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EXTRA 3

TJDFT (Analista Judiciário - Sem


Especialidade) Discursiva Sem Correção
- 2022 (Pós-Edital)

Autor:
Carlos Roberto

03 de Maio de 2022
Carlos Roberto
EXTRA 3

Tema 1.............................................................................................................................................................................1

Abordagem teórica ................................................................................................................................................ 2

Proposta de solução .............................................................................................................................................. 5

Tema 2...........................................................................................................................................................................6

Abordagem teórica ................................................................................................................................................7

Proposta de Solução ............................................................................................................................................ 8

Tema 3...........................................................................................................................................................................9

Abordagem teórica ................................................................................................................................................9

Proposta de solução ............................................................................................................................................. 11

Tema 4 ........................................................................................................................................................................ 12

Abordagem teórica .............................................................................................................................................. 12

Proposta de Solução ........................................................................................................................................... 17

Tema 5 – Improbidade ....................................................................................................................................... 18

Abordagem teórica .............................................................................................................................................. 19

Proposta de solução ........................................................................................................................................... 23

EXTRA 3 – PROCESSO CIVIL


Tema 1
Em ação indenizatória ajuizada na justiça comum, determinado município foi condenado a pagar ao autor
a quantia de duzentos mil reais. A sentença foi confirmada pelo tribunal e transitou em julgado. Em
decorrência da inércia do município para pagar a quantia, o autor da ação deseja tomar medida judicial para
receber o pagamento referente à condenação.
Considerando a situação hipotética apresentada, redija texto dissertativo atendendo ao que se pede a
seguir.
a) Indique o procedimento a ser utilizado pelo particular para receber o valor da condenação e informe o
modo como deve ser feito o pagamento ao credor, bem como a forma pela qual o ente público deve
realizar sua eventual defesa se discordar dos valores apresentados pelo particular.

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b) Indique o rol de modalidades de citação previstas no Código de Processo Civil, apresente a(s)
modalidade(s) de citação que pode(m) ser utilizada(s) para a citação da pessoa jurídica de direito
público e conclua sobre a sua pertinência no caso concreto.
c) Discorra sobre a possibilidade de o particular receber os valores incontroversos no caso de a pessoa
jurídica de direito público, em sua defesa, alegar apenas existir excesso do valor pretendido pelo
particular (como, por exemplo, excesso nos juros e correção monetária).

Abordagem teórica
O cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa pela
Fazenda Pública é disciplinado pelos arts. 534 e 535 do Código de Processo Civil (CPC).

Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o
exequente apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo:
I - o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica do exequente;
II - o índice de correção monetária adotado;
III - os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;
V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados.
§ 1º Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu próprio demonstrativo,
aplicando-se à hipótese, se for o caso, o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 113.
§ 2º A multa prevista no § 1º do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública.
O procedimento se inicia com o requerimento do exequente, oportunidade em que apresentará o
demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, cujo conteúdo é abordado nos incisos I a VI do art.
534.
Sendo iniciada a fase de cumprimento de sentença, a Fazenda Pública será intimada na pessoa do seu
representante judicial para, se quiser, impugnar a execução em 30 dias. É o que diz o caput do art. 535 do
CPC. Acompanhe:

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou
meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução,
podendo arguir:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;
II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

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VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação,


transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença.
[...]
§ 3o Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada:
I - expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal competente, precatório em favor do exequente,
observando-se o disposto na Constituição Federal;
II - por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o processo, o
pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega
da requisição, mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente.
§ 4o Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela executada será, desde logo, objeto
de cumprimento.

A intimação da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e de suas autarquias e fundações
faz-se perante o órgão da Advocacia Pública responsável por sua representação (CPC, art. 269, § 3°).
No caso da Fazenda Pública, o §1º do art. 183 do NCPC, especificamente, definiu que a intimação da
Fazenda Pública, em todas as esferas, tanto federal quanto estadual ou municipal, será pessoal,
admitindo-se somente por carga, remessa ou meio eletrônico. Além disso, segundo CUNHA1 (2017, p.58),
nos processos eletrônicos, a intimação é feita por meio eletrônico, método que é o preferencial (CPC, arts.
246, §§ 1° e 2°, 270, 1.050 e 1.051), a não ser que se frustre ou não seja possível.
Conforme visto acima, caso a Fazenda não ofereça impugnação à execução ou, sendo realizada a
impugnação, forem rejeitadas as arguições da executada, o processo se encaminhará para a expedição de
precatório (art. 535, §3°, I) ou para o pagamento por Requisição de pequeno Valor (RPV). O critério que
indicará um ou outro caminho é o valor a ser pago.
O pagamento por precatório está previsto no art. 100 da Constituição Federal e o pagamento por RPV nos
§§ 3° e 4° do mesmo artigo:

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em
virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
[...]
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos
pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam
fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades
de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior
benefício do regime geral de previdência social.

1
Cunha, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo / Leonardo Carneiro da Cunha. - 14. ed. rev., atual e ampl. -
Rio de Janeiro: Forense, 2017.

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É importante perceber o seguinte detalhe: pela regra apresentada pelo §4° do art. 100, cada um dos entes
poderá decidir, mediante leis próprias, qual será esse “pequeno valor”, determinante se a obrigação da
Fazenda será paga por precatório ou RPV. Caso o ente não edite norma determinando qual seria esse valor,
deve ser aplicado o que se encontra no art. 87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o famoso
ADCT:

Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação
oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100
da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignadas em precatório judiciário, que tenham valor
igual ou inferior a:
I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal;
I - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios.
Ou seja, no caso dos municípios, considerando o cenário de inexistência de lei que trate do assunto, serão
pagos por RPV os valores inferiores a 30 salários-mínimos, o que corresponde, em 2019, a,
aproximadamente, R$ 30.000,00. Valores acima, por conseguinte, serão pagos via precatório,
procedimento mais moroso e prejudicial ao credor.
Importante notar que, de acordo com o art. 535, § 4o, sendo a impugnação oferecida pela Fazenda Pública
apenas parcial, a parte não questionada pela executada (incontroversa) será, desde logo, objeto de
cumprimento, satisfazendo-se, ainda que parcialmente, a tutela executória. Assim, no processo de
cumprimento de sentença proposto por particular contra a Fazenda Pública, em caso de impugnação parcial
pelo ente público demandado, será possível a expedição de precatório/RPV da parte incontroversa na
execução.
Por fim, falemos da citação.
Como você já sabe, a citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para
integrar a relação processual (art. 238, CPC).
No que se refere às modalidades de citação, o CPC, no seu art. 246 indica que:

Art. 246. A citação será feita:


I - pelo correio;
II - por oficial de justiça;
III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório;
IV - por edital;
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.
§ 1º Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte, as empresas públicas e privadas são
obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de
citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio.
§ 2º O disposto no § 1º aplica-se à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da
administração indireta.

