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Aula 11

Promotoria - Rodadas Regulares - 2022

Autor:
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas

26 de Junho de 2022
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Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4

1.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................ 4

1.1.1 - Poder Judiciário ..................................................................................................................................................... 4

1.1.2 - Organização do Estado ......................................................................................................................................... 5

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 6

1.2.1 - Controle Da Administração Pública ....................................................................................................................... 6

1.2.2 - Bens Públicos ....................................................................................................................................................... 12

1.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 16

1.3.1 - Constitucionalização do Direito Civil ................................................................................................................... 16

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 17

1.4.1 - As decisões interlocutórias no Novo Código de Processo Civil e no CPC/1973................................................... 17

1.4.2 - O pressuposto de admissibilidade da repercussão geral no Recurso Extraordinário ......................................... 19

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 21

1.5.1 - Estelionato – Depósito na Conta de Terceiro ...................................................................................................... 21

1.5.2 - Inimputabilidade e Medida de Segurança ........................................................................................................... 22

1.5.3 - Prescrição Penal e Indenização Cível ................................................................................................................... 22

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 23

1.6.1 - A (In)Aplicabilidade Do Princípio In Dubio Pro Societate Na Primeira Fase Do Tribunal Do Júri ......................... 23

1.6.2 - O Juiz E As Cautelares No Processo Penal Brasileiro ........................................................................................... 26

1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 32

1.7.1 - Entendimento atual do STJ acerca do não cumprimento das condições do regime aberto e a impossibilidade
de cômputo de pena cumprida ...................................................................................................................................... 32

1.7.2 - O crime de captação ilícita de sufrágio – artigo 41-A, da Lei n.º 9.504/97 ......................................................... 35

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 38

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1.8.1 - Ação De Impugnação Ao Pedido De Registro De Candidatura ............................................................................ 38

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 38

1.9.1 - Atribuições do Ministério Público no ECA ........................................................................................................... 38

1.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 41

1.10.1 - Preferência do Crédito Tributário na Falência .................................................................................................. 41

1.11 – Direito Processual Coletivo ................................................................................................................ 46

1.11.1 - Legitimidade do Ministério Público do Trabalho nas demandas coletivas ....................................................... 46

1.11.2 - Legitimidade do Ministério Público Militar nas demandas coletivas ................................................................ 47

1.12 - Direito Material Coletivo .................................................................................................................... 48

1.12.1 - Teses recentes do Superior Tribunal de Justiça ................................................................................................ 48

1.12.2 - Litígios transindividuais globais, locais e irradiados (classificação de direitos coletivos por Edilson Vitorelli) . 48

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 51

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 51

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 56

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 61

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 64

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 72

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 82

2.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 86

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 91

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 92

2.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 94

2.11 - Direito Processual Coletivo................................................................................................................. 96

2.12 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................. 101

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3 - Questões Discursivas................................................................................................................................. 105

3.1 - Direito Constitucional ......................................................................................................................... 106

3.2 - Direito Administrativo ........................................................................................................................ 107

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 113

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 115

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 118

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 122

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 125

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 128

3.9 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 128

3.10 – Direito da Criança e do Adolescente ............................................................................................... 129

3.11 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................. 130

3.12 – Direito Processual Coletivo .............................................................................................................. 134

4 – Peça Prática .............................................................................................................................................. 135

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RODADA 11 – PROMOTORIA
1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL

1.1.1 - Poder Judiciário

Definição

O Poder Judiciário nacional, exercitado por Tribunais e Juízos, é descrito como complexo de órgãos
devotados ao exercício prevalecente da função jurisdicional, que conjuga o Supremo Tribunal Federal e
Superior Tribunal de Justiça, bem como as Justiças federais e estaduais, comuns e especializadas, sob o
controle finalístico de organismo autônomo (LESSA, Pedro. Do Poder Judiciário. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1951, p. 33).

Estrutura

A organização judiciária é dividida em dois planos de análise, a partir do Supremo Tribunal Federal e
Superior Tribunal de Justiça, reunidos sob a expressão “organismos de superposição” (LISBOA, Gilmar
Aprígio. Organização Judiciária. Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 13).

Com referência à natureza dos órgãos judiciais, há a diferenciação entre Justiça Federal e Justiça Estadual.
Aquela é composta pelos órgãos jurisdicionais integrados no ordenamento normativo federal, encerrando
a Justiça Federal Comum, Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar Federal. Esta é constituída
pelos órgãos jurisdicionais integrados no ordenamento normativo estadual, englobando a Justiça Estadual
Comum e Justiça Militar Estadual.

Com relação à competência dos órgãos judiciais, há a distinção entre Justiça Especializada e Justiça
Comum. Uma é dispersada entre órgãos jurisdicionais com competência reservada a matéria determinada,
formada pela

Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça Militar Federal e Justiça Militar Estadual. Outra é distribuída
entre órgãos jurisdicionais com competência residual, formalizada pela Justiça Federal Comum e Justiça
Estadual Comum.

Funcionamento

De acordo com a Emenda Constitucional nº 45/04, que procedeu à Reforma do Poder Judiciário, é dotado o
Conselho Nacional de Justiça de atribuição para o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes (OSÓRIO, Fábio Medina. Conselho Nacional
de Justiça. Revista de Direito Administrativo, nº 221, 2000, p. 95).

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O Conselho Nacional de Justiça, formado por 15 membros com mais de 35 e menos de 66 anos de idade,
com mandato de dois anos, admitida, exceto para o Presidente, uma recondução, sendo um Ministro do
Supremo Tribunal Federal, um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, um Ministro do Tribunal Superior
do Trabalho, um Juiz de Tribunal Regional Federal, um Juiz de Tribunal Regional do Trabalho, um
Desembargador de Tribunal de Justiça, um Juiz Federal, um Juiz do Trabalho e um Juiz de Direito, definidos
pelos órgãos judiciários aos quais estão vinculados, ou não, um membro do Ministério Público da União e
um membro de Ministério Público Estadual, denominados pelo Procurador-Geral da República, dois
advogados, deliberados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e dois cidadãos, de
notável saber jurídico e reputação ilibada, designados pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, por
escolha paritária.

O Conselho Nacional de Justiça é subdividido em Plenário, Presidência,

Corregedoria Nacional de Justiça, Comissões, Secretaria-Geral, Departamentos de Pesquisas Judiciárias, de


Monitoramento e Fiscalização dos Sistemas Carcerário e de Execução de Medidas Socioeducativas e
Ouvidoria.

1.1.2 - Organização do Estado

Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e
Professor do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Constitucional, vamos discutir um
assunto relevante, que provavelmente será explorado em prova objetiva ou dissertativa do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios: a organização do Estado.

Tema Específico 1: Definição

A federação é conceituada como forma de estado, singularizada pela existência de duas espécies de ordens
jurídicas, a federal, imanente ao poder central, e as federadas, inerentes aos poderes regionais e locais,
recobertos pelos atributos da soberania e autonomia.

Tema Específico 2: Características

A constituição da federação requer:

(i) a união de entidades políticas autônomas, simbolizada pelo vínculo indissolúvel entre os entes
federativos, revestidos de auto-organização, autogoverno e autoadministração;
(ii) o bicameralismo, de maneira a possibilitar a participação da vontade parcial (regional) na
formação da vontade geral (nacional),
(iii) a repartição constitucional de competências.
Nessa ordem de ideias, a competência é definida como medida do poder político do Estado federal, de
sorte que as matérias de prevalecente interesse nacional, regional e local tocam à União, Estados e
Municípios, respectivamente, a teor do princípio da predominância do interesse entre as entidades
federativas.

A repartição de competências no Direito Constitucional brasileiro é desmembrada em dois planos


espaciais.

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A repartição de competências em plano horizontal implica a compartimentação do poder político no


Estado federal, pela disseminação de matérias distintas entre as entidades federativas, encerrando as
competências exclusiva e privativa de cada unidade da federação. Em outras palavras: a competência
exclusiva é indelegável, enquanto que a competência privativa é delegável a outro ente estatal, uma vez
satisfeitas todas as condições ao deslocamento da competência federativa do delegante para o
delegatário.

A repartição de competências em plano vertical importa o compartilhamento do poder político no Estado


federal, pela distribuição de matérias idênticas entre as entidades federativas, englobando as
competências comum e concorrente entre todas as unidades da federação. Em outros termos: a
competência comum é cumulativa, pois as atividades dos poderes nacional, regional e local não são
excludentes, ou seja, a atuação de um ente federado pode ser adicionada à de outro, enquanto que a
competência concorrente não é cumulativa entre as entidades políticas, ou melhor, a atividade de um ente
federativo deve ser subtraída pela de outro, porque a atuação do poder nacional exclui a atividade
supletiva dos poderes regional e local na elaboração de normas gerais – princípios que incidem
uniformemente no território nacional –, cabendo aos Estados, Distrito Federal e Municípios complementá-
las, mediante a elaboração de normas específicas – regras que objetivam adaptar os princípios às
necessidades e particularidades regionais e locais.

Em resumo, o art. 21 enumera a competência exclusiva da União, ao passo que o art. 22 expressa a
competência privativa da União, como também o art. 23 firma a competência comum da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, à proporção que o art. 24 fixa a competência concorrente entre a União,
Estados e Distrito Federal ou, de outra forma, as competências administrativas estão consagradas nos arts.
21 e 23, enquanto que as competências legislativas estão consubstanciadas nos arts. 22 e 24, todos da
Constituição da República.

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO

1.2.1 - Controle Da Administração Pública

CONTROLE LEGISLATIVO

O controle legislativo é o controle realizado pelo Poder Legislativo, consistente na fiscalização política e
financeira da Administração Pública.

Espécies de Controle Legislativo

a) Controle Político

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O controle político é aquele que possibilita a fiscalização dos “atos ligados à função administrativa e de
organização do Executivo e do Judiciário”.1

A Constituição da República estabelece vários tipos de exteriorização do controle político. O art. 49 da


carta constitucional elencou alguns casos em que o Congresso Nacional pode realizar o controle político.
Para ilustrar o que aqui se diz, pode-se dar como exemplo o art. 49, III (autorização para o Presidente da
República ausentar-se do país) e X (fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo), ambos da CR/88.

Importante forma de controle realizado por qualquer uma casas legislativas ou suas comissões é o poder
convocatório. O que se quer dizer com este poder é a possibilidade de convocação de Ministro de Estado
ou autoridades ligadas diretamente à Presidência da República para realizarem depoimento sobre assunto
previamente determinado, nos termos do art. 50, caput da CR/88. Sobre esse comparecimento, importante
observar o que leciona o art. 50, § 2º da CR/88, que estabelece como crime de responsabilidade a sua
recusa ou o não comparecimento.

Outra importante forma de controle é o previsto no art. 49, V da CR/88, o qual estabelece a possibilidade
do Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.

b) Controle Financeiro

Nas palavras de Carvalho Filho, “controle financeiro é aquele exercido pelo Poder Legislativo sobre o
Executivo, o Judiciário e sobre sua própria administração no que se refere à receita, à despesa e à gestão
dos recursos públicos”.2

Como bem apontado, o controle financeiro do Poder Legislativo pode ser interno, quando realiza o
controle de suas próprias contas, bem como pode ser um controle externo, quando realiza o controle das
contas do Judiciário e do Executivo.

Tribunal de Contas

O Tribunal de Contas da União é o órgão auxiliar do Congresso Nacional que tem a função constitucional de
auxiliar o controle financeiro externo da Administração Pública, nos termos dos arts. 70 e 71 da CR/88.
Importante o texto constitucional presente no artigo 71, o qual assim estabelece que o controle externo, a
cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União.

1
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p. 1002.

2
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p.1003.

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Prestará contas ao Tribunal de Contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio
de pessoal e jurisdição em todo o território nacional.

Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os
seguintes requisitos:

I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;

II - idoneidade moral e reputação ilibada;

III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração


pública;

IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os
conhecimentos mencionados no inciso anterior.

Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:

I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois
alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados
em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento;

II - dois terços pelo Congresso Nacional.

Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos,


vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à
aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40 da Constituição.

O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e impedimentos do titular e,


quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal.

Importante observar que as normas previstas nos arts. 70 a 74 são aplicáveis ao TCU. Contudo, sabiamente
o art. 75 possibilitou que as normas elencadas para o TCU irão ser aplicáveis para os TCE’s e TCM’s, onde
estes existirem.

Competências em Espécies

O Art. 71 traz várias competências do Tribunal de Contas da União. Faz-se importante o estudo de algumas
dessas competências. Veja:

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Art. 71, I – É a chamada competência opinativa. Em relação ao Presidente da República, o TCU


vai apenas apreciar as suas contas, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em 60
dias a contar do recebimento das contas.

Art. 71, II – Diferente, as demais autoridades o TCU tem a competência para julgar as suas
contas.

Atente-se que o TCU exerce uma função não judicial quando julga as contas dos administradores e demais
responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos, nos processos de tomada e prestação de contas anual.

Art. 71, III – Trata do registro dos atos admissão de pessoal, bem como a das concessões de
aposentadoria, reformas e pensões. Observe que o Tribunal de Contas não irá realizar o registro
das nomeações para cargos em comissão.

Art. 71, IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de
Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

Art. 71, V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a
União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

Art. 71, VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município;

Art. 71, VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
realizadas;

Art. 71, VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de
contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
proporcional ao dano causado ao erário;

Art. 71 - IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade.

Art. 71 - X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à


Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.

Em relação a esta competência deve-se observar que o Tribunal de Contas tem o Poder Cautelar, isto é,
pode o Tribunal agir antes da atuação do órgão ou entidade responsável do ato, para que não haja
perecimento de um direito. Ex.: Faltam 2 dias para a celebração de um contrato licitatório superfaturado. O
Tribunal de Contas pode suspender a licitação.

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Por fim, cabe ressaltar o que está legislado no art. 71, § 1º a 3º da CR/88. No caso de contrato, o ato de
sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder
Executivo as medidas cabíveis.

Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas
no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

Art. 71, XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

Por fim, veja que as decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de
título executivo.

Tribunais de Contas e Municípios

A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e
pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal.

O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados
ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar,
só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

CONTROLE JUDICIAL

Controle Judicial é a fiscalização feita pelo Poder Judiciário dos atos praticados pela Administração Pública.

a) Sistemas de Controle

Sistema do Contencioso Administrativo

O sistema do contencioso administrativo é também chamado de sistema de dualidade de jurisdição.


Consiste na existência de uma justiça administrativa, ao lado do Poder Judiciário. É um sistema idealizado
pelos franceses.

Observe que, de acordo com esse sistema de controle, as decisões da justiça administrativa não podem ser
revistas pela justiça judiciária. De acordo com o Carvalho Filho “a jurisdição é dual na medida em que a

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função jurisdicional é exercida naturalmente por duas estruturas orgânicas independentes – Justiça
Judiciária e a Justiça Administrativa.”3

Importante observar que a Justiça Administrativa é a competente para julgar causas que envolvam o Poder
Público, tais como a invalidação e a interpretação de atos administrativos.

b) Sistema de Unidade de Jurisdição

Este sistema é também chamado de sistema do monopólio de jurisdição ou sistema inglês. Observe que, de
acordo com esse sistema, todo e qualquer litígio estará sujeito à análise e decisão de uma única justiça,
qual seja o Poder Judiciário.

Esse é o sistema adotado pelo ordenamento brasileiro.

c) Natureza

O controle judicial sobre atos da Administração Pública é um controle de legalidade, exclusivamente. Em


outras palavras, o Poder Judiciário deve realizar o confronto do ato com as leis, a Constituição e os
princípios do direito.

É vedado ao Judiciário analisar o mérito do ato administrativo. Realizar a valoração de oportunidade e


conveniência são privativos do Administrador público. Isto se justifica em razão da repartição de poderes,
prevista no art. 2º do texto constitucional.

d) Instrumentos de Controle

Meios Inespecíficos

Estes meios de controle judicial são as ações judiciais que toda e qualquer pessoa pode ajuizar, sem que
exijam a presença do Estado em um dos polos da relação processual. Pode-se dar como exemplo as ações
ordinárias, a ação penal.

Meios Específicos

Estes meios de controle judicial, por sua vez, são as ações que exigem a presença do Poder Público em um
dos polos da demanda, seja das Pessoas Jurídicas públicas ou dos agentes públicos. Pode-se dar como
exemplo o mandado de segurança, a ação popular, o habeas data e a ação civil pública.

3
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 1015

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1.2.2 - Bens Públicos

Continuando nossos estudos, vamos agora passar nas características dos bens públicos, bem como nos atos
de uso privativo de bens públicos.

REGIME JURÍDICO – CARACTERÍSTICAS

a) Impenhorabilidade

Os bens públicos não podem ser penhorados, ou seja, não podem sofrer uma constrição judicial. Dessa
forma, não podem ser utilizados para o pagamento das dívidas públicas. Isso decorre do estabelecido pelo
art. 100 da CR/88, o qual estabelece que o Poder Público paga suas dívidas por Precatórios ou Requisição
de Pequeno Valor (RPV).

Uma das razões da impenhorabilidade é a continuidade do serviço público.

OBS: Conflito entre o art. 100 e a proteção da vida/saúde da pessoa, é legítimo o bloqueio das contas da
Fazenda Pública para compras de remédios. Assim é o posicionamento do STJ em razão da dignidade da
pessoa humana.

b) Imprescritibilidade

Os bens públicos não estão sujeitos à prescrição aquisitiva, isto é, a usucapião. Assim dispõe os arts. 183, §
3º e art. 191, parágrafo único, ambos da CR/88, o art. 102 do Código Civil e a Súmula 340 do STF.

c) Não-Onerosidade

Os bens públicos não se sujeitam aos institutos de direitos reais, como o penhor, a hipoteca e a anticrese.
Em outras palavras, os bens públicos não podem ser dados como garantias para um credor no caso de
inadimplemento de uma obrigação;

d) Alienabilidade Condicionada

Os bens públicos podem ser alienados, desde que estejam desafetados. Contudo, observe que o art. 100
do Código Civil estabelece que os bens de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis,
enquanto mantiverem essa qualificação.

Por sua vez, os bens dominicais são alienáveis, desde que cumpridos os requisitos da lei.

Esses requisitos legais estão estabelecidos no art. 17 da Lei nº 8.666/93.

Pode-se dividir esses requisitos em dois, ou seja, em requisitos gerais e requisitos específicos.

Requisitos gerais

1. Bem Dominical
2. Interesse público devidamente justificado

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3. Avaliação prévia.
4. Requisitos Específicos

a) Imóveis

1. Autorização legislativa para a Administração Pública Direta, Autarquias e Fundações.


2. Licitação na modalidade Concorrência.

OBS:

 Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais
ou de dação em pagamento, poderão ser alienados também sob a modalidade Leilão.
 A lei autorizativa ocorrerá somente para a Administração Pública Direta, Autarquias e Fundações.
Observe que para as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista não haverá a autorização
legislativa.

b) Móveis

1. Licitação

OBS:

 Atente-se para o fato do art. 17, II da Lei nº 8.666/93 não estabelecer qual modalidade de licitação
ocorrerá a alienação. Contudo, observe que o art. 22, § 5º da mesma Lei estabelece que o Leilão
será a modalidade de licitação a ser utilizada para a alienação de bens móveis inservíveis da
Administração.

USO PRIVATIVO DE BEM PÚBLICO

a) Autorização de Uso

A autorização de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, que visa atender interesse predominantemente privado.

É um ato unilateral afinal há exteriorização da vontade apenas do Poder Público. É discricionário porque
haverá a valoração sobre a conveniência e a oportunidade na concessão do ato. Trata-se de ato precário
porque a administração pode revogar a autorização se sobrevierem razões para tanto e não haverá direito
de indenização.

A autorização, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
autorização seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.

A autorização de uso de bem público prescinde de Licitação.

Ex.: Fechamento de ruas para comemorações; utilização de uma área para estacionamento.

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b) Permissão de Uso

A permissão de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, atendendo ao mesmo tempo interesses público e privado.

A permissão e a autorização de uso são institutos semelhantes. O que diferencia um e outro é o interesse
em jogo. Na permissão de uso há uma igualdade dos interesses público e privado.

A permissão, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
permissão seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.

O ato de permissão é um ato personalíssimo ou intuito personae, razão pela qual sua transferência a
terceiros só se legitima quando houver consentimento da entidade que conferiu a permissão. Dessa forma,
o que há, na verdade, é a prática de um novo ato administrativo.

Com relação à Licitação, a permissão de uso pode ensejar que esta aconteça, quando houver mais de um
interessado na utilização do bem, evitando-se, assim, favorecimentos ou preterições ilegítimas. Todavia,
em alguns casos a licitação será inexigível, como, por exemplo, a permissão de uso de calçada em frente a
um bar.

Ex.: Feiras de artesanatos em praças públicas; vestiários públicos, mesas e cadeiras em calçadas; bancas de
jornal.

c) Concessão de Uso

A concessão de uso de bem público não é ato administrativo. Na verdade, está-se diante de um contrato
administrativo. Portanto, a concessão possui o caráter da bilateralidade.

A concessão de uso deve ser realizada para atividades de maior vulto, no qual o concessionário “assume
obrigações perante terceiros e encargos financeiros elevados, que somente se justificam se ele for
beneficiado com a fixação de prazos mais prolongados, que assegurem um mínimo de estabilidade no
exercício da atividade”4

Em relação à Licitação, por ser contrato administrativo, a concessão necessita da realização de um


procedimento licitatório.

d) Cessão de Uso

4
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012. p391.

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É a transferência da posse de bens entre órgãos ou entidades públicas, gratuitamente. Depende de


autorização legal e formaliza-se através de simples termo ou anotação cadastral. Como não opera a
transferência da propriedade, prescinde de registro imobiliário.

e) Concessão de Direito Real de Uso ou Domínio Pleno

Esse instituto foi criado pelo Decreto-lei 271/67. É a transferência a particular, pela Administração, da
posse de imóvel público para ser por ele utilizado ou explorado em fins específicos de urbanização,
industrialização, edificação, cultivo ou qualquer outra exploração de interesse social. É contrato
administrativo, direito real resolúvel, transferível pelo particular por ato inter vivos ou causa mortis, a título
gratuito ou oneroso. É o contrato pelo qual a Administração transfere, como direito real resolúvel, o uso
remunerado ou gratuito de terreno público ou do espaço aéreo que o recobre, para que seja utilizado com
fins específicos por tempo certo ou por prazo indeterminado.

Só em caso de desvirtuamento da finalidade da concessão o imóvel reverterá à Administração Pública. Do


contrário, poderá ficar eternamente com o particular, seus cessionários ou sucessores. Depende de lei e
prévia concorrência, dispensando-se esta quando o beneficiário for outro órgão ou entidade da
Administração Pública (Lei 8.666/93, artigo 17, § 2) e formaliza-se através de escritura pública ou termo
administrativo, sujeitos a registro.

OCUPAÇÃO INDEVIDA DE BENS PÚBLICOS

O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento pacificado que não há que se falar em posse na
ocupação irregular de bens públicos. Trata-se da súmula 619 do STJ que afirma que A ocupação indevida de
bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por
acessões e benfeitorias.

Pelo fato de não haver posse, não há que se falar em direito à indenização por benfeitorias, nem em direito
de retenção. Ademais, caso o ocupante irregular do bem público realize construções no imóvel, não há que
se falar em enriquecimento ilícito do Estado, isto porque a construção realizada é voltada para atender
interesses particulares, e não para atender interesse público. De acordo com o STJ não há que se falar em
boa-fé do detentor.

Caso admitisse posse na ocupação irregular de bens públicos, haveria um estímulo à invasão de
propriedades públicas, o que violaria os princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e
indidsponibilidade do interesse público.

Ademais, nos termos do Enunciado 2 do CJF, o administrador público está autorizado por lei a valer-se do
desforço imediato sem necessidade de autorização judicial, solicitando, se necessário, força policial,
contanto que o faça preventivamente ou logo após a invasão ou ocupação de imóvel público de uso
especial, comum ou dominical, e não vá além do indispensável à manutenção ou restituição da posse (art.
37 da Constituição Federal; art. 1.210, §1º, do Código Civil; art. 79, § 2º, do Decreto-Lei n. 9.760/1946; e
art. 11 da Lei n. 9.636/1998).

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1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Constitucionalização do Direito Civil

A leitura de institutos do ordenamento jurídico pátrio conforme a Constituição Federal é essencial para que
se garanta a observância e a efetiva aplicação dos princípios constitucionais, mormente a dignidade da
pessoa humana e a isonomia. Na verdade, segundo André Ramos Tavares, o Direito Constitucional costuma
ser inserido como ramo do Direito Público (...). Essa ideia, contudo, não pode mais prosperar, na medida
exata em que a Constituição passou a ocupar um papel central para todos os chamados ‘ramos’ do Direito
(...)5.

E essa interpretação também deve ser aplicada aos ramos de direito privado, sem que, por isso, adquiram
o caráter de direito público – há, tão-somente, regulamentação fundamental em sede constitucional6.

O atendimento às prescrições da Lei Maior não implica uma restrição de direitos; ao contrário, incorporam-
se os dogmas ao próprio conteúdo do direito. É dizer, antes de restringir a fruição de direitos subjetivos,
impõe-se o respeito ao espírito constitucional, culminando na releitura de institutos jurídicos, visando à
atualização da norma, atendendo-se as peculiaridades contemporâneas da sociedade, como a possibilidade
de casamento de pessoas do mesmo sexo (aqui, amplia-se a noção de casamento).

Atualmente, não se concebe um direito civil como ramo da ciência jurídica avesso à incidência das normas
constitucionais. Nesse sentido, pode-se afirmar

que a constitucionalização é o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do


direito civil, que passam a condicionar a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da
legislação infraconstitucional7.

O Direito Civil Constitucional, ou constitucionalizado, é marcado pela disciplina constitucional reservada à


família, à regulamentação da atividade econômica, à função social da propriedade, dentre outros:

(...) de um lado, princípios como o da igualdade entre filhos havidos dentro e fora do
casamento (art. 227, §6º) ou o da função social da propriedade (art. 170, III), e, de outro,
especificidades como o meio de dissolução do casamento (art. 226, §6º) e hipóteses de
usucapião (arts. 183 e 191)8.

5
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 18ª edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 185.
6
Disponível em: https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/129/Constitucionaliza%c3%a7%c3%a3o+do+Direito+Civil. Acesso em
09/02/2021.
7
Idem.
8
ULHOA, Fábio. Curso de Direito Civil. Volume I. P. 35.

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Veja-se que a constitucionalização do direito civil se afigura como poderoso instrumento de promoção de
direitos fundamentais, por meio da incidência da tábua axiológica da Lei Maior às relações privadas. Ilustre-
se com o seguinte aresto:

PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - INTERPRETAÇÃO DAS CLÁUSULAS


CONTRATUAIS - FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS - CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL
- EQUILÍBRIO CONTRATUAL. Ao interpretar as cláusulas contratuais, mais que poder, é dever do
juízo utilizar-se do princípio mor e cláusula aberta da função social dos contratos, o que permite
conferir maior equilíbrio às partes contratantes, consoante preceituado pelo fenômeno da
constitucionalização do direito civil.

(TJ-MG - AI: 10708170002768001 MG, Relator: Antônio Bispo, Data de Julgamento:


31/10/2018, Data de Publicação: 09/11/2018)

Importante, ainda, a distinção entre a constitucionalização do direito civil com a publicização, que
compreende o processo de crescente intervenção estatal, especialmente no âmbito legislativo,
característica do Estado Social do século XX. Tem-se a redução do espaço de autonomia privada, para a
garantia da tutela jurídica dos mais fracos9. A publicização transferiu alguns ramos do direito privado para
o âmbito público, como o direito do trabalho, v.g., e, justamente nesta característica está inserta a
diferenciação entre esse fenômeno e a constitucionalização.

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - As decisões interlocutórias no Novo Código de Processo Civil e no CPC/1973

O Novo Código de Processo Civil promoveu significativas mudanças no instituto das decisões
interlocutórias. Atualmente, devem ser entendidas como toda e qualquer decisão proferida no curso do
processo, sem que se extinga ou coloque fim a nenhuma fase processual.

Ao contrário do Código de Processo Civil de 1973, que entendia a decisão interlocutória como o
pronunciamento do juiz que resolvia uma questão incidente, o NCPC/2015 a tem por residual:

O que não for sentença é decisão interlocutória. Se o pronunciamento judicial tem conteúdo
decisório e não se encaixa na definição do §1º do art. 203, é, então, uma decisão
interlocutória10.

9
Idem.
10
DIDDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, recursos,
ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal. 14ª. ed.
reform. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2017. p. 238.

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No que tange ao cabimento recursal – principal modificação sofrida no instituto –, sabe-se que a decisão
interlocutória somente poderá ser impugnada mediante agravo de instrumento, em casos específicos, de
acordo com o rol expresso do artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015. No mais, não se vislumbra
nenhum recurso imediato – podendo-se arguir a matéria que não se adequa ao dispositivo acima, em
preliminar no recurso de apelação ou nas contrarrazões, conforme artigo 1.009, parágrafo 1º:

Art. 1009. Da sentença cabe apelação.

§1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar
agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar
de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

No diploma processual anterior, a regra era a recorribilidade das decisões interlocutórias, por meio do
agravo retido, e, excepcionalmente, adotava-se o agravo de instrumento.

O recurso de agravo era modalidade “genérica” prevista no CPC/73, que poderia ser protocolado na forma
retida, caso em que seria analisado somente no momento do recurso de apelação; ou, ainda, na forma de
instrumento, caso a decisão recorrida fosse suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação 11.
No primeiro, o reexame da questão seria feito pelo Tribunal competente, quando do julgamento da
apelação, afastando a ocorrência da preclusão para o agravante12.

É cediço, contudo, que a modalidade de agravo retido foi extinta pelo NCPC, permitindo que as decisões
interlocutórias fossem impugnadas na apelação ou por agravo de instrumento, somente. E, nesse sentido,
vê-se que o regime de preclusão temporal também foi alterado pelo Código de Processo Civil de 2015,
tendo em vista que, “à exceção das hipóteses expressamente previstas no artigo 1015, as interlocutórias
não serão recorríveis de imediato, mas apenas como um capítulo preliminar do recurso de apelação
interposto contra a sentença ou nas contrarrazões recursais”13. Trata-se do regime de preclusão elástica.

Note-se, então, que não há que se cogitar da irrecorribilidade das decisões interlocutórias para as
hipóteses que não se enquadram no rol do artigo 1.015; apenas transferiu-se a impugnação para momento
posterior. A preclusão ocorrerá na hipótese em que haja previsão de interposição de agravo de
instrumento, com desídia da parte (ao contrário do antigo CPC).

11
Disponível em: https://www.periodicos.unc.br/index.php/acaddir/article/view/2288/1264. Acesso em 11/02/2021.
12
Idem.
13
ARAÚJO, José Henrique Mouta. A recorribilidade das interlocutórias no Novo CPC: variações sobre o tema. Revista de
Processo. V. 251, 2016. pp. 207-228. In: https://www.periodicos.unc.br/index.php/acaddir/article/view/2288/1264. Acesso em
11/02/2021.

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1.4.2 - O pressuposto de admissibilidade da repercussão geral no Recurso Extraordinário

O artigo 102, inciso III, da Constituição Federal prevê as hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário
que, em linhas gerais, reformará as causas decididas em único ou em último grau, quando a decisão
recorrida contrariar dispositivo constitucional; declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição; julgar válida lei local
contestada em face de lei federal.

Como bem delineado por Montenegro Filho, “as hipóteses de cabimento do recurso extraordinário versam,
em síntese, sobre questões de controle de constitucionalidade e por meio de tal recurso, viabiliza-se a
verificação do controle difuso de constitucionalidade”14; e cabe ao Supremo Tribunal Federal o seu
julgamento, considerando sua função precípua de guardião da Constituição da República.

Afora os requisitos e pressupostos de admissibilidade comuns aos demais recursos processuais, a Emenda
Constitucional nº 45/2004, que incluiu o parágrafo 3º ao artigo 102 da CF/88, inseriu ao recurso
extraordinário a repercussão geral como novo pressuposto intrínseco de admissibilidade – buscou-se, com
isso, “diminuir o número e (...) acelerar a tramitação dos recursos extraordinários no Supremo Tribunal
Federal”15. Nesse sentido, o relator do projeto de lei que originou a Lei nº 11.418/2006, Odair Cunha,
explicou que

É inegável que o STF vive atualmente a maior crise de sua história, abarrotado de processos de
relevância duvidosa, capazes tão somente de postergar, obliterar ou impedir a prestação da
jurisdição constitucional que a sociedade e as instituições brasileiras entendem devida e
rotineiramente por essa clamam e esperam. Nesse particular, a proposição permitirá que as
causas submetidas ao STF sejam efetivamente selecionadas, de modo a se impedir o
julgamento de recursos cuja irrelevância constitucional, sob os aspectos econômico, político,
social ou jurídico, seja manifesta. Afastaremos, pois, os recursos extraordinários que apenas
refletirem o espírito de emulação e de inconformismo das partes. Faremos, pois, que o STF
deixe de ser um Tribunal de terceira ou quarta instância para apreciação de questões já
decididas por outros tribunais. Alteraremos o seu perfil, alçando-o à condição de corte
constitucional, cuja jurisdição será desvinculada do caso concreto, ainda que continue a ser um
órgão do Poder Judiciário. A implementação da medida possibilitará a atualização de nosso
sistema de controle de constitucionalidade, tornando-o mais próximo aos sistemas hoje
vigentes tanto no direito americano quanto no direito alemão, que influenciaram diretamente a
sua formação.

14
MONTENEGRO FILHO, In: https://jus.com.br/artigos/34318/a-repercussao-geral-requisito-de-admissibilidade-e-a-restricao-
indevida-da-competencia-do-supremo-tribunal-federal. Acesso em 11/02/2021.
15
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/a-repercussao-geral-como-pressuposto-de-
admissibilidade-no-recurso-
extraordinario/#:~:text=Novo%20pressuposto%20de%20admissibilidade%20do,a%20exist%C3%AAncia%20da%20repercuss%C3
%A3o%20geral%E2%80%9D. Acesso em 11/02/2021.

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Pois bem. Para efeito de repercussão geral, considerar-se-á a existência, ou não, de questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa;
igualmente, haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou
jurisprudência dominante no tribunal. Freddie Didier, quanto ao conceito de repercussão geral, entende
que

Por conta do uso de conceitos jurídicos indeterminados para aferição da repercussão geral, seja
possível levantar dois parâmetros para definição desse requisito: questões constitucionais que
sirvam de fundamento a demandas múltiplas, como aquelas relacionadas a questões
previdenciárias ou tributárias, em que diversos demandantes fazem pedidos semelhantes,
baseados na mesma tese jurídica. Por conta disso, é possível pressupor que, em causas
coletivas que versem sobre temas constitucionais, haverá a tal ‘repercussão geral’ que se exige
para o cabimento do recurso extraordinário; e questões que, em razão da sua magnitude
constitucional, devem ser examinadas pelo STF em controle difuso de constitucionalidade,
como aquelas que dizem à correta interpretação/aplicação dos direitos fundamentais, que
traduzem um conjunto de valores básicos que servem de esteio a toda ordem jurídica
dimensão objetiva dos direitos fundamentais (DIDIER, 2007, p. 270)16.

