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Propostas e experiências
pelo direito à cidade
Cidades para tod@s
Propostas e experiências
pelo direito à cidade
Ana Sugranyes
Charlotte Mathivet
Editoras
ISBN: 978-956-208-090-3
A reprodução parcial ou total deste livro é permitida, desde que sejam citadas a fonte e
os autores.
Impresso no Chile
A Han van Putten,
Primeiro Capítulo
Propostas para o direito à cidade 27
A democracia em busca da cidade futura
Jordi Borja 29
Contra o direito à cidade acessível. Perversidade de uma
reivindicação consensual
Yves Jouffe 43
Análise do direito à cidade sob a perspectiva do gênero
Shelley Buckingham 57
O direito à cidade e a vida cotidiana baseada no gênero
Tovi Fenster 63
Um horizonte para as políticas públicas? Notas sobre a felicidade
Patricia Ezquerra e Henry Renna 79
Os direitos nas cidades e o direito à cidade
Peter Marcuse 89
Biografias 331
Prólogo
1 Neste livro, sociedade civil e estado estão escritos com letras minúsculas, para assim respeitar a
ligação entre esses dois atores de igual importância.
luta pelo direito emergente de todas e todos a um lugar onde se possa viver em
paz e com dignidade, em todas as cidades do mundo.
Em nome de HIC, agradeço enormemente todas as contribuições que tornaram
possível esse livro.
1 O Fórum Urbano Mundial, na sua quinta sessão, em 2010, tem como lema em inglês “The Right
to the City –Bridging the Urban Divide”. Em português o lema foi traduzido como: “O Direito à
Cidade: Unindo o Urbano Dividido”. Mais que enfatizar a divisão, HIC trabalha na articulação
das forças positivas para o direito à cidade.
2 http://www.hic-net.org/articles.php?pid=3107, David Harvey no Fórum Social Mundial 2009:
oDireito à Cidade como alternativa ao neoliberalismo, Harvey, David, 2009.
3 Loc.cit
14 Cidades para tod@s
4 Purcell, Mark, Le Droit à la ville et les mouvements urbains contemporains, 2009, Droit de Cité,
Rue Descartes, N.63, p42. Citação original em francês: «Le droit à la ville de Lefebvre implique de
réinventer radicalement les relations sociales du capitalisme et la structure spatiale de la ville
5 Lefebvre, Henri, 1968, Le droit à la ville, Ed. Economica, 3ième édition, 2009, p108. Citação
original em francês : le droit à la ville ne peut se concevoir comme un simple droit de visite ou
de retour vers les villes traditionnelles. Il ne peut se formuler que comme droit à la vie urbaine,
transformée, renouvelée
6 Sumak kawsay é quichua equatoriano e expressa a ideia de uma vida não melhor, nem melhor que
a de outros e tampouco um contínuo desvelar por melhorá-la, mas sim uma vida simplesmente
boa” www.kaosenlared.net/noticia/sumak-kawsay-suma-qamana-buen-vivir, Sumak Kawsay,
Suma Qamaña, Buen Vivir, Tortosa, José María, 2009
7 Ibid. Préface, Hess, R, Deulceux S Weigand , G.
Introdução 15
8 Ibid. p VI Citação original em francês « Mai 1968 n’est pas le fait des gens d’école mais des gens
du tas. Lefebvre n’est ni normalien ni agrégé. Il a fait ses classes de sociologie en conduisant un
taxi dans les années 20 à Paris »
9 Loc.cit, Citação original em francês: « Nanterre était une faculté construite autour des bidonvilles »
10 Loc.cit, Citação original em francês « C’est du côté des apprentissages militants que Lefebvre a
eu une importance»
11 E os situacionistas, entre outros. Sobre este debate entre situacionista e Lefebvre , ver Simay ,
Philippe, 2009, Une autre ville pour une autre vie. Henri Lefebvre et les situationnistes, Droit de
Cité, Rue Descartes, N.63.
16 Cidades para tod@s
24 Lefebvre, H.Op.Cit. p108. Citação em francês « seule la clase ouvrière peut devenir l’agent, porteur, ou
support social de cette réalisation »
Introdução 19
Referências
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Charlotte Mathivet
História do direito à cidade: uma proposta que vai mais além de um novo
conceito
O direito à cidade não é uma proposta nova. O termo apareceu em 1968 quando
o francês Henri Lefebvre escreveu seu livro O direito à cidade, levando em conta
o impacto negativo sofrido pelas cidades nos países de economia capitalista, com
a conversão da cidade numa mercadoria a serviço exclusivo dos interesses da
acumulação de capital. Como contraproposta a este fenômeno Lefebvre constrói
uma proposta política que parte da cidade para reivindicar a possibilidade de
que as pessoas retornassem a condição de donas da cidade. Frente aos efeitos
causados pelo neoliberalismo, como a privatização dos espaços urbanos, o uso
mercantil da cidade, a predominância de indústrias e espaços mercantis, propõe-se
uma nova perspectiva política denominada direito à cidade. A cidade foi tomada
pelos interesses do capital e assim deixou de pertencer às pessoas, de modo que
Lefebvre defende, através do direito à cidade, “resgatar o homem como elemento
principal, protagonista da cidade que ele mesmo construiu”. O direito à cidade
significa então restaurar o sentido de cidade, instaurar a possibilidade do “bem
viver” para todos e fazer da cidade “o cenário de encontro para a construção da
vida coletiva”.
Além disso, a vida coletiva pode ser construída com base na ideia de cidade
como produto cultural, coletivo e, por consequência, político. A cidade, como
analisa Jordi Borja (2003), é um espaço político, onde é possível a expressão de
vontades coletivas, é espaço para a solidariedade, mas também para o conflito. O
direito a cidade é a possibilidade de construir uma cidade na qual se possa viver
dignamente, reconhecer-se como parte dela e onde se possibilite a distribuição
equitativa de diferentes tipos de recursos: trabalho, saúde, educação, moradia,
além de recursos simbólicos tais como participação, acesso à informação, etc. O
22 Cidades para tod@s
direito a cidade é o direito que cada um possui de criar cidades que respondam
às necessidades humanas. Todos deveriam ter os mesmos direitos para construir
os diferentes tipos de cidades que queremos. O direito à cidade, como afirma
David Harvey (2009), “não é simplesmente o direito ao que já está na cidade, mas
também o direito a transformar a cidade em algo radicalmente distinto”.
A reivindicação da possibilidade necessária de criar outra cidade se baseia
nos direitos humanos e, mais precisamente, nos Direitos Econômicos Sociais e
Culturais (DESC). O fenômeno da cidade está analisado e pensado através dos
conceitos de cidadania e espaço público com uma visão integral e interdependente
dos direitos humanos para alcançar a meta de recuperar a cidade para todos os
seus habitantes. Contudo, é importante aclarar que o direito à cidade não é um
direito mais, é o direito de fazer cumprir os direitos que já existem formalmente.
Por isso o direito à cidade se baseia numa dinâmica de processo e de conquista, no
qual os movimentos sociais são o motor pra alcançar o cumprimento do mesmo.
nos seus usos e costumes, com o objetivo de alcançar o pleno exercício da livre
autodeterminação e um nível de vida adequado. Realiza-se o direito à cidade
quando existe:
Em síntese, a Carta Mundial pelo Direito à Cidade baseia sua proposta em três
eixos fundamentais:
- o exercício pleno da cidadania, ou seja, o exercício de todos os direitos
humanos que asseguram o bem-estar coletivo dos habitantes e a produção
e gestão social do habitat;
- a gestão democrática da cidade, através da participação da sociedade
de forma direta e participativa, no planejamento e governo das cidades,
fortalecendo as administrações públicas na escala local, assim como as
organizações sociais.
- a função social da propriedade e da cidade, sendo predominante o bem
comum sobre o direito individual da propriedade, o que implica no uso
socialmente justo e ambientalmente sustentável do espaço urbano.
Referências
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Primeiro Capítulo
Jordi Borja
Democracia e cidade
1 Os Direitos Humanos
2 Borja, Jordi, La ciudad conquistada, Alianza Editorial 2003.
30 Cidades para tod@s
A revolução urbana que vivemos é uma das principais expressões de nossa época.
Não nos estenderemos sobre uma temática amplamente tratada, inclusive pelo
próprio autor deste artigo3. As novas regiões metropolitanas questionam nossa
ideia de cidade: são vastos territórios de urbanização descontínua, fragmentada
em alguns casos, difusa em outros, sem limites precisos, com escassas referências
físicas e simbólicas que marquem o território dos espaços públicos; pobres,
submetidos a fortes dinâmicas privatizadoras. Estas se caracterizam pela
segregação social, especialização funcional em grande escala e por centralidades
que passam pela gentrification4 ou que são “museificadas”, transformadas em
parques temáticos ou estratificadas pelas ofertas de consumo. Esta cidade, ou
“não cidade”5, é ao mesmo tempo expressão e reprodução de uma sociedade tão
heterogênea quanto compartimentada (ou “guetizada”), isto é, pouco coesa. As
promessas que implicam a revolução urbana, especialmente a maximização da
7 Habitantes dos bairros das grandes cidades da França. O termo possui uma conotação social e
cultural, uma vez que se trata de bairros de classe social baixa, onde convivem muitos imigrantes.
Propostas para o dereito à cidade 33
A precariedade do trabalho
A moradia e o solo
O atual debate sobre as infraestruturas parece estar centrado numa disputa sobre
o nível institucional ao que corresponde a principal responsabilidade de gestão.
É, sem dúvida, uma questão importante e parece provável que uma gestão mais
próxima das redes ferroviária e viária, dos portos e dos aeroportos seria certamente
mais eficaz, uma vez que estaria mais submetida ao controle social. Entretanto,
direita e esquerda coincidem nas mesmas propostas “incrementalistas”, apesar de
muitos casos representarem custos sociais e ambientais dificilmente sustentáveis.
Pareceria lógico que a base de partida fosse o reconhecimento do “direito à
mobilidade”, hoje fundamental, a ponto de ser considerado um direito universal
para todos, diariamente e em todas as escalas. Em consequência, deveria ser
priorizada a mobilidade mais massiva e cotidiana, como as redes de cercanias9,
o que não acontece no momento. As infraestruturas são o principal motor da
urbanização e seria lógico favorecer os desenvolvimentos urbanos apoiados na
compacidade e densidade dos tecidos urbanos. Contudo, não há uma cultura
política democrática que assuma na prática nem o direito à mobilidade nem o
bom uso das infraestruturas para fazer cidade.
10 Borja, Jordi, Inseguretat ciutadana a la societat de risc, Revista Catalana de Seguretat Pública, nº
16, 2006. Versão em castelhano na revista La Factoría nº 32 wwwlafactoriaweb.com.
36 Cidades para tod@s
A imigração
11 Borja, Jordi, Los derechos ciudadanos, Documentos, Fundación Alternativas, Estudios, N. 51,
2004 (inclui uma ampla bibliografia).
40 Cidades para tod@s
Não acredito que uma nova cultura política seja gerada, principalmente, nas
instituições de governo, ou seja, construída nos laboratórios de pesquisa e nos
seminários acadêmicos. Nos primeiros gerencia-se ou pensa-se nas eleições. E no
mundo acadêmico a criatividade não é uma virtude apreciada. Permanecem os
movimentos políticos alternativos (globais), como os que criticam a globalização,
e culturais de resistência (locais), que defendem identidades ou interesses
coletivos legítimos, porém limitados. Só nos resta esperar que entre a política
institucional, os âmbitos de pesquisa e debate intelectual e os movimentos globais
e locais criem-se intercâmbios e transferências que possam criar as bases de uma
cultura política pragmática em sua ação, porém radical em seus objetivos.
Como não se podem inventar as pontes entre atores tão diferentes e tão
distanciados somente me ocorre confiar no azar. E na cidade. Na “serendipity” da
cidade. Se não se conhece a origem desta palavra então explico: “inventou-a” o
escritor inglês Horace Walpole a partir de um relato, Aventuras dos três príncipes
de Serendip, país que passou a se chamar Ceilão e atualmente Sri Lanka. Os três
príncipes descobrem, em sua viagem, mesmo sem buscá-los e por intervenção
do azar, uma multidão de fatos curiosos e bastante inovadores para eles. A
“serendipity” pode ser entendida como encontrar o que não se busca (como o
Viagra, que é produto de algumas pesquisas sobre a hipertensão, e a internet, que
nasceu de pesquisas do Ministério de Defesa dos Estados Unidos). É resultado
Propostas para o dereito à cidade 41
Yves Jouffe
É verdade que vários militantes que lutam pelo direito à moradia e aos
equipamentos de bairro, tais como os espaços públicos, sublinham que seus
objetos de luta escapam desta lógica porque exigem sua realização localizada
e difusa na metrópole, o mais perto possível dos habitantes. Graças ao caráter
localizado desta produção, o acesso não é um problema. Porém a mesma
definição do direito à cidade como direito à vida urbana (Lefebvre, 1969) conduz
à valorização do acesso por si só. Então a produção localizada que o faz supérfluo
torna-se criticável.
Se a urbanidade descansa sobre o encontro das diferenças (Lévy, 2005), a vida
urbana exige, sobretudo, a supressão das fronteiras, distâncias e discriminações
com o fim de garantir o acesso a todos os espaços da cidade. Por conseguinte,
as ações que promovem uma vida urbana numa escala inferior a da metrópole
podem ser acusadas de criar zonas que fragmentam o todo urbano. Certas políticas
de habitação social supõem e impõem que o beneficiário torne-se o proprietário,
como acontece no Chile. Desta maneira, o direito à moradia pode aparecer como
uma difusão da propriedade privada que encerra cada um em sua casa. Pode-
se também ler o direito ao espaço público de bairro como a realização de um
isolamento comunitário, cada comunidade vivendo feliz em seu bairro exclusivo.
A importância do caráter poroso dos bairros para o funcionamento urbano
parece comumente negada nas políticas públicas e nas operações imobiliárias
que constroem estes bairros (Márquez, 2003). O bairro pode até impor códigos
que excluam a maioria dos cidadãos, como no caso do tipo de roupa exigido das
mulheres por uma comunidade ultra-ortodoxa de Jerusalém em “seus” espaços
“públicos” (Fenster, 2005). A etapa extrema é o fechamento do bairro aos que
não vivem lá, com guardas e muros de concreto (Hidalgo et al., 2005). O direito
à cidade, como vida urbana, entra então em tensão com suas aplicações locais e
seus modos de vida proprietários e comunitários.
Finalmente, quando a crítica desta produção localizada se soma ao frágil
Propostas para o dereito à cidade 45
Acessibilidade antissubversiva
Tirania da acessibilidade
Direitos-crédito e direitos-liberdade
4 Não se trata aqui de evocar aos atuais partidos socialistas, embora sua evolução social-liberal
reflita bem esta contradição entre liberalismo e igualitarismo.
52 Cidades para tod@s
Legitimidade da aliança
Perversidade da aliança
Referências
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Análise do direito à cidade sob a
perspectiva do gênero
Shelley Buckingham
O direito à cidade é um direito coletivo para todos os que nela habitam, acessam
e usam-na. Implica não somente em requerer o direito a usar o que já existe no
espaço urbano, mas também definir e criar o que deveria existir a fim de encontrar
as necessidades vitais humanas para uma vida digna no ambiente urbano
(Harvey, 2003)1. Essa definição inclui o direito a usar o que a cidade oferece e a
participar da criação ou recriação daquilo que lhe falta.
Naturalmente, não existe um protótipo humano homogêneo singular que
possa servir de base pra definir quais são as necessidades das pessoas e, por
sua vez, como se deve satisfazê-las através da articulação de seus respectivos
direitos. O processo de definir a particular necessidade humana de ter um nível
de vida adequado deve considerar uma multidão de identidades diferentes e
cruzadas2 que habitam num contexto particular, além de como sua identidade
social molda as formas nas quais vivem e criam o entorno.
O gênero representa apenas uma categoria de diferença de identidade, porém
afeta a todas as pessoas do planeta, embora de maneiras diferentes. Mais além
de algumas das violações do direito à cidade relacionadas à remoção espacial
1 Ver Charlotte Mathivet, O direito à cidade: chaves para entender a proposta de 57 outra cidade
possível , nesta publicação.
2 As identidades cruzada, conceito amplamente reconhecido na literatura feminista, incluem uma
combinação de identidades sociais tais como gênero, raça, classe social, etnia, religião, orientação
sexual e capacidade física, entre outros fatores. Todos estes fatores podem contribuir para que
uma pessoa experimente a discriminação, desigualdade e violência em formas inter-relacionadas,
dependendo dos sistemas de poder e opressão que a rodeiam e afetam. Esta discussão vai mais
além do alcance deste artigo, mas é importante destacar que o debate sobre o direito à cidade
deveria incluir a análise de todas estas identidades que sofrem discriminação e violação de seus
direitos humanos.
58 Cidades para tod@s
5 Ver Yves Jouffe, Contra o direito à cidade acessível. Perversidade de uma reivindicação
consensual , nesta publicación.
6 Ver Tovi Fenster O direito à cidade e a vida cotidiana baseada no gênero , nesta publicação.
Propostas para o dereito à cidade 61
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O direito à cidade e a vida cotidiana
baseada no gênero1
Tovi Fenster
1 Este artigo foi publicado pela primeira vez pelo membro da HIC, Adalah, o Centro Legal pelos
Direitos das Minorias Árabes de Israel em Makan: Adalah s Journal for Land, Planning and
Justice, The Right to the City, volume 1 (primavera de 2006), páginas 40-50.
2 Contudo, uma das interpretações do conceito de cidadania mais comumente usadas é a de
Marshall (1950, 1975, 1981) que a define como a afiliação plena a uma comunidade , abarcando
direitos civis, políticos e sociais. Os críticos desta definição baseiam seus argumentos nas atuais
crises a nível político e social nas quais o exercício do poder do estado-nação se vê desafiado.
64 Cidades para tod@s
3 A razão que justifica a escolha destas duas cidades é o fato de que refletem imagens e simbolismos
contrastantes. Jerusalém é um lugar no qual habitam pessoas de diversas identidades,
especialmente considerando sua imagem de cidade sagrada; é um lugar de simbolismos para
os muçulmanos, cristãos e judeus. Jerusalém é uma cidade associada à rigidez, talvez fanatismo,
regras estritas e limites impostos, que às vezes são expressos em espaços de pertença sagrada.
Estes espaços, muitas vezes, excluem as mulheres (B Tselem, 1995; Bollens, 2000; Cheshin,
Hutman & Melamed, 1999; Romann & Weingrod 1991; Fenster (de próxima aparição). Londres
é uma cidade famosa pelos impactos causados pela globalização e por seu caráter cosmopolita,
abertura e tolerância, mas também por conotações negativas e depressivas, especialmente para
os estrangeiros (Fainstein, 1994; Forman, 1989; Jacobs, 1996; Pile, 1996; Raban, 1974; Thornley,
1992). Analisar os relatos das mulheres que vivem nestas duas cidades ajuda a expor a natureza
das muitas camadas existentes no conceito de pertença, a qual se constrói a partir das práticas
urbanas cotidianas.
Propostas para o dereito à cidade 65
4 Esta mudança funciona em duas direções: sobrescala, incluindo a cidadania da União Européia,
que tem como resultado novas formas de cidadania cosmopolita e democracia global, ou
cidadania a escala, que se refere a uma reviravolta para escalas subnacionais, como os municípios,
bairros, regiões ou distritos, especialmente em cidades cosmopolitas.
66 Cidades para tod@s
5 Como assinala Dikec (2001) o direito de participar inclui o compromisso do povo no controle
institucionalizado da vida urbana, incluindo a participação na vida política, gestão e
administração da cidade.
6 Segundo Lefebvre, deve-se considerar a cidade como uma obra de arte. Os artistas são as rotinas
coletivas da vida cotidiana dos habitantes urbanos. A cidade é um produto criativo e o contexto
para as vidas cotidianas de seus habitantes.
7 Mitchell (2003), por exemplo, examinou a forma como os indigentes são excluídos dos espaços
públicos mediante normas que produzem que o estético se eleve sobre as necessidades de
sobrevivência das pessoas. As leis contra os indigentes, destaca, debilitam os direitos à cidade.
Este exemplo novamente demonstra a discordância e contradição que existe no conceito de
Propostas para o dereito à cidade 67
cidadania e até que ponto podem-se identificar as formações do conceito de pertença ao expandir
as definições de cidadania.
68 Cidades para tod@s
Este relato8 ilustra até que ponto se produz um abuso do direito de uso e
participação no nível do lar devido à dominação patriarcal, que se transforma
em rotina para muitas mulheres no mundo. Segundo Amaliya, a ordem e a
organização do espaço do seu lar, determinado sem sua participação, provocam
nela uma falta de comodidade e pertença. Esta experiência talvez ratifique a crítica
feminista diante da divisão entre o “público” e o “privado” que é inerente às
ideias de Lefebvre. Como destacam os feministas, estas divisões são provocadas
principalmente para justificar a subordinação e exclusão das mulheres, além de
esconder o abuso dos direitos humanos no lar diante da esfera pública (Bunch,
1995). Isolando a discussão do direito à cidade do direito ao lar, Lefebvre cria um
domínio público um tanto neutral, que ignora as relações de poder baseadas no
gênero como um fator dominante na compreensão do direito de uso e que, por
conseguinte, não tem relevância na realidade das vidas cotidianas das mulheres
nas cidades. Obviamente, isso significa que as mulheres que experimentam um
controle patriarcal forte no seu lar necessariamente sofrem o uso restrito da
cidade, mas é importante destacar os vínculos estreitos entre o “privado” e o
“público” ao avaliar a noção de direito à cidade expressa por Lefebvre.
Estes vínculos estreitos muitas vezes encontram expressões contrastantes,
como se vê refletido no relato de Fatma, que descreve uma situação de relações
fortes de poder patriarcal no nível do lar, que a deixam incômoda nele e que
provocam um sentido de pertença menor do que o sentido pela cidade. Para ela,
que tem um nível de controle bastante restrito em seu lar, a cidade se converte
num espaço de libertação:
Lar – prisão! Apesar de que no meu quarto tenho tudo que necessito para
“fugir” – computador, internet, vídeo, televisão a cabo com 50 canais… Tenho
tudo, mas não é o suficiente.
Cidade – liberdade, liberdade pessoal, atmosfera, primavera.
Para Fatma, uma mulher muçulmana de 40 anos, solteira, que vive com sua
mãe, o lar é um lugar ao qual não tem nenhum direito. É um espaço construído
com base numa cultura a qual se sente condicionada pelo estrito controle patriarcal
exercido por seus familiares e comunidade local. A cidade, ao contrário, é o lugar
no qual se sente livre e onde lhe é mais fácil praticar sua cidadania como um
processo negociado. A cidade se converte no seu lar “privado” ou “íntimo”, um
espaço no qual pode sentir-se “ela mesma”. “Estas cidades”, escreveu Elizabeth
Wilson em seu livro A Esfinge na Cidade (1991), “geraram mudanças na vida das
8 Devido às limitações do espaço, somente se apresentaram alguns dos relatos deste documento.
Para uma análise mais detalhada, ver Fenster, 2004.
Propostas para o dereito à cidade 69
Conheço a rua. Vivo nela. Conheço o edifício, cada um de seus tijolos. Cada vez
o conheço mais. É um conhecimento muito íntimo.
(Susana, aproximadamente 30 anos, é casada e tem um filho, é judia
israelense, Jerusalém, 13 de julho 2000).
Sinto uma conexão com a área de Salah al-Din e com algumas zonas da Cidade
Velha. Tenho lembranças da minha época escolar e o internato estava em frente
ao Orient House. Transitei muito por esta área durante minha vida e, portanto,
sinto-me conectada a ela.
(Saida, aproximadamente 30 anos, é solteira, palestina muçulmana, Jerusalém,
30 de dezembro de 2000).
9 Alguns exemplos destas práticas são os diferentes usos dos espaços públicos, principalmente
parques urbanos, por parte dos indivíduos e dos grupos, que acontecem como parte dos
encontros cotidianos informais entre as pessoas ou grupos: os indivíduos desejam apropriar-se
de algumas zonas do entorno público para alcançar intimidade ou anonimato ou ainda para
realizar reuniões sociais. Estas apropriações são principalmente temporais, porém mesmo as
apropriações temporais constituem negociações em relação aos direitos a pertencer, ser parte de
uma comunidade e ser visível (Fenster, 2004).
10 A performatividade é a replicação e repetição de certos atos que estão associados às práticas
ritualistas através das quais as comunidades colonizam diversos territórios. Estes atos são de
fato o exercício do direito ao uso de certos espaços e, através dele, desenvolve-se o cuidado e a
pertença a um lugar (Leach, 2002).
Propostas para o dereito à cidade 71
Os relatos apresentados até agora expuseram práticas cotidianas nas quais o direito
de uso cumpriu-se até certo ponto dentro do contexto dos papéis tradicionais
da mulher por questões de gênero. Contudo, existem outras experiências que
indicam a violação do direito ao uso e pertença à cidade uma vez que os poderes
patriarcais, culturais e religiosos proibiram o acesso aos espaços públicos.