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[...]
À exceção do processo eletrônico, em que a regra será a citação por meio eletrônico, a regra será a citação
pelo correio. Contudo, essa possibilidade não é aplicável à Fazenda Pública, que não pode ser citada por
correio, nos termos do art. 247 do CPC. Portanto a citação da Fazenda Pública será feita por oficial de justiça
ou por meio eletrônico.
Depois dessa revisão, respondamos à questão.

Proposta de solução

De acordo com o Código de Processo Civil (CPC), o procedimento a ser adotado


é o cumprimento de sentença para impor à Fazenda Pública o dever de pagar quantia
certa. Ainda segundo o CPC, sendo iniciada a fase de cumprimento de sentença, a
Fazenda Pública será intimada na pessoa do seu representante judicial para, se quiser,
impugnar a execução em trinta dias. Para o início da fase de cumprimento de sentença, deve
o autor apresentar o demonstrativo discriminado e atualizado do crédito.

Os pagamentos realizados pela Fazenda Pública poderão ocorrer por precatório ou


requisição de pequeno valor (RPV), a depender do valor do pagamento devido. Ressalte-
se que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, o valor que balizará o pagamento
por precatório ou RPV é estabelecido por lei de cada ente político, segundo as diferentes
capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral
de previdência social. Consoante previsão contida no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, caso o município não tenha editado lei própria, serão considerados de pequeno
valor os débitos ou obrigações consignadas em precatório judiciário, que tenham valor igual ou
inferior a trinta salários-mínimos. Considerando não ter sido informado pelo caso em
apreço a existência de lei do referido município que disciplinasse o limite que legitima o
pagamento por RPV, aplicar-se-á o limite constitucional, o que implica o pagamento
da quantia de duzentos mil reais por precatório, caso ocorra.

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Ademais, as citações no CPC podem ocorrer por correio, por oficial de justiça, pelo
escrivão ou pelo chefe de secretaria (se o citando comparecer em cartório), por edital e por
meio eletrônico. Entre as prerrogativas processuais da Fazenda Pública, insere-se a
possibilidade de ser citada somente por oficial de justiça e por meio eletrônico. Contudo, é
importante asseverar que, no procedimento mencionado na situação hipotética, não é o caso
de citação, visto que a Fazenda Pública já se encontra integrada ao processo, e sim de
intimação, que será pessoal, por carga, remessa ou meio eletrônico.

Por fim, sobre os valores incontroversos, é possível recebê-los, uma vez que, segundo o
CPC, sendo a impugnação oferecida pela Fazenda Pública apenas parcial, a parte não
questionada pela executada será, de imediato, objeto de cumprimento. Assim, é viável a
expedição de precatório parcial da parcela não impugnada pelo referido município.

Tema 2
Funcionário público estadual, inconformado com o ato editado pelo Governador do estado, que o demitiu
do serviço público, intentou ação, sob o rito ordinário, em que pleiteava a sua invalidação, sob o fundamento
de que não cometera o ilícito funcional que lhe havia sido atribuído. A demanda foi distribuída à 1ª Vara de
Fazenda Pública da Comarca da Capital e recebeu juízo positivo de admissibilidade em 10 de agosto de 2018.
Antes da prolação de sentença, o mesmo servidor propôs nova ação, também sob o rito ordinário, na qual
alegou a existência de vícios formais no processo administrativo disciplinar que teriam importado no
cerceamento de seu direito de defesa, para postular, de igual modo, a desconstituição do ato demissório
editado em seu desfavor. A segunda ação foi distribuída à 3ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital
em 12 de setembro de 2018.
Com base nessa situação, responda aos seguintes questionamentos:
a) Qual a consequência processual diante da existência das ações judiciais mencionadas no caso?
Justifique.
b) Modificando a situação, qual a consequência processual caso a segunda demanda fosse veiculada por
meio de mandado de segurança apoiado nos mesmos fundamentos fático-jurídicos da primeira
demanda?
Observação: Considere que a Constituição Estadual estabeleceu a competência do originária do
Tribunal de Justiça para julgamento de Mandado de segurança contra ato do Governador.

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Abordagem teórica
1. Citação - prevenção
Conforme expõe o Código de Processo Civil, art. 54, a competência relativa poderá modificar-se pela
conexão ou pela continência. Tratam-se de causas de modificação de competência que implicam na
reunião de duas ou mais ações para julgamento conjunto, evitando-se, com isso, a prolação de decisões
conflitantes.
Serão conexas as ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir (art. 55, CPC).
No caso, ambas as ações tem como objeto a invalidação da decisão de demissão de servidor público,
cada qual alegando fundamento distinto para obtenção do bem da vida. Na primeira causa, alega-se a
negativa de autoria de fato atribuído ao referido servidor; na segunda, a existência de vícios formais no
processo administrativo disciplinar que culminou na demissão do referido servidor. Assim, como o pedido
das duas ações apresentadas é o mesmo, tem-se a conexão e, por isso, os processos serão reunidos para
decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado (art. 55, §1°, CPC), o que não ocorre no caso.
A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas
simultaneamente (art. 58, CPC), como forma de evitar decisões contraditórias. O juízo prevento será
definido pelo registro ou a distribuição da petição inicial. Desse modo, sempre que ações conexas
estejam tramitando em juízos diversos com a mesma competência territorial, considera-se prevento, ou
seja, competente para julgá-las, aquele em que ocorreu, primeiramente, o registro ou a distribuição da
inicial2, conforme teor do art. 59 do CPC.
A competência pode ser classificada como absoluta ou relativa. A primeira é definida segundo o interesse
público envolvido e é insuscetível de modificação pela vontade das partes. Já a segunda, é estabelecida por
um menor interesse público e por uma maior sujeição ao interesse das partes, portanto, passível de
modificação. A competência em razão da matéria, da pessoa e funcional é considerada absoluta. Já a
competência territorial é, em regra, relativa3, assim como a competência em relação ao valor da causa,
quando estabelecida em valor inferior ao limite legal.
No caso, o fato de a competência ter sido definida em razão da territorialidade, permite-nos classificá-la
como relativa e, portanto, passível de modificação. Assim, sempre que se observarem situações de conexão
e continência, a competência em razão do valor e do território (desde que relativa) poderá ser modificada.
Como visto, a competência determinada em razão da pessoa é absoluta e, portanto, inderrogável por
convenção das partes.

