Você está na página 1de 24

A percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com

problemas de infertilidade

Maria Filomena Dias da Piedade


Universidade Agostinho Neto: Faculdade de ciências sociais

Resumo

O presente trabalho enquadra-se dentro da Psicologia Social e procura trazer uma


abordagem sistemática sobre o preconceito social em famílias com problemas de
infertilidade, uma vez que dentro do meio social angolano existe uma representação
social negativa com relação aquelas famílias que enfrentam problemas relacionados a
infrtilidade. Sendo assim a primeira parte do trabalho apresentamos um conjunto de
definições sobre o preconceito, não deixando de nos referir sobre a família e a
necessidade de gerar filhos, o problema da infertilidade, a percepção social. Já na ultima
parte do trabalho apresenta-se a principal metodologia utilizada neste trabalho
científico.

Abstract

This work falls within the field of social psychology and seeks to provide a systematic
approach to social prejudice in families with infertility problems, given that within the
Angolan social environment there is a negative social representation of families facing
problems related to infertility. In the first part of the paper, we present a set of
definitions of prejudice, while also referring to the family and the need to have children,
the problem of infertility and social perception. The last part of the paper presents the
main methodology used in this work.

1
Résumé

Ce travail s'inscrit dans le domaine de la psychologie sociale et vise à fournir une


approche systématique des préjugés sociaux dans les familles ayant des problèmes
d'infertilité, étant donné que dans l'environnement social angolais, il existe une
représentation sociale négative des familles confrontées à des problèmes liés à
l'infertilité. Dans la première partie de l'article, nous présentons une série de définitions
des préjugés, tout en faisant référence à la famille et au besoin d'avoir des enfants, au
problème de l'infertilité et à la perception sociale. La dernière partie de l'article présente
la méthodologie principale utilisée dans ce travail scientifique.

Palavras-chave: Preconceito, Família, Infertilidade.

Keywords: Prejudice, Family, Infertility.

Mots clés : Préjugés, Famille, Infertilité.

2
O fenómeno do preconceito social em famílias com problema de infertilidade não é
moderno, já se arrasta desde os tempos mais remotos. É factível em algumas sociedades
verificar que muitas famílias têm sido alvo de preconceito social devido a ausência de
filho no casamento. E este facto tem comprometido a saúde emocional de tais casais.

Esta pesquisa tem como objectivo geral:

Compreender a percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problemas


de infertilidade. E tem como objectivos específicos:
 Caracterizar o perfil socio-demográfico dos jovens do Município de Luanda,
Ingombotas, quanto ao género, idade, nível académico, condições sociais e estado civil.
 Descrever a percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problemas de
infertilidade.
 Explicar a percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problemas de
infertilidade.
 Sugerir um conjunto de ações práticas que possam mitigar o comportamento
preconceituoso por parte de algumas pessoas em relação as famílias com problemas de
infertilidade.

Nunca na sociedade se discutiu tanto, como nos últimos tempos, sobre a diversidade
humana. Na atualidade somos chamados a refletir acerca das diferenças que compõe a
sociedade. A tolerância, o respeito, a aceitação, mas também a violência, o preconceito,
a discriminação, entram na pauta das discussões. (Gomes,2015). A ausência
involuntária de filhos gera situações de tensão. O quadro da formação histórica do
modelo atual de
família é uma chave para compreendê-las. No tocante ao surgimento da organização
moderna de família, a chamada “família nuclear”, a interpretação mais corrente entre os
historiadores é a de que o núcleo familiar do casal e seus filhos tem se autonomizado em
relação à família extensa (Luna apud Ariès,2007).

Para este trabalho de carácter científico usou-se a metodologia qualitativa.

3
´´considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode
ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados
são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. ´´ Silva (2005, P.20).

Considera-se de extrema relevância a realização deste estudo, pois que o mesmo


suscitará a curiosidade de muitos atores no campo da ciência para que futuramente
possam vir a realizar outras pesquisas científicas relacionados ao fenómeno em estudo.

