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Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância
MA:
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Índice
Considerações Iniciais................................................................................................................3
1.6. Aspectos formais e temáticos dos textos literários de autores mais representativos em
Moçambique e Angola..............................................................................................................10
Considerações Finais................................................................................................................12
Bibliografia...............................................................................................................................13
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Considerações Iniciais
As Literaturas Africanas de Língua Portuguesa são ainda jovens, com aproximadamente, 160
anos de existência. Apesar de os primeiros textos datarem da segunda metade do século XIX,
só no século XX, na década de 30 em Cabo Verde (com Claridade), e nos anos 50 em Angola
(com Mensagem), é que essas literaturas começaram a adquirir maioridade, se descolando da
literatura portuguesa trazida como paradigma pelos colonizadores. Embora não se tenham
desenvolvido sempre em conjunto, devido aos seus respectivos contextos sócio-culturais
diferenciados, essas literaturas são, geralmente, estudadas, nos meios universitários
ocidentais, sob denominação abrangente que envolve a produção literária de Angola,
Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, ex-colónias de Portugal na
África. É neste contexto que o trabalho vai abordar o percurso da literatura Africana de
Expressão em Língua Portuguesa (Moçambique e Angola)
E para que se garantisse o alcance deste objectivo foi necessário traçar-se alguns objectivos
específicos que se resumem nos seguintes:
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1. Percurso das literaturas africanas de expressão portuguesa e sua divisão
Não se pode falar da literatura africana sem se falar da “Negritude”; aliás, esta última
constitui o tema fundamental da literatura africana.
Gomes Eanes de Zurara, João de Barros, Diogo de Couto, Camões, Fernão Mendes
Pinto, Damião de Góis, Garcia de Orta, Duarte Pacheco Pereira são alguns nomes cujo
discurso é alimentado do "saber de experiência feito" alcançado a partir do século XV,
em declínio já no século XVII) esgotado no século XVIII. A obra de Gil Vicente
(século XVI) ou, embora escassamente, a de poetas do cancioneiros (séculos XIV e
XV) ao lado das "coisas de folgar", foram marcadas pela expansão ao longo dos
«bárbaros reinos». É uma literatura feita pelos portugueses, fruto da aventura no além-
mar, no período renascentista, a que se denominou de literatura dos descobrimentos
(Margarido, 1980, p. XIX).
Esta literatura, nascida de uma experiência planetária, nada tem a ver com a literatura africana
de língua portuguesa. Este registo serve apenas para contextualizar no passado factos
relacionados com o quadro cultural, político que século depois havia de surgir.
Com efeito, a partir do século XV, inicia-se o processo de colonização em África, o que
condiciona, séculos mais tarde, o aparecimento de nova literatura, a literatura colonial (1900-
1939).
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Cf. Santilli, Maria Aparecida. Africanidade. São Paulo: Ática, 1985, p.18.
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Com efeito, quatro anos mais tarde, após a instalação da imprensa em Angola, ocorre a
publicação do livro “Espontaneidade da minha alma” (1949) do angolano mestiço José da
Silva Maia Ferreira o primeiro livro impresso na África lusófona, mas não a mais antiga obra
do autor africano.
Tal, porem, não se autoriza a remontar as origens da poesia angolana a tão recuados tempo,
como já, com alguma intemperanças se quer insinuar. Repondo, por isso, a questão com certa
objectividade pode afirmar-se que a literatura africana chama a si mais de um século de
existência. Este longo período de mais de um século de actividade literária está, porém,
contido em duas grandes linhas: a literatura colonial e a literatura africana de expressão
portuguesa.
A produção literária nos países africanos divide-se em duas fases: a da literatura colonial e a
das literaturas africanas.
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A aplicação do ponto de vista colonialista tem no europeu o agente dinâmico e não o
opressor: “fiel aos nossos deveres de dominador, grata ao nosso orgulho, útil às populações”
escrevia um homem anti-fascista, Augusto Casimiro (nova largada, 1929).
Laranjeira (1993) acrescenta que, “é preciso dizer que estes discursos racistas eram fruto da
mentalidade da época, no ponto de vista político-social. Todavia, houve alguns escritores
como João de Lemos (Almas Negras) e José Osório de Oliveira (“Roteiro de África”) que
tentaram entender a mentalidade do homem negro, pois há nas suas obras uma intenção
humanística. São precisamente as duras e condenáveis características da literatura colonial”.
Logo no último quartel do século XIX encontram os pioneiros desta literatura. Mas é
no período 20/30 que ela vai atingir o ponto mais alto, na quantidade, na marca
colonialista, na aceitação do público que esgota algumas edições, com certeza
motivado pelo exótico. Ai se destaca um naipe todo ele incapaz de apreender o
homem africano no seu contexto real e na sua complexa personalidade. É certo que
justo será destacar pela qualidade de sua escrita João de Lemos, “almas negras”, 1937,
porque nele, apesar de uma deficiente visão, se denota um mérito esforço de análise e
intenção humanística. Mas escritor português, manietado pela distanciação
colonialista, por norma, dá ao seu discurso um sentido racista, hoje de inconcebível
aceitação (COVANE, 2014, p. 7).
O tempo histórico, o tempo cultural, para quem ideologicamente, era incapaz de se furtar à
insidiosa instauração do fascismo em Portugal e à inscrição legal do assimilacionismo (aí
vinha já o celebre acto colonial, de 1930), não permitia ou não ajudava a uma tarefa de tal
norma, que rejeita meros propósitos e exige uma reformulação da mentalidade do europeu.
