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Rodadas para MPEs - Membro do


Ministério Público - Regular

Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque

18 de Fevereiro de 2021
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
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Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4

1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 6

1.1 - Direito Constitucional ............................................................................................................................. 6

1.1.1 - Poder Judiciário: Definição .................................................................................................................................... 6

1.1.2 - Poder Judiciário: Estrutura .................................................................................................................................... 6

1.2.3 - Poder Judiciário: Funcionamento .......................................................................................................................... 6

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 7

1.2.1 - Controle Da Administração Pública ....................................................................................................................... 7

1.2.2 - Bens Públicos ....................................................................................................................................................... 12

1.2.3 - Fontes do Direito Administrativo ........................................................................................................................ 16

1.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 17

1.3.1 - Constitucionalização do Direito Civil ................................................................................................................... 17

1.3.2 - Eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações privadas ................................................................. 18

1.3.3 - Diálogo das fontes como integração da norma: harmonização da codificação civil ........................................... 21

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 23

1.4.1 - As decisões interlocutórias no Novo Código de Processo Civil e no CPC/1973................................................... 23

1.4.2 - O pressuposto de admissibilidade da repercussão geral no Recurso Extraordinário ......................................... 24

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 26

1.5.1 - Estelionato – Depósito na Conta de Terceiro ...................................................................................................... 26

1.5.2 - Inimputabilidade e Medida de Segurança ........................................................................................................... 27

1.5.3 - Prescrição Penal e Indenização Cível ................................................................................................................... 27

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 28

1.6.1 - A (In)Aplicabilidade Do Princípio In Dubio Pro Societate Na Primeira Fase Do Tribunal Do Júri ........................ 28

1.6.2 - O Juiz E As Cautelares No Processo Penal Brasileiro ........................................................................................... 31

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1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 37

1.7.1 - Entendimento atual do STJ acerca do não cumprimento das condições do regime aberto e a impossibilidade de
cômputo de pena cumprida ........................................................................................................................................... 37

1.7.2 - O crime de captação ilícita de sufrágio – artigo 41-A, da Lei n.º 9.504/97 ......................................................... 40

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 42

1.8.1 - Ação De Impugnação Ao Pedido De Registro De Candidatura: Definição........................................................... 43

1.8.2 - Ação De Impugnação Ao Pedido De Registro De Candidatura: Características .................................................. 43

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 43


==10be0c==

1.9.1 - Atribuições do Ministério Público no ECA ........................................................................................................... 43

1.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 46

1.10.1 - Preferência do Crédito Tributário na Falência .................................................................................................. 46

1.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 51

1.11.1 - Legitimidade do Ministério Público do Trabalho nas demandas coletivas ....................................................... 51

1.11.2 - Legitimidade do Ministério Público Militar nas demandas coletivas ................................................................ 52

1.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 53

1.12.1 - Prepostos, Gerente e Contabilistas ................................................................................................................... 53

1.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 55

1.13.1 - Ação Penal Pública: Definição ........................................................................................................................... 55

1.13.2 - Ação Penal Pública: Características ................................................................................................................... 56

1.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 56

1.14.1 - Teses recentes do Superior Tribunal de Justiça ................................................................................................ 56

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 57

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 57

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 61

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 65

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2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 70

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 73

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 78

2.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 80

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 82

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 83

2.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 84

2.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 86

2.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 89

2.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 89

2.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 91

3 - Questões Discursivas................................................................................................................................... 93

3.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 93

3.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 95

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 100

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 103

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 104

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 107

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 107

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 109

3.9 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 110

3.10 - Direitos Difusos e Coletivos .............................................................................................................. 110

3.11 - Legislação Institucional do MP ........................................................................................................ 111

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Às quintas-feiras a cada quinzena, publicaremos um material como este que conterá:

 30 temas específicos e aprofundados, seguindo as disciplinas e a importância de cada uma delas


para a prova;

 49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e

 15 questões discursivas.

Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

É isso! Vamos ao trabalho?

Se houver dúvida de conteúdo, poste-a no fórum.

Caso haja dúvida a respeito do curso, funcionamento, estarei à disposição em:

ecj@estrategiaconcursos.com.br

Boa leitura!

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Prof. Ricardo Torques

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1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Constitucional, vamos discutir um assunto
importante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos
estaduais: o Poder Judiciário.

1.1.1 - Poder Judiciário: Definição

O Poder Judiciário nacional, exercitado por Tribunais e Juízos, é descrito como complexo de órgãos
devotados ao exercício prevalecente da função jurisdicional, que conjuga o Supremo Tribunal Federal e
Superior Tribunal de Justiça, bem como as Justiças federais e estaduais, comuns e especializadas, sob o
controle finalístico de organismo autônomo (LESSA, Pedro. Do Poder Judiciário. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1951, p. 33).

1.1.2 - Poder Judiciário: Estrutura

A organização judiciária é dividida em dois planos de análise, a partir do Supremo Tribunal Federal e Superior
Tribunal de Justiça, reunidos sob a expressão “organismos de superposição” (LISBOA, Gilmar Aprígio.
Organização Judiciária. Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 13).

Com referência à natureza dos órgãos judiciais, há a diferenciação entre Justiça Federal e Justiça Estadual.
Aquela é composta pelos órgãos jurisdicionais integrados no ordenamento normativo federal, encerrando a
Justiça Federal Comum, Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar Federal. Esta é constituída pelos
órgãos jurisdicionais integrados no ordenamento normativo estadual, englobando a Justiça Estadual Comum
e Justiça Militar Estadual.

Com relação à competência dos órgãos judiciais, há a distinção entre Justiça Especializada e Justiça Comum.
Uma é dispersada entre órgãos jurisdicionais com competência reservada a matéria determinada, formada
pela

Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça Militar Federal e Justiça Militar Estadual. Outra é distribuída
entre órgãos jurisdicionais com competência residual, formalizada pela Justiça Federal Comum e Justiça
Estadual Comum.

1.2.3 - Poder Judiciário: Funcionamento

De acordo com a Emenda Constitucional nº 45/04, que procedeu à Reforma do Poder Judiciário, é dotado o
Conselho Nacional de Justiça de atribuição para o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes (OSÓRIO, Fábio Medina. Conselho Nacional
de Justiça. Revista de Direito Administrativo, nº 221, 2000, p. 95).

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O Conselho Nacional de Justiça, formado por 15 membros com mais de 35 e menos de 66 anos de idade,
com mandato de dois anos, admitida, exceto para o Presidente, uma recondução, sendo um Ministro do
Supremo Tribunal Federal, um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, um Ministro do Tribunal Superior do
Trabalho, um Juiz de Tribunal Regional Federal, um Juiz de Tribunal Regional do Trabalho, um
Desembargador de Tribunal de Justiça, um Juiz Federal, um Juiz do Trabalho e um Juiz de Direito, definidos
pelos órgãos judiciários aos quais estão vinculados, ou não, um membro do Ministério Público da União e
um membro de Ministério Público Estadual, denominados pelo Procurador-Geral da República, dois
advogados, deliberados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e dois cidadãos, de
notável saber jurídico e reputação ilibada, designados pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, por
escolha paritária.

O Conselho Nacional de Justiça é subdividido em Plenário, Presidência,

Corregedoria Nacional de Justiça, Comissões, Secretaria-Geral, Departamentos de Pesquisas Judiciárias, de


Monitoramento e Fiscalização dos Sistemas Carcerário e de Execução de Medidas Socioeducativas e
Ouvidoria.

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Fala, pessoal. Tudo bem? Vamos dar continuidade ao estudo das matérias da rodada passada. Assim, nessa
rodada, iremos estudar a segunda parte de controle da administração e a segunda parte de bens públicos.

Vamos lá?

1.2.1 - Controle Da Administração Pública

CONTROLE LEGISLATIVO

O controle legislativo é o controle realizado pelo Poder Legislativo, consistente na fiscalização política e
financeira da Administração Pública.

Espécies de Controle Legislativo

a) Controle Político

O controle político é aquele que possibilita a fiscalização dos “atos ligados à função administrativa e de
organização do Executivo e do Judiciário”.1

A Constituição da República estabelece vários tipos de exteriorização do controle político. O art. 49 da carta
constitucional elencou alguns casos em que o Congresso Nacional pode realizar o controle político. Para

1 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p. 1002.

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ilustrar o que aqui se diz, pode-se dar como exemplo o art. 49, III (autorização para o Presidente da República
ausentar-se do país) e X (fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo), ambos da CR/88.

Importante forma de controle realizado por qualquer uma casas legislativas ou suas comissões é o poder
convocatório. O que se quer dizer com este poder é a possibilidade de convocação de Ministro de Estado ou
autoridades ligadas diretamente à Presidência da República para realizarem depoimento sobre assunto
previamente determinado, nos termos do art. 50, caput da CR/88. Sobre esse comparecimento, importante
observar o que leciona o art. 50, § 2º da CR/88, que estabelece como crime de responsabilidade a sua recusa
ou o não comparecimento.

Outra importante forma de controle é o previsto no art. 49, V da CR/88, o qual estabelece a possibilidade do
Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou
dos limites de delegação legislativa.

b) Controle Financeiro

Nas palavras de Carvalho Filho, “controle financeiro é aquele exercido pelo Poder Legislativo sobre o
Executivo, o Judiciário e sobre sua própria administração no que se refere à receita, à despesa e à gestão dos
recursos públicos”.2

Como bem apontado, o controle financeiro do Poder Legislativo pode ser interno, quando realiza o controle
de suas próprias contas, bem como pode ser um controle externo, quando realiza o controle das contas do
Judiciário e do Executivo.

Tribunal de Contas

O Tribunal de Contas da União é o órgão auxiliar do Congresso Nacional que tem a função constitucional de
auxiliar o controle financeiro externo da Administração Pública, nos termos dos arts. 70 e 71 da CR/88.
Importante o texto constitucional presente no artigo 71, o qual assim estabelece que o controle externo, a
cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União.

Prestará contas ao Tribunal de Contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda,
ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio
de pessoal e jurisdição em todo o território nacional.

Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes
requisitos:

2 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p.1003.

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I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;

II - idoneidade moral e reputação ilibada;

III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração


pública;

IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os
conhecimentos mencionados no inciso anterior.

Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:

I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois
alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados
em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento;

II - dois terços pelo Congresso Nacional.

Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos,


vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à
aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40 da Constituição.

O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando
no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal.

Importante observar que as normas previstas nos arts. 70 a 74 são aplicáveis ao TCU. Contudo, sabiamente
o art. 75 possibilitou que as normas elencadas para o TCU irão ser aplicáveis para os TCE’s e TCM’s, onde
estes existirem.

Competências em Espécies

O Art. 71 traz várias competências do Tribunal de Contas da União. Faz-se importante o estudo de algumas
dessas competências. Veja:

Art. 71, I – É a chamada competência opinativa. Em relação ao Presidente da República, o TCU


vai apenas apreciar as suas contas, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em 60 dias
a contar do recebimento das contas.

Art. 71, II – Diferente, as demais autoridades o TCU tem a competência para julgar as suas contas.

Atente-se que o TCU exerce uma função não judicial quando julga as contas dos administradores e demais
responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos, nos processos de tomada e prestação de contas anual.

Art. 71, III – Trata do registro dos atos admissão de pessoal, bem como a das concessões de
aposentadoria, reformas e pensões. Observe que o Tribunal de Contas não irá realizar o registro
das nomeações para cargos em comissão.

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Art. 71, IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de
Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

Art. 71, V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a
União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

Art. 71, VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município;

Art. 71, VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;

Art. 71, VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de
contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
proporcional ao dano causado ao erário;

Art. 71 - IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade.

Art. 71 - X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à


Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.

Em relação a esta competência deve-se observar que o Tribunal de Contas tem o Poder Cautelar, isto é, pode
o Tribunal agir antes da atuação do órgão ou entidade responsável do ato, para que não haja perecimento
de um direito. Ex.: Faltam 2 dias para a celebração de um contrato licitatório superfaturado. O Tribunal de
Contas pode suspender a licitação.

Por fim, cabe ressaltar o que está legislado no art. 71, § 1º a 3º da CR/88. No caso de contrato, o ato de
sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo
as medidas cabíveis.

Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas
no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

Art. 71, XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

Por fim, veja que as decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título
executivo.

Tribunais de Contas e Municípios

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A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e
pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal.

O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou
do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar,
só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

CONTROLE JUDICIAL

Controle Judicial é a fiscalização feita pelo Poder Judiciário dos atos praticados pela Administração Pública.

a) Sistemas de Controle

Sistema do Contencioso Administrativo

O sistema do contencioso administrativo é também chamado de sistema de dualidade de jurisdição. Consiste


na existência de uma justiça administrativa, ao lado do Poder Judiciário. É um sistema idealizado pelos
franceses.

Observe que, de acordo com esse sistema de controle, as decisões da justiça administrativa não podem ser
revistas pela justiça judiciária. De acordo com o Carvalho Filho “a jurisdição é dual na medida em que a função
jurisdicional é exercida naturalmente por duas estruturas orgânicas independentes – Justiça Judiciária e a
Justiça Administrativa.”3

Importante observar que a Justiça Administrativa é a competente para julgar causas que envolvam o Poder
Público, tais como a invalidação e a interpretação de atos administrativos.

b) Sistema de Unidade de Jurisdição

Este sistema é também chamado de sistema do monopólio de jurisdição ou sistema inglês. Observe que, de
acordo com esse sistema, todo e qualquer litígio estará sujeito à análise e decisão de uma única justiça, qual
seja o Poder Judiciário.

Esse é o sistema adotado pelo ordenamento brasileiro.

c) Natureza

3 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 1015

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O controle judicial sobre atos da Administração Pública é um controle de legalidade, exclusivamente. Em


outras palavras, o Poder Judiciário deve realizar o confronto do ato com as leis, a Constituição e os princípios
do direito.

É vedado ao Judiciário analisar o mérito do ato administrativo. Realizar a valoração de oportunidade e


conveniência são privativos do Administrador público. Isto se justifica em razão da repartição de poderes,
prevista no art. 2º do texto constitucional.

d) Instrumentos de Controle

Meios Inespecíficos

Estes meios de controle judicial são as ações judiciais que toda e qualquer pessoa pode ajuizar, sem que
exijam a presença do Estado em um dos polos da relação processual. Pode-se dar como exemplo as ações
ordinárias, a ação penal.

Meios Específicos

Estes meios de controle judicial, por sua vez, são as ações que exigem a presença do Poder Público em um
dos polos da demanda, seja das Pessoas Jurídicas públicas ou dos agentes públicos. Pode-se dar como
exemplo o mandado de segurança, a ação popular, o habeas data e a ação civil pública.

1.2.2 - Bens Públicos

Continuando nossos estudos, vamos agora passar nas características dos bens públicos, bem como nos atos
de uso privativo de bens públicos.

REGIME JURÍDICO – CARACTERÍSTICAS

a) Impenhorabilidade

Os bens públicos não podem ser penhorados, ou seja, não podem sofrer uma constrição judicial. Dessa
forma, não podem ser utilizados para o pagamento das dívidas públicas. Isso decorre do estabelecido pelo
art. 100 da CR/88, o qual estabelece que o Poder Público paga suas dívidas por Precatórios ou Requisição de
Pequeno Valor (RPV).

Uma das razões da impenhorabilidade é a continuidade do serviço público.

OBS: Conflito entre o art. 100 e a proteção da vida/saúde da pessoa, é legítimo o bloqueio das contas da
Fazenda Pública para compras de remédios. Assim é o posicionamento do STJ em razão da dignidade da
pessoa humana.

b) Imprescritibilidade

Os bens públicos não estão sujeitos à prescrição aquisitiva, isto é, a usucapião. Assim dispõe os arts. 183, §
3º e art. 191, parágrafo único, ambos da CR/88, o art. 102 do Código Civil e a Súmula 340 do STF.

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c) Não-Onerosidade

Os bens públicos não se sujeitam aos institutos de direitos reais, como o penhor, a hipoteca e a anticrese.
Em outras palavras, os bens públicos não podem ser dados como garantias para um credor no caso de
inadimplemento de uma obrigação;

d) Alienabilidade Condicionada

Os bens públicos podem ser alienados, desde que estejam desafetados. Contudo, observe que o art. 100 do
Código Civil estabelece que os bens de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto
mantiverem essa qualificação.

Por sua vez, os bens dominicais são alienáveis, desde que cumpridos os requisitos da lei.

Esses requisitos legais estão estabelecidos no art. 17 da Lei nº 8.666/93.

Pode-se dividir esses requisitos em dois, ou seja, em requisitos gerais e requisitos específicos.

