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SISTEMA JURÍDICO UNIVERSAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS DO

HOMEM

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO

Responda a cada uma das perguntas que se seguem, inserindo-as no corpo deste
documento.

Tenha presente os requisitos formais fixados no início do semestre e que aqui se


reproduzem:
Tipo de letra: Times New Roman 12
Parágrafo: 1,5
Número de páginas por resposta: duas
Referências bibliográficas: atendendo à circunstância de se tratar de um teste, não se
espera a inclusão de referências bibliográficas. Isso não autoriza, no entanto, a reprodução
textual dos autores consultados.

As respostas deverão ser enviadas para o e-mail ppmj@direito.uminho.pt até ao dia 3 de


fevereiro de 2017.

Cada pergunta tem a cotação de cinco valores. Os resultados serão comunicados, na


plataforma e-learning, no dia 10 de fevereiro de 2017.

NOME DO ALUNO: Ivo José Gomes Pereira PG32347

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1. Em que consistiu a internacionalização dos direitos do homem? Identifique os
momentos-chave deste processo e a sua relevância prática.
Resposta:
Foi a segunda guerra mundial que funcionou como uma espécie de rampa
de lançamento para a internacionalização dos direitos do homem, resultando da
criação de normas internacionais que fazem com que seja possível o estado ser
responsabilizado e então a soberania deixa de ser absoluta, ou seja, se as
instituições nacionais mostrarem incapazes ou se manterem em silêncio na tarefa
de proteção dos direitos humanos podemos culpabilizar o estado.
Este processo de internacionalização dos direitos humanos deu-se graças
ao direito humanitário, à Liga das Nações e a Organização Internacional do
Trabalho. A internacionalização dos direitos do homem começou a ganhar forma
em 1945, a Carta das Nações Unidas foi o documento que fundou a Organização
das Nações Unidas (ONU) e, com isso, iniciou-se o processo de proteção
universal dos direitos humanos como mostra o artigo 55 da Carta da ONU:
Art. 55. “(...) as Nações Unidas favorecerão:
c) o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.”
Foi a partir daqui que começaram a surgir conferencias e tratados
internacionais que tinham como fim a proteção dos direitos do homem e então,
em 1948, surge a declaração universal dos direitos do homem.
A declaração universal dos direitos do homem revela-nos direitos
políticos, civis, econômicos, sociais e culturais (artigos 1º ao 28º), tendo sempre
em conta a liberdade, igualdade e fraternidade. Mostra-nos a necessidade dos
direitos pois a sua ausência levou a atrocidades que ficaram para sempre na
consciência da humanidade. Então o objetivo do homem é um mundo onde tais
acontecimentos não se repitam, um mundo onde as pessoas sejam livres de se
expressar, de ter as suas crenças e de poderem viver sem terror e miséria. Para
que tal seja possível há uma necessidade de cooperação por parte dos países e da
ONU para se comprometerem a promover os direitos fundamentais. Assim
sendo, a assembleia geral declarou que a declaração universal dos direitos do
homem um ideal a atingir para todos os povos e nações.
Em 1966 surge o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos que
amplia os direitos civis e políticos da Declaração Universal dos Direitos

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Humanos. Este pacto constituiu o Comitê de Direitos Humanos e reconhece a
universalidade, a inalienabilidade e a individualidade desses direitos. Defende
os princípios da autodeterminação dos povos, da igualdade, da dignidade da
pessoa humana.
Também em 1966 o Pacto Internacional dos Direitos Económicos,
Sociais e Culturais foi criado. Este também reconhece a universalidade, a
inalienabilidade e a indivisibilidade dos direitos económicos, sociais e culturais
da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Traz regras de direito
trabalhista e os direitos económicos, sociais e culturais são pragmáticos, de
aplicação progressiva.
Após estes pactos serem criados foram feitas várias conferencias que
tinham como fim garantir os direitos civis, políticos, económicos, sociais e
culturais, possibilitando a evolução e a internacionalização dos direitos
humanos. Algumas dessas conferências são a de Viena em 1993 (sobre os
direitos humanos), em 1995 em Beijing (sobre os direitos da mulher), em Durban
no ano de 2001 (sobre o racismo, xenofobia e intolerância correlata), entre
outras.
Em suma, o processo de internacionalização dos direitos humanos deu-
se graças ao direito humanitário, à Liga das Nações e a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) porque o direito humanitário tratou da proteção
humanitária em casos de guerra, a Liga das Nações, além de buscar a paz e a
cooperação internacional, expressou disposições referentes aos direitos humanos
e a OIT promulgou inúmeras convenções internacionais, com o fim de proteger
a dignidade da pessoa humana no direito trabalhista. A internacionalização dos
direitos humanos afasta definitivamente o conceito de soberania absoluta o qual
considerava que o Estava era o único sujeito de Direito Internacional.

