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Tópico: 19 - Convenções da OIT: natureza jurídica, processo de elaboração, ratificação,

denúncia, vigência, aplicação e revisão.


1 - ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT)
 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi constituída pelo Tratado de Versalhes,
em 1919, ao final da Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de promover justiça social.
 Para isto a entidade busca a materialização do trabalho decente.
- Quanto a natureza jurídica:

 Trata-se de pessoa jurídica de direito público internacional, composta por 3 grandes


órgãos:
 Conferência Internacional do trabalho (conferência geral dos representantes dos
membros);
 Conselho de Administração; e
 Repartição (bureau) internacional do Trabalho (ou RIB/BIT).

- Sobre o Conselho de Administração:

 Administra a OIT, de forma colegiada, reunindo-se 3 vezes ao ano. O CA é composto por


determinadas comissões, que compõem sua estrutura, como a Comissão de atividades
industriais, de liberdade sindical, de discriminação.

- Conceito de trabalho decente e os objetivos estratégicos da entidade:

 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a agência das Nações Unidas que tem
por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um
trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e
dignidade.

 O Trabalho Decente, conceito formalizado pela OIT em 1999, sintetiza a sua missão
histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um trabalho
produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade
humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a
redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o
desenvolvimento sustentável.
 O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT: o
respeito aos direitos no trabalho.

- Princípios fundamentais do trabalho, segundo a OIT:

 I - Liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva;


 II - Eliminação de todas as formas de trabalho forçado;
 III - Abolição efetiva do trabalho infantil;
 IV - Eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação,
a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o
fortalecimento do diálogo social.
 V - A segurança e a saúde no trabalho.

- As 8 convenções prioritárias da OIT:


1 - Convenção 29 - trabalho forçado:

 Exige a supressão do trabalho forçado ou obrigatório, sob todas as suas formas.


 Encontram-se previstas algumas excepções, tais como o serviço militar, o trabalho de
pessoas condenadas em tribunal sob vigilância adequada, casos de força maior como
situações de guerra, incêndios e tremores de terra.

2 – Convenção 87 - liberdade sindical e proteção do direito sindical:

 Garante a todos os trabalhadores e empregadores o direito de, sem autorização prévia,


constituírem organizações da sua escolha e de nelas se filiarem e estabelece um conjunto
de garantias para o livre funcionamento dessas organizações sem interferência das
autoridades públicas (não ratificada pelo Brasil).

3 – Convenção 98 - direito de organização e de negociação coletiva:

 Prevê a proteção contra atos de discriminação antissindical e a proteção das organizações


de trabalhadores e de empregadores contra atos de ingerência de umas em relação às
outras, bem como medidas destinadas a promover a negociação coletiva.

4 – Convenção 100 - igualdade de remuneração entre homens e mulheres:

 Apela à igualdade de remuneração entre homens e mulheres por um trabalho de igual


valor.

5 – Convenção 105 - abolição do trabalho forçado:

 Proíbe o recurso a qualquer forma de trabalho forçado ou obrigatório como medida de


coerção ou de educação política, sanção pela expressão de opiniões políticas ou
ideológicas, método de mobilização da mão-de-obra, medida disciplinar do trabalho,
punição pela participação em greves ou medida de discriminação.

6 – Convenção 111 – discriminação (emprego e profissão):

 Apela à adoção de uma política nacional destinada a eliminar a discriminação no acesso


ao emprego, nas condições de formação e de trabalho, com fundamento na raça, cor,
sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, bem como a
promover a igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e de
profissão.
7 – Convenção 138 - idade mínima de admissão ao emprego:

 Visa a abolição do trabalho infantil, estipulando que a idade mínima de admissão ao


emprego não poderá ser inferior à idade de conclusão da escolaridade obrigatória.

8 – Convenção 182 - piores formas de trabalho das crianças:

 Exige a adoção de medidas imediatas e eficazes para assegurar a proibição e a eliminação


das piores formas de trabalho das crianças, nomeadamente a escravatura e práticas
análogas, recrutamento forçado de crianças com vista à sua utilização em conflitos
armados, utilização de crianças para fins de prostituição, produção de material
pornográfico e qualquer atividade ilícita, bem como trabalhos que sejam susceptíveis de
prejudicar a saúde, a segurança ou a moralidade das crianças.

