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Delegação de Nampula

Departamento de Ciências Sociais e Filosóficas

Rénio Pedro Navilihana Mole1

O papel da família na identidade sexual

As grandes cidades partem de uma construção


social do belo e apreciável; tal como constroem-
se as cidades assim constrói-se a identidade
sexual. Por que meio?

I. Resumo

O presente artigo procura fazer uma abordagem em resposta a questão supra elaborada sobre
a temática de sexualidade mais precisamente em torno da construção da identidade sexual na
família. Objectivo: analisar a construção social do papel da família na identidade sexual,
identificando o papel da família na identidade sexual, seguidamente propõe-se caracterizar o
processo de construção de identidade sexual na mulher, homens e filhos como membros de
uma família. Entretanto, o mesmo tem, tem como foco inicial falar sobre a socialização como
um todo pacote que gerência os padrões morais de aceitação e refutação como mecanismos
de orientação social. Metodologia: o método quanto a abordagem é qualitativa, usou-se
como técnica de recolha e dados a observação sistemática dos fenómenos sexuais na família e
a revisão de literatura de autores que tratam sobre a mesma temática.

Palavras-chave: Papel, Família, Identidade e Sexual.


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1. Abstract

The present article attempts to approach the issue the above statement elaborated on the
theme of sexuality more precisely around the construction of sexual identity in the family.
Objective: to analyze the social construction of the family's role in the sexual identity,
identifying the role of the family in the sexual identity, then proposes to characterize the
process of the construction of sexual identity in the woman, men and children as members of
a family. However, the same has, as its initial focus, talk about socialization as a whole
package that manages the moral standards of acceptance and refutation as mechanisms of
social orientation. Methodology: the qualitative approach method, the collection and data
collection technique was used to systematically observe the sexual phenomena in the family
and the literature review of authors who deal with the same theme.

Keywords: Paper, Family, Identity and Sexual.

II. Introdução

Falar sobre o papel da família na esfera social especialmente na identidade sexual torna-se
cada vez mais emergente porque a família é uma base de construção do carácter social da
sociedade. Neste texto faz-se uma abordagem que problematiza o que se constrói realimente,
uma simples orientação sexual ou níveis de desigualdade com base no sexo. Essa reflexão
pretende suscitar dos nossos leitores e críticos uma visão acomoda sobre a realidade social da
família na identidade sexual dos actores sociais.

A família como agente de Socialização constitui uma forma de mediação, instrumento de


inserção na vida social, será outro dos conceitos subjacentes no presente trabalho, onde se
procurou reunir algumas observações sobre determinadas características e aspectos
evolutivos dos papéis sociais de idade e sexo, condicionantes dos papéis sociais familiares.

III. Breve Discussão Sobre a Socialização

Pode tornar-se desafiador falar de família como agente de socialização sem falar
primeiramente do que significa socialização sobretudo, quanto ao processo. A socialização é
um processo contínuo pelo qual são interiorizados valores morais socialmente partilhados
pela geração mais velha para geração nova. Como sendo um processo ocorre em duas etapas
principais (as chamadas socialização primária e secundária).

Artigo para a cadeira de tema transversal IV. Recomendado pela dr. Arlett; produzido por Rénio
Mole. Curso de Sociologia, Março de 2018.
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1. Socialização Primária

Por conseguinte, a socialização primária é aquela que ocorre dentro da família. Isto é, a
transmissão dos valores socialmente aceites na comunidade são interiorizados nos actores
sociais dentro da família, o mais vasto que se pode notar esse tipo de socialização é dentro da
comunidade e isto se for no molde da solidariedade mecânica (no contexto Durkheniano).

2. Socialização Secundária

Contrariamente a essa etapa de socialização é a secundária que acontece fora da família. Isto
significa que, a interiorização dos valores morais socialmente aceites ou mesmo sancionados
pode acontecer na escola, com amigos, nas redes sociais, na igreja entre ouros lugares que
não seja a família nem a comunidade nos moldes da solidariedade mecânica (no contexto
Durkheniano).

