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Universidade Aberta Isced

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Tema: Os Momentos Distintos da Produção Literária Africana em Língua Portuguesa

Filipe Daniel Joaquim: 11230494


CAPITULO I - Introdução
1. Contextualização
O presente trabalho da disciplina de Antropologia Cultural de Moçambique, tem com principal foco
“Os Momentos Distintos da Produção Literária Africana em Língua Portuguesa”. Antes, porém,
vale lembrar que a história da literatura ocorre dentro de um processo e que o estabelecimento de
fases ou períodos de desenvolvimento dentro um sistema literário, embora tenha um carácter
essencialmente didáctico, está subordinado sempre ao ponto de vista de um determinado crítico. Para
conhecer mais completamente o desenvolvimento histórico da literatura nacional moçambicana,
preferimos observar as propostas dos diversos autores, de modo a conseguirmos, assim, um panorama
mais abrangente dos períodos formativos dessa literatura. De acordo com Francisco Noa (2009),
talvez seja precipitado tentar definir “períodos” dentro dessa literatura, cuja consolidação é ainda
muito recente. Noa prefere falar em fases, termo que considera mais adequado para que percebamos
as modificações que se foram perpetrando na formação da literatura moçambicana. De todo modo,
está ainda por fazer um trabalho mais abrangente, mais completo, considerando, principalmente, que a
história da literatura deve abranger uma história das formas literárias. O que se têm, ainda, são
propostas e contribuições valiosas para que possamos pensar a literatura moçambicana em seu
conjunto. Quanto a estrutura, o trabalho é, estruturalmente, constituído por cinco (3) capítulos tais
como: introdução; fundamentação teórica; as conclusões e referências bibliográficas, respectivamente.

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Conhecer os momentos distintos da produção literária Africana em Língua Portuguesa.

1.1.2. Específicos
 Identificar a periodização literária moçambicana de cada autor;
 Distinguir as características da periodização literária moçambicana de um autor para outro;

 Conhecer o (s) factor ou movimento que concorreram para forjar a Literatura Moçambicana.
1.2. Metodologias
 Para a realização do trabalho recorreu-se a diversas fontes com a finalidade de reunir uma
informação satisfatória e de fácil compressão através de consulta de obras, revisões
bibliográficas e pesquisas que efectuamos na biblioteca electrónica, que versam sobre o tema
em destaque nas quais vem mencionadas no fim do trabalho.
CAPITULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. Os Momentos Distintos da Produção Literária Africana em Língua Portuguesa
2.1. Breve história da Literatura Moçambicana
Os primeiros manuais de literaturas africanas de língua portuguesa tratavam da história dessas
literaturas sem considerar suas especificidades nacionais. É nesse sentido generalizante, a fim de
localizarmos a literatura moçambicana no contexto mais amplo das literaturas africanas de língua
portuguesa, que observaremos, inicialmente, a proposta do escritor e crítico português Manuel
Ferreira, em Literaturas africanas de expressão portuguesa (Ferreira, 1987).

Em seguida, examinaremos os trabalhos de autores que se voltam exclusivamente para a


literatura moçambicana. Dentre os poucos textos existentes no Brasil sobre a historiografia
literária de Moçambique, escolhemos fazer uma leitura comparativa das propostas de Fátima
Mendonça - em Literatura moçambicana: a história e as escritas (1988); Manuel de Sousa e Silva
– no seu livro Do alheio ao próprio: a poesia em Moçambique (1996); e de Pires Laranjeira em
dois momentos; primeiramente, no capítulo intitulado “Moçambique: periodização”, em
Literaturas africanas de língua portuguesa (1995a), e, depois, no artigo “Mia Couto e as
literaturas africanas de língua portuguesa” (2001).

É de se notar que os textos são de natureza diversa: trata-se do livro de ensaios de Fátima
Mendonça; da tese de doutorado de Manoel de Souza e Silva; de um capítulo do manual
didáctico de Pires Laranjeira e de um artigo científico também de sua autoria. Todos os textos,
porém, tratam do mesmo problema: apresentar em linhas gerais a produção literária de
Moçambique.