A repercussão geral deve ser demonstrada em preliminar do recurso extraordinário. Se a Turma decidir
pela sua existência por, no mínimo, quatro votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao Plenário. Mas,
negada sua existência, a decisão valerá para todos os recursos que versarem sobre matéria idêntica – e que
serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, segundo o Regimento Interno do STF.

Com efeito, para que sua existência reste caracterizada, é necessário, além de a questão debatida ser
relevante econômica, política, social ou juridicamente, deve transcender para além do interesse subjetivo
das partes, isto é, deve “contribuir para a persecução da unidade do direito no Estado Constitucional
Brasileiro, compatibilizando e/ou desenvolvendo soluções de problemas de ordem constitucional” 17.
Importa mencionar que essa transcendência poderá ser qualitativa ou quantitativa:

na primeira, sobreleva para a individualização da transcendência o importe da questão


debatida para a sistematização e desenvolvimento do direito; na segunda, o número de
pessoas suscetíveis de alcance, atual ou futuro, pela decisão daquela questão pelo Supremo e,
bem assim, a natureza do direito posto em causa, notadamente coletivo ou difuso18.

16
DIDIER, Freddie. In: https://jus.com.br/artigos/34318/a-repercussao-geral-requisito-de-admissibilidade-e-a-restricao-indevida-
da-competencia-do-supremo-tribunal-federal. Acesso em 11/02/2021.
17
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. 2. Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 34
18
Idem, p. 37.

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Assim, cabe ao recorrente demonstrar a existência da repercussão geral da questão suscitada no recurso
extraordinário – sob pena de o STF não conhecer o recurso19. “Contudo, por se tratar de controle de
constitucionalidade no direito brasileiro, pode o STF admitir o recurso extraordinário entendendo relevante
e transcendente a questão debatida por fundamentação constitucional” 20, ainda que diversa daquela
trazida pelo recorrente – cláusula aberta de admissibilidade da repercussão geral.

1.5 - DIREITO PENAL

1.5.1 - Estelionato – Depósito na Conta de Terceiro

Até recentemente, a jurisprud ncia do Superior Tribunal de Justiça orientava que, nos casos em que a
vítima houvesse sido induzida a erro a efetuar depósito ou transfer ncia bancária para conta de terceiro, o
local da consumação do crime de estelionato seria o da ag ncia bancária onde efetivada a transfer ncia ou
o depósito.

Em precedentes mais recentes, a Terceira Seção daquela corte modificou tal orientação, estabelecendo
diferenciação entre a hipótese em que o estelionato se dá mediante falsificação ou adulteração de cheque
(consumação no banco sacado, onde a vítima mantém a conta bancária), do caso no qual o crime ocorre
mediante depósito ou transfer ncia bancária (consumação na ag ncia beneficiária do depósito ou da
transfer ncia bancária). Ocorre que há precedente subsequente (CC n. 66. 9/SP, julgado em 8/8/ 9)
que restaurou a orientação anterior, no sentido de que o prejuízo, na hipótese de transfer ncia bancária,
seria o do local da ag ncia bancária da vítima.

Em razão da oscilação do entendimento jurisprudencial da própria Terceira Seção, a matéria foi novamente
apreciada pelo colegiado.

Anote-se que a melhor solução jurídica seria aquela que estabelece distinção entre a hipótese de
estelionato mediante depósito de cheque clonado ou adulterado (compet ncia do Juízo do local onde a
vítima mantém conta bancária), daquela na qual a vítima é induzida a efetivar depósito ou transfer ncia
bancária em prol do beneficiário da fraude (compet ncia do Juízo onde situada a ag ncia bancária
beneficiária do depósito ou transfer ncia).

Assim, se o crime só se consuma com a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo agente ativo, é certo
que só há falar em consumação, nas hipóteses de transfer ncia e depósito, quando o valor efetivamente
ingressa na conta bancária do beneficiário da fraude. (Informativo 663 do STJ)

19
Segundo o caput do art. 543-A, é irrecorrível o acórdão do plenário que não conhecer do recurso extraordinário pela
inexistência de repercussão geral da questão constitucional submetida à sua apreciação.
20
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. 2. Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 38.

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1.5.2 - Inimputabilidade e Medida de Segurança

A uinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, há muito, firmou entendimento no sentido de que,
conforme a dicção do art. 97 do Código Penal, tratando-se de crime punível com reclusão, descabe a
substituição da internação em hospital de custódia por tratamento ambulatorial . Por sua vez, a Sexta
Turma, em sucessivos julgados, tem proclamado a tese de que, na fixação da medida de segurança, por
não se vincular à gravidade do delito perpetrado, mas à periculosidade do agente, é cabível ao magistrado
a opção por tratamento mais apropriado ao inimputável, independentemente de o fato ser punível com
reclusão ou detenção, em homenagem aos princípios da adequação, da razoabilidade e da
proporcionalidade".

A doutrina brasileira majoritariamente tem se manifestado acerca da injustiça da referida norma, por
padronizar a aplicação da sanção penal, impondo ao condenado, independentemente de sua
periculosidade, medida de segurança de internação em hospital de custódia, em razão de o fato previsto
como crime ser punível com reclusão. esse contexto deve prevalecer a jurisprud ncia da Sexta Turma, ou
seja, a possibilidade de tratamento ambulatorial para todos os crimes. (Informativo 662 do STJ)

1.5.3 - Prescrição Penal e Indenização Cível

A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação penal não fulmina o interesse
processual no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato.

O propósito recursal consiste em decidir sobre o interesse processual para o ajuizamento de ação civil ex
delicto, quando declara a extinção da punibilidade em virtude da prescrição da pretensão punitiva do
Estado.O ordenamento jurídico estabelece a relativa independ ncia entre as jurisdições cível e penal, de tal
modo que quem pretende ser ressarcido dos danos sofridos com a prática de um delito pode escolher, de
duas, uma das opções ajuizar a correspondente ação cível de indenização ou aguardar o desfecho da ação
penal, para, então, liquidar ou executar o título judicial eventualmente constituído pela sentença penal
condenatória transitada em julgado.

A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado impede, tão somente, a formação do título
executivo judicial na esfera penal, indispensável ao exercício da pretensão executória pelo ofendido, mas
não fulmina o interesse processual no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível
pelo mesmo fato.

O art. do CC/ dispõe que, quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Logo, conquanto a ação de
conhecimento possa ser ajuizada a partir do momento em que nasce a pretensão do ofendido, o prazo em
curso da prescrição da pretensão reparatória se suspende no momento em que o mesmo fato é apurado
na esfera criminal, passando ele a ter também a faculdade de liquidar ou executar eventual sentença penal
condenatória transitada em julgado. Assim, considerando a suspensão do prazo prescricional desde o
ajuizamento da ação penal até a sentença penal definitiva, não há falar em inércia e, por conseguinte, em
prescrição da pretensão indenizatória. (Informativo 666 do STJ).

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1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - A (In)Aplicabilidade Do Princípio In Dubio Pro Societate Na Primeira Fase Do


Tribunal Do Júri

No âmbito do Direito Processual Penal e Constitucional, prevalece o entendimento de que diante de uma
situação que possa prejudicar o acusado - como por exemplo a dúvida sobre responsabilizá-lo ou não -
deverá o juiz interpretar o caso da maneira que seja benéfica ao réu, aplicando, então, o princípio
conhecido como in dubio pro reo.

Esclarecendo, o citado conhecimento parte do princípio jurídico da presunção de inocência, previsto na


Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVII, ou seja, de um modo geral, significa que em caso de
dúvida quanto à atribuição de responsabilidade penal ao réu deve-se presumir sua inocência, e não
reponsabilizá-lo, evitando, assim, que haja, uma condenação infundada.

Nesse mesmo sentido, prevê o Código de Processo Penal que, inexistindo prova suficiente para a
condenação do acusado (art. 386, inciso VII, do CPP), o juiz deverá absolvê-lo, logo, não pode o réu ser
prejudicado em caso de dúvida.

Entretanto, no Processo Penal existem situações nas quais impera outro adágio, o in dubio pro societate,
tais como: no recebimento da denúncia e na primeira fase no rito do Tribunal do Júri.

De acordo com esse último brocardo, invoca-se a dúvida em favor da sociedade. São momentos em que se
defende a prevalência da segurança social em detrimento da inocência do acusado, e por isso se autoriza o
início da ação penal com o recebimento da denúncia, e a pronúncia, para que o caso seja submetido à
julgamento popular.

No que toca ao procedimento bifásico do Tribunal do Júri, a primeira fase – chamada judicium accusationis
– será finalizada com uma das quatro decisões: absolvição sumária, desclassificação, impronúncia ou
pronúncia. É especificamente diante desse cenário que se encontra a aplicação do princípio in dubio pro
societate. Havendo dúvida em relação a qual dessas decisões proferir, deverá o juiz resolvê-la em favor da
sociedade e não do acusado, ou seja, pronunciar o réu para que representantes da sociedade – jurados –
julguem o caso em concreto no Tribunal do Júri, a partir de suas íntimas convicções.

Diante disso, com esse posicionamento, se o magistrado estiver com dúvidas sobre a existência do crime e
indícios de autoria/participação, ele deverá encaminhar o acusado para que o Conselho de Sentença
decida, mas, na hipótese de aquele caso não convencer o juiz da existência de mínimas tais requisitos – ou
seja, o caso não foi capaz nem de suscitar dúvidas – ele deverá impronunciar o réu.

Ressalta-se que, a dúvida a que nos referimos nesse momento processual é sobre a existência do crime e
sobre os indícios mínimos de autoria, e não quanto à culpa, em sentido lato (absolver ou condenar o
sujeito), a qual, notadamente, cabe aos jurados decidir.

Logo, a dúvida no rito do Tribunal do Júri não beneficia o réu, e sim o oposto, colocando-o em risco de ter a
situação agravada, uma vez que poderá ser condenado com base em elementos que nem estão no

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incluídos no processo, tal como pela influência midiática, já que não há necessidade de os jurados
motivarem e fundamentarem a condenação.

Vejamos um julgado do STF que há muito tempo sustenta a aplicação do princípio in dubio pro societate:

Penal. Processual Penal. Procedimento dos crimes da competência do Júri. Idicium acusationis.
In dubio pro societate. Sentença de pronúncia. Instrução probatória. Juízo competente para
julgar os crimes dolosos contra a vida. Presunção de inocência. Precedentes da Suprema Corte.
1. No procedimento dos crimes de competência do Tribunal do Júri, a decisão judicial proferida
ao fim da fase de instrução deve estar fundada no exame das provas presentes nos autos. 2.
Para a prolação da sentença de pronúncia, não se exige um acervo probatório capaz de
subsidiar um juízo de certeza a respeito da autoria do crime. Exige-se prova da materialidade
do delito, mas basta, nos termos do artigo 408 do Código de Processo Penal, que haja indícios
de sua autoria. 3. A aplicação do brocardo in dubio pro societate, pautada nesse juízo de
probabilidade da autoria, destina-se, em última análise, a preservar a competência
constitucionalmente reservada ao Tribunal do Júri. 4. Considerando, portanto, que a sentença
de pronúncia submete a causa ao seu Juiz natural e pressupõe, necessariamente, a valoração
dos elementos de prova dos autos, não há como sustentar que o aforismo in dubio pro
societate consubstancie violação do princípio da presunção de inocência. 5. A ofensa que se
alega aos artigos 5º, incisos XXXV e LIV, e 93, inciso IX, da Constituição Federal (princípios da
inafastabilidade da jurisdição, do devido processo legal e da motivação das decisões judiciais)
se existisse, seria reflexa ou indireta e, por isso, não tem passagem no recurso extraordinário. 6.
A alegação de que a prova testemunhal teria sido cooptada pela assistência da acusação
esbarra na Súmula nº 279/STF. 7. Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE
540999, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Primeira Turma, julgado em 22/04/2008, DJe
20/06/2008) – grifo meu.

A partir disso, podemos compreender alguns dos fundamentos utilizados pela corrente majoritária para a
aplicação deste princípio: a) o juiz natural da causa é o Conselho de Sentença, logo, não pode o juiz da
primeira fase impedir - através da dúvida - que o caso chegue à Júri; b) não se exige um juízo de certeza
para a decisão de pronúncia, até porque, não é o momento de se decidir o mérito, e se fosse exigida a
certeza isso desrespeitaria a competência dos jurados, que ao lerem a decisão de pronúncia estariam
suscetíveis de ser influenciados pelo seu conteúdo. Consequentemente, se a certeza fosse exigida do Juiz
de Direito em fase de pronúncia, a condenação do acusado pelos jurados seria fatal.

Também se utiliza como argumento o direito do acusado ser julgado por seus semelhantes, uma vez que o
instituto possui previsão na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XXXVIII, por isso, no caso de dúvida
deve-se remeter o feito a julgamento do Conselho de Sentença.

Nessa lógica, Norbeto Avena (2017) explica que o constrangimento do acusado é uma consequência
inevitável do julgamento popular, visto que ele é exposto à sociedade como autor de um delito grave. Em
razão disso, o Estado Democrático de Direito, sob pena de constrangimento ilegal, não pode submeter o
acusado a esta situação, sem que existam, por exemplo, mínimos indícios de que aquele indivíduo tenha
praticado o fato, ou evidências da conduta ilícita. Por esse motivo é que se sustenta a divisão do rito em
duas fases, posto que na primeira fase o juiz filtrará cada elemento constante na acusação – com a

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finalidade de impedir que processos sem o mínimo de lastros probatórios vão à Júri – para só então
proferir a decisão que entender adequada, encaminhando o acusado ao Júri Popular ou não.

Por outro lado, sob o ponto de vista dos críticos e da doutrina recente, observa-se que a aplicação do
princípio do in dubio pro societate vai de encontro com a finalidade da primeira fase do rito, na qual o juiz
realizaria um filtro dos elementos acusatórios para que de fato aquele caso pudesse chegar a Júri.

Em verdade, a aplicação deste princípio acaba servindo como um discurso para ancorar uma decisão de
pronúncia que, muitas vezes, não possuirá amparo em provas capazes de atribuir a autoria delitiva àquele
cidadão. Por isso, o magistrado acaba por “lavar as mãos” pronunciando o acusado, deixando a cargo dos
jurados o juízo de mérito de um caso que lhe deixou em dúvida, recaindo sobre eles o peso de eventual
condenação infundada.

Soma-se a essa linha de raciocínio o fato de que o magistrado não precisa fundamentar a decisão de
pronúncia de maneira exaustiva, sob pena de cometer o chamado “excesso de linguagem”, capaz de
influenciar a decisão dos jurados com os argumentos que o levaram a pronunciar o sujeito. Desse modo,
conforme o artigo 413 §1º, do CPP, o juiz limitar-se-á a indicar a materialidade do fato e os indícios
suficientes de autoria ou participação e, da mesma forma se dará com a apreciação das teses defensivas, as
quais o magistrado enfrentará com superficialidade.

Assim, percebe-se que em um caso em que o juiz, por haver provas rasas está em dúvida e acaba
pronunciado o acusado, é possível que em plenário, mesmo diante da insuficiência probatória, o réu saia
condenado, por diversas razões (bom poder de convencimento do advogado de defesa, influências
externas, entre outras) que não integram o processo.

Recentes decisões nos tribunais e em juízos singulares vêm mostrando o inconformismo com a aplicação
deste brocardo:

[...] Considerando tal narrativa, percebe-se a lógica confusa e equivocada ocasionada pelo
suposto “princípio in dubio pro societate”, que, além de não encontrar qualquer amparo
constitucional ou legal, acarreta o completo desvirtuamento das premissas racionais de
valoração da prova. Além de desenfocar o debate e não apresentar base normativa, o in dubio
pro societate desvirtua por completo o sistema bifásico do procedimento do júri brasileiro
esvaziando a função da decisão de pronúncia (ARE 1067392/CE, GILMAR MENDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 26/03/2019).

Do mesmo modo Aury Lopes Jr. defende a aplicação do princípio in dubio pro reo na primeira fase do Júri,
ao argumento de que a partir do que dispõe a lei processual penal, se o juiz estiver em dúvida quanto à
materialidade e indícios de autoria deve impronunciá-lo, com base no artigo 414, do CPP.

Para os adeptos da aplicação do princípio in dubio pro reo, o insucesso da acusação em demonstrar a
existência do crime e indícios mínimos de autoria de modo que não deixe dúvidas, não pode ser utilizado
em desfavor do réu.

Também, argumentam a ausência de previsão legal do famigerado in dubio pro societate, além de afirmar
que ele colide com o princípio constitucional expresso da presunção de inocência. Aliás, há críticas no

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sentido de que o in dubio pro societate pode gerar uma violação ao próprio princípio constitucional do
devido processo legal, naqueles casos em que processos com provas insuficientes e rasas são levados a
Plenário.

Contudo, para contrapor este último argumento, os defensores da aplicação do princípio in dubio pro
societate explicam que, havendo uma condenação fundada em um processo sem provas, ou com uma
decisão contrária ao que está no bojo do processo, basta que a parte insatisfeita interponha recurso de
apelação, com base no art. 593, inciso III, alínea “d”, do CPP.

1.6.2 - O Juiz E As Cautelares No Processo Penal Brasileiro

É sabido que o ordenamento jurídico pátrio adotou o Sistema Acusatório no âmbito processual penal, cuja
sistemática é pautada na separação das funções de acusar, defender e julgar.

Nesse contexto, sob a perspectiva do sistema acusatório, o julgador não deve ser dotado de iniciativa
probatória, mas sim atuar no processo penal de maneira equidistante e imparcial, cabendo, pois, às partes
a gestão da prova.

Impõe-se ao juiz um distanciamento da iniciativa probatória e das funções investigatórias, a fim de garantir
a imparcialidade, cuja previsão está expressa, inclusive, na Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Dec. 678/92, art. 8º, nº 1).

De acordo com Renato Brasileiro21, “na fase investigatória, o juiz deve permanecer absolutamente alheio à
qualidade da prova em curso, somente intervindo para tutelar violações ou ameaça de lesões a direitos e
garantias individuais das partes, ou para resguardar a efetividade da função jurisdicional, quando, então,
exercerá atos de natureza jurisdicional”.

É do Sistema Acusatório, inclusive, que deriva o princípio do ne procedat iudex ex officio, o qual estabelece
que o juiz não pode dar início a um processo sem que haja provocação da parte, bem como a proibição de
que o juiz profira provimento sobre matéria que não tenha sido trazida ao processo por uma das partes
(princípio da correlação entre acusação e sentença).

Nesse sentido, veio, ainda, o artigo 3ª-A, do Código de Processo Penal, introduzido pelo Pacote Anticrime,
o qual assevera que o processo penal terá estrutura acusatória, sendo vedada a iniciativa do juiz na fase de
investigação.

21 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e
atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

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Todavia, Renato Brasileiro destaca que “durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que
o juiz possui certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício, desde que o
faça de maneira subsidiária”, seja para complementar a prova ou dirimir dúvidas sobre questões
relevantes.

Com relação à aplicabilidade das medidas cautelares de ofício pelo magistrado, verifica-se que, após as
mudanças trazidas pela Lei n. 13.964/2019, houve significativa mudança em alguns dispositivos legais do
Código de Processo Penal, merecendo especial atenção o artigo 282, §2º. Veja-se:

Art. 282. (...) § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes
ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério Público.

Conforme se denota da nova redação do artigo supramencionado, o legislador optou por retirar a
possibilidade de o juiz decretar medidas cautelares de ofício, seja no curso da investigação, seja durante o
processo criminal, diversamente do que previa a antiga redação, que vedava a decretação de medidas
cautelares de ofício pelo juiz apenas na fase investigatória, permitindo-a, todavia, durante a fase
processual.

Tais modificações também alcançaram também o 311, do Código de Processo Penal, o qual passou a contar
com a seguinte redação:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

Veja-se que tais mudanças vêm ao encontro do Sistema Acusatório, e conforme assevera Renato
Brasileiro22, “graves prejuízos seriam causados à imparcialidade do magistrado se se admitisse que este
pudesse decretar uma medida cautelar de natureza pessoal de ofício, sem provocação da parte ou do
órgão com atribuições assim definidas em lei”.

Contudo, neste contexto, vale destacar a discussão que gira em torno da possibilidade de conversão da
prisão em flagrante em preventiva, de ofício, pelo juiz, conforme previsão legal do artigo 310, inciso II, do
Código de Processo Penal:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e
quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a

22 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e
atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

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presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro


do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (...)

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes


do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão;

Tal possibilidade já era questionada por alguns doutrinadores antes mesmo da incidência da Lei n.
13.964/201923, embora os tribunais reconhecessem a legitimidade da medida tomada pelo juiz, mesmo
sem prévia provocação24.

Entretanto, após a incidência do Pacote anticrime, o tema tem sido reapreciado no âmbito dos tribunais
superiores, ainda havendo certa divergência em torno do assunto. Veja-se:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. VIGÊNCIA DA LEI


13.964/2019. CONVERSÃO EX OFFICIO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA.
ILEGALIDADE. NECESSIDADE DE PRÉVIO REQUERIMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CARACTERIZADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. A Lei n. 13.964/2019 - o chamado "Pacote Anticrime" - promoveu diversas alterações


processuais, dentre as quais destaca-se a nova redação dada ao art. 282, § 2º, do Código de
Processo Penal: "As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes
ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério Público".

2. Tal dispositivo tornou imprescindível, expressamente, o prévio requerimento das partes, do


Ministério Público ou da autoridade policial, para ser possível a aplicação, por parte do
Magistrado, de qualquer medida cautelar.

3. Assim, a partir das inovações trazidas pelo Pacote Anticrime, tornou-se inadmissível a
conversão, de ofício, da prisão em flagrante em preventiva. Portanto, a prisão preventiva
somente poderá ser decretada mediante requerimento do Ministério Público, do assistente

23 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e
atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

24 STJ, 5ª Turma, HC 280.980/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/02/2014; STJ, 5ª Turma, HC 281.756/ PA, Rel. Min. Jorge Mussi, j.
15/05/2014; STJ, 5ª Turma, HC 474.322/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 12/02/2019; STJ, 5ª Turma, RHC
105.955/MG, Rel. Min. Felix Fischer, j. 05/02/2019; STJ, 6ª Turma, RHC 102.770/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 06/12/2018; dentre
outros.

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ou querelante, ou da autoridade policial (art. 311 do CPP), o que não ocorreu na hipótese dos
presentes autos.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no RHC 137.448/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
09/12/2020, DJe 14/12/2020)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CONVERSÃO DO FLAGRANTE EM PREVENTIVA, DE


OFÍCIO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. CAUTELARES DO ART.
319 DO CPP. SUFICIÊNCIA. LIMINAR CONFIRMADA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.

1. As alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019 não impedem a conversão da prisão em


flagrante em preventiva, de ofício, pelo Juízo singular, se presentes os requisitos do art. 312
do CPP e a necessidade urgente da cautela processual. Precedente.

2. A prisão preventiva é compatível com a presunção de não culpabilidade do acusado desde


que não assuma natureza de antecipação da pena e não decorra, automaticamente, do caráter
abstrato do crime ou do ato processual praticado (art. 313, § 2º, CPP).

3. O Magistrado evidenciou a necessidade de algum acautelamento da ordem pública,


porquanto destacou a gravidade concreta do crime: a quantidade de drogas apreendidas.
Entretanto, a motivação não denota a periculosidade exacerbada dos pacientes, a ponto de,
por si só, justificar o emprego da cautela máxima sem nenhum outro dado desabonador
relativo aos réus.

4. Em juízo de proporcionalidade, alternativas legais menos aflitivas se mostram idôneas e


suficientes para proteger o bem ameaçado pela irrestrita e plena liberdade dos acusados, de
modo que é aplicável ao caso a substituição do cárcere pelas cautelares previstas no art. 319, I,
IV e V, do CPP.

5. Habeas corpus concedido, para, confirmada a liminar, substituir a prisão preventiva dos réus
pelas medidas elencadas, sem prejuízo do restabelecimento da mais gravosa pelo Juiz se
sobrevier situação que configure a sua exigência.

(HC 614.155/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2020,
DJe 11/12/2020)

Conforme se nota, no âmbito do STJ, há clara divergência entre a 5ª e a 6ª turma. O STF, por sua vez, tem
se inclinado a adotar o entendimento acerca da impossibilidade de conversão da prisão em flagrante em
preventiva, de ofício, pelo juiz, conforme decisões proferidas pela segunda turma:

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“HABEAS CORPUS” (...) “HABEAS CORPUS” CO CEDIDO DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE, DE


OUTRO LADO, DA DECRETAÇÃO “EX OFFICIO” DE PRISÃO PREVE TIVA EM UAL UER
SITUAÇÃO (EM JUÍZO OU NO CURSO DE INVESTIGAÇÃO PENAL), INCLUSIVE NO CONTEXTO DE
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA (OU DE APRESENTAÇÃO), SEM QUE SE REGISTRE, MESMO NA
HIPÓTESE DA CONVERSÃO A QUE SE REFERE O ART. 310, II, DO CPP, PRÉVIA, NECESSÁRIA E
INDISPENSÁVEL PROVOCAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU DA AUTORIDADE POLICIAL –
RECENTE INOVAÇÃO LEGISLATIVA INTRODUZIDA PELA LEI º 3.964/ 9 (“LEI A TICRIME”),
QUE ALTEROU OS ARTS. 282, §§ 2º e 4º, E 311 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, SUPRIMINDO
AO MAGISTRADO A POSSIBILIDADE DE ORDE AR, “SPO TE SUA”, A IMPOSIÇÃO DE PRISÃO
PREVENTIVA – NÃO REALIZAÇÃO, NO CASO, DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA (OU DE
APRESENTAÇÃO) – INADMISSIBILIDADE DE PRESUMIR-SE IMPLÍCITA, NO AUTO DE PRISÃO EM
FLAGRANTE, A EXISTÊNCIA DE PEDIDO DE CONVERSÃO EM PRISÃO PREVENTIVA – CONVERSÃO,
DE OFÍCIO, MESMO ASSIM, DA PRISÃO EM FLAGRANTE DO ORA PACIENTE EM PRISÃO
PREVENTIVA – IMPOSSIBILIDADE DE TAL ATO, QUER EM FACE DA ILEGALIDADE DESSA DECISÃO,
QUER, AINDA, EM RAZÃO DE OFENSA A UM DIREITO BÁSICO, QUAL SEJA O DE REALIZAÇÃO DA
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA, QUE TRADUZ PRERROGATIVA INSUPRIMÍVEL ASSEGURADA A
QUALQUER PESSOA PELO ORDENAMENTO DOMÉSTICO E POR CONVENÇÕES INTERNACIONAIS
DE DIREITOS HUMANOS. – A reforma introduzida pela Lei nº 3.964/ 9 (“Lei Anticrime”)
modificou a disciplina referente às medidas de índole cautelar, notadamente aquelas de caráter
pessoal, estabelecendo um modelo mais consentâneo com as novas exigências definidas pelo
moderno processo penal de perfil democrático e assim preservando, em consequência, de
modo mais expressivo, as características essenciais inerentes à estrutura acusatória do
processo penal brasileiro. – A Lei nº 3.964/ 9, ao suprimir a expressão “de ofício” que
constava do art. 282, §§ 2º e 4º, e do art. 311, todos do Código de Processo Penal, vedou, de
forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio “requerimento das partes ou,
quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério Público” (grifei), não mais sendo lícita, portanto, com
base no ordenamento jurídico vigente, a atuação “ex officio” do Juízo processante em tema de
privação cautelar da liberdade. – A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz
dos arts. 282, §§ 2º e 4º, e 311, do mesmo estatuto processual penal, a significar que se tornou
inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em
flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal
efeito, anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando
for o caso, do querelante ou do assistente do MP. Magistério doutrinário. Jurisprudência. AUTO
DE PRISÃO EM FLAGRANTE – NATUREZA JURÍDICA – ELEMENTOS QUE O INTEGRAM – FUNÇÃO
PROCESSUAL – O auto de prisão em flagrante, lavrado por agentes do Estado, qualifica-se como
ato de formal documentação que consubstancia, considerados os elementos que o compõem,
relatório das circunstâncias de fato e de direito aptas a justificar a captura do agente do fato
delituoso nas hipóteses previstas em lei (CPP, art. 302), tendo por precípua finalidade
evidenciar – como providência necessária e imprescindível que é – a regularidade e a legalidade
da privação cautelar da liberdade do autor do evento criminoso, o que impõe ao Estado, em
sua elaboração, a observância de estrito respeito às normas previstas na legislação processual
penal, sob pena de caracterização de injusto gravame ao “status libertatis” da pessoa posta sob
custódia do Poder Público. Doutrina. – Mostra-se inconcebível que um ato de natureza
meramente descritiva, como o é o auto de prisão em flagrante, limitado a relatar o contexto
fático-jurídico da prisão, permita que dele infira-se, por implicitude, a existência de

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representação tácita da autoridade policial, objetivando, no âmbito da audiência de custódia, a


conversão da prisão em flagrante do paciente em prisão preventiva. – A conversão da prisão
em flagrante em prisão preventiva, no contexto da audiência de custódia, somente se legitima
se e quando houver, por parte do Ministério Público ou da autoridade policial (ou do
querelante, quando for o caso), pedido expresso e inequívoco dirigido ao Juízo competente,
pois não se presume – independentemente da gravidade em abstrato do crime – a
configuração dos pressupostos e dos fundamentos a que se refere o art. 312 do Código de
Processo Penal, que hão de ser adequada e motivadamente comprovados em cada situação
ocorrente. (...)

(HC 188888, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 06/10/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-292 DIVULG 14-12-2020 PUBLIC 15-12-2020

HABEAS CORPUS (...). PRISÃO EM FLAGRANTE. CONVERSÃO DE PRISÃO EM FLAGRANTE EM


PRISÃO PREVENTIVA DE OFÍCIO PELO MAGISTRADO. VIOLAÇÃO DO SISTEMA ACUSATÓRIO.
ARTS. 5º, LIII, LV, LIX, 93, 129, I, E 133, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ARTS. 282, § § 2º e 4º, 310,
311 E 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PODER GERAL DE CAUTELA. ILEGALIDADE.
OCORRÊNCIA. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. (...) 2. A Constituição Federal de 1988, ao
atribuir a privatividade da promoção da ação penal pública ao Ministério Público (art. 129, I); ao
assegurar aos ligantes o direito ao contraditório e à ampla defesa e assentar o advogado como
função essencial à Justiça (art. 5º, LV e 133); bem como, ao prever a resolução da lide penal,
após o devido processo legal, por um terceiro imparcial, o Juiz natural (art. 5º, LIII e LXI; 93 e
seguintes), consagra o sistema acusatório. 3. A Lei n. 3.964/ 9, ao suprimir a expressão “de
ofício” constante na redação anterior dos arts. 8 , § § º e 4º, e 3 , ambos do Código de
Processo Penal, veda, de forma expressa, a imposição de medidas cautelares restritivas de
liberdade pelo magistrado sem que haja anterior representação da autoridade policial ou
requerimento das partes. 4. O art. 310 do Código de Processo Penal deve ser interpretado à luz
do sistema acusatório e, em conjunto, com os demais dispositivos legais que regem a aplicação
das medidas cautelares penais (arts. 282, §§ 2º e 4º, 311 e seguintes do CPP). Disso decorre a
ilicitude da conversão, de ofício, da prisão em flagrante em prisão preventiva pela autoridade
judicial. 5. O auto de prisão em flagrante é procedimento de natureza administrativa, em que a
autoridade policial limita-se a observar as formalidades legais para a sua lavratura (arts. 304 e
seguintes do CPP), sem tecer consideração sobre a necessidade e a adequação da prisão
preventiva, espécie com pressupostos e requisitos distintos (art. 311 e seguintes do CPP). Faz-
se, portanto, necessário pedido, formal e expresso, da autoridade policial ou do Ministério
Público, em audiência de custódia, para a imposição da prisão preventiva pelo magistrado. 6. O
poder geral de cautela não autoriza o agir do Juiz por iniciativa própria quando em detrimento
da liberdade individual. No processo penal, para que a intervenção estatal opere nas liberdades
individuais com legitimidade, é necessário o respeito à legalidade estrita e às garantias
fundamentais. Doutrina. Precedentes. 7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de
ofício.
(HC 189507 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Segunda

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Turma, julgado em 04/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-287 DIVULG 04-12-2020 PUBLIC


07-12-2020)

Desse modo, em que pese as mudanças ocasionadas pela Lei n. 13.964/2019, a fim de consolidar o sistema
acusatório, é certo que muitos tópicos ainda geram dúvidas e divisões, seja no âmbito doutrinário ou
jurisprudencial.

1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Entendimento atual do STJ acerca do não cumprimento das condições do regime
aberto e a impossibilidade de cômputo de pena cumprida

As penas podem ser privativas de liberdade, restritivas de direito ou de multa, nos termos do artigo 32 do
Código Penal. Há quem defenda que a legislação extravagante pode fazer a previsão de outras modalidades
de penas, o que seria o caso da pena de advertência sobre os efeitos das drogas prevista para a conduta
tipificada no artigo 28 da Lei n.º 11.343/2006.

As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão, a detenção e prisão simples, esta aplicada às
contravenções penais.

Importa recordar os regimes de cumprimento de pena privativa de liberdade existentes no ordenamento


jurídico pátrio: fechado, semiaberto e aberto (a que se dará destaque).

De acordo com o art. 33, do Código Penal, a pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto. Enquanto a pena de detenção, deve ser cumprida em regime semiaberto ou aberto,
salvo se houver necessidade de transferência para o regime fechado.

Considera-se regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média. Já


no regime semiaberto a execução da pena ocorre em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar. Por fim, considera-se regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.

O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, fixará o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade, de acordo com os critérios estabelecidos no artigo 33 do Código Penal e em observância a alguns
fatores, como i) o tipo de pena privativa de liberdade aplicada, ou seja, se de reclusão ou detenção; ii) o
quantum da pena definitiva fixada na terceira fase da dosimetria; iii) a reincidência ou não do sentenciado;
e iv) as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do CP.

A determinação do regime inicial de cumprimento de pena será feita com base no tipo (reclusão ou
detenção) e no quantum da pena cominada aos fatos praticados, de maneira que o condenado a pena de
reclusão superior a 8 (oito) anos, deverá começar a cumpri-la em regime fechado; o condenado não
reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio,
cumpri-la em regime semi-aberto; e o o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

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Será observada também a eventual reincidência do condenado, além dos critérios da culpabilidade,
antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime,
bem como no comportamento da vítima, sendo estabelecido conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime (art. 59, CP).

Fala-se em determinação do regime “inicial” do cumprimento de pena pois, como prev o art. 33, § º, do
Código Penal, as penas privativas de liberdade devem ser executadas em forma progressiva, observando-
se, além dos critérios anteriormente descritos, o mérito do condenado, ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso.

Especificamente com relação ao regime aberto, tem-se que é baseado na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado que deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar,
frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período
noturno e nos dias de folga. Frisa-se que o condenado será transferido desse regime se praticar crime
doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada.

Ainda, com fulcro na Lei de Execução Penal, o ingresso do condenado ao regime aberto supõe que tenha
aceito o programa e as condições impostas pelo Juízo. De modo que somente poderá ingressar no regime
aberto o condenado que estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente, e
que apresentar, com base nos antecedentes ou pelo resultado de exames a que for submetido, fundados
indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime de
cumprimento de pena.