As formas de exclusão legitimadas em geral associam-se às definições
tradicionais de cidadania11. Estas definições são consideradas como relacionadas
à identidade, no sentido de que ditam quais identidades são incluídas na
comunidade hegemônica e quais são excluídas desta. Além disso, estas definições
podem ter efeitos negativos sobre as mulheres, as crianças, os imigrantes, as
pessoas pertencentes a minorias raciais ou étnicas, homossexuais, lésbicas e, em
alguns casos, pessoas da terceira idade. Neste sentido, a definição normativa do
direito à cidade parece incluir os grupos marginais, tais como estrangeiros, pessoas
de diferentes identidades que habitam a cidade e mulheres. Contudo, estas práticas
inclusivas nem sempre se cumprem devido, precisamente, ao domínio patriarcal
nos diferentes níveis assinalados neste documento: lar, imóvel, rua, bairro, cidade,
etc. Na seção anterior vimos como o domínio do patriarcado abusa do direito de
uso no nível do lar. No nível de cidade, as práticas patriarcais se expressam nos
sentimentos de medo, segurança e nas exclusões dos espaços públicos em função
do gênero, de acordo com as normas culturais e religiosas. Ambas as práticas geram
espaços proibidos para a mulher e limitam seu direito à cidade.
11 Muitos críticos tanto de esquerda como de direita reconhecem que a cidadania, por definição,
tem mais a ver, para muitas pessoas, com a exclusão que com a inclusão (McDowell, 1999).
72 Cidades para tod@s
A avenida onde vivo me dá medo porque possui somente uma saída não se pode
deixá-la de qualquer parte. Existem bancos onde estranhos podem sentar-se e te
incomodar, de modo que te sentes presa& Por isso não é tão agradável& Se por acaso
entras nessa avenida, estás perdido& é realmente planejada de maneira masculina
eles a fizeram assim pelo transporte, mas isso me impede de caminhar pela avenida
(Rebeca, 30 anos, casada, judia israelense, Jerusalém, 3 de fevereiro de 2000).
Rebecca conta aqui uma experiência comum para muitas mulheres, cujo uso
cotidiano da cidade está afetado porque os espaços urbanos estão desenhados de
tal forma que se transformam numa armadilha para elas; são desagradáveis e,
portanto, não os usam. Estes espaços transformam-se numa armadilha planejada
. Em outras palavras, os planejadores criaram ou desenharam esses espaços sem
prestar maior atenção às sensibilidades inerentes aos gêneros, criando, uma vez
mais, espaços da cidade que não são usados. Neste caso, as mulheres restringem
seus movimentos e sua mobilidade de forma voluntária, reduzindo seu direito
de uso. A resistência diante destas construções de espaço feitas pelos homens
pode ser parte das negociações das mulheres para expandir o uso dos espaços
públicos.
A mesma associação pode ser feita com os parques urbanos. Algumas
mulheres percebem os parques como áreas masculinas hostis : São zonas que
foram conquistadas. Sinto raiva por não poder usá-las. (Aziza, aproximadamente
30 anos, cidadã palestina que vive em Israel, entrevista feita em 7 de agosto de
2000).
O que expressa Aziza é basicamente um sentido de exclusão dos espaços
públicos devido ao medo e a falta de segurança, mas talvez também esteja
expressando sua raiva ao seu mau uso, o que não lhe permite acessar estes
espaços porque são controlados pelos homens. Tudo parece indicar que o medo
é um sentimento que transforma os parques urbanos em espaços proibidos
depois de certa hora do dia. A maior parte das mulheres, tanto em Londres como
12 O temor ao assédio nos espaços públicos intervém nas experiências de vida cotidiana das
mulheres, tanto em Londres como em Jerusalém. Também intervêm nas vidas de pessoas de
outras identidades, tais como a nacionalidade, estado civil, idade, preferência sexual, etc.
Propostas para o dereito à cidade 73
em Jerusalém, evita usar tais espaços durante a noite. De fato, outra pesquisa
(Madge, 1997) mostra que o medo dos parques urbanos, especialmente durante
a noite, é o principal denominador comum na sua falta de uso, não só por parte
das mulheres, mas também dos homens.
Então, quais são os espaços seguros? São os espaços que permitem as práticas
de cidadania e o cumprimento do direito de uso. O relato de Aziza descreve as
características destes espaços.
Este é o bairro no qual me sinto mais cômoda porque é o lugar mais bonito de Jerusalém.
Sou uma pessoa que possui limitações: sou mulher, palestina, vivo sozinha (este bairro
é como) num microcosmo recorda-me Londres; existe uma grande variedade de
pessoas& nestes lugares eu floresço, como um peixe na água, este é meu mar. Sinto-
me muito protegida porque este bairro está na fronteira entre Jerusalém Oriental e
Ocidental e é o lugar ideal para mim. Antes vivia em Rehavia (um bairro judeu) e me
sentia sufocada. Daqui posso chegar facilmente a Cidade Velha.
(Aziza, 7 de Agosto de 2000).
Conclusões
Este documento expõe a natureza das múltiplas camadas que se encontram nos
conceitos de pertença e cidadania cotidiana baseada no gênero inerente à ideia
de direito à cidade proposta por Lefebvre e apresenta uma crítica feminista para
esta noção. A premissa básica do documento é que os conceitos de cidadania
e pertença devem ser vistos como processos espaciais dinâmicos e não como
definições estáticas articuladas nas vidas e identidades cotidianas das mulheres.
Este documento enfatiza o ponto até o qual o direito à cidade, isto é, o direito a
usar e participar, é violado devido às relações de poder baseadas no gênero. Estas
violações se expressam através das vidas cotidianas das mulheres em Jerusalém
e Londres quando falam de comodidade, pertença e compromisso com suas
cidades.
Para finalizar, o direito à cidade com base no gênero significa que as
avaliações do direito de uso e participação devem ser incluídas em qualquer
discussão séria sobre as relações de poder patriarcal, tanto na esfera privada
como na pública. Também deve considerar até que ponto estas relações de poder
danificam o cumprimento do direito à cidade por parte das mulheres, das pessoas
que pertencem a minorias raciais ou étnicas, etc. Esta discussão está ausente na
atual conceituação de Lefebvre com respeito ao direito à cidade, uma omissão
que transforma este conceito em algo próximo a uma utopia.
Propostas para o dereito à cidade 75
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Propostas para o dereito à cidade 77
Este artigo tem intenção de se aventurar sobre um tema que vem tomando
relevância internacional nas ciências sociais nas últimas décadas: a questão da
felicidade. Nos próximos anos, os desafios para os governos eleitos da América
Latina estarão centrados em aprofundar a qualidade das políticas, programas
e planos sociais. O caminho tomado até hoje possibilitou a cobertura massiva
das necessidades básicas insatisfeitas, mas ao custo de impactos negativos nas
famílias, às vezes invisíveis ao olhar do estado e dos que fazem as políticas
públicas. Frente aos desafios, não basta redirecionar as políticas impulsionadas
até o momento, mas é imprescindível repensar sobre o horizonte das estratégias
de desenvolvimento. Neste sentido, a felicidade é uma ideia-força e um amplo
campo de estudo para definir o caminho das ações governamentais que deverão
buscar melhoras na redistribuição, o reconhecimento e a participação.
1 O IDH contem três variáveis: a esperança de vida ao nascer, o alcance educacional (alfabetização
de adultos e a taxa bruta de matrícula primária, secundária e terciária combinadas) e o PIB real
per capita (PPA em dólares).
Propostas para o dereito à cidade 83
Ranking IDH 2008 GDP per WVS Latino Cimagroup HPI SWLS Ecosocial BID
AL capita barómetro
1 Chile (0,874) Chile Venezuela Brasil Venezuela Colombia Venezuela Brasil (74%) Venezuela
(12,997) (86,3%) (86%) (84%) (67,20) (247) (6.5)
Neste longo caminho, percorrido por muitos governos a mercê das famílias latino-
americanas, encontramos ao menos três pontos críticos nas políticas, programas
e planos sociais desenvolvidos sob estas estratégias de desenvolvimento. Tais
pontos são os déficits, leiam-se dívidas, que os governos tem sobre a felicidade
de sua população. Estes, por sua vez, permitem inferir sobre os resultados
diferenciados nos níveis de felicidade em cada um dos países a partir de cada
Propostas para o dereito à cidade 85
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Os direitos nas cidades e o direito à cidade?
Peter Marcuse
Existe uma diferença entre “os direitos nas cidades” (no plural) e o direito à
cidade (no singular). Uma diferença entre as formas em que se usa esse último em
diferentes “Cartas do direito à cidade” e o sentido radical que lhe foi conferido
por Henri Lefebvre quando, em 1968, o conceito nasceu nas ruas de Paris, no viés
da teoria urbana crítica que seguiu adiante. A diferença entre o plural e o singular
é significativa no que se refere aos “direitos” e também às “cidades”. Reflete
uma diferença política e estratégica que dá conta do alcance das aspirações e da
natureza das visões – e da situação estratégica na qual se emprega – por parte dos
diferentes usuários.
Segundo o uso que lhe deu Lefebvre “o direito à cidade” é um grito, uma
demanda, uma reivindicação. Trata-se de um slogan político, com o objetivo de
ampliar o âmbito das demandas de mudança social para englobar a visão de uma
sociedade diferente, segundo a qual, em seus escritos, “o urbano” costumava ser
sinônimo.
“o direito à cidade é como um grito e uma demanda… não pode ser concebido
como um simples direito de visita ou um retrocesso às cidades tradicionais.
Somente pode ser formulado como um direito transformado e renovado à
vida urbana como o lugar ‘urbano’ de encontro, prioridade do valor de uso,
inscrição num espaço temporal elevado ao posto de recurso supremo entre
todos os recursos.” 1
1 Lefebvre, Henri. 1996 [1967]. “El derecho a la ciudad”. En Writings on Cities, ed. Eleonore Kofman
y Elizabeth Lebas, Londres: Blackwell, P. 158
90 Cidades para tod@s
2 Lefebvre, Henri. 2003 (1970). La revolución urbana. Prólogo de Neil Smith. Traducido por Robert
Bononno. Editorial de la Universidad de Minnesota, p. 45.
3 Para acessar uma exposição contundente dos possíveis riscos da formulação plural pode
consultar Mayer, Margit. 2009. “The ‘Right to the City’ in the Context of Shifting Mottos of Urban
Social Movements,” City: Analysis of urban trends, culture, theory, policy, action, Volume 13, no.
2-3, junho-setembro de 2009.
Propostas para o dereito à cidade 91
base para unir os seus defensores separados. Os sem-terra pedem terra; os sem-
teto demandam moradia; os desempregados demandam um emprego decente
e satisfatório; as forças criativas demandam liberdade artística; as pessoas com
capacidades diferentes demandam a adaptação às suas necessidades; todos
demandam que seu meio-ambiente possua beleza, acesso à natureza e aos
serviços de saúde. Contudo, não se tratam de demandas separadas com uma
visão unitária, uma vez que estão essencialmente vinculadas, não somente no
que se refere à visão da cidade, que pode satisfazer suas necessidades, mas
também sob a análise do motivo de que hoje não existem, que forças impedem
sua concretização e que forças, grupos e pessoas têm o interesse comum para
cumprir suas múltiplas metas. De modo que a primeira implicação da distinção
é a importância estratégica de vincular os direitos separados num movimento
por um direito único que englobe a todos; uma implicação que começa com o
desenvolvimento de coalizões, mas que na realidade é um movimento que une
aqueles que, fundamentalmente, têm interesses comuns. As coalizões consistem
em grupos que acordam apoiar os interesses separados dos demais para o
benefício estratégico mútuo. Um movimento pelo direito à cidade une aqueles
que contam com um interesse em comum, embora no início tenham prioridades
práticas diferentes.
A segunda importância da distinção é analítica: a visão unitária impulsiona a
análise de um entendimento do sistema em sua totalidade. É a segunda implicação
política da distinção entre a visão unitária e plural da demanda. Dá lugar a um
exame do que move o sistema, do que produz as dificuldades e benefícios que
atinge, quais são suas debilidades e forças mais além de uma simples análise
das causas dos problemas particulares e produtos dos subsistemas. Fala-se com
freqüência do perigo da cooptação das campanhas feitas separadamente em
prol de direitos separados: os artistas que se opõem à gentrificação a promovem
quando são beneficiados, os trabalhadores que desejam encontrar trabalho em
fábricas que contaminam, os adultos idosos que apóiam programas de saúde que
designam recursos a seu favor, as minorias particulares que estão dispostas a se
incorporarem a estruturas políticas que excluam outras e os desempregados que
resistem às reformas imigratórias que consideram negativas para seus interesses.
Entretanto, uma visão unitária do sistema é útil para esclarecer que tais interesses
são superficialmente opostos e que todos os setores têm o interesse profundo
em trabalhar unidos para atingir uma única cidade que satisfaça todas as suas
necessidades.
A terceira importância da distinção consiste em que a visão unitária aumenta
a aposta e representa a esperança de maiores benefícios e um futuro promissor,
que não se limita a evitar um problema em particular, mas que dê lugar a um
mundo completamente diferente e melhor. Neste sentido, reforça o sentido
do slogan “Outro mundo é possível” e apela à sua criação. Pode proporcionar
92 Cidades para tod@s
Para ir mais além do uso do direito à cidade na teoria, nas cartas e como slogans,
é vital observar como o empregaram na prática as organizações cujo propósito é
apelar diretamente para a sua implementação. A questão dos agentes de mudança
tem chamado a atenção dos radicais desde princípios do século XIX. Marx e
Propostas para o dereito à cidade 93
4 Leavitt, Jacqueline. 2009. “El Derecho a la Ciudad crea una Alianza y se enfrenta a los alcaldes”.
Progressive Planning, no. 180, verano, p. 19.
5 Leavitt, Jacqueline, Tony Samara y Marnie Brady. 2009. “Right to the City: Social Movement and
Theory.” Poverty and Race, Vol 18, No. 5. septiembre/octubre, p. 3-4.
6 Marcuse, Peter. 2009. “From Critical Urban Theory to the Right to the City,” CITY: Analysis of
urban trends, culture, theory, policy, action.” Vo. 13, no. 2-3, junio-septiembre, pp. 185-197.
94 Cidades para tod@s
7 Parte da informação apresentada em seguida e grande parte do incentivo para escrever este
debate e enfoque surgem das conversações e da leitura dos escritos de Jacqueline Leavitt,
“recurso/aliada” do grupo de Los Angeles.
8 www.tidesfoundation.org/fileadmin/tf_pdfs/TheRightToTheCity.pdf
9 www.righttothecity.org/WhoWeAre.html.
96 Cidades para tod@s
Nos seus Princípios de Unidade iniciais, a Aliança faz referência aos direitos
daqueles que já descrevi11, na falta de um termo melhor, como os despossuídos:
comunidades de classe trabalhadora multirraciais, mulheres, homossexuais
e transexuais, povos indígenas, pessoas que vivem no campo, imigrantes,
arrendatários e pessoas com HIV/AIDS.
As declarações da Aliança normalmente demandam os direitos relacionados
com a permanência, contra a remoção (em virtude da gentrificação), educação,
moradia, salários decentes, participação democrática plena, qualidade do meio-
ambiente e saúde.
Ficam claros quais são os interesses envolvidos e em que camada de uma
divisão de poder fundamental estão. O direito à cidade é para aqueles que não
têm poder; os que o têm já contam com os direitos e costumam usá-lo para negá-
los aos demais.
A Aliança se considera, na prática, como mais do que uma Aliança:
Porém acredito que já não podemos continuar operando a este nível sob o
interesse pessoal, porque se não nos amparamos num nível superior, a coalizão
se limitará apenas ao interesse pessoal.12
Esse nível superior é o marco teórico para o qual contribui o direito à cidade,
uma análise que se fundamenta na aplicação da teoria urbana crítica.
10 www.urbanhabitat.org/node/1806
11 En Marcuse, Peter. 2009, supra.
12 El derecho a la ciudad: Una publicación de Tides Foundation, n.d, .pp. 24.
Propostas para o dereito à cidade 97
Para tomar a Aliança pelo Direito à Cidade de Nova Iorque13 como exemplo
a nível local e nos concentrarmos no modo em que as ações e as políticas do
grupo têm refletido ou não nas contribuições da teoria crítica, as organizações
integrantes locais de Nova Iorque refletem a gama de grupos e interesses a nível
nacional. Os grupos são14:
FIERCE,20 através de seu trabalho busca outorgar poder aos jovens negros de
Nova Iorque que são lésbicas, gays, bissexuais, transexuais(LGBTQ). FIERCE se
dedica a cultivar a próxima geração de líderes do movimento pela justiça social,
concentrando-se em terminar com todas as formas de opressão. Por meio de uma
de suas campanhas atuais para estabelecer um centro para os jovens LGBTQ no
Pier 40, conseguiram ajudar a criar uma ampla coalizão comunitária em West
Village que deteve a privatização de terrenos e de recursos públicos. 21
Imagem dos sem-teto31 foi fundada e é dirigida por pessoas sem-teto que
se negam a ser esquecidos e demandam que suas vozes sejam ouvidas e suas
habilidades consideradas. A organização trabalha para mudar as leis e políticas
vigentes, além de questionar as causas fundamentais da falta de moradia. 32
Que generalizações podem ser feitas sobre tais grupos, seus programas e sua
relação com o marco teórico do direito à cidade?
Quase todos os grupos têm uma base sólida nas identidades as quais se
atribuem características negativas e envolvem a superação desses aspectos em
seu trabalho. Elevam o orgulho de suas identidades e insistem em que uma
confiança maior gerará resultados positivos: que se veja a “imagem dos sem-
teto”, que se ouçam as “vozes da comunidade”.
Todos os grupos se preocupam que suas identidades não estejam separadas
e isoladas. Para evitar o separatismo no que se refere ao comunitarismo,
“participar de alianças”, “desenvolver coalizões… com ampla base de apoio”,
“criar um movimento… pela justiça social”.
Todos os grupos se enfocam naqueles que se encontram numa situação
econômica em particular; o termo mais usado é “de baixa renda”.
29 www.mothersonthemove.org
30 www.nycahn.org/
31 Picture The Homeless
32 www.picturethehomeless.org/
33 www.weact.org/
100 Cidades para tod@s
Todos os grupos afirmam que suas metas se relacionam com “justiça social”,
“equidade” e “desigualdade”.
Todos os grupos consideram que seu trabalho questiona o poder para “mudar
leis”, “expandir o poder” e “criar poder”.
Quase todos os grupos consideram que a ação militante e “direta” é o meio
para alcançar seu objetivo.
Quase todos os grupos formulam, em termos gerais, uma visão de suas metas
como o caminho para um programa mais geral que possa ser compartilhado
com outros grupos. A forma mais comum de expressar a meta em termos gerais
é “acabar com todas as formas de opressão” e abordar “as causas fundamentais”
dos problemas particulares nos quais estão enfocadas. Evidentemente, sua
integração numa aliança dedicada a cumprir com o “o direito à cidade” é uma
reafirmação dessas metas.
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www.tidesfoundation.org/fileadmin/tf_pdfs/TheRightToTheCity.pdf
www.urbanhabitat.org/node/1806
www.weact.org/
Uma nova aliança para a cidade? Oportunidades e
desafios da globalização do movimento pelo direito
à cidade
Giuseppe Caruso
As perguntas cruciais
Começarei abordando a pergunta mais urgente: existe nesse momento algo que
possa ser considerado como um movimento global pelo direito à cidade? Seria
difícil responder afirmativamente de maneira convincente. Existem, no entanto,
Propostas para o dereito à cidade 105
3 Consultar a Brenner e Marcuse, 2009; Brenner e otros, 2009; Harvey, 2008 e Mayer, 2009 entre
outros.
108 Cidades para tod@s
4 Consultar: http://www.hic-net.org/articles.php?pid=3034.
Propostas para o dereito à cidade 109
5 Pode-se ver, no entanto, a recente declaração de ativistas da Índia, China, Indonésia e Filipinas na
”Luta pela cidade: O novo caráter, enfoques e agenda dos pobres urbanos”.
110 Cidades para tod@s
Estas frases refletem as tensões da potencial aliança global pelo direito à cidade.
Este se baseia na liberdade de “criar e recriar nossas cidades e a nós mesmos”;
por sua vez, subordinam-se ao entendimento de que é um “direito comum antes
de individual”. É desse modo porque a transformação da cidade “depende do
exercício de um poder coletivo” (grifo nosso). De acordo com as sugestões de
Lefebvre, Harvey formula que as dinâmicas da mudança e da transformação
“dependem”, consequentemente, do exercício de um poder coletivo (2008).
Uma questão muito mais complexa que, com excessiva frequência, mostra-
se como uma oposição dual, relaciona-se com a formulação de possibilidades
criativas para imaginar o direito à cidade como um conceito individual e, ao
mesmo tempo, coletivo. Este enfoque descreve um mundo radicalmente dividido
no qual um enfoque está, e deve estar subordinado ao outro, já que o individual
“depende” do coletivo. A criação de um marco analítico radicalmente dual não
somente impede um entendimento, mas também pode ajudar a consolidar um
entorno limitado para o ativismo emancipador.
112 Cidades para tod@s
Conclusão
A convergência de movimentos que trabalham com questões urbanas no espaço
aberto do FSM e que defendem a criação de uma rede mais ampla pelo direito
à cidade certamente corresponde tanto ao que este Fórum pode oferecer como
ao uso que lhe dão os ativistas. Desde 2001, o FSM foi experimentando diversas
maneiras de enfrentar as diferenças sem diminuí-las e ao mesmo tempo facilitar a
criação de novas expressões culturais de política. Embora nem sempre com êxito,
sua experiência constitui um legado que outros movimentos, do mesmo âmbito
e escala, poderiam adotar, caso coincidam na visão de criar um mundo melhor.
O direito à cidade pode ser considerado com um ambiente em vias de
globalização no qual os diferentes atores atuam principalmente no espaço
definido por seu próprio contexto e abordado em função de seus próprios valores.
O ecossistema do direito à cidade está povoado de organizações e movimentos
muito diversos cujas ações, valores e compromissos projetam profundas diferenças
quanto a sua natureza, visão e estratégias. Poderia se considerar que alguns
proporcionam oportunidades profundamente transformadoras e emancipadoras
aos ativistas, enquanto outros podem ser inclusive conservadores e, em última
instância, conduzir à exploração.
Tal como outros movimentos transnacionais – a saber: o ambientalista,
o feminista e laboral – o espaço do direito à cidade define-se por meio de um
conjunto de características reconhecíveis. No entanto, nem todos os atores dentro
do referido espaço concordam com elas e, certamente, os matizes dos assuntos
em questão são bastante diversos e, em algumas ocasiões, também contrastantes.
Parafraseando o filósofo austríaco Wittgenstein, entre os movimentos que
povoam aquele espaço é fácil reconhecer certa “semelhança familiar” que
pode ser impossível de explicar convincentemente em termos lingüísticos.
114 Cidades para tod@s
O que deve ser feito a partir das diferenças entre os atores do “ambiente” do
direito à cidade? Esta diferença será adotada na convergência de uma aliança
estratégica, desenvolvimento de redes pouco estruturadas ou a construção de
uma plataforma? Discute-se muito sobre a linguagem política e estratégica da
organização dos movimentos. A metáfora da semelhança familiar pode ser
reforçada inclusive em caso de conflito, com práticas compartilhadas geradas
pela consciência de um potencial mútuo de reconhecimento e empoderamento
transformador.
Gostaria de destacar aqui que, no sentido analisado até agora, o desenvolvimento
de coalizões é mais importante que a coalizão em si, que muda continuamente e
assume formas variadas em diferentes contextos locais. O desenvolvimento das
coalizões acontece nos processos de negociação de diferenças e conflitos assim
como nas dinâmicas de deliberação na esfera pública. O enfoque exclusivo no
aspecto estratégico de desenvolvimento de frentes e alianças para a luta política
tende a ser míope, já que não considera o valor da diferença na transformação
dos movimentos (nem tampouco na transformação global).
Um enfoque maior no caminho do que no destino final poderia demonstrar
coerência com a visão inicial do FSM e com membros do movimento global que
desejam pôr ênfase no que consistem os movimentos transformadores, por meio
de uma visão teleológica (centrada excessivamente nas metas). Isto poderia
obrigar os líderes a aplicar estratégias sem deixar de lado a diferença em prol da
eficiência para conseguir, por exemplo, um objetivo organizacional específico ou
fortalecer o bloco político. Santos sugeriu que o principal papel e a tarefa mais
ambiciosa do FSM poderiam estar representados por seu rol de tradutor ou espaço
de tradução entre os diferentes movimentos do mundo inteiro que convergem
nele. Pode se tratar, no entanto, de um processo limitado no caso de ficar centrado
apenas da dimensão linguística. A experiência demonstra que a inteligibilidade
costuma ser mal entendida, como um caso da inclusão ou da horizontalidade
organizacional e social e, portanto, considerada plenamente emancipadora.
Embora seja necessário prestar uma atenção criteriosa às práticas de comunicação
a nível linguístico, podem ser necessárias outras atividades não linguísticas para
começar a aprofundar o processo transformador entre os movimentos do FSM e
a aliança em formação. A liderança destas iniciativas poderia explorar maneiras
de enfrentar o conflito e facilitar os processos de mediação entre os movimentos,
ao invés de empregar intermediários ou simples tradutores. Lamentavelmente,
a tradução muitas vezes provou ser uma ferramenta adicional de hegemonia.
Reproduziu as dinâmicas que o FSM e outras alianças globais tentaram superar,
porque foi empregada por vanguardas contemporâneas e líderes autoritários.
