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Helton Fernando Sitoe

Ensino de Português

FONSECA & MOREIRA, PANORAMA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE


LÍNGUA PORTUGUESA, 2007

Recensão critica

Visão geral das literaturas africanas de língua portuguesa


O texto panorama das literaturas africanas de língua é uma análise feita sobre o textos
das autoras Maria Nazareth Soares Fonseca e de Terezinha Taborda Moreira. Elas
abordam como ocorreu o início das literaturas africanas de língua portuguesa e todo o
trajeto, dificuldades, preconceito. Discute pontos dessas obras que vieram bem depois a
favorecer e incentivar outros escritores a elaborar seus trabalhos, contribuindo para uma
sólida participação no contexto histórico das literaturas africanas.
As autoras começam seu relato de estudo citando dois autores Gerald Moser e Manuel
Ferreira. Elas falam que MOSER viveu na África e presenciou momentos em que as
colônias passaram por um processo de descolonização. Ele foi considerado homem-de-
dois-mundos, isso se deu pelo fato de escritores transitavam por dois espaços, assumiam
heranças oriundas de movimentos e correntes européias e da América como também
pelo simples factos que estavam em contacto com as línguas locais. FONSECA e
MOREIRA destacam que tudo isso ocorreu no século XIX entre as décadas de 40 e 50.
Momento que deu um grande impulso nos projectos literários de cinco países como
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Outro escritor citado pelas autoras foi Manuel Ferreira, em suas poesias descreve como
se deu tais dimensões de língua portuguesa nas literaturas africanas.
O “panorama das literaturas africanas de língua portuguesa”, de Maria
Fonseca e Terezinha Moreira relata que o aparecimento dessas literaturas na África
foi o resultado, por um lado, de um longo processo histórico e, por outro,
de um processo de conscientização, que estava “relacionado com o grau de
desenvolvimento cultural nas ex-colônias e com o surgimento de um
jornalismo por vezes ativo e polêmico”, era pautado em criticar à máquina
colonial. A produção literária dessa época era inspirada em modelos europeus,
contendo também uma amostragem de costumes tradicionais de vários países
africanos de língua portuguesa, afirma Gerald Moser, pesquisador e escritor
africano. Os escritores da época sempre transitavam por dois mundos, o da
sociedade colonial e o da sociedade africana, assumindo “heranças de
movimentos e correntes literárias da Europa” e as manifestações através do
contato com as línguas locais. Esta oposição que ocorreu no campo da linguagem
literária impulsionou projectos literários “característicos dos cinco países
africanos que assumiram o português como língua oficial”. Desta forma, os
escritores passaram por vários momentos, o da alienação, a percepção da
realidade, a consciência do colonizado e por fim a fase histórica da
independência nacional.
Portanto, para ter uma visão das literaturas africanas de língua portuguesa nesses países,
torna-se necessário considerar as fases da produção do texto e também os amplos
momentos de ruptura com os códigos estabelecidos. Contudo, os fundamentos desses
momentos caracterizam-se pelo surgimento de movimentos literários significativos ou
de obras importantes para o desenvolvimento das literaturas. Literatura africana em
Angola, assim como em outros países da África, é refletido na literatura angolana a
influência resultante de precursores e de antecedentes direcionados ao carácter estético,
social e cultural. Outro ponto que exerceu grande influência refere-se a oralidade como
tradição africana, que inclusive destaca na literatura, uma identidade cultural expressiva.
Pode-se destacar como primeira obra angolana direcionada a literatura como o livro de
José da Silva Maia Ferreira que é um livro de poemas intitulado Espontaneidades da
minha alma (1849). Posteriormente, surge uma noveleta de Alfredo Troni, com
influência queirosiana chamada Nga Mutúri (1882), como também a obra pertencente a
Cordeiro da Matta. Alguns escritores foram considerados precursores da literatura
moderna na Angola. As obras desses autores muitas vezes retratam a vida social da
angola sob administração colonial existente na época, assim como algumas obras falam
sobre as marcas de mudanças culturais vividas durante esse período de alterações
socioeconômicas da região, cada autor com suas peculiaridades os períodos de produção
poética, Três grandes períodos compuseram a produção poética da Angola: Entre 1950
e 1970, onde a conscientização foi quem marcou esse período; O período da década de
1970, onde as inovações relacionadas a estética predominaram; E o terceiro período
composto pela geração de 1980.
O primeiro período que ocorreu entre 1950 e 1960 indicam a fase referente a Viragem
