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INTRODUÇÃO

1-Evolução nos conceitos de Família

Ah, família é tudo na vida da gente, e eu não tenho família...” E 121

“Qualquer análise conceitual da família não pode ignorar os preconceitos e nem


lhes dar voz. O primeiro passo a meu ver, para proceder à descoberta de
ferramentas conceituais que possam oferecer um arcabouço teórico para a
compreensão da família deve partir da delimitação do espaço conceitual. Para
isso, é preciso abandonar, pelo menos num primeiro momento, as pretensões de
universalidade. Não existe essa abstração que é a família
.
Embora, para o senso comum, a representação da família seja sempre
compreensível, ela não é idêntica. As variações possíveis exigem a qualificação, ou
seja, de que família estamos falando, de que pais, de que estrato social, de que
momento. Os instrumentos de análise devem ser criados a partir da pesquisa. Os
grandes esquemas conceituais e explicativos revelam-se falhos quando
confrontados com a realidade. Não a explicam e, muitas vezes, servem para
confundir modelos abstratos – que dizem o que deveria ser – com o modo como se
apresentam as famílias e como se adaptam para fazer face à realidade”(MELLO,
1995, p. 53).

Para podermos entender a questão da violência doméstica contra a criança e o

adolescente faz-se necessário pensarmos sobre a família e seus conceitos e, como ela é vista

ao longo dos tempos.

A família é considerada como sendo o elemento básico da sociedade, o meio natural

para o crescimento das gerações mais novas e lugar de bem-estar de todos os seus membros;

tanto isso é assim que, o Estatuto da Criança e do Adolescente, (ECA- 1990), no sentido de

dizer que as crianças e adolescentes, que devem receber proteção e assistência para se

desenvolverem plenamente, priorizou-a como o meio por excelência para que isto aconteça.

Mas, por outro lado, a família nem sempre consegue cumprir adequadamente suas

funções.Tanto assim que é freqüente serem identificados problemas sérios no ambiente

familiar, sendo a presença da violência um deles, ou seja, o lugar que deveria ser seguro

torna-se o oposto (CUNHA; MINAYO; VERONESE, 1999).

1
Entrevista com o participante número 12.
2

Os dados revelam que a violência que atinge as crianças é muito grande; a literatura

internacional mostra que 70% dos atos de violência física contra crianças, em geral, são

praticados pelos pais, sendo as faixas etárias mais vulneráveis de 7 a 13 anos, SAFFIOTI

(1999).

Também, a literatura vem evidenciando que essa violência, segundo as pesquisas;

(MINAYO, 1999, 2001; PASCOLAT, 2001), é praticada dentro do lar, tendo como

agressores os próprios pais, (DESLANDES; FERREIRA; REICHENHEIM, 1999), assume

formas diversas, podendo ser; física, sexual e psicológica.

Antes de entrarmos na questão propriamente dita sobre a violência doméstica

contra as crianças e adolescentes, vamos conceituar família, famílias essas que muitas vezes,

são as responsáveis pela violência doméstica contra a criança e adolescente, que é o assunto

desse estudo.

Ao longo dos tempos as relações humanas têm sofrido alterações e a família

considerada como o primeiro socializador e, com funções estabelecidas não poderia deixar de

ser atingida por essas alterações.

A família é uma instituição socialmente determinada, sendo portanto de estrutura

mutável de acordo com a cultura em que seus membros se inserem. É invariável, porém, que

as relações de consangüinidade, de dominação e submissão são inerentes à existência do

grupo.

A família pode ser conceituada como sendo;

“um grupo social composto de indivíduos diferenciados por sexo e por idade, que
se relacionam cotidianamente, gerando uma complexa e dinâmica trama de
emoções; ela não é uma soma de indivíduos, mas um conjunto vivo, contraditório e
cambiante de pessoas com sua própria individualidade e personalidade ”
BRUSCHINI (1997, p. 77).
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Existem vários conceitos a serem atribuídos para a família, pois esse é um assunto e

aspecto muito próximo da vida de cada ser humano.

Para, BIASOLI-ALVES (1999), “A família é um tema que vem sendo muito estudado,

ao qual se debruçam antropólogos, sociólogos, historiadores, psicólogos e educadores entre

outros” (p. 229).

A família apresenta definições e alterações de cultura para cultura e de momentos

históricos para outro, que iram determinar sua existência como também o papel

desempenhado por cada elemento que a compõem, sendo assim, BIASOLI-ALVES (1995)

diz que,

“a família vem sendo transformada por variáveis amplas do social, pelo momento
histórico, pela cultura em que esta inserida, mas que também ao assimilar o que
vem de fora ela modifica e devolve ao casal um produto novo, que por sua vez o
altera, e assim indefinidamente.”

A família além das mudanças históricas, por quais passa, tem também as diferenças de

uma sociedade para a outra, fazendo com que ela a cada período de tempo seja pensada de

uma maneira, DURHAM (1983).

Assim sendo a família está sempre em constante mudança, seja em sua estrutura ou

organização, não existindo portanto modelos prontos e acabados, pois não é possível pensar

na família como sendo um modelo pronto, não sujeito as alterações dos períodos de cada

época de nossa história.

Isso permite que se compreenda melhor as diferentes definições bem como as funções

que a ela são atribuídas, o que exige também que se analisem as alterações por que passa.

É certo que a concepção de família ao longo dos séculos vem se alterando, não

existindo uma definição única e abrangente, observando-se que muitas vezes, cada

pesquisador, dentro de seu contexto, adota uma definição para família; como pode ser

constatado a seguir.
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Segundo, BIASOLI-ALVES (1999); cada um de nós acaba por formar a sua

própria noção do que é família, da que é considerada como ideal e também da real.

Para (SZMANSKI; DIAS, 1995); a família é composta por pai, mãe e crianças

vivendo em uma casa, ou seja um modelo de família nuclear.

O modelo familiar nuclear que hoje é comum, composto de marido, esposa e filhos, é

descendente do modelo burguês surgido no século XVIII, que coloca o lar como sendo o

refúgio da vida social, o lugar de afeto mútuo, de privacidade individual e de socialização das

crianças. Nesse modelo, a relação entre pais e filhos tornou-se mais íntima e amorosa, focada

no mito do amor materno incondicional. Em que o pai assume o papel de figura moral que

mantém e protege a esposa e os filhos; a mãe é que tem como função a educação dos filhos e

os cuidados com a casa.

A visão de família para ROMANELLI (1995); é que há atributos de hierarquia dentro

da família, em que o marido/pai exerce poder sobre a esposa e filhos e apresenta uma divisão

de tarefas baseadas em ser do sexo masculino e do feminino.

Para RODRIGO (1998, p. 46);

“a família é um conjunto organizado e interdependente unidas ligadas entre si por


regras de comportamento e por funções dinâmicas em constante interação entre si
e um intercambio permanente com o exterior”.

A forma como a família é pensada por BIASOLI-ALVES (1995); está relacionada a

ligações e relações que se estabelecem na família, entre gerações diferentes e compõem a

socialização ao longo da vida e que há aproximações e distanciamentos nas formas de

perceber o mundo e a evolução entre seus membros.

A família pode ser compreendida a partir do número de integrantes que fazem parte

dela, de sua extensão que determinam mudanças estruturais e ampliações no tamanho e na

forma do grupo familiar, e também as reorganizações que ocorrem depois de mortes,

divórcios e eventuais novos casamentos, (DE ANTONI et al., 2000).


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A família também é vista por suas relações e ligações que formam entre seus

membros, sendo assim, LAING (1983); diz que essas relações familiares se caracterizam por

união e por influência recíproca direta, intensa e duradora.

No contexto sócio-histórico-cultural contemporâneo, a família nuclear tradicional,

com os membros morando na mesma casa, permanece como o modelo mais comum; ainda

que consideremos o aumento de divórcios e o crescimento do número de mães solteiras chefes

de família e, as relações homossexuais surgem como novas formas de famílias nos últimos

anos e que ultimamente a justiça tem permitido a esses novos casais terem o direito de adotar

uma criança.

A família tem sua concepção centrada a uma construção cultural definida e redefinida

de acordo com o contexto e o momento vivido, NEDER (1994), a família se adapta ao

momento vivido, incorporando inovações e construindo novos arranjos familiares.

Como pode ser observado são muitas as formas como cada pesquisador pensa em

família e os conceitos se tornam amplos e diferenciados.

Cada membro da família tem suas ações e comportamentos orientados pelas

características intrínsecas ao próprio sistema familiar, mas podendo mudar diante das

necessidades e das preocupações externas.

Portanto, a concepção de família não é uníssona e sim multifacetada, proporcionando

várias definições dentro de áreas diferentes.

Para OSÓRIO (1996, p. 16), a definição de família apresenta um conceito mais amplo;

“família é uma unidade grupal onde se estabelecem três tipos de relações pessoais-
aliança-casal, filiação – pais e filhos e consangüinidade – irmãos – e que a partir
dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e
fornecer-lhes condições para a aquisição de suas identidades pessoais,
desenvolveu através dos tempos funções diversificadas de transmissão de valores
éticos, estéticos, religiosos e culturais” (p-16).

O tema família é bastante complexo, e apresenta muitas variáveis e definições, estuda

- lá nos coloca a frente de uma realidade muita próxima, que é a definição de família, que
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temos como um modelo interiorizado e idealizado, “que se confunde com o que somos, com

nossa identidade pessoal”, (SARTI, 1995, p. 39).

As famílias sofreram inúmeras transformações ao longo dos tempos, a intensa

urbanização, as migrações externas e internas, a formação da classe operária, o surgimento

dos meios de comunicação, as mudanças na vida feminina, além das transformações

demográficas, sociais e econômicas, essas são algumas transformações sofridas e que

atingiram e alteraram o funcionamento da família.

Para falar de família no século XXI, torna-se necessário fazer uma contextualização,

acerca dos problemas e transformações que ela enfrenta.

Para isso torna-se importante falar sobre a mulher, pois a família que sofre tantas

transformações ao longo dos tempos, esta diretamente relacionada a mulher e as mudanças

que ocorrem com ela dentro das famílias.

O que se observa nas famílias é que a grande maioria das mulheres tem sua vida

inteiramente definida pelos ditames da família, e nos moldes da sociedade em que ela está

inserida.

Isto contribui de maneira muito determinante na mulher, pois o processo de educação

a que ela era submetida dava-lhe como uma única opção ser dedicada a casa, marido e filhos,

assim seria feliz e realizada.

A situação da mulher não era tão favorável e no Brasil, até as últimas décadas do

século XVIII e primeiras do XIX, os casamentos eram arranjados e impostos, era um contrato

conjugal, cabendo aos pais, padrinhos e tutores a decisão e escolha do noivo/marido,

prevalecendo sempre à decisão e o interesse familiar.

Em razão disso é de se supor que o processo de educação de meninos e meninas era

essencialmente diferente, ela educada para ser amável, prestativa, modesta, prendada e

trabalhadeira, devendo se tornar boa esposa e boa mãe, ele ensinado para assumir
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responsabilidades da casa e da vida familiar, que era o elo entre o privado e o público, que

seria o responsável pela transmissão de valores à sua prole BIASOLI-ALVES (2000).

Uma conseqüência natural desses procedimentos era serem as meninas mais

protegidas, sobretudo do mundo exterior, e orientadas às coisas do ambiente doméstico e

esperava-se que se tornassem ‘bem comportadas’, recatadas, delicadas, compreensivas em

relação ao comportamento do outro, reprimidas sutilmente, com isto não é brincadeira de

menina, moça bonita não faz isso BIASOLI-ALVES (2000).

Já a educação dos meninos seguia caminhos diversos, a começar pelos brinquedos que

exigiam uma atividade física muito maior, são bolas, pipas, carros, bicicletas, as brincadeiras

os levavam para fora de casa e desde cedo aguçavam suas noções de espaços e de limites.

Deles se esperava liderança, expansão e até certa agressividade

BIASOLI-ALVES (2000, p.11), ao traçar um histórico das mudanças no papel da

mulher ao longo do século XX, tendo como foco a família e a sociedade, afirma que os

padrões rígidos vão sendo alterados vagarosamente nesse período, fruto de 'macro' varáveis

do social, como a crescente industrialização e urbanização, mesmo nos países, até esse

momento, de economia essencialmente agrária, diz que;

“nas últimas décadas do século XX, a maior escolarização e a profissionalização


da mulher acarretaram um contato mais amplo e constante com o social; como
conseqüência, o questionamento se intensificou e atingiu muitas áreas”.

KALOUSTIAN (1998) faz uma análise das décadas de 50 e 60 sobre a influência que

as famílias sofreram, nos anos 50 o processo de industrialização e o crescimento da economia,

influência a mulher ter uma redefinição, de seu papel na família e na sociedade, o que

possibilita que ela se insira no mercado de trabalho.

Nos anos 60 surge a pílula anticoncepcional que provocará mudanças no interior da

família e na vida das mulheres que a partir desse momento podem determinar sua fecundidade

e escolherem o melhor momento para serem mães, caso queiram ser, isso provoca na

sociedade uma diminuição do tamanho das famílias.


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Os anos 70, para SEGALEN (1999), foram marcados pela entrada das mulheres das

camadas médias no mercado de trabalho, que até então permaneciam em casa cuidando dos

filhos e da casa.

As jovens passam a ter direito a uma educação melhor, que aos poucos se compara a

dos homens, passaram a ter direito a universidade, e começam a pensar em uma atividade

profissional e nela permanecer mesmo após o nascimento dos filhos.

No final do século XX, foi comum ouvirmos que a instituição familiar estava

passando por crises e até mesmo poderia se extinguir, mas, a realidade que se apresenta é de

mudanças nos papéis, atribuídos a cada membro da família.

O que esta mudando é o modelo de família nuclear burguesa, onde é formada pela

presença do pai, mãe e filhos, vivendo sob o mesmo espaço físico e em família.

Atualmente o modelo de família que pode existir possibilita várias formas de relações

entre as pessoas, como o casal com filhos - família nuclear, um pai e filhos - família

patrifocal, uma mãe e filhos- família matrifocal, casais que se casaram novamente após a

separação com filhos de outros casamentos - famílias reconstituídas, casais com filhos

adotivos, e muito recentemente a presença de casal homossexual adotando um filho.

Diferentes estudos, (DESSEN, 1998; BILAC; MELLO, 2000) vêem apontando as

mudanças, e a necessidade de buscarmos nova compreensão do conceito e do

desenvolvimento familiar.

A noção de família nuclear tem se apresentado cada vez mais como minoria, uma vez

que, formas alternativas de família tem se aumentado, a exemplo casais homossexuais,

famílias extensas e sucessivas da inclusão de outros membros além dos membros nucleares ao

se definir famílias, DESSEN (1998).


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Com esses novos laços que se formam a família passa a ter alterações na estrutura, nos

papéis desempenhados por seus membros, e também no tamanho dessas novas famílias que

surgem.

SEVCENKO (1998) afirma que aconteceram inúmeras alterações na estrutura da

família, tendo diminuído o número de casamentos, bem como de filhos, chegando-se a uma

proporção elevada de famílias monoparentais e recompostas (DIAS, 1995). Segundo GOMES

(1994, p.2); “seria mais apropriado falar-se em famílias e não em família”.

Devemos pensar que independentemente da forma como as famílias venham a ser

constituídas, não podem ser vista como uma unidade isolada dentro do contexto social e da

sociedade.

Pensar em família nos dias de hoje, leva-nos a dizer que cabe a ela a obrigatoriedade

de ser a transmissora de vínculos de afeto, como também dos valores morais, e principalmente

ser um lugar seguro e protetor, fazendo com que a criança sinta-se bem e possa ter um

desenvolvimento saudável.

Nesse sentido, BERGER e LUCKMAN (1976, p. 2); afirmam que na tarefa de criar e

educar as crianças acontece a socialização que seria uma;

“ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo da sociedade


ou de um setor dela numa relação dialética homem-sociedade, com três momentos:
interiorização, objetivação e exteriorização, ficando claro que o novo membro da
sociedade interioriza um mundo já posto, que lhe é apresentado com uma
configuração definida, de cuja construção ele não pertenceu”.

Assim, a família aparece como um primeiro ambiente socializador de seus filhos e

membros, responsável por seu cuidado e sobrevivência; é também quem ensina e atribui os

fundamentos da formação do indivíduo, pois através das atitudes, dos valores e dos

relacionamentos familiares a personalidade da criança tomará forma, sendo o ambiente

familiar responsável pela imagem que ela criará de si, dos outros e, do mundo.
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São muitos os autores que afirmam que a família está relacionada como grupo social

que exerce grande influência sobre a vida das pessoas e de todos que a cercam (ARAÚJO e

PASQUALI, 1978; SANDER, 1995), sendo importante também como formadora da

personalidade individual, além de se constituir em uma influência poderosa no

comportamento dos indivíduos (ARAÚJO e PASQUALI, 1978), através das medidas

educativas que são tomadas e direcionadas no seu interior (DRUMMOND e DRUMMOND

FILHO, 1998), buscando, na maioria das vezes que haja bom aprendizado e desenvolvimento.

A família é considerada como agente primário na socialização e com isso molda

comportamentos, a personalidade e transmite valores NEWCOMBE (1999).

Mas, há um outro aspecto, que deve ser focalizado hoje, quando se discute

desenvolvimento; é o de que ele é um contínuo, que se inicia no nascimento (na verdade, na

concepção) e só termina quando acaba o nosso tempo por aqui.

Pensando assim, não podemos deixar de nos referir como acontece a socialização das

crianças dentro do ambiente familiar, pois a família é o primeiro ambiente socializador da

criança.

A criança tendo um desenvolvimento saudável e vivendo em uma família que de a ela,

condições totais e plena para se desenvolver em um meio acolhedor e afetuoso, trará

contribuições muitos importantes na vida dessa criança, fazendo com que a personalidade da

criança se estruture bem, como a sua auto-imagem, e a que tem dos outros e do mundo,

partindo-se dessas idéias, a educação e o modelo de relacionamento que a criança tem dentro

da família são muito importantes para o transcorrer da sua existência.

A família não é o único meio que proporciona a socialização, ela tem lócus

privilegiado para tanto, uma vez que tende a ser a responsável pela socialização,

interiorizando aspectos ideológicos e culturais da sociedade e criando e recriando modelos

dentro de seu próprio grupo, VITALE (2000).


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MEDEIROS (1998, p. 31), diz que,

“a família dialeticamente articulada à estrutura social, constitui-se de um espaço


imprescindível para a garantia da sobrevivência, de desenvolvimento e da proteção
integral de seus componentes, independentes das múltiplas formas e desenhos que
pode assumir”.

Assim sendo a família torna-se dentro da nossa cultura, um espaço importante para o

desenvolvimento do ser humano uma vez que nela se inicia o processo de construção e da

socialização de cada individuo.

ROMANELLI (1998, p.124) diz que,

“A experiência e o cotidiano dos adultos são transmitidos à nova geração


mediante o processo socializador, que se concretiza de dois modos. De um lado,
esse processo ocorre na convivência direta na família, na escola, no grupo de
pares, nas igrejas e em outras instâncias. De outro lado a ação socializadora
realiza-se de modo indireto pela mediação simbólica de agente de diferentes
instituições que disseminam valores, normas, e modelos culturais”.

É na família que se forma toda a base psicológica do individuo, que vão acontecer as

contradições e os jogos, de amor, ódio, proteção, disputas de choques de gerações, entre os

mais velhos e os mais jovens, e da violência.

Quando falamos em desenvolvimento e socialização, de uma criança têm-se que

pensar que, ao nascer ela é inserida dentro de um contexto familiar e irá fazer parte de

ambientes formados por crença, culturas, pensamentos já prontos e estabelecidos e dela será

esperado que consiga desempenhar papéis.

Durante o processo de socialização e aprendizagem caberá aos pais inseri - lá nesse

mundo em que existe uma série de significados e comportamentos que ela deverá ter,

ensinando a ela quais atitudes e comportamentos estão de acordo com o que se espera e deseja

dela BIASOLI-ALVES (1992).

A criança em seu processo de desenvolvimento e socialização começa a adquirir

conceitos e passa a conviver e compartilhar com seus pares, faz trocas dentro desse

aprendizado e isso acontece de forma natural.

NEWCOMBE (1999, p. 338), diz que;


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“A socialização é o processo do qual as crianças adquirem comportamentos,


habilidades, motivações, valores, e convicções e padrões que são característicos e
desejáveis em sua cultura”.

A criança, começa aprender a viver em grupo na família, e entender as diferenças

individuais, ter segurança para conviver em sociedade e, para que isso ocorra de maneira

saudável, torna-se imprescindível que a família dê subsídios e segurança para que a criança se

desenvolva de forma natural e saudável.

Pensando nessa colocação BIASOLI-ALVES (2003); fala da importância que é para a

criança seus primeiros anos de vida em família e como isso será determinante em seu

desenvolvimento onde devem ser encontradas todas as condições materiais e de socialização

para ela, dando-lhe recursos internos para aprender e se socializar.

Continuando, BIASOLI-ALVES (1997, 1998, 1999a, 2001), enfatiza que o

desenvolvimento acontece segundo um processo bi-direcional, em que a criança está sendo

socializada, mas também interfere, levando os adultos a aprenderem a como lidar com ela, o

que significa que as gerações mais nova e mais velha aprendem uma com a outra e enquanto a

criança adquire comportamentos compatíveis com o esperado pelos adultos socializados, estes

vão gradativamente assimilando as formas e maneiras mais produtivas de educá-la.

Por outro lado, é também importante enfatizar que os adultos significativos são

modelos para a criança, ou seja, ela adquire muitos comportamentos tomando por base a

forma de os pais agirem.

O enfoque, portanto, que coloca a socialização acontecendo ao longo de toda a vida do

indivíduo, está fundamentado em uma visão de influências bilaterais, o adulto ensina aos das

gerações mais novas, através das tarefas que propõe, das atitudes e valores que passa, e é

ensinado por elas, quer no seu papel, quer na revisão dos seus códigos de normas, ao se

deparar com as reações e necessidades de seus filhos BIASOLI-ALVES (1997).


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No processo de educação da criança é importante ter um bom relacionamento com os

pais e receber deles afeto e estímulo, indicando-lhe suas competências, porque a partir daí ela

irá desenvolver auto-estima positiva, sentir-se-á segura com suas habilidades.

A criança quando cresce e se desenvolve criando vínculos positivos tenderia a se

comportar de forma mais tranqüila, mantendo bons relacionamentos tanto com os adultos

quanto com seus pares.

Mas, nem sempre o ser humano pensou nas conseqüências da importância da infância

na vida de cada um pensando em termos de desenvolvimento e socialização.

Quando se retoma a historia de séculos atrás, vê-se a falta de cuidado e sensibilidade

que as famílias atribuíam a seus filhos recém nascidos, essas crianças não traziam aos pais

sentimentos valorosos de proteção, amor e cuidado, esse tipo de pensamento das famílias em

relação a seus filhos demorou muito tempo para ser modificado e a criança ser vista como

criança, que necessitava de cuidados especiais, amor, proteção, para poder crescer e se

desenvolver dentro de ambientes que lhes proporcionassem uma socialização adequada.

2- Práticas de educação da criança na família

As relações familiares vêm passando por muitas modificações ao longo das últimas

décadas e, podemos perceber que, muitos comportamentos que outrora eram aceitos e

compreendidos como sendo algo da cultura da época, como é o caso da força física aplicada

na educação das crianças por parte de seus pais.

A mudança nesse contexto familiar sobre os danos causados pela força física é lento

dentro da história da humanidade e nos dias atuais ainda persiste a idéia de que a força física e

a punição física que os pais aplicam aos filhos, hoje são justificada como sendo uma prática

educativa.
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Quando pensamos em práticas de educação são muitas as questões que nos vêem no

pensamento, como cada família interage com seus filhos no tocante à educação ao

comportamento.

O estilo e as técnicas de criação de filhos que cada pai ou mãe desenvolvem são uma

função de muitos fatores interessantes, a origem cultural é um deles, NEWCOMBE (1999).

A forma como os pais educam, interagem, e socialização se com seus filhos é muito

importante para a promoção de comportamentos ditos adequados e ou comportamentos

inadequados considerados pelos pais e professores a presença da família no desenvolvimento

da criança é fundamental.

A valorização da criança foi muito tardia, legalmente ela torna-se sujeito de direito a

partir de 1959, na Assembléia geral da ONU, a conscientização sobre as particularidades da

infância levou os pesquisadores a pesquisarem e conhecerem melhor todo o processo que

envolve o desenvolvimento infantil e as práticas educativas usadas pelos pais e suas relações

com o comportamento dos filhos, e assim neste contexto surge o debate acerca da punição

corporal, prática milenar que é perpétua até os dias atuais (WEBER et al., 2004).

A família tem como função social, a responsabilidade pela transmissão da cultura de

uma sociedade a seus indivíduos, e também fazer com que sejam preparados para exercer a

cidadania, (OSÓRIO, 1996; DURHAM, 1983).

As práticas de educação e a socialização das crianças, tem início na família, sendo

assim, ela a responsável por ensinar e adaptar os filhos a viverem em sociedade e também a

crias valores, normas e regras de conduta.

Conforme, GOMIDE (2003), as práticas educativas são as diversas estratégias dos

quais eles dispõem para orientar o comportamento dos filhos cumprindo seu papel como

agente socializador, o conjunto de práticas educativas é denominado estilos parentais.


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A família é o meio para garantir a sobrevivência da espécie e o espaço para o

desenvolvimento dos descendentes e a interação social (OSÓRIO, 1996; DRUMMOND et al.,

1998).

Quando falamos em práticas de educação temos que levar em consideração as

transformações pelas quais passaram a família ao longo da história, pois essas mudanças irão

refletir no momento de educar os filhos.

Antigamente a família tinha o grupo familiar bem definido, sendo nuclear o modelo

que era predominante, com todas as mudanças sociais que ocorreram nas últimas décadas,

como o divórcio, a mulher passa a trabalhar, os pais tem dupla carreira, isso muda a estrutura

da configuração familiar, pois as crianças passam a ter menos contato com os pais, a

qualidade do relacionamento dos pais com seus filhos esta afetada, pela falta de tempo e com

isso os pais passam a ter menos disponibilidade para educar seus filhos.

E, surge nesse momento um segundo socializador, que será a escola, pois as crianças a

cada dia que passa ficam mais tempo em contato com professores e amigos de escola, do que

com os próprios pais e tem uma importância maior na vida dessas crianças e adolescente.

Para entender como se da atualmente as pratica de educação dos filhos nas famílias,

temos que fazer um retrocesso no tempo.

Pois o educar, vem com a preocupação com o presente, mas, sobretudo, pensando no

futuro, BIASOLI-ALVES (2004).

Quanto a (BIASOLI-ALVES, 1995, p.19);

“nos diz que, focalizar as práticas de educação da criança e do adolescente na


família conduz a análise das contingências que o ambiente tende a estrutura para
comportamentos adequados e inadequados e seus efeitos”.

As práticas de educação possuem diferentes linhas teóricas e enfoques que ensinam

suas famílias a lidarem com seus filhos com diferentes formas de comportamento que eles

possam apresentar.
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“Quando falamos em educação dentro do ambiente familiar ele é considerado o


agente primário de socialização, e tem como papel – chave moldar a
personalidade, as características de motivação, criar comportamentos sociais e
transmitir valores e normas de conduta”, (NEWCOMBE, 1999, p. 338).
“A socialização da criança é a responsável pelo seu aprendizado, socialização é o
processo através do qual crianças adquirem comportamentos, habilidades,
motivações, valores, convicções, e padrões que são característicos e desejáveis em
sua cultura,” (NEWCOMBE, 1999, p. 338).

A socialização da criança esta centrada em tudo aquilo que ela durante todas as etapas

do seu desenvolvimento aprende e desenvolve.

Retomando o passado, em um grande número de países que de certa forma refletem no

Brasil, durante os séculos XVIII e XIX, tem se uma primeira maneira de educar a criança que

é amoralidade religiosa que esta centrada na idéia de salvar a lama da criança, e que para

torna-ala obediente a Deus valoriza o extremo da obediência, quando os filhos não obedecem

as mães dizem que Deus esta vendo e vai castigar através do medo e do nome de Deus, faz

com que a criança a obedeça, isto impõe a criança que tenha um comportamento exemplar a

família e também a religião.

Tempos depois, no final do século XIX e após o fim da primeira Guerra Mundial,

surge a moralidade higienista, que não pensa mais na salvação da alma mas, sim do corpo

sadio, as crianças agora não tem nenhuma satisfação de suas vontades realizadas, elas tem de

serem disciplinadas, segue com rigor o que o adulto determina, não levanta a voz, não se

defende, obedece a tudo sem questionar, é limpa, correta e de bom caráter, não é permitido

nenhum desvio de conduta BIASOLI-ALVES (2004).

Nas décadas de 30 e 40 começa a surgir o efeito psicológico, e isso faz com que

valores e práticas sejam repensados a partir do ponto de vista psicológico, fazendo com que a

moralidade das necessidades naturais, que é tudo passa a ser visto como bom desde que a

criança queira, que seja seu desejo natural, a criança recebe o direito de falar, opinar, ter

vontade própria, ai começa a surgir a tolerância quanto ao comportamento inadequado.


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A mulher começa a trabalhar fora, há uma proliferação das escolas, e crianças

freqüentando, ocorrem mudanças nos papéis sexuais e na organização familiar (DIAS DA

SILVA, 1986).

Nos anos 50 o movimento é por uma moralidade individualista e de curtição, que vê a

criança como objeto de afeto, aprendizagem BIASOLI-ALVES (2004).

A partir dos anos 80 surge uma moralidade mista, onde o afeto social, emocional

saudável da criança é levado em consideração, pois da liberdade para a auto realização e

felicidade.

Isso é determinado pela influência do pediatra e do psicólogo com a forma de educar

da criança para que ela não venha a ter problemas na vida adulta e enfatiza o desenvolvimento

da sua individualidade e independência.

As transformações foram muitas e sem dúvida nenhuma não foram fáceis, e a presença

da angústia entre o desejado e o realizado, o esperado e o obtido, mas a complexidade e as

mudanças foram rápidas demais, e existe um conflito intenso entre a socialização primária,

com valores recebidos da família e a secundária, fruto da assimilação de novos padrões

durante a juventude e via adulta, no contexto extra-familiar BIASOLI-ALVES (2004).

CAMINO; CAMINO et al. (2003), estudam a relação de pais e filhos e suas

implicações e citam três técnicas de socialização, normalmente utilizadas na família, a

indução, a retirada de afeto e a afirmação de poder.

A indução consiste no emprego de explicações que levam a criança se convencer de

que seu comportamento é inadequado.A retirada do afeto, consiste em mostrar a ela que seu

comportamento teve ou pode ter como conseqüência a ruptura do elo afetivo entre ela e o

adulto.
18

CECCONELLO; DE ANTONI et al. (2003), ao discutirem a última técnica, afirmação

de poder, definem o poder como o potencial de uma pessoa em compelir a outra e agir de

maneira contraria a sua própria vontade.

A relação dos pais esta centrada na concentração de poder nas mãos dos pais, e os

mesmos podem utilizar este poder para alterar o comportamento dos filhos, utilizando para

tanto uma disciplina indutiva e ou disciplina coercitiva.

A indutiva tem como objetivo a modificação voluntária do comportamento da criança

envolvendo práticas educativas que digam ao filho o desejo dos pais de que seu

comportamento mude, induzindo-o a obedecer (CECCONELLO; DE ANTONI; KOLLER,

2003).

Esta estratégia visa direcionar a criança para as conseqüências de seu comportamento

com as outras pessoas, ela não usa nenhuma forma punitiva para a criança, esta prática

envolve muita conversa dos pais com os filhos, explicações do que são regras, valores

advertência moral, essa técnica implica em mostrar a criança que seu comportamento pode ser

prejudicial a ela e aos outros, e que ela é responsável pelo seu comportamento e que sua

moralidade esta motivada mais por fatores internos do que externos, (KOLLER e

BERNARDES, 1997).

No que diz respeito a disciplina coercitiva ela reafirma e reforça o poder parental, é

caracterizada por práticas que utilizam a força e o poder dos pais sobre seus filhos, e incluem

punição física, perda de privilégio, ameaças, isso leva a criança a ter medo, ansiedade, essas

sensações interferem na capacidade da criança ajustar seu comportamento a situação,

ensinando-a que a razão pela qual tem que se comportar bem, positivamente, é externa, a

presença de punição, e não interna, culpa (KOLLER; BERNARDES;1997; CECCONELLO;

DE ANTONI; KOLLER, 2003).


19

A importância das condutas educativas e dos estilos parentais foi comprovada na

década de sessenta, por BAUMRIND (1966) que constatou através de seus registros,

entrevistas e observações correlações entre o comportamento de pré escolares e características

do ambiente familiar. Ela observou que pais amorosos e comunicativos tinham filhos seguros

e competentes e que as crianças imaturas viviam em um ambiente familiar desorganizado.

Para BAUMRIND (1966) ela diz que acredita que a educação dirigida aos filhos não

deveria ser nem punitiva, nem indiferente, mas que os pais estabelecessem regras claras e

sempre demonstrassem afetividade a seus filhos, dessa forma a educação caminharia de forma

mais positiva.

Ela classifica os estilos parentais de três tipos diferentes, autoritário, permissivo e

autoritativo.

O estilo autoritário é caracterizado pela forma autoritária dos pais sobre o

comportamento de seus filhos, agem de forma punitiva e restritiva, usam a força física como

disciplinadora, s crianças devem seguir regras rígidas impostas pelos pais, sem discutir ou

argumentar, os limites e controle sobre os filhos ao muito claros e a comunicação e o

envolvimento dos pais e de forma restritiva, não se levando em consideração a opinião dos

filhos (BAUMRIND, 1966; CEBALLOS; RODRIGO, 1998; VITALI, 2004).

As conseqüências comportamentais nos filhos de pais autoritários é ansiedade, baixo

auto-estima, e falta de iniciativa, e em relação aos pais, as crianças mostram respeito e

obediência excessiva STANROCK (1990), a punição física não faz bem ao comportamento da

criança que passa a ser quieta, desconfiada, e sente-se muitas vezes rejeitada.

Enquanto, no estilo autoritativo, os pais estabelecem limites e regras claras aos filhos,

só que estimulam a independência e assim ela se comporta de forma mais confiante e

responsável, os pais estimulam seus filhos a discutirem e terem discernimento crítico.

Segundo VITALI (2004, p. 12), os pais,


20

“...consideram o ponto de vista da criança e o avaliam, mas exercem controle firme


nos pontos de divergência com ela sem por isso limita-la, com restrições mas
avaliando seu comportamento em relação ao contexto no qual acontece e não em
termos absolutos”.

O estilo permissivo foi subdividido em, pai permissivo indulgente e pais permissivos

negligentes, essa subdivisão se dá pelo fato, de que, pode ocorrer que pais sejam permissivos

por acreditarem em uma ideologia de liberdade e igualdade para criar os filhos usando a

democracia e pouca cobrança e exigência, e por outro lado os pais permissivos negligentes o

são pela falta de interesse e de vontade de participar da educação dos filhos PACHECO

(1999).

O estilo indulgente, não exige o cumprimento de regras específicas e os pais aceitam

as decisões tomadas por seus filhos e dão grande liberdade a eles, são pais afetivos e

receptivos, e tendem a satisfazer qualquer pedido dos filhos (BAUMRIND, 1966;

CECONELLO; DE ANTONI; KOLLER, 2003).

Pais com esses comportamentos não possuem controle sobre os comportamentos

negativos dos filhos e isso dá aos filhos a falsa sensação de que podem fazer o que querem.

O comportamento negligente, é que os pais são pouco afetuosos com seus filhos e

indiferentes, distantes, eles não se envolvem e dedicam-se pouco tempo a seus filhos.

Os pais respondem apenas as necessidades básicas das crianças, são completamente

centralizados em si, (DE ANTONI; KOLLER, 2003; VITALI, 2004).

A partir desses estilos de práticas de educação podemos observar e entender que as

diversas variáveis explicativas presentes na forma de educar os filhos fazem com que seja

impossível criar os filhos da mesma maneira, os pais com o tempo se modificam, ganham

experiência e cada filho é diferente do outro, reage de forma diferente do que é dito pelos eu

pai, não existe uma receita pronta na pratica de educar um filho, pois cada um é cada um.

SILVA et al. (2002, p. 227), nos diz que,

“ a forma como os pais interagem e educam seus filhos é crucial para a promoção
de comportamentos socialmente adequados ou de comportamentos considerados
pelos pais e professores como inadequados”.
21

Segundo ZAMBERLAN (2002); os pais querem ter controle sobre filhos e com isso

valorizam a obediência e a educação, fazendo com que usem a punição ou força, conforme

julguem necessário; o que se questiona é se o efeito desejado, de fato, corresponde às técnicas

utilizadas para levar a que a criança tenha um bom comportamento, ou se existem mais

excessos do que uma ação que a criança possa compreender como correção do que fez de

errado.

As colocações de BUENO (1989, p.107) já eram neste sentido, quando ele coloca que

“Castiga-se a criança para educá-la, castiga-se por que ela não obedeceu; não agiu direito;

castiga-se para puni-la; ou para dominá-la ... ou por outras causas”.

De acordo com SAFFIOTI (1989), todo esse comportamento a que a criança e o

adolescente estão expostos faz com que eles socializem a violência e o castigo como formas

de educar, ou seja, como uma prática adequada, e o que se coloca hoje como questão é que se

pode estar criando, desta forma, um ciclo de violência.

Ao lermos os trabalhos de alguns pesquisadores como (PATTERSON, 1989; BRIOSO

e SARIA; SIDMAM, 1995; KAISER e HESTER; CONTI; KAPLAN, 1997; DEL PRETTE,

1999), com a leitura desses trabalhos é possível identificar fatores para problemas de

comportamentos.

Esses pesquisadores nos dizem da relação das práticas educativas e o comportamento

anti-social dos filhos, as famílias estimulam essa conduta quando usam de meios de

disciplinas inconsistente e não interagem com seus filhos de forma positiva e não exercem

nenhum acompanhamento das atividades das crianças.

Em muitos lugares da Europa, observa-se que houve um deslocamento e que as

práticas democráticas se substituem as praticas autoritárias, (DU BOIS-REYMOND et al.,

2001; MONTADON e LONGCHAMP, 2003), as razões foram desde a elevação do nível de

educação, democratização das relações entre os sexos no interior do casal.


22

MONTADON (2005); nos diz que, nas famílias ainda existem certas proibições e

regras que os pais não discutem e os filhos aprendem que, se algumas coisas são negociáveis,

outras não.

A questão da prática educativa é muito importante pois, ela da subsídio para que a

criança, sinta-se segura, confiante para se desenvolver. A forma como são educadas pelos pais

além de ser um modelo para a criança é também a forma de transmitir valores, costumes e

cultura.

A prática educativa quando punitiva, não ensina, não faz bem a criança, podendo levar

a casos em que, essa conduta dos pais, em punir fisicamente, possa exceder e tornar-se

agressões físicas o que é muito mais grave, gera violência e maus-tratos nas crianças e

adolescentes, e isso ocorre muitas vezes, quando os pais estão educando ou ensinando seus

filhos usando práticas punitivas, onde a punição física é constante e eles extrapolam para

condutas mais agressivas e não conseguem perceber que estão se excedendo e machucando

seus filhos.

3- Breve histórico da infância

O maltrato à criança é identificado há muito na história da humanidade e, em

contrapartida, no entanto a compreensão da infância como um período de vida que necessita

de proteção e afeto se originou a pouco mais de dois séculos, MUZA (1994).

Necessita-se voltar-se para a história, referente às concepções que a infância teve ao

longo dos tempos para podermos compreender com o passado vivido o que se apresenta no

presente como forma de entender, o que acontece na infância atualmente e, o que pode ser

feito para mudar o contexto que se apresenta.

Nesse sentido, vamos entender um pouco como caminhou a história da infância ao

longo dos tempos e com isso efetuarmos comparação com o passado, para podermos interferir

no presente.
23

A infância pode ser considerada um objeto de estudo recente na pesquisa. Até porque

a própria noção de infância é um acontecimento novo, que se consolidou a partir do clássico

estudo de ARIÈS (1981).

Nos primórdios da história têm-se registros que nos remetem a crianças que tinham

pouco ou nenhum direito e sua vida nem sempre tinha valor para sua família, SHAFFER

(2005).

Os maus-tratos contra a criança existem desde a Antigüidade, em todas as classes

sociais e nas mais diferentes culturas, religiões e cor da pele, ela existe desde sempre e por

muitos anos foi aceita.

A pesquisa histórica tem demonstrado que, até o século XVII, as crianças não eram

consideradas seres humanos com necessidades próprias e que precisavam de afeto e cuidado.

Portanto, quando se refere a noção de maus-tratos à infância, não era considerada

como tal e, até o século XIX, não existiam sequer leis específicas para as crianças

(BADINTER; MC CAGHY, 1985; ARIÈS, 1986; GALLARDO, 1988; OCHOTORENA,

1993).

Até então, não existia nenhuma preocupação com o conceito ou a vontade de ter uma

melhor compreensão do que era feito às crianças, qual era na realidade a noção dos maus-

tratos contra a criança.

ARIÈS (1981); diz que o sentimento de infância é novo e que sua construção é muito

recente, e até por volta do século XII não existia, e com isso a criança em seus primeiros anos

de vida não tinha uma característica definida, e essa falta de caracterização especifica, perdura

até o final da Idade Média em que a criança era considerada como um adulto pequeno e

dividia os mesmos espaços com um adulto.

Durante os séculos XVI e XVII, a criança passa a ser tratada de um lado com

indiferença e pouco ou quase nenhum cuidado, do outro como um objeto de paparicação, “em
24

que a criança por sua ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de

relaxamento para o adulto”(ARIÈS, 1981, p. 158).

Quanto mas se pensa na história da criança, ao longo de muitos séculos, mas se tem

possibilidades de encontrar tristeza, abandono, falta de proteção dos meios jurídicos, crianças

abusadas física e sexualmente e, espancadas dentro de casa.