Quanto ao trabalho ou comprovação da possibilidade de fazê-lo imediatamente, o entendimento do STJ é


no seguinte sentido:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA


VIA ELEITA. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL DEFERIDA EM 1º GRAU. GRAVIDADE DOS
CRIMES PRATICADOS, LONGA PENA E AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE TRABALHO.
INIDONEIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA RESTABELECER A PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL.

1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior
Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a
restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal
própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade.

2. A gravidade abstrata do crime praticado pelo reeducando e a longa pena a cumprir não são
elementos idôneos para fundamentar o indeferimento da progressão de regime prisional.
Precedentes.

3. As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte consagraram o entendimento de que
a regra do art. 114, I, da LEP, a qual exige do condenado, para ingressar no regime aberto, a
comprovação de trabalho ou a possibilidade imediata de fazê-lo (apresentação de proposta
de emprego), deve sofrer temperamentos, ante a realidade brasileira. (HC n. 292.764/RJ,

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Sexta Turma, Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em 10/6/2014, DJe
27/6/2014)

4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para restabelecer a decisão que
deferiu a progressão de regime prisional ao paciente. (STJ – HC 503641/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 13/08/2019, Dje 30/08/2019).
Negritou-se.

Ademais, poderão ser dispensadas do trabalho os condenados maiores de 70 (setenta) anos, ou acometido
de doença grave, ou condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental, ou, por fim, condenada
gestante (art. 117, LEP).

Para a concessão do regime aberto, o juiz poderá estabelecer condições especiais, sem prejuízo das
condições gerais e obrigatórias, que são as seguintes: permanecer no local que for designado, durante o
repouso e nos dias de folga; sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; não se ausentar da cidade
onde reside, sem autorização judicial; e comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.

Poderá também o juiz modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do Ministério


Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias recomendem.

Salienta-se que, conforme redação da Súmula 493, do STJ “é inadmissível a fixação da pena substitutiva
(art. 44 do CP) como condição especial ao regime aberto”.

Pois bem, recentemente o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o não cumprimento das condições
do regime aberto impossibilita cômputo de pena cumprida. Ou seja, no caso de um condenado deixar de
comparecer em juízo para a cumprimento das condições impostas ao regime aberto, não há razão para
computar o período de descumprimento como pena efetivamente cumprida.

Confira o julgado:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. DESCUMPRIMENTO DAS


CONDIÇÕES IMPOSTAS NO REGIME ABERTO. NÃO COMPARECIMENTO EM JUÍZO. PERÍODO DE
PENA NÃO COMPUTADO COMO PENA CUMPRIDA. FRUSTRAÇÃO DA EXECUÇÃO. EXTINÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

1. Se o paciente não compareceu em juízo para o cumprimento das condições impostas ao


regime aberto, não há como computar o respectivo período como pena efetivamente
cumprida. Sendo assim, não há falar em extinção da pena pelo cumprimento da pena
remanescente.

2. Outrossim, a situação posta nos autos refere-se ao descumprimento de condições impostas


ao apenado em regime aberto, situação distinta daquelas que justificam a aplicação do verbete
sumular n. 617/STJ, específico para as hipóteses de concessão de livramento condicional, o que
impede a sua incidência.

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3. Agravo regimental improvido.

(AgRg no HC 606.027/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
02/02/2021, DJe 10/02/2021). Negritou-se.

Para esclarecimento, dispõe a Súmula n.º 6 7 do STJ que “A aus ncia de suspensão ou revogação do
livramento condicional antes do término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo
integral cumprimento da pena".

Do inteiro teor do acórdão se extrai que o STJ estabeleceu um distinguishing entre o caso sub judice
(descumprimento das condições impostas no regime aberto) e a previsão sumular daquela Corte (ausência
de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de prova).

Ponderou o Ministro Relator que:

“A despeito de inexistir decisão anterior de sustação cautelar do regime aberto, o


descumprimento fica caracterizado pelo não comparecimento do reeducando, e não pela
decisão que o reconheça - e nessa hipótese tem a decisão natureza meramente declaratória, e
não constitutiva".

E foi além, equiparando o descumprimento à fuga do sentenciado:

"Dessa forma, considerando que a não apresentação do sentenciado em juízo se equipararia à


fuga, não se verifica a existência de constrangimento ilegal na determinação de interrupção da
execução da pena no período em que o apenado deixou de se apresentar."

Assim, é de se concluir que o descumprimento de condição do regime aberto, ainda que haja o decurso do
prazo previsto para o término da pena sem a suspensão ou regressão de regime, não autoriza que se
compute o respectivo período como pena efetivamente cumprida.

1.7.2 - O crime de captação ilícita de sufrágio – artigo 41-A, da Lei n.º 9.504/97

O delito que estudaremos é fruto de um projeto de iniciativa popular que tinha a intenção de estabelecer
regra rígida que resgatasse a ética no processo eleitoral, respeitando as regras do jogo democrático.

A captação ilícita de sufrágio indica a ocorrência de ato ilícito eleitoral que ofende a livre vontade do
eleitor. Responsabilizando-se os agentes e beneficiários do fato. O delito estará configurado sempre que a
algum eleitor for oferecido, prometido ou entregue bem ou vantagem com o fim de obter-se o voto, bem
como se houver coação, ou seja, a prática de atos de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de
obter-se o voto. Confira-se um trecho da redação legal:

Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio,
vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de
obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função
pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de

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mil a cinquenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento


previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.

§ 2o As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos de violência ou grave
ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto.

Para a efetiva configuração do delito, é necessária a realização de uma das condutas típicas (doar, oferecer,
prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor, ou contra ele praticar violência ou grave
ameaça); o fim especial de agir (obtenção do voto do eleitor); e ocorrer durante o período eleitoral (entre a
data designada para a formulação do pedido de registro de candidaturas e a data das eleições).

O entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é de que a compra de um único voto é suficiente para
configurar o delito de captação ilícita de sufrágio, uma vez que o bem jurídico tutelado pelo dispositivo
legal é a livre vontade do eleitor (GOMES, 2020, p. 1005).

O fato precisa ser evidenciado de maneira inequívoca, mas não há necessidade de que haja pedido
explícito de voto por parte do candidato, conforme prevê o §1º, do art. 41-A “para a caracterização da
conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no
especial fim de agir”. Sendo o dolo específico, o especial fim de agir, resultado das circunstâncias do
evento, do contexto em que os fatos ocorreram, diante do comportamento e das relações dos envolvidos.

Embora a previsão legal se destine ao “candidato”, o entendimento do TSE25 é de que não é imprescindível
que o ato ilícito obtenha efeito pelo candidato, podendo ser realizada de forma mediata, por interposta
pessoa, sendo necessário apenas que se demonstre a existência de participação no benefício ou que de
qualquer forma com ele tenha o candidato consentido. Assim, basta que a participação do candidato
beneficiado seja indireta, havendo sua anuência expressa ou tácita, desde que evidente e que tenha sido
demonstrado a existência de liame entre o agir do candidato e os fatos (conexão que pode decorrer até
mesmo de omissão).

Ainda, o beneficiário da captação deve ser o eleitor, ou seja, que tenha cidadania ativa. Isto porque se
assim não o for, não há perigo ou ameaça ao bem jurídico tutelado pela norma que é a liberdade de voto.
Há de se esclarecer que o bem ou vantagem pode ser usado em proveito de pessoa ligada ao eleitor, por
exemplo: um candidato faz a promessa, em troca de voto, de fornecer material de construção a algum
parente ou familiar de certo eleitor. Nesta situação, tem-se configurado o delito de captação ilícita de
sufrágio.

Na hipótese de o próprio eleitor se insinuar ao candidato, solicitando-lhe vantagem em troca de voto,


configurar-se-á a conduta do artigo 229 do Código Eleitoral e não a do artigo 41-A da Lei Eleitoral “Art.
299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer

25
(TSE – AAI nº 212- 84/SE – DJe 15-10-2014); (TSE – REspe nº 21.792/MG – DJ, 21-10-2005); (TSE – REspe nº 21.327/ MG – DJ
31-8-2006); (TSE – AgRO nº 903/ PA – DJ 7-8-2006); (TSE – RO nº 2.098/ RO – DJe 4-8-2009).

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outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não
seja aceita: Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa”. Visto que a
captação ilícita de sufrágio corresponde à iniciativa do candidato e não a do eleitor.

Especificamente quanto a coação eleitoral, prevista no §2º, do art. 41-A, ela consiste na violência, física ou
moral, exercida contra alguém a fim de o compelir a praticar ato que contrarie a sua vontade. Impedindo a
livre e espontânea expressão do querer do eleitor. Neste caso, o agressor atua no campo psicológico da
vítima, por meio de agressão e dirigindo-lhe ameaça iminente e grave, objetivando fomentar insegurança,
medo e temor. Tudo isso para fazer com que a vítima vote no candidato apontado pelo agressor. Para a
configuração do ilícito nesses moldes, necessária é a existência de violência ou grave ameaça, não
bastando ameaças vagas, indefinidas ou de impossível concretização.

A concretização da violência ou grave ameaça contra o eleitor, nos moldes do delito em estudo, enseja,
além do presente ilícito eleitoral, também constitui ilícito civil e criminal. Bem como, salienta-se que o
ilícito eleitoral restará configurado mesmo que a violência ou a grave ameaça sejam dirigidos à
personalidade, ao patrimônio, aos bens ou à família do eleitor.

Por fim, recordamos que o condenado, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado
da Justiça Eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, será inelegível para qualquer cargo pelo prazo de 8
(oito) anos a contar da eleição. É o que prevê a Lei Complementar n.º 64/90, conhecida como Lei das
Inelegibilidades, que no de 2010 foi alterada pela Lei Complementar n.º135/2020, chamada Lei da Ficha
Limpa. Confira-se:

Art. 1º São inelegíveis:

I – para qualquer cargo *…+

e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento
da pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) *…+

4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei
Complementar nº 135, de 2010) *…+

j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão


colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por
doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos
agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma,
pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de
2010).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

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1.8 - DIREITO ELEITORAL

1.8.1 - Ação De Impugnação Ao Pedido De Registro De Candidatura

Definição

A ação de impugnação ao pedido de registro é dedicada à impugnação de fatos anteriores ao registro da


candidatura, no prazo de 5 (cinco) dias, a contar da publicação do pedido respectivo.

Características

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura a que se referem os arts. 3º a 15 da Lei


Complementar nº 64/90 pode ser investigada sob seis ângulos.

Hipótese de cabimento: inexistência de condição de elegibilidade ou existência de causa de inelegibilidade.

Prazo da demanda: cinco dias, a partir da publicação do pedido de registro de candidatura.

Objeto: declaração de inelegibilidade e negação do registro, cancelamento do registro ou declaração de


nulidade da diplomação, conforme a impugnação seja anterior ao registro, eleição ou diplomação,
respectivamente.

Competência: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral ou Juízo Eleitoral, consoante o
demandado seja candidato aos cargos de Presidente da República; Governador de Estado, Senador da
República, Deputado Federal ou Deputado Estadual; Prefeito ou Vereador, respectivamente.

Legitimidade ativa: qualquer candidato, partido político ou coligação e Ministério Público Eleitoral.

Decisão de mérito: meramente declaratória e condenatória ou constitutiva, a depender do momento da


decisão da questão sob exame (GARCIA, Emerson. Abuso de Poder nas Eleições. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004, p. 81).

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Atribuições do Ministério Público no ECA

Atribuições

O art. 201, do Estatuto, traz rol exemplificativo de atribuições do Ministério Público na área da infância e
da juventude, as quais passarão a ser analisadas na sequência:

I – conceder a remissão como forma de exclusão do processo: conforme já foi analisado quando
do estudo do procedimento de apuração do ato infracional, a remissão importa na adoção de
um procedimento diferenciado daquele ordinariamente previsto. Nesse sentido, a remissão

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poderá acarretar a exclusão do processo ou, se já instaurado, na sua suspensão ou na extinção.


No primeiro caso (exclusão), tem-se a remissão ministerial, referida no inciso I, do art. 201.
Nesta situação, o Promotor de Justiça poderá propô-la, estando sujeita à homologação judicial.
É possível que a proposta seja acompanhada de pedido cumulativo de aplicação de medida
socioeducativa em meio aberto;

II – promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes:


compete exclusivamente ao Ministério Público o ajuizamento da ação socioeducativa, não se
admitindo que a promoção ocorra pela vítima ou por terceiro;

III – promover e acompanhar os procedimentos da competência da Vara da Infância e da


Juventude: deverá o Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, intervir em todos os
processos que tramitarem perante a Vara da Infância e da Juventude, bem como promover
aqueles que forem necessários. A propósito, dispõe a Súmula 594, do STJ “O Ministério Público
tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se
encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria
Pública na comarca”;

IV – promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a prestação de contas dos tutores,
curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e adolescentes em situação de risco:
o inciso IV se refere também à especialização da hipoteca legal, instituto não mais exigido,
conforme se verifica do art. 37, do Estatuto;

V – promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais,
difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência: a propósito, serão apresentadas
observações mais adiante;

VI – instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los: a) expedir notificações para


colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado,
requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar; b) requisitar informações,
exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da
administração direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias
(vide próximo inciso);

VII – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a instauração de


inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à
juventude:

Para o Estatuto, inquérito civil e procedimento administrativo stricto sensu confundem-se, ao


passo que a sindicância se refere a questões meramente criminais.

VIII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e
adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis: poderá o Parquet não

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apenas adotar medidas judiciais, como também deverá valer-se de alternativas extrajudiciais,
como pode ocorrer com a recomendação, que se constitui no “instrumento de atuação
extrajudicial do Ministério Público por intermédio do qual este expõe, em ato formal, razões
fáticas e jurídicas sobre determinada questão, com o objetivo de persuadir o destinatário a
praticar ou deixar de praticar determinados atos em benefício da melhoria dos serviços
públicos e de relevância pública ou do respeito aos interesses, direitos e bens defendidos pela
instituição, atuando, assim, como instrumento de prevenção de responsabilidades ou correção
de condutas”26 (art. , § 5º, “c”, Estatuto);

IX – impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância


ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao
adolescente: o Parquet poderá ajuizar aludidas ações em prol da defesa dos direitos da criança
e do adolescente;

XI – inspecionar as entidades de atendimento, adotando as medidas administrativas e judiciais


necessárias à remoção das irregularidades: as entidades de atendimento são aquelas
responsáveis pela execução de programas socioeducativos e de proteção. Juntamente com a
autoridade judiciário e o conselho tutelar, compete ao Ministério Público inspecioná-las e, se o
caso, adotar as medidas necessárias para afastar as irregularidades existentes, tendo livre
acesso a todo local onde se encontrar criança e adolescente;

XII – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares,
educacionais e de assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas
atribuições.

Intervenção do Ministério Público

Dispõe o art. 4, do Estatuto, que “a falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do
feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado”.

Ocorre que o dispositivo deve ser analisado em conformidade com o art. 279, do CPC/2015, o qual,
encampando o princípio da primazia do julgamento do mérito e do máximo aproveitamento dos atos
processuais, traz regramento importante a respeito do tema.

26
https://www.cnmp.mp.br/portal/todas-as-noticias/10240-publicada-recomendacao-que-disciplina-expedicao-de-
recomendacoes-pelo-
mp#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20norma,determinados%20atos%20em%20benef%C3%ADcio%20da. Acesso em
03.02.2021.

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Nesse sentido, de fato, é nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a
acompanhar o feito em que deva intervir. Contudo, a nulidade somente poderá ser decretada após a
intimação do próprio Parquet, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo.

Assim, seguindo-se a regra geral, a nulidade somente será reconhecida se presente prejuízo.

1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO

1.10.1 - Preferência do Crédito Tributário na Falência

O Código Tributário Nacional disciplina o grau de preferência atribuído ao crédito tributário quando
comparado com os créditos provenientes de outras fontes, como de relações trabalhistas ou contratuais. A
regra geral que disciplina o tema se encontra inserida no caput do artigo 186 do Código Tributário
Nacional, que dispõe no seguinte sentido:

Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo
de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do
acidente de trabalho. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Portanto, como regra geral, o crédito tributário prefere a qualquer outro, independentemente da natureza
ou do tempo da sua constituição, ressalvados apenas os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou
do acidente de trabalho27.

Um exemplo auxilia a compreender o dispositivo: Imaginemos que o sujeito passivo X possui diversas
dívidas. Ele deve R$ 200.000,00 para uma instituição financeira, R$ 150.000,00 para os seus empregados e
R$ 100.000,00 para a União Federal, referente a tributos inadimplidos. A dívida da instituição financeira foi
garantida por meio de hipoteca de um imóvel de sua propriedade. Os demais débitos não se encontram
garantidos. Passado algum tempo sem que o sujeito passivo fizesse o pagamento voluntário, a instituição
financeira ingressou com a ação de execução, requerendo a penhora e a arrematação do imóvel
hipotecado. Igual medida foi tomada pelos empregados e pela União Federal, que nas suas ações de
execução penhoraram o bem imóvel hipotecado pela instituição financeira. Não foram encontrados outros

27
Há entendimento no sentido de que esse dispositivo seria parcialmente inconstitucional, porque os créditos de natureza
alimentícia também teriam preferência sobre o crédito tributário. Nesse sentido, já decidiu o TRF da 4ª Região:
“I CO STITUCIO ALIDADE PARCIAL DO ARTIGO 86 DO CT . O dispositivo em comento fere a Constituição Federal, ainda que
de forma parcial, já que atenta contra o princípio de proteção prioritária assegurado à criança e ao adolescente (art. 227 CF);
contra o dever de assistência imposto pelo artigo 229 da CF; bem como consagra, em situações como a dos autos, tratamento
anti-isonômico, conferindo maior proteção aos empregados que aos filhos do indivíduo. 2. Incidente de arguição de
inconstitucionalidade acolhido” (TRF4, Corte Especial, ARGI C 9. 4. . 33 8-1, Rel. Luciane Amaral Corrêa Münch, DE 14-
9-2010).

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bens de propriedade do executado. O imóvel foi arrematado por R$ 250.000,00. Nessa perspectiva, como
deve ser repartido o valor arrecadado?

Por força do artigo 186 do Código Tributário Nacional, a preferência é dos créditos decorrentes da
legislação do trabalho. Assim, os empregados devem receber o valor de R$ 150.000,00, o que representa a
quitação da dívida com relação a eles. O valor remanescente, de R$ 100.000,00, deve ser repassado para a
União Federal, por se tratar de dívida de natureza tributária. Como houve o esgotamento do valor
arrecadado, nada é repassado à instituição financeira.

Embora essa seja a regra sobre a preferência do crédito tributário, há importante exceção, constante do
parágrafo único do artigo 186, que disciplina a ordem de preferência no caso de falência:

Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo
de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do
acidente de trabalho. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Parágrafo único. Na falência: (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias passíveis de


restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com garantia real, no limite do valor
do bem gravado; (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos decorrentes da
legislação do trabalho; e (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

III – a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados. (Incluído pela Lcp nº 118, de
2005)

Por força do inciso III do artigo 186, que deve ser interpretado em conjunto com o artigo 124 da Lei
11.101/200528, no caso de falência do devedor há a necessidade de fracionamento do crédito tributário em
três partes: a) valor do tributo acrescido de correção monetária e juros até a data da falência; b) valor das
multas tributárias; c) valor dos juros moratórios vencidos após a decretação da falência.

As multas tributárias preferem apenas aos créditos subordinados na falência, ou seja, são pagas somente
se os créditos das seguintes classes forem satisfeitos: i) créditos derivados da legislação trabalhista,
limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de
trabalho; ii) créditos com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado; iii) valores devidos a
título de tributo, correção e juros vencidos até a data da quebra; e iv) créditos quirografários.

28
Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, previstos em lei ou em contrato,
se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados.

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Os juros moratórios vencidos após a decretação da falência possuem posição ainda menos privilegiada,
conforme evidenciam os artigos 83, inciso IX e 124, ambos da Lei 11.101/2005:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: [...]

IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei.
(Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência,
previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores
subordinados.

Assim, eles somente são pagos se todos os credores subordinados também o forem, o que é algo bastante
raro na prática.

O valor devido a título de tributo acrescido de correção monetária e juros até a data da falência possui
preferência sobre a maior parte dos créditos, salvo com relação: i) aos créditos extraconcursais; ii) às
importâncias passiveis de restituição; iii) aos créditos decorrentes da legislação do trabalho ou de acidente
do trabalho, no limite estabelecido pela legislação; iv) aos créditos com garantia real, no limite do valor do
bem gravado.

Os créditos extraconcursais (i) são aqueles que dizem respeito às obrigações ocorridas após a falência ou
durante o curso da recuperação judicial, conforme enuncia o artigo 84 da Lei 11.101/2005:

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os
mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, aqueles relativos: (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)

I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo financiador, em


conformidade com o disposto na Seção IV-A do Capítulo III desta Lei; (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)

I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art. 86 desta Lei;
(Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, aos reembolsos
devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos derivados da legislação trabalhista
ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da
falência; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

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I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação


judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência; (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)

II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)

III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do seu


produto e custas do processo de falência; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido
vencida; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a
ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

§ 1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas pelo administrador
judicial com os recursos disponíveis em caixa. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

§ 2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 desta Lei. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020).

O dispositivo foi alterado pela Lei nº 14.112/2020, que ampliou o rol de créditos considerados como
extraconcursais, além de ter alterado a ordem de preferência entre eles. A remuneração do administrador
judicial, por exemplo, cedeu preferência às quantias mencionadas nos artigos 150 29 e 15130; ao valor que
eventual financiador tenha efetivamente entregado ao devedor durante a recuperação judicial31; bem
como aos créditos que constituam objeto de restituição em dinheiro, de acordo com o artigo 86.

Ademais, o legislador conferiu maior importância às obrigações assumidas durante a recuperação judicial,
que devem ser satisfeitas logo após o pagamento do administrador judicial. A mudança foi realizada pelo
seguinte motivo: anteriormente, essa classe era a última dentre os créditos extraconcursais, o que
desincentiva instituições financeiras e fornecedores a fornecerem créditos a pessoa jurídica recuperada,

29
Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência, inclusive na hipótese de
continuação provisória das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, serão pagas pelo administrador judicial
com os recursos disponíveis em caixa.
30
Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da
falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa.
31
A positivação da possibilidade de celebração de contratos de financiamento pelo devedor em recuperação judicial trata-se de
inovação trazida pela Lei nº 14.112/2020. O tema foi inserido na Lei nº 11.101/2005 por meio dos artigos 69-A a 69-F, prevendo,
entre outras coisas, que o financiamento poderá ser realizado por qualquer pessoa, inclusive credores, familiares, sócios e
integrantes do grupo do devedor; bem como que qualquer pessoa ou entidade poderá garantir o financiamento, inclusive o
próprio devedor, por meio da oneração ou a alienação fiduciária de bens e direitos.

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pelo receio de que a empresa falisse e os valores não fossem recuperados. Com o novo regramento,
objetiva-se facilitar a obtenção de créditos pela pessoa jurídica em recuperação.

As importâncias passíveis de restituição (ii) concernem àqueles bens ou direitos que sequer são de
propriedade do falido, razão pela qual não podem ser utilizados para satisfação do crédito tributário. Na
redação originária da Lei de Falências, tais quantias não faziam parte do rol dos créditos considerados
extraconcursais, o que justificativa sua inclusão como uma modalidade autônoma na previsão do artigo
186 do CTN. Com o advento da Lei nº 14.112/2020, tais importâncias agora possuem o status de crédito
extraconcursal, de forma que a disposição do artigo 186, parágrafo único, inciso I do CTN tornou-se
redundante sob este aspecto.

Exemplo bastante corriqueiro de importância passível de restituição é do bem alienado fiduciariamente ao


falido. Embora o devedor tenha a posse, a propriedade é do credor fiduciário, que tem o direito de pedir a
sua restituição ao juízo falimentar.

Diferentemente do que ocorre quando não há a falência do devedor, os créditos com garantia real têm
preferência sobre o crédito tributário na falência, até o limite do valor do bem gravado (iii).

Assim, imaginemos que o devedor falido X possui diversas dívidas. Ele deve R$ 200.000,00 para um credor
hipotecário (instituição financeira), R$ 100.000,00 para a União Federal, referente a tributos inadimplidos,
e R$ 1.000.000,00 para fornecedores sem qualquer garantia. Supomos que o único bem de sua
propriedade seja justamente aquele que foi hipotecado, o qual foi arrematado na falência pelo valor de R$
250.000,00. Nessa perspectiva, como deve ser repartido o valor arrecadado?

Por força da regra do inciso I do artigo 186, a preferência é do credor com garantia real, no caso a
instituição financeira, que deve receber a quantia de R$ 200.000,00. O valor remanescente, de R$
50.000,00, deve ser repassado à União Federal, o que implica apenas na quitação parcial dos tributos
devidos. Os fornecedores, por outro lado, nada recebem.

Os créditos decorrentes da legislação trabalhista ou de acidente do trabalho (iv) mantêm, também na


falência, a preferência sobre o crédito tributário, mas com uma diferença. Nesse caso, a lei pode
estabelecer limites para fruição da preferência, o que efetivamente o fez com a edição da Lei 11.101/2005,
cujo artigo 83 dispõe no seguinte sentido:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-


mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020) [...]

Os créditos trabalhistas que excederem ao limite de 150 salários-mínimos são quirografários, não
preferindo ao crédito tributário, conforme determina o inciso VI, alínea c do artigo 83 da Lei 11.101/2005.

Tudo o que dissemos vale para os créditos tributários que se submetem ao concurso de credores, porque
seus fatos geradores ocorreram antes da falência. Mas há também os créditos tributários extraconcursais,
provenientes de obrigações surgidas após a decretação da falência do devedor, do que é exemplo o IPTU

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incidente sobre os imóveis do falido. Sobre o tema, colacionamos o artigo 188 do Código Tributário
Nacional e o artigo 84, inciso V, da Lei 11.101/2005:

Código Tributário Nacional

Art. 188. São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos
no curso do processo de falência. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

§ 1º Contestado o crédito tributário, o juiz remeterá as partes ao processo competente,


mandando reservar bens suficientes à extinção total do crédito e seus acrescidos, se a massa
não puder efetuar a garantia da instância por outra forma, ouvido, quanto à natureza e valor
dos bens reservados, o representante da Fazenda Pública interessada.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se aos processos de concordata.

Lei 11.101/2005

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os
mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, aqueles relativos: (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020) [...]

V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a
ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) [...]

Os créditos extraconcursais são pagos prioritariamente sobre todos os créditos concursais. Assim, por
exemplo, entre o pagamento do IPTU que incidiu após a falência e os valores provenientes das obrigações
trabalhistas geradas antes da quebra, deve-se pagar em primeiro lugar o crédito do IPTU.

Em existindo mais de um crédito extraconcursal, deve-se observar a ordem prevista pelo artigo 84 do
Código Tributário Nacional.

1.11 – DIREITO PROCESSUAL COLETIVO

1.11.1 - Legitimidade do Ministério Público do Trabalho nas demandas coletivas

O Ministério Público do Trabalho integra o Ministério Público da União, na forma do art. 8, I, ‘b’ da
Constituição, sendo regido pela LC 73/93. Nessa formatação, possui o MPT legitimidade para instauração
do inquérito civil e propositura de ações coletivas na esfera trabalhista, em especial por conta da EC 45,
conhecida como reforma do Judiciário, que reforçou as competências da Justiça do Trabalho. As funções
institucionais do Ministério Público do Trabalho, além de compreendidas genericamente no art. 129 da
Constituição (levando-se em consideração o inciso III), são mencionadas pelo art. 83 da LC 75/93, da qual
se destaca:

Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto
aos órgãos da Justiça do Trabalho: III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do

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Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais


constitucionalmente garantidos; III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do
Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos;

Desta forma, forçoso reconhecer a inserção do MP em temas de direitos coletivos, dentro do


microssistema processual coletivo, inclusive por entendimento do Supremo Tribunal Federal:

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Processual do Trabalho. 3.


Ação Civil Pública. Ministério Público do Trabalho. Legitimidade para defesa de direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos. Precedentes desta Corte. 4. Violação aos princípios do
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. Ofensa reflexa. ARE-RG 748.371. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento. ARE 1057601 AgR. Min. Gilmar Mendes.
10/10/2017.

Desta forma, utiliza-se o MPT dos conceitos previstos no art. 81 do Código de Defesa do Consumidor,
devendo interpretá-los à luz da matéria trabalhista especializada, podendo, para tanto, fazer valer os
procedimentos administrativos tradicionais voltados à defesa dos direitos difusos e coletivos.

1.11.2 - Legitimidade do Ministério Público Militar nas demandas coletivas

O Ministério Público Militar integra o Ministério Público da União, na forma do art. 8, I, ‘d’ da
Constituição, sendo regido pela LC 75/93. O MPM atua em matéria altamente especializada, notadamente
afeta aos órgãos da Justiça Militar. Não obstante esta especialização, a Constituição não o veda como parte
legítima para o ajuizamento de demandas coletivas. Todavia, em razão de sua especialidade, a
interpretação deve ser mais restritiva do que a relacionada ao MPT, mesmo porque a LC 75/93, quando
trata de atribuições específicas do MPM, nada menciona sobre demandas coletivas. De qualquer sorte, as
funções institucionais do Ministério Público previstas no art. 129 da Carta Magna aproveitam a todos os
ramos do MP, na medida de suas particularidades. É como vem se inclinando a jurisprudência:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
LEGITIMIDADE ATIVA. 1. In casu,o Ministério Público Militar ajuizou ação civil pública para compelir às Forças Armadas, em
todo o território nacional, a não utilizar os militares subalternos em atividades domésticas na residência de seus ofciais
superiores. O MM. Juízo a quo considerou que a competência do MPM está restrita ao disposto nos arts. 116 e 117, da LC n°
75/93, onde não se encontra a ação civil pública, de modo que o MPM não teria legitimidade ativa para o feito. O art. 128, da
CF/88, refere-se ao Ministério Público como instituição, abrangendo tanto o
Ministério Público da União e seus desdobramentos (Ministério Público Federal, Ministério Público Militar, Ministério público
do Trabalho e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) quanto o Ministério Público dos Estados. Da mesma forma
ocorre no art. 129, CF/88, o qual estabelece as suas funções institucionais, dentre estas a promoção da Ação Civil Pública, “para
a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”. Ademais, nos termos
do § 5°, do art. 128, CF/88, lei complementar estabeleceria a organização, as atribuições e o
estatuto de cada Ministério Público. Assim, foi editada a Lei Complementar n° 75/93, que dispõe sobre o Ministério Público da
União e seus desdobramentos. Nos seus arts. 116 e 117, o referido diploma legal estabelece as atribuições do Ministério
Público Militar. Entretanto, não sé pode olvidar que as funções institucionais do Ministério Público, na qual está abrangido o
Ministério Público
Militar, vêm estabelecidas constitucionalmente. Portanto, da exegese do art. 129, da CF/88, constata-se que é função do
Ministério Público Militar, também, a promoção da Ação Civil Pública, no âmbito da Justiça Militar. Perante a Justiça Federal,
quem detém a legitimidade ativa é o Ministério Público Federal. Pode o Ministério Público Militar, somente, atuar como
litisconsorte ativo facultativo no presente feito. 2. Provimento da apelação. T ribunal Regional Federal da 4ª Região.

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Apelação Cível nº 2008.71.02.004712-8/RS, Relator Des. Federal CARLOS EDUCARDO


THOMPSON FLORES LENZ, Acórdão publicado em 07/05/2009.

1.12 - DIREITO MATERIAL COLETIVO

1.12.1 - Teses recentes do Superior Tribunal de Justiça

Jurisprudência em Teses edição 162

7) A responsabilidade da instituição financeira deve ser afastada quando o evento danoso decorre de
transações realizadas com a apresentação física do cartão original e mediante uso de senha pessoal do
correntista.

O rompimento do nexo de causalidade na relação de consumo isenta o fornecedor de produtos e serviços.


No caso da tese do STJ, não obstante os comandos protetivos do CDC, a instituição financeira não pode ser
responsabilizada por algo que está fora da cadeia de consumo formal. É responsabilidade do consumidor a
guarda e o uso do original do cartão e senha, devendo comunicar aos órgãos competentes e cancelar o
cartão caso haja algum infortúnio. Assim, no caso de culpa exclusiva do consumidor, a responsabilidade
objetiva do fornecedor de produtos e serviços resta afastada. Nesse sentido se posiciona o STJ:

[...] Hipótese em que o Tribunal de origem, examinando as circunstâncias da causa, considerou


que os alegados prejuízos decorrentes dos saques realizados na conta corrente da pessoa
jurídica autora decorreriam de sua própria culpa, uma vez que, embora efetuados por sócio não
autorizado, foram realizados mediante o uso do cartão físico e respectiva senha. Acórdão em
consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Súmula 83/STJ. [...] AgInt no
AREsp 1626902 / MG. Min. Raul Araújo. DJe 23/09/2020

É a dicção do art. 14, §3º, II do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. §
3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: II - a culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiro.

1.12.2 - Litígios transindividuais globais, locais e irradiados (classificação de direitos


coletivos por Edilson Vitorelli)

Caro (a) aluno (a), neste tema aprofundado trataremos da contemporânea e importantíssima classificação
de Direitos Coletivos do professor Edilson Vitorelli, respeitadíssimo processualista brasileiro e membro do
Ministério Público Federal.

O tema já foi objeto de cobrança em uma prova objetiva do MP/MG e em provas discursivas e orais de
outros concursos de Ministério Público. Como o assunto ganha cada vez mais importância e os

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examinadores do Parquet mineiro gostam muito do prof. Vitorelli, essa é uma de nossas apostas para a sua
prova. Trata-se de um tópico que com certeza será cobrado em pelo menos uma das fases do certame.

Para Edilson Vitorelli, o conceito legal de direitos transindividuais, tal como positivado no CDC, é
insuficiente para refletir com precisão todos os litígios relacionados a esses direitos. De início, vamos
revisar a classificação legal, de enorme incidência em provas:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

Todavia, o prof. Vitorelli percebeu que os litígios coletivos têm graus variados de complexidade e
conflituosidade, que impedem que todos eles sejam tratados da mesma forma, sob pena e se dedicar
recursos desnecessários simples e se simplificar indevidamente casos complexos, ou de se suprimir
indevidamente divergências sociais legítimas.

Ademais, a depender da situação concreta, não raramente o mesmo caso pode ser classificado
simultaneamente como um direito difuso, coletivo e/ou individual homogêneo. Assim, a classificação legal
não é a mais adequada, tendo em vista a realidade concreta.

A partir disso, o proceussualista mineiro propõe uma conceituação dos direitos coletivos, em três
categorias, a partir das premissas teóricas sociológicas de Elliott e Turner, atribuindo sua titularidade a
uma sociedade que é constituída sob o prisma do litígio transindividual, com o objetivo de proporcionar
parâmetros para sua tutela jurídica. Nesse sentido, Vitorelli tem como ponto de partida o litígio
concretamente verificado, ao invés de classificação abstrata de direito ou de pretensões.