passando para a fase em que a problemática da Angola é conscientizada, principalmente
no que se refere a três fundamentais vertentes. O segundo período corresponde a década
de 70 onde ocorre o surgimento de três nomes que serão destaque no que se refere as
profundas mudanças na temática e na estética da Angola, são eles: Arlindo Barbeiros,
David Mestre e Ruy Duarte de Carvalho. O terceiro período iniciado a partir de 1980,
uma geração nova de escritores aparece, essa nova geração é marcada pela característica
eclética. E na contemporaneidade no cenário literário da África, as vozes que se
mostram em destaque firmam uma luta intrinsecamente ligada aos primórdios onde
existiram as guerras em busca da colonização presentes nos PALOPs
A literatura em Cabo-Verde, inicialmente, a literatura em Cabo Verde se concretizou
na década de 30 com a existência da revista Claridade, na época a autenticidade já era
aclamada, ela tinha o objetivo de afirmação cabo-verdiana. Seu tipo poético ao contrário
do que ocorreu na Angola não tem temas com reivindicações relacionadas a negritude,
pois em Cabo Verde a mesticidade predominava, escrevia-se também sobre a os
problemas que afectavam a população a fome, a miseria, o desemprego e outros. A
publicação da revista Claridade foi considerada de extrema importância, pois a partir
dela a literatura do país passou por uma sistematização, uma vez que a inspiração era
provinda do Modernismo brasileiro, assim o regionalismo foi abandonado por seus
representantes, objetivando virar-se sobre as incoerências e dilemas existentes nas ilhas,
buscando dessa forma a especificidade de cada uma e fugindo dos temas que a literatura
metropolitana abordava. No entanto, não havia contestação explícita sobre o sistema
colonialista, além de não haver reivindicações no movimento relacionados a um estatuto
nacional. Era evidenciado com isso que os claridosos vislumbravam um cenário em que
Cabo Verde era visto como uma extensão europeia, com isso os integrantes que
compunham o grupo descartavam a ideia de uma revolução colonial. Teixeira de Sousa
representou uma figura em destaque, esse momento foi caracterizado pela efetuação
com mais rigidez de críticas políticas e sociais, no entanto ainda sem direcionar
reclamações a emancipação do país. Teixeira exerceu papel de colaborador no periódico
intitulado de Certeza, que por sua vez foi publicado apenas em dois números, pelo fato
de ser considerada pela autoridade colonialista como proibida e subversiva. Somente no
final dos anos 60 a literatura que tem como lema a resistência de forma mais explícita
sobre o colonialismo e sua opressão passou a ser escrita se unindo a política como
temática, surgindo com isso uma preocupação em se pensar sobre definições
relacionadas a uma nova nação e sua identidade . Alguns poetas destacaram-se nessa
época. O isolamento é considerado outro tema que ganha destaque devido a
insaluridade, de forma que, contrapontos são construídos devido a migração. E um
nome que representa grande importância nessa vertente é o da escritora Orlanda
Amarilis, onde ela assume a alternância relacionada a um mesmo tema: da diáspora, da
solidão e do exílio. A formação da escritora se deu no trânsito existente entre as ex
colônias africanas e a própria metrópole de Portugal. A sua formação se completa pelas
intervenções consideradas públicas, e que por sua vez entre os ficcionistas de Cabo
Verde seu nome foi inscrito, isso ocorreu devido ao percurso feito pela autora entre os
países Canadá, EUA, Nigéria, Holanda, Índia, Espanha, Hungria, Moçambique ente
outros, além de ter suas obras traduzidas (FONSECA & MOREIRA, Panorama das
literaturas africanas de língua portuguesa., 2007) Orlanda Amarilis é considerada uma
referência importante para se construir narrativas consideradas curtas, e que buscam a
exploração de questões com grande significação para a cultura de Cabo Verde. Entre as
obras literária da autora estão as seguintes:
• Ilhéu dos pássaros (1983);
• A casa dos mastros (1989); e
• Cais-do-Sodré te Salamansa (1991).
• Outras autoras de Cabo Verde também tiveram preocupação semelhante, de forma que
o
universo feminino fosse invocado em suas obras. A escritora Vera Duarte que apresenta
asseguintes obras literárias: Poesias e Romances.
• A escritora Dina Salústio que está entre as fundadoras da Associação dos Escritores
Cabo-verdianos teve em sua carreira a primeira premiação destinada a literatura infantil
do país etambém na literatura infantil dos PALOP levou o terceiro prêmio nos anos de
1994 e 1999 consecutivamente. Na atualidade o autor que mais se destaca em Cabo
Verde como também fora das ilhas, é o autor Germano Almeida, ele apresenta um estilo
bem peculiar e próprio onde se destaca a irreverência do humor, com isso trazendo para