Requisitos gerais

1. Bem Dominical
2. Interesse público devidamente justificado
3. Avaliação prévia.
4. Requisitos Específicos

a) Imóveis

1. Autorização legislativa para a Administração Pública Direta, Autarquias e Fundações.


2. Licitação na modalidade Concorrência.

OBS:

• Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais
ou de dação em pagamento, poderão ser alienados também sob a modalidade Leilão.
• A lei autorizativa ocorrerá somente para a Administração Pública Direta, Autarquias e Fundações.
Observe que para as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista não haverá a autorização
legislativa.

b) Móveis

1. Licitação

OBS:

• Atente-se para o fato do art. 17, II da Lei nº 8.666/93 não estabelecer qual modalidade de licitação
ocorrerá a alienação. Contudo, observe que o art. 22, § 5º da mesma Lei estabelece que o Leilão será

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a modalidade de licitação a ser utilizada para a alienação de bens móveis inservíveis da


Administração.

USO PRIVATIVO DE BEM PÚBLICO

a) Autorização de Uso

A autorização de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, que visa atender interesse predominantemente privado.

É um ato unilateral afinal há exteriorização da vontade apenas do Poder Público. É discricionário porque
haverá a valoração sobre a conveniência e a oportunidade na concessão do ato. Trata-se de ato precário
porque a administração pode revogar a autorização se sobrevierem razões para tanto e não haverá direito
de indenização.

A autorização, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
autorização seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.

A autorização de uso de bem público prescinde de Licitação.

Ex.: Fechamento de ruas para comemorações; utilização de uma área para estacionamento.

b) Permissão de Uso

A permissão de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, atendendo ao mesmo tempo interesses público e privado.

A permissão e a autorização de uso são institutos semelhantes. O que diferencia um e outro é o interesse
em jogo. Na permissão de uso há uma igualdade dos interesses público e privado.

A permissão, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
permissão seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.

O ato de permissão é um ato personalíssimo ou intuito personae, razão pela qual sua transferência a terceiros
só se legitima quando houver consentimento da entidade que conferiu a permissão. Dessa forma, o que há,
na verdade, é a prática de um novo ato administrativo.

Com relação à Licitação, a permissão de uso pode ensejar que esta aconteça, quando houver mais de um
interessado na utilização do bem, evitando-se, assim, favorecimentos ou preterições ilegítimas. Todavia, em
alguns casos a licitação será inexigível, como, por exemplo, a permissão de uso de calçada em frente a um
bar.

Ex.: Feiras de artesanatos em praças públicas; vestiários públicos, mesas e cadeiras em calçadas; bancas de
jornal.

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c) Concessão de Uso

A concessão de uso de bem público não é ato administrativo. Na verdade, está-se diante de um contrato
administrativo. Portanto, a concessão possui o caráter da bilateralidade.

A concessão de uso deve ser realizada para atividades de maior vulto, no qual o concessionário “assume
obrigações perante terceiros e encargos financeiros elevados, que somente se justificam se ele for
beneficiado com a fixação de prazos mais prolongados, que assegurem um mínimo de estabilidade no
exercício da atividade”4

Em relação à Licitação, por ser contrato administrativo, a concessão necessita da realização de um


procedimento licitatório.

d) Cessão de Uso

É a transferência da posse de bens entre órgãos ou entidades públicas, gratuitamente. Depende de


autorização legal e formaliza-se através de simples termo ou anotação cadastral. Como não opera a
transferência da propriedade, prescinde de registro imobiliário.

e) Concessão de Direito Real de Uso ou Domínio Pleno

Esse instituto foi criado pelo Decreto-lei 271/67. É a transferência a particular, pela Administração, da posse
de imóvel público para ser por ele utilizado ou explorado em fins específicos de urbanização, industrialização,
edificação, cultivo ou qualquer outra exploração de interesse social. É contrato administrativo, direito real
resolúvel, transferível pelo particular por ato inter vivos ou causa mortis, a título gratuito ou oneroso. É o
contrato pelo qual a Administração transfere, como direito real resolúvel, o uso remunerado ou gratuito de
terreno público ou do espaço aéreo que o recobre, para que seja utilizado com fins específicos por tempo
certo ou por prazo indeterminado.

Só em caso de desvirtuamento da finalidade da concessão o imóvel reverterá à Administração Pública. Do


contrário, poderá ficar eternamente com o particular, seus cessionários ou sucessores. Depende de lei e
prévia concorrência, dispensando-se esta quando o beneficiário for outro órgão ou entidade da
Administração Pública (Lei 8.666/93, artigo 17, § 2) e formaliza-se através de escritura pública ou termo
administrativo, sujeitos a registro.

OCUPAÇÃO INDEVIDA DE BENS PÚBLICOS

O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento pacificado que não há que se falar em posse na ocupação
irregular de bens públicos. Trata-se da súmula 619 do STJ que afirma que A ocupação indevida de bem

4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012. p391.

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público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões
e benfeitorias.

Pelo fato de não haver posse, não há que se falar em direito à indenização por benfeitorias, nem em direito
de retenção. Ademais, caso o ocupante irregular do bem público realize construções no imóvel, não há que
se falar em enriquecimento ilícito do Estado, isto porque a construção realizada é voltada para atender
interesses particulares, e não para atender interesse público. De acordo com o STJ não há que se falar em
boa-fé do detentor.

Caso admitisse posse na ocupação irregular de bens públicos, haveria um estímulo à invasão de propriedades
públicas, o que violaria os princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e indidsponibilidade
do interesse público.

Ademais, nos termos do Enunciado 2 do CJF, o administrador público está autorizado por lei a valer-se do
desforço imediato sem necessidade de autorização judicial, solicitando, se necessário, força policial,
contanto que o faça preventivamente ou logo após a invasão ou ocupação de imóvel público de uso especial,
comum ou dominical, e não vá além do indispensável à manutenção ou restituição da posse (art. 37 da
Constituição Federal; art. 1.210, §1º, do Código Civil; art. 79, § 2º, do Decreto-Lei n. 9.760/1946; e art. 11 da
Lei n. 9.636/1998).

1.2.3 - Fontes do Direito Administrativo

Por fim, vamos estudar as fontes do Direito Administrativo

1. Lei

A lei consiste em uma fonte formal do Direito. Em se tratando de Direito Administrativo, a lei deve ser
interpretada em sentido amplo, de modo a abarcar não só a lei em sentido estrito, mas como as normas
constitucionais, os regulamentos administrativos e os tratados internacionais.

Trata-se, portanto, a consagração da ideia de juridicidade, de modo que o administrador público deve
obediência à lei e ao Direito.

2. Doutrina

A doutrina consiste em uma fonte indireta ou mediata e material do Direito. Trata-se de opiniões dos
estudiosos sobre institutos e normas do Direito.

3. Jurisprudência

A jurisprudência consiste em uma fonte formal e indireta do Direito. Trata-se de reiteradas decisões de
tribunais sobre determinado assunto ou tema.

4. Costumes

Por sua vez, os costumes consistem em fontes materiais e imediatas do Direito. Consistem em um
comportamento reiterado de um povo em um determinado tempo e local.

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O costume pode ser secundum legem, praeter legem e contra legem.

O primeiro é aquele costume admitido ou previsto em lei. O segundo, por sua vez, é aquele que preenche
lacunas normativas, nos termos do art. 4º, da LINDB. Por fim, o terceiro é aquele que se opõe a lei, sendo,
portanto, vedado.

5. Precedentes administrativos

Os precedentes administrativos consistem em normas jurídicas retiradas de decisões administrativas


anteriores, válidas e de acordo com o interesse público, que devem ser observadas em casos futuros e
semelhantes.

1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Constitucionalização do Direito Civil

A leitura de institutos do ordenamento jurídico pátrio conforme a Constituição Federal é essencial para que
se garanta a observância e a efetiva aplicação dos princípios constitucionais, mormente a dignidade da
pessoa humana e a isonomia. Na verdade, segundo André Ramos Tavares, o Direito Constitucional costuma
ser inserido como ramo do Direito Público (...). Essa ideia, contudo, não pode mais prosperar, na medida exata
em que a Constituição passou a ocupar um papel central para todos os chamados ‘ramos’ do Direito (...)5.

E essa interpretação também deve ser aplicada aos ramos de direito privado, sem que, por isso, adquiram o
caráter de direito público – há, tão-somente, regulamentação fundamental em sede constitucional6.

O atendimento às prescrições da Lei Maior não implica uma restrição de direitos; ao contrário, incorporam-
se os dogmas ao próprio conteúdo do direito. É dizer, antes de restringir a fruição de direitos subjetivos,
impõe-se o respeito ao espírito constitucional, culminando na releitura de institutos jurídicos, visando à
atualização da norma, atendendo-se as peculiaridades contemporâneas da sociedade, como a possibilidade
de casamento de pessoas do mesmo sexo (aqui, amplia-se a noção de casamento).

Atualmente, não se concebe um direito civil como ramo da ciência jurídica avesso à incidência das normas
constitucionais. Nesse sentido, pode-se afirmar

que a constitucionalização é o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do


direito civil, que passam a condicionar a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da
legislação infraconstitucional7.

5
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 18ª edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 185.
6
Disponível em: https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/129/Constitucionaliza%c3%a7%c3%a3o+do+Direito+Civil. Acesso em
09/02/2021.
7
Idem.

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O Direito Civil Constitucional, ou constitucionalizado, é marcado pela disciplina constitucional reservada à


família, à regulamentação da atividade econômica, à função social da propriedade, dentre outros:

(...) de um lado, princípios como o da igualdade entre filhos havidos dentro e fora do casamento
(art. 227, §6º) ou o da função social da propriedade (art. 170, III), e, de outro, especificidades
como o meio de dissolução do casamento (art. 226, §6º) e hipóteses de usucapião (arts. 183 e
191)8.

Veja-se que a constitucionalização do direito civil se afigura como poderoso instrumento de promoção de
direitos fundamentais, por meio da incidência da tábua axiológica da Lei Maior às relações privadas. Ilustre-
se com o seguinte aresto:

PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - INTERPRETAÇÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS


- FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS - CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL - EQUILÍBRIO
CONTRATUAL. Ao interpretar as cláusulas contratuais, mais que poder, é dever do juízo utilizar-
se do princípio mor e cláusula aberta da função social dos contratos, o que permite conferir maior
equilíbrio às partes contratantes, consoante preceituado pelo fenômeno da constitucionalização
do direito civil.

(TJ-MG - AI: 10708170002768001 MG, Relator: Antônio Bispo, Data de Julgamento: 31/10/2018,
Data de Publicação: 09/11/2018)

Importante, ainda, a distinção entre a constitucionalização do direito civil com a publicização, que
compreende o processo de crescente intervenção estatal, especialmente no âmbito legislativo, característica
do Estado Social do século XX. Tem-se a redução do espaço de autonomia privada, para a garantia da tutela
jurídica dos mais fracos9. A publicização transferiu alguns ramos do direito privado para o âmbito público,
como o direito do trabalho, v.g., e, justamente nesta característica está inserta a diferenciação entre esse
fenômeno e a constitucionalização.

1.3.2 - Eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações privadas

Durante anos, no tocante ao tema da proteção e da realização de direitos fundamentais, tratou-se apenas
da existência de uma relação de verticalidade entre o Estado, detentor de todo o poder, e o indivíduo
singularmente considerado (uma relação, portanto, de superioridade-subordinação). Apenas nas décadas de
40 e 50 é que se passou a discutir sobre a extensão horizontal dos direitos fundamentais – ou seja, sua
eficácia também nas relações privadas, em que “não apenas o Estado estaria vinculado às declarações de
direitos, mas igualmente os particulares”10.

8
ULHOA, Fábio. Curso de Direito Civil. Volume I. P. 35.
9
Idem.
10
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 18ª edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 476.

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Sobre o tema, criaram-se duas teorias: a teoria da eficácia horizontal indireta ou mediata dos direitos
fundamentais e a teoria da eficácia horizontal direta ou imediata.

Segundo a primeira ótica11, os direitos fundamentais são analisados do ponto de vista de duas dimensões:
dimensão negativa ou proibitiva, que veda ao legislador editar lei que viole direitos fundamentais; e a
dimensão positiva, que impõe ao legislador o dever de implementar direitos fundamentais, ponderando
quais deles devem ser aplicados às relações privadas12.

Note-se que os defensores da teoria da eficácia indireta não discutem sobre a possibilidade de aplicação dos
direitos fundamentais no direito privado, mas, sim, sobre a necessidade de intervenção legislativa13:

A lei, o direito privado, teria que regulamentar, que incorporar aqueles direitos fundamentais ao direito
privado, para que a aplicação fosse relativizada, ou, tecnicamente falando, os direitos fundamentais irradiam
os seus efeitos nas relações entre particulares por meio de mediação legislativa. Então, segundo a doutrina
alemã, essa porta de entrada dos direitos fundamentais nas relações entre particulares seriam as cláusulas
gerais do direito privado, os pontos de infiltração14.

Em síntese, pela teoria da eficácia indireta, os direitos fundamentais só teriam efeitos nas relações entre os
indivíduos por intermédio das cláusulas gerais da legislação infraconstitucional:

só alcançariam os particulares após serem “realizados” pelo legislador. Ou seja, os direitos fundamentais nas
relações estritamente particulares não se apresentariam como direitos subjetivos intocáveis, de pronto, por
qualquer dos interessados. Pelo contrário. Com base na própria ideia de autonomia privada (e ampla
liberdade individual), ter-se-ia de admitir, consoante essa teoria, a possibilidade de renúncia desses direitos
nessas relações15.

Doutra banda, pela teoria da eficácia direta – adotada, pioneiramente, em 1954, por Hans Nipperdey “os
direitos fundamentais estariam aptos a vincular imediatamente os agentes particulares, independentemente
de intermediação legislativa (...)”16.

No Brasil, o Supremo Tribunal Federal tem adotado a eficácia horizontal direta dos direitos fundamentais.
Sobre isso, Daniel Sarmento explana que

11
Sustentada, inicialmente, por Dürig, na doutrina Alemã.
12
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-eficacia-horizontal-dos-direitos-
fundamentais/#:~:text=A%20efic%C3%A1cia%20horizontal%20dos%20direitos%20fundamentais%2C%20tamb%C3%A9m%20cha
mada%20de%20efic%C3%A1cia,como%20tamb%C3%A9m%20entre%20os%20pr%C3%B3prios. Acesso em 09/02/2021.
13
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-eficacia-horizontal-dos-direitos-
fundamentais/#:~:text=A%20efic%C3%A1cia%20horizontal%20dos%20direitos%20fundamentais%2C%20tamb%C3%A9m%20cha
mada%20de%20efic%C3%A1cia,como%20tamb%C3%A9m%20entre%20os%20pr%C3%B3prios. Acesso em: 09/02/2021.
14
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-eficacia-horizontal-dos-direitos-
fundamentais/#:~:text=A%20efic%C3%A1cia%20horizontal%20dos%20direitos%20fundamentais%2C%20tamb%C3%A9m%20cha
mada%20de%20efic%C3%A1cia,como%20tamb%C3%A9m%20entre%20os%20pr%C3%B3prios. Acesso em: 09/02/2021.
15
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 18ª edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. P. 477.
16
Idem, p. 476.

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a Constituição brasileira é francamente incompatível com a tese radical, adotada nos Estados
Unidos que simplesmente exclui a aplicação dos direitos individuais sobre as relações privadas.
Da mesma forma, ela nos parece inconciliável, da eficácia horizontal indireta e mediata dos
direitos individuais, predominante na Alemanha, que torna a incidência destes direitos
dependente da vontade do legislador ordinário, ou os confina ao modesto papel de meros
vetores interpretativos das cláusulas gerais do Direito Privado17.

Como exemplo da aplicação dessa teoria, vejamos o seguinte aresto (RE 161. 243), em que se reconheceu
ofensa ao princípio da igualdade em uma relação empregatícia (com trabalhador brasileiro de uma empresa
estrangeira), aplicando-se, portanto, os direitos fundamentais horizontalmente:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO


EMPREGADO DE EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA: APLICABILIDADE AO
TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO. CF, 1967, art. 153, § 1º; CF, 1988,
art. 5º, caput. I. – Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa
francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens
aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa.
Ofensa ao princípio da igualdade: CF, 1967, art. 153, § 1º; CF, 1988, art. 5º, caput . II. – A
discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do indivíduo,
como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso, etc., é inconstitucional. Precedente do
STF: Ag 110.846 (AgRg)-PR, Célio Borja, RTJ 119/465. III. – Fatores que autorizariam a
desigualização não ocorrentes no caso. IV. – R.E. conhecido e provido. (STF, RE 161243, Rel: Min.
Carlos Velloso).