Vamos às classificações, que se pautam em dois critérios primordiais (grau de conflituosidade e grau de
complexidade):

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 Litígios transindividuais globais: envolvem situações que não atingem, de modo particular, nenhum
indivíduo. O grau de conflituosidade do grupo titular do direito é baixo, pois os indivíduos que o
compõem são atingidos de modo uniforme pela lesão e praticamente não há interesse pessoal no
conflito. A tendência é, também, de serem litígios menos complexos. Ou seja, a complexidade é
variável, mas tende a ser baixa. Exemplo: lesão ao meio ambiente, consistente o vazamento de
óleo em pequena quantidade no meio do oceano. Nessas hipóteses, há baixo conflito interno com
maior possibilidade de autocomposição.
 Litígios transindividuais locais: situações em que a violação de direitos coletivos atinge de modo
específico pessoas que integram uma sociedade/comunidade altamente coesa, unidas por laços
identitários de solidariedade social, emocional e territorial. A lesão ou ameaça de lesão atinge
diretamente um grupo de indivíduos que compartilham de uma identidade própria comum ou de
uma mesma perspectiva social. Nesse caso, a conflituosidade é média, pois a comunidade tende a
ser mais coesa, mas ainda é possível que haja divergências internas dentro do próprio grupo. A
complexidade é variável. Exemplo: violações de direitos coletivos que envolvem comunidades
tradicionais (índios ou quilombolas).
 Litígios transindividuais irradiados (ou de difusão irradiada): são litígios que envolvem a lesão ou
ameaça de lesão, a direitos transindividuais que interessam, de um modo desigual e variável, a
distintos seguimentos sociais. Portanto, há alto grau de conflituosidade e alta complexidade. O
direito material é titularizado pela sociedade elástica composta pelas pessoas que são atingidas
pela lesão. As pessoas afetadas não compõem uma comunidade, não tem a mesma perspectiva
social e não serão atingidas, na mesma medida, pelo resultado do litígio, o que faz com que suas
visões acerca de seu resultado desejável sejam divergentes e, não raramente, antagônicas.
Exemplos: construção de uma hidrelétrica e proibição da queima de palha de cana de açúcar em
regiões canavieiras.

Por fim, nos litígios de alta conflituosidade e alta complexidade, é muito mais difícil identificar o
legitimado adequado à condução do processo coletivo, razão pela qual o caso deve ser conduzido por um
legitimado que seja um ente público, como é o caso do Ministério Público. Ainda, o Poder Judiciário deve
garantir a participação no processo, como colegitimado ou amicus curiae, de entes que possam defender
as variadas perspectivas do conflito.

Sobretudo nos litígios de alta complexidade, muito provavelmente o processo e as decisões serão
estruturais, sendo tomada decisões mais flexíveis e provisórias, com inclusão dos envolvidos na supervisão
das medidas adotadas, com possibilidade de contínuas revisões para adequação das medidas aos
problemas surgidos ao longo de sua implementação, iniciando-se por decisões estruturantes
(organizativas) que estabeleçam metas, objetivos e parâmetros de controle do cumprimento e da
efetividade das medidas judiciais adotadas.

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Complexidade
Critérios de classificação
Conflituosidade
CLASSIFICAÇÃO DOS LITÍGIOS
COLETIVOS POR VITORELLI Difusão global

Espécies de litígio Difusão local

Difusão irradiada

2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Direito Material Coletivo 6
Direito Processual Coletivo 6
Direito Constitucional 6
Direito Administrativo 6
Legislação Penal Especial 6
Direito Processual Civil 6
Direito Processual Penal 6
Direito Civil 3
Direito da Criança e do Adolescente 3
Direito eleitoral 3
Direito Tributário 3

Vamos lá!

2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. A organização judiciária dos Territórios pode ser objeto de projeto de lei de iniciativa:
a) Geral.
b) Reservada ao Supremo Tribunal Federal.
c) Reservada ao Presidente da República.
d) Reservada ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
e) Concorrente.

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Comentários

À luz do art. 61, § º, inc. II, “b”, da Constituição da República, a iniciativa dos projetos de lei que
disponham sobre a organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços
públicos e pessoal da administração dos Territórios é reservada ao Presidente da República.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa C.

Questão 2. Os Tribunais de Justiça Militar, caso tenham sido instituídos, pertencem a:


a) Justiça Militar Federal.
b) Justiça Estadual Comum.
c) Justiça Militar Estadual.
d) Justiça Federal Comum.
e) Justiça Militar Municipal.

Comentários

A Justiça Militar Estadual é composta pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar, cuja instituição
é discricionária nos Estados em que o efetivo militar seja superior a 20 mil integrantes, Conselhos de Justiça
Militar, sob a presidência do Juiz-Auditor, e Juízos de Direito, contidos nos limites da circunscrição
judiciária, nas regras do art. 125, §§ 3º a 5º, da Constituição Federal.

Nessa ordem de ideias, o Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar dispõem de competência para
processar e julgar, originariamente, a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças,
motivo pelo qual a alternativa C está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Perda de graduação de praça da polícia militar. Sanção disciplinar administrativa. Esta Corte já
firmou o entendimento de que a perda de graduação de praça da polícia militar, como sanção
disciplinar administrativa, não se dá por meio de julgamento da Justiça Militar Estadual, mas
mediante processo administrativo na própria corporação, assegurando-se direito de defesa e o
contraditório (...). No caso, por equivocada interpretação do acórdão desta Corte prolatado no
RE 121.533, o Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo se deu por competente para
julgar a perda de graduação de praça provocado por meio de representação do Comandante
Geral da Corporação diante do apurado em processo disciplinar sumário. Essa questão de
competência, no entanto, não é objeto do presente recurso extraordinário. Falta de
prequestionamento das alegadas ofensas ao caput e aos incisos X e LIII do art. 5º da
Constituição. Improcedência das alegações de violação aos incisos LIV, LV, LXI e LXIII do art. 5º
da Carta Magna. Recurso extraordinário não conhecido” (STF, RE nº 6.97 , Rel. Min. Moreira
Alves, J. 18.04.2000, DJU 09.06.2000).

Questão 3. O órgão responsável pelo controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário
e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes é o:

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a) Conselho Federal de Justiça.


b) Conselho Nacional da Magistratura.
c) Supremo Tribunal Federal.
d) Conselho Federal da Magistratura.
e) Conselho Nacional de Justiça.

Comentários

O Conselho Nacional de Justiça é responsável pelo controle da atividade administrativa e financeira dos
órgãos jurisdicionais, assim como do cumprimento dos deveres funcionais das autoridades judiciais.

O controle administrativo é exibido pela apreciação, de ofício ou mediante provocação, da legalidade dos
atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, com possibilidade de
desconstituição, revisão ou fixação de prazo para que se adotem as providências necessárias ao
cumprimento da lei (art. 103-B, § 4º, inc. II, in fine).

O controle financeiro é exposto pela fiscalização da aplicação de recursos e assunção de obrigações, de


acordo com os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias (art. 103-B, § 4º, initio).

O controle disciplinar é exteriorizado pelo recebimento e conhecimento de reclamações contra membros


ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias, notários e oficiais de
registro e de seus prepostos, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da Instituição,
podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, disponibilidade ou aposentadoria
com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas,
bem como da revisão, de ofício ou mediante provocação, dos processos disciplinares de juízes,
desembargadores ou ministros julgados há menos de um ano (art. 103-B, § 4º, incs. III e V, todos da
Constituição da República).

Em razão disso, a alternativa E está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa reconhecida. A AMATRA e AJUFE.


Resolução nº 184, do Conselho Nacional de Justiça, de 6 de dezembro de 2013.
Regulamentação pelo CNJ da criação de cargos, funções e unidades judiciárias no âmbito do
Poder Judiciário. Está inserido no complexo de atribuições do CNJ o controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário. Exigência de parecer do CNJ a respeito de
anteprojetos de lei garante que o melhor interesse público seja atendido. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente” (STF, ADI nº 5. , Rel. Min. Gilmar Mendes, J.
22.09.2020, DJU 06.10.2020).

Questão 4. Sobre o funcionamento do Poder Judiciário, assinale a alternativa incorreta:


a) Aos Tribunais de Justiça compete julgar os juízes estaduais, nos crimes comuns e de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

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b) Ao Superior Tribunal de Justiça compete homologar sentenças estrangeiras e conceder exequatur às


cartas rogatórias.
c) Não há prerrogativa de função para processo e julgamento de ação popular.
d) Ao Supremo Tribunal Federal compete resolver incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal, em qualquer fase do inquérito ou processo, com a finalidade de assegurar o cumprimento
de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.
e) Aos Juízes de Direito compete julgar as causas nas quais sociedades de economia mista federais figurem
como interessadas.

Comentários

Considerando que ao Superior Tribunal de Justiça compete resolver incidente de deslocamento de


competência para a Justiça Federal, em qualquer fase do inquérito ou processo, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, de acordo com o art. 109, § 5º, da Constituição da República, evidencia-se
incorreta a alternativa D.

De outro giro, estão corretas as demais alternativas, a partir da constatação de que aos Tribunais de Justiça
compete julgar os juízes estaduais, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral (art. 96, inc. III); ao Superior Tribunal de Justiça compete homologar sentenças estrangeiras
e conceder exequatur às cartas rogatórias (art. 95, inc. I, “i”); não há prerrogativa de função para processo
e julgamento de ação popular (art. 5º, inc. LXXIII) e aos Juízes de Direito compete julgar as causas nas quais
sociedades de economia mista federais figurem como interessadas (art. 109, inc. I).

Questão 5. No que se refere às garantias do Poder Judiciário, com destaque à vitaliciedade conectada à
noção de independência, marque a alternativa correta:
a) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque, com a vitaliciedade, ocorre a
estabilidade perpétua do magistrado.
b) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque, com a vitaliciedade, os magistrados só
perdem o cargo havendo sentença judicial transitada em julgado.
c) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque a vitaliciedade se adquire tão logo ocorra
o exercício do cargo.
d) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque a vitaliciedade só se aplica ao juiz de
carreira, não se estendendo aos advogados que integram a carreira da magistratura pela regra do quinto
constitucional.
e) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque, com a vitaliciedade, o magistrado só
perde o cargo quando ocorre decisão da mais Alta Corte do País.

Comentários

Os magistrados gozam da garantia da vitaliciedade, que, no primeiro grau, só é adquirida após 2 (dois) anos
de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver

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vinculado, e, nos demais casos, de decisão judicial transitada em julgado, como dispõe o art. 95, inc. I, da
Constituição Federal.

Deve o candidato assinalar a alternativa B, portanto.

JURISPRUDÊNCIA

“Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado-membro dispõem dos mesmos


predicamentos que protegem os magistrados, notadamente a prerrogativa jurídica
da vitaliciedade (CF, art. 75 c/c o art. 73, § 3º), que representa garantia constitucional
destinada a impedir a perda do cargo, exceto por sentença judicial transitada em julgado (...).
Conforme restou comprovado, o ato reclamado afastou o reclamante cautelarmente de suas
funções, sem decretar-lhe a perda do cargo. Tal medida é possível” (STF, Rcl-AgR nº 17.557, Rel.
Min. Gilmar Mendes, J. 09.06.2014, DJU 13.06.2014).

Questão 6. O orçamento público é a lei que fixa as despesas e prevê as receitas públicas, sendo
importante instrumento de controle dos gastos públicos, planejamento e participação popular.
Historicamente, foram desenvolvidas diferentes espécies de orçamento, dentre elas:
a) O orçamento programa é aquele em que se estima receitas e autoriza despesas, com ênfase limitada no
resultado.
b) O orçamento tradicional é um importante instrumento de planejamento governamental, uma vez que
há grande preocupação com a eficiência dos gastos públicos.
c) O orçamento base-zero consiste em orçamento desvinculado de qualquer programa estatal específico,
razão pela era considerado mera peça contábil.
d) O orçamento tradicional era considerado mera peça contábil, uma vez que era desvinculado de qualquer
planejamento estatal.
e) O orçamento de desempenho foi adotado pela Lei geral do Orçamento (Lei 4.320/64), tendo em vista
que os recursos arrecadados estão relacionados a objetivos, metas e projetos, todos vinculados a um
programa estatal.

Comentários

O orçamento público pode ser das seguintes espécies: tradicional, desempenho, programa e base-zero.

O orçamento tradicional era considerado mera peça contábil, uma vez que era desvinculado de qualquer
planejamento estatal e não havia a previsão de metas ou objetivos a serem atingidos.

Por sua vez, o orçamento de desempenho estima receitas e autoriza despesas, com ênfase limitada no
resultado. Em que pese a previsão de objetivos ao Governo, o orçamento de desempenho não se confunde
com o orçamento programa, uma vez que lhe falta a vinculação a um planejamento estatal.

Já o orçamento programa é uma verdadeira evolução em relação aos demais. Nele, os recursos
arrecadados estão relacionados a objetivos, metas e projetos, todos vinculados a um programa estatal.
Trata-se do modelo adotado no Brasil a partir da promulgação da Lei Federal nº 4.320/64.

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Essa espécie de orçamento constitui um importante instrumento de planejamento governamental, uma


vez que está pautado no alcance de resultados e na eficiência dos gastos públicos.

Por fim, o orçamento base-zero, consiste em uma técnica de elaboração do orçamento, pela qual todo
recurso, antes de ser incluído no orçamento, deve ser questionado independentemente do montante
anteriormente previsto. Ou seja, é necessário que cada órgão justifique seus gastos sem utilizar o
montante do exercício anterior como parâmetro32.

A partir do exposto, conclui-se que o gabarito da questão é a alternativa D.

Gabarito: letra D.

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Marque a alternativa correta de acordo com os mais recentes posicionamentos do STJ:
a) Pessoa Jurídica de Direito Público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à
violação da honra ou da imagem.
b) Os juros compensatórios observam o percentual vigente no momento de sua incidência.
c) Os editais de licitação ou pregão podem conter cláusula prevendo percentual mínimo referente à taxa de
administração.
d) Implica nulidade do processo administrativo, decorrente da inobservância do direito à não
autoincriminação, quando a testemunha, até então não envolvida, noticia elementos que trazem para si
responsabilidade pelos episódios em investigação.

Comentários

Letra A – Errada – De acordo com o STJ, no julgamento do REsp 1.722.423-RJ, a Pessoa Jurídica de Direito
Público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem,
quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais
jurisdicionados em geral for evidente.

Letra B – CERTO – De acordo com o STJ, Os juros compensatórios observam o percentual vigente no
momento de sua incidência.

32
Leite, Harrison. Manual de Direito Financeiro, 9. ed., Salavador, JusPodivm, 2020, pág. 131.

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Letra C – Errado – Segundo fixado pelo STJ, Os editais de licitação ou pregão não podem conter cláusula
prevendo percentual mínimo referente à taxa de administração, sob pena de ofensa ao artigo 40, inciso X,
da Lei n. 8.666/1993.

A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão fere


expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei n. 8.666/1993, que veda "a fixação de preços
mínimos, critérios estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de referência".

A própria Lei de Licitações, a exemplo dos §§ 1º e 2º do art. 48, prevê outros mecanismos de combate às
propostas inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia adicional, tal
como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária.

Sendo o objetivo da licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração - consoante
expressamente previsto no art. 3º da Lei n. 8.666/1993 -, a fixação de um preço mínimo atenta contra esse
objetivo, especialmente considerando que um determinado valor pode ser inexequível para um licitante,
porém exequível para outro.

Deve a Administração Pública, portanto, buscar a proposta mais vantajosa; em caso de dúvida sobre a
exequibilidade, ouvir o respectivo licitante; e, sendo o caso, exigir-lhe a prestação de garantia. É o que
dispõe a Súmula 262/TCU: "O critério definido no art. 48, inciso II, § 1º, alíneas 'a' e 'b', da Lei n.
8.666/1993 conduz a uma presunção relativa de inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar
à licitante a oportunidade de demonstrar a exequibilidade da sua proposta."

Cuida-se a escolha da taxa de administração de medida compreendida na área negocial dos interessados, a
qual fomenta a competitividade entre as empresas que atuam nesse mercado, em benefício da obtenção
da melhor proposta pela Administração Pública.

Portanto, a interpretação mais adequada da Lei n. 8.666/1993, especialmente dos arts. 40, inciso X, e 48,
§§ 1º e 2º, conduz à conclusão de que o ente público não pode estipular cláusula editalícia em
licitação/pregão prevendo percentual mínimo referente à taxa de administração, havendo outros
mecanismos na legislação aptos a resguardar a Administração Pública de eventuais propostas inexequíveis.

Letra D – Errada – De acordo com o STJ, Não implica nulidade do processo administrativo, decorrente da
inobservância do direito à não autoincriminação, quando a testemunha, até então não envolvida, noticia
elementos que trazem para si responsabilidade pelos episódios em investigação.

Cinge-se a controvérsia em saber se o fato de o impetrante ter prestado, inicialmente, depoimento na


qualidade de testemunha (dando conta de seu ilícito funcional), mas vindo, depois, a ser sancionado pela
autoridade impetrada, erige-se em ocorrência capaz de gerar a nulidade do respectivo PAD, por alegada
violação à cláusula vedatória da autoincriminação (nemo tenetur se detegere).

Consoante anotou o Ministro Herman Benjamin, em hipótese assemelhada, no âmbito do MS 20.693/DF:


"a questão não é saber se deveria ou não ter sido assegurado direito a não incriminação àquele que já se
sabe implicado nos fatos, quando da tomada do depoimentos", mas sim "se é caso de anulação de
processo administrativo quando a testemunha, até então não envolvida, noticia elementos que trazem
para si responsabilidade pelos episódios em investigação."

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Quando do julgamento do mencionado MS 20.693/DF, a Primeira Seção concluiu ser "inconcebível que
aquele que depõe na qualidade de testemunha, sem esgrimir previamente qualquer elemento de
irresignação, e nessa qualidade narra sua participação no acontecimento, possa, depois de apuradas as
lindes de seu atuar, querer dessa inércia se valer para afastar sua responsabilidade."

Assim, entendendo o impetrante que prestar depoimento agora criticado poder-lhe-ia ser prejudicial, era
seu dever invocar, a tempo e modo, o direito de não autoincriminação, a fim de se eximir de depor na
condição de testemunha. Razão pela qual não lhe é lícito invocar, tardiamente, o direito ao silêncio, vez
que, por sua própria vontade, apontou, durante sua oitiva, fatos que atraíram para si a responsabilidade
solidária pelos ilícitos em apuração.

Gabarito: B

Questão 2. Ainda de acordo com os recentes posicionamentos do STJ, julgue os itens abaixo:
I - Veículo de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados públicos sobre óbitos
relacionados a ocorrências policiais.
II - A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer
mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação.
III - As fundações públicas de direito privado fazem jus à isenção das custas processuais.
Está (ão) corretos:
a) I e III
b) II e III
c) Todos os itens estão corretos
d) I e II

Comentários

Item I – Correto – Trata-se de entendimento do STJ fixado no REsp 1.852.629-SP

Item II – Correto – Trata-se de entendimento do STJ fixado no REsp 1.813.255-SP

Item III – Errado – De acordo com o STJ, no julgamento do REsp 1.409.199-SC, As fundações públicas de
direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.

Gabarito: D

Questão 3. De acordo com os recentes entendimentos do STF sobre o Direito Administrativo, marque a
assertiva correta:
A) É inconstitucional o aproveitamento de servidor, aprovado em concurso público a exigir formação de
nível médio, em cargo que pressuponha escolaridade superior.
B) É legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples
fato de responder a inquérito ou ação penal.

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C) Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional nº


19/1998, o teto constitucional previsto no inciso XI do artigo 37 da Constituição Federal incide
individualmente sobre a remuneração ou provento e a pensão percebida por servidor.
D) O Estado responde diretamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são
cancelados por indícios de fraude.

Comentários

Letra A – Correto - O enquadramento de servidor público ocupante de cargo, cujo requisito de investidura
era a formação no ensino médio, em outro, relativamente ao qual é exigido a formação em curso superior,
constitui burla à exigência constitucional de concurso público, bem como ao disposto no art. 39, § 1º, II, da
Constituição Federal.

Letra B – Errado – De acordo com o STF, Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei,
não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo
simples fato de responder a inquérito ou ação penal (RE 560900)

Letra C – Errada – Segundo fixado pelo STF, Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento
posterior ao da Emenda Constitucional nº 19/1998, o teto constitucional previsto no inciso XI do artigo 37
da Constituição Federal incide sobre o somatório de remuneração ou provento e pensão percebida por
servidor. (RE 602584)

Letra D – Errada – De acordo com o STF, no julgamento do RE 662405, O Estado responde subsidiariamente
por danos materiais causados a candidatos em concurso público organizado por pessoa jurídica de direito
privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são cancelados por indícios de fraude.

Gabarito: A

Questão 4. Ainda de acordo com o STF, julgue os itens abaixo:


I – É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
II - Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do
terço constitucional, salvo (I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II)
comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de
sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações.
III – Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores
públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou
indenizatório.
IV - O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de
projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos,
tampouco para fixar o respectivo índice de correção.
A) Os itens I e II estão errados

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B) Todos os itens estão corretos


C) Os itens II e IV estão errados
D) Apenas o item III está correto.

Comentários

Item I – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 633782

Item II – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 1066677

Item III – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 710293

Item IV – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 843112

Gabarito: B

Questão 5. Servidor público que, no exercício da função pública, concorrer para que terceiro enriqueça
ilicitamente estará sujeito a responder por ato de improbidade administrativa que
A) atenta contra os princípios da administração pública, se sua conduta for dolosa.
B) atenta contra os princípios da administração pública, ainda que sua conduta seja culposa.
C) importa enriquecimento ilícito, se sua conduta for dolosa.
D) importa enriquecimento ilícito, ainda que sua conduta seja culposa.
E) causa prejuízo ao erário, ainda que sua conduta seja culposa.

Comentários

Trata-se de ato que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10, XII, da Lei nº 8.429/92.

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

Gabarito: E

Questão 6. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) No Brasil, apesar da forte influência francesa, a lei é tida como fonte principal do Direito Administrativo,
malgrado a inexistência de codificação.
b) As bases do Direito Administrativo estão na Constituição Federal.
c) O costume, no âmbito do Direito Administrativo, é prática admitida em casos de lacuna normativa, como
fonte secundária.

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d) O costume administrativo se confunde com a praxe administrativa, posto que ambos derivam da
conjugação do uso corrente (elemento objetivo) e da convicção generalizada da necessidade da sua
observância (elemento subjetivo).

Comentários

Letra A. Correta. No Direito francês, a principal fonte do Direito Administrativo é a jurisprudência dos
órgãos do contencioso administrativo, em que pese a crescente inflação legislativa e regulamentar. No
sistema de common law, a jurisprudência (precedentes judiciais) também se revela a fonte primordial. No
Brasil, apesar da forte influência francesa, a lei é tida como fonte principal do Direito Administrativo,
malgrado a inexistência de codificação. Nesse sentido, a doutrina aponta que a lei, em sentido amplo –
envolvendo desde a Constituição até os regulamentos executivos – é a fonte primária do Direito
Administrativo.

Letra B. Correta. As bases do Direito Administrativo estão na Constituição Federal, a exemplo do que se vê
em relação à intervenção do Estado na propriedade privada (art. 5º, XXIV e XXV; 182, § 3º, III; 184; e 243),
ao regime jurídico do servidor público (arts. 37 a 41), aos princípios da Administração Pública (art. 37), à
regra sobre responsabilidade civil extracontratual do Estado (art. 37, § 6º), à proteção do patrimônio
público (art. 5º, LXXIII; art. 23, I), à regra sobre concessões e permissões de serviços públicos (art. 175), à
disciplina sobre contratos e licitações (art. 37, XXI; art. 22, XXVII) e ao controle interno, judicial e legislativo
(art. 5º, XXXV; 70).

Letra C. Correta. O costume, no âmbito do Direito Administrativo, tem aplicação praticamente nula,
embora se fale em costume administrativo como prática admitida em casos de lacuna normativa, como
fonte secundária.

Letra D. INCORRETA. O costume é norma jurídica que deriva da conjugação do uso corrente (elemento
objetivo) e da convicção generalizada da necessidade da sua observância (elemento subjetivo).

Ressalte-se que, para alguns autores, a exemplo de Diogo de Figueiredo Moreira Neto, o costume
administrativo não se confunde com a praxe administrativa – adotada por conveniência procedimental
dos órgãos da Administração Pública –, por faltar-lhe o elemento subjetivo relacionado ao reconhecimento
de sua indispensabilidade, que recomenda a sua geral observância.

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Em relação ao contrato de mandato e suas hipóteses de revogação, assinale a alternativa
incorreta:
a) A morte do mandante ou do mandatário não enseja a extinção do mandato conferido em causa própria,
assim como a sua revogação não possui eficácia.
b) A mera comunicação ao mandatário sobre a nomeação de outro, para o mesmo negócio, constitui causa
de revogação do mandato anterior, mas se a notificação desta ocorrer somente àquele, não será oponível
aos terceiros que, ignorando-a, de boa-fé com ele trataram.

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c) A vinculação do mandato ao cumprimento ou confirmação de negócios principiados, para os quais nele


se contenha poderes, implica a sua irrevogabilidade.
d) Os atos ajustados em nome do mandante pelo mandatário são válidos em relação aos contratantes de
boa-fé, ainda que já ocorrida a morte do constituinte ou extinto o mandato, se - e enquanto - o procurador,
por qualquer causa, ignorar tais circunstâncias.
e) É inválida a cláusula de irrevogabilidade que tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque, conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua
revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário
dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato,
obedecidas as formalidades legais, nos termos do artigo 685 do Código Civil.

A alternativa B é verdadeira, porque tanto que for comunicada ao mandatário a nomeação de outro, para o
mesmo negócio, considerar-se-á revogado o mandato anterior (art. 687 do CC). Ademais, a revogação do
mandato, notificada somente ao mandatário, não se pode opor aos terceiros que, ignorando-a, de boa-fé
com ele trataram; mas ficam salvas ao constituinte as ações que no caso lhe possam caber contra o
procurador, conforme o artigo 686, “caput”, do Código Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque é irrevogável o mandato que contenha poderes de cumprimento ou


confirmação de negócios encetados, aos quais se ache vinculado, com base no artigo 686, parágrafo único,
do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque são válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes
ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção
do mandato, por qualquer outra causa. É o que prevê o artigo 689 do Código Civil.

A alternativa E é falsa, porque, do contrário, quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um


negócio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato
será ineficaz, na linha do artigo 684 do Código Civil.

Questão 2. A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o


aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de
tutela (Enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil – CJF). No que se refere aos efeitos desse direito
autônomo, assinale a alternativa incorreta:
a) Em via de exceção, a autotutela é admitida pela legislação brasileira para a prática de atos de defesa ou
de desforço destinados à manutenção ou restituição da posse, desde que o possuidor o faça por sua
própria força, isto é, de modo pessoal, não sendo possível a utilização de prepostos ou empregados para o
seu exercício.
b) Entende-se por subjetiva a responsabilidade civil do possuidor de boa-fé, ao passo que o de má-fé
responde objetivamente pela perda ou deterioração da coisa, mesmo que essas decorram de caso fortuito
ou força maior.

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c) O direito de ajuizar a ação possessória pertinente para se proteger de ataque de terceiro que não o
possuidor justo e o direito às despesas da produção e custeio em relação aos frutos, bem como ao
ressarcimento das benfeitorias necessárias, não se prejudicam pela má-fé do possuidor.
d) Admite-se o ajuizamento de ação possessória por particulares com vistas a resguardar a utilização de
bem público de uso comum do povo instituído como servidão de passagem.
e) É possível a perda da posse mesmo por aquele que não haja presenciado o esbulho, se, tendo notícia
deste, abstiver-se da retomada da coisa.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o possuidor turbado ou esbulhado poderá manter-se (legítima defesa) ou
restituir-se (desforço imediato) por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. Não obstante, a lei
autoriza a utilização de prepostos ou empregados para a autotutela, especificamente quando menciona o
manejo das medidas por sua própria força – a responsabilidade do possuidor, porém, será objetiva indireta
ou por atos de outrem, provando-se a culpa de seus prepostos. É o exemplo da autotutela por parte do
caseiro.

A alternativa B é verdadeira, porque, nos moldes do artigo 1.217 do CC, O possuidor de boa-fé não
responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. De outro lado, o possuidor de má-fé
responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se
teriam dado, estando ela na posse do reivindicante, com fulcro no artigo 1.218 do Código Civil. A
responsabilidade em caso de posse de má-fé, portanto, é objetiva, respondendo, inclusive, por caso
fortuito e força maior.

A alternativa C é verdadeira, porque a diferenciação entre possuidor de boa ou má-fé gera efeitos quanto
aos frutos, às benfeitorias e às responsabilidades dos envolvidos com a devida análise do caso concreto,
mas não retira do segundo o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um
ataque de terceiro que não o possuidor justo. Além disso, o possuidor de má-fé responde por todos os
frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento
em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. Ainda, a ele serão
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias, consoante dispõem os artigos 1.216 e 1.220 do Código
Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre
exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de
passagem - STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590).

A alternativa E é verdadeira, porque só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente
repelido (artigo 1.224 do Código Civil).

Questão 3. A par das inovações legislativas mais recentes, classificam-se como espécies autônomas de
direito real, exceto:

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a) A multipropriedade, consistente, enquanto direito real destacado da propriedade singular, em um


regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de
tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser
exercida pelos proprietários de forma alternada.
b) A laje, entendida como unidade imobiliária autônoma sobreposta a uma construção base, mas
constituída em matrícula própria.
c) O direito do promitente comprador do imóvel, que se adquire mediante promessa de compra e venda,
em que não se pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular e registrada no
Cartório de Registro de Imóveis.
d) A concessão de uso especial para fins de moradia; instrumento que visa a conferir ao seu titular o uso de
um imóvel público, em caráter real, com a finalidade de morar.
e) A habitação, por meio da qual o uso do bem cinge-se ao direito de habitar, de modo gratuito, casa
alheia, não podendo o seu titular aluga-la nem a emprestar, mas simplesmente ocupa-la com a sua família.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque a multipropriedade não constitui direito real autônomo destacada do direito
de propriedade, mas, sim, componente desta, enquanto regime de condomínio regulado pelos artigos
1.358-B a 1.358-U do Código Civil.

A alternativa B é verdadeira, na linha do artigo 1.225, XIII, do Código Civil (rol dos direitos reais).

A alternativa C é verdadeira, conforme o artigo 1.225, VII, do Código Civil (rol dos direitos reais).

A alternativa D é verdadeira, com base no artigo 1.225, XI, do Código Civil (rol dos direitos reais).

A alternativa E é verdadeira, com amparo no artigo 1.225, VI, do Código Civil (rol dos direitos reais).

2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. O diploma processual civil elenca algumas hipóteses em que, em razão da ausência do
exercício de defesa/contraditório ou de seu exercício generalizado, presumem-se verdadeiras as
alegações de fato formuladas pela parte autora, o que constitui verdadeira técnica de julgamento.
Entretanto, tal efeito não é absoluto, havendo casos em que, mesmo diante das referidas circunstâncias,
não há que se falar na sua incidência. Com base nisso, é possível afirmar que é afastada a presunção de
veracidade das alegações de fato constantes da petição inicial, quando, exceto:
a) A petição inicial estiver desacompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato.
b) Havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação.
c) A defesa tiver de ser formulada por defensor público, promotor de Justiça, advogado dativo ou curador
especial.
d) Não for admissível, a seu respeito, a confissão, ou versar o litígio sobre direitos indisponíveis.
e) Estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

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Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as


alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se a
petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato, com
fulcro no artigo 34 , “caput”, II, do Código de Processo Civil. É dizer, neste caso, tem-se por afastada a
presunção de veracidade.

A alternativa B é verdadeira, porque dispõe o artigo 344 do Código de Processo Civil que, se o réu não
contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas
pelo autor. Na sequência, prevê o artigo 345 do mesmo diploma que a revelia não produz o efeito
mencionado no artigo anterior se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação. É dizer,
neste caso, tem-se por afastada a presunção de veracidade.

A alternativa C é falsa, porque ao promotor de Justiça não se concebe, nesta condição, o ingresso na
posição de réu. O Ministério Público, enquanto instituição, terá o estado ou a União como ré ao ser
demandado. E são os procuradores do respectivo ente que figurarão como seus representantes.

A alternativa D é verdadeira, porque incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as


alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se
não for admissível, a seu respeito, a confissão, com amparo no artigo 34 , “caput”, I, do Código de
Processo Civil. A seu turno, prevê o artigo 345, II, do mesmo diploma que a revelia não produz o efeito em
referência quando o litígio versar sobre direitos indisponíveis. É dizer, nestes casos, tem-se por afastada a
presunção de veracidade.

A alternativa E é verdadeira, porque, na forma do artigo 34 , “caput”, III, do Código de Processo Civil,
incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição
inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se estiverem em contradição com a defesa,
considerada em seu conjunto. É dizer, neste caso, tem-se por afastada a presunção de veracidade.

Questão 2. Em relação ao incidente de desconsideração da personalidade jurídica, assinale a alternativa


correta:
a) O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial, exceto no âmbito dos
Juizados Especiais, dada a complexidade de sua natureza.
b) A instauração do incidente, requerida a qualquer tempo, suspenderá o processo, devendo o sócio ou a
pessoa jurídica ser citado(a) para se manifestar e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
c) Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da
citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
d) O incidente de desconsideração, após concluída a instrução, será resolvido por sentença, da qual cabe
recurso de apelação.
e) O acolhimento do pedido de desconsideração acarreta, por si, a condenação do sócio/empresa cuja
personalidade fora desprezada para o alcance de seu patrimônio.

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Comentários

A alternativa A é falsa, porque o incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao


processo de competência dos juizados especiais, nos termos do artigo 1.062 do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque se dispensa a instauração do incidente se a desconsideração da


personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa
jurídica (art. 134, §2º, do Código de Processo Civil). A instauração do incidente suspenderá o processo,
salvo na hipótese do § 2º (art. 134, §3º, Código de Processo Civil).

A alternativa C é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto no artigo 792, §3º, do Código de
Processo Civil.

A alternativa D é falsa, porque, concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno, tudo conforme o artigo 136 do
Código de Processo Civil.

A alternativa E é falsa, porque o acolhimento do pedido não ensejará na condenação do sócio/empresa.


Declarará a responsabilidade deste, de modo que poderão ser excutidos os seus bens na fase de execução
ou cumprimento de sentença.

Questão 3. A faculdade de se ajustar e regular o ordenamento dos atos processuais a serem praticados,
conferida às próprias partes, em determinados feitos, foi realçada pelo atual CPC por meio dos
intitulados negócios jurídicos processuais, o que serve para prestigiar, sobremaneira, o princípio da
eficiência, enquanto se destina a atender às especificidades da causa. Sobre o assunto, assinale a
alternativa incorreta:
a) A possibilidade de recusa pelo juiz de aplicação das convenções estipuladas em negócio jurídico
processual restringe-se aos casos de nulidade, inserção abusiva em contrato de adesão e em que alguma
parte se encontre em situação de manifesta vulnerabilidade.
b) É lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais,
antes ou durante o processo, contanto que este verse sobre direitos disponíveis, isto é, que admitam
autocomposição.
c) Para além das partes celebrantes, o negócio jurídico processual obriga também herdeiros e sucessores.
d) É admissível a celebração de convenção processual coletiva, ainda que os direitos difusos e coletivos
sejam indisponíveis e o autor da ação seja o Ministério Público.
e) O calendário fixado de comum acordo para a prática de atos processuais vincula não apenas as partes
como também o juiz e os prazos nele previstos somente podem ser modificados em casos excepcionais,
devidamente justificados.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, pois, de ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções
previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em

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contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade,


segundo dispõe o artigo 190, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque não se confundem direitos que admitem autocomposição com a (in)
disponibilidade do direito. Conforme entendimento doutrinário uníssono, o legislador foi extremamente
feliz em não confundir direito indisponível com direito que não admita autocomposição, porque mesmo
nos processos que versam sobre direito indisponível é cabível a autocomposição. Naturalmente, nesse
caso, a autocomposição não tem como objeto o direito material, mas sim as formas de exercício desse
direito, tais como os modos e momentos de cumprimento da obrigação.