As famílias dispunham do direito de tratar as crianças de qualquer forma, sem que

houvesse punição para o tratamento dispensado a criança.

A questão da presença dos maus-tratos e da violência praticada contra a criança

aparece até em textos bíblicos, a própria Bíblia tem passagens onde ela demonstra que os

maus-tratos eram praticados abertamente sem nenhuma conotação de que tal ato seria

condenável ou até mesmo errado, a Bíblia diz que o povo hebreu em períodos em que houve

escassez de alimentação o povo comia as crianças mais novas, “ Dá cá o teu filho para que

hoje o comamos e amanhã comeremos o meu filho.Cozemos pois, o meu filho, e o

comemos”(BÍBLIA, A.T, II Reis, 6: 26-29).

Trechos bíblicos e textos históricos que tratam da vida no Império Greco-Romano,

trazem referência a relatos de massacres de populações infantis e de mortes anunciadas, no

sentido de que, as crianças nascidas com uma deficiência qualquer.

A história nos relata que entre os povos helenos, Licurgo determinou que crianças

portadoras de qualquer deficiência fossem abandonada perto do precipício do Monte Talgeto,

ROMERO (1972).

Nesse período de nossa História, crianças portadoras de deficiência tanto física como

mental eram consideradas pelas pessoas, como sendo sub-humanas, o que legitimava sua

eliminação e abandono, PESSOTI (1984).

Dentro da história, um dos temas mais falados e discutidos, é a questão da eliminação

de crianças o infanticídio, crianças pequenas mortas pelos pais.


25

O autor VEYNE (1992); diz que a prática do infanticídio era aceita pelas sociedades

antigas sendo facultado aos pais acolher ou renegar o filho recém- nascido.

O período que antecede o século XIII inicia os castigos, da punição física aos

espancamentos, através de chicote, paus, e ferros LIMA (1983).

Para, DE MAUSE (1975); a história da humanidade se fundamenta numa política de

violência contra as crianças e esse comportamento passa a suscitar sanções da sociedade, em

busca de mudanças nesse comportamento.

A impressão inicial do que pode ser denominado de sentimento em relação à infância

começa a surgir no século XIII, quando a partir da iconografia começa-se a perceber que os

retratos de crianças passam por transformações na forma como ela passa a ser representada,

não mais como um adulto em miniatura como era feito até então.

Mas, a importância da infância cresce aos poucos e lentamente, ainda no século XII a

infância é vista como foi dita por ARIÈS (1981), quando ele retrata as palavras citadas por

Montaigne, “Perdi dois ou três filhos, não sem tristeza, mas sem nenhum desespero”.

Como vimos acima a infância é algo que demorou para fazer sentido e ser -lhe

atribuídos sentimentos, até então, ela sempre foi tratada como algo que a qualquer momento

poderia ser substituído ou até destruído como sendo algo velho, que joga fora, sentimentos e

afeto não faziam parte do contexto desta época em relação as crianças.

Quando nos referimos a falar de crianças, isso envolve complicadas definições e entrar

num mundo permeado por questões veladas que é o universo familiar.

O universo da infância envolve duas realidades distintas em que ela nem sempre teve

o afeto e o amor familiar e, também não teve o amor materno em sua plenitude.

As relações existentes entre crianças e adultos foram se transformando ao longo do

tempo e da história e sempre a infância foi vista de diferentes maneiras e nem sempre a

criança foi objeto de atenção e cuidados.


26

Na Idade Média, as crianças não eram vistas como indivíduos em fase especial de

desenvolvimento, mas como pequenos adultos, o que implicava em uma indiferenciação

”Assim que a criança deixava os cueiros (...) ela era vestida como os outros homens de sua

condição”, ARIÈS (1986, p. 69). Deste modo, elas dividiam com os adultos o mesmo espaço

da rua, estabelecendo ali diversas relações sociais, independentes das familiares. Da mesma

maneira, ela logo se afastava (ou era afastada) dos pais e colocava-se como aprendiz em

outras casas e ambientes.

Por muito tempo a criança foi vista como um adulto em miniatura e, foi passando por

sucessivas mudanças a partir do século XV, a infância independente da classe social sempre

teve uma fase de pequena duração, a partir do momento em que as crianças, demonstram-se

aptas a viverem sem os cuidados básicos maternos para sua sobrevivência elas ingressam no

mundo do adulto. E, passam a vestir-se como adulta, participam do mundo dos adultos como

adultos, não eram vistas e nem percebidas como crianças, elas são inseridas no mundo dos

adultos, ainda crianças, para a família a criança não era importante e, muitas vezes ela tido

como um problema.

Todas as fases pelas quais uma criança passa desde seu nascimento, crescimento e

desenvolvimento, são ignoradas, não existe até então nenhuma preocupação para com a

criança, nem um ato simples como o registro de nascimento não é realizado, a idade da

criança não tinha valor, pois não havia a necessidade de saber a idade real das pessoas, isso

não era relevante.

Nesta época era comum às famílias pobres dormirem com seus filhos pequenos na

cama do casal, no meio dos pais, isso ocorria com muita freqüência e em muitas vezes isso

acabava causando a morte da criança por asfixia, para essas famílias o filho chegava a ser um

problema para a sobrevivência dos pais, e ele acabaria sendo abandonado, prática comum que

algumas famílias utilizavam.


27

ARIÈS (1981); afirma que a infância sempre foi ligada aos modelos da sociedade e

não havia uma ruptura entre o mundo adulto e a criança, isso faz com que tenha-se conceitos

distintos sobre a infância.

ARIÈS (1986); afirma que o sentimento de infância é relativamente novo, que até por

volta do século XII ele inexistia e que não se tinha uma definição do que seria esse período da

vida, caracterizado pelos primeiros anos.

Pensando com relação à história da infância, quando aparecem os primeiros relatos da

presença de mudanças na percepção de sentimento com as crianças.

BADINTER (1985), coloca como marco do sentimento de infância como conhecemos

atualmente, a publicação da obra, Emile de Rousseau, no ano de 1762. É a partir desse

momento que a forma de perceber a criança sofre muitas mudanças de pensamento, a infância

deixa de ser a idade do pecado como se referia Santo Agostinho (354-430 d. c.), que

justificava a violência física e o castigo corporal pelo fato da infância ser imbuída da

corrupção moral, MACHADO (1996).

Sobre esse pensamento, ARIÈS (1981), comenta que no século XVIII, quando aparece

o malthuismo é que o sentimento de infância passa a ser semelhante ao que vimos atualmente.

Mas, até o que vivemos atualmente remete-se a infância um sentimento de inutilidade,

e que é facilmente percebido quando pergunta-se a criança, o que você vai ser quando crescer,

essa pergunta deixa claro que a criança tem seu valor no que ela irá ser e não pelo que ela é

ALVES (1990).

A história da humanidade se fundamentou em cima da violência contra a criança e

esse comportamento passou a suscitar medidas da sociedade, DE MAUSE (1975).

ASSIS (1994), se referi que nos anos de 315-329 d.c, na Itália, criou-se uma lei que

propunha sujeitar as mãos dos pais, para afastá-los do infanticídio, no ano de 830 d.c, a

mulher que matasse seu filho recém-nascido ou praticasse o aborto ou apenas tentasse abortar,
28

deveria ser excomungada, e cabia aos sacerdotes decidirem pela diminuição da pena ou

aplicar-lhe nova penitência.

Ainda no século XII, a Inglaterra aprova uma lei que trata da morte de crianças por

seus pais ou professores como sendo homicídio de adulto, ASSIS (1994).

No transcorrer da história da humanidade os pais sempre tiveram poder de decidirem

sobre a vida de seus filhos e sempre tiveram contra seus filhos comportamentos agressivos.

No entender dos pais esse comportamento estava ligado ao processo educativo e que

através dos tempos foi usada como sendo um processo de socialização e, portanto uma

resposta automática a desobediência e a rebeldia dos filhos que acaba gerando a violência por

parte dos pais contra seus filhos, esse comportamento existe desde os primórdios da história

da humanidade.

A autora (DAY et al., 2003); nos coloca que os adultos acreditavam que as crianças

poderiam ser moldadas de acordo com os desejos dos adultos, isso de alguma maneira

explicaria os castigos e as punições físicas.

Uma lei hebraica do período 1250 – 1225 a.c, se referia ao comportamento dos filhos

caso não obedecessem seus pais, cabia aos anciãos, puni-los expondo-os a serem apedrejados

ou mortos, (BÍBLIA).

A violência maior sempre foi reservada a crianças abandonadas pelos pais,

BADINTER (1985, p. 58), menciona a descrição que faz Chamousett em 1756 de 12 mil

crianças abandonadas em Paris, morrem como moscas, sem nenhum lucro para o estado, pior

ainda representa um ônus para a nação, obrigadas a mantê-las até que morram.

ARIÈS (1981); se refere a um novo sentimento de infância que surge a paparicação da

criança, como sendo um sentimento dos adultos de que os pequenos seriam fonte de distração

e divertimento, nos séculos XVI e XVII, esse sentimento passa a receber críticas dos

moralistas que não se contentavam com a atenção que as crianças estavam recebendo, eles
29

estavam preocupados como a disciplina seria aplicada e com os costumes, pois para eles a

paparicação era algo errado para a educação.

BADINTER (1985); focaliza o surgimento da preocupação com a criança e com a

orientação das mães sobre a forma como os cuidados dispensados às mesmas na primeira fase

de suas vidas, continuando ela, chama a atenção para os novos discursos que surgem a partir

do século XVIII, que se referem ao processo de amor materno nas relações entre as mães/

filhos, como sendo garantia de sobrevivência das crianças.

Durante o século XIX, o desenvolvimento da industrialização, faz crescer, por um

lado, o número de crianças abandonadas, uma vez que as mulheres tinham que trabalhar e

deixavam seus filhos aos cuidados das amas.

Nesse momento começa a ter força o pensamento e fortalecimento das idéias de

Rosseau (toda a criança é potencialmente boa) e de John Locke (a criança não é má nem boa,

mas uma folha em branco). Com esses novos conceitos de pensamentos a sociedade da

segunda metade do século XIX e início de século XX, considera a criança como uma pessoa

concreta, com direitos e deveres que deveriam ser respeitados, PEREIRA (2003).

Somente no século XX, segundo ARIÈS (1978); é que a criança deixa de ser tratada

com modelos adultos, sendo criada então, uma condição especial; a infância, legalmente a

criança só passa a ser considerada pessoa, na segunda metade do século XX.

No entanto, essa nova condição, ao invés de garantir atenção especial e adequada a

essa faixa etária, resultou num conceito tirânico de família que destruiu a sociabilidade e

privou a criança de liberdade, infligindo-lhe um confinamento com castigos severos.

O século XIX começa a descobrir a infância, e a continuidade dessa descoberta

acontece apenas no século XX, onde a infância passa a assumir um papel importante na vida

familiar, e sendo vista como cidadã em formação.


30

No final do século XIX e início do XX, é marcado pela moralização religiosa, em que

a educação da criança é autoritária e rígida, e não há demonstração de afeto, carinho, esse

comportamento se deve por ter como finalidade purificar a alma da criança.

O século XX teve como diferencial uma enorme proliferação de casas de criação, e

entidades assistências para crianças órfãs, ligadas a Igreja Católica, onde as mesmas

aprendiam o ensinamento moral e tinham a preparação para o trabalho.

AZEVEDO e GUERRA (1989); nos colocam que, a história social da infância tem-se

mostrado com a presença de uma violência que é inerente e constante às relações

interpessoais, entre o adulto-criança, são relações de natureza assimétricas, hierárquicas e

adultocêntrica, uma vez que assentadas no pressuposto poder do adulto sobre a criança.

A seguir, demonstraremos como foi a questão da infância no Brasil, traçando um

breve histórico referente a esse momento.

3.1 No Brasil

No Brasil a história da infância não é diferente do que ocorreu na Europa, nos estudos

anteriormente descritos contextualização a infância na Europa e, são importantes para que

possamos entender qual a situação da criança no Brasil.

DEL PRIORI (1999), diz que a documentação referente ao período colonial, não faz

referências a questões ditas do cotidiano de crianças e mulheres, o interesse na época estava

em falar sobre assuntos políticos e econômicos, que de alguma maneira afetava diretamente

os governantes, com isso percebesse que na época não notava o sentimento da infância,

proposto por ARIÈS (1981).

COSTA (1983), diz que a condição da criança no período colonial é de anjinho, isso

obscurecia a infância como sendo uma etapa de vida com necessidades e características

próprias.
31

No período colonial criaram-se as Rodas dos Expostos, que era uma maneira que

permitia aos pais abandonarem seus filhos de forma anônima, essas Rodas se multiplicaram,

deixando claro que os vínculos familiares se rompem, isso permanece até 1950 GRACIANI

(1997).

A questão das Rodas dos Expostos é muito séria e demonstra o quanto o abandono

entre os séculos XVIII e XIX foi grande nesse período no Rio de Janeiro existiam cerca de

42.000 enjeitados e abandonados DEL PRIORI (1998). As rodas dos expostos recebem

inúmeras críticas e discussões em razão do alto índice de mortalidade dos internos, quando a

função era de proteção à criança.

No Brasil colônia MARCILIO (1998), e em todo o Império apenas uma parcela muito

pequena de crianças abandonadas foi assistida por instituições, a maioria era acolhida em

casas de famílias ou morriam ao desamparo.

Segundo DEL PRIORI (1998); no Brasil, foram nos séculos XVI e XVII, que se

iniciam os trabalhos com as crianças, pela Companhia de Jesus, ensinando os a ler, escrever,

evangelizar, aprender bons costumes, tudo realizado nas casas dos muchachos, durante todo o

período colonial e, do primeiro e segundo impérios, não havia no País nenhuma instituição

pública que cuidasse da infância solitária, abandonada.

O interesse pela infância era pequeno mas, que de alguma maneira era mencionada em

um ou outro documento, que muitas vezes eram descritos por viajantes estrangeiros o que

possibilitou a termos a história da criança brasileira.

Na história do Brasil, no período da colonização as crianças eram tratadas como adulto

e isso podia ser observado por suas vestimentas, atividades de trabalho realizadas por ela, o

convívio social junto ao adulto, e da própria alimentação. Isso não quer dizer que não existisse

o afeto pelas crianças, há registros de mimos excessivos com crianças pequenas e, que os
32

moralistas não aceitavam essa conduta, para eles a boa educação implicava em castigos

físicos e palmadas, (DEL PRIORI, 1999, p. 96).

Com essa conduta as famílias alternavam mimos com uma disciplina onde a

palmatória era um meio utilizado na educação, juntamente com as práticas educativas

punitivas.

No Brasil Republica, século XIX, a criança já era entendida como sendo um problema

social, em função da abolição dos escravos, imigração de mão-de-obra européia, entre outras

causas geram um número expressivo de crianças na rua abandonadas a sua própria sorte.

Em 1870 no Rio de Janeiro surgem instituições propondo atender as crianças

abandonadas unindo o trabalho e o abandono dessas crianças no sentido de transformá-los em

classe trabalhadora, a partir da educação direcionada ao trabalho agrícola e artesanal, isso os

afastava da prostituição e da vadiagem (PASSETTI et al., 1998).

A partir desse contexto nascem as escolas asilos com destaque a Escola de Aprendizes

de Marinheiro e o Asilo de Santa Isabel ambos no Rio de Janeiro.

(LIMA et al., 1998), coloca que os resultados dessas instituições são percebidos

imediatamente, pois a preocupação com a educação básica e o profissional além da formação

moral e religiosa, visava com essas atitudes a preparação das crianças pra o mundo do

trabalho.

OSTETTO (1992), fala que a descoberta e a valorização da infância que teve início no

século XIX, no Brasil se consolida na Republica e, que inicialmente atinge apenas as crianças

ricas, e que mais tarde chega até as crianças pobres, através dos meios assistenciais.

A infância começa a ganhar visibilidade no século XIX, e passa a ser objeto de ações e

intervenções públicas em todo o Ocidente.


33

Já o século XX fica marcado pelo aparecimento do Estado na vida familiar, isso fará

com que a criança seja vista como cidadão em formação, com seus direitos discutidos em

convenções, que envolvem países do mundo inteiro.

No Brasil, se convive com crianças e adolescentes abandonados há anos, seja por suas

famílias, ou pelo estado que não as protege, ou pela sociedade que as discriminas, mas, o

certo é que sempre existiu crianças abandonadas e, em situações de perigo, expostas a todas

formas de violência, quer aquela gerada dentro de seus próprios lares e praticadas pelos seus

pais, quem tem a função de protegê-los.

No Brasil a desigualdade social e a distribuição desigual de riqueza é gritante, deste

modo ainda demonstramos a essas crianças e adolescentes abandonados e em situação de

risco o preconceito e a discriminação como agimos em relação a elas, TEOTÔNIO (2000).

Ainda precisamos caminhar muito para aproximar a lei da realidade e garantir os

direitos que são diariamente violados de milhares de crianças e adolescentes em nosso País,

temos ainda que ter em mente que a violência contra a criança e o adolescente é uma realidade

e ainda estamos muito longe de uma resolução para essa problemática.

O Brasil é campeão mundial de alguns títulos relativos a várias situações negativas e

de desrespeito as crianças e aos adolescentes, que vai desde a exploração do trabalho infantil,

turismo sexual internacional, pornográfico e exploração sexual de menores, delinqüência

juvenil, prostituição infantil, episódios como o massacre da Candelária no Rio de Janeiro,

ação da polícia contra crianças pobres, negras e sem falar na aviltante diferenças na

distribuição e concentração de renda da população brasileira, MARCILIO (1998).

Mas, recentemente fomos surpreendidos pela mídia televisa onde a notícia, de que

uma adolescente no Pará havia ficado presa por cerca de um mês em uma cadeia para homens

e, que dividia a cela com os mesmos. A mesma relata que sofria abusos sexuais diários e, que

uma providencia no sentido de ajudá-la só aconteceu quando o Conselho Tutelar foi avisado,
34

por que até aquele momento o Ministério Público mesmo tendo ciência da irregularidade não

fez nada, se omitiu, isso ocorreu em pleno século XXI, no ano de 2007, sendo que o Estatuto

da Criança e Adolescente é conhecido, está em plena atividade na defesa da criança e do

adolescente,

O que esse fato demonstra é que a história da humanidade com relação à criança e o

adolescente ainda tem que ser pensada e repensada, no sentido de termos em um futuro

próximo, situações como esta sendo punidas exemplarmente, e assim podermos acreditar que

o próximo capítulo em relação à história da criança e do adolescente terá menos contradições

e mais conquistas positivas, como também ter justiça, a criança e o adolescente merecem

proteção, cuidados, carinho, amor e respeito, existe até um estatuto que resguarda a infância e

a juventude, vamos escrever o próximo capítulo da história da criança e adolescente, com

menos injustiça, e com uma vontade maior de acertar, e resguardar a infância e juventude

desse país, momentos melhores.

4- Políticas Públicas de atenção a criança

No Brasil as ações voltadas ao atendimento da infância, tem início ainda no período

colonial com a origem da instituição Roda dos Expostos, que foi a primeira instituição

brasileira com maior duração de tempo que atendia crianças abandonadas por sua família, o

encerramento de suas atividades se deu na década de 1950.

A roda mantinha o sigilo e o segredo de qual família abandonava seu filho e mantinha

o anonimato e o destino da criança (MARCILIO; VENÂNCIO, 1999).

As rodas dos expostos tiveram origem na Idade Média, na Itália, surgem no século XII

quando aparecem as confrarias de caridade que ajudavam os pobres, os doentes e os expostos.

As rodas eram cilindros rotatórios que existiam nos mosteiros, que tinha como

finalidade enviar alimentos, mercadorias em geral e mensagens, aos residentes do mosteiro


35

que por serem religiosos viviam enclausurados, dessa forma não havia contato, do religioso

com o mundo externo.

Os mosteiros medievais sempre receberam crianças que eram doadas por suas famílias

para o serviço de Deus e, a roda foi um meio utilizado para a família que iria abandonar seu

bebe, em função disso surge a outra utilidade da roda o de receber bebes abandonados,

MARCILIO (1999).

As Câmaras Municipais tinham que prestar assistência a essas crianças e o faziam com

muita resistência, por essa razão conseguem aprovar uma lei que foi chamada de lei dos

municípios, em 1828, onde se abria uma possibilidade de retirar a obrigatoriedade das

Câmaras Municipais dessa obrigação, sendo assim na cidade que houvesse uma Santa casa de

Misericórdia, a Câmara Municipal poderia usar seus serviços para a instalação da roda e

assistência aos enjeitados que recebesse, isso feito em parceria com a Assembléia Provincial,

com isso perde-se o caráter de caridade desta ação para ter início a filantropia, isso associava-

se o público e o privado (MARCILIO, 1999, p. 60).

Um fator que podemos observar após essa lei é que tenta-se buscar a iniciativa

particular de ajudar a criar essas crianças abandonadas, dessa forma a municipalidade estaria

livre dessa incumbência, tem-se início nesse momento, as primeiras ações entre a caridade e o

governo, onde a caridade toma a iniciativa e o governo fornece recursos financeiros para os

estabelecimentos criados.

A igreja marca presença determinante ao longo da história nessa assistência,

CARVALHO (2000), diz que no início incumbia-se à igreja a assistência para crianças e

adolescentes abandonados por suas famílias.

No Brasil, nesta época a pobreza, a marginalização, atingiam boa parte da população,

em razão disto a pobreza, vem se tornar a principal causa do abandono nas rodas, isso
36

propicia aqueles que não podem criar seus filhos, um local onde poderiam entregá-los, a casa

de misericórdia, e se tivessem sorte poderia ser adotados por uma boa família.

A roda não é apenas utilizada por pessoas pobres, que não podiam criar seus filhos,

teve muita utilidade para pessoas de famílias influentes que não poderiam assumir a

paternidade de possíveis filhos e a roda garantia a eles o sigilo e sentiam-se seguras em usar

esse serviço.

Os motivos pelos quais as famílias abandonavam seus bebes, eram muitos entre eles,

morte dos pais, doença dos pais, nascimento de gêmeos, tamanho da família, discórdia entre

os casais, quando havia a suspeita do adultério, defesa da honra da mulher, heranças,

deficiências dos bebes, enfermidades dos bebes, MARCILIO (1998), todos esses motivos

eram melhores do que o infanticídio e aborto.

PEREIRA (1999), diz que o índice de mortalidade infantil nessa época era altíssimo,

70%, 80%, chegando até mais de 90%, das crianças abandonadas nas Santas Casas de

Misericórdias.

Estima-se que entre os anos de 1738 e 1911, foram colocadas e abandonadas em

instituições cerca de 43.750 crianças, FREITAS (1999, p. 70); diz que, muitos filhos da roda

entregues aos cuidados das amas sob pagamento, quase todas pobres, solteiras e residentes

nas cidades, que recebiam um “estipêndio pequeno", e podiam explorar o trabalho das

crianças, remunerando, ou apenas em troca de casa e comida, maneira mais comum”.

Muitas dessas crianças, após passarem um tempo com as amas, retornam as casas de

misericórdia, porém, são muitas as que não conseguem mais serem acolhidas pela instituição

e irão ter a rua como a única saída, vão viver de esmolas, cometer pequenos furtos, e se

prostituir, o número alto de crianças abandonadas e enjeitadas pelas famílias, fez surgir os

grandes orfanatos, os patronatos e os seminários.


37

MARCILIO (1999), faz referência a uma segunda fase de assistência à criança

abandonada, que passa a ser definida pela filantropia científica.

Neste momento a pobreza ainda é muito grande sendo considerada como o principal

problema vivido pela infância no Brasil.

Inicia-se no Brasil influenciado pela Europa, movimentos que não serão mais

tolerantes com a exposição e abandonos de bebes, pressionando a sociedade e os governantes

para que alguma medida fosse tomada para minimizar essa problemática, criam-se as

instituições e, políticas públicas para cuidar da questão do abandono de crianças.

São criados os asilos e educandários, que tem como objetivo a capacitação profissional

das crianças com a finalidade de tirar-lhes daquela situação que não tinham nada para fazer e

colocá-las no mundo do trabalho.

As primeiras foram criadas em 1855 no Maranhão, a Casa do Educandário Artífices,

no Rio de Janeiro em 1861, o Instituto dos Menores Artesãos, em 1882 em Niterói o asilo

para a Infância Desvalida. Surgem também as colônias agrícolas na Bahia, Fortaleza, Recife

essas colônias tinham fundamentos na ideologia da época que dizia-se ter a necessidade de

controle e domesticação das classes perigosas, assim prevenia o crime, a prostituição, e a

mendicância nas ruas (RIZZINI, 1993; MARCILIO, 1998).

Aos poucos as autoridades começam a perceber que a mortalidade infantil era

altíssima e que a situação era complicada e a intensificam movimentos para que acabem com

o funcionamento da Roda dos Expostos, seguindo o que se pregava na Europa Liberal com

pressões para que a Roda dos Expostos encerrasse suas atividades por achá-las imorais, o final

das Rodas dos Expostos no Brasil é em 1950, sendo este o último país a tomar essa decisão.

FREITAS (1999), se refere ao fim das rodas como sendo um processo que teve a

iniciativa dos médicos higenistas, que estavam perplexos com as taxas de mortalidade dentro
38

das casas dos expostos, esse movimento tem também a finalidade da melhoria da raça

humana, com base nos pensamentos e nas teorias evolucionistas, pelos higienistas.

COSTA (1989), coloca que desde o século XIX, a Faculdade de medicina do Brasil já

preocupava-se com o problema da mortalidade infantil como também com as crianças

entregues nas Rodas e criadas na Casa dos Expostos.

Continuando COSTA (1989), diz que as rodas não tinham condições adequadas e as instalações eram

pobres e, com isso as crianças não recebiam o cuidado necessário e acabavam morrendo, com isso a roda era um

foco de mortalidade infantil, que colocava a justiça pública, como sendo omissa nos casos, pois não havia

punição para os crimes de infanticídio, pois as rodas muitas vezes serviam para encobrir essa prática, as crianças

entregues muitas vezes estavam semi-mortas.

Para (MARCILIO, 1998, p. 307);

“o fenômeno do abandono de bebês foi deixando de ser tolerado, de ser aceito


como mal menor. Se a criança é fruto da nação, é preciso que ela cresça sadia,
feliz, bem-educada, dentro de um lar. Em todos os lugares, velhos sistemas
caritativo - assistenciais passam a ser condenados. Instituíam-se creches e asilos
diversos, nos quais a mãe passou a ser conhecida e identificada. E o melhor:
estabelecem-se políticas públicas de assistência às mães pobres e trabalhadoras,
por meio de auxílios pecuniários e temporários às famílias, para que deixassem de
abandonar os filhos. Enfim, a partir da valorização da família, acredita-se que as
crianças abandonadas deveriam ter direito a uma família substituta legalizada”.
A questão das ações voltadas para a infância começa a sofrer pressões internacionais,

fazendo com que o Estado, pressionado comece assumir a responsabilidade pela assistência e

proteção a criança carente e considerada em situação de risco.

O estado começa a ganhar espaço para pensar na vida social da criança e do

adolescente, nas décadas de 30 e 40, com isso a infância pobre ganha visibilidade e, é vista

como sendo um problema social.

Nessa época foram criadas várias instituições em 1938, a casa do pequeno jornaleiro,

para crianças que trabalhavam nas ruas.

Em 1940, o serviço de assistência ao menor, que foi o antecessor da FUNABEM 1964,

que junto ao Ministério da Justiça atuou no combate a criminalidade, TEOTÔNIO (2000).


39

Dentre os esforços para definir as políticas sistemáticas de atendimento e intervenção,

tendo a função de recuperar e reintegrar os jovens ao convívio social, foi criado em 1942, o

Serviço de Assistência ao Menor- SAM, junto com o SAM, vêm os reformatórios que eram

abrigos para menores delinqüentes.

Portanto, as necessidades básicas para a infância são reconhecidas e oficializadas mas,

permanece o desafio de implantá-las, para que cada dia mais crianças e adolescentes de todas

as classes sociais, tenham uma infância totalmente resguardada, e que não seja vivida desta

forma por uma pequena parcela de crianças

Nos anos 60 inicia-se profundas mudanças no contexto de assistência a infância

abandonada, são criadas instituições de abrigo que tem a finalidade de proteger, educar,

cuidar e dar capacitação a criança abandonada e adolescente delinqüente, eles isolavam essas

crianças e adolescentes mais pobres e infratores para que pudessem ser educados e

regenerados e voltassem ao convivo social.

No Brasil com a instauração do regime militar em 1964, têm-se início um período

conservador da sociedade e em Dezembro de 1964, é criada a lei n.4.513 que traz as diretrizes

e bases para uma Política Nacional de Bem- Estar do Menor

Em São Paulo, em 1974 é implantada a Fundação Paulista de Promoção Social do

Menor em 1976 teve seu nome alterado para Fundação Estadual do Bem- Estar do Menor

(FEBEM-SP), ADORNO (1993).

No Brasil é apenas na década de 80 que vimos ocorrer debates políticos sobre a

situação da infância, buscando formas e alternativas para superar o processo de

institucionalização que era perverso, COSTA (1990); diz que surge nesse momento o enfoque

crítico estrutural, que tem como princípios o Bem- Estar Social, a criança passa a ser vista de

outra maneira dando a elas possibilidades de serem o que é.


40

Os anos 80 possibilitou a infância e juventude novos paradigmas onde ocorrem várias

mudanças sobre as instituições e o modelo institucional, grandes instituições perdem

legitimidade, passa a existir um movimento crítico de defesa dos direitos da infância e

juventude.

Nesse momento tem início no Brasil a mudança do olhar para a situação da criança e

do adolescente pensando nas formas e meios que poderiam ser utilizados para que elas

passem a ter legitimidade nos seus direitos.

No Brasil, historicamente a política de atendimento a criança e o adolescente em

situação de abandono vêm sofrendo transformações, a implantação dessas políticas saiu da

igreja passando por filantropos até ser de responsabilidade de estado como acontece

atualmente, (SIQUEIRA et al., 2006).

4-Diretos adquiridos pelas crianças na atualidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surge na Europa e posteriormente nos demais

países, a idéia de se criar uma convenção sobre os Direitos da Criança.

Esse pensamento surge no Brasil nos anos 80 e se concretiza com a promulgação do

Estatuto da Criança e do Adolescente em 13 de Julho de 1990.

A literatura mostra que a visibilidade da violência contra a criança e o adolescente se

inicia nos anos 80, com a celebração do Ano Internacional da Criança (1979) e a Convenção

das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989).

O Brasil não ficou atrás neste movimento, ao contrário, ao promulgar o ECA em 1990,

trouxe à luz uma lei avançada e das mais completas.

Ele reza em seu artigo 1º: “Essa Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao

adolescente”.

Começa nesse momento a preocupação com a infância e adolescência, e a

promulgação do Estatuto da Criança e Adolescente expressa bem esse sentimento, que


41

concretiza os direitos da população infanto-juvenil sempre pensando no seu bem-estar, essa

lei é marco na história do Brasil.

As crianças e adolescentes têm no século XX os principais avanços nas ciências

médicas, jurídicas e pedagógicas, fazendo com que tenham seus primeiros direitos

assegurados.

Em 1923 a International Union for Child Welfare, uma organização não

governamental, estabelece os primeiros princípios dos direitos da criança, esses princípios

foram incorporados em 1924 pela Liga das Nações, que reunida no Canadá, constitui a

Primeira Declaração dos Direitos da Criança.

A Organização das Nações Unidas em 1946 pensando em ações de âmbito mundial

para ajudar as crianças que sofrem com a pobreza absoluta que vivem, cria um Fundo

Internacional de Ajuda Emergencial à Infância Necessitada e em 11 de Outubro surge o

United Nations International Child Emergency Found (UNICEF); que tem o objetivo de

socorrer às crianças dos países pobres.

Em 1948 a assembléia geral da Organização das Nações Unidas aprova a Declaração

Universal dos Direitos Humanos que visa garantir a todos homens, mulheres, valor da família,

que visa dar a todos condições de serem cidadãos.

Em 1959 as Nações Unidas proclamam a Declaração Universal dos Direitos da

Criança, que visa garantir entre outras coisas, os direitos da criança e combater o abuso e a

violência que atacando suas causas.

Nesse momento a criança passa a ser prioridade absoluta e sujeitos de direitos onde

deve ser cuidada, receber afeto, ter direito a um desenvolvimento saudável e a família que não

cumpre com essas questões passa a ser questionada.

No ano de 1989 a conferência Mundial sobre os Direitos Humanos promove a

Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, e em 1996 seus termos já tinham
42

sido ratificados por 96% dos países e que se comprometiam por lei tomar as medidas

adequadas que a convenção colocava.

A convenção das Nações Unidas, sobre o Direitos das Crianças procura influenciar os

governos de todos os países para dar uma maior atenção as crianças, para que os direitos e

garantias que elas tem assegurados, não fique apenas no papel e se torne algo prático,a criança

tem direito a viver em família, ser bem cuidada pelos pais, ter direito a ter uma identidade

própria, pensamentos e ações próprias, ter liberdade de opinião e poder acessar informações, e

principalmente crescer em meio a ambiente seguros onde ela tenha direito a saúde, educação,

lazer e viver sem a violência em sua vida.

A partir de agora tem-se início uma luta mundial para que a criança tenha respeitado

esses direitos e que a questão da violência contra ela e a punição física dos pais contra seus

filhos deixem de existir.

Vários países passam a fazer reuniões internacionais pensando em alternativas e

formas de ajudar, apoiar as crianças que vivem em situações de risco conseguindo algumas

realizações importantes;

1996- Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças

realizada em Estocolmo.

1996- Encontro da Cúpula Asiático sobre os Direitos da Criança e Meios de

Comunicação, realizada em Manila.

1997- Conferência de Cúpula sobre o Trabalho Infantil, realizada em Oslo.

No Brasil até o final da década de 80, quem definia a atenção e o cuidado a criança e

adolescentes era o Código de Menores, que cuidava e legitimava, a situação irregular que se

encontravam, ou por estarem em situações que violavam as regras sociais, ou por não estarem

recebendo o cuidado e atenção necessários para que suas necessidades básicas fossem

atendidas SÊDA (1998).


43

A substituição do Código de Menores para o Estatuto da Criança e do Adolescente

ocorre por força dos movimentos internacionais e nacionais, no sentido de que os países

deveriam cumprir os direitos da infância e adolescência que rege a Declaração dos Direitos da

Criança de 1959.

A autora SOUZA (2003), diz que, com isso, os movimentos organizados no Brasil

passaram a ter mais força para exigir do Poder Legislativo um estatuto que estabelecesse

formas de garantir esses direitos. Organizações governamentais e não-governamentais

redigiram, então, o Estatuto da Criança e do Adolescente (1995).

Assinado em 1990, foi o primeiro estatuto do mundo a aplicar as normas da

Convenção. O documento propõe a doutrina da proteção integral, rompe com a visão de

menoridade e conduz à idéia de criança como cidadã, com direitos e deveres, enquanto

prioridade das políticas públicas, SOUZA (2003).

O ECA implanta outras formas de relação do Poder Público com a comunidade,

destacando-se o canal de organização e de participação da sociedade civil denominado

Conselho Tutelar.

Com referência ao Brasil em 1988 a Constituição Federal de 1988 trouxe novas

condições à problemática da criança e do adolescente, ao anunciar a obrigatoriedade do

Estado e da sociedade civil, de garantir proteção a crianças e adolescentes. Em seu art. 227,

temos:

“é dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão”.

Após a Constituição de 1988 e regulamentando o artigo 227, dessa Constituição, em

13 de julho de 1990 é então aprovada a Lei n.º 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente,
44

passando a vigorar a partir de 14 de outubro do mesmo ano. O artigo 227 - CF, é o norteador

dos preceitos contidos nos artigos 86 a 89 do ECA.

A contradição que se apresenta é que na realidade, a criança e o adolescente brasileiro

continuam vivendo sem ter seus direitos preservados é, o que se observa em uma parcela

considerável das crianças e adolescentes, prova maior dessa realidade é a fome, exclusão

social, violência praticada contra elas, por seus pais, abusos sexuais e toda forma de violência

existente.

Como veremos a seguir no capítulo em que se trata da violência contra a criança e

adolescentes essas questões poderão ser confirmadas.

5-Estatuto da criança e do adolescente

A questão da violência doméstica contra a criança e o adolescente é uma realidade que

se observa e constata através de pesquisa, como sendo algo que se tem observado nas

diferentes culturas e contextos sociais dentro da história da humanidade e que foi descrita por

historiadores em vários momentos da história.

No Brasil a preocupação com a violência contra a criança foi descrita e manifestada na

criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, como forma de termos subsídios para que

possamos proteger, cuidar e ver a criança e o adolescente como seres humanos passiveis de

direitos e deveres.

Com isso a proteção e a promoção da qualidade de vida de crianças e adolescentes

representam ainda muitos desafios a serem vencidos, (COSTA et al., 2007).

No Brasil, a sociedade teve participação no movimento constituinte representado por

Organização não Governamental que atuaram de forma muito eficaz na formulação do art.

227, que se refere as crianças e adolescentes e da lei 8.069/90 que regulamentou o Estatuto da

Criança e do Adolescente.
45

O ECA veio para fazer reformulações na forma como a criança e o adolescente eram

tratadas e transfere o poder do nível federal para os níveis estadual e local e, deixando bem

claro o direito das crianças e dos adolescentes a serviços sociais, educacionais, de saúde e

vem com propostas concretas de reformulações no sistema judiciário infanto-juvenil.

As crianças e adolescentes necessitam ter uma vida saudável e um pleno

desenvolvimento psicológico, cognitivo e motor.

Elas, são seres humanos mais vulneráveis por que ainda estão em formação e são

imaturos para enfrentar os desafios e as exigências do ambiente sozinhos, COSTA (2007).

Quando pensamos na questão da criança e do adolescentes nos deparamos como foi a

vida dos mesmo ao longo da história da humanidade, sempre envolta em violência, maus-

tratos, abandono, situações estas que foram ao longo dos tempos sendo condenada e

buscando-se medidas que pudessem proteger e acolher esses seres que precisam tanto ter

direitos a uma vida saudável e a um desenvolvimento que possibilite que seu futuro não seja

prejudicado.

A situação da infância sempre esteve envolta em problemas e dificuldades a serem

resolvidas, no início do século passado, com o surgimento da industrialização a criança e o

adolescente passam a ser uma importante contribuição de mão- de obra barata na relação

capitalista de produção e de poder.

Que utilizavam as crianças e adolescentes de uma forma que as exploravam por serem

menores e, não terem ninguém que os defendessem, os pais também exploravam seus filhos e

eles tornam-se importantes e indispensáveis na contribuição da renda familiar.

Na década de 80 a pobreza urbana esta cada vez mais crescente e juntamente com isso

a violação dos direitos da criança e soma-se a isso uma grande incapacidade do Poder

Público, de atender essas crianças e adolescentes de camadas populares. Então começam a

surgir movimentos sociais que saem em defesa dos direitos dessas crianças, esses movimentos
46

são contrários aos processos de internação e repressão a que as crianças e adolescentes eram

submetidas, e passam a criar projetos alternativos voltados para ações comunitárias que

atendessem as necessidades das crianças e dos adolescentes, (PILLOTI et al., 1995;

GRACIANE, 1999).

O ECA, faz uma revolução em termos de doutrina, reconhecendo a criança e o

adolescente como cidadãos e sujeitos de direito, numa nova tentativa de garantir os direitos da

criança.

O Estatuto em seus artigos, surgem com propostas trazidas pela Constituição para dar

atenção diferenciada e privilegiada à população infanto-juvenil, de forma ampla, os aspectos

do atendimento à criança e ao adolescente foram garantidos em lei, os princípios levantados

pela Convenção de Direitos das Crianças das Organizações das Nações Unidas (American

Psychological Association, 1991).

O termo criança, passa a ser empregado, para os efeitos desta lei, à pessoa até 12 anos

de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.

Dentre os novos princípios trazidos pelo ECA, desatacam-se:

 Inclusão de todas as crianças e jovens como sujeitos de um novo

direito.

 Abolição da categoria ideológica e estigmatizante de "menor".

 A municipalização do atendimento dos direitos de assistência

social e proteção especial.

 Priorização obrigatória da questão em todos os níveis da

sociedade.

 Mecanismos de participação da sociedade civil na elaboração,

acompanhamento, controle das políticas de atendimento em todos os níveis.


47

 Criação dos Conselhos da Criança e do Adolescente (municipal,

estadual e federal).

 Criação dos Conselhos Tutelares.

Os Conselhos Tutelares, são os órgãos responsáveis de amparar, cuidar dos direitos da

infância e juventude e, de defender seus interesses e sempre ter em mente o bem- estar das

crianças e dos adolescentes e, possuem um papel fiscalizador, MARCILIO (1998).

O ECA traz, a tona a questão da infância em nosso país, novas perspectivas na

elaboração, encaminhamento e estabelecimento de políticas sociais destinadas à infância e

juventude. Em seus artigos 3º e 5º, das Disposições Preliminares, como obrigações gerais

assumidas pelo país:

Artigo 3º: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata essa
Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Artigo 5º: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou missão, aos seus direitos
fundamentais.
Passa a garantir, legalmente, o atendimento de todas as necessidades, facilidades,

liberdade e dignidade – às crianças e adolescentes para desenvolver plenamente sua

personalidade, considerando seu estado de formação psico-social, afetiva e intelectual.

Com o propósito de consolidar essa Proteção o legislador estatutário assim estabeleceu

no art. 4º, do ECA:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público

assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Está, pois, evidente a preocupação com a infância e a adolescência em nosso país, pelo

menos no que diz respeito à existência de Lei que regulamente a matéria, que, de acordo com
48

COSTA (1993); concretiza e expressa os novos direitos da população infanto-juvenil, sempre

pensando no seu bem-estar, tendo um caráter inovador, dinâmico, e apresentando-se como

uma ruptura com a tradição nacional e latino- americana.

Portanto, a partir do ECA, as garantias básicas para a infância são reconhecidas e

oficializadas; porém, permanece o desafio de implantá-las.