Recentemente, debateu-se sobre a aplicação irrestrita da eficácia horizontal direta e imediata – que, até
então, parecia ser o entendimento assumido pelo STF. No RE 201819-8, em uma causa que envolvia a União
Brasileira dos Compositores – integrante do sistema de arrecadação do Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição, que, para o Ministro Gilmar Mendes, integra o espaço público, ainda que não estatal. Em seu
voto,

destacou-se a atuação da entidade como se de Poder Público se tratasse para fazer incidir
diretamente as limitações representadas pelos direitos fundamentais. Nessa medida, estaria
vedada, à entidade em questão, o excluir algum indivíduo dos seus quadros associativos sem lhe
conceder a oportunidade de ampla defesa e contraditório, direitos fundamentais inscritos no rol
do artigo 5º da Constituição do Brasil.

Para André Ramos Tavares,

o voto é relevante, porque não apenas introduz a importante discussão da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, mas igualmente porque parece inclinar-se por não admiti-la tão ampla e

17
SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Juris, 2004. p. 279.

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irrestritamente, já que se faz alusão especial à situação peculiar da entidade envolvida, situação
essa que a obrigaria a observar imediatamente os direitos fundamentais.

1.3.3 - Diálogo das fontes como integração da norma: harmonização da codificação civil

A tendência da codificação de normas teve início nos países europeus, entre os séculos XVIII e XIX, em um
período de derrocada do regime absolutista, e com o objetivo de sistematizar o ordenamento e,
consequentemente, garantir a segurança jurídica.18

A sociedade, cada vez mais complexa em sua evolução – inclusive no que tange aos relacionamentos
interpessoais ou entre particular e Estado –, passou a depender, também com maior frequência, da criação
de leis e normas – e a positivação de todas essas normas torna-se consequência.

No Brasil, durante o período colonial, o sistema normativo adotado era o de Portugal; foi apenas com sua
independência do país colonizador que foi elaborada a Constituição do país, de 1824, concebida justamente
para positivar um regramento próprio, autônomo daquele outrora adotado quando da colonização.

Como uma de suas primeiras determinações, a Constituição Imperial previu a organização de um Código Civil
baseado na Justiça e na equidade19. Em 1899 o primeiro projeto para um Código Civil autônomo foi
apresentado, pelo ilustre jurista Clóvis Beviláqua – com sua promulgação em 1916. Posteriormente, após a
promulgação da Constituição Federal de 1988, adotou-se, como é cediço, um novo Código Civil, mais
adequado à sociedade moderna.

Pois bem. Nota-se que com a positivação e “a concepção do direito como sistema”20, exige-se, por
conseguinte, que soluções sejam dadas aos “problemas de coerência lógica do sistema jurídico e da
existência de antinomias jurídicas”21, dos quais nenhum ordenamento fica livre.

E os parâmetros utilizados para tanto, no Brasil, estão descritos na Lei de Introdução às normas do Direito
Brasileiro (antiga Lei de Introdução ao Código Civil). Em regra, adota-se a continuidade da vigência das leis
(e exige-se do operador do direito que decida quanto à aplicação de uma das normas em conflito)22:

“o conflito de leis no tempo pode resolver-se pela revogação parcial ou total de uma das leis em
conflito, se incompatíveis, se uma das leis regula inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior, ou pela revogação expressa da lei anterior, que somente ocorre em casos específicos e
de maneira clara. A revogação tácita exige uma atenção especial, em razão da prescrição do §2º

18
Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=45ea3375b621c477. Acesso em 10/02/2021.
19
Artigo 179, n. 18, da Constituição Imperial de 1824. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/25739/a-codificacao-do-direito-
civil-brasileiro-do-codigo-de-1916-ao-codigo-de-
2002#:~:text=Ap%C3%B3s%20v%C3%A1rios%20estudos%20e%20a,1%C2%BA%20de%20janeiro%20de%201917. Acesso em:
10/02/2021.
20
Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=45ea3375b621c477. Acesso em 10/02/2021.
21
Idem.
22
MARQUES, Cláudia Lima. Diálogo entre o Código de Defesa do Consumidor e o Novo Código Civil: o diálogo das fontes no
combate às cláusulas abusivas. Revista de Direito do Consumidor, ano 12, n.45, jan./mar.2003, p. 74.

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do art. 2º da Lei de Introduçao às normas do Direito Brasileiro, pois a ‘lei nova, que estabeleça
disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”.

A LINDB apresenta três critérios de solução de conflitos entre as leis no tempo: o critério cronológico (a lei
mais nova retira a lei anterior do sistema); o da especialidade (a lei geral nova não prevalece sobre a lei
especial); e a hierarquia (a lei hierarquicamente superior prevalece sobre a lei inferior). Para Claudia Lima
Marques, “os tempos pós-modernos não mais permitem a monossolução, mas apenas os valores
constitucionais”23 e insere, para tanto, o diálogo das fontes como forma de solução destes conflitos, de modo
que permita a compreensão da pós-modernidade, a partir da uma aplicação coordenada e simultânea de
diferentes fontes legislativas convergentes, pois a necessidade de coordenação de leis no mesmo
ordenamento jurídico é exigência de um sistema eficiente e justo24.

Assim, o diálogo das fontes, concepção idealizada por Erik Jayme, na Alemanha, e por Cláudia Lima Marques,
no Brasil, permite a aplicação das leis de forma simultânea e coordenada, a partir de uma interpretação que
mais assegure o mandamento constitucional; deve se pautar, assim, em valores constitucionais,
especialmente em direitos fundamentais25. Nesse sentido, Antonio Herman Benjamin:

O diálogo das fontes é um método de interpretação, de integração e de aplicação das normas,


que contempla os principais desafios de assegurar a coerência e a efetividade do direito a partir
do projeto constitucional e o sistema de valores que impõe. Além disso, consiste no método de
coordenação e coerência sistemática das várias fontes do /direito, assegurando a conformidade
entre elas e a supremacia da Constituição e, mais ainda, dos seus valores e direitos fundamentais.

Maria Helena Diniz entende que o método do diálogo das fontes deve ser compreendido a partir da
concepção do direito como um sistema jurídico, “dotado de coerência interna (...), construído através de
conceitos gerais”26. Disso, entende-se que o diálogo das fontes deve “perseguir uma harmonia entre
diferentes microssistemas que apresentem pontos de convergência tornando-se possível construir as mais
sólidas bases microssistemáticas”27.

Daí a importância da codificação que, não obstante imobilize o Direito, possibilita a “unidade política da
nação, além de permitir e facilitar o estudo sistematizado do direito, que passa a se encontrar de forma
cientificamente organizada, gozando o ordenamento de maior estabilidade nas relações jurídicas”28. O atual
Código Civil apresenta inúmeras normas abertas, e essa opção foi escolhida pelo legislador para que, por

23
MARQUES, Cláudia Lima. Diálogo entre o Código de Defesa do Consumidor e o Novo Código Civil: o diálogo das fontes no
combate às cláusulas abusivas. Revista de Direito do Consumidor, ano 12, n.45, jan./mar. 2003, p. 74.

24
Idem.

25
Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=45ea3375b621c477. Acesso em 10/02/2021.
26
DINIZ, Maria Helena.Conflito de Normas, 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 08
27
Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=45ea3375b621c477. Acesso em 10/02/2021.
28
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 40.

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meio do diálogo das fontes, se encontre a solução mais justa e equitativa no caso concreto, suprimindo-se
essas lacunas sempre com base nos valores éticos e no atendimento dos direitos fundamentais.

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - As decisões interlocutórias no Novo Código de Processo Civil e no CPC/1973

O Novo Código de Processo Civil promoveu significativas mudanças no instituto das decisões interlocutórias.
Atualmente, devem ser entendidas como toda e qualquer decisão proferida no curso do processo, sem que
se extinga ou coloque fim a nenhuma fase processual.

Ao contrário do Código de Processo Civil de 1973, que entendia a decisão interlocutória como o
pronunciamento do juiz que resolvia uma questão incidente, o NCPC/2015 a tem por residual:

O que não for sentença é decisão interlocutória. Se o pronunciamento judicial tem conteúdo
decisório e não se encaixa na definição do §1º do art. 203, é, então, uma decisão interlocutória29.

No que tange ao cabimento recursal – principal modificação sofrida no instituto –, sabe-se que a decisão
interlocutória somente poderá ser impugnada mediante agravo de instrumento, em casos específicos, de
acordo com o rol expresso do artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015. No mais, não se vislumbra
nenhum recurso imediato – podendo-se arguir a matéria que não se adequa ao dispositivo acima, em
preliminar no recurso de apelação ou nas contrarrazões, conforme artigo 1.009, parágrafo 1º:

Art. 1009. Da sentença cabe apelação.

§1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar
agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar
de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

No diploma processual anterior, a regra era a recorribilidade das decisões interlocutórias, por meio do agravo
retido, e, excepcionalmente, adotava-se o agravo de instrumento.

O recurso de agravo era modalidade “genérica” prevista no CPC/73, que poderia ser protocolado na forma
retida, caso em que seria analisado somente no momento do recurso de apelação; ou, ainda, na forma de
instrumento, caso a decisão recorrida fosse suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação 30.

29
DIDDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, recursos,
ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal. 14ª. ed. reform.
Salvador: Ed. Jus Podivm, 2017. p. 238.

30
Disponível em: https://www.periodicos.unc.br/index.php/acaddir/article/view/2288/1264. Acesso em 11/02/2021.

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No primeiro, o reexame da questão seria feito pelo Tribunal competente, quando do julgamento da apelação,
afastando a ocorrência da preclusão para o agravante31.

É cediço, contudo, que a modalidade de agravo retido foi extinta pelo NCPC, permitindo que as decisões
interlocutórias fossem impugnadas na apelação ou por agravo de instrumento, somente. E, nesse sentido,
vê-se que o regime de preclusão temporal também foi alterado pelo Código de Processo Civil de 2015, tendo
em vista que, “à exceção das hipóteses expressamente previstas no artigo 1015, as interlocutórias não serão
recorríveis de imediato, mas apenas como um capítulo preliminar do recurso de apelação interposto contra
a sentença ou nas contrarrazões recursais”32. Trata-se do regime de preclusão elástica.

Note-se, então, que não há que se cogitar da irrecorribilidade das decisões interlocutórias para as hipóteses
que não se enquadram no rol do artigo 1.015; apenas transferiu-se a impugnação para momento posterior.
A preclusão ocorrerá na hipótese em que haja previsão de interposição de agravo de instrumento, com
desídia da parte (ao contrário do antigo CPC).

1.4.2 - O pressuposto de admissibilidade da repercussão geral no Recurso Extraordinário

O artigo 102, inciso III, da Constituição Federal prevê as hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário
que, em linhas gerais, reformará as causas decididas em único ou em último grau, quando a decisão recorrida
contrariar dispositivo constitucional; declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julgar válida
lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição; julgar válida lei local contestada em face de
lei federal.

Como bem delineado por Montenegro Filho, “as hipóteses de cabimento do recurso extraordinário versam,
em síntese, sobre questões de controle de constitucionalidade e por meio de tal recurso, viabiliza-se a
verificação do controle difuso de constitucionalidade”33; e cabe ao Supremo Tribunal Federal o seu
julgamento, considerando sua função precípua de guardião da Constituição da República.

Afora os requisitos e pressupostos de admissibilidade comuns aos demais recursos processuais, a Emenda
Constitucional nº 45/2004, que incluiu o parágrafo 3º ao artigo 102 da CF/88, inseriu ao recurso
extraordinário a repercussão geral como novo pressuposto intrínseco de admissibilidade – buscou-se, com
isso, “diminuir o número e (...) acelerar a tramitação dos recursos extraordinários no Supremo Tribunal
Federal”34. Nesse sentido, o relator do projeto de lei que originou a Lei nº 11.418/2006, Odair Cunha,
explicou que

31
Idem.
32
ARAÚJO, José Henrique Mouta. A recorribilidade das interlocutórias no Novo CPC: variações sobre o tema. Revista de Processo.
V. 251, 2016. pp. 207-228. In: https://www.periodicos.unc.br/index.php/acaddir/article/view/2288/1264. Acesso em 11/02/2021.
33
MONTENEGRO FILHO, In: https://jus.com.br/artigos/34318/a-repercussao-geral-requisito-de-admissibilidade-e-a-restricao-
indevida-da-competencia-do-supremo-tribunal-federal. Acesso em 11/02/2021.
34
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/a-repercussao-geral-como-pressuposto-de-
admissibilidade-no-recurso-
extraordinario/#:~:text=Novo%20pressuposto%20de%20admissibilidade%20do,a%20exist%C3%AAncia%20da%20repercuss%C3
%A3o%20geral%E2%80%9D. Acesso em 11/02/2021.

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É inegável que o STF vive atualmente a maior crise de sua história, abarrotado de processos de
relevância duvidosa, capazes tão somente de postergar, obliterar ou impedir a prestação da
jurisdição constitucional que a sociedade e as instituições brasileiras entendem devida e
rotineiramente por essa clamam e esperam. Nesse particular, a proposição permitirá que as
causas submetidas ao STF sejam efetivamente selecionadas, de modo a se impedir o julgamento
de recursos cuja irrelevância constitucional, sob os aspectos econômico, político, social ou
jurídico, seja manifesta. Afastaremos, pois, os recursos extraordinários que apenas refletirem o
espírito de emulação e de inconformismo das partes. Faremos, pois, que o STF deixe de ser um
Tribunal de terceira ou quarta instância para apreciação de questões já decididas por outros
tribunais. Alteraremos o seu perfil, alçando-o à condição de corte constitucional, cuja jurisdição
será desvinculada do caso concreto, ainda que continue a ser um órgão do Poder Judiciário. A
implementação da medida possibilitará a atualização de nosso sistema de controle de
constitucionalidade, tornando-o mais próximo aos sistemas hoje vigentes tanto no direito
americano quanto no direito alemão, que influenciaram diretamente a sua formação.

Pois bem. Para efeito de repercussão geral, considerar-se-á a existência, ou não, de questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa;
igualmente, haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou
jurisprudência dominante no tribunal. Freddie Didier, quanto ao conceito de repercussão geral, entende que

Por conta do uso de conceitos jurídicos indeterminados para aferição da repercussão geral, seja
possível levantar dois parâmetros para definição desse requisito: questões constitucionais que
sirvam de fundamento a demandas múltiplas, como aquelas relacionadas a questões
previdenciárias ou tributárias, em que diversos demandantes fazem pedidos semelhantes,
baseados na mesma tese jurídica. Por conta disso, é possível pressupor que, em causas coletivas
que versem sobre temas constitucionais, haverá a tal ‘repercussão geral’ que se exige para o
cabimento do recurso extraordinário; e questões que, em razão da sua magnitude constitucional,
devem ser examinadas pelo STF em controle difuso de constitucionalidade, como aquelas que
dizem à correta interpretação/aplicação dos direitos fundamentais, que traduzem um conjunto
de valores básicos que servem de esteio a toda ordem jurídica dimensão objetiva dos direitos
fundamentais (DIDIER, 2007, p. 270)35.

A repercussão geral deve ser demonstrada em preliminar do recurso extraordinário. Se a Turma decidir pela
sua existência por, no mínimo, quatro votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao Plenário. Mas,
negada sua existência, a decisão valerá para todos os recursos que versarem sobre matéria idêntica – e que
serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, segundo o Regimento Interno do STF.

Com efeito, para que sua existência reste caracterizada, é necessário, além de a questão debatida ser
relevante econômica, política, social ou juridicamente, deve transcender para além do interesse subjetivo
das partes, isto é, deve “contribuir para a persecução da unidade do direito no Estado Constitucional

35
DIDIER, Freddie. In: https://jus.com.br/artigos/34318/a-repercussao-geral-requisito-de-admissibilidade-e-a-restricao-indevida-
da-competencia-do-supremo-tribunal-federal. Acesso em 11/02/2021.

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Brasileiro, compatibilizando e/ou desenvolvendo soluções de problemas de ordem constitucional”36.


Importa mencionar que essa transcendência poderá ser qualitativa ou quantitativa:

na primeira, sobreleva para a individualização da transcendência o importe da questão debatida


para a sistematização e desenvolvimento do direito; na segunda, o número de pessoas
suscetíveis de alcance, atual ou futuro, pela decisão daquela questão pelo Supremo e, bem assim,
a natureza do direito posto em causa, notadamente coletivo ou difuso37.

Assim, cabe ao recorrente demonstrar a existência da repercussão geral da questão suscitada no recurso
extraordinário – sob pena de o STF não conhecer o recurso38. “Contudo, por se tratar de controle de
constitucionalidade no direito brasileiro, pode o STF admitir o recurso extraordinário entendendo relevante
e transcendente a questão debatida por fundamentação constitucional”39, ainda que diversa daquela trazida
pelo recorrente – cláusula aberta de admissibilidade da repercussão geral.

1.5 - DIREITO PENAL


Olá pessoal! Aqui é Flávio Milhomem, professor do Estratégia Carreira Jurídica; em Direito Penal, vamos
discutir alguns assuntos atuais que, certamente, serão explorados em provas objetivas e dissertativas do
Ministério Público.