IV. Sentido de Identidade Sexual

Segundo Castells, (1999; p. 22), “entende-se por identidade a fonte de toda experiência do
povo”. E a identidade social se faz pela transmissão de crenças religiosas, práticas morais,
tradições nacionais, tradições profissionais, opiniões colectivas que se transmitem de uma
geração a outra. Esta transmissão metódica, como enfatiza Durkheim, diz respeito à infância
e acaba com a iniciação considerada como um segundo nascimento, aquele do ser social.

Tal como a identidade social a sexual constrói-se pela transmissão de crenças religiosas,
praticas morais, tradições nacionais, profissionais, opiniões colectivas sobre a orientação
sexual da geração mais experiente a geração menos experiente.

V. Formas Como a Família Constrói Identidade Sexual

Os indivíduos são educados para que venham a continuar biológicas e socialmente a estrutura
familiar. Ao realizar seu projecto de reprodução social, a família participa do mesmo projecto
global, referente à sociedade na qual está inserida. É por isso que ela também ensina a seus
membros como se comportar fora das relações familiares em toda e qualquer situação. A
família é, pois, a formadora do cidadão.

Portanto, a família como agente de socialização remete ao pensamento da promoção de


valores sociais, não só para os seus membros mais próximos mas, para além dela (vizinhos,

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amigos, colegas entre outros), dependendo do papel que o actor como membro de uma
família desempenha.

VI. Família Desempenha na Construção da Identidade Sexual.

Ainda na família e no processo de promoção dos valores morais socialmente aceites ou


refutados os membros mais velhos ensinam os mais novos os papéis e funções ligados ao
sexo, ainda que ensinem simultaneamente sobre a partilha de tais papéis a um certo nível.
Com base nestes aprendizados vão se fundamentando as identidades de sexo nas sociedades
desde as sociedades mais arcaicas até as modernas e pós-modernas. Onde mesmo com o
homossexualismo os papéis dos indivíduos que assumem género contrário ao seu sexo
desempenham os papéis do sexo a que eles representam.

Um outro aspecto a prestar atenção é o potencial da lei moral sobre os indivíduos. Porque
para família transmitir tais valores não é de bel-prazer mas, porque a lei moral que permite a
integração social coage os pais até os filhos seja consciente ou inconscientemente.

É neste sentido em que gostaríamos de tornar visível e compreensível a visão de Durkheim


quanto ao que chama de facto social:

Fato social é toda maneira de fazer, fixa ou não, susceptível de exercer


sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou então que é geral em toda a
extensão de uma dada sociedade, embora tenha existência própria,
independente das suas manifestações individuais. São características do fato
de serem dados exteriores aos indivíduos, e que se impõem a todos; São
gerais porque são colectivos; são diferentes nas repercussões que exercem
sobre cada indivíduo; têm como substrato o conjunto da colectividade.
(Aron, 2000; p. 327)

Pois, para além da motivação que vem do medo da sanção aplicada pela sociedade também,
encontramos a motivação de classe. Em que a família trabalha na conduta dos seus membros
de acordo com a classe que eles pertencem e o seu grupo social.

Segundo VYGOTSKY (2001, P. 289), “Para esse processo concorrem inúmeras causas e
motivações sócio individuais, entre as quais certamente se encontram as motivações de
classe, que, conforme o autor, enredam o papel de cada sujeito em seu meio e determinam o
sentimento de pertença da criança em relação ao seu grupo social”.

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VII. Função da Família na Construção da Identidade Sexual dos Membros

Dias (1998) nos chama atenção sobre como o modelo de família foi se alterando conforme as
transformações decorrentes da organização da sociedade, sendo factor relevante a Revolução
Industrial, que gerou um aumento na mão-de-obra contribuindo para o ingresso das mulheres
no mercado de trabalho, assim assumindo parte da responsabilidade do sustento familiar.
Essas mudanças acabaram por gerar também um afastamento da mulher do lar, e de maneira
forçada aproximou o homem dos filhos contribuindo também para a divisão de algumas
tarefas do lar.