2 - PROCESSO DE ELABORAÇÃO, RATIFICAÇÃO, DENÚNCIA, VIGÊNCIA, APLICAÇÃO E


REVISÃO DAS CONVENÇÕES

 Para alcançar seus objetivos, a OIT desenvolve atividade normativa, por meio da qual
formula normas internacionais do trabalho (Convenções, Recomendações e Resoluções).
- Convenções e Recomendações segundo a OIT:
1- Convenções:

 São instrumentos que, uma vez ratificados, criam obrigações jurídicas.

2 – Recomendações:

 Não estão abertas a ratificação, antes destinam-se a orientar a política, a legislação e


a prática dos Estados membros.

2.1 - Elaboração e aprovação das convenções:

 A elaboração e aprovação das Convenções no âmbito da OIT se dá no âmbito de uma


Conferência (como a 110ª Conferência, realizada em Genebra/Suíça), a qual é
estabelecida pelo Conselho de Administração da OIT.
- Elaboração do texto da Convenção:

 A OIT elabora um relatório sobre a legislação nos diferentes países, juntamente com um
questionário, para enviar aos governos pelo menos 18 meses antes da abertura da
sessão da Conferência na qual a questão deverá ser discutida.

- Consulta do Governo às organizações mais representativas:

 Os Governos consultam as organizações mais representativas de empregadores e de


trabalhadores, sobre o texto proposto e, em seguida, os governos enviam suas
contribuições e respostas à OIT. As respostas dos governos devem chegar ao Bureau
pelo menos 11 meses antes da referida sessão da Conferência.
 Com base nas respostas dos governos, um relatório final contendo o texto das
convenções é enviado aos governos pelo menos 4 meses antes da abertura da sessão
da Conferência.

 Já durante a Conferência agendada, a proposta de Convenção irá passar por uma fase de
discussão e posteriormente será colocada em votação.
- Etapa de discussão do texto da Convenção:

 Esta discussão poderá ser simples ou dupla (ou seja, uma discussão realizada em duas
sessões da Conferência), conforme definido pelo Conselho de Administração.

- A aprovação:

 A aprovação da Convenção exige votação pela maioria de dois terços dos votos
expressos pelos delegados presentes (Constituição da OIT, artigo 16º, 3).

2.2 – Ratificação:

 Uma vez elaborada a Convenção, será dado a todos os Estados-Membros da OIT


conhecimento da convenção para fins de ratificação.
 Cada Estado compromete-se a submeter, dentro do prazo de 1 ano, a partir do
encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em razão de circunstâncias
excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem nunca exceder o prazo de 18
meses após o referido encerramento), a convenção à autoridade ou autoridades em cuja
competência entre a matéria, a fim de que estas a transformem em lei ou tomem medidas
de outra natureza.
 Ao final, os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição
Internacional do Trabalho das medidas tomadas.

- Quando do não assentimento da convenção:

 Quando o país não der seu assentimento a uma convenção, nenhuma obrigação terá
o Estado-Membro a não ser a de informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do
Trabalho sobre a sua legislação e prática observada relativamente ao assunto de que trata
a convenção.
 Deverá, também, precisar nestas informações até que ponto aplicou, ou pretende aplicar,
dispositivos da convenção, por intermédio de leis, por meios administrativos, por força de
contratos coletivos, ou, ainda, por qualquer outro processo, expondo, outrossim, as
dificuldades que impedem ou retardam a ratificação da convenção.

- O processo de incorporação da Convenção ao ordenamento jurídico brasileiro passa,


segundo Pedro Lenza, por 4 fases:
1 - Celebração do tratado pelo Poder Executivo:
 A celebração de tratados e convenções internacionais é competência privativa do
Presidente da República (art. 84, VIII, da CF/88). A celebração do tratado pelo órgão
competente do Poder Executivo não significa que o tratado já é obrigatório em território
nacional, mas apenas que "o tratado é autêntico e definitivo”.
 Isto porque sua obrigatoriedade jurídica advém do processo de internalização da
Convenção no ordenamento jurídico brasileiro, não de sua celebração.

2 - Aprovação ou ratificação pelo Poder Legislativo:

 Após celebrada a convenção OIT, internamente o Poder Legislativo irá "decidir sobre a
sua viabilidade, conveniência e oportunidade”, segundo Pedro Lenza e, caso concorde, irá
se manifestar por meio de decreto legislativo, por meio do qual se referenda e se aprova
a decisão do Chefe do Executivo de celebrá-lo.

 O mesmo autor ressalta que "ratificar" significa "confirmar perante a ordem internacional
que aquele Estado, definitivamente, obriga-se perante o pacto firmado. Tecnicamente, a
ratificação não é ato do Parlamento, mas de competência privativa do Chefe do
Executivo, típico ato de direito internacional público".