1.5.1 - Estelionato – Depósito na Conta de Terceiro

Até recentemente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça orientava que, nos casos em que a vítima
houvesse sido induzida a erro a efetuar depósito ou transferência bancária para conta de terceiro, o local da
consumação do crime de estelionato seria o da agência bancária onde efetivada a transferência ou o
depósito.

Em precedentes mais recentes, a Terceira Seção daquela corte modificou tal orientação, estabelecendo
diferenciação entre a hipótese em que o estelionato se dá mediante falsificação ou adulteração de cheque
(consumação no banco sacado, onde a vítima mantém a conta bancária), do caso no qual o crime ocorre
mediante depósito ou transferência bancária (consumação na agência beneficiária do depósito ou da
transferência bancária). Ocorre que há precedente subsequente (CC n. 166.009/SP, julgado em 28/8/2019)
que restaurou a orientação anterior, no sentido de que o prejuízo, na hipótese de transferência bancária,
seria o do local da agência bancária da vítima.

36
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. 2. Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 34
37
Idem, p. 37.
38
Segundo o caput do art. 543-A, é irrecorrível o acórdão do plenário que não conhecer do recurso extraordinário pela inexistência
de repercussão geral da questão constitucional submetida à sua apreciação.
39
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. 2. Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 38.

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Em razão da oscilação do entendimento jurisprudencial da própria Terceira Seção, a matéria foi novamente
apreciada pelo colegiado.

Anote-se que a melhor solução jurídica seria aquela que estabelece distinção entre a hipótese de estelionato
mediante depósito de cheque clonado ou adulterado (competência do Juízo do local onde a vítima mantém
conta bancária), daquela na qual a vítima é induzida a efetivar depósito ou transferência bancária em prol
do beneficiário da fraude (competência do Juízo onde situada a agência bancária beneficiária do depósito ou
transferência).

Assim, se o crime só se consuma com a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo agente ativo, é certo
que só há falar em consumação, nas hipóteses de transferência e depósito, quando o valor efetivamente
ingressa na conta bancária do beneficiário da fraude. (Informativo 663 do STJ)

1.5.2 - Inimputabilidade e Medida de Segurança

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, há muito, firmou entendimento no sentido de que,
"conforme a dicção do art. 97 do Código Penal, tratando-se de crime punível com reclusão, descabe a
substituição da internação em hospital de custódia por tratamento ambulatorial". Por sua vez, a Sexta Turma,
em sucessivos julgados, tem proclamado a tese de que, "na fixação da medida de segurança, por não se
vincular à gravidade do delito perpetrado, mas à periculosidade do agente, é cabível ao magistrado a opção
por tratamento mais apropriado ao inimputável, independentemente de o fato ser punível com reclusão ou
detenção, em homenagem aos princípios da adequação, da razoabilidade e da proporcionalidade".

A doutrina brasileira majoritariamente tem se manifestado acerca da injustiça da referida norma, por
padronizar a aplicação da sanção penal, impondo ao condenado, independentemente de sua periculosidade,
medida de segurança de internação em hospital de custódia, em razão de o fato previsto como crime ser
punível com reclusão. Nesse contexto deve prevalecer a jurisprudência da Sexta Turma, ou seja, a
possibilidade de tratamento ambulatorial para todos os crimes. (Informativo 662 do STJ)

1.5.3 - Prescrição Penal e Indenização Cível

A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação penal não fulmina o interesse processual
no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato.

O propósito recursal consiste em decidir sobre o interesse processual para o ajuizamento de ação civil ex
delicto, quando declara a extinção da punibilidade em virtude da prescrição da pretensão punitiva do
Estado.O ordenamento jurídico estabelece a relativa independência entre as jurisdições cível e penal, de tal
modo que quem pretende ser ressarcido dos danos sofridos com a prática de um delito pode escolher, de
duas, uma das opções: ajuizar a correspondente ação cível de indenização ou aguardar o desfecho da ação
penal, para, então, liquidar ou executar o título judicial eventualmente constituído pela sentença penal
condenatória transitada em julgado.

A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado impede, tão somente, a formação do título
executivo judicial na esfera penal, indispensável ao exercício da pretensão executória pelo ofendido, mas
não fulmina o interesse processual no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo
mesmo fato.

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O art. 200 do CC/2002 dispõe que, quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal,
não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Logo, conquanto a ação de conhecimento
possa ser ajuizada a partir do momento em que nasce a pretensão do ofendido, o prazo em curso da
prescrição da pretensão reparatória se suspende no momento em que o mesmo fato é apurado na esfera
criminal, passando ele a ter também a faculdade de liquidar ou executar eventual sentença penal
condenatória transitada em julgado. Assim, considerando a suspensão do prazo prescricional desde o
ajuizamento da ação penal até a sentença penal definitiva, não há falar em inércia e, por conseguinte, em
prescrição da pretensão indenizatória. (Informativo 666 do STJ).

1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - A (In)Aplicabilidade Do Princípio In Dubio Pro Societate Na Primeira Fase Do Tribunal


Do Júri

No âmbito do Direito Processual Penal e Constitucional, prevalece o entendimento de que diante de uma
situação que possa prejudicar o acusado - como por exemplo a dúvida sobre responsabilizá-lo ou não - deverá
o juiz interpretar o caso da maneira que seja benéfica ao réu, aplicando, então, o princípio conhecido como
in dubio pro reo.

Esclarecendo, o citado conhecimento parte do princípio jurídico da presunção de inocência, previsto na


Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVII, ou seja, de um modo geral, significa que em caso de dúvida
quanto à atribuição de responsabilidade penal ao réu deve-se presumir sua inocência, e não reponsabilizá-
lo, evitando, assim, que haja, uma condenação infundada.

Nesse mesmo sentido, prevê o Código de Processo Penal que, inexistindo prova suficiente para a condenação
do acusado (art. 386, inciso VII, do CPP), o juiz deverá absolvê-lo, logo, não pode o réu ser prejudicado em
caso de dúvida.

Entretanto, no Processo Penal existem situações nas quais impera outro adágio, o in dubio pro societate, tais
como: no recebimento da denúncia e na primeira fase no rito do Tribunal do Júri.

De acordo com esse último brocardo, invoca-se a dúvida em favor da sociedade. São momentos em que se
defende a prevalência da segurança social em detrimento da inocência do acusado, e por isso se autoriza o
início da ação penal com o recebimento da denúncia, e a pronúncia, para que o caso seja submetido à
julgamento popular.

No que toca ao procedimento bifásico do Tribunal do Júri, a primeira fase – chamada judicium accusationis
– será finalizada com uma das quatro decisões: absolvição sumária, desclassificação, impronúncia ou
pronúncia. É especificamente diante desse cenário que se encontra a aplicação do princípio in dubio pro
societate. Havendo dúvida em relação a qual dessas decisões proferir, deverá o juiz resolvê-la em favor da
sociedade e não do acusado, ou seja, pronunciar o réu para que representantes da sociedade – jurados –
julguem o caso em concreto no Tribunal do Júri, a partir de suas íntimas convicções.

Diante disso, com esse posicionamento, se o magistrado estiver com dúvidas sobre a existência do crime e
indícios de autoria/participação, ele deverá encaminhar o acusado para que o Conselho de Sentença decida,

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mas, na hipótese de aquele caso não convencer o juiz da existência de mínimas tais requisitos – ou seja, o
caso não foi capaz nem de suscitar dúvidas – ele deverá impronunciar o réu.

Ressalta-se que, a dúvida a que nos referimos nesse momento processual é sobre a existência do crime e
sobre os indícios mínimos de autoria, e não quanto à culpa, em sentido lato (absolver ou condenar o sujeito),
a qual, notadamente, cabe aos jurados decidir.

Logo, a dúvida no rito do Tribunal do Júri não beneficia o réu, e sim o oposto, colocando-o em risco de ter a
situação agravada, uma vez que poderá ser condenado com base em elementos que nem estão no incluídos
no processo, tal como pela influência midiática, já que não há necessidade de os jurados motivarem e
fundamentarem a condenação.

Vejamos um julgado do STF que há muito tempo sustenta a aplicação do princípio in dubio pro societate:

Penal. Processual Penal. Procedimento dos crimes da competência do Júri. Idicium acusationis.
In dubio pro societate. Sentença de pronúncia. Instrução probatória. Juízo competente para
julgar os crimes dolosos contra a vida. Presunção de inocência. Precedentes da Suprema Corte.
1. No procedimento dos crimes de competência do Tribunal do Júri, a decisão judicial proferida
ao fim da fase de instrução deve estar fundada no exame das provas presentes nos autos. 2. Para
a prolação da sentença de pronúncia, não se exige um acervo probatório capaz de subsidiar um
juízo de certeza a respeito da autoria do crime. Exige-se prova da materialidade do delito, mas
basta, nos termos do artigo 408 do Código de Processo Penal, que haja indícios de sua autoria. 3.
A aplicação do brocardo in dubio pro societate, pautada nesse juízo de probabilidade da
autoria, destina-se, em última análise, a preservar a competência constitucionalmente
reservada ao Tribunal do Júri. 4. Considerando, portanto, que a sentença de pronúncia submete
a causa ao seu Juiz natural e pressupõe, necessariamente, a valoração dos elementos de prova
dos autos, não há como sustentar que o aforismo in dubio pro societate consubstancie violação
do princípio da presunção de inocência. 5. A ofensa que se alega aos artigos 5º, incisos XXXV e
LIV, e 93, inciso IX, da Constituição Federal (princípios da inafastabilidade da jurisdição, do devido
processo legal e da motivação das decisões judiciais) se existisse, seria reflexa ou indireta e, por
isso, não tem passagem no recurso extraordinário. 6. A alegação de que a prova testemunhal
teria sido cooptada pela assistência da acusação esbarra na Súmula nº 279/STF. 7. Recurso
extraordinário a que se nega provimento. (RE 540999, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO,
Primeira Turma, julgado em 22/04/2008, DJe 20/06/2008) – grifo meu.

A partir disso, podemos compreender alguns dos fundamentos utilizados pela corrente majoritária para a
aplicação deste princípio: a) o juiz natural da causa é o Conselho de Sentença, logo, não pode o juiz da
primeira fase impedir - através da dúvida - que o caso chegue à Júri; b) não se exige um juízo de certeza para
a decisão de pronúncia, até porque, não é o momento de se decidir o mérito, e se fosse exigida a certeza
isso desrespeitaria a competência dos jurados, que ao lerem a decisão de pronúncia estariam suscetíveis de
ser influenciados pelo seu conteúdo. Consequentemente, se a certeza fosse exigida do Juiz de Direito em
fase de pronúncia, a condenação do acusado pelos jurados seria fatal.

Também se utiliza como argumento o direito do acusado ser julgado por seus semelhantes, uma vez que o
instituto possui previsão na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XXXVIII, por isso, no caso de dúvida
deve-se remeter o feito a julgamento do Conselho de Sentença.

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Nessa lógica, Norbeto Avena (2017) explica que o constrangimento do acusado é uma consequência
inevitável do julgamento popular, visto que ele é exposto à sociedade como autor de um delito grave. Em
razão disso, o Estado Democrático de Direito, sob pena de constrangimento ilegal, não pode submeter o
acusado a esta situação, sem que existam, por exemplo, mínimos indícios de que aquele indivíduo tenha
praticado o fato, ou evidências da conduta ilícita. Por esse motivo é que se sustenta a divisão do rito em duas
fases, posto que na primeira fase o juiz filtrará cada elemento constante na acusação – com a finalidade de
impedir que processos sem o mínimo de lastros probatórios vão à Júri – para só então proferir a decisão que
entender adequada, encaminhando o acusado ao Júri Popular ou não.

Por outro lado, sob o ponto de vista dos críticos e da doutrina recente, observa-se que a aplicação do
princípio do in dubio pro societate vai de encontro com a finalidade da primeira fase do rito, na qual o juiz
realizaria um filtro dos elementos acusatórios para que de fato aquele caso pudesse chegar a Júri.

Em verdade, a aplicação deste princípio acaba servindo como um discurso para ancorar uma decisão de
pronúncia que, muitas vezes, não possuirá amparo em provas capazes de atribuir a autoria delitiva àquele
cidadão. Por isso, o magistrado acaba por “lavar as mãos” pronunciando o acusado, deixando a cargo dos
jurados o juízo de mérito de um caso que lhe deixou em dúvida, recaindo sobre eles o peso de eventual
condenação infundada.

Soma-se a essa linha de raciocínio o fato de que o magistrado não precisa fundamentar a decisão de
pronúncia de maneira exaustiva, sob pena de cometer o chamado “excesso de linguagem”, capaz de
influenciar a decisão dos jurados com os argumentos que o levaram a pronunciar o sujeito. Desse modo,
conforme o artigo 413 §1º, do CPP, o juiz limitar-se-á a indicar a materialidade do fato e os indícios suficientes
de autoria ou participação e, da mesma forma se dará com a apreciação das teses defensivas, as quais o
magistrado enfrentará com superficialidade.

Assim, percebe-se que em um caso em que o juiz, por haver provas rasas está em dúvida e acaba pronunciado
o acusado, é possível que em plenário, mesmo diante da insuficiência probatória, o réu saia condenado, por
diversas razões (bom poder de convencimento do advogado de defesa, influências externas, entre outras)
que não integram o processo.

Recentes decisões nos tribunais e em juízos singulares vêm mostrando o inconformismo com a aplicação
deste brocardo:

[...] Considerando tal narrativa, percebe-se a lógica confusa e equivocada ocasionada pelo
suposto “princípio in dubio pro societate”, que, além de não encontrar qualquer amparo
constitucional ou legal, acarreta o completo desvirtuamento das premissas racionais de
valoração da prova. Além de desenfocar o debate e não apresentar base normativa, o in dubio
pro societate desvirtua por completo o sistema bifásico do procedimento do júri brasileiro
esvaziando a função da decisão de pronúncia (ARE 1067392/CE, GILMAR MENDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 26/03/2019).

Do mesmo modo Aury Lopes Jr. defende a aplicação do princípio in dubio pro reo na primeira fase do Júri, ao
argumento de que a partir do que dispõe a lei processual penal, se o juiz estiver em dúvida quanto à
materialidade e indícios de autoria deve impronunciá-lo, com base no artigo 414, do CPP.

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Para os adeptos da aplicação do princípio in dubio pro reo, o insucesso da acusação em demonstrar a
existência do crime e indícios mínimos de autoria de modo que não deixe dúvidas, não pode ser utilizado em
desfavor do réu.

Também, argumentam a ausência de previsão legal do famigerado in dubio pro societate, além de afirmar
que ele colide com o princípio constitucional expresso da presunção de inocência. Aliás, há críticas no sentido
de que o in dubio pro societate pode gerar uma violação ao próprio princípio constitucional do devido
processo legal, naqueles casos em que processos com provas insuficientes e rasas são levados a Plenário.

Contudo, para contrapor este último argumento, os defensores da aplicação do princípio in dubio pro
societate explicam que, havendo uma condenação fundada em um processo sem provas, ou com uma
decisão contrária ao que está no bojo do processo, basta que a parte insatisfeita interponha recurso de
apelação, com base no art. 593, inciso III, alínea “d”, do CPP.

1.6.2 - O Juiz E As Cautelares No Processo Penal Brasileiro

É sabido que o ordenamento jurídico pátrio adotou o Sistema Acusatório no âmbito processual penal, cuja
sistemática é pautada na separação das funções de acusar, defender e julgar.

Nesse contexto, sob a perspectiva do sistema acusatório, o julgador não deve ser dotado de iniciativa
probatória, mas sim atuar no processo penal de maneira equidistante e imparcial, cabendo, pois, às partes
a gestão da prova.

Impõe-se ao juiz um distanciamento da iniciativa probatória e das funções investigatórias, a fim de garantir
a imparcialidade, cuja previsão está expressa, inclusive, na Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Dec. 678/92, art. 8º, nº 1).

De acordo com Renato Brasileiro40, “na fase investigatória, o juiz deve permanecer absolutamente alheio à
qualidade da prova em curso, somente intervindo para tutelar violações ou ameaça de lesões a direitos e
garantias individuais das partes, ou para resguardar a efetividade da função jurisdicional, quando, então,
exercerá atos de natureza jurisdicional”.

É do Sistema Acusatório, inclusive, que deriva o princípio do ne procedat iudex ex officio, o qual estabelece
que o juiz não pode dar início a um processo sem que haja provocação da parte, bem como a proibição de
que o juiz profira provimento sobre matéria que não tenha sido trazida ao processo por uma das partes
(princípio da correlação entre acusação e sentença).

40 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

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Nesse sentido, veio, ainda, o artigo 3ª-A, do Código de Processo Penal, introduzido pelo Pacote Anticrime, o
qual assevera que o processo penal terá estrutura acusatória, sendo vedada a iniciativa do juiz na fase de
investigação.

