estimular o consumo consciente na
• Ampliar as perspectivas dos estu- família e na comunidade por meio de
dantes por meio do conhecimento da desafios que contemplem a dimensão
realidade financeira, do planejamento das consequências sociais e ambien-
e da reflexão sobre seus sonhos (fi- tais do consumismo, além de levá-los
nanceiros ou não) e também reper- a compreender a linguagem do uni-
cutir mudanças práticas para a vida verso econômico e financeiro para que
financeira de suas famílias; atuem de maneira mais crítica e refle-
xiva na sociedade em que vivem.
Criar uma base para formação de cida-
dãos críticos no que diz respeito aos
possíveis sonhos, materiais ou não, e Contextualização
suas possibilidades de realização em Il soldi no trarre la felicita. Chi dirà la miseria!
nossa sociedade; além de indivíduos
(O dinheiro não traz a felicidade. Quem
conscientes quanto às influências, es-
dirá a miséria!)
pecialmente da mídia, no que se refere

110
Nos dias atuais, o envolvimento de dizados ao considerarmos a educação
crianças e jovens na situação finan- financeira um tema de extrema impor-
ceira de suas famílias está cada vez tância para a vida dos estudantes.
maior. A maioria deles já sonha com a
futura profissão, com o próximo celu- Para contextualizar o que se preten-
lar, ou mesmo com o tênis de presente de com este tema, é necessário con-
no Natal. A propaganda na TV, muitas siderar as diversas dimensões que o
vezes, é direcionada ao público infan- conhecimento de aspectos financeiros
tojuvenil e as lojas por toda parte in- pode proporcionar ao jovem cidadão:
dicam as ‘facilidades’ de pagamento e
de crédito em produtos que agradam • a dimensão individual que esses co-
a esse público, despertando desejos nhecimentos podem atingir: os sonhos
de consumo. de consumo, os gastos diários, a me-
sada, a poupança, entre outros;
Antigamente, falar de dinheiro era as-
sunto proibido em muitas conversas • a dimensão familiar desses conhe-
de família, pois os adultos diziam que cimentos e o quanto podem interferir
isso era coisa deles. Mas hoje em dia, na vida dos seus integrantes: a renda
não falar sobre dinheiro com os mais familiar, as contas da casa, os desejos
jovens pode causar sérios problemas e sonhos materiais da família e os in-
financeiros familiares com aqueles que vestimentos;
sequer começaram a trabalhar.
• a dimensão social (em nível micro – o
Momentos de crise econômica, em bairro, o município; e macro – o estado,
especial, costumam afetar muitas fa- a nação, o planeta), por meio da par-
mílias; por isso, é importante saber ticipação cidadã nos ambientes públi-
planejar-se financeiramente e envolver cos: os impostos, os serviços públicos,
todos os que vivem juntos, das crian- a preservação do ambiente, o não des-
ças aos mais idosos, para criar uma perdício, a consciência do coletivo no
cultura que possa ser expandida e se respeito ao que pertence a todos.
tornar um hábito familiar, de forma
que esse aprendizado ajude não só a O tempo também é algo a ser consi-
viver bem nos momentos de bonan- derado no aspecto financeiro. Ele rela-
ça, como também a se preparar para tiviza a importância da realização dos
períodos de turbulência econômica ou almejados sonhos de consumo, tran-
desemprego na família. sitando entre a necessidade imediata
e o que pode ser adiado e realizado
Assim, é interessante direcionar um com mais prudência. É importante
tipo de orientação que ainda não é desenvolver a consciência de que “o
muito incentivada nas escolas, mas presente contém situações que são re-
que pode refletir em grandes apren- sultados de decisões do passado. Do

111
mesmo modo, no futuro serão vistas PERCENTUAL DE FAMILIAS
as consequências das ações realizadas ENDIVIDADAS
(% DO TOTAL)
no presente.” (ENEF, p. 13)
(Entre cheque pré-datado, cartão de crédito,
carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de
Para tanto, o foco da temática estará carro e seguro)
em abordar aspectos reais dos estu-
63%
dantes, das suas famílias e dos meios 62% 61,7%
61,8%
62,2% 62,2%
61,3%
61,2% 61,2% 61,2%
sociais em que vivem, relacionando a 61%
60,2%
60,7%

60%
situação financeira com os seus so- 59,1%
59,6%

59% 58,6%

nhos de consumo, sua história e seus 58%

valores, além de avaliarem as escolhas 57%

56%
individuais sob o perfil da ética e da 55%

sustentabilidade, que interferem dire-


ago/17 out/17 dez/17 fev/18 abr/18 jun/18 ago/18

tamente no nível social. Disponível em: <http://cnc.org.br/sites/default/files/


arquivos/graficos_peic-_agosto_2018.pdf>.
Acesso em: 26 set. 2018.
Com esta temática, pretende-se desen-
volver habilidades e competências vol-
tadas ao orçamento pessoal e familiar, O percentual de famílias que relataram
apresentando as vantagens de se ter ter dívidas entre cheque pré-datado, car-
um planejamento financeiro, tratando tão de crédito, cheque especial, carnê de
de assuntos como juros, inflação, em- loja, empréstimo pessoal, prestação de
préstimos, impostos, consumismo, in- carro e seguro alcançou 60,7% em agos-
vestimentos, risco, uso consciente dos to de 2018, o que representa uma alta em
recursos naturais, economês, história da relação ao patamar observado em julho
economia, origem do dinheiro, impor- de 2018 – a segunda alta mensal con-
tância de administrar as finanças etc. secutiva. Entretanto, houve redução em
relação a agosto de 2017, quando o indi-

Desafios cador alcançou 61,2% do total de famílias.

A população empobreceu, segundo a Disponível em: <http://cnc.org.br/sites/default/files/ar-


quivos/analise_peic_-_agosto_2018.pdf>.
coordenadora de Contas Nacionais do Acesso em: 26 set. 2018.
Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística (IBGE), Rebeca Pais, ao analisar a
divisão do Produto Interno Bruto (PIB) O que pode ser feito para minimizar
pelo número de habitantes, o PIB per os impactos de problemas financei-
capita. De 2014 a 2016, o PIB per capita ros nas famílias brasileiras?
caiu 9,1%. No mesmo período, a popula-
ção cresceu 0,9% ao ano. Falta de gestão financeira ameaça mi-
Disponível em: <https://istoe.com.br/pib-per-capita-
croempreendedores
-acumula-que da-de-91-de-2014-a-2016-diz-ibge/#>.
Acesso em: 03 set. 2018.
[...]