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2. Qual a relação entre a Declaração Universal dos Direitos do Homem e os Pactos
Internacionais sobre os Direitos Civis e Políticos e sobre os Direitos Económicos,
Sociais e Culturais? De que modo é que a relação declaração/tratado se vê replicada
noutros instrumentos de Direito internacional dos direitos do homem?
Resposta:
A entrada em vigor dos pactos internacionais sobre os Direitos Civis e
Políticos e sobre os Direitos Sociais e Culturais, o simples fato de existirem e
neles estarem contidas as medidas de implementação requeridas para que haja
certeza de uma aplicação dos direitos e liberdades estabelecidas na Declaração
Universal dos Direitos do Homem (DUDH) dão ainda mais força à Declaração.
Estes pactos foram criados com o intuito de proteger direitos específicos
presentes na Declaração, nomeadamente os direitos civis e políticos e os direitos
económicos, sociais e culturais. Os pactos foram trabalhados durante anos para,
de certa forma, completarem determinados aspetos dos direitos humanos
universais dos quais a DUDH se referia de maneira implícita. Com a entrada em
vigor os pactos e obrigatoriedade jurídica surge muitas disposições na DUDH
para os estados que as retificaram. Apesar da DUDH ser universal, válida para
toda a gente, independentemente de o governo ter aceite ou não os seus
princípios ou retificado os pactos, o mesmo não acontece com os pactos, estes
só têm força vinculativa, ou seja, obrigatoriedade jurídica para aqueles estados
que os aceitaram através da adesão ou retificação.
Seguiram-se os protocolos facultativos que ampliam determinadas
disposições do pacto dos direitos civis e políticos, defendendo a abolição da pena
de morte e o outro estabeleceu que os particulares podem apresentar denuncias.
Tudo junto forma a Carta Internacional dos Direitos do Homem.
A relação criada pela Declaração e pelos pactos exerceram uma grande
influência no pensamento e na ação dos cidadãos e nos seus governos por todo
o mundo. Tornou-se conhecida a sua autoridade e foi aceite tanto nos Estados
que participaram nos pactos tanto naqueles que não aderiram. As suas
disposições foram citadas como justificações para muitas decisões tomadas por
órgãos das Nações Unidas, inspiraram outros instrumentos internacionais de
direitos humanos, exerceram influência sobre acordos internacionais, tiveram
impacto na preparação de muitas constituições e leis internas, juízes do Tribunal
Internacional de Justiça invocam princípios contidos na Carta Internacional dos

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Direitos do Homem como fundamento pra as suas decisões, assim como também
acontece nos tribunais nacionais e locais. Esta carta também levou a muitas
outras declarações, temos como exemplos a Declaração sobre o Direito de Todas
as Pessoas à Proteção contra a Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Inumanos
ou Degradantes adotada pela Assembleia Geral em 1975; A Convenção
Americana dos Direitos Humanos, assinada em São José, Costa Rica, em 1969;
Em Nova York a 1990, Convenção sobre os Direitos da Criança; a Conferência
mundial dos direitos humanos, que teve lugar em Viena em 1993, aprovou por
aclamação a Declaração e o Programa de Ação de Viena; entre outros.
Assim, a Carta Internacional dos Direitos do Homem demonstra uma
enorme presença na história dos Direitos Humanos, mostrando que a
humanidade chegou a um ponto que, em pleno de sua consciência, adquiriu o
valor e dignidade humana.

