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Resumo: Realiza breve análise das literaturas africanas de língua portuguesa no período
colonial, como instrumento de luta e afirmação identitária, abordando as especificidades que
a relação colonizador x colonizado acarretaram nas antigas colónias de Portugal: Cabo Verde,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.
0. APRESENTAÇÃO
Marcadas pelo colonialismo português, os conflitos e relações que esta forma administrativa
acarreta, foram com o passar do tempo, inspiração constante na literatura das então colónias
de Portugal, atuais países de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e
Moçambique. Por ter sido, o fazer literário nestes países, muitas das vezes, formas de
resistência e militância, serão exactamente estas nuances que marcam as relações colonizador
x colonizado e as demais buscas de afirmação identitária que elas acarretam, brevemente
abordadas neste trabalho, através de textos recolhidos dos 5 países africanos de língua
portuguesa. A literatura então passa a construir em forma de militância política, de denúncia,
de busca de uma identidade, a ideologia para a independência e afirmação de identidades
nestes países. Daí a sua importância.
O enfoque principal deste trabalho será para a lírica, não cabendo aqui transcrever, na íntegra,
textos narrativos e nem do teatro. Porém, ao analisar a relação colonizador x colonizado e de
afirmação identitária presente nos textos recolhidos, algumas referências a textos narrativos
podem ocorrer ao longo do trabalho. Realizar-se-á uma apresentação geral da literatura de
cada país antes da apresentação dos textos (ou trechos dos textos) recolhidos para cada um
deles.
1. MOÇAMBIQUE
Somente na década de 30, surge o nome de Rui de Noronha (1909-1943) e com ele são
dados os primeiros passos para a criação de uma literatura moçambicana. A partir de 1955
ocorre o surto de uma actividade cultural com uma feição que apontava às raízes da vida
moçambicana. “Mas é com msaho (1952), revista que se publicou apenas um número, (...),
que se dá pelo sinal organizado e colectivo da instauração de uma poesia (literatura) de raiz
autóctone”. (FERREIRA, 1986, p. 178). Porém, como lembra Ferreira (1986, p. 178), o
verdadeiro voo na violenta e complexa realidade moçambicana, ao sopro e ao rigor de
uma visão concretamente nacional, é desencadeado no discurso poético de Noémia de
Sousa, a partir de 1949.
Na área da narrativa, embora mais escassa, o primeiro nome que se impõe é o de João Dias,
que relativamente cedo introduz no discurso narrativo o sofrimento do homem negro no
mundo colonizado.
A tradição oral, abordada pelo projecto da literatura moçambicana, pode ser observada no
poema “Karingana ua karingana” de José Craveirinha. O título representa uma expressão
similar ao “era uma vez” brasileiro, utilizado pela oralidade na contação de estórias, por
exemplo. Já o poema “Grito Negro”, do mesmo autor, marca a opressão do negro pelo
sistema colonial, principalmente através da metáfora do carvão apresentada nos seguintes
versos:
Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei teu carvão
Patrão!
2. ANGOLA
É na segunda metade do século XIX que uma actividade literária e cultural intensas para a
época acontece.
E não deixa de ser curioso anotar que, já nesse período, (...), paralelamente àquilo que se vem
designando por literatura colonial, encontramos obras de alguns autores que não poderão ser
inscritas na genérica designação de literatura colonial: umas vezes serão portugueses
profundamente radicados em África, quase todos eles jornalistas combativos e criadores
literários, (...). Ou então serão mesmo autores africanos (...), a maioria militando (...) no
jornalismo, em grande parte político e interveniente, não raro denunciador de prepotências e
abusos da administração colonial ou de desmandos e repressões de sectores políticos e
económicos. Nesse jornalismo intervêm não só brancos como negros e mestiços.
(FERREIRA, 1986, p. 61).