112
Segundo estudo do Sebrae, 48% dos mi- Automóveis, geladeiras e eletrodomés-

croempreendedores individuais (MEIs, ticos em geral deixaram de ser privilégio

que faturam até R$ 81 mil ao ano) não dos ricos e estão à disposição de “quase

têm previsão de gastos e receita para o todos”. Vulgarmente se atribui esse “fenô-

mês seguinte. meno” à globalização. Na verdade, a glo-


balização pouco tem que ver com isso: ela
Um erro comum cometido por esse acelerou o consumo, mas criou complica-
grupo, e que pode levar à inadimplên- ções (CHIAVENATO, 2004, p. 40-41).
cia, é misturar as contas da empresa
com as finanças pessoais. Não raro, o Quais são as consequências da ace-
empreendedor paga despesas e emer- leração do consumo? Como o consu-
gências da família com a receita do mismo pode estar associado a pro-
negócio ou usa seu crédito para cobrir blemas financeiros nas famílias? E a
rombos no caixa da empresa. problemas sociais como o excesso de
lixo e a poluição do meio ambiente?
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mer-
cado/2018/09/falta-de-gestao-financeira-ameaca-mi- É notável a orquestração da grande
croempreendedores.shtml>. Acesso em: 26 set. 2018.
imprensa nas últimas semanas em tor-
no de temas da economia muito difí-
Que ferramentas ou ações podem ser
ceis de serem entendidos pela maioria
desenvolvidas para ajudar a evitar a
dos leitores. Os jornais, em coro, estão
problemas financeiros, como inadim-
pegando pesado contra investimentos
plência ou até mesmo a falência, de
do governo, que chamam de “gastos
pequenos empreendimentos? O que
públicos”, e no aumento do salário
é preciso considerar para realizar um
mínimo. Exigem, por exemplo, “ajuste
planejamento financeiro coerente
fiscal de longuíssimo prazo” e “auto-
com as necessidades?
nomia do Banco Central”.
Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/
revistas/02/quem-entende-o-economes>.
Acesso em: 10 set. 2018.

Quem entende o economês? O que a


falta de entendimento dessa lingua-
gem pode acarretar? Por que a gran-
de imprensa insiste em tratar de eco-
nomia em uma linguagem distante do
dia a dia da população?

113
Referências
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economiacomportamental.com.br/artigos-sobre-planejamento-financeiro/falta-de-plane-
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Disponível em: <http://istoe.com.br/8877_CONSUMO+QUANDO+O+DESEJO+DE+COM-
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lar-vendas-tem-queda-de-ate-40-16665616>. Acesso em: 26 set. 2018.

Indicações de consulta

Vídeos

Série Educação Financeira – A história do Dinheiro - BMFBovespa <http://www.youtube.


com/watch?-v=qh4Vn0I1R6w>. Acesso em: 26 set. 2018.

O perigo dos juros do cartão de crédito – Globo Repórter <http://g1.globo.com/globo-re-


portervideos/t/edicoes/v/economista-alerta-para-os-perigos-dos-juros-do-cartao-e-do-fi-
nanciamento/1850189/>. Acesso em: 26 set. 2018.

O valor do amanhã, do professor Eduardo Giannetti. (parte 1: 10min) <http://www.youtube.


com/watch?-v=C1SKCQGwE5g>. Acesso em: 26 set. 2018.

Série “O valor do amanhã” – ‘A cigarra e a formiga’: <https://www.youtube.com/watch?v=-


fKVzJwC7sPc>. Acesso em: 26 set. 2018

115
“Globo Repórter: Tecendo e Guardando” <https://globoplay.globo.com/v/1850192/>.
Acesso em: 26 set. 2018.

Breve história dos tributos: <https://www.youtube.com/watch?v=-V6vFtYmqHQ>. Acesso


em: 26 set. 2018

Conceito de autoengano (entrevista com Prof Educardo Gianetti da Fonseca): <https://


www.youtube.com/watch?v=NlTNtruUkNQ>. Acesso em: 26 set. 2018.

Tributos x serviços públicos no Brasil: <http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/


economia/2013/12/22/internas_economia,404345/mesmo-com-tributos-caros-brasil-pu-
ne-cidadaos-com-servicos-publicos-ruins.shtml>. Acesso em: 26 set. 2018.

“A verdade de cada um” (duração: 39min14s), da National Geografic. Disponível em: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=1aFFaMdgTN4>. Acesso em: 26 set. 2018.

“Yves de La Taille - Cultura da Vaidade e Consumo”. Disponível em: <https://www.youtube.


com/watch?- v=olZDw91CsuM>. Acesso em: 26 set. 2018

“A história das coisas (Consumismo, Sustentabilidade, Tóxicos, ‘’Mundo Moderno’’, Ca-


pitalismo)”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NfhVnDDWcro>. Acesso
em: 26 set. 2018.

Os Recursos Naturais do Mundo Não Estão a Esgotar-se – Matt Ridley. Disponível em:
<http://espectadorinteressado.blogspot.com/2014/04/os-recursos-naturais-do-mundo-
-nao-estao.html>. Acesso em: 26 set. 2018.

Banco Central – sobre a história do dinheiro, dos bancos, dos cartões etc. <http://www.
brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/08/educacao-financeira-do-banco-central>.
Acesso em: 26 set. 2018.

Site aborda o economês: <https://catracalivre.com.br/economize/economistas-criam-site-


-para-desmistifi- car-o-economes/>. Acesso em: 26 set. 2018.

116
HABEAS MENTES

Fonte: Thinkstock, 2019.

Apresentação do tema
De acordo com a máxima do jurista dania é necessário, fundamentalmen-
romano Ulpiano “Ubi homo ibi socie- te, conhecer os direitos e deveres do
tas; ubi societas, ibi jus” (Onde está cidadão. Isso implica reconhecer que
o homem, há sociedade; onde há so- as relações humanas são complexas
ciedade, há direito), a cada momento e intrinsecamente conflituosas. Nes-
significativo de nossas vidas – nascer, sa perspectiva, as regras, as normas
estudar, trabalhar, comprar e vender, e as leis podem ser entendidas tanto
morar, casar ou divorciar, consumir, como estratégias de manutenção de
empreender, viajar, até falir ou morrer poder do Estado quanto recursos para
– corresponde um conjunto de leis, re- garantir a coesão social e solucionar
gras e normas provenientes do Estado. os conflitos. No modelo de civilização
ocidental à qual somos tributários, tais
Um dos objetivos fundamentais da estratégias traduzem-se na codificação
educação é o preparo do jovem estu- das leis de um ordenamento jurídico.
dante para o exercício da cidadania,
que pressupõe a prática de exigir os Neste tema será abordado o tema
direitos e cumprir os deveres do cida- “Direito e Cidadania”, no qual se pro-
dão. Portanto, para o exercício da cida- põe a investigação dos impactos dos

