Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS


CAMPUS XXIII SEABRA
COLEGIADO DE LETRAS – LÍNGUA
EL0035 - TRADIÇÃO E RUPTURA EM LITERATURA DA LÍNGUA PORTUGUESA
DOCENTE: JOSÉ WELTON
DISCENTE: JAÍNE ALCANTARA PEREIRA

RESENHA

Trabalho apresentado à Universidade do Estado da


Bahia - UNEB, no curso de Licenciatura em Letras –
Língua Portuguesa e Literaturas, no componente
curricular Tradição e Ruptura em literatura da
Língua Portuguesa, como requisito para obtenção de
resultado parcial.

Orientador (a): José Welton

SEABRA-BA
2021
RESENHA

Fonseca, M. N. S., & Moreira, T. T. (2017). PANORAMA DAS LITERATURAS


AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA. Cadernos CESPUC De Pesquisa Série
Ensaios, (16), 13-72. Recuperado de
http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoscespuc/article/view/14767

Palavras-chave: Literaturas africanas de língua portuguesa. Projetos literários. Literatura e


identidade nacional. Resenha. Tradição e ruptura em literaturas de língua portuguesa.

O texto Panoramas das literaturas africanas de língua portuguesa, das autoras Maria
Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira, publicados em Cadernos CESPUC de
Pesquisa em Belo Horizonte no ano de 2007, aborda a construção de estudos panorâmicos das
literaturas africanas de língua portuguesa, enfatizando importantes aspectos das diferentes
literaturas africanas escritas em português, projetos literários de países como Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, que adotaram o português como
língua oficial, suas influências e rupturas nos processos literários, apresentando também
características marcantes de notáveis escritores e movimentos literários desses países.

Dados que o aparecimento das literaturas de língua portuguesa na África se deu por um
extenso processo histórico, e um longo processo de conscientização, o texto expõe
importantes trabalhos/obras onde são encontradas parte dessas manifestações literárias desse
período, em que pesquisas mostraram inspiração de modelos europeus em suas produções
literárias, mas que continha também, ricas amostras dos costumes tradicionais de vários países
africanos de língua portuguesa. "Os livrinhos do velho Almanache de lembrança luso-
brasileiro contém, sob capa modesta, um arquivo único [...] como referência à vida literária
da África de expressão portuguesa, de 1854 para diante" citam as autoras (p. 14), Moser
(1993, p. 27). Sendo assim, por se apropriar de dois modelos literários diferentes o escritor
viveria em dois mundos, da qual não poderia estar abstraído: a sociedade colonial e a
sociedade africana, este se tornaria “homem-de-dois-mundos". Ao produzirem literaturas, os
escritores forçosamente penetravam por esses dois mundos, colocando as tensões e as
complexidades nascidas da utilização da língua portuguesa, por assumirem heranças oriundas
de movimentos e correntes literárias da Europa e das Américas e manifestações advindas do
contato com as línguas locais. Essa problemática no campo da linguagem literária
impulsionou o surgimento de projetos literários característicos dos cinco países que adotaram
o português como língua oficial.

As autoras abordam a discussão de Manuel Ferreira em torno da emergência da literatura nos


espaços africanos que foram colonizados por portugueses, o teórico aponta quatro momentos
que exigem observações, os quais indicam que o escritor estava em um estado de quase
absoluta alienação; o escritor manifesta a percepção da realidade; o escritor adquire a
consciência de colonizado e por último, o escritor africano: momento da produção do texto
em liberdade, da criatividade e do aparecimento de outros temas, como o mestiço, o da
identificação com África, o do orgulho conquistado. E também as discussões com perspectiva
mais historicista de Patrick Chabal, se referindo ao relacionamento entre escritor e oralidade
propondo quatro fases abrangentes das literaturas africanas de língua portuguesa,
denominadas: assimilação, resistência, tempo da afirmação do escritor africano como tal, e a
consolidação do trabalho que se fez em termos literários.