A partir do início do século XX, como lembra Ferreira (1986, p.61), cria-se um vazio na
actividade literária angolana, que se prolonga por longos anos, ocorrendo maioritariamente
produções de literatura colonial. A partir de 1935, porém, a linha africana é reintegrada a
partir de António de Assis Júnior com seu romance “O segredo da morta”. Caberia ao
romanista Castro Soromenho dar à literatura angolana uma estatura de indiscutível qualidade
e radicação social e humana, perfeitamente representativa de uma situação colonial concreta,
denunciando a violência e a humilhação a que estavam sujeitos negros e mestiços, mas nos
quais residia já uma força potencialmente eufórica. Com o Movimento dos Jovens
Intelectuais de Angola (1948), surge uma nova fase da literatura angolana. O lema
“Vamos Descobrir Angola!” é adoptado responsabilizando a reconversão cultural e
política do país. Surge o termo “angolanidade” para exprimir essa preocupação
estético-social de fidelidade à mãe-África. Várias publicações surgem mostrando, entre
outros, uma ruptura e estruturação linguística que perpassa pelo português falado nos
muceques (ghettos da cidade de Luanda) e integração do quimbundo. Como lembra
Ferreira (1986, p. 62), é nas páginas destas publicações e noutras como “Mensagem” (1949-
1965), órgão da Casa dos Estudantes do Império (Lisboa), tornada num importante núcleo,
cultural e político, de estudantes e intelectuais africanos de Portugal, que, através da poesia,
do conto, do ensaio e da crítica, os jovens escritores africanos, com predominância para os
angolanos, vão corporizando a decisão anteriormente assumida de criar, de vez, uma
literatura verdadeiramente nacional. De resto, ao longo de todo este percurso houve sempre
um esforço no sentido de ser mantida íntima ligação entre os intelectuais africanos
progressistas vivendo em Portugal e os que permaneciam em África. Esta ligação culminou
com a primeira manifestação pública na divulgação da poesia africana de expressão
portuguesa, lançada fora de circuitos mais ou menos privados.
Na década de 60, período violento da guerra colonial, a repressão cultural fazia-se sentir
a todos os níveis. Escritores presos, outros exilados, outros participando na luta
armada, alguns em Portugal, muitos outros silenciados pela ameaça ou pelo medo. E
uma censura feroz, perversa e eficaz. (FERREIRA, 1986, p. 62).
Porém, mesmo nesse período, regista-se a publicação de alguns livros de poesia. No início da
década de 70 pareceu querer reanimar-se, embora timidamente, a actividade literária em
Angola, abrindo-se certas possibilidades editoriais a partir de iniciativas individuais ou em
grupo, que entre outros, alargaram o espaço poético angolano. Nesse cenário a acção
literária e cultural do M.P.L.A. (Movimento Popular de Libertação de Angola) foi
muito importante durante a luta de libertação nacional.
Apenas no período de descolonização (a partir de Abril de 1974), criaram-se as condições
para a construção de uma cultura desalienada, abrindo largas perspectivas editoriais, não
apenas em relação a autores já conhecidos como à revelação de vários outros.
O poema “Partida para o Contrato”, de Agostinho Neto (1985, p. 11), reflecte o
questionamento sobre até quando as desigualdades causadas pelo sistema colonial durariam
em Angola, sob uma perspectiva de chamada para a atitude:
O seu amor
Partiu para S. Tomé
Para lá do mar
Até quando?”
Da mesma forma, no poema “Quitandeira” do mesmo autor (op. cit. p. 23), há a descrição da
situação em que a quitandeira se enxerga, como alguém que não vale nada – realidade
vivenciada perante o sistema:
“A quitanda.
Muito sol
E a quitandeira à sombra
Da mulemba.
(...)
A quitandeira
Que vende fruta
Vende-se.
Aí vão as laranjas
Como eu me ofereci ao álcool
Para me anestesiar
E me entreguei às religiões
Para me insensibilizar
E me atordoei para viver.
Tudo tenho dado.
(...)
Talvez vendendo-me
Eu me possua.
- Compra laranjas!”