117
direitos (fundamentais, humanos, ina- O sociólogo Emir Sader (2013), em sua
lienáveis, civis, sociais, políticos, traba- palestra no Fórum Mundial de Direitos
lhistas etc.) no exercício da cidadania Humanos, atribui esta violência cres-
no Brasil, no mundo e na comunida- cente no país à falta de uma cultura
de, proporcionando aos estudantes a em direitos humanos. Mas o que vem a
oportunidade de conhecer os direitos ser direitos humanos?
e deveres fundamentais para o exer-
cício de sua cidadania, além de reco- O IBGE aponta que 32,2% dos brasilei-
nhecer a especificidade da linguagem ros não têm acesso a serviços básicos
do universo jurídico presente no coti- - água, esgoto, coleta de lixo e energia
diano. Dessa forma, espera-se que se- elétrica; que cerca de 4,8 milhões de
jam capazes de propor ações que pro- crianças até 14 anos estão seriamente
movam, principalmente, a cultura dos expostas a riscos de doenças por resi-
direitos humanos, por meio da elabo- direm em domicílio sem estrutura de
ração de um projeto de intervenção na saneamento básico ou em condições
realidade local. inapropriadas. Aponta, ainda, que em
2011 mais de 111 milhões de brasileiros
(58,4% da população) apresentaram
Contextualização
ao menos um tipo de carência social:
Segundo o Instituto de Pesquisas Eco- atraso educacional, qualidade dos do-
nômicas Aplicadas (Ipea), no Brasil, micílios, acesso à seguridade social.
no período de 2001 a 2011, estima-se
que ocorreram mais de 50 mil femini- Estes dados nos apresentam uma pe-
cídios, o equivalente a 5.000 mortes quena parcela da violência em relação
por ano, em decorrência da violência aos direitos que são negados a milha-
doméstica e familiar contra a mulher. res de brasileiros e brasileiras na con-
Por conta deste cenário, em 9 de mar- temporaneidade.
ço de 2015 foi publicada a lei 13.104,
que inclui no art. 121 do Código Penal Araújo (2007) citando Tugendhat
Brasileiro (que define homicídio), a (1999) afirma que o comportamento
qualificação do crime de feminicídio. moral e ético consiste em reconhecer
o outro como sujeito de direitos iguais.
Não podemos deixar de salientar Assim, demonstra que todos os seres
que, juntamente com este grupo de humanos, independentemente de suas
mulheres, temos ainda a violência peculiaridades e papéis na sociedade,
praticada contra negros, índios, ho- têm determinados direitos simples-
mossexuais, certos grupos políticos mente por serem humanos. Corrobo-
e religiosos e outras minorias, bem rando este pensamento, temos a Decla-
como contra o grupo social menos ração Universal dos Direitos Humanos,
favorecido economicamente. que foi elaborada pela Organização
das Nações Unidas (ONU), a qual re-

118
conhece três dimensões dos direitos nos que os brancos pela mesma fun-
humanos: as liberdades individuais ou ção, segundo dados da Organização
o direito civil; os direitos sociais; e os Internacional do Trabalho.
direitos coletivos da humanidade.
No início da República, as mulheres
Assim, para que possamos promover conquistaram o direito ao voto. Mas
uma educação ética voltada para a seguem sendo um grupo pequeno no
cidadania, devemos partir de temas Congresso Nacional, nas Assembleias
significativos do ponto de vista ético, e Câmaras de Vereadores, sem falar
propiciando condições para que os es- de cargos executivos e no Poder Ju-
tudantes desenvolvam sua capacidade diciário. Poucos partidos possuem
dialógica, tenham condições de com- políticas claras para garantir a quan-
preender seus próprios sentimentos e tidade de candidatas previsto em lei
emoções e desenvolvam a autonomia e dar a elas a mesma competitivida-
para a tomada de decisão em situa- de que a dos homens e, por isso, têm
ções de conflitos (ARAÚJO, 2007). sido punidos pela Justiça Eleitoral.
Isso sem contar que são assediadas,
Outro ponto relevante na apropriação espancadas e mortas diariamente e
dos direitos e para o exercício da ci- ainda têm que ouvir de parcela da po-
dadania é a compreensão do sistema pulação que elas se “vitimizam’’.
jurídico e da própria letra da lei. O
desconhecimento do sistema jurídico No Congresso Nacional, propostas
e o embate entre grupos sociais e po- para o desmonte de mais de um sé-
líticos com interesses contraditórios culo de lutas republicanas seguem a
são fatores que podem explicar as todo vapor. Desmonte de direitos tra-
frequentes distorções e violações de balhistas (liberação da terceirização
direitos em nosso país e a falta de par- para qualquer atividade da empresa e
ticipação dos cidadãos em questões redução da idade mínima para poder
que impactam diretamente sua vida trabalhar de 14 para 10 anos), de direi-
cotidiana. Essa alienação pode redun- tos indígenas (transferência do poder
dar em perdas, em retrocessos em re- de demarcação de Terras Indígenas
lação aos direitos já conquistados em para deputados e senadores), de di-
lutas históricas em nosso país. reitos da infância e da adolescência
(redução da maioridade penal para 16
A escravidão no Brasil foi formalmente anos), de direitos civis (proibição de
abolida em 1888. Porém, nunca conse- adoções por casais do mesmo sexo),
guimos inserir a população libertada do direito à liberdade (alteração do
em plenos direitos e seus descenden- conceito de trabalho escravo contem-
tes continuam a ser tratados como porâneo para diminuir as possibilida-
carne de segunda, a sofrer todo o tipo des de punição), de direitos reprodu-
de preconceitos e a receber bem me- tivos (proibição do aborto nos casos

119
de estupro, risco de vida para a mãe e do senso comum que se tem do res-
má formação fetal), da seguridade so- pectivo direito. No entanto, a maior
cial (imposição de idade mínima de 65 parte dos direitos não é de tão fácil e
anos para aposentadoria) e da própria imediata compreensão para quem não
existência de um Estado social (impo- domina a linguagem jurídica, tornan-
sição de tetos para o crescimento de do-se inacessível ao cidadão comum
investimentos em áreas como educa- devido à especificidade da linguagem
ção e saúde). utilizada nos textos jurídicos. Vejamos
um exemplo de um texto extraído do
Na esteira deste processo, outro fator
Código do Processo Civil, art. 725:
que explica a alienação da população
aos próprios direitos é a especificida-
CAPÍTULO XV
de, o hermetismo da linguagem jurídi-
ca. Por exemplo, aquilo que, no senso
DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDI-
comum, é conhecido como “direito de
ÇÃO VOLUNTÁRIA
ir e vir”, um dos direitos fundamentais
do cidadão, está assim expresso na Processar-se-á na forma estabelecida
própria Constituição da República Fe-
nesta Seção o pedido de:
derativa do Brasil:
VI - Extinção de usufruto, quando não
Art. 5º, XV da CF - é livre a locomo-
decorrer da morte do usufrutuário, do
ção no território nacional em tempo
termo da sua duração ou da consoli-
de paz, podendo qualquer pessoa, nos
dação, e de fideicomisso, quando de-
termos da lei, nele entrar, permanecer
correr de renúncia ou quando ocorrer
ou dele sair com seus bens;
antes do evento que caracterizar a
Da mesma forma, um dos institutos ju- condição resolutória;
rídicos mais conhecidos por todos, o
habeas corpus, aparece assim definido Podemos dizer que muitas vezes, nem
no texto constitucional: mesmo a consulta ao dicionário per-
mite a compreensão plena do conteú-
Art. 5º, LXVIII da CF - conceder-se-á do do texto da lei, que geralmente diz
habeas corpus sempre que alguém so- respeito a situações cotidianas a que
frer ou se achar ameaçado de sofrer todos os cidadãos estão potencial-
violência ou coação em sua liberdade mente sujeitos.
de locomoção, por ilegalidade ou abu-
so de poder; O último texto, por exemplo, refere-se
ao procedimento adotado pela jurisdi-
Nos dois exemplos descritos é possível ção (juiz) em caso de extinção de usu-
observar uma clara correspondência fruto, que é uma espécie de “doação
entre o texto legal e o conhecimento em vida”. Usufruto é um procedimento
muito simples, mas não muito comum,