os livros dele a sociedade de Cabo Verde posterior a independência, de forma a elaborar
os fatos reais concretos que ocorrem no país através da fluidez de uma proza valendo-se
de pinceladas magistrais tanto coloridas como pitorescas, o autor ganhou o prêmio
Camões no ano de 2018.
Literatura africana em Guiné-Bissau, em meio as antigas colônias portuguesas, é o
país onde a literatura se desenvolveu mais tardiamente, e isso aconteceu devido ao
atraso da aparição de condições socioculturais promissoras ao aparecimento de
habilidades literárias. A cultura nacional e a literatura não tinha nenhum apoio das
autoridades do país, e devido a isso, por não existir bibliotecas, casa de edições, o
desenvolvimento do movimento literário nacional tem travado. Na Guiné-Bissau,
surgem nomes importantes na poesia: Vasco Cabral, Hélder Proença, entre outros. É
publicada a primeira antologia da Guiné: Mantenhas para quem luta!, cujas poesias,
tornando-se guerrilheiras, cantam o desejo de libertação.
Os períodos da literatura guineense foram divididos em: o período colonial; a “uma
poesia de combate; a “uma literatura exclusivamente poética: da poesia de combate à
poesia intimista”; a “uma poesia mais intimista” e “Finalmente a prosa!”.
Período colonial: anterior a 1945: Foi no período colonial que as bases foram
estabelecidas para a Guiné-Bissau atual. Em Guiné-Bissau os primeiros escritos foram
feitos por escritores situados ou que habitaram muitos anos na Guiné, sendo vários
originários de Cabo Verde.
Nesse período, destacou-se a figura guineense o Cónego Marcelino Marques de Barros
que, abordava na sua escrita uma característica paternalista e associada ao discurso
colonial. Uma poesia de combate: 1945 – 1970: Os primeiros poetas guineenses
surgiram nesse período, dentre os mais conhecidos estão Vasco Cabral e António Baticã
Ferreira. A literatura desse período é caracterizada pela poesia de combate, que criticava
a miséria, o domínio e a péssima qualidade de vida que ele gerava e a luta pela
independência. Desta geração, Vasco Cabral é o escritor poeta guineense que abordou
maior número de temas e que tem maior produção poética. É um poeta guineense que
mais alimentou o acervo literário do seu país, ficando reconhecido, naquela época,
como o autor da escola neorrealista. Da poesia de combate à poesia intimista: 1970 –
1989: Esse período ficou marcado com uma literatura exclusivamente poética: da poesia
de combate à poesia intimista. Assim, podemos citar alguns dos poetas mais como:
Agnelo Regalla e António Soares Lopes Júnior (Tony Tcheka), Helder Proença, José
Carlos Schwartz, Félix Sigá, Francisco Conduto de Pina, onde essas obras exibiam um
carácter mais social. Uma poesia mais intimista: 1990 – Atual: Alguns dos poetas mais
marcantes desse período foram Agnelo Regalla e António Soares Lopes (Tony Tcheka).
Em suas obras apresentavam um carácter mais social.
Portanto, várias são as publicações que dão conta destas inovações na literatura Bissau-
guineense.
• Prosa: A literatura contemporânea de Guiné-Bissau mostra que, nas suas várias
maneiras, retratando as decepções, os receios e os anseios da população diante a
circunstância política, social e econômica que prevalece no país.
• Em 1993 surgiu a prosa na literatura contemporânea bissau-guineense, sendo
inaugurada por Domingas Sami que introduziu este estilo relatando a respeito da
condição feminina na sociedade nacional.
• Depois, em 1994, surgiu o primeiro romance de Abdulai Silá que destacou sobre a
coabitação na sociedade colonial das duas comunidades presentes, sendo elas: a
colonizadora e a colonizada.
A literatura africana em Moçambique
Em Moçambique o processo de formação da literatura não diferencia dos demais países
africanos de língua portuguesa, tendo observado à construção de uma elite de alguns
negros, mestiços e brancos que conquistou, aos poucos, dos canais e centros de
administração e poder. (FONSECA & MOREIRA, PANORAMA DAS
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2007). Conforme
(SILVA, 2010) apud Manuel Ferreira (1987), ao examinar as literaturas africanas de
língua portuguesa em seu conjunto, reconhece quatro momentos distintos de produção
literária, que podemos dividir em grupos: Literatura das descobertas e expansão,
Literatura colonial, Literatura de sentimento nacional e Literatura de consciência
nacional.
• De acordo com SILVA, 2010, p. 44, Há três linhas de força na literatura
moçambicana, sendo essas:
• A literatura produzida nas zonas libertadas e em que é visível o reflexo directo da
acção ideológicada Frelimo”
• “A literatura produzida nas cidades por intelectuais que, em geral, assumem posições
ideológicasde distanciamento do poder colonial”
• “A literatura produzida para afirmar a ideologia colonial na sua expressão luso-
tropicalista”.