Maria Fonseca e Terezinha Moreira apontam que para se ter uma visão coletiva de conjunto
das literaturas africanas de língua portuguesa, é necessário considerar essas fases da produção
do texto, mas também os grandes momentos de rupturas com os códigos estabelecidos. Esses
momentos caracterizam-se pelo surgimento de importantes movimentos literários ou de obras
valiosas para o desenvolvimento das literaturas, as autoras citam importantes obras desses
países.

A boa parte da produção literária reflete a busca da identidade cultural e a tomada progressiva
de uma consciência nacional, momento de lutas que configuram discursos e movimento de
resistência e de reivindicação por mudanças. Essas mudanças é quem abre novos caminhos
para o “nascimento” de uma África que se renova continuamente. As autoras destacam em
cada país africano de língua portuguesa, como se deu os processos/rupturas e movimentos
literários africanos.

Cabo Verde em ralação com as outras regiões africanas que passaram pelo processo de
colonização portuguesa, sofreu menores impactos. Criando assim condições necessárias para
o aparecimento da literatura cabo-verdiana. A literatura cabo-verdiana teve um grande passo
em 1936 com o lançamento da revista Claridade, publicada por um grupo de intelectuais.

Apesar da pouca representatividade no cenário das literaturas africanas de língua portuguesa,


São Tomé e Príncipe se assegura na história da literatura africana com grandes escritores
como Francisco da costa e Francisco Tenreiro, este considerado um dos marcos da poesia
santomense e das literaturas africanas de língua portuguesa, apontado pelos críticos como o
primeiro a instilar a negritude nas poesias desta literatura, inspirando-se em autores
americanos.

A literatura de Angola reflete a influência de antecedentes e precursores de caráter social,


cultural e estético. Outro fator de grande influência é a tradição da oralidade na África,
marcando uma identidade cultural expressa na literatura. Uma das primeiras manifestações
significativas no contexto literário angolano é marcado em primeiro lugar por José da Silva
Maia Ferreira e sua obra: Espontaneidades da minha alma: às senhoras africanas (1849),
considerada por alguns teóricos como sendo a primeira obra da literatura angolana.

Diante de tantos movimentos literários angolanos que surgiram, grupos, períodos e ao


decorrer das décadas, podemos observar a luta de dessas pessoas e escritores, que iniciaram os
primeiros passos a caminho de uma literatura nacional, onde as terras e o negro africano
fossem de fato valorizados, conhecendo de forma mais profunda o seu mundo, rompendo com
o tradicionalismo cultural imposto pelo colonialismo e exaltar a Angola e sua cultura, para
que sociedade e literatura caminhassem juntas. Uma resistência afim de acabar com a censura
e construir sua própria identidade nacional, enaltecendo suas terras, suas gentes e suas
origens.

Em Moçambique a construção literária se assemelha com as dos demais países africanos de


língua portuguesa. Assim como a Angola, os jornais foram importantes, para disseminar
oposições ao colonialismo. Em meio a conflitos históricos, Moçambique constrói seus
movimentos literários, destacando as principais fases da formação literária moçambicana: a
fase colonial, a fase nacional e a fase pós-colonial.

A literatura da Guiné-Bissau espelha os trilhos da emancipação, a liberdade da pátria. A


produção literária contemporânea repercute aos anseios e às preocupações da elite intelectual
urbana, insatisfeita com o andamento político e social do país naquele período.
Esse estudo panorâmico das literaturas africanas de língua portuguesa, nos mostram como os
movimentos literários destes cinco países falantes da língua portuguesa, se assemelham. As
suas lutas, projetos, conquistas, escritores, obras e o desejo de uma identidade nacional, de
uma literatura original, libertadora, que representasse suas raízes, suas histórias, o seu povo.
Literatura essa que se pôs contra o colonizador, criando movimentos da negritude, afirmando
a identidade negra. Esse texto de Maria Fonseca e Terezinha Moreira, é indicado a estudantes
de Letras e pesquisadores das áreas de línguas, este material é riquíssimo e contribuirá muito
para suas pesquisas.

Você também pode gostar