No entanto, os processos transformadores de reconhecimento de diferenças e
mediação de conflitos poderiam despertar dinâmicas emancipadoras para todos
os atores envolvidos (Caruso 2004 e 2010)
Propostas para o dereito à cidade 115
Referências
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Fundação Perseu Abramo.
O processo de construção pelo direito à cidade:
avanços e desafios1
O direito à cidade, que tem seus primeiros antecedentes nos escritos de Henry
Lefebvre, nos anos 60 do século passado, foi retomado por redes, movimentos e
organizações da sociedade civil e vem gerando diversas iniciativas. Dentre elas
destaca-se a integração de uma “Carta Mundial pelo Direito à Cidade”, processo
que foi gerado e que recebe seu principal impulso a partir do panorama plural
do Fórum Social Mundial.
É importante ressaltar que esta iniciativa surge a partir da sociedade civil
organizada e que tem levado a um longo processo de discussão para enriquecer
e fortalecer a proposta.
Um antecedente importante da Carta se deu dentro das atividades preparatórias
da II Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente que sob o
título “Cúpula da Terra” realizou-se no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992. O Fórum
Nacional pela Reforma Urbana (FNRU) do Brasil, Habitat International Coalition
(HIC) e a Frente Continental de Organizações Comunais (FCOC) juntaram
esforços para redigir e assinar, nessa ocasião, o Tratado sobre a Urbanização “Por
cidades, vilas e aldeias justas, democráticas e sustentáveis”.
Como parte do processo preparatório da Cúpula da Terra, HIC organizou
nesse mesmo ano, na Tunísia, o Fórum Internacional sobre Meio Ambiente,
Pobreza e Direito à cidade no qual, pela primeira vez, membros da nossa Coalizão
provenientes de diversas regiões do mundo debateram sobre a questão.
1 Texto revisado e atualizado pelo autor do artigo “Hacia una Carta Mundial por el Derecho a la
Ciudad” escrito para a UNESCO em 2006 e publicado por HIC-AL como introdução ao Dossiê
El Derecho a la Ciudad en el Mundo. Compilación de documentos relevantes para el debate. Enrique
Ortiz, Nadia Nehls y María Lorena Zárate (compilação e edição), México, 2008 (versão eletrônica
disponível em www.hic-al.org/publicaciones/).
118 Cidades para tod@s
Alguns anos mais tarde, em outubro de 1995, vários membros da HIC participaram
do encontro “Para a Cidade da Solidariedade e da Cidadania” convocado pela
UNESCO. Este encontro abriu de fato a participação deste organismo na questão dos
direitos urbanos. Nesse mesmo ano as organizações brasileiras promoviam a Carta
dos Direitos Humanos na Cidade, antecedente civil do Estatuto da Cidade, que anos
mais tarde seria promulgado pelo estado brasileiro.
Outro marco importante no caminho que conduziu para a iniciativa de formular
uma Carta Mundial pelo Direito à Cidade foi constituído pela Primeira Assembléia
Mundial de Moradores, realizada no México em 2000, na qual participaram cerca
de 300 delegados de organizações e movimentos sociais de trinta e cinco países.
Sob o lema “repensando a cidade a partir das pessoas”, debateu-se em torno
da concepção de um ideal coletivo que servisse de base a propostas orientadas
à construção de cidades democráticas, inclusivas, sustentáveis, produtivas,
educadoras, habitáveis, saudáveis, seguras e agradáveis.
Um ano depois, já no marco do Primeiro Fórum Social Mundial, seria aberto o
processo introdutório à formulação da Carta. A partir de então e por ocasião dos
encontros anuais do Fórum Social Mundial e dos Fóruns Sociais regionais, tem se
trabalhado sobre os conteúdos e as estratégias de difusão e promoção da Carta.
Dentro do processo conduzido por redes e organizações da sociedade civil
destacam-se os encontros nos quais se realizou uma revisão profunda do texto
original e do processo de divulgação e negociação da Carta.
O primeiro se deu em 2004 em Quito, Equador, por ocasião do primeiro Fórum
Social das Américas, no qual representantes de diversos movimentos sociais
debateram com o grupo promotor da Carta sobre a necessidade de contar com
dois instrumentos, um básico de direitos humanos e outro político para ampliar
e ativar a mobilização social em torno deste novo direito.
No segundo, realizado em Barcelona, em setembro de 2005, trabalhou-se em
profundidade sobre a estrutura, conteúdos, alcances e contradições abordadas
por uma Carta que deixa fora questões do hábitat rural e que trabalha com termos
provenientes do contexto latino-americano e europeu que, por sua vez, não refletem
conceitos e temas prioritários para os países asiáticos, africanos e do Oriente Médio.
De forma paralela a estas iniciativas da sociedade civil, alguns governos,
tanto a nível regional, como nacional e local, vem gerando instrumentos jurídicos
que buscam normatizar os direitos humanos no contexto urbano. Entre os mais
relevantes, que foram firmados pelos governos locais e nacionais, e que estão
em vigor, podemos mencionar a Carta Européia de Salvaguarda dos Direitos
Humanos na Cidade (Saint Denis, França, 2000), o Estatuto da Cidade (Brasil,
2001), a Carta de Direitos e Responsabilidades de Montreal (Canadá, 2006). Existe
também uma série de declarações e propostas da sociedade civil que também
tem servido de base para esta iniciativa, como a Carta Mundial pelo Direito à
Propostas para o dereito à cidade 119
Cidade (primeira versão 2003 e revisões posteriores 2004 e 2005), a Carta pelo
Direito das Mulheres à Cidade (Barcelona, Espanha, 2004), a Declaração Nacional
para Reforma Urbana (Buenos Aires, Argentina, 2005 e seguintes) e a Declaração
frente a MINURVI (San Salvador, El Salvador, 2008)2.
No quadro do IX Fórum Social Mundial de janeiro de 2009 em Belém do
Pará, Brasil, realizou-se um seminário – convocado por 20 organizações e
redes – no qual foi debatida a questão da reforma urbana e o direito à cidade
como alternativa ao neoliberalismo. Além desse encontro, que reuniu mais de
800 pessoas, trabalhou-se na atualização dos conteúdos da Carta Mundial e na
construção de uma agenda de mobilização e articulação 2009-2010.
Em setembro de 2009 levou-se a cabo em Quito, Equador, o seminário-oficina
Para a implementação do Direito à Cidade na América Latina o qual permitiu ampliar
o circuito de atores envolvidos na questão de aproximar reflexões, experiências e
propostas a partir de pontos de vista e trajetórias muito diferentes.
A decisão da ONU-Hábitat de organizar o V Fórum Urbano Mundial em
2010 sobre o direito à cidade dará um alcance mundial a este assunto. Será a
oportunidade para que as redes internacionais, organizações e movimentos
sociais que vem impulsionando o fórum avancem na articulação de esforços
para conseguir seu reconhecimento pelas Nações Unidas como um novo direito
humano de caráter coletivo.
Motivações
2 Uma versão resumida ou versões completas de alguns destes materiais estão incluídas em El
Derecho a la Ciudad en el mundo: compilación de documentos relevantes para el debate, HIC-AL, México,
2008 (disponível en http://www.hic-al.org/publicaciones.cfm?pag=publicderviv).
120 Cidades para tod@s
3 Preâmbulo da versão atual do projeto da Carta Mundial pelo Direito à Cidade, Setembro, 2005.
Propostas para o dereito à cidade 121
Natureza e alcances
Conteúdos
Questões a debater
Mobola Fajemirokun*
Contexto
5 Idem, State of the World’s Cities 2008/2009: Harmonious Cities”, pág. XI, 17 e 19 da versão em inglês.
6 De ONU-Hábitat, “Slum Population Projection 1990-2020” segundo a taxa de crescimento anual
em 1990-2001, disponível em www.unhabitat.org.
7 Os 22 países da África Anglófona adotaram a Declaração do Milênio de 8 de setembro de 2000.
8 Para os propósitos deste documento, o termo ‘habitante’ não se refere ao domicílio ou residência
permanente na cidade.
9 A Carta Mundial do Direito à Cidade, por exemplo, desenvolvida por grupos da sociedade
civil e organizações sociais e elaborada em vários fóruns internacionais como o Fórum Social
das Américas, realizado em Quito, Equador, em junho de 2004 e o Fórum Urbano Mundial de
Barcelona, na Espanha, em setembro de 2004.
10 O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDESC), por exemplo, adotado em 16 de
dezembro de 1966.
Propostas para o dereito à cidade 127
11 A. Brown & A. Kristiansen, Urban Policies and the Right to the City: Rights, Responsibilities
and Citizenships, 36-37 (Nairobi: UN-Habitat, março de 2009). Sobre os DESC, ver o Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) adotado em 16 de dezembro
de 1966 e a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW), adotada em 18 de dezembro de 1979.
12 Fonte: Centro pelo Direito à Moradia e contra os Despejos (COHRE).
13 Alguns dos instrumentos regionais recorrem às disposições dos tratados internacionais. Ver as
notas 10 e 11; ver também a Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas (CDN)
adotada em 20 de novembro de 1989 e a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Inumanos ou Degradantes (CAT, na sigla em inglês), adotada em 10 de dezembro
de 1984.
128 Cidades para tod@s
aderiram à Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos14. Isso implica que
o direito internacional os obriga a dar todos os passos necessários para assegurar
a implementação das disposições legais sobre os direitos humanos pertinentes
dentro do seu território. Assim, no caso da Carta Africana sobre os Direitos e
Bem-estar da Criança, esta foi ratificada por 95% dos países da África Anglófona
(a exceção é Suazilândia, que somente assinou). No caso do Protocolo sobre os
Direitos da Mulher na África, 64% dos países não ratificaram nem aderiram
ao Protocolo. Ao contrário, sete daqueles países (Botsuana, Camarões, Quênia,
Madagascar, Maurício, Suazilândia e Uganda) contam com proteção contra a
discriminação de gênero em suas Constituições nacionais15. Além disso, alguns
deles, como Maurício, Madagascar, Botsuana e Quênia estão bem classificados
na análise da discriminação de gênero realizada em 102 países não pertencentes
a OCDE16.
Realidades atuais
14 A ratificação significa que o estado firmou oficialmente o tratado quando este foi adotado e,
consequentemente, aceitou por escrito as obrigações legais estabelecidas em seus termos. Por
outro lado, a adesão implica que o estado aceitou por escrito as obrigações legais estabelecidas
nos termos de um tratado sem firmar o instrumento quando foi formalmente adotado. Somente
a assinatura de um tratado não implica em qualquer obrigação legal.
15 Com exceção do Sudão. Para obter mais informação sobre a proteção contra a discriminação nas
Constituições nacionais, ver http://www.genderindex.org.
16 Lesoto e Seychelles não foram incluídas nas avaliações para o Índice de Gênero e Instituições
Sociais (SIGI), ver http://www.genderindex.org.
Propostas para o dereito à cidade 129
Mais de dois anos depois da adoção da Carta Africana sobre Democracia, Eleições
e Governabilidade (ACDEG) somente dois países africanos não anglófonos
assinaram-na. É possível que ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas
sobre as respostas nacionais a este novo tratado. O fato, porém, de que sua adoção
foi considerada assinala as brechas da governança econômica, social e política
presentes nos países africanos em sua totalidade e não comente no subgrupo
anglófono. ACDEG não se centra unicamente nas cidades, dada sua ênfase às
obrigações dos governos nacionais. Os princípios que a regem e as ações que
promove, no entanto, cobrem aspectos que o direito à cidade busca fomentar
dentro das cidades, como a proteção dos direitos humanos, a igualdade de
tratamento, a participação democrática e a responsabilidade, prestação de contas
e transparência nas questões financeiras e institucionais públicas (ver Quadro
3). Não obstante, reconhece-se que no que se refere ao acesso à informação,
as disposições de ACDEG não apresentam a solidez que poderiam ter. Esta
questão aborda unicamente os Artigos 2(10) e 19(2). O Artigo 2(10) simplesmente
estabelece que o objetivo de ACDEG será ‘promover… o acesso à informação…
e a responsabilidade na gestão dos assuntos públicos’. Contrariando este artigo,
o Artigo 2(10) simplesmente assinala que ‘cada Estado Membro deverá garantir o
livre acesso à informação, porém somente no caso das comissões de observadores
eleitores (grifo nosso).
130 Cidades para tod@s
17 Artigo 3, ACDEG.
18 Ver http://www.hlrn.org.
19 Por meio de consultas públicas, notificações adequadas e o pagamento de compensações, por
exemplo.
Propostas para o dereito à cidade 131
Observações finais
Anexo 1
Estimativa da população nacional total e indicadores urbanos de África Anglófona
urbana5
1. Botsuana 1.776.283 60 40 2,5 -0,6 - -
2. Camarões 10.493.655 58 42 3,5 0-1 4.224.000 47,4
3. Gâmbia 1.364.507 57 43 4,2 0,7 371.000 45,4
4. Gana 18.912.079 51 49 3,5 0,5 4.805.000 45,4
5. Quênia 37.183.923 22 78 4,0 2,3 3.897.000 54,8
6. Lesoto 1.880.661 26 74 3,5 -0,3 118.000 35,1
7. Libéria 3.489.072 61 39 5,6 2,8 - -
8. Madagascar 18.820.000 30 70 3,8 2,2 4.022.000 80,6
9. Malavi 13.630.164 19 81 5,2 2.0 1.468.000 66,4
10. Maurício 1.268.565 42 58 0,9 0,7 - -
11. Namíbia 2.065.226 37 63 2,9 0,4 242.000 33,9
12. Nigéria 140.003.542 49 51 3,8 0,9 41.664.000 65,8
13. Ruanda 8.128.553 19 81 4,2 2,4 1.251.000 71,6
14. Seychelles 86.956 55 45 1,4 -0,6 - -
15. Serra Leoa 4.976.871 38 62 2,9 1,5 2.180.000 97,0
16. África do Sul 48.687.000 61 39 1,4 -0,7 8.077.000 28,7
17. Sudão 39.154.490 44 56 4,3 0,7 13.914.000 94,2
18. Suazilândia 953.524 25 75 1,7 0,3 - -
19. Tanzânia 40.600.000 26 74 4,2 1,9 6.157.000 66,4
20. Uganda 28.247.300 13 87 4,4 3,1 2.420.000 66,7
21. Zâmbia 12.525.791 36 64 2,3 1,7 2.336.000 57,2
22. Zimbábue 11.631.657 38 62 2,2 0,2 835.000 17,9
1 Segundo o último censo disponível e as estimativas do Informe sobre População e Estatísticas Vitais
da Divisão das Nações Unidas de 29 de setembro de 2009, baixado de http://www.unstats.un.org.
2 De ONU-Hábitat, “Slum Population Projection 1990-2020” segundo a taxa de crescimento anual
em 1990-2001, disponível em www.unhabitat.org.
3 Idem.
4 State of the World’s Cities 2008/2009: Harmonious Cities, pág. 248 da versão em inglês.
5 De ONU-Hábitat, “Slum Population Projection 1990-2020” segundo a taxa de crescimento anual
em 1990-2001, disponível em www.unhabitat.org.
Segundo Capítulo:
Richard Pithouse
Se sua causa é boa, por que não haveriam de se comunicar conosco e permitir
que a razão e a equidade, a base das leis justas, nos julguem tanto a nós como
a eles?
Gerrard Winstanley1
1 Gerrard Winstanley: His Thoughts and Works editado por Subrata Mukherjee & Sushila Ramaswamy
(Publicaciones Deep & Deep: Nueva Deli), 1998, p. 44.
2 Ver por exemplo, Holding Their Ground editado por Philip Bonner, Isabel Hofmeyer, Deborah
James & Tom Lodge (Raven Press: Johannesburg), 1989 & The People’s City: African Life in
Twentieth-Century Durban editado por Paul Maylam & Iain Edwards (University of Natal Press:
Pietermaritzburg), 1996 y
3 Richard Pithouse ‘Shacks in Durban Till the End of Apartheid’, The Commoner, Diciembre 2009
http://www.thecommoner.org.uk
140 Ciudades para tod@s
nas mesmas; com o reconhecimento, até certo ponto, por parte do estado e das
ocupações de terras urbanas4.
Ao término do apartheid, garantiu-se na Constituição o direito à moradia
e foram promulgadas leis para proteger os ocupantes ilegais de desocupações
arbitrárias, além de impedir qualquer despejo que deixasse as pessoas sem um
lar5. Implementou-se uma política habitacional a partir do compromisso com o
modelo do Banco Mundial, política que contemplava a atribuição – por domicílio
– de um subsídio habitacional fixo concedido pelo governo à iniciativa privada, a
qual devia gerar rendimentos construindo dentro dos limites do subsídio6.
Embora não houvesse transcorrido muito tempo desde as mobilizações
massivas contra o apartheid acontecidas durante a década de 80 – dirigidas por
organizações populares que contavam com um grau considerável de autonomia
em relação a qualquer controle partidário centralizado7, e que geralmente se
confrontavam diretamente com a problemática urbana8, tanto o estado como suas
ONGs aliadas se mobilizaram rapidamente para reduzir a problemática política
do direito à cidade a perguntas técnicas acerca da construção de habitações. A
redução do debate político à linguagem técnica, que considerava o planejamento
urbano como uma tarefa do estado e das ONGs, além de medir o êxito em termos
de “unidades entregues”, tornou-se dominante na sociedade civil. Construiu-se
um número considerável de casas, em geral pequenas, de baixíssima qualidade
e localizadas em guetos periféricos9. Além disso, os projetos habitacionais foram
regularmente capturados pelas elites políticas locais e, em todos os níveis, desde
a adjudicação de contratos de construção até o subsídio para as casas individuais,
foram utilizados para apoiar os interesses políticos e pessoais dessas elites. As
estruturas partidárias locais atuaram muitas vezes de forma cruel, recorrendo,
em algumas ocasiões, à violência10.
16 Richard Pithouse ‘Abahlali baseMjondolo & the Struggle for the City in Durban, South Africa’,
Cidades, Vol. 6, No. 9, pp.241-272.
17 Richard Pithouse Abahlali baseMjondolo & the Struggle for the City in Durban, Sudáfrica
18 Richard Pithouse ‘Burning Message to the State in the Fire of the Poor’s Rebellion’, Business Day,
http://www.businessday.co.za/articles/Content.aspx?id=76611.
19 Faço uso da frase “planejamento urbano de base” segundo a definição de Marcelo Lopez de
Souza. Este autor escreve em seu estudo ‘Together with the state, despite the state, against the state:
Movimientos sociales como ‘agentes de planificación urbana crítica’, City, Vol. 10, nro. 3, 2006,
pp. 327-342.
20 Richard Pithouse ‘Struggle is a School: The rise of a shack dwellers’ movement in Durban, South
Africa’ Monthly Review, Vol. 57, No. 9, 2006. http://www.monthlyreview.org/0206pithouse.htm
Experiências - Lutas populares 143
O movimento não foi fundado por uma ONG, uma organização política e não
conta com financiamento externo. Era, no sentido denominado por Marcelo Lopes
de Souza, um projeto político autônomo21, que tomou a linguagem tradicional
da dignidade dos indivíduos, recriando-a numa forma cosmopolita apropriada
para a vida urbana. Desde o princípio o movimento revelava um sentimento
de afetividade e de preocupação pelo outro, próprio de uma congregação22;
uma cultura política lenta, profundamente democrática e deliberada23; uma
diversidade impressionante de etnias, raças e nacionalidades24.
Desde então, a relação entre movimento e estado passou da repressão direta
para o compromisso produtivo, porém cauteloso; e, em seguida, de retorno a um
modo repressivo ainda mais violento por parte do governo. Desde o primeiro
bloqueio de vias em março de 2005 até setembro de 2007, quando uma marcha
legal e pacífica até a prefeitura foi violentamente atacada pela polícia25, o estado
negou-se a aceitar a AbM como um organização legítima.
Em certo sentido, os assentamentos que haviam se afiliado de maneira
coletiva ao movimento foram tratados pela polícia como territórios dissidentes
e, em alguns casos, quando a tensão aumentava, foram ocupados pelas forças
militares. Os protestos de AbM foram proibidos de forma ilegal e atacados
quando seus membros tentavam desafiar as proibições. Alguns integrantes
conhecidos do movimento foram expulsos de seus trabalhos e passaram por mais
de 200 prisões e outros tipos de repressões policiais, incluindo o uso da violência
policial para prevenir, de forma física, que o movimento aceitasse convites de
rádio e televisão para participar de debates políticos26. Durante este período de
repressão, o movimento foi vítima de uma virulenta campanha de difamação
por parte do governo, que o acusava, principalmente, de conspiração política
organizada por um agente branco pertencente a um governo estrangeiro para
desestabilizar o país27.
21 Ver Marcelo Lopes de Souza ‘Urban Development on the Basis of Autonomy: a Politico-
philosophical and Ethical Framework for Urban Planning and Management’ Ethics, Place and
Environment, Vol. 3, No. 2, 2000, pp. 187-201, 2000.
22 Richard Pithouse ‘Coffin for the Councillor’, Journal of Asian & African Studies, Vol. 41, Nos 1-2,
2006.
23 Raj Patel ‘A Short Course in Politics at the University of Abahlali baseMjondolo’, Journal of Asian
and African Studies, Vol. 43, No. 1, p. 95-118, 2008.
24 Richard Pithouse Abahlali baseMjondolo & the Struggle for the City in Durban, Sudáfrica
25 Ver Centre on Housing Rights & Evictions Open Letter to Obed Mlaba & Michael Sutcliffe, 2007,
http://abahlali.org/node/2664 and Human Rights Watch World Report 2009, http://www.hrw.
org/en/node/79205
26 Stephanie Lynch & Zodwa Nsibande, The Police and Abahlali baseMjondolo: A List of Key
Incidents of Police Harassment Suffered by Abahlali baseMjondolo, 2008 http://abahlali.org/
node/3245
27 Como exemplo deste tipo de discurso estatal paranóico ver Lennox Mabaso and Harry Mchunu,
144 Ciudades para tod@s
Shackdwellers ‘under the sway of an agent provocateur’, Sunday Tribune, 24 Septiembre 2007,
http://www.sundaytribune.co.za/index.php?fArticleId=3451568. Para una respuesta a este
tipo de discurso por parte del presidente de la AbM S’bu Zikodes véase We Are the Third Force,
Noviembre 2005 http://www.abahlali.org/node/17
28 Para ler as reflexões de ativistas do movimento sobre a questão ver Living Learning edited por
Mark Butler (Church Land Programme: Pietermaritzburg), 2009 http://www.abahlali.org/
node/5843
29 Para reflexões de uma pessoa envolvida nas políticas de Abahlali baseMjondolo, véase ‘To resist
all degradations and divisions: an interview with S’bu Zikode’, Interface: A Journal for and about
Social Movements, No.2, 2009 http://interface-articles.googlegroups.com/web/neocosmos.
pdf?pli=1
30 Esta declaração foi entregue a Richard Pithouse por S’bu Zikode e foi pronunciada durante uma
conversa sobre o movimento Abahlali baseMjondolo realizada no Teatro de Soho, Londres, 5 de
junio, 2007 http://blip.tv/file/636398
Experiências - Lutas populares 145
36 Richard Pithouse ‘The May 2008 Pogroms: xenophobia, evictions, liberalism, and democratic
grassroots militancy in South Africa’, Sanhati, 16 Junio 2008, http://sanhati.com/articles/843/
37 Abahlali baseMjondolo, Abahlali baseMjondolo Statement on the Xenophobic Attacks in
Johannesburg, 21 Mayo 2008 http://www.abahlali.org/node/3582
38 Nigel Gibson ‘Upright and free: Fanon in South Africa, from Biko to the shackdwellers movement
(Abahlali baseMjondolo)’ Social Identities, Vol. 14, No. 6. (2008), pp. 683-715.
39 Malavika Vartak Experiences of Abahlali baseMjondolo and the Kennedy Road Settlement, Durban, South
Africa: A report for the Development Planning Unit of University College London, December
2009, http://www.abahlali.org/taxonomy/term/1495
40 Ver Ammistía Internacional, South Africa: Failure to conduct impartial investigation into Kennedy Road
violence is leading to further human rights abuses, 16 December 2009, http://www.amnesty.org/en/
library/asset/AFR53/011/2009/en/53fce922-d49e-4537-b3bb-84060cf84c85/afr530112009en.
html and Michael Neocosmos, Attacks on shack dwellers a failure of citizenship, Pambazuka
News, 10 Diciembre 2009, http://www.pambazuka.org/en/category/features/60925
Experiências - Lutas populares 147
41 Marie Huchzermeyer, ‘Ruling in Abahlali case lays solid foundation to build on’, Business Day, 4
Noviembre 2009, http://www.businessday.co.za/articles/Content.aspx?id=85924
42 Ver Obispo Rubin Phillip, Grave Concerns about the Detention without Trial of the Kennedy Thirteen:
This Travesty Must End, 18 Noviembre 2009 http://www.abahlali.org/node/6073
Foto arquivo AbM
A luta de movimentos de “pavement dwellers”1
em Mumbai, Índia
Desde 1986, os “pavement dwellers” de Mumbai vem lutando para obter algum
tipo de reconhecimento das políticas públicas e não ser considerados somente
cidadãos temporários e de pouco valor. Apesar de ser um processo contínuo,
somente três organizações conseguiram melhorias significativas na definição de
seu status como cidadãos ativos que desejam assegurar não somente o direito à
moradia adequada, mas também seu direito à cidade.
