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CENTRO DE HUMANIDADES
1.0 Justificativa
A mola instigadora para essa pesquisa surgiu da atividade prática em sala de aula e em
pesquisas feitas durante a graduação utilizando o livro didático como instrumento de trabalho
e fonte de pesquisa. Em outras palavras, foi a partir da constatação da ausência das mulheres
nos livros didáticos de História que identificamos a necessidade de uma análise aprofundada
sobre o tema, pois acreditamos na urgência em oferecer aos alunos e às alunas uma leitura
histórica em que as mulheres apareçam como agentes históricos. Como destacou Pierre Nora
(1989, p. 10), “o historiador dos dias de hoje está pronto, ao contrário de seus antecessores, a
confessar a ligação estreita, íntima e pessoal que mantém com o seu trabalho”
Assim a pesquisa busca analisar como os livros didáticos de história do ensino médio
têm representado as mulheres, a partir de um corte epistemológico que engloba três edições da
avaliação do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD: 2012, 2015 e 2018. Buscando
investigar as mudanças e permanências nesses materiais no que se refere à inserção das
mulheres como sujeitos históricos em consonância com as normatizações legais dos últimos
anos e os debates trazidos a luz por diversos movimentos e pela sociedade de modo geral.
produzem acerca da participação das mulheres nos eventos históricos para que possa haver uma
compreensão mais elucidativa das rupturas e continuidades presentes nas narrativas didáticas
sobre a história das mulheres. Assim, a escolha pelas publicações de livros de três períodos
diferentes foi necessária para acompanhar as mudanças historiográficas presentes nos livros
didáticos e como eles abordam a temática.
Assim, esse objeto impõe algumas reflexões sobre conceitos plurais e complexos, como
cultura, representação e identidade que de certa forma se imbricam. Buscando, portanto,
compreender como as narrativas, os recursos imagéticos e a construção desses discursos e sua
disposição tratam a história das mulheres e o que podemos apreender diante dessas
investigações.
Esse projeto é relevante para investigações na área da História social posto que os livros
didáticos são frutos de seu próprio tempo, e refletem a sociedade ao mesmo tempo em que têm
a possibilidade de instigá-la a novas reflexões e debates. Vale destacar ainda que o debate sobre
gênero está permeado em diversos ambientes sociais, demonstrando a necessidade de promover
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debates sobre gênero e feminismo em sala de aula, sendo também relevante uma inserção mais
justa, verossímil das mulheres nos conteúdos didáticos, na história e na sociedade.
A isso se deve o interesse dessa pesquisa, que tem como principal objetivo analisar as
representações sociais das mulheres presentes nos livros didáticos utilizados em nosso país, a
partir dos conhecimentos históricos produzidos acerca da temática.
Ressaltamos, ainda, a viabilidade da pesquisa, uma vez que temos em mãos toda a
documentação necessária ao desenvolvimento do trabalho. O tempo para a reelaboração desse
projeto e a construção do texto final da dissertação é considerado viável para a execução de
todas as atividades. Deste modo, o trabalho tem plenas condições de se desenvolver dentro dos
prazos e metas estabelecidos, além de estarmos abertos a todas as possíveis contribuições e
modificações sugeridas durante o processo de orientação.
2.0 Problematização
A escola, a sala de aula e por extensão o livro didático são veículos de valores, de ideias,
culturais que acabam por ajudar a determinar o que será lembrado ou esquecido, considerado
importante ou não. Além de serem fontes históricas de extrema importância, pois contribuem
para observação e análise da sociedade de seu referido tempo. É uma fonte histórica que nos
permite vislumbrar além de outras fontes nele presentes, traços da nossa própria sociedade.
Ressalta-se que os Livros Didáticos são instrumentos essenciais dentro de sala de aula
e na formação dos cidadãos. Também é importante mencionar que os livros didáticos podem
vir a ser materiais que ocasionem nos indivíduos impactos, justamente no sentido de influenciar
em suas formas de conceberem, avaliarem o mundo concreto, problemáticas, discursos. Além
de se configurarem como uma as formas de se viabilizar o acesso às informações históricas.
didático precisa ser entendido como um veículo que transmite valores, ideologias, cultura de
uma determinada época e sociedade. Considerando essa premissa, é fundamental entender,
analisar, debater sobre as apresentações e representações referentes à História das Mulheres,
suas identidades e lutas. Torna-se imprescindível compreender o que está sendo abordado nos
livros didáticos de História do Ensino Médio em relação às mulheres, considerando nessa
análise a figura da mulher em diferentes contextos e espaços, especialmente no momento
político, social, econômico contemporâneo nacional.