COSTA (1993), afirma que o Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei que

concretiza e expressa de forma clara e objetiva os direitos da população de crianças e

adolescentes brasileiras.

BAZILIO (2000), diz que a redação de texto da nova lei; a criança; é entendida como

sendo um ser em condições especiais de desenvolvimento, com direitos fundamentais e

individuais garantidos por lei e prioridade absoluta.

Finalmente a criança e o adolescente passam a ter direitos que pensem nele como um

ser em desenvolvimento e que precisa ter atenção e cuidado.

O ECA surgem com muitas inovações e dentre ela a garantia de responsabilizar todos

que violarem ou ameaçarem os direitos da criança e do adolescente, além de que aplicam

medidas de proteção quando ocorre a violação dos direitos que são garantidos no art. 98 -

Ação ou omissão da sociedade ou do Estado; -Falta, omissão ou abuso dos pais ou

responsável. Existem várias medidas que podem ser tomadas para a garantia do resgate da

cidadania, art.101.

Sempre que ocorrer qualquer descumprimento dessa ou de qualquer regra, a família,

comunidade, a sociedade e o poder público devem agir, pois legalmente estão encarregados de

cuidar, zelar e proteger os direitos da criança e do adolescente.

O Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, Conselhos de Direitos

e Conselhos Tutelares, são os órgãos que garantem o cumprimento dos direitos da criança e

do adolescente.
49

COSTA (1990), diz que a modernidade político e social que o Estatuto da Criança e

do Adolescente traz para o atendimento da promoção e defesa dos direitos da criança e do

adolescente, leva a mudanças de conteúdo, método e gestão.

O ECA é atualmente uma das legislações mais avançadas do mundo no sentido de dar

proteção integral a criança e o adolescente.

Mesmo tendo todos os artigos do ECA, percebe-se no Brasil que apesar de todas as

questões referentes a promoção de atenção as crianças e adolescentes terem sido amplamente

discutidas por vários setores sociais e políticos durante a última década, ainda não se firmou e

nem se constituiu uma cultura política democrática que formule e de sustentação a valores e

ações que consolidem a cidadania.

Todas as iniciativas, fóruns de debates não conseguem alterar a questão do abismo

social e o panorama das desigualdades sociais brasileiras em geral e muito menos no que se

refere as crianças e adolescentes, elas são castigadas pela pobreza, exclusão em vários níveis,

e muitas vezes pela negligência e maus-tratos e violência vivenciados dentro de sua família.

O Brasil é um país de contradições onde estamos diante de uma das mais modernas

legislações e temos um cotidiano ainda onde a prática repressiva existe, BAZILIO (2000).

Temos leis avançadas em um país que as contradições e o descumprimento das

mesmas estão inseridos em nosso cotidiano, possibilitando com isso uma distância muito

grande entre a intenção e o gesto de realizá-las.

VOLPI (2001); analisa a situação dada a criança e adolescência em nosso país dizendo

que ainda não é ideal mas que apresentou grandes evoluções, não se pode ter dúvida que o

Estatuto nesses últimos anos desde sua promulgação conseguiu muitos progressos nas práticas

institucionais. Entretanto tem-se um longo caminho a ser percorrido no sentido de a lei seja

concretizada nas práticas cotidianas.


50

No Brasil foram muitos os avanços trazidos pelo ECA, o acolhimento de crianças e

adolescentes que estão em situação de risco ainda necessita de mais atenção pois a violência

cometida contra a criança e adolescente dentro do ambiente familiar é muito grande e atinge

uma parcela imensa das crianças e dos adolescentes, que vivem em suas casas com suas

famílias que deveriam protegê-las e cuidar para que tivessem um desenvolvimento saudável.

Mas, o que as pesquisas nos trazem é que a família ambiente que tem como dever e

função promover a criança e o adolescente, condições para que seu dia a dia tenha as

condições necessárias para que ocorra a promoção do seu bem-estar, mas é na família que

ocorrem as maiores violências e maus-tratos contra a criança e adolescente, e o mais

contraditório é que a mãe é a maior responsável pelas agressões e violências cometidas contra

seus filhos.

Quando se realiza uma pesquisa com crianças e adolescentes, existem princípios que

estão no ECA e que visam a proteção à criança e adolescente, como os princípios voltados a

Bioética e que pensa nos aspectos relacionados ao consentimento legal do atendimento,

intervenção, pesquisa, sigilo e a confiabilidade.

É utilizado em pesquisa O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, é o

instrumento usado na realização de pesquisa com humanos, usa-se também no atendimento

profissional diante das diferentes ações e intervenções (COSTA et al., 2007).

Em seu art. 15 o Eca fala sobre aos direitos que os jovens, crianças e adolescentes,

recebam condições dignas de vida, explicitando especialmente o direito à liberdade, ao

respeito e à dignidade.

Respeito e dignidade são fundamentais para que a criança e adolescente sinta-se

valorizada e possa desenvolver em toda sua plenitude.

7-Violência contra a criança e o adolescente

1-História da Violência contra a Criança


51

A história tem mostrado um panorama pouco animador sobre a questão da violência

contra a criança, identificando-se ao longo dos séculos violência e morte como conseqüência

de omissões e negligencias praticados pelos pais ou responsáveis, para com as crianças ou

adolescentes; AZEVEDO e GUERRA (1998); diz que esta prática é tão antiga que se

confunde com a própria história da humanidade, embora seja precariamente documentada.

O primeiro trabalho realizado sobre a questão da violência contra a criança foi uma

monografia descrevendo a Síndrome da Criança Espancada, Étude Médico-Légale sur Les

Sevices et Mauvais Traitements Exercés sur des Enfants, escrita por Ambroise Tardieu,

médico-legista francês, em 1860 (ROCHE et al., 2005).

O mesmo autor, já em 1857, em Étude Médico-Légale sur Les Attentats aux Moeurs,

que analisou 632 casos de abuso sexual de mulheres, em que a maioria eram meninas, e 302

casos de meninos e jovens do sexo masculino, em que eram descritos os sinais do abuso e a

gravidade da agressão.

No Dictionnaire Hygiène et de Salubrité, de 1862 Tardieu, descreveu quase todas as

formas de violência e maus-tratos como são conhecidos hoje. O que ele infelizmente não

conseguiu foi convencer médicos como ele, de que o abuso, violência e os maus-tratos contra

crianças e adolescentes aconteciam não só no ambiente de fábricas, minas e estabelecimentos

escolares, mas também no seio das famílias praticados por seus pais, LABBÉ (2005).

O trabalho realizado por Tardieu, influenciou muito Sigmund Freud, fazendo com que

ele publicasse um texto em 1896 no qual afirmava que a etiologia da histeria estava nos

abusos sexuais da infância. No ano seguinte, 1897, Freud abandonou essa teoria, explicando

as memórias de abuso sexual como fantasias, conforme sua teoria do complexo de Édipo

(MASSON, 1984; ROCHA, 2003; LABBÉ, 2005).

Se passaram mais cem anos para que o trabalho de Tardieu, médico francês fosse

confirmado por um grupo de radiologistas americanos, os doutores Kempe, Silverman, Steele,


52

Droegemueller e Silver, que, em 1962, publicaram o artigo The Battered-Child Syndrome

(KRUGMAN e LEVENTHAL, 2003, 2005), que com esse trabalho mudou a forma como a

questão da violência contra a criança e o adolescente era vista nos Estados Unidos e em outros

países do mesmo hemisfério, a alteração de leis e a criação de políticas públicas que teriam a

finalidade de atender, proteger e prevenir o abuso e a violência contra a criança.

Até a década de 60, a questão da violência contra criança era muito pequena, assim

pensavam algumas pessoas, quando (KEMPE et al., 1962), nos EUA, em seu artigo, apresenta

um estudo com 749 casos, com 78 mortes de crianças, onde ele descreve e caracteriza, o que

vem a ser chamado de Síndrome da Criança Espancada, que passou desde então a ser definida

como categoria médica.

Conforme relata os autores, a partir desse artigo os pediatras passam a olhar para essa

questão de outra maneira e, nesse momento começam a ter visibilidade as seqüelas da

violência contra a criança e, também as discrepâncias entre os fatos médicos e as explicações

dadas por seus agressores.

A influência desse artigo foi muito grande e com isso começam a surgir trabalhos

nessa perspectiva, tanto na produção teórica, como no desenvolvimento de pesquisas e, nos

movimentos de defesa dos direitos da criança e do adolescente; MINAYO (2001).

(KEMPE, et al., 1962), demonstram que para a sociedade uma forma de violência até

então oculta no interior dos lares, a violência contra a criança.

A visibilidade da violência contra as crianças e adolescentes nos Estados Unidos

torna-se pública quando a menina Mary Ellen de 8 anos, foi severamente maltratada pelos

seus pais. A atitude dos pais em relação a sua filha escandalizou a sociedade da época e surge

a partir dessa situação tão triste e violenta a fundação, Sociedade de Prevenção a Crueldade

Contra a Criança em 1874, (DAY, et al, 2003; BRITO, et al, 2005).


53

Os avanços tecnológicos alcançados pela medicina nas últimas décadas, como a

descoberta do raio X, veio para ajudar e complementar o diagnóstico de fraturas que até então

eram denominadas de trauma desconhecido, e esses casos de trauma, a explicação que os pais

ou responsáveis eram confusas e contraditórias, sendo que a forma como o trauma sofrido

pela criança era relatado não convencia, o surgimento do raio X, contribui para que essas

situações não sejam tão freqüentes e os pais possam ser questionados por suas atitudes

mediantes a explicações confusas e contraditórias.

O conhecimento a cerca das causas e conseqüências da violência dentro do ambiente

familiar e do maltrato é pequeno se comparado a pesquisas em outras áreas de investigação,

mesmo se fazendo presente a séculos nas civilizações Aristóteles; CHARLOT (1986); dizia, a

criança é por natureza destinada a obedecer o adulto.

No Brasil, existem relatos de estudos em que os índios não usavam de violência para

disciplinar seus filhos e em 1591 um jesuíta diz que,

“nenhum gênero de castigo tem para os filhos, nem há pai nem mãe que em toda
vida castigue nem toque em filho, tanto trazem nos olhos. Esses pequenos são
obidientissimos a seus pais e mães e todos muito amáveis e aprazíveis, tem muitos
jogos a seu modo, que fazem com muito mais festa e alegria que os meninos
portugueses (GUERRA, 1998 p. 76-77).

A questão da aplicação de castigos e violência física em crianças brasileiras foram

introduzidas no Brasil pelos primeiros padres jesuítas da Companhia de Jesus, que aqui

chegaram.

Nas décadas de 70 e 80, a violência contra a criança é reconhecida como sendo um

problema clínico, psicológico e social e, a partir de então algumas medidas são tomadas,

tendo início os registros em prontuários de atendimento com relação à Síndrome da Criança

Espancada.

Esse fenômeno ocorre desde os primórdios da história da humanidade e a partir da

década de 80, começa a ser pensado e discutido no meio científico (MARQUES, 1986;
54

SANTOS, 1987; AZEVEDO e GUERRA, 1988, 1989, 1995; MINAYO, 1993; SAFFIOTI,

1997).

Na década de 80, o tema violência intensifica-se nos debates nacionais e também no

campo da saúde, acumulando 83% de toda produção intelectual até então disponível

(MINAYO, et al., 1990).

PEREIRA (2003) diz que no Brasil, a questão da violência encontra como elementos

fundamentais para sua discussão e repercussão nacional, os movimentos sociais pela

democratização, instituições de direito, organizações não governamentais (ONGs) de atenção

a violência e maus tratos na infância e as organizações internacionais com poder de

influenciar o governo brasileiro.

No Brasil as entidades que visam a proteção da criança e do adolescente, têm destaque

pelo atendimento que se dispõem a fazer; em São Paulo, os Centros Regionais de Atenção aos

Maus-Tratos na Infância (CRAMI); no Rio de Janeiro, Associação Brasileira

Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA); em Minas Gerais.e a

Associação Brasileira de Prevenção aos Abusos e Negligências na Infância (ABRAMI).

Começa a surgir então nesse momento entidades preocupadas em dar um atendimento

adequado para as crianças e adolescentes.

A violência, como fenômeno social e familiar, não é de exclusividade de nossa época,

é o resultado de uma cultura que veio se estabelecendo ao longo da história da humanidade,

na qual as relações de poderes têm um papel fundamental e determinante.

A questão da violência doméstica contra a criança e o adolescente se apresenta de

forma complexa e cabe nesse momento definir qual será o referencial teórico a ser usado

nessa pesquisa, e teremos como definição para a violência doméstica contra a criança e o

adolescente o que AZEVEDO e GUERRA (1995) propõe;

“Todo o ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis, contra


criança e/ou adolescente que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou
psicológico à vítima, implica de um lado, uma transgressão do poder/dever de
55

proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação


do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas
em condição peculiar de desenvolvimento”.

Esta pesquisa se deterá apenas na violência física, que ocorre no ambiente doméstico

e que, é ou foi, praticada pelos seus pais, podendo ser o pai ou a mãe, que comete a violência

contra o filho ou filha.

A violência contra crianças e adolescentes dentro do ambiente familiar pode ter uma

duração infinita por causa do caráter de sacralidade imposto a essa situação, e também o fato

de seus pais exercerem sua autoridade contra seus filhos, impondo-lhes um pacto de silêncio

sobre a violência sofrida, que gerando muitas vezes em uma cumplicidade com a situação

vivida.

Ela acontece dentro de suas casas locais estes que deveriam protegê-las, cuidar,

receber carinho, atenção e todos os cuidados que uma criança tem o direito de receber.

Mas, o que se tem observado é que a violência, é praticada por seus pais e esse ato

ocorre dentro de sua casa, e o que mais chama atenção é que essas crianças e adolescentes,

estão correndo perigo em suas casas, locais esses que deveriam ser de proteção, respeito, amor

e carinho para com seus filhos, mas a contradição existente é que, quem deveria proteger,

bate, espanca, e comete atos de violência.

A criança mesmo sendo merecedora de direitos ainda é maltratada por conta da

assimetria de poder que é a submissão do mais fraco pelo mais forte, que se traduz em,

violência doméstica contra a criança e adolescente, em maus-tratos, em abuso sexual,

negligência, e abandono SILVA (1998), muitas vezes a violência praticada contra a criança e

o adolescente é camuflada e protegida pelo nome de medidas educativas, práticas educativas,

e também por ameaças que os filhos sofrem para que não revelem o que acontece dentro de

suas casas e na relação entre os pais e filhos.


56

Essa questão é facilmente comprovada por estudos que demonstram e evidenciam que

a violência ocorre dentro do lar dessas crianças e adolescentes, tendo como agressor seus pais

que essa violência ocorre de muitas formas diferentes; (MUZA 1994; MINAYO 1999, 2001;

DESLANDES; FERREIRA; REICHENHEIM, 1999; SAFFIOTI 1997, 1999; PASCOLAT

2001; SONJA et al.; MOORE et al., 2004).

Muitos pesquisadores entendem que a violência contra a criança e adolescente é um

grave problema de saúde público, (AZEVEDO e GUERRA, 1998; CAMINHA, 1999).

É na família, considerada como local sagrado e de união entre seus membros e que

devido à inviolabilidade do espaço familiar, se escondem situações em que a criança não está

recebendo amor, carinho, proteção, e nem tem assegurado seus direitos a um desenvolvimento

pleno e saudável.

A idéia de que o lar é o lugar de maior segurança e que confere proteção, carinho e

atenção à criança, nem sempre é verdadeiro. A literatura nos mostra que, a maioria dos casos

de violência contra a criança e o adolescente acontece no ambiente familiar e permanece, em

grande parte silenciosa, camuflada, e muitas vezes esse problema nem é observado,

KRISTEN (2000).

Uma das maiores dificuldades tem sido a negação desse fenômeno, principalmente por

que o ambiente em que a violência está presente é a casa da criança e, quem deveria protegê-

la comete a violência.

A problemática da violência doméstica contra a criança e o adolescente, encontra no

ambiente familiar um local de privilégio para que ocorra, em função do que ocorre dentro da

família, nela deva permanecer, fazendo que com isso a lei do silêncio seja preservada e nada

seja tido sobre os problemas enfrentados, no seio familiar, (STRAUS, et al., 1980; GUERRA,

1985; SANTOS, 1987; AZEVEDO e GUERRA; OLIVEIRA, 1989), infligidos quase sempre
57

pelos próprios pais e exercidos de forma variada, isto é, através de violência física, violência

sexual, violência psicológica, abandono intencional e negligência.

Lentamente essa atitude vem sendo superada, em razão de que algumas formas de

violência deixam marcas, como é o caso da violência física.

As denúncias de violência cometida na família têm-se tornando visível nos últimos

anos, devido a novas ações e direitos, que a criança e o adolescente conseguiram ter direito,

mas mesmo assim, essa quebra de silêncio tem sido lenta, mas esta ocorrendo.

Esses fatos reforçam a necessidade de aumento e aprofundamento nos estudos sobre

violência doméstica contra a criança e o adolescente, no sentido de trabalhar para que cada

vez mais a lei do silêncio fique para trás, e leve a criança e o adolescente a terem seus direitos

respeitados e uma vida com qualidade.

A violência doméstica contra criança e adolescente ocorre dentro de casa e decorre da

violência inerente as relações interpessoais e que possuem um caráter abusivo e é perpretada

pelo adulto, (OLIVEIRA, 1989; DESLANDES, 1994; SCHERER, 2000).

A violência doméstica contra a criança e adolescente ocorre dentro de sua casa, como

já mencionamos anteriormente e são muitos os estudos que tem demonstrado essa veracidade

ao longo dos tempos, infelizmente, mesmo com todo progresso que vivenciamos nas últimas

décadas, uma questão como essa, ainda se faz gritante, presente na realidade e no cotidiano de

muitas crianças e adolescentes.

A violência doméstica contra a criança e o adolescente, apresenta-se de muitas formas

e modalidades que são classificadas em, são classificadas em, violência física, violência

psicológica, negligência e violência sexual.

Essas modalidades podem ocorrer na forma pura, quando se trata de uma única

modalidade de violência, ou associada, quando em um mesmo caso são identificadas duas ou

mais modalidades; BRITO (2005).


58

A violência física é a mais notificada, presente em 58% dos casos. É seguida pela

negligência e violência psicológica, cada uma representando 34,5% e, por último, a violência

sexual aparece em 29% das notificações. Na forma pura, a violência psicológica é a menos

identificada, 4%, e cada uma das demais modalidades representa cerca de 14%; BRITO

(2005).

Estudo recente realizado em Porto Alegre demonstra que 80% dos casos de violência

denunciados ocorreram dentro da casa da vítima, sendo que os perpetradores da agressão

eram, principalmente, pais biológicos ou adotivos; AMENCAR (1999).

A violência contra crianças e adolescentes na realidade brasileira está centralizada na

família e, de acordo com dados do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) de

2003, a principal causa da mortalidade infantil no Brasil é a violência. Conforme o Ministério

da Saúde (2001), 80% dos casos de violência contra a população infantil e jovem ocorrem

dentro do espaço familiar.

Os fatores e aspectos relacionados à prática de violência de adultos contra crianças e

adolescentes, em especial na família são muitos.

Segundo MONTEIRO (2001), alguns elementos estão sempre presentes e poderiam

ser observados nos casos diversos de vitimizaçao da criança, 1- marginalidade social e

econômica em que se encontram as famílias 2- a cultura da violência existente no Brasil, que

deixa muitos favoráveis a exploração e opressão de um contra o outro, e isso independe de

classe social 3- existe uma tendência para a coisificaçao dos filhos pelos pais, que entendem e

pensam que as crianças e adolescentes são sua propriedade da qual podem dispor como bem

quiserem e por último 4- a sensação que a criança e o adolescente tem de que eles são

inferiores frente ao adulto.

Nos últimos 150 anos, a questão da violência contra a criança têm sido vistos como

um problema social; SIBILA (2001).


59

A situação da criança e do adolescente passou por inúmeras transformações, adquiriu

maior importância nos aspectos sociais, jurídicos e familiares, mesmo com as conquistas

adquiridas as crianças e adolescentes, se vêem ainda frente ao problema da violência

doméstica, a punição física é usada como sendo uma prática educativa e que é aceitável, por

parte da sociedade em geral.

Se, até pouco tempo atrás, a família ainda era uma instituição imune a qualquer crítica

externa, graças a sua lendária função de proteção e cuidado, (AZEVEDO e GUERRA, 1994;

GUERRA, 1998; VERONESE, 1998); diz que ainda se cometem humilhações e desrespeito

aos direitos da criança e do adolescente, e a questão da violência doméstica, ainda é evidente.

A proteção e a promoção da qualidade de vida de crianças e adolescentes representam

desafios, a serem conquistados para que realmente o que se pregoa nos artigos do ECA, sejam

amplamente conquistados e restabelecidos.

Este importante segmento da população é mais vulnerável porque é formado de

indivíduos ainda imaturos para enfrentar sozinhos as exigências do ambiente e os problemas

muitas vezes causados pelo ambiente em que estão inseridos.

Assim como os adultos, crianças e adolescentes têm necessidades de saúde variável, a

depender da qualidade de interação entre as esferas biológica, psicológica e social, de acordo

com a etapa de desenvolvimento; BIGRAS (2007).

Para entender e poder enfrentar com determinação o conjunto dos problemas que estão

ligados a violência doméstica contra a criança e o adolescente é preciso conhecer as causas

que o provocam e que favorecem o surgimento da ocorrência de violência como também as

conseqüências que ele provoca nas crianças e adolescentes.

Pode-se afirmar que a temática da violência contra a criança e o adolescente se

encontram entre os problemas mais sérios da sociedade contemporânea e que tem muitas
60

conseqüências graves, sérias que acarretam problemas e dificuldades ao longo do tempo para

as crianças e adolescentes que vivenciam esse problema.

A seguir, é importante iniciarmos a abordagem das conseqüências acerca da violência

contra a criança e o adolescente.

3- Conseqüências da violência doméstica contra criança e adolescente

É importante nesse momento colocar quais as conseqüências e as possíveis causas

para que a violência doméstica contra a criança e o adolescente ocorra, não podemos deixar

de lembrar que a violência de que falamos ocorre nas casas dessas crianças e adolescentes,

que sofrem atos de violência praticados por seus pais.

Considera-se que desde sempre as crianças e adolescentes sofrem privações,

abandonos, são punidos fisicamente e sofrem violência por parte de seus pais, quem deveria

protegê-los, e isso acontece dentro do seio da família que deveria ser o local de proteção,

acolhimento e segurança para seu desenvolvimento.

A questão da violência doméstica contra a criança e o adolescente é um problema

muito sério e que acarreta muitas conseqüências para quem as vivencia.

Podemos observar que as conseqüências que a violência acarreta na vida dessas

crianças e adolescentes são muitas como veremos a seguir, através de estudos que foram

realizados que deixam muito claro quais as conseqüências na vida delas o fato dele sofrerem

violência e abusos.

De acordo com a literatura são inúmeras as conseqüências negativas, que a violência

contra a criança e adolescente pode sofrer no âmbito familiar; (SIDEBOTHAM, et al., 2006),

esse autor menciona também que, o reconhecimento que a violência que a criança e o

adolescente sofrem é um problema social e requer pesquisas e intervenção para que possamos

conhecer as razões e as causas dessa problemática, é algo muito recente em nossa história.
61

As conseqüências da violência doméstica contra a criança e o adolescente são

inúmeras, podendo causar grande comprometimento acerca do seu futuro e, de seus vínculos,

a maior parte das pesquisas dizem respeito ao impacto que eles tem sobre a criança e o

adolescente OSOFSKY (2003).

Para GELLES (1997), as conseqüências da violência doméstica contra a criança e ao

adolescente podem ser devastadoras e muitos pesquisadores já constataram as conseqüências

físicas desse ato, que vão desde pequenas cicatrizes, hematomas, fraturas, até danos cerebrais

permanentes e morte.

A questão das conseqüências negativas referentes a violência contra a criança é um

problema muito grave que se apresenta, sendo muitos os autores que evidenciam essas

conseqüências; (MUZA, 1994; PASCOLAT; MINAYO, 2001; BRITO, 2005).

Com relação as conseqüências negativas da vivencia de abusos e violência para as

crianças e adolescentes, são inúmeras e inquestionáveis, desde orgânicas até emocionais e

psicossociais, de acordo com estudos realizados por; (MUZA, 1994; PASCOLAT; MINAYO,

2001; BRITO, 2005).

É, importante dizer que a vivência de abusos e violência, para as crianças e

adolescentes são inúmeras e inquestionáveis, se manifestando desde orgânicas até emocionais,

e psicossociais, destacamos de modo geral dano relativos ao sistema neurológico, emocional,

intelectual, auto-estima baixa, comportamento agressivo, isolamento, dificuldade de

convivência com seus pares, depressão, pensamentos de suicídio, de homicídios, sentimento

de culpa, prostituição, rejeição; (FERREIRA, 2000; GOMES, 2002; DAY 2003).

Reforçando as considerações acima colocadas, independente da forma que seja a

violência apresentada, física, psicológica, sexual ou negligência, BRASIL (1997), as

principais conseqüências ocorrem no desenvolvimento dessas crianças e adolescentes e, nas


62

esferas física, social, comportamental, emocional e cognitiva; (KASHANI et al., 1992;

STRAUS e GELLES, 1995, 1997; GERSHOFF, 2002).

Como mencionado acima fica muito claro as conseqüências pelas quais elas estão

sujeitas a sofrer, todas são muito sérias e comprometem o seu desenvolvimento, levando a

viverem em uma situação de desamparo aprendido, pela ausência dos pais e por viverem em

famílias onde há presença da violência.

Serão crianças ansiosas e desenvolveram alguns tipos de problemas como; depressão,

sentimentos de menos-valia e apresentaram auto-estima baixa, esses problemas emocionais

trarão sérias conseqüências a criança e adolescente, quando crescerem, um individuo com

auto-estima baixa, não foi ensinado e não aprendeu que precisa se valorizar; (JONZON et al.,

2006), com auto-estima baixa, o individuo permite que façam com sua vida inúmeras coisas,

ficando vulnerável por não ter desenvolvido capacidade de se defender e se valorizar e, com

isso perceber que, é detentor de coisas boas em sua vida e merece coisas positivas e formar

vínculos positivos.

As conseqüências que a violência doméstica contra criança e adolescente apresentam

podem trazer sérios danos em dois sentidos, atingindo a criança e o adulto que ela vai se

tornar; BIASOLI- ALVES (1999).

É nesse sentido que SAFFIOTI (1997, p. 51) diz; “a violência é um comportamento

aprendido, crianças vítimas de violência apresentam maior probabilidade de se tornarem

adultos violentos do que as não-vítimas.

Manifestações referentes as conseqüências da violência podem ser tardias na vida de

quem sofreu a violência, observou-se uma correlação forte entre a violência física e violências

familiares e não familiares no futuro do indivíduo, maior propensão a uma vida criminosa,

maior envolvimento com abuso de substâncias; associação com auto-mutilação e

comportamento suicida, somatização (cefaléia e dor pélvica crônicas), ansiedade, depressão,


63

distúrbios de personalidade (como borderline), dissociação e psicose; problemas nos

relacionamentos interpessoais e vocacionais.

No entanto, faltam trabalhos com resultados mais precisos, pois há diferenças de

método nos estudos vistos. Apesar disto, é consensual que, quanto mais prontamente se

interrompa a violência contra a criança e ou adolescente, melhor será o prognóstico para a

criança e para o adolescente, (se já não ocorreu dano irreversível) - (WATKINS e

BENTOVIM, 1992; HALL et al., 1993; MALINOSKY-RUMMEL e HANSEN, 1999).

Em função da violência que sofreram na infância, elas ficam sujeitas a desenvolverem

além de sintomas psiquiátricos, retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e de linguagem;

(MIRABAL, 1988; GOLD, 1993; GABEL et al., 1997).

Não são apenas sintomas emocionais que podem ser observado em uma criança ou

adolescente que sofre violência doméstica, a literatura descreve distúrbios psicossomáticos,

gastrintestinais crônicos, dores abdominais inespecíficas, asma (REICHENHEIM et al., 1999;

BOGAT, et al., 2006).

As conseqüências da violência são tão séria que, autores têm considerado fundamental

a influência da família e sua desestruturação como preditores para a criminalidade,

(CRAISSATI et al., 2002; GOVER e MAC KENZIES, 2003), o abuso de substâncias e as

perturbações da saúde mental. Afirmam também que crianças expostas a um acúmulo de

riscos estruturais e sociais têm maior probabilidade de manifestar problemas mentais

(ARBOLEDA-FLÓREZ e WADE, 2001), tais como depressão na adolescência

(MEYERSON et al., 2002), (YSTGAARD et al., 2004) tentativas repetidas de suicídio,

automutilação (YSTGAARD et al., 2004), agressividade e suicídio (OATES, 2004) também

têm sido descritos.

Abusos contra crianças e adolescentes somente passaram a ser assunto de estudo e,

pesquisa há muito pouco tempo, cerca de 45 anos, apesar de que a violência contra criança é
64

algo perpetrado desde a Antiguidade (LEVENTHAL, 2003; LABBÉ; KRUGMAN e

LEVENTHAL; ROCHE et al., 2005), atingindo todas as classes sociais e econômicas.

Os abusos físicos e sexuais têm sido relacionados à prática de delitos. O segundo, aos

crimes da esfera sexual, enquanto o abuso físico vem sendo ligado a outros tipos de violência

(LINDSAY et al., 2001; RADOSH, 2002).

Vários transtornos psiquiátricos têm sido relacionados a eventos traumáticos sofridos

na infância, com níveis de gravidade que variam com o tipo de abuso, sua duração e, o grau

de relacionamento da vítima com o agressor. Alguns estudos apontam os traumas de infância

como responsáveis por cerca de 50%, das psicopatologias encontradas nos adultos

(ZAVASCHI et al., 2002). O comprometimento da saúde mental e a futura adaptação social

das vítimas variarão de indivíduo para indivíduo, conforme o tipo de violência sofrida e a

capacidade de reação diante de fatos geradores de estresse.

Focalizando apenas aspectos psicossociais, BRINGIOTTI (1999), afirma que uma

relação de violência na infância gera problemas que se manifestaram com outras pessoas,

serão jovens que apresentaram um número alto de vínculos inseguros e com adultos que não

são da sua família terão condutas de evitação.

Como foi demonstrado até agora percebe-se que as conseqüências relativas a violência

contra a criança e o adolescente são inúmeras e atingem cada criança e adolescente de uma

maneira diferente, pois têm que ser levado em consideração a idade em que a violência teve

início, mas é indiscutível o quanto é devastadora na vida de quem sofre e vivencia em seu

cotidiano.

FURNISS (1993); relata que o dano psicológico pode estar associado a idade de início

da violência, a duração do mesmo, ao grau ou ameaça de violência, a diferença de idade do

perpetrador em relação à criança, o quanto era estreito o relacionamento entre os mesmos, a

ausência de figuras parentais protetoras, e ao grau de segredo.


65

Por outro lado, um enfoque importante e novo surgiu nas últimas duas décadas e diz

respeito às possíveis conseqüências para a saúde da criança e do adolescente do testemunhar a

violência entre os pais (FREIDRICK e EINBENDER, 1983), existindo a afirmação por parte

de alguns autores de que, diferencialmente do que se supunha, as conseqüências emocionais

da convivência das crianças em situação de grande conflito podem ser piores do que quando

elas mesmas são alvo de violência.

Nessa linha, REICHENHEIM (1999) comenta que existem estudos sugerindo a

ocorrência de distúrbios ulteriores tanto no nível emocional quanto cognitivo, como

decorrência de a criança ter sido exposta à violência entre os pais;

“A percepção de que vivem em famílias conflituosas, sem limites e


perigosas, misturando- se à freqüente culpabilidade que carregam violência entre
os pais, é parte do cenário de desencadeamento de agravos psicoemocionais, quer
de curto, médio e longo prazos”(LAYZER et al.; 1985; HUGHES, 1988; JAFFE et
al., 1990; REICHENHEIM, 1999).
Mas, não se pode deixar de lado a possibilidade de que muitas vezes a violência entre

membros do casal vem acompanhada da que se dirige à criança e ao adolescente e estes de

alguma maneira interagem com a situação.

São muitas as conseqüências acerca da criança e adolescente que sofre violência, e

aquelas crianças que testemunham a violência entre seus pais, experimentam uma série de

sentimentos negativos que podem levar a criança e o adolescente ter baixo rendimento

escolar, distúrbios de conduta, agressividade, auto-estima baixa, transtornos no sono e

doenças somáticas crônicas, entre outros (EISENSTAT et al., 1999; KERKER et al., 2000;

MACE et al., 2001; MEYERSON et al., 2002; GERKO et al., 2005).

A violência contra a mulher, já acarreta para a própria uma situação devastadora,

implicando efeitos nocivos a vida dela e agora merece ser vista e pensada como uma forma de

ação direta a saúde e bem-estar de seus filhos, sendo que, a descoberta da violência doméstica

contra a mulher, possa efetivamente ajudar, proteger e de certa maneira cuidar de seu filho,

criança ou adolescente, que presencia essa violência, (BOROWSKY; DOUD et al.; 2002).
66

Pesquisas têm demonstrado a existência da co-ocorrência da violência doméstica

contra a criança e o adolescente e contra a mulher, e com isso se justifica a incorporação de

questionamento deste tipo de violência em serviços de assistência à criança e ao adolescente,

pois a descoberta dessa violência, será importante para ajudar e cuidar da criança e do

adolescente, no caso filhos da mulher que sofre a violência, (KERKER et al., 2000;

HEYMAM et al.; SLEP et al., 2001).

É difícil, entendermos e compreendermos qual o efeito isolado de cada fator que

estaria contribuindo para a existência dos problemas acima referidos (HILBERMAM, 1980;

REICHENHEIM, 1999). Algumas pesquisas têm mostrado que essa concomitância tem efeito

sinérgico sobre a saúde da criança e que a gravidade da situação conjunta é maior que a

soma dos dois abusos em separado” (HASHANI et al., 1992; BRANCALHONE, 2004).

Segundo (JOURILES et al., 2001), a criança não precisa observar a agressão para ser

afetada por ela, assim sendo se a criança viu, ouviu um incidente com a mãe, viu o resultado

as marcas, ou vivenciou seu efeito quando interage com seus pais (HOLDEN, 1998).

A criança não necessariamente precisa estar de fato presenciando a cenas de agressão

entre seus pais para sentir-se exposta a violência, ela é afetada de todas as formas

independente de presenciar o que ocorre, ela é afetada e sofre da mesma maneira como se

fosse maltratada.

Os estudos sobre os efeitos da exposição da criança a violência conjugal tiveram início

na década de 70 (FANTUZZO e LINDQUIST, 1989; KITZMANN et al., 2003).

Os problemas que as crianças expostas a violência conjugal podem apresentar requer

que seja pensado como o desenvolvimento infantil podem ser comprometido por estarem em

famílias que lhes causaram experiências negativas.


67

De acordo com HOLDEN (1998), a presença da violência conjugal coloca essas

crianças e adolescentes em risco de desenvolverem problemas de interação social, de saúde e

comportamentais.

A literatura nos mostra que, a criança e adolescentes expostos à violência conjugal que

testemunharam ou observaram cenas de violência, podem sofrer prejuízos a curto e longo

prazo, afetando o desenvolvimento comportamental, emocional, social, cognitivo e físico, e

que esses prejuízos podem ser minimizados por meio de intervenções (HILTON, 1992;

ROSSMAN, 1997; WOLACH et al., 1998; BRANCALHONE et al.; KITZMANN et al.;

WOLFE et al., 2003).

Essa questão é muito grave pois são muitas as conseqüências associadas a sofrer

violência e ou então, experimentar ou testemunhar atos violentos no ambiente familiar,

durante a infância tem sido associado à delinqüência e à violência juvenis, tanto quanto às

várias formas de agressões contra mulheres (White e Smith, 2001).

É evidente que muitas crianças e adolescentes expostos a violência conjugal sentem-se

ansiosos, com medo, inseguros, a espera de quando a agressão voltara a acontecer, apenas

essas sensações já causam nas crianças e adolescentes os maus-tratos emocionais e também

podem acarretar os maus-tratos físicos ou outras formas de maltrato.

As crianças e os adolescentes, não necessariamente precisa estar de fato, presenciando

ou observando os episódios de agressão entre seus pais, para sentir-se expostos a violência,

ela é afetada de todas as formas independente de presenciar o que ocorre, ela é afetada e sofre

da mesma maneira como se fosse ela quem sofre a agressão, o que faz com que a violência

contra a criança e o adolescente além de ser algo destrutivo na vida delas, traz graves

conseqüências sempre, independente de sofrer a violência ou presenciar as agressões.


68

Na literatura nacional há apenas um estudo que aborda a questão de crianças expostas

a violência doméstica, (BRANCALHONE et al., 2004), e o impacto da violência conjugal

para as crianças que presenciam ou observam as cenas de agressões (CORREA et al., 2000).

Os problemas que as crianças expostas a violência conjugal podem apresentar requer

que seja pensado como o desenvolvimento infantil podem ser comprometido por estarem em

famílias que lhes causaram experiências negativas.

O desenvolvimento de relações de amizades, habilidades que se desenvolvem com o

passar do tempo, ir para a escola, auto-estima positiva, bem-estar, segurança, são alguns dos

aspectos que as crianças e os adolescentes merecem ter de forma segura e tranqüila para

crescerem de forma ajustada dentro de nossa sociedade.

A criança e o adolescente que se desenvolve no meio da violência doméstica contra a

mulher, ele seu desenvolvimento afetado e poderá estar aprendendo que a violência é uma

forma de resolver seus conflitos nos relacionamentos humanos.

Outro fator importante com relação à violência doméstica contra a criança e o

adolescente são as possíveis explicações para a ocorrência dessa violência.

Uma das explicações mais utilizadas quando a questão é a violência doméstica contra

a criança e o adolescente é que existe a reprodução das experiências vividas de violência

doméstica que foram vivenciadas durante a infância, e que contribui para que se perpetuem

essa violência.

Alguns pesquisadores dizem que, muitas crianças vítimas de violência se tornam

adultos agressores, JUNQUEIRA (1998), os pais reproduzem os modelos de educação na

infância, CARIOLA (1995), por terem sofrido os mesmos tipos de violência, (DAVOLI e

OGIDO, 1992), onde o que se apresenta no cotidiano e de infâncias difíceis, (CASTRO

NETO, 1994).
69

Pensando assim, numa família onde toda a estrutura é perturbada e cheia de conflitos,

a criança vai herdar este comportamento dos pais (CENTEVILLE et al., 1997) e poderá ser

um futuro autor de violência contra a criança e o adolescente, ao se tornar adulto.

Assim, segundo essa visão, ocorre um círculo vicioso, as crianças recebem todos os

impactos de situações de desajustes, perdendo os seus vínculos afetivos e tornando-se adultos

agressivos, potencializando cada vez mais situações agressivas (KORN et al., 1998).

Como podemos observar as explicações para a violência doméstica contra as crianças

e os adolescentes tem-se apresentando de muitas maneiras, em uma pesquisa realizada com

pais em relação à violência contra a criança, realizada com 8.145 famílias (STRAUS e

SMITH, 1995), foram encontrados os seguintes resultados, os pais que sofreram violência

quando crianças apresentavam um índice de violência contra os seus filhos duas vezes maior,

do que aqueles que não sofreram violência.

Com esse resultado podemos pensar que a violência doméstica contra a criança e o

adolescente seria um comportamento aprendido, onde as crianças reproduzem aquilo que

vivenciam, essas questões têm a sua razão de ser porque se admite que a criança como o

adolescente tem toda a condição de uma aprendizagem por imitação, BIASOLI-ALVES

(1997).

Retomando BELSKY, (1993), a questão da violência são resultados de vários fatores

vinculados ao agressor e a criança individualmente, família, comunidade e a sociedade.

Nos últimos anos o alcoolismo é apontado também como uma explicação para a

ocorrência dos maus-tratos cometidos contra a criança, (DELGADO e FISBERG, 1990;

FAGAN, 1990; CARIOLA; BITTENCOURT, 1995; HOGAN et al., 2006)

No caso especifico do álcool apesar das pesquisas ainda não é possível inferir que o

uso do álcool afete o comportamento das pessoas envolvidas, não é possível saber se essas

pessoas em estado de abstinência teriam cometido os mesmos maus-tratos (GOMES, 2002).


70

Pensando ainda na correlação do álcool e violência, ele é apontado como sendo uma

das explicações para os episódios de violência doméstica contra a criança e o adolescente,

(DELGADO e FISBERG, 1990; ZAVASCHI et al., 1991; BITTENCOURT, 1995; SEABRA

e NASCIMENTO, 1998).

Com referência ao uso do álcool e de outras drogas, como também o fato de os pais

terem sido submetidos a violência doméstica em sua infância, esses são traços encontrados

com certa freqüência nas famílias de crianças e adolescentes que sofreram de atos de

violência e que certa maneira podemos dizer que, esses fatores levam-se a que se cometa atos

de violência doméstica contra a criança e o adolescente, (FARINATTI, 1992; CAMINHA,

1999; ALGERI, 2001).

4- Visibilidade da violência doméstica contra as crianças e os adolescentes

Para podermos enfrentar e intervir na questão da violência doméstica contra a criança

e o adolescente, precisamos ter um diagnóstico da real situação da infância no Brasil.

Para que isto ocorra temos que ter visibilidade do problema, que se torna possível

através dos registros de notificações, que é obrigatório desde o ECA que são estabelecidas

determinações legais para a notificação; (GONCALVES et al., 2002).

DESLANDES (1999), apresenta algumas reflexões sobre as razões pelas quais a

notificação nem sempre e efetuada, principalmente, por profissionais da área de saúde, a

resistência em fazer a notificação, se deve experiências negativas anteriores do profissional

perseguido pela família, teve que prestar inúmeros depoimentos.

Receio da criança, ser enviada a um abrigo, ou para a FEBEM o que lhe causaria

maiores danos, a visão de que se trata de um problema de família, medo de poder estar

enganado e notificar uma suspeita infundada, crença de que ele deve cuidar das lesões e

problemas das crianças, descrença nas medidas de proteção e reais possibilidades de

intervenção; DESLANDES (1999).