1. Definição de preconceito

O preconceito, entendido como um constructo científico autônomo, começou a ser


estudado atentamente por psicólogos na década de 20 (Duckitt,
1992).28 A partir de então, as causas e conseqüências do preconceito têm sido
sistematicamente investigadas por diversos autores, entre eles o norte-americano
Gordon Allport que em 1954 publicou seu livro clássico The Nature of Prejudice
(Allport, [1954] 1979). Este autor mencionou a influência de traços de
personalidade, emoções e cognições no aparecimento do preconceito, mas grande
parte dos estudos recentes parece aceitar a idéia de que um dos fatores mais
relevantes no que concerne ao preconceito é de que ele é histórica e socialmente
construído. (Autor desconhecido).
De forma sucinta, podemos definir o preconceito como “uma atitude hostil
ou negativa para com determinado grupo, baseada em generalizações
deformadas ou incompletas.” Aronson, (1999, P.331).

“O preconceito é uma atitude injustificável contra um grupo e seus membros individuais


e a discriminação se refere a uma conduta negativa contra os mesmos. A conduta
discriminatória é frequentemente derivada pelo preconceito, mas nem sempre produzem
atos hostis.” (Almeida e outros,2004 cit. por Silva,2013).

2. Família e a necessidade de gerar filhos

4
A família, em geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por
se encontrar em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e o
funcionamento. De modo geral é o casamento que estabelece os fundamentos legais de
família, mas pode haver famílias sem casamento. A família ´´é um grupo social
caracterizado pela residência comum, com cooperação econômica e reprodução. ´´
(Murdoch, cit. por Pacatos, 1990, P.169). Também podemos defini-la como ´´um grupo
social cujos membros estão unidos por laços de parentesco. ´´ (Belas e Hoijer,1969,
idem,1990P.169).

A família pode ser pensada sob diferentes aspectos: como unidade doméstica,
assegurando as condições materiais necessárias a sobrevivência, como instituição,
referência e local de segurança, como formador, divulgador e contestador de um vasto
conjunto de valores, imagens e representações, como um conjunto de laços de
parentesco, como um grupo de afinidade, com variados graus de convivência e
proximidade... e de tantas outras formas. Existe uma multiplicidade de formas e sentidos
da palavra família, construída com a contribuição das várias ciências sociais e podendo
ser pensada sob os mais variados enfoques através dos diferentes referenciais
acadêmicos. Vilhena (s/d, P.1).

“A ausência involuntária de filhos gera situações de tensão. O quadro da


formação histórica do modelo atual de família é uma chave para compreende-las. No
tocante ao surgimento da organização moderna de família, a chamada
família nuclear”, a interpretação mais corrente entre os historiadores é a de
que o núcleo familiar do casal e seus filhos tem se autonomizado em relação à
família extensa” (Aries, 1981; Flandrin, 1992, cit. por Lonas/d).

“O desejo de ter um filho e se tornar mãe e pai é o resultado do desenvolvimento


individual, de cada um, que não existe desde o nascimento, mas que evolui com o tempo
e com as circunstâncias da vida.” Albert (2008, P.1).

3. Problema da infertilidade

5
“O desejo de um casal pela parental idade reflete em partes as necessidades psicológicas
mais íntima de cada cônjuge e a concretização desse desejo depende de vários fatores
psicossociais, incluindo os processos interpessoais entre os cônjuges e as dinâmicas
familiares. Caso o desejo de uma gravidez não se realize, o casal se depara com o
problema da infertilidade. Uma série de sentimentos pode eclodir.” (Idem,2008, P.1).

“A infertilidade, uma condição presente em 15% a 20% dos casais, acompanha


o ser humano desde sua origem. Nas últimas décadas, tem-se observado
um aumento na demanda dos serviços especializados, e diversos fatores
têm contribuído para esse fenômeno. A fecundabilidade dos casais tem
sido prejudicada pela tendência progressiva da mulher em retardar a maternidade e pelo
envelhecimento da população.

Infertilidade é considerada a ausência de concepção após um ano de tentativa sem a


utilização de um método contraceptivo ou a presença de outras morbidades.” Lamaita
(2020, P.311).

A infertilidade não é um problema exclusivamente feminino. Os dados são claros: em


30 por cento dos casais, o problema é encontrado no homem e, em 20 por cento o
problema está tanto no homem quanto na mulher. Assim podemos dizer que em 50 por
cento dos casais inférteis, o homem está envolvido na causa da infertilidade. (Dicionário
digital de saúdes/d).