2
Importante destacar que a distinção entre registro e distribuição está diretamente relacionada ao funcionamento estrutural dos
órgãos jurisdicionais, pois, nas unidades de jurisdição em que somente um órgão esteja em atuação, as petições iniciais são
submetidas a registro (art. 284, CPC), enquanto que nas unidades em que há mais de um órgão jurisdicional, as iniciais são
distribuídas, de forma alternada e aleatória (art. 285, CPC).
3
Ressalve-se que a competência territorial nas ações coletivas é absoluta por expressa determinação legal.

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EXTRA 3

No caso de ajuizamento do mandado de segurança, sendo inquinada a pessoa do Governador do estado


como autoridade coatora, conforme informado pelo enunciado, será do Tribunal de Justiça local a
competência (absoluta) para julgamento. Por isso, sendo a competência funcional incabível de modificação,
a reunião dos processos será inviável nesse caso.
Bem, acredito terem sido esclarecidos todos os pontos. Vamos lá, pessoal!

Proposta de Solução
A consequência processual diante da existência das ações judiciais mencionadas no caso
hipotético é a conexão, causa de modificação de competência que implica na reunião de duas
ou mais ações para julgamento conjunto, evitando-se, com isso, a prolação de decisões
conflitantes. Segundo o Código de Processo Civil, serão conexas as ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
No caso, ambas as ações tem como objeto a invalidação da decisão de demissão de
servidor público, cada qual alegando fundamento distinto para obtenção do bem da vida.
Na primeira causa, alega-se a negativa de autoria de fato atribuído ao referido servidor; na
segunda, a existência de vícios formais no processo administrativo disciplinar que culminou
na demissão do referido servidor. Assim, como o pedido das duas ações apresentadas é o
mesmo, tem-se a conexão. A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo
prevento, definido pelo registro ou a distribuição da petição inicial. No caso, conclui-se ser
prevento o juízo da 1ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital, visto que
nele ocorreu, primeiramente, a distribuição da inicial, conforme datas mencionadas.
Outrossim, a competência pode ser classificada como absoluta ou relativa. A primeira
é definida segundo o interesse público envolvido e é insuscetível de modificação pela vontade
das partes. A segunda é estabelecida por um menor interesse público e por uma maior sujeição

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ao interesse das partes, portanto, passível de modificação. A competência em razão da pessoa


é considerada absoluta. Já a competência territorial é, em regra, relativa e, por isso, passível
de alteração por conexão.
Contudo, caso a segunda demanda fosse veiculada por meio de mandado de segurança
apoiado nos mesmos fundamentos fático-jurídicos da primeira demanda, o entendimento
seria diferente. Isso porque, sendo inquinada a pessoa do Governador do estado como
autoridade coatora, conforme informado pelo enunciado, será do Tribunal de Justiça local
a competência (absoluta) para julgamento. Por isso, sendo a competência funcional
incabível de modificação, a reunião dos processos será inviável nesse caso. Assim, as ações
tramitarão em separado.

Tema 3
FGV - Analista Judiciário (TJ RJ)/Execução de Mandados/2014/LVIII
Paula da Silva propôs uma demanda, pelo rito ordinário, para revisão de um contrato de compra e venda de
imóvel em face da Casa Fácil Ltda. Após a contestação, Paula da Silva sentiu a necessidade de obter
documentos referentes à causa que estão em poder do corretor João Gueiros, que não é parte do processo.
Responda:
(a) O que Paula da Silva pode fazer, sem ajuizar nova demanda, para conhecer o conteúdo dos mencionados
documentos em poder de João Gueiros?
(b) Qual a natureza jurídica da medida?
(c) Se a medida pleiteada por Paula da Silva for integralmente acolhida, cabe recurso? Que espécie de
recurso?
(d) Mantendo-se a decisão, que tipo de diligência deverá ser realizada pelo Executor de Mandados se João
Gueiros se recusar, sem justo motivo, a cumprir a ordem expedida?

Abordagem teórica
1. Exibição de Documento ou Coisa

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EXTRA 3

A exibição de documento ou coisa de que trata o CPC em seus arts. 396/404 diz respeito sempre ao
documento que esteja em posse de particulares e pressupõe que haja processo já em trâmite; é o caso da
questão em comento.
Os referidos artigos tratam sobre a ação de exibição de documento ou coisa ajuizado contra a parte ou
contra terceiro (alheio à relação jurídica processual), que é o caso dessa questão.
Respondendo ao primeiro ponto, não sendo o caso de ajuizamento de nova demanda, para conhecer o
conteúdo dos mencionados documentos em poder de João Gueiros, terceiro em relação ao processo, será
cabível uma ação de exibição de documento ou coisa. Transcrevo os dispositivos do CPC relativos a essa
matéria:

Art. 401. Quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz ordenará sua citação para
responder no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 402. Se o terceiro negar a obrigação de exibir ou a posse do documento ou da coisa, o juiz designará
audiência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como o das partes e, se necessário, o de testemunhas,
e em seguida proferirá decisão.
Art. 403. Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz ordenar-lhe-á que proceda
ao respectivo depósito em cartório ou em outro lugar designado, no prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao
requerente que o ressarça pelas despesas que tiver.
Parágrafo único. Se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se
necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de
multa e outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar a efetivação da decisão.
Art. 404. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa se:
I - concernente a negócios da própria vida da família;
II - sua apresentação puder violar dever de honra;
III - sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos
ou afins até o terceiro grau, ou lhes representar perigo de ação penal;
IV - sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar
segredo;
V - subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da
exibição;
VI - houver disposição legal que justifique a recusa da exibição.
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os incisos I a VI do caput disserem respeito a apenas uma
parcela do documento, a parte ou o terceiro exibirá a outra em cartório, para dela ser extraída cópia
reprográfica, de tudo sendo lavrado auto circunstanciado.
A depender da circunstância de o documento ou coisa estar em mãos da parte adversária ou de terceiro
particular, o procedimento a ser seguido será distinto, porque distinta será a natureza jurídica do instituto
em cada caso.