Todavia, Renato Brasileiro destaca que “durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que o
juiz possui certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício, desde que o faça
de maneira subsidiária”, seja para complementar a prova ou dirimir dúvidas sobre questões relevantes.

Com relação à aplicabilidade das medidas cautelares de ofício pelo magistrado, verifica-se que, após as
mudanças trazidas pela Lei n. 13.964/2019, houve significativa mudança em alguns dispositivos legais do
Código de Processo Penal, merecendo especial atenção o artigo 282, §2º. Veja-se:

Art. 282. (...) § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes
ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério Público.

Conforme se denota da nova redação do artigo supramencionado, o legislador optou por retirar a
possibilidade de o juiz decretar medidas cautelares de ofício, seja no curso da investigação, seja durante o
processo criminal, diversamente do que previa a antiga redação, que vedava a decretação de medidas
cautelares de ofício pelo juiz apenas na fase investigatória, permitindo-a, todavia, durante a fase processual.

Tais modificações também alcançaram também o 311, do Código de Processo Penal, o qual passou a contar
com a seguinte redação:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

Veja-se que tais mudanças vêm ao encontro do Sistema Acusatório, e conforme assevera Renato Brasileiro41,
“graves prejuízos seriam causados à imparcialidade do magistrado se se admitisse que este pudesse decretar
uma medida cautelar de natureza pessoal de ofício, sem provocação da parte ou do órgão com atribuições
assim definidas em lei”.

Contudo, neste contexto, vale destacar a discussão que gira em torno da possibilidade de conversão da prisão
em flagrante em preventiva, de ofício, pelo juiz, conforme previsão legal do artigo 310, inciso II, do Código
de Processo Penal:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro)
horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença

41 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

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do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do


Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (...)

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do


art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão;

Tal possibilidade já era questionada por alguns doutrinadores antes mesmo da incidência da Lei n.
13.964/201942, embora os tribunais reconhecessem a legitimidade da medida tomada pelo juiz, mesmo sem
prévia provocação43.

Entretanto, após a incidência do Pacote anticrime, o tema tem sido reapreciado no âmbito dos tribunais
superiores, ainda havendo certa divergência em torno do assunto. Veja-se:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. VIGÊNCIA DA LEI


13.964/2019. CONVERSÃO EX OFFICIO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA.
ILEGALIDADE. NECESSIDADE DE PRÉVIO REQUERIMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CARACTERIZADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. A Lei n. 13.964/2019 - o chamado "Pacote Anticrime" - promoveu diversas alterações


processuais, dentre as quais destaca-se a nova redação dada ao art. 282, § 2º, do Código de
Processo Penal: "As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou,
quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
requerimento do Ministério Público".

2. Tal dispositivo tornou imprescindível, expressamente, o prévio requerimento das partes, do


Ministério Público ou da autoridade policial, para ser possível a aplicação, por parte do
Magistrado, de qualquer medida cautelar.

3. Assim, a partir das inovações trazidas pelo Pacote Anticrime, tornou-se inadmissível a
conversão, de ofício, da prisão em flagrante em preventiva. Portanto, a prisão preventiva
somente poderá ser decretada mediante requerimento do Ministério Público, do assistente ou

42 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

43 STJ, 5ª Turma, HC 280.980/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/02/2014; STJ, 5ª Turma, HC 281.756/ PA, Rel. Min. Jorge Mussi, j.
15/05/2014; STJ, 5ª Turma, HC 474.322/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 12/02/2019; STJ, 5ª Turma, RHC
105.955/MG, Rel. Min. Felix Fischer, j. 05/02/2019; STJ, 6ª Turma, RHC 102.770/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 06/12/2018; dentre
outros.

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querelante, ou da autoridade policial (art. 311 do CPP), o que não ocorreu na hipótese dos
presentes autos.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no RHC 137.448/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
09/12/2020, DJe 14/12/2020)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CONVERSÃO DO FLAGRANTE EM PREVENTIVA, DE


OFÍCIO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. CAUTELARES DO ART. 319
DO CPP. SUFICIÊNCIA. LIMINAR CONFIRMADA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.

1. As alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019 não impedem a conversão da prisão em


flagrante em preventiva, de ofício, pelo Juízo singular, se presentes os requisitos do art. 312 do
CPP e a necessidade urgente da cautela processual. Precedente.

2. A prisão preventiva é compatível com a presunção de não culpabilidade do acusado desde que
não assuma natureza de antecipação da pena e não decorra, automaticamente, do caráter
abstrato do crime ou do ato processual praticado (art. 313, § 2º, CPP).

3. O Magistrado evidenciou a necessidade de algum acautelamento da ordem pública, porquanto


destacou a gravidade concreta do crime: a quantidade de drogas apreendidas. Entretanto, a
motivação não denota a periculosidade exacerbada dos pacientes, a ponto de, por si só, justificar
o emprego da cautela máxima sem nenhum outro dado desabonador relativo aos réus.

4. Em juízo de proporcionalidade, alternativas legais menos aflitivas se mostram idôneas e


suficientes para proteger o bem ameaçado pela irrestrita e plena liberdade dos acusados, de
modo que é aplicável ao caso a substituição do cárcere pelas cautelares previstas no art. 319, I,
IV e V, do CPP.

5. Habeas corpus concedido, para, confirmada a liminar, substituir a prisão preventiva dos réus
pelas medidas elencadas, sem prejuízo do restabelecimento da mais gravosa pelo Juiz se
sobrevier situação que configure a sua exigência.

(HC 614.155/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2020,
DJe 11/12/2020)

Conforme se nota, no âmbito do STJ, há clara divergência entre a 5ª e a 6ª turma. O STF, por sua vez, tem se
inclinado a adotar o entendimento acerca da impossibilidade de conversão da prisão em flagrante em
preventiva, de ofício, pelo juiz, conforme decisões proferidas pela segunda turma:

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“HABEAS CORPUS” (...) “HABEAS CORPUS” CONCEDIDO DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE, DE OUTRO


LADO, DA DECRETAÇÃO “EX OFFICIO” DE PRISÃO PREVENTIVA EM QUALQUER SITUAÇÃO (EM
JUÍZO OU NO CURSO DE INVESTIGAÇÃO PENAL), INCLUSIVE NO CONTEXTO DE AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA (OU DE APRESENTAÇÃO), SEM QUE SE REGISTRE, MESMO NA HIPÓTESE DA
CONVERSÃO A QUE SE REFERE O ART. 310, II, DO CPP, PRÉVIA, NECESSÁRIA E INDISPENSÁVEL
PROVOCAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU DA AUTORIDADE POLICIAL – RECENTE INOVAÇÃO
LEGISLATIVA INTRODUZIDA PELA LEI Nº 13.964/2019 (“LEI ANTICRIME”), QUE ALTEROU OS ARTS.
282, §§ 2º e 4º, E 311 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, SUPRIMINDO AO MAGISTRADO A
POSSIBILIDADE DE ORDENAR, “SPONTE SUA”, A IMPOSIÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA – NÃO
REALIZAÇÃO, NO CASO, DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA (OU DE APRESENTAÇÃO) –
INADMISSIBILIDADE DE PRESUMIR-SE IMPLÍCITA, NO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, A
EXISTÊNCIA DE PEDIDO DE CONVERSÃO EM PRISÃO PREVENTIVA – CONVERSÃO, DE OFÍCIO,
MESMO ASSIM, DA PRISÃO EM FLAGRANTE DO ORA PACIENTE EM PRISÃO PREVENTIVA –
IMPOSSIBILIDADE DE TAL ATO, QUER EM FACE DA ILEGALIDADE DESSA DECISÃO, QUER, AINDA,
EM RAZÃO DE OFENSA A UM DIREITO BÁSICO, QUAL SEJA O DE REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA, QUE TRADUZ PRERROGATIVA INSUPRIMÍVEL ASSEGURADA A QUALQUER PESSOA
PELO ORDENAMENTO DOMÉSTICO E POR CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DE DIREITOS
HUMANOS. – A reforma introduzida pela Lei nº 13.964/2019 (“Lei Anticrime”) modificou a
disciplina referente às medidas de índole cautelar, notadamente aquelas de caráter pessoal,
estabelecendo um modelo mais consentâneo com as novas exigências definidas pelo moderno
processo penal de perfil democrático e assim preservando, em consequência, de modo mais
expressivo, as características essenciais inerentes à estrutura acusatória do processo penal
brasileiro. – A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282,
§§ 2º e 4º, e do art. 311, todos do Código de Processo Penal, vedou, de forma absoluta, a
decretação da prisão preventiva sem o prévio “requerimento das partes ou, quando no curso da
investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
Ministério Público” (grifei), não mais sendo lícita, portanto, com base no ordenamento jurídico
vigente, a atuação “ex officio” do Juízo processante em tema de privação cautelar da liberdade.
– A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282, §§ 2º e 4º, e 311,
do mesmo estatuto processual penal, a significar que se tornou inviável, mesmo no contexto da
audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa em
prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal
provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou
do assistente do MP. Magistério doutrinário. Jurisprudência. AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE –
NATUREZA JURÍDICA – ELEMENTOS QUE O INTEGRAM – FUNÇÃO PROCESSUAL – O auto de prisão
em flagrante, lavrado por agentes do Estado, qualifica-se como ato de formal documentação que
consubstancia, considerados os elementos que o compõem, relatório das circunstâncias de fato
e de direito aptas a justificar a captura do agente do fato delituoso nas hipóteses previstas em
lei (CPP, art. 302), tendo por precípua finalidade evidenciar – como providência necessária e
imprescindível que é – a regularidade e a legalidade da privação cautelar da liberdade do autor
do evento criminoso, o que impõe ao Estado, em sua elaboração, a observância de estrito
respeito às normas previstas na legislação processual penal, sob pena de caracterização de
injusto gravame ao “status libertatis” da pessoa posta sob custódia do Poder Público. Doutrina.
– Mostra-se inconcebível que um ato de natureza meramente descritiva, como o é o auto de
prisão em flagrante, limitado a relatar o contexto fático-jurídico da prisão, permita que dele
infira-se, por implicitude, a existência de representação tácita da autoridade policial,

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objetivando, no âmbito da audiência de custódia, a conversão da prisão em flagrante do paciente


em prisão preventiva. – A conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, no contexto
da audiência de custódia, somente se legitima se e quando houver, por parte do Ministério
Público ou da autoridade policial (ou do querelante, quando for o caso), pedido expresso e
inequívoco dirigido ao Juízo competente, pois não se presume – independentemente da
gravidade em abstrato do crime – a configuração dos pressupostos e dos fundamentos a que se
refere o art. 312 do Código de Processo Penal, que hão de ser adequada e motivadamente
comprovados em cada situação ocorrente. (...)

(HC 188888, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 06/10/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-292 DIVULG 14-12-2020 PUBLIC 15-12-2020

HABEAS CORPUS (...). PRISÃO EM FLAGRANTE. CONVERSÃO DE PRISÃO EM FLAGRANTE EM


PRISÃO PREVENTIVA DE OFÍCIO PELO MAGISTRADO. VIOLAÇÃO DO SISTEMA ACUSATÓRIO. ARTS.
5º, LIII, LV, LIX, 93, 129, I, E 133, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ARTS. 282, § § 2º e 4º, 310, 311 E
312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PODER GERAL DE CAUTELA. ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA.
CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. (...) 2. A Constituição Federal de 1988, ao atribuir a
privatividade da promoção da ação penal pública ao Ministério Público (art. 129, I); ao assegurar
aos ligantes o direito ao contraditório e à ampla defesa e assentar o advogado como função
essencial à Justiça (art. 5º, LV e 133); bem como, ao prever a resolução da lide penal, após o
devido processo legal, por um terceiro imparcial, o Juiz natural (art. 5º, LIII e LXI; 93 e seguintes),
consagra o sistema acusatório. 3. A Lei n. 13.964/19, ao suprimir a expressão “de ofício”
constante na redação anterior dos arts. 282, § § 2º e 4º, e 311, ambos do Código de Processo
Penal, veda, de forma expressa, a imposição de medidas cautelares restritivas de liberdade pelo
magistrado sem que haja anterior representação da autoridade policial ou requerimento das
partes. 4. O art. 310 do Código de Processo Penal deve ser interpretado à luz do sistema
acusatório e, em conjunto, com os demais dispositivos legais que regem a aplicação das medidas
cautelares penais (arts. 282, §§ 2º e 4º, 311 e seguintes do CPP). Disso decorre a ilicitude da
conversão, de ofício, da prisão em flagrante em prisão preventiva pela autoridade judicial. 5. O
auto de prisão em flagrante é procedimento de natureza administrativa, em que a autoridade
policial limita-se a observar as formalidades legais para a sua lavratura (arts. 304 e seguintes do
CPP), sem tecer consideração sobre a necessidade e a adequação da prisão preventiva, espécie
com pressupostos e requisitos distintos (art. 311 e seguintes do CPP). Faz-se, portanto,
necessário pedido, formal e expresso, da autoridade policial ou do Ministério Público, em
audiência de custódia, para a imposição da prisão preventiva pelo magistrado. 6. O poder geral
de cautela não autoriza o agir do Juiz por iniciativa própria quando em detrimento da liberdade
individual. No processo penal, para que a intervenção estatal opere nas liberdades individuais
com legitimidade, é necessário o respeito à legalidade estrita e às garantias fundamentais.
Doutrina. Precedentes. 7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício.
(HC 189507 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Segunda
Turma, julgado em 04/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-287 DIVULG 04-12-2020 PUBLIC 07-
12-2020)

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Desse modo, em que pese as mudanças ocasionadas pela Lei n. 13.964/2019, a fim de consolidar o sistema
acusatório, é certo que muitos tópicos ainda geram dúvidas e divisões, seja no âmbito doutrinário ou
jurisprudencial.

1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Entendimento atual do STJ acerca do não cumprimento das condições do regime
aberto e a impossibilidade de cômputo de pena cumprida

As penas podem ser privativas de liberdade, restritivas de direito ou de multa, nos termos do artigo 32 do
Código Penal. Há quem defenda que a legislação extravagante pode fazer a previsão de outras modalidades
de penas, o que seria o caso da pena de advertência sobre os efeitos das drogas prevista para a conduta
tipificada no artigo 28 da Lei n.º 11.343/2006.

As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão, a detenção e prisão simples, esta aplicada às
contravenções penais.

Importa recordar os regimes de cumprimento de pena privativa de liberdade existentes no ordenamento


jurídico pátrio: fechado, semiaberto e aberto (a que se dará destaque).

De acordo com o art. 33, do Código Penal, a pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto. Enquanto a pena de detenção, deve ser cumprida em regime semiaberto ou aberto,
salvo se houver necessidade de transferência para o regime fechado.

Considera-se regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média. Já


no regime semiaberto a execução da pena ocorre em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
Por fim, considera-se regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.

O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, fixará o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade, de acordo com os critérios estabelecidos no artigo 33 do Código Penal e em observância a alguns
fatores, como i) o tipo de pena privativa de liberdade aplicada, ou seja, se de reclusão ou detenção; ii) o
quantum da pena definitiva fixada na terceira fase da dosimetria; iii) a reincidência ou não do sentenciado;
e iv) as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do CP.

A determinação do regime inicial de cumprimento de pena será feita com base no tipo (reclusão ou
detenção) e no quantum da pena cominada aos fatos praticados, de maneira que o condenado a pena de
reclusão superior a 8 (oito) anos, deverá começar a cumpri-la em regime fechado; o condenado não
reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio,
cumpri-la em regime semi-aberto; e o o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

Será observada também a eventual reincidência do condenado, além dos critérios da culpabilidade,
antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime,

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bem como no comportamento da vítima, sendo estabelecido conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime (art. 59, CP).

Fala-se em determinação do regime “inicial” do cumprimento de pena pois, como prevê o art. 33, §2º, do
Código Penal, as penas privativas de liberdade devem ser executadas em forma progressiva, observando-se,
além dos critérios anteriormente descritos, o mérito do condenado, ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso.

Especificamente com relação ao regime aberto, tem-se que é baseado na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado que deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar
curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias
de folga. Frisa-se que o condenado será transferido desse regime se praticar crime doloso, se frustrar os fins
da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada.

Ainda, com fulcro na Lei de Execução Penal, o ingresso do condenado ao regime aberto supõe que tenha
aceito o programa e as condições impostas pelo Juízo. De modo que somente poderá ingressar no regime
aberto o condenado que estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente, e que
apresentar, com base nos antecedentes ou pelo resultado de exames a que for submetido, fundados indícios
de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime de cumprimento de
pena.