Mumbai, a maior cidade da Índia e capital comercial do país, possui cerca
de 12 milhões de habitantes, dos quais 50% correspondem a moradores de
assentamentos precários que ocupam espaços livres e 10% são “pavement
dwellers”2. Diferente dos habitantes dos assentamentos precários que ocupam
espaços livres, os “pavement dwellers” constroem suas casas nas ruas de acordo
com a largura da calçada que encontram. Essas pessoas vivem nas ruas não
porque queiram viver aí e sim porque não tem a possibilidade de acessar um
lugar adequado para morar mais próximo do seu local de trabalho. Apesar de
ambas as classes de moradores representam mais da metade da população de
Mumbai, não são reconhecidos como habitantes que contribuem para a cidade e
sim considerados como grupos em situação transitória, com pouco valor para a
economia.
As organizações comunitárias de base como Mahila Milan e a Federação
Nacional de Moradores de Assentamentos Precários (National Slum Dwellers
Federation – NSDF na sigla em inglês), junto à organização Sociedade para a
Promoção de Centros de Recursos por Zona (Society for the Promotion of Area
1 Pavement dweller expressa uma realidade particular para a Índia: corresponde aos moradores
em extrema pobreza que vivem de forma permanente nas calçadas, onde constroem suas casas
bastante precárias.
2 Knudsen, 2007. Estes dados demográficos são provenientes de um censo realizado em 2001.
150 Ciudades para tod@s
Referências
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Páginas: 1-15
Burra, Sundar and Liz Riley. 1999. Electricity to Pavement Dwellers in Mumbai. Sitio web:
http://www.sparcindia.org/. Páginas: 1-17.
Knudsen, Anne-Marie Sanvig. 2007. The Right to the City: Spaces of Insurgent Citizenship
among Pavement Dwellers in Mumbai, India. University College London Development
Planning Unit Working Paper No. 132. Páginas: 1-23.
McKinsey & Company. 2003. Vision Mumbai. Sitio web de la oficina de India: http://
www.mckinsey.com/locations/india/communityservice/visionmumbai/
SPARC. 1995. We the Invisible Revisited. Sitio web: http://www.sparcindia.org/
Villa Los Cóndores, Temuco, Chile
Contra o despejo e pelo direito à cidade.
Ana Sugranyes
A vida das 900 famílias em Los Cóndores tem sido complicada desde o início
(1996). Os moradores, através de todo tipo de organização, vem tentando
canalizar suas queixas. Apesar de não cobrar, o SERVIU perdoou a dívida de
crédito, 40% do valor da habitação; assim as famílias se tornaram proprietárias de
900 moradias em muito mal estado. Em 2004, as reivindicações de Los Cóndores
chegaram ao parlamento. Para resguardar a segurança dos habitantes, a Câmara
de Deputados do Congresso Nacional decretou a destruição de Los Cóndores,
orientação do poder legislativo ao executivo que o MINVU acatou.
Para levar adiante o desmantelamento do conjunto, o SERVIU informou aos
moradores que oferecia 280 UF, o valor nominal da moradia no momento de sua
construção, que corresponde a cerca de 7 mil euros. As famílias que levavam 10
anos sobrevivendo em Los Cóndores, por medo ou por “falta de ignorância” como
se diz no Chile, começaram a assinar as escrituras de revenda da habitação ao
SERVIU. Com o abono outorgado pelo SERVIU, os moradores tiveram que procurar
habitações usadas ou novas, mais longínquas do centro de Temuco. Pelo aumento
do valor do solo e pelos negócios imobiliários em Temuco, os ex-moradores de Los
Cóndores foram parar em San Ramón, a mais de 20 Km do centro desta cidade de
porte médio. Para, supostamente, compensar as condições precárias da revenda
das habitações, o SERVIU autorizou as famílias a levarem tudo o que havia em sua
antiga casa; e de fato foi o que fizeram, levando instalações, janelas, portas, além de
destruírem as paredes. Pouco a pouco, a região de Los Cóndores se transformou em
terra de ninguém, ocupada por gangues e viciados em drogas.
Nem todos os moradores aceitaram a revenda. Um grupo de 15 famílias
demandou contra o SERVIU; na primeira instância ganharam uma boa
compensação; não se sabe, contudo, se o SERVIU apelará a outra instância.
Outro grupo de 122 famílias de proprietários, arrendatários e simpatizantes se
organizaram em dois Comités de Vivienda Los Cóndores3, optando por reivindicar
o direito a ficar no seu bairro, de exigir a reconstrução de suas moradias no
mesmo lugar que os pertence, onde já tinham escolas, centro de saúde, sua vida e
suas redes sociais, além dos ganhos em infraestrutura de transporte até o centro,
obtidos ao longo dos anos, pelo bairro de Pedro de Valdívia. As famílias também
não podiam perder a proximidade de suas fontes de renda.
A primeira grande luta dos Comitês foi o resguardo de suas vidas num entorno
ocupado e violento. A partir de 2005, a vida em Los Cóndores tornou-se impossível:
os moradores que se mantiveram nos edifícios parcialmente abandonados eram
assaltados de dia e à noite; sofreram todo tipo de violência física, perda de bens
e enfermidades devido ao estresse. No início os Comitês não conseguiram que o
SERVIU os atendesse. Pouco a pouco, com o apoio do Município, conseguiram
Referências
Alvarez, Luis. “La experiencia de Villa ‘Los Condores’, Temuco”. V Jornada Internacional
de Vivienda Social. Valparaiso, October 10, 2007.
Carrillo, Miguel Angel. “Falta Seguridad en Villa Los Cóndores”. La opiñón, October 20,
2007.
Os sem-teto. Uma experiência de luta
pela moradia, em Mar del Plata
Ana Nuñez
O subprograma: Dignidade?
“Os pobres são necessários pelas suas mãos, como trabalhadores, porém a
cidade dominada pelo mercado não foi construída para dar-lhes abrigo.” (Oscar
Pagni, ex-Secretário de Legal e Técnica do Município de Gral. Pueyrredon,
autor do Projeto de realocação da Villa Paso, março de 1999)
“Significa mudar o cartão postal da cidade de Mar del Plata e mudar o
desenvolvimento urbano de bairros importantes” (Conselheiro Eduardo Salas;
Debate sobre o projeto de Reassentamento de Villa Paso, Ata de Sessões do
Honorável Conselho Deliberativo, 16/07/99)
Estes depoimentos ilustram a negação do Direito à cidade, nos termos pensados
por Henri Lefebrve, através de uma política de erradicação-reassentamento,
autoritária e alienante, reprodutora da desigualdade e vulnerabilidade social.
Com efeito, um dos objetivos deste Subprograma foi “desarmar certos laços
sociais”, o que motivou que as 500 moradias se distribuíssem em três localizações
diferentes: Bairro Las Heras, Bairro El Martillo e Bairro Don Emilio, todos
carentes de infraestrutura básica de serviços, ausência de meios de consumo
social, escassos meios de transporte público, inundáveis, etc., afetando assim sua
identidade sócio-cultural, desatando tensões, incerteza, desarticulação social e
deterioro das condições de vida, o que significa um desarraigamento forçado.
(Foto Nº 1). Além disso, os conflitos desatados em cada bairro de destino dos
habitantes fizeram com que o então intendente3 difundisse a ordem de que os
assentados de cada bairro terão “certificado de boa conduta e averiguação de antecedentes
policiais”, segundo relatam entrevistados.
Uma porcentagem alta das moradias foi adjudicada ainda inacabadas e com
sérios problemas construtivos:
“Falta água quente, os vasos sanitário estão soltos, tem goteiras e umidade.
Os aquecedores de água tem sérios problemas e o tratamento sanitário não
está funcionando. Alguns tiveram que quebrar as casas para colocar os
canos.”
“Tiraram as pessoas da Vila sem dar-lhes nada. Agora querem fazer o mesmo
com todos os que ficaram…” (Entrevistas próprias)
O despejo
Reflexões finais
Referências
Lefebvre, Henri: El derecho a la ciudad, Barcelona, Ed. Península, 1969
Lefebvre, Henri: Espacio y política. El derecho a la ciudad II, Barcelona, Ed. Península, 1976
Núñez, Ana: “Informe socio-habitacional de las familias del Bº Pueyrredón”, en Revista
De acá, año III, Nº 29, mayo 2009, pp. 12-18qq
Comunicados de Prensa Junta Vecinal Sin Techo, http://www.mdpsintecho.blogspot.com
Marie Bailloux
Os antecedentes e contexto
Yoji Yamauchi, um japonês de 58 anos, é sem-teto desde 1998. Seu abrigo é uma
barraca removível de lona azul localizada em um parque na cidade industrial de
Osaka.
Contra as autoridades e em aliança com associações de pessoas sem-teto, ele
iniciou uma luta singular contra a violação do Artigo 11 do Pacto Internacional
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assinado pelo Japão (...”o direito
de todos à... moradia”). O objetivo é lutar contra a desocupação forçada e ser
reconhecido como alguém sem-teto com direito à cidade por meio da obtenção
de um endereço oficial na rua.
Em junho de 2001, patrocinado pela “Asian Coalition for Housing Rights
(ACHR)” (Coalizão Asiática pelos Direito à Moradia), ele integrou uma delegação
de sem-tetos e um grupo de apoio popular que visitou Hong Kong para avaliar
localmente as condições de vida das pessoas sem-teto e trocar experiências.
Em março de 2004, o Kita Ward (entidades locais do norte de Tóquio
controladas diretamente pelo governo municipal) negou-se a registrar o parque
como seu endereço.
Experiências - Lutas populares 165
constante a longo prazo na sua luta, além de habilidades para estabelecer laços e
fomentar gestos solidários provenientes de todo o mundo.
A “Campanha dos Postais”, lançada em 2005, foi pragmática, simples e teve
um impacto positivo. Seu êxito teve como base a participação das pessoas, o que
permitiu aumentar a consciência internacional sobre as péssimas condições dos
sem-teto no Japão em 2005 e 2006. Finalmente pode ter contribuído ao triunfo
do caso do Sr. Yamauchi perante o Tribunal do Distrito de Osaka a princípios de
2007, mas proporcionou a esperança e a energia para perseverar na sua luta para
romper este círculo vicioso.
Referências
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News International, Inc. June 11, 2001. http://findarticles.com/p/articles/mi_
m0WDP/is_2001_June_11/ai_75504623.
Frei, Matt. “Japan homeless living in internet cafes”. [Video]. BBC News. March 21, 2009.
http://news.bbc.co.uk/1/hi/business/7953609.stm.
Habitat International Coalition. “World Charter for the Right to the City”. 1995. http://
www.hic-net.org/document.php?pid=2422.
Housing by People in Asia. “Homeless in Japan - Homeless update”. Newsletter of the Asian
Coalition for Housing Rights, no. 13. June 2001. http://www.achr.net/ACHR%20
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Koen-no-Kai Petition Board. “Possible Tokyo Ordinance Threatens Homeless”.
Independent Media Center. April 29, 2005. http://japan.indymedia.org/newswire/
display/2171/index.php.
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Housing Rights. February 8, 2001. http://www.achr.net/new_page_6.htm#OSAKA.
San’ya Day Laborers’ Welfare Center. “Program: CO Theory and Practice - Organizing
Japan’s Urban-Industrial Underclass”. Leaders and Organizers of Community
Organization in Asia. December 8, 2005. http://www.locoa.net/home/?doc=bbs/
gnuboard.php&bo_table=p_co_theory&page=1&wr_id=17.
The Japan Times. “Reversal: Park not address of homeless”. January 24, 2007. http://
search.japantimes.co.jp/cgi-bin/nn20070124a2.html.
Reivindicando os direitos do cidadão em Accra, Gana
Afia Afenah
Old Fadama
Desde seu início, o assentamento de Old Fadama foi bem organizado social e
politicamente. Certamente assemelha-se a qualquer outro grupo político com
história de lutas de poder, porém os residentes têm tido êxito em sua mobilização
Experiências - Lutas populares 171
Bibliografia
Appadurai, A. (2001) “Deep Democracy: Urban Governmentality and the Horizon of
Politics”, Environment and Urbanization, 2001, Vol. 13, No 2, p. 23-43.
Braimah, F.R. (2002), Report of Slum Dwellers International Visit Accra, http://www.
sdinet.org/reports/r28.htm.
Boadi, K. O and Kuitunen M. (2002) “Urban waste pollution in the Korle Lagoon, Accra,
Ghana”, The Environmentalist, Vol. 22, p.301–309.Centre for Public Interest Law,
http://www.cepil.org.gh/courtcases.htm.
176 Ciudades para tod@s
anos. Contudo, em julho de 2008, um mês antes do início das Olimpíadas, Sun
Ruoyu ainda estava lá. Seu restaurante estava em pé, embora algo dilapidado,
mas estava coberto por um plástico verde a fim de mantê-lo fora de vista e da
percepção de milhares de espectadores das Olimpíadas, que estariam passando
por aí durante todo o mês de agosto.
Muitos dos habitantes de Qianmen que foram despejados afrontaram-se com
possibilidades limitadas quando decidiam aonde iriam se estabelecer. Assim,
muitos habitantes se mudaram para a periferia da cidade, além do Quinto Anel
Viário, uma via expressa que circunda a cidade e está localizada a 10 km do
centro. No caso de uma família, os dois adultos da casa levam um total de quatro
horas para ir e voltar do seu trabalho todos os dias, usando o transporte público.
Antes, quando viviam em Qianmen, levavam somente 5 minutos de bicicleta. A
qualidade educacional oferecida na periferia é muito menor se comparada com
aquela que a criança da família recebia no centro da cidade. Por esse motivo, a
filha do casal permaneceu na mesma escola no centro de Beijing, implicando que
um dos pais tivesse que acompanhá-la para a escola todos os dias, deixando a
casa as 5 da manhã para chegar a tempo ao início das aulas às 7 horas. Esta é a
realidade cotidiana de muitas famílias despejadas de Qianmen. Para os idosos
o fato também implicou em esforço redobrado para manter o acesso fácil aos
médicos e as instalações do serviço de saúde que os assistiu por anos no centro
da cidade. Isso significa, mais uma vez, longas distâncias a serem percorridas no
momento em que tenham preocupações médicas.
Os resultados das ordens de despejo variaram para os habitantes de Qianmen.
Alguns experimentaram tormentos, outros aceitaram a compensação financeira
depois de algum tempo e uma minoria conseguiu resistir e permanecer. No seu
empenho em ficar no seu lugar de residência, os habitantes que enfrentaram,
aceitaram e/ou resistiram à desapropriação tentaram assegurar seu direito
à cidade. O direito à cidade consiste no envolvimento dos cidadãos nas
decisões que afetam o lugar no qual habitam e a oportunidade de participar da
transformação dos espaços urbanos onde vivem. Quando a renovação urbana
chegou a Qianmen, as diretrizes que haviam sido delineadas para proteger
a área como patrimônio (acima mencionadas) foram praticamente ignoradas
pela administração municipal e promotores imobiliários. Essas diretrizes, que
valorizam aspectos do direito à cidade como melhorias nas condições de vida dos
habitantes locais e estimulam a participação das decisões que afetam seu bairro,
eram ignoradas e descumpridas enquanto a modernização e o embelezamento
tomavam precedente prioritário para as Olimpíadas.
Além disso, quando o direito à cidade é respeitado, deve-se permitir aos
cidadãos permanecer na cidade e não ser empurrados para a periferia da mesma.
Os despejos de Qianmen violaram o direito dos cidadãos de permanecer na
180 Ciudades para tod@s
cidade quando não era sua própria escolha deixá-la. São muitos os inconvenientes
enfrentados pelos habitantes que agora vivem além do Quinto Anel Rodoviário
de Beijing. O acesso a serviços de saúde, educação de qualidade e áreas comerciais
foi reduzido, assim como sua qualidade de vida em geral, uma vez que agora
perdem muito tempo indo e voltando do trabalho; tempo valioso que poderiam
gastar com suas famílias e suas atividades pessoais.
Como observamos o direito à cidade foi violado pela administração municipal
de Beijing e pelos promotores imobiliários. Também notamos isso representado
nos esforços dos cidadãos em permanecer em Qianmen e reivindicar seu direito
a habitar o espaço urbano. Muitos habitantes não aceitaram as compensações
financeiras que lhes foram oferecidas inicialmente e somente deixaram seu
espaço após serem atormentados em suas casas e no seu trabalho. A senhora Sun
e sua família conseguiram resistir às tentativas de remover seu restaurante de
Qianmen e embora sua casa tenha sido fisicamente ocultada à vista de outros por
um plástico verde, a casa continua em pé e presente no meio da agora moderna
Qianmen. Isso demonstra que os cidadãos têm a capacidade de se levantar
por aquilo que desejam, reivindicar para que seus direitos sejam reconhecidos
e que não podem ser desconsiderados para dar prioridade a megaeventos
internacionais como as Olimpíadas. Se uma cidade, tal como Beijing, deseja
impressionar o mundo deve valorizar o local, ser inclusiva e tratar todos os seus
habitantes, especialmente os pobres, como cidadãos com direitos, ao invés de
unicamente como objetos que podem ser maltratados, excluídos e esquecidos.
Referências
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Conservation Planning. Department of Urban Studies and Planning, Massachusetts
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Sobre derrotas e conquistas no exercício do direito
à cidade: reflexões a partir de experiências recentes
nas cidades da Argentina1
1 Está análise se estrutura nos objetivos do projeto UBACYT S431 “Produção social do hábitat
e políticas públicas nas principais cidades da Argentina” (2008-2010) dirigido por María carla
Rodríguez. Articula resultados de dissertações de mestrado, bolsas e pesquisas das autoras.
182 Ciudades para tod@s
2 “As villas podem ser definidas como ocupações de solo urbano vazio que produzem traçados
urbanos bastante irregulares, organizados a partir de corredores pelos quais geralmente os
veículos não podem transitar. Constituíram-se prioritariamente mediante práticas individuais
familiares e diferenciadas ao longo dos anos. Nas suas origens, os ocupantes construíam suas
moradias com materiais precários e, com o passar do tempo, realizavam melhorias de diferente
envergadura e qualidade. Inicialmente, conformavam moradias térreas que, a partir de um núcleo
básico, desenvolviam-se progressivamente. Em seguida, com variações segundo a localização e
inserção urbana, inicia-se um processo de densificação que inclui a ocupação de vazios urbanos,
bordas de vias férreas, etc. e a construção em altura”.
3 Prefeitura
4 Entre 2001 e 2006 houve um incremento de 54% nos preços do solo da zona norte. Fonte: Unidad de
Sistemas de Información Geográfica, DGEyC. GCBA.
Experiências - Lutas populares 183
Um censo de 2000 cadastrou 942 famílias residentes antes de 1996, porém até
2003 a mesa de delegados estimava um total de 15005. Nos anos 80, o governo
local tolerou a ocupação e iniciou a assinatura de comodatos que outorgavam
uma aparência de legalidade aos habitantes, mas freavam o desenvolvimento de
pretensões posteriores (Rodríguez 2005).
Em 1990 o projeto da autopista6 foi reativado e o Conselho Deliberativo
sancionou em 1991 a ordenança 45520, para alcançar um projeto integral e
combinado, que não prosperou7. Em 1997 se construíram 20 blocos de via rápida,
enquanto ocupantes organizados com o apoio de associações de moradores
frentistas promoviam, através de mobilizações, a resistência a centenas de
notificações de despejo emitidas por Procuração. Em 1998, no marco da
autonomia política, sancionou-se a Lei 8, que institucionalizou a participação da
mesa de delegados e deu lugar ao censo que estabeleceu um padrão de beneficiários
reconhecidos. Em 1999, a Lei 324 criou o Programa de recuperação do traçado ) da
EX-AU3e sua Unidade Executiva para definir um plano de recuperação urbana
para a área, um plano de recuperação patrimonial (que concebe a propriedade
pública como ativo imobiliário com o objetivo de autofinanciamento do projeto)
e um plano de soluções habitacionais para os ocupantes.
Em relação à questão habitacional, entre 2002 e 2007 se desenhou um
menu flexível com quatro alternativas: construção de habitação econômica em
terrenos baldios existentes no traçado (autoconstrução) venda aos ocupantes
daqueles imóveis que se adaptaram às possibilidades das famílias, concessão
de créditos individuais ou coletivos (derivando-os à operação de autogestão do
hábitat – Ley 3418) e incorporação de projetos subsidiados para as famílias de
menos recursos (incluindo comodatos vitalícios para chefes de família pobres
e com mais de 65 anos). Em seis anos, até dezembro de 2007, somente 27%
da população recenseada (259 famílias) concretizou algum tipo de solução.
Já nessa época, na Legislatura, iniciou-se a disputa para incorporar esse solo
público ao mercado imobiliário.
O governo Marcri (gestão atual) enfatizou o re-zoneamento e renovação
urbana (são 15 quarteirões avaliadas em mais de 100 milhões de dólares)9. Para
as famílias residentes – estimadas entre 450 a 700, cadastradas ou não – Macri
infringe o marco legal vigente e começa a instrumentar desocupações arbitrárias
e pressão com subsídios ad hoc10, caso a caso, e para os residentes, desocupação
administrativa.
Ao final de 2008 a onda de desocupações tornou-se mais forte. Houve
a intervenção do Poder Judiciário e, em abril de 2009, uma sentença ordenou
a suspensão das mesmas. Os delegados iniciaram ações de amparo perante a
justiça11. O conflito continua “corpo a corpo”, no território.
Com aproximadamente 70 anos12, Villa La Maternidad, é uma das mais antigas
de Córdoba. Cresceu vinculada à linha de trem e atividades econômicas do Bairro
São Vicente13, onde se situa. Está localizada a dez quadras do centro da cidade
e cinco do Terminal de Ônibus. Em meados de 2004, quando foi violentamente
desocupada pelo Governo Provincial, habitavam aí cerca de 350 famílias que
desempenhavam atividades acessíveis à área: construção, serviço doméstico,
coleta e armazenamento de resíduos, comércio ambulante e pequenos serviços
nos hospitais próximos.
A propriedade das terras é uma questão conflituosa. Por um lado, o Poder
Executivo Provincial reclama sua propriedade, em virtude de um projeto histórico
de desenvolvimento urbano14. Por outro, existem planos cadastrais de 1943, que
incluem os atuais lotes da Villa. A partir destes, alguns moradores reclamaram
9 Empresários do setor imobiliário e da construção trabalham sobre a futura venda dos terrenos
(LPO online).
10 96 mil pesos para beneficiários da Lei 324 e até 25.000 para os demais ocupantes.
11 54 pessoas iniciaram a ação de amparo legal. Previamente outras 30 famílias haviam apresentado
outra que está tramitando na Sala II da Cámara del Fuero Contencioso Administrativo y Tributario.
12 Em Relevamiento de la Agencia Córdoba Ambiente se sustenta que sejam 70 anos; em “Evolución de
Villas de Emergencias en Córdoba 2001-2007, localización y estimación de población”, SEHAS
(2007), estimam-se 65; em www.argentina.indymedia.org/news/2005/03/2700600.php, declaram-
se 100 anos.
13 O bairro São Vicente, fundado em 1870, é um dos bairros tradicionais da cidade de Córdoba.
Inicialmente foi zona de veraneio e logo foram se instalando diferentes atividades produtivas,
como Moinhos, Matadouros, fábricas de gelo, de tijolos, de cerveja, atraindo mão-de-obra e
conformando um bairro de operários que pouco a pouco foi se conectando com o centro da
cidade através da criação de infraestrutura urbana.
14 Projeto Crisol, Lei 1040/11886, pela qual seriam expropriadas para um proprietário particular
(Garzón) para este fim.
Experiências - Lutas populares 185
direito de posse por estarem habitando o lugar, de forma pacífica, por mais de
10 anos.
Em 2001, em função das inundações ocorridas em março de 2000, o governo
provincial declarou a emergência habitacional sentando as bases para o programa
Minha Casa, Minha Vida15, cuja execução implicou a transferência massiva da
população das áreas centrais e arredores, para novos conjuntos habitacionais
denominados bairros ou cidades-bairros16, localizados na periferia. Para tanto, o
município modificou os usos do solo.
A população de Villa la Maternidad, junto com outras17, foi reassentada em
Ciudad de Mis Sueños, a 14 km do centro (adjacente ao bairro Ituzaingó Anexo,
conhecido nacionalmente pelo conflito relacionado aos agrotóxicos e seus efeitos
cancerígenos). O conjunto, inaugurado em 2004, conta com 565 habitações.
A remoção forçada, decidida pelo governo provincial, utilizou técnicas de persuasão-
chantagem, mediante um levantamento com trabalhadores sociais e a ação de agentes
locais, somados a um subsídio de 300 pesos por família, para facilitar as mudanças.
Somente 32 famílias opuseram resistência, por terem nascido no lugar,
por problemas de saúde associados à nova localização, por deterioração das
condições de trabalho, pelo aumento dos custos em transporte e pela ruptura de
estratégias de subsistência.
A remoção aconteceu de forma violenta em junho de 2004. Usou-se tratores,
o que remete de forma direta a erradicação de vilas durante a última ditadura
militar e que também derrubou, por equívoco, parte das habitações de famílias que
não estavam de acordo com a mudança, semeando pânico. Alguns moradores
buscaram ajuda externa e a resistência foi acompanhada por profissionais,
organismos de direitos humanos e outras organizações18. Formou-se uma
Comissão Contra o Despejo da Villa La Maternidad, que montou uma estratégia
defensiva de difusão e um recurso de amparo. O Estado Provincial, por sua vez,
realizou ações legais de usurpação19.