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3. Quais as principais diferenças existentes entre os deveres resultantes para os
Estados Partes da ratificação do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Políticos e da ratificação do Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos,
Sociais e Culturais?
Resposta:
Antes de falar sobre os deveres resultantes para os Estados que fazem
parte da retificação do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (DCP)
e dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) vejamos ao que nos
remete cada um deles nos seus artigos. A primeira parte, em ambos os Pactos, é
exatamente igual. O que já não acontece na segunda parte, onde encontramos
muitas das diferenças entre eles.
No DCP podemos ver que os deveres que o pacto trouxe para o Estado
são deveres de manutenção e garantia, o Estado possui uma vertente de
manutenção destes direitos e deve garantir à população que estes se cumprem
independentemente do território e tempo em que cada um se encontre, ou seja,
tem de providenciar ao povo os meios necessários para que este possa usufruir
dos direitos, sendo estes são universais, indivisíveis e inalienáveis. São direitos
que todos temos a partir do momento em que nos tornamos um nado-vivo, são
inerentes a nós e irrenunciáveis. São direitos que temos, mesmo que não os
queiramos invocar.
Assim sendo, este Pacto faz com que o governo crie métodos para que a
população exerça esses direitos, como por exemplo, o direito ao voto. Cabe ao
Estado criar a possibilidade de as pessoas poderem exprimir o seu voto. Isto dá
à população o poder de se defender em casos de violações a estes direitos, caso
sintam que o Estado não está a cumprir os seus deveres na manutenção dos
direitos pode recorrer aos tribunais internacionais. Em suma, com o DCP o
Estado tem, para com o povo, um dever de garantir e manter os seus direitos.
No que toca ao DESC, os deveres que este pacto trouxe para o Estado
foram de prestar as necessidades à população. Aqui o Estado tem o dever de ser
mais participativo, pois as populações mudam, evoluem e crescem, têm culturas
e necessidades cujo o papel do Estado é cuidar delas.
Por exemplo, se uma população está a crescer, é dever do Estado criar
alternativas que promovam uma dinamização no emprego, para que as pessoas
possam exercer o seu direito ao trabalho, o mesmo se aplica em outros casos,

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assim como na educação, onde o Estado tem o dever de providenciar acessos a
estas para todas as crianças de maneira que não existam desigualdades, cabe aqui
haver uma proporcionalidade por parte do Estado. O que se reflete em mais um
dever deste, ou seja, o Estado tem também o dever de ser proporcional
procurando equidade e equilíbrio para com a sua população, como no exemplo
do acesso ao ensino.
No entanto os deveres não se aplicam apenas ao Estado, segundo este
Pacto, cabe também à população colaborar, isto é, qualquer pessoa tem o direito
de ser remunerada, mas para que isso aconteça tem de trabalhar, a população tem
direitos, mas também tem deveres. No caso do direito do trabalho, onde o Estado
não consiga providenciar postos de trabalho para todos, existem subsídios para
aquelas pessoas que se encontram no desemprego, mas em troca desses subsídios
as pessoas têm de fazer cursos e trabalhos de maneira a que o seu conhecimento
e cultura sejam ampliados com o fim de abrir mais portas no mundo do trabalho.
Em suma, com os DCP o Estado tem deveres de manutenção e garantia,
ou seja, tem deveres de garantir que o povo possa exercer os seus direitos
independentemente do território e tempo em que cada um se encontre e com os
DESC o Estado tem deveres de proporcionalidade, criação e de participação, ou
seja, o estado deve ser proporcional nas medidas que toma, deve acompanhar o
crescimento da população e criar maneiras à medida que a população cresce,
como postos de trabalho, escolas, acessos, etc.