120
por ser desconhecido da população. O são sobre as exclusões geradas pelas
usufruto evita os altos custos de um diferenças social, econômica, psíqui-
inventário ou testamento quando da ca, física, cultural, racial, de gênero e
partilha da herança após o falecimen- ideológica, devem ser foco de ação
to do proprietário dos bens da família. das escolas. Buscar estratégias que se
traduzam em melhores condições de
Ninguém pode alegar desconheci- vida para a população, na igualdade
mento da lei para fugir a ela. (Ignoran- de oportunidades para todos os seres
tia legis non excusat). Ou seja, deve-se humanos e na construção de valores
procurar conhecer as leis o máximo éticos socialmente desejáveis é uma
possível a fim de exigir os seus direi-
maneira de enfrentar essas exclusões
tos ou não ser surpreendido pelo não
e um bom caminho para um trabalho
cumprimento, ainda que involuntário
que visa à democracia e à cidadania
de seus deveres, por exemplo, os tri-
(ARAÚJO, 2007).
butários. Esta é uma necessidade bá-
sica para o exercício da cidadania em
todos os aspectos da vida cotidiana. Desafios

Neste sentido, temos visto o desen-


volvimento de algoritmos e aplicativos
que se utilizam de alto poder de com-
putação e aprendizagem de máquina
para facilitar a operacionalização das
atividades correlacionadas às leis e
aos trâmites jurídicos, com o surgi-
mento de um novo tipo de startup, as
legaltechs. Elas desenvolvem sistemas
tecnológicos para a área jurídica, sen-
do algumas voltadas para facilitar o
trabalho dos advogados e outras para
facilitar o acompanhamento jurídico
pelo consumidor assim como a “tra-
dução” dos despachos jurídicos.

Pensar na construção de sociedades e


escolas inclusivas, abertas às diferen-
ças e à igualdade de oportunidades
para todas as pessoas é objetivo prio-
ritário da educação nos dias atuais.
O trabalho com as diversas formas
de deficiências e uma ampla discus-
Fonte: Thinkstock, 2019.

121
Qual a origem e quais são os direitos ocorrências reincidentes que agri-
humanos fundamentais? Quais são e dem a cultura de uma harmônica e
como atuam os órgãos e/ou institui- humanista convivência escolar, ge-
ções responsáveis pela garantia dos ram situações que comprometem
direitos civis, sociais e políticos dos sobremaneira a qualidade dos pro-
cidadãos brasileiros? cessos de ensino e de aprendizagem;

“O Brasil ainda tem sérios desafios • A implementação de uma cultura


pela frente para garantir o respeito de paz, na dinâmica de ambientação
aos direitos humanos, afirmou nes- escolar, subjacente ao desenvolvi-
ta quinta-feira (31/01) a organização mento de qualquer ação ou projeto
internacional Human Rights Watch previsto na proposta pedagógica,
(HRW) em um relatório que analisou a deverá perpassar todas as atitudes e
situação em mais de 90 países5”. as relações humanas presentes nos
segmentos de ensino desenvolvidos
Que situações de violação de direi- pela unidade escolar,
tos podem ser verificadas em nossa
comunidade? O que podemos fazer Resolve:
para contribuir com a defesa dos di-
reitos em nossa comunidade? Artigo 1º – O Projeto Mediação Escolar
e Comunitária, instituído pela Resolu-
A Secretaria da Educação do Estado ção SE 41, de 22-9-2017, com a finali-
de São Paulo publicou a Resolução SE dade de implementar a cultura de paz
8, de 31-1-2018 pela qual dispõe sobre o no interior da unidade escolar, median-
Projeto Mediação Escolar e Comunitá- te ações que estimulem, incentivem e
ria, na rede estadual de ensino de São promovam a melhoria da qualidade
Paulo. Segue o texto inicial da norma: do processo de ensino-aprendizagem
na educação básica paulista, será im-
O Secretário da Educação, à vista do plementado na conformidade do que
que lhe representaram os responsá- dispõe a presente resolução.
veis pela coordenação e gestão geral
do Sistema de Proteção Escolar, ins- “A escola é palco de uma diversidade de
tituído pela Resolução SE 19, de 12- conflitos, sobretudo os de relacionamen-
2-2010, e considerando que: to, pois nela convivem pessoas de varia-
das idades, origens, sexos, etnias e con-
• Os significativos índices de dese- dições socioeconômicas e culturais, bem
quilíbrio no ambiente escolar, ana- como relações jurídicas empresariais.
lisados por esta Pasta, apontando Todos na escola devem estar preparados

5
CAULYT, Fernando. Direitos humanos no Brasil enfrentam sérios desafios, indica relatório. DW. 31 jan. 2013. Disponível em: <http://
www.dw.com/pt-br/direitos-humanos-no-brasil-enfrentam-s%C3%A9rios-desafios-indica-relat%C3%B3rio/a-16565801>. Aces-
so em: 10 out. 2016.

122
para o enfrentamento da heterogeneida- taurativas têm se revelado importantes
de, das diferenças e das tensões próprias nas escolas para criar uma cultura de
da convivência escolar, que muitas vezes diálogo, de respeito mútuo e de paz. É
podem gerar conflitos, desarmonia e até importante ressaltar que elas não são

desordem. A escola também é encar- soluções para todos os problemas, mas

regada de formar valores e habilidades são ferramentas úteis a possibilitar uma

para a convivência e deve se preparar melhoria nos relacionamentos. Elas le-

para trabalhar os conflitos que nela ocor- vam a mudanças diretas no campo das

rem. Muitos desses compõem o cotidiano inter-relações, mostram aos envolvidos

dos nossos alunos e constituem práticas uma abordagem inclusiva e colaborativa,

saudáveis para o desenvolvimento huma- que resgata o diálogo, a conexão com o

no, tais como os conflitos nas brincadei- próximo, a comunicação entre os atores

ras, nos jogos, nas práticas esportivas, en- escolares, familiares, comunidades e re-

tre tantos. Por outro lado, alguns tomam des de apoio, buscam a restauração das

rumos indesejados nas relações inter- relações; guiam as pessoas a lidar com
os conflitos de forma diferenciada, pois
pessoais e transformam-se em agressi-
ao desafiar tradicionais padrões puni-
vidades, atos de indisciplina, indiferença,
tivos, passa-se a encarar os conflitos
depredação do patrimônio escolar, ati-
como oportunidades de mudança e de
tudes de preconceitos e discriminações.
aprendizagem, ressaltando os valores da
Diversas são as práticas restaurativas que
inclusão, do pertencimento, da escuta
podem ser utilizadas no contexto escolar,
ativa e da solidariedade.”
entre outras, o diálogo e o perguntar res-
taurativo, a mediação escolar, a mediação
Disponível em: <https://www.imediatajuris.com.br/me-
de pares, os encontros restaurativos, os diacao-escolar>.
Acesso em 25.set.2018 (adaptado)
círculos de paz e de diálogo e os círculos
restaurativos. As Práticas Restaurativas
Que instituições públicas e/ou priva-
originaram-se do modelo de Justiça Res-
das atuam na área da defesa e pro-
taurativa, cuja filosofia surgiu inicialmen-
moção dos direitos em nossa comuni-
te dentro do campo da justiça criminal e
dade? Como tais instituições atuam?
basearam-se em práticas oriundas de co-
Como acessá-las? Como nossa escola
munidades indígenas, principalmente do
lida com os conflitos? Quais ações
Sudeste Asiático e do Canadá.
podem ser implementadas para que
os conflitos na escola sejam minimi-
Hoje as Práticas Restaurativas são reco-
zados? Como implementá-las?
mendadas pela ONU e estão ganhando
reconhecimento e aplicação na área da
Historicamente a capoeira foi com-
Educação e em outros campos da vida
preendida como algo vulgar e crimi-
social. No Brasil, diversas redes munici- nosa, praticada por vândalos e pes-
pais e estaduais de ensino têm incen- soas de má índole. Abaixo o trecho da
tivado a sua implantação e ampliação. lei que criminalizava seu praticante:
Os princípios e valores das práticas res-