15 O nome original é Projcto de Emergência para a Reabilitação dos Grupos Vulneráveis afetados pelas
inundaçiões (1287- OC- AR) estruturado no Programa para el apoyo a la Modernización del Estado en
la Provincia de Córdoba a partir de um empréstimo do BID.
16 Cidades-bairross são denominados aqueles conjuntos habitacionais que contam com mais de 250
unidades e possuem equipamento comunitário, tais como posto de saúde, escola, posto policial.
17 Como Mandrake, Los 40 Guasos, Vagones de la Estación Mitre, Guiñazú, além de parte de Villa la
Maternidad.
18 Como CUBa Mbs (Coordinadora de Unidad Barrial), Agrupación Otro Cantar, MTR (Movimiento
Teresa Rodríguez), La Comuna, Indymedia (Centro de Medios Independientes), CEPRODH (Centro de
Profesionales por los Derechos Humanos), SERPAJ (Servicio de Paz y Justicia de Córdoba), profissionais
e estudantes independentes, contatos na cidade de Buenos Aires, com o MOI-CTA, o Movimiento
por la Reforma Urbana, etc.
19 Em virtude da rescisão do Projeto Crisol (Lei 1254), o Estado reclama as terras.
186 Ciudades para tod@s
23 Aproximadamente 15 lotes, sendo que o resto seria denunciado como herança vacante). Sem
dúvida, estavam dadas as condições para uma solução alternativa como, por exemplo, a
urbanização da Villa.
188 Ciudades para tod@s
24 Seguindo o tipo de orientação proposta por Henry Lefevbre em “A Revolução Urbana” (1970)
Experiências - Lutas populares 189
Bibliografia
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Buenos Aires.
Smith N. (2002), “New globalism, new urbanism: gentrification as global urban strategy”
Antipode. Blackwell. USA.
Habitantes da Ilha de Gazirat al-Dhahab, Cairo, Egito
enfrentam da expulsão
Sob o plano diretor do Cairo projetado para 2050, o governo pretende embelezar
a cidade, criar novos espaços verdes em todas as áreas e fazê-la mais atrativa
no cenário mundial. A ilha de Gazirat al-Dhahab é um espaço urbano que o
governo deseja colocar em “melhor uso”. Embora o “melhor uso” careça de uma
definição clara pelo Ministério de Habitação e Serviços Públicos, uma das opções
foi vender o solo a um investidor árabe estrangeiro que usaria o espaço para
construir instalações turísticas.
O governo justifica o despejo das famílias pela afirmação de que a ilha é de
sua propriedade e que não está sendo usada para o “benefício público”. Também
promete fornecer pacotes de compensação adequados aos moradores. Para estes,
no entanto, lhes parece difícil confiar nas promessas do governo, pois muitas
famílias, que desistiram de sua terra em negociações anteriores com o governo,
nunca receberam a compensação completa.
192 Ciudades para tod@s
Considerações
Se o governo é tão ávido por aumentar os espaços verdes no Cairo por que não
permite que os habitantes de Gazirat al-Dhahab permaneçam? Atualmente eles
praticam agricultura urbana e produzem verduras de alta qualidade, além de
outros produtos alimentícios com os quais se sustentam. Os cultivos da ilha
formam parte da identidade de seus habitantes e de sua subsistência. O governo
do Cairo está priorizando seu esquema de “embelezamento” orientado ao turismo
e os interesses privados ao invés do beneficio aos seus cidadãos mais pobres.
O Centro Egípcio para os Direitos Humanos (Egyptian Centre for Housing
Rights – ECHR ), membro da Coalizão Internacional pelo Hábitat (HIC na sigla
em inglês), encontrou-se com oficiais do governo para discutir o plano diretor
do Cairo e para enfatizar a importância da participação dos cidadãos e da
sociedade civil no processo de planejamento urbano. Depois de comparecer a
uma conferência ministrada pelo Ministério de Habitação e Serviços Públicos,
ECHR sentiu que era tratada de forma antagônica em função de sua interferência
no plano e crêem que foram marcados numa lista negra pelo governo, uma vez
que é a única ONG que está dando atenção para esta causa.
ECHR também contatou o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas
(United Nations Development Programme – UNDP) e o Banco Mundial (BM), uma
vez que ambas as instituições estão envolvidas no desenho e execução do plano
diretor do Cairo. Durante um workshop organizado entre o ECHR e o governo,
UNDP recusou prover qualquer informação de seu envolvimento. O Banco
Mundial, no entanto, tem sido mais aberto à discussão. A expectativa é de que
um workshop sobre a responsabilidade do governo em projetos de planejamento
urbano realizado em Marrakesh, Marrocos em julho de 2009, pudesse fornecer
aos representantes de BM e ECHR a oportunidade de discutir os planos de
desenvolvimento urbano do Cairo.
As atitudes e relutância em colaborar expressas por alguns dos principais
atores envolvidos no plano diretor do Cairo demonstram que o trabalho de
ECHR deve ser apoiado por organizações locais e internacionais, assim como
pelo Relator Especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Moradia
Adequada, de modo que possam ser criadas estratégias efetivas para que os
projetos de desenvolvimento planejados para a ilha de Gazirat al-Dhahab sejam
concebidos da melhor forma. Por este motivo em maio de 2009, os membros da
HIC e representantes do ECHR visitaram a comunidade de Gazirat al-Dhahab
para testemunhar as condições enfrentadas pelos habitantes da ilha e ouvir
depoimentos sobre sua luta. Os 50 defensores dos direitos à moradia, líderes
comunitários e representantes de 23 diferentes países estavam apreensivos sobre
as condições de pobreza em que estão vivendo os habitantes de Gazirat al-Dhahab
e chocados com os relatos sobre o que enfrentam como resultado do plano do
governo de apropriar-se da ilha. HIC esboçou uma Carta Aberta2 a ser enviada ao
Presidente Mubarak para expressar sua preocupação sobre os projetos urbanos
que estão sendo planejados no Cairo e incitar o governo a mudar suas políticas
destrutivas que violam e violarão os direitos à terra e à moradia, negando aos
cidadãos seu direito à cidade.
Referências:
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Egypt’s intended 2050 master plan for Cairo threatens habitat of millions of poor.
The Egyptian Centre for Housing Rights. 2001. Egypt’s Cabinet to Dispossess 155 Thousand
People State Property & Public Benefit: State’s Pretexts to Displace Citizens. Website:
http://www.echr.org/en/hc/02/010620.htm
Steffen Lajoie
As causas da pobreza não podem ser reduzidas a uma carteira sem dinheiro,
um mau trabalho, uma saúde delicada e uma vizinhança perigosa. Atualmente,
as definições tendem a se mover dentro de uma variedade de questões que
compreendem aspectos sociais, econômicos, físicos e humanos, além de incluir
fatores tais como exclusão, o não empoderamento e a falta de direito à voz1.
As estratégias eficazes de redução, mitigação e erradicação da pobreza devem
considerar estes aspectos. Uma aproximação correta para abordar questões de
moradia e hábitat com o objetivo de erradicação da pobreza pode ter um efeito
favorável em assuntos tais como a redução dos custos de saúde; o aumento da base
de ativos; a criação de estabilidade e segurança; a identificação das dificuldades
na “criação de empregos”; além do incremento das possibilidades para melhorar
os serviços básicos assim como os serviços de moradia (Anzorena et al: 1998).
O direito à cidade possui cinco princípios fundamentais: a liberdade e o
benefício da cidade para todos; a transparência, a equidade e a eficiência na
administração da cidade; a participação e o respeito na tomada de decisões
democrática em cada área; o reconhecimento da diversidade cultural, social e
econômica, a redução da pobreza, a exclusão social e a violência urbana (Brown
e Kristansen: 2009).
O chamado pelo direito à cidade está centrado em mudar as políticas,
estruturas e práticas que não permitem que as pessoas mais pobres da cidade
tenham acesso a aquilo que seus vizinhos mais ricos consideram imutável: voz
e voto no planejamento, na construção, na manutenção, no abastecimento de
serviços e na criação de suas cidades.
1 Para uma discussão mais detalhada sobre moradia e hábitat, pobreza e redução da mesma ver
Moser, 1995 e Navarro, 2001
196 Ciudades para tod@s
Vitórias
Conclusão
Bibliografia
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Iniciativas populares de empoderamento
Construir a cidade para e pelos cidadãos:
O direito à cidade na África
Joseph Fumtim
3 Entende-se aqui por “burguesia” a notabilidade, isto é, práticas e espaços de valorização (com
ou sem ostentação das riquezas. Por exemplo, os Bamileke não realizam os funerais na cidade de
residência do defunto, mas sim no meio rural. Nos funerais, todos os participantes exibem seus
bens materiais e simbólicos, sendo que frequentemente acontecem desperdícios e enganos.
4 A divisão entre cidade e campo se conjuga na dualidade riqueza/pobreza. No entanto, com o
auge do capitalismo, pode ser notada certa radicalização desta tendência.
5 Segundo Paul Virilio, é o lema da distribuição massiva. Dito de outro modo, vender tudo, comprar
tudo. O sujeito social existe somente quando consegue inserir-se nos circuitos de produção e
consumo de massa.
Experiencias - Iniciativas populares 207
6 A arquiteta e professora Teolinda Bolívar Barreto e sua equipe da Universidad Central de Caracas
publicaram nos 90 e 2000 um boletim chamado “Ciudades de la gente”. Embora redundantes tais
expressões são necessárias!
7 Grégoire Allix, L’urbanisation comme moteur du développement ?, Le Monde, 22.07.09
8 Entre elas, a « Declaração Universal dos Direitos Humanos », a « Carta Africana sobre os Direitos
Humanos e dos Povos», assim como a maior parte das Constituições Nacionais da África
francófona.
El Movimiento de Pobladores en Lucha1
5 Trata-se de uma coalizão política de partidos de centro e esquerda moderada que governa o Chile
desde a década de 90.
6 Márquez, Op. Cit, p 351
7 Divisão administrativa e territorial que é gerenciada por um administrador (prefeito) eleito pelo
voto popular
Experiencias - Iniciativas populares 211
A tradição de luta por um lugar na cidade e uma moradia digna continuou viva
nos moradores de Peñalolen mesmo depois da ocupação de 1999. Em 2003 nasceu
a organização Lucha y Vivienda (Luta e Moradia), contando com assembléias de
bairro e conselho de delegados, para poder descentralizar o poder de decisão
dentro da organização geral. Apesar do discurso oficial de êxito da nova política
habitacional chilena dos anos 90 e da implementação, em 2006, da Nova Política
Habitacional pelo atual governo de Michelle Bachelet, as novas organizações de
moradores como Lucha y Vivienda se organizam para reivindicar suas aspirações
a uma moradia digna, num lugar onde seus vínculos sociais tenham sido tecidos
historicamente. Em resumo, aspiram gozar do direito à moradia e à cidade,
permanecendo na mesma comuna que os viu nascer.
8 Davis, 2007 en Zibechi: 175 “Los suburbios de las ciudades del tercer mundo son el nuevo
escenario geopolítico” Zibechi, Raúl. Autonomías y emancipaciones. América Latina en
movimiento. Editorial Quimantú. Santiago de Chile.2008.
9 Rodríguez, A. y Sugranyes, A. “Los con techo: Un desafío para la política de vivienda social”.
Ediciones SUR. Santiago, 2005.
10 Castells, 1986: 266 en Zibechi: 181 Castells, Manuel. La ciudad y las masas, Alianza, Madrid.
1986/Zibechi, Raúl.Op.Cit.
11 (Ruiperez, 29). Ruiperez, Rafael. ¿quién teme a los pobladores? Vigencia y actualización del
Housing by people de John Turner frente a la problemática actual de hábitat popular en América
Latina. Universidad Nacional de Colombia. Facultad de Artes, Bogotá. 2006.
12 (Turner: 31). Turner, John. Vivienda, todo el poder para los usuarios. Hacia la economía en la
construcción del entorno. H. Blume editores, Madrid, 1977. Título original Housing by people,
Marion Boyars publishers, London, 1976.
214 Ciudades para tod@s
O MPL se coloca como uma organização territorial, o que supõe fazer uma
análise do movimento social a partir de outra perspectiva: não das formas de
organização nem dos repertórios de mobilização, mas sim das relações sociais
nos territórios. “Existe uma batalha de descolonização do pensamento na qual a
recuperação do conceito de território talvez possa contribuir”15.
13 (Ruiperez: 30). Ruiperez, Rafael. ¿quién teme a los pobladores? Vigencia y actualización del
Housing by people de John Turner frente a la problemática actual de hábitat popular en América
Latina. Universidad Nacional de Colombia. Facultad de Artes, Bogotá. 2006.
14 (Harvey, 2003, Zibechi: 178). Harvey, David. Espacios de esperanza, Akal, Madrid. 2003
15 (Porto, 2006: 161 – Zibechi: 186). Porto, Carlos. “A reinvencao dos territorios: a experiencia latino-
americana e caribenha”, en Ana Esther Ceceña, Los desafíos de las emancipaciones en un contexto
militarizado, Clacso, Buenos Aires. 2006.
Experiencias - Iniciativas populares 215
16 Guzmán, Romina, Renna, Henry, Sandoval, Alejandra, Silva, Camila Movimiento de Pobladores
en Lucha, tomas en Peñalolén para conquistar la ciudad, Cuadernos SUR, Ediciones SUR,
Santiago de Chile, 2009.
17 Guanca, Lautaro, en Aravena, Susana, Sandoval, Alejandra, edit. Política habitacional y actores
urbanos, Seminario del Observatorio de Vivienda y Ciudad, Ediciones SUR, Santiago de Chile,
2008, p100
216 Ciudades para tod@s
Embora seja certo que este movimento pode ser reconhecido na longa tradição dos
movimentos de moradores chilenos que usam ferramentas tais como a ocupação
de terrenos e o enfrentamento com as autoridades, o MPL desde o princípio
afirma sua originalidade no cenário dos movimentos moradores, partindo do
seu lema “Nosso sonho é maior que a casa”. Este slogan da organização estrutura
claramente o projeto do MPL: não demandam somente por uma casa, um bem
privado a ser conseguido com a ajuda do estado, uma vez que sua luta é mais
ampla e global, direcionada a vontade de ser parte da cidade, de permanecer no
bairro, na comuna de sua escolha, a vontade de ser parte do processo de tomada
de decisão, de ter um peso nas decisões que tem importância em suas vidas.
A ação do MPL se coloca então a partir “da conquista territorial de espaços
de autonomia e de autogestão popular”19. Assim se direciona para a reconquista
de uma comuna construída por seus próprios moradores, porém na qual se
encontram despossuídos da possibilidade de decidir seu destino. A vontade
de permanecer no lugar onde possuem uma história, onde construíram sua
própria identidade, o desejo de poder participar das decisões que afetam este
lugar e, consequentemente, a vida de cada habitante e sua comunidade, são os
elementos centrais do direito à cidade, proposta que está sendo apropriada pelos
movimentos sociais.
A partir das demandas dos moradores do MPL, cabe explicar suas estratégias
para efetivar tais reivindicações e impulsionar a geração de uma política urbano-
habitacional com enfoque de direito. É desse modo que é possível vislumbrar
cinco grandes objetivos do MPL que se construíram ao longo dos anos20: 1.
Conquistar o direito a permanecer na comuna; 2. Transformar-se numa força
produtiva autônoma; 3. Levantar estratégias auto-gestionadas de ação popular;
O importante é constatar que o MPL, até antes de criar suas próprias EGIS e
Construtora, já vinha trabalhando junto a entidades privadas existentes, operando
como muitos comitês de moradia ou afins, ou seja, constituindo somente um dos
cinco principais atores do processo habitacional vigente, os quais são:
- As famílias organizadas em comitê de moradia ou afins;
- As EGIS, entidades privadas, encarregadas de gerenciar a demanda dos
comitês, desenhar os projetos, encaminhar, junto aos comitês, o acesso aos
subsídios, fazer o acompanhamento das obras e encarregar-se de todos
os trâmites legais do processo, bem como da capacitação social. O estado
paga a assistência técnica das EGIS com um fundo diferente daquele dos
subsídios.
- O estado, através do SERVIU (Servicio de Vivienda y Urbanismo)22,
supervisiona os projetos e, finalmente, entrega os financiamentos.
- As construtoras, que são as que utilizam o dinheiro dos subsídios para a
construção e, certamente, para obter lucro.
21 Definição análoga ao termo derivado do inglês “gentry” que é a aristocracia britânica sem títulos
de nobreza. Por extensão, gentrification significa aburguesamento, Ruffin, François, Pensar la
ciudad para que los ricos vivan felices en ella, en Urbanismo, Arquitectura y Globalización, Le
Monde Diplomatique, Ed. Aún Creemos en los sueños, Santiago de Chile, 2008, p15.
Na prática, gentrification consiste num processo de renovação e reconstrução que provoca a
afluência da classe média ou de pessoas abastadas para zonas urbanas deterioradas, geralmente
removendo os habitantes mais pobres.
22 Serviço de Habitação e Urbanismo
Experiencias - Iniciativas populares 219
23 Guanca, Lautaro, en Varios autores. “El Derecho a la vivienda en Chile, aportes de la Primera
Escuela Nacional para Dirigentes Sociales” , Observatorio de Vivienda y ciudad, Santiago de
Chile, 2009, p34
24 Guanca, Lautaro, op cit, p35
220 Ciudades para tod@s
Alejandra Elgueta
Felipe Morales
1 Divisão administrativa e territorial que é gerenciada por um administrador (prefeito) eleito pelo
voto popular
222 Ciudades para tod@s
Na carta mundial sobre direito à cidade, este se define como o usufruto equitativo
das cidades dentro dos princípios de sustentabilidade, democracia, equidade e
justiça social. É um direito coletivo dos habitantes das cidades, em especial dos
grupos vulneráveis e desfavorecidos, que lhes confere legitimidade de ação e de
organização, com base em seus usos e costumes, com o objetivo de alcançar o
pleno exercício do direito a livre autodeterminação e a um nível de vida adequado.
Esta visão guia os discursos políticos sobre os eixos de desenvolvimento
urbano nas cidades chilenas, como é o caso do Ministerio de Habitação e
Urbanismo2, que se traduzem em cidades com integração, sustentabilidade e
competitividade. No entanto, se no discurso político estes três eixos se colocam
num mesmo nível, as ações priorizam a competitividade, ao ponto de sobrepor a
sustentabilidade e a integração para consegui-la.
Na prática, o planejamento da cidade responde aos interesses de poucos cuja
posição privilegiada nas redes de poder político e econômico faz com que sua voz
seja mais ouvida. Definitivamente, a opinião dos cidadãos na organização da cidade
não é considerada. Reflexo disso são as constantes situações de descontentamento
e conflito dos habitantes e o pouco peso que tem nas decisões que tomam os
governantes e profissionais de planejamento. Assim, torna-se válida a seguinte
afirmação: “hoje os mesmos que governaram por décadas continuam confundindo
desenvolvimento urbano com crescimento imobiliário. Sua fórmula é que nós, os
moradores, adaptemo-nos às cidades e não as cidades se adaptem a nós.”3
Quando se pensa em como fazer da cidade um lugar acolhedor para todos os seus
habitantes, onde todos possam acessar livremente o espaço e satisfazer seus desejos
de se locomover de maneira cômoda ou recreação sem impedimentos nem limitações,
então se encontra um primeiro problema: a partir de que perspectiva pensar a cidade.
Tomando como base as ideias e experiências do pedagogo italiano Francesco
Tonucci, propõe-se pensar a cidade a partir da perspectiva infantil como uma
estratégia de integração dos cidadãos na sua cidade, por meio da recuperação dos
espaços públicos. Tonucci, preocupado com o problema da solidão das crianças
em cidades ricas começa pesquisar e experimentar formas de planejar a cidade
considerando a perspectiva das crianças. Porém, por que optar por esse grupo da
população e não outro?
Sem importar sua condição socioeconômica, étnica ou outra, a criança se vê
excluída da cidade devido a sua idade. Não é parte da massa votante, vive sob
a supervisão de adultos que decidem o que é bom ou não para ela, sendo que
ninguém lhe pergunta como gostaria que fosse sua cidade. Isso fortalece a figura
da criança como referência, já que sua exclusão é um problema que atravessa a
totalidade de camadas da sociedade. Existem crianças em todas as classes sociais,
religiões, etnias e crianças imigrantes de todas as nacionalidades.
Por outro lado, a criança é uma figura forte, capaz de sensibilizar toda a
sociedade, devido ao fato de que representa o passado, o presente e o futuro.
“A criança é nosso passado, um passado amiúde rapidamente esquecido, mas
que nos ajudará a viver melhor com nossos filhos e a cometer menos erros se
conseguirmos mantê-lo vivo e presente. A criança é nosso presente porque a ela
está dedicada a maior parte de nossos esforços e sacrifícios. A criança é nosso
futuro, a sociedade do amanhã, quem poderá continuar ou frustrar nossas
decisões e nossas expectativas”. (Tonucci, 1996).
4 Na oficina uma atividade contemplava a criação de um mural; mas devido a não considerarmos
ensinar mais profundamente técnicas como stencil ou dedicar mais tempo e preocupação sobre
como seria o desenho do mural, a atividade não alcançou concretizar-se da maneira esperada.
O resultado foi um mural no qual as crianças apenas puderam participar e que hoje está
desaparecido.
Experiencias - Iniciativas populares 225
Recomendações
Conclusão
Referências
Elgueta, Alejandra. Morales, Felipe. Ugarte, Akza. “Los Niños en la creación de la Ciudad”.
Revista CECU Centro de Estudios Críticos Urbanos. Año 1. Nº 1. Santiago.
Harvey, David. 1998. “La condición de la Posmodernidad”. Editorial Amorrortu.
Lefebvre, Henry. 1972. “La Revolución Urbana. Alianza Editorial. Madrid.
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Universidad de Barcelona.
Santos, Milton. 1995. “Metamorfosis del Espacio Habitado”. OIKOS – TAU. Barcelona.
Tonucci, Francesco. 1996. “La Ciudad de los Niños”. Barcelona.
Valdeverde, Jesús. 1995. “La Ciudad como Recurso Educativo. Los Recursos Educativos
en la Ciudad”. Revista La Ciudad Didáctica del Medio Urbano. Barcelona.
A Campanha OUR1 Orla: Defendendo o Direito à
Cidade em Nova Iorque
Shelley Buckingham
O direito à cidade
O direito à cidade é um direito coletivo para todos os que nela vivem, acessam
e usam e isso envolve não somente o direito a usar o que já existe no espaço
urbano, mas também o direito de criar e definir o que deveria existir a fim de
conhecer as necessidades humanas para viver uma vida decente no ambiente
urbano (Harvey, 2003). Em síntese, isso inclui o direito a usar a cidade e participar
da sua criação ou recriação. A realização do direito à cidade tem sido executada
através da colaboração entre grupos da sociedade civil e organizações, governos
e agências internacionais. O papel dos grupos da sociedade civil e organizações é
particularmente crucial para compreender o direito coletivo à cidade, como suas
experiências informam sobre as estruturas adequadas ou inadequadas nas quais
vivem. Ainda mais importante é que os diversos atores da sociedade civil estejam
presentes no debate sobre o direito à cidade, já que nem todos tem a mesma
experiência em um mesmo entorno.
Organização Comunitária
Cidade (EDC) para renovar a orla do East River, ao longo da qual está situada
a Chinatown. Os planos de renovação incluem a construção de passarelas, cafés
de alto nível e outros espaços comerciais aptos a fornecer bens e serviços mais
orientados para pessoas de classes altas e turistas do que para os habitantes locais
de baixa renda.
CAAAV respondeu através da reunião de forças com grupos comunitários
para coletivamente criar OUR, a qual inclui outros nove grupos de base
comunitária, multirracial e multidisciplinar que serão todos afetados pelos
planos de renovação da orla do East River. O objetivo da campanha é, sobretudo,
garantir que a renovação irá de encontro às necessidades das habitantes locais de
baixa renda e para limitar o favorecimento que esses planos possam causar para
o processo de gentrification em andamento no entorno.
Como os planos de renovação podem começar potencialmente no final de
2009, a Coalizão OUR Orla tomou ações urgentes para participar do processo de
planejamento e então poder reivindicar sobre a criação do seu entorno. Espera-
se que o plano dos cidadãos seja liberado no verão de 2009, depois de reunir as
preocupações e expectativas dos habitantes para os planos de renovação da orla
através de enquetes e de uma série de oficinas. Para os planos de renovação,
os participantes das enquetes e oficinas estão pedindo o uso livre da orla,
incluindo espaços verdes abertos, instalações de recreação tais como quadras de
basquetebol e handebol, atividades educativas para jovens e serviços sociais tais
como traduções e serviços legais. Eles também priorizam pequenos vendedores e
negócios de baixo custo tais como carrinhos de comida, feiras de frutas e verduras
os quais são mais acessíveis à sua baixa renda.
A Coalizão OUR Orla está fazendo exatamente o que Harvey aponta como
exercício de seu direito à cidade. Harvey vê a resposta às demandas feitas pelas
comunidades, como as de Chinatown de Manhattan, como uma demanda
unificada para aumentar o controle democrático sobre a especulação do solo que
usualmente confiscam os investidores capitalistas como forma de obter lucro. Em
outras palavras, este exemplo representa um chamado para aumentar o controle
sobre o fazer e usar a cidade e suas estruturas.