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4. Quais são, em seu entender, as principais fragilidades do sistema de controlo e
garantia dos padrões internacionais de direitos do homem definidos no quadro da
Organização das Nações Unidas?
Resposta:
A Organização das Nações Unidas (ONU) conta com nove comités
independentes criados por cada um dos principais tratados de Direitos Humanos
da ONU, por exemplo o Comité dos Direitos do Homem, Comité para a
Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, entre outros. Todos eles com
o fim de controlar a sua aplicação pelos respetivos Estados partes.
É aqui que se verifica uma das fragilidades do sistema de controlo de
garantia, o facto de existirem muitos comités poderá levar a uma possível
“desfragmentação” do foco principal da ONU, ou melhor dizendo, na
preservação dos Direitos Humanos.
Isto, leva a que haja uma divisão de matérias de Direito que cada comité
irá se responsabilizar. Esta divisão não é o problema, pelo contrário, faz com que
os processos não se acumulem, mas tem o lado inverso da moeda. Haver tantas
divisões faz com que as pessoas não saibam onde ir para fazer valer os seus
direitos. Outra desvantagem de haver demasiados é que pode existir falta de
comunicação entre eles, o que mais tarde pode levar à existência de incerteza
jurídica, por exemplo, uma mulher negra que é discriminada. Pode recorrer a
duas vias, nomeadamente ao Comité para a Eliminação da Discriminação Racial
e também ao Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres.
Contando que haveria falta de comunicação entre os dois Comités, resultariam
duas avaliações e consequentemente duas decisões, que poderiam ser diferentes
que resultaria em incerteza jurídica, ou seja, levar-nos-ia a uma falta de
segurança.
Outra fragilidade está no sistema de defesa dos direitos. O Tribunal Penal
Internacional tem dificuldades na resolução de casos porque não possui um
conhecimento efetivo do que acontece nos países, não tem noção das partes
envolventes no processo, o que faz com que a investigação e resolução sejam
demorados. Para além disto, para podermos recorrer ao Tribunal Internacional
de Justiça com o fim de fazer valer os nossos direitos, temos de esgotar todas as
vias internas, isto faz com que demore para que alguém consiga fazer valer os
seus direitos. Pessoas que não tenham capacidades financeiras não conseguem

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chegar tão longe e as que conseguem perdem muito tempo. Tudo isto
compromete os níveis de garantia dos direitos.
A Política Internacional não praticar as políticas dos comités é outra
fragilidade do sistema de controlo de garantia. Os Pactos são praticados por
muitos países no mundo, mas apenas serão vinculativos aos Estados assinantes
e apenas a estes, o que não dá possibilidade da ONU exigir a Estados não
assinantes que os respeitem. Mesmo que os comités imitam comunicados, esses
podem não ser vinculativos o que faz com que a ONU não tenha força para com
os estados não assinantes, pois o facto de os países pertencerem à ONU e não
assinarem os Pactos também é uma fragilidade, como por exemplo, a Índia, onde
crianças são exploradas e vivem em condições deploráveis e a ONU nada pode
fazer.
Presente em ambos os Pactos Internacionais (os DESC e os DCP) o Artigo 1º
diz:
“1- Todos os povos têm o direito a dispor deles mesmos. Em virtude deste direito,
eles determinam livremente o seu estatuto político e asseguram livremente o seu
desenvolvimento económico, social e cultural.”
“2 - Para atingir os seus fins, todos os povos podem dispor livremente das suas
riquezas e dos seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações que
decorrem da cooperação económica internacional, fundada sobre o princípio
do interesse mútuo e do direito internacional. Em nenhum caso poderá um povo
ser privado dos seus meios de subsistência.”.
Isto significa que os Estados têm o direito de autodeterminação, ou seja,
podem escolher como se governam e tomar decisões que pensem que seja melhor
para o melhor desenvolvimento dos mesmos, que por si pode ser um entrave para
a ONU, pois permitem que os Estados possam olhar aos próprios interesses que
algumas vezes não são os mais adequados. Além disso, os interesses particulares
afetam as garantias, porque se um país não cooperar em prol dos próprios
interesses irá fazer com que outros países ajam da mesma maneira. Imaginemos
uma aula, onde apenas um aluno seja recriminado pela professora por algo que
muitos fizeram, cria-se uma sensação de injustiça e de revolta por parte desse
aluno. O mesmo acontece aqui, quando os países não cooperam outros não verão
razão para também o fazer, o que leva a ONU a não cumprir o seu propósito,

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unir as nações. Existe toda uma criação de defesa do homem que depois não se
consegue fazer valer.
Mesmo no Conselho de Segurança, sendo este um dos órgãos máximos
da ONU, que tem um conjunto de países com um maior poder de voto que outros
o que influencia também na conjuntura do que é a própria ONU no seu todo.

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