123
Capítulo XIII - Dos vadios e capoeiras sileira, direitos humanos e civilidade
aos alunos da rede pública e demais
Art. 402. Fazer nas ruas e praças pú- membros da comunidade.
blicas exercício de agilidade e destre-
za corporal conhecida pela denomina- O objetivo do projeto, através das au-
ção Capoeiragem: andar em carreiras, las sobre a Constituição Federal Bra-
com armas ou instrumentos capazes sileira, é expandir a noção cívica dos
de produzir lesão corporal, provocan- nossos estudantes, ensinando-lhes
do tumulto ou desordens, ameaçando sobre seus direitos e deveres consti-
pessoa certa ou incerta, ou incutindo tucionais, para que tenham uma base
temor de algum mal; educacional sólida para compreen-
der a importância de ser um cidadão
Pena de prisão celular de dois a seis consciente. A compreensão da Consti-
meses. tuição Federal Brasileira é importante
(Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890) pois ela serve de base para todas as
outras leis e ordenamentos que os es-
Contra quais povos estão sendo ne- tudantes deverão seguir ao longo de
gados seus direitos? Qual relação de suas vidas.
poder está sendo travada e quais os
grupos hegemônicos à época? Como Com isso, visamos dar informação e
a lei estava sendo interpretada? Como conhecimento aos jovens estudantes
tais discursos perduram até os dias para que eles possam desenvolver
atuais? Existem outros grupos sendo um pensamento crítico com pro-
criminalizados atualmente na socie- priedade e possam compreender a
dade por difundirem sua cultura? sociedade em que vivem. Além disso,
promovemos palestras e captação de
O Projeto “Constituição na escola” recursos para bolsas de estudos para
consiste na realização de aulas exposi- proporcionarmos oportunidades de
tivas sobre a Constituição Federal Bra- crescimento pessoal e profissional aos
jovens estudantes.

Disponível em: <https://constituicaona-


sescolas.com.br/projeto/> Acesso em:
13.set.2018

Como conhecer mais as leis


e os direitos que temos para
podermos exigi-los e assim,
exercermos efetivamente a ci-
dadania?

124
A lei 7.802/89 regulamenta atualmen-
te a forma como o país aprova, produz
e comercializa agrotóxicos, mas o de-
bate acerca do seu uso expõe a falta
de consenso entre ambientalistas e
ruralistas, envolvendo não só a área da
agricultura, mas também da seguran-
ça alimentar, da saúde e do meio am-
biente. Se por um lado os agrotóxicos
causam milhares de mortes por ano no
mundo, causadas pela manipulação
indevida do produto, inalação devido
à pulverização aérea e ingestão por
alimentos ou água contaminados, por
outro lado os produtores apontam que
o uso de defensivos agrícolas é fun-
damental para garantir produtividade
no campo e dar conta da demanda
crescente de alimentos em razão do
Fonte: Thinkstock, 2019.
aumento da população mundial.
Como a violação de direitos pode afe-
tar a saúde, a economia, a educação Quais substâncias utilizadas como
etc.? Há dados quantitativos sobre pesticidas são seguras e podem ser in-
essas violações? O que esses dados geridas pela população? Quais órgãos
revelam? O que é possível fazer para autorizam o uso dos agrotóxicos no
diminuir os danos dessas violações? Brasil? Como o uso dos agrotóxicos no
campo pode atingir a
saúde de quem vive
nas cidades? Quais
interesses entram em
conflito no tocante ao
uso de agrotóxicos?

Antonin Artaud cunhou


o termo CsO (corpo
sem órgãos), o qual
pode ser concebido
como um modo de
ser, um modo de pro-
dução da existência, a

125
produção de um corpo mais vivo, mais Referências
intenso, mais pleno. O CsO diz respei-
ALGARVE, Bruno. Automação no Direito
to à reinvenção da própria vida, diz
- Um novo tipo de startup, as legaltechs,
respeito à produção da singularidade,
desenvolve sistemas tecnológicos para
a produção de si mesmo. No entanto,
a área jurídica. Revista Pesquisa Fapesp,
para que tal produção ativa ocorra é
Ed.271, 2018. Disponível em: <http://revis-
preciso desconstruir o corpo criado tapesquisa.fapesp.br/2018/09/18/auto-
para servir aos poderes do campo macao-no-direito/>. Acesso em: 28 set.
social... “Trocamos a liberdade pela 2018.
segurança e proteção, mas não sem
vigilância e punição. O mundo criado ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA
por nós é, sem dúvida, uma imensa SDH/PR. A violência permanece devi-
gaiola e é a vida que jaz dentro dela, a do à falta de cultura em Direitos Huma-
nos. In: FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS
vida dos homens e a de todos os ou-
HUMANOS. 13 dez. 2013. Disponível em:
tros seres” (SHOPKE, 2012, p.271).
<http://fmdh.sdh.gov.br/index.php/noti-
cias/347-debate-8-a-violencia-permane-
Como afirma Deleuze e Guattari (2012,
ce-devido-a-falta-de-cultura-em-direitos-
p. 13): “Encontre seu corpo sem ór-
-humanos>. Acesso em: 10 out. 2016.
gãos, saiba fazê-lo, é uma questão de
vida ou de morte, de juventude e de BRASIL. Constituição da República Fede-
velhice, de tristeza e de alegria. É aí rativa do Brasil. Palácio do Planalto. Dis-
que tudo se decide”. ponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicaocom-
Neste contexto, compreendemos o di- pilado.htm> Acesso em: 28 nov. 2016.
reito, em sua dimensão normativa na
BRASIL e EUA: terrorismo de Estado
busca pela justiça, como uma dessas
ontem e hoje. Diário Liberdade, 2014.
gaiolas que nos enredam no campo
Disponível em: <http://www.diarioliber-
social. Como podemos então produ-
dade.org/brasil/repressom-e-direitos-hu-
zir potência de vida e “desengaiolar”
manos/53076-brasil-e-eua-terrorismo-
o humano desta trama hermética, -de-estado-ontem-e-hoje.html>. Acesso
produzindo em nós o CsO? É possí- em: 28 nov. 2016.
vel? Como isso se daria?
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs. São
Paulo: Editora 34, 2012.

FARIA, Leopoldino. A leitura da senten-


ça de Tiradentes. In: PAULA, Eduardo de.
Conhecendo Gonzaga. Sumidoiro. 01 jan.
2015. Disponível em: <https://sumidoiro.
wordpress.com/2015/01/01/tomas-gonza-
ga-liras-marilia-dirceu-tiradentes-incon-

126
fidentes-autos-devassa-degredo-claudio-manuel-costa-al-varenga-peixoto-cartas-chile-
nas-carreira-india-mocambique-cabaceira-grande-pequena-marialva/>. Acesso em 16 nov.
2016.

