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O papel social e tradicional do homem e da mulher na família

Família – conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco entre si e vivem na


mesma casa formando um lar. Uma família tradicional é normalmente formada pelo pai
e mãe, unidos por matrimónios ou união de factos, e por um ou mais filhos, compondo
uma família nuclear ou elementar (ALARCÃO, 2006).

A família é considerada uma instituição responsável por promover a educação dos filhos
e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social. O papel da família no
desenvolvimento de cada indivíduo é de fundamental importância na identidade sexual.
É no seio familiar que são transmitidos os valores morais, sexuais e sociais que servirão
de base para o processo da construção de identidade, bem como as tradições e os
costumes perpetuados através de gerações.

Nos referimos à identidade pretendemos destacar que esta é de maneira geral um


conjunto de aspectos individuais que caracteriza o individuo, estando directamente
ligada a forma como o ser humano se percebe, tanto individual quanto socialmente,
podendo esta ser modificada ao longo da vida de acordo com as transformações
pessoais do ser humano (GROSSI, 1998).

A identidade sexual indica o entendimento de cada um sobre o género masculino e


feminino. Essa identidade também pode manifestar uma mistura entre esses dois,
admitindo várias categorias de homossexualidade. A identidade sexual é fundamentada
na percepção individual sobre o próprio sexo, manifestado no papel de género assumido
nas relações sexuais.

Para CAMARGO (1999), a identidade sexual de uma criança é formada nos primeiros
anos de vida, então se o lar em que ela se encontra é um ambiente conturbado esta
criança tende a sofrer neste ambiente, desenvolver algum tipo de transtorno emocional e
sentimentos diversos (ódio, desespero, angustia, tristeza), entretanto a falta de uma,
afecta também directamente este individuo, ou seja, ter uma família influencia em
diversos aspectos tanto positivamente como não.

A formação do nosso senso de identidade pessoal e da nossa orientação sexual são


fortemente Influenciados pelo ambiente familiar na Infância. Uma família consciente do
seu papel pode exercer influência positiva poderosa no crescimento e amadurecimento
dos filhos.

A família é essencial para o desenvolvimento de cada pessoa, independente de sua


formação. É no meio familiar que o indivíduo tem seus primeiros contatos com o
mundo externo, com a linguagem, com a aprendizagem, e, adquire os primeiros valores
e hábitos.

É fundamental a importância da família na construção da sexualidade de crianças e


adolescentes. A sexualidade vai além do ato sexual, e não deve ser tratada como tabu.
Muitas vezes, os problemas de ordem sexual são desencadeados e sofrem grande
influência da família. São relacionados aos valores, conceitos, regras e princípios morais
frente ao sexo. (CAMARGO, 1999:90).

A orientação sexual é claramente importante, mas não se pode considerar que ela
determine a identidade sexual. A identidade sexual também é influenciada pelas
categorias de sexualidade presentes na cultura de cada sociedade

Contudo, a família tem fundamental importância para a formação do indivíduo, porque


constitui a base, o alicerce principal para o desenvolvimento humano. Embora essa seja
quase sempre representada por um conjunto de pessoas, ela também se constitui de
relações afectivas estabelecidas entre os membros sanguíneos ou não.

O papel social do homem na família

O papel social da mulher na família

De acordo com Duarte (1995), o conceito atual que possuímos de família é oriundo de
diversos agenciamentos culturais ocidentais. Trata-se de um conceito instável, que se
apresenta de maneiras diferentes em culturas diferentes. Apesar das diversas
concepções, o estereótipo da família nuclear tem sido privilegiado e tem ocupado um
lugar pregnante na idéia que construímos, historicamente, sobre o grupo familiar.

Nesse modelo, a mulher ocupa um lugar fundamental, através do papel da maternidade


o qual se constitui como a sua identidade principal, impulsionada, num primeiro
momento, por interesses políticos e sociais, que se fizeram presentes, ao longo dos
séculos, através da entrada em cena, por exemplo, da medicina higienista. A mulher é
colocada como um elemento agregador imprescindível, sem o qual a unidade familiar
não sobrevive (Favaro, 2007). O homem, por sua vez, neste contexto, sempre encontrou
dificuldade para separar sua individualidade das funções de pai. Manteve-se protegido
no silêncio comprometedor de toda a possibilidade de diálogo com a família,
especialmente com os filhos (Gomes & Resende, 2004).