Com a Nova História e influências do marxismo, pesquisas sobre temas objetos, que
dificilmente eram alvos da historiografia tradicional, foram progressivamente justapondo-se
aos acervos existentes, enriquecendo-os. O tema de gênero e, principalmente a história das
mulheres tem ganhado visibilidade na História nas últimas décadas, com novas pesquisas
constantemente surgido, fato este que evidencia a importância não apenas para a academia, mas
também para a sociedade. Os objetos de investigação histórica pluralizam-se e, junto a isso, as
mulheres são alçadas à condição de objetos e sujeitos da história. Como salienta Rüsen (1997,
p.93), o momento atual encontra terreno fértil para o desenvolvimento dessa temática:
Quanto aos conteúdos da evocação histórica, pode-se afirmar que a historiografia pós-
moderna assume a defesa das vítimas da modernização, sobretudo das camadas sociais
inferiores -, bem como, o que deve ser esquecido, a defesa das mulheres. A história das
mulheres e dos gêneros liga-se estreitamente, em grande parte, à concepção pós-
moderna da história. Dentre as principais concepções da experiência histórica, a
historiografia pós moderna extrai sua inspiração da antropologia cultural e da etnologia.
Destacamos que representação não quer dizer o significado real de determinado objeto
ou realidade, pois depende da forma como o mundo é lido e interpretado por um grupo social.
Assim, a forma e os meios pelos quais se ensina a entender algo resultará em certos olhares
sobre os objetos, sujeitos, gêneros e diferentes culturas. Posto isso, é de significativa relevância
a afirmativa de Sabat (2004, p. 98) de que “o processo de representação, de produção de
identidades, de constituição do sujeito não é realizado de uma vez por todas; pelo contrário, é
necessário um processo de repetição contínua” para que isso ocorra. E os livros didáticos são
um excelente exemplo desse método.
Assim esse estudo constitui-se como uma oportunidade para explorar e problematizar à
luz dos métodos de pesquisa em História as representações femininas nos manuais didáticos.
Sendo um recurso bastante utilizado em sala de aula – por vezes o único disponível – o livro
didático se tornou de fundamental importância para o processo de ensino e aprendizagem. Por
isso a relevância de se analisar os conteúdos presentes nesses materiais, pois eles podem
interferir na construção de valores e na construção de identidades coletivas e individuais.
3. Objetivos
3.1 Geral:
3.2 Específicos:
4.0 Historiografia
Abordado por diversos autores o conceito de representação tem sua etimologia do latim
repraesentare alusivo a tornar presente ou apresentar de novo. Chartier (1990) e Pesavento
(1995) destacam a ambiguidade do vocábulo, ora associado à presença, ora à ausência. Para o
primeiro autor, o conceito de representação dar a ver uma ausência, isto é, um sujeito ou objeto
que não pode se fazer presente é lembrado, quando se cria uma “imagem”, não de forma
idêntica, entretanto análoga, por meio de atribuições e significados imaginados. A título de
exemplo, no livro didático, as mulheres não estão presentes de “carne e osso”, todavia existe
uma construção imaginária nos textos, poemas. Conseguimos identificar que representação é
um termo que não caminha sozinho, estando frequentemente imbricado com a questão da
identidade e da cultura ou mesmo da própria realidade. Na concepção de Santos (2011, p. 36):
Hall (2002) nos apresenta a ideia de representação como algo fundamental para
pensarmos e compreendermos como se organiza e se processa o mundo cultural. Para ele as
representações tem papel central não apenas nos estudos culturais, como também nos estudos
da sociedade visto que o que está sendo representado e como está sendo tem o intuito de passar
alguma mensagem, de dizer algo para o mundo, algo que tenha significação. Quem representa
está buscando mostrar o mundo e as coisas da maneira como lhe tem significado.
“as lutas de representação têm tanta importância como as lutas econômicas para
compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor a sua
concepção de mundo social, os valores que são seus e o seu domínio.”
Para Bordieu (apud Pesavento, 1995, p.15) “as representações estão ligadas a questões
de estratégias de poder.” São atos de apreciação e de reconhecimento em que os agentes
envolvidos, sendo seres sociais colocam sua bagagem cultural e os seus interesses. Assim
representações são produtos estratégicos de interesses e de manipulações, Pesavento alega
(1995, p. 15):
[...] no domínio da representação, as coisas ditas, pensadas e expressas tem sentido além
daquele manifesto. Enquanto representação do real o imaginário é sempre referência
um ‘outro’ ausente. O imaginário, renuncia, se reporta e evoca outra coisa não explicita
e não presente. Este processo, portanto, envolve a relação que se estabelece entre
significantes (imagens, palavras), com os seus significados (representações,
significações), processo este que envolve uma dimensão simbólica. (PESAVENTO,
1995, p. 15)
As representações não são uma cópia fiel ao que se pretende representar, mas que
contém significações diversificadas. Assim as mulheres representadas em tantos momentos no
decorrer da história, são descrições que buscam se aproximar da realidade de uma época, sem,
no entanto, transgredi-la.