Um grande problema para compreender o direito coletivo à cidade é o
desafio imposto pelos direitos individuais – como se sustenta no capitalismo – de
certos grupos de privilegiados da sociedade que lucram onde possa o lucro ser
encontrado. Isso é um conflito de direitos – individuais versus coletivo – onde
as tensões crescem entre privilegiados ávidos por antecipar novos fins de lucro
e os menos privilegiados que esperam assegurar o que é seu e permanecer no
lugar onde vivem, simplesmente porque chegaram primeiro. Essencialmente,
os direitos individuais podem comprometer e anular direitos coletivos. Deve-
se considerar absolutamente inaceitável remover uma comunidade inteira pelo
230 Ciudades para tod@s
benefício de alguns que são capazes de fazê-lo somente porque são mais ricos.
Quais são os direitos culturais de uma comunidade de ficar onde investiram por
décadas no lugar que chamam de casa, onde encontram conforto, intimidade,
comunidade, serviços e subsistência? Deve-se gritar que, mesmo que suas
condições de moradia não sejam adequadas, estão lutando por seu direito de
permanecer onde vivem porque estão conectados com aquela comunidade.
Encontrar uma casa não é questão de ter quatro paredes e um telhado sobre a
cabeça. Trata-se de plantar sementes e vê-las crescer, o que requer mais do que
trabalho, tempo e cuidado do que a construção de um edifício. A Campanha
OUR Orla não é uma campanha contra a implementação da renovação da orla do
East River. Eles vangloriam a perspectiva de melhorar seu bairro, mas seu foco é
assegurar que essas melhorias acrescentem e não impeçam sua rica cultura e vida
comunitária que eles levaram anos para construir. Este é o desafio que enfrentam:
fazer com que investidores e empresários entendam que, ao assegurar seus
direitos, sob o capitalismo, para lucrar no mercado especulativo, estão enterrando
sob a superfície uma comunidade de longa data, estão destruindo o direito dessa
comunidade de permanecer como são e onde estão.
Referências
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Journal of Urban and Regional Research, vol. 27, no. 4, pp. 939-941. December 2003.
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2008
CAAAV Organizing Asian Communities. Momentum Builds for a Community Waterfront
in Chinatown and the Lower East Side! 6 May 2009.
CAAAV Organizing Asian Communities. OUR Waterfront Campaign. 2009.
CAAAV Organizing Asian Communities. Website: http://www.caaav.org/about
Os comitês de terra urbana
Hector Madera
Os três eixos
O fato nos fez bem acima de tudo por todo o legado que a sociedade
dividida em classes nos nega e pelos preconceitos que sofremos dessa mesma
sociedade. As mudanças são difíceis, mas as alcançaremos, já que estamos em
tempos de mudança de era. Na Venezuela e em muitos outros países os povos
começam a entender o fracasso do sistema capitalista. Tal sistema vem negando
a humanidade, uma vez que o centro de sua proposta é a acumulação, sem dar
importância aos que nada tem, nem aos que morrem para assegurar os grandes
lucros e a óbvia reprodução do sistema. O único antídoto é viver em comunhão e
harmonia com a mãe natureza.
Membros da CTU em un projeto de rehabilitaçao urbana, Caracas, Venezuela.
Organização, poder e apoio político em Caracas,
Venezuela
Steffen Lajoie
Estes dois artigos foram logo apoiados pelo que hoje de conhece como
o famoso Decreto 1666, o qual identifica os Comitês de Terra Urbana como
Experiencias - Iniciativas populares 237
1 Estes artigos também apoiam a formação de várias comissões a nível de bairro, incluindo
eletricidade, saúde, água e serviços de saneamento, assim como de nutrição. (Holland 2006,
Cariola et al 2005),
238 Ciudades para tod@s
Bibliografia
Antillano, Andres (2005), “La Lucha por el Reconocimiento y la Inclusión en los Barrios
Populares: La Experiencia de los Comités de Tierras Urbanas”, Revista Venezolana de
Economía y Ciencias Sociales, vo.11, n.3 (sept-dic) pp.205-218
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Cultura del Agua en Venezuela”, Cuadernos del Cendes Vol. 22 (59) pp.111-133,
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Participación popular y Gobiernos Locales en la Periferia de Caracas”, Revista
Venezolana de Economía y Ciencias Sociales Vol.11 (1) pp.21-41
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OTN (2004), Centros de participación para la transformación del Habitat (CPTH),
Vice-Presidencia de la Republica Bolivariana de Venezuela, Caracas
Estamos fazendo a cidade, Bolivia
Dizem que existe um pequeno lugar que se chama “Hábitat para a Mulher
Comunidade Maria Auxiliadora”, onde vivem 265 famílias que juntas
constroem sua comunidade. Abrem suas ruas com trabalho comunitário,
constroem suas casas em ayni (ajuda mútua), fazem quermesses e o que ganham
pode ser investido na saúde ou, se necessário, na construção de sua moradia.
Não existem chicherias1 nem outros lugares que vendem bebida alcoólica. Para
mim é bom porque meu marido bebe muito e depois me bate. Além disso, lá
não pode me bater porque dizem que existe um Comitê de Apoio às Famílias.
Se me bate uma vez, falam com ele, refletimos e do mesmo modo na segunda
vez, porém se existir uma terceira o mandam embora. Acho que lá me sentiria
segura, especialmente pelos meus filhos, porque lá não existe repartição e
divisão das casas caso nos separemos. Já não precisaria mais pedir uma casa.
Pensava que devia aguentar a violência do meu marido, porque não poderia
manter meus sete filhos, mas lá nos incentivam a seguir adiante, a procurar
trabalho. Aprendemos trabalhos manuais, a ler e a escrever e, para nossos
filhos, existem creches e apoio escolar. Como é uma comunidade, dizem que
posso pedir para minha vizinha que cuide dos meus filhos enquanto estou no
trabalho. Também não entram em nossas casas para roubar porque todos se
conhecem, não há estranhos e todos cuidam uns aos outros. Quando alguém
grita, muitos saem em defesa.
Estão bem organizados e trabalham como formiguinhas todos os domingos.
Possuem um diretório que muda a cada dois anos, no qual as duas primeiras
cabeças são mulheres. Deve ser por isso que contam com água, esgoto, telefone,
luz, parque infantil e duas quadras de esportes onde todos jogam e fazem
campeonatos.
Como é importante conhecer os próprios direitos! Agora me dou conta, diziam
que tenho direito a uma casa, mas custa tanto. Os direitos são para aqueles que
têm dinheiro e eu não tenho.
Direito a saúde: se tens uma casa também terás direito à saúde, mas, digo
para mim mesma, é difícil. Se ficar doente, devo ir ao hospital, não ficar
em casa. Mas além de resfriados, as doenças são por outros motivos: pelas
preocupações. Como a casa é minha, já não preciso me preocupar com despejos
por não conseguir pagar o aluguel ou porque minhas crianças fazem barulho.
O pior, em muitos casos, é quando existem violações por parte dos filhos
dos proprietários, ou mesmo dos pais e dos irmãos, por viverem tão perto e
deixarem suas filhas trancadas.
Direito à educação, porque quando era pequena tive que ensinar as crianças a
ter valores, organização, disciplina, a dividir as tarefas da casa, etc.
Direito ao trabalho. Ultimamente, como era inquilina, não tinham confiança
para me dar um trabalho, porém se tens tua casa como garantia, sabem onde
vives e os vizinhos dão referências sobre ti, como é uma comunidade, todos se
conhecem e sabem como nos comportamos.
Direito a viver sem violência, já que na comunidade existe um comitê de apoio
às famílias que as deixa melhores. O trabalho de reflexão que fazem faz com
que os maridos deixem de maltratar tanto as mulheres como os filhos.
Direito à segurança. Todos nos conhecemos e se algum estranho caminha por
lá, perguntamos e, se alguém grita, em seguida toca-se o alarme e todos saímos.
Com o diretório, temos uma ata de bom comportamento que nos obriga a
resolver cada problema, pedir desculpas e nos reconciliar. Quão importante é
nos relacionarmos uns com os outros e não sermos inimigos.
Direitos a segurança alimentícia: temos nossa pequena horta que nos ajuda a
ter algumas verduras e aprendemos a equilibrar nossos alimentos.
As senhoras dizem que assistiram a seminários, oficinas e cursos, que
aprenderam a defender seus direitos. As senhoras que organizaram o Hábitat
para a Mulher Comunidade Maria Auxiliadora estiveram aprendendo sobre o
direito humano à moradia com a Rede Hábitat a nível nacional e pertencem ao
Centro de Iniciativa Cochabamba. Em dez anos avançaram à custa de muito
trabalho e ainda tem muito que fazer.
A solidariedade está dentro de cada um, embora adormecida, mas quando
necessário sai para atender às pessoas que sofrem.
Experiencias - Iniciativas populares 247
Steffen Lajoie
são administradas. Este é o efeito expansivo que tantas vezes se busca atingir nos
processos de participação eficazes.
Este artigo analisa a forma como os membros de ACORN, por meio da
ação social, desenvolvem uma campanha a nível de cidade, ameaçando com o
aumento de 25% na quantidade de votantes locatários para o ano de 2010 em
alguns distritos eleitorais específicos, convertendo assim os problemas dos
locatários numa questão controvertida nas próximas eleições. Graças a estas
atividades, os membros de ACORN em Toronto puderam se fortalecer e fortalecer
suas organizações associadas; desenvolver recursos sociais e políticos; conseguir
acesso aos políticos, meios e autoridades públicas; melhorar suas vidas lutando e
a partir daí obtendo o direito à cidade.
Apesar de sua economia crescente e sua baixa taxa de desemprego o Canadá tem
sido cada vez mais criticado pelos cidadãos por não contar com uma estratégia
habitacional, a nível nacional, e de planejamento, a nível de cidade e de estado,
que garantam moradia segura e decente para todos. A Comunidade de Moradia
de Toronto (Toronto Community Housing) conta com mais de 200.000 unidades,
a maioria das quais se encontra em más condições, sendo que muitas estruturas
requerem investimentos de milhões de dólares em reformas. Muitos desses
edifícios não cumprem os regulamentos da cidade referentes aos padrões de
segurança. Estima-se que existam cerca de 70.000 famílias na lista de espera e
são estas mesmas que não podem participar do programa de habitações sociais,
comprar propriedades ou custear uma hipoteca (ACORN Canadá 2008). Existem
6.385 edifícios multifamiliares (MRABs na sigla em inglês) em Toronto. Cerca
de 80% destes edifícios possuem mais de 40 anos e necessitam urgentemente
de sérias reformas e 95% destes têm mais de 25 anos. Os edifícios em piores
condições se encontram nas áreas de menor renda, na periferia da cidade, que
dia após dia agregam mais trabalhadores pobres. Além disso, os rendimentos
dos lares caíram em comparação com os custos de aluguel segundo o mercado.
(Município de Toronto 2008 a & b).
Toronto tem uma população de mais de 2,6 milhões de habitantes, os
quais se distribuem em 44 distritos eleitorais (Município de Toronto 2008ª).
ACORN Canadá inaugurou seu primeiro escritório em Toronto há cinco anos
com o objetivo de organizar as comunidades de baixos recursos. Por meio
desta organização, as comunidades podem enfrentar melhor os problemas
que se apresentam (ACORN Canadá 2009ª). ACORN Canadá faz uso de uma
Experiencias - Iniciativas populares 251
3 Grande parte da informação contida neste parágrafo foi reunida a partir de minha experiência
como organizador de comunidades para ACORN Toronto, através de informantes-chave
e conversas informais. O site da ACORN Canadá é a melhor fonte para cobrir e divulgar as
campanhas e ações de ACORN-Toronto.
Experiencias - Iniciativas populares 253
Vitória
Não se deve ignorar o fato de que a campanha começou a atingir melhorias nas
condições de vida e conseguiu reformas urgentes em construções e edifícios.
Mesmo que os residentes já tenham notado mudanças significativas nos
edifícios nos quais ACORN esteve lutando durante anos, ainda estão por ver se
o MRAB e a campanha Voto do Inquilino 2010 terão o impacto e a magnitude
desejados. De qualquer maneira, a campanha e as atividades a ela relacionadas
produziram mudanças importantes em relação ao poder e ao planejamento,
a tomada de decisões e as condições de vida físicas dos habitantes de
Toronto.
Os membros de ACORN, que haviam sido ignorados pelos administradores
de seus próprios edifícios, estão sendo testemunhas das mudanças patentes, tais
como a erradicação de pragas (ratos, percevejos e baratas), reformas de janelas,
telhados, sistemas de calefação (uma questão importantes para os canadenses
no seu inverno), elevadores e muitas outras infrações indicadas nas ordenanças
de construção e urbanização. Antes do MRAB, ACORN Toronto empreenderia
ações diretas com os administradores para pressioná-los a assumir sua
responsabilidade. Depois de 188 inspeções realizadas na cidade, sua influência
aumentou consideravelmente, de modo que a campanha permitiu que os
membros trabalhassem diretamente com conselheiros e funcionários municipais
para obter a medição e a avaliação necessárias4.
ACORN Canadá trabalha dia após dia para conseguir mais sócios, fortalecer suas
divisões locais e impulsionar as ações para atingir melhorias nos bairros de média
e baixa renda. Desta maneira, a rede social que se estabelece entre os membros
reduz o isolamento e a impotência. Graças ao trabalho em conjunto com os
conselheiros e locatários para promover seu programa em edifícios específicos,
os membros de ACORN adquiriram acesso a processos democráticos. A ML&S
se mostrava reticente a trabalhar com os membros de ACORN, porém através da
ação direta da campanha, estes foram capazes de atraí-los e desta forma, conectá-
los com o planejamento de estruturas da cidade.
Adquirir a capacidade de atuar contra a administração e os locatários
empodera os membros e lhes proporciona uma voz que em algum momento foi
facilmente ignorada.
Bibliografia
A trajetória da luta pela reforma urbana inicia-se nos anos 1960, época que
os segmentos progressistas da sociedade brasileira demandavam reformas
estruturais na questão fundiária. A principal bandeira era a realização da Reforma
Agrária no campo, que já integrava o plano das “Reformas de Base” no governo
do presidente João Goulart.
A proposta de uma reforma urbana nas cidades brasileiras foi inicialmente
formulada no Congresso de 1963, promovido pelo Instituto dos Arquitetos
do Brasil. Mas com o golpe militar de 1964, constituiu-se um regime político
autoritário (que durou até 1984) que inviabilizaria a realização dessas reformas.
Os temas da reforma urbana reapareceriam nos anos 1970 e 1980, numa época
de abertura lenta e gradual, em que os movimentos sociais aos poucos ganhavam
mais visibilidade e relevância política, e eram capazes de construir um discurso
e uma prática social marcados pela autonomia. As suas reivindicações eram
apresentadas como direitos, com o objetivo de reverter as desigualdades sociais
com base em uma nova ética social, que trazia como dimensão importante a
politização da questão urbana, compreendida como elemento fundamental para
o processo de democratização da sociedade brasileira.
Nesse período, a Igreja Católica deu uma grande contribuição nesse sentido
ao lançar o documento “Ação Pastoral e o Solo Urbano”, no qual defendia a
função social da propriedade urbana. Esse texto foi um marco muito importante
na luta pela reforma urbana.
A essa altura, o panorama urbano brasileiro já era outro. Marcadas por um
êxodo rural altíssimo entre 1940 e 1991, quando a população urbana passou de
31,2% a 75% do total da população nacional, as cidades brasileiras cresceram
desprovidas de infra-estrutura mínima. As conseqüências não foram poucas,
260 Ciudades para tod@s
Até hoje o FNRU trabalha ativamente com a sociedade civil para a que a reforma
urbana se concretize no Brasil. Atualmente, as preocupações dos FNRU têm
se concentrado em formas de reivindicação para que o conjunto de direitos
conquistados seja aplicado.
Os princípios fundamentais que orientam sua ação são:
• o direito à cidade e à cidadania, entendida como a participação dos
habitantes das cidades na condução de seus destinos. Inclui o direito à terra,
aos meios de subsistência, à moradia, ao saneamento ambiental, à saúde,
à educação, ao transporte público, à alimentação, ao trabalho, ao lazer e
à informação. Inclui o respeito às minorias, à pluralidade étnica, sexual
e cultural e ao usufruto de um espaço culturalmente rico e diversificado,
sem distinções de gênero, etnia, raça, linguagem e crenças.
• a gestão democrática da cidade, entendida como a forma de planejar,
produzir, operar e governar as cidades, submetida ao controle social e à
participação da sociedade civil.
• função social da cidade e da propriedade, como prevalência do interesse
comum sobre o direito individual de propriedade. É o uso socialmente
justo do espaço urbano para que os cidadãos se apropriem do território,
democratizando seus espaços de poder, de produção e de cultura dentro
de parâmetros de justiça social e da criação de condições ambientalmente
sustentáveis.
O FNRU organiza periodicamente um Encontro Nacional, bem como,
grupos de trabalhos temáticos, num contínuo processo de avaliação e análise da
conjuntura e das políticas concretas. O FNRU tem uma comissão de coordenação
que se reúne periodicamente para discutir as demandas mais emergentes, para
eleger prioridades e organizar as próximas ações.
A cada dois anos o FNRU organiza encontros nacionais, momento em que
debate a conjuntura das políticas públicas do país e elege os temas e as ações
prioritárias para os anos subseqüentes.
Alguns desafios iniciais do movimento pela reforma urbana foram superados,
Experiencias - Marco legal 265
Bibliografia
Da Silva, Ricardo Siloto e Da Silva, Éder Roberto. Origens e matrizes discursivas da
Reforma Urbana no Brasil. Espaço e Debates, São Paulo, nº 46, 2006.
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implementação pelos municípios e cidadãos, Pólis Instituto de Estudos Formação
e Assessoria em Políticas Sociais e Caixa Econômica Federal, apoio Comissão de
Desenvolvimento Urbanos da Câmara dos Deputados, Secretaria Especial de
Desenvolvimento Urbano da Presidência da República, Câmara dos Deputados
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Saule Júnior, Nelson. Nova Perspectiva do Direito Urbanístico. Ordenamento
Constitucional da política urbana. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997.
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Spatial Segregation – The Chalenges of the Democratic Management in Brazil –
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espaços públicos no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 167.
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Uzzo Karina,Saule Júnior, Nelson, Santana Lilia, Nowersztern Marcelo, Retratos sobre a
atuação da sociedade civil pelo direito à cidade : Diálogo entre Brasil e França,
AITEC, Instituto Pólis, Coordination SUD, São Paulo, 2006.
270 Ciudades para tod@s
Anexo
Fórum Nacional de Reforma Urbana (Coordenação);
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE);
Confederação Nacional de Associações de Moradores (CONAM);
Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM);
União Nacional por Moradia Popular (UNMP);
Central de Movimentos Populares (CMP);
Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa Econômica (FENAE);
Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenharia (FISENGE);
PÓLIS – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais;
Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA);
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM);
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE);
Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP);
COHRE Américas;
Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos;
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB);
Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (FENEA);
Centro de Assessoria à Autogestão Popular (CAAP);
Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA);
Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião;
Observatório das Metrópoles (coordenado pelo IPPUR/UFRJ e pela FASE);
Action Aid do Brasil; Conselho Federal do Serviço Social.
Carta da Cidade do México: o direito a
construir a cidade que sonhamos
Lorena Zárate
2 Tanto o Diagnóstico como o Programa de Direitos Humanos do Distrito Federal estão disponíveis
em www.cdhdf.org.mx
274 Ciudades para tod@s
Mobola Fajemirokun
Perspectivas futuras
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O caminho do direito à cidade na Bolívia
Uvaldo Mamani
1 Mediante o Decreto Supremo 21.060, o governo de Víctor Paz Estensoro em 1985, demite a
milhares de trabalhadores de minas da COMIBOL.
2 Em espanhol Red Nacional de Asentamientos Humanos, fundada no ano de 1995.
3 A primeira em 1953, após a revolução campesino-sindical de 1952 e a segunda no ano de 1996,
com a Promulgação da Lei INRA, do Instituto Nacional de Reforma Agrária.
284 Ciudades para tod@s
As lutas pelo direito à moradia, acesso seguro ao solo e a uma melhor qualidade
de vida em Cochabamba foram assumidas em diferentes facetas e perspectivas.
Até o ano de 2005, a Comunidade Maria Auxiliadora mantinha uma luta frontal
pelo reconhecimento da propriedade coletiva da terra e da moradia, ao par com
as cooperativas de habitação por ajuda mútua, articulados com a Fundação
Pró-hábital e Procasha. Por outro lado, profissionais independentes, grupos de
voluntários pela moradia impulsionados pelo Hábitat para a Humanidade, junto
a milhares de famílias necessitadas de habitação, faziam parte de uma nova
consciência crítica sobre a realidade sócio-habitacional no contexto urbano.
Cochabamba, a capital da Guerra da Água, continuava em sua encruzilhada,
herdada após a expulsão da Transnacional Águas do Tunari, de manter a gestão
pública da água por meio da empresa privada ou com a gestão comunitária,
recuperando os modelos dos sistemas comunitários de água da zona sul da cidade.
A problemática do tratamento sustentável do lixo, a crescente insegurança
da cidadania e os permanentes conflitos sociais entre linhas de transporte
público sindical e livre4, expõem grandes fragilidades na gestão da cidade de
Cochabamba.
No ano de 2005, declarado pelas Nações Unidas Ano Internacional das
Cidades, a Fundação Pró-hábitat reúne a grande parte destes atores junto aos
afiliados a RENASEH em torno da feira do Dia Mundial do Hábitat. A riqueza
do intercâmbio e articulação do evento entre organizações e instituições, motivou
a convocação da primeira reunião de instituições e pessoas interessadas na
abordagem do direito à cidade. Assim nasce o Comitê Impulsionador do Estatuto
da Cidade, denominado agora Comitê Impulsionador do Direito à Cidade. 5
4 As linhas de transporte sindical são reconhecidas pelo município; o transporte livre é validado
pelos bairros que não são atendidos pelo transporte sindicalizado.
5 Composto pela Comunidade Maria Auxiliadora, a Assembleia Permanente de Direitos
Humanos, Sistema de Água de Alto Pagador e Bairros Unidos, SEMAPA, a Fundação Pró-
Habitat, Coordenação da Rede RENASEH, Instituto de Pesquisas Jurídico Políticas IIJP, Hábitat
para a Humanidade, Sociedade de Estudos de Moradia SEVIVE-CAC, PROCASHA, Centro de
Planejamento e Gestão Ceplag e o Centro de Pesquisas de Sociologia CISO.
Experiencias - Marco legal 285
• Solo e moradia
d) Disciplina urbanística
Organizações sociais:
10. AESCO-Ecuador
11. ACJ-Asociación Cristiana de Jóvenes
12. Asociación Solidaridad Acción - ASA
13. Centro de Investigaciones CIUDAD - Proyecto PASO A PASO
Experiencias - Marco legal 297
14. Ecosur
15. Fundación Hogar de Cristo
16. Fundación Mariana de Jesús
17. FUNHABIT
18. Grupo Social FEPP
19. Habitat Para la Humanidad – Ecuador
20. Somos Ecuador
Instituições privadas
26. ONU-HABITAT
Outros
Algumas conclusões
Arif Hasan
Introdução
1 Artigo redigido para o Simpósio sobre Cultura, Espaço e Revitalização da Rede IAPS-CSBE
(International Association People Environment Studies- Culture and Space in the Built
Environment Network), Istambul, Turquia, 12 – 16 Outubro 2009
302 Cidades para tod@s
Como resultado, hoje em dia somos governados por três instituições globais.
Elas determinam a política, a cultura, as finanças e o desenvolvimento mundial
e, do mesmo modo, também a maior parte das políticas e dos conceitos de
desenvolvimento a nível nacional. Nenhuma destas instituições é democrática
por natureza e, portanto, suas decisões e políticas não podem ser modificadas
por meio de normas, regulamentos e procedimentos existentes que determinem
seu funcionamento. Tais instituições são: em primeiro lugar, a ONU, controlada
por cinco membros do Conselho de Segurança que ganharam a Segunda Guerra
Mundial e podem vetar individualmente qualquer decisão da Assembléia Geral;
em segundo lugar, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que
funcionam sob o conceito do dólar, um voto; e, em terceiro lugar, a Organização
Internacional de Comércio (OMC), fruto das negociações da Sala Verde do G-7,
as quais deram lugar à criação do Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas (GATT,
na sigla em inglês), e é controlada pelo G-8.
Conjuntamente, estas organizações promoveram o que se conhece como economia
de “livre mercado”, cujo aspecto mais importante é a liberdade de circulação do
capital através das fronteiras nacionais e a busca de investimentos que, sempre que
possível, possam ser multiplicados. O processo de ajuste estrutural, ao qual muitos
países mais pobres foram obrigados a se submeter na década de 90, facilitou o
crescimento da economia de livre mercado e o apoio a tal processo. O ajuste estrutural
exigiu que os governos nacionais regulassem suas balanças comerciais e devolução
de créditos outorgados pelas IFI. Para que isso fosse possível, os países que se
submetiam ao ajuste estrutural acordaram eliminar subsídios para a saúde, educação
e moradia; aumentar impostos aos serviços públicos; vender seus ativos industriais e
imóveis do setor corporativo privado, nacional ou internacional e eliminar restrições
sobre importações e exportações. A conseguinte crise econômica a nível nacional
significou que os países mais pobres não podiam investir e, em muitos casos, nem
sequer subsidiar, projetos de infraestrutura que deveriam ter sido construídos pelo
setor corporativo nacional ou internacional por meio de licitações internacionais.