4. A percepção social

“O processo perceptivo envolve uma série de variáveis que se interpõem entre o


momento da estimulação sensorial e a tomada da consciência daquilo que for
responsável pela estimulação sensorial. Trata-se de um processo exclusivo dos animais
que atingiram razoável desenvolvimento cortical.” Zassala, (2017, P.119).

Chama-se percepção social “ao processo pela qual formamos impressões a respeito de
uma outra pessoa ou grupo de pessoas. Sobre as pessoas nunca temos percepções
desconexas ou isoladas, mas sempre integramos observações numa impressão unificada
e coerente, mesmo que para isso precisemos inventar ou distorcer características
percebidas.” Braghirolli e outros (2015, P.78).

6
5. Métodos e materiais

Trata-se de um estudo de carácter descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa.


Abordagem qualitativa exige um estudo amplo de objecto de pesquisa, considerando o
contexto em que ele está inserido e as características da sociedade a que pertence.
(www.significados.com.br.)
Para o nosso estudo, tivemos como referencial teórico as teorias psicossociais. A
Psicologia Social postula que o contexto social e ambiental determina em grande
medida as condutas violentas dos sujeitos. Dentro de um conjunto de teorias
psicossociais, selecionamos a teoria da aprendizagem social: “esta teoria tem sustentado
consideravelmente a posição da aprendizagem social que encara a agressividade como
um padrão de resposta que é aprendido através de reforço e de modelagem”. Ribeiro e
Sani, (2009, P.4).

6. Participantes e sua caracterização


Utilizou-se, para a escolha dos participantes, à amostragem teórica por contraste/
aprofundamento. O objetivo desta amostragem é permitir a comparação. Trata-se de
garantir a presença de ao menos um representante de cada grupo pertinente
em relação ao objeto de investigação. Milan e outros, (2022, P.72).
Participaram neste estudo 5 pessoas, do género masculino, a idade (Média = 25,35;
Mínima = 25, Máxima = 35), as habilitações literárias e outras variáveis consideradas
importantes.
Os participantes possuem habilitações literárias que lhes garante à partida uma maior
compreensão da percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problemas
de infertilidade.
6.1Instrumentos e procedimentos
O estudo foi desenvolvido no Município de Lunda, num ambiente adequado para a
condução de entrevistas. O instrumento utilizado, foi a entrevista semi-estruturada.
“Numa linha teórica fenomenológica, o objetivo seria o de atingir o máximo de clareza
nas descrições dos fenômenos sociais. Assim, as perguntas descritivas teriam grande

7
importância para a descoberta dos significados dos comportamentos das pessoas de
determinados meios culturais”. Manzini, (s/d, P.5).

A entrevista constou de cinco questões abertas e relacionadas aos objetivos da


investigação, que abordavam temáticas como família e a necessidade de gerar filhos,
problema da infertilidade e a percepção social. Uma das perguntas foi a seguinte «Qual
tem sido a sua percepção sobre o preconceito em famílias com problemas de
infertilidade? »; outra «Acha que o preconceito negativo em famílias com problemas de
infertilidade encoraja-os a lutar pela busca do primeiro filho? ». Tivemos a intenção de
compreender a percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problema de
infertilidade. Com a duração aproximada de 20 minutos cada, as entrevistas foram
gravadas, posteriormente transcritas no programa Word e Excel e inseridas no programa
informático QSR, Nvivo 12. Este software, é um programa para análise de informação
qualitativa que integra as principais ferramentas para o trabalho com documentos
textuais, multi método e dados bibliográficos. (Wikipédia). Este procedimento permitiu-
nos efetuar a análise de uma dimensão (Discriminação).
Análise dos dados: validação de conteúdo, Para respeitarmos os critérios de qualidade,
efetuamos o estudo de validade de conteúdo. De acordo com Wynd, Schmidt e Schaefer
(2003), citado por Simões, (2020), a validade de conteúdo consiste na pontuação, em
percentagens, atribuídas pelos juízes a
perguntas cujos valores oscilam entre 3 e 4. Antes disso, efetuamos uma generalização
das definições da percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problemas
de infertilidade, centrando-nos, na seguinte dimensão: «Discriminação». Depois,
determinamos os indicadores de cada dimensão, que nos permitiram formular 5
perguntas que foram submetidas a um grupo de juízes.
Para o cálculo do índice de validade de conteúdo foi realizada a soma de todos
os IVC calculado separadamente, divididos pelo número itens.(www.scielo.br.reben).
Assim distribuídas: (1 = Não Claro; 2 = Pouco Claro; 3 = Muito Claro e 4 = Bastante
Claro) expressa na seguinte fórmula: O IVC (índice de validade de conteúdo).
O índice de concordância foi outro cálculo efetuado para determinar a
percentagem de concordância entre os juízes. Ela consiste unicamente em calcular o
número de vezes em que os avaliadores concordam e dividir pelo número total de
avaliações (varia entre 0 e 100%). (www.fcc.org.br-arquivos).