Pode-se afirmar que a mulher de hoje tem uma maior autonomia, liberdade de
expressão. A mulher do século XXI deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar
diferente tanto familiar e social, com novas liberdades, possibilidades e
responsabilidades, dando voz ativa a seu senso crítico. Adquiriu poder financeiro e de
comando(ordens), função antes só realizada pelo marido(Homem). Deixou-se de
acreditar numa inferioridade natural(força) da mulher diante da figura masculina nos
mais diferentes âmbitos da vida social.

Hoje as mulheres não ficam apenas restritas ao lar e à família (como donas de casa),
mas comandam escolas, universidades, empresas, , países. Dessa forma, a família
moderna muda suas características da antiguidade e diminuem expressivamente com o
grau de independência da mulher no mundo moderno.

A identidade de género e das praticas culturais na comunidade

As representações sociais são como formas de compreender a relação diária da vida em


sociedade, onde o indivíduo é valorizado com a sua participação na reelaboração de
significados para fenómeno da vida quotidiana (CARNEIRO, 2003). De acordo com
essa análise entende-se que as representações sociais são construídas no dia-a-dia da
vida social, a partir de um processo sócio cultural local, entre os sujeitos sociais. Essa
construção ocorre em todos os espaços da sociedade.

Na representação social há uma necessidade de entender e compreender o processo de


modernização e como pode influenciar nas relações sociais, transformando e
contribuindo para a construção de identidades pessoais e das unidades simbólicas.
(MOSCOVICI 1994: 16 apud TEIXEIRA, 1999). Assim é possível inferir que as
representações sociais são construídas, através da percepção de si e do outro. Através do
caráter simbólico e imaginário dos saberes sociais pode-se compreender como sujeitos
sociais se empenham em entender e dar sentido ao mundo em que vivem.
TEIXEIRA (1999) entende as relações sociais como a relação de dois mundos sendo o
primeiro da experiência individual, de onde resultam os comportamentos e percepções
advindas de processos íntimos, às vezes de natureza fisiológica. O segundo mundo, por
sua vez é propriamente o das relações interpessoais, explicando em função de
interacção, estruturas e trocas de poder.

Por outro lado, MOSCOVICI (1994 apud TEIXEIRA, 1999), afirma que a separação de
dois mundos traduz-se em uma separação errónea de vista, pois existe o conflito entre o
individual e o colectivo de cada um.

A construção do real e o domínio do mundo colocam em evidência o papel que as


representações sociais assumem na dinâmica das relações práticas, sociais, quotidianas e
se explicam através das diferentes funções assumidas pelas representações sociais.
Neste caso as representações se formam e se modificam a partir do que foi absorvido
pelas mulheres durante o percurso da sua vida.

O actor social depende da sua história de vida, através dos conhecimentos de sua
experiência a determinado tema, aspecto ou situação de acordo com a história já
existente. Dessa forma, através da experiência adquirida anteriormente são construídos
os símbolos e significados que permitem aos indivíduos de um determinado grupo
interpretar a acção recebida frente às suas necessidades.

A sociedade humana é histórica, muda conforme o padrão de desenvolvimento da


produção, dos valores e normas sociais. Na medida em que ocorre a transformação,
atinge as representações de género, que constituem os papéis de cada um em seu
modelo de ser. É uma construção cultural que transcende os séculos, passando pelas
representações transmitidas de geração em geração e que, constituída em “cultura”,
define o lugar do homem e da mulher com âmbitos diferenciados e antagónicos. Mesmo
com a grande transformação dos costumes e valores que vem ocorrendo nas últimas
décadas, ainda perduram muitas discriminações, muitas vezes ocultas, relacionadas a
género (MOSCOVICI, 1994).

Discorrendo sobre o que expõe o autor acima, inúmeros são os instrumentos de


socialização para conformação de identidade de genro. Relações sociais complexas
interagem em diversos níveis, sejam eles no âmbito familiar, comunitário e nas políticas
públicas que se fazem presentes, não só no domínio das práticas, mas também no
domínio psíquico. Tais relações definem-se, portanto, pela colocação de papéis sociais,
representações e expectativas de comportamentos, partindo de uma caracterização
biológica do masculino e do feminino, da masculinidade e da feminilidade.