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Dirigindo-se contra a parte, será mero incidente processual; se contra terceiro, existirá verdadeira ação
incidental ou processo incidental, deflagrando uma nova relação jurídica processual, que passa a vincular o
requerente e o terceiro-requerido. O processo se resolve por sentença, impugnável por apelação.
De acordo com o parágrafo único do art. 403, transcorrido o prazo de cinco dias para depósito do
documento, o juiz expedirá mandado de apreensão, cumprida pelo executor de mandados, requisitando, se
necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e
outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a
efetivação da decisão.

Proposta de solução
Inicialmente, esclareça-se que Paula da Silva deve requerer, dentro do procedimento
ordinário, a exibição de documento ou coisa em face do corretor João. No caso, como João
Gueiros é terceiro em relação ao processo, o procedimento a ser adotado deve ser aquele previsto
nos arts. 401 a 403 Código de Processo Civil (CPC). Portanto, João Gueiros
será citado para em 15 dias responder ao pedido.

Ademais, a natureza jurídica da medida é a de ação incidental. Com efeito, a depender


da circunstância de o documento ou coisa estar em mãos da parte adversária ou de terceiro
particular, o procedimento a ser seguido será distinto, porque distinta será a natureza jurídica
do instituto em cada caso. Dirigindo-se contra a parte, será mero incidente processual; se
contra terceiro, existirá verdadeira ação incidental ou processo incidental, deflagrando uma
nova relação jurídica processual, que passa a vincular o requerente e o terceiro-requerido. O
processo se resolve por sentença, impugnável por apelação.
Finalmente, mantida a decisão, se João Gueiros se recusar, sem justo motivo, a
cumprir a ordem expedida, a diligência a ser realizada pelo Executor de Mandados é a
busca e apreensão, expedida pelo juiz competente.

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Tema 4
FGV - TJ AL -AJAJ - 2018
Três veículos automotores se envolveram em uma colisão: o veículo A, conduzido por seu proprietário
Antônio, o veículo B, conduzido por seu proprietário Bernardo, e o veículo C, de propriedade da Autoescola
Lua Brilhante e conduzido, na ocasião, pelo aluno Cláudio. Em razão da colisão, os três veículos sofreram
avarias, sem que os condutores tivessem se ferido. Convencido de que a responsabilidade pelo acidente foi,
em igual medida, do condutor Bernardo e do aluno Cláudio, Antônio, que, por força do acidente, deixou de
comparecer a uma entrevista de emprego, ajuizou demanda em que postulava a condenação de ambos a
lhe pagarem as verbas ressarcitórias dos danos materiais alegadamente sofridos, e bem assim as verbas
reparatórias dos danos morais que entendeu ter experimentado, requerendo, quanto a esse último pleito,
que o juiz arbitrasse o valor que reputasse adequado à hipótese. Analisando a petição inicial, concluiu o juiz
pela ilegitimidade passiva de Cláudio, determinando, de imediato, a sua exclusão do feito, embora tenha
ordenado a citação de Bernardo. O magistrado não designou a audiência prévia de conciliação, por reputá-
la, a priori, inviável. Regularmente citado, Bernardo ofertou contestação no prazo legal, além de promover
a denunciação da lide em relação à Autoescola Lua Brilhante, atribuindo-lhe a responsabilidade exclusiva
pelo acidente.
Nesse cenário, responda justificadamente:
a) Qual é a espécie da responsabilidade civil atribuída a Bernardo e a da imputada à Autoescola Lua
Brilhante? Qual a diferença entre elas?
b) Faz jus o autor à reparação de danos morais?
c) O não comparecimento de Antônio à entrevista de emprego teve o condão de lhe gerar algum dano
material?
d) Qual a natureza da decisão que excluiu do processo o réu Cláudio? Cabe recurso para impugná-la?
e) Agiu corretamente o magistrado ao proceder, de imediato, ao juízo positivo de admissibilidade da
demanda, no tocante ao réu Bernardo, tendo em vista o modo como foi formulado o pedido de reparação
dos danos morais? Qual a espécie de cumulação entre os pedidos formulados?
f) A denunciação da lide promovida pelo réu Bernardo foi medida processual adequada?

Abordagem teórica
1. Responsabilidade Civil
Comecemos pelo que prevê o art. 927 do Código Civil:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

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O parágrafo único do art. 927 trata da situação onde se desenvolve uma atividade de risco, qual seja, a que
ocorre “quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem”.
A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do
art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade (Enunciado
38 – CJF). Assim, por atividade de risco não se entende um ato isolado, e sim a série constante de atos que
impliquem um risco maior que o habitual. São critérios de avaliação desse risco, entre outros, a estatística,
a prova técnica e as máximas de experiência (Enunciado 448 – CJF).
Segundo Pablo Stolze, o exercício dessa atividade de risco pressupõe ainda a busca de determinado
proveito, em geral de natureza econômica, que surge em decorrência da atividade potencialmente danosa.
A autoescola desempenha atividade com finalidade lucrativa e com parcela considerável de risco embutido.
Esse risco não poderá ser transferido a terceiros, a menos que tenham concorrido exclusivamente pelos
danos ocorridos. Nesse caso, é possível falar em responsabilização objetiva, casos onde não se cogita a culpa
do agente para a reparação do dano.
No mais, não é forçoso lembrar que a responsabilidade subjetiva constitui a regra no ordenamento jurídico
pátrio. Segundo esta, para que o agente responda civilmente, é necessário que a comprovação da sua culpa
genérica, que envolve o dolo e a culpa sentido estrito (imperícia, imprudência e negligência). Essa é a
espécie de responsabilidade a que se submete Bernardo.
2. Danos Morais
Segundo a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, como regra geral, não é possível a caracterização de
dano moral in re ipsa (presumido, que independe de comprovação) nos casos de acidentes automobilísticos
sem vítimas, quando normalmente é discutida apenas eventual reparação por danos materiais. Para esse
tipo de indenização, é necessário comprovar circunstâncias que demonstrem o efetivo prejuízo
extrapatrimonial.
Segundo o relator, casos de acidente automobilístico sem vítima costumam não extrapolar a esfera
patrimonial e, por isso, ensejam apenas o pedido de indenização por danos materiais. Ainda ressaltou que,
embora a jurisprudência do STJ, em casos específicos, concluiu pela possibilidade de compensação de danos
morais independentemente da demonstração de dor, a caracterização do dano moral in re ipsa não pode
ser elastecida a ponto de afastar a necessidade de sua efetiva demonstração em qualquer situação.
Acompanhe o julgado mencionado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS DECORRENTES DE COLISÃO DE