71

A questão da violência doméstica contra a criança e o adolescente causam grande

comoção, aos profissionais que estão de maneira direta ou indireta em contato com essas

questões, com isso os motiva a efetuarem as notificações pensando em proteger a criança e o

adolescente.

A notificação e um poderoso instrumento de política pública, uma vez que ele

contribui para dar a dimensão exata da questão e, determina a necessidade de investimentos

em núcleos de assistência, direciona as pesquisas, nesta área e que trará um conhecimento de

como esta a dinâmica familiar mas, são muitas as controvérsias e problemas que permeiam o

tema e não há perspectiva de soluções imediatas para realmente as notificações

corresponderem ao que é verdadeiro (GONCALVES et al., 2002).

De acordo com PASCOLAT (2001), estima-se que para cada caso notificado, dois não

o são.

No cotidiano nem sempre as notificações têm função de evitar a violência doméstica

contra a criança e o adolescente, pois se espera ter suspeitas bem evidentes da ocorrência ou

mesmo, a confirmação do mesmo, talvez isso ocorra em função das interferências, que

ocorrem no meio da família notificada e a criança ou adolescente maltratada, também não

quer se separar da família, essas são questões sérias, que levam muitas vezes a sub-

notificação das ocorrências (FERREIRA et al., 1999).

No Brasil

A partir de agora veremos alguns dados estatísticos que mostram o alcance da

violência doméstica contra a criança e adolescente, que foram notificadas, primeiramente no

Brasil e a seguir veremos as estatísticas de alguns países com referência a questão da

violência doméstica contra a criança e o adolescente.

Não há a pretensão de fazer uma revisão da literatura nacional sobre essa questão.
72

A Associação Brasileira de Crianças Abusadas e Negligenciadas estima a ocorrência

de 4,5 milhões de crianças vítimas de abuso e negligência por ano no país. Estatísticas do

Serviço de Advocacia da Criança (SAC) da Secretaria do Menor de São Paulo registraram o

atendimento de 6.056 casos de crianças vítimas de violência na Capital, no período de 1988 a

1990. Destes, 64% eram casos de violência doméstica. A Associação Brasileira de Proteção à

Infância (ABRAPIA), no período de 1991 a março de 93, realizou 3.981 atendimentos de

crianças que sofreram violência doméstica em suas casas no Rio de Janeiro.

Dados estatísticos notificados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no ano de 1991

indicam que cerca de 70% dos homicídios de crianças de zero a onze anos foram perpetrados

pela própria família (SOARES, 1997).

MINAYO (2001); diz que o Centro Brasileiro da Criança e do Adolescente de Recife,

(CBCA), analisando os crimes no período de 1987 a 1989, verificou que 37% estavam

relacionados a posse sexual mediante fraude e sedução e 13% eram casos de estupro.

Em São Paulo, SAFFIOTI (1993) estudou 346 crimes contra crianças e adolescentes

em 1991, encontrando 19,9%; de estupros e 17,5%; de atentado violento ao pudor.

A Associação Brasileira de Proteção a Infância (ABRAPIA), entre os anos de 1991 e

1993 realizou 3.981 atendimentos a crianças maltratadas nos lares na cidade do Rio de

janeiro.

HILTON (1992), diz que em um estudo realizado com mulheres que sofrem violência

doméstica por parte de seu marido, 55% delas dizem que seus filhos testemunham a violência

física que elas sofreram. Nos Estados Unidos, estimam que entre 3,3 milhões a 10 milhões de

crianças estão expostas a violência doméstica contra a mulher, no caso a mãe dessas crianças,

a cada ano; (JAFFE et al., 2000).


73

Em 1994 quase 3 milhões de crianças foram notificadas a agencias de proteção a

infância como vitimas de abuso ou negligencia, o abuso físico e sexual representa 40% de

todos os relatos PASCOLAT (2001).

Os dados revelam que a violência que atinge as crianças é muito grande; a literatura

internacional mostra que 70% dos atos de violência física contra crianças, em geral, são

praticados pelos pais, sendo as faixas etárias mais vulneráveis de 7 a 13 anos (GUERRA,

1996).

No Rio de Janeiro nos anos de 1999 a 2002 foram realizadas 3.628 notificações

referentes a violência doméstica contra a criança e o adolescente segundo dados da Assessoria

de Prevenção de Acidentes e Violência/ APAV (SES-RJ, 2004).

Entre os anos de julho de 1999 a agosto de 2000, foram notificados no Rio de Janeiro,

pelas redes de saúde, das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde 1061 casos de violência

doméstica contra a criança e adolescente, em todo o Estado (SES-RJ, 2001).

Estudo recente realizado em Porto Alegre demonstra que 85% dos casos de violência

denunciados ocorreram dentro da casa da vítima, sendo que os perpetradores da agressão

eram, principalmente, pais biológicos ou adotivos (AMENCAR, 1999).

De acordo com alguns relatórios de atividades do CRAMI, essa é a modalidade de

violência doméstica física é mais notificada, sendo que de 1988 a 2000 representou 51% do

total de notificações (Relatório de Atividades, 2000).

A violência contra crianças e adolescentes na realidade brasileira está centralizada na

família e, de acordo com dados do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) de

2003, a principal causa da mortalidade infantil no Brasil é a violência. Conforme o Ministério

da Saúde (2001), 80% dos casos de violência contra a população infantil e jovem ocorrem

dentro do espaço domiciliar e praticado por seus pais.


74

Segundo dados analisados por CARVALHO (2000), no Brasil, em 1994, 12% das

55,6 milhões de crianças com menos de 14 anos sofreram algum tipo de violência em casa.

A forma de violência doméstica contra a criança e o adolescente, mas notificada e

denunciada é a violência física e um aspecto que pode justificar essa notificação é o fato de

que ela pode deixar marcas visíveis no corpo da criança, facilitando sua identificação.

No Rio de Janeiro em um ambulatório de pediatria aplicou-se um instrumento

especifico junto aos pais o Conflit Tactic Scale que avalia as práticas educativas e conclui-se

que 46% das famílias cometiam alguma forma de violência física e como forma de punição

física e 9,9% exerciam abusos graves, (SOARES MOURA e REICHENHEIM, 2005).

Especificamente na cidade de Ribeirão Preto um levantamento junto aos Conselhos

Tutelares no ano de 2003, para a faixa de 0 a 18 anos era de 398 casos sendo que 55% dos

pais eram negligentes, 17% cometiam maus-tratos físicos, 18% abuso sexual, e 4%

psicológica (MATIAS, 2004)

Todos esses resultados são violências cometidas contra a criança e o adolescente,

dentro do ambiente familiar, cometidos por seus pais, e que também ocorre nessas famílias a

presença da violência contra a mulher por parte de seu marido ou companheiro, BORDAO

ALVES (2005).

Mas, na realidade, o que essas pesquisas realmente evidenciam é a necessidade de

maiores estudos para que se compreenda o por que e o como da violência doméstica, seus

efeitos, bem como se comece a delinear ações que possam ser desenvolvidas no sentido tanto

de estancá-la quanto de prevení-la.

Para que se tenha um entendimento acerca dos maus-tratos cometidos contra a criança

e o adolescente é preciso ter políticas de prevenção e intervenção e essas só terão êxito se

conseguirem articular uma compreensão, teórico-prática do problema.

Nos Estados Unidos e em outros países


75

A seguir apresentaremos alguns dados estatísticos, referentes às pesquisas realizadas

nos Estados Unidos e, em alguns outros países acerca da violência doméstica contra a criança

e adolescente.

Não há a pretensão de fazer uma revisão da literatura internacional nesse aspecto.

Em inquérito realizado nos Estados Unidos em 1985, apontou-se que 62% dos pais

utilizavam a agressão, materializada em empurrões, tapas e, até, uso de armas, no trato com os

filhos (NCCAPR, 1992).

Segundo o National Incidence Study, ao longo do ano de 1986, nos Estados Unidos,

311.500 crianças, ou 4,9 em cada 1.000, foram abusadas fisicamente; 188.100 crianças, ou 3

em 1.000, foram abusadas emocionalmente; 133.600 crianças, ou 2,1 em 1.000, foram

abusadas sexualmente; e 507.700, ou 8,1 em 1.000, foram vítimas de negligência física (U.S.

Department of Health and Human Services, 1991).

Nos Estados Unidos em 1991 e a cada ano 10 milhões de crianças e adolescentes estão

expostas a violência doméstica (STRAUS, 1991).

Nos Estados Unidos em 1994, quase 3 milhões de crianças foram notificadas às

agências dos serviços de proteção à infância como sendo possíveis vítimas de abuso e

negligência, sendo que o abuso físico e sexual representava 40% de todos os relatos.

Por mais que esses dados possam ser gritantes, há uma séria desconfiança de que ainda

esteja subestimada verdadeira população de criança e adolescente que sofre violência em seu

próprio lar, tendo como agressor os pais.

De acordo com PASCOLAT (2001), estima-se que para cada caso notificado, dois não

o são.

Os dados revelam que a violência que atinge as crianças é muito grande; a literatura

internacional mostra que 70% dos atos de violência física contra crianças, em geral, são
76

praticados pelos pais, sendo as faixas etárias mais vulneráveis de 7 a 13 anos (GUERRA,

1996).

Nos Estados Unidos, as denúncias junto às autoridades legais apresentam taxas

varáveis de 16 a 32%, com cerca de 300 a 350 mil pessoas com idade de 12 anos ou mais, que

sofrem violência domestica contra a criança anualmente (RENNISSON, 1997, 1999), e igual

número de vítimas com idade abaixo de 12 anos. No Brasil, inexistem dados globais a

respeito do fenômeno, estimando-se que menos de 10% dos casos chegam às delegacias

(FAUNDES, 1998).

Segundo (LAVERGNE e TOURIGNY, 2000), o desenvolvimento das pesquisas na

área de violência doméstica se faz necessários para ter-se a real situação do problema.

A maioria dos levantamentos é realizado em instituições oficiais, ou seja as

informações são fornecidas pelos responsáveis pela recepção e seguimento das denúncias,

estima-se que o número de casos de maus-tratos divulgados e conhecidos oficialmente seja

muito menor que o número real dos casos, e não se pode levar em consideração os números

oficiais apresentados (BRINGIOTTI, 2000).

Nos Estados Unidos, somente no ano de 2002, 896 mil crianças foram consideradas

vitimas de maus-tratos ou negligenciadas, conforme os dados do (National Child Abuse and

Neglect Information, 2004).

Na Inglaterra, de uma amostra aleatória com 2.869 participantes constatou que a

ocorrência de maus-tratos na infância foi de 16% sofreram maus tratos físicos e 7% de abusos

físicos graves, 6% maltrato emocional infantil, 6% falta de cuidado e 5% falta de supervisão

(negligencia), e 11% abuso sexual, dando um total de 51% de crianças e adolescentes vítimas

de maus-tratos em suas casas (HOBBS, 2005)


77

Canadá – Em estudo realizado em 1998 sobre a incidência de violência, produziu os

seguintes resultados, 7.672 crianças- adolescentes, menores de 16 anos (TROCME et al.,

2003), sofreram violência.

Austrália- Pesquisa realizada entre os anos de 1997 e 1998, pelo, Australian Istitute of

Health and Welfare, divulga taxas de incidência que varia de 5,1 a 5,9 por 1000 crianças,

esses dados se referem apenas a dados confirmados e foram coletados nos 3 maiores estados

australianos, ficando o total da amostra da seguinte maneira, abuso físico de 27% a 35%,

abuso sexual de 8% a 2%, e negligencia 18% e 42%, (AUSTRALIAN INSTITUTE OF

HEALTH AND WELFARE, 1999).

Portugal- Estudo retrospectivo com pais de crianças que freqüentam escolas públicas,

dando como resultado uma amostra de 1000 adultos, eles foram convidados a responderem

uma versão portuguesa do Childhool History Questionnaire.

Foi encontrada 73% mas o abuso físico severo com seqüelas e machucados foi de 9,5

%, a maioria dos abusos ocorreram antes dos 13 anos, (FIGUEIREDO et al., 2004).

Chile – Estudo realizado na cidade de Temuco, com 422 famílias que através da

Conflit Tactic Scale, constatou-se que 45% das famílias empregavam violência física e 17%

empregavam violência psicológica, na resolução de conflitos com seus filhos, (VIZCARRA et

al., 2001).

7 - Violência, uma Relação Desigual

As transformações que vêm ocorrendo na estrutura das relações familiares, referentes

aos vínculos conjugais, como também as novas formas e padrões de comportamento e

relacionamento existentes entre os sexos, acham-se ligadas a mudanças no Estado, na

sociedade e na comunidade em geral, possibilitando outros encontros e desdobramentos, que

ora têm significado avanços, ora assumem a característica de retrocesso, ou de ‘marcar passo’

sem conseguir encontrar formas adequadas de lidar com os problemas; e a violência é um


78

deles; como já se pontou, ela está presente desde sempre, aparecendo com maior ou menor

intensidade em épocas diferentes, como um fenômeno mundial que perpassa todas as culturas,

etnias, tipos de economia e regimes políticos, (SAGIM, 2003)

Entretanto, nos dias atuais, ela tem grande visibilidade, seja porque o interesse está em

denunciar, ou pelo fato de que se encontra exacerbada entre os mais diversos grupos sociais,

seja ainda porque se mostra gratuita, mas, sobretudo pela consciência de que a sua presença

significa um confronto direto com os Direitos da Pessoa, uma vez que suas conseqüências

são: opressão, pânico, medo, insegurança, sensação de abandono, depressão, implicando em

tortura psicológica, humilhação e perda da liberdade, quando não, da vida (SCHRAIBER,

1999).

Dirigindo a atenção para o tipo específico de violência que é a doméstica, assume-se

inicialmente a grande complexidade do tema, porque ele diz respeito ao mesmo tempo a

alguma coisa que acontece no espaço do privado, sendo, então, restrito às pessoas que dele

fazem parte, mas que tem todo um entrelaçamento com o social.

Historicamente, os efeitos da violência se fazem sentir, principalmente, em grupos

sociais mais vulneráveis (como crianças, adolescentes e mulheres) pertencentes a estratos

sociais menos favorecidos, mas o que não significa que as camadas mais privilegiadas não

sejam por eles afetadas, (SOUZA et al., 1996).

A violência contra a mulher é reconhecida pela Assembléia Geral das Nações Unidas,

em 1993, como qualquer ato de violência de gênero que resulte, ou tenha possibilidade de

resultar em prejuízo físico, sexual ou psicológico - ou ainda, sofrimento para as mulheres -

incluindo também a ameaça a tais atos, a coerção à liberdade e a privação desta, ocorrendo

tanto em público quanto na vida privada. (WHO, 1994, 1997).

Assim, de um lado há a família, uma instituição que sofre mudanças constantemente, a

começar pelo seu tamanho, pelos papéis atribuídos ao homem e à mulher, aos adultos e às
79

crianças, mas que se constitui em um tipo de agrupamento estável através das sociedades e

dos tempos, fundado na responsabilidade pelo cuidado e educação das gerações mais novas,

(SAGIM, 2004).

De outro, a sociedade que interfere e que é chamada a oferecer subsídios para que a

situação de violência termine (MORGADO, 1986; ROMANELLI, 1995; BIASOLI-ALVES,

1999ª; BIASOLI-ALVES, 1999b; BIASOLI-ALVES, 2000).

SAFFIOTI (1997, p. 85) afirma que;

“A violência doméstica ocorre numa relação afetiva cuja ruptura demanda, via de
regra, intervenção externa. Raramente uma mulher consegue desvincular-se de um
homem violento sem auxílio externo. Até que isso ocorra, descreve uma trajetória
oscilante, com movimentos de saída da relação e retorno a ela”.

A análise do problema mostra assim que se tem de um lado a necessidade de respeito à

privacidade de cada um, segundo o princípio de não tornar público o que acontece dentro de

casa, para não expor a imagem da instituição familiar, que deve permanecer intocada.

Pode-se dizer que se entende por uma situação de violência doméstica contra a mulher

o que pode ser registrado como uma ação freqüente, agressiva, a ela dirigida, seja física,

sexual ou verbal. (CONRADO, 2001).

Podemos perceber que se está diante de uma contradição, porque o imaginário social

vê a casa como um lugar seguro, tranqüilo onde o ser humano inicia seu desenvolvimento,

pode se sentir à vontade e protegido, forma sentimentos, as primeiras relações afetivas,

assimilam modelos; assim, quando nessa família a violência se faz presente fica muito mais

difícil reagir, e mesmo entender a situação porque a pessoa foi ensinada que é nesse ambiente

que ela terá amor, carinho e proteção. Por esta razão é que SAFFIOTI (1997, p. 53) diz que;

“as pessoas sentem-se envergonhadas de admitir, mesmo para amigos, que um


membro de sua família prática violência. Assim, qualquer que seja modalidade de
violência, geralmente se forma em torno dela uma conspiração do silencio.
Ninguém fala sobre o assunto”.

É muito difícil pensar e aceitar que dentro de seu lar a mulher esteja à mercê de um

companheiro agressivo; isto contraria o que se poderia esperar, uma vez que este espaço é
80

visto como sagrado. No casamento supõe-se que homens e mulheres encontrarão não só a

satisfação sexual, mas também uma compreensão mútua de suas necessidades afetivas, num

patamar de igualdade e troca, de direitos, deveres e cumplicidades.

As questões que se referem a violência doméstica contra a mulher é algo muito sério

afeta a saúde física e emocional da mulher, portanto é muito importante que se tenha uma

visibilidade desta questão para podermos prevenir e interferir, fazendo com que a mulher

possa viver em sua casa sem ter, presente o medo da violência a ela dirigida por parte de seu

companheiro, como também, já é mais do que hora de começarmos a pensar nos filhos dessas

mulheres que assistem, interferem, vivenciam as agressões, violências, humilhações que essa

mulher, mãe, sofre dentro do convívio familiar.

Como já foi mencionado anteriormente a questão da criança e do adolescente viver em

um lar onde ele sofre violência doméstica praticada contra ele por seus pais, e vivenciar as

situações de violência doméstica contra a sua mãe, praticada por seu pai, acarreta uma

infinidade de conseqüências a esses filhos, e temos que pensar muito seriamente sobre essa

situação.

Através de estudos sobre a questão da violência doméstica contra a mulher, que nos

mostre a visibilidade do problema e que contribua para programas de prevenção e cuidado

dessas mulheres e podem e muito contribuir para que os lares sejam mais seguros para as

mulheres, mães e seus filhos, para que eles possam ter direito a se desenvolver com qualidade

de vida, em termos de relação afetiva, carinho, respeito e amor entre e seus pais.

RODRIGUEZ (1996), diz que na cidade de Guadalajara 82% das mulheres vítimas de

violência têm emprego, poderiam se sustentar sozinhas sem seus companheiros e sair da

situação de violência, ameaça, e agressão.

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) apresentou dados que mostram

411.213 mulheres vítimas de agressões leves e graves, em 1999. Se comparar com as


81

informações da CPI da Violência contra a Mulher, de 1993, percebe-se um aumento de 70%

em apenas seis anos. Entre os casos a Lesão Corporal foi o crime mais denunciado (113.727

ocorrências), seguindo-se maus tratos psicológicos com (107.999 casos).

De acordo com as estatísticas, a violência seria crescente, e não apenas no Brasil, mas

em todo o mundo; como exemplo tem-se o caso da Áustria, que evidenciou que em 1500

casos de divórcio, 59% das mulheres dão como causa a violência.

Pesquisas recentes evidenciam que, (HILTON, 1992; ROSSMAN, 1997; WOLACH et

al., 1998; BRANCALHONE et al.; KITZMANN et al.; WOLFE et al., 2003), os prejuízos

causados aos filhos de mulheres que assistem cenas de violência entre seus pais, para as

crianças e adolescentes estudos mostram que, as conseqüências são muito serias quando os

filhos observam e percebem a existência de violência entre seus pais.

No Brasil alguns estudos na saúde revelam dados bem assustadores, entre usuárias do

serviço público, cerca de 50% a 60% das mulheres entre 15 a 49 anos relatam terem sofrido

violência pelo menos uma vez na vida violência, (SCHRAIBER, 2001).

Dados estatísticos referentes ao Rio de Janeiro em 1997 revelam que foram registradas

5.098 ocorrências de violência doméstica por mês, ou seja, 170 casos ao dia. A abrangência

desses dados é muito grande, pois, significa que a cada hora há 7 mulheres em situação de

violência, (CABRAL, 1999).

O centro de atendimento à mulher vítima de violência da Secretária Estadual de Saúde

do Rio de Janeiro, apresentando dados referentes a 1999-2000, indica que em 70% dos casos

por eles atendidos a violência foi praticada pelo marido ou companheiro da vítima, (BLAY,

2001).

Calcula-se que uma em cada quatro mulheres será agredida pelo menos uma vez

durante a sua vida, (DATNER et al., 1999).

Dentre tantas, a forma mais comum de violência contra a mulher é a doméstica ou a


82

familiar. Segundo estimativas do Banco Mundial, uma mulher tem maior probabilidade de ser

espancada, violada ou assassinada pelo seu parceiro atual ou anterior que por um estranho,

(WHO, 1997).

Apesar da freqüência com que as mulheres são agredidas, raramente a agressão é

identificada. Isto porque muitas vezes elas não procuram atendimento médico, ou porque os

médicos estão desavisados sobre a prevalência da violência contra a mulher e simplesmente

não a pesquisam, (YEAGER et al., 2002).

Pesquisas e estudos demonstram que a violência doméstica contra a mulher na forma

física é praticado por seu marido, estudos em vários países deixam claro a violência física

contra a mulher praticada por seu marido é muito grande e varia de país a país, 21% da

mulheres sofrem violência na Holanda e Suíça Estados Unidos, 22%; no Canadá 29%; Egito,

34,4%; e na Índia 40%; (HEISE et al., 1999; WATTS et al., 2002).

A pesquisa mostra que os incidentes acontecem dentro de casa, sendo que mais de

40% resultam em lesões corporais graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarração,

queimaduras, espancamento e estrangulamentos. Parece bem claro que a violência

desestrutura o núcleo familiar, por se constituir num desrespeito aos limites impostos a todos

seus membros, e ao direito a um desenvolvimento saudável, contemplado no respeito à vida, à

liberdade e à integridade física.

Objetivo Geral

Esta pesquisa esta estruturada tendo como objetivo analisar a percepção que crianças e

adolescentes, que vivem em ambientes em que a violência doméstica esta presente, tem a

respeito dela, incluindo-se tanto a situação em que eles são vitimas da violência dos adultos,

quanto a que a violência ocorre entre os pais, em especial contra a mãe, e eles estão na

categoria de observadores.

Objetivos Específicos
83

1- Investigar a percepção da criança e do adolescente quanto à violência praticada por

seu pai/ padrasto contra sua mãe.

2- Investigar a percepção da criança e do adolescente quanto à violência praticada por

seu pai/ padrasto contra ele e sua mãe.

3- Investigar a percepção que as crianças e os adolescentes têm acerca da violência

praticada por seu pai/ padrasto ou mãe, contra ele.

MÉTODO

Há um significado implícito na busca do conhecimento cientifico,


O prazer da pesquisa!
Prazer que acarreta o envolvimento do pesquisador com o objeto do estudo,
Que se traduz em Paixão!
Que uma vez gerada, se auto alimenta pelo tempo afora (BIASOLI-ALVES, 1994)

1- Construindo a Metodologia

A perspectiva fundamental de estabelecer a metodologia de um projeto de pesquisa

está no estudar e caracterizar o que as estratégias ou abordagens nos permitem alcançar em

termos de análise de dados (BIASOLE-ALVES, 1995).

Portanto, metodologia é a explicação de como se conduz uma pesquisa passo a passo,

a construção das etapas de estudos. Ela é a preparação inicial da entrada em campo, e as

etapas que seguem uma estruturação metodológica, apresentação, descrição e a interpretação e

análise dos dados de forma que sejam inter-relacionadas e ordenadas.

MINAYO (1994, p. 16) entende por metodologia o caminho do pensamento e a

prática exercida na abordagem da realidade, neste sentido, a metodologia ocupa um lugar

central no interior das teorias. Para LENIN (1965, p. 148), o método e a alma da teoria.

Retomando (MINAYO, 1994), pesquisa é a atividade básica da Ciência na sua

indagação e construção da realidade, é com a pesquisa que temos um ensino atualizado frente

ao mundo, portanto, embora sendo uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação.

Para a realização de uma pesquisa é preciso promover o confronto dos dados

coletados, as evidências, as informações que foram coletadas sobre um determinado assunto e


84

somando-se o conhecimento teórico acumulado a respeito dele, através das leituras tendo-se o

início de um trabalho de pesquisa, (LUDKE et al., 1986).

Para se construir uma pesquisa faz-se necessário ter-se uma metodologia que abranja

as questões que serão pesquisadas da maneira mais adequada e produtiva possível.

Esta pesquisa trata-se da questão da violência contra a criança e o adolescente e há

inúmeros caminhos para tentar refletir e entender como se apresenta, na perspectiva de como

é entendida e observada por eles.

Para iniciar essa pesquisa foi necessário fazer um estudo e uma análise de quais

estratégias melhor se adequariam à opção metodológica, então, optou-se por uma pesquisa

fundamentada numa abordagem que conjugaria duas análises, primeiramente a análise

quantitativo-interpretativa e posteriormente, análise qualitativa dos dados.

Caracterizando-se como um estudo quantitativo-interpretativo e também qualitativo,

tendo um cunho de natureza descritiva, por possibilitar que sejam alcançados os significados e

as expectativas, acerca de aspectos importantes das famílias, onde há presença da violência

doméstica contra a criança e adolescente e também contra sua mãe.

Fez-se a opção por trabalhar com entrevistas, com dois formatos diferenciados,

entrevista estruturada e entrevista semi estruturada, que serão aplicadas as mães, crianças e

adolescentes.

Quando associadas conjuntamente as entrevistas, propiciam que se obtenham

informações sobre comportamento, atitudes, sentimentos e valores, da pessoa entrevistada, o

que se pode com isso, ir além da simples descrição do dado puro em si, incorporando novas

interpretações dos resultados obtidos, que podem tornar a análise dos dados mais ampla e rica,

e ao mesmo tempo em que faz a aproximação do pesquisador diante da complexidade e

riqueza de dados que um ser humano pode nos proporcionar.


85

Definidos, os instrumentos como sendo modalidades de entrevistas, completamos e

ampliamos a estratégia da coleta de dados da pesquisa com à aplicação de um jogo de

sentença incompleta e desenhos que contém situações e interações familiares, que serão

aplicados as crianças e adolescentes e que propiciam uma riqueza de respostas e informações

que este estudo requer.

Também se faz necessário o uso de uma agenda, onde serão anotados todos os dados

referentes a cada família tais como; nome, endereço, quantos filhos participariam da pesquisa,

essa agenda tem como finalidade o agendamento de cada família, com os horários das

entrevistas e o local onde cada família reside, a pesquisadora buscou cada uma das famílias

em sua casa.

E, finalmente foi utilizado um diário de campo para fazer anotações paralelas às

entrevistas e também anotações referentes ao ambiente em que cada família reside.

O diário de campo foi utilizado para registrar dados complementares, referentes às

entrevistas e observações gerais que no futuro poderiam ajudar na interpretação dos dados e

numa melhor forma de contextualizar, entender, compreender de forma mais clara o conteúdo,

contexto e significado as entrevistas.

Nesse sentido nos coloca, (BOGDAN et al., 1997), sobre as notas de registro em um

diário, elas podem registrar, idéias, estratégias, emoções, comportamentos, reflexões, que

seriam um relato escrito do pesquisador que ouve, vê e reflete ao coletar dados em uma

pesquisa qualitativa.

A escolha dessa estratégia de coleta de dados foi devido à flexibilidade que esta

possibilita aos entrevistados, ao mesmo tempo em que o entrevistador tem condições de

direcionar o que pretende obter dos participantes, além do que ele permite tanto análises

quantitativo-interpretativas quanto qualitativas (BIASOLE-ALVES, 1998).


86

Para trabalhar com entrevista é necessário que se crie um ambiente acolhedor, uma

atmosfera agradável e confiável, iniciar com uma conversa informal, não ficar com medo do

silêncio em alguns momentos, ter a paciência para ouvir cuidadosamente, e sempre respeitar o

tempo e o momento do outro.

A entrevista estruturada implica em se ter questões previamente elaboradas e que

seguem uma seqüência padronizada, com linguagem sistemazidas e obedece a um rigor

grande e que deve evitar a tendencionalidade das perguntas ou a indução das respostas pelos

participantes, (BIASOLI-ALVES, 1995).

MORGAN (1988), diz que uma entrevista consiste numa conversa intencional entre

duas pessoas ou mais, tendo como objetivo obter e extrair informações sobre a outra pessoa,

no caso de uma pesquisa qualitativa a entrevista surge com um formato próprio (BURGES,

1984).

Para (Trentini et al, 2004), a entrevista além de ter o propósito de coletar informações,

ela constitui uma condição social para a interação humana, a qual a produção fornecerá

informações fidedignas, (p.76).

DUARTE (2004) se refere às entrevistas dizendo que elas são fundamentais quando se

precisa e deseja mapear, crenças e valores de sistemas classificatórios de universos bem

específicos e delimitados, (p.215).

Segundo BIASOLI-ALVES (1998) os relatos orais podem fornecer informações

importantes a respeito de crenças, valores e sentimentos que contribuem para que se faça uma

contextualização das vivências.

THIOLLENT (1982) diz que a entrevista em uma pesquisa não é apenas um ato de

coleta de dados, mas, sempre é uma situação de interação entre duas pessoas e que as

informações fornecidas pelo participante terão uma finalidade científica.


87

Para BIASOLI-ALVES (1998, p. 14), “a entrevista é uma ferramenta imprescindível

para se trabalhar buscando contextualizar o comportamento dos sujeitos fazendo a sua

vinculação com sentimentos, crenças, valores” e (LUDKE et al., 1986), fala da importância

da interação entre o entrevistador e o entrevistado, para captar as informações desejadas.

A entrevista semi estruturada implica em compor roteiros de tópicos selecionados e

elaborados de forma que possa ser aplicada a todas participantes, as perguntas seguem uma

forma flexível e a seqüência e minuciosidade ficam por conta dos participantes e da dinâmica

que acontece de forma natural, (BIASOLI-ALVES, 1998).

Como dito anteriormente, a análise do material fundamentou-se na junção das

abordagens quantitativo-interpretativas e qualitativas, essas duas abordagens mesmo que de

natureza diferentes buscam de forma complementar a melhor maneira de aproximar uma

realidade que se quer conhecer através da pesquisa (MINAYO et al., 1993).

Com relação aos dados qualitativos desta pesquisa, foram analisados pela técnica de

analise de conteúdo, modalidade temática, BARDIN (1977, p. 105), essa análise temática,

“consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença de

aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido”, além de buscar

respostas para questões, com essa técnica pode se caminhar na direção da descoberta do que

esta por trás dos conteúdos manifestos indo além das aparências do que se esta analisado,

(GOMES, 1994a, p. 74).

Quando as informações e coletas de dados estiverem finalizadas, essa pesquisa terá

duas formas de análise de dados, a primeira será o quantitativo-interpretativo, seguindo

modelo proposto por (BOASOLI-ALVES, 1998). Nesta análise a forma adequada de iniciar

uma interpretação dos dados seria ler e reler o material, para evidencialisar pontos

importantes, esse tipo de análise requer dois momentos distintos de agrupamentos, o das

questões e o das respostas.


88

É importante perceber o que cada pergunta permite obter e classificar as questões e dar

um sentido nas informações, a montagem e definição desse tipo de análise pode ter por base

interpretações e ou inferências advindas da literatura e do conhecimento empírico adquirido,

(BIASOLI-ALVES, 1998).

Depois desse procedimento parte para uma nova etapa que é a de categorização das

respostas através de um estudo minucioso e exaustivo das falas dos participantes e que por

fim teremos as categorias formadas através das falas das participantes e prontas para serem

discutidas e analisadas, (BIASOLI-ALVES, 1998).

Quando as informações forem coletadas a pesquisa terá como já foram mencionados

dois tipos de análise dos dados, a análise qualitativa nos diz MINAYO (1996), que ela

responde muito bem a questões referentes, onde se trabalha com o universo de significados,

motivos, crenças, valores e atitudes e isso responde a uma maior relação nos processos,

fenômenos que não se podem ser reduzidos a operações de variáveis.

Ela também diz que a pesquisa qualitativa é importante, pois compreende os valores,

cultura, e as representações dos grupos sobre o tema pesquisado, e compreende as relações

que se processam entre os grupos sociais tanto no âmbito das instituições dos movimentos

sócias, (MINAYO, 1998).

MINAYO (2004, p. 10), diz que há pesquisa qualitativa é entendida como sendo

aquela que é capaz de incorporar a questão do significado, da intencionalidade como inerentes

a atos relações e a estruturas sociais como sendo construções humanas.

Já TURATO (2003, p. 167), nos diz que a pesquisa qualitativa se caracteriza como

sendo um método que permite a captação dos sentidos que o fenômeno tem para o informante

ou que lhe atribui.

A pesquisa qualitativa é um procedimento importante nessa investigação, que auxilia,

compreende e acaba também por sugerir novas questões a abordagem quantitativa.


89

Quanto a (SPINK et al., 1999), ele se refere a idéia do rigor em pesquisa qualitativa a

ser equivalente a tornar claro e bem definido os caminhos para chegar a interpretação, e tem

que ser bem evidente, e ser bem definido a explicitação do processo utilizado na interpretação

dos dados.

Para finalizar (MINAYO, 1994) nos coloca o quanto a contribuição do conjunto de

análises, quantitativo-interpretativo e qualitativo será complementar, pois a realidade que eles

junto abrangem interage de forma bem dinâmica.

A seguir descreveremos as etapas de cada passo dos caminhos metodológicos para que

os objetivos dessa pesquisa pudessem ser cumpridos.

2- Participantes da Pesquisa

Crianças e Adolescentes

A pesquisa foi realizada em uma cidade de grande porte do interior do Estado de São

Paulo, com famílias onde há a presença de violência doméstica contra a criança e o

adolescente por parte de seus pais, e que foram sinalizados pelo Conselho Tutelar ou

Ministério Público.

E, com famílias em que a violência se faz presente também entre os pais, a violência

doméstica contra a mulher, e que pode ou não acontecer na frente dos filhos, e que já ocorreu

registro de denúncia em Delegacia Especializada de Violência contra a Mulher (DDM).

E, também famílias que apresentavam episódios de violência física entre o casal e que

foi informada e anotada nos prontuários da unidade do Centro de Referência Especializado da

Assistência Social – CREAS, onde a pesquisa foi realizada.

A amostra da pesquisa ficou composta da seguinte maneira; 17- famílias, (mães) e 77-

filhos, crianças e adolescentes com idade entre 06 anos e 16 anos completos.

2.1- Local da Pesquisa


90

A pesquisa foi realizada em uma cidade de grande porte do interior do Estado de São

Paulo.

Foi definido que em razão do conteúdo desta pesquisa é conveniente não identificar a

cidade, pois os dados coletados são referentes a famílias em situação de risco psicossocial

pela presença da violência e evitamos dar maiores informações sobre o local físico da coleta

de dados para não violar o termo de confiabilidade de que não seriam identificados e não seria

possível uma identificação do bairro onde a pesquisa foi realizada.

As famílias que ali residem têm problemas semelhantes e muitas vezes idênticos aos

participantes desta pesquisa.

Sendo assim, a pesquisa foi realizada em uma unidade do 2 Centro de Referência

Especializado da Assistência Social – CREAS, que é integrante do Sistema Único de

Assistência Social, constitui-se numa unidade pública estatal, pólo de referência, coordenador

e articulador da proteção social especial de média complexidade, responsável pela oferta de

orientação e apoio especializados e continuados a indivíduos e famílias com direitos violados,

direcionando o foco das ações para a família, na perspectiva de potencializar e fortalecer sua

função protetiva.

Os CREAS darão atendimento às situações de violação de direitos de crianças e

adolescentes, tendo como foco de ação a família, na perspectiva de potencializar sua

capacidade de proteção as suas crianças e adolescentes.

O CREAS presta atendimento prioritário a crianças, adolescente e suas famílias nas

seguintes situações: crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual; crianças

adolescentes vítimas de violência doméstica (violência física, psicológica, sexual,

negligência); famílias inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil que

apresentem dificuldades no cumprimento das condicionalidades; crianças e adolescentes em

2
As informações pertinentes ao local da coleta de dados foram retiradas e copiadas do site da Prefeitura da
cidade em que a coleta de dados foi realizada, muito do que esta presente neste texto é copia do que foi retirado
deste site e com prévia autorização do funcionário da secretaria deste município, autorização esta verbal.
91

situação de mendicância; crianças e adolescentes que estejam sob “medida de proteção” ou

“medida pertinente aos pais ou responsáveis”; crianças e adolescentes sob medida protetiva de

abrigo, em famílias acolhedoras e reintegradas ao convívio familiar; adolescentes em

cumprimento de medida sócio-educativa de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à

Comunidade; adolescentes e jovens após cumprimento de medida sócio-educativa privativa

de liberdade, quando necessário suporte à reinserção sócio-familiar.

O CREA articula os serviços de média complexidade e opera a referência e a contra-

referência com a rede de serviços socioassistenciais da proteção social básica e especial, com

as demais políticas públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia de

Direitos, prestando diretamente os seguintes serviços: Serviço de Enfrentamento à violência,

abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes; Serviço de Orientação e Apoio

Especializado a Indivíduos e Famílias com seus Direitos Violados; Serviço de Orientação e

Acompanhamento a Adolescentes em Cumprimento de Medida Sócio-Educativa de Liberdade

Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade. Estes serviços devem funcionar em

estreita articulação com os demais serviços da proteção social básica e da especial, com as

demais políticas públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia de

Direitos, no intuito de estruturar uma rede efetiva de proteção social.

O co-financiamento federal para esses serviços se dá por meio de transferência de

recursos do Fundo Nacional de Assistência Social para os Fundos Municipais de Assistência

Social, compondo o Piso Fixo de Média Complexidade (conforme Portaria Nº440/2005 - Art.

3º).

3-Procedimentos

O trabalho de pesquisa foi desenvolvido em seis etapas:

1-Visando a elaboração e adequação dos instrumentos - Estudo Piloto;

2- Procedimentos Éticos;
92

3- Processo de acesso as famílias para o estudo piloto;

4- Seleção da amostra pesquisada;

5- Processo de coleta de dados;

6- Processo de análise dos dados.

A seguir serão descritos cada procedimentos utilizados para o cumprimento de cada

etapa.

3.1 – Elaboração e adequação dos instrumentos - Estudo Piloto

Com a finalidade de testar os instrumentos da forma mais adequada possível para a

população a ser pesquisada optou-se na realização de um Estudo Piloto.

Para participar do estudo piloto foram convidadas três famílias juntamente com seus

filhos.

Esta etapa da pesquisa teve como objetivo, testar, corrigir, adequar os instrumentos

elaborados como também fazer a adequação da linguagem a ser utilizada.

Assim sendo as famílias e seus filhos que participaram desta pesquisa nesta etapa,

foram excluídos da análise, pois nesse momento o objetivo era o treinamento e a adequação e

as possíveis reformulações as quais os instrumentos poderiam sofrer.

O Estudo Piloto ficou definido com uma amostra de três mães e de dez crianças e

adolescente, cada participante foi identificado da seguinte maneira, em se tratando das mães a

identificação ficou sendo como família = (F) e recebia o número da seqüência de entrevista,

por exemplo, família 1, família 2, e assim por diante e com seus filhos foi adotada a seguinte

abordagem, família 1, (entrevistado 1, entrevistado 2), e assim por diante até todos os filhos

dessa família serem ouvidos e portanto entrevistados.

O número do entrevistado é seqüencial, mas, o filho de cada família foi ouvido junto

com sua mãe, teve se o cuidado de começar e terminar uma mesma família, para depois

iniciar a coleta de dados com a segunda família, e com isso o número de participantes ficou
93

definido no estudo piloto e na pesquisa propriamente dita da seguinte maneira, família 1,

(entrevistado 1, entrevistado 2, entrevistado 3), família 2, (entrevistado 4, entrevistado 5) e

assim sucessivamente.

O local para a realização do estudo piloto, para que os instrumentos pudessem ser

testados foi uma unidade do CREAS, onde os dados seriam coletados e as famílias

selecionadas para participarem da pesquisa propriamente dita.

O local onde as entrevistas se realizarão foi o mesmo em que a coleta de dados da

pesquisa foi realizada.

A aplicação de todos os instrumentos ocorreu em uma sala da unidade do CREAS,

onde havia a privacidade necessária e a segurança para que pudéssemos abordar questões tão

íntimas e difíceis de serem faladas e lembradas.

Teve-se o cuidado que no momento das entrevistas não houvesse interferências ou

barulho para que, as mães ou seus filhos pudessem de alguma maneira sentirem-se

desconfortáveis ou constrangidas pela presença de terceiros, e também para que pudessem, ser

mantidos o sigilo das informações prestadas.

Todas as famílias que foram selecionadas a participarem do estudo piloto e aceitaram,

foram buscadas em suas residências pela pesquisadora e ao término da entrevista a

pesquisadora levava a família de volta a sua residência e se necessário fosse retornaria para

buscá-la em data e horário apropriado para a participante dar seqüência nas entrevistas e

assim também foi feito com cada criança e adolescente, acompanhado por um responsável.

3-2 Procedimentos éticos

Todos os cuidados éticos e de responsabilidade foram tomados para que a pesquisa

pudesse ser realizada.


