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INTRODUÇÃO AO PARENTESCO

Por: Helder Luís, 2016

O presente trabalho científico irá debruçar-se sobre o estudo do parentesco em antropologia e sua
importância. O trabalho foi feito com base nos conhecimentos obtidos nas aulas anteriores e a
leitura minuciosa de algumas obras por nós solicitados, e depois fez-se o cruzamento das
informações. No entanto, para realização do presente trabalho, fez-se uma confrontação
bibliográfica desde autores clássicos da Antropologia até aos autores dos nossos dias. Este
trabalho reveste-se de grande relevância pelo que, em antropologia o parentesco é uma unidade
de análise bastante essencial para compreensão das sociedades. Para melhor compreensão do
assunto aqui abordado, irá se fazer de maneira hierarquizada a exposição e explanação dos
vários aspectos que compõem o parentesco.

Numa primeira fase far-se-á contextualização do parentesco como forma de situar o leitor, assim
como mostrar o funcionamento do parentesco nas diferentes sociedades, tendo em conta a
influência comportamental dos indivíduos, pois, ele também contribui neste sentido. É
importante antes de mais, salientar que o parentesco molda a vida dos indivíduos, organiza
os socialmente e lhes confere uma identidade.

O PARENTESCO

Desde há muito que a questão do parentesco vem sido discutida por vários cientistas, que
segundo estes chegaram a conclusão de que os sistemas primitivos de parentesco tem sido uma
forma de organização social destas sociedades, por isso carece de um estudo de extrema
importância e desempenha um valor social dentro das mesmas sociedades ( Bernardi 1974:257).
O parentesco é universal no sentido de que não existe uma sociedade desprovida de um sistema
de parentesco, uma vez que cada sociedade define quem é parente e o grau de parentesco que
cada indivíduo desempenha.

Os estudos do parentesco desenvolveram-se segundo Revière (1995: 61) em três etapas


sucessivas; a primeira etapa em 1861 com, o jurista Sir Henry Maine quando publica a obra
pioneira Ancient Law que abre caminho as reflexões dos evolucionistas, uma liga política das
famílias soberanas teria invocado uma genealogia comum, para elaborar os primeiros grupos de
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descendência, ilustrados, entre outros, pelas gentes romanas. A segunda etapa que começa a
partir da controvérsia entre Rivers e Kroeber (1909) a propósito de terminologias de parentesco e
a distinção operada por Rivers entre os laços de sangue (kinship) traduzido por “descendência”
referido ao sistema domestico, e a pertença da linhagem (descent) traduzido por filiação. E a
terceira etapa em 1949, o aparecimento simultâneo de três obras (Fortes [A Dinâmica da
pertença ao Clã entre os Telensis], Murdock [Estrutura Social] Lévi-Strauss [As Formas
Elementares do Parentesco]) que renovam o conjunto das perspectivas sobre as estruturas do
parentesco.

No contexto das sociedades o parentesco desde o princípio constitui uma construção social de
forma a regrar os indivíduos. Bernardi (1974:260) “ principio o parentesco surge no fundamento
biológico radical e o significado social que emergem dos factos da vida, ou seja, as relações
sexuais, em ordem à geração e que os transformam em causas eficientes da estrutura social”.
Estes princípios vem para regrar a ordem dos comportamentos e das relações entre os indivíduos
ao passo que partem da primeiramente das condições favorecidas pela natureza no sentido da
divisão dos sexos e das suas relações. Entretanto, nas relações de parentesco as distinções feitas
entre homem e mulher, para além de indicar tarefas dão ênfase a papéis específicos de cada um
(divisão de trabalho), assim como estabelecer uma linha de descendência ou como meio de
aliança dentro das relações mantidas entre eles.

O parentesco vem para definir regras de relacionamento dos indivíduos dos diferentes grupos (os
parentes do primeiro grau não têm relações sexuais entre si); estabelece valores culturais e
sociais tendo em conta regras de controlo económico, autoridade política e domestica dos
grupos.

Estes papéis implicam expectativas sociais, pois determinam o modelo do nosso comportamento,
tendo em conta as proibições. A problemática do incesto constituiu um dos factores primordiais
do surgimento do parentesco, pois vem impor regras de relações onde o homem passa a saber
com quem manter relações sexuais ou laços de aliança.
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Tipos de Parentesco

Dependendo do tipo de sociedade o parentesco pode adquirir-se por via de consanguinidade, por
afinidade ou por adopção.

Parentesco por Consanguinidade

Este remete a uma relação biológica dos progenitores que se manifesta na descendência
genealógica. Esta liga indivíduos singulares por via natural, onde atribui representações dos laços
de parentesco um poder de coacção e de normatividade (Bernardi 1974:259 e Rivière 1995:63).
A consanguinidade além da sua formação natural, tem um dever de ser reconhecido socialmente,
como forma de dar aos indivíduos uma integração e um estatuto aos indivíduos dentro do grupo
pertencente, assim como estruturar os laços existentes entre os mesmos; por exemplo a adopção
de uma criança. Entretanto, os progenitores nem sempre desempenham os papéis de pai e mãe,
mas eles detêm um papel de pais sociais, visto que estes ascendem a este individuo não tem uma
ligação natural, contudo a sociedade reconhece os seus papéis de pais adoptivos apesar de não
existir uma ligação consanguínea.