As perspectivas de Agostinho Neto, tanto em sua poesia quanto na narrativa, apontam para
uma crença de que o projecto intelectual em Angola só seria plenamente realizado em
gerações futuras.
Partindo da lírica para a narrativa, textos do período colonial, como “Nga Muturi” (1882) de
Alfredo Troni – revolucionário na época por colocar uma mulher como personagem
principal, utilizando um modelo formal europeu literário, mas com roupagem angolana (com
marcas locais muito fortes), também devem ser levantados como parte da busca por uma
identidade angolana na literatura. “A Morte da Chota” de Castro Soromenho também aponta
a condição da mulher de submissão, permeado por referências da tradição oral como forma
de identidade do projecto literário angolano (até a década de 1980). “Vovô Bartolomeu” de
António Jacinto aponta as referências à tradição através da imagem do corpo sempre muito
presente (dança, ritmo), marcado pela alternância de registo de escrita (português padrão e
português marcado por uma fala local), reproduzindo o discurso geral pessimista e propondo
no final uma crítica a isso.
O resultado desse projecto literário (fazer poético) em Angola foi a luta armada (guerrilha),
literalmente.
1.º Período, das origens até 1848, a que chamamos de Incipiência. A literatura angolana
começou, pelo menos, com o livro de Maia Ferreira, em 1849, que a introdução do prelo em
Angola possibilitou. […]
2.º Período, que vai da publicação dos poemas Espontaneidades da minha alma, de José da
Silva Maia Ferreira, em 1849, até 1902. Período dos Primórdios, que engloba uma
produção poética remanescente do romanismo, com raros tentames realistas, dos quais se
destaca a noveleta Nga mutúri (1882), de Alfredo Troni. […]
4.° Período, entre 1948 e 1960, fulcral na Formação da literatura, enquanto componente
imprescindível da consciência africana e nacional. Época decisiva, considerada
unanimemente como a da organização literária da nação, com base em movimentos como o
MNIA, o da Cultura e o da CEI, além de outros contributos, como o das Edições Imbondeiro
(de Sá da Bandeira). O Neo-realismo cruza-se com a Negritude. Com os ventos de certa
abertura e descompressão da política internacional, a seguir à II Guerra Mundial, na Europa,
como em África, animam-se as hostes angolanas empenhadas em libertar-se das malhas
estreitas da política colonial e, portanto, de uma cultura alienada do meio africano. É nesse
contexto brevemente favorável que surge uma actividade marcada já fortemente por um
desejo de emancipação, em sintonia com os estudantes que, na Europa, davam conta de que,
aos olhos da cultura ocidental, não passavam todos de «cidadãos portugueses de segunda».
[…]
6.º Período, de 1972 a 1980, o da Independência, repartido por dois curtos períodos, de
1972-74 e de 1975-80, relativos, respectivamente, a uma mudança estética acentuada, de uma
modernidade acertada pelo relógio dos grandes centros mundiais, e, por outro lado, após a
independência, a uma intensa exaltação patriótica e natural apologia do novo poder. […]
7.º Período, (1981-1993), de Renovação, que começa com a formação, em 1981, da Brigada
Jovem de Literatura. Num primeiro momento, a Brigada, dependente sempre do apoio estatal,
partiu em busca de certa autonomia decisória e estética, mas revelou-se herdeira do realismo
social. O objectivo fundamental era preparar alguns jovens para o trabalho literário, tanto
mais que, após a escolarização secundária, não tinham, no país, estudos superiores de
literatura desenvolvidos. […]
A partir de uma certa altura foi possível começar a publicação de obras consideradas
incómodas para o poder político, como o romance Mayombe, de Pepetela, escrito ainda
durante a guerrilha. Variadas tendências estéticas e ideológicas ganharam espaço e
impuseram as suas obras.
