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Faculdade de Ética e Ciências Humanas

Licenciatura em Psicologia

Disciplina: Direitos Huamanos

Tema: Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos

Discente:

Carmen Majópe
Docente: Agostinho Raúl

Maputo, Junho de 2021

INTRODUÇÃO

Historicamente, a Carta das Nações Unidas, de 1945, a Declaração Universal dos


Direitos Humanos, de 1948, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, sociais e culturais, ambos de 1966,
são os principais instrumentos normativos sustentadores da proteção universal dos
direitos humanos.

Além disso, e, principalmente, desde a Declaração Universal dos Direitos


Humanos, que impulsionou o processo de generalização da proteção dos direitos
humanos, diversos outros instrumentos normativos, tratados e convenções
internacionais, foram elaborados visando à promoção e proteção dos direitos
humanos. Até mesmo os Estados nacionais, inspirados neste complexo normativo
internacional, passaram a adotar, em seus textos constitucionais, de forma
expressa, a necessidade de proteção e promoção dos direitos humanos.

Todavia, os direitos humanos não são protegidos, efetivados e concretizados


apenas porque foram declarados, pactuados, convencionados ou mesmo
constitucionalizados1. A garantia da proteção, efetivação, promoção e
concretização dos direitos humanos exige a organização articulada de sistemas de
proteção que realizem o monitoramento, a supervisão e a fiscalização do
cumprimento, especialmente pelos estados, do corpus júris dos direitos humanos.

Assim, a crescente demanda em torno da efetivação dos direitos humanos,


especialmente em face da comum incapacidade dos estados de darem a eficaz
proteção a esses direitos, fez surgir os sistemas e seus mecanismos de proteção dos
direitos humanos, no âmbito internacional.
Os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos foram organizados
em dois níveis complementares, a saber, o sistema em nível global – Sistema da
ONU – e os sistemas em nível regional – o Sistema Europeu, o Sistema
Interamericano, o Sistema Africano e o Sistema Árabe. O presente artigo tem
como foco o Sistema Global, seus principais instrumentos normativos e
organismos de supervisão e monitoramento.

2. O SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS.

O Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos, também chamado de


Sistema da ONU ou de Sistema Universal, eis que seus princípios iluminam,
inspiram e influenciam o surgimento dos demais instrumentos normativos
posteriores, tem como fonte normativa imediata a Carta das Nações Unidas de
1945, a qual, ao estabelecer que os Estados-partes devem promover a proteção dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais e, demarcar o início do processo
de universalização dos direitos humanos, exige, consequentemente, a necessidade
de efetivação desses direitos, sob a vigilância de um sistema de monitoramento,
supervisão e controle.

O Sistema Global integra a estrutura da ONU, cujos órgãos principais são: a


Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o
Conselho Econômico e Social e o Secretariado.

2.1. OS PRINCIPAIS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DO SISTEMA


GLOBAL.

O Sistema da ONU é integrado por instrumentos normativos gerais e especiais e


por organismos e mecanismos de vigilância, supervisão, monitoramento e
fiscalização dos direitos humanos. Os instrumentos normativos gerais são
principalmente aqueles que integram a chamada Carta Internacional de Direitos
Humanos, que é composta pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelo
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e pelo Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. São chamados de gerais porque
endereçados a toda e qualquer pessoa humana, indistintamente. Além destes,
também compõem o conjunto normativo do Sistema Global as diversas
Convenções Internacionais, estas consideradas como instrumentos normativos
especiais, portanto não gerais, porque voltadas, “fundamentalmente, à prevenção
da discriminação ou à proteção de pessoas ou grupos de pessoas particularmente
vulneráveis, que merecem tutela especial.”

2.2. OS PRINCIPAIS ORGANISMOS E MECANISMOS DO SISTEMA


GLOBAL.

Para a vigilância, supervisão, monitoramento e fiscalização do cumprimento dos


instrumentos normativos gerais e especiais foram criados organismos e
mecanismos extraconvencionais e convencionais, respetivamente. Annoni
esclarece a diferença:

“Essa proteção extraconvencional diferencia-se dos demais mecanismos de


proteção das Nações Unidas, justamente por ter sido fundamentada na Carta da
ONU e na Declaração Universal de 1948. Não há recurso a acordos específicos; ao
contrário, busca-se extrair a proteção dos direitos humanos da interpretação ampla
dos objetivos de proteção aos direitos humanos da ONU, e do dever de cooperação
dos Estados para alcançar tais objetivos. (…). Os procedimentos convencionais
distinguem-se dos procedimentos extraconvencionais, já que esses obrigam os
Estados contratantes, enquanto os procedimentos extraconvencionais buscam
vincular os membros da Organização, sem o recurso às convenções específicas.
(…) O termo extraconvencional, apesar de inexato, é utilizado justamente para
enfatizar a diferença entre procedimentos coletivos nascidos de convenções
específicas (…) e os procedimentos adotados pela Organização que nascem
baseados em dispositivos genéricos…”