Quanto ao trabalho ou comprovação da possibilidade de fazê-lo imediatamente, o entendimento do STJ é


no seguinte sentido:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA


VIA ELEITA. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL DEFERIDA EM 1º GRAU. GRAVIDADE DOS
CRIMES PRATICADOS, LONGA PENA E AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE TRABALHO.
INIDONEIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA RESTABELECER A PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL.

1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior
Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a
restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal
própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade.

2. A gravidade abstrata do crime praticado pelo reeducando e a longa pena a cumprir não são
elementos idôneos para fundamentar o indeferimento da progressão de regime prisional.
Precedentes.

3. As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte consagraram o entendimento de que
a regra do art. 114, I, da LEP, a qual exige do condenado, para ingressar no regime aberto, a
comprovação de trabalho ou a possibilidade imediata de fazê-lo (apresentação de proposta
de emprego), deve sofrer temperamentos, ante a realidade brasileira. (HC n. 292.764/RJ, Sexta
Turma, Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em 10/6/2014, DJe
27/6/2014)

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4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para restabelecer a decisão que
deferiu a progressão de regime prisional ao paciente. (STJ – HC 503641/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 13/08/2019, Dje 30/08/2019).
Negritou-se.

Ademais, poderão ser dispensadas do trabalho os condenados maiores de 70 (setenta) anos, ou acometido
de doença grave, ou condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental, ou, por fim, condenada
gestante (art. 117, LEP).

Para a concessão do regime aberto, o juiz poderá estabelecer condições especiais, sem prejuízo das
condições gerais e obrigatórias, que são as seguintes: permanecer no local que for designado, durante o
repouso e nos dias de folga; sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; não se ausentar da cidade
onde reside, sem autorização judicial; e comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.

Poderá também o juiz modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do Ministério Público,
da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias recomendem.

Salienta-se que, conforme redação da Súmula 493, do STJ: “é inadmissível a fixação da pena substitutiva (art.
44 do CP) como condição especial ao regime aberto”.

Pois bem, recentemente o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o não cumprimento das condições
do regime aberto impossibilita cômputo de pena cumprida. Ou seja, no caso de um condenado deixar de
comparecer em juízo para a cumprimento das condições impostas ao regime aberto, não há razão para
computar o período de descumprimento como pena efetivamente cumprida.

Confira o julgado:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. DESCUMPRIMENTO DAS


CONDIÇÕES IMPOSTAS NO REGIME ABERTO. NÃO COMPARECIMENTO EM JUÍZO. PERÍODO DE
PENA NÃO COMPUTADO COMO PENA CUMPRIDA. FRUSTRAÇÃO DA EXECUÇÃO. EXTINÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

1. Se o paciente não compareceu em juízo para o cumprimento das condições impostas ao


regime aberto, não há como computar o respectivo período como pena efetivamente
cumprida. Sendo assim, não há falar em extinção da pena pelo cumprimento da pena
remanescente.

2. Outrossim, a situação posta nos autos refere-se ao descumprimento de condições impostas ao


apenado em regime aberto, situação distinta daquelas que justificam a aplicação do verbete
sumular n. 617/STJ, específico para as hipóteses de concessão de livramento condicional, o que
impede a sua incidência.

3. Agravo regimental improvido.

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(AgRg no HC 606.027/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
02/02/2021, DJe 10/02/2021). Negritou-se.

Para esclarecimento, dispõe a Súmula n.º 617 do STJ que “A ausência de suspensão ou revogação do
livramento condicional antes do término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral
cumprimento da pena".

Do inteiro teor do acórdão se extrai que o STJ estabeleceu um distinguishing entre o caso sub judice
(descumprimento das condições impostas no regime aberto) e a previsão sumular daquela Corte (ausência
de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de prova).

Ponderou o Ministro Relator que:

“A despeito de inexistir decisão anterior de sustação cautelar do regime aberto, o


descumprimento fica caracterizado pelo não comparecimento do reeducando, e não pela
decisão que o reconheça - e nessa hipótese tem a decisão natureza meramente declaratória, e
não constitutiva".

E foi além, equiparando o descumprimento à fuga do sentenciado:

"Dessa forma, considerando que a não apresentação do sentenciado em juízo se equipararia à


fuga, não se verifica a existência de constrangimento ilegal na determinação de interrupção da
execução da pena no período em que o apenado deixou de se apresentar."

Assim, é de se concluir que o descumprimento de condição do regime aberto, ainda que haja o decurso do
prazo previsto para o término da pena sem a suspensão ou regressão de regime, não autoriza que se
compute o respectivo período como pena efetivamente cumprida.

1.7.2 - O crime de captação ilícita de sufrágio – artigo 41-A, da Lei n.º 9.504/97

O delito que estudaremos é fruto de um projeto de iniciativa popular que tinha a intenção de estabelecer
regra rígida que resgatasse a ética no processo eleitoral, respeitando as regras do jogo democrático.

A captação ilícita de sufrágio indica a ocorrência de ato ilícito eleitoral que ofende a livre vontade do eleitor.
Responsabilizando-se os agentes e beneficiários do fato. O delito estará configurado sempre que a algum
eleitor for oferecido, prometido ou entregue bem ou vantagem com o fim de obter-se o voto, bem como se
houver coação, ou seja, a prática de atos de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-se o
voto. Confira-se um trecho da redação legal:

Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada
por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-
lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública,
desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a
cinquenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto
no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.

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Rodada 11

§ 2o As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos de violência ou grave
ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto.

Para a efetiva configuração do delito, é necessária a realização de uma das condutas típicas (doar, oferecer,
prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor, ou contra ele praticar violência ou grave ameaça);
o fim especial de agir (obtenção do voto do eleitor); e ocorrer durante o período eleitoral (entre a data
designada para a formulação do pedido de registro de candidaturas e a data das eleições).

O entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é de que a compra de um único voto é suficiente para
configurar o delito de captação ilícita de sufrágio, uma vez que o bem jurídico tutelado pelo dispositivo legal
é a livre vontade do eleitor (GOMES, 2020, p. 1005).

O fato precisa ser evidenciado de maneira inequívoca, mas não há necessidade de que haja pedido explícito
de voto por parte do candidato, conforme prevê o §1º, do art. 41-A: “para a caracterização da conduta ilícita,
é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de
agir”. Sendo o dolo específico, o especial fim de agir, resultado das circunstâncias do evento, do contexto em
que os fatos ocorreram, diante do comportamento e das relações dos envolvidos.

Embora a previsão legal se destine ao “candidato”, o entendimento do TSE 44 é de que não é imprescindível
que o ato ilícito obtenha efeito pelo candidato, podendo ser realizada de forma mediata, por interposta
pessoa, sendo necessário apenas que se demonstre a existência de participação no benefício ou que de
qualquer forma com ele tenha o candidato consentido. Assim, basta que a participação do candidato
beneficiado seja indireta, havendo sua anuência expressa ou tácita, desde que evidente e que tenha sido
demonstrado a existência de liame entre o agir do candidato e os fatos (conexão que pode decorrer até
mesmo de omissão).

Ainda, o beneficiário da captação deve ser o eleitor, ou seja, que tenha cidadania ativa. Isto porque se assim
não o for, não há perigo ou ameaça ao bem jurídico tutelado pela norma que é a liberdade de voto. Há de se
esclarecer que o bem ou vantagem pode ser usado em proveito de pessoa ligada ao eleitor, por exemplo:
um candidato faz a promessa, em troca de voto, de fornecer material de construção a algum parente ou
familiar de certo eleitor. Nesta situação, tem-se configurado o delito de captação ilícita de sufrágio.

Na hipótese de o próprio eleitor se insinuar ao candidato, solicitando-lhe vantagem em troca de voto,


configurar-se-á a conduta do artigo 229 do Código Eleitoral e não a do artigo 41-A da Lei Eleitoral: “Art. 299.
Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra
vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja
aceita: Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa”. Visto que a captação
ilícita de sufrágio corresponde à iniciativa do candidato e não a do eleitor.

Especificamente quanto a coação eleitoral, prevista no §2º, do art. 41-A, ela consiste na violência, física ou
moral, exercida contra alguém a fim de o compelir a praticar ato que contrarie a sua vontade. Impedindo a

44
(TSE – AAI nº 212- 84/SE – DJe 15-10-2014); (TSE – REspe nº 21.792/MG – DJ, 21-10-2005); (TSE – REspe nº 21.327/ MG – DJ 31-
8-2006); (TSE – AgRO nº 903/ PA – DJ 7-8-2006); (TSE – RO nº 2.098/ RO – DJe 4-8-2009).

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livre e espontânea expressão do querer do eleitor. Neste caso, o agressor atua no campo psicológico da
vítima, por meio de agressão e dirigindo-lhe ameaça iminente e grave, objetivando fomentar insegurança,
medo e temor. Tudo isso para fazer com que a vítima vote no candidato apontado pelo agressor. Para a
configuração do ilícito nesses moldes, necessária é a existência de violência ou grave ameaça, não bastando
ameaças vagas, indefinidas ou de impossível concretização.

A concretização da violência ou grave ameaça contra o eleitor, nos moldes do delito em estudo, enseja, além
do presente ilícito eleitoral, também constitui ilícito civil e criminal. Bem como, salienta-se que o ilícito
eleitoral restará configurado mesmo que a violência ou a grave ameaça sejam dirigidos à personalidade, ao
patrimônio, aos bens ou à família do eleitor.

Por fim, recordamos que o condenado, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado
da Justiça Eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, será inelegível para qualquer cargo pelo prazo de 8 (oito)
anos a contar da eleição. É o que prevê a Lei Complementar n.º 64/90, conhecida como Lei das
Inelegibilidades, que no de 2010 foi alterada pela Lei Complementar n.º135/2020, chamada Lei da Ficha
Limpa. Confira-se:

Art. 1º São inelegíveis:

I – para qualquer cargo: […]

e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento
da pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) […]

4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei
Complementar nº 135, de 2010) […]

j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado
da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação
ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em
campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito)
anos a contar da eleição; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

1.8 - DIREITO ELEITORAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Eleitoral, vamos discutir um assunto relevante, que
certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos estaduais: a ação de
impugnação ao pedido de registro de candidatura.

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1.8.1 - Ação De Impugnação Ao Pedido De Registro De Candidatura: Definição

A ação de impugnação ao pedido de registro é dedicada à impugnação de fatos anteriores ao registro da


candidatura, no prazo de 5 (cinco) dias, a contar da publicação do pedido respectivo.

1.8.2 - Ação De Impugnação Ao Pedido De Registro De Candidatura: Características

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura a que se referem os arts. 3º a 15 da Lei


Complementar nº 64/90 pode ser investigada sob seis ângulos.

Hipótese de cabimento: inexistência de condição de elegibilidade ou existência de causa de inelegibilidade.

Prazo da demanda: cinco dias, a partir da publicação do pedido de registro de candidatura.

Objeto: declaração de inelegibilidade e negação do registro, cancelamento do registro ou declaração de


nulidade da diplomação, conforme a impugnação seja anterior ao registro, eleição ou diplomação,
respectivamente.

Competência: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral ou Juízo Eleitoral, consoante o
demandado seja candidato aos cargos de Presidente da República; Governador de Estado, Senador da
República, Deputado Federal ou Deputado Estadual; Prefeito ou Vereador, respectivamente.

Legitimidade ativa: qualquer candidato, partido político ou coligação e Ministério Público Eleitoral.

Decisão de mérito: meramente declaratória e condenatória ou constitutiva, a depender do momento da


decisão da questão sob exame (GARCIA, Emerson. Abuso de Poder nas Eleições. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2004, p. 81).

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Atribuições do Ministério Público no ECA

Atribuições

O art. 201, do Estatuto, traz rol exemplificativo de atribuições do Ministério Público na área da infância e da
juventude, as quais passarão a ser analisadas na sequência:

I – conceder a remissão como forma de exclusão do processo: conforme já foi analisado quando
do estudo do procedimento de apuração do ato infracional, a remissão importa na adoção de um
procedimento diferenciado daquele ordinariamente previsto. Nesse sentido, a remissão poderá
acarretar a exclusão do processo ou, se já instaurado, na sua suspensão ou na extinção. No
primeiro caso (exclusão), tem-se a remissão ministerial, referida no inciso I, do art. 201. Nesta
situação, o Promotor de Justiça poderá propô-la, estando sujeita à homologação judicial. É
possível que a proposta seja acompanhada de pedido cumulativo de aplicação de medida
socioeducativa em meio aberto;

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II – promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes:


compete exclusivamente ao Ministério Público o ajuizamento da ação socioeducativa, não se
admitindo que a promoção ocorra pela vítima ou por terceiro;

III – promover e acompanhar os procedimentos da competência da Vara da Infância e da


Juventude: deverá o Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, intervir em todos os
processos que tramitarem perante a Vara da Infância e da Juventude, bem como promover
aqueles que forem necessários. A propósito, dispõe a Súmula 594, do STJ: “O Ministério Público
tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar
nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de
quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na
comarca”;

IV – promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a prestação de contas dos tutores,
curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e adolescentes em situação de risco:
o inciso IV se refere também à especialização da hipoteca legal, instituto não mais exigido,
conforme se verifica do art. 37, do Estatuto;

V – promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais,
difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência: a propósito, serão apresentadas
observações mais adiante;

VI – instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los: a) expedir notificações para


colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado,
requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar; b) requisitar informações,
exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração
direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias (vide próximo
inciso);

VII – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a instauração de


inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à
juventude:

Para o Estatuto, inquérito civil e procedimento administrativo stricto sensu confundem-se, ao


passo que a sindicância se refere a questões meramente criminais.

VIII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e
adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis: poderá o Parquet não
apenas adotar medidas judiciais, como também deverá valer-se de alternativas extrajudiciais,
como pode ocorrer com a recomendação, que se constitui no “instrumento de atuação
extrajudicial do Ministério Público por intermédio do qual este expõe, em ato formal, razões
fáticas e jurídicas sobre determinada questão, com o objetivo de persuadir o destinatário a
praticar ou deixar de praticar determinados atos em benefício da melhoria dos serviços públicos
e de relevância pública ou do respeito aos interesses, direitos e bens defendidos pela instituição,

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atuando, assim, como instrumento de prevenção de responsabilidades ou correção de


condutas”45 (art. 201, § 5º, “c”, Estatuto);

IX – impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância


ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao
adolescente: o Parquet poderá ajuizar aludidas ações em prol da defesa dos direitos da criança e
do adolescente;

XI – inspecionar as entidades de atendimento, adotando as medidas administrativas e judiciais


necessárias à remoção das irregularidades: as entidades de atendimento são aquelas
responsáveis pela execução de programas socioeducativos e de proteção. Juntamente com a
autoridade judiciário e o conselho tutelar, compete ao Ministério Público inspecioná-las e, se o
caso, adotar as medidas necessárias para afastar as irregularidades existentes, tendo livre acesso
a todo local onde se encontrar criança e adolescente;

XII – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares,
educacionais e de assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas
atribuições.

Intervenção do Ministério Público

Dispõe o art. 204, do Estatuto, que “a falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito,
que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado”.

Ocorre que o dispositivo deve ser analisado em conformidade com o art. 279, do CPC/2015, o qual,
encampando o princípio da primazia do julgamento do mérito e do máximo aproveitamento dos atos
processuais, traz regramento importante a respeito do tema.

Nesse sentido, de fato, é nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a
acompanhar o feito em que deva intervir. Contudo, a nulidade somente poderá ser decretada após a
intimação do próprio Parquet, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo.

Assim, seguindo-se a regra geral, a nulidade somente será reconhecida se presente prejuízo.

45
https://www.cnmp.mp.br/portal/todas-as-noticias/10240-publicada-recomendacao-que-disciplina-expedicao-de-
recomendacoes-pelo-
mp#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20norma,determinados%20atos%20em%20benef%C3%ADcio%20da. Acesso em
03.02.2021.

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1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO

1.10.1 - Preferência do Crédito Tributário na Falência

O Código Tributário Nacional disciplina o grau de preferência atribuído ao crédito tributário quando
comparado com os créditos provenientes de outras fontes, como de relações trabalhistas ou contratuais. A
regra geral que disciplina o tema se encontra inserida no caput do artigo 186 do Código Tributário Nacional,
que dispõe no seguinte sentido:

Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de
sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente
de trabalho. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Portanto, como regra geral, o crédito tributário prefere a qualquer outro, independentemente da natureza
ou do tempo da sua constituição, ressalvados apenas os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou
do acidente de trabalho46.