O estudo de Manuel de Sousa e Silva traça um perfil histórico da formação e consolidação da


poesia moçambicana à luz dos fatos que engendram o “complexo colonial de vida e pensamento”
(BOSI, 1994, p. 13) em Moçambique. O livro de Pires Laranjeira, por sua vez, traça um
panorama das literaturas dos cinco países africanos de língua portuguesa. Deste, tomamos o
vigésimo capítulo, no qual o autor propõe uma periodização que divide a história literária de
Moçambique em cinco períodos distintos. A ideia de uma periodização da literatura
moçambicana fora desenvolvida anteriormente por Fátima Mendonça, no ensaio que
consideraremos aqui.

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Nosso objectivo é conhecer melhor as questões referentes à historiografia da literatura
moçambicana e, com isso, ampliar o nosso olhar sobre a produção literária de Mia Couto,
tentando compreendê-la no âmbito do processo de formação da literatura moçambicana.

2.2. Moçambique: Periodização (Manuel Ferreira, 1987)


Manuel Ferreira, ao examinar as literaturas africanas de língua portuguesa em seu conjunto,
reconhece quatro momentos distintos de produção literária, que podemos dividir em dois grupos:
A literatura das descobertas e expansão; b) a literatura colonial, que ainda não podem ser
consideradas africanas; c) a literatura de sentimento nacional e d) a literatura de consciência
nacional, estas, sim, pilares da construção dos sistemas literários nacionais dos países africanos
de língua portuguesa. Vejamos cada um deles, sob a óptica de Manuel Ferreira (1987).
a) Literatura das descobertas e expansão: coincide com a literatura de viagens, produzida
pelos portugueses a partir da empresa de expansão colonial, iniciada no século XV. “A obra
de um Gil Vicente ou [...] a de poetas do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, ao lado
das ‘coisas de folgar’, foram marcadas pela Expansão no interior dos ‘bárbaros reinos’.”
(Ferreira, 1987, p. 7). Além da poesia, a temática africana esteve presente também nas
correspondências, relatórios e tratados que cuidavam de informar os portugueses da
metrópole sobre a realidade encontrada nas antigas colónias africanas.
b) Literatura colonial: Manuel Ferreira distingue a literatura colonial das literaturas africanas
de língua portuguesa. A primeira mantém uma perspectiva eurocêntrica, na qual “[...] o
homem negro aparece como por acidente, por vezes visto paternalistamente, o que, quando
acontece, já é um avanço, porque a norma é a sua marginalização ou coisificação.” (Ferreira,
1987, p. 11) Na literatura colonial, o homem branco é apresentado como um herói mítico, um
desbravador que levaria a civilização às terras inóspitas do continente africano. A
inferioridade do homem negro era ressaltada, baseada em teorias “racistas” como a de
LévyBruhl, para para quem o pensamento primitivo era a-lógico ou pré-lógico, ou seja,
anterior à lógica.

Segundo Manuel Ferreira, a literatura colonial teve início no último quartel do século XIX e
conheceu seu apogeu nas décadas de 20 e 30 do século XX, quando ganhou grande aceitação
do público, movido pelo interesse pela temática exótica. Os autores, porém, estavam
incapacitados para assumir um ponto de vista africano, devido à política assimilacionista19

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que desenvolveu Portugal junto às suas ex-colónias africanas, a partir da publicação do “Acto
Colonial”, em 1930, que estabelece também o ensino de língua portuguesa no país
(Gonçalves, 2000, p. 2).

c) Literatura de sentimento nacional: Ferreira coloca nesta categoria as produções literárias


que surgiram paralelamente à literatura colonial, no século XIX, mas cujos autores, embora
não assumissem uma oposição aberta ao colonialismo, rejeitavam a exaltação do colono,
divulgada pela literatura colonial. Segundo Ferreira (1987, p. 19), “[...] a institucionalização
do regime colonial dificultava o nascimento de uma consciência anticolonialista ou outra
atitude que não fosse a de aceitá-la como consequência fatal da história”. O fato de que esses
escritores manifestavam um sentimento nacional de valorização do mundo africano já
constitui, para Ferreira, um grande avanço, que conduziria as literaturas nacionais africanas,
posteriormente, à negritude ou africanidade.

O autor lembra que, em Moçambique, a fixação dos europeus tinha um índice menor do que em
Angola; a imprensa também demorou mais a instalar-se nessa ex-colónia: enquanto Cabo Verde
contava com o prelo desde 1842 e Angola, desde 1845, em Moçambique ele só chegou em 1854,
o que dificultou a circulação da literatura21. É certo que o país contara com a presença de Tomás
António Gonzaga, que lá viveu em degredo entre os anos de 1792 e 1810; isso, porém, embora
não tivesse passado despercebido ao movimento cultural da Ilha de Moçambique (antiga capital
do país na era colonial), não teve grande repercussão na formação de uma literatura nacional.