Como acontece com os outros países, a literatura de Angola também não nasce por
método espontâneo. Vários são os antecedentes e os precursores que influenciam
sobremaneira o carácter social, cultural e estético da literatura e da poesia, em
particular. E não podemos nunca descurar, como factor de grande influência, a tradição
da oralidade em África, quanto a mim, um dos antecedentes de maior responsabilidade.
O peso da oralidade exerce-se em muita da obra poética africana, conferindo-lhe uma
grande carga de "espiritualismo telúrico". Podemos considerar a história da poesia de
Angola em duas fases, sendo a primeira a da escrita colonial, e a segunda a da
poesia moderna e nacional, que se inicia com a publicação da revista Mensagem,
em 1951.
3. CABO VERDE
Por questão histórica, política, social, e literária, é que a partir do início da década de 30
(também por influências da literatura brasileira), ocorre uma tomada de consciência regional
(nacional), muito precisa por parte dos escritores cabo-verdianos. Estes passam a
preocuparem-se com a real significação das estruturas sociais cabo-verdianas. Apesar de
ainda não ser uma clara postura anticolonial, era em modos de literatura, uma mudança no
sentido de “manter as costas voltadas para os modelos temáticos europeus e os olhos, pela
primeira vez, vigilantes e deslumbrados no chão crioulo”. (FERREIRA, 1986, p. 126). O
poema “Itinerário de Pasárgada”, de Oswaldo Alcântara (que utilizava o pseudônimo
Baltazar Lopes), ilustra, através de uma releitura de Manuel Bandeira, a íntima relação
entre Cabo Verde e Brasil, que foi influenciadora desta busca pela identidade cabo-
verdiana.
Durante muito tempo a poesia cabo-verdiana evoluiu, em grande parte, sob a influência
da poesia de Jorge Barbosa, embora tenha ocorrido um aprofundamento temático,
estilístico e ideológico entre várias gerações. Após a independência, é criada a revista
Raízes (1977), dirigida por Arnaldo França, sendo uma das suas principais características
o amplo aproveitamento dos autores que vêm da Claridade, porém, quer em português
ou em crioulo, juntam-se autores das novas gerações.
A referência geográfica forte (ilha), a posição de desejos, o diálogo com o projecto colonial
português e com o cabo-verdiano, assim como a referência à tradição da morna (própria de
Cabo Verde), são características da literatura cabo-verdiana encontradas no poema “Irmão”
(1941) de Jorge Barbosa, nos seguintes versos:
Cruzaste Mares
na aventura da pesca da baleia,
nessas viagens para a América
de onde as vezes os navios não voltam mais.
(...)
Sob o calor infernal das fornalhas
alimentaste de carvão as caldeiras dos vapores,
em tempo de paz
em tempo de guerra.
A Morna...
Parece que é o eco em tua alma
Da voz do Mar (...)
(BARBOSA, In: FERREIRA, 1986, p. 166-167).
Percebe-se assim, que a literatura cabo-verdiana pós Claridade, apesar de não se direccionar
directamente ao colonialismo e à sua denúncia, buscava, a partir da pressão que o
colonialismo acarretava, afirmar a identidade do país, através da valorização das
especificidades locais e do modo de vida do cabo-verdiano.
4. GUINÉ-BISSAU
Entre as várias etnias circula o crioulo (diferente do crioulo de Cabo Verde e de São Tomé e
Príncipe), que tende cada vez mais a funcionar como autêntica língua de contacto, tendo
deixado, no entanto, o seu rastro apenas na literatura oral e em algumas canções de luta nos
quadros do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde).
Embora durante a guerra colonial, nas áreas libertadas pelo PAIGC, se tivesse
procedido a uma aturada alfabetização, compreende-se que a juventude, essencialmente
empenhada na luta de libertação nacional, ou então retraída a que vivia na capital, só
agora encontre os meios necessários para se revelar no plano da criação e construir a
autêntica literatura do seu país. (FERREIRA, 1986, p. 163).