Quando tratamos do termo gênero ele pode aparecer nos estudos e das discussões
historiográficas e no movimento feminista, como uma diferenciação para o termo sexo,
utilizado para separar o masculino e o feminino em termos biológicos, ocasionando em não
abarcar questões referentes às construções sociais. A respeito dessa problemática, Pinsky
(2013) assevera:
No Brasil, o uso do termo surge nos anos de 1980 em uma articulação entre a academia
e os movimentos sociais, destaque para o feminismo, tendo sido debatido como tema das
Ciências Sociais por esse movimento como forma de questionar e reivindicar a situação social
das mulheres. (SCAVONE, 1996)
Esse conceito foi usado ainda para legitimar discussões acerca dessa área de pesquisa,
visto que nomenclaturas como mulher e feminismo carregavam dentro dos espaços de discussão
uma carga de preconceito e discriminações (HEILBORN; SORJ, 1999). Em sua utilização
recente mais simples o termo ‘gênero’ é apontado como um sinônimo de ‘mulheres’, justamente
o primeiro sugere seriedade, uma objetividade e neutralidade, que foge do termo ‘mulher’.
Assim temos ainda, segundo Scott (1989, p.75):
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Pensar gênero é buscar uma investigação sobre os papeis em que são colocados às
mulheres e os homens, estabelecendo relações de poder dominadoras do segundo para com o
primeiro. Um reflexo dessa dominação está justamente no fato de não pensamos a história do
gênero masculino, pois a história de uma forma geral foi a história de homens como
protagonistas, e da “História das Mulheres” como uma construção a parte (PEREIRA, 2013).
5.0 Metodologia
confronto de ideias e o desenvolvimento crítico dos discentes. Sendo assim, para nós
historiadores, ele adquire também a função depositária, enquanto documento que comporta em
si outros documentos, dentre eles: imagens, textos, poemas, letras de música, trechos de
documentos oficiais. Tornando-se fonte fecunda acerca da cultura escolar e do ensino
(CHOPPIN, 2004).
O trabalho se enquadra nas investigações que versam no método de análise de
conteúdo, por meio do qual tomamos por base o instrumento de coleta denominado roteiro
semiestruturado que, por sua vez, nos auxilia na visualização das mulheres nos textos, imagens,
atividades, no manual do professor, nas diferentes seções do material e na apreensão da
historicidade acerca do(a) mesmo(a). Bem como, o roteiro é flexível, o que permite a inclusão
de novos questionamentos caso seja identificada a necessidade.
Nossas categorias conceituais e seus respectivos autores são: livro didático de Circe
Bittencourt (2004) e Alain Choppin (2004), representação de Roger Chartier (1990) e gênero
de Joan Scott (1989) e Carla Bassanezi Pinsky (2011). Por meio de tais categorias
operacionalizaremos e articularemos a problemática, os documentos e conceitos, a fim de
costurar teoria e empiria, objetivando compreender a historicidade da mulher no livro didático
e as mudanças temporais na construção do conhecimento acerca desse sujeito.
Os procedimentos metodológicos dessa pesquisa consistem da revisão bibliográfica a
respeito do livro didático, gênero e representação, leitura direcionada por meio de fichas de
leitura. Na sequência realizaremos a análise dos livros didáticos do Ensino Médio do 1°, 2° e
3° anos, da disciplina de História- os quais se encontram em nossas posses - sendo que para
cada série do ensino médio será analisada as duas coleções mais adotadas de acordo com o
Sistema de Controle de Materiais Didáticos - SIMAD. Cada coleção didática do Ensino Médio
é composta de três livros e seus respectivos manuais do professor.
Nessa etapa da pesquisa, o objetivo é problematizar como o livro didático compreende
a história das mulheres e sua abordagem acerca do gênero e suas representações, o que permite
enxergar como este material promove a construção de propostas de debates historiográficas e
de ensino acerca das mulheres e ressaltar as limitações e potencialidades desse recurso
pedagógico quando se trata da referida temática.
6.0 Fontes
utilizadas as duas coleções mais adotadas em cada um dos guias. Além disso utilizaremos como
fontes conceituais as bibliografias apresentadas e outras que se mostrarem pertinentes no
decorrer do estudo.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. 2 ed. Recife: SOS Corpo.
1989.