A alternativa C é verdadeira, porque o Enunciado 5 do FPPC prev que “o negócio jurídico celebrado nos
termos do art. 190 obriga herdeiros e sucessores".

A alternativa D é verdadeira, porque registra o Enunciado 55 do FPPC que “é admissível a celebração de


convenção processual coletiva”, isto justamente em razão da necessária distinção entre direitos que
admitem autocomposição e a (in) disponibilidade do direito. Ademais, consigna o Enunciado 253 do FPPC
que “o Ministério Público pode celebrar negócio processual quando atua como parte”.

A alternativa E é verdadeira, porque, de comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a
prática dos atos processuais, quando for o caso. O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele
previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados, consoante o artigo
9 , “caput” e § º, do Código de Processo Civil.

Questão 4. Sobre a ação de improbidade, considere:


I. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que não configura bis in idem a
coexistência de acórdão condenatório do Tribunal de Contas ao ressarcimento do erário com sentença
condenatória proferida em ação civil pública por improbidade administrativa.
II Nos termos da Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), na fixação das sanções por ela
cominadas, o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como os antecedentes do agente e o
proveito patrimonial por este obtido.
III. As regras de prescrição em improbidade administrativa aplicáveis aos particulares que participam do ato
ímprobo são as mesmas do agente público também envolvido.
a) Apenas o item II está incorreto.
b) O item I e II estão incorretos.
c) Os itens I, II e III estão incorretos.
d) Todos os itens são verdadeiros.
e) nenhuma das anteriores.

Comentários

I. Correto

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“(...) ão configura bis in idem a coexist ncia de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU)
e sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam
o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do
valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente. (....). REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado
do TRF 1ª Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016, DJe
31/5/2016)

II. Errado

Lei 8.429, art. 12, Parágrafo único: Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em
conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

III. Correto

Súmula 634-STJ: Ao particular aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na Lei de


Improbidade Administrativa para o agente público.

Questão 5. Pode-se apontar como características do modelo das Class Actions de tutela jurisdicional dos
direitos coletivos, exceto:
a) legitimidade do indivíduo ou grupo de indivíduos, caracterizada pela presença do forte controle judicial
da “adequada representação”;
b) vinculatividade da coisa julgada para toda a classe, quer beneficiando-a, quer prejudicando-a, no caso de
improcedência da ação;
c) adequada notificação para aderir à iniciativa;
d) atribuição de amplos poderes ao juiz (defining function), diferenciando o modelo tradicional de litígio
(vinculado à atividade das partes e neutralidade do juiz) do modelo de Processo Coletivo vinculado à tutela
do interesse público;
e) a tutela predominantemente permitida em juízo é somente aquela em que o pedido contém uma tutela
inibitória ou injuncional, voltadas para as obrigações de fazer e não fazer.

Comentários

A. Correta

No modelo das Class Actions (modelo norte-americano), destacam-se:

a) legitimidade do indivíduo ou grupo de indivíduos, particularmente caracterizada a partir de 1966 pela


presença de forte controle judicial da “adequada representação”;

b) vinculatividade da coisa julgada para toda a classe, quer beneficiando-a, quer prejudicando-a, no caso de
improcedência da ação;

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c) adequada notificação para aderir à iniciativa, modificação presente nas reformas de 1983. Esse direito é
reconhecido como right to opt out ou direito de colocar-se fora, à salvo da coisa julgada.

d) atribuição de amplos poderes ao juiz (defining function), diferenciando o modelo tradicional de litígio
(vinculado à atividade das partes e neutralidade do juiz) do modelo de Processo Coletivo vinculado à tutela
do interesse público.

Segundo grande parte da doutrina, é o modelo das Class Actions que é uma tendência mundial, sendo,
inclusive, o mais bem-sucedido.

Essa tendência pode ser notada, também, nos Projetos de Código de Processo Coletivo surgidos no Brasil,
sobretudo aquele capitaneado pelo brasileiro Antônio Gidi, professor em Universidade Norte-Americana

B. Correta

Trata-se de uma característica do modelo das Class Actions, conforme explicado acima.

C. Correta

Trata-se de uma característica do modelo das Class Actions, conforme explicado acima.

D. Correta

Trata-se de uma característica do modelo das Class Actions, conforme explicado acima.

E. Errada

A assertiva traz uma característica do Modelo da Verbansklage (tradicional da Europa-Continental).

a Alemanha, foram criadas as chamadas “ações associativas”, previstas na lei para o Regulamento das
Cláusulas Gerais dos Negócios (diploma que primeiro tratou da tutela de interesses coletivos dos
consumidores – 1976).

As características desse modelo das Verbansklage alemã podem ser resumidas nos seguintes pontos:

a)especial legitimação ativa das associações, com escolha do sujeito supraindividual, para tutelar, em nome
próprio, p direito que passa a ser considerado como direito próprio (tutela dos consumidores por
associação de consumidores, tutela dos meio ambiente por associações ambientais etc.);

b) distanciamento da tutela de direitos individuais. A exemplo, Taruffo diz que a lei italiana sobre meio
ambiente não prevê nenhuma hipótese de tutela individual, voltando-se a responsabilidade pelo dano para
a reparação ao Estado;

c) duas formas de tutela são previstas para a associação i- por meio da delegação da tarefa de representar
o indivíduo, que necessita da autorização do titular da relação jurídica individual; ii- hipóteses em que a
associação faz valer um direito supraindividual, mas são bem mais restritas.

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d) tutela predominantemente permitida em juízo é somente aquele em que o pedido contém uma tutela
inibitória ou injuncional, voltadas para as obrigações de fazer e não fazer.

Por isso esse modelo é deficitário.

Ademais, outras críticas lançadas a esse modelo são:

i- extremamente fragmentário, sem um microssistema formado;

ii- não há uma filosofia comum que oriente uma mudança de perspectiva individual do litígio para a
perspectiva coletiva, ao contrário das class actions, onde essa filosofia está bem presente.

Questão 6. Atualmente, sabe-se que a classificação tradicional atrelada aos direitos coletivos lato sensu
(difusos, coletivos strictu sensu e individuais homogêneos) vem sendo aprimorada pela doutrina
moderna, em razão da complexidade e conflituosidade interna que litígios coletivos carregam. Levando
em conta essa situação, analise os itens a seguir:
I. Os litígios transindividuais globais são aqueles relacionados a violações que não atinjam, de modo
particular, a qualquer indivíduo. Os direitos transindividuais subjacentes a tais litígios pertencem à
sociedade humana, entendida como conjunto de habitantes do planeta, que se estrutura no interior de um
Estado nacional, cujo aparato jurídico será responsável pelo processamento da violação.
II. Os litígios transindividuais locais envolvem a lesão a direitos transindividuais que interessam, de modo
desigual e variável, a distintos segmentos sociais, em alto grau de conflituosidade
III. Litígios transindividuais irradiados têm lugar no contexto de violações que atinjam, de modo específico,
pessoas que integram uma sociedade altamente coesa, unida por laços identitários de solidariedade social,
emocional e territorial.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I está correto.
b) I, II e III estão corretos.
c) Apenas III está correto.
d) Apenas II e III estão corretos.
e) Nenhum está correto.

Comentários

I. Correto

Litígios transindividuais globais: existem no contexto de violações que não atinjam, de modo particular, a
qualquer indivíduo. Os direitos transindividuais subjacentes a tais litígios pertencentes à sociedade
humana, entendida como conjunto de habitantes do planeta, que se estrutura no interior de um Estado
nacional, cujo aparato jurídico será responsável pelo processamento da violação.

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Ex1: Edilson cita casos do TRF3, ao julgar série de derramamentos de pequenas quantidades de produtos
químicos na baía do porto de Santos. Argumentava-se que, devido aos níveis altos de poluição no local,
pequenas quantidades não ofenderiam o meio-ambiente.

TRF3 rechaçou tal tese, salientando que não se está a proteger um bem jurídico porque sua lesão interessa
especificamente a alguém, mas porque interessa, genericamente, a todos. Ora, há um interesse humano,
não apenas dos brasileiros, de que as águas não continuem a ser poluídas.

II. Errado

Litígios transindividuais locais: têm lugar no contexto de violações que atinjam, de modo específico,
pessoas que integram uma sociedade altamente coesa, unida por laços identitários de solidariedade social,
emocional e territorial.

Os direitos transindividuais subjacentes a essa categoria de litígios pertencem aos indivíduos integrantes
dessa sociedade, uma vez que os efeitos da lesão sobre ela são tão mais graves do que sobre as pessoas
que lhe são externas, o que torna o vínculo destas com a lesão irrelevante para fins de tutela jurídica.

Essa categoria inclui, em um segundo círculo, as situações em que, mesmo não havendo uma identidade
tão forte entre os integrantes da sociedade, eles compartilham perspectivas sociais relativamente
uniformes, pelo menos no que se refere à tutela do direito lesado.

Ex1: O dano ambiental ocorrido no interior do território tradicional de uma comunidade indígena causa a
essa comunidade efeitos tão mais significativos que em todo o restante da sociedade mundial que a única
solução é atribuir a essa comunidade a titularidade do direito violado.

Ex2: litígios coletivos relativos ao direito do trabalho;

Ex3: litígios coletivos atinentes a vítimas de um mesmo acidente;

Ex4: litígios coletivos relativos a tratamentos de saúde disponíveis para pessoas portadoras da mesma
doença;

Ex5: litígios coletivos que envolvem minorias sociais em geral, tais quais de gênero, orientação sexual etc.

III. Errado

Litígios transindividuais irradiados: são litígios que envolvem a lesão a direitos transindividuais que
interessam, de modo desigual e variável, a distintos segmentos sociais, em alto grau de conflituosidade.

O direito material subjacente deve ser considerado, nesse caso, titularizado pela sociedade elástica,
composta pelas pessoas que são atingidas pela lesão. A titularidade do direito material subjacente é
atribuída, em graus variados, aos indivíduos que compõem a sociedade, de modo diretamente
proporcional à gravidade da lesão experimentada.

Ex1: conflitos decorrentes da instalação de usina hidrelétrica. No início do licenciamento, há problemas


sociais e ambientais. Com a obra, muitos trabalhadores vêm, gerando outras repercussões sociais,

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infraestrutura, serviços etc. Com o fim da obra, muitos se vão, diminui a circulação de bens e serviços, há
novas demandas. Doutro lado, o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 66%
da energia advinda das hidrelétricas.

Ex2: transposição das águas do Rio São Francisco.

Ex3: Desastre de mariana. Há parentes das vítimas mortas. Há aqueles que residiam no distrito que
perderam tudo. Existem os proprietários rurais, os pescadores que dependiam do Rio Doce, habitantes dos
demais Municípios que não tiveram água potável etc. Não há solidariedade entre essas pessoas, já que o
modo como a lesão se projeta sobre cada subgrupo é tão distinto que não gera interesses em comum
sobre o melhor caminho seguir.

2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. A respeito do homicídio doloso, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I Constitui forma privilegiada desse crime o seu cometimento por agente impelido por motivo de relevante
valor social ou moral, ou sob influência de violenta emoção provocada por ato injusto da vítima.
II A qualificadora do feminicídio, caso envolva violência doméstica, menosprezo ou discriminação à
condição de mulher, não é incompatível com a presença da qualificadora da motivação torpe.
III A prática do homicídio contra autoridade ou agente das forças de segurança pública é causa de aumento
de pena.
IV É possível a aplicação do privilégio ao homicídio qualificado independentemente de as circunstâncias
qualificadoras serem de ordem subjetiva ou objetiva.
V Constitui forma majorada desse crime o seu cometimento por milícia privada, sob o pretexto de
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

I O Código Penal prevê que o agente deve estar sob o domínio, não sob a influência de violenta emoção
(Art. 121, § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço.)

II Nos termos do art. 121, § 2º-A, II, do CP, é devida a incidência da qualificadora do feminicídio nos casos
em que o delito é praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar, possuindo,

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portanto, natureza de ordem objetiva, o que dispensa a análise do animus do agente. Assim, não há se
falar em ocorrência de bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio,
porquanto, a primeira tem natureza subjetiva e a segunda objetiva. (HC 433.898/RS, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018)

III A hipótese é de reconhecimento da circunstância como qualificadora, já que altera a pena-base prevista
para o crime. Na causa especial de aumento de pena, aumenta-se a pena-base, prevista no caput, da fração
cominada pelo legislador; a exemplo do §6º do mesmo artigo.

IV O homicídio denominado qualificado-privilegiado é possível se concorrerem as causas de privilégio (que


têm natureza subjetiva) com qualificadoras de natureza objetiva: a) emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; b) à traição, de
emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido.

As qualificadoras relativas ao motivo torpe, ao motivo fútil, ao vínculo finalístico, ao feminicídio e ao


homicídio contra agentes de segurança pública têm natureza subjetiva, e, portanto, não convivem com o
privilégio.

V Cuida-se da hipótese prevista no art. 121, §6º, do Código Penal (§ 6o - A pena é aumentada de 1/3 (um
terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio).

Gabarito: b

Questão 2. Acerca do crime de lesão corporal, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:
I Na lesão corporal praticada no ambiente doméstico é inaplicável a suspensão condicional do processo,
independentemente da condição da vítima, ainda que de natureza leve.
II Na lesão corporal praticada no ambiente doméstico, a ação penal é sempre pública condicionada.
III É crime hediondo a lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida
de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição.
IV O comportamento da vítima é incapaz de influenciar a pena no crime de lesão corporal.
V a prática de lesão corporal leve em situação de lesões recíprocas pode ensejar a substituição da pena de
detenção pela de multa.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas

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e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

I Lei nº 11.340/06: Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Veja que o
item fala “independentemente da qualidade da vítima”; assim, se a vítima for do sexo masculino, nada
impede o sursis processual.

II Súmula 542/STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica
contra a mulher é pública incondicionada.

III Cuida-se do previsto no art. 1º, I-A, da Lei nº 8.072/90.

IV A afirmação contraria o disposto no art. 129, §4º, do Código Penal(§ 4° Se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço).

V Cuida-se do disposto no art. 129, §5º, do Código Penal ( § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode
ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: (...)II - se as
lesões são recíprocas).

Gabarito: c

Questão 3. A respeito das causas impeditivas da prescrição, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto o agente cumpre pena no
exterior;
II Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre na pendência de embargos de
declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, em qualquer hipótese;
III Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto não cumprido ou não
rescindido o acordo de não persecução penal.
IV - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto não resolvida, em outro
processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime.
V Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que
o condenado está preso por outro motivo.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições III e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, III, IV e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.

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Comentários

I CP, Art. 116, I, com a redação que lhe fora conferida pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19).

II O Art. 116, III, traz a previsão de que, somente quando inadmissíveis os embargos de declaração, impede-
se a contagem do prazo prescricional.

III CP, Art. 116, IV, com a redação que lhe fora conferida pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19).

IV CP, Art. 116, I.

V CP, Art. 116, Parágrafo único.

Gabarito: c

Questão 4. A propósito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O crime de roubo é majorado se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
II Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista para o roubo simples;
III Há continuidade delitiva entre roubo e furto, já que considerados delitos do mesmo gênero e espécie;
IV Para reconhecimento do crime de furto privilegiado é necessário que o bem furtado tenha sido
restituído à vítima.
V O reconhecimento das qualificadoras da escalada e rompimento de obstáculo, previstas no art. 155, § 4º,
I e II, do CP, exige a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de inexistência ou desaparecimento
de vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

I Cuida-se da redação dada ao Art. 157, §2º, VII, do Código Penal, dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19)

II Cuida-se da redação dada ao Art. 157, §2º-B, do Código Penal, dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19)

III É consolidado nesta Corte o entendimento de que não há falar em continuidade delitiva entre roubo e
furto, porquanto, ainda que possam ser considerados delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie
(STJ/HC n. 202.792/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 19/9/2013).

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IV Para o reconhecimento do furto privilegiado, a lei não prevê a necessidade de restituição do bem
subtraído - CP, Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena
de multa.

V FURTO QUALIFICADO PELA ESCALADA. AUSÊNCIA DE PERÍCIA. INEXISTÊNCIA DE


JUSTIFICATIVAS PARA A NÃO REALIZAÇÃO DO EXAME. IMPOSSIBILIDADE DE SUPRIMENTO DA
PROVA TÉCNICA POR OUTROS ELEMENTOS DE CONVICÇÃO. COAÇÃO ILEGAL CARACTERIZADA.
CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO.

1. Da leitura dos artigos 158 e 167 do Código de Processo Penal, extrai-se que a perícia somente
é essencial para comprovar a materialidade delitiva quando o crime deixa vestígios, admitindo-
se a prova testemunhal quando estes não estiverem mais presentes.

2. Por sua vez, o artigo 171 da Lei Penal Adjetiva confirma a necessidade de realização de
perícia para a comprovação da qualificadora da escalada, que pode ser substituída por outras
provas apenas quando os vestígios desaparecerem, não existirem, ou o exame técnico não for
passível de implementação. (HC 330.156/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 03/11/2015, DJe 10/11/2015)

Gabarito: c

Questão 5. No que toca ao crime continuado, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:
I Para a caracterização da continuidade delitiva é imprescindível o preenchimento de requisitos de ordem
objetiva - mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução - e de ordem subjetiva - unidade de
desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos (Teoria Mista ou Objetivo-subjetiva).
II A continuidade delitiva, em regra, não pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos praticados
em período superior a 60 (sessenta) dias.
III A continuidade delitiva pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos ocorridos em comarcas
limítrofes ou próximas.
IV Admite-se a continuidade delitiva mesmo quando configurada a habitualidade ou a reiteração criminosa.
V A continuidade delitiva não pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos cometidos com modos
de execução diversos.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, III e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.

Comentários

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I Este Superior Tribunal de Justiça vem adotando a teoria mista, segundo a qual, para a caracterização da
continuidade delitiva, afigura-se imprescindível o preenchimento de requisitos de ordem objetiva
(mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução) e subjetiva (unidade de desígnios ou vínculo
subjetivo entre os eventos) – STJ - RHC 43601 / DF.

II Embora a lei não estabeleça parâmetros para o reconhecimento da unidade temporal entre as condutas,
este Colegiado firmou entendimento no sentido da impossibilidade de aplicação da continuidade delitiva se
os delitos foram praticados com mais trinta dias de diferença (Precedentes). STJ - HC 206.227/RS.

III Não obstante o fato de o reconhecimento da continuidade delitiva não exigir que as condutas tenham
sido praticadas no mesmo município, podendo ser admitida quando se tratarem de delitos ocorridos em
comarcas limítrofes ou próximas, na hipótese, os estupros foram praticados em comarcas territorialmente
distantes. STJ - HC 206.227/RS.

IV O entendimento adotado pela Corte de origem está de acordo com a orientação pacífica deste Sodalício,
pela qual a habitualidade criminosa impede o reconhecimento da continuidade delitiva. STJ - HC 249912 /
SP.

V A mera circunstância de os fatos terem sido praticados no mesmo dia não é suficiente para a
configuração do crime continuado. Considerando que em um dos roubos o estabelecimento comercial foi
invadido pelos agentes criminosos, enquanto no outro o grupo rendeu funcionária da joalheria em sua
própria residência, e, após subtrair diversos bens dela e de sua família, obrigou-a a se deslocar ao seu local
de trabalho para consumar novo crime, não há que se falar em crime continuado. STJ - AgRg no HC 184814
/ SP.

Gabarito: C

Questão 6. Sobre os crimes contra o patrimônio e o entendimento dos tribunais superiores, marque a
alternativa INCORRETA:
a) Adota-se a teoria da amotio quanto ao crime de furto, de modo que sua consumação ocorre com a
posse de fato da coisa furtada, ainda que por curto período e seguida da perseguição do agente, sendo
irrelevante a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
b) A existência de sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por presença de
segurança no interior do estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do
crime de furto.
c) A causa de aumento de pena no furto, pelo fato do crime ter sido praticado durante o repouso noturno,
é aplicável às hipóteses de furto qualificado, não sendo admissível que a referida majorante seja afastada
em razão da sua posição topográfica.
d) Tratando-se de furto de energia elétrica mediante fraude, admite-se que o adimplemento do débito
perante a concessionária, antes do recebimento da denúncia, acarrete a extinção da punibilidade.
e) É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto
qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora
for de ordem objetiva.

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Comentários

A alternativa A não pode ser a correta, visto que está de acordo com o entendimento do STJ, fixado em
sede de recurso especial repetitivo (Tema 934) “Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res
furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada.”. Frise-se que o posicionamento da Corte Cidadão se amolda à teoria
da amotio ou aprehensio, pela qual o crime se consuma com a mera inversão da posse da coisa subtraída,
sendo dispensável que essa posse do agente seja mansa e pacífica.

A alternativa B não pode ser a correta, tendo em vista que está de acordo com a Súmula 567 do STJ:
“Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior
do estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.”. Essa
súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.

A alternativa C não pode ser considerada incorreta, pois está de acordo com o entendimento do STF acerca
da compatibilidade entre a majorante do repouso noturno e as qualificadoras no crime de furto. Vejamos:
“1. Não convence a tese de que a majorante do repouso noturno seria incompatível com a forma
qualificada do furto, a considerar, para tanto, que sua inserção pelo legislador antes das qualificadoras
(critério topográfico) teria sido feita com intenção de não submetê-la às modalidades qualificadas do tipo
penal incriminador. 2. Se assim fosse, também estaria obstado, pela concepção topográfica do Código
Penal, o reconhecimento do instituto do privilégio (CP, art. 155, § 2º) no furto qualificado (CP, art. 155, §
4º) -, como se sabe, o Supremo Tribunal Federal já reconheceu a compatibilidade desses dois institutos. 3.
Inexistindo vedação legal e contradição lógica, nada obsta a convivência harmônica entre a causa de
aumento de pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) e as qualificadoras do furto (CP, art. 155, § 4º)
quando perfeitamente compatíveis com a situação fática. 4. Ordem denegada.”(STF. 2ª Turma. HC
130952/MG, Rel. Min. Dias Tofolli, j. 13/12/2016 – Informativo 851).

A alternativa D é o gabarito da questão, pois vai de encontro ao entendimento do STJ, segundo o qual, no
crime de furto de energia elétrica mediante fraude, o pagamento do débito antes do recebimento da
denúncia não extingue a punibilidade do agente. Vejamos “O crime de furto de energia elétrica mediante
fraude praticado contra concessionária de serviço público situa-se no campo dos delitos patrimoniais.
Neste âmbito, o Estado ainda detém tratamento mais rigoroso. O desejo de aplicar as benesses dos crimes
tributários ao caso em apreço esbarra na tutela de proteção aos diversos bens jurídicos analisados, pois o
delito em comento, além de atingir o patrimônio, ofende a outros bens jurídicos, tais como a saúde
pública, considerados, principalmente, o desvalor do resultado e os danos futuros.”(STJ. 3ª Seção. RHC
101.299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Paciornik, j. 13.3.2019 – Informativo 645).
A alternativa E não pode ser o gabarito da questão, pois reproduz o entendimento fixado na súmula 511
do STJ “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime
de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019,
elaboradas pela FCC.

Gabarito: letra D.

Questão 7. Sobre a extinção da punibilidade, marque a alternativa CORRETA.

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a) A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância


agravante de outro se estende a este.
b) Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles impede, quanto aos outros, a agravação da
pena resultante da conexão.
c) Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.
d) A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de
improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo
inicial data anterior ao recebimento da denúncia ou da queixa.
e) No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada
pelo tempo integral da pena.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois em desacordo com o art. 8 do Código Penal “Art. 108 - A extinção da
punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não
se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos
outros, a agravação da pena resultante da conexão.”.

A alternativa B está incorreta, pois, no mesmo sentido da alternativa anterior, está em desacordo com o
art. 8 do Código Penal “Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento
constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da
punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.”.

A alternativa C é a correta, tendo em vista que reproduziu o parágrafo único do art. 109 do Código Penal:
“Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas
de liberdade.”.

A alternativa D está incorreta, pois indicou como marco temporal o recebimento da denúncia ou da
queixa, em oposição ao § º do art. do CP “Art. 110 (...). §1º A prescrição, depois da sentença
condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela
pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou
queixa.”.

A alternativa E está incorreta, pois afronta o art. 3 do Código Penal “Art. 113 - No caso de evadir-se o
condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da
pena.”.

Gabarito: letra C.

Questão 8. Sobre os crimes contra a fé pública, marque a alternativa CORRETA.


a) Para fins penais, equiparam-se a documento particular o título ao portador ou transmissível por
endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
b) Para fins de falsificação de documento público, equipara-se a este o cartão de crédito ou débito.

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c) Comete o crime de falsidade de atestado médico a pessoa que, não possuindo a habilitação necessária
para o exercício da profissão, fornece atestado falso.
d) Comete o crime de falsa identidade quem se atribui falsa identidade para obter vantagem em proveito
próprio, ainda que não apresente documento falso.
e) O funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou
adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial, não comete crime, mas sim infração
disciplinar.

Comentários

A alternativa A está incorreta, porque referidos documentos são equiparados a documento público, para
fins penais, nos termos do art. 97, § º, do CP “§ º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento
público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.”.

A alternativa B está incorreta, pois o cartão de crédito ou débito é equiparado a documento particular,
para fins de falsificação de documento particular, de acordo com a previsão do art. 298, parágrafo único,
do CP “Art. 98 (...). Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular
o cartão de crédito ou débito.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019
elaborada pela FCC.

A alternativa C está incorreta, visto que apenas quem for médico pode cometer o crime de falsidade de
atestado médico, tratando-se de crime próprio, isto é, que exige uma condição especial do sujeito ativo. É
o que se extrai do art. 3 do Código Penal “Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão,
atestado falso: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim
de lucro, aplica-se também multa.”.

A alternativa D é a correta, haja vista que o delito de falsa identidade, na forma do art. 307 do Código
Penal, dispensa a apresentação de documento, configurando-se com a mera conduta de se atribuir falsa
identidade para obter vantagem. No caso de apresentação de documento alheio como próprio, atribuindo-
se falsa identidade, há também crime de falsa identidade, mas na forma do art. 308 do Código Penal.
Todavia, a alternativa se referiu ao tipo o art. 307, o qual dispensa apresentação de documento. Vejamos:
“Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou
alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não
constitui elemento de crime mais grave.”.

A alternativa E está incorreta, haja vista que, no caso, o funcionário comete crime de adulteração de sinal
identificador de veículo automotor, nos termos do art. 3 , § º do Código Penal “Art. 311 - Adulterar ou
remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou
equipamento: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. §1º - Se o agente comete o crime no exercício
da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um terço. §2º - Incorre nas mesmas penas o
funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado,
fornecendo indevidamente material ou informação oficial.”.

Gabarito: letra D.

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Questão 9. Sobre o instituto da REINCIDÊNCIA, marque a alternativa CORRETA.


a) A reincidência não interfere na fixação do regime inicial de cumprimento de pena.
b) A reincidência em crime dolo sempre impede a substituição da pena privativa de liberdade por
restritivas de direitos, ainda que preenchidos os demais requisitos legais.
c) É circunstância que sempre atenua a pena, quando não constitui ou qualifica o crime, a reincidência.
d) A condenação transitada em julgado por crime militar próprio não gera reincidência.
e) O prazo da prescrição da pretensão punitiva é aumentado em um terço se o condenado é reincidente.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois a reincidência é um critério a ser observado pelo magistrado quando da
fixação do regime inicial de cumprimento de pena, de acordo com art. 33, §2º, do CP: “Art. 33 (...) §2º - As
penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá,
desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual
ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. c) regime aberto a
execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.”.

A alternativa B está incorreta, tendo em vista que, embora a reincidência em crime doloso possa obstar a
substituição da PPL por PRD, isso não retira a possibilidade de o magistrado aplicar a substituição se esta
for socialmente recomendável e a reincidência não for de natureza específica, conforme previsto no §3º do
art. 44 do CP: Art. 44 (...). §3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se
tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.”.

A alternativa C está incorreta, pois considerou a reincidência como atenuante, quando na verdade se trata
de agravante, nos termos do art. 6 , I, do CP “Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência;”.

A alternativa D é a correta, na medida em que a condenação definitiva pela prática de crime militar
próprio, por expressa previsão legal, não configura reincidência, de acordo com o art. 64, II, do CP: Art. 64 -
Para efeito de reincidência: II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.

A alternativa E está incorreta, visto que o aumento de um terço no prazo da prescricional se refere à
pretensão executória, e não à pretensão punitiva, conforme se extrai do art. , “caput”, do CP “Art. 110
- A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e
verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é
reincidente.”. Nesse sentido, inclusive, é a súmula 220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da
prescrição da pretensão punitiva.”.

Gabarito: letra D.

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2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a
vigência da lei anterior.
b) A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.
c) O processo penal terá estrutura acusatória, sendo permitida a iniciativa do juiz apenas em relação à
decretação das medidas cautelares.
d) A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
e) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são
de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.

Comentários

O processo penal tem estrutura acusatória, significando que o magistrado deve se manter inerte no curso
da persecução penal, reservando-se às partes a iniciativa em relação à deflagração da ação penal, às
cautelares, bem assim em relação às provas.

O §2º, do artigo 282, do CPP veda expressamente que o juiz conceda as medidas cautelares de ofício, assim
como o artigo 311, veda a decretação da prisão preventiva.

Um registro se faz necessário, porém, que é em relação à produção probatória. O artigo 156, do CPP,
autoriza que o juiz determine a produção de prova para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Resposta: alternativa C.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


a) A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
b) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são
de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
c) Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal
exclusivamente por meio de inquérito, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.
d) Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações,
documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.
e) O inquérito policial em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico,
mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos
procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.

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Comentários

A investigação no sistema processual brasileiro é plural, significando que órgãos diversos podem
desempenhá-la, por meio de variados instrumentos, como o inquérito parlamentar (CPI), o inquérito
policial, o procedimento investigatório criminal (MP).

O Delegado de Polícia tem à sua disposição ferramentas outras para investigar, que não o inquérito, a
exemplo da VPI (§3º, do artigo 5º, do CPP) e o termo circunstanciado de ocorrência (Lei 9.099/95).

Resposta: alternativa C.

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são
de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
b) O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
c) Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado sempre de ofício.
d) Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado mediante requisição da autoridade judiciária
ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
e) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de
Polícia.
Comentários

Nos crimes de ação penal pública o inquérito será iniciado, como regra, de ofício, em decorrência do
princípio da oficiosidade.

Não se pode olvidar que dentro desta modalidade de ação penal há a ação penal pública condicionada,
cuja persecução penal depende da provocação de quem de direito.

Resposta: alternativa C.

Questão 4. Para evitar injustiças e acobertamentos o Código de Processo Penal elencou situações nas
quais o Juiz fica impedido de agir. Assinale a alternativa que o juiz se encontrará impedido:
a) Quando o juiz já tiver funcionado anteriormente como perito no mesmo processo.
b) Quando for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes
c) Quando o juiz for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
d) Quando o juiz, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato
análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
e) Quando o juiz for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

Comentários

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Letra a correta. Segundo o art. 252, I e II, do CPP, o juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que
tiver funcionando como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da
justiça ou perito. Desta maneira:

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral
até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público,
autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;

III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre
a questão;

IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral
até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

O rol aqui apresentado é taxativo, não admitindo interpretação extensiva.

Letra b incorreta. Hipótese de suspeição do Juiz (art. 254, I, do CPP) – o rol do art. 254 é exemplificativo e
se tratam de situações externas ao processo em questão, mas que com ele possam se relacionar.

Letra c incorreta. Hipótese de suspeição do Juiz (art. 254, V, do CPP).

Letra d incorreta. Hipótese de suspeição do Juiz (art. 254, II, do CPP).

Letra e incorreta. Hipótese de suspeição do Juiz (art. 254, VI, do CPP).

Questão 5. A jurisprudência pátria sobre nulidades no processo penal é vasta e tem sofrido grande
influência do princípio pas de nuliité sans grief. Sobre o tema, assinale a alternativa INCORRETA:
a) As irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez que
as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras recomendações legais.
b) A ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública ou do defensor dativo sobre os atos do processo
gera, via de regra, a sua nulidade.
c) A nulidade decorrente da ausência de intimação - seja a pessoal ou por diário oficial - da data de
julgamento do recurso pode ser arguida a qualquer tempo.
d) A inversão da ordem prevista no art. 400 do CPP, que trata do interrogatório e da oitiva de testemunhas
de acusação e de defesa, não configura nulidade quando o ato for realizado por carta precatória, cuja
expedição não suspende o processo criminal.
e) A falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade
relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo.

Comentários

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Letra a correta. Veja o julgado:

2. "A jurisprudência desta Corte Superior entende que a inobservância das formalidades legais
para o reconhecimento pessoal do acusado não enseja nulidade, por não se tratar de exigência,
mas apenas recomendação, sendo válido o ato quando realizado de forma diversa da prevista
em lei, notadamente quando amparado em outros elementos de prova". (HC 278.542/SP, Rel.
Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, DJe 18/08/2015) 3. In casu, além do
reconhecimento por meio fotográfico em delegacia e pessoal em juízo, sob o crivo do
contraditório, as instâncias de origem fundamentaram a autoria do delito com base na prova
testemunhal colhida em audiência de instrução, não havendo se falar em eiva que macule a
higidez da condenação. HC 346058/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 21/06/2016.

Letra b correta. É pacífico no STJ o entendimento de que a ausência de intimação pessoal do Defensor
Público ou do defensor dativo sobre os atos do processo, a teor do disposto no art. 370 do CPP e do art. 5º,
§ 5º, da Lei n. 1.060/1950, é causa de nulidade – desde que dentro do prazo da preclusão temporal.

Letra c errada e o gabarito da questão. Em verdade, a nulidade decorrente da ausência de intimação - seja
a pessoal ou por diário oficial - da data de julgamento do recurso não pode ser arguida a qualquer tempo,
sujeitando-se à preclusão temporal nos termos dos artigos 564, IV, 571, VIII, e 572, I, do Código de
Processo Penal. Julgados: HC 310908/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 18/08/2016, DJe 26/08/2016)

Letra d certa. Embora o art. 411 do Código de Processo Penal haja estabelecido uma ordem de inquirição
das testemunhas, "a inversão da oitiva de testemunhas de acusação e defesa não configura nulidade
quando a inquirição é feita por meio de carta precatória, cuja expedição não suspende a instrução
criminal" (HC n. 160.794/RS, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª T., DJe 4/5/2011). Ainda que assim não fosse, a
não observância dessa regra acarreta, no máximo, nulidade relativa, sendo necessária, também, a
demonstração de efetivo prejuízo (pas de nullité sans grief), por se tratar de mera inversão.