VEÍCULOS. ACIDENTE SEM VÍTIMA. DANO MORAL IN RE IPSA.
AFASTAMENTO. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DE CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INVIABILIDADE EM RECURSO ESPECIAL. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. 1. O movimento de despatrimonialização do direito privado, que permitiu, antes mesmo da
existência de previsão legal, a compensação de dano moral não se compatibiliza com a vulgarização dos
danos extrapatrimoniais. 2. O dano moral in re ipsa reconhecido pela jurisprudência do STJ é aquele

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decorrente da prática de condutas lesivas aos direitos individuais ou perpetradas contra bens
personalíssimos. Precedentes.
3. Não caracteriza dano moral in re ipsa os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem
vítimas, os quais normalmente se resolvem por meio de reparação de danos patrimoniais. 4. A condenação
à compensação de danos morais, nesses casos, depende de comprovação de circunstâncias peculiares que
demonstrem o extrapolamento da esfera exclusivamente patrimonial, o que demanda exame de fatos e
provas.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1653413/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/06/2018,
DJe 08
3. Teoria da perda de uma chance
Quanto ao não comparecimento de Antônio à entrevista de emprego, pode-se invocar a teoria da perda de
uma chance, cuja a adoção é crescente na jurisprudência. Segundo esta teoria, se alguém, praticando um
ato ilícito, gera uma situação que faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter uma
vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos causados.
Esta teoria é aplicada pelo STJ que exige, no entanto, que o dano seja real, atual e certo, dentro de um juízo
de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da
responsabilidade civil, em regra, não é indenizável (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado
em 9/6/2009). Fala-se também na doutrina sobre a percepção de que a chance perdida deva ser séria ou
real.
Assim, no caso em tela, Antônio deve demonstrar que as chances de ser contratado eram elevadas, que
havia reais possibilidades de ser admitido no emprego ao qual pleiteava. Caso isso reste comprovado, é
juridicamente viável a indenização fundada na perda de uma chance.
4. Ilegitimidade passiva
No inciso VII do art. 1.015 do CPC há previsão de que caberá agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre a exclusão de litisconsorte.
Segundo a doutrina majoritária, a decisão que exclui um litisconsorte do processo, ainda que tenha
conteúdo de sentença terminativa (art. 485, VI, CPC) por não ter como efeito a extinção da fase de
conhecimento e nem do processo, é considerada uma decisão interlocutória, sendo recorrível por agravo de
instrumento e nos termos apresentados pelo aludido dispositivo.
Parte minoritária da doutrina entende que tal decisão tem natureza de sentença parcial.
5. Danos morais
Na vigência do CPC/1973, tornou-se comum a formulação de pedido genérico a título de indenização por
danos morais. Segundo GAJARDONI (2019, p. 31), o CPC/2015, parece afastar essa possibilidade, pois, além
de não a mencionar nos casos de pedido genérico (art. 324, §1°), traz disposição específica sobre o tema no
art. 292, V, do CPC:
Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:

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[...]
V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;
Nessa mesma linha, segundo Didier4 (2017, 656):

“Problema que merece cuidadosa análise é a do pedido genérico nas ações de reparação de dano moral: o
autor deve ou não quantificar o valor da indenização na petição inicial? A resposta é positiva: o pedido
nestas demandas deve ser certo e determinado, delimitando o autor quanto pretende receber como
ressarcimento pelos prejuízos morais que sofreu. Quem, além do próprio autor, poderia quantificar a "dor
moral" que alega ter sofrido? Como um sujeito estranho e por isso mesmo alheio a esta "dor'' poderia aferir
a sua existência, mensurar a sua extensão e quantificá-la em pecúnia? A função do magistrado é julgar se
o montante requerido pelo autor é ou não devido; não lhe cabe, sem uma provocação do demandante, dizer
quanto deve ser o montante. Ademais, se o autor pedir que o magistrado determine o valor da indenização,
não poderá recorrer da decisão que, por absurdo, a fixou em um real (R$1,00), pois o pedido teria sido
acolhido integralmente, não havendo como se cogitar interesse recursal.
O art. 292, V, CPC, parece ir por este caminho, ao impor como o valor da causa o valor do pedido nas ações
indenizatórias, "inclusive as fundadas em dano moral".
Somente é possível a iliquidez do pedido, nestas hipóteses, se o ato causador do dano puder repercutir,
ainda, no futuro, gerando outros danos (p. ex.: uma situação em que a lesão à moral é continuada, como
a inscrição indevida em arquivos de consumo ou a contínua ofensa à imagem); aplicar-se-ia, então, o inciso
II do § 1 º do art. 324, aqui comentado. Fora desta hipótese, incabível a formulação de pedido ilíquido.”
Assim, segundo o renomado autor, salvo em casos específicos (exemplo: ofensa à imagem por meio da
internet), em que não se pode, a priori, quantificar o dano, o pedido de danos morais deve ser certo.
Contudo, o assunto é alvo de grandes controvérsias. Luiz Guilherme Marinoni, Daniel Francisco Mitidiero e
Sérgio Cruz Arenhart afirmam:

“Ao referir expressamente à ação que visa a tutela reparatória por força da alegação de dano moral, o novo
Código pretende que o autor de fato aponte, sempre que possível, o valor que pretende a título de
indenização, nada obstante seja possível na hipótese a formulação de pedido genérico”.(Grifos nossos)
Assim, de acordo com esse entendimento, permanece, no processo civil brasileiro, a possibilidade de
formulação de pedido genérico. Parte da doutrina entende-se que, quando houver a determinação pelo
autor em relação aos danos morais, esse deve ser o valor da causa. Isso, no entanto, não exclui a formulação
de pedido genérico, no qual inexiste um “valor pretendido” determinado em relação aos danos morais.
Alinhada ao CPC/1973, a jurisprudência do STJ, na vigência do CPC antigo, admitia o pedido genérico de
danos morais5. Mesmo com a vigência do CPC/2015, parece-nos que esse entendimento não foi
radicalmente alterado. Acompanhe.
A 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento do Recurso Especial - REsp 1534559, decidiu
que na impossibilidade de se especificar o valor em ações indenizatórias por dano moral ou material, é
possível a formulação de pedido genérico de ressarcimento na petição inicial do processo, com atribuição

4
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, v. I.
5
REsp 777.219/RJ, 3ª Turma, DJ de 23/10/2006 e REsp 537.386/PR, 4ª Turma, DJ de 13/06/2005.