8
Para o nosso caso, obtivemos uma taxa de concordância de 60%, ou seja,
inferior ao recomendado. No entanto, analisando a taxa de concordância por pergunta,
observou-se que apenas as questões 2 e 5, possuíam uma taxa inferior a 75%. As
mesmas foram eliminadas, enquanto as questões cujas taxas de concordância oscilavam
entre 75 % e 83, % sofreram algumas modificações.

7. Resultados
1. Descrição das características dos participantes no estudo
Vamos descrever os participantes do estudo para distribuilos consoante as variáveis
sócio-demográficas selecionadas.
Tabela nº1: Perfil dos Participantes

Variáveis Sócio Demográficas


Idade
Tempo que
Nível de Estado Cargo na Que começou
Idade Gênero Escolaridade
Profissão
Civil empresa exerce a a
Entrevistado profissão trabalha
s r
Técnico
P1 30 anos Feminino Médio Contabilista Solteira Contabilista 3 anos 27 anos
Técnico
P2 25 Anos Masculino Médio Enfermeiro Solteiro Enfermeiro 2 Anos 23 anos
Gestor Gestor
administrativ administrativ
P3 35 anos Masculino Licenciado o Solteiro o 7 anos 28 anos
Secretaria Secretaria
P4 32 anos Feminino Licenciada executiva Solteira executiva 6 anos 26 anos
Gestor de Gestor de
P5 38 Anos Masculino Licenciado marketing Casado marketing 10Anos 28 anos
Fonte: Elaborado por mãos próprias.

2. Nuvem de palavras, árvore de palavras e frequência de palavras


Um dos objetivos deste estudo é o de explorar a percepção dos jovens sobre o
preconceito em famílias com problema de infertilidade.

9
Para o efeito, foi necessário apresentar a nuvem de palavras que pode ser definida
como uma lista hierarquizada visualmente, é uma forma de apresentar os itens de
conteúdo de um website. (Autor desconhecido).

Ilustração 2- Amostra da nuvem de palavras elaborada com o Software Nvivo 12 a


partir das entrevistas realizadas.

Conforme se pode ver na ilustração 2 a nuvem de palavras. Tal como podemos olhar
nas palavras plenas, a palavra Preconceito. A par disso, também é importante
visualizarmos os diferentes contextos nos quais a palavra-forte “Preconceito” aprece no
corpus do texto.
A ilustração 3 apresenta uma amostra da árvore de palavras, respondendo assim ao
objetivo que é de identificar os contextos ou o “universo de
referência” em que a palavra-forte aparece.
Para a interpretação da árvore de palavras temos de considerar primeiro “a
proposição que associa um argumento a um predicado; os verbos e, por fim, identificar
os referentes (substantivos, pronomes ou equivalentes) que têm valor referencial.
(Bardin, 2011, p.236) citado por Simões, (2020).

10
Ilustração 3- Amostra de árvore de palavras

Fonte: Elaborada pelo autor com auxílio do software Nvivo 12 (2024)

Esta ilustração mostra-nos os diversos contextos em que aparece a palavra


Preconceito. Também nos permite compreender a percepção que os entrevistados têm
sobre a mesma. Por fim, torna-se importante conhecer o número de repetições de cada
palavra já no seu todo. O número de repetições de palavras é importante porque,
segundo Bardin, (1977, P.19) a análise de conteúdo “é uma técnica de investigação que
tem por finalidade a criação objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto
da comunicação”.