Letra e certa. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ALEGADA AUSÊNCIA DE


INFORMAÇÃO DO DIREITO AO SILÊNCIO. NULIDADE RELATIVA. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. SÚMULA
568/STJ. RECURSO DESPROVIDO. 1. Esta colenda Quinta Turma, acompanhando entendimento consolidado
no Supremo Tribunal Federal, firmou o entendimento de que eventual irregularidade na informação acerca
do direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da
comprovação do prejuízo (ut, RHC 67.730/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, DJe 04/05/2016)

Questão 6. Após 7 anos de casamente, Luana e Paulo se separaram. Paulo, inconformado com o fim do
relacionamento, começou a perseguir Luana reiteradamente, em seu local de trabalho, na faculdade, na
academia, e em qualquer outro lugar que tivesse oportunidade, proferindo-lhe ameaças de morte. Certo
dia, Paulo aguardou que Luana saísse de seu trabalho e desferiu-lhe três tiros à queima-roupa, causando
a morte da ex-esposa.
Paulo foi denunciado pelo Ministério Público pelos crimes de perseguição de homicídio e, após a
realização da audiência de instrução e julgamento, o juiz decidiu pela pronúncia do réu, determinando o
seu julgamento pelo Tribunal do Júri.

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Considerando as informações apresentadas, assinale a alternativa correta.


a) Por ser de menor potencial ofensivo, o crime de perseguição deverá ser julgado pela Justiça Comum.
b) O julgamento de Eduardo em plenário apenas terá início quando se tornar preclusa a decisão de
pronúncia, ou se ela tiver sido mantida pelo Tribunal.
c) Após os debates, o juiz deverá proferir a sentença, onde irá constar a pena escolhida pelos jurados para
o caso concreto.
d) Se condenado pelo Tribunal do Júri, o juiz poderá determinar o recolhimento de Eduardo à prisão para
que dê início imediato ao cumprimento da pena.
e) A defesa de Eduardo poderá interpor recurso de apelação contra a sentença de pronúncia.

Comentários

A alternativa A está incorreta. Segundo o STF, se uma infração penal de menor potencial ofensivo for
praticada em concurso com outra infração penal comum, a competência do processo será deslocada para a
Justiça Comum ou para o Tribunal do Júri. Tendo em vista que o crime de perseguição, previsto no art. 147-
A do Código Penal, é crime de menor potencial ofensivo, e foi praticado em concurso com o crime de
homicídio, a competência para o julgamento será deslocada para o Tribunal do Júri.

A alternativa B está correta. A fase de julgamento em plenário (arts. 422 a 496, CPP) tem início quando se
torna preclusa a decisão de pronúncia, ou quando ela tiver sido mantida pelo Tribunal, apesar de recorrida
(art. 421, CPP). A partir daí, o juiz irá intimar o MP ou querelante, e do defensor para que, no prazo de 5
dias, apresentem o rol de testemunhas, até o máximo de 5, oportunidade em que poderão juntar
documentos e requerer diligência (art. 422, CPP).

A alternativa C está incorreta. Após os debates, o juiz irá proferir a sentença de acordo com o que restou
decidido pelos jurados, fixando a pena, em caso de condenação; ou absolvendo o acusado, no caso dos
jurados não o terem condenado (art. 492, CPP). Os jurados decidem pela condenação ou absolvição do réu,
e não pela fixação da pena. A fixação da pena é da competência do juiz.

A alternativa D está incorreta. A Lei n 3.964/ 9 (“Pacote AntiCrime”) acrescentou ao art. 492 a
possibilidade de execução provisória da pena privativa de liberdade igual ou superior a 15 anos, devendo o
juiz determinar o recolhimento do condenado à prisão, ainda que não tenha havido o trânsito em julgado
(§5). No entanto, em novembro de 2020, o STF alterou o posicionamento que mantinha desde 2016, para
proibir a prisão logo após confirmada a decisão condenatória em ª instância (ADC’s 43, 44 e 54). Assim
sendo, Eduardo apenas poderá cumprir a pena após o trânsito em julgado da decisão condenatória, nos
termos do art. 5, inc. LVII da Constituição Federal.

A alternativa E está incorreta. Segundo o art. 581, inc. IV do CPP, caberá recurso, no sentido estrito, da
decisão, despacho ou sentença que pronunciar o réu.

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Com base no Código Eleitoral, analise a afirmativa a seguir:

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A conduta do servidor público de valer-se da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar em
determinado candidato ou partido configura crime com pena de detenção até seis meses e pagamento de
60 a 100 dias-multa.

Comentários

A conduta descrita na assertiva constitui crime, conforme prevê o artigo 300, caput, do Código Eleitoral:

Art. 300. Valer-se o servidor público da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar
em determinado candidato ou partido:

Pena - detenção até seis meses e pagamento de 60 a 100 dias-multa.

Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário da Justiça Eleitoral e comete o crime


prevalecendo-se do cargo a pena é agravada.

Gabarito: Certo

Questão 2. Com base no Código de Trânsito Brasileiro (Lei n.º 9.503/1997), analise as informações a
seguir:
São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo
cometido a infração...
I – Com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a
terceiros
II – Utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III – Sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV – Com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;
V – Quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de
carga;
Estão corretas as assertivas:
A) I e II.
B) I, II, III e V.
C) I, II, III, IV e V.
D) I, apenas.
E) III, apenas.

Comentários

As assertivas são alguns dos incisos do art. 298, do CTB:

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Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o
condutor do veículo cometido a infração:

I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano
patrimonial a terceiros;

II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;

III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;

V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de


passageiros ou de carga;

VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que


afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade
prescritos nas especificações do fabricante;

VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.

Gabarito: C

Questão 3. Com base na Lei n.º 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), analise a afirmativa a seguir:
Constitui crime discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos
meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício da cidadania, por motivo de idade.

Comentários

A conduta descrita na assertiva constitui crime, conforme prevê o artigo 96, caput, do Estatuto do Idoso:

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Questão 4. No delito de tráfico de entorpecente, a pena poderá ser reduzida de 1/6 a 2/3 desde que:
a) o agente seja de bons antecedentes e não se dedique às atividades criminosas.
b) o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa e colabore voluntariamente com a investigação policial.
c) o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa.

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d) o agente não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.


e) o agente seja de bons antecedentes, não integre organização criminosa e colabore voluntariamente com
a investigação policial.

Comentários

A alternativa C está correta. Segundo o art. 33, §4 da Lei n 11.343/2006, nos delitos definidos no caput e
no §1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em
penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Questão 5. No que se refere às disposições da Lei n 13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade), assinale
a alternativa INCORRETA:
a) Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
b) As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente
com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por
mero capricho ou satisfação pessoal.
c) As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais
questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo
criminal.
d) É punido com pena de detenção de 1 a 4 anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência,
constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de
resistência, a exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
e) Constitui efeito automático da condenação a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

Comentários

A alternativa E está correta. A teor do art. 4º, inc. III da Lei n 13.869/2019, são efeitos da condenação: III -
a perda do cargo, do mandato ou da função pública. O parágrafo único deste artigo estabelece que os
efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em
crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na
sentença.

Questão 6. Julgue as alternativas a seguir, marcando a INCORRETA, de acordo com a legislação penal
especial:
a) Nos termos da Lei n. 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), comente crime de omissão de cautela
aquele que deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou
pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja
de sua propriedade.
b) Nos termos da Lei n. 11.101/05 (Lei de falências), a sentença que decreta a falência, concede a
recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial é condição objetiva de punibilidade das
infrações penais descritas na referida Lei.

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c) Nos termos da Lei n. 1.521/51 (Lei de crimes contra a economia popular), a usura pecuniária não
configura crime, mas sim mera infração administrativa.
d) Nos termos da Lei n. 7.716/1989 (Lei dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor), constitui
efeito não automático da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.
e) Nos termos da Lei 10.741/03 (Estatuto do idoso), aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei dos Juizados
Especiais Criminais, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do CP e do CPP.

Comentários

A alternativa A não pode ser o gabarito da questão, pois está correta, ao se referir ao crime de omissão de
cautela, previsto no art. 3 do Estatuto do Desarmamento “Art. 13. Deixar de observar as cautelas
necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se
apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1
(um) a 2 (dois) anos, e multa.”.

A alternativa B não pode ser o gabarito da questão, pois está de acordo com a condição de punibilidade
indicada no art. 8 da Lei de fal ncias para os crimes falimentares “Art. 180. A sentença que decreta a
falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163
desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei.”.

A alternativa C é o gabarito da questão, tendo em vista que a usura pecuniária é crime, nos termos
previstos no art. 4º da Lei dos crimes contra a economia popular “Art. 4º. Constitui crime da mesma
natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando: a) cobrar juros, comissões ou descontos
percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa
oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que
seja privativo de instituição oficial de crédito; b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da
premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto
do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, e multa, de cinco mil a vinte mil cruzeiros.”.

A alternativa D não pode ser o gabarito da questão pois está correta, na medida em que, de fato, os
mencionados efeitos da condenação não são automáticos, conforme previsto no art. 16 c/c art. 18 da Lei
do racismo “Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor
público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três
meses.; Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.”.

A alternativa E não pode ser o gabarito da questão, pois está correta, ao reproduzir o art. 94 do Estatuto
do Idoso “Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4
(quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e,
subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.”.

Gabarito: letra C.

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2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Não podem propor a ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura:
a) MP Eleitoral.
b) Partido político.
c) Qualquer candidato.
d) Coligação partidária.
e) Cidadãos em geral.

Comentários

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura não pode ser proposta por cidadãos em geral.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa E.

“Consulta. Legitimidade dos órgãos partidários. Impugnação. Registro de candidatura. Período


eleitoral. Início. Não conhecimento (...). Quanto à legitimidade para impugnação do registro de
candidatura, diz a LC 64/9 , em seu art. 3°, diz que ‘caberá a qualquer candidato, partido
político, coligação ou Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do
pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada’. Também o CPC/ 5,
nos arts. 17 e 18 afirmam que, ‘para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade’
e que ‘ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo
ordenamento jurídico’. (TSE, CtaEl no 60.129.434, Rel. Min. Sérgio Banhos, DJU 14.10.2000).

Questão 2. Quanto à ação de impugnação de registro de candidatos, é correto afirmar:


a) Em homenagem ao princípio da imparcialidade do Juiz e visando o equilíbrio entre as partes, o Juiz
Eleitoral não poderá determinar diligências de ofício.
b) Poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público, mesmo que tenha
integrado diretório de partido ou exercido atividade político-partidária, desde que não mais filiado a
partido político.
c) A impugnação de registro de candidato por partido político ou coligação veda a ação do Ministério
Público nesse sentido.
d) Trata-se de veículo processual adequado para a discussão das condições de elegibilidade,
registrabilidade e inelegibilidades.
e) Em homenagem ao princípio da celeridade processual que norteia o processo eleitoral, deverá ser
deduzida no prazo decadencial de três dias contados da publicação do pedido de registro do candidato.

Comentários

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A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura é destinada, em especial, à discussão sobre a


inexistência de condições de elegibilidade e, bem assim, e existência de causas de inelegibilidade, absolutas
e relativas, de natureza constitucional ou legal.

Em razão disso, a alternativa D está correta.

Questão 3. A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura ao cargo de Governador de


Estado deve ser promovida perante:
A) JUÍZO ELEITORAL.
b) Zona Eleitoral.
c) Corregedoria Regional Eleitoral.
d) Tribunal Regional Eleitoral.
e) Tribunal Superior Eleitoral.

Comentários

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura ao cargo de Governador de Estado deve ser
promovida perante o Tribunal Regional Eleitoral da unidade da federação respectiva, em atenção ao art.
2º, parágrafo único, inc. II, da Lei Complementar nº 64/90.

O candidato deve assinalar a alternativa D, pois.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (CESPE – Promotor de Justiça – MPE – CE/2020) De acordo com as disposições do Estatuto da
Criança e do Adolescente, a garantia da prioridade absoluta compreende
a) a corresponsabilidade da família, do Estado e da sociedade em assegurar a efetivação dos direitos
fundamentais a crianças e adolescentes.
b) a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias.
c) a efetivação de direitos especiais em razão da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
d) o alcance dos direitos a todas as crianças e adolescentes, sem qualquer distinção.
e) a implementação de políticas públicas de forma descentralizada.

Comentários

Alternativa correta letra “B”.

Comentário: vide art. 4º, do Estatuto – prioridade absoluta.

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Questão 2. (CESPE – Promotor de Justiça – MPE – CE/2020) Um grupo de moradores de um município


fundou uma associação para propor ação civil pública com pedido de reparação de danos morais e
materiais causados pela exposição a contaminação ambiental decorrente da exploração de jazida de
chumbo no município. Lia, que faz parte da associação, pretende propor, ainda, uma ação individual,
porque a contaminação lhe causara cegueira.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) Lia não poderá pleitear a reparação dos danos a si em ação individual, pois a questão deverá ser decidida
na ação civil pública coletiva.
b) Lia poderá pleitear a reparação dos danos a si em ação individual e manter-se como uma das
beneficiárias da ação civil pública proposta pela associação mesmo que não tome nenhuma medida
processual.
c) O pedido de reparação de danos morais e materiais formulado pela associação trata de direitos
individuais homogêneos, ante a indivisibilidade de seu objeto.
d) O pedido de reparação de danos morais e materiais formulado pela associação trata de direitos
individuais homogêneos, o que ensejará uma sentença genérica.
e) O pedido de reparação de danos morais e materiais formulado pela associação trata de direitos difusos,
ante a divisibilidade do seu objeto.

Comentários

Correta letra “D”. A questão foi lançada para chamar a atenção de que o Estatuto também trata de
interesses difusos, coletivos e individuais (estes homogêneos e indisponíveis). Aliás, o Estatuto compunha o
tripé legislativo da tutela coletiva, juntamente com a Lei nº 7.347/1985 e Código de Defesa do Consumidor.
Atualmente, existem muitas outras leis que fazem parte do Sistema Único Coletivo.

Questão 3. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis. O direito à liberdade não compreende os seguintes aspectos:
a) buscar refúgio, auxílio e orientação.
b) opinião e expressão.
c) ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, independente de restrições legais.
d) brincar, praticar esportes e divertir-se.
e) participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação.

Comentários

Gabarito: alternativa C

ECA - Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

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Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. No que tange à imunidade tributária, julgue os itens a seguir, conforme o entendimento do
Supremo Tribunal Federal, julgue os itens abaixo:
I) Goza de imunidade a sociedade de economia mista cujas ações são negociadas na bolsa de valores.
II) Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica
de direito público.
III) As Caixas de Assistência de Advogados gozam de imunidade tributária recíproca.
a) Apenas a “III” está correta
b) Apenas a “II” está correta
c) Apenas a “I” está correta
d) As assertivas “II” e “III” estão corretas
e) Todas as assertivas estão corretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “d”.

I. Incorreta. STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em
29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 508).

II. Correta. STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral –
Tema 685).

III. Correta. STF. Plenário. RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/9/2018.

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Questão 2. Acerca do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), julgue as
assertivas abaixo:
I) O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU -
inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
II) A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de
expansão urbana não está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do
CTN.
III) O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas
referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.
a) Apenas a “III” está correta
b) Apenas a “II” está correta
c) Apenas a “I” está correta
d) As assertivas “II” e “III” estão corretas
e) Todas as assertivas estão corretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “e .

I) Assertiva correta. STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
14/11/2018 (recurso repetitivo).

II) Assertiva correta. Súmula 626 do STJ.

III) Assertiva correta. Súmula 614 do STJ.

Questão 3. Quanto ao ISSQN, julgue os itens abaixo.


I) Incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação sob
encomenda.
II) Não é possível a cobrança de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais produtos de
loteria e similares.
III) É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal,
admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em lei
em razão da interpretação extensiva.
a) Apenas a “I” está incorreta
b) Apenas a “II” está incorreta
c) Apenas a “I” está incorreta
d) As assertivas “II” e “III” estão incorretas
e) As assertivas “I” e “II” estão incorretas

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Comentários

Assertiva correta é a letra “d .

I) Assertiva correta. STF. Plenário. RE 605552, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral
– Tema 379).

II) Assertiva incorreta. STF. Plenário. RE 634764, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 08/06/2020 (Repercussão
Geral – Tema 700). É possível a cobrança de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais
produtos de loteria e similares, sendo a base de cálculo o valor da remuneração da prestação do serviço.

III) Assertiva correta. STF. Plenário. RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Repercussão
Geral – Tema 296).

2.11 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. Sobre as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais regidas pela Lei
7.347/85, é correto afirmar:
a) A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro, o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer ou de dar coisa certa ou incerta.
b) Possuem legitimidade para propor ação principal e ação cautelar previstas nesta Lei, entre outros: o
Ministério Público, a Defensoria Pública, a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios.
c) Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o processo será
extinto, e nova ação versando sobre o mesmo fato somente poderá ser proposta após 6 (seis) meses da
extinção do processo.
d) Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora
lhe promova a execução, ocorrerá a prescrição do cumprimento de sentença.
e) A sentença civil prolatada fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
somente o Ministério Público poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova
prova.

Comentários

a) Alternativa incorreta, pois a condenação prevista será em dinheiro ou obrigação de fazer ou não fazer.
(art. 3º)

b) Alternativa correta. Entre todos os legitimados para propor a Ação principal e cautelar previstas pela Lei
7.347/85 estão os citados na alternativa (art. 5º, I a V)

c) Alternativa incorreta, pois havendo desistência infundada ou abandono da ação por associação
legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa (art. 5º, § 3º);

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d) Alternativa incorreta. O artigo 15 diz que não havendo a promoção da execução da sentença
condenatória nos 60 dias contados a partir do trânsito em julgado da sentença, o Ministério Público deverá
fazê-lo, sendo facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

e) Alternativa incorreta, pois na hipótese do pedido julgado improcedente por insuficiência de provas,
qualquer legitimado poderá propor outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de prova nova. (art.
16)

Questão 2. “Em âmbito recursal, o ECA não atende aos mesmos requisitos das demais Ações Civis
Públicas, aplicando-se regras próprias”.
Com base nesta afirmação, analise as seguintes assertivas e marque V para verdadeiro ou F para falso:
( ) Seus recursos independem de preparo.
( ) O prazo recursal é de 15 (quinze) dias.
( ) Os recursos dispensarão revisor.
( ) O juiz poderá exercer o juízo de retratação, salvo se apelada a sentença.
Assinale a alternativa que corresponda ao gabarito das afirmações:
a) V-F-V-F.
b) F-V-F-V.
c) F-F-V-F.
d) V-F-F-V.

Comentários

A afirmação em questão diz respeito ao artigo 198 do ECA, que define regras próprias para o trâmite de
recursos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, sendo as regras específicas dadas por seus incisos.

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à
execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei n° 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela
Lei nº 12.594, de 2012)

I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo;

II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o Ministério Público e
para a defesa será sempre de 10 (dez) dias;

III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;

VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação, ou do
instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado,
mantendo ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias;

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Confrontando as afirmações da questão com os incisos deste artigo chegamos à seguinte sequência: V-F-V-
F, sendo correta a resposta da alternativa a.

Questão 3. Em relação ao reexame necessário, em se tratando de ação coletiva, assinale a alterativa


correta:

a) A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação fica sujeita ao duplo grau de
jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, nos termos da Lei da Ação Civil
Pública.
b) A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação fica sujeita ao duplo grau de
jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, nos termos da Lei de apoio às
pessoas portadoras de deficiência.
c) É entendimento pacificado no STJ pela observância ao reexame necessário em todas as ações coletivas.
d) Todas as ações coletivas apenas produzirão efeitos quando confirmadas pelo Tribunal, nos termos da Lei
da Ação Popular.

Comentários

Para responder à questão é necessário conhecer os debates acerca da necessidade de reexame necessário
às sentenças em ação coletiva, esta discussão tem como base o artigo 4°, §1° da Lei de apoio às pessoas
portadoras de deficiência e no artigo 19 da Lei da Ação Popular:

Lei de apoio às pessoas portadoras de deficiência (Lei n° 7.853/89)

Art. 4º A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível erga omnes, exceto no caso de haver
sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

§ 1º A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação fica sujeita ao duplo
grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal.

LAP

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da
que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.

A partir deste dispositivo, importa lembrar que se formaram duas correntes no STJ:

 a 1ª e a 2ª Turmas do STJ têm aplicado a todas as ACP o reexame necessário nos


termos dos artigos acima;
 a 3ª Turma tem afastado o reexame necessário nas ações que versem sobre
direitos individuais homogêneos, sob o argumento de estes serem apenas acidentalmente
coletivos.

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Está correta, portanto, a alternativa b.

Questão 4. Acerca da coisa julgada em ação coletiva, é correto afirmar que:


a) Terá sempre eficácia erga omnes.
b) Terá sempre eficácia ultra partes.
c) Terá eficácia erga omnes nos casos em que se trate de interesse individual coletivo.
d) Terá eficácia ultra partes em se tratando de direito difuso.

Comentários

A alternativa a está errada. Com o advento do CDC, a disciplina da coisa julgada erga omnes ganhou maior
disciplina, e incluiu-se a disposição sobre coisa julgada ultra partes, conforme se verifica em seu artigo 103.

A alternativa b está errada. Pelo mesmo motivo da alternativa a.

A alternativa c está correta. O CDC deu o emprego da expressão erga omnes para se referir aos interesses
difusos e aos individuais homogêneos, nos termos do §2° do artigo 103.

A alternativa d está errada. Com a mesma fundamentação da alternativa c.

Resposta: alternativa c.

Questão 5. Em se tratando de coisa julgada nas ações coletivas sobre interesses difusos e coletivos,
assinale a alternativa correta:

a) A sentença de improcedência por insuficiência de provas não faz coisa julgada.


b) Nos casos de sentença de procedência, o réu poderá propor ação em face de qualquer dos
colegitimados, exceto aquele que propôs a ação em questão.
c) A sentença de improcedência por pretensão infundada não faz coisa julgada.
d) A sentença de improcedência por insuficiência de provas obsta que qualquer dos colegitimados
proponha nova ação.

Comentários

A alternativa a está correta. Nos casos em que a sentença for de improcedência por não haverem sido
produzidas todas as provas necessárias, não haverá coisa julgada material, nos termos do artigo 103,
incisos I e II, CDC.

A alternativa b está errada. Nos casos de sentença de procedência haverá coisa julgada material (erga
omnes ou ultra partes). Desta forma, a matéria decidida na sentença não poderá ser discutida novamente
pelo réu contra qualquer colegitimado, ainda que este não tenha feito parte do processo.

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A alternativa c está errada. Se, após produção suficiente de provas a análise do mérito resulta em sentença
de improcedência por pretensão infundada, haverá coisa julgada material com efeitos decorrentes da
extensão do direito.

A alternativa d está errada. Pela mesma fundamentação da alternativa a, com destaque que nestes casos,
qualquer legitimado (inclusive aquele que ajuizou a ação em questão) poderá propor outra com o mesmo
objeto litigioso, valendo-se de nova prova.

Resposta: alternativa a.

Questão 6. Com base na coisa julgada nas ações sobre interesses individuais homogêneos, analise os
seguintes itens:
I- Todas as ações que versem sobre interesses individuais homogêneos farão coisa julgada erga omnes.
II- Nos casos de sentença de procedência o conceito erga omnes abrange todos os titulares dos direitos
discutidos.
III- A sentença de improcedência, independentemente do fundamento, fará coisa julgada material e a ela
não serão dados os efeitos erga omnes.
Assinale a alternativa que apresente os itens corretos:
a) Todos estão corretos.
b) Apenas I e II.
c) Apenas II e III.
d) Nenhum está correto.

Comentários

O Item I está incorreto. Apenas nos casos em que haja sentença de procedência haverá coisa julgada
material erga omnes, isto é, a matéria decidida na sentença não poderá ser rediscutida, pelo réu contra
qualquer dos colegitimados, ainda contra aqueles que não tenham feito parte do processo.

O Item II está correto. Nos casos de sentença de procedência o conceito erga omnes abrange todos os
titulares dos direitos discutidos, nestes casos serão eles também atingidos favoravelmente pela coisa
julgada, desta maneira apenas necessitarão comprovar, durante liquidação da sentença, que estão
incluídos na situação fática reconhecida, e qual o montante de seu prejuízo, para, posteriormente,
proceder à execução.

O Item III está correto. A sentença de improcedência, independentemente do fundamento, fará coisa
julgada material e a ela não serão dados os efeitos erga omnes, nesse sentido A coisa julgada impedirá a
propositura de uma nova ação coletiva discutindo o mesmo objeto, contudo, não obstará que os interesses
individuais homogêneos sejam tutelados de maneira singular, por meio de ações individuais propostas por
cada um daqueles que foi lesado, ou ainda que as ações individuais já ajuizadas tenham prosseguimento,
exceto se a pessoa que sofreu o dano se valeu da faculdade do artigo 94 do CDC, e interveio na ação
coletiva como litisconsorte, nesta hipótese será prejudicada pela coisa julgada e estará impedida de propor
ação indenizatória individual.

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Resposta: alternativa c.

2.12 – DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. Sobre a proteção às pessoas portadoras de deficiência, é incorreto afirmar que:
a) Compete à CORDE manter estreito relacionamento com os Estados, Municípios, Territórios, o Distrito
Federal, e o Ministério Público, objetivando a concorrência de ações destinadas à integração social das
pessoas portadoras de deficiência.
b) Constitui crime, punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos recusar, cobrar valores adicionais,
suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de
qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência.
c) Nos termos da Lei n.º 7.853/1989, o Ministério Público, ao instaurar inquérito civil sob sua presidência,
poderá requisitar informações de qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou particular, certidões,
informações, exame ou perícias, no prazo que assinalar, não inferior a 10 (dez) dias úteis.
d) De acordo com o disposto na Lei n.º 7.853/1989, não pratica crime aquele que omite dados técnicos
indispensáveis à propositura de Ação Civil Pública, quando requisitado pelo Ministério Público.
e) A Lei 7.853/89 dispõe que a conduta de obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a
qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua deficiência é punível com reclusão de 2 a 5 anos e
multa.

Comentários

a) Alternativa correta, conforme narrativa do artigo 12, inciso V, da Lei 7.853/89

b) Alternativa correta, conforme artigo 8º, inciso I, da Lei 7.853/89

c) Alternativa correta, conforme artigo 6º da Lei 7.853/89

d) Alternativa incorreta, a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura de Ação Civil Pública,
quando requisitado pelo Ministério Público, constitui crime, conforme redação do artigo 8º, inciso VI.

e) Alternativa correta, conforme artigo 8º, inciso II.

Questão 2. Em relação ao Direitos da Criança e do Adolescente, é correto afirmar:


a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais, salvo com a concordância dos pais ou responsáveis.
b) Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-
tratos contra criança ou adolescente poderão ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais. A comunicação ao Conselho Tutelar depende de
autorização dos pais ou responsável legal da criança ou adolescente.

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c) A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico que lhe
imponha sequelas físicas irreversíveis, ou de tratamento cruel ou degradante, salvo se for utilizado como
forma de correção, disciplina ou educação. Aos pais ou responsáveis é permitida a utilização de castigos
físicos para educar, corrigir e disciplinar quando julgarem necessário.
d) Para os fins do Estatuto da Criança e do Adolescente considera-se castigo físico toda ação de natureza
disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em
lesão corporal grave.
e) Para os fins do Estatuto da Criança e do Adolescente considera-se tratamento cruel ou degradante:
conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que humilhe; ameace
gravemente; ou ridicularize a criança ou o adolescente.

Comentários

a) Alternativa incorreta: a concordância dos pais ou responsáveis não autoriza a submissão às condutas
descritas no artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

b) Alternativa incorreta: os casos de suspeita ou confirmação das condutas descritas na alternativa


“deverão” ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, independentemente da
autorização dos pais ou responsável legal da criança ou adolescente. Artigo 13 do ECA.

c) Alternativa incorreta: é direito da criança e do adolescente não serem submetidos a castigos físicos ou
tratamento cruel ou degradante para correção, disciplina educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
integrantes da família ampliada, responsáveis, agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou
qualquer pessoa encarregada dos cuidados e proteção a eles dispensados. Artigo 18-A do ECA.

d) Alternativa incorreta: conforme artigo 18-A, parágrafo único, inciso I, considera-se castigo físico: ação de
natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que
resulte em sofrimento físico e lesão.

e) Alternativa correta: previsão legal no artigo 18-A, inciso II, “a, b e c”.

Questão 3. Em relação aos direitos consumidor, é correto afirmar:


a) Interesses ou direitos difusos são definidos pelo Código de Defesa do Consumidor como os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato.
b) Constituem interesses ou direitos coletivos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
c) São Interesses ou direitos difusos, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular um
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica
base.
d) Constituem interesses ou direitos coletivos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas determinadas e ligadas por circunstâncias de fato.
e) Os interesses ou direitos individuais homogêneos são os decorrentes de um mesmo fato, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas.

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Comentários

a) Definição Correta conforme artigo 81, parágrafo único, inciso I, do código de Defesa do Consumidor.

b) Alternativa incorreta: Interesses ou direitos coletivos são os transindividuais de natureza indivisível de


que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;

c) Alternativa incorreta: interesses ou direitos difusos são os transindividuais de natureza indivisível de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por cinrcunstâncias de fato.

d) Alternativa incorreta: Interesses ou direitos coletivos, são os transindividuais de natureza indivisível de


que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;

e) Alternativa incorreta: Interesses ou direitos individuais homogêneos são os decorrentes de origem


comum.

Questão 4. Em relação à defesa coletiva dos direitos do Consumidor, é incorreto afirmar:


a) O Ministério Público, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal possuem legitimidade
concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do Consumidor.
b) As entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do
Consumidor e o Ministério Público, possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos
direitos do Consumidor.
c) Possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do Consumidor as
associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, dispensada a
autorização assemblear e a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal.
d) O Ministério Público e as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a
autorização assemblear possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do
Consumidor.
e) Somente o Ministério Público e os órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo
Código de Defesa do Consumidor possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos
direitos do Consumidor.

Comentários

a) Alternativa correta: previsão no artigo 82, incisos I e II, do Código de Defesa do Consumidor.

b) Alternativa Correta: previsão no artigo 82, incisos I e III, do Código de Defesa do Consumidor.

c) Alternativa correta: previsão no artigo 82, incisos II e IV, do Código de Defesa do Consumidor.

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d) Alternativa Correta: previsão no artigo 82, incisos I e IV, do Código de Defesa do Consumidor.

e) Alternativa Incorreta: além do Ministério Público e dos órgãos da Administração Pública, direta ou
indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, também possuem legitimidade concorrente:
associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, dispensada a
autorização assemblear e a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, conforme artigo 82 e seus
incisos, do Código de Defesa do Consumidor.

Questão 5. Acerca da Lei Anticorrupção Empresarial (Lei 12.846/2013), assinale a alternativa correta:
a) As pessoas jurídicas serão responsabilizadas desde que comprovada a existência de dolo ou culpa, nos
âmbitos administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados em seu interesse ou
benefício, exclusivo ou não.
b) A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS pela CGU tem mero caráter
informativo, inapta a gerar dano, por si só.
c) A responsabilização da pessoa jurídica pode excluir a responsabilidade individual de seus dirigentes ou
administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.
d) A pessoa jurídica será responsabilizada desde que haja processo administrativo ou judicial para
responsabilização individual das pessoas naturais envolvidas no ato ilícito.

Comentários

A alternativa A está incorreta. A responsabilização das pessoas jurídicas na Lei Anticorrupção Empresarial
possui natureza objetiva, ou seja, independe da caracterização de dolo ou culpa.

Art. 2º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos administrativo


e civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo
ou não.

A alternativa B está correta. A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS
pela CGU tem mero caráter informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a
participação, em licitações, das empresas ali constantes. A inclusão do nome da autora no Portal da
Transparência e no Cadastro de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) não gera, por si só, qualquer dano à
empresa. Isso porque o impedimento de contratar e licitar não decorre do fato de a empresa estar no CEIS.
Este impedimento existe porque a empresa foi punida pelo Governo do Estado de São Paulo e a simples
divulgação não muda nada isso nem faz com que ela passe a ser punida em todo o Brasil. Se a empresa
estiver sendo indevidamente excluída de licitações por outro ente cuja decisão não se aplica (outros
Estados, Municípios etc), deverá ingressar com ações judiciais contra esse ente que está tolhendo seu
direito. A divulgação de seu nome no CEIS não interfere nada. STJ. 1ª Seção.MS 21750-DF, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/10/2017 (Info 615).

A alternativa C e D estão incorretas.

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Art. 3º A responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual de seus


dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do
ato ilícito.

§ 1º A pessoa jurídica será responsabilizada independentemente da responsabilização


individual das pessoas naturais referidas no caput.

Questão 6. Sobre os princípios de direito ambiental, assinale a alternativa incorreta:


a) O Princípio da Precaução fundamenta a possibilidade de inversão do ônus da prova nas demandas
ambientais.
b) Pode-se dizer o que o princípio do desenvolvimento sustentável busca realizar o princípio da
solidariedade intergeracional.
c) Na aplicação do Princípio da Prevenção, verifica-se um risco incerto.
d) Segundo o Princípio da Precaução, quando houver possibilidade de danos graves ao meio ambiente, a
mera ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas no
intuito de precaver a degradação ambiental.

Comentários

A alternativa C está incorreta e é o gabarito. Segundo o Princípio da Prevenção, quando já se tem base
científica para previsão dos impactos ambientais negativos decorrentes de determinada atividade lesiva ao
meio ambiente, devem ser impostas ao empreendedor algumas condições no licenciamento ambiental
para mitigar ou impedir os prejuízos. Dessa forma, na aplicação desse princípio, verifica-se um risco certo,
conhecido, concreto, em que já se sabe a extensão e a natureza dos danos ambientais, ou seja, o risco é
certo e o perigo é concreto, e não incerto como afirma a alternativa.

As alternativas A, B e D estão corretas, apresentando informações corretas acerca dos princípios da


Precaução, Prevenção e solidariedade intergeracional, estes que são cobrados com frequência em provas
objetivas.

No mais, para o Princípio da Solidariedade Intergeracional, as gerações presentes devem preservar o meio
ambiente para as gerações futuras. Nesse sentido, os recursos ambientais devem ser utilizados de maneira
racional, de forma que o desenvolvimento sustentável busca realizar a solidariedade intergeracional.

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2

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Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Direito Processual Civil 2
Direito Processual Penal 2
Direito Civil 1
Direito da Criança e do Adolescente 1
Direito eleitoral 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Discorra sobre os limites impostos ao Conselho Nacional de Justiça, a teor da jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, para o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário
e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Resposta objetivamente justificada.

Comentários

O Supremo Tribunal Federal, ao avaliar a constitucionalidade de atos normativos do Conselho Nacional de


Justiça, houve por bem delinear 3 (três) linhas jurisprudenciais.

Primeira: o Conselho Nacional de Justiça, sob pena de atividade ultra vires, não pode interferir em atos de
conteúdo jurisdicional, emanados de quaisquer tribunais ou juízes, nem determinar que eles se abstenham
de cumprir leis e atos normativos por aparente vício de inconstitucionalidade.