94

Antes de iniciar qualquer etapa da pesquisa foi envidado ao Comitê de Ética dessa

Universidade o projeto de pesquisa para a aprovação 3 e que se encontra (anexo-1)

Posteriormente feito o contato com a instituição solicitando a anuência da mesma para

a realização da pesquisa, quando a instituição deu ciência de que o projeto foi aprovado e que

a coleta de dados poderia se realizada em uma unidade do CREAS, foi então feito o contato

propriamente dito com a unidade e teve-se a fase formal que foi conhecer a Assistente Social

que estava a frente dessa unidade e que em muito contribui, e a partir daí, escolher as famílias

e apresentar o projeto, fazer o convite, abordaremos essas etapas mais adiante.

As participantes escolhidas, as mães, tiveram que assinar o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido,4 para a participação dela como participante da pesquisa como é à mãe

quem autoriza e assina por seu filho dando consentimento para que ele participasse da

pesquisa, esse termo encontra-se (anexo-2).

Pesquisas dessa natureza envolvendo crianças e adolescentes em situação de risco

enfrentam sérias questões metodológicas e também éticas, devem-se tomar todos os cuidados

necessários.

Segundo DELL AGLIO (2000), os pesquisadores devem ter cuidado com as questões

éticas que em outros aspectos abrangem a necessidade de autorização para a pesquisa.

Segundo, APTEKAR (1996) diz que é importante observar durante a coleta de dados

se esses adolescentes não vão mentir ou contar estórias, pois costumam mentir sobre seus

antecedentes familiares e vida em família.

3
O projeto também foi submetido ao Comitê de Ética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto – USP, seguindo as normas estabelecidas pela Legislação relativas à pesquisa com seres humanos.
4
O de Termo de Consentimento dado à mãe e ao seu filho, que no caso quem assina por ele e sua mãe dando
consentimento para que ele participe da pesquisa, esse termo encontra-se em anexo n -1.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética e encontra-se em anexo 3
?
O projeto também foi submetido ao Comitê de Ética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto – USP, seguindo as normas estabelecidas pela Legislação relativas à pesquisa com seres humanos.
95

Para Lisboa e KOLLER, s/d este mecanismo tem por finalidade quando ocorre serem

defesas decorrentes de uma confusão entre a fantasia e a realidade ou de emitir respostas

desejáveis tendo em vista suas ansiedades.

O pesquisador sempre deve estar atento e solicito para situações em que os

participantes pareçam necessitar de ajuda mesmo que isso não tenha vinculo a pesquisa em

andamento, no caso de uma criança se encontrar em condições muito graves e precisar de

suporte urgente, não se pode omitir de tomar as devidas providências (DELL AGLIO, 2000;

LISBOA e KOLLER, mimeo, s/d).

Nesta pesquisa teve-se o cuidado de encaminhar a atendido psicológico aquelas mães

que pediram ajuda para seus filhos ou para ela e isso foi feito pela pesquisadora que as

encaminhava ao serviço de terapia de uma clinica na cidade onde a pesquisa se realizou.

Apesar de ser um tema delicado é imprescindível termos pesquisas nessa direção e

sentido, pois só assim poderemos ter um mapa que nos possibilite fazer avaliações e propor

projetos de intervenções e vislumbrar caminhos que levem a mudanças deste quadro social

(HUTZ e FOSTER, 1996).

É importante ouvir a criança e o adolescente, pois esta escuta nos trará subsídios para

elaboração de projetos de intervenção e conseqüentemente a quebra da violência e dos maus

tratos, as crianças e adolescentes gostam de falar quando se sentem acolhidas e respeitadas.

Acredita-se “(...) que seja muito importante ouvir a criança e talvez seja este o meio

eficaz de o Estado fazer sua intervenção no momento certo” JUNQUEIRA (1989, p. 172)

SOUZA (1999) acredita e diz da importância da criança em ser vista como um sujeito,

pessoa capaz de mudar e atuar na sua vida e não de ser vista e tratada como ser passivo diante

da vida, que lhe passa diante dos olhos.

Assim esta pesquisa comprometeu-se em manter sigilo absoluto a cerca da identidade

das pessoas participantes, bem como deixá-las cientes de seus objetivos, e do uso do gravador,
96

que não foi autorizado por nenhuma das mães, para elas era fundamental que nada fosse

gravado, e isso foi respeitado, as entrevistas foram escritas pela pesquisadora no momento em

que as participantes relatavam os fatos, nem tampouco as entrevistas dos seus filhos foram

gravadas.

Foi feito um compromisso com a unidade do CREAS, onde a pesquisa foi realizada de

que após o término da tese haveria uma devolutiva dos dados e resultados, como também

seria entregue uma cópia da tese.

3-3 Processo de acesso as famílias - Estudo Piloto

O procedimento de acesso as famílias que fizeram parte do estudo piloto aconteceu

através da assistente social dessa unidade do CREAS, e que encaminhou e apresentou cada

família a pesquisadora, e a mesma, foi quem fez o convite para a mãe participar desta fase da

pesquisa e esclareceu também que, nessa etapa os dados coletados seriam desprezados da

pesquisa, mas teriam grande importância para a composição dos instrumentos da pesquisa.

Nesse momento a pesquisadora explicaria do que se trata a pesquisa e de todos os

cuidados éticos que deveriam ser respeitados, em caso de aceitar participarem da pesquisa, a

pesquisadora agendava um dia e horário mais conveniente para as famílias sem que houvesse

nenhum prejuízo dos afazeres das famílias e de seus filhos.

Como forma de melhor conduzir a pesquisa, a pesquisadora se propôs a buscar cada

uma das famílias em suas residências e após o término da entrevista deixá-la em casa, sem

que a participante tivesse qualquer problema no sentido de transporte até a unidade e assim foi

realizado durante todo o estudo-piloto e posteriormente na coleta de dados propriamente dita.

Nesta fase foram elaborados roteiros de entrevista para serem aplicados aos adultos

responsáveis pela criança e adolescente no caso sua mãe, como também em seus filhos

crianças e adolescentes com idades entre 06 e 16 anos.


97

Foi preparada uma entrevista estruturada, contendo informações relativas a sexo,

idade, escolaridade, no caso das crianças e adolescentes, (anexo-4) com relação às mães as

perguntas foram, idade, sexo, escolaridade, se trabalham, trabalham em que, seu

marido/companheiro trabalha, ele ajuda nas despesas de casa, (anexo-5).

Inicialmente preparou-se uma primeira versão Entrevista semi estruturada contendo

onze perguntas, encontram-se em anexo - para as crianças e adolescentes, (anexo-6) e depois

para suas mães contendo seis questões, que visaram o cotidiano de cada família, (anexo-7).

Jogos de sentenças Incompletas, que foi respondido apenas pelas crianças e

adolescentes e que contém onze sentenças, que se encontram (em anexo-8)

O jogo de sentenças incompletas, baseado no material proposto por (KOLLER;

RAFAELI; BANDEIRA; REPPOLD; KUSCHIK e DANI, mimeo, s/d) e adaptado e

reestruturado por (BAZON e VENTURINI, 2002), será o modelo utilizado nessa pesquisa.

Em relação à estruturação dos Jogos de Sentença Incompleta foi utilizado o modelo

estruturado e idealizado por (BAZON e VENTURINI, 2002)5.

Foi feita uma consulta para Bazom e Venturini, para que o modelo idealizado por elas

pudessem ser reproduzido na atual pesquisa, e o consentimento para a utilização do mesmo

foi dada, e usamos na integra o jogo de sentença incompleta idealizado por BAZON e

VENTURINI (2002).

Quanto aos desenhos foi feita uma adaptação do modelo utilizado por (DELFINO, V.

2003)6, foi efetuada uma consulta a idealizadora do instrumento para receber permissão para

utilizar o mesmo, e a permissão foi dada e algumas modificações foram necessárias no sentido

de adequá-los para a atual pesquisa, onde foram criadas novas perguntas e selecionados os

desenhos que seriam utilizados.

5
Foi feita uma consulta informal e verbal a prof: Dra: Bazon e a aluna de pós-graduação no sentido de pedir
autorização para que os instrumentos referentes ao JSI, pudessem ser utilizados nesta pesquisa na integra e em
alguns casos com relativa cópia na integra e foi autorizado pelas duas autoras o uso do mesmo.
6
Em relação aos desenhos também ouve uma conversa e pedido para que pudessem ser usados alguns desenhos
dessa autora nessa pesquisa, e mesma deu permissão e autorização.
98

Foram utilizados onze e cada um com três perguntas adequadas para a atual pesquisa.

Em função de buscar as famílias em suas residências pode ser feito uma observação

proximal de como é a residência de cada família como vivem e se organização em seus lares e

como foi à receptividade dos familiares, vizinhos e do próprio marido ou companheiro a ir

buscá-la em sua casa para participar da pesquisa sobre assuntos tão doloridos e sofridos para

cada família, essas observações eram posteriormente anotas em um diário de campo.

As entrevistas-piloto foram realizadas em seis dias com duração de três horas cada

uma com as mães, e com as crianças e adolescente tiveram a duração em média de duas horas

e meia.

A realização das entrevistas com as mães e com as crianças e adolescentes, trouxe

subsídios para adequação da mesma como auxiliou no sentido de observar as mudanças que

se fez necessária e que tempo se levar em média em cada entrevista com as mães e com seus

filhos.

As entrevistas foram aplicadas inicialmente com as mães e posteriormente com cada

filho que faria parte do estudo piloto.

Com a aplicação do estudo piloto, pode se perceber o quanto as famílias (refiro as

mães) ficariam tocadas com as questões abordadas e para a pesquisadora o quanto seria difícil

conter as emoções e disfarçar a tristeza diante de relatos tão doloridos e repletos de violência

de todas as formas e isso foi extremante difícil no decorrer da pesquisa.

O último instrumento a ser testado fora os desenhos, onde estão caracterizadas, as

famílias em seu dia a dia, em situações diferentes, dentro do seu contexto e cotidiano familiar.

Os desenhos foram apresentados em ordem de seqüência numérica do primeiro ao

último o décimo - primeiro, os desenhos eram apresentados as criança e adolescente e feita

três perguntas referentes ao desenho, que os participantes respondiam em ordem, as perguntas

se encontram em (anexo-9), e são apresentadas e discutidas no próximo capitulo.


99

As crianças e adolescentes respondiam uma a uma a cada pergunta que lhe era

formulada e sempre emitia sua opinião e também às vezes ao término das perguntas e

encerrada a entrevista eles emitiam opiniões sobre os desenhos fazendo um paralelo sobre

suas famílias e que a pesquisadora anotava as opiniões em um diário de campo.

Pode ser observado que esse instrumento tocava os participantes de uma maneira

muito particular, teve participante que durante o estudo piloto rasgou o desenho, outros após

terminarem suas falas, choravam copiosamente, esses episódios não foram acontecidos em

sua totalidade mais ocorreu de maneira significativa.

Com o término do estudo-piloto os instrumentos a serem utilizados haviam sido

testados, adequados e estavam prontos para serem aplicados, e ficou composto da seguinte

maneira; Entrevista Estruturada, aplicadas as mães e as crianças e adolescentes, Entrevista

Semi Estruturada aplicadas as mães, crianças e adolescentes, e Jogos de Sentenças

Incompletas e Desenhos, aplicadas as crianças e adolescentes.

3-3 Procedimento da seleção da amostra pesquisada

O procedimento para selecionar a amostra de participantes da pesquisa ocorreu através

da Assistente Social da unidade do CREAS, onde a pesquisa foi realizada.

A Assistente Social e sua estagiária selecionaram os protocolos de atendimentos nos

quais as famílias se referem à existência da presença da violência doméstica contra ela

praticada por seu marido/companheiro e que ela ou seu marido foram sinalizados ao Conselho

Tutelar por violência física contra seus filhos.

Esse foi o critério utilizado para ter acesso às famílias, pois a pesquisa tem como foco

de estudo a violência contra criança e adolescente praticada por seus pais.

A Assistente Social usou alguns critérios para selecionar a amostra de participantes

que posteriormente seriam mostradas a pesquisadora, esses critérios de exclusão tiveram

como objetivo principal o cuidado com a pesquisadora, no sentido de que ela não
100

entrevistasse famílias onde havia a presença de problemas de saúde mental, e, também foram

excluídos famílias onde a mãe estava em tratamento psiquiátrico, famílias com histórico de

muita agressividade.

Inicialmente teve se o cuidado de excluir regiões em que os participantes residissem e

fossem perigosas, pela presença do tráfego de drogas, e índice alto de violência na região,

mas, a pesquisadora pediu que esses locais fizessem parte da seleção de participantes e não

fossem excluídos e foi aceito pela assistente social e essas regiões fizeram parte da pesquisa.

A partir do momento em que os protocolos foram selecionados fez-se uma reunião

entre a pesquisadora e a Assistente Social, para que ela apresenta-se as famílias selecionadas e

a partir desse momento começamos a falar sobre o problema que envolvia cada família e a

relação da mesma com seus filhos.

A amostra selecionada ficou inicialmente delimitada com 100 famílias e seus filhos

entre idade de 06 anos ate 16 anos completos.

A partir desse momento a primeira etapa de seleção da amostra de participante estava

delineada e passou-se então a uma segunda etapa por assim dizer, que foi também efetuada

pela assistente social e sua estagiária.

Coube a assistente social e estagiaria fazerem o primeiro contato com cada uma das

famílias selecionadas e foi feito um convite para que ela comparecesse a unidade do CREAS,

e quando no comparecimento de cada família era colocado o motivo pelo qual o convite foi

feito, e depois de explicado e aceito por ela ai aconteceu o encontro da pesquisadora e a

participante.

Nesse primeiro encontro a pesquisadora após explicar com detalhes a pesquisa e

garantir a confidencialidade dos dados e garantir respeitar todos os procedimentos éticos e de

cuidado que se tem quando se envolvem com um assunto tão difícil de ser abordado que é a

questão da violência tanto contra a mulher como em seus filhos.


101

Das 100 famílias selecionadas, 30 famílias se recusaram a participar da pesquisa desde

o início com a assistente social e não ocorreu nenhum contato com a pesquisadora.

Das 70 famílias que restaram, 20 dessas famílias não responderam e não

compareceram ao convite inicial para que ela comparecesse a unidade do CREAS, para

conversar com a Assistente Social.

Restaram então 50 famílias, que conheceram a pesquisadora, e participaram da

pesquisa.

Então ficou acordada com as participantes no sentido de marcar as entrevistas, no

horário que fosse melhor para cada mãe e seus filhos e que a pesquisadora compareceria a

residência de cada participante para buscá-los em data e nos horários marcados e que após o

término da entrevista levaria a mesma até sua residência, sem que a participante tivesse

qualquer ônus ou problema em seu trabalho por estar participando da pesquisa, isso foi feito

com todas as participantes e seus filhos, que sempre estiveram acompanhados por um

responsável.

Dessas 50 famílias, 15 desistiram logo no início da pesquisa e não responderam as

perguntas e também foram grosseiras com a pesquisadora, logo que a primeira pergunta foi

feita.

Dessas 35 famílias, 12 não permitiram que seus filhos participassem da pesquisa, logo

que foi apresentando a elas os instrumentos de coleta de dados, alegando que as perguntas que

seriam feitas a eles não eram adequadas e de maneira nenhuma concordaram com a

participação de seus filhos, então foram excluídas.

Restaram então 23 famílias e 6 dessas famílias desistiram por medo de se

comprometer e não acreditaram que os dados seriam sigilosos e o Ministério Público não

ficaria sabendo do conteúdo das conversas tanto dela (mãe), como de seus filhos.
102

Dessas 23 famílias, restaram 17 que participaram da pesquisa e autorizaram também a

participação de seus filhos

E, então a amostra de participantes ficou composta por 17 famílias (mães) e seus 77

filhos crianças e adolescentes com idade entre 06 anos a 16 anos.

3-4 Processo inicial para a coleta de dados

A coleta de dados teve início em março de 2005 e terminou em dezembro de 2006,

desde a preparação do estudo piloto até a fase em que todos os dados já haviam sido

coletados.

A pesquisadora buscou cada família em sua residência como também seus filhos, esse

procedimento foi feito com cada uma das famílias e seus filhos até o término de cada família,

não importando se necessitasse ir até a residência da família várias vezes, e isso ocorreu com

todas as famílias pesquisadas.

As famílias foram entrevistadas uma a uma, ou seja, primeiramente a família número 1

e todos os seus filhos para depois ter iniciam a participação da família número 2 e seus filhos

e assim sucessivamente, até última família.

Cada família foi identificada como família 1, (F-1), que na realidade família é a mãe

em questão e seus filhos, foram identificados como entrevistado 1 (E-1) e assim por diante

com todos os participantes.

O início da pesquisa teve como protocolo, primeiramente ouvir as mães, ter uma

conversa informal, fazê-la sentir-se a vontade, explicar o que é o Termo de Consentimento

Livre Esclarecido, pedir que ela assine o termo permitindo a entrevista dela e de seus filhos é

a mãe quem assina autorizando a participação de seus filhos na pesquisa por eles serem menor

de idade.

Após o Termo de Consentimento ter sido assinado, tem inicio a pesquisa, com as

questões referentes à Entrevista Estruturada e a seguir a Entrevista Semi Estruturada, com as


103

mães e depois tem inicio a pesquisa com as crianças e adolescentes, com as questões

referentes à Entrevista Estruturada e a seguir a Entrevista Semi Estruturada, seguido pelos

Jogos de Sentenças Incompletas e por último os desenhos, todos esses instrumentos

encontram-se em anexo.

Nenhuma das participantes autorizou que a conversa fosse gravada, o motivo

apresentado por elas foi que tinham medo de alguém ouvir, e também todas tem medo do juiz.

As entrevistas foram escritas conforme pedido das participantes, a pesquisadora

escreveu na integra as palavras das mães, as mães colaboraram falando mais pausadamente

para que pudessem ter todas as falas escritas na integra, tendo se o cuidado de não perder

nenhuma informação dada pela mãe ou seu filho.

Foi utilizado um diário de campo, para que informações dadas antes ou depois das

entrevistas como também após a pesquisadora ir buscar a família em casa, eram informações

que naquele momento tinham relevância e era importante anotar.

A entrevista foi realizada numa sala disponibilizada pela assistente social na própria

unidade, essa sala tinha mesa, cadeira, tinha silêncio, privacidade e tranqüilidade para abordar

questões tão sérias e importantes.

Cada entrevista semi estruturada aplicada as mães teve duração em média de 3 horas e

com as crianças e adolescentes, em média teve a duração de 2h e 30 minutos em cada

instrumento, ocorrendo que, com algumas crianças esse tempo foi muito maior, como também

aconteceu dela iniciar a conversa e responder as questões e pediu para responder no outro dia,

não queria continuar conversando naquele dia, e esse pedido era respeitado e ele era levado de

volta a sua residência, juntamente com seus irmãos.

A pesquisadora quando terminava cada entrevista, fazia uma revisão da escrita e

anotava informações sobre comportamento do participante e outras informações pertinentes.


104

Quando chegava ao fim do dia com todos os participantes agendados do dia já

tivessem sido ouvidos, a pesquisadora fazia uma revisão novamente do que estava escrito lia e

observa se não tinha perdido nenhuma informação dada pelo entrevistado.

As informações dadas pelos participantes a cada dia eram registradas no computador

em banco de dados idealizados pela pesquisadora, para que os dados fossem digitados de

forma a não perder nenhuma informação e que se caso necessário fosse os dados de cada

criança e adolescente poderiam ser cruzados e ampliar a análise.

3-5 Processo para análise de dados

Para (BODGAM et al., 1991), esse momento da pesquisa é o processo de busca e

organização sistemática dos dados coletados através das entrevistas, registro de notas no

diário de campo, e de componentes que fizeram parte da coleta de dados.

Esta análise que ocorre após o término da coleta de dados, se dá á medida que os

dados são lidos, sendo sistematizados e por fim categorizados e agrupados por temas que se

tornam os dados a serem discutidos.

Para (LUDKE et al., 1986) dizem que essa etapa de análise após a coleta de dados, é a

fase formal, pois esta ocorre quando a coleta de dados esta terminada, nesse momento o

pesquisador já tem as possíveis direções teóricas da pesquisa e parte para leituras e trabalho

em cima dos dados acumulados com a coleta e nesse momento busca-se destacar os principais

achados e temas para as discussões.

A análise de dados desta pesquisa será feita de duas formas distintas; primeiramente

será feita uma análise quantitativo-interpretativa, das entrevistas estruturadas, realizadas com

as mães e as crianças e adolescentes, o jogo de sentenças incompletas a análise proposta foi

quantitativo-interpretativa e teve como modelo BIASOLI-ALVES (1998, p. 147-148);

“este tipo de análise, no caso especifico de entrevista e jogo de sentenças


incompletas, prevê dois momentos de agrupamentos: o das questões e o das
respostas. No primeiro é importante observar o que cada pergunta permite obter e
classificar as questões segundo a proximidade de sentido nas informações que elas
possibilitam (....). Encerrada esta etapa tem inicio a tarefa ligada à elaboração de
105

sistemas abertos para categorizar respostas com base em inferências quanto ao seu
significado”.
Na análise quantitativo-interpretativa, os dados são lidos diversas vezes, após essas

leituras, os dados, as falas dos participantes são categorizados e retoma-se novamente a

quantificação que nesse momento é caracterizada por procedimentos de tabulação de dados,

calcular porcentagens, criar e elaborar as tabelas, gráficos, para que essa tarefa possa ser

realizada etapa por etapa, quando a coleta de dados foi finalizada, foi criada banco de dados

no computador para que os dados pudessem ser transcritos na íntegra e também pudessem ser

visualizados da forma que cada família pudesse ser visualizada em sua totalidade.

“a caracterização sumarizada nesse tipo de análise põem em evidencia que, mais


que simplesmente descrever, ele permite através do trabalho sistemático
operacionalizado e quantificado, encaminhar interpretações”. BIASOLI-ALVES
(1998, p. 148).

As categorias são empregadas para se estabelecer classificações, nesse sentido,

trabalhar com elas significa fazer agrupamentos de idéias ou expressões em cima de um

conceito, capaz de abranger tudo isso, GOMES (1994, p. 70).

Para continuarmos a análise dos dados, será feita uma segunda análise referentes às

entrevistas semi estruturadas, realizadas com as mães e com as crianças e adolescentes os

desenhos aplicados as crianças e adolescentes, será feita a análise de dados qualitativa

seguindo o modelo de análise temática descritiva de conteúdo, modelo proposto por BARDIN

(1977), que consiste em analisar e classificar e dividir por temas os segmentos para dispor os

dados.

BARDIN (1977), diz que a análise de conteúdo se coloca de três formas distintas; 1- a

pré-analise, que é a fase de organização propriamente dita, 2- exploração do material, que

consiste em classificação e categorização, 3- resultados obtidos, são tratados de maneira a

serem significativos e válidos.

O procedimento para a análise procedeu-se de duas etapas distintas; primeiramente

foram analisados os dados referentes aos instrumentos aplicados as mães, esse procedimento
106

teve como objetivo uma melhor interpretação e contextualização das famílias que foram

participantes da pesquisa.

Decidimos primeiramente analisarmos os dados referentes às mães, tendo como

objetivo saber e entender como são as famílias e conseqüentemente como é a vida da criança

e do adolescente inserido nesse cotidiano, isso facilita no sentido de que possibilita uma maior

visibilidade e entendimento da realidade da criança e adolescente pesquisada.

Após a análise dos dados referentes às famílias, começamos a análise dos dados das

crianças e adolescentes, tendo como início de análise a entrevista estruturada, analisada de

maneira quantitativo-interpretativa e posteriormente passamos para a análise das entrevistas

semi estruturadas e após o término das mesmas, passamos a análise dos desenhos, ambos os

instrumentos foram analisados de forma qualitativa, segundo (BARDIN, 1977).

O conjunto de informações coletadas constitui-se de várias páginas contendo as

entrevistas semi estruturadas com as mães e com seus filhos, várias páginas contendo as

respostas dos jogos de sentenças incompletas, e outras páginas referentes aos desenhos, todas

de coleta de dados.

Em seguida foram feitas inúmeras leituras desse material até que surgiram os temas

principais que seriam abordados na discussão e que serão discutidos no próximo capitulo.

Posteriormente, a análise teve um segundo momento de releitura onde as informações

contidas nas entrevistas foram agrupadas em temas centrais, podendo assim posteriormente

ser categorizadas.

No próximo capítulo apresentaremos os dados e faremos as discussões pertinentes.

Material

O material utilizado para a realização dessa pesquisa é composto por quatro

instrumentos complementares aplicados as crianças e adolescentes;


107

1) Roteiro para a realização de uma Entrevistada Estruturada, 2) Roteiro para a

realização de uma Entrevista Semi Estruturada, 3) Jogos de sentenças incompletas, 4)

Aplicação de desenhos

Com relação às famílias – Mães

O material utilizado é composto por dois instrumentos complementares;

1) Roteiro entrevistada estruturada,

2) Roteiro para a entrevista semi estruturada.

3) Foi utilizado um diário de campo e uma agenda para anotar as datas e horários para

as entrevistas e outras informações importantes e pertinentes.

4) Material de escritório

5) Ter a disponibilidade de um carro a disposição diariamente para que ficasse a

disposição da pesquisadora para que pudesse ir buscar as famílias em suas residências.

6) Inúmeras cópias xerocopiadas com os instrumentos

Instrumentos

O primeiro instrumento de coleta de dados é a Entrevista Estruturada, aplicada as

mães, após o término, tinha inicio a Entrevista Semi Estruturada.

Após a aplicação dos instrumentos com as mães terminarem, tinha-se inicio a

aplicação dos instrumentos com as crianças e adolescentes, que seguiam a ordem, primeiro a

Entrevista Estruturada, seguido pela Entrevista Semi Estruturada, pelos Jogos de Sentenças

Incompletas e por último os Desenhos.

Para ALONSO (1995), a entrevista pode ser compreendida como um processo através

do qual o entrevistador obtém informações que se destacam por terem muita riqueza de

conteúdo.
108

NETO (1994) diz que a entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo,

através dela o pesquisador busca informes contidos em suas falas e que nos mostram fatos

relatados ao que vivenciam e que isso nos direciona a informações sobre um determinado

tema cientifico.

Uma entrevista consiste em uma conversa intencional entre duas pessoas ou mais e

dirigida por uma pessoa com o objetivo de conseguir informações sobre a pessoa entrevista

com um propósito já determinado e especifico, (MORGAN, 1988).

(BOGDAN e BIKLEN, 1997; MELLA, 1998; MAYAN, 2001), colocam a entrevista

como sendo uma técnica apurada no sentido de se querer conhecer a vida social dos

participantes por meios verbais, e com isso interpretam o que os participantes dizem a partir

de suas próprias palavras e pontos de vista.

Para (LUDKE et al., 1986, p. 33-34);

“Na realização da entrevista a relação que se cria é de interação havendo uma


atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde, na
medida que houver um clima de estimulo e de aceitação mútua as informações
fluirão de maneira notável e autentica”.
Ele continua dizendo que, a entrevista permite a captação imediata e corrente da

informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados

tópicos que possam ser abordados.

As entrevistas desta pesquisa foram realizadas com as mães e com seus filhos crianças

e adolescentes com idade de 6 anos ate 16 anos completos.

A aplicação dos jogos de sentenças incompletas é um instrumento em que o

entrevistador lê para o participante as sentenças, tendo-o instruído previamente para

responder, completar as sentenças com a primeira frase que lhes vier à cabeça, sem nenhuma

preocupação com a forma da resposta que esta sendo emitida, concordância verbal, tamanho

da frase, ou palavras erradas que possam estar usando, ou com a exatidão da resposta, nesse

instrumento não há respostas certas ou erradas tudo pode ser categorizado e analisado.
109

Trata-se de um instrumento que não exige muito esforço do participante da pesquisa, é

de fácil e rápida aplicação, é um instrumento que propicia uma riqueza de conteúdo muito

grande, e também contem fortes conteúdos emocionais pelo fato de estarmos trabalhando com

crianças e adolescentes inseridos em famílias com a presença de violência.

O último instrumento a ser coletado é o desenho, que foi aplicado com crianças e

adolescentes, o desenho era mostrado a criança e ao adolescente e se fazia três perguntas, que

sempre seguia a mesma ordem e que só após o término da primeira pergunta, que se iniciava a

segunda e assim por diante.

A seguir apresentaremos os resultados e discutiremos cada instrumento apresentado.

Tendo inicio pela apresentação da Entrevista Estruturada com as mães.

Resultados e Discussão

1-Entrevista Estruturada- Mães

Apresentaremos a seguir os resultados e a discussões referentes as entrevista

estruturada com as mães que foi o primeiro instrumentos utilizado nesta pesquisa.

As famílias que participaram desta pesquisa são chamadas de mães, pois foram as

mães que fizeram parte da pesquisa, não há nenhuma entrevista realizada com o pai.

As entrevistas foram realizadas com 17 mães que foram as participantes desta

pesquisa e na tabela a seguir podemos observar como é composta cada família participante

desta pesquisa, são famílias onde há a presença de vários filhos.

Iniciamos a discussão dos resultados pelas mães, por acharmos que deixa a pesquisa

mais ilustrativa dentro do contexto familiar e com isso é se torna mais fácil entender o

universo em que as crianças e adolescentes desta pesquisa vivem em seu cotidiano.

A seguir as famílias;
110

Tabela 4 -Famílias participantes da pesquisa e quantidade de filhos que têm cada


família.
Famílias entrevistadas Total e filhos na família Filhos entrevistados
Família 1 11 9
Família 2 3 2
Família 3 5 3
Família 4 3 2
Família 5 8 6
Família 6 2 2
Família 7 5 3
Família 8 4 3
Família 9 8 7
Família 10 3 3
Família 11 4 2
Família 12 8 6
Família 13 5 4
Família 14 4 3
Família 15 13 11
Família 16 7 5
Família 17 7 7
Total 100 77

A tabela acima demonstra a média de filhos por família que é de 5,9 sendo que a

família que tem maior número de filhos possui 11 filhos e a menos numerosa tem 2 filhos.

Tabela 5 –Escolaridade das mães que participarão da pesquisa


Escolaridade Quantidade Percentua
l
Analfabeta 07 41,18
Semi-analfabeta 04 23,54
Ensino fundamental Incompleto 02 11,76
Ensino médio incompleto 02 11,76
Ensino médio completo 02 11,76

A tabela acima demonstra como é a situação de nível de escolaridade da amostra das

mães pesquisadas e como se observa a maioria são de analfabetas, (41,2%), seguido de mães
111

que são semi-analfabetas e a diferença, existente entre as analfabetas e as semi-analfabetas é

que essas sabem apenas escrever seu próprio nome e conhecem dinheiro, é uma triste

realidade que se apresenta e esta é a razão por que muitas das crianças e adolescentes filhos

destas mães não vão à escola.

A baixa escolaridade é presente em 88,3% das mães.

Tabela 6 -Relação das mães que possuem trabalho remunerado


Condição de trabalho Quantidade Percentual
Trabalha (diarista e faxineira) 09 53
Não trabalha 08 47

O que se observa acima na tabela é que a grande maioria das mães trabalham fora de

casa, (53%) e com isso se tornam a principal provedora dos filhos e da casa, e o trabalho que

exercem é de diarista e faxineira que na prática são a mesma atividade, mas as participantes se

referem como sendo diarista e outras como sendo faxineiras, ambas exercem essa atividade

em casa de família três vezes por semana.

A renda dessas famílias é complementada por programas sociais que o governo federal

e estadual financiam e atribuem formas diferenciadas de ajuda ou auxilio que é direcionada ao

CREAS e cada unidade atribui as famílias que necessitem mediante uma visita a família em

questão.

Tabela 7 –Relação dos maridos/companheiros que possuem trabalho remunerado


Condição de trabalho Quantidade Percentual
Trabalha 08 47
Não Trabalha 09 53

A tabela acima mostra os dados referentes aos maridos/companheiros que exercem

alguma atividade remunerada e é evidente que a grande maioria não trabalha (53%), essas

informações foram prestadas pelas esposas/companheiras no momento da entrevista

estruturada.

Tabela 8 -Relação dos maridos/companheiros que colaboram nas despesas da casa


112

Condições da ajuda Quantidade Percentual


Ajudam sempre 05 29,4
Não ajudam 08 47,1
De vez em quando 04 23,5

A tabela acima mostra os dados referentes aos maridos/companheiros que colaboram

nas despesas de casa quando estão trabalhando ou fazem algum bico, e o que fica claro é que

(47,1%), não ajudam e não colaboram nas despesas de casa, ficando para a mulher toda essa

responsabilidade, essas informações foram dadas pela mulher no momento da realização da

entrevista estruturada.

Como observamos com esses resultados, as mães em sua grande maioria trabalha fora,

e leva o sustento para seus filhos e familiares, e tem a renda familiar completada por auxílios

dos Governos Federais e Estaduais e Municipais.

Cabe a mulher ser provedora, ser mãe, e cabe a ela administrar uma família sozinha,

pois os homens não contribuem em quase nada para a manutenção da família, e o homem tem

o hábito de levar coisas, presentes e dar dinheiro quanto tem a sua filha ou filho, ele não cuida

do filho(a) de outro pai, mesmo convivendo com ele diariamente, as crianças se referem

muito a essa atitude do pai, e a mãe também coloca isso durante a entrevista.

1.2- Entrevista semi estruturada com as mães

As entrevistas semi estruturadas foram divididas por temas a serem analisadas e o

primeiro tema será, Infância com Violência.

1-Infância com violência

Nesta categoria de respostas as mães se referem a infância que tiveram, e como era a

relação dos seus pais com os filhos e com a mãe. O que fica muito claro nas falas é que ela

presenciou em sua infância muitos episódios de violência entre os pais e também sofreu essa

violência de forma muito grave, sendo algumas ate hospitalizadas em decorrência da violência

sofrida.
113

Essas mães deixam muito claro que cresceram em meio a violência, discussão e

muitas brigas entre seus pais, e que isso afetou muito a infância de cada uma, pois a violência

também era sofrida por elas e que isso prejudicou suas vidas de maneira muito significativa,

muitas saíram de casa em função da vida que levavam em família e foram para a rua onde

conheceram outro tipo de violência muito mais destrutiva e não encontram o que buscavam,

liberdade e paz, infância não tive não, minha vida foi um inferno fui pa rua e ai vi que o

inferno e pior, apanhava da policia, fui estuprada e violentada, mexi com droga, peguei

AIDS, minha mãe me odeia e não me ajuda, a rua foi pior que meu pai e sua violência sofri o

diabo em casa e na rua, infância e vida de criança nem sei que é isso (M-6).

Essas mulheres não tiveram infância, sentem-se abandonadas com medo de tudo, não

tem estudo, não possuem estrutura para terem família, seus filhos sofrem o que elas sofreram

em sua infância, não conseguem agir de forma diferente, se preocupam muito com seus filhos,

e para que eles não passem por todas as situações que elas passaram, mas não sabem o que

fazer.

Para essas mães sua infância foi repleta de violência, de situações vividas por suas

mães e observadas por seus filhos, e que elas não querem que os filhos sofram, pois a vida de

cada uma foi muito ruim.

Desde cedo aprenderam a conviver não apenas com a violência mas também com a

presença do álcool e em muitas vezes da droga.

Meu pai bebia e batia na mãe espancava ela, que quase matava de pancada, ele bebia

ficava bêbado e batia na gente, os fio apanhava ate cai no chão, não quero isso pos meus fio,

é ruim não te infância, não se feliz, so tive pancada e vi minha mãe fica que nem morta no

chão, (M-12).

Essas mães se preocupam com os filhos quando dizem que não querem que eles

passem pelo que cada uma passou, isso ficou claro em todas as entrevistas, mas elas não
114

conseguem romper esse ciclo de violência e acabando fazendo a seus filhos o que elas

presenciaram em sua infância, a violência, agressão, bebida, brigas e por alguma razão que

não dá para explicar pelos resultados obtidos nessa pesquisa, por que essas mães se sujeitam a

terem a vida que suas mães tiveram e dar a seus filhos a mesma violência que receberam, isso

não fica claro em meus resultados e portanto não tenho como discutir.

Para essas mães a infância é o retrato da dor, humilhação e violência, nunca tiveram

uma chance em sua infância de estudar pois, a maioria dos pais não deixava seus filhos irem a

escola, pois queriam que eles trabalhassem e trouxessem dinheiro para casa, e o dinheiro eles

gastavam na bebida e chegava em casa bebo e batia (M-7), nunca estudei e nem sei le e

escreve, não quero isso pos meus filhos, o pai dizia que so podia trabalha, não deixava sai de

casa, ficava preso em casa, meu irmão quando cresceu batia no pai e não aceitava a

bravessa do pai, ele batia no pai ate o pai cai, o pai tinha medo dele (M-3).

Podemos observar pelas falas que são mulheres que não tiveram infância e sofreram

muito, e hoje não conseguem perceber que estão fazendo o mesmo com seus filhos, pois elas

próprias admitem que batem quando precisam, mas não se referem a força nem a violência

contra os filhos.

Estamos falando de famílias em que a presença de violência existe e que essas criança

estão crescendo e desenvolvendo em ambientes onde não há nada favorável para que esse

desenvolvimento seja efetivamente saudável, a criança e o adolescente necessita de terem

ambientes seguros para se desenvolver e não é isso que temos aqui, muito pelo contrario a

violência faz parte da vida de gerações sendo passada de mãe para filhos ao longo dos tempos,

pois a partir do momento em que a mãe quando criança vem de um lar onde existe violência

contra ela e sua mãe e que muitas vezes ela própria presencia esses atos, e quando ela hoje

adulta se torna mãe, se une a um homem violento, agride seus filhos esta repetindo o que

viveu em sua infância e como fica a socialização e o desenvolvimento dessa criança.


115

As mães de hoje, já foram crianças e quando se fala de criança tem-se que pensar que,

ao nascer ela é inserida dentro de um contexto familiar e irá fazer parte de ambientes

formados por crença, culturas, pensamentos já prontos e estabelecidos e dela será esperado

que consiga desempenhar papéis, e durante esse processo de socialização e aprendizagem

caberá aos pais inseri-la nesse mundo em que existe uma série de significados e

comportamentos que ela devera ter, ensinando quais atitudes e comportamentos estão de

acordo com o que se espera e deseja dela (BIASOLI-ALVES, 1992).

A criança em seu processo de desenvolvimento e socialização começa a adquirir

conceitos e passa a conviver e compartilhar com seus pares; faz trocas dentro desse

aprendizado e isso acontece de forma natural.

NEWCOMBE (1999, p. 338), diz que socialização é o processo do qual as crianças

adquirem comportamentos, habilidades, motivações, valores, convicções e padrões que são

característicos e desejáveis em sua cultura . E, é por esta razão que a família é considerada

como agente primário na socialização e com isso molda comportamentos, a personalidade e

transmite valores (NEWCOMBE, 1999).

É na família que a criança começa a aprender a viver em grupo, a entender as

diferenças individuais, e ter segurança para conviver em sociedade; e, para que isso ocorra de

maneira saudável, torna-se imprescindível que a família dê subsídios e segurança para que a

criança se desenvolva de forma natural e saudável.

Pensando nessa colocação Perez et al (1994) falam da importância que é para a criança

seus primeiros anos de vida em família e como isso será determinante em seu

desenvolvimento, “a família se converte em nicho de desenvolvimento”, onde devem ser

encontradas todas as condições matérias e de socialização para ela, dando-lhe recursos

internos para aprender e se socializar.


116

Por outro lado, é também importante enfatizar que os adultos significativos são

modelos para a criança, ou seja, ela adquire muitos comportamentos tomando por base a

forma de os pais agirem.

O enfoque, portanto, que coloca a socialização acontecendo ao longo de toda a vida do

indivíduo, está fundamentado em uma visão de influências bilaterais, o adulto ensina aos das

gerações mais novas, através das tarefas que propõe, das atitudes e valores que passa, e é

ensinado por elas, quer no seu papel, quer na revisão dos seus códigos de normas, ao se

deparar com as reações e necessidades de seus filhos (BIASOLI-ALVES, 1997).

No processo de educação da criança é importante ela ter um bom relacionamento com

os pais e receber deles afeto e estímulo, indicando-lhe suas competências, porque a partir daí

ela irá desenvolver uma auto estima positiva, sentir-se-á segura com suas habilidades.

A criança quando cresce e se desenvolve criando vínculo positivo tenderia a se

comportar de forma mais tranqüila, mantendo bons relacionamentos tanto com os adultos

quanto com seus pares.

Mas, nem sempre o ser humano pensou nas conseqüências da importância da infância

na vida de cada um pensando em termos de desenvolvimento e socialização.

Acriança que vive a violência acredita que a vida é assim e que ela não tem direito a

ser feliz, minha vida só tem tristeza, foi assim desde cedo, so apanho, trabaio, não tenho

nada, bato nos fio pa desconta as magoas da vida, e bato muito, as veiz por que to com raiva

e bato nele desconto no meus fios as tristeza da vida, as veiz penso em morrer, nada é feliz

(M-17).

Meu pai me vendeu por uma garrafa de cachaça eu tinha 13 anos ele era bem mais

velho e so queria sexo o dia todo eu tinha dor, nojo dele e vergonha de transa toda hora no

banheiro, o quarto não tinha porta, sofri muito na mao desse homem, não penso em nada
117

bom para mim, e meus fio, não sei le, so triste tenho vontade de morre, passei de mão em

mão, o pai me vendeu isso é triste é a vida não da pa se feliz, sofri e sofro muito, (M-7).

Essas mulheres não esperam nada de bom dá vida, perderam a esperança a muito anos

atrás em razão de tudo que vivenciaram em sua infância e que deixou marcas bem profundas,

como fica a vida dessas crianças quando passam por situações tão graves e que deixam,

marcas, como essa criança será quando crescer.

Como fica a socialização, o desenvolvimento seguro, tranqüilo e com amor, carinho

que os pais deveriam ter para com seus filhos, como a criança que hoje apanha e tem a

infância com vivencias de violência, será amanha com seus filhos, essa pesquisa demonstra

que a criança de ontem, mãe de hoje ira repetir o que viveu em sua infância.

2-Violência física intensa entre o casal

Este é o segundo tema a ser discutido referente as entrevistas semi estruturadas

realizadas com as mães.