O QUE não podemos esperar deste próximo Governo Dilma na área de direitos humanos.
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SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA (SESI-SP). Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de


Ensino. São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

SCHOPKE, Regina. Corpo sem órgãos e a produção da singularidade: A construção da má-


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VASCONCELOS, Yuri. Agrotóxicos na berlinda. Revista Pesquisa Fapesp. Edição 271, se-
tembro de 2018. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/09/18/agrotoxicos-
na-berlinda/>. Acesso em: 19 set. 2018.

127
INVENTAR E CRIAR: E SÓ COMEÇAR!

Fonte: Thinckstock, 2016.

Apresentação do tema
“Os inventores mudaram o planeta que Devem-se levantar problemas do coti-
temos. Conquistadores de tudo que um diano entre os estudantes e, a partir de
dia seremos [...]. Os inventores criaram pesquisas e observações do entorno
um mundo melhor com seus inventos escolar, ou até mesmo da cidade em
feitos de amor e suor, eles sonharam e que vivem, propor as invenções que
fizeram do sonho um caminho que nos poderão ser criadas por eles. Se os es-
leva ao futuro e que nos faz voar.” tudantes tiverem dificuldades, o pro-
Canção: Les Découvreurs - Lisbet Gillan
fessor poderá auxiliá-los nessa tarefa.

E o mundo que teremos? O tema su- A invenção não precisa ser construída,
gere colocar os estudantes no papel mas deve ter um projeto com todas
de investigadores e pesquisadores, as suas etapas e, se possível, uma ma-
para que, ao final, com o estudo da quete ou protótipo, tendo como foco
história da ciência, e de algumas in- a melhoria de algum aspecto observa-
venções que mudaram a história e do e pesquisado durante o ano.
auxiliaram a vida das pessoas, criem
O grande desafio está em inventar ou
suas próprias invenções.
inovar algo que melhore a vida de al-

128
guém próximo; pode ser um colega o uso de ferramentas básicas cons-
com dificuldades ou deficiência, pode truídas com o auxílio de pedras afia-
ser um parente em seus afazeres do- das. Sem nenhuma metodologia, eles
mésticos ou mais específicos da área perceberam que poderiam moldar as
em que trabalha, como por exemplo no pedras e utilizá-las como instrumento
escritório, na fábrica ou em uma mecâ- de proteção e de caça. Embora sim-
nica de carros, entre outros locais. ples quando comparadas com outras
invenções conhecidas como o telefo-
Por onde começar? Essa deve ser a ne e a eletricidade, essas ferramentas
pergunta que os estudantes estarão auxiliaram nossa espécie a começar
se fazendo ao receber a tarefa de de- a moldar o mundo ao seu redor, por
senvolver o tema deste guia durante meio da caça ou da produção de rou-
o ano. Mobilize os estudantes a pen- pas e do corte de árvores.
sar como os inventores citados aqui e
outros, que poderão ser apresentados Já mais recentemente, Galileu Galilei
a eles. Esses grandes inventores apre- construiu o primeiro telescópio para
sentavam algumas habilidades em observações astronômicas. Com sua
comum, como as de observar o que habilidade experimental, introduziu ao
ocorre ao seu redor, de se questio- método científico uma característica
nar, de perceber que seriam capazes indispensável, além da observação,
de melhorar o que os incomodava e, para a explicação de fenômenos: é
claro, de entender que as tentativas e preciso validar as observações e teo-
os erros fazem parte de toda busca de rias com experimentos metodicamen-
criação e melhoria. te constituídos.

Leonardo da Vinci atuou em várias


Contextualização áreas, como pintor, escultor, arquite-
Ao se pensar em invenção, logo vêm à to, engenheiro, matemático, fisiólogo,
cabeça algumas figuras como Albert químico, botânico, geólogo, cartógra-
Einstein, Galileu Galilei, Nikola Tesla, fo, físico, mecânico, anatomista, escri-
Leonardo da Vinci, entre tantos outros. tor, poeta e músico. Suas invenções,
Porém, não paramos para analisar que porém, ficaram no papel, pois ele so-
os primeiros seres humanos foram os mente as projetava; não as construía
nossos grandes inventores, pois eles nem testava sua funcionalidade (HIS-
perceberam que precisavam de fer- TÓRIA DIGITAL, 2016).
ramentas para sobreviver, fosse para
se defender, fosse para caçar animais Finalmente podemos mencionar San-
maiores que eles ou para produzir fogo. tos Dumont, o grande inventor brasi-
leiro. Ele é conhecido aqui no Brasil
Entre as descobertas mais importan- como o pai da aviação, porém em sua
tes feitas pelos primeiros seres huma- vida projetou e criou muitos objetos
nos durante o Período Paleolítico está que até hoje são utilizados no mundo

129
inteiro. Segundo a Fundação Santos No dicionário Houaiss, o verbete “in-
Dumont, ele foi o primeiro a instalar venção” é definido como descoberta
trens de pouso nos aviões, criou o ou criação, decorrente de estudo ou
hangar para guardar os aviões para experimento, de algo com utilidade
realizar as manutenções, além de ter social. O Instituto Brasileiro de Merca-
criado as portas corrediças, utilizadas dos (IBMEC, 2016) conceitua invenção
no mundo inteiro (FUNDAÇÃO SAN- como o resultado de uma atividade
TOS DUMONT, 2016). tecnológica que tem por objetivo a
resolução de um problema prático. Há
Muitas são as invenções que nos auxi- ainda que se conceituar o termo ino-
liam no dia a dia e que foram desenvol- vação, que é diferente de invenção.
vidas por pessoas comuns, como o es- Segundo o IBMEC, a inovação tem por
corredor de arroz, criado pela cirurgiã objetivo a exploração comercial de
dentista Therezinha Beatriz Alves de uma invenção, tecnologia, produto ou
Andrade Zorowich, que estava cansa- processo. Sua motivação é econômica.
da de ver o ralo da sua pia sempre en-
tupido, ou o filtro de papel, inventado É inegável a potencialidade de estudan-
graças à Sra. Melitta Bentz, inconfor- tes do ensino básico em se iniciarem
mada com o gosto desagradável que nas práticas investigativas. Uma das
o tradicional coador de pano deixava perguntas mais frequentes das crianças
em seu café; disso nasceu uma fábrica nos anos iniciais e finais do ensino fun-
de filtros de papel. damental é: “Por quê”? Elas possuem
uma curiosidade em saber a origem e
As invenções podem surgir tanto causa dos fenômenos, e se sentem esti-
da necessidade de criar algo para muladas a explorar e investigar.
nos auxiliar nas tarefas do cotidiano
como também podem ser frutos de Assim, este tema pretende incitar
uma mente que enxerga possibilida- essa curiosidade e a necessidade de
des onde ninguém as viu, como a de investigar e explorar para que, a par-
Leonardo da Vinci. Segundo Siquei- tir da história da ciência, dos invento-
ra (2007), os inventores são pessoas res e de seus inventos, os estudantes
que combinam duas habilidades fun- se sintam intrigados e estimulados
damentais. A primeira é a de identifi- a produzir suas próprias invenções
car oportunidades nos problemas ou para facilitar e melhorar nossas ações
nas coisas que não funcionam bem e do dia a dia, seja nas tarefas de casa,
precisam ser melhoradas. A segunda seja nas da escola ou de algo mais
habilidade é a de olhar à sua volta e abrangente para a melhoria da comu-
identificar princípios que podem ser nidade em geral.
extraídos de eventos naturais ou de
objetos existentes e aplicá-los à solu- Segundo o Referencial Curricular do
ção de problemas. Sistema SESI-SP de Ensino, há uma