A relação colonizado x colonizador, marcada pela tensão entre discursos e tensão entre
estratégias do colonizador e resistência do colonizado, pode ser percebida nos versos de
Vasco Cabral (1956), do poema Anti-delação:
A noite veio,
disfarçada em dia
e ofereceu-me a luz,
diáfana como a Aurora.
Mas eu disse que não.
(...)
A evolução de São Tomé e Príncipe teria sido paralela, em muitos pontos à de Cabo
Verde. Mas nos meados do século XIX, implantando-se o sistema de monocultura, a
burguesia negra e mestiça vai ser substituída pelos monopólios portugueses e o seu
processo social alterado e travada a miscigenação étnica e cultural. Mesmo assim, em
grau relativo, patentes são os efeitos do contacto de culturas traduzido em vários
aspectos, sobretudo ao nível das camadas da burguesia africana. A sua poesia, de um
modo geral, exprime exactamente isso: por um lado, as marcas de uma mestiçagem; por
outro lado, os profundos nexos que vinculam o homem de S. Tomé ao mundo
genuinamente africano. (FERREIRA, 1986, p. 210).
Os versos do poema Serões de São Tomé (1916) de Costa Alegre, abordam a perspectiva da
relação colonial através da metáfora da mulher branca (colonizador) como fria em
contrapartida com a mulher negra (colonizado):
Da mesma forma, o mesmo poeta aborda o conflito da tensão anticolonial no poema Aurora,
metaforizando a figura do colonizador (Aurora) abordando a questão do conflito no verso
final do poema:
O poeta Francisco José Terneiro, com o poema Exortação (1982), demonstra a face da
Negritude presente na literatura santomense através de uma chamada para uma atitude em
termos de Negritude, expressa pelos seguintes versos: “Negro! / Levanta os olhos pra o sol
rijo e ama tua mulher / na terra húmida e quente!” (In: FERREIRA, 1986, p. 447).
6. CONCLUSÃO
Este trabalho, através de trechos retirados de textos dos autores de cada país, procurou
demonstrar como eles abordaram a questão da colonização portuguesa e seus impactos na
sociedade de cada região, buscando, cada um à sua maneira e dentro do projecto literário de
cada país, denunciar as mazelas da colonização e reestruturar a identidade local. A literatura
foi, portanto, instrumento de luta nesse processo.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Manuel. Literaturas africanas de expressão portuguesa. São Paulo: Ática, 1986.
LEITE, Ana Mafalda. A modalização épica nas literaturas africanas. Lisboa: Veja, 1995.
http://www.uc.pt/litafro/bibliog.html
Actividades
3. Tendo como referência o período chamado de formação por Pires Laranjeira, relacione a
intensificação da colonização portuguesa no século XX e o aparecimento de grupos focados
na construção de uma consciência africana e nacional.
6. Ao escolher os espaços dos musseques, Luandino Vieira dá voz ao povo pobre de Luanda.
Através do trecho de “Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos”, comente a linguagem utilizada
pelo autor.
7. Como podemos identificar, por meio da linguagem utilizada por Luandino, a relação entre
um projecto literário e um projecto ideológico?
Havemos de voltar
Às casas, às nossas lavras
às praias, aos nossos campos
havemos de voltar
ÀS nossas terras
vermelhas do café
brancas de algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar
À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar
À marimba e ao quissange
ao nosso carnaval
havemos de voltar
Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente
Agostinho Neto
Onde as mulheres que têm os braços mais grossos e mais tortos que oca
são negras como o café que colhem depois de torrado
trabalham ao lado de seu homem numa ajuda toda de músculos!
Onde os moleques vêem seus pais no ritmo diário
deixando correr gostosamente pelo queixo quente
o sabor e a seiva húmida do sàfu maduro!
TENREIRO, Francisco José. Ilha de nome santo (1942). In: __________. Obra Poética. Lisboa:
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1991, p. 53-4.
Estrutura interna
Temática do texto;
Sujeito poético;
Destinatário;
Mensagem;
Período literário (geral e especifico)