Ferreira chama a atenção para o surgimento dos semanários O Africano, em 1877; O igilante, em
1882 e Clamor Africano, em 1892, nos quais eram publicados os primeiros poemas de autores
moçambicanos. Já no século XX, começaram a circular os periódicos O africano – de 1908 a
1920 - e O Brado Africano, em 1918, nos quais a literatura contava com mais espaço – o que
também acontecia no Almanach de lembranças – que circulou entre 1851 e 1932-, que recebia a
contribuição de poetas da diáspora portuguesa. Destacam-se, nesse período, os irmãos José e
João Albasini, fundadores de O Africano e O Brado Africano, e Campos Oliveira, poeta da Ilha
de Moçambique, considerado o primeiro poeta moçambicano.

d) Consciência nacional: Esta se forma a partir da literatura de sentimento nacional, conforme


Ferreira (1987, p. 40):

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Cedo se esboça uma linha africana, irrompendo de um sentimento regional e em certos casos de
um sentimento racial fundo, mas postulado ainda em formas incipientes [...]. De sentimento
regional vai se tornar representativa do sentimento nacional, dando lugar a uma literatura
alimentada já por uma verdadeira consciência nacional e daí a uma literatura africana,
caracterizada pelos pressupostos de intervenção, na certeza de que à literatura pode ser atribuída
uma particular participação social.

Em Moçambique, essa literatura de consciência nacional tem início, na lírica, com a publicação
de Sonetos, de Rui de Noronha, em 1943, e na narrativa, com Godido e outros contos, de João
Dias, publicado em 1952; esta obra é apontada por Ferreira como a primeira narrativa
moçambicana.

Outros estudiosos há, como veremos, que consideram a obra O livro da dor, de 1925, que reúne
contos de João Albasini, como a primeira obra literária moçambicana. Manuel Ferreira discorda:
“Embora a experiência de João Albasini [...] ganhe o direito de ser aqui registada, numa
perspectiva da história literária não alcançou qualidade intrínseca para se tornar um texto de
valia.” (FERREIRA, 1987, p. 195) Embora o autor desqualifique o texto de Albasini, insere uma
nota ao leitor, afirmando não ter conhecimento exacto da obra, pelo fato de não encontrar-se ela
na Biblioteca Nacional de Lisboa. Sua apreciação da pouca qualidade literária da obra deve-se,
provavelmente, a outros comentaristas externos, que ele reproduz em segunda mão.

Na narrativa, Ferreira destaca apenas as contribuições de Luís Bernardo Honwana e Orlando


Mendes, o que se justifica pelo recuo temporal deste esboço Historiográfico, publicado muito
antes que se pudesse vislumbrar um sistema literário mais consolidado em Moçambique.

2.3. Moçambique: Periodização (Laranjeira, 1995)


Moçambique surgiu como tema num «poema épico em acto» do missionário jesuíta João
Nogueira (séc. XVII) e em poemas de Tomas António Gonzaga, portuense implicado na
Inconfidência Mineira, que faleceu na Ilha de Moçambique, mas tais textos não têm sido
considerados moçambicanos, pelo menos segundo a actual concepção nacional.

Até ao fim da II Guerra Mundial, os escassos textos (e escassíssimos escritores) que se


consideram pertencentes à Literatura Moçambicana, entidade fragmentária, não chegam para

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formar um corpus alargado, nem pressupõe uma instituição literária a funcionar em pleno, com
suas editoras, prémios, criticas, leitores, ensino, etc.

Até essa data, os dois primeiros períodos da literatura relacionada com Moçambique podem
considerar-se de preparação e, em termos de alguma qualidade, caracterizam-se do seguinte
modo:

1º Período, que vai das origens da permanência dos portugueses naquela região índica até 1924,
ano que precede o da publicação de O livro da dor, de João Albasini. É um período de
Incipiência, um quase deserto secular, que se modifica com a introdução do prelo, no ano de
1854, mas sem os resultados literários verificados em Angola.