Como resultado, produziu-se um grande boom das empresas internacionais para a
execução destes projetos. Os processos de Construção-Operação-Transferência (COT)
e Construção-Operação-Propriedade (COP) foram inventados para possibilitar o
desenvolvimento da infraestrutura por meio desse sistema. Ambos os sistemas
geram infraestrutura com custo duplicado em relação a que seria produzida pelo
governo. Além disso, os governos são obrigados a outorgar garantias soberanas pelo
capital aportado pelos investidores.
Desenvolveu-se então uma terminologia e conceitos totalmente novos para
respaldar a economia de mercado. Conceitos como “o negócio não é negócio
do estado”, “as cidades são os motores do crescimento”, além da vinculação do
bem-estar econômico com o crescimento do PIB, gerando um impacto notável
nas políticas nacionais dos países asiáticos. Na busca pelo crescimento e pelo
Experiencias - Políticas públicas 303
2 Devinder Sharma; Displacing Farmers: India Will have 400 Million Agricultural Refugees; www.
dsharma.org
3 Para mais detalhes, ver, Ahmed Rafay Alam; Leasing Out Land And Food Security; The Daily News,
Karachi, 04 Setembro 2009.
4 Devinder Sharma; op. Cit.
5 Liza Weinstein; Mumbai’s Development Mafias: Globalization, Organized Crime and Land Development;
International Journal of Urban and Regional Research, Volume 32.1, Marzo2008
6 Ibid. Outros urbanistas de diferentes países asiáticos também comentaram com o autor sua
preocupação a respeito.
304 Cidades para tod@s
7 Arif Hasan: Understanding Karachi: Planning and Reform for the Future; City Press, Karachi 2000
8 Tripti Lahiri; A Nightmare Grows on Ruins of India’s Housing Shortage; Daily Dawn, Karachi, 14
Mayo 2008
9 Arif Hasan: Documento de debate para el seminario de la UN University “Sustainable Urban
Future in an Era of Globalisation and Environmental Change”; New York, 09-10 Julio, 2007
10 Entre elas se encontram o Tribunal Independente dos Povos sobre o Banco Mundial na Índia, a
Voz do Povo em Karachi e o Instituto de Recursos para o Desenvolvimento no Camboja.
11 Ver Stephanie Gorson Fried e Shannom Lawrence com Regina Gregory: The Asian Development
Bank: In its own Worlds; “An Analysis of Project Audit Reports for Indonesia, Pakistan and Sri
Lanka; ADB Watch, Julho 2003. Também, de Arif Hasan; The Neo Urban Development Paradigm and
the Changing Landscape of Asian Cities; International Society of City and Regional Planners Review
No. 3, La Haye, 4 Junho 2007.
Experiencias - Políticas públicas 305
Karachi, Bombay, Cidade Ho Chi Mnh, Seul e Delhi são todas urbes que aspiram
transformar-se em cidades globais. Algumas aspiram ser com Xangai e outras
como Dubai. A cidade global tem sido maravilhosamente (e favoravelmente)
definida num brilhante artigo de Mehbubur Rahman e em outros materiais12.
Segundo a agenda da cidade global, a cidade deve contar com arquitetura
icônica por meio da qual deveria ser reconhecida, tal como o edifício mais alto
ou a maior fonte do mundo. Deve estar equipada para ser a sede de um mega-
evento internacional como os Jogos Olímpicos e o Mundial da FIFA. Deve contar
com apartamentos em arranha-céus, em oposição a assentamentos melhorados
e bairros de baixa altura. Para resolver seu crescente problema de tráfego
(resultado dos créditos bancários para a compra de veículos) deve construir
passagens em desnível, subterrâneas e autopistas em vez de restringir a produção
e a compra de automóveis, além de gerenciar o tráfego com maior eficiência.
Para atingir todos os requisitos, uma cidade deveria contar com um avultado
orçamento, para o qual deveria buscar o IED e o apoio das IFI. Para acessar o
IED, deve ser desenvolvida uma infraestrutura propícia para os investimentos
e uma imagem de cidade global. Para estabelecer tal imagem, as populações
pobres são removidas da cidade para a periferia e os regulamentos, que já são
contrários aos pobres (antivida de rua, antipedestres, antiuso misto do solo e
antiespaço dissolvido), tornam-se ainda mais hostis ao permitir conversões do
uso do solo que são nefastas meio-ambientalmente e socialmente. A repercussão
mais importante desta agenda consiste em que a capital global determine cada
vez mais a conformação física e social da cidade. Como parte deste processo, os
projetos substituíram o planejamento e o uso do solo é agora exclusivamente
12 Mahbubur Rahman; “Global City – Asian Aspirations; artigo lido durante o seminário sobre
“Urbanismo num mundo globalizante” Universidade NED de Karachi - Departamento de
Arquitetura e Planejamento, 30 Maio 2009
306 Cidades para tod@s
determinado pelo valor da terra, sem tomar como base considerações sociais e
meio-ambientais. O solo converteu-se descaradamente numa mercadoria.
A agenda que opta pela reestruturação urbana com edifícios de altura ao
invés da melhoria dos assentamentos, pela realocação dos antigos assentamentos
informais para a periferia da cidade e para ceder lugar a mega-projetos e mega-
eventos, tem resultado num aumento enorme das expulsões em toda a Ásia
durante os últimos cinco anos. Mais de 500 mil pessoas foram desalojadas
em Delhi em função da preparação dos Jogos Asiáticos de 2010.13 14 Todos os
estudos demonstram que as pessoas afetadas não foram consultadas antes da
desocupação, que foram submetidas a uma sutil coação e, frequentemente, à
força bruta, sendo que ficaram ainda mais empobrecidas ou contraíram novas
dívidas no processo de despejo e/ou de realocação15. Entre os outros efeitos
gerados por tais despejos estão a interrupção da escolaridade das crianças, a
perda de empregos e, para alguns, o incremento de 5 a 6 horas destinadas para
o trajeto casa-trabalho, trabalho-casa, o que acaba afetando a vida familiar e
social, a saúde, a recreação e as atividades de lazer16. Os resultados das políticas
mencionadas, junto à ausência de subsídios para a urbanização e à habitação
social, produziram um incremento impressionante dos assentamentos informais.
Os políticos e urbanistas do governo justificam o enfoque na reestruturação
urbana de edifícios de altura insistindo que a cidade moderna deve ser configurada
com este tipo de construções, com espaços abertos intermediários. Também
insistem que a alta densidade da população, necessária para o bom funcionamento
da cidade, não pode ser atingida com a melhoria das estruturas existentes nem
o aumento de pessoas nos bairros que já existem. A imagem de uma cidade é
governada pela percepção do que deveria ser. Contudo, um estudo recente sobre
os assentamentos e complexos de apartamentos de Karachi demonstrou de
maneira conclusiva que a mesma densidade recomendada pela Karachi Building
Control Authority – KBCA (Autoridade de Controle da Construção de Karachi)
pode ser conseguida com a construção de casas geminadas com térreo mais dois
13 Tripti Lahiri; A Nightmare Grows on Ruins of India’s Housing Shortage; Daily Dawn, Karachi, 14
Maio, 2008
14 Nota das editoras: referências aos impactos negativos do recondicionamento da cidade para os
mega-eventos esportivos, ver na mesma publicação outro artigo “Jogos Olímpicos de Pequim
2008: As atividades de modernização e embelezamento removem alguns habitantes para a
periferia de Pequim, enquanto outros resistem e reclamam seu direito à cidade”, María Cristna
Harris.
15 Para mais detalhes ver Tripti Lahiri; A Nightmare Grows on Ruins of India’s Housing Shortage; Daily
Dawn, Karachi, 14 Maio 2008 e Han Verschure, Arif Hasan e Somsook Boonyabancha; Evaluation
& Recommendations for Infrastructure & Resettlement Pilot Project Tan Hoa-Lo Gom Canal; Cidade de
Ho Chi Minh, 28 de Abril de 2006
16 Arif Hasan; Livelihood Substitution: The Case of the Lyari Expressway; Ushba International Publishing,
Karachi, 2006.
Experiencias - Políticas públicas 307
dólares para a compra diária de, em média, 506 automóveis durante o ano fiscal de
2006-200720. É inútil dizer que o tráfego das maiores cidades da região converteu-
se num pesadelo. Para resolver este problema, os urbanistas iniciaram um
enorme programa de construção de estradas, passagens em nível, subterrâneos
e autopistas sim sinalização, o que agravou a situação, além de dificultar a vida
dos pedestres e dos que se locomovem diariamente para trabalhar. Junto a estes
projetos viários, os meios de transporte não motorizados, geralmente usados
pelos pobres (triciclos e “rickshaws” com tração humana, carruagens com tração
animal etc.), foram proibidos em muitas urbes, ou restringidos a periferia ou às
zonas de baixa renda21. Entretanto, os projetos de linhas férreas rápidas para o
transporte de massa não conseguiu proporcionar uma alternativa adequada ou
acessível para os pobres, pois se tratam, essencialmente, de iniciativas isoladas
que não formam parte de um plano de transporte integral maior.
Em função dos processos descritos e de outros relacionados, muitas
cidades asiáticas se tornaram hostis aos pobres, assim como para os migrantes
(principalmente refugiados agrícolas) e para as comunidades que as habitam
por décadas, ou mesmo séculos. Os custos do solo, da construção e do aluguel
aumentaram muito mais do que qualquer incremento dos salários diários para os
trabalhadores sem qualificações.
A luta contra os aspectos negativos da cidade global
20 Arif Hasan; The Neo Urban Development Paradigm and the Changing Landscape of Asian Cities;
International Society of City and Regional Planners Review No. 3, La Haye, 4 Junio 2007
21 Madhu Gurung; Delhi’s Graveyard of Rickshaws; InfoChange News & Features, Septiembre 2006
Experiencias - Políticas públicas 309
22 Ardian Levy y Cathy Scott-Clark; Country for Sale; The Guardian, 26 Abril 2008
23 Cambodia Development Resource Institute Technical Assistance and Capacity Development in an
Aid-Dependent Economy; Working Paper 15, Año 2000; Tom Coghlan; Consultants Reap Wealth from
Afghan Chaos; Daily Telegraph, 26 Marzo 2008
24 Ver “The Partitioning of Clifton Beach” in Arif Hasan; Planning and Development Options for Karachi;
Sheher Saaz, Islamabad, 2009. Ver también, sitio web de Fisherfolk Forum www.pff.org.pk
310 Cidades para tod@s
29 Ibid
30 Isso foi observado pelo autor em pelo menos três casos em Karachi, e na luta dos arrendatários
agrícolas do Punjab. Também foi assinalado ao autor por Sheela Patel de SPARC em Bombay e
pelo Prof. Yves Cabannes em casos da América Latina.
31 Ver site de CODI: www.codi.or.th
312 Cidades para tod@s
alternativa poderia nascer dos processos que questionam (com e sem êxito) os
projetos impulsionados pelo paradigma neoliberal de desenvolvimento urbano?
Talvez devamos debatê-los, mas o que deveríamos fazer nesse ínterim?
No caso de Karachi, parece-me que os projetos substituíram o planejamento
num futuro imediato. Fiz a tentativa de promover alguns princípios com base nos
quais os projetos deveriam ser avaliados e/ou modificados. Estes não deveriam
causar dano à ecologia da região onde se localiza a cidade e, como prioridade,
deveriam ir de encontro aos interesses da maioria dos habitantes que são, no
caso das nossas cidades, os grupos de baixa e média renda. Os projetos deveriam
determinar o uso do solo segundo considerações sociais e meio-ambientais e
não somente pelo valor dos terrenos. Finalmente, deveria proteger o patrimônio
cultural tangível e intangível das comunidades. Contudo, sem cuidado e respeito
pelo entorno natural e pelas pessoas que conformam a maior parte dos habitantes
das urbes, tais princípios não podem ser seguidos com eficácia.
A pergunta continua sendo se a megalomania e o oportunismo dos políticos e
dos urbanistas aceitarão um paradigma novo e mais humano, que restrinja seus
rendimentos e desmercantilize a terra. É duvidoso, a menos que sintam a pressão
das redes por toda a cidade, armadas com pesquisas e visões alternativas.
A chave para provocar a mudança jaz na natureza da educação profissional.
Frequentemente penso que poderia ser útil que arquitetos, urbanistas e
engenheiros que se formam prestem um juramento semelhante ao dos médicos
e, no caso de que não respeitem suas promessas, seus nomes sejam eliminados da
lista profissional. Em 1983, depois de avaliar o dano meio-ambiental que parte do
meu trabalho havia causado, prometi num artigo que:
Não realizarei projetos que danifiquem irreparavelmente a ecologia e o meio-
ambiente da área onde se situam; não realizarei projetos que empobreçam,
removam pessoas e destruam o patrimônio cultural tangível e intangível das
comunidades que vivem na cidade; não realizarei projetos que destruam o espaço
público onde se reúnem pessoas de diferentes classes sociais e que violem as
ordenanças municipais acerca dos edifícios e normas de zoneamento; e sempre
me oporei aos projetos insensíveis que incorram no que foi anteriormente dito,
sempre que possa oferecer alternativas viáveis32.
32 Arif Hasan; No to Socially and Environmentally Development Projects; The Review 1983
Considerações sobre a segurança urbana das
mulheres através do direito à cidade, Polônia
Shelley Buckingham
As ameaças de crime e violência são mais altas nas cidades, particularmente entre
as mulheres. O número crescente de incidentes nos espaços públicos urbanos
está se tornando uma grande preocupação, especialmente quando consideramos
a forte urbanização mundial que vem acontecendo por décadas. Este fenômeno
tem progredido ao ponto de que atualmente mais da metade da população do
mundo vive em cidades, revelando a importância do debate sobre a segurança
das mulheres na cidade. Embora os padrões de direitos humanos internacionais
estabeleçam objetivos para garantir o direito das mulheres a viver sem violência,
os ambientes urbanos particulares onde sofrem violência necessitam ser
examinados e ações devem ser tomadas nas esferas públicas locais. Se a violência
ocorre em grande parte da cidade, então ações precisam ser realizadas não
somente na cidade, mas através da sua própria criação. Enquanto o planejamento
e o desenho urbano não criam diretamente a violência, de algum modo facilitam
ambientes que podem apresentar mais ou menos oportunidades para assaltos.
O desenho e o planejamento urbano devem, portanto, ser examinados a fim de
entender completamente porque as mulheres sofrem ameaças e reais incidentes
de violência. A partir da compreensão dessas ameaças, atitudes podem ser
tomadas para mudar a forma como as mulheres experimentam e vivem a cidade
sem a ameaça da violência. Todas possuem tal direito à cidade, o qual deve ser
entendido como seu direito coletivo à segurança nos espaços que habitam.
a cidade e a cidade nos molda. Isto nos faz questionar se a cidade se presta a
violência porque as estruturas nas quais vivemos conduzem a tal comportamento
ou se são as prioridades daqueles que estão no controle e a preponderância dos
interesses econômicos de poucos, sobrepostos ao bem-estar de todos, que resulta
na falta de medidas de segurança dentro dos ambientes urbanos. As respostas
das participantes femininas na auditoria de segurança sugerem que a última
alternativa é a verdadeira. Esquinas escuras nas entradas dos edifícios ajudam a
ocultar criminosos que desejam atacar suas vítimas, e os que planejam a cidade
e as autoridades devem estar cientes desses riscos e eliminar estas ameaças com
desenhos urbanos melhores. Certamente as estruturas urbanas não são as únicas
responsáveis pela violência que nelas ocorre, de modo que as políticas públicas
também devem considerar os fatores sociais que tornam determinados grupos de
pessoas mais vulneráveis a ameaças e incidentes de violência. Quando analisamos
o desenho urbano e o entorno através do processo de planejamento participativo
como exercício do direito à cidade, é absolutamente necessário considerar e incluir
as pessoas que usam esses espaços, as quais usualmente compõem uma grande
mistura de diversas identidades. Todos os habitantes de uma cidade deveriam
estar protegidos e deveria ser o direito de todas e todos, especialmente daqueles
grupos mais vulneráveis, identificando suas preocupações nos ambientes em
que vivem. Este é o chamado comum do direito à cidade; o direito a usufruir e
participar da criação de cidades seguras para todos os habitantes.
Referências
Bobak, Przemyslaw. Email communication. UN Habitat Warsaw Office. April 16, 2009.
Fenster, Tovi. “The Right to the Gendered City: Different Formations of Belonging in
Everyday Life” in Journal of Gender Studies, vol. 14, no. 3, pp. 217-231. November
2005.
Harvey, David. “The Right to the City” in International Journal of Urban and Regional
Research, vol. 27, iss. 4. 3 pages. December 2003.
Metropolitan Action Committee on Violence Against Women and Children, Community
Safety Program: http://www.metrac.org/programs/safe.htm
United Nations Human Settlements Programme. “Women’s Safety Audits for a Safer
Urban Design: Results of the pilot audit carried out in Centrum, Warsaw”. UN
Habitat Warsaw Office. 18 pages. October 2007. http://www.unhabitat.org/
downloads/docs/5544_32059_WSA%20Centrum%20report.pdf
Graz, en Austria, Cidade dos Direitos Humanos
Marie Bailloux
Caldeirão de Culturas
Graz, capital da Styria, está situada no Sul da Áustria e faz fronteira com Eslovênia
e Hungria, repousando no ponto de encontro de muitas culturas européias. A
influência românica, eslava, magiar e alpino-germânica formou uma identidade
cultural única. É também um lugar de encontro internacional, intercultural e de
diálogo religioso. Graz possui aproximadamente 300.000 habitantes.
Em setembro de 2000, o Ministro de Relações Exteriores da Áustria,
Sr. Benito Ferrero-Waldner, anunciou na 55ª Assembléia Geral das Nações
Unidas que Graz seria a “Primeira Cidade em Direitos Humanos na Europa”.
Em fevereiro de 2001, endossado pela Administração Municipal, a Câmara
Municipal de Graz tomou a decisão unânime de declará-la Cidade dos Direitos
Humanos e comprometeu-se em tomá-los firmemente como base para qualquer
decisão ou ato, de modo que os padrões estabelecidos pelos direitos humanos
serão respeitados em qualquer decisão ou ato dos líderes. Esse compromisso,
implementado depois de um processo de muitos anos, tem sido monitorado pelo
Centro de Treinamento e Pesquisa de Direitos Humanos e Democracia (ETC):
em fevereiro de 2001, ETC e as mais importantes instituições e organizações de
Graz (Organizações, universidades, instituições políticas, etc.) formaram um
Comitê Diretivo (representando todos os setores da sociedade), assumindo a
tarefa de guiar o processo. Por este motivo, uma análise do contexto, problemas
sobre Direitos Humanos e boas práticas foi elaborada, seguindo um programa
de ações estratégico antes desenvolvido, nominando todos os atores, Estado e
toda a comunidade envolvida no assunto para então definir os passos futuros no
desenvolvimento de Graz em direção à Cidade dos Direitos Humanos.
320 Cidades para tod@s
1 P.E.N., abreviatura de Poets, Essayists and Novelists (Poetas, Ensaístas e Romancistas), é uma
associação internacional de escritores fundada em 5 de outubro de 1921 com o objetivo de
promover a literatura.
2 Centro de Monitoramento contra Racismo e Xenofobia
Experiencias - Políticas públicas 321
3 Ombudsman é um profissional contratado por um órgão, instituição ou empresa que tem a função
de receber críticas, sugestões e reclamações e deve agir em defesa imparcial da comunidade.
322 Cidades para tod@s
Desde 1997, a arena de esportes local foi nomeada Estádio Arnold Schwarzenegger,
como lealdade ao filho de um lavrador pobre e celebridade internacional educada
em Graz, sempre identificado com seu lugar de origem. Schwarzenegger, porém,
depois de tornar-se governador da Califórnia, recusou-se a comutar a sentença
de morte para o líder de uma gangue de Los Angeles, Stanley Tookie Williams,
que foi executado nesse estado no ano de 2005. A reação da Câmara Municipal
de Graz, considerando a pena de morte como uma prática medieval e inumana,
foi remover o nome de Arnold Schwartzenegger de 15.000 assentos do estádio.
Graz concentrou-se na implementação de muitas políticas promovidas de
acordo com procedimentos da Carta pelo direito à cidade: proteção dos mais
vulneráveis, gestão democrática da propriedade, empenho contra a discriminação
e segregação social, direito coletivo à moradia e acessibilidade aos serviços,
estímulo às boas práticas com relação aos direitos humano através de premiações.
Ao nível local, a cidade de Graz tem gerado instrumentos legais com o objetivo
de consolidar os direitos humanos no contexto urbano, focando a inclusão e
proteção das populações mais vulneráveis, promovendo o diálogo e convivência
entre múltiplas comunidades, reconhecendo sua dignidade e respeitando suas
diferenças culturais e religiosas. Ao mesmo tempo, há um empenho da cidade
contra a degradação ambiental e também a promoção do direito a que se usufrua
de espaços urbanos sustentáveis. A condenação de práticas injustas e xenófobas
num monitoramento permanente mostra a clara tentativa de implementar o
respeito aos direitos humanos e a integração da justiça na vida cotidiana dos
habitantes e na gestão urbana.
Na área econômica, social, cultural, política e espacial, Graz parece almejar o
usufruto equitativo da cidade pelos seus habitantes, independente de sua origem
étnica, crença ou classe social, empenhando-se em estabelecer as bases para o
direito à cidade na Europa como um modo de vida, permitindo aos habitantes
apropriar-se de sua cidade, monitorando as decisões governamentais no que se
refere à construção ou preservação da cidade que eles desejam viver.
Referências
Bernstein, Richard. “A Schwarzenegger backlash in Austria”. The New York Times.
December 27, 2005. http://www.iht.com/articles/2005/12/26/news/austria.php.
Europeprize. “Assemblée générale 2006, Graz: Compte rendu des résultats”. May 20,
2006. http://www.europeprize.eu/fr/?p=89.
FriedensBuro Graz. http://www.friedensbuero-graz.at/cms/index.php?id=119.
Experiencias - Políticas públicas 323
Charlotte Mathivet
Para conseguir isto, o movimento Cidade Lenta baseia-se no nível local. Perante
a globalização, os militantes das cidades lentas apostam no desenvolvimento
local, seja a nível político através dos municípios, ou a nível econômico mediante
acordos que favoreçam os produtos regionais.
Esta ideia baseia-se na vontade de criar maneiras de viver juntos, compartilhar,
revitalizar o tecido social perdido em cidades onde os vizinhos não se conhecem
e onde as atividades sociais reduzem-se a uma relação quase inevitável com
os comerciantes. Este objetivo do movimento Cidade Lenta pretende voltar
a encontrar uma identidade própria para a cidade, que possa distinguir-se do
exterior e estar reconhecida e apreciada do interior pelos seus próprios moradores.
Concretamente, as cidades que fazem parte do movimento Cidade Lenta
promovem a utilização de tecnologias que melhoram a qualidade do meio
ambiente e do tecido urbano, assim como a salvaguarda da produção local de
alimentos e de vinhos para favorecer a identidade local da região. Além disto,
Cidade Lenta procuram promover o diálogo e a comunicação entre os produtores
e os consumidores. Cidade Lenta incentiva a produção de alimentos naturais e
a utilização de técnicas respeitosas ao meio ambiente. A adesão à rede Cidade
Lenta implica melhorias concretas da qualidade de vida dos habitantes. Eis
alguns exemplos:
Experiencias - Políticas públicas 327
Uma das ações principais de uma cidade lenta é a participação dos seus habitantes.
Cada um é chamado a fazer parte deste projeto, num espírito de abertura, de
tolerância para com o outro e, evidentemente, respeitando o ritmo particular que
toma a partilha de ideias e a criação em grupo de projetos e propostas novas,
ou seja, lentamente. Assim, os militantes do movimento acreditam que tanto a
democracia e a educação como a tomada de decisão coletiva requerem lentidão.
Além disso, a ecologia, o respeito à natureza, a relação entre seres humanos e a
natureza correspondem a uma escala diferente daquela dos seres humanos na sua
dimensão individual. Por isso, o elogio da lentidão implica também em valorizar
o tempo indispensável à reflexão e à deliberação. O fato de que a participação seja
um aspecto inerente à criação de cidades lentas é um ponto muito interessante
para relacionar o movimento Cidade Lenta e o direito à cidade.
A meu ver, o movimento Cidade Lenta pode ser considerado como uma
experiência acabada do direito à cidade. Com efeito, o tema da participação,
que está presente na Carta de Cidade Lenta, é também um ponto fundamental
da Carta Mundial do Direito à Cidade. A constatação que os cidadãos devem
recuperar a cidade, reconquistá-la, não deixá-la nas mãos das grandes empresas,
dos carros, das fábricas poluentes, e das grandes empresas imobiliárias, mas pelo
contrário, lutar para impor uma outra visão da cidade, compartilhada, acolhedora
e cheia de lugares públicos onde é possível se encontrar. O tema da participação
não é o único aspecto do direito à cidade que a rede Cidade Lenta desenvolve e
implementa: a vontade de criar uma identidade, de ser feliz e orgulhoso de onde
se vive, este sentimento de pertencer a um lugar constitui também um ponto
forte do direito à cidade.
agir sem perder mais tempo na luta contra os múltiplos efeitos negativos do
sistema capitalista, do neoliberalismo e do crescimento. Primeiro, trata-se de
questionar o mito que domina atualmente, o pensamento único que pretende fazer
dos conceitos de crescimento, progresso, desenvolvimento (e das consequências
concretas ligadas aos mesmos) certezas inevitáveis, sem alternativas possíveis
nas nossas vidas. Mas estas existem como o mostra também o direito à cidade:
o decrescimento é uma bandeira de luta para defender a possibilidade de que
outras relações Norte-Sul, outra economia, outras relações sociais, outras relações
entre ser humano e meio ambiente e outras cidades são possíveis. Portanto, é
interessante poder aprofundar as experiências já implementadas, estendê-las
e ampliar as reivindicações apropriando-se do conceito e do lema do direito à
cidade. Isto permitiria confrontar estas experiências com outras em diferentes
regiões, como a América Latina por exemplo.
