Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Marcio Garde
Antônio dos Santos Andrade2
INTRODUÇÃO
Concepções de Criatividade
A criatividade pode ser analisada sob diferentes perspectivas teóricas. Dentre essas,
encontra-se uma corrente que irá estudar essa temática buscando uma aproximação do
processo o indivíduo percebe lacunas e diante dessas passa a formar e testar hipóteses -
criando.
Uma das críticas recebidas por Torrance e Guilford apresentada por Braga, refere-
concepções em que o ato criativo irá estar associado a sublimação e, ainda, ao próprio
desenvolvimento infantil. Para esse autor as produções artísticas e os atos criativos na vida
adulta seriam substitutos do brincar infantil, a criatividade estaria relacionada com a busca
sofrimento.
1
Este artigo foi publicado em: GARDE, M. e ANDRADE, A. S. (2003) “Criatividade: um estudo sobre as
representações e crenças dos professores do ensino médio”. IN: SEMINÁRIO DE PESQUISA, VI,
Ribeirão Preto, SP, TOMO II, LIVRO DE ARTIGOS, p. 183-192.
2
Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia e Educação da FFCLRP/USP. Endereço para
correspondência: Av. dos Bandeirantes, 3900 - CEP: 14.040-901 Ribeirão Preto, e-mail:
antandra@ffclrp.usp.br; home page: http://gepsed.ffclrp.usp.br/.
2
Em Rogers (1987) a criatividade não será abordada enquanto um mecanismo
relação com a espontaneidade. O processo de criação para Moreno seria iniciado com o
ênfase dada pela autora na necessidade da valorização das habilidades para produção de
Criatividade no Professor
valorização da análise da vida da aula, da opinião dos alunos e das atitudes dos
inserido num contexto de ação). Nesse enfoque, o estudo das crenças educativas
possibilitará a compreensão das idéias principais que guiam a ação dos professores e a
Objetivo
Realizar um estudo sobre representações e crenças de um grupo de professores de
ensino médio de escola pública sobre as suas concepções de Criatividade, especificamente
em situações de ensino.
METODOLOGIA
foram realizadas visitas à escola para o conhecimento da estrutura física e das rotinas
dita. Trata-se de uma entrevista semi-estruturada que foi organizada, seguindo um roteiro
composto por três blocos temáticos: 1 – Histórico de vida: abordando os itens “Minha
“Criatividade”.
segundo a perspectiva proposta por BARDIN (1997). O tratamento dos dados seguiu
como Hermenêutica Dialética, apresentada por MINAYO (1998) que descreve alguns
passos para operacionalizar a análise de dados: 1) ordenação dos dados das entrevistas e
dos dados, processo que, tendo presente o embasamento teórico dos pressupostos e
etapas anteriores fazem uma inflexão sobre o material empírico, movimento que se eleva
RESULTADOS
caracterizam-se por um prédio central composto por dois pavimentos (dois andares),
No andar superior, encontram-se dezessete salas de aulas. Duas dessas salas são de
tamanho diferente, uma maior - que também é utilizada como laboratório de ciências - e
outra, menor que as demais, que é utilizada por deficientes visuais. No andar inferior,
5
observa-se uma cozinha, há um refeitório destinado aos deficientes visuais, e uma
despensa. No pátio interno, encontra-se uma cantina. Fora do pátio, a casa do caseiro, o
escola ciclo dois de ensino fundamental e de ensino médio, tendo também uma sala para
quatro agentes de serviço. Conta também com um profissional que trabalha no xerox, uma
profissionais voluntários. A escola funciona nos três turnos, sendo que, no período da
noite, atende apenas ao ensino médio. Tem em torno de mil e seiscentos alunos no total.
Os alunos com necessidades especiais, exceto os deficientes visuais, são inseridos nas salas
de aula comum e os professores que os recebem não possuem formação especializada para
cidade. As reuniões de professores são realizadas no começo do ano, nos dois dias que
Do total de doze professores, nove são do sexo feminino e três são do sexo
masculino. Oito são casados, dois divorciados e dois são solteiros. A idade variou de 34
variação de 8 anos a 30 anos. Do total de doze professores, dois realizaram três cursos de
História de vida
dificuldades para concluírem seus cursos. Deixam clara a luta necessária, exigida pela
características atuais dos alunos. Entretanto disseram-se satisfeitos com suas profissões,
afirmaram que escolheram a profissão por vocação e gosto em ensinar. Sentem orgulho da
profissão docente e a encaram como uma missão, cabendo ao professor ensinar valores e
alunos da escola pública precisam muito dos docentes e que os projetos da escola pública
possibilita uma abertura maior ao docente para desenvolver seu trabalho e formar o
diversidade de enfoques para o tema: explicaram limitações financeiras que fizeram com
diretora da instituição.
docentes (em menor número) relataram que as relações são amigáveis, produtivas,
com o outro. Ao descreverem suas práticas em sala de aula, citaram os recursos de que
fazem uso, detalharam as características de suas aulas, que variaram de aulas expositivas,
docentes, alguns disseram serem bastante controladores de seus alunos, outros deixaram
evidente que não conseguem ser respeitados, alguns enfatizaram a importância de ser
alunos foi citada como sendo ausente, o que estaria contribuindo para que as práticas dos
docentes fossem muito difíceis, diante de alunos agressivos e sem interesse por estudar.