Quando os padrões de conduta se alteram a construção dos valores identitários ficam em


jogo, dai que pode-se observar em dias contemporâneos mudanças de funções na família e
sua consequência na estrutura social.

O mais racional já pensado é que a família tem uma função própria relativamente aos
membros mais velhos aos novos. Essa função não é simplesmente de interiorizar os valores
mas também, perpetuar tais valores de acordo com a lei moral de orientação colectiva nas
sociedades.

A notabilidade disto caracteriza-se na decisão de muitos jovens para se casar. A escolha da


mulher ou do homem com quem se casar vai além de um puro sentimentalismo e carrega o
valor ideológico e social do qual ele pertence. Não é que não pode se dar o contrário pois este
seria sancionado pelos restantes membros do seu grupo social ou então a família toda. Esta
função de orientar as escolhas dos filhos quanto ao parceiro embora esteja a passar na moda é
ainda emergente nos dias contemporâneos a quanto a ordem moral vigente.

A família pode construir desigualdades sociais quando a transmissão desses valores estiver
sendo feita como base na consciência de classe social como se os indivíduos que possuem
sexo masculino têm maior importância em relação aos do sexo feminino. Também, pode na
mesma proporção desconstruir tais níveis de desigualdades.

Coloca-se que o sistema de opressão sexual atravessa outros modos de desigualdade social,
separando indivíduos e grupos. A ideia de opressão sexual implica na existência de uma
relação de exploração e de dominação que confere um lugar de subalternidade às
sexualidades não heterossexuais. (Heilborn, 2004).

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VIII. O papel dos Pais na Construção da Identidade Sexual dos Filhos

Os pais como membro de uma família possuem um papel indispensável na estrutura social e
sexual dos filhos. O veículo que se usa para transmissão dos valores sexuais que permitem a
sua construção identitária é a interacção social com que os membros de uma família se
munem. Isto é, se o nível de interacção numa família é baixa comparada a conflito torna
difícil falar de algo “profundo” como a identidade sexual dos pais aos filhos e vice-versa.

Estudos mostram que a falta de comunicação dos assuntos que tem a ver com a identidade
sexual dos filhos na família causa grandes problemas na estrutura identitária; caso que suscita
estudos sociológicos dos níveis de interacção da família.

Portanto, o ambiente familiar constitui o alicerce fundamental que dá suporte ao que somos e
ao que fazemos, nele experiencia-se a elaboração e a aprendizagem de dimensões
significativas da interacção (linguagem, comunicação, contacto corporal, sentimento de
filiação, fraternidade, amor, relações interpessoais). (Capelo & Carinhas, 2011).

Qualidade do ambiente familiar é um dos factores com maior peso na mediação do nível de
desempenho do autoconceito das habilidades, grau de dificuldade da tarefa e expectativas por
parte dos filhos. Os pais exercem um papel preponderante na mediação destas variáveis, no
percurso académico dos filhos e na orientação vocacional e sexual. (Fleming, 2010).

Os pais tornam-se a base de toda experiencia dos filhos onde buscam exemplo de orientação
sexual e social, desta feita, o destorcimento deste papel na estrutura familiar traz
consequência proporcionais na estrutura sexual dos filhos de uma família.

O papel sexual, que é definido primeiro pelo treinamento prematuro da criança na família, é,
em casos bem-sucedidos, grandemente reforçado pelos controles de tipificação sexual a que
ela é sujeita mais tarde. «Em seu grupo lúdico, na escola, nas organizações em que participa,
a criança ganha prestígio se aprende o código sexual apropriado, com os seus ritos e metas;
mas enfrenta grande castigo social (e, às vezes, físico), se o não faz».