A presença da violência doméstica contra a mulher é presente em todas as

participantes da pesquisa, todas se referem a apanhar muito e de forma muito intensa, as

agressões são tão fortes que o espancamento a que o homem submete a mulher a leva para o

hospital onde freqüentemente fica internada ou quando não fica é por que pedi para ir embora

e sempre omitem do medico a razão e a causa dos ferimentos, eu apanho todo dia, já fui po

hospital toda machucada, oia aqui minhas pernas (pedi para que a pesquisadora olhe as

pernas todas marcadas por pauladas, e sua costelas quebradas), ele me deito no chão e me

quebrou toda, dói muito, não fui no médico, tive medo, de deixa os fio com ele, (ela tem 13

filhos), ele ta doido bate e machuca tenho dor, ele bebe e a pinga deixa ele assim, (M-15)

(começou a chorar, e estava toda machucada e se recusou a ter ajuda).

Quando pensamos em família, relacionamento homem- mulher, não se conjuntura essa

forma de relacionamento, com a presença extrema da violência doméstica contra a mulher.


118

BADINTER (1986, p. 23), em seu livro Um é o Outro, faz uma análise do

relacionamento homem – mulher e diz;

“Para todos os lugares que olharmos, o homem e a mulher não são apenas
diferentes, mas se completam tão bem que, juntos são quase todo-poderoso:
senhores da vida, artesãos de sua sobrevivência, de seu prazer e do calor afetivo
necessário. Separados Um do Outro, parecem ao mesmo tempo inúteis e em perigo
de morte, como se apenas a unidade dos dois tivesse sentido e eficácia. Um deve
esposar o Outro e colaborar com ele para que a humanidade fique completa, isto é
realizada, acabada perfeita”. Nada indica a priori a supremacia de Um ou a
menor necessidade do Outro “.
.
Nos dias atuais, a violência tem grande visibilidade, seja porque o interesse está em

denunciar, ou pelo fato de que se encontra exacerbada entre os mais diversos grupos sociais,

seja ainda porque se mostra gratuita, mas, sobretudo pela consciência de que a sua presença

significa um confronto direto com os Direitos da Pessoa, uma vez que suas conseqüências

são: opressão, pânico, medo, insegurança, sensação de abandono, depressão, implicando em

tortura psicológica, humilhação e perda da liberdade, quando não, da vida (SCHRAIBER,

1999).

Dirigindo a atenção para o tipo específico de violência que é a doméstica, assume-se

inicialmente a grande complexidade do tema, porque ele diz respeito ao mesmo tempo a

alguma coisa que acontece no espaço do privado, sendo, então, restrito às pessoas que dele

fazem parte, mas que tem todo um entrelaçamento com o social.

Assim, de um lado há a família, uma instituição que sofre mudanças constantemente, a

começar pelo seu tamanho, pelos papéis atribuídos ao homem e à mulher, aos adultos e às

crianças, mas que se constitui em um tipo de agrupamento estável através das sociedades e

dos tempos, fundado na responsabilidade pelo cuidado e educação das gerações mais novas.

SAFFIOTI (1997, p. 85) afirma que;

“A violência doméstica ocorre numa relação afetiva cuja ruptura demanda, via de
regra, intervenção externa. Raramente uma mulher consegue desvincular-se de um
homem violento sem auxílio externo. Até que isso ocorra, descreve uma trajetória
oscilante, com movimentos de saída da relação e retorno a ela”.

É fácil, neste caso, perceber que se está diante de uma contradição, porque o

imaginário social vê a casa como um lugar seguro, tranqüilo onde o ser humano inicia seu
119

desenvolvimento, pode se sentir à vontade e protegido, forma sentimentos, as primeiras

relações afetivas, assimilam modelos; assim, quando nessa família a violência se faz presente

fica muito mais difícil reagir, e mesmo entender a situação porque a pessoa foi ensinada que é

nesse ambiente que ela terá amor, carinho e proteção. Por esta razão é que SAFFIOTI (1997,

p. 53) diz que;

“as pessoas sentem-se envergonhadas de admitir, mesmo para amigos, que um


membro de sua família prática violência. Assim, qualquer que seja modalidade de
violência, geralmente se forma em torno dela uma conspiração do silencio.
Ninguém fala sobre o assunto”.
Torna-se, pois, quase inacreditável pensar que dentro de seu lar a mulher esteja à

mercê de um companheiro agressivo; isto contraria o que se poderia esperar, uma vez que este

espaço é visto como sagrado.

SAFFIOTI (1999, p. 23) diz que “de qualquer maneira, a violência doméstica pode

ter causas muito mais profundas do que o afloramento de raivas e tensões, colocando como

fator de manutenção do ‘status quo’ a grande dependência que a mulher manifesta em relação

ao homem, mesmo quando não existe a necessidade de ser por ele sustentada. SAFFIOTI

(1999, p. 88-89) afirma que;

“A ambigüidade da conduta feminina é muito grande e compreende-se o porquê disto. Em


primeiro lugar, trata-se de uma relação afetiva, com múltiplas dependências recíprocas. Em
segundo lugar, raras são as mulheres que constroem sua própria autonomia ou que
pertencem a grupos dominantes. Seguramente, o gênero feminino não constitui uma
categoria social dominante. Independência é diferente de autonomia”.

Ainda dentro deste tema, RICOTA (1999, p. 14) diz;

“Muita coisa num lar deixou de ser suprida, e não estamos falando de bens
materiais. O lar, que seria o local para a construção da matriz da família –
favorecendo assim o desenvolvimento psicológico, emocional e social de seus
membros deixou de ser, para muitos, o ninho que deveria promover acolhimento,
aconchego, conforto, confiança e afeto. É muitas vezes este modelo familiar em que
o casal está inserido, construindo um padrão de relacionamento baseado na
ameaça, na desqualificação, no ciúme, na competição, na traição: não há espaço
para aceitar o (a) parceiro como ele é. E, essa intolerância torna-se também uma
dificuldade no entrosamento afetivo, pois não se respeitam as diferenças
individuais, rejeitando-se anulando-se o outro, estabelecendo-se um vinculo no
qual um dos parceiros se coloca como superior, e não como igual”.

Isto leva a que se indague, quais seriam as conseqüências da violência contra a mulher

pelo seu marido/companheiro.


120

A literatura tem sido enfática no colocar que uma das conseqüências da violência é

que ela deixa marcas importantes, geram feridas que comprometem a auto-estima, os

relacionamentos futuros.

O trecho publicado pela Sempre Viva Organização Feminista em 1998 é bem

contundente;

“Quando um homem espanca uma mulher, mais do que o seu corpo, o que ele
espanca são ilusões, sonhos, projetos investidos na relação. Quanto mais frágil,
mais desprotegida e sem recursos é a mulher, mais ela conta com o marido como
protetor mais importância ela atribui à casa como um lugar seguro. Quando essa
“ordem natural das coisas” se rompe o perigo passa a viver dentro de casa pelas
mãos do protetor, instala-se o pânico, como se o chão lhe fugisse debaixo dos pés.
Sem protestos, sendo agredida, só lhe resta enfrentar sua própria situação,
esquecer os heróis novelescos que prolongam os príncipes encantados da infância
e enfrentar a vida real”.

A presença da violência física entre o casal é algo que destrói o relacionamento e que

na maioria dos episódios os filhos presenciam e muitas vezes apanham junto, as seqüelas da

violência para a mulher, além de deixarem profundas marcas em seu corpo destroem seu

emocional.

Essas mulheres, crescem em lares tendo famílias que não proporcionaram a elas

quando criança, um desenvolvimento saudável e protetor tornam-se adultas fragilizadas,

muitas vezes depressivas, e que infelizmente em meio a tanto sofrimento no passado, em

momento que necessitavam de carinho, amor, atenção, proteção, e que não encontraram,

cresceram presenciando violência, agressões, brigas, e adultas repetem esse ciclo ao unir-se a

companheiros violentos, se permitem bater e agredir seus filhos e não sabem o que fazer para

que tudo isso tenha um fim.

3-Presença da bebida nos episódios de violência na família

Este é o terceiro tema a ser discutido referente as entrevistas semi estruturadas

realizadas com as mães.

As mães que fizeram parte dessa pesquisa deixam claro em suas entrevistas o quanto a

bebida tem fator importante nos episódios de violência vivenciados pelo casal, quando ele
121

bebe, fica violento, e começa a bate, (M-12), para as mulheres o fato de que seus maridos

batem e ficam violentos, esta relacionado ao fato do uso de bebidas alcoólicas como um fator

desencadeante para a violência, se eles não bebessem não ficariam agressivos, e a violência

não existiria, ele so bate, porque bebe, (M-1), eu acho que ele não ia bate em nois se não

bebesse pinga, a pinga deixa ele doido, ai pertuba nois e os fios, bate, quebra tudo em casa,

não tenho coisa em casa ele quebra quando bebe pinga, a violência que bate em nois vem da

pinga, sem pinga ele é um bom marido,(M-1).

Como observamos nessa fala, a justificativa que essas mulheres apresentam para a

violência que sofrem esta relacionada a bebida que seus maridos fazem uso, mas, o

contraditório dessa fala, é que as mães bebem também e ficam violentas quando bebem, os

filhos durante a entrevista foram claro ao dizer que, suas mães bebem pinga ou cachaça como

outros se referem a bebida alcoólica. As mães não admitem que bebem em nenhum momento

da entrevista, mesmo em alguns casos tendo comparecido a entrevista cheirando a pinga e

chupando bala de hortelã para disfarçar o cheiro, e que em função disto a entrevista nem pode

acontecer, pois o cheiro era extremamente forte.

Em todas as entrevista as mães se referem ao uso da bebida alcoólica por parte dos

companheiros, e dizem também que os pais de seu marido bebiam e também eram violentos e

que talvez por isso o marido aja assim, o pai e a mãe do meu marido bebia muito e espancava

ele ele foi mora no abrigo e la foi violentado ele é assim por causa disso, minha mãe e pai

também bebi e sempre bateu nos fios ai nois fugia pa rua e so voltava a noite bem tarde, (M-

11).

Essas falas mostram que a presença da bebida na vida dessas pessoas existe desde

sempre, e que isso no final acaba se tornando um ciclo de repetição, a mãe e o pai bebem, os

filhos aprendem a beber vendo os pais bebendo, aprender a ser violentos pois vem os pais

serem violentos, ou aprendem com os pais, como eles próprios disseram ao observarem os
122

desenhos, que será discutido mais a frente quando apresentarmos os resultados referentes as

crianças e aos adolescentes.

Ao certo se sabe que essas famílias são destruídas pelo uso de bebida de seus pais, os

filhos ficam a mercê da vida, enquanto seus pais caem na rua por causa da pinga, um filho

disse na entrevista que, meu pai e mãe bebe e cai na calçada tenho vergonha, e ajudo ela a

levanta e choro, (E-67).

Na família a presença do álcool é muito grave pois coloca os filhos sempre alerta no

momento em que seus pais chegam em casa, para perceber se estão bêbados ou não, o pai

manda eu compra cachaça e ai sei que a violência vai começa ele bate na mãe, quebra tudo e

bate em nois, fica doido e tenho medo, (E-69).

A fala acima deixa claro o quanto é grave a presença do álcool no contexto familiar, o

próprio filho vai ao bar compra a cachaça que o pai vai beber e depois de beber, vai ficar

violento, agressivo, com a mãe e com os filhos, como também ira quebrar tudo em casa, meu

pai faiz uma quebradeira, quando bebe, (E-69).

A situação é péssima pois o filho é quem traz para casa o motivo que leva a tanta

destruição, a bebida, sem a bebida a violência não ocorreria, como será que fica no imaginário

dessa criança ou adolescente, ir até o bar comprar a cachaça e o pai ficar doido na frente dos

filhos e da esposa e iniciar os episódios de violência, isto é um ponto importante a ser pensado

pois situações como essas acontecem diariamente no cotidiano das famílias onde há a

presença da violência doméstica contra a mulher e seus filhos.

O álcool7 aparece em outras pesquisas como sendo um dos desencadeantes das

situações de violência (JONG, 2000; CONRADO, 2001); é fato que o álcool faz com que o

agressor tenha uma perda temporária de controle; contudo, na pesquisa de (CONRADO,

7
Este texto teve como base a Dissertação de Mestrado, Estudo sobre relatos de violência contra a mulher
segundo denúncias registradas em delegacia especializada na cidade de Goiânia-Goiás nos anos de 1999-2000,
de autoria de Mirian Botelho Sagim.
123

2001; LANGLEY e LEVY, 1980), não fica claro porque os homens bebem, se por motivos

outros ou se para ter uma permissão social para praticar a violência.

Entretanto, a questão da bebida pode e deve ser analisada incluindo o contexto em que

o homem costuma beber e tudo o mais que acontece na situação de ele estar sentado no bar

com seus amigos/companheiros, tomando cerveja ou pinga. É um fato que nessa hora rolam

muitas conversas; OLIVEIRA (2001) relata em um dos casos que analisou no seu mestrado, a

fala de um homem que afirma claramente chegar em casa ‘de cabeça cheia’, já desconfiando

de sua mulher porque os seus ‘parceiros de mesa’ diziam que ele precisava prestar mais

atenção porque ela tinha saído muito arrumada, ou tinha sido vista em tal e tal lugar. Portanto,

parece que não se trata apenas de que a bebida o põe violento, libera seu controle (Conforme

assinala AZEVEDO (1985), mas e sobretudo porque no bar, além de estar junto a seus iguais,

podendo usufruir de um tempo em que o comando sobre sua vida é inteiramente seu, ainda

acontece de lhe ‘darem razões’ para chegar em casa numa posição de ataque (que enquanto

mecanismo de reação, é a melhor defesa, segundo (BIASOLI-ALVES, 2000).

No estudo realizado por, (VARGAS, et al, 2005), se refere ao sofrimento da esposa

que convive com o marido alcoólatra, e deixa claro que para a mulher é um sofrimento viver

com alguém que bebe, e que com isso gera violência, e causa danos na estrutura da família.

Para (SALCEDO et al., 2005), o álcool é responsável por vários episódios de violência

contra crianças que acabaram levando a óbito e a conseqüências graves a saúde de seus filhos,

como também a violência doméstica contra a mãe.

A conseqüência da presença do álcool para o cotidiano das famílias onde ele se faz

presente é que além da violência que se instala pode também gerar sentimentos negativos com

relação a seus filhos que buscam a bebida para seus pais.

4-Presença do ciúme como um dos motivos que levam a violência.


124

Este é quarto tema a ser discutido referente as entrevistas semi estruturadas realizadas

com as mães.

A presença do ciúme do marido com relação a sua esposa aparece em todas as

entrevistas realizadas com as mães, elas dizem que os maridos são ciumentos e que quando

sentem ciúmes brigam e ficam violento, segundo as mesmas não existe razão nenhuma para

que eles sintam ciúmes delas, mas, que ao sentirem se tornam violentos e que isso seria uma

justificativa para a violência que ele prática.

As falas deixam claro o ciúme como sendo um fator que gera episódios de violência

de ambas as partes.

As mães relatam que não podem fazer nada sem dar satisfação de onde estão indo e

por que, e essas mães de família quando saem para trabalhar tem que ter hora para voltar caso

atrasem não importa qual a justificativa dada por ela, a briga e a violência irão ocorrer, onde

se teve que demoro pa chegar, tava me chifrando ne sua vagabunda, (M-12), seus maridos

parecem que por algum motivo não claro nessa pesquisa, tudo é motivo para que as mulheres

traiam seus maridos, a insegurança é tamanha que chegam a cometer atos graves de violência

e de tentar contra a vida da própria esposa, ele tento me mata, pois fogo na casa com nois tudo

dentro, ele tem ciúme doentio, diz que os fio não é dele, ele não trabaia e nem deixa eu

trabaia, ele já tento me mata e os fio também, tudo por causa do ciúme, (M-1), segundo as

entrevistadas não existe nenhum motivo para que seu marido proceda dessa maneira e ao

fazer ele humilha a mulher e comete atos impensados de violência, podendo até causar a

morte da mesma, por um motivo tão fútil, e sem nenhuma prova da traição da mulher.

Essa questão é muito séria pois atinge aos filhos também, pois os atos de violência tem

início contra a mulher e posteriormente acaba chegando aos filhos.

As mulheres sofrem muito com isso pois não é só a violência que ocorre por causa do

ciúme do companheiro, mas a vergonha, a humilhação são bem piores segundo elas relatam,
125

ele me xinga na rua diz que boto chifre nele e transo com os amigo dele, diz isso gritando na

rua, na porta do meu trabaio, é muito pior que apanhar, dói muito, não é verdade, (M-10).

O ciúme das mulheres em relação a seus maridos também, existem e em muitos casos

são exacerbados e acabam por levar a mãe para a delegacia e os filhos para os abrigos de

menores, tudo em razão de brigas entre a mãe e o pai por causa do ciúme que ambos sentem

um pelo outro, minha mãe morre de ciúme do pai, ela odeia a vizinha que ela fala que gosta

do pai, chama ela de macaca feia e veia, e um dia ela foi na porta da casa da muie e deito na

rua abriu as pernas sem calcinhas e tiro a saia so pa vizinha vê que ela é muie e pa ela para

de da em cima do meu pai, a policia veio e minha mãe foi presa e nois fomo tudo po abrigo

(E-66).

Eu morro de ciúme do meu veio, a macaca da vizinha da encima dele e ele fica oiando

pa ela ai eu parto pa cima dela, só muie por que oia pa ela so muie também oia pa mim não

so muie, a macaca é preta e feia, fui presa por causa dela, por atentado violento ao pudor,

abri as perna pa ela vê que so muie e tenho tudo no meio das pernas (M-16).

Esse relato nos mostra que o ciúme pode ser de ambos e que sempre ira resvalecer nos

filhos prejudicando-os e dando péssimo exemplo de conduta que uma mãe e pai devem ter.

As mulheres alegam que seus maridos tem ciúmes injustificados e que agem assim por

não terem o que fazer no seu dia a dia, não trabalham e ficam pensando besteiras sobre elas,

ele não faiz nada ai fica pensando bobage tinha que procura trabaio ai parava com essa

besteira (M-15).

A vida dessas famílias é bem comprometida pelo ciúme por que isso gera episódios de

violência sem fim, pois sempre há um motivo para terem ciúme, meu marido não faiz nada o

dia todo, por isso me vigia, me leva e busca no emprego todo dia, não posso sai sozinha,

tenho que faze tudo que ele pede, até na cama, se não ele fala que vai sai com outra e me
126

deixa, ai faço mesmo sentido dor, tem que faze sexo todo dia e sempre que ele que, se não diz

que to dando pa outro, ele tem ciúme que eu trai ele, (M-14).

Como pode ser observado as razões apresentadas pelo ciúme são várias e sempre

acaba muito mal, com episódios de violência contra a mulher e contra seus filhos.

A alegação de que o motivo para o ato de violência é o ciúme que o agressor tem da

vítima apresenta conotações diversas, de um lado e outro; pode-se primeiramente, focalizando

o masculino, pensar em a mulher estar sendo vista como um objeto sobre o qual o homem tem

inteiro poder, ‘é dele!’e então ninguém mais pode se aproximar.

Do lado feminino, há dois aspectos, e de cunho até contraditório, porque incomoda,

tira a liberdade, mas é também indicativo de que ela se constitui em algo importante para o

seu marido/companheiro que não a quer dividir com ninguém, mesmo que isto não

corresponda à realidade; em outras palavras, a mulher pode se sentir valorizada pelo ciúme do

marido, construindo para si a imagem de que ela é indispensável na vida dele, e que o exagero

leva-o a agredi-la por medo de perdê-la.

Assim, a relação violenta vivida parece ser multifacetada, tanto no que diz respeito aos

motivos, quanto à participação de cada um na manutenção da situação.

4-Interferência dos filhos nos episódios de violência entre os pais

Este é o quarto tema a ser discutido referente as entrevistas semi estruturadas

realizadas com as mães.

A questão da violência contra a mulher não escolhe cor, raça, credo religioso, cultura,

condição social, nacionalidade, é um fato nos mais diversos grupos sociais.

Pode-se, assim, afirmar que o problema da violência é muito difundido e antigo, o que

o coloca também como um assunto discutido por muitos, pesquisado por grupos de diferentes

áreas, mas ainda sem uma compreensão mais ampla, capaz de auxiliar na sua prevenção.
127

No Brasil, a discussão a respeito da violência doméstica é facilmente datável em início

em 1980 quando ocorre uma sucessão de crimes que tiveram repercussão nacional:

inicialmente o ‘crime de Búzios’, logo seguido por mais dois assassinatos de mulheres em

Minas Gerais; as três vítimas pertenciam à classe média alta e os agressores eram seus

maridos, o que fez ganharem a mídia e passarem a influir na opinião pública.

É certo que se espera seja o lar, o local de proteção, de afeto e de cuidado, o que leva a

um sentimento de maior estranheza por ele se tornar o espaço da violência e agressões entre a

mulher e seu marido ou companheiro.

A violência é algo muito grave que pode ocorrer a qualquer momento e sem que a

vitima no caso a mulher perceba quando os episódios terão inicio, e não se pode deixar de

lado a possibilidade de que muitas vezes a violência entre membros do casal vem

acompanhada da que se dirige à criança e ao adolescente e estes de alguma maneira interagem

com a situação.

Nesse sentido, não se pode deixar de pontuar que a seriedade da questão da violência

doméstica contra a mulher assume um caráter ainda mais sério, porque ou estão os filhos

como observadores do que ocorre, e frente seja à possibilidade de aprenderem

comportamentos inteiramente inadequados como se fossem os corretos seja de desenvolverem

sentimentos de impotência e revolta, ou correm o risco de danos físicos, dependendo do local

do corpo da mãe que é atingido.

Segundo (JOURILES et al., 2001), a criança não precisa observar a agressão para ser

afetada por ela, assim sendo se a criança viu, ouviu um incidente com a mãe, viu o resultado

as marcas, ou vivenciou seu efeito quando interage com seus pais (HOLDEN, 1998).

A criança não necessariamente precisa estar de fato presenciando a cenas de agressão

entre seus pais para sentir-se exposta a violência, ela é afetada de todas as formas
128

independente de presenciar o que ocorre, ela é afetada e sofre da mesma maneira como se

fosse maltratada.

De acordo com a literatura, (MUZA, 1994; PASCOLAT; MINAYO, 2001; BRITO,

2005) as conseqüências negativas da vivencia de abusos e violência para as crianças e

adolescentes são inúmeras e inquestionáveis, desde orgânicas ate emocionais e psicossociais,

destacamos de modo geral danos relativos ao sistema neurológico, emocional, intelectual,

baixo auto-estima, comportamento agressivo, isolamento, dificuldade de convivência com

seus pares, depressão, pensamentos de suicídio, de homicídios, sentimento de culpa,

prostituição, rejeição (FERREIRA, 2000; GOMES, 2002; DAY 2003).

Focalizando apenas aspectos psicossociais, BRINGIOTTI (1999), afirma que uma

relação de violência na infância gera problemas que se manifestaram com outras pessoas,

serão jovens que apresentaram um número alto de vínculos inseguros e com adultos que não

são da sua família terão condutas de evitação.

Como podemos perceber as crianças e adolescentes que vivem em ambientes onde a

violência ocorre sofrera muitos danos psicológicos e emocionais e que poderá afetar seu

desenvolvimento.

As mães sempre deixaram evidente o fato dos filhos não apenas assistirem as cenas

dos episódios de violência contra ela, como também interagem de muitas maneiras

diferenciadas onde, irão interferir a favor da mãe para que esses episódios tenham um fim,

sem que a mãe sai tão ferida, ou espancada como eles sempre tem o hábito de presenciar.

Elas relatam que o filho sempre esta perto ou escuta quando as discussões tem inicio e

se colocam frente ao pai para que ela não apanhe.

Meu filho sempre assiste a violência do pai, ele começa a me bate e meu filho entra no

meio da briga, e começa a grita com o pai, xinga, bate no pai com a vassoura, e joga água,

faiz de um tudo pa que ele pare de me bate, ele chora muito quando vê a violência, fica
129

desesperado querendo ajuda, entra no meio de nois dois e apanha junto, o pai não para de

me bate por que o fio pede, ele nem vê o fio, so xinga o menino, e continua batendo e

espancando eu e o fio, meu fio sofre muito com isso, e pede po pai i embora de casa, (M-13).

O que se observa acima é o desespero e a frustração do filho fazendo de tudo para

ajudar sua mãe para que ela não seja espancada como ele está habituado a ver, e como não

consegue cessar a violência acaba apanhando junto, e pedindo a mãe que mande seu pai

embora e esse pedido para a mãe não deve ser fácil para um filho chegar a esse ponto no

relacionamento com seus pais.

Para o filho assistir e interferir nos episódios de violência entre seus pais é muito

difícil pois, por mais que ele tenta ajuda e interferir ele não consegue isso, e como são

episódios repetitivos ele sempre precisa de algum modo agir no sentido de ajudar e proteger a

mãe.

Meu filho sofre tentado me ajuda, ele pega a mangueira e vai pa cima do pai, pega

pau, bate na cabeça do pai, faiz isso po pai não me machuca, ele tenta me protege, pa não me

vê machucada, ele sempre vê o pai judia de mim, e fico sempre muito machucada, ele

espanca e vo po hospital, e os fio vê e ficam com ódio do pai, fala que quando cresce vai

mata o pai, e não vai deixa mais ele bate em mim, nem nos fios, (M-14).

A presença da violência na frente dos filhos, acaba gerando sentimentos de ódio e

raiva pelo pai, e os filhos acabam tendo experimentando sentimentos negativos que os fazem

pensar em se vingar do pai quando for maior, dizendo que quando eles forem grandes o pai

não encosta mais um dedo neles, nem na mãe, a violência irá acabar.

A violência afeta esses filhos de muitas maneiras diferentes e necessitam ter-se mais

pesquisa sobre a questão da violência dos pais sendo assistidas pelos seus filhos, para

podermos ter um alcance maior e definido do quanto isso causa danos e acaba gerando ainda

mais violência.
130

Como foi demonstrado percebe se que as conseqüências relativas a violência são

inúmeras e atingem cada criança e adolescente de uma maneira diferente, pois tem que ser

levado em consideração a idade em que a violência tem inicio, mas, é indiscutível o quanto é

devastador na vida de quem sofre a violência.

Resultados e Discussão - Crianças e Adolescentes

Apresentaremos a seguir a segunda etapa, dos resultados e discussão, que são

referentes as crianças e adolescentes.

Iniciaremos com os resultados da aplicação do Jogo de Sentenças Incompletas, tendo

como modelo para a análise de dados, a quantitativa – interpretativa, BIASOLI-ALVES

(1998).

1-Jogos de Sentenças Incompletas

Apresentação dos resultados obtidos com a aplicação do instrumento, Jogos de

Sentenças Incompletas as crianças e adolescentes.

Tabela 9 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: Para mim família é ...


Categorias de Respostas Contagem %
A- Atributos/adjetivos positivos 60 77,9
B- Sentimentos de plenitude, local de respostas a todas as necessidades 14 18,2
C) Não responderam 03 3,9
Total 77 100

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, verifica-se que há uma

tendência das crianças e adolescentes em definir família, como algo positivo, isto se observa

nas categorias (A, B), seja por atribuir a família atributos e adjetivos positivos sendo, ela

legal, boa, e também atribuem a família sentimentos de plenitude como a família sendo o

local onde se respondem a todas as necessidades que eles têm para as crianças e os

adolescentes participantes, família é uma coisa muito boa na vida, é tudo.

Vale ressaltar que o percentual de crianças e adolescentes que não souberam ou não

quiseram definir o que é família foi muito pequeno.


131

1.1- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionando família à presença de atributos/adjetivos positivos; legal,

bom, boa: n8=60 (77,9%).

B) Respostas relacionando família a sentimentos de plenitude, como sendo família um

local de respostas a todas as necessidades; tudo, uma coisa boa na vida: n=14 (18,2%).

C) Não responderam: n =3 (3,9%).

Tabela 10 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: Para mim uma família feliz
é...
Categorias de Respostas Quantidade Percentagem
A) Reafirmam a sentença 70 90,9
B) Não responderam 07 9,1
Total 77 100

De acordo com os resultados obtidos com a sentença acima, é importante notar o

número expressivo de respostas (90,9%) em que se reafirmam a sentença perguntada,

indicando que, para a grande maioria dessas crianças e adolescentes é muito difícil definirem

e ou conceber o que seja uma família feliz, tornando-se mais evidente se levarmos em

consideração as crianças e adolescentes que não responderam essa questão, essa não resposta

pode ser sim, uma dificuldade de responder o que para eles é uma família feliz.

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Reafirmação da sentença; legal, bom: n=70 (90,9%).

B) Não responderam: n=7 (9,1%).

Tabela 11 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: Para mim uma família


infeliz é...
Categorias de Respostas Quantidade Percentagem
A) Reafirmam a sentença 72 93,5
B) Não responderam 05 6,5
Total 77 100

8
N= número total de respostas dadas pelos participantes a sentença perguntada.
132

De acordo com os resultados obtidos com a sentença acima, é importante notar o

número expressivo de respostas (93,5%) em que se reafirmam a sentença perguntada,

indicando que, para a grande maioria dessas crianças e adolescentes é muito difícil definirem

e ou conceber o que seja uma família infeliz, indicando uma possível dificuldade na definição,

e isto se torna mais evidente se levarmos em consideração as crianças e adolescentes que não

responderam essa questão (6,5%), essa não resposta pode ser uma dificuldade em responder

ou externalizar, o que é uma família infeliz.

1.3- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Reafirmação da sentença; vive triste, triste: n=72 (93,5%).

B) Não responderam: n=5 (6,5%).

Tabela 12 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: eu queria que minha


família fosse...
Categorias de Respostas Quantidade Percentagem
A) Desejo de mudança no comportamento dos pais 30 37
B) Desejo de obter uma dinâmica familiar positiva 48 59,3
C) Não responderam 03 3,7
Total 81 100

De acordo com os resultados apresentados acima, pode se observar que na categoria

Desejos de mudanças no comportamento dos pais (37%) das respostas obtidas é um valor

considerável que expressa o desejo dos filhos para que ocorra uma mudança concreta no

comportamento dos pais, gostariam que na família não tivesse briga, discussão, e sem

violência.

E, a maioria (59,3%) expressam desejo em obter na família uma dinâmica familiar

positiva no sentido da família ser alegre feliz e legal, eles gostariam que seus pais fossem

legais e que a convivência fosse alegre, entre os pais e os filhos.

O número de crianças e adolescentes que não responderam essa questão foi muito

pequeno.
133

1- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionadas ao desejo de mudanças concretas no comportamento dos

pais em relação à presença de violência e brigas; sem violência, sem briga, sem discussão:

n=30 (37%)

B) Respostas relacionadas a expressão do desejo de obter uma dinâmica familiar

positiva; fosse alegre, fosse feliz, fosse legal: n=48 (59,3%)

C) Não responderam: n=39 (3,7%).

Tabela 13 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: sinto-me bem em casa


quando...
Categorias de Respostas Contagem Percentagem
A) Dinâmica de relações familiares positivas 20 24,7
B) Possibilidade de sentir-se livre sem constrangimento 55 67,9
C) Não responderam 6 7,4
Total 81 100

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, a grande maioria das

respostas esta na categoria da Possibilidade de sentir-se livre sem constrangimento (67,9%),

as respostas indicam à importância a liberdade, no sentido em que se mostra a ausência de

controle dos pais sobre seus filhos, como sendo esta uma condição de bem-estar na família.

As respostas da categoria da Dinâmica de relações familiares positivas (24,7%)

indicam-se associações de bem-estar à dinâmica de relações familiares positivas, como todos

estão bem.

A categoria dos que não respondem (7,4%) dos participantes, pode se pensar que para

essas crianças e adolescentes é muito difícil definirem e ou conceber o que é sentir-se bem em

casa.

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionando bem-estar na família à dinâmica familiar positiva; estão

todos bem: n=20

9
N, esta com 81 respostas pois os participantes responderam mais de um item.
134

B) Respostas relacionando bem-estar na família, enquanto um local de descanso,

tranqüilidade; me deixam quieto: n=55

C) Não responderam: n=6

Tabela 14 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: sinto-me mal em casa


quando...
Categorias de Respostas Contagem Percentagem
A) Dinâmica negativa/conflitiva 58 71,6
B) Eventos negativos inespecíficos 18 22,2
C) Não responderam 5 6,2
Total 81 100

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, a categoria da Dinâmica

negativa/conflitiva (71,6%), apresenta o maior número de respostas que relacionam o mal-

estar em casa, com uma dinâmica familiar negativa e ou conflitiva, temos que considerar que

casa, refere-se à família e para esses participantes a família é local de brigas, discussões e

violência

A categoria de Eventos negativos inespecíficos (22,2%) indica respostas em que

associam o mal-estar na família a eventos inespecíficos, onde as respostas não nos permitem

entender e ou discutir esses eventos.

A categoria dos que não respondem (6,2%), pode se pensar que para essas crianças e

adolescentes é muito difícil definirem e ou conceber o que é sentir-se bem em casa e sentir-se

mal em casa.

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) “Respostas relacionando mal-estar na família a dinâmicas familiares negativas e

conflitantes entre seus membros; tem muita briga, tem muita discussão, tem muita violência”.

n=58

B) Respostas relacionando mal-estar na família a eventos inespecíficos; quando me

enchem o saco: n=18

C) Não responderam. n=5


135

Tabela 15 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: gostaria que meus pais


fossem.
Categorias de Respostas Quantidade Porcentagem
A) Desejo de mudanças no comportamento dos pais 60 77,9
B) Resposta evasiva 12 15,6
C) Não responderam 5 6,5
Total 77 100

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, a categoria Desejos de

mudanças no comportamento dos pais (77,9%), apresentam o maior número de respostas

referindo-se ao desejo de mudanças concretas no comportamento dos pais em relação a eles

(filhos), onde eles expressam o desejo que os pais fossem bons, e que eles parassem com a

punição física, (não batessem).

Na categoria de resposta evasiva (15,6%), os participantes não conseguem definir ou

conceber, como gostariam que seus pais fossem.

A categoria dos que não responderam foi pequena (6,5%).

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionando o desejo de mudanças concretas no comportamento

negativo dos pais; ah, fossem bons, não bebessem, ah, não batessem: n=60

B) Respostas evasivas; assim mesmo: n=12

C) Não responderam: n=5

Tabela 16 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: quando apanho sinto...


Categorias de Respostas Quantidade Porcentagem
A) Prática educativa punitiva 78 96,3
B) Não responderam 3 3,7
Total 81 100

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, verifica-se que a quase

totalidade das respostas estão presentes na categoria Prática educativa punitiva (96,3%),

destacando-se os sentimentos de dor e tristeza da criança que apanha.

A categoria dos que não responderam é muito pequena (3,7%).


136

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionando a prática educativa punitiva sentimentos de tristeza e dor;

sinto muita dor, eu choro, fico muito triste, fico muito mal: n=78

B) Não responderam: n=3

Tabela 17- Categoria e porcentagens referentes à sentença: Para mim violência é...
Categorias de Respostas Quantidade Porcentagem
A) Vivencia de sentimentos de tristeza 40 51,9
B) Reafirmam a sentença 34 44,2
C) Não responderam 3 3,9
Total 77 100

De acordo com os resultados apresentados acima na categoria Vivencia de sentimentos

de tristeza concentrando-se a maioria das respostas (51,9%), onde são despertados os

sentimentos de tristeza em uma criança e adolescente quando se refere ao o que é violência

para eles.

A categoria dos que reafirmam a sentença (44,2%) concentra-se as respostas onde os

participantes reafirmam a sentença perguntada.

Na categoria dos que não responderam (3,9%), é muito pequena.

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionadas a vivencia de sentimentos de tristeza; é triste: n=40

B) Reafirma a sentença; bate, apanha: n=34

C) Não responderam

Tabela 18 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: para mim violência


contra criança é...
Categorias de Respostas Quantidade Porcentagem
A) Vivencia de sentimentos de tristeza 40 51,9
B) Reafirmam a sentença 34 44,2
C) Não responderam 3 3,9
Total 77 100

De acordo com os resultados apresentados acima na categoria Vivencia de

sentimentos de tristeza é onde se concentra a maioria das respostas (51,9%), onde são
137

despertados os sentimentos de tristeza em uma criança e adolescente quando se refere a o que

é violência para eles.

A categoria dos que reafirmam a sentença (44,2%) concentra-se as respostas onde os

participantes reafirmam a sentença perguntada.

Na categoria dos que não responderam (3,9%) é muito pequena.

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionadas a vivenciam de sentimentos de tristeza; é triste: n=40

B) Reafirmam a sentença; bate, apanha: n=34

C) Não responderam

Tabela 19 -Categoria e porcentagens referentes à sentença: quando vejo meus pais


brigando eu...
Categorias de Respostas Quantidade Percentagem
A) Vivencia de sentimentos de tristeza 45 58,4
B) Papel ativo dos filhos na situação de violência entre os pais 30 40
C) Não responderam 2 2,6
Total 77 100

De acordo com os resultados apresentados na tabela acima, na categoria Vivencia de

sentimentos de tristeza (58,4%), apresentam o maior número de respostas em que indicam os

sentimentos dos filhos em relação às brigas dos pais, esta evidente os sentimentos de tristeza

em relação a assistir ou presenciar cenas de brigas entre os pais.

Quanto a categoria Papel ativo dos filhos na situação de violência entre os pais (40%)

fica claro como os filhos reagem nessa situação, eles interferem nas brigas de forma direta,

entram no meio dos pais para separá-los, e para parar a briga.

Na categoria dos que não respondem (2,6%) é muito pequena.

1.2- Categoria das respostas da sentença acima descrita.

A) Respostas relacionadas a vivencia de sentimentos de tristeza em relação a

presenciar as brigas entre os pais; é triste: n=45


138

B) Respostas relacionadas à interferência dos filhos de forma direta nas situações de

briga e violência; eu entro no meio deles, jogo água pra para a briga: n=30

C) Não responderam: n=2

Discussão

De acordo com os resultados apresentados, alguns apontamentos podem ser feitos e

discutidos em função dos temas abordados nas sentenças.

Na sentença 1, Para mim família é, é abordada a questão da família, podemos

observar que, de modo geral eles definem família como algo positivo, seja em atributos e

adjetivos ou em relação ao sentimento de plenitude, essas são características da presença de

algo positivo na vida deles.

A família é vista como o elemento básico da sociedade, o meio natural para o

crescimento das gerações mais novas, sendo, considerado como o lugar da privacidade, das

trocas afetivas intensas e, de certa forma o espaço do bem-estar de todos os seus membros.

A família então é vista como o elemento básico da sociedade e, de acordo com

BRUSCHINI (1997, p. 77),

(.....) um grupo social composto de indivíduos diferenciados por sexo e por idade,
que se relacionam cotidianamente gerando uma complexa e dinâmica trama de
emoções; ela não é uma soma de indivíduos, mas um conjunto vivo, contraditório e
cambiante de pessoas com sua própria individualidade e personalidade...

CEBALLOS e RODRIGO (1998) referem-se à família como sendo um contexto

primordial de desenvolvimento para os filhos.

BIASOLI-ALVES (2004), nos coloca que a família seria o meio natural para o bem-

estar de todos seus membros em particular e de maneira muito especial das crianças, que

devem receber proteção, e cuidados necessários para que se desenvolvam plenamente, cabe a

família e aos pais serem os agentes principais da socialização primária dos filhos .

A família para criança é muito importante cabendo a ela iniciar o processo de

desenvolvimento e socialização. NEWCOMBE (1999), diz que socialização é o processo do


139

qual as crianças adquirem comportamentos, habilidades, motivações, valores, convicções e

padrões que são característicos e desejáveis em sua cultura. (p.338), por esta razão que a

família é o agente primário na socialização com isso molda comportamentos, personalidade e

transmite valores (NEWCOMBE, 1999).

É na família que a criança começa a aprender a viver em grupo, a entender as

diferenças individuais, e ter segurança para conviver em sociedade e, para que isso ocorra de

maneira saudável, torna-se imprescindível que a família dê subsídios e segurança para que a

criança se desenvolva de forma natural e saudável.

Pensando nessa colocação Perez et al (1994) falam da importância que é para a criança

seus primeiros anos de vida em família e como isso será determinante em seu

desenvolvimento, “a família se converte em nicho de desenvolvimento”, onde devem ser

encontradas todas as condições materiais e de socialização para ela, dando-lhe recursos

internos para aprender e se socializar.

Podemos observar nessas colocações o quanto à família é importante para a criança e

o adolescente e quanto maior forem às atribuições e adjetivos positivos dados a ela, melhor

será o desenvolvimento dentro desse contexto.

Os participantes sentem e entendem que a família é algo bom, positivo, onde eles

podem se sentir felizes e que a família é uma coisa muito boa na vida deles.

Continuando nas sentenças sobre família, as sentenças, 2 e 3, Para mim família feliz

é, Para mim família infeliz é

Podemos perceber a grande dificuldade que os participantes tiveram ao abordar o

tema, eles reafirmam a sentença perguntada, levando-nos a pensar que, essa dificuldade possa

estar centrada na ausência de experiências reais do que deveria ser uma família feliz e do que

seria uma família infeliz, pois o cotidiano dessas crianças e adolescentes sempre é muito

igual, não há diferenças de um dia para o outro, seus amigos e vizinhos, tem a mesma situação
140

familiar vividas por eles, essa dificuldade possa estar relacionada a falta de vivencias e

experiências onde existam no seu cotidiano dias felizes, dias tristes, para que eles possam

entender o que é uma família feliz e qual a diferença para uma família infeliz, para essas

crianças e adolescentes seu dia a dia é sempre igual.

Essa dificuldade acerca de família feliz e infeliz, também pode estar relacionada a uma

dificuldade em atribuir a família sentimentos ou mesmo em reproduzir respostas a um ideário

convencional, do que seria família feliz e infeliz, como os participantes foram instruídos a

responder os jogos de sentenças incompletas, com a primeira palavra que lhe vem a cabeça,

isso ajuda a pensar que como já foi dito anteriormente, a dificuldade esta centrada na ausência

de experiências reais que diferencie o que é para eles uma família feliz e o que é uma família

infeliz, onde não há um modelo de experiências positivas não tem como se referir ao que não

se sente não se conhece, ficando difícil até definir algo negativo, como a família infeliz.