Alguns docentes apresentaram suas estratégias para lidar com os problemas que vivenciam
perceberem que muitos alunos não se adaptam a elas ou não se interessam por elas.
Criatividade
caráter do grupo, ocorreu quando foram convidados a falar sobre a criatividade, no sentido
criatividade como uma forma de tornar a aula mais agradável. Todos os outros docentes
subsídios para “intercambiar” com o conteúdo que pensa em trabalhar, interagindo com o
algumas das dificuldades que vivenciam para desenvolver um ensino criativo, apontando
sobre o tema. A maior riqueza de associações pode ser observada na categoria “Conceito
de criatividade”:
“a criatividade passa por aí(...) sair do que já tá tudo pronto, moldado essa
educação livresca, fazer com que o aluno busque, é alternativa não só pra
educação mas pra vida dele também (...) se formos olhar a origem
etimológica da palavra, eu tenho a impressão que tem muito a ver com cria,
né, trazer o que é seu, um pouco do que é seu sem reproduzir o que já tá aí a
tanto tempo(...) a espontaneidade é o primeiro passa pra criatividade, o que o
aluno espontaneamente fala, ele quer passar, ou ele quer expor em sala de
aula já é o gancho da criatividade.” (Prof.3)
“a criatividade, ela não serve pra muita coisa se você não tem conhecimento,
se eu não sei, se eu não estudei matemática, se eu não sei o fundamento da
matemática, se eu não estudei a disciplina que eu estou ministrando, a
9
criatividade me vale de muito pouco, por que eu não vou ser um profissional.
Eu vou ser um palhaço, eu sou um palhaço. Se eu quiser ser criativa sem ter
embasamento teórico, vou tá sendo um palhaço, e o aluno sabe disso.”
(Prof.4)
“Ao meu ver, criatividade é transformar algo sem vida em algo excepcional,
dar um novo sentido aquilo que estava morto(...) sair de um estado de
marasmo e deixar a criatividade entrar pra que ela possa fazer algo pela
gente(...) criatividade tem inúmeras possibilidades e cada um tem sua própria
criatividade, é isso que vai deixar mais rica uma produção artística, um
quadro, uma escultura, cada um vai dar um toque pessoal.” (Prof.6)
“é, eu acho que pra gente ser criativo, a gente tem que estar muito atento(...)
atento ao mundo, a tudo que está acontecendo, pra gente tentar ser criativo,
por que criatividade por criatividade, assim, acho que gênio foram poucos
que tiveram nesse mundo, né, então a gente pra ser criativo a gente às vezes
até se esforça um pouquinho eu acho, e quem não tem esse dom da
criatividade, por isso eu coloquei atenção, eu acho que a gente vai ter sempre
que estar atento ao que está acontecendo ao nosso redor. Eu já aprendi muita
coisa sentada numa mesa de reunião, assim, conversando sobre outras coisas
que não tem nada a ver, de repente eu bati o olho em determinada coisa e
naquela hora eu criei alguma coisa que eu poderia usar no meu dia-a-dia de
aula, então eu acho que estar atento nos facilita a ser criativo.”(Prof.9)
“e veja, essa sua criação é sempre algo diferente, baseado no princípio antigo
e conservador, na verdade o que você faz na criatividade é remodelar algo
que você conhece(...) para criar primeiro você sonha, você sonha com alguma
coisa que você não conhece? Você sonha com o que você conhece, depois
você pensa, mais eu posso mudar isso daqui, será que não pode ser de uma
outra maneira? Então você reflete, coloca senões, sim e não, não que se for
assim, se for assado não ah, você é, parte para ação, você decide, não eu vou
criar assim e parte para a ação, depois você reavalia se aquilo lá foi uma
criatividade ou não.”(Prof.8)
esforço, para transformar algo, dar novo sentido, recriar. Analisaram a importância do
conhecimento estar associado à criatividade para que essa seja útil. Esse processo criativo
seriam considerados, sendo que na criação estaria presente algo do passado sem ser a
reprodução desse. A criatividade enquanto “dom” também foi citada. Entretanto, foi
10
somado a ele o conhecimento, o esforço, a emoção. Elementos esses que, associados às
vivências com os outros, com a troca de informação e de idéias, irão facilitar a criação. A
maior dificuldade encontrada pelos docentes nessa classe parece ter sido a de conseguir
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, E.M.L.S. de. Condições favoráveis à criação nas ciências e nas artes. In:
Ed. 1994.
____________. (1927) O mal estar na civilização. In: O futuro de uma ilusão, o mal estar
completas de Sigmund Freud. 2a. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987. vol. 21, p.73, 112.
MORENO, J. L. O teatro da espontaneidade. Trad. Maria Sílvia Mourão Neto. São Paulo,
2a.Summus, 1984.150 p.
____________. Psicodrama. 12ª Ed. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo, Cultrix, 1997. 492 p.
PREDEBON, J. Criatividade – abrindo o lado inovador da mente. 3a. ed. São Paulo: Atlas,
2001. 230 p.