IX. Família Versus Midias Canais de Identidade Sexual

A identidade de género e a orientação sexual de uma pessoa reportam-se sempre a um


processo sobre o qual, ainda hoje, a ciência não possui um esclarecimento cabal. São
inúmeras as investigações que procuraram as causas da sua origem e os factores do seu

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desenvolvimento, sem que alguma convictamente as tenha conseguido alcançar. Concordante


com as conclusões de vários investigadores a identidade de género, elemento fundamental da
identidade geral, definida como a identificação do sujeito como homem ou mulher, a
convicção básica do indivíduo acerca do seu sexo biológico, a consciência pessoal e a
convicção do indivíduo a respeito do sexo ao qual acredita pertencer; a orientação sexual, que
se refere à escolha que o sujeito faz de parceiro sexual, podendo ser homo, hetero ou
bissexual.

Bauman afirma que a identidade é uma das maiores questões dos indivíduos líquidos
modernos e está “colocada no topo de seus debates existenciais”. A identidade própria, o que
define o ser humano como pessoa única, por assim dizer, é definida pelo teórico como “a
rejeição daquilo que os outros querem que você seja”. É necessário entender o que torna o
indivíduo único, o que lhe define como ser humano. Porém, num mundo globalizado e
líquido, cheio de identidades mutáveis, fica difícil entender o que exactamente faz de um
indivíduo único (se é que tal coisa é possível). (BAUMAN, 2004 p.30).

Bauman faz referência ao mundo em que as transformações ocorrem de forma muito rápida e
as vezes inconscientes. Para este autor o que permite esta rápida transformação de valores são
os múltiplos meios de transmissão de tais valores, nos nossos as midias ocupam o lugar na
construção da identidade sexual dos adolescentes e jovens muito mais quando estes não são
orientados a partir dos seus pais ou encarregados de educação.

Tal como a família é um meio de transmissão de princípios morais (Interacção), a Internet,


redes sociais e programas televisivos também proporcionam a interacção social versando
sobre diversos assuntos onde a questão de sexualidade é foco se a família não desempenho o
seu exacto papel nesse tópico ou noutro a midia faz sendo útil para a sociedade ou não mas,
acontece.

X. Considerações Finais

Depois das abordagens feitas em torno deste tema o papel da família na identidade sexual
torna-se relevante considerar alguns aspectos. Primeiramente a família tem um papel
indispensável na construção da identidade sexual, ademais a isso acresce-se no seu valor a
capacidade que ela tem e construir ou desconstruir as desigualdades com base no sexo. Desta

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forma, este assunto torna-se cada vez mais interessante no contexto social Macua onde a
passagem dos valores sexuais só passados para terceiras pessoas (ritos e iniciação) para além
dos próprios pais; porem em nossa abordagem teve uma limitação natural (isto é, temos
consciência de que não podemos falar d tudo sobre o assunto) sugere-se aos futuros
pesquisadores usarem outras lentes que os permita desvendar outros aspectos que não foram
levantados aqui.

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XI. Referência Bibliográfica

ARON, Raymond. As etapas do pensamento Sociológico; editora Martins Fontes; São


Paulo, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de
Janeiro: Zahar, 2004.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade; editora paz e terra; São Paulo, 1999.

CAPELO, V. & CARINHAS, V. Espaço da Família – Um programa de Formação


Parental. Em D. Sampaio, H. Cruz & M. J. L. Carvalho (Coord.). Crianças e Jovens em
Risco; Cascais: Principia, 2011.

DIAS, M. de F. Homossexualidade em Winnicott: uma visão da homossexualidade à luz


da teoria do amadurecimento pessoal. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998.

FLEMING, M. Entre o Medo e o Desejo de Crescer. Psicologia da Adolescência. Porto:


Afrontamento, 2010.

HEILBORN, Maria Luiza. Dois é par – género e identidade sexual em contexto


igualitário, editora Garamond, Rio de Janeiro: 2004.
VYGOTSKY,L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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Mole. Curso de Sociologia, Março de 2018.

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