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de valor simbólico à causa. Todavia, o pedido não pode ser vago, a ponto de prejudicar a defesa do réu. Não
basta ao autor requerer “indenização por dano material”; é necessário que seu pedido contenha
especificações mínimas que permitam ao réu identificar corretamente a pretensão do autor e, além disso,
impugnar os elementos e critérios do cálculo a ser futuramente realizado, seja na fase de conhecimento ou
liquidação.
Assentou-se, ainda que, ausentes critérios legais de mensuração, caberá ao juiz o arbitramento do valor a
ser indenizado. Posteriormente, o valor estimado poderá ser adequado ao montante fixado na sentença ou
na fase de liquidação. Acompanhe o julgado:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. APLICAÇÃO DO CPC/1973. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANO MATERIAL E COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. COBRANÇAS INDEVIDAS. INSCRIÇÃO
EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. PEDIDO GENÉRICO. POSSIBILIDADE. INDIVIDUALIZAÇÃO DA
PRETENSÃO AUTORAL. VALOR DA CAUSA. QUANTIA SIMBÓLICA E PROVISÓRIA. 1. Ação ajuizada em
16/12/2013. Recurso especial interposto em 14/05/2014. Autos atribuídos a esta Relatora em 25/08/2016.
2. Aplicação do CPC/73, a teor do Enunciado Administrativo n. 2/STJ. 3. É pacífica a jurisprudência desta
Corte quanto à possibilidade de formulação de pedido genérico de compensação por dano moral, cujo
arbitramento compete exclusivamente ao juiz, mediante o seu prudente arbítrio. 4. Na hipótese em que for
extremamente difícil a imediata mensuração do quantum devido a título de dano material - por depender
de complexos cálculos contábeis -, admite-se a formulação de pedido genérico, desde que a pretensão
autoral esteja corretamente individualizada, constando na inicial elementos que permitam, no decorrer do
processo, a adequada quantificação do prejuízo patrimonial. 5. Em se tratando de pedido genérico, o valor
da causa pode ser estimado em quantia simbólica e provisória, passível de posterior adequação ao valor
apurado na sentença ou no procedimento de liquidação. 6. Recurso especial parcialmente provido.
A análise do cabimento do pedido genérico caberá ao juiz, face às informações apresentadas pelo autor na
inicial, observando-se a necessidade de justificar adequadamente os fundamentos da decisão adotada.
Considerada a necessidade de estimação do pedido, o juiz deverá considerar a inépcia da inicial (art. 330,
§1°, II, do CPC) e determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando
com precisão o que deve ser corrigido ou completado (art. 321, caput, CPC). Não considerada, poderá o
próprio juiz atribuir valor à causa.
A espécie de cumulação dos pedidos formados é a cumulação própria, caracterizada pela formulação de
vários pedidos, pretendendo-se o acolhimento simultâneo de todos eles.
6. Denunciação à lide
No caso, é inoportuna a denunciação à lide, haja vista não haver entre Bernardo e a autoescola relação de
garantia prestada ou direito regressivo existente daquele em face desta. Também não será o caso de
chamamento ao processo, pois Bernardo não pleiteia a solidariedade, mas sim a responsabilidade exclusiva
da auto escola.
No caso, o que se arguiu foi a ilegitimidade passiva ad causam, prevista nos arts. 338 e 339, e que substituiu
a extinta nomeação à autoria prevista no CPC/1973. As suas regras são as seguintes:

Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo
invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do
réu.

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Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao


procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este
irrisório, nos termos do art. 85, § 8º .
Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica
discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o
autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.
§ 1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial
para a substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338 .
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como
litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu.
Tratando-se de ilegitimidade passiva, Bernardo deve indicar o responsável pela reparação do dano e
requerer sua posterior exclusão da lide.
Feita essa revisão, acredito que tenhamos visto os principais pontos necessários à resolução da questão.
Mãos à obra.

Proposta de Solução
A espécie da responsabilidade civil atribuída a Bernardo é subjetiva, regra no
ordenamento jurídico pátrio. Para que seja devida a indenização, é necessário que respe
comprovada a sua culpa em sentido amplo pelos prejuízos causados a terceiros. Por sua vez,
imputada à Autoescola Lua Brilhante é objetiva, fundada no risco da atividade
desempenhada com fins lucrativos.

Outrossim, segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ), regra geral, não é


possível a caracterização de dano moral “in re ipsa” nos casos de acidentes automobilísticos
sem vítimas. Assim, para que faça jus à indenização, cabe ao autor comprovar as
circunstâncias que demonstrem o efetivo prejuízo extrapatrimonial.

Além disso, o não comparecimento de Antônio à entrevista de emprego poderá gerar


algum dano material, fundado na teoria da perda de uma chance. Contudo, é necessário que

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se demonstre que o dano seja real, atual e certo, o que corresponde, no caso, a concretas
possibilidades de que viesse a ser contratado.
Frise-se que, segundo a doutrina mojoritária, a decisão que exclui um litisconsorte do
processo, ainda que tenha conteúdo de sentença terminativa por não ter como efeito a extinção
da fase de conhecimento e nem do processo, é considerada uma decisão interlocutória, sendo
recorrível por agravo de instrumento.
Fundamentado em entendimento doutrinário, a qual interpreta que, diante da previsão
de que o valor da causa expressará o valor do dano moral pretendido pelo autor, considera-se
incorreta a atitude do magistrado ao proceder, de imediato, ao juízo positivo de admissibilidade
da demanda, para o réu Bernardo. Isso porque, o pedido apresentado foi genérico, sem
quantificar o dano moral sofrido. Ressalte-se, contudo, haver parte da doutrina e decisão
recente do STJ que consideram, mesmo após vigência do novo Código de Processo Civil,
a possibilidade da formulação de pedido genérico para a indenização de danos morais. A
espécie dos pedidos formados é a cumulação própria e simples, caracterizada pela formulação
de vários pedidos, pretendendo-se o acolhimento simultâneo de todos eles.