Ademais, essa definição restrita de papéis sociais dá origem à relação de opressão,


exploração e domínio. A natureza da mulher é a todo o momento, passível de ser
perdida, sendo assim é necessário que ela seja constantemente apreendida, controlada,
vigiada, entende-se então que perder a feminilidade ou a masculinidade é uma ameaça
constante, e para que isso não ocorra existem regras que devem ser acatadas desde
infância, nos tipos de brincadeiras, nos modos, próprio de ser meninos e meninas.

CARLOTO (2001:78) corroboram com a ideia de que as actividades masculinas são


distintas das femininas, em espaços produzidos pelas esferas domésticas e públicas.
Cada uma desta constitui-se num espaço pertencente a um dos géneros, difícil de
sobreporem. O afastamento da mulher da esfera doméstica, seu lugar natural, é muitas
vezes tido como uma degradação moral, consequência da exploração capitalista.

Essa afirmação dos autores pode ser observada ainda na infância, constatando que as
meninas brincam com panelinhas, bonecas, de casinha, sendo motivadas através dos
brinquedos, a maternidade e cuidar do lar e da família, reprodução da prole. Os meninos
brincam com carrinhos, de bombeiro, polícia, caminhão, bicicleta, brincadeiras
directamente ligadas a profissões, imputando a ideia de que, ao homem cabe a função de
trabalhar para sustentar a família.

O destino de identidades e actividades como a separação dos âmbitos de acção para


homens e mulheres, que estão valorizados de forma diferente, é a expressão social da
desigualdade. Desta valorização desigual surge um acesso também desigual ao poder e
aos recursos, o que hierarquiza as relações entre homens e mulheres.

Diante disso, o género constitui uma realidade complexa, não podendo, portanto, ser
considerado um conceito fixo (CARLOTO, 2001), mas constantemente redefinido pelos
indivíduos em situações na qual se encontram e que acabam por compor-se em
momentos históricos. De fato, quase sempre as mulheres são cerceadas em suas
necessidades e capacidades em função da diferença sexual.
FOUCALT (1988) considera que ambos os sexos são capazes de qualquer função,
sendo possível discorrer que não é a natureza, mas a sociedade que impõe à mulher e ao
homem certos comportamentos e normas distintas. O ser humano nasce sexualmente
neutro em atribuições e o meio social em que vive determina os papéis masculinos ou
femininos, instituindo assim o género, isto é, hierarquias socialmente constituídas.

Tradicionalmente, os homens são conduzidos à condição de provedor da família,


sentindo-se obrigados ao trabalho fora de casa, enquanto as mulheres sentem
necessidade de ficar junto aos filhos, não sendo fundamentalmente uma condição da
natureza do sexo. Este autor diz que tais idéias são meras construções sociais,
procurando justificar o domínio do homem sobre a mulher. Assim, a mulher,
ingenuamente, acredita que seu lugar mais importante é o lar, que nasceu para ser mãe,
que deve sacrificar-se pelos filhos e ser fiel ao marido.

De acordo com GROSSI (1989) a composição de género determina os valores e


modelos do corpo, suas aptidões e possibilidades. Criam paradigmas físicos, morais e
mentais, cujas associações tendem a homogeneizar o ser, desenhando em múltiplo
registro o perfil da verdadeira mulher. Na sociedade moderna, o masculino também é
submetido ao modelo de performance e comportamento, a hierarquia que funda sua
instituição no social o qual se apoia a construção dos estereótipos, um exercício de
poder que se exprime em todos os níveis sociais.

Bibliografia

ALARCÃO, M. Desequilíbrios familiares: Uma visão sistémica, 3ª edição. Quarteto


Editora
Elvas, Coimbra, 2006.

CAMARGO, Ana Maria Faccioli de; RIBEIRO, Cláudia. Sexualidade (s) e Infância
(s): a
sexualidade como tema transversal. Campinas, SP: Moderna, 1999.

GROSSI, M. Género, violência e sofrimento. Antropologia em Primeira Mão.


Florianópolis.
1998.
Favaro, 2007

Gomes & Resende, 2004).

Guacira Lopes. Género, sexualidade, cultura e educação: uma perspectiva pós-·


estruturalista. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

RODRIGUES, Carla Performance, género, linguagem e alteridade: 2013

SCAVONE, Lucila Estudos de género: uma sociologia feminista. 2008.

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