11
Na análise da frequência ou ocorrência das palavras, é importante fixarmos no
seguinte:
Quais são as palavra com maior ocorrências? A resposta a esta questão leva-nos
à essência da percepção que os inquiridos têm sobre o evento em estudo. Ou seja, as
palavras mais frequentes levam-nos ao sentido e ao significado que os inquiridos
atribuem a um determinado fenómeno ou evento.
Quais são as palavras com menos ocorrências? São geralmente as últimas que
podem significar pouca importância atribuída aos evento ou fenómenos pelos
inquiridos.
Quais são as palavras omissas, inferidas da teoria (dimensões do conceito) que
também “falam” (Simões, 2006). Neste caso das duas umas: ou não são importantes ou
estão ligadas a eventos traumatizantes.
Quadro 1. Amostra sistematizada das palavras plenas obtidas nas entrevistas que
aprecem com as respetivas frequências, referentes à nuvem de palavras
apresentado na ilustração.

Ocorrência Ocorrência
Palavras Palavras
(Frequências) (Frequências)
Que 95 Por que 27
Por 56 Para 26
Preconceito 51 Pode 20
Infertilidade 48 Mais 19
Casal 41 Percepção 16
Famílias 35 Casais 14
Não 33 Épocas 6
Fonte: Elaborada pelo autor com auxílio do software Nvivo 12 (2024)

Olhando para a amostra da ocorrência de palavras, podemos referir que uma das
palavras mais referidas foi a palavra preconceito. Com tudo foi uma das palavras mais
referidas por se tratar do principal objeto de análise da nossa investigação. Isto
demonstra a preocupação dos sujeitos da entrevista em manifestar as suas percepções
sobre o preconceito em famílias com problema de infertilidade.
Note-se que a palavra Voltarem foi a menos referida. E se olhássemos para as
palavras omissas, podemos, por exemplo, referir a palavra Casamento. Isso pode

12
mostrar que alguns jovens percebem que as famílias unidas pelo casamento civil têm
sido mais alvos de discriminação em relação à problema de infertilidade.

3. Análise categorial
Um outro objetivo foi o de desmembrar o texto em categorias e subcategorias e
posicioná-las nas correspondentes unidades de registo e de contexto. Para o efeito,
recorremos à análise categorial. Esta análise, conforme Bardin (2016) citado por
Sampaio e Lycarião, (2021, P.14). É um conjunto de análise das comunicações visando
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de discrição dos conteúdos das
mensagens, indicadores quantitativos ou não que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção ou recepção (variáveis inferidas)
destas mensagens.
Tabela 1- Análise categorial

UNIDADE DE
TEMA CATEGORIAIS SUBCATEGORIAS UNIDADE DE CONTEXTO
REGISTO

“Na minha percepção


P1- “Por que a sociedade julga-os por
tem sido preconceito não terem filhos, sabendo que o objetivo
Preconceito Preconcebido
negativo” do casal é formar família para que eles
sejam felizes”

A
percepçã
o dos
jovens
sobre o “Em famílias com
preconce problemas de P-5” Eu acho que o preconceito em
ito em infertilidade encoraja- famílias com problema de infertilidade
famílias Infertilidade Infecundo os a lutar pela busca do pode os encorajar a lutar pela busca do seu
com primeiro filho” primeiro filho”
problem
a de
infertilid
ade

“Por que acreditam que


se um casal não tem
Par de macho e P-3 “Pois aos africanos é obrigatório fazer
Casal filho, então não é uma
fêmea filhos por causa da continuidade familiar”
família”

13
Percepção em famílias P2- “Na minha percepção é que não tem
com problemas de sido boa, normalmente as famílias com
Famílias Grupo social
infertilidade este tipo de problema têm tido muitos
conflitos”

Fonte: Elaborado por mão própria

Conforme se pode observar, a análise categorial permite destacar as variáveis que,


potencialmente, explicam o fenómeno em estudo, ou seja, A percepção dos jovens sobre
o preconceito em famílias com problemas de infertilidade. As categorias subjacentes são
as seguintes: Preconceito, Infertilidade, Casal, Famílias.