2.2.1. A COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ONU.


A Comissão de Direitos Humanos da ONU – CDH foi o principal órgão do
Sistema Global. Criada em 1946, por ação do Conselho Econômico e Social
(ECOSOC), a CDH era composta de 53 Estados, com mandato de três anos, tendo
como função geral promover e proteger os direitos humanos, em âmbito mundial.
De 1946 até 1967 – fase legislativa – a CDH dedicou-se, quase exclusivamente, na
elaboração do arcabouço normativo destinado à promoção dos direitos humanos,
especialmente da Declaração Universal de 1948 e dos dois grandes Pactos
Internacionais, de 1966.

A partir de 1967 a Comissão iniciou sua fase de implementação, mais


intervencionista, assumindo um papel de apreciação de casos de violações de
direitos humanos, seguindo, para isso, basicamente, dois procedimentos criados
pelo Conselho Econômico e Social da ONU: o Procedimento 1235 e o
Procedimento 1503.

2.2.3. OS COMITÊS DE DIREITOS HUNANOS.

Os Comitês são considerados mecanismos convencionais de proteção dos direitos


humanos, isto porque são geralmente criados por meio de convenções
internacionais. São compostos por especialistas em matéria de direitos humanos,
independentes e autônomos, à disposição do Comitê.

Em geral, as funções e atribuições dos Comitês são as seguintes:

“examinar relatórios dos governos e da sociedade civil, na perspetiva do


monitoramento da implementação dos tratados de direitos humanos nos Estados-
partes, bem como receber e considerar as comunicações interestatais e as petições
individuais; auxiliar os Estados a melhorar a implementação dos tratados de
direitos humanos, no âmbito interno; elaborar observações gerais sobre os direitos
e as disposições contidas nos tratados, com vistas a assistir os Estados-partes no
cumprimento de suas obrigações concernentes à apresentação de informes e
contribuir para esclarecer sobre a interpretação do significado e do conteúdo dos
tratados de direitos humanos”.

No Sistema Global, os Comitês são:

– O Comitê de Direitos Humanos para monitorar a implementação do Pacto


Internacional dos Direitos Civis e Políticos;
– O Comitê de Direitos Humanos para monitorar a implementação do Pacto
Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais;

– O Comitê para monitorar a implementação da Convenção Internacional sobre a


Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial;

– O Comitê para monitorar a implementação da Convenção contra a Tortura e


Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes;

– O Comitê para monitorar a implementação da Convenção Internacional sobre os


Direitos da Criança; e,

– O Comitê para monitorar a implementação da Convenção Internacional sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher.
3. Considerações finais.

A efetividade e a concretização dos direitos humanos não são garantidas apenas


com a proclamação normativa de tais direitos. A atuação de um Sistema Global
eficiente e eficaz de promoção, proteção e reparação dos direitos humanos é uma
exigência do processo de internacionalização construído na história recente da
humanidade, para a salvaguarda da dignidade da pessoa humana.

É certo que a criação do novo Conselho de Direitos Humanos da ONU nasce com a
boa expectativa de consolidar-se, efetivamente, como órgão capaz de, sem
vacilações, exercer sua vocação institucional mais preciosa de garantir a
salvaguarda universal dos direitos humanos. Todavia, é igualmente certo que
muitas resistências ainda restam ser vencidas, para que todos os direitos humanos
sejam garantidos a todas as pessoas.
Referências bibliográficas:

ALMEIDA, Guilherme Assis de. Direitos humanos e não – violência. São Paulo:
Atlas, 2001.

ANNONI, Danielle. Direitos humanos & acesso à justiça no direito internacional.


Curitiba: Juruá, 2004.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

DURAN, Carlos Villan. Luzes e sombras do novo Conselho de Direitos Humanos


das Nações Unidas. In Revista Internacional de Direitos Humanos. Número 5.
Ano 3. Sur – Rede Universitária de Direitos Humanos. São Paulo, 2006. .

LIMA Jr., Jayme Benvenuto. Manual de direitos humanos internacionais. Acesso


aos sistemas global e regional de proteção dos direitos humanos. São Paulo:
Edições Loyola, 2002.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São


Paulo: Saraiva, 2006.

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