Está hoje perfeitamente assente que, ao contrário de Angola, não houve uma actividade literária
consistente e continuada, em Moçambique, até aos anos 20 do século XX. Nesse panorama
desértico, tão habitual no oitocentismo, em África, sobressai, nos anos 60, 70 e 80, a publicação
dispersa dos textos de Campos Oliveira (nasceu na Ilha de Moçambique, em 1847; morreu em
1911), num total de 31, rastreados por Manuel Ferreira. Foi estudante de Direito em Coimbra e
morou na Índia, autor de um Almanaque Popular em Margão, em meados dos anos 60. Vejam-se
duas estrofes de «O pescador de Moçambique»:

O 2.° Período, de Prelúdio vai da publicação de O livro da dor até ao fim da II Guerra Mundial,
incluindo, além do livro do jornalista João Albasini, os poemas dispersos, nos anos 1930, de Rui
de Noronha, depois publicados em livro, numa recolha duvidosa, incompleta e censoriamente
truncada, com o título de Sonetos (1946), por ser o género mais cultivado por ele. Rui de
Noronha (nasceu em 28 de Outubro de 1905; morreu em 25 de Dezembro de 1943, em Lourenço
Marques) publicou boa parte dos seus poemas entre 1932 e 1936, no jornal O Brado Africano. A
recolha póstuma de Sonetos (1946) não faz juz à real obra do poeta. Tributário da poesia da
terceira geração romântica portuguesa, coincidente esta com o impulso renovador do Realismo
que se aproximava, vemos nesses sonetos, até pela sua forma, a atinência estrita à tradição
ocidental, que o latim retomado do soneto de Antero e, mais longe, da divulgação bíblica (a
figura do Lázaro ressuscitado).

O 3. ° Período, que vai de 1945/48 a 1963, caracteriza-se pela intensiva Formação da literatura
moçambicana. Pela primeira vez, uma consciência grupal instala-se no seio dos (candidatos a)

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escritores, tocados pelo Neo realismo e, a partir dos primeiros anos de 1950, pela Négritude.
Noémia de Sousa escreve todos os seus poemas (conhecidos até hoje) entre 1948 e 51, ainda sem
conhecer a Negritude francófona, mas estando a par dos negrismos americanos (Black
Renaissance, Indigenismo haitiano e Negrismo cubano, entre outros), visto que dominava o
inglês e o francês. Em 1951, circulará o seu livro policopiado Sangue negro, formado por 43
poemas (mais um do que noutra versão posterior).

Em 1951, partiu para Portugal e, ao passar por Luanda, deixou uma cópia, que seria frutuosa para
os intelectuais angolanos ligados à Mensagem (1951-52) e todos os escritores das duas décadas
subsequentes. […]

José Craveirinha sobressai, nesta década, de uma plêiade que congrega, além de Noémia de
Sousa, Rui Nogar, Rui Knopfli, Virgílio de Lemos, Rui Guerra, Fonseca Amaral, Orlando
Mendes, entre outros.

O 4. ° Período prolonga-se desde 1964 até 1975, ou seja, entre o início da luta armada de
libertação nacional e a independência do país (a publicação de livros fundamentais coincide com
estas datas políticas). É o período de Desenvolvimento da literatura, que se caracteriza pela
coexistência de uma intensa actividade cultural e literária no hinterland, no ghetto, apresentando
textos de cariz não explícita e marcadamente político (em que pontificavam intelectuais,
escritores e artistas como Eugénio Lisboa, Rui Knopfli, o português António Quadros, entre
outros) com, no outro lado, na guerrilha, inequívocos poemas anti-colonialistas que teciam loas à
revolução e tematizavam a luta armada.

Em 1964, Luís Bernardo Honwana publica Nós matámos o cão-tinhoso, um conjunto de contos
que finalmente emancipa a narrativa em relação à preponderância da poesia. Nesse mesmo ano,
sai, em Lisboa, o pequeno livro Chigubo, de José Craveirinha, editado pela CEI. Depois, até à
independência, aparece aquele que tem sido apresentado como o primeiro romance
moçambicano, Portagem (1966), de Orlando Mendes, os três números da revista Caliban, de
índole universalista e cosmopolita, em 1971, justamente quando a FRELIMO editava um
primeiro volume de Poesia de combate, para, já em 1974, surgir, então, o Karingana ua
karingana, de José Craveirinha, uma recolha de poemas escritos a partir de 1945.