Na primeira unidade, defende-se a ideia de que o preconceito em famílias com


problema de infertilidade é negativa ou seja não é aconselhável se mantiver
preconceituoso em relação a essas famílias, pois que este estado de saúde já é muito
difícil para o casal que enfrenta este problema.

Nesta categoria, a unidade de registo demonstra esta intenção. A escolha desse tema
e seu agrupamento nessa categoria se deveu a repetição do termo na minha percepção
tem sido preconceito negativo em quase todo o discurso. Para a unidade de contexto, a
expressão encontrada foi: “Por que a sociedade julga-os por não terem filhos, sabendo
que o objetivo do casal é formar família para que eles sejam felizes”

Na segunda categoria encontramos a palavra Infertilidade. Geralmente as famílias com


problema de infertilidade auto encorajam-se na busca do primeiro filho. Para a unidade
de registo, a expressão encontrada foi: “Eu acho que o preconceito em famílias com
problema de infertilidade pode os encorajar a lutar pela busca do seu primeiro filho”
isto pode nos ajudar a compreender a preocupação excessiva que alguns casais podem
ter na busca do primeiro filho.

Na terceira unidade, temos a palavra Casal. Ela aparece aqui por se constituir num
dos objetos relevantes para a nossa pesquisa. A expressão encontrada foi: Por que
acreditam que se um casal não tem filho, então não é uma família” de acordo com a
expressão encontrada podemos observar que este nível de percepção precisa ter um
reparo.

14
Por fim, temos a quarta categoria (Famílias), que são conjunto de grupo sociais e
conhecida como o núcleo fundamental e organizacional da sociedade. A expressão
encontrada foi: Percepção em famílias com problemas de infertilidade.

Contudo, esta expressão nos ajudou a compreender que maior parte dos sujeitos
inqueridos tiveram uma percepção equilibrada com relação ao preconceito em famílias
com problemas de infertilidade.

4. Análise temática
Outro objetivo específico foi o de sondar a percepção dos jovens do município de
Luanda sobre o preconceito em famílias com problema de infertilidade. Para isso
recorremos à análise temática.

No que concerne a estas percepções, e depois da análise lexical efetuada através


do Nvivo 12, um dos softwares mais utilizados para a realização de estudos qualitativos,
emergiram, com maior ocorrência, quatro categorias. A primeira categoria trata da
palavra jovens que é um dos elementos centrais da nossa pesquisa.

1ª Unidade temática: PRECONCEITO

Os Psicólogos sociais têm definido preconceito de várias maneiras. Tecnicamente há


preconceitos positivos e preconceitos positivos. “Preconceito é uma atitude hostil ou
negativa para um grupo bem definido, preconceito esse que se baseia em generalizações
provenientes de informações deficientes ou incompletas.” Aronson, (1999, P.331).

Analisando as falas dos inqueridos foi fundamental notar que:

P1- “Por que a sociedade julga-os por não terem filhos, sabendo que o objetivo
do casal é formar família para que eles sejam felizes”

2ª Unidade temática: INFERTILIDADE


Infertilidade conjugal é a ausência de gravidez após 12 meses de relações sexuais
regulares sem o uso de métodos anticoncepcionais. (Dicionário de saúde).
Tendo em conta algumas entrevistas, temos a seguinte percepção:
P-5” Eu acho que o preconceito em famílias com problema de infertilidade pode os
encorajar a lutar pela busca do seu primeiro filho”
3ª Unidade temática: CASAL

15
A terceira unidade temática tem como categoria a palavra casal.

Que é definida como par formado pelos cônjuges, conjunto de duas pessoas que
têm uma relação sentimental e/ou sexual. (Dicionário online Priberam de português).

De acordo com as entrevistas temos:

P-3 “Pois aos africanos é obrigatório fazer filhos por causa da continuidade
familiar”

4ª Unidade temática: FAMÍLIAS

A quarta categoria é Famílias. Que é definida como um agrupamento por parentesco, o


qual dá afinidade as pessoas que convivem juntas, assim, uma protege a outra, em razão
do sentimento de afeto, carinho e pertencimento ao grupo.
(https://mundoeducacao.uol.com.br).