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Hoje não há lugar para dúvidas: muitas dessas obras estão condenadas ao esquecimento,
salvando-se aquelas que, apesar de prejudicadas pelas contingências de uma época e de uma
mentalidade colonial, evidenciam, contudo, um esforço humanístico e uma real qualidade
estética. Mas, no conjunto, a história vai ser de uma severidade implacável e arrumará a quase
totalidade desta literatura no discurso da acção colonizadora ou no nacionalismo imperial,
saudosista e deslumbrado.
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textos poderiam ter sido reproduzidos em qualquer outra parte do mundo: é o
menosprezo e a alienação cultural.
O segundo momento corresponde à fase em que o escritor ganha a percepção da
realidade, apontando distinções geográficas, sociais, etc. em relação à metrópole. O
seu discurso revela influência do meio, bem como os primeiros sinais de sentimento
nacional: é a dor de ser negro; o negrismo e o indigenismo.
O terceiro momento é aquele em que o escritor adquire a consciência nacional de
colonizado. Liberta-se, promovendo um pensamento dialéctico entre raízes profundas
e coibição de sujeição colonial: a prática literária enraíza-se no meio sócio cultural e
geográfico: é a fase da descolonização e o discurso da revolta.
O quarto momento corresponde à fase histórica da independência nacional, quando se
dá a reconstituição da individualidade plena do escritor africano: é a fase da produção
do texto em liberdade, da criatividade.
Finalmente, o quinto momento é marcado pela despreocupação, em valorizar-te
excessivamente a Africanidade: as fragilidades humanas, as vulnerabilidades é que
são, agora enfatizadas.
A terceira fase das literaturas africanas de língua portuguesa coincide com o tempo da
afirmação do escritor africano como tal e, segundo o teórico, verifica-se depois da
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independência. Nela o escritor procura marcar o seu lugar na sociedade e definir a sua posição
nas sociedades pós-coloniais em que vive.
Se quisermos ter uma visão de conjunto das literaturas africanas de língua portuguesa, torna-
se necessário considerar essas fases da produção do texto mas também os grandes momentos
de ruptura com os códigos estabelecidos. A crítica e os historiadores concordam que os
fundamentos desses momentos caracterizam-se pelo surgimento de movimentos literários
significativos ou de obras importantes para o desenvolvimento das literaturas, entre os quais
podem ser citados:
A literatura africana, como um conjunto de obras literárias que traduzem uma certa
Africanidade, toma esta designação porque a África é o motivo da sua mensagem ao mundo,
porque os processos técnicos da sua escrita se erguem contra o modismo europeu e
europeizante. John chamou-a de literatura Neo-africana por ser escrita em línguas europeias e
para diferenciá-la da literatura oral produzida em língua africana. Nesta literatura, o centro do
universo deixa de ser o homem europeu e passa a ser o homem africano.
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É necessário frisar que este tipo de literatura, chamada literatura africana de expressão
portuguesa, ganha uma nova especialização, tomando a designação de literatura de raiz
africana. Esta literatura teve a sua origem através do confronto, da rebelião literária,
linguística e ideológica, da tomada de consciência revolucionária a partir da década de 40
(século XIX). Importa referir que era uma literatura dirigida particularmente aos africanos e
escrita em línguas locais em mistura com o “português”, pois o propósito era tornar a escrita
inacessível aos europeus, isto é, não permitir ao homem branco descodificar as suas
mensagens. Daí a introdução nas obras de poetas angolanos (Agostinho Neto, António
Jacinto, Pinto de Andrade, Luandino Vieira, etc.) de palavras e frase idiomáticas em
quimbundo e umbundo, e em muitos outros autores africanos como Mutimati Bernabé João
(Moçambicano).
A literatura africana combate o exotismo sob todas as formas, quer se apresente recuperando
narrativas tradicionais, quer utilize ritmos significantes emprestados das culturas populares.
É comum, na maioria das obras das literaturas africanas de expressão portuguesa, exprimir o
valor cultural da oralidade, defendendo, inclusive, a sua importância, fazendo, assim, com que
o leitor reflicta sobre a tradição oral africana.
1.6. Aspectos formais e temáticos dos textos literários de autores mais representativos
em Moçambique e Angola
Temos, neste âmbito, dentro do panorama africano de língua portuguesa, uma fissura entre a
produção literária de Moçambique e a de Angola: aquela, representada por expressivos
autores como Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa e Mia Couto, enseja a tradição oral
em suas narrativas, ressignifica o mítico e o sagrado e revela, em seu substrato ideológico, o
desejo de (re)construir uma identidade local. Esta, por sua vez, viceja o tema da modernidade,
através de suas narrativas urbanas e de tom cosmopolita (principalmente com autores como
José Eduardo Agualusa e Ondjaki).
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A literatura moçambicana segue os mesmos carris tais como seguia Angola: Pré-colonial e
colonial, afro-cêntrica e luso-tropicalista, nacional e pós-colonial.
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Considerações Finais
Importa dizer ainda que, nesta literatura, a África era vista apenas como uma linda paisagem,
ou um paraíso, e o protagonista dessa paisagem era o homem europeu. Trata-se, pois, de uma
literatura caracterizada fundamentalmente pela exploração do homem pelo homem. A
literatura nacional constitui-se inversamente a da literatura colonial, pois nela o mundo
africano passa a ser narrado por outra óptica. O negro é privilegiado e tratado com
solidariedade no espaço material e linguístico do texto, embora não sejam excluídas as
personagens europeias (de características negativas ou positivas). É o africano que
normalmente preenche os apelos da enunciação e é ele quase exclusivamente, enquanto
personagem ficcional ou poético, o sujeito do enunciado.
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Bibliografia
Margarido, A. (1980). Estudos sobre literaturas das nações africanas de língua portuguesa.
Lisboa: A Regra do Jogo.
Secco, C. L. T.R. (2003). A magia das letras africanas: ensaios escolhidos sobre literaturas
de Angola, Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph.
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