Por fim, a denunciação da lide promovida pelo réu Bernardo foi medida processual
inadequada, haja vista não haver entre este e a autoescola relação de garantia prestada ou
direito regressivo existente daquele em face desta. O correto seria que Bernardo apenas
indicasse o responsável por reparar o dano e requeresse sua exclusão da lide.

Tema 5 – Improbidade

CEBRASPE (CESPE) - Procurador do Estado de Sergipe/2017

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No que concerne à ação de improbidade administrativa, redija um texto dissertativo que responda, de
forma fundamentada e de acordo com a Lei nº 14.230/2021 e com a jurisprudência atual do STJ, no que
couber, aos seguintes questionamentos.
1. A sentença de improcedência se submete ao regime de remessa necessária? [valor: 7,00 pontos]
2. Pode ser considerada válida a sentença condenatória prolatada em processo se não tiver ocorrido a
notificação do acusado para a apresentação de defesa preliminar prevista em lei? [valor: 7,25 pontos]
3. No recebimento da petição inicial de ação de improbidade administrativa aplica-se o princípio in dubio
pro societate?

Abordagem teórica

1. Remessa necessária
O CPC de 2015 adotou o termo remessa necessária, que também pode ser chamada de reexame
necessário, remessa obrigatória ou duplo grau de jurisdição obrigatório. Trata-se de instituto previsto no
art. 496 do CPC/2015 e em algumas leis esparsas:

Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e
fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos
autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1°, o tribunal julgará a remessa necessária.
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for
de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e
fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de
direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência;

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IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente
público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

Assim, segundo esse artigo, caso a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância seja contrária à Fazenda
Pública ou julgue procedentes os embargos do devedor na execução fiscal (decisão também desfavorável à
Fazenda Pública), essa sentença será objeto de reexame em um tribunal de 2º grau, mesmo que a Fazenda
Pública não recorra. A produção de efeitos da sentença depende de confirmação da sentença pelo Tribunal.
Prosseguindo no estudo desse artigo, vê-se que os §§ 3° e 4° apresentam situações que excepcionam a
remessa necessária, mesmo que a sentença se amolde às circunstâncias evidenciadas anteriormente.
Vimos aqui a remessa necessária em favor da Fazenda Pública. Numa lógica inversa, o art. 19 da Lei de Ação
Popular (Lei nº 4.171/1965) dispõe que se o juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação
popular, essa sentença estará sujeita ao reexame necessário:

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de
jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente
caberá apelação, com efeito suspensivo.
Assim, quando improcedente a ação popular, ou seja, quando o cidadão é parte vencida, a demanda será
necessariamente examinada por um tribunal de 2° grau, ainda que ele não recorra.
Introduzido o tema, sigamos.
A primeira parte da questão versa sobre a possibilidade de aplicação do referido instituto nas ações de
improbidade administrativa. A jurisprudência dominante no âmbito do STJ é a de que seria é cabível o
reexame necessário em ação de improbidade administrativa, independentemente do valor atribuído à
causa. O entendimento se fundamenta na aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (vide art. 496
do CPC/2015) e na aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/1965. (EREsp 1220667/MG,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 30/6/2017.)
Contudo, a reforma da LIA veio em sentido contrário ao entendimento da jurisprudência. Confira os
dispositivos:

Art. 17
[...]
§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
[...]
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
[...]
Art. 17-C
[...]
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)

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Assim, de acordo com a reforma da LIA, não se aplica a regra do duplo grau de jurisdição obrigatório nas
ações de improbidade administrativa.
2. Defesa preliminar

Quanto à notificação do acusado, existia o seguinte dispositivo na LIA (§7°, do art. 17, da Lei 8.429/1992.

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
[...]
§ 7° Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para
oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo
de quinze dias.
Percebam que o referido parágrafo criava uma fase preliminar no respectivo processo, pois antes do
recebimento da ação, o juiz deve determinar a notificação dos réus para que se manifestem acerca dos fatos
imputados. Somente após tal diligência, poderia ocorrer o recebimento da ação e a citação dos réus para
que ofereçam contestação.
Com base nisso, surgiu a dúvida se poderia ser considerada válida a sentença condenatória prolatada em
processo se não tiver ocorrido a referida notificação, antes do recebimento da petição inicial pelo juiz?
Segundo o STJ, nos casos em que não for realizada a notificação do acusado para apresentação de defesa
preliminar, a nulidade será relativa. Apesar de constituir fase obrigatória do procedimento especial da ação
de improbidade administrativa (e evitar ações temerárias), a inobservância da fase preliminar não acarreta
necessariamente a nulidade de todo o processo.
Assim, a declaração de nulidade depende da efetiva comprovação de prejuízo ao réu condenado, e o
processo não deve ser anulado se a sentença tiver sido dada em processo em que tenha havido regular
instrução probatória com plena observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório após o
recebimento da inicial. (EREsp 1008632/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção,
julgado em 11/2/2015, DJe 9/3/2015). A tese firmada foi a seguinte:

A ausência da notificação do réu para a defesa prévia, prevista no artigo 17, parágrafo 7º, da Lei de
Improbidade Administrativa, só acarreta nulidade processual se houver comprovado prejuízo (pas de nullité
sans grief).

Isso tudo era antes da reforma da LIA. Com a revogação do art. 17, §7º, foi suprimida essa oportunidade
preliminar, de sorte que, uma vez examinada a ação proposta, caso o juiz decida que houve possível ato de
improbidade, ele irá receber a ação e determinará a citação do acusado, para que ele ofereça sua
contestação no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art. 231 do Código de Processo
Civil. Não existe mais a previsão de defesa prévia. Se a petição iniciar estiver em devida forma, o requerido
já é citado para contestar.
3. In dubio pro societate
Tratemos sobre a petição inicial de ação de improbidade administrativa e o in dubio pro societate.

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A LIA, antes da reforma, estabelecia que, estando a inicial em devida forma, o juiz ordenava a notificação
do requerido, para, em 15 dias, apresentar defesa prévia. Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de 30
dias, em decisão fundamentada, recebia a inicial ou rejeitava a ação.
Inclusive, o STJ possui vários julgados afirmando que, se o juiz entender que há meros indícios do
cometimento de atos enquadrados como improbidade administrativa, a petição inicial da ação
de improbidade deve ser recebida. Isso porque, segundo o STJ, nessa fase inicial prevalece o princípio
do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público. Veja:

A presença de indícios de cometimento de atos ímprobos autoriza o recebimento fundamentado da petição


inicial nos termos do art. 17, §§ 7º, 8º e 9º, da Lei n. 8.429/92, devendo prevalecer, no juízo preliminar, o
princípio do in dubio pro societate.
AgRg no AREsp 604949/RS,Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/05/2015,DJE 21/05/2015
Consoante orientação sedimentada nesta Corte, na fase de recebimento da inicial da ação civil pública de
improbidade administrativa, basta a demonstração de indícios da prática de ato ímprobo, ou,
fundamentadamente, as razões de sua não apresentação, em observância ao princípio do in dubio pro
societate.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1761220/PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 11/10/2021.