Segunda: ainda que não interfira em atos de conteúdo jurisdicional, o Conselho Nacional de Justiça deveria
observância ao princípio da subsidiariedade, pelo qual aos tribunais seria atribuído o exercício prioritário
do poder correcional sobre os juízes a eles funcionalmente vinculados, de tal forma que a intervenção do
órgão de controle administrativo, disciplinar e financeiro do Poder Judiciário requereria, para legitimar-se,
a ocorrência de situações anômalas e excepcionais, como, por exemplo, hipóteses de inércia, simulação
investigatória, procrastinação indevida e/ou incapacidade de atuação.

Terceira: mesmo que não intervenha no exercício do poder correcional dos tribunais em geral, o Conselho
Nacional de Justiça não pode deixar de levar em consideração os costumes locais e as peculiaridades da
atividade judicial.

Questão 2. Ao julgar um caso concreto, pode o órgão do Poder Judiciário deixar de aplicar o Verbete de
Súmula de efeito vinculante do Supremo Tribunal Federal? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

Os verbetes da súmula da jurisprudência predominante com eficácia vinculante são definidos como
enunciados jurídicos aprovados, revisados ou cancelados, de ofício ou por iniciativa de legitimado para
ação direta de inconstitucionalidade, por dois terços dos membros do Supremo Tribunal Federal, quanto à

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interpretação, validade e eficácia de normas determinadas, em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à Administração Pública, direta ou indireta, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal,
sob pena de reclamação.

Dentro dessa perspectiva, consoante o art. 103-A, §§ 2º e 3º, da Constituição da República, ao julgar um
caso concreto, pode o órgão do Poder Judiciário deixar de aplicar o enunciado ou verbete de súmula de
efeito vinculante do Supremo Tribunal Federal, não devendo ser olvidada, no Direito brasileiro, a distinção
entre overruling e distinguishing.

De um lado, o Supremo Tribunal Federal deve proceder à revisão da súmula da jurisprudência, quando
vislumbrar a mudança do parâmetro anteriormente firmado no precedente judiciário (overruling).

De outro lado, os Juízos e Tribunais podem deixar de aplicar o enunciado ao caso concreto, quando
verificarem que a questão submetida à apreciação judicial não é igual ao precedente judiciário
(distinguishing).

JURISPRUDÊNCIA

“Agravo interno em ação rescisória. Direito Processual Civil e Administrativo. Concurso público.
Candidatos aprovados fora do número de vagas. Aplicação do tema 784 da repercussão geral.
Violação manifesta à norma jurídica. Inocorrência. Cabimento com base no art. 966, § 5º, do
CPC. Distinguishing. Ausência dos requisitos legais. Incidência da Súmula 343/STF. Ação
rescisória não é instrumento para a correção de eventual erro de direito ou suposta injustiça da
decisão. Precedentes. Agravo interno não provido. Majoração dos honorários advocatícios (art.
85, § 11, do CPC). Manutenção da reversão do depósito prévio à União (parágrafo único do art.
974 do CPC)” (STF, AR-AgR nº 2.702, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 30.08.2019, DJU 16.09.2019).

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Disserte sobre o Princípio da Continuidade do Serviço Público, passando pelos aspectos
jurisprudenciais e doutrinários mais relevantes.

Comentários

De acordo com este princípio, os serviços públicos não devem sofrer interrupções, isto é, a prestação do
serviço deve ser contínua, de modo a evitar que a interrupção “provoque colapso nas múltiplas atividades
particulares” 33.

33
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p335.

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É por este princípio que se legitima a existência de institutos como a suplência, a delegação e a substituição
para ocupar as funções públicas que estejam temporariamente vagas.

Embora vigore o princípio da continuidade, faz-se necessário o estudo da suspensão do serviço público. De
acordo com o art. 6º, § 3º da Lei nº 8.987/95, não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua
interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

No que tange ao não pagamento pelo usuário do serviço, deve-se diferenciar os serviços compulsórios e os
facultativos. Estes são aqueles que o particular pode ou não requerer a sua prestação. Dessa forma, em
razão da facultatividade do serviço, o Poder Público pode suspender-lhe a prestação no caso de não
==10be0c==

pagamento. Ex.: suspensão do serviço de fornecimento de energia elétrica34, bem como os serviços de uso
de linha telefônica. Àqueles, por sua vez, não serão permitidas a suspensão, afinal o Estado o impôs
coercitivamente ao particular. Ademais, é motivo pela impossibilidade de interrupção do serviço ser ele
remunerado por taxa, uma vez que a Fazenda Pública tem mecanismos privilegiados para a cobrança da
dívida. Ex.: Taxa de incêndio, taxa de coleta de lixo.

Portanto, é de se concluir que serviços remunerados por taxa não podem ser suspensos, ao passo que os
remunerados por tarifa podem ser suspensos.

ATENÇÃO!! É possível a interrupção de serviços públicos essenciais quando o inadimplente for


o particular.

O primeiro fundamento para o corte é o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse
privado, que estabelece a verticalidade na relação entre o particular (administrado) e a administração
pública, permitindo que este poder da administração calcado na verticalidade interrompa o serviço do
particular que não paga.

O segundo fundamento é o princípio da continuidade dos serviços públicos para a coletividade. Acontece
que o princípio da continuidade sob a ótica da coletividade revela que obrigar o prestador do serviço
público a continuar a prestação do serviço público ao usuário inadimplente poderá gerar, no futuro, a
impossibilidade de atender aos demais usuários por não haver como cobrir os custos. Dito de outra forma,
a prestação do serviço sem a contraprestação do usuário poderia levar à inviabilização do serviço público.
Portanto, poderia levar a um desequilíbrio das cláusulas econômico-financeiras.

34
STJ – Resp 510.478-PB.

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O terceiro fundamento é a vedação ao enriquecimento sem causa por parte do usuário inadimplente.

O quarto fundamento é o princípio da isonomia, de modo que se deve dar a todos o mesmo tratamento a
partir da forma como se comportam.

Observe o posicionamento do STJ: É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de


débito irrisório, por configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.35

Importante também o seguinte julgado: é ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais
quando o débito decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada
unilateralmente pela concessionária.36

ATENÇÃO 2!! A suspensão do serviço só é admissível no caso de débitos atuais, isto é, aqueles
que provêm do próprio mês de consumo ou, ao menos, dos anteriores próximos. Quando se
fala em débitos pretéritos não deve o concessionário suspender o serviço. Na verdade, deve-se
utilizar das ações de cobrança a que fizer direito37.

Ademais, o novo usuário não pode sofrer a suspensão do serviço por débito de usuário antecedente. O
serviço remunerado por tarifa gera uma obrigação de natureza pessoal, e não propter rem.3839

ATENÇÃO 3!! Há decisões judiciais de que entendem inadmissível a suspensão do serviço


público, mesmo pago por tarifa, quando o usuário é o Poder Público.

De acordo com o STJ, é legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando
inadimplente pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não
atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.40

ATENÇÃO 4!! A jurisprudência do STJ também tem julgado no sentido de que não é possível a
interrupção no fornecimento do serviço público que coloque em risco a vida do usuário.

35
REsp 811690/RR,Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 18/05/2006,DJ 19/06/2006
36
AgRg no AREsp 346561/PE,Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 25/03/2014,DJE 01/04/2014
37
STJ - REsp nº 1336889/RS
38 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. –p.337
39 STJ - AgRg no Ag de nº 1399175/RJ:

40
AgRg no AgRg no AREsp 152296/AP,Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,Julgado em
15/08/2013,DJE 11/12/2013

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Exemplo: pessoa que depende de energia elétrica para manter máquina que mantenha função
vital. Mesmo que essa pessoa não pague a conta, o direito à vida, em virtude da ponderação de
interesses, prevaleceria ao direito de crédito.

ATENÇÂO 5!! Sobre o dano moral em razão do corte indevido de serviço público, a
jurisprudência do STJ possui precedente indicando que esse dano moral também é presumido.

Nesse ponto vale trazer a ementa do AgRg no AREsp 239.749/RS:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


IMPOSSIBILIDADE DE CORTE POR DÉBITOS PRETÉRITOS. SUSPENSÃO ILEGAL DO
FORNECIMENTO. DANO IN RE IPSA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior
pacificou o entendimento de que não é lícito à concessionária interromper o fornecimento do
serviço em razão de débito pretérito; o corte de água ou energia pressupõe o inadimplemento
de dívida atual, relativa ao mês do consumo, sendo inviável a suspensão do abastecimento em
razão de débitos antigos. 2. A suspensão ilegal do fornecimento do serviço dispensa a
comprovação de efetivo prejuízo, uma vez que o dano moral nesses casos opera-se in re ipsa,
em decorrência da ilicitude do ato praticado. 3. Agravo Regimental da AES Sul Distribuidora
Gaúcha de Energia S/A desprovido. (AgRg no AREsp 239.749/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 01/09/2014)

ATENÇÃO 6!! A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por


meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio,
prevista no art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995.41

Questão 2. Quais são os efeitos da fase declaratória da desapropriação?

Comentários

A fase declaratória é aquela em que o desapropriante declara o bem de utilidade pública ou de interesse
social para fins de desapropriação. Esta fase exterioriza um ato de soberania, um ato de império.

De acordo com o art. 2º do DL 3.365/41, a declaração é de competência da União, Estados, Distrito Federal,
Municípios e Territórios. Essa é a regra estabelecida para a declaração de desapropriação. Observe,

41
REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, por unanimidade, julgado em 15/12/2016, DJe 17/2/2017.

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contudo, que há algumas exceções, nas quais algumas autarquias poderão declarar um bem para fins de
desapropriação, desde que possuam autorização legislativa.

Atente-se ao fato do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) pode declarar um bem
para fins de desapropriação visando à implantação do Sistema Nacional de Viação. – Art. 82, IX da Lei
10.233/01.

A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) também possui a competência declaratória, com o objetivo
de serem desapropriadas áreas para a instalação de concessionários e permissionários de energia elétrica. -
Art. 10 da Lei 9.074/95

O particular não pode declarar o bem para fins de desapropriação ainda que prestador de serviço público.

Observe que de acordo com o art. 6º e o art. 8º do DL 3.365/41, a declaração de utilidade pública pode
ocorrer por meio de Decreto dos Chefes do Poder Executivo; ou por meio de Lei do Poder Legislativo. Este
decreto e esta lei são os chamados decreto e lei de efeitos concretos, uma vez que não possuem o caráter
da generalidade e abstratividade. São decreto e lei em sentido formal, mas são atos administrativos em
sentido material. Dessa forma, pode ser impugnado via Mandado de Segurança.

Atente-se ao Enunciado 4 do CJF, que afirma que o ato declaratório da desapropriação, por utilidade ou
necessidade pública, ou por interesse social, deve ser motivado de maneira explícita, clara e congruente,
não sendo suficiente a mera referência à hipótese legal

a) Efeitos da Declaração

A declaração de desapropriação não tem o condão de suprimir a propriedade do particular.

A Declaração Fixa o Estado do Bem

É com a declaração que se saberá o valor da indenização a ser paga pelo poder público.

De acordo com o art. 26, § 1º do DL 3.365/41, as benfeitorias necessárias serão indenizadas, ainda que
feitas após a declaração de desapropriação. Por sua vez, as benfeitorias úteis serão indenizadas somente se
autorizadas pelo poder público. Por fim, as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas.

Ainda, o art. 2º, § 4º da Lei nº 8629/93 afirma que, no caso de reforma agrária, não será considerada
qualquer modificação introduzida ou ocorrida até 6 meses após a data da comunicação da desapropriação.
As modificações poderão ocorrer após esses 6 meses.

SÚMULA Nº 23 - VERIFICADOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA O LICENCIAMENTO DA OBRA,


NÃO O IMPEDE A DECLARAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA PARA DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL,
MAS O VALOR DA OBRA NÃO SE INCLUIRÁ NA INDENIZAÇÃO, QUANDO A DESAPROPRIAÇÃO
FOR EFETIVADA.

Direito de Penetração – art. 7º do DL 3.365/41

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Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas autorizadas a penetrar nos prédios
compreendidos na declaração, podendo recorrer, em caso de oposição, ao auxílio de força policial.

O direito de penetração não transfere a posse. O poder público entra, mas sai do bem, exatamente por não
haver a posse. A penetração ocorre para que o expropriante adentre no bem para realizar determinadas
atividades.

Início do prazo decadencial para que a fase executória tenha Início

A desapropriação deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se judicialmente, dentro de 5 anos,


contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. Neste caso, somente
decorrido um ano, poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração. Em outras palavras, tem-se o
prazo de 5 anos da data da expedição do decreto para iniciar a fase executória. Passado o prazo, somente
depois de 1 ano é que o bem poderá ser objeto de nova declaração. Isto de acordo com o art. Art. 10 do DL
3.365/41.

O prazo de 5 anos refere-se para a declaração de utilidade pública. No caso de interesse social, o prazo de
caducidade será de 2 anos, de acordo com o art. 2º da Lei nº 4.132/62.

Preferência daquele ente que declara um bem para desapropriação em 1º lugar, quando 2 entes de
mesma hierarquia desejam desapropriar um bem móvel

Observe que a preferência ocorre somente do bem móvel, afinal, em relação ao bem imóvel somente o
ente em que este se situa poderá proceder com a declaração de desapropriação.

Imissão Provisória na Posse

Para que haja a imissão provisória na posse é necessário a presença de 2 requisitos, quais sejam, 1) a
declaração de urgência e 2) que seja depositado o valor de acordo com o que a lei estabelecer,
independente da citação do réu.42

Observe que presente ambos os requisitos, o expropriante tem direito subjetivo à imissão provisória na
posse, não podendo o juiz indeferi-la.

A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão
provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias. Excedido o prazo não será concedida a
imissão provisória.

A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente.

42
De acordo com o STF, por meio da súmula 652, não há inconstitucionalidade nessa situação.

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Se houver concordância, reduzida a termo, do expropriado, a decisão concessiva da imissão provisória na


posse implicará a aquisição da propriedade pelo expropriante com o consequente registro da propriedade
na matrícula do imóvel.

A concordância escrita do expropriado não implica renúncia ao seu direito de questionar o preço ofertado
em juízo.

Na hipótese deste artigo, o expropriado poderá levantar 100% (cem por cento) do depósito.

Do valor a ser levantado pelo expropriado devem ser deduzidos os valores dispostos nos §§ 1o e 2o do art.
32 deste Decreto-Lei, bem como, a critério do juiz, aqueles tidos como necessários para o custeio das
despesas processuais.

Observe que a imissão é uma situação facultada ao expropriante. Não é obrigatório requerer a imissão
provisória. Contudo, na desapropriação por reforma agrária, a imissão provisória é fase obrigatória, nos
termos do art. 6º, I da LC nº 76/93.

Por fim, observe que o art. 1º do DL 1.075/70, que versa sobre a desapropriação de prédio urbano
residencial possibilita também a imissão provisória na posse, mediante o depósito do preço oferecido. Este
depósito pode ser impugnado. Havendo a impugnação, o juiz fixará, em 48 horas, o valor provisório do
imóvel. Quando o valor arbitrado for superior à oferta, o juiz só autorizará a imissão provisória na posse do
imóvel, se o expropriante complementar o depósito para que este atinja a metade do valor arbitrado.

3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. No contexto de multidão, discorra sobre a proteção à imagem da pessoa humana.

Comentários

A imagem compõe a personalidade da pessoa. Na doutrina, há a distinção quanto à imagem-retrato e a


imagem atributo. Confira-se, no ponto:

O posicionamento jurídico moderno apresenta duas espécies de imagens: a imagem-retrato e a


imagem-atributo. Neste particular, Maria Helena Diniz distingue os dois institutos da imagem:
imagem-retrato é a representação física da pessoa, como um todo ou em partes separadas do
corpo (nariz, olhos, sorriso etc.) desde que identificáveis, implicando o reconhecimento de seu
titular, por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura, interpretação dramática,
cinematografia, televisão, sites etc., que requer autorização do retratado (CF, art. 5º, X). A
imagem-atributo é o conjunto de caracteres ou qualidades cultivadas pela pessoa,

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reconhecidos socialmente (CF, art. 5º, V), como habilidade, competência, lealdade,
pontualidade etc. A imagem abrange também a reprodução, romanceada em livro, filme, ou
novela, da vida de pessoa de notoriedade43.

Ambas as expressões são tuteladas pelo ordenamento jurídico. De fato, salvo se autorizadas, ou se
necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins (art. 20, caput, do Código Civil).

Há, porém, que se diferenciar a captação da imagem individualizada e da imagem em contexto


multitudinário – ou em ambiente aberto.

A primeira atinge diretamente a pessoa captada. Visa a enfocá-la e a explorar determinado interesse na
gravação. De regra, será exigida a autorização da pessoa para que seja publicada a sua imagem. Violada a
necessidade de consentimento, e na hipótese de interesse financeiro na captação ou mesmo se atingir a
honra (objetiva ou subjetiva, em conceituação ampla), haverá direito à indenização consequente.

A segunda, a seu turno, exige maior cautela no que tange tanto à necessidade de autorização quanto ao
direito à indenização. Trata-se de consectário da vida em sociedade; o registro en passant da pessoa, em
conjunto com a construção cênica de certo evento com pluralidade de pessoas, não possui proteção
equiparada ao registro individual. Fala-se em consentimento presumido, conceituação cuja leitura deve ser
realizada à luz do contrato social por que a pessoa adere, figurativamente, ao conviver no seio da
comunidade.

Neste sentido:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. JULGAMENTO: CPC/15.

1. Ação de compensação de dano moral ajuizada em 04/08/2016, da qual foi extraído o


presente recurso especial, interposto em 26/06/2016 e atribuído ao gabinete em 05/11/2018.

2. O propósito recursal consiste em decidir sobre a configuração do dano moral pelo uso da
imagem de torcedor de futebol para campanha publicitária de automóvel, enquanto ele se
encontrava no estádio assistindo à partida do seu time.

3. Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a depender das
circunstâncias, especialmente quando se trata de imagem de multidão, de pessoa famosa ou

43
Disponível em https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/uma-abordagem-doutrinaria-e-jurisprudencial-do-direito-
a-imagem/. Acesso em 14/2/2021.

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ocupante de cargo público, há julgados do STJ em que se admite o consentimento presumível, o


qual deve ser analisado com extrema cautela e interpretado de forma restrita e excepcional.

4. De um lado, o uso da imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes -
associada à partida de futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores, porque
costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado, quem comparece a um jogo esportivo não tem
a expectativa de que sua imagem seja explorada comercialmente, associada à propaganda de
um produto ou serviço, porque, nesse caso, o uso não decorre diretamente da existência do
espetáculo.

5. Se a imagem é, segundo a doutrina, a emanação de uma pessoa, através da qual ela se


projeta, se identifica e se individualiza no meio social, não há falar em ofensa a esse bem
personalíssimo se não configurada a projeção, identificação e individualização da pessoa nela
representada.

6. Hipótese em que, embora não seja possível presumir que o recorrente, enquanto torcedor
presente no estádio para assistir à partida de futebol, tenha, tacitamente, autorizado a
recorrida a usar sua imagem em campanha publicitária de automóvel, não há falar em dano
moral porque o cenário delineado nos autos revela que as filmagens não destacam a sua
imagem, senão inserida no contexto de uma torcida, juntamente com vários outros torcedores.

7. Recurso especial conhecido e desprovido.

(REsp 1772593/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/06/2020,
DJe 19/06/2020)

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, discorra sobre a (des)
necessidade de intimação do réu, sem procurador constituído, que haja sido revel na fase de
conhecimento, para o cumprimento de sentença.

Comentários

Segundo o entendimento exarado pelo Superior Tribunal de Justiça, é devida a intimação pessoal do réu,
sem procurador constituído, para o cumprimento de sentença, ainda que haja sido revel na fase de
conhecimento. Sabe-se que, em regra, a intimação para o cumprimento de sentença é feita na pessoa do
advogado, porém, não o havendo, deve ser realizada ao próprio réu, a despeito de sua revelia na fase de
conhecimento.

Isso porque, não obstante se entender atualmente pela existência de um processo sincrético, o qual reúne
em si as fases cognitiva e satisfativa, não se estende à inauguração desta o efeito da desnecessidade de
intimação do réu para os atos posteriores em decorrência de sua revelia na fase anterior, isto é, nesse
momento, não se aplica a regra de que os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da
data de publicação do ato decisório no órgão oficial, prevista no artigo 346 do Código de Processo Civil.

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Tal exigência se pauta na necessidade de fortalecimento do contraditório, mesmo porque se trata de etapa
processual destinada a afetar, efetivamente, o patrimônio do réu, com a realização de diligências mais
invasivas em seu desfavor, e não mais limitada a dizer o direito. Aliás, a intimação do réu para o
cumprimento de sentença consiste em providência prevista pelo próprio diploma processual civil, a seguir,
em regra, a forma pela qual se realizou a citação na fase de conhecimento, de acordo com o disposto no
artigo 513, §2º, do Código de Processo Civil.

Essa foi a postura jurisprudencial adotada pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do
REsp 1.760.914-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, em 02/06/2020 (Info 673).

Questão 2. A associação dos oficiais militares do Estado de Minas Gerais impetrou mandado de
segurança coletivo visando assegurar aos membros inativos da Polícia Militar a implantação do benefício
denominado VPE (Vantagem Pecuniária Individual). Distribuído a uma das varas da Fazenda Pública, foi o
processo extinto sem resolução de mérito em razão da ausência de autorização dos substituídos.
Interposto recurso de apelação, você, na qualidade de Promotor de Justiça, foi intimado para se
manifestar em parecer sobre o pleito recursal.

Comentários

A pretensão recursal da associação merece ser acolhida.

Isso porque o juízo sentenciante incorreu em equívoco ao aplicar, sem a devida distinção (distinguishi), o
entendimento do STF materializado no Tema 82 de repercussão geral:

I – A previsão estatutária genérica não é suficiente para legitimar a atuação, em Juízo, de


associações na defesa de direitos dos filiados, sendo indispensável autorização expressa, ainda
que deliberada em assembleia, nos termos do artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal;
II – As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, são
definidas pela representação no processo de conhecimento, limitada a execução aos associados
apontados na inicial.

No entanto, tal orientação destina-se, exclusivamente, às hipóteses de ação coletiva ajuizada pela
associação na qualidade de representante processual dos associados, nos termos do art. 5º, inciso XXI da
Constituição Federal.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.

Nesse caso, a eficácia subjetiva da sentença restringir-se-á aos associados que detinham a condição de
filiados e constaram da lista de representados apresentada por ocasião da propositura da ação, por força
de expressa exigência do art. 2º-A, parágrafo único da Lei 9.494/97.

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Art. 2o-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência
territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal,
os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar
instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da
relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Diversa é situação em se tratando de mandado de segurança coletivo, em que a associação atua como
substituto processual e, por conseguinte, não se exige a comprovação da anuência dos associados,
exatamente porque sua intervenção ocorre por legitimação extraordinária.

Nesse sentido orienta-se a jurisprudência do STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO


ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ. SERVIDOR PÚBLICO. ALEGADA INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ.
INAPLICABILIDADE. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO Nº 200551010161509 IMPETRADO
PELA ASSOCIAÇÃO DE OFICIAIS MILITARES ESTADUAIS DO RIO DE JANEIRO - AME/RJ. ART. 5º,
LXX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. DISPENSABILIDADE DE
AUTORIZAÇÃO EXPRESSA E RELAÇÃO NOMINAL DOS ASSOCIADOS. LIMITES SUBJETIVOS DA
DECISÃO. EXTENSÃO DOS EFEITOS DA SEGURANÇA AOS ASSOCIADOS FILIADOS APÓS A
IMPETRAÇÃO DO MANDAMUS. POSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO TEMA 499 DO STF. ART.
2º-A DA LEI Nº 9.494/97. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS ASSOCIADOS E LIMITAÇÃO DOS
EFEITOS DO JULGADO COLETIVO AOS ASSOCIADOS FILIADOS ATÉ A PROPOSITURA DA AÇÃO
ORDINÁRIA. DISTINGUISHING. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. O óbice previsto na Súmula
nº 7/STJ tem sido aplicado por esta Corte Superior nos casos em que o Tribunal de origem
afasta a legitimidade ativa por não ser o exequente pertencente à categoria de oficial, mas de
praça, razão pela qual não seria beneficiado pela decisão proferida no Mandado de Segurança
Coletivo nº 200551010161509, impetrado pela Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio
de Janeiro - AME/RJ, hipótese diversa do presente caso, em que o Tribunal de origem afastou a
legitimidade do exequente ao argumento de que o nome do agravado não constava da lista de
associados juntada quando da impetração do mandado de segurança coletivo, e que a filiação
somente ocorreu após a impetração do writ. 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior firmou-
se no sentido de que omandado de segurança coletivo configura hipótese de substituição
processual, por meio da qual o impetrante, no caso a associação, atua em nome próprio
defendendo direito alheio, pertencente aos associados ou parte deles, sendo desnecessária
para a impetração do mandamus apresentação de autorização dos substituídos ou mesmo lista
nomimal. Por tal razão, os efeitos da decisão proferida em mandado de segurança coletivo
beneficia todos os associados, ou parte deles cuja situação jurídica seja idêntica àquela tratada
no decisum, sendo irrelevante se a filiação ocorreu após a impetração do writ. 3. Inaplicável ao
presente caso a tese firmada pelo Supremo Tribunal Federal no RE nº 612.043/PR (Tema nº
499), pois trata exclusivamente das ações coletivas ajuizadas sob o rito ordinário por associação
quando atua como representante processual dos associados, segundo a regra prevista no art.

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art. 5º, XXI, da Constituição Federal, hipótese em que se faz necessária para a propositura da
ação coletiva a apresentação de procuração específica dos associados, ou concedida pela
Assembléia Geral convocada para este fim, bem como lista nominal dos associados
representados, nos termos do art. 2º-A, parágrafo único, da Lei nº 9.494/97. In casu, o processo
originário é um mandado de segurança coletivo impetrado por associação, hipótese de
substituição processual (art. 5º, LXX, da Constituição Federal), situação diversa da tratada no RE
nº 612.043/PR (representação processual). 4. Agravo interno não provido44.

Este também é o entendimento do STF, plasmado na Súmula 629, verbis:

A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos


associados independe da autorização destes.

3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. ARLINDO ORLANDO, servidor da Prefeitura Municipal de Miracema do Norte, foi investigado
pela violação aos mandamentos proibitivos constantes do art. , caput, do Código enal, por ter, ao
longo do ano de , descontado valores da ol a de pagamento dos servidores da pre eitura para
quitacão de empr stimo consignado não os repassando s instituicões inanceiras credoras.
Após o seu indiciamento pela autoridade policial, a defesa do indiciado ajuizou Habeas Corpus, visando
ao trancamento do inquérito policial, sob o argumento da atipicidade da conduta do investigado.
Na qualidade de Promotor de Justiça, instado a se manifestar na ação impugnativa, opinaria pelo seu
deferimento? Fundamente.

Comentários

De início, ressalta-se que a diferenca entre manipulacão de dinheiro público ou particular tem especial
importância na análise da questão do dolo na obtencão de proveito próprio ou alheio com desvio de
finalidade das verbas e da simples aplicacão inadequada dessa mesma verba. Essa discussão, que
eventualmente surge na hipótese de o administrador público dar destino diverso ao previsto para a verba,
mas ainda no âmbito público, a exemplo de deslocar montante que seria aplicado à saúde para a
pavimentacão de rodovia. Contudo, sendo o dinheiro particular, esse tipo de controvérsia se desfaz, pois
não é dado ao administrador deslocar esse dinheiro para nenhuma outra finalidade que não a ajustada.
Assim, tratando-se de aplicacão de dinheiro particular e tendo o administrador público traído,
evidentemente, a confianca que lhe fora depositada, ao dar destinac ão diversa à ajustada, não é requisito
para a configuracão do crime a demonstracão do proveito próprio ou alheio. Mesmo que necessário fosse,
sendo o dinheiro de servidores, ou seja, particular, o proveito exsurge do fato em si. O peculato-desvio é

44
STJ, AgInt no REsp 184.604/RJ, 2ª T., rel. Min. Mauro Cambpell Marques, j. 22.04.2020, DJe 27.04.2020.

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crime formal que se consuma no instante em que o funcionário público dá ao dinheiro ou valor destino
diverso do previsto. A obtenc ão do proveito próprio ou alheio não é requisito para a consumac ão do
crime, sendo suficiente a mera vontade de realizar o núcleo do tipo. Desse modo, configura peculato-
desvio a retenc ão dos valores descontados da folha de pagamento dos servidores públicos que recebiam
seus vencimentos já com os descontos dos valores de retencão a título de empréstimo consignado, mas,
por ordem de administrador, os repasses às instituicões financeiras credoras não eram realizados.

Neste sentido, o Ministério Público opina pelo indeferimento da ação de habeas corpus proposta.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
A diferença entre manipulação de dinheiro público ou
particular tem especial importância na análise da
questão do dolo na obtenção de proveito próprio ou
alheio com desvio de finalidade das verbas e da simples
aplicação inadequada dessa mesma verba. Essa
discussão, que eventualmente surge na hipótese de o
Manipulação de verba
administrador público dar destino diverso ao previsto 30%
pública ou privada
para a verba, mas ainda no âmbito público, a exemplo
de deslocar montante que seria aplicado à saúde para a
pavimentação de rodovia. Contudo, sendo o dinheiro
particular, esse tipo de controvérsia se desfaz, pois não
é dado ao administrador deslocar esse dinheiro para
nenhuma outra finalidade que não a ajustada.
Tratando-se de aplicação de dinheiro particular e tendo
Necessidade de
o administrador público traído a confiança que lhe fora
demonstração de
depositada, ao dar destinação diversa à ajustada, não é 30%
proveito próprio ou
requisito para a configuração do crime a demonstração
alheio
do proveito próprio ou alheio.
O peculato-desvio é crime formal que se consuma no
instante em que o funcionário público dá ao dinheiro ou
Peculato desvio - valor destino diverso do previsto. A obtenção do
30%
consumação proveito próprio ou alheio não é requisito para a
consumação do crime, sendo suficiente a mera vontade
de realizar o núcleo do tipo.
Questão 2. No dia 05 de novembro de 2020, o ANTÔNIO MANSO PACÍFICO ajuizou Revisão Criminal
visando a desconstituir sentença que o condenara à pena de prisão pelo cometimento do crime de
falsidade ideológica.

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Na sentença, consta que o autor cometeu os crimes em 2003 e 2007, quando incluiu 02 (duas) sócias
"laranja" no contrato social da empresa que prestava serviços à administração pública; e que, anos após,
promoveu alterações contratuais sem, no entanto, exclui-las, o que caracterizaria nova prática delitiva
prevista no art. 299 do Código Penal.
A denúncia foi recebida no dia 10 de janeiro de 2013; e a sentença fixou a pena, que restou definitiva,
em 01 ano e 02 meses de reclusão.
Na sua opinião, a ação impugnativa merece ser acolhida? Fundamente.

Comentários

A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem vir a se protrair no tempo. A
despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar, ela se consuma no momento em que é praticada a
conduta, segundo precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

Neste contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o momento da
consumação do delito, e não da eventual reiteração de seus efeitos.

Se o julgado rescindendo admite que os falsos foram praticados em 2003 e 2007, quando as sócias
"laranja" foram incluídas pela primeira vez no contrato social da empresa, erra ao afirmar que teriam sido
reiterados quando, por ocasião das alterações contratuais ocorridas em anos posteriores, quando o réu
deixou de regularizar o nome dos sócios verdadeiramente titulares da empresa, mantendo o nome dos
"laranjas".

Isso porque, não há como se entender que constitui novo crime a omissão do réu em corrigir informação
falsa por ele inserida em documento público quando teve oportunidade para tanto. Tampouco há como se
entender que a lei pune um crime instantâneo porque ele continua produzindo efeitos depois de sua
consumação.

Considerando-se que a pena definitiva foi fixada em 1 ano e 2 meses de reclusão, a prescrição pela pena
em concreto, nos termos dos arts. 109, V, c/c 110, caput, do Código Penal, verifica-se "em 4 (quatro) anos,
se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois”; e sabido que a denúncia
(primeiro dos marcos interruptivos da prescrição - art. 117, I, CP) foi recebida em 10/01/2013, tem razão o
autor da revisão criminal quanto afirma que os delitos, praticados em 2003 e 2007, pelos quais foi
condenado, estão prescritos.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Falsidade ideológica - A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, 30%

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consumação cujos efeitos podem vir a se protrair no tempo. A


despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar,
ela se consuma no momento em que é praticada a
conduta, segundo precedentes do Superior Tribunal de
Justiça.
O termo inicial da contagem do prazo da prescrição da
Termo inicial de
pretensão punitiva é o momento da consumação do 30%
contagem da prescrição
delito, e não da eventual reiteração de seus efeitos.
Considerando-se que a pena definitiva foi fixada em 1
ano e 2 meses de reclusão, a prescrição pela pena em
concreto, nos termos dos arts. 109, V, c/c 110, caput,
do Código Penal, verifica-se "em 4 (quatro) anos, se o
máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior,
Reconhecimento da
não excede a dois”; e sabido que a denúncia (primeiro 30%
prescrição
dos marcos interruptivos da prescrição - art. 117, I, CP)
foi recebida em 10/01/2013, tem razão o autor da
revisão criminal quanto afirma que os delitos,
praticados em 2003 e 2007, pelos quais foi condenado,
estão prescritos.
Questão 3. Discorra sobre o concurso de pessoas, abordando as principais teorias sobre o assunto, assim
como qual delas foi adotada pelo atual Código Penal.

Comentários

O concurso de pessoas consiste no fenômeno criminal em que duas ou mais pessoas concorrem de forma
relevante para a prática da mesma infração penal, desde que cientes de que contribuem para a obra
criminosa comum. É regulado nos artigos 29 a 31 do Código Penal.

Acerca do concurso de pessoas, surgiram 3 principais teorias que tentam explicar esse fenômeno. A
primeira é a teoria monista ou unitária, segundo a qual não importa quantos agentes tenham concorrido
para o crime, pois todos eles responderão pelo mesmo delito e incidirão nas penas a este cominadas. Tem
como fundamento a teoria da equivalência dos antecedentes causais (teoria da “conditio sine qua non”),
de modo que todo aquele que concorre para o crime é responsável por seu resultado.

Já a segunda é a teoria dualista e sustenta a existência de um crime para o autor e outro crime para o
partícipe. Desse modo, existiria um crime pra quem realiza o núcleo do tipo (autor) e outro para aquele
que, sem realizar o verbo nuclear, concorre de alguma forma para o crime (partícipe). Autor seria quem
pratica a conduta principal enquanto partícipe é quem pratica atos acessórios.

Por fim, a terceira teoria é conhecida como teoria pluralista e defende a existência de tantos crimes
quantos sejam os agentes que concorrem para a ação delitiva. Para essa teoria existiriam crimes
autônomos para cada agente que concorre para o crime.

Nosso Código Penal trata, em seus arts. 29 a 31, do instituto do concurso de agentes ou de pessoas. Em seu
art. 29, “caput”, prevê que “ uem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade”.