Parentesco por Afinidade

Esta é de ordem social que se baseia nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco por
afinidade esta relacionado com o matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas pessoas no
processo de socialização entre os indivíduos. O processo de afinidade é durável por muito tempo
até chegar a definição de parente; contudo, cada indivíduo vai determinar quem é parente de
acordo com o grau de afinidade existente.

O Parentesco na Antropologia e sua importância


O estudo do parentesco na antropologia é considerado uma aprendizagem tão necessária como o
estudo da lógica na filosofia ou do nu na arte (Bernardi, 1974: 258). Para a compreensão de
qualquer aspecto da vida social de uma determinada sociedade é essencial conhecer a
organização de parentesco. Contudo, as relações de parentesco estruturam (regulam) todas as
relações sociais e de produção: a vida social, económica, religiosa, politica e as sucessões;
entretanto não se pode compreender diferentes sociedades sem antes olhar-se para as formas de
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organização do próprio parentesco, pois este constitui a base para se compreender os outros
elementos (cultura, comportamentos, sucessões, etc.) que compõem a sociedade. Brown e Forde
(1950) afirmam que “um sistema de parentesco pode ser considerado como um arranjo que
permite as pessoas viverem juntas e cooperarem umas com as outras segundo a ordem social”.

O parentesco na vida social tem um papel importante pois confere ao indivíduo a identidade
social perante ao grupo, de forma que este seja reconhecido pelos outros como membro
pertencente ao grupo, isto é, dentro de uma sociedade pode definir a sua posição por meio de
termos de parentesco com qualquer pessoa com quem se encontre a tratar socialmente, quer
pertença á própria tribo quer pertença a outra. Para Rivière (1995:69) “o grupo de parentesco
supõe um ou diversos critérios de pertença, assim como normas comuns, e ligações sociais
activas”. Contudo, o parentesco confere os primeiros elementos do nosso estatuto como
individuo, assim como confere a sua personalidade social integrando os indivíduos que fazem
parte do grupo e distinguindo os que não fazem parte, dai que o parentesco integra e também
exclui, visto que ao mesmo tempo confere uma posição social dentro desse grupo e esta posição
é de maior destaque de acordo com o papel que a pessoa desempenha, por exemplo pai, mãe,
filho.

O parentesco constitui uma forma de organização da vida humana, na qual se concentram


relações de laços entre dois indivíduos partindo de uma escolha recíproca, de troca de interesses
comuns que podem ser sexuais ou de trabalho e outros. Segundo Bernardi (1974:258) “ estas
formas associativas que emanam das relações para a geração e a sua continuidade da espécie,
constituem o parentesco”. Portanto, o parentesco na sua constituição é muito vasto e de difícil
definição, pois abarca um conjunto de elementos que necessitam antes de mais uma
compreensão. Para Bernardi (1974:259) “o parentesco é um vínculo que liga indivíduos entre si
em vista da geração e descendência”.

Rivière (1995:63) define “ o parentesco como um conjunto de laços que unem geneticamente
(filiação, descendência) ou voluntariamente (aliança, pacto de sangue) um determinado número
de indivíduos”. Contudo, de dentre as várias definições existentes sobre o parentesco, o que pode
constatar que o parentesco é vasto e vai alem da consanguinidade, aliança, afinidade, relações
biológicas e sexuais.
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O Parentesco e sua operacionalização em sociedades tradicionais e industriais

O parentesco existe em todas as sociedades e serve de um instrumento de conduta dos indivíduos


pertencentes a esta mesma sociedade. Contudo, o parentesco não desempenha mesmas funções
em todas as sociedades, isto é, nas sociedades tradicionais traduz˗se na passagem e integração
dos indivíduos, efectivamente ele esta relacionado com a família, questão de direitos de sucessão
e de herança.

Nestas sociedades o parentesco tem uma função essencial porque alem das questões de passagem
de poderes para lembrar antepassados mortos, confere também ao individuo uma identidade,
assim como bens, terra; por exemplo dentro de uma família onde pratica-se a invocação de
antepassados quando morre o individuo que esta encarregue de falar com os espíritos
deve˗se procurar um sucessor para continuar a invocar.

Em sociedades industriais como diz Ghasarian o parentesco está patente em questões


relacionadas com a afinidade, ou passagem de herança. Em outros na busca social de herdeiros
ou mesmo proximidade, definindo os sentimentalmente os seus parentes, e construção da árvore.

Bibliografia

Bernardi, Bernardo. Introdução aos Estudos Etno-Antropológicos. Edições 70: Lisboa, 1974

Brown, Radclifee; Forde, Daryll. Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e


Casamento. Fundacao Calouste Gulbenkian: Londres, 1950

Copans, J. et al. Antropologia Ciência das Sociedades Primitivas?. Lisboa: Edições 70:
Lisboa, 1971

Ghasarian, Christian. Introdução ao Estudo do Parentesco. Terramar, 1999

Martinez, Francisco L. Antropologia Cultural: Guia para o Estudo. 5ª ed, Paulinas Editorial:
Maputo, 2007

Revière, Claude. Introdução a Antropologia . Edições 70 :Lisboa , 1995.


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