A Literatura africana em São Tomé e Príncipe


Embora São Tomé e Príncipe mantivesse um regime escravocrata, alguns negros que
ganhavam a liberdade conseguiam adquirir até mesmo direitos políticos, outros,
herdeiros dos antigos engenhos, adquiriam poderes econômicos e passavam a constituir
a aristocracia mestiça do país. Em 1876, com a abolição da escravidão, foi implantado
o regime de contratados, um sistema em que os negros eram contratados como serviçais
para trabalhar nas roças. Na Literatura santomense, as primeiras obras literárias tiveram
início no século XIX e foram produzidas por autores portugueses que moraram alguns
anos no país, como o primeiro livro de poemas relacionado a São Tomé e Príncipe
intitulado de Equatoriaes (1896) de António Lobo de Almada Negreiros. No período
colonial, os trabalhos literários dos autores santomenses não conseguiram prestígio, e
devido a isso, vários autores publicaram suas obras bem após o período da escrita.
Como o escritor Caetano da Costa Alegre, que teve seu único livro, Versus, publicado
postumamente em 1916. Príncipe tem sua presença assegurada na história da literatura
africana com escritores comobFrancisco da Costa Alegre, Francisco José Tenreiro,
Maria Manuela Margarido e Alda do Espírito Santo, entre outras, defendendo os
paradigmas da negritude e/ ou a identidade das ilhas.

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