130
preocupação do ensino de Ciências Eixo conforme os rumos da pesquisa:
em propiciar condições para a proble-
matização da realidade, a formulação As descobertas permitidas pelas in-
de hipóteses sobre os fenômenos, o venções trouxeram mudanças ex-
planejamento e a execução de inves- traordinárias para a sociedade, tanto
tigações, a análise de dados e a crí- em seu modo de ver o mundo quanto
tica. Ainda é considerado como uma em realizar as tarefas cotidianas. Por
linguagem para ser desenvolvida, que outro lado, muitos objetos que pare-
permitirá ao estudante interagir de ciam extremamente úteis à primeira
vista mostraram-se não só desneces-
maneira mais ativa com o mundo que
sários, mas até prejudiciais.
o cerca, construindo uma nova men-
talidade sobre ele, destacando a va-
Será que todos os objetos de que
lorização dos seus procedimentos e
necessitamos para nosso dia a dia já
atitudes (SESI-SP, 2016, p. 186).
foram inventados? O que define a ne-
cessidade de um objeto?
O tema apresentado neste guia pro-
porciona aos estudantes um trabalho Se fizéssemos todas aquelas coisas de que
de investigação para a identificação de somos capazes, nós surpreenderíamos a
nós mesmos. (Thomas Alva Edison).
problemas e a busca de soluções para
eles. Neste caso, por meio da invenção
O periódico El País, em artigo sobre os
de algo novo, ou de uma inovação para
geeks brasileiros, afirma que seus pro-
a comunidade escolar e do entorno.
jetos vão desde uma rede de denúncia
dos problemas das cidades até ferra-
Se os inventores criaram um mundo
menta que agrega informações sobre
melhor, será que um estudante do en-
vários vestibulares.
sino básico seria capaz de criar algo
novo que melhore a vida de alguém
Quais são as motivações que levam as
próximo dele? pessoas a pensarem em novos objetos,
ferramentas ou procedimentos? Quais
Desafios são as forças sociais que favorecem ou
A criatividade dos estudantes será pri- bloqueiam o desenvolvimento de novas
mordial para o desenvolvimento deste ideias? O que um município pode fazer
Eixo. Os questionamentos, as hipóteses para minimizar esses bloqueios e favore-
e as soluções dos estudantes devem ser cer o desenvolvimento de novas ideias?
incentivados e aprimorados no decor-
Muitas ideias boas morrem no papel,
rer dos trabalhos de criação e inovação.
por diferentes motivos, pois são muitas
A seguir, alguns desafios são apresen- as etapas necessárias para se produzir
tados como disparadores dos traba- um novo invento a partir da ideia origi-
lhos, mas outros desafios poderão sur- nal motivada por uma necessidade ou
gir no decorrer do desenvolvimento do um desejo. Empreender não é fácil.

131
Assim sendo, como desenvolver um objeto, ferramenta ou procedimento que
melhore a vida ou contribua para a solução de um problema real? Como superar
as dificuldades técnicas ou desafios encontrados ao longo do desenvolvimento
da ideia, desde a inspiração inicial até a sua produção?

Referências
MAZZEI, Carlos. Inventei! E agora? Como ganhar dinheiro com uma boa ideia. Coleção
EUREKA. São Paulo: [s.n.], 2003.

FUNDAÇÃO SANTOS DUMONT. Curiosidades. Disponível em: <http://www.santosdumont.


org.br/internas.php?menu=7877&interna=39240>. Acesso em: 17 out. 2016.

HISTÓRIA DIGITAL. 10 grandes invenções de Leonardo Da Vinci. Disponível em: <https://


historiadigital.org/curiosidades/10-grandes-invencoes-de-leonardo-da-vinci/>. Acesso em:
18 out. 2016.

CRIATIVIDADE APLICADA. Desvendando o segredo dos grandes inventores. 26 mar. 2007.


Disponível em: <http://criatividadeaplicada.com/2007/03/26/desvendando-o-segredo-
-dos-grandes-inventores/#comments>. Acesso em: 18 out. 2016.

FAPEMA. Patentes. Disponível em: <http://www. fapema.br/patentes/site/Principal.php?s-


tr_link=txt_ Modelo.php>. Acesso em: 19 out. 2016.

HOUAISS. Dicionário eletrônico. Versão monousuário 1.0. Editora Objetiva, junho de 2009.

IBMEC. Descoberta invenção e inovação. Disponível em: <http://ibmec.org.br/geral/desco-


berta-invencao-e-inovacao/>. Acesso em 20 out. 2016.

SESI-SP. Referencial Curricular do Sistema SESI-SP de Ensino: Ensino Fundamental. 1 ed.


São Paulo: SESI-SP Editora, 2016.

Indicações de consulta
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE INVENTORES. Disponível em: <http://inventores.com.br/>.
Acesso em 18 out. 2016.

MUSEU DAS INVENÇÕES. Disponível em: <http://www.museudasinvencoes.com.br/>.


Acesso em: 17 out. 2016.

OS INVENTORES - Série de desenhos sobre os inventores. YouTube. Disponível em: <ht-


tps://www.youtube.com/watch?v=9yxoQbv0xaI>. Acesso em: 04 out. 2016.

EL PAÍS. As principais inovações dos ‘geeks’ brasileiros. Disponível em: <http://brasil.el-


pais.com/brasil/2014/01/30/tecnologia/1391100016_113850.html>. Acesso em: 16 dez. 2016.

132
LET’S PLAY!
JOGO E IMPROVISAÇÃO

Fonte: Thinkstock, 2016.

Apresentação do tema
Este tema abordará o jogo nas suas será abordado em suas diversas fa-
diversas perspectivas. Os jogos pos- cetas, como: necessidade humana de
suem um sentido em si mesmos e fa- interação e fantasia, trabalho com os
zem parte da vida do homem desde movimentos corporais, promoção do
os primórdios de sua história. O jogo conhecimento das linguagens artísti-
permite que nos afastemos de nossa cas como os jogos teatrais, de criação
vida cotidiana, possui regras próprias musical etc. E também para a vivência
e proporciona prazer para seus par- de experiências lúdicas.
ticipantes, despertando o interesse,
a concentração, o entusiasmo e a es- Nesse sentido, o objetivo do tema é
pontaneidade de crianças e jovens. que os estudantes sejam desafiados
a pesquisar os aspectos culturais dos
Dessa forma, o jogo pode ser tanto jogos em diferentes sociedades, as ca-
um conteúdo quanto uma estratégia racterísticas de regras historicamente
a ser utilizada para a aprendizagem modificadas e até quais são os proces-
de todos os componentes curriculares sos envolvidos para a composição de
de uma maneira mais efetiva. No de- jogos originais, considerando os dife-
senvolvimento desta temática, o jogo rentes pontos observados.

133
Assim, os estudantes serão estimula- um facilitador do estudo que favore-
dos a aprender tanto conteúdos con- ce o desenvolvimento da inteligência
ceituais relacionados ao jogo e sua re- (NALLIN, 2005).
lação com diferentes culturas, quanto
conteúdos atitudinais, como coope-
ração, empatia, trabalho em grupo e
solidariedade.

