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O livro “Ualalapi” de Ungulani Ba Ka Khossa, publicado pela primeira vez em Maputo em 1987,
já recebeu vários prémios literários. A obra é um conjunto de “contos contínuos” intitulados
“Fragmentos do Fim”. Nestes fragmentos, combina-se o material histórico-factual, com recurso a
fontes tanto escritas como orais, e os elementos fictícios. Não é por acaso que a académica Ana
Mafalda Leite (1998), quando abordada sobre o livro, tenha referido que com esta obra a ficção
moçambicana “ introduz um género que se enraíza no romance histórico”.
Ungulani Ba Ka Khosa ao escrever o seu romance tenta desmitificar esta figura, transformando o
mítico herói naquilo que ele era realmente, um ditador estrangeiro, prepotente, que manteve
sobre o seu domínio, escravizada, uma parte significativa do território moçambicano. Este é o
tema de que trata o romance de Ungulani Ba Ka Khosa. Nesta medida é uma narrativa histórica,
que versa sobre as origens históricas e pré-coloniais, do actual país, Moçambique.
As provas e as pistas vão-se reunindo, conto a conto, através de uma focalização múltipla. Outras
fontes, forjadas pelo narrador, surgem no interior dos textos, o testemunho oral e também o
escrito. Uma vez que Ualalapi é uma desmitificação das versão colonial e pós independência da
figura de Ngungunhane (a colonial que é paternalista e a revolucionária pós-independência
implícita, não referida no texto que lhe atribui um estatuto de herói) convida a reflectir sobre a
validade de uma e de outra, das fontes escritas e das orais, e daquelas que o narrador convoca no
seu próprio discurso.
Com a abolição do tráfico de escravos em 1836 e a substituição gradual por uma colonização
baseada na agricultura e no comércio, a partir dessa época, começou a produzir-se na sociedade
de Luanda e Benguela, portos de saída de escravos para a América do Sul, favorecendo uma
maior estabilidade económica e social, o que deu origem a uma primeira burguesia africana.
Estas pessoas desenvolviam suas actividades profissionais no comércio, na função pública e nos
tribunais; e encontravam no periodismo nascente o primeiro grande veículo para a expressão de
suas principais aspirações. Rapidamente, a imprensa se transformaria num lugar de privilégio
para o debate sócio-político.
Assim se sucederam várias publicações entre os anos 1845 e 1880. Ali se foi esboçando uma
primeira linha de homens que, sendo europeus, viviam quotidianamente os problemas da colónia,
fazendo da imprensa uma ampla tribuna para a defesa de seus interesses. O procedimento tornou-
se tradição e, mais tarde, o periodismo se converteria na principal arma de luta dos intelectuais
africanos.
O primeiro periódico editado por africanos, "O Hecho de Angola", data de 1881. Sua aparição
abriria caminho para o despertar de novos órgãos daquela que se chamou a imprensa africana,
que se caracterizou por conter publicações redigidas ora em kimbundu ora em português.
Entre estas, destacam "O Futuro de Angola", 1882; "O Farol do Povo", 1883; "O Arauto
Africano", 1889; e "1 Muen'exi", 1889; "O Desastre", 1889; e "O Policial Africano", 1890. Este
periódico teve uma vida bastante curta, posto que não passou do quarto número. Somente dois
dos escritores deste primeiro movimento nos deram livros. Pedro de Félix Machado e Cordeiro
da Matta.
E é só em 1928, depois de um exílio forçado de quatro anos, por ocasião de uma estadia em
Gabela, Amboim, onde "durante muito tempo e várias vezes teve que contar sua história", que
decide reproduzir, e posteriormente publicar, primeiro nos folhetins do periódico "A
Vanguarda", em 1929, e reeditada mais tarde em 1925 em forma de livro: "O Segredo da Morta".
Por um lado, a obra representa um início da ficção literária no século XX, da qual Castro
Soromenho é o mais ilustre representante; por outro lado, uma continuidade: a geração de 1880,
encabeçada por Cordeiro da Matta, ao mesmo tempo que une como já dissemos a todo o
movimento, reflete sobre a angolanidade.