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Destaque-se que a doutrina majoritária, ao interpretar o art. 9, “caput”, do Código Penal, sustenta que o
Direito Penal brasileiro adotou a teoria monista ou unitária, ao prever que todo aquele que concorre para o
crime incide nas penas a ele cominadas. Todavia, fala-se em teoria monista mitigada ou temperada, visto
que a parte final do art. 9, “caput”, prev que os agentes responderão na medida de sua culpabilidade,
acenando para penas distintas para cada agente.

Em conclusão, é preciso esclarecer que, conquanto se entenda que nosso Direito Penal adotou a teoria
monista temperada, o Código Penal não abandonou por completo as teorias dualista e pluralista. Isso
porque os §§ 1º e 2º do art. 29 permitem concluir que o partícipe terá tratamento distinto do autor, o que
nos aproxima da teoria dualista. Além disso, verifica-se, ainda que excepcionalmente, a adoção da teoria
pluralista, como ocorre no caso do crime de aborto provocado por terceiro com o consentimento da
gestante, em que a gestante responderá na forma do art. 124 e o terceiro responderá na forma do art. 126
do CP, havendo um crime para cada agente, no mesmo contexto fático.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Ministério Público oferece denúncia contra Pedro, atribuindo-lhe a prática do crime previsto
no artigo 171, do CP, narrando que ele teria, mediante rompimento de obstáculo, adentrado a residência
da vítima e subtraído, para si, R$ 500.
Comente o enunciado.

Comentários

A primeira observação a ser feita é que houve flagrante equívoco do Ministério Público ao proceder à
tipificação do delito. A narrativa se refere a um crime de furto qualificado, muito embora a tipificação
tenha sido feita como de um crime de estelionato.

Trata-se de típica situação de emendatio libelli, prevista no artigo 383, do CPP:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.

Assim, deve o juiz, ao proferir a sentença, proceder à correção da tipificação, sem maiores formalidades,
afinal de contas o réu se defende dos fatos e não da capitulação. Nada obstante, o juiz tem a livre dicção
do direito, podendo, pois, proceder à retificação independemente de provocação.

Em sendo Promotor e, constatando o equívoco, interessante observá-lo, corrigindo o teor da denúncia, nos
moldes do artigo 569, do CPP:

Art. 569. As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou, nos processos das
contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a
todo o tempo, antes da sentença final.

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Questão 2. O Poder Judiciário pode determinar ao Ministério Público ofertar acordo de não persecução
penal?

Comentários

O acordo de não persecução penal (ANPP) foi incluído no artigo 28-A do Código de Processo Penal pela Lei
13.964/2019 (pacote anticrime) e está previsto da seguinte maneira:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime,
mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal);
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser
indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada.

Este acordo representa um modelo de justiça consensual negociada, inserindo em nosso ordenamento
jurídico mais um dispositivo com o intuito de evitar o encarceramento de quem comete infrações de
menor expressão, admite o erro e pretende não mais delinquir.

Existência de procedimeto investigativo

Não ser caso de arquivamento do inquérito

Requisitos para o ANPP Confissão formal e circunstancial do investigado

Infração penal sem violência ou grave ameaça

Pena mínima inferior a 4 anos.

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Além dos requisitos acima listados, os quais são de inicial análise, o parágrafo segundo do artigo 28-A
apresenta um rol de requisitos negativos para o acordo de não persecução penal, com situações nas quais
o modelo consensual não é aplicável.

Cabível transação penal de competência do JECRIM

Investigado reincidente

Não é cabível o Existência de elementos probatórios que indique conduta


ANPP nas criminal habitual, reiterada ou profissional (exceto se
seguintes insignificantes as infrações pretéritas)
hipóteses
Investigado ter se beneficiado nos 5 anos anteriores ao
cometimento da infração com ANPP, transação penal ou
suspensão condicional do processo

Crime praticado no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou


praticado contra a mulher por razões de condição de sexo
feminimo

O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e assinado por membro do Ministério
Público, pelo investigado e pelo seu defensor. Para sua homologação será realizada audiência na qual o juiz
efetuará o controle da voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e
sua legalidade.

Na audiência designada para homologação do ANPP podem ser tomadas as seguintes providências pelo
magistrado:

 Homologar o acordo de não persecução penal e devolver os autos ao Ministério Público para que
inicie sua execução perante o juízo de execução penal (§6º);

 Devolver os autos ao Ministério Público para que seja formulada nova proposta de acordo, caso
considere inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não
persecução pena (§5º):

 Recusar a homologação se a proposta não atender aos requisitos legais ou quando não for
realizada a adequação acima referida.
Atenção: no caso de o juiz recusar a homologação do acordo de não persecução penal devem os autos
serem devolvidos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das
investigações ou o oferecimento da denúncia.

Consoante se verifica no caput do artigo 28-A o CPP diz que preenchidos os requisitos o Ministério Público
poderá propor acordo de não persecução penal. Da literalidade do dispositivo pode-se concluir que se
trata de atuação discricionária do representante do Parquet a utilização do mecanismo de justiça

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consensual negociada. Nesta medida, não cabe ao Poder Judiciário obrigar o Ministério Público oferecer o
acordo de não persecução penal.

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o HC 194.677/SP entendeu que o Poder Judiciário não pode impor
ao Ministério Público (MP) a obrigação de ofertar acordo de não persecução penal (ANPP). Segundo o
relator, não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara
investigatória, impor ao MP a celebração de acordos.

Vejamos como a decisão constou no Informativo nº 1.017 (acórdão pendente de publicação):

O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público (MP) a obrigação de ofertar acordo
de não persecução penal (ANPP).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na
seara investigatória, impor ao MP a celebração de acordos.
Não se tratando de hipótese de manifesta inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o
reexame de sua negativa, nos termos do art. 28-A, § 14, do Código de Processo Penal (CPP) (2),
não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle o ato de recusa, quanto ao mérito, a fim
de impedir a remessa ao órgão superior no MP.
Isso porque a redação do art. 28-A, § 14, do CPP determina a iniciativa da defesa para requerer
a sua aplicação.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma concedeu parcialmente a ordem, para
determinar a remessa dos autos à Câmara de Revisão do Ministério Público Federal, a fim de
que seja apreciado o ato que negou a oferta de ANPP. Vencido, parcialmente, o ministro
Ricardo Lewandowski, que concedia a ordem em maior extensão.

Por último, caso o membro do Parquet não proponha o ANPP, o §14 do art. 28-A do CPP prevê que o
investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior do Ministério Público na forma do
artigo 28 do Código de Processo Penal.

3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. À luz da legislação vigente e do entendimento do STJ, discorra acerca da tipicidade, ou não,
da conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha (máximo 15 linhas).

Comentários

O entendimento do STJ, em recente julgado, foi no sentido de que é atípica a conduta de importar
pequena quantidade de sementes de maconha. Satisfatórias são as razões tecnicamente elencadas na
decisão (EREsp 1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
14/10/2020, DJe 21/10/2020), disponível no informativo n.º 0683, do STJ:

Cinge-se o dissenso quanto ao tema relativo à tipicidade ou não da conduta de importar pouca
quantidade de sementes de maconha. O acórdão embargado, da Quinta Turma, entendem que
“a importação clandestina de sementes de cannabis sativa linneu (maconha) configura o tipo

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penal descrito no art. 33, § º, I, da Lei n. .343/ 6” (AgRg no REsp .733.645/SP, Rel.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 05/06/2018, DJe 15/06/2018).
Por sua vez, para o acórdão paradigma, da Sexta Turma, “tratando-se de pequena quantidade
de sementes e inexistindo expressa previsão normativa que criminaliza, entre as condutas do
artigo 28 da Lei de Drogas, a importação de pequena quantidade de matéria prima ou insumo
destinado à preparação de droga para consumo pessoal, forçoso reconhecer a atipicidade do
fato”.

O conceito de "droga", para fins penais, é aquele estabelecido no art. 1º, parágrafo único, da
Lei n. 11.343/2006: "Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os
produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder executivo da União."

A mesma Lei traz no seu art. 66: "Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei,
até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas
substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da
Portaria SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998."

Compulsando a lista do referido ato administrativo, do que se pode denominar "droga", vê-se
que dela não consta referência a sementes da planta Cannabis Sativum. No anexo, Lista E, tem-
se as plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas. A primeira
delas é justamente a Cannabis Sativum.

O Tetrahidrocanabinol - THC é a substância psicoativa encontrada na planta Cannabis Sativum,


mas ausente na semente, razão pela qual esta não pode ser considerada "droga", para fins
penais, o que afasta a subsunção do caso a qualquer uma das hipóteses do art. 33, caput, da Lei
n. 11.343/2006.

Os incisos I e II do § 1º do referido artigo, listam uma série de condutas que incorrem nas
mesmas penas. Infere-se do inciso II que "matéria-prima" é a substância utilizada "para a
preparação de drogas", como é o caso da planta Cannabis Sativum, porque dela se extrai a
droga. Da semente, nada se extrai diretamente, nem se misturada com o que quer que seja.
Logo, não pode ser considerada "matéria-prima".

No mais, a norma prevê como conduta delituosa o semeio, o cultivo ou a colheita da planta
proibida. Embora a semente seja um pressuposto necessário para a primeira ação, e a planta
para as demais, a importação (ou qualquer dos demais núcleos verbais) da semente não está
descrita como conduta típica.

Além disso, a semente também não se enquadra na qualificação de "insumo" ou, muito menos,
"produto químico", porque ambos visam à preparação de drogas.

Também não se antevê possibilidade de subsunção da conduta a qualquer das hipóteses do art.
28 da Lei. As condutas delituosas estão adstritas a ações voltadas para o consumo de droga e
aos núcleos verbais de semear, cultivar ou colher plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de droga, também para consumo pessoal. Sob essa óptica, o ato de importar

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pequena quantidade de semente configuraria, em tese, mero ato preparatório para o crime do
art. 28, § 1º, impunível, segundo nosso ordenamento jurídico.

Por fim, apesar da propensão em concordar com o entendimento sufragado pela instância a
quo (que enquadrou a conduta de importar sementes de maconha como crime de
contrabando, previsto no Código Penal, art. 334-A), em homenagem à segurança jurídica e ao
princípio da razoável duração do processo, privilegia-se o entendimento majoritário já formado
neste Superior Tribunal de Justiça, que está em consonância com os precedentes da Suprema
Corte e que consideram atípica a importação de pequena quantidade de sementes de
maconha.

Questão 2. Explique a relação existente entre o delito de lavagem de capitais e o crime antecedente,
inclusive para fins de processamento e julgamento.

Sugestão de Reposta

Diferentemente do que ocorre na receptação, em que o autor do crime antecedente não pode ser o autor
da receptação, na lavagem de dinheiro, o autor do crime antecedente pode ser ou não o autor da lavagem.

PROCESSO PE AL. (...) LAVAGEM DE CAPITAIS. CRIME AUTÔ OMO. (…). IX - O crime de
lavagem de capitais (art. 1º da Lei n. 9.613/98) é delito autônomo em relação à infração penal
antecedente. Por conseguinte, a participação no crime antecedente não é indispensável à
adequação da conduta de quem oculta ou dissimula a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal ao tipo do art. 1.º da Lei n. 9.613/98. (…). (STJ, AgRg no HC
603.357/MS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 23/03/2021, DJe
30/03/2021)

Ressalte-se que na hipótese de autolavagem, que ocorre quando o autor pratica ambas as infrações penais
(infração antecedente + crime de lavagem), o agente responderá por elas em concurso material, devendo-
se demonstrar atos diversos e autônomos daquele que compõe a primeira infração.

Em razão da autonomia entre os crimes, a responsabilização pela lavagem independe de processo ou


condenação pelo crime pressuposto (art. 2º, II).

Lei 9.613/98 Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: II - independem do
processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país,
cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de
processo e julgamento;

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O crime de lavagem restará prejudicado pelo resultado do processo pelo crime antecedente quando
houver absolvição por inexistência do fato.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Após o advento do termo final do prazo para a propositura da ação de impugnação ao pedido
de registro de candidatura, a existência de causa de elegibilidade em relação a algum candidato pode ser
arguida perante a Justiça Eleitoral? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

Refere-se a questão à preclusão temporal em matéria eleitoral, sob a égide dos arts. 223, § 3º e 259 do
Código Eleitoral, como também do art. 3º da Lei Complementar nº 64/90 e art. 11, § 10, da Lei nº 9.504/97,
incluído pela Lei nº 12.034/09.

As condições de elegibilidades legais estão subordinadas à preclusão temporal, de forma que devem ser
alegadas em ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura.

Ao contrário, as condições de elegibilidade constitucionais não estão sujeitas à preclusão temporal, de


modo que podem ser arguidas até o recurso contra a diplomação ou, então, ação de impugnação de
mandato eletivo, ressalvadas, em qualquer hipótese, as condições de elegibilidade e as causas de
inelegibilidade supervenientes.

“Eleições 2012. Agravos regimentais (...). Incide, na espécie, o disposto no art. 11, § 10, da Lei
nº 9.504/97, porque constatada alteração jurídica superveniente ao registro de candidatura
(...). De acordo com a jurisprudência desta Corte, cumpre à Justiça Eleitoral, enquanto não
cessada a jurisdição relativamente ao registro de candidato, levar em conta fato
superveniente” (STF, AI nº 35.425, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU 26.08.2014).

3.9 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Disserte sobre a fraude à execução fiscal. (máximo de 10 linhas)

Comentários

O artigo 185 do CTN versa sobre a fraude à execução fiscal:

Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por
sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito
como dívida ativa. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo
devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita. (Redação dada pela Lcp nº
118, de 2005)

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Como se pode observar do dispositivo, o marco temporal utilizado pela Lei para caracterização da fraude à
execução é a inscrição do crédito em dívida ativa, que ocorre antes mesmo do ajuizamento da ação de
execução fiscal, conforme demonstra o gráfico abaixo:

Assim, o regramento aplicável ao fisco com relação aos créditos tributários é mais favorável do que o
existente em favor dos credores privados. Com relação a estes últimos, incide o disposto no artigo 792 do
CPC, que pressupõe para o reconhecimento da fraude à execução a existência de uma demanda judicial ou
de uma constrição judicial.

3.10 – DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. Determinada emissora de televisão vem transmitindo programa inadequado para crianças e
adolescentes, não observando o critério indicativo fixado pelo Ministério da Justiça. Nessa hipótese,
pode se dizer que a emissora praticou infração administrativa tipificada no Estatuto da Criança e do
Adolescente?

Comentários

É de atribuição da União exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões e espetáculos públicos
e de programas de rádio e televisão (art. 21, XVI, e art. 220, § 3º, da Constituição Federal).

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 2404/DF, enfatizou que a atuação da União possui caráter
indicativo, e não autorizativo ou compulsório. De outro lado, reconheceu que o “sistema de classificação
indicativa representa um ponto de equilíbrio que deve velar pela integridade das crianças e dos
adolescentes, sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão”.45

Regulação de Diversões e Espetáculos Públicos


Atuação da União  Caráter Indicativo, e não autorizativo ou compulsório
Portaria nº 1.189/2018 – Ministério da Justiça
De fato, é assegurado o direito fundamental à liberdade de expressão, que é “própria do Estado
Democrático de Direito, não se sujeitando a qualquer tipo de censura ou licença prévia (CF, art. 5º, IX)”. 46
De outro lado, é dever do Estado “zelar pela dignidade do povo e pelo mínimo da moralidade, proibindo a
divulgação de notícias injuriosas, mentirosas e difamantes”.47

Considerando-se as particularidades inerentes ao grupo cujos direitos é tutelado, o art. 74, do Estatuto,
determina que o poder público, por meio do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos

45
Um dos Considerando da Portaria nº 1.189, de 2 de agosto de 2018, emitida pelo Ministério da Justiça.
46
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 580.
47
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 581.

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públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários
em que sua apresentação se mostre inadequada (art. 74, caput).

Observando-se o quadro normativo desenhado pelo Supremo Tribunal Federal, o Poder Público, em
específico, o Ministério da Justiça, editou a Portaria nº . 89, de 3/ 8/ 8, que “regulamenta o processo
de classificação indicativa de que tratam o art.74 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o art. 3º da Lei nº
.359, de 7 de dezembro de e o art. da Lei nº .485, de de setembro de ”.

Aludida Portaria implementa a política pública de classificação indicativa48, que leva em consideração o
avanço tecnológico na manifestação do pensamento vivenciado na atualidade49, bem como a
determinação de que toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos
classificados como adequados à sua faixa etária (art. 75, caput, do Estatuto).

O ECA tipifica como infração administrativa a conduta de transmitir, através de rádio ou televisão,
espetáculo sem aviso de sua classificação. Note-se que a expressão em horário diverso do autorizado,
contida no tipo infracional, foi declarada inconstitucional pelo STF na ADI 2.404.

3.11 – DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. A Microempresa “TREMBOM” abriu uma conta corrente no Banco “Al a MG”. Dentre todos
os papeis que o administrador da empresa assinou, estava um contrato de abertura de crédito rotativo,
por meio do qual, mesmo que a empresa não tivesse dinheiro em sua conta, teria disponível a quantia de
R$ 5 mil para saque, constituindo c amado “c eque especial”. Ainda, existia a especificação de
cobrança de tarifa pela disponibilização de cheque especial, ainda que não fosse utilizado.
A cobrança de tarifa pela mera disponibilização de cheque especial, é permitida?

Comentários

A relação entre o cliente e o Banco (instituição financeira), enquanto relação de consumo, é tema de
predileção das bancas de concurso público, diante dos impactos de tal relação aos direitos dos
consumidores. Quanto ao MPMG, o direito do consumidor é de extrema importância, uma vez que o
Procon-MG constitui órgão interno do Ministério Público Mineiro.

48
Vide Guia Prático de Classificação Indicativa em https://www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao/guia-pratico/classind-
guia-pratico-de-audiovisual-3o-ed.pdf. Acesso em 1º/08/2020.
49
Por decisão da 6ª. Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª. Região, na Ação civil Pública nº 2001.38.00.039726-7, com
trânsito em julgado em 13.12.2012, fixou-se o entendimento de que a Administração Pública Federal tem o dever de
regulamentar e fiscalizar eficazmente a comercialização dos jogos de interpretação, estabelecendo-se critérios de classificação
de acordo com a faixa etária a que se destinam e o conteúdo das mensagens que veiculam.

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Primeiramente, importante estabelecer que, nos termos da Súmula 297 do STJ, o Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

Quanto ao uso do cheque especial, é comum que os bancos, ao oferecerem seus serviços, firmem um
contrato de abertura de crédito rotativo com seus clientes, se comprometendo a disponibilizar
determinada quantia ao seu cliente que poderá, ou não, utilizar-se desse valor a título de empréstimo.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) editou a Resolução nº 4.765/2019 passando a admitir a cobrança
de tarifa pela simples oferta de cheque especial por instituições financeiras, mesmo que o serviço não
seja utilizado.

Foi ajuizada ADPF contra essa resolução com o argumento que estariam sendo violados o art. 5º, XXXII
(defesa do consumidor); art. 22, VII (competência da União para legislar sobre crédito); art. 170, IV e V
(livre concorrência e defesa do consumidor); art. 173, § 4º (abuso do poder econômico); art. 192
(obrigação de o sistema financeiro nacional ser regulamentado por lei complementar), todos da
Constituição.

Ocorre que, não é cabível a ADPF no caso concreto, sim o ajuizamento de ADI contra a Resolução. Nesse
sentido, o STF decidiu conhecer a ADPF como se fosse ADI, aplicando o princípio da fungibilidade.

Ao julgar a ADI, o Supremo entendeu que é inconstitucional a cobrança de tarifa bancária pela
disponibilização de limite para “c eque especial”. Assim, contraria o ordenamento jurídico-
constitucional a permissão dada por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) às
instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito ao
cliente na modalidade “cheque especial”. (STF. Plenário. ADI 64 7/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 30/4/2021 (Info 1015).

O STF argumenta que a Resolução não pode excluir ou limitar a proteção concedida ao consumidor pela
Constituição Federal e a autorização de cobrança pela mera disponibilização do serviço coloca o
consumidor em situação de vulnerabilidade econômico-jurídica

Dessa forma, as instituições financeiras somente podem cobrar os juros quando houver a efetiva utilização
e sempre proporcional ao valor e ao tempo usufruídos.

Ainda, destaca-se que a CMN criou a cobrança de um valor que tem natureza de taxa, de modo que essa
tarifa representa a cobrança antecipada de juros por quem não utilizou o serviço.

O STF compreendeu que houve uma desnaturação da natureza jurídica da “tarifa bancária”, camuflando a
cobrança de juros, com outra roupagem jurídica, voltada a abarcar quem não utiliza o crédito
efetivamente na modalidade de “cheque especial”. Consequentemente não se alterou apenas a forma de

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cobrança, mas a própria natureza da cobrança (juros adiantados), violando o mandamento constitucional
que determina a proteção ao consumidor (art. 170, V, da CRFB).

A cobrança de tal tarifa também configura ofensa ao princípio da proporcionalidade, uma vez que é
desproporcional para os fins almejados, existindo soluções menos gravosas que poderiam ter sido
adotadas.

Por fim, também resta configurada ofensa ao ato jurídico perfeito, uma vez que retroage sua eficácia a
01/06/2020, de forma a alcançar contratos firmados anteriormente que não previam qualquer custeio de
manutenção do limite disponível, em clara afronta ao inciso XXXVI do art. 5º da CRFB.

Diante disso, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 2º da Resolução CMN 4.765/2019, não sendo,
portanto, possível a cobrança de tarifa pela simples disponibilização de cheque especial.

Pontuação
Abordagem esperada (Estratégia)
máxima
Apontar a aplicação do CDC às instituições financeiras. Súmula 297 do STJ. Explicar
0,50
instituto do cheque especial.
Impossibilidade da cobrança de tarifa pela mera disponibilização de cheque especial.
Inconstitucionalidade pela Resolução 4765/2019.
Não pode excluir ou limitar proteção constitucional ao consumidor.
1,50
Camufla a cobrança de juros com outra roupagem jurídica.
Ofensa à proporcionalidade.
Ofensa ao ato jurídico perfeito.
Questão 2. Acerca da responsabilidade civil ambiental, responda fundamentadamente o que se pede:
a) A responsabilidade civil entre poluidor direto e indireto é solidária ou subsidiária?
b) O que é a teoria do bolso profundo no Direito Ambiental?

Comentários

a) Primeiramente, cumpre estabelecer a diferença entre os conceitos de poluidor direto e indireto. O


poluidor direto é aquele que executa a atividade da qual diretamente decorre o dano ambiental. Enquanto
isso, o poluidor indireto também é responsável pelos danos ao meio ambiente, mas de uma forma não
imediata. É poluidor indireto aquele que contribui para a existência ou ocorrência do evento poluidor sem
desenvolvê-lo diretamente.

A responsabilidade civil ambiental é objetiva (independe de dolo ou culpa) e pautada pela teoria do risco
integral (não admite excludentes de responsabilização). De acordo com o art. 225, § 3º da CRFB, as

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condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

Ademais, nos termos do art. 3º, IV c/c art. 14, §1º da PNMA, se constatado que a pessoa física ou jurídica
se encaixa na definição de poluidor indireto, ela deve responder pelos danos ambientais que de alguma
forma viabilizou, juntamente com o poluidor direto.

Cabe então indagar se a responsabilidade do poluidor indireto é solidária ou subsidiária, de acordo com a
jurisprudência do STJ, o poluidor indireto responde solidariamente com poluidor direto.50 Tal
consideração decorre da análise do inciso IV do art. 3º da Lei 6.938/81, que considera "poluidor, a pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental". E, sendo a responsabilidade civil ambiental objetiva, o entendimento
sistemático da legislação especial indica que a responsabilidade entre poluidor direto e indireto é solidária.

Ademais, entende-se que o litisconsórcio é facultativo,51 ou seja, a ação pode ser proposta contra
qualquer um deles. Com efeito, havendo múltiplos agentes poluidores, não existe, como regra, a
obrigatoriedade na formação do litisconsórcio, podendo o Ministério Público, através de uma Ação Civil
Pública, por exemplo, demandar de qualquer um deles, isoladamente ou em conjunto, pelo todo.

b) A chamada "teoria do bolso profundo" (deep pocket doctrine) guarda relação direta com a
responsabilidade solidária em matéria civil ambiental. Observa-se uma tendência no Direito Ambiental em
buscar responsabilizar quem tem mais condições de arcar com os prejuízos ambientais, com base na
doutrina americana do “bolso profundo”, tendo em vista que todos os poluidores (diretos e indiretos) são
responsáveis solidariamente pelos danos ambientais.

A deep pocket doctrine, criada no direito americano, busca dar solução para os casos nos quais existem
muitas responsabilidades solidárias e dificilmente se pode chegar à definição sobre quão responsável é
cada poluidor. Assim, a fim de se garantir a eficácia da responsabilização civil ambiental, se deve escolher
para indenizar o poluidor com melhores possibilidades financeiras de arcar com os valores indenizatórios.

Essa doutrina está relacionada com o fato de os tribunais seguidamente negarem denunciação da lide em
questões ambientais, afirmando que a discussão entre os possíveis responsáveis é matéria privada e que
não pode retardar a reparação dos danos ao meio ambiente e o pagamento das respectivas indenizações.

50
REsp 771.619 RR

51
REsp 880.160 RJ

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Nesse sentido, a impossibilidade de denunciação da lide em demandas ambientais é reconhecida inclusive


pelo STJ.52

Portanto, é possível que se ajuíze a demanda, embora existam vários poluidores, apenas em face do
poluidor mais saudável financeiramente.

Pontuação
Abordagem esperada (Estratégia)
máxima
Apontar a diferença entre poluidor direto e indireto.
Menção à responsabilidade civil ambiental ser objetiva e pautada pelo risco integral.
Menção ao art. 225, §3º da CRFB e art. 3º, IV c/c art. 14, §1º da PNMA. 1,25
Responder fundamentadamente que a responsabilidade entre poluidor direto e indireto é
solidária e que o litisconsórcio é facultativo.
Conceituar adequadamente a teoria do bolso profundo.
Relacionar a teoria do bolso profundo à responsabilidade solidária entre poluidor direto e 0,75
indireto.

3.12 – DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. O princípio da indisponibilidade do processo coletivo é rígido ou flexível?

52
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AGRAVO REGIMENTAL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC INOCORRÊNCIA. DANO AO MEIO
AMBIENTE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DENUNCIAÇÃO À LIDE. IMPOSSIBILIDADE. RELAÇÃO ENTRE PRETENSOS
DENUNCIANTE E DENUNCIADO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. PRINCÍPIOS DA ECONOMIA E CELERIDADE PROCESSUAIS. 1. Em
primeiro lugar, não existe a alegada ofensa ao art. 535 do CPC. A contradição que autoriza o manejo dos aclaratórios é aquela
que ocorre entre a fundamentação e o dispositivo, e não a interna à fundamentação. A obscuridade apontada confunde-se com
o inconformismo da parte acerca do julgamento da controvérsia de fundo proferido pelo Tribunal, situação não enquadrada
entre os vícios do art. 535 do CPC. 2. Em segundo lugar, pacífico o entendimento desta Corte Superior a respeito da
impossibilidade de denunciação à lide quando a relação processual entre o autor e o denunciante é fundada em causa de
pedir diversa da relação passível de instauração entre o denunciante e o denunciado, à luz dos princípios da economia e
celeridade processuais. Precedentes. 3. Na espécie, a responsabilidade por danos ao meio ambiente é objetiva e a
responsabilidade existente entre os pretensos denunciante e denunciado é do tipo subjetiva, razão pela qual inviável a
incidência do art. 70, inc. III, do CPC. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag 1213458/MG, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 30/09/2010)

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Comentários

Segundo o entendimento deste autor: Princípio da indisponibilidade, diz que o autor da ação coletiva não
pode abdicar de seu objeto. Este princípio é flexibilizado pela possibilidade de realização de juízo de
conveniência quando da assunção ao polo ativo (ocorre na ação popular e na ação civil pública). (Interesses
e Direitos Difusos e Coletivos 2020. Ziesemer)

Soa estranho mencionar que um princípio é flexível, pois nos princípios se baseiam normas, atuações e
nortes. De qualquer sobre, atualmente há que se admitir uma flexibilidade no princípio da
indisponibilidade, em razão da possibilidade do juízo de conveniência que o Ministério Público pode fazer,
o que decorre de sua independência funcional (art. 127, §1º da CF). Assim, caso o Ministério Público
entenda ser a ação abandonada, infundada, temerária ou natimorta, por exemplo, não está obrigado a
assumir a titularidade ativa, na forma do art. 5º, §3º da Lei 7.347/85. De qualquer modo, toda
manifestação nesse sentido deve ser devidamente fundamentada.

Questão 2. É cabível a promoção de ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública pelo ofendido,
em caso de arquivamento do inquérito policial ou peça de informação? Resposta objetivamente
justificada.

Comentários

A despeito do posicionamento de Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, que entende ser
“admissível a ação penal privada subsidiária da pública, mesmo em caso de arquivamento do inquérito”
(CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. O Processo Penal em face da Constituição. Rio de
Janeiro: Forense, 1992, p. 98), a doutrina, por maioria, é firmada no sentido do incabimento da promoção
de ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública pelo ofendido, em caso de arquivamento do
inquérito policial ou peça de informação (JARDIM, Afranio Silva. Direito Processual Penal – estudos e
pareceres. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 445).

4 – PEÇA PRÁTICA
BF, eletricista, nascido em 06/03/1970, trabalhava como empregado da Companhia de Energia Elétrica
do Estado do Acre, sociedade de economia mista. Em 10 de outubro de 2021, com o aumento da
inflação, BF não possuía o mesmo poder de compra de outros anos. Para compensar a situação, resolveu
utilizar-se de seus talentos como eletricista para desviar a energia elétrica por meio de ligação
clandestina.

Uma vizinha de BF, percebendo o que estava ocorrendo e ultrajada com a situação, decidiu fazer uma
denúncia anônima, relatando que alguém da Rua Ladeira, no município de Rio Branco, estava cometendo
crime de estelionato em relação à energia elétrica.

Após devida investigação por meio do PIC (Procedimento de Investigação Criminal), em 10 de maio de
2022, foi constatado o "gato" de energia elétrica que beneficiava a residência de BF.

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Tendo noção do PIC em andamento e com medo de represálias criminais, BF ofereceu o pagamento do
débito oriundo de furto de energia elétrica, antes mesmo do oferecimento da denúncia.

Com base nas informações oferecidas acima, na posição de Promotor de Justiça, ofereça a peça pertinente,
com a devida fundamentação e pedido.

Comentários:

Ao ler o enunciado o candidato deve ter correlacionado as seguintes informações:

1. Por não ter menção do início da ação penal, a peça a ser apresentada será a denúncia.
2. Possibilidade de denúncia oriunda de uma denúncia anônima, desde que seja instaurado
procedimento administrativo (como o PIC, por exemplo) para que seja apurada a procedência e a
veracidade das informações e, constatada a autenticidade das informações, é um poder-dever
proceder com as procedências possíveis.
3. Apesar da denúncia anônima considerar o fato como estelionato de energia elétrica, a ação de BF
se enquadra no fato típico de furto de energia elétrica. Para ocorrer estelionato, o agente deve
alterar o sistema de medição para que aponte resultado menor do que o real consumo (levando a
companhia de energia elétrica ao erro).
4. Enquadramento da conduta como Furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II, do Código Penal)
5. O pagamento do débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não
é causa de extinção da punibilidade (INFO 645, STJ)
6. Aplicação do Instituto do arrependimento posterior (art. 16 do Código Penal).

Feita essas considerações, vamos à elaboração da peça.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA _ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


RIO BRANCO – ESTADO DO ACRE.

PIC nº xxxxxxxxx

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O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ACRE, pelo Promotor de Justiça infra-assinado, no uso de suas
atribuições constitucionais (CR, art. 129, I) e legais (CPP, art. 24), vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, oferecer

DENÚNCIA

-contra-

BF, estado civil, profissão, naturalidade, filiação, RG, CPF, domicílio e residência.

1. Dos Fatos

Através de uma denúncia anônima, o Ministério Público do Estado do Acre recebeu a informação de
“estelionato” de energia elétrica na Rua Ladeira, no Município de Rio Branco.

Para assegurar a veracidade da informação, foi aberto o Procedimento de Investigação Criminal nº xx, que
resultou na comprovação do desvio a energia elétrica, de 10 de outubro de 2021 à 10 de maio de 2022, por
meio de ligação clandestina (fls. xx), beneficiando BF.

BF, após ter ciência da investigação do delito, resolveu pagar a quantia originalmente devida pelos 7 meses
que obteve a vantagem ilícita.

2. Do Direito

A conduta desempenhada por BF se amolda ao fato típico previsto no art. 155, §4º, II do Código Penal:
Furto mediante fraude, com pena de reclusão de 2 a 8 anos.

No furto qualificado mediante fraude, o agente subtrai a coisa com discordância expressa ou presumida da
vítima, sendo a fraude utilizada como meio para retirar a coisa da esfera de vigilância da vítima.

No caso de furto de energia elétrica mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebimento da
denúncia não extingue a punibilidade. O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento
dado ao inadimplemento tributário, de modo que o pagamento do débito antes do recebimento da
denúncia não configura causa extintiva de punibilidade, mas causa de redução de pena relativa ao
arrependimento posterior (art. 16 do CP).

Nos crimes contra a ordem tributária, o legislador (Leis nº 9.249/1995 e nº 10.684/2003), ao consagrar a
possibilidade da extinção da punibilidade pelo pagamento do débito, adota política que visa a garantir a
higidez do patrimônio público, somente. A sanção penal é invocada pela norma tributária como forma de
fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal.

Já nos crimes patrimoniais, como o furto de energia elétrica, existe previsão legal específica de causa de
diminuição da pena para os casos de pagamento da “dívida” antes do recebimento da denúncia. Em tais

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hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que em nada
afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena.

Outrossim, a jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela


prestação de serviço público, no caso de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessionária, é
de tarifa ou preço público, não possuindo caráter tributário. Não há como se atribuir o efeito pretendido
aos diversos institutos legais, considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/1995 e no art. 9º da
Lei nº 10.684/2003 fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contribuições sociais, não
dizendo respeito às tarifas ou preços públicos.

3. Do Pedido

Desse modo, o denunciado BF está incurso na prática do crime previsto no artigo 155,§4, II do Código
Penal, a saber, furto mediante fraude.

Diante disso, o Ministério Público oferece a presente denúncia, que espera seja recebida, registrada e
autuada, citando-se os denunciados para integrarem o polo passivo da relação jurídico-processual, bem
como para apresentarem resposta (CPP, art. 396-A), seguindo-se o procedimento previsto no art. 395 a
405, todos do Código de Processo Penal (procedimento comum de rito ordinário - CPP, art. 394, §, I), até
final julgamento, tudo isso com observância à cláusula do devido processo penal (CR, art. 5º, LIV).

O Ministério Público requer, ainda, a produção de todas as provas admitidas em direito e que se
mostrarem necessárias à elucidação dos fatos narrados, inclusive a oitiva das testemunhas adiante
arroladas, as quais deverão ser intimadas a comparecer em juízo, em dia e hora a serem designados, sob as
penas da lei.

Local, Data.

Nome

Promotora de Justiça Substituta

ROL DE TESTEMUNHAS

1.

2.

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3.

4.

5.

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