Em função de algumas entrevistas temos a seguinte percepção:

P2- “Na minha percepção é que não tem sido boa, normalmente as famílias com este
tipo de problema têm tido muitos conflitos”

7.1 Distribuição dos “nós” pelas variáveis sócio demográficas

Outro objetivo do nosso estudo foi o de distribuir as categoriais (códigos) pelas


variáveis sócio demográficas, a fim de identificarmos a influência do género, a idade, e
o nível de escolaridade se influenciam nas referência das categorias.

16
7.2 Sexo
A distribuição dos “nós” em função do sexo pode ser vista no quadro que abaixo
se apresenta. Nota-se que a palavra Preconceito é a que apresenta a maior frequência.
Contudo dos sujeitos inqueridos (2,01%) dão maior importância a palavra Preconceito,
ao passo que (0,04%) dos inqueridos dão menos importância a palavra Épocas, desta
forma podemos entender que a palavra Preconceito tera sido mais referenciada por ser o
principal elemento da nossa pesquisa.

Tabela nº2: Distribuição dos “Nós” pela variável sexo


A: Sujeitos: Sexo = B: Sujeito: sexo=
Masculino Feminino
1: Casal 19 14
2: Famílias 24 11
3: Infertilidade 26 19
4: Preconceito 34 17

Consulta de codificaçõ em matriz-visualização dos resultados

100%
Contagem de referência de codificação

90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Casal 1 Famílias 2 Infertilidade 3 Preconceito 4

Masulino 1 Feminino 2

17
Fonte: elaborada por mãos próprias

7.3 Idade
Outra variável sócio demográfica considerada foi a idade. Observa-se no quadro
abaixo que a palavra ou código mais referido foi a palavra Preconceito e com maior
frequência nos sujeitos com 38 anos de idade, ou seja, 13 referências o que equivale a 2,
0.1%. Uma das explicações para que isso aconteça é o facto de que a palavra
Preconceito se constituir num dos principais elementos da nossa pesquisa.
Quadro nº2: Distribuição dos “nós” pela idade
A: Entrevistado: B: Entrevistado: C: Entrevistado: D: Entrevistado: E: Entrevistada:
idade 30 idade 25 idade 35 idade 32 idade 38
1: Casal 8 10 9 6 8
2: Famílias 5 8 7 6 9
3:Infertilidade 10 8 8 9 13
4 :Preconceito 7 11 10 10 13

Gráfico nº2: Distribuição dos “nós” pela idade

Consulta de codificação em matriz-visualiação de resultado

60

50

40

30

20

10

0
Casal Familias Infertilidade Preconceito

sujeito 1: idade 30 sujeito 2: idade 25 sujeito 3: idade 35 sujeito 4: idade 32 sujeito 5: idade 32

Fonte: elaborada por mãos próprias contagem de referências de codificação.

18
7.4 Nível de escolaridade
Por último, temos o nível de escolaridade como uma das variáveis
sociodemográficas consideradas conforme se pode ver no quadro que abaixo se
apresenta. Nota-se nele que a maior parte dos sujeitos entrevistados são licenciados.
Quadro nº3: Distribuição dos “nós” pelo nível de escolaridade
Sujeito: Sujeito: Sujeito: Sujeito: Sujeito:
escolaridade= escolaridade= escolaridade= escolaridade= escolaridade=
Técnico Médio Licenciado Licenciado Licenciada Técnico Médio
1: Casal 8 10 9 6 8
2: Famílias 5 8 7 6 9
3:Infertilidade 10 8 8 9 13
4 :Preconceito 7 11 10 10 13

Consulta de codificação em matriz-visualiação de resultado

60

50

40

30

20

10

0
1: Casal 2: Famílias 3:Infertilidade 4 :Preconceito

Sujeito: escolaridade= Técnico Médio Sujeito: escolaridade= Licenciado


Sujeito: escolaridade= Licenciado2 Sujeito: escolaridade= Licenciada
Sujeito: escolaridade= Técnico Médio2

Fonte: elaborada por mãos próprias

19
8. Análise de clusters
Uma das análises que também se tem utilizado, e agora com maior frequência, na
investigação qualitativa é a análise de clusters. De acordo com a Wikipédia, o clustering
ou análise de agrupamento de dados é o conjunto de técnicas de prospecção de dados
que visa fazer agrupamentos automáticos de dados segundo o seu grau de semelhança.
Para a análise das diferenças e semelhanças entre os dados é usual recorrer-se ao
dendrograma que é um tipo especifico de diagrama ou representação icónica que
organiza determinados fatores e variáveis, que apresentamos mais abaixo. Uma das
grande utilidade do dendrograma é de mostrar as relações das amostras agrupadas
Ilustração 2:Dendrograma