3 - Depósito do decreto legislativo de ratificação na OIT:

 O depósito do instrumento de ratificação (decreto-legislativo) perante a OIT é o que irá


assegurar a obrigatoriedade de o Estado seguir a Convenção no âmbito internacional.

 Nesse sentido, a Constituição da OIT prevê que:


 Artigo 20: Qualquer convenção assim ratificada será comunicada pelo Diretor-Geral da
Repartição Internacional do Trabalho ao Secretário-Geral das Nações Unidas, para fins de
registro, de acordo com o art. 102 da Carta das Nações Unidas, obrigando apenas os
Estados-Membros que a tiverem ratificado.

 Além disso, uma vez ratificado, os países-membros da OIT devem encaminhar relatório
anual sobre as medidas efetivamente adotadas para promover o cumprimento da
convenção:
 Artigo 22: Os Estados-Membros comprometem-se a apresentar à Repartição Internacional
do Trabalho um relatório anual sobre as medidas por eles tomadas para execução das
convenções a que aderiram. Esses relatórios serão redigidos na forma indicada pelo
Conselho de Administração e deverão conter as informações pedidas por este Conselho.

4 - Promulgação pelo Presidente da República por meio de Decreto:

 Para que o tratado efetivamente se incorpore ao ordenamento jurídico interno, o


Presidente da República deverá promulgá-lo, por meio de Decreto, em português,
publicando seu teor na imprensa oficial brasileira.
 A expedição deste Decreto é o que marca, internamente, o início da vigência da
Convenção.
- Segundo Pedro Lenza, com base na jurisprudência do STF, a promulgação acarreta três
efeitos básicos:

 a) A promulgação do tratado internacional;


 b) A publicação oficial de seu texto; e
 c) A executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente então, a vincular e
a obrigar no plano do direito positivo interno.
 Ou seja, não é necessária uma segunda lei para início da vigência da convenção, mas
apenas a expedição de decreto, após a ratificação legislativa.
- Convenção como fonte formal do direito do trabalho:

 O país-membro da OIT (como o Brasil) pode ratificar as Convenções, e, com isso, passam
a fazer parte do seu ordenamento jurídico.
 Neste caso, inclusive, as Convenções passam a ser fontes formais do Direito do
Trabalho (CF, art. 7º, XXVI).

- Status dos tratados internalizados no Brasil:

 Em regra, tais diplomas ingressam em nossa ordem jurídica com status de norma
infraconstitucional (como leis ordinárias e complementares).

 No caso específico de tratados que versem sobre direitos humanos e que tenham sido
aprovados com o rito e quórum de emendas constitucionais, entretanto, a situação é
distinta: tais diplomas ingressam em nossa ordem jurídica com status constitucional ou
supralegal.
 CF/88, art. 5º, §3º: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

2.3 - Revogação ou retirada:

 Uma convenção ou recomendação é considerada obsoleta “se se considera que perdeu o


seu propósito ou já não contribui de forma útil para a realização dos objetivos da
Organização” (artigo 19º, parágrafo 9, da Constituição OIT).
a) Revogação:

 Aplica-se às convenções que se encontram em vigor.

b) Retirada:

 Aplica-se às convenções que não se encontram em vigor e às recomendações.

2.4 – Denúncia:

 Esta representa o processo pelo qual um país deixa de anuir ao texto da convenção.
 A denúncia precisa ser comunicada formalmente ao Diretor-Geral da OIT.
 Em geral, a denúncia produz efeito 1 ano após seu registro (seguindo as normas
definidas sobre denúncia em cada convenção).
- A denúncia, por simetria, igualmente exige internamente a aprovação do poder
legislativo, para que possa ocorrer:

 STF, ADC 39, 6 - À luz da Constituição de 1988, decorre do próprio Estado Democrático
de Direito e de seu corolário ‒ o princípio da legalidade ‒ que a denúncia de um tratado
internacional, embora produza efeitos no âmbito externo diante da manifestação de
vontade do presidente da República, requer a anuência do Congresso Nacional para
que suas normas sejam excluídas do direito positivo interno.
 As denúncias ocorridas antes de 2023 não ficam condicionadas à aprovação pelo Poder
Legislativo, porém aquelas que vierem a ocorrer posteriormente dependerão de sua
ratificação legislativa.

2.5 – Revisão:

 Os específicos para a revisão das convenções são, no essencial, os mesmos para a


aprovação inicial dos documentos, demandando discussão e posterior aprovação em
assembleia pelo quórum de 2/3 dos representantes.
*** a partir da pg 11 da aula 18, são convenções comentadas

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