Um exemplo auxilia a compreender o dispositivo: Imaginemos que o sujeito passivo X possui diversas dívidas.
Ele deve R$ 200.000,00 para uma instituição financeira, R$ 150.000,00 para os seus empregados e R$
100.000,00 para a União Federal, referente a tributos inadimplidos. A dívida da instituição financeira foi
garantida por meio de hipoteca de um imóvel de sua propriedade. Os demais débitos não se encontram
garantidos. Passado algum tempo sem que o sujeito passivo fizesse o pagamento voluntário, a instituição
financeira ingressou com a ação de execução, requerendo a penhora e a arrematação do imóvel hipotecado.
Igual medida foi tomada pelos empregados e pela União Federal, que nas suas ações de execução
penhoraram o bem imóvel hipotecado pela instituição financeira. Não foram encontrados outros bens de
propriedade do executado. O imóvel foi arrematado por R$ 250.000,00. Nessa perspectiva, como deve ser
repartido o valor arrecadado?

Por força do artigo 186 do Código Tributário Nacional, a preferência é dos créditos decorrentes da legislação
do trabalho. Assim, os empregados devem receber o valor de R$ 150.000,00, o que representa a quitação da
dívida com relação a eles. O valor remanescente, de R$ 100.000,00, deve ser repassado para a União Federal,
por se tratar de dívida de natureza tributária. Como houve o esgotamento do valor arrecadado, nada é
repassado à instituição financeira.

46
Há entendimento no sentido de que esse dispositivo seria parcialmente inconstitucional, porque os créditos de natureza
alimentícia também teriam preferência sobre o crédito tributário. Nesse sentido, já decidiu o TRF da 4ª Região:
“INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DO ARTIGO 186 DO CTN 1. O dispositivo em comento fere a Constituição Federal, ainda que
de forma parcial, já que atenta contra o princípio de proteção prioritária assegurado à criança e ao adolescente (art. 227 CF);
contra o dever de assistência imposto pelo artigo 229 da CF; bem como consagra, em situações como a dos autos, tratamento
anti-isonômico, conferindo maior proteção aos empregados que aos filhos do indivíduo. 2. Incidente de arguição de
inconstitucionalidade acolhido” (TRF4, Corte Especial, ARGINC 2009.04.00.033108-1, Rel. Luciane Amaral Corrêa Münch, DE 14-9-
2010).

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Embora essa seja a regra sobre a preferência do crédito tributário, há importante exceção, constante do
parágrafo único do artigo 186, que disciplina a ordem de preferência no caso de falência:

Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de
sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente
de trabalho. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Parágrafo único. Na falência: (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias passíveis de


restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com garantia real, no limite do valor
do bem gravado; (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos decorrentes da
legislação do trabalho; e (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

III – a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados. (Incluído pela Lcp nº 118, de
2005)

Por força do inciso III do artigo 186, que deve ser interpretado em conjunto com o artigo 124 da Lei
11.101/200547, no caso de falência do devedor há a necessidade de fracionamento do crédito tributário em
três partes: a) valor do tributo acrescido de correção monetária e juros até a data da falência; b) valor das
multas tributárias; c) valor dos juros moratórios vencidos após a decretação da falência.

As multas tributárias preferem apenas aos créditos subordinados na falência, ou seja, são pagas somente se
os créditos das seguintes classes forem satisfeitos: i) créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a
150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; ii) créditos
com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado; iii) valores devidos a título de tributo,
correção e juros vencidos até a data da quebra; e iv) créditos quirografários.

Os juros moratórios vencidos após a decretação da falência possuem posição ainda menos privilegiada,
conforme evidenciam os artigos 83, inciso IX e 124, ambos da Lei 11.101/2005:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: [...]

IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei.
(Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência,

47
Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, previstos em lei ou em contrato,
se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados.

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previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores
subordinados.

Assim, eles somente são pagos se todos os credores subordinados também o forem, o que é algo bastante
raro na prática.

O valor devido a título de tributo acrescido de correção monetária e juros até a data da falência possui
preferência sobre a maior parte dos créditos, salvo com relação: i) aos créditos extraconcursais; ii) às
importâncias passiveis de restituição; iii) aos créditos decorrentes da legislação do trabalho ou de acidente
do trabalho, no limite estabelecido pela legislação; iv) aos créditos com garantia real, no limite do valor do
bem gravado.

Os créditos extraconcursais (i) são aqueles que dizem respeito às obrigações ocorridas após a falência ou
durante o curso da recuperação judicial, conforme enuncia o artigo 84 da Lei 11.101/2005:

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os
mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, aqueles relativos: (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)

I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo financiador, em


conformidade com o disposto na Seção IV-A do Capítulo III desta Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)

I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art. 86 desta Lei;
(Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, aos reembolsos
devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos derivados da legislação trabalhista ou
decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da
falência; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial,
nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)

II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)

III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do seu produto
e custas do processo de falência; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido vencida;
(Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

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V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a
ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

§ 1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas pelo administrador
judicial com os recursos disponíveis em caixa. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

§ 2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 desta Lei. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020).

O dispositivo foi alterado pela Lei nº 14.112/2020, que ampliou o rol de créditos considerados como
extraconcursais, além de ter alterado a ordem de preferência entre eles. A remuneração do administrador
judicial, por exemplo, cedeu preferência às quantias mencionadas nos artigos 15048 e 15149; ao valor que
eventual financiador tenha efetivamente entregado ao devedor durante a recuperação judicial50; bem como
aos créditos que constituam objeto de restituição em dinheiro, de acordo com o artigo 86.

Ademais, o legislador conferiu maior importância às obrigações assumidas durante a recuperação judicial,
que devem ser satisfeitas logo após o pagamento do administrador judicial. A mudança foi realizada pelo
seguinte motivo: anteriormente, essa classe era a última dentre os créditos extraconcursais, o que
desincentiva instituições financeiras e fornecedores a fornecerem créditos a pessoa jurídica recuperada, pelo
receio de que a empresa falisse e os valores não fossem recuperados. Com o novo regramento, objetiva-se
facilitar a obtenção de créditos pela pessoa jurídica em recuperação.

As importâncias passíveis de restituição (ii) concernem àqueles bens ou direitos que sequer são de
propriedade do falido, razão pela qual não podem ser utilizados para satisfação do crédito tributário. Na
redação originária da Lei de Falências, tais quantias não faziam parte do rol dos créditos considerados
extraconcursais, o que justificativa sua inclusão como uma modalidade autônoma na previsão do artigo 186
do CTN. Com o advento da Lei nº 14.112/2020, tais importâncias agora possuem o status de crédito
extraconcursal, de forma que a disposição do artigo 186, parágrafo único, inciso I do CTN tornou-se
redundante sob este aspecto.

Exemplo bastante corriqueiro de importância passível de restituição é do bem alienado fiduciariamente ao


falido. Embora o devedor tenha a posse, a propriedade é do credor fiduciário, que tem o direito de pedir a
sua restituição ao juízo falimentar.

48
Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência, inclusive na hipótese de
continuação provisória das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, serão pagas pelo administrador judicial
com os recursos disponíveis em caixa.
49
Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da
falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa.
50
A positivação da possibilidade de celebração de contratos de financiamento pelo devedor em recuperação judicial trata-se de
inovação trazida pela Lei nº 14.112/2020. O tema foi inserido na Lei nº 11.101/2005 por meio dos artigos 69-A a 69-F, prevendo,
entre outras coisas, que o financiamento poderá ser realizado por qualquer pessoa, inclusive credores, familiares, sócios e
integrantes do grupo do devedor; bem como que qualquer pessoa ou entidade poderá garantir o financiamento, inclusive o
próprio devedor, por meio da oneração ou a alienação fiduciária de bens e direitos.

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Diferentemente do que ocorre quando não há a falência do devedor, os créditos com garantia real têm
preferência sobre o crédito tributário na falência, até o limite do valor do bem gravado (iii).

Assim, imaginemos que o devedor falido X possui diversas dívidas. Ele deve R$ 200.000,00 para um credor
hipotecário (instituição financeira), R$ 100.000,00 para a União Federal, referente a tributos inadimplidos, e
R$ 1.000.000,00 para fornecedores sem qualquer garantia. Supomos que o único bem de sua propriedade
seja justamente aquele que foi hipotecado, o qual foi arrematado na falência pelo valor de R$ 250.000,00.
Nessa perspectiva, como deve ser repartido o valor arrecadado?

Por força da regra do inciso I do artigo 186, a preferência é do credor com garantia real, no caso a instituição
financeira, que deve receber a quantia de R$ 200.000,00. O valor remanescente, de R$ 50.000,00, deve ser
repassado à União Federal, o que implica apenas na quitação parcial dos tributos devidos. Os fornecedores,
por outro lado, nada recebem.

Os créditos decorrentes da legislação trabalhista ou de acidente do trabalho (iv) mantêm, também na


falência, a preferência sobre o crédito tributário, mas com uma diferença. Nesse caso, a lei pode estabelecer
limites para fruição da preferência, o que efetivamente o fez com a edição da Lei 11.101/2005, cujo artigo
83 dispõe no seguinte sentido:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-


mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020) [...]

Os créditos trabalhistas que excederem ao limite de 150 salários-mínimos são quirografários, não preferindo
ao crédito tributário, conforme determina o inciso VI, alínea c do artigo 83 da Lei 11.101/2005.

Tudo o que dissemos vale para os créditos tributários que se submetem ao concurso de credores, porque
seus fatos geradores ocorreram antes da falência. Mas há também os créditos tributários extraconcursais,
provenientes de obrigações surgidas após a decretação da falência do devedor, do que é exemplo o IPTU
incidente sobre os imóveis do falido. Sobre o tema, colacionamos o artigo 188 do Código Tributário Nacional
e o artigo 84, inciso V, da Lei 11.101/2005:

Código Tributário Nacional

Art. 188. São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos no
curso do processo de falência. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

§ 1º Contestado o crédito tributário, o juiz remeterá as partes ao processo competente,


mandando reservar bens suficientes à extinção total do crédito e seus acrescidos, se a massa não
puder efetuar a garantia da instância por outra forma, ouvido, quanto à natureza e valor dos bens
reservados, o representante da Fazenda Pública interessada.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se aos processos de concordata.

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Lei 11.101/2005

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os
mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, aqueles relativos: (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020) [...]

V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a
ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) [...]

Os créditos extraconcursais são pagos prioritariamente sobre todos os créditos concursais. Assim, por
exemplo, entre o pagamento do IPTU que incidiu após a falência e os valores provenientes das obrigações
trabalhistas geradas antes da quebra, deve-se pagar em primeiro lugar o crédito do IPTU.

Em existindo mais de um crédito extraconcursal, deve-se observar a ordem prevista pelo artigo 84 do Código
Tributário Nacional.

1.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

1.11.1 - Legitimidade do Ministério Público do Trabalho nas demandas coletivas

O Ministério Público do Trabalho integra o Ministério Público da União, na forma do art. 128, I, ‘b’ da
Constituição, sendo regido pela LC 73/93. Nessa formatação, possui o MPT legitimidade para instauração do
inquérito civil e propositura de ações coletivas na esfera trabalhista, em especial por conta da EC 45,
conhecida como reforma do Judiciário, que reforçou as competências da Justiça do Trabalho. As funções
institucionais do Ministério Público do Trabalho, além de compreendidas genericamente no art. 129 da
Constituição (levando-se em consideração o inciso III), são mencionadas pelo art. 83 da LC 75/93, da qual se
destaca:

Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto
aos órgãos da Justiça do Trabalho: III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do
Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos; III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do
Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos;

Desta forma, forçoso reconhecer a inserção do MP em temas de direitos coletivos, dentro do microssistema
processual coletivo, inclusive por entendimento do Supremo Tribunal Federal:

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Processual do Trabalho. 3.


Ação Civil Pública. Ministério Público do Trabalho. Legitimidade para defesa de direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos. Precedentes desta Corte. 4. Violação aos princípios do
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. Ofensa reflexa. ARE-RG 748.371. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento. ARE 1057601 AgR. Min. Gilmar Mendes.
10/10/2017.

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Desta forma, utiliza-se o MPT dos conceitos previstos no art. 81 do Código de Defesa do Consumidor,
devendo interpretá-los à luz da matéria trabalhista especializada, podendo, para tanto, fazer valer os
procedimentos administrativos tradicionais voltados à defesa dos direitos difusos e coletivos.

1.11.2 - Legitimidade do Ministério Público Militar nas demandas coletivas

O Ministério Público Militar integra o Ministério Público da União, na forma do art. 128, I, ‘d’ da Constituição,
sendo regido pela LC 75/93. O MPM atua em matéria altamente especializada, notadamente afeta aos órgãos
da Justiça Militar. Não obstante esta especialização, a Constituição não o veda como parte legítima para o
ajuizamento de demandas coletivas. Todavia, em razão de sua especialidade, a interpretação deve ser mais
restritiva do que a relacionada ao MPT, mesmo porque a LC 75/93, quando trata de atribuições específicas
do MPM, nada menciona sobre demandas coletivas. De qualquer sorte, as funções institucionais do
Ministério Público previstas no art. 129 da Carta Magna aproveitam a todos os ramos do MP, na medida de
suas particularidades. É como vem se inclinando a jurisprudência:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MINISTÉRIO PÚBLICO


MILITAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. 1. In casu,o Ministério Público Militar
ajuizou ação civil pública para compelir às Forças Armadas, em todo o território nacional, a não
utilizar os militares subalternos em atividades domésticas na residência de seus ofciais
superiores. O MM. Juízo a quo considerou que a competência do MPM está restrita ao disposto
nos arts. 116 e 117, da LC n° 75/93, onde não se encontra a ação civil pública, de modo que o
MPM não teria legitimidade ativa para o feito. O art. 128, da CF/88, refere-se ao Ministério
Público como instituição, abrangendo tanto o
Ministério Público da União e seus desdobramentos (Ministério Público Federal, Ministério
Público Militar, Ministério público do Trabalho e Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios) quanto o Ministério Público dos Estados. Da mesma forma ocorre no art. 129, CF/88,
o qual estabelece as suas funções institucionais, dentre estas a promoção da Ação Civil Pública,
“para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos
e coletivos”. Ademais, nos termos do § 5°, do art. 128, CF/88, lei complementar estabeleceria a
organização, as atribuições e o
estatuto de cada Ministério Público. Assim, foi editada a Lei Complementar n° 75/93, que dispõe
sobre o Ministério Público da União e seus desdobramentos. Nos seus arts. 116 e 117, o referido
diploma legal estabelece as atribuições do Ministério Público Militar. Entretanto, não sé pode
olvidar que as funções institucionais do Ministério Público, na qual está abrangido o Ministério
Público
Militar, vêm estabelecidas constitucionalmente. Portanto, da exegese do art. 129, da CF/88,
constata-se que é função do Ministério Público Militar, também, a promoção da Ação Civil
Pública, no âmbito da Justiça Militar. Perante a Justiça Federal, quem detém a legitimidade ativa
é o Ministério Público Federal. Pode o Ministério Público Militar, somente, atuar como
litisconsorte ativo facultativo no presente feito. 2. Provimento da apelação. Tribunal Regional
Federal da 4ª Região. Apelação Cível nº 2008.71.02.004712-8/RS, Relator Des. Federal CARLOS
EDUCARDO THOMPSON FLORES LENZ, Acórdão publicado em 07/05/2009.

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1.12 - DIREITO EMPRESARIAL

1.12.1 - Prepostos, Gerente e Contabilistas

Prepostos

Preposto, como o próprio nome sugere, é aquele que foi “pré” “posto” diante daquela situação, ou seja, foi
escolhido anteriormente para realizar determinada atividade na empresa. Trata-se de pessoa
devidamente nomeada para representar a empresa em seus atos, auxiliar subordinado/dependente, que
não se confunde com o simples empregado do empresário. Possui a legitimidade para representar o
empresário, como apontam MARLON TOMAZETTE e ARNOLDO WALD.

Poderá o preposto ter vínculo empregatício ou não com a empresa, sendo colaborador permanente ou
temporário.

Existem algumas regras a serem seguidas na relação entre preposto e a empresa, como, por exemplo, o
fato de que sua atividade será indelegável (com exceção dos casos onde a delegação é expressamente
permitida)

Além do mais, a atuação do preposto é exclusiva, de modo que ele não poderá fazer negócios por contra
própria, entretanto, se o fizer responderá por perdas e danos causados e terá que dar o lucro do negocio ao
preponente.

Art. 1.169. CC O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir no desempenho
da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do substituto e pelas obrigações
por ele contraídas.

Art. 1.170. CC O preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por conta própria ou
de terceiro, nem participar, embora indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe
foi cometida, sob pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo preponente os
lucros da operação.

Outro ponto de destaque, é que se ao preposto for entregue papel, bem ou valor, sem que haja feito a
recusa do seu recebimento, ele se tornará responsável por aquilo que lhe foi entregue, salvo no caso de
existir lei autorizando o preposto, dentro do prazo, reclamar sobre a entrega.

Art. 1.171. CC Considera-se perfeita a entrega de papéis, bens ou valores ao preposto,


encarregado pelo preponente, se os recebeu sem protesto, salvo nos casos em que haja prazo
para reclamação.