Está claro que este movimento Cidade Lenta é antes de tudo a obra de
militantes e de certos políticos sensibilizados aos temas ecológicos e sociais,
mas é interessante notar o esforço aparente do atual presidente dos Estados-
Unidos da América, Barack Obama, para não continuar com a expansão urbana.
Com efeito, o novo governo afirmou que o crescimento urbano não é a opção
para remediar os problemas sociais e econômicos das cidades num contexto
de crise. É neste sentido que uma nova metodologia de planejamento urbano
está sendo organizada, seguindo o lema “Reduzir para sobreviver” (“Shrink
to Survive”). Um dos encarregados desta missão chama-se Dan Kildee, que
é o tesoureiro do bairro de Genesee na cidade de Flint, uma das cidades mais
pobres do país. Ele tem implementado este sistema para esta cidade e procedeu à
destruição de habitações em áreas residenciais e zonas industriais abandonadas
por causa da crise. Esta nova visão do planejamento urbano pretende promover
cidades menores, a fim de poder dedicar mais meios para o desenvolvimento
social, poupando, por exemplo, as despesas de coleta de lixo (os empregados
andavam muitas vezes quilômetros sem encontrar nenhum coletor de lixo).
Neste sentido, a administração Obama prevê atualmente a aplicação deste
sistema em cinquenta cidades do país na região dos antigos centros industriais
que foram particularmente afetados pelas várias crises e onde certos bairros
estão completamente abandonados. Está previsto a substituição destes bairros
abandonados por parques públicos e florestas.
Estas várias experiências são muito interessantes e constituem uma pequena
esperança no panorama de cidades tentaculares infectadas pela pobreza e as
desigualdades. No entanto, deve-se ter cuidado para não criar cidades museu
que não deixam a possibilidade de que todos se expressem. De fato, o movimento
Cidade Lenta adverte que uma cidade lenta não deve fechar-se, mas sim trabalhar
para promover o nascimento de novas solidariedades entre territórios, entre
os bairros, entre as cidades e os subúrbios, entre as cidades e o meio rural e,
330 Cidades para tod@s
claro, entre as nações e os continentes. Além disso, como afirma Paolo Saturnini,
membro de Cittaslow internacional e ex-prefeito de Greve, deve-se evitar o
crescimento desmedido da cidade, levando a cabo uma política de urbanização
baseada na limitação de novas edificações e, sobretudo, na reutilização dos
prédios existentes para novas funções.
Isto é de fato um aspecto que poderia ser criticado nos projetos “cidades
reduzidas” (“shrink city”) da administração Obama. Esta perspectiva e as ações
que podem resultar, por exemplo, na destruição de habitações desocupadas, não
deve fazer esquecer o aspecto trágico destes bairros abandonados. Trata-se de
bairros periféricos onde famílias de classe média baixa tinham comprado suas
casas, endividando-se durante muitos anos, que não conseguiram continuar
pagando por causa da crise, e cujas casas foram vendidas e hipotecadas para
reembolsar as suas dívidas. Isto constitui uma verdadeira tragédia social criada
pelo sistema capitalista que provocou esta crise. Portanto seria bom não se
esquecer disto quando os políticos apresentam agora projetos de construção de
espaços verdes nestes mesmos lugares. Parece assim que, mais do que destruir
casas, é urgente refletir claramente sobre nossas concepções de cidade e, num
plano geral, o sistema que nos rege, a fim de construir uma sociedade mais justa.
Referências
MArie BAilloux é socióloga, especializada em antropologia comparada das religiões. Estudou no Institut
Catholique de Paris e na École Pratique des Hautes Etudes de Paris/Sorbonne. Vive no Chile desde 1993
fazendo voluntariado em diferentes organizações da sociedade civil dedicadas a dar apoio a famílias em
situação de alto risco psico-social em assentamentos urbanos precários da Grande Santiago, defendendo os
direitos dos moradores a educação, saúde, moradia digna e segurança de posso. Marie é parte da equipe do
Secretariado Geral de Habitat International Coalition desde 2004.
marie@hic-net.org
Jordi BorJA é geógrafo urbanista, ocupou cargos do governo na cidade de Barcelona (1983-95) e está
vinculado ao movimento popular urbano desta cidade desde finais dos anos 60. Membro do Partido Socialista
Unificado da Catalunya e do Partido Comunista da Espanha, fez parte de órgãos de direção como responsável
pelos movimentos populares e pela política municipal desde os anos 70 até os anos 80.
Participou dos primeiros encontros que debateram o direito à cidade a partir de meados dos anos 90 e de
inúmeras conferências internacionais como, por exemplo, o Fórum Urbano Mundial, em 2004, e o Fórum
Mundial das Culturas, em Barcelona. Colaborou de várias maneiras com HIC, organizando encontros de
organizações populares urbanas.
Dentro de sua longa biografia sobre questões urbanas e movimentos sociais podemos citar: Revolución
urbana y derechos ciudadanos– a ser publicado no final de 2010 – , La ciudad conquistada (2003), Urbanismo
en el siglo XXI (2001), Local y global: La gestión de las ciudades en la era de la información com Manuel
Castells (1998).
María Laura Canestraro, Licenciada em Sociologia (Universidad Nacional de La Plata, UNMP, 2002).
Mestre em Ciência e Filosofia Política (Universidad Nacional de Mar del Plata, 2008). Doutoranda em Ciências
Sociais (UBA). Bolsista de CONICET (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas) no IIGG
(Instituto de Investigaciones Gino Germani) da Universidad de Buenos Aires (UBA) e ex-bolsista de Lincoln
Institute of Land Policy. Docente e extensionista da graduação de Sociologia da UNMP. Sócia-fundadora da
Associação Civil Habitat e Vida (2009) da cidade de Mar del Plata, orientada à promoção da produção integral
e sustentável do hábitat.
Sua pesquisa está centrada nos conflitos pela apropriação do espaço urbano, enfatizando a questão
normativa. Tem sido conferencista em congressos locais, nacionais e latino-americanos, publicando diversos
artigos em revistas e livros sobre a problemática habitacional.
mlcanestraro@gmail.com
Patricia Ezquerra Aravena é politóloga egressa da Universidad Central de Chile e diplomada em direitos
econômicos, sociais e culturais e políticas públicas do Collège Universitaire Henry Dunant e Fundación Henry
Dunant para América Latina. Durante os últimos anos tem trabalhado na área de governabilidade democrática
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Chile, prestando assessoria, entre outros, ao
projeto “Desminado Humanitario em Chile”, “Apoyo para el Cambio Legislativo de Amnistía en Chile”, assim
como ao projeto regional “Expansión de una red de actores en América Latina para fortalecer la democracia” e,
atualmente, ao projeto “Juventud, Equidad e inclusión Social en Chile: Hacia la consecución de los Objetivos
de Desarrollo del Milenio”.No ano de 2007 foi co-editora da revista estudantil “Está en Nosotros” e, no ano de
2009, da iniciativa de economia solidária “Comprando en Red” do grupo “MicroEspacios”.
ezquerra.patricia@gmail.com
Tovi Fenster, professora é a Diretora do Laboratório de Planejamento para o Espaço com as Comunidades
(PEC na sigla em inglês), pertencente ao Departamento de Geografia da Universidade de Telaviv. Entre
2007 e 2009, foi Diretora do Programa de Estudos sobre a Mulher e o Gênero pertencente ao Conselho
Nacional de Mulheres Judias (NCJW). Além disso, publicou artigos e capítulos de livros sobre etnicidade,
cidadania e gênero nos processos de planejamento e desenvolvimento. É também editora do livro Género,
Planificación y Derechos Humanos (1999, Routldege) e autora de La Ciudad Global e La Ciudad Sagrada:
Relatos sobre Conocimiento, Planificación y Diversidad (2004, Pearson). É também uma das fundadoras e
primeira Presidenta de Bimkom – organização que defende o direito ao planejamento em Israel.
tobiws@post.tau.ac.il
Joseph Fumtim é conhecido em Camarões por sua atividade como editor e suas colunas sobre questões
sociais nos jornais. Como escritor é autor de ensaios: o último publicado é “Camarões, Meu País”(Edições
Ifriqiya, 2008). Fundou em 1998 em Yaundé o Coletivo Interafricano dos Habitantes (CIAH-Camarões), do
qual é atualmente Presidente do Conselho de Administradores depois de haver sido coordenador durante 10
anos. Desde 2002, Joseph é membro do Conselho de HIC como representante suplente de África Francófona.
Sua atividade na HIC se desenvolveu especialmente na luta pelo direito humano à moradia adequada, com a
denúncia e difusão para a opinião pública das ações de despejo e demolição dos bairros precários de Yaundé.
Com o CIAH-Camarões e o apoio da HIC e SELAVIP iniciou o projeto “Habitat sustentável e equitativo em
Yaundé”, que permite que, a cada ano, 50 famílias se beneficiem do melhoramento de seu entorno vital.
jfumtim@yahoo.com
Maria Cristina Harris graduou-se em 2008 na Queen’s University no Canadá, onde completou uma
licenciatura em Estudos de Desenvolvimento Global e Geografia. Depois de sua graduação, fez seu estágio,
através de Rooftops Canadá, no Secretariado Geral de Habitat International Coalition em Santiago, no Chile,
onde conheceu muitos casos internacionais de violações dos direitos à moradia e à terra. Suas raízes
colombianas levaram-na a interessar-se pelas lutas dos colombianos para obter terra e moradia adequadas.
Estas experiências motivaram-na a continuar sua formação jurídica, centrando-se no direito internacional e
nos direitos humanos.
mariacris.harris@gmail.com
Arif Hasan é arquiteto- urbanista independente em Karachi, Paquistão. Estudou arquitetura no Oxford
Polytechnic e em seu regresso a Karachi estabeleceu-se por sua própria conta, de modo que o exercício de
sua profissão evoluiu lentamente para o planejamento urbano e as questões de desenvolvimento. Tem sido
consultor e assessor de numerosas organizações comunitárias locais, organizações não-governamentais
nacionais e internacionais, organismos doadores bilaterais e multilaterais. Desde 1981 está envolvido com
o Orangi Pilot Project, primeiro como Assessor Chefe e mais tarde como Presidente de seu Instituto de
Pesquisa e Formação. É o Presidente do Centro de Recursos Urbanos, em Karachi, desde sua criação em
1989. Foi professor em universidades paquistanesas e europeias, foi jurado de concursos internacionais de
arquitetura e desenvolvimento e é autor de vários livros sobre desenvolvimento e planejamento. Atualmente,
334 Cidades para tod@s
Yves Jouffe concluiu uma pesquisa pós-doutoral de dois anos no Instituto de la Vivienda (INVI) – Instituto
de Moradia – da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Chile. Pesquisou um grupo
de lares com escassos recursos da periferia de Santiago com o fim de compreender o vínculo que tecem
entre território e moradia, entre deslocamento cotidiano e projeto residencial. Seu interesse profissional e
pessoal conduziu-o a participar de atividades conjuntas de INVI e de HIC no Observatorio de Vivienda y
Ciudade (Obsevatório de Moradia e Cidade). Este sociólogo conta com um mestrado em engenharia em
transporte urbano da École Nationale des Ponts et Chaussées (ENPC, Paris), outro em ciências sociais
aplicadas à cidade (ENPC e Paris 8), além de um Doutorado em sociologia (ENPC) onde analisou as táticas
de mobilidade cotidiana dos trabalhadores precários. Desde 1999 até 2006, isto é, pouco depois de sua
chegada em Paris de sua Bretanha natal, militou na associação ATTAC.
yves.jouffe@gmail.com
Marianne von Lücken é licenciada em Sociologia (Universidad de Buenos Aires, 2008) e pesquisadora
com bolsa de incentivo no IIGG (Instituto de Investigaciones Gino Germani) da UBA.
É membro da Área de Estudos Urbanos do IIGG e participa da equipe de pesquisa coordenada por Maria C.
Rodriguez e Mercedes de Virgilio.
Sua pesquisa enfoca as políticas públicas urbanas e suas conseqüências sociais tomando o caso de Villa
la Maternidad, localizada na cidade de Córdoba, de onde é oriunda. Participou de diferentes jornadas e
congressos de Sociologia.
mariannevonlucken@yahoo.com.ar
Uvaldo Mamani, nascido em Potosí, Bolívia, de origem quechua, é teólogo especializado em comunicação
popular, gestão municipal e projetos sociais.
É coordenador do Programa de Governabilidade da Fundação Pró-Habitat, membro de Habitat International
Coalition (HIC) como parte da Rede Nacional de Assentamentos Humanos, RENASEH Bolívia. Dedicou-se a
articulação popular para a realização de direitos humanos tais como a água junto a Associação de Sistemas
Comunitários de Água da Zona Sul ASICA SUR; à moradia junto a Rede RENASEH; e o direito à cidade como
membro promotor do Comitê Impulsionador do Direito à Cidade em Cochabamba.
Trabalhou em planejamento municipal e de bairro através da comunicação popular na Rádio Pío XII e da
Fundação Pro-Habitat. Com os Missionários Oblatos e Maria Imaculada desenvolveu atividades de formação
com comunidades indígenas Quichés, Quechuas e Aymaras da Guatemala e da Bolívia.
uvaldo.romero2@gmail.com
Charlotte Mathivet é cientista política, mestre em Ciências Políticas e Relações Internacionais pelo
Institut d’Études Politiques de Toulouse, França, e diplomada em direitos econômicos, sociais e culturais
e políticas públicas da Fundação Henry Dunant para América Latina. Vive no Chile onde trabalhou com
mulheres moradoras de assentamentos precários na região de Valparaíso. Publicou, durante seu trabalho na
Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), das Nações Unidas, Los programas de alivio
a la pobreza Puente y Oportunidades. Uma mirada desde los actores, série Políticas Sociais, Nº 134, com
Irma Arriagada (2007). É parte da equipe do Secretariado Geral de Habitat International Coalition e participou
de seminários internacionais como o seminário oficina “Hacia la implementación del derecho a la ciudad”
organizado por HIC e COHRE em Quito, setembro de 2009. Também é parte da equipe do Observatório de
Vivienda y Ciudad, rede que trabalha como espaço de encontro, reflexão crítica e articulação da sociedade
civil, em torno da política habitacional e urbana no Chile.
charlotte.mathivet@gmail.com
336 Cidades para tod@s
Felipe Morales Rivas, é geógrafo pela Universidad de Chile. Trabalha em Santiago, Chile, como
pesquisador da faculdade do Centro de Estudos Críticos Urbanos, um espaço construído pelos estudantes
da Arquitetura e Urbanismo da Universidad de Chile que busca desenvolver o pensamento crítico realizando
pesquisas com as organizações e movimentos sociais orientadas a poder transformar a realidade partindo
do âmbito territorial. É acadêmico da Universidade Metropolitana de Ciencias de la Educación. Faz parte do
Movimento de Pobladores en Lucha.
morales.fmr@gmail.com
Ana Núñez nasceu e reside na cidade de Mar del Plata, Argentina. Sua precoce preocupação moral e
intelectual pelas inumanas condições de precariedade habitacional que de forma crescente caracterizavam o
habitar de grande parte da população de sua cidade, incentivaram-na a graduar-se arquiteta, na Universidade
Nacional de Mar del Plata Já graduada, começou sua atividade profissional como docente e pesquisadora da
Área de Urbanismo da mesma Universidade, continuando de forma ininterrupta até a atualidade.
Posteriormente, graduou-se como mestre e doutora em Ciências Sociais em FLACSO. Atualmente dirige o
Centro de Estudos de Desenvolvimento Urbano, membro da HIC desde junho de 2009. Desse modo, assessora
e acompanha a diferentes organizações sociais, tais como Junta Vecinal Los Sin Techo, a Federación de Tierra
y Vivienda, delegação de Mar del Plata, na sua luta pelo direito à cidade e um habitar digno.
nunezmdp@gmail.com
Enrique Ortiz, arquiteto pela Universidade Nacional Autônoma do México. Dentro de sua trajetória nas
organizações da sociedade civil e do setor público destacam-se: Diretor do Centro Operacional de Moradia y
Povoamento (COPEVI) –– (1965-1976); Subdiretor de Moradia da Secretaria y Secretaria de Assentamentos
Humanos e Obras Públicas(SAHOP) – (1977-1982); Gerente de Operações e Diretor Geral do Fundo
Nacional de Habitações Populares (FONHAPO) – (1983-1987); Secretário Geral e Presidente da HIC (1988-
1998 e 2003-2007, respectivamente). Atualmente colabora com a HIC na promoção de políticas públicas
em apoio à produção social do hábitat, no debate internacional e na gestão do reconhecimento do direito à
cidade como novo direito coletivo. Foi assessor do Instituto de Moradia do Distrito Federal – (1998-2000). É
membro do Conselho Nacional de Moradia , do Comitê Promotor da Carta da Cidade do México pelo Direito
à Cidade – e dos Conselhos Populares de Desenvolvimento Urbano Sustentável –, além da Procuradoria
Social do Distrito Federal.
hic-al@hic-al.org
Vanessa Pinto Valencia é socióloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Equador e
atualmente está cursando um Mestrado em Desenvolvimento da Cidade na Faculdad Latinoamericana de
Ciencias Sociales FLACSO – Equador. Membro da Fundação “Somos Equador”, instituição membro do
Contrato Social pela Moradia (CSV – Contrato Social por la Vivienda) e responsável do componente da
capacitação e articulação de atores do Programa Paso a Paso – Ciudad.
vanessa@ciudad.org.ec
Richard Pithouse é escritor e acadêmico sul-africano, cujo trabalho possui uma ligação estreita com
movimentos populares, como o movimento Abahlali baseMjondolo. Ensinou filosofia por muitos anos em
Durban e há pouco tempo aceitou um cargo no Departamento de Estudos Políticos da Universidade de
Rhodes.
R.Pithouse@gmail.com
Biografías 337
Claudio Pulgar Pinaud é arquiteto pela Universidade do Chile e acadêmico e pesquisador do Instituto
de la Vivienda – INVI (Instituto de Moradia) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do
Chile. Pesquisador responsável por um projeto de pesquisa sobre a regeneração do tecido social e urbano e
direito à cidade, além de participar de outras equipes de pesquisa do INVI. É professor na graduação do curso
de formação geral “Hábitat e exclusão: a equidade é possível na cidade?” e do curso “Princípios básicos
de hábitat e moradia”. Realizou um curso de especialização em políticas públicas e direitos econômicos,
sociais e culturais da Universidade Henry Dunant e da Fundação Henry Dunant América Latina. É membro
do núcleo operativo da Red-Observatorio de Vivienda y Ciudad (Rede-Observatório de Moradia e Cidade)
como representante do INVI. Participou como profissional voluntário e ativista do Movimento de Pobladores
en Lucha (MPL) e é parte do grupo de arte pública Laboratório Urbano Colaborativo (LUC).
claudiopulgarpinaud@gmail.com
Henry Renna Gallano, politologo egresso da Universidad Central de Chile e diplomado em direitos
econômicos, sociais e culturais e políticas públicas do Collége Universitaire Henry Dunant e Fundación
Henry Dunant para América Latina. É profissional da área Ciudad, Barrio y Organización de SUR
Corporación de Estudios Sociales y Educación, participando de projetos como “Mapa de conflictos urbanos
en Santiago”, “Observatorio de Vivienda y Ciudad” e “Constructores de Ciudad: formación y redes de
acción”. No ano de 2008, foi bolsista CLACSO-CROP (Comparative Research Programme on Poverty del
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales) no programa “Estrategias contra la pobreza: diseños del
norte y alternativas del sur”. Desde 2009 é membro do “Movimiento de Pobladores en Lucha” (MPL) que
nasce no ano de 2006 na comuna de Peñalolén como nova força política das e dos moradores no Chile.
h.renna@yahoo.es
Silvana Ruiz Pozo, é arquiteta pela Universidad Central del Equador, Urbanista e Planificadora Territorial
pela Université Libre de Bruxelles (Bélgica), obteve um diploma em Arquitetura e Desenvolvimento da
Universidad de San Simón (Bolívia) em convênio com Lund University (Suécia) e possui uma Especialização
em Administração de Instituições de Microfinanças da Universidad Tecnológica Equinoccial (Equador).
É pesquisadora do Centro CIUDAD desde 1980 e desde 2001, Coordenadora do Programa Passo a
Passo-Alianças estratégicas para uma moradia digna, programa que recebeu vários reconhecimentos: foi
selecionado com uma das doze melhores práticas do mundo no concurso internacional de Building and Social
338 Cidades para tod@s
Housing Foundation em 2006 e foi selecionado como Boa Prática no concurso de UN-Habitat e do Município
de Dubai, em 2006. Silvana é coordenadora do Contrato Social pela Moradia (CSV – Contrato Social por la
Vivienda) desde 2005 e autora de um livro e vários artigos sobre moradia popular.
silvana@ciudad.org.ec
Nelson Saule Júnior, advogado, doutor em Direito do Estado, dos Coordenador da Área Direito à Cidade
do Instituto Pólis no qual tem desenvolvido estudos, publicações , e capacitações sobre o direito à cidade,
em parcerias com o Fórum Nacional de Reforma Urbana brasileiro, HIC e Cohre, e Professor de Direito
Urbanístico do Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica -São Paulo.
nelsaule@uol.com.br
Ana Sugranyes é arquiteta e Secretaria Geral de Habitat International Coalition (HIC). É catalã, chilena e
cidadã global. Seu doutorado em políticas habitacionais na América Latina pela Universidade Tecnológica de
Delft (TU-Delft) culmina em mais de trinta anos de competência, incluindo um trabalho de campo de longo
prazo na Guatemala e no Chile. Seu trabalho paralelo com os movimentos sociais urbanos e organizações
centrou-se na formulação, implementação, seguimento e avaliação de programas e políticas de habitação
e de desenvolvimento local, articulando a cooperação internacional com os governos locais, centrais e
regionais, organismos públicos e privados, entidades profissionais e acadêmicas e redes internacionais.
Incluem-se entre suas principais publicações: Los con techo: desafío para la política de vivienda, Edições
SUR, Santiago (2005), e El traje nuevo del emperador: Políticas de Financiamiento de la Vivienda Social en
Santiago de Chile em “Sociedad civil y movimientos sociales. Construyendo Democracias Sostenibles en
América Latina”, Arthur Domike (Editor), Banco Interamericano de Desenvolvimento, Publicações Especiais
sobre o Desenvolvimento Nr.5. (2008)
asugranyes@gmail.com
Karina Uzzo, advogada, é também membro da Equipe Direito à Cidade do Polis. É doutoranda em Direitos
Humanos e Desenvolvimento pela Universade Pablo de Olavide- Sevilha, Mestrado em Biodiversidad -
Fundação Carolina - CEU.
Estudou História na Universidade Nacional de La Plata. Trabalhou sete anos como membro da área de
redação do Centro de Estudos e Projetos do Ambiente (CEPA), da Rede Fórum Latino-americano de
Ciências Ambientais (FLACAM). Em julho de 2000 incorporou-se a equipe da HIC no México, colaborando
ativamente na organização da Assembleia Mundial de Moradores realizada nesse mesmo ano. Desde 2003
é coordenadora da HIC- América Latina. Tem participado como oradora em inúmeras oficinas, seminários
e conferências. Escreveu alguns artigos para revistas da América Latina e América do Norte, coordenou –
junto com Enrique Ortiz – a elaboração de diversas publicações: Vivitos y coleando. 40 años trabajando por
el hábitat popular en América Latina (2002), De la marginación a la ciudadanía: 38 casos de producción y
gestión social del hábitat (2005) e El derecho a la ciudad en el mundo. Compilación de documentos relevantes
para el debate (2008), entre otras.
hic-al@hic-al.org
Lorena Zárate estudou História na Universidade Nacional de La Plata. Trabalhou sete anos como membro
da área de redação do Centro de Estudos e Projetos do Ambiente (CEPA), da Rede Fórum Latino-americano
de Ciências Ambientais (FLACAM). Em julho de 2000 incorporou-se a equipe da HIC no México, colaborando
ativamente na organização da Assembleia Mundial de Moradores realizada nesse mesmo ano. Desde 2003
é coordenadora da HIC- América Latina. Tem participado como oradora em inúmeras oficinas, seminários
e conferências. Escreveu alguns artigos para revistas da América Latina e América do Norte, coordenou –
junto com Enrique Ortiz – a elaboração de diversas publicações: Vivitos y coleando. 40 años trabajando por
el hábitat popular en América Latina (2002), De la marginación a la ciudadanía: 38 casos de producción y
gestión social del hábitat (2005) e El derecho a la ciudad en el mundo. Compilación de documentos relevantes
para el debate (2008), entre otras.
hic-al@hic-al.org