Um apontamento que se apresenta nesse momento, é que eles definiram família como

sendo algo positivo e com sentimentos de plenitude, mas, se mostram contraditórios e

evasivos quando reafirmam o que para eles é família feliz e infeliz, não há dados e resultados

que nos permitam esclarecer ou entender essa dúvida.

Outro apontamento importante é que as crianças e adolescentes que não responderam

as sentenças, dos jogos de sentenças incompletas sempre foram às mesmas em todas as

sentenças, apenas com alterações no percentual de respostas.

Não dispomos de dados nem resultados para que esse apontamento possa ser discutido

e entendido.

Nas próximas discussões, abordaremos as sentenças, 4, 5, 6 e 7, (Eu gostaria que

minha família fosse; Sinto-me bem em casa quando; Sinto-me mal em casa

quando;Gostaria que meus pais fossem); referem-se ao que é esperado da família pelas

crianças e adolescentes.
141

Os resultados dessas sentenças mostram que, as crianças e adolescentes gostariam que

seus pais fossem bons, não bebessem, não batessem, demonstrando que o cotidiano dessas

crianças e adolescentes é em famílias, onde há a dinâmica familiar é negativa e conflitiva,

com a presença de bebida, eles dizem que os pais bebem muito e gostariam que mudassem de

atitude.

Em relação à bebida é um dado presente em outras pesquisas (PASCOLAT et al,

2001; SAGIM, 2004), sua presença é indicativo da violência doméstica na família contra a

mulher e a criança.

Quando as crianças e os adolescentes relatam que gostariam que seus pais não

bebessem é por que entendem ou percebem que sem a bebida o comportamento dos pais seria

diferente, ou quando o pai não está bebendo ou bêbado, ele não comete violência, não batendo

em seus filhos, e que sem a presença da bebida não há episódios de violência e discussões

entre seus pais.

Nos últimos anos a bebida, (álcool) é apontada, como uma das explicações para a

ocorrência de violência contra a criança (FAGAN; DELGADO e FISBERG, 1990;

CARIOLA; BITTENCOURT, 1995; HOGAN et al., 2006).

No caso especifico do álcool apesar das pesquisas ainda não é possível inferir que o

uso do álcool afete o comportamento das pessoas envolvidas, não é possível saber se essas

pessoas em estado de abstinência teriam cometido os mesmos atos de violência (GOMES,

2002).

Quanto ao fato que gostariam que seus pais não batessem, fica demonstrado que a vida

em família é permeada por fatores de risco que comprometem seu desenvolvimento ao longo

da vida, a família que deveria ser um ambiente de maior segurança se transformar em um

local onde não há qualquer forma de respeito e proteção a criança e ao adolescente

(DELFINO et al., 2005).


142

A literatura vem evidenciando que a violência contra a criança e o adolescente,

segundo (MUZA 1994; MINAYO 1999, 2001; PASCOLAT 2001), é praticada dentro do lar,

tendo como agressores os próprios pais (DESLANDES; FERREIRA; REICHENHEIM, 1999;

SAFFIOTI, 1997 e 1999; SONJA et al.; MOORE et al., 2004).

As conseqüências referentes á violência contra a criança e o adolescente são inúmeras

podendo causar grande comprometimento acerca do seu futuro e de seus vínculos a maior

parte das pesquisas acerca da violência, dizem respeito ao impacto que ela tem sobre a criança

e o adolescente (OSOFSKY, 2003), para GELLES (1997), as conseqüências da violência

podem ser devastadoras e isso causará nessas crianças e adolescentes um comprometimento

quanto ao seu futuro.

As crianças e adolescentes tem em seus pais e família um local onde não há segurança,

carinho, afeto, o respeito que deveriam receber não existe, todo esse contexto familiar

permeado por vínculos frágeis, pois, a violência não permite que seja dada as crianças e

adolescentes recursos interiores para a formação de vínculos afetivos positivos e que

possibilitam que seu desenvolvimento seja seguro e não comprometido pelas vivências

familiares.

Em relação às respostas, como gostariam que seus pais fossem, respondem que,

gostariam que fossem bons, isso demonstra que os pais não são bons, que a ausência de afeto

e carinho, no sentido que seus filhos entendam como pais bons, não esta acontecendo, o que é

muito preocupante, pois a falta desse afeto positivo causa na criança e no adolescente a

sensação de que não gostam dela, causando baixo auto-estima e um comprometimento acerca

de seu desenvolvimento futuro.

Em relação às sentenças, 8, 9, 10 e 11, (Quando apanho eu, Para mim violência é,

Para mim violência contra criança é, Quando vejo meus pais brigando eu).
143

Os resultados mostram que, a criança e o adolescente ao apanharem expressam

sentimentos de tristeza, dor, e choram.

Segundo ZAMBERLAN (2002), os pais querem ter controle sobre os filhos com isso

fazem uso da punição ou força, conforme julguem necessário; o que se questiona é se de fato

o que se espera realmente acontece com a prática utilizada, ter um bom comportamento, ou se

existem mais excessos do que uma ação efetiva para que a criança possa compreender como

correção do que fez de errado.

A forma autoritária dos pais agirem com seus filhos, utilizando a prática educativa

punitiva, a força física como disciplinadora, faz com seus filhos sintam-se triste e com dor

devido à punição física, e choram muito pela dor que sentem isso não educa, mas deixam

evidente os limites de controle dos filhos, a comunicação entre pais e filhos não existe, nem a

consideração e respeito pela opinião dos filhos (BAURIND, 1966; CEBALHOS, RODRIGO,

1998; VITALI, 2004).

As crianças e adolescentes que sofrem violências físicas tem comprometimentos

psicológicos que vão desde a baixa auto estima até desordens psíquicas, as cognitivas desde a

deficiência de atenção e distúrbios de aprendizado, as conseqüências comportamentais,

variam desde a dificuldade de se relacionar com seus pares e colegas até os comportamentos

suicidas e criminosos, essas conseqüências são decorrentes da violência física e psicológica

(MUZA, 1994; PASCOLAT; MINAYO, 2001; BRITO, 2005).

Reforçando as considerações acima colocadas, independente da forma que seja a

violência ou maltrato, quer física, psicológica, sexual ou negligência (BRASIL, 1997), as

principais conseqüências na infância, ocorrem no seu desenvolvimento infantil nas esferas

física, social, comportamental, emocional e cognitiva (KASHANI et al., 1992; STRAUS e

GELLES, 1995; GERSHOFF, 2002).


144

Podemos observar que essas conseqüências comprometem o desenvolvimento da

criança e do adolescente, levando as mesmas a viver um desamparo aprendido, pela ausência

dos pais, por viverem em famílias onde há presença da violência, não se formando vínculos

afetivos positivos.

Serão crianças ansiosas, depressivas, terão sentimentos de menos valia e baixa auto-

estima, (STANROCK, 1990), esses problemas emocionais trarão sérias conseqüências quando

crescerem, um individuo com baixa auto-estima, não aprendeu a se valorizar, (JONZON et

al., 2006), permitindo que façam com sua vida inúmeros atos, que não aconteceriam se ela

tivesse tido um desenvolvimento com a formação de vínculos e afeto positivo.

Essa colocação é importante, pois, as conseqüências são em dois sentidos na criança e

no adolescente, atingindo a criança, e o adulto, que irá tornar-se.

No que se refere à questão dos filhos presenciarem atos de brigas e discussões entre

seus pais um enfoque importante e novo surgiu nas últimas duas décadas e diz respeito às

possíveis conseqüências para a saúde da criança e do adolescente do testemunhar a violência

entre os pais (FREIDRICK e EINBENDER, 1983), existindo a afirmação por parte de alguns

autores de que, diferencialmente do que se supunham, as conseqüências emocionais da

convivência das crianças em situação de grande conflito podem ser piores do que quando elas

mesmas são alvo de violência.

Nessa linha, REICHENHEIM (1999) comenta que existem estudos sugerindo a

ocorrência de distúrbios ulteriores tanto no nível emocional quanto cognitivo, como

decorrência de a criança ter sido exposta à violência entre os pais.

“A percepção de que vivem em famílias conflituosas, sem limites e perigosas,


misturando- se à freqüente culpabilidade que carregam violência entre os pais, é
parte do cenário de desencadeamento de agravos psicoemocionais, quer de curto,
médio e longo prazo” (LAYZER et al., 1985; HUGHES, 1988; JAFFE et al.,
1990).
145

Mas, não se pode deixar de lado a possibilidade de que muitas vezes a violência entre

membros do casal vem acompanhada da que se dirige à criança e ao adolescente e estes de

alguma maneira interagem com a situação.

Isto torna difícil, com freqüência, compreender o efeito isolado de cada fator que

estaria contribuindo para a existência dos problemas acima referidos (HILBERMAM, 1980).

Algumas pesquisas têm mostrado que essa concomitância tem efeito sinérgico sobre a saúde

da criança e que a gravidade da situação conjunta é maior que a soma dos dois abusos em

separado” (HASHANI et al., 1992; BRANCALHONE, 2004)

Segundo (JOURILES et al., 2001), a criança não precisa observar a agressão para ser

afetada por ela, assim sendo se a criança viu, ouviu um incidente com a mãe, viu o resultado

as marcas, ou vivenciou seu efeito quando interage com seus pais (HOLDEN, 1998).

A criança não necessariamente precisa estar de fato presenciando a cenas de agressão

entre seus pais para sentir-se exposta a violência, ela é afetada de todas as formas

independente de presenciar o que ocorre, ela é afetada e sofre da mesma maneira como se

fosse maltratada.

2-Entrevista Estruturada com as Crianças e Adolescentes

As informações sobre os participantes, crianças e adolescentes, foram divididos em

tabelas para que os resultados se tornem mais evidentes e que possibilite maior comparação

entre os participantes possibilitando que o dado fique dinâmico e de fácil visualização com

isso fica melhor entender o universo de cada participante.

Tabela1 -Participantes da amostra pesquisada separados em crianças e adolescentes.


Participantes Quantidade Percentual
Crianças 46 59,74
Adolescentes 31 40,26
Total 77 100
146

A tabela acima demonstra o total dos participantes da pesquisa divididos em crianças e

adolescentes, ficando compostas da seguinte maneira, 46 (59,74%) crianças e 31 (40,26%)

adolescentes, onde se pode observar que a amostra tem mais crianças do que adolescentes.

Tabela 2 -Participantes da amostra pesquisada de criança e adolescentes com relação ao sexo.


Sexo Quantidade Percentual
Masculino 27 33,77
Feminino 50 66,23
Total 77 100

A tabela acima demonstra como ficou a amostra de participantes quanto ao sexo das

crianças e adolescentes. O percentual de participantes do sexo masculino é de 27 (33,7%) e do

sexo feminino é de 50 (66,2%), o número maior é do sexo feminino.

Tabela 3 -Escolaridade das crianças e adolescentes participantes da pesquisa


Escolaridade Quantidade Percentual
Núcleo 01 1,3
Analfabeto 08 10,4
Não estuda 09 11,7
1ª série 16 20,7
2ª série 09 11,7
3ªsérie 10 13
4ª série 06 7,7
5ª série 04 5,2
6ª série 02 2,6
7ª série 09 11,7
8ª série 03 4,0
Total 77 100

Na tabela acima, estão demonstrados como ficou composta a amostra pesquisada em

relação à escolaridade das crianças e adolescentes.

Em relação à escolaridade o número maior da amostra esta concentrada na 1 série tem

20,7% (16), de alunos matriculados, seguida por 13% (10) alunos matriculados na 3 serie,

11,7% (09) de alunos não estudam, não sabem nem ler, mas já foram na escola e atualmente

deixaram de estudar, querem voltar para a escola mas a mãe não permite, por dizer que o

lugar onde funciona a escola é perigoso. E, 10,4% (08), são analfabetos, nunca foram na
147

escola, não sabem ler e escrever, e alegam como motivo para isso a mães não deixá-los ir na

escola onde residem pois tem trafego de drogas e muita violência, essas são as alegações

apresentadas.

Nesta tabela é possível observar o total de alunos e as porcentagens referentes a cada

série em que os participantes estão matriculados ou não, a questão do analfabetismo e baixa

escolaridade são muito altas e não da para passar despercebida.

3- Entrevistas semi Estruturadas com as Crianças e Adolescentes

Tomando como procedimento a análise temática do conteúdo das entrevistas semi

estruturadas realizadas com as crianças e os adolescentes buscando e procurando respostas, as

questões e pressupostos que norteiam esse estudo, desenvolveu-se a análise de todo material

coletado, os dados desta investigação estão categorizados abaixo, de uma forma que

possibilite uma maior compreensão e entendimento dos temas e categorias encontradas e que

serão analisados e discutidos a seguir.

Para melhor ilustrar, buscou-se elaborar e montar um quadro ilustrativo das categorias

temáticas, proveniente das várias leituras do material obtido. São elas:

Quadro 1- Síntese das categorias temáticas referentes às entrevistas com as crianças e os adolescentes.

1-Relacionamento da criança e do adolescente com seus pais.

A) Afeto positivo pelos pais (57,110%)

B) Presença da violência doméstica contra os filhos (42,9%)

2-Violência contra a criança e o adolescente

A) Presença da violência física contra os filhos (100%)

3-Violência doméstica e a percepção da criança e do adolescente

A) Caracterização dos episódios de violência (48,3%)

B) Papel ativo dos filhos nos episódios de violência entre seus pais (36,7%)

C) Papel passivo dos filhos nos episódios de violência entre seus pais (15%)

10
O valor das porcentagens é sobre a quantidade respostas obtidas sobre as 77 entrevistas realizadas
148

4-Propondo soluções

A) Presença da bebida (álcool) (45%)

B) Presença do ciúme (35%)

C) Desemprego dos pais (20%)

1-Relacionamento da criança e do adolescente com seus pais

Através desta categoria, o relacionamento da criança e do adolescente com seus pais,

podemos compreender como é o cenário familiar em que estão inseridos e como funciona a

dinâmica familiar.

Para essas crianças e adolescentes o relacionamento entre seus pais é bom, eles não

sentem dificuldade em falar sobre essa questão e respondem prontamente, sempre se referindo

a seus pais como pessoas boas e de quem eles gostam muito e são apegados.

Percebe-se que para eles os pais trazem coisas boas e são bons, em nenhum momento

eles fazem qualquer critica ao comportamento dos pais, eles sempre atribuem respostas

positivas, dizendo, meu pai é muito bom, minha mãe é boa e bonita, (E-12, E-20).

Para eles os pais são presentes e contribuem para que o relacionamento seja algo bom,

sentem afeto positivo pelos pais e para a vida em família.

Isso são fatores importantes em um relacionamento familiar, pois é na família onde

tudo tem inicio, sua função é muito importante para o desenvolvimento saudável da criança e

do adolescente. Isso os torna aptos para viver em sociedade, a família é algo primordial para

um desenvolvimento seguro.

É no cotidiano da família que a criança apreende o significado de viver, desenvolvem

relações afetivas e reagem frente a diferentes situações, ou seja, o cenário familiar esta

envolto por várias determinantes, por exemplo, determinantes socioeconômicos, políticos e

culturais, (ALGERI, 2001).

1 A- Afeto positivo pelos pais.


149

Nesta categoria as respostas das crianças e adolescentes, referem-se a seus pais como

sendo eles, são bons e que não há nada de errado no relacionamento entre eles. Sempre se

referem aos pais como pessoas boas e bonitas, o contexto familiar onde estão presentes há a

presença da violência doméstica e, em nenhum momento essas crianças mencionam esse fato

quando falam dos pais, para eles os pais são bons e esta tudo bem assim.

Eles sentem muito carinho pelos pais, falam da família com respeito e amor, em

nenhum momento eles referem-se aos pais com palavras ou entonação de voz que possa

perceber algo de estranho ou algum sentimento de tristeza.

Com isso podemos inferir que a família é algo muito importante para eles, mesmo que

essa família tenha problemas como a presença da violência é a família que eles têm e

conhecem.

Para elas o afeto pelos pais independe da presença da violência doméstica existente o

ambiente em que vivem é permeado por cenas rotineiras de violência contra as mães e

também contra seus filhos, mas isso não aparece quando eles falam da relação com os pais, e

como se sentem seguros com os pais, e dizem que sua casa é o lugar mais seguro que eles

conhecem, meu pai e minha mãe são bons me sinto bem em casa (E-21).

São crianças e adolescentes que de alguma maneira conseguem não ser atingidos pelas

situações de conflitos e violência existente a sua volta, não dá para saber se eles não percebem

ou sentem essa violência, ou apenas para eles independente dessas situações os pais são mais

importantes e o lar o lugar mais seguro que eles conhecem, o resto não importa, vai se

vivendo, fica difícil entender melhor essas colocações, pois não se têm dados que demonstrem

realmente o que eles sentem e pensam.

São muitos os autores que afirmam que a família está relacionada como grupo social

que exerce grande influência sobre a vida das pessoas e de todos que a cercam (ARAÚJO e

PASQUALI, 1978; SANDER, 1995), sendo importante também como formadora da


150

personalidade individual, (Kobel, 1992; Paula,1998), além de se constituir em uma influência

poderosa no comportamento dos indivíduos (ARAÚJO e PASQUALI, 1978; BIASOLI-

ALVES, 2003), através das medidas educativas que são tomadas e direcionadas no seu

interior (DRUMMOND et al., 1998), buscando, na maioria das vezes que haja bom

aprendizado e desenvolvimento.

Assim, pode-se dizer que a família aparece como um primeiro ambiente socializador

de seus filhos, responsável pelo seu cuidado e sobrevivência; é também a lançadora dos

fundamentos da formação do indivíduo, através das atitudes, da educação, dos valores

vivenciados e dos relacionamentos, levando a que a personalidade da criança se estruture,

bem como a sua auto-imagem, e a dos outros e do mundo; partindo-se dessas idéias, a

educação e o modelo de relacionamento que a criança tem dentro da família são muito

importantes.

Nesse momento cabe-se esclarecer que, o que foi descrito e discutido acima, refere-se

aquelas crianças e adolescentes que mesmo a violência doméstica existindo e estando tão

presente no dia-a-dia, sentem afeto positivo pelos pais, mas isso não é uníssono, tem também

as crianças e adolescentes que sentem e são atingidos pela violência que os cercam a seguir

iremos abordar esta temática.

1 B- Presença da violência doméstica contra os filhos

Nesta categoria as crianças e os adolescentes ao responderem sobre o relacionamento

com seus pais, ficam quietas, pensativas um breve silêncio, as respostas começam a surgir nas

falas. Eles dizem que seus pais são pessoas ruins e violentas, que fazem o uso da violência

contra eles constantemente e passam a falar como é o ato de violência que eles sofrem em

casa, como isso acontece e dizem que a mãe é muito brava e bate muito.

Em qualquer situação os problemas dessas crianças e adolescentes são resolvidos com

violência, eles se referem ao fato de apanhar sempre sem nem saber por que, minha mãe bate
151

sempre muito, nem sei por que apanho, não pode fala, pedi comida, não pode que vem

pancada, (E-32, E-36, E-41).

Para eles a violência se faz presente rotineiramente, são crianças que falam com

tristeza dos pais, que gostariam de ter pais e uma vida diferente, são crianças tristes,

magoadas com seus pais, e querem muito ter uma vida sem violência, pois, apanham muito

sem nem saber o que fazem de errado.

A vida familiar deles esta inserida dentro da violência e apanham de forma

extremamente grave, minha mãe bate tanto que espanca, já fui pó hospital muitas veiz, ela

bate com pau, correia, nem sei apanho todo dia, e com muita forca, ó tenho marca na perna

apanhei com tabua, ela queimou minha mão dói muito, (E-17, E-43, E-46, E-50), esses relatos

não só deixam evidente a violência sofrida como também a forma como ela vem sendo

aplicada.

São crianças e adolescentes que estão sendo vítimas de violência por parte de seus pais

e o que é pior isso acontece dentro de suas próprias casas locais esses que deveriam trazer

segurança e proteção.

O que mais surpreende e torna a situação grave é quem deveria protegê-los é quem os

maltrata e cometem tantos atos de violência, sua própria mãe, os relatos são claros a mãe bate

muito mais que o pai e de forma muito mais violenta, esse dado aparece em outras pesquisas

(GELLES, 1979; GIL, 1978, 1988) e vem a reforçar a mãe é quem mais comete atos de

violência física contra seus filhos, talvez por que seja ela quem passa mais tempo junto aos

filhos, e que na maioria das vezes é quem toma as decisões sozinhas sobre o cotidiano e a

convivência familiar.

A mãe é a figura mais próxima da criança cabendo a ela o papel educar, proteger e

cuidar e nem sempre isso ocorre, (BRITO et al., 2005) ela é a maior perpetuadora de violência

contra seus filhos.


152

A violência, como fenômeno social e familiar, não é de exclusividade de nossa época,

e o resultado de uma cultura que veio se estabelecendo ao longo da historia, e na qual as

relações de poderes têm um papel fundamental e determinante.

Pensando-se assim a questão da violência de criança e adolescentes dentro de suas

casas dizem que esta decorre de uma violência inerente as relações interpessoais e que

possuem caráter abusivo e que é perpretada pelo adulto (OLIVEIRA, 1989, p. 89),

(DESLANDES, 1994; SCHERER, 2000).

Para eles o lar não e um lugar seguro, a mãe não os protege, mas mesmo assim eles

sentem amor por esses pais, de forma que a violência e o maltrato sofrido fica em segundo

plano, mesmo quando eles relatam os episódios de violência eles dizem que fizeram alguma

coisa, mesmo não sabendo o que para justificar a atitude de violência, fiz coisa errada eu

acho ai apanho né, se sabe faiz coisa errada merece, (E-25, E-34, E-39).

Segundo (ASSIS, 1991), no âmbito do lar, a relação estabelecida entre os familiares

num lar violento possui elos que enlaçam todos os seus componentes, não só o ato abusivo,

mas alimentando-o constantemente.

A idéia de que o lar é o local de maior segurança e que confere proteção a criança nem

sempre é correta, pois é dentro dele que a violência ocorre e afeta as crianças e adolescentes

para sempre, prejudicando seu desenvolvimento saudável e seguro,

A violência faz parte da vida de cada criança e adolescente que respondeu a essa

pergunta, é uma violência rotineira sem qualquer motivo aparente por parte deles, e que

deixam marcas profundas de tristeza, e insegurança eles sempre estão à espera de um novo

episódio de espancamento ou de extrema violência por parte de seus pais.

O que fica demonstrado é que mesmo nos dias atuais o desrespeito aos direitos das

crianças e adolescentes existe e que não dá sinais de que venham a acontecer mudanças em
153

médio prazo, o que para as crianças chega a ser desastroso e podem acarretar vários

problemas.

2- Violência contra criança e adolescente

Nesta categoria aparecem o quanto a presença da violência doméstica contra criança e

adolescente se faz presente e como se formam os vínculos entre pais e filhos num cenário de

violência doméstica contra seus filhos.

A questão da violência doméstica contra criança e adolescentes sempre estiveram

presentes na história da humanidade.

As crianças e adolescentes vivem em lares onde a violência esta presente na rotina do

seu dia-a-dia, eles aprendem desde muito cedo que vão apanhar por qualquer razão ou

nenhuma razão apenas apanham, eles tem um comportamento na hora das entrevistas muito

peculiar de quem tem medo de falar e com isso prejudicar seus pais ou a eles mesmos, eles me

pergunto que, se eu responde e fala com você, ninguém vai sabe, não quero ir para o abrigo,

gosto da minha mãe do meu pai, você não fala pa ninguém não, (E-14, E-16, E-39).

Depois que esclareço muito bem que a entrevista ninguém terá acesso apenas eu e que

o nome deles não aprece e que tudo é muito sigiloso, ai sim eles começam a conversar e

respondem muitas vezes até muito mais do que a própria pergunta.

São crianças e adolescentes que vivem em lares onde a falta de tudo, desde o principal

e mais importante que é o amor dos pais, até a falta de comida, copos, de qualquer forma de

lazer e de poder conversar com o pai ou com a mãe.

Muitas dessas crianças e adolescentes vivem em lares onde o pai biológico não está

presente, seus irmãos são cada um de um pai diferente, e aprendem que, tem carinho do pai o

filho biológico verdadeiro, não conheço meu pai, nunca vi ele, meu padrasto só gosta da

minha irmã pa ela ele da tudo, pega no colo da carinho, da abraço apertado eu e os outro
154

não temo nada disso, só pancada, queria te meu pai aqui, pa te carinho (E-43, E-44, E-56, E-

62).

Essas crianças e adolescentes desde muito cedo vivenciam as diferenças de tratamento

entre um e o outro, como apreendem que a vida é muito sofrida e triste, não restando muitas

opções dentro desse contexto, onde a desigualdade de tratamento, a falta de alimento e a

violência esta tão presente que para eles nada tem muita importância, só triste, se peço mais

comida, mais pão, por que é tudo dividido um pedaço pa cada um e ai apanho, e não como, e

tudo triste e choro, (E-43).

2 A- Presença da violência física contra seus filhos

Nesta categoria iremos discutir a questão da violência física contra as crianças e

adolescentes e que é praticada muito mais pela mãe do que pelos pais.

Essas crianças e adolescentes convivem diariamente com esse problema de tal forma

que para eles se torna estranho o dia que eles não apanham e nesse dia eles falam que o dia foi

feliz, apanho todo dia, quebro um copo e minha mãe bate tanto que machuca eu toda, se abri

a boca apanho, eu nem sei pó que mais apanho sempre e já fui pó hospital muitas veiz, o dia

que não apanho so feliz (E-50, E-53, E-62).

A realidade dessas crianças e adolescentes é muito triste, elas vivenciam o abandono

dos pais em vários aspectos, são crianças que já passaram por diversas internações

hospitalares, onde as causas foram as mais diversas, desde a desnutrição até a questão dos

espancamentos dos filhos pelas mães.

Uma das entrevistadas uma menina de 8 anos, me diz muito triste que esta careca, pois

tem tantos piolhos por que a mãe não cata, que ela tem que ficar careca e que já ficou muitas

vezes internada com uma forte anemia em decorrência dos piolhos e dos carrapatos que ela

também sempre teve, ela diz que se sente feia e muito diferentes das outras crianças de sua

idade que tem cabelo.


155

Ela relata que a mãe é tão brava que já esteve até internada para ficar menos brava, é

uma menina de pele bem clara seus cabelos que estão nascendo são bem clarinhos, é uma

criança linda, triste, bem pequena em tamanho, e faz relatos tão doloridos sobre sua vida em

família, e o quanto para ela seria uma felicidade se ela tivesse cabelo, comida, e não

apanhasse.

As crianças e adolescentes que fizeram parte desta pesquisa pertencem a famílias onde

não há nenhuma estrutura que possibilite um desenvolvimento saudável das mesmas, eles

passam por várias formas de violência que seus pais praticam contra eles, desde tapa, até a

violência que leva ao espancamento e a hospitalização.

Essas crianças e adolescentes dizem que gostariam que a vida mudasse no sentido da

violência não fazer mais parte do cotidiano, elas dizem que os pais poderiam mudar o

comportamento deixando de bater tanto neles, minha mãe bate tanto nunca fala, só da tapa

na cara, e queima minha mão (E-65, E-68, E-70).

Essas crianças e adolescentes são pequenos em altura, falam pausadamente, chegam

muitas vezes a chorar, quando começam a falar sobre o quanto apanham, a dor que sentem,

são tristes, vivem em uma realidade que esperam o ano inteiro pelo Natal chegar, por que vão

ganhar doces, festa na escola, e tem uma pessoa no local onde moram que faz festa para as

crianças e adolescentes de famílias carentes do bairro, nessa ocasião eles podem comer a

vontade, beber refrigerante, tem doce e bolo e muitas vezes ainda chegam até a ganharem

presentes, as entrevistas que foram realizadas próxima ao Natal essas falas ficaram bem

evidenciadas e a alegria pelas quais elas esperavam a vinda desse dia, na minha casa a

comida é pouca o leite tem pouco e da pa todos tudo divide, tenho fome, não tem carne e bolo

só como no Natal la na minha vizinha que faiz festa pa gente, ai eu fico feliz esse dia e bom

não apanho em casa, não peço comida e a mãe fica boa (E-45, E-47, E-55).
156

A vida dessas crianças e adolescentes é tão difícil que elas se tornam adultas muito

cedo, com muitas responsabilidades em casa, dão banho nos irmãos, ajudam nas tarefas da

casa, ajudo minha mãe em casa, não posso nem brinca e ainda apanho muito é ruim (E-69,

E-70, E-71).

Eles que vivem nesse ambiente, terão todo seu futuro comprometido, muitos estudos

mostram os graves danos provocados pelos maus tratos e violência sofrida, provocam efeitos

ao longo de sua vida, são mais propícios a cometerem suicídios, (BRYANT e RANGE 1995),

já (BACHAR et al., 1997), mostram que criança e adolescentes que apanham esta associados

a altos níveis de sintomas psiquiátricos e tem um baixo estar geral e também a

comportamentos anti-sociais, (MILLER et al., 1997).

Para GUERRA (2001) a violência contra a criança e o adolescente tem na família sua

ecologia privilegiada a família pertence à esfera do privado, com isso a violência domestica

acaba se revestindo da característica do sigilo (p.32).

Para ANDRADE (2003), o espaço familiar eminentemente privado deixa de sê-lo se a

violência se instala e faz de vitimas seus membros, pois o que esta em jogo é o direito

fundamental das pessoas, de terem uma vida em que a violência não se faça presente, a

proteção e a qualidade de vida para a criança e o adolescente integram os princípios

fundamentais de atenção e direitos, que se encontram legitimizados em documentos

mundialmente conhecidos, e consagrados, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e

do adolescente (1959) e a Convenção Internacional de Direitos da Adolescente.

A violência dentro dos lares demonstra o quanto à família tem problemas que não

aparecem de forma clara devido ao sigilo imposto em relações a fatos que ocorrem dentro de

suas casas, as crianças e adolescentes são quem mais sofre com esse pacto de sigilo, pois se

perde muito com essa atitude, levando essas crianças e adolescentes a viverem uma rotina de

medo e angustia, pois estão sempre a espera de quando terá mais um ato de violência contra
157

elas, são crianças e adolescentes angustiados e muitos são tristes de tal forma que parece que

estão com depressão, minha vida é tão triste eu apanho por que tenho fome, (E-51).

É muito difícil falar sobre a situação familiar envolvida com episódios de violência, os

pais, freqüentemente tem baixa auto-estima muitas vezes vivem isolados socialmente e com

stress, são famílias que possuem muitos problemas e sentem grandes dificuldades para

resolverem seus problemas e conflitos e isso acaba levando a violência contra a criança e

adolescente e os pais acabam usando os filhos para canalizar suas frustrações e angústias,

gerando a violência.

Acredita-se (ALGERI et al., 2006), que o ciclo de violência a que estas crianças e

adolescentes estão expostos diariamente de alguma maneira esta relacionada ao vinculo

afetivo entre pais e filhos e que muitas delas sentem-se ameaçadas, tristes, abandonadas, não

encontrando motivos em sua casa, no seu próprio ambiente, que vivem para crer que de

alguma maneira são importantes para seu pai e sua mãe, estão constantemente submetidas a

violência, apreendem que só dessa forma errada e inadequada existe uma solução para seu

problemas e eles que vivem em ambientes violentos tendem a acreditar que essa é a única

forma de socialização existente e isso além de gerar mais violência, acaba por contribuir para

a manutenção e propagação da violência (PERREIRA, 2005).

Estamos no século XXI e existem a nossa volta crianças e adolescentes que apanham

muito por que tem fome, que realidade está construindo para o futuro, onde se apanha por ter

fome e por outras razões que mesmo quem apanha não sabem.

3- Violência doméstica e a percepção da criança e do adolescente

Nesta categoria será abordada a percepção da criança e do adolescente acerca da

violência que a cerca, como essa violência é percebida e sentida por essas crianças e

adolescentes.
158

Essa categoria irá descrever como são as características desses episódios de violência

e qual é o comportamento dos filhos durante esses episódios que eles presenciam.

As crianças e adolescentes que vivem em famílias onde existem a presença da

violência e elas são observadoras desses episódios, irão sofrer sérias conseqüências

emocionais no seu futuro, JUNQUEIRA (1998, p. 432), diz que, os pais reproduzem os

modelos de educação vividos na infância, uma criança e adolescente que vive ou presencia

atos de violência quando adultos irão produzir esses atos em seus filhos, podendo em seu

futuro vir a ser um autor de maus tratos e violência a criança e adolescente quando se tornar

um adulto (CENTEVILLE et al., 1997, p. 100).

O comportamento das crianças e adolescentes que vivem em ambientes em que há

violência é bem diversificado no sentido dos sentimos que podem acarretar, desde problemas

emocionais e psicossociais, psiquiátricos, retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e de

linguagem, (MIRABAL, 1988; GOLD, 1993; GABEL et al., 1997).

FURNISS (1993), diz que o dano psicológico pode estar associado com a idade de

inicio da violência, quanto tempo de duração, grau ou ameaça de violência, como podemos

observar os danos e as conseqüências de crianças e adolescentes que vivem em ambientes

onde existe a presença da violência é extremamente preocupante por que irá interferir de

forma definitiva no seu futuro, vindo a interferir no adulto que ele deveria vir a ser.

3 A - Características dos episódios de violência

Nesta categoria as crianças e adolescentes se referem ao fato das mães apanharem

sempre e por várias vezes, não é um episódio único, é repetitivo e acontece na presença e na

frente dos filhos.

Os filhos relatam que as mães apanham sempre, minha mãe só apanha, meu pai bate

nela e ela fica doente e machucada, já foi pó hospital, a violência do meu pai pa minha mãe é

todo dia, (E-67, E-68, E-73).


159

As crianças e adolescentes relatam os episódios de violência com uma voz triste e para

eles é um sofrimento ver seus pais brigando e assistirem as ocorrências de violência, para eles

todos esses acontecimentos são prejudiciais e os deixam angustiados.

Nos relatos e nas conversas após o término da entrevista, que foram registrados em um

diário de campo, o que eles mais dizem é que, é muito ruim ver o pai e a mãe brigando, e que

muitas vezes sentem muito medo da situação vivenciada, correm para a rua e chamam a

polícia, foram várias as crianças e adolescentes que relatam que chamam a polícia quando as

brigas têm inicio, mais que isso pouco ajuda, pois a polícia não leva o pai preso e o pai ainda

acaba batendo no filho em decorrência de ter chamado a polícia, com isso os filhos sem ter

muito o que fazer diante da situação que se apresenta, ah chamo a polícia toda veiz que tem

briga, mais não a polícia não faiz nada (E-17).

Percebe-se nas conversas que essas crianças e adolescentes sentem-se completamente

perdidos e divididos no meio das brigas entre os pais, o que para seu desenvolvimento será

desastroso, pois acarretará vários problemas de desenvolvimento, além do que podem

apreender que com a violência se resolve tudo, é difícil para eles entenderem isso de outra

maneira, pois o ambiente e o local onde vivem é repleto de violência e de casos semelhantes

aos que eles vivenciam, a mulher la da rua perto de casa os filhos tão no abrigo, por que a

policia foi la e levo ele, tinha briga igual la em casa, no abrigo é ruim, tenho medo de i pa la

(E-33, E-34, E-41).

As falas dessas crianças e adolescentes deixam evidentes o quanto é difícil viver em

ambientes em que a violência está tão presente, e em função dos locais onde moram seus

amigos, conhecidos e vizinhos tem vivência e experiência muito próxima ou igual a que eles

vivem em suas casas, e com tantos episódios de violência próximos, eles podem sim achar

que assim é que tem que ser, passam a ter tolerância em relação á violência e a dor.
160

(SCHERER et al., 2000), diz que as manifestações tardias na vida de um individuo

que foi vítima de violência é uma correlação forte entre abuso físico e violências familiares e

não familiares no futuro desse individuo, uma maior propensão para a vida criminosa, maior

envolvimento com o uso de substâncias ilícitas, uma tendência maior a auto-mutilação e

comportamento suicida, somatização de algumas doenças, ansiedade, depressão, distúrbios de

personalidade, dissociação e psicose, e problemas nos relacionamentos interpessoais, o que

falta diz ele é, maiores trabalhos, com resultados mais precisos para se ter uma maior exatidão

nos resultados e nos fatos.

Um adolescente (E-26), com 16 anos de idade, que foi participante dessa pesquisa, e

que quando fui buscá-lo em sua casa, juntamente com sua mãe e seus irmãos ele estava muito

triste, angustiado, é um adolescente muito calado, mais a verdade com que ele realizou a

entrevista e conversou nos forneceu preciosos dados, e em contrapartida ao término dos

relatos ele disse que estava muito triste, antes da entrevista e que sua intenção após a

entrevista e a longa conversa que tivemos com mais de duas horas de duração, ele iria se

matar, foram essas as palavras dele, eu to aliviado, saco, foi bom, minha parada com a

senhora feiz eu para e pensa, não vo mais me mata, levantei hoje com essa idéia na cabeça, é

uma parada brava, mais to bem agora, não vou mais me mata, hoje não, valeu meu.

Esse adolescente fez relatos inimagináveis sobre a violência que sofreu sua vida

inteira, desde ficar amarrado em uma cadeira com um fio elétrico, não pode estudar, nem ter

amigos, ficava trancado em casa amarrado quando os pais saíam, levou uma marretada nas

costas, a violência por ele sofrida deixou marcas mais do que profundas.

Mas, para ele o que mais deixou marcas, foram os momentos em que ele viu seu pai

bater na sua mãe, e as inúmeras vezes em que ele chamou a polícia, entrou no meio para

defendê-la, e depois de interferir na briga, ele apanhava que ficava desmaiado pela violência

dos atos de seu pai.


161

Hoje ele diz que, quer morrer, não vê futuro em sua vida, e que não irá mais deixar seu

pai encostar na sua mãe, pois irá interferir na briga e que esta decidido a matá-lo, como forma

de livrar sua mãe dessa tristeza, maldade e dessa vida sem um caminho seguro, sua voz ao

fazer esse relato esta embargada em tristeza, e angustia. Em sua casa a irmã mais velha tentou

matar o pai, com uma foice, ela avançou no pai com a foice nas costas dele, não mato, mais

machuco, e ai o pai tento mata ela, enforcando, o pai foi preso, por tenta mata a filha, minha

irmã tinha 13 anos e o pai ia abusa dela, é por isso que se ele bate na mãe e eu vê, mato ele e

me mato depois. Esses são relatos tristes de um adolescente que não vê em seu futuro nada

que tenha sentido, só a morte para ele será um alívio no seu sofrimento.

O relato desse adolescente não foi o único, outros expressaram a vontade de se matar o

pai, eles não falam cometer suicido (ele fala em se matar no inicio), mas são adolescentes tão

angustiados e tristes e que foram tão afetados pelos episódios de violência que presenciaram

que para eles a vida perdeu o sentido, mais em seus relatos eles deixam bem claro o fato de

não terem nenhuma conduta criminosa, e nem fazem uso de drogas, por terem muito medo da

polícia, tem amigos que já passaram pela FEBEM e eles dizem que não querem essa vida para

eles, pó tenho medo saco os caras são foda batem e sacaneiam to fora disso, quero sim é

morre to triste po, (E-50).

Como pode ser observado acima o efeito da violência é inquestionável e o que mais

fica claro é que para os filhos verem a mãe apanhar dói mais, os sentimentos de raiva e ódio

pelo pai aparecem nos momentos em que a mãe apanha e não quando ele filho é vítima,

apanha dói mais vê minha mãe leva porrada todo dia é foda dói mais ela apanha (E-75, E-

76, E-77).

As crianças e adolescentes recebem e percebem todos os impactos de situações de

desajustes e violência, com isso perdem seus vínculos afetivos e tornam-se adultos agressivos,
162

potencializando cada vez mais situações de violência, situações agressivas (KORN et al.,

1998).

Podemos ter isso mais evidente quando (STRAUS e SMITH, 1995), realizou uma

pesquisa com 8.145 famílias e de acordo com esse estudo os pais que sofreram violência

quando crianças apresentavam índice de violência contra seus filhos duas vezes maiores que

aqueles que não sofreram violência.

(BRANCALHONE et al., 2000), diz que o conceito de criança exposta a violência não

se restringe ao fato de estar presente no episódio de violência, abrangendo essa condição por

completo, ou seja para estar exposta a violência é suficiente a criança e o adolescente tenha

uma mãe que é agredida pelo seu marido ou companheiro.

Segundo (JOURILES et al., 2001), a criança e o adolescente nem precisam observar

ou ver a agressão e violência que sua mãe sofre, para ser afetada por ela.

A presença da violência faz com que criança e adolescente sintam medo e ansiedade e

outros problemas como já foi dito anteriormente.

3 B- Papel ativo dos filhos nos episódios de violência

Nesta categoria será discutida a forma como os filhos reagem aos episódios de

violência que eles presenciam entre seus pais.

Ah, eu entro no meio, jogo água, pego a vassoura e bato nele grito pa ele para, não

faiz isso com a mãe, solta ela, e bato a vassoura na cabeça dele, (E-60, E-65, E-66)

Essas são falas que demonstram claramente o papel dos filhos nos momentos em que a

violência começa e no transcorrer dos atos, e o que se percebe é que os filhos têm um papel

ativo e participativo nos atos da violência eles ficam totalmente inseridos nos problemas dos

pais e vivenciando essas ocorrências, e o que não se pode esquecer é que são crianças e

adolescentes que estão em pleno desenvolvimento intelectual e cognitivo e necessitam tanto

de atenção, carinho, proteção e serem educados e socializados para a vida.


163

Mas, nesse momento de suas vidas eles estão preocupados, ansiosos vivendo o

momento em que novos episódios de violência entre seus pais, irá começar e o que farão para

ajudar, são crianças que tem problemas para dormir por medo de acordarem e os pais estarem

brigando, não tenho sono, tenho medo de dormi, e não ouvi a briga, (E-75).