Contextualização
A existência do jogo não está ligada a
qualquer grau determinado de civiliza-
ção, ou a qualquer concepção do uni-
verso. Todo ser pensante é capaz de en-
tender à primeira vista que o jogo possui
Detalhe da obra “Jogos infantis” de Brueguel. Dispo-
uma realidade autônoma, mesmo que nível em: <https://mibufc.wordpress.com/2012/08/28/
em-nossa-exposicao-atual-quadro-de-pieter-brueghel-
em sua língua não possua um termo ge-
-jogos-infantis-o-velho-1560-kunsthistorissches-mu-
ral capaz de defini-lo (Johan Huizinga). seum-de-viena/> Acesso em: 21 nov. 2016.

O jogo acompanha a humanidade des-


de os seus primórdios. Há indícios de Mas, tendo o jogo acompanhado o de-
sua presença desde o tempo pré-his- senvolvimento da humanidade e per-
tórico em pinturas rupestres. No Egito manecido no cotidiano de crianças,
Antigo, também há registros de jogos jovens e adultos até os dias de hoje,
e brinquedos como bonecas fazendo será que ele cumpre apenas a função
parte do cotidiano. No século XVI, de lazer e passatempo? Teria o jogo
em Roma e na Grécia, os jogos eram outra função?
utilizados com o propósito de ensinar
letras. Com o início do cristianismo, o Dentre as várias teorias que refletem
interesse pelos jogos decresceu, pois sobre a função do jogo, duas se des-
passou a ser buscada uma educação tacam:
disciplinadora, de memorização e
obediência. • A teoria psicanalítica de Freud
(1856-1939). O autor utilizou o jogo em
Assim, durante muito tempo, o jogo seus processos de cura de crianças.
foi desvalorizado e considerado nefas- Em suas pesquisas, o pai da psicanáli-
to, inútil. Logo após o Renascimento, se observou que o desejo da criança é
o jogo foi privado dessa visão de cen- que determina o comportamento dela
sura e entrou no cotidiano de todas as diante dos brinquedos: cria um mundo
crianças, jovens e até adultos como di- próprio, repete experiências que ain-
versão, passatempo, distração, sendo da não dominou, busca identificações,

134
exerce autoridade sobre os seus brin- meio do jogo, o estudante mostra toda
quedos, entre outras; sua espontaneidade, sem medo de jul-
gamentos, o que justifica a presença de
• A teoria de Jean Piaget (1896-1980). jogos em processos criativos.
Estudando o desenvolvimento
da inteligência, ele colocou os
jogos como atividades indis-
pensáveis na busca do conheci-
mento pelo indivíduo. Para esse
autor, os jogos podem ser orga-
nizados da seguinte forma:

• Jogos de exercícios: ini-


cialmente surgem na for-
ma de exercícios motores
com finalidade prazerosa,
com o objetivo de explorar
e exercitar os movimentos
do seu próprio corpo;

• Jogos simbólicos: são jogos de


faz de conta, e seu objetivo é que
sejam usados para simbolizar ou Desafios
representar situações não perce-
O jogo faz parte da vida dos homens e
bidas no momento;
também dos animais. Conforme Brou-
gére (1998, p. 17), “os jogos e brinque-
• Jogos de regras: essas ativida-
dos são meios que ajudam a criança
des lúdicas implicam o uso de re-
a penetrar em sua própria vida tanto
gras nas quais há relações sociais
como na natureza e no universo”.
ou individuais em que aparece a
cooperação entre os indivíduos
Há um menino
(NALLIN, 2005).
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Podemos afirmar que o jogo carrega
Toda vez que o adulto balança
em si um significado muito abrangente.
Ele vem pra me dar a mão
É construtivo porque pressupõe uma
[...] Bola de meia, bola de gude
ação do indivíduo sobre a realidade.
O solidário não quer solidão
É carregado de simbolismo, reforça a
Toda vez que a tristeza me alcança
motivação e possibilita a criação de no- O menino me dá a mão
vas ações e a compreensão do funcio-
namento de um sistema de regras. Por (BRANT; NASCIMENTO, 1988)

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Quais brincadeiras fizeram ou fazem safio novo para os palhaços. Ao final
parte do cotidiano desses jovens e da de cada rodada o próprio público/tor-
comunidade em que estão inseridos? cida decide qual dos dois times fez a
Qual a importância do jogo em nos- melhor apresentação e vota, levantan-
sas vidas? do cartões com as cores de cada time.
Cada vitória vale um gol e assim, o pla-
Uma pesquisa realizada com mais de car vai sendo construído (JOGANDO
1,4 mil “gamers confessos” no Reino NO QUINTAL, 2014).
Unido entre 18 e 40 anos revelou que
eles vão passar, em média, 1,8 ano de A Cia. do Quintal criou um espetácu-
sua vida jogando videogame. [...] A lo a partir de jogos teatrais, como é
pesquisa afirma que o indivíduo, ao mostrado no trecho acima. É possível
chegar aos 45 anos, tendo começado que estudantes também criem um es-
a jogar games com 9 anos, passará petáculo dessa maneira?
682 dias em frente ao videogame, cer-
ca de 1,8 ano (GAMERS, 2011). Essas questões, dentre outras que sur-
girão das pesquisas e do “mergulho”
Na sua comunidade, é comum ter no assunto, são complexas e podem
acesso a videogames? Qual o tempo desafiar os estudantes a refletirem
gasto com videogame pelos estudan- sobre a presença do jogo em suas vi-
tes de sua escola? O acesso a jogos de das para que possam realizar escolhas
videogame é o mesmo em todas as re- cada vez mais significativas.
giões do país? E em diferentes países?
Porque isso acontece? Qual o impacto
da tecnologia na forma de brincar?

O [espetáculo] Jogando no Quintal


começou no início de 2001, quando
os palhaços César Gouvêa e Marcio
Ballas decidiram criar um espetáculo
que unisse suas duas paixões: palhaço
e improvisação. Daí nasceu o Jogando
no Quintal – um jogo de improvisação
de palhaços com toda a ambientação
de um jogo de futebol: hino do clube,
placar, bandeiras, juiz, jogadores e, é
claro, a torcida [...]. Os palhaços im-
provisam cenas a partir de temas su-
geridos pelo público. O tempo de cada
improvisação é determinado pelo juiz.
Cada rodada é diferente e tem um de-

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Referências
BRANT, F.; NASCIMENTO, M. Bola de meia, bola de gude. Intérprete: Milton Nascimento.
In: NASCIMENTO, M.Miltons.[S.l.]: CBS, 1988. 1 CD.

Faixa 9. Disponível em <https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/102443/>. Acesso


em 22 set. 2016.

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Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/07/gamers-passam-18-ano-
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HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

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SESI-SP. Orientações didáticas de Educação Física no Sistema SESI-SP de ensino. São


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Indicações de consulta
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GOMES, J. L.; SALLES FILHO, N. A. Jogos: a importância no processo educacional. [2008?].


Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1562-8.pdf>.
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JOGOS teatrais: o fichário de Viola Spolin. SlideShare. 2014. Disponível em: <http://pt.sli-
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SPOLIN, V. Improvisação para o teatro. SlideShare. São Paulo: Perspectiva, 2010. Dispo-
nível em:<http://pt.slideshare.net/PIBID_Teatro2014/spolin-viola-improvisaoparaoteatro>.
Acesso em: 8 set. 2016.

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