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Ao 5.° Período, entre 1975 e 1992, chamaremos de Consolidação, por finalmente passar a não
haver dúvidas quanto à autonomia e extensão da literatura moçambicana, contra todas as
reticências, provindas de alguns sectores dos estudos literários, e, diga-se também, contra todas
as evidências. Após a independência, durante algum tempo (1975-1982), assistiu-se sobretudo à
divulgação de textos que tinham ficado nas gavetas ou se encontravam dispersos. O livro típico,
até pelo título sugestivo, foi Silêncio escancarado (1982), de Rui Nogar (1935-1993), aliás o
primeiro e único que publicou em vida. Outro tipo de textos é o de exaltação patriótica, do culto
dos heróis da luta de libertação nacional e de temas marcadamente doutrinários, militantes ou
empenhados, no tempo da independência. Tal como nos outros países neófitos, o Estado (e a
FRELIMO) detinha o monopólio das publicações e o consequente controlo.

Todavia, segundo um conceito de instituição literária que não passa obrigatoriamente por
publicar em Moçambique, como acontecia, aliás, na época colonial, temos de considerar a
actividade poética de um Rui Knopfli fora de África como cooptada para o património literário
moçambicano. A publicação dos poemas de Raiz de orvalho, de Mia Couto (em 1983) e
sobretudo da revista Charrua (a partir de 1984, com oito números), da responsabilidade de uma
nova geração de novíssimos (Ungulani Ba Ka Khosa, Hélder Muteia, Pedro Chissano, Juvenal
Bucuane e outros), abriu novas perspectivas fora da literatura empenhada, permitindo-lhes
caminhos até aí impensáveis, de que o culminar foi o livro de contos Vozes anoitecidas (1986),
de Mia Couto, considerado como fautor de uma mutação literária em Moçambique, provocando
polémica e discussão acesas. A partir daí, estava instaurada uma aceitabilidade para a livre
criatividade da palavra, a abordagem de temas tabus, como o da convivência de raças e mistura
de culturas, por vezes parecendo antagónicas e carregadas de disputas (indianos vs. negros ou
brancos).

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3. Conclusão
A literatura africana em língua portuguesa teve uma importância muito grande na construção
cultural e histórica das ex-colónias portuguesas na África. Utilizando a linguagem dos
colonizadores, os escritores de maneira criativa e inovadora, construíram nas últimas décadas
uma tradição literária que se evidencia de forma própria em cada nação.

Os autores africanos conseguiram passar em suas obras a forma de pensar de seu povo, sua
cultura, sua terra e, principalmente, expressar de forma clara seus sentimentos e emoções. Os
escritores procuraram afastar os horrores vividos pelo povo no período colonial e, também, na
época das guerras. Uma das maiores lições que os autores deixaram em seus livros, foi o
pensamento de que a África negra não pode, nem deve ser considerado um estorvo para o
mundo, deve-se pensar nela como um pequeno desafio não somente na parte literária, mas, em
toda forma de expressão humana, busca-se contribuir com a África de forma honesta e levar
esperança ao seu povo.

Com o poder da educação e argumentação pode-se lutar por mudanças e conseguir ter um mundo
melhor. No momento actual, percebe-se que a literatura africana encantou o mundo, com seus
grandes autores expressando de maneira natural seus sonhos e anseios para com sua terra. A
literatura africana em língua portuguesa passou por diversas etapas para construir sua identidade
cultural. As manifestações artísticas e culturais que antes eram oprimidas pelos governos tiranos,
hoje são mostradas ao mundo e tornaram-se muito interessantes. Ainda há muito que aprender
sobre as literaturas africanas em língua portuguesa no Brasil, por isso existe a Lei 10639 em que
tornou obrigatório o ensino da Literatura, História, Cultura Africana e Afro-brasileira nas
escolas, fazendo com que aumente a curiosidade das pessoas sobre as literaturas africanas.

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Referências bibliográficas
1. Ferreira, Manuel. (1985). O Mancebo e Trovador Campos Oliveira, Imprensa Nacional –
Casa da Moeda, Lisboa.
2. Laranjeira, Pires, (1995). Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, vol. 64, Lisboa,
Universidade Aberta.
3. Mendonça, Fátima, (1988). Literatura Moçambicana – A História e as Escritas, Faculdade de
Letras e Núcleo Editorial da UEM, Maputo,

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