As crianças e os adolescentes interferem de forma bem ativa nos episódios de

violência entre seus pais, essa não é conduta nem o papel a ser desempenhado pelos filhos,

mas eles fazem isso de forma bem ativa, e interferem a maneira deles a moda deles, do jeito

que naquele momento for mais fácil de acabar com o sofrimento e dor da mãe como a dor que

eles sentem por presenciar essas situações.

Para eles dói muito verem a mãe apanhar, ficar machucada na frente deles, eu chamo a

polícia e jogo água nele, chamo ele de covarde e falo mãe manda ele embora, (E-24, E-27, E-

31). Para essas crianças e adolescentes a vida em família envolta em episódios de violência

diuturnamente, para seu desenvolvimento é extremamente danoso para todo seu futuro.

As formas que os filhos interferem nos episódios de violência são vários que vai desde

chamar a polícia, os avós que moram na casa em frente, até a interferência onde eles entram

no meio da briga, eu entro no meio dos tapas e chutes, abraço a mãe e apanho junto, (E-22,

E-30, E-40), como podemos observar o filho que interfere na violência dos pais entrando no

meio das brigas apanha junto, essa atitude além de ser mais perigosa, deixa o filho com uma

sensação maior de impotência, por que o pai continua a bater na mãe e agora também no filho,

sem se importar com nenhum dos dois, é triste apanha e apanha com mãe, (E-13, E-17, E-

66).

A vida dessas crianças e adolescentes desde muito cedo esta permeada por contatos

com a polícia, hospital, e ver a mãe machucada ou ferida pelas brigas e cenas de violência, a

interferência dos filhos nessa situação coloca a vida dos mesmos em mais uma situação de

riscos além das que já existe a violência contra os filhos de forma bem efetiva pelos pais
164

contra eles, principalmente a mãe, que é quem mais agride seus filhos, e ironicamente seus

filhos a defendem tanto, interferindo nos episódios de violência do seu pai contra a mãe.

3 C- Papel passivo dos filhos nos episódios de violência

Nesta categoria iremos discutir as respostas em que os entrevistados dizem que sentem

medo e insegurança em relação aos episódios de violência que eles assistem, e o quanto se

sente impotente diante da situação vivenciada.

As crianças e os adolescentes ao falarem sobre os episódios de violência que assistem

em casa decorrente das brigas e discussões entre seus pais, falam com tristeza e medo, e para

eles é muito difícil assistir por que sentem se impotentes, não tem o que faze ne, choro e fico

quieto olhando tenho muito medo, faze o que, nada tem pa faze (E-27, E-51, E-37, E-56).

A partir dessas falas percebe-se o quanto eles se tornam passivos diante do que

assistem e o quanto isto os deixa paralisados e sem ação diante do que vêem e presenciam

diante de seus olhos, são crianças e adolescentes que nesse momento experimentam um

sentimento de impotência de imobilidade e surpresa diante do medo que estão em ver o que

ocorre com a mãe e com o medo de perdê-la em decorrência dos ferimentos ou até mesmo

pelo fato da mãe ir embora, como ela sempre diz aos filhos.

São muito pequenos para ter esse tipo de problema e de experiência de vida, ao qual

nunca esqueceram, são crianças e adolescentes que vivem em lares onde há presença da

violência deixa a marca da insegurança e do medo.

Não existem relatos de pesquisas em que tenham dados como esses descritos se

referindo ao fato dos filhos assistirem e interferirem nos episódios de violência, não se pode

saber nesse momento qual será o efeito a curto e em longo prazo, o que essas crianças e

adolescentes, terão como efeito em seu estado emocional e psíquico diante de vivências tão

negativas.
165

Para as crianças e adolescentes segundo a literatura, (MUZA, 1994; PASCOLAT,

2001; MINAYO, 2001; BRITO, 2005) as conseqüências negativas da vivência de abusos e

violência são inúmeras e inquestionáveis, desde orgânicas ate emocionais e psicossociais,

destacamos de modo gerais danos relativos ao sistema neurológico, emocional, intelectual,

baixo auto-estima, comportamento agressivo, isolamento, dificuldade de convivência com

seus pares, depressão, pensamentos de suicídio, de homicídios, sentimento de culpa,

prostituição, rejeição (FERREIRA, 2000; GOMES, 2002; DAY, 2003).

Os efeitos são muitos e comprometem o desenvolvimento desses filhos para sempre, é

na família que a criança começa a aprender a viver em grupo, a entender as diferenças

individuais, e ter segurança para conviver em sociedade; e, para que isso ocorra de maneira

saudável, torna-se imprescindível que a família dê subsídios e segurança para que a criança se

desenvolva de forma natural e saudável.

Pensando nessa colocação (PEREZ et al., 1994) falam da importância que é para a

criança seus primeiros anos de vida em família e como isso será determinante em seu

desenvolvimento, “a família se converte em nicho de desenvolvimento”, onde devem ser

encontradas todas as condições matérias e de socialização para ela, dando-lhe recursos

internos para aprender e se socializar.

Segundo, BIASOLI-ALVES (1997, 1998, 1999a, 2001), o desenvolvimento acontece

segundo um processo bi-direcional, em que a criança está sendo socializada, mas também

interfere, levando os adultos a aprenderem como lidar com ela, o que significa que as

gerações mais novas e mais velhas aprendem uma com a outra, enquanto a criança adquire

comportamentos compatíveis com o esperado pelos adultos socializados, estes vão

gradativamente assimilando as formas e maneiras mais produtivas de educá-la.


166

Por outro lado, é também importante enfatizar que os adultos significativos são

modelos para a criança, ou seja, ela adquire muitos comportamentos tomando por base a

forma de os pais agirem com elas e com as pessoas próximas da família.

4- Propondo soluções para as questões referentes à violência

Nesta categoria serão discutidos os problemas pelos quais as crianças e os

adolescentes vivem em decorrência da violência na família, como são os episódios de

violência contra a mãe que eles assistem e participam interferindo no mesmo.

Qual a percepção das crianças e adolescentes para a questão da violência dos pais

contra os filhos e na percepção deles qual deve ser o caminho para existir qualidade de vida

em família.

4-A- Presença da bebida nos episódios de violência

Nesta categoria as respostas das crianças e adolescentes vão direto ao fato de dizerem

que a violência em sua casa só existe por que o pai e a mãe bebem muito pinga, se eles não

bebessem não tinha isso (E-49, E-56, E-61), a bebida para eles desencadeiam os episódios de

violência ah, meu pai para de bebe cachaça ele fica bonzinho, quando ele bebe apanho de

pau e quebra tudo, a bebida faiz ele fica loco (E-30, E-32, E-47).

Para eles a violência e o quanto eles apanham esta ligado a bebida, pois eles vêem o

pai chegar bêbado em casa ou pedir para que eles comprem a bebida, eu compo a cachaça ai

tem briga, (F-65), minha mãe bebe de cai, já fui busca ela caída suja na esquina a cachaça

faiz isso, (E-27, E-33, E-59, E-77).

No entendimento dessas crianças e adolescentes a bebida é quem transforma suas

famílias em pessoas violentas, que contribui para a falta ou ausência completa de comida, eles

se referem muito a falta de alimentos, não terem tanto alimentos disponíveis e tudo tem que

ser dividido ou apenas ir dormir com fome, minha barriga dói, choro, minha mãe e meu pai
167

ta la caído com a cachaça na cabeça e eu tenho dor na barriga de fome (E-35, E-41, E-53, E-

68, E-71).

Para eles se os pais deixarem de beber o cotidiano de suas vidas irá melhorar em todos

os aspectos, pois vivem em famílias onde há a presença da bebida, desemprego, violência e

tudo isso para eles é causado por que os pais bebem cachaça ou chegam à casa bêbados.

Os pais pedem aos filhos para que compre a cachaça no bar, essa atitude para os filhos

é desastrosa, pois eles estão indo buscar o que causa a eles e aos próprios pais tristeza, dor,

violência, e atos impensados por parte de sua família.

O álcool aparece em pesquisas como sendo um dos desencadeantes das situações de

violência (JONG, 2000; CONRADO, 2001), é claro que o álcool faz com que o agressor

tenha perda de controle temporária (SAGIM, 2003), e CONRADO (2001) e LANGLEY e

LEVY (1980), diz que não fica claro por que os homens e mulheres bebem, se isso não ocorre

para que tenham uma forma de permissão social para praticar a violência e arrumar uma

desculpa pelo seu ato.

São vários os estudos que buscam possíveis explicações para as questões que se

referem á violência, GUERRA (1985) analisando famílias com a presença da violência diz

que a drogadição especialmente o álcool, tem desempenho importante nos episódios de

violência tanto naquela que se refere às mães quanto a seus filhos, (GIOVANI et al., 1982;

MONTEIRO, 1992), dizem que o álcool é um importante fator desencadeante de violência.

As crianças e os adolescentes percebem a importância do álcool nos episódios de

violência, e por essa razão quando menciona, o que gostariam que ocorresse de mudanças em

sua casa, a presença da bebida aparece em primeiro lugar, eu queria que meu pai parasse de

bebe e ficasse bonzinho, (F-70, F-69, F-50, F-47), ele é apontado pelas crianças e adolescentes

como o principal problema no contexto familiar capaz de gerar brigas e violência, mas, não
168

existem dados de pesquisa que venham a validar essa colocação por parte das crianças e

adolescentes que vivenciam essa problemática.

Segundo diz, (GOMES et al., 2006), em um estudo realizado as vitimas de violência

em 41% relatam que seu agressor não estava sob efeito do álcool no momento da violência,

existem outros estudo realizados no México, (ORTEGA et al., 2001) e no Chile,

(VIZCARRA et al., 2001), esses estudo apontam que não foi possível ao contrário do que se

esperava, se encontrar no uso do álcool um predisponente para suscitar a violência.

Nesse estudo não prevaleceu nas questões de violência doméstica contra a mulher e

seus filhos, a presença do álcool, eles esclarecem que esses resultados podem estar

subestimados, pois parte das vítimas não desconheciam o uso do álcool ou não havia em seus

prontuários essa resposta.

Não fica claro realmente a importância do álcool em episódios de violência, mas para

as crianças e adolescentes que vivem e vivenciam os episódios de violência e sentem na

própria pele e corpo os efeitos disso em seu cotidiano, a percepção clara deles é que sem a

bebida, no caso a cachaça, pinga, como eles falam a vida ficaria melhor.

4-B- Presença do ciúme como sendo um dos motivos para a violência

Nesta categoria iremos abordar a questão do ciúme como um dos motivos que levem a

episódios de violência, segundo os relatos das crianças e adolescentes o ciúme do pai pela

mãe ou da mãe pelo pai, sempre é motivo de briga e violência, meu pai e ciumento demais

qualque coisa bate na mãe, tem ciúme de tudo se ela atrasa do serviço, ele fica dizendo que ta

levando chifre, que a mãe ta traindo ele, é o ciúme dela, (E-21, E-24, E-38).

Para eles o ciúme acaba levando a discussões e essas se transformam em violência que

de certa maneira acaba também por envolvê-los, pois a partir do momento que eles interferem

na violência dos pais, acabam por apanhar junto, e se o pai deixasse de ser ciumento, na

percepção deles a violência não teria inicio, minha mãe e meu pai briga muito, minha mãe
169

tem ciúme da vizinha meu pai não pode oia po lado da casa da vizinha que a mãe parti pa

briga, chama a muie de macaca fedida, já foi presa por causa disso, tiro a roupa e abriu a

perna pa muie olha e sabe que ela é muie também ai foi presa, e nois fomos tudo po abrigo,

tudo por causa do ciúme, a mãe é boa mais bebe cachaça e briga muito por causa do pai,

morre de ciúme dele e so faiz baixaria (E-62, E-64, E-65, E-66).

Esses relatos são de uma família onde o casal teve 13 filhos e a casa e a família é

completamente carente de todos os recursos possíveis e inimagináveis, são crianças e

adolescentes que vivem na rua, jogados de lá para cá, não tomam banho, vivem sujos, alguns

freqüentam a escola, outros não, vão regularmente ao núcleo, os pais bebem muita pinga, e a

pinga faz parte da rotina de ambos.

Quando a violência tem inicio os filhos fazem tudo o que é possível são muitas as

interferências possíveis para que a mesma cesse, chamam a policia inúmeras vezes, até o dia

em que a polícia resolveu levar os pais presos em decorrência da violência entre o casal e os

filhos que entravam no meio para que tudo acabasse e até as brigas dos vizinhos, todos os

filhos foram para o abrigo e lá dizem eles que é muito pior do que na sua casa, pois apanham

dos outros, dormem no chão e sentem muito mais medo e desamparo do que em casa, junto

dos pais,eles briga, bebe pinga, tem um ciúme do outro pa morre briga até de olha po lado,

mas se gosta e gosta de nois, tem que o ciúme não acontece e a pinga para, (E-62, E-63, E-

64, E-65).

Esses são relatos de crianças e adolescentes que percebem a violência como sendo

fruto do ciúme entre seus pais, e que a não existência dele, á vida seria boa e tranqüila, sem

nenhuma intercorrência, o cenário familiar só é problemático devido à presença do ciúme, na

percepção dessas crianças e adolescentes todo o problema de sua família se resume ao ciúme,

e é o que eles insistem durante todo o transcorrer da entrevista.


170

Não há uma comprovação efetiva de que realmente a percepção dessas crianças e

adolescentes estejam certos, necessitam-se de estudos para obtermos maiores informações

sobre essa informação, SAGIM (2003), observou em relatos de Boletim de Ocorrência em

uma Delegacia de Atendimento a Mulher, que a presença do ciúme estava presente em quase

sua totalidade nos episódios de violência doméstica contra a mulher e também contra os

filhos.

A questão do ciúme também aparece como um dos motivos para desencadear

episódios de violência, a criança e o adolescente que presencia as cenas de ciúme entre seus

pais e logo a seguir os episódios de violência tem inicio eles realmente associam o ciúme

como forma de violência em sua casa e contra sua própria mãe e seus filhos.

4-C- Presença do desemprego como motivo de violência.

Nesta categoria iremos discutir o desemprego como forma de causar episódios de

violência na percepção das crianças e dos adolescentes.

Para eles o fato de os pais não trabalharem e ficarem diariamente em casa sem fazer

nada apenas bebendo pinga, xingando e a mãe saindo para ir trabalhar e voltando sempre ao

iniciar a noite, e quando chega sempre tem discussões e brigas que acaba gerando violência,

para eles como o pai passa os dias sem fazer nada, isso já causaria motivos para violência.

As crianças e adolescentes dizem que, o pai fica em casa não faiz nada, não traiz

dinheiro, nem comida, ele tem que trabaia (E-14, E-17, E-22, E-25), eles associam a idéia de

ver o pai em casa sem fazer nada e quando a mãe chega do trabalho cansada eles brigam.

Em relação ao desemprego pesquisas indicam que esta associado á episódios de

violência (BRITO et al., 2005), mas ainda não há estudos suficientes que deixem a associação

entre desemprego e violência contra a mulher e seus filhos.

Nesta categoria não é possível discuti-la de maneira mais ampla, pois não temos dados

suficientes na argumentação do desemprego ser de um dos motivos que levam a violência, os


171

dados das entrevistas nos remetem a falas em que as crianças e adolescentes dizem que a falta

de um trabalho para o pai é o que faz ele cometer os atos de violência contra a mãe e contra

seus filhos, para eles a desocupação do pai gera violência.

4- Resultados e Discussão - Desenhos

A metodologia utilizada na aplicação dos onze desenhos para as crianças e

adolescentes foi há de uma entrevista estruturada contendo três questões fechadas.

Para todos os desenhos foram feitas três perguntas a seguir; para as crianças e

adolescentes.

1- O que acontece neste desenho

2- Por que você acha que as crianças estão se comportando assim.

3- O que mais você tem a falar sobre este desenho

O procedimento para realização deste instrumento foi de que cada desenho fosse

apresentado da mesma maneira, iniciando-se pelo primeiro desenho e na seqüência de cada

desenho até o último.

Os desenhos foram todos pensados em situações familiares onde há criança e o

adolescente pudesse observar os momentos e o cotidiano de uma família em vários momentos

do dia-a-dia, sob várias perspectivas.

O desenho 1- Criança jantando em família, neste desenho existe uma família reunida

jantando.

O desenho 2- O pai esta contando uma história para seu filho na cama enquanto ele

não dorme.

O desenho 3- Irmã mais velha dando banho na irmã menor.

O desenho 4- A mãe esta saindo e a filha esta sozinha em casa.

O desenho 5- A mãe esta batendo na filha para educá-la.

O desenho 6- A criança agradece ao livro emprestado pelo professor.


172

O desenho 7- O menino mal-educado, diante do pai.

O desenho 8- O menino quebra o brinquedo que ganhou do pai.

O desenho 9- Amenina mal-educada com a mãe.

O desenho 10- O menino briga no colégio.

O desenho 11- Menino briga com violência.

Todas as respostas foram anotadas e categorizadas a seguir.

Foi pensada uma tabela onde se engloba todas as categorias identificadas nos

desenhos, tendo como objetivo facilitar a identificação das categorias e o melhor

entendimento delas.

Tabela 5 -Categorias e porcentagens referentes aos desenhos apresentados á crianças e adolescentes


1- O que acontece neste desenho
A- Descrição do desenho
2-Por que as crianças e adolescentes se comportam assim
A- Comportamento da criança e do adolescente
3-O que você tem a falar mais sobre este desenho
A- Sentimentos em relação ao desenho

As crianças e adolescentes ao responderem sobre os desenhos sempre o fizeram

emitindo uma descrição do desenho como ocorreu na questão de número um, ou se referem ao

comportamento da criança na questão dois, comportamento este que pode ser adequado ou

inadequado, e na questão três todas as respostas expressam sentimentos a respeito do desenho,

esses sentimentos tanto podem ser positivos como negativo, mas a totalidades das respostas

são expressões de sentimentos.

A seguir os resultados e discussão referentes aos desenhos aplicados as crianças e aos

adolescentes.

Desenho 1
173

1- O que acontece neste desenho

A- Descrição do desenho ou da situação apresentada no desenho pela criança e

adolescente.
174

O desenho número um, como pode ser observado acima, ser refere a uma família

reunida á mesa jantando e o pai dizendo aos filhos para irem escovar os dentes e depois irem

dormir.

Ao observar este desenho às crianças e adolescentes fizeram uma descrição do que

estavam vendo, é uma família jantando (E-3), todas as respostas estão centradas na descrição

da família do desenho ou do que eles estavam observando como sendo algo mais significativo

ou importante para eles, a família é bonita, tem prato, colhe e faca, na minha casa não tem

isso não (E-6, E-8, E-13).

Essas observações talvez sejam mais significativas, pois além de emitir uma opinião

sobre o cotidiano de sua família a criança e o adolescente faz observações sobre o fato da

família em questão no desenho ter prato, colher, e associarem ao fato de que a família de

origem não tem, isso para eles de certa forma marca como sendo algo importante, por que em

muitas ocasiões durante a entrevista ou na conversa que antecede a coleta de dados, eles

sempre mencionam que se eles quebrarem um copo, ou prato eles sempre apanham muito, e

quando eles mencionam o fato de que a família do desenho é bonita e tem prato e colher,

talvez seja por que em seu cotidiano isso são utensílios que dispõem de muito valor, que

quando se quebra eles apanham e também por que nem todos os entrevistados possuem em

suas casas pratos, garfos e copos para todos os membros da família.

Em relação aos desenhos a pergunta número um todos os resultados estão centrados

em uma descrição do que se vê em cada desenho


175

Desenho 2
176

2- Por que as crianças e adolescentes se comportam assim

A- Comportamento da criança e do adolescente

Nesta categoria iremos discutir as respostas das crianças e dos adolescentes e que

estão centradas no comportamento da criança e do adolescente, como tendo atitudes de

comportamento adequado ou inadequado diante de cada desenho apresentado.

Todas as respostas emitidas nos onze desenhos essa categoria esta presente.

Como pode ser observado na página anterior o desenho dois, refere-se a um pai

contando história para seu filho deitado na cama enquanto o mesmo não adormece.

As respostas dadas a essa questão foi no sentido de emitir uma opinião sobre o

comportamento da criança do desenho, como sendo uma criança boa, e por isso o pai é bom.

O interessante é que as crianças e os adolescentes sempre se referem à criança do

desenho, como sendo ela boa de bom comportamento e seu pai um homem bom, talvez esses

fatos apareçam por que os participantes não vivenciam essa experiência com relação a seu pai,

o modelo de pai dos participantes, é de um pai violento, que bebe, bate nos filhos e na mãe.

Esse modelo de pai do desenho, para eles esta muito longe da realidade vivida no seu

cotidiano, talvez seja essa a razão pela qual aparecem respostas mencionando o

comportamento adequado da criança e do pai no desenho, a criança é comportada, não faiz

nada di errado, o pai dele é bom, o meu pai é ruim, (E-27, E-31, E-39), essas respostas vão de

encontro com o que lhes falta em sua própria casa, em seu cotidiano em família.

Essas crianças e adolescentes não possuem um modelo de família que se assemelhe ao

desenho, e quando vêem o que um pai pode fazer pelo seu filho mencionam como a criança

no desenho é boa e como seu pai, não que ela seja ruim e seu pai não seja um bom pai, para

ela o pai não é assim, e não faz nada disso, e para ela ver esse desenho o entristece muito.

Na apresentação desses desenhos no geral, em alguns momentos teve crianças e

adolescentes que choraram ao ver o desenho e disseram o quanto gostariam de ter um pai
177

como aquele do desenho, meu pai não é assim, podia, queria isso pa mim, queria um pai

bonzinho, queria isso (E-30, E-35, E-45), para essas crianças e adolescentes se depararem

com essa situação familiar de afeto, apego do pai pelo filho, é muito difícil e por isso muitos

choram e apesar do choro não quiseram deixar de ver os desenhos, mas, o que mais tocou

cada participante foram os desenhos.

Em relação ao desenho do pai contando histórias, as crianças e adolescentes ficam

muito tocadas também com o fato do pai da criança do desenho saber ler, pois eles

mencionam depois de responder sobre o desenho eles dizem que o pai deles não sabem ler

nem escrever e que muitos tem até dificuldade de conhecer dinheiro, meu pai não sabe le, ele

nem sabe fala direito, nunca foi na escola, meu pai ta longe, ta preso, não sabe le, (E-37, E-

41, E-46).

As crianças e adolescentes quando terminam a entrevista outro fato chama atenção em

todos os desenhos apresentados, eles referem se ao fato dos desenhos apresentarem famílias

bonitas, as crianças do desenho são bonitas, com roupas bonitas, o quarto e a casa delas é

bonita a minha não é, nem tenho um quarto so pa mim, (E-47, E-51, E-56).

Para essas crianças e adolescentes o desenho é uma realidade que eles não têm uma

vida que eles desconhecem pai e mãe presentes, família unida a mesa, eles não tem nada disso

e se ressentem muito, a realidade para eles é muito difícil, diferente, e muitas vezes dolorida.
178

Desenho 3

O desenho acima refere-se a duas irmãs, a irmã maior dando banho na irmã menor, as

respostas são sempre no sentido de dizer o quanto o comportamento da irmã maior é boa e o

quanto ela ajuda a mãe nos afazeres domésticos.

Os participantes dizem que, a irmã é boa, e ajuda a mãe (E-49, E-55), o que ressalta

comportamento adequado da irmã mais velha, em muitos momentos os participantes dizem


179

que eles fazem o que o desenho demonstra, eu do banho nos irmanzinho menor, faço isso

todo dia se não apanho, (E-61,E-72).

As respostas estão centradas no comportamento adequado da irmã mais velha dando

banho na irmã menor, isso para os participantes é algo próximo que diz muito a respeito do

seu cotidiano, pois as meninas disseram que realizam essa tarefa em casa para ajudar as mães

nas tarefas domésticas, elas elogiam a menina do desenho como sendo, boa, bonita e muito

comportada.

Quando observa esse desenho as crianças e adolescentes fazem elogios para o quanto a

menina tem um comportamento adequado ajudando em casa e elas também tem, pois

ajudando a mãe e se colocam no desenho, olham para o desenho e relatam episódios do dia-a-

dia que vivenciam e o como a mãe ensinou a elas a dar banho e cuidar da irmã menor, quando

elas vêem o desenho se sentem bem, pois tem uma situação no desenho que faz parte de seu

cotidiano.

Essas crianças e adolescentes desde muito cedo aprendem a ajudar nas tarefas

domésticas, pois as mães trabalham fora e são muitos os irmãos que elas têm e a ajuda da irmã

mais velha sempre faz parte da vida de cada uma delas.

Quando observa o desenho elas ficam até felizes, se vêem na situação do desenho de

forma muito positiva.

Nesse desenho o que se destaca sempre é o comportamento adequado da criança do

desenho e que para a realidade dos participantes desta pesquisa é algo presente no seu

cotidiano e de forma muito positiva vista por eles, pois eles se vêem retratados no desenho.
180

Desenho 4 -A mãe esta saindo de casa

O desenho acima é o número quarto e se refere à mãe saindo de casa e a filha

chamando por ela.

Neste desenho as crianças e adolescentes se referem ao comportamento da mãe como

sendo errado, um comportamento inadequado da mãe por deixar a filha sozinha em casa e isso

para eles é muito significativo mais de maneira negativa, pois eles vivenciam isso no dia-a-

dia, e para eles a mãe é ruim, eles vivem isso diariamente e para eles o desenho mostrou algo
181

triste a eles, Ah, mãe faiz isso me deixa, diz que não vai volta, fala que vai embora e não volta

mais, vai deixa nois, a mãe é ruim, não pode se assim (E-27, E-33, E-43, E-54, E-64, E-71).

O que pode ser observado é que as respostas vão de encontro com o cotidiano dos

participantes, que vivenciam essa realidade e em alguns momentos esquecem que vêem um

desenho, mais sim se colocam como sendo eles no desenho, retratando a vida que tem em

casa com suas famílias.

Esse desenho é muito importante para eles, pois remetem de forma integral á vida que

eles tem e que não esquecem, o participante (E-48), um adolescente de 16 anos ao olhar esse

desenho, lembrou-se quantas vezes em sua infância foi deixado em casa sozinho, e com os

olhos cheios de lagrimas ele disse que, no desenho a mãe não podia faze isso, a filha sofre,

dói, da medo, a mãe dizia não vo volta, vo deixa você po seu pai, você é ruim não chora

menino, não volto. Para ele esse desenho lembra sua infância e momentos difíceis que ele

vivenciou e não esqueceu e isso foi muito difícil de ser visto e lembrado, pois ele chorou,

pediu desculpas por estar chorando, mas que era difícil lembrar-se do passado, sem chorar dos

momentos tão tristes, esse adolescente já tentou o suicídio uma vez, e durante nossa conversa

disse que são essas lembranças que fazem ter vontade de morrer.

Todos os participantes ao falarem sobre esse desenho ressaltam o comportamento

inadequado da mãe ao deixar a filha sozinha, essa é a realidade que eles vivenciam e que tanto

deixa marca, eles sentem se inseguros e com medo de um desenho.

O desenho os faz lembrar que a mãe faz isso e diz que vai embora e irá abandoná-los

com o pai, o que para muitos deles é algo extremamente ruim e doloroso.

Essas crianças e adolescentes vivem no seu cotidiano, episódios de tristeza, angustia e

medo, medo do abandono da mãe, medo de como a mãe vai estar quando chegar, até o

momento que a mãe não retornou para casa, vindo do trabalho, eles ficam ansiosos, nervosos

e tristes, pois ao sair à mãe disse que não sabia se iria voltar.
182

Desenho 5 -A mãe batendo na criança

O desenho acima de numero 5 representa a mãe batendo em sua filha, ela não

obedeceu e por essa razão esta apanhando.

A categoria de resposta foi no sentido de ressaltarem o comportamento inadequado

da mãe ao bater na filha e o comportamento inadequado da filha por não obedecer à mãe.

Um resultado interessante aparece nesse momento, é a questão das crianças e

adolescentes ao verem o desenho emitem valores ao papel da criança como sendo ela uma

criança ruim e fez coisa errada tem que apanha (E-44, E-46, E-56, E-58), elas ao

observarem esse desenho, discorrem sobre o papel da criança e não sobre a atitude da mãe,

elas se referem ao fato da criança ser ruim e merece apanhar, ao falarem isso, talvez elas

estejam inferindo suas ações sobre o desenho se colocando no desenho e emitindo valores,

ou elas acreditam que o fato de a mãe bater na filha não é um ato de prática de educação, e

sim que a filha merece por ser ruim e fazer algo errado, se faz algo errado a conseqüência é

apanhar e a mãe esta certa, pois é isso que o dia-a-dia dessas crianças e adolescentes mostra.
183

Alguns participantes se referem a esse desenho dizendo que o comportamento da

mãe é inadequado não é batendo que a filha vai entender, portanto a mãe é ruim, essas

crianças e adolescentes vivenciam isso diariamente.

O comportamento da mãe para eles é inadequado, em ambas as falas as crianças e

adolescentes se referem ao desenho, como sendo uma situação vivenciada por eles, o

desenho mostra a mãe batendo na filha, eles vêem a mãe sendo ruim, eles não conseguem

observar apenas o desenho, eles se colocam no desenho, minha mãe é assim, isso é sempre

comigo assim, minha mãe é assim (E-12, E-29, E-39).

Para eles o que importa é que vivem isso no dia-a-dia, e é algo ruim e que deixa

marcas, quando se referem ao fato de ser assim em suas casas com suas mães, a voz, o

semblante da criança e do adolescente se transforma, ficam triste, alguns iniciam um choro,

falam que a mãe age dessa maneira sempre, apanho e nem sei por que, (E-55).

Essas são crianças e adolescentes que se sentem desprotegidos e que a forma como

são tratados em casa por sua mãe deixa os triste e para eles o comportamento é sempre de

alguém ruim, por isso se referem ao desenho como sendo a mãe ruim, ou culpam a criança

pela forma como a mãe esta agindo, neste caso a mãe passa a ter um comportamento

adequado e a criança que apanha um comportamento inadequado, ela merece apanhar fez

coisa errada (E-33, E-42), essas crianças e adolescentes estão no início de suas vidas de seu

desenvolvimento, é já viveram situações difíceis e dolorosas que irão deixar marcas, pois só

de olhar o desenho eles ficam tristes, e alguns dizem isso é assim, minha vida assim so

tristeza (E-11, E-21).

São crianças e adolescentes que deveriam estar tendo um desenvolvimento saudável

pleno, seguro e não tendo emoções tão negativas ao olhar um desenho e ver a sua vida ali

retratada.
184

Desenho 6 -A criança agradece ao professor o livro emprestado

No desenho acima podemos observar a aluna devolvendo ao professor o livro que ele

lhe emprestou, neste desenho as respostas foram no sentido de dizer o quanto comportamento

da aluna estava adequado, correto o quanto ela era educada.


185

Os pais ensinam a ser assim educada, bem bonita, lembram sempre que, a roupa da

menina é muito bonita e a menina também, e que esse comportamento é por que o pai e a mãe

ensinaram, para os participantes o comportamento dos pais na educação da menina é

imprescindível para que ela aprenda a ser assim tão educada, o pai e a mãe ensina, ela tem

respeito e educação (E-32, E-41, E-54).

Para eles o fato de esse desenho apresentar uma menina educada, isso tem muito a ver

com o comportamento dos pais em relação a ensinarem a filha ter respeito e educação com os

mais velhos, os pais são educados e ensinam aos filhos, se referem a isso de forma que

deixam claro que seus pais não fazem isso, não tem essa conduta por não terem educação se

não tem educação como transmitir isso a seus filhos.

Os pais ensinam aos filhos o que eles sabem o meu pai não sabe se educado é ruim

(E-12, E-68, E-75), essas crianças e adolescentes vivem com famílias que apenas gritam e

xingam não sabem conversar e falar baixo, a mãe grita na escola, não tem respeito não, e não

ensina ne (E-26, E-31, E-54).

Eles se referem á educação e respeito como sendo um comportamento aprendido em

casa com os pais, se os pais não têm educação e nem respeito pelos outros, conversam

gritando e xingando, como vão ensinar aos filhos serem educados e terem respeito pelo outro

como a menina do desenho apresenta.

Este desenho remete as crianças e adolescentes a situações de impotência dos seus pais

em serem melhor diante dos filhos, ensinando-os a serem educados e terem respeito pelos

outros, para eles é muito difícil ver isso retratado num desenho, e mostrar a eles como é difícil

ter uma família onde o comportamento é tão diferente daquele vivenciado nos desenhos

apresentados, isso mexe profundamente com suas emoções e eles acabam ficando tristes.
186

Desenho 7 -O menino mal educado

O desenho sete, o menino esta sendo mal-educado, neste desenho as respostas são no

sentido do comportamento do pai em ensinar ao filho a brigar o que ressalta o comportamento

inadequado do pai frente à educação dos filhos.

As crianças e adolescentes se referem ao desenho como sendo o comportamento da

criança algo ensinado e apreendido por exemplos que o pai dá aos filhos em casa, o pai ensina
187

a briga, a mãe e o pai ensina a se assim, vê briga em casa aprende ne (E-67, E-73, E-76),

para eles fica muito claro que o comportamento inadequado dos pais leva ao comportamento

inadequado da criança.

O que mais surpreende é o fato do desenho em nenhum momento inferir se o pai

ensina o filho a brigar ou não, o desenho mostra o pai dizendo ao filho que ele era mal-

educado, e as crianças e adolescentes entendem isso como sendo um comportamento

inadequado do pai no sentido em que ensina ou demonstra com atitudes que a briga e a

violência são o caminho para resolver as coisas.

O desenho em nenhum sentido inferiu nada a respeito do comportamento dos pais,

mas os filhos que entrevistamos estão tão envolvidos em cenários onde as brigas e discussões

e violência fazem parte do seu dia-a-dia, que para eles o comportamento da criança é

inadequado e que ela apreendeu com o pai a ser assim.

As cenas de violência estão tão inseridas na vida dessas crianças e adolescentes que

para eles o que eles assistem, vivenciam, percebem e sentem na própria pele esta interferindo

para que eles possam a ver o desenho como um desenho, e não como um fato que acontece

com eles e que o comportamento deles esta inserido na vida em família que eles tem.

É importante ressaltar que essas crianças e adolescentes crêem que seus atos, atitudes

esta relacionado com sua vivencia e experiências familiares a que estão expostos diariamente.
188

Desenho 8 -O menino quebra o brinquedo

O desenho acima nos mostra o pai dizendo ao filho para não quebrar o brinquedo, as

crianças e adolescentes disseram que o comportamento do pai é inadequado, e que a criança

apreende a fazer o que vê em casa, vê o pai faze isso e faiz igual (E-14).

Essas crianças e adolescentes assistem a cenas de violência em que o pai quebra os

objetos dentro de casa, jogando tudo na parede e quebrando tudo em cenas de extrema

violência, e as crianças e adolescentes ao responderem que aprendem em casa com o pai é

reflexo do que eles vêem o pai fazendo e tomam isso como exemplo, o pai quebra tudo em

casa o filho aprende, o pai ta não pode ce assim, e feio quebra as coisa,(E-32, E-45, E-53, E-

63).

As crianças e adolescentes ao verem esse desenho são unânimes em dizerem que o pai

é assim vê o pai faze isso, o pai quebra tudo, o filho aprende ne (E-49, E-57), para eles o

comportamento do pai de certa forma molda o comportamento do filho, o filho faz aquilo que

vê em casa e tem como exemplo de conduta adequada por parte do pai.


189

Os filhos repetem o que vêem o pai fazendo tanto em situações positivas como nas

negativas, como no caso desse desenho.

As crianças e os adolescentes deixam evidentes que, o comportamento dos pais em

qualquer situação de suas vidas será usado como modelo a ser seguido.

Nas situações familiares onde as vivências de experiência triste e negativa determinam

o comportamento dos filhos de forma inadequada, e isso é mais um fator negativo ao

desenvolvimento da criança e do adolescente que assistem a cenas de violência e também a

vivenciam em seu cotidiano.

Desenho 9 -A menina sendo mal-educada com a mãe


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O desenho acima mostra a mãe mandando a filha arrumar o quarto e a filha

respondendo que a mãe não manda nela.

As crianças e adolescentes se referem ao comportamento da criança como sendo algo

que a mãe ensinou, a mãe ensino ela a se assim sem educação (E-67), eles atribuem a mãe

como sendo ela a razão pelo comportamento inadequado da criança do desenho.

Essas crianças e adolescentes ao observarem o desenho se colocam na situação

demonstrada do desenho e infere a responsabilidade a mãe ou ao pai no que se refere ao

comportamento inadequado da mãe e da criança, pois eles acreditam que o desenho retrata

aquilo que eles vivenciam em casa com seus pais, e se a menina do desenho não é comportada

e não obedece á mãe é por que a mãe ensinou a ser assim, não deu educação nem ensinou aos

filhos a terem respeito por elas, e a obedecer quando a mãe manda ou pede alguma coisa.

Para eles o comportamento dos pais em casa é indicativo no momento em que

observam os desenhos, a mãe manda e eu não faço, não so empregada, a mãe não deu

educação, a mãe ensina a se assim sem educação, a mãe não manda em mim (E-55, E-76, E-

77).

O que pode ser observado com os desenhos é que eles fazem com que as crianças e

adolescentes associem os desenhos a seu cotidiano em família e que transporte para os

desenhos situações vividas com seus pais, se eles são crianças e adolescentes que são

agressivos ou vivem brigando eles transportam esse comportamento ao que vem em suas

casas.
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Desenho 10-O menino briga no recreio

O desenho dez acima nos mostra duas crianças discutindo no recreio das aulas em uma

escola.

As crianças e adolescentes ao observarem esse desenho, disseram que o

comportamento dessas crianças é errado e que aprenderam isso em casa, vendo os pais

discutirem e brigarem. Em todos os desenhos em que existem situações de falta de respeito,

educação e violência as respostas dadas foram todas no sentido de que esse comportamento
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inadequado foi apreendido em casa pelos pais que não ensinam a seus filhos a terem respeito

e educação.

Para as crianças e adolescentes vivenciarem a violência em suas casas e assistirem a

violência contra sua mãe é muito marcante, a tal ponto que todas as cenas que insinuam

violência eles sempre dizem que o culpado são os pais e que esse comportamento foi

apreendido em casa, assistir e viver em ambientes marcados pela violência deixa marcas

profundas.

No desenho acima as respostas todas foram no sentido de que o comportamento errado

das duas crianças se deve ao comportamento inadequado dos pais em casa, aprende em casa,

vê o pai e a mãe briga e acha certo ai faiz igual, o pai ensina a bate e briga, a mãe bate ele

aprende, isso ele vê em casa, em casa e assim, (E-21, E-34, E-49, E-56, E- 65).

Esses desenhos deixaram claro que as crianças e adolescentes percebem a violência

como algo ruim e principalmente como sendo um comportamento apreendido por elas e

repetido no seu dia-a-dia com seus pares.


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Desenho 11- O menino briga com outro menino com mais violência

O desenho onze acima é o último e mostra uma cena de briga no recreio da escola, e as

respostas forma todas no sentido de que esse comportamento é errado e foi apreendido em

casa pelos atos de seus pais e que eles presenciam e observam, eles sabem que isso é errado

mas faz parte do dia-a-dia de cada uma dessas crianças.

3- O que você ainda gostaria de falar sobre esse desenho

A- Expressões de sentimentos ao observarem os desenhos.


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Nesta categoria as crianças e adolescentes expressam sentimentos a respeito dos

desenhos que lhes foi mostrado, em todos os desenhos o que apareceu foi à criança e o

adolescente dizerem que os desenhos eram tristes essas respostas foram dadas em todos os

desenhos.

Pode se entender que para eles o desenho retrata o mundo em que vivem em suas

casas, com suas família, as crianças do desenho realizam tarefas domésticas para ajudar a mãe

como eles fazem, o cotidiano do desenho é próximo a realidade vivenciada por eles e por esta

razão se referem aos desenhos como sendo tristes.

Os desenhos que não retratam a vida que eles têm ou vivem, mostram a eles o que lhes

falta no relacionamento com os pais, e por isso também é triste.

Em todos os desenhos o que as crianças e adolescentes dizem é que os desenhos são

muito tristes, esse sentimento de tristeza esta relacionado à vida que eles desfrutam em família

onde não há carinho, afeto, respeito e educação tudo para eles é muito triste no dia-a-dia, eles

se referem aos desenhos como algo triste e que dá vontade de chora muito (E-43, E-46, E-76).

A realidade que eles vêem nos desenhos os deixa entristecidos e remetem a

sentimentos de tristeza e muitas vezes ao choro, foram comuns algumas crianças e

adolescentes chorarem ao ver os desenhos, ou após o término dos desenhos, eles diziam que

os desenhos eram feios e tristes demais e começavam a chorar, essas reações estão

relacionadas ao dia a dia dessas crianças e adolescentes, que é muito dolorido, pois esta

repleto de sentimentos negativos, como a tristeza, por ver a mãe apanhar e por eles próprios

serem vítimas da violência cometida por seus pais.

Os desenhos funcionam como um canal que desperta os mais íntimos sentimentos e

sensações levando essas crianças e adolescentes a sentirem tão tocada por um desenho, que

esta ali diante de seus olhos e que retrata tudo que lhes falta ou o que é de mais evidente em
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seu dia a dia, e o quanto eles gostariam de esquecer tudo isso, pois a realidade o dia-a-dia é

muito triste e da vontade de chorar.

Esses resultados vão de encontros com pesquisas que dizem que a criança que assisti,

percebe, observa e vivencia violência ou é vítimas dessa violência tem comprometido todo

seu desenvolvimento cognitivo, intelectual, além da possibilidade de terem depressão, serem

hiperativa, ansiosas, e com outros transtornos emocionais.

A questão da violência contra a criança deixa marcas que muitas vezes se tornaram

irreversíveis para a vida dessas crianças e adolescentes que no momento de suas vidas que

mais precisam de atenção e carinho e afeto, encontro a violência dentro de suas casas

provocada por seus pais.

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