Num julgado bem recente, o STJ reafirmou o seu entendimento e acrescentou um novo elemento à
discussão. Segundo o STJ:

A decisão de recebimento da petição inicial da ação de improbidade não pode limitar-se ao fundamento
de in dubio pro societate.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.570.000-RN, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em
28/09/2021 (Info 711).

Assim, a decisão de recebimento da inicial da ação de improbidade não pode limitar-se à invocação do in
dubio pro societate, devendo, antes, ao menos, tecer comentários sobre os elementos indiciários e a causa
de pedir, ao mesmo tempo que, para a rejeição, deve bem delinear a situação fático-probatória que lastreia
os motivos de convicção externados pelo órgão judicial.
Nessa linha, segundo CAVALCANTE6:

A decisão de recebimento da petição inicial, incluída a hipótese de rejeição, deve ser adequada e
especificamente motivada pelo magistrado, com base na análise dos elementos indiciários apresentados,
em cotejo com a causa de pedir delineada pelo Ministério Público.
Assim, na decisão de recebimento da inicial da ação de improbidade o juiz não pode se limitar a invocar o
princípio do in dubio pro societate. Ele deve, antes disso, pelo menos, tecer comentários sobre os elementos

6
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A decisão de recebimento da petição inicial da ação de improbidade não pode limitar-se
ao fundamento de in dubio pro societate. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b7c0c7d6ce233d0fe18625ea3cd5bdb1>. Acesso em:
23/03/2022.

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indiciários e a causa de pedir. Logo, a decisão não pode se limitar a dizer: com base no princípio do in dubio
pro societate, recebo a Inicial.
Cuidado. Não se pode dizer que, neste julgado (REsp 1.570.000-RN), o STJ tenha abandonado a adoção do
princípio do in dubio pro societate nas ações de improbidade. Ao contrário. Esse princípio foi reafirmado. O
que o STJ fez, contudo, foi dizer que não basta que o juiz, na decisão de recebimento, faça a invocação
genérica do princípio. Nas palavras do STJ, o magistrado, para receber a Inicial, deverá “tecer comentários
sobre os elementos indiciários e a causa de pedir”.
O in dubio pro societate ainda existe nas ações de improbidade após a Lei nº 14.320/2021?
O julgado não tratou sobre o tema, até mesmo porque foi prolatado antes da publicação da nova Lei.
Contudo, penso que sim.
O § 6º-B do art. 17, da LIA, inserido pela Lei nº 14.230/2021, prevê que a petição inicial será rejeitada
“quando manifestamente inexistente o ato de improbidade imputado”, nos casos do art. 330 do CPC e
quando não preenchidos os requisitos do § 6º do art. 17 da LIA.
Desse modo, a nova redação assemelha-se com o revogado § 8º do art. 17, não havendo razões para se
acreditar que o STJ mudará seu entendimento unicamente pela novidade legislativa.

Para que possámos fechar esse tópico, colaciono os dispositivos da nova LIA relacionados ao tema:

§ 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - Deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elementos probatórios mínimos que demonstrem a
ocorrência das hipóteses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade devidamente
fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - Será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da veracidade dos
fatos e do dolo imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer
dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
de Processo Civil), bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem os incisos I e II do § 6º
deste artigo, ou ainda quando manifestamente inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos
para que a contestem no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art. 231 do CPC.

Depois dessa "breve" revisão, acredito que temos todas as informações necessárias à resolução da questão.
Vamos a ela!

Proposta de solução

O instituto da remessa necessária condiciona a produção de efeitos da sentença à sua


confirmação pelo tribunal, em situações especificamente previstas no ordenamento jurídico

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pátrio. Atualmente, as alterações promovidas pela Lei 14.230/2021 na Lei de


Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992) fizeram constar expressamente
a previsão de não aplicabilidade na ação de improbidade administrativa do reexame
obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito, bem como
da remessa necessária nas sentenças de que trata a referida lei. Por fim, essa disposição vai
de encontro ao entendimento jurisprudencial no âmbito do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), emanado antes da reforma da Lei 8.429/1922, acerca do cabimento do
reexame necessário em ação de improbidade, independentemente do valor atribuído à causa.

Acerca da validade da sentença condenatória prolatada em processo se não tiver


ocorrido a notificação do acusado para a apresentação de defesa preliminar, a Lei
14.230/2021 também estabeleceu norma que colide com o entendimento
jurisprudencial até então prevalecente. Segundo o STJ, poderia ser considerada válida a
sentença condenatória prolatada em processo se não tiver ocorrido a notificação do acusado
para a apresentação de defesa preliminar prevista em lei, desde que não houvesse prejuízo ao
réu. Contudo, a reforma da Lei 8.429/1992 eliminou o instrumento da defesa
preliminar, de sorte que, se a petição iniciar estiver em devida forma, o requerido já é citado
para contestar. Assim, a discussão sobre a possibilidade de se superar vício na notificação
para apresentação de defesa preliminar perdeu o sentido, haja vista que ela não existe mais.

Por fim, segundo o STJ, para o recebimento da petição inicial referente aos atos de
improbidade, vale o princípio do “in dubio pro societate”. Contudo, essa decisão não pode ter
esse como seu único fundamento, devendo, antes, ao menos, tecer comentários sobre os
elementos indiciários e a causa de pedir, ao mesmo tempo que, para a rejeição, deve bem
delinear a situação fático-probatória que lastreia os motivos de convicção externados pelo órgão
judicial. Nesse sentido, a dispôs a Lei 14.230/2021 que a petição inicial será

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rejeitada quando: não individualizar a conduta do réu e não apontar os elementos probatórios
mínimos que demonstrem a ocorrência dos atos de improbidade e de sua autoria; não seja
instruída com documentos ou justificação que evidenciem indícios suficientes da veracidade dos
fatos e do dolo imputado; ou ainda quando manifestamente inexistente o ato de improbidade
imputado.

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