20
21
A partir do dendrograma acima apresentado é possível identificarmos índices de
similaridade ou de relação em dois subgrupos. Assim, o primeiro grupo é composto
pelas categorias Casal e Famílias e o segundo grupo relacionado com o segundo
clusters, é composto pelas categorias Infertilidade e Preconceito. Contudo, no entanto o
preconceito tem sido maior sido em famílias com problemas de infertilidade.

Mapa conceitual com a hipótese compreensiva


Por fim, o último objetivo específico foi o de construir o mapa conceitual para
formar a hipótese compreensiva.
Figura 3: Mapa conceitual da percepção dos jovens sobre o preconceito em famílias com problemas
de infertilidade.

Percepção dos jovens sobre o


preconceito em familias com
problemas de infertilidade

Casal

Famílias Preconceito

Infertilidade

Umas das hipóteses compreensivas a ser testada num estudo qualitativo pode
ser: Percepção dos jovens do município de Luanda, sobre o preconceito em famílias com problemas
de infertilidade.

22
9. Conclusões
Com este trabalho científico constatou-se que houve uma grande necessidade de se
realizar este estudo, pois que no domínio da nossa entrevista pudemos percepcionar que
alguns entrevistados têm uma percepção razoável sobre a infertilidade, pois que, maior
parte deles a confundem com esterilidade. E outros entrevistasdos foram muito
agressivos nos seus comentários, alegando que não se pode considerar casais que não
têm filhos como uma família. Facto que, em função das lacunas que este estudo
apresenta, pedimos a outros investigadores que no domínio das suas actividades
científicas venham a realizar estudos dessa natureza, para que possam trazer um
conheciemento mais profundo e concreto sobre o problema em análise. Contudo,
esperamos que este trabalho científico venha contribuir significativamente numa nova
forma de perceber dos jovens em matérias relacionadas a infertilidade nas famílias,
evitando assim, uma atitude preconceituosa e agressiva.

23
Bbliografia

(www.significados.com.br.)
Zassala, C. (2013). Psicologia Social-compreensão da interação humana. Luanda:
Editora Muamba.
Silva, L.(2005). Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis.
Braghirolli E Outros. (2015).Psicologia geral. 36ºed. Petrópolis, editora vozes.

Aronson, E. (1999). O animal social- Introdução a Psicologia Social. Instituto Piaget.


Lakatos, M. (1990). Sociologia geral.6. ed. São Paulo, Atlas.
Vilhena, J.(s/d).Pensando a família.
Albert, S. (2008). Infertilidade na relação conjugal.
Lamaita, R. e outros. (2020). Propedêutica básica da infertilidade conjugal.
Silva, V.(2013). Preconceito sexual: quando a religião atropela a ciência. (Tese de
doutoramento publicada)Universidade de Évora.
Silva, G. (2010).O método científico na Psicologia: Abordagem qualitativa e
quantitativa.
www.fcc.org.br-arquivos
www.scielo.br-reben
Ribeiro, O. Sani, I. (2009). Modelos explicativos de agressão: Revisão teórica. Revista
da faculdade de ciências e humanas e sociais- Porto: edições universidade Fernando
Pessoa. Issn1646-0502.6(2009)96-104.
Manzani, E. (s/d). Entrevista semi-estruturada: Análise de objetivos e de roteiros:
Departamento de educação especial, programa de pós-graduação em educação, Unesp,
Marília, Apoio: cnfq.
Milan, M. E outros. (2022). Métodos e técnicas de pesquisa para a economia criativa e
da cultura –Porto Alegre: UFRGS/FCE; ITAÚ Culatural-recursob digital.
Simões, A. (2020). Modelo para a interpretação dos resultados da investigação
qualitativa: nível de Mestrado e Doutoramento.

Bardin, L.(1977). Análise de conteúdo. Lisboa/Portugal: edições 70, Lda.


https://mundoeducacao.uol.com.br.

24

Você também pode gostar