Gerente

Não se confunde com sócio administrador, uma vez que este deve ser nomeado no contrato ou no estatuto
para exercer a administração da sociedade, já ao gerente incumbe a gestão do dia a dia da empresa.

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São reconhecidos como os prepostos permanentes no exercício da empresa (atividade empresarial), na sede
desta, ou em sucursal, filial ou agência, e:

(a) o gerente pode praticar todos os atos de administração ordinária dentro da área de atuação que lhe foi
atribuída pelo empresário (art. 1.173, caput, CC);

(b) as limitações contidas na outorga de poderes aos gerentes, para serem opostas a terceiros, dependem
do arquivamento e averbação do instrumento na Junta Comercial, salvo se provado serem conhecidas da
pessoa que tratou com o gerente (art. 1.174, caput, CC);

(c) o empresário (preponente) responde com o gerente pelos atos que este (gerente/preposto) praticar em
seu próprio nome, mas à conta do empresário (art. 1.175 CC);

(d) o gerente detém legitimidade processual para atuar em nome do empresário (art. 1.176 CC).

O gerente, ainda, está autorizado a praticar todos os atos que entender necessário ao exercício dos poderes
que lhe delegaram, salvo se houver disposição legal impondo autorização com poderes especiais, divididos
em:

(1) Poderes Limitados: só se consideram válidas as limitações impostas diante de terceiros que tratarem
com ele após averbado e arquivado o instrumento de sua nomeação no registro da empresa na junta
comercial, se for o caso.

Art. 1.174. CC As limitações contidas na outorga de poderes, para serem opostas a terceiros,
dependem do arquivamento e averbação do instrumento no Registro Público de Empresas
Mercantis, salvo se provado serem conhecidas da pessoa que tratou com o gerente.

(2) Responsabilidade Concorrente: em vista dos atos por ele praticados dentro dos limites de seus poderes,
ou que haja praticado em nome do preponente e ainda em relação aos atos que praticou em seu nome mas
sob responsabilidade do preponente, e que, notadamente, responderá em conjunto com o preponente.

Art. 1.175. CC O preponente responde com o gerente pelos atos que este pratique em seu
próprio nome, mas à conta daquele.

(3) Comparecimento Judicial: O gerente está autorizado a comparecer perante a justiça em nome do
preponente, pelas obrigações devidas do exercício de sua função como preposto.

Art. 1.176. CC O gerente pode estar em juízo em nome do preponente, pelas obrigações
resultantes do exercício da sua função.

Contabilista

O contador e o técnico de contabilidade ou, simplesmente, os chamados contabilistas, são os profissionais


inscritos no Conselho Regional de Contabilidade, formados em cursos de Graduação ou Técnico. Em razão
da obrigatoriedade da manutenção da escrituração e dos levantamentos contábeis periódicos, o contabilista
tem grande importância na atividade empresarial.

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Também é considerado preposto da empresa, visto que exerce sua representação.

Características aplicáveis ao contrato de preposição

(a) RELAÇÃO PERSONALÍSSIMA: os encargos decorrentes da posição devem ser exercidos pessoalmente
pelo preposto, salvo se houver autorização em sentido contrário pelo preponente;

(b) VINCULAÇÃO DO PREPONENTE: na atuação do preposto, quem fica vinculado é o preponente


(empresário);

(c) DEVER DE LEALDADE:

“Art. 1.170 do CC. O preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por conta própria
ou de terceiro, nem participar, embora indiretamente, de operação do mesmo gênero da que
lhe foi cometida, sob pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo preponente
os lucros da operação.”

Sua vinculação ao empresário por meio de um contrato de trabalho sob a espécie contrato de preposição,
que constitui contrato autônomo.

O preposto tem no parágrafo único do art. 1.177 do Código Civil maneiras a definir a sua responsabilidade
pelos atos culposos perante o preponente, e, solidariamente, com o preponente pelos atos dolosos
praticados contra terceiros.

Art. 1.177 CC Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente
responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente
com o preponente, pelos atos dolosos.

1.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Legislação Institucional do Ministério Público, vamos
discutir um assunto relevante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos
Ministérios Públicos estaduais: a ação penal pública.

1.13.1 - Ação Penal Pública: Definição

A titularidade da ação penal pública condenatória é definida como “primeiro fator de proteção das
liberdades públicas”, na medida em que, no sistema acusatório, a imparcialidade da autoridade judiciária
competente é preservada pela legitimação ativa do Ministério Público para a deflagração da persecução
criminal, com alicerce no art. 129, inc. I, da Constituição da República, regulado pelo art. 24 do Código de
Processo Penal (MARREY, Luiz Antonio Guimarães. O Ministério Público e a Tutela das Liberdades Públicas.
Justitia, nº 131, 1985, p. 317).

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1.13.2 - Ação Penal Pública: Características

Não há monopólio da ação penal pública nos ordenamentos jurídicos em geral, a partir da consubstanciação
da ação penal privada subsidiária da pública para a condenação por crimes de ação penal pública, caso a
denúncia não tenha sido oferecida no prazo legal, devendo o Parquet aditar a queixa, repudiá-la e oferecer
denúncia substitutiva, intervir em todos os atos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso
e, na hipótese de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

1.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR

1.14.1 - Teses recentes do Superior Tribunal de Justiça

Jurisprudência em Teses edição 162

7) A responsabilidade da instituição financeira deve ser afastada quando o evento danoso decorre de
transações realizadas com a apresentação física do cartão original e mediante uso de senha pessoal do
correntista.

O rompimento do nexo de causalidade na relação de consumo isenta o fornecedor de produtos e serviços.


No caso da tese do STJ, não obstante os comandos protetivos do CDC, a instituição financeira não pode ser
responsabilizada por algo que está fora da cadeia de consumo formal. É responsabilidade do consumidor a
guarda e o uso do original do cartão e senha, devendo comunicar aos órgãos competentes e cancelar o cartão
caso haja algum infortúnio. Assim, no caso de culpa exclusiva do consumidor, a responsabilidade objetiva do
fornecedor de produtos e serviços resta afastada. Nesse sentido se posiciona o STJ:

[...] Hipótese em que o Tribunal de origem, examinando as circunstâncias da causa, considerou


que os alegados prejuízos decorrentes dos saques realizados na conta corrente da pessoa jurídica
autora decorreriam de sua própria culpa, uma vez que, embora efetuados por sócio não
autorizado, foram realizados mediante o uso do cartão físico e respectiva senha. Acórdão em
consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Súmula 83/STJ. [...] AgInt no
AREsp 1626902 / MG. Min. Raul Araújo. DJe 23/09/2020

É a dicção do art. 14, §3º, II do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 3° O
fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: II - a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro.

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2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

Vamos lá!

2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. A organização judiciária dos Territórios pode ser objeto de projeto de lei de iniciativa:
a) Geral.
b) Reservada ao Supremo Tribunal Federal.
c) Reservada ao Presidente da República.
d) Reservada ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
e) Concorrente.

Comentários

À luz do art. 61, § 1º, inc. II, “b”, da Constituição da República, a iniciativa dos projetos de lei que disponham
sobre a organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal
da administração dos Territórios é reservada ao Presidente da República.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa C.

Questão 2. Os Tribunais de Justiça Militar, caso tenham sido instituídos, pertencem a:

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a) Justiça Militar Federal.


b) Justiça Estadual Comum.
c) Justiça Militar Estadual.
d) Justiça Federal Comum.
e) Justiça Militar Municipal.

Comentários

A Justiça Militar Estadual é composta pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar, cuja instituição
é discricionária nos Estados em que o efetivo militar seja superior a 20 mil integrantes, Conselhos de Justiça
Militar, sob a presidência do Juiz-Auditor, e Juízos de Direito, contidos nos limites da circunscrição judiciária,
nas regras do art. 125, §§ 3º a 5º, da Constituição Federal.

Nessa ordem de ideias, o Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar dispõem de competência para
processar e julgar, originariamente, a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças,
motivo pelo qual a alternativa C está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Perda de graduação de praça da polícia militar. Sanção disciplinar administrativa. Esta Corte já
firmou o entendimento de que a perda de graduação de praça da polícia militar, como sanção
disciplinar administrativa, não se dá por meio de julgamento da Justiça Militar Estadual, mas
mediante processo administrativo na própria corporação, assegurando-se direito de defesa e o
contraditório (...). No caso, por equivocada interpretação do acórdão desta Corte prolatado no
RE 121.533, o Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo se deu por competente para
julgar a perda de graduação de praça provocado por meio de representação do Comandante
Geral da Corporação diante do apurado em processo disciplinar sumário. Essa questão de
competência, no entanto, não é objeto do presente recurso extraordinário. Falta de
prequestionamento das alegadas ofensas ao caput e aos incisos X e LIII do art. 5º da Constituição.
Improcedência das alegações de violação aos incisos LIV, LV, LXI e LXIII do art. 5º da Carta Magna.
Recurso extraordinário não conhecido” (STF, RE nº 206.971, Rel. Min. Moreira Alves, J.
18.04.2000, DJU 09.06.2000).

Questão 3. O órgão responsável pelo controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário
e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes é o:
a) Conselho Federal de Justiça.
b) Conselho Nacional da Magistratura.
c) Supremo Tribunal Federal.
d) Conselho Federal da Magistratura.
e) Conselho Nacional de Justiça.

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O Conselho Nacional de Justiça é responsável pelo controle da atividade administrativa e financeira dos
órgãos jurisdicionais, assim como do cumprimento dos deveres funcionais das autoridades judiciais.

O controle administrativo é exibido pela apreciação, de ofício ou mediante provocação, da legalidade dos
atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, com possibilidade de
desconstituição, revisão ou fixação de prazo para que se adotem as providências necessárias ao
cumprimento da lei (art. 103-B, § 4º, inc. II, in fine).

O controle financeiro é exposto pela fiscalização da aplicação de recursos e assunção de obrigações, de


acordo com os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias (art. 103-B, § 4º, initio).

O controle disciplinar é exteriorizado pelo recebimento e conhecimento de reclamações contra membros ou


órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias, notários e oficiais de registro
e de seus prepostos, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da Instituição, podendo avocar
processos disciplinares em curso, determinar a remoção, disponibilidade ou aposentadoria com subsídios ou
proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, bem como da revisão,
de ofício ou mediante provocação, dos processos disciplinares de juízes, desembargadores ou ministros
julgados há menos de um ano (art. 103-B, § 4º, incs. III e V, todos da Constituição da República).

Em razão disso, a alternativa E está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa reconhecida. ANAMATRA e AJUFE.


Resolução nº 184, do Conselho Nacional de Justiça, de 6 de dezembro de 2013. Regulamentação
pelo CNJ da criação de cargos, funções e unidades judiciárias no âmbito do Poder Judiciário. Está
inserido no complexo de atribuições do CNJ o controle da atuação administrativa e financeira
do Poder Judiciário. Exigência de parecer do CNJ a respeito de anteprojetos de lei garante que o
melhor interesse público seja atendido. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente” (STF, ADI nº 5.221, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 22.09.2020, DJU 06.10.2020).

Questão 4. Sobre o funcionamento do Poder Judiciário, assinale a alternativa incorreta:


a) Aos Tribunais de Justiça compete julgar os juízes estaduais, nos crimes comuns e de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
b) Ao Superior Tribunal de Justiça compete homologar sentenças estrangeiras e conceder exequatur às cartas
rogatórias.
c) Não há prerrogativa de função para processo e julgamento de ação popular.
d) Ao Supremo Tribunal Federal compete resolver incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal, em qualquer fase do inquérito ou processo, com a finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.
e) Aos Juízes de Direito compete julgar as causas nas quais sociedades de economia mista federais figurem
como interessadas.

Comentários

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Considerando que ao Superior Tribunal de Justiça compete resolver incidente de deslocamento de


competência para a Justiça Federal, em qualquer fase do inquérito ou processo, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, de acordo com o art. 109, § 5º, da Constituição da República, evidencia-se incorreta
a alternativa D.

De outro giro, estão corretas as demais alternativas, a partir da constatação de que aos Tribunais de Justiça
compete julgar os juízes estaduais, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral (art. 96, inc. III); ao Superior Tribunal de Justiça compete homologar sentenças estrangeiras
e conceder exequatur às cartas rogatórias (art. 195, inc. I, “i”); não há prerrogativa de função para processo
e julgamento de ação popular (art. 5º, inc. LXXIII) e aos Juízes de Direito compete julgar as causas nas quais
sociedades de economia mista federais figurem como interessadas (art. 109, inc. I).

Questão 5. No que se refere às garantias do Poder Judiciário, com destaque à vitaliciedade conectada à
noção de independência, marque a alternativa correta:
a) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque, com a vitaliciedade, ocorre a estabilidade
perpétua do magistrado.
b) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque, com a vitaliciedade, os magistrados só
perdem o cargo havendo sentença judicial transitada em julgado.
c) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque a vitaliciedade se adquire tão logo ocorra
o exercício do cargo.
d) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque a vitaliciedade só se aplica ao juiz de
carreira, não se estendendo aos advogados que integram a carreira da magistratura pela regra do quinto
constitucional.
e) Diz-se garantia de independência dos órgãos judiciários porque, com a vitaliciedade, o magistrado só
perde o cargo quando ocorre decisão da mais Alta Corte do País.

Comentários

Os magistrados gozam da garantia da vitaliciedade, que, no primeiro grau, só é adquirida após 2 (dois) anos
de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver
vinculado, e, nos demais casos, de decisão judicial transitada em julgado, como dispõe o art. 95, inc. I, da
Constituição Federal.

Deve o candidato assinalar a alternativa B, portanto.

JURISPRUDÊNCIA

“Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado-membro dispõem dos mesmos predicamentos


que protegem os magistrados, notadamente a prerrogativa jurídica da vitaliciedade (CF, art. 75
c/c o art. 73, § 3º), que representa garantia constitucional destinada a impedir a perda do cargo,
exceto por sentença judicial transitada em julgado (...). Conforme restou comprovado, o ato
reclamado afastou o reclamante cautelarmente de suas funções, sem decretar-lhe a perda do

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cargo. Tal medida é possível” (STF, Rcl-AgR nº 17.557, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 09.06.2014,
DJU 13.06.2014).

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Marque a alternativa correta de acordo com os mais recentes posicionamentos do STJ:
a) Pessoa Jurídica de Direito Público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação
da honra ou da imagem.
b) Os juros compensatórios observam o percentual vigente no momento de sua incidência.
c) Os editais de licitação ou pregão podem conter cláusula prevendo percentual mínimo referente à taxa de
administração.
d) Implica nulidade do processo administrativo, decorrente da inobservância do direito à não
autoincriminação, quando a testemunha, até então não envolvida, noticia elementos que trazem para si
responsabilidade pelos episódios em investigação.

Comentários

Letra A – Errada – De acordo com o STJ, no julgamento do REsp 1.722.423-RJ, a Pessoa Jurídica de Direito
Público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem, quando
a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em
geral for evidente.

Letra B – CERTO – De acordo com o STJ, Os juros compensatórios observam o percentual vigente no
momento de sua incidência.

Letra C – Errado – Segundo fixado pelo STJ, Os editais de licitação ou pregão não podem conter cláusula
prevendo percentual mínimo referente à taxa de administração, sob pena de ofensa ao artigo 40, inciso X,
da Lei n. 8.666/1993.

A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão fere expressamente


a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei n. 8.666/1993, que veda "a fixação de preços mínimos, critérios
estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de referência".

A própria Lei de Licitações, a exemplo dos §§ 1º e 2º do art. 48, prevê outros mecanismos de combate às
propostas inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia adicional, tal
como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária.

Sendo o objetivo da licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração - consoante
expressamente previsto no art. 3º da Lei n. 8.666/1993 -, a fixação de um preço mínimo atenta contra esse
objetivo, especialmente considerando que um determinado valor pode ser inexequível para um licitante,
porém exequível para outro.

Deve a Administração Pública, portanto, buscar a proposta mais vantajosa; em caso de dúvida sobre a
exequibilidade, ouvir o respectivo licitante; e, sendo o caso, exigir-lhe a prestação de garantia. É o que dispõe

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a Súmula 262/TCU: "O critério definido no art. 48, inciso II, § 1º, alíneas 'a' e 'b', da Lei n. 8.666/1993 conduz
a uma presunção relativa de inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar à licitante a
oportunidade de demonstrar a exequibilidade da sua proposta."

Cuida-se a escolha da taxa de administração de medida compreendida na área negocial dos interessados, a
qual fomenta a competitividade entre as empresas que atuam nesse mercado, em benefício da obtenção da
melhor proposta pela Administração Pública.

Portanto, a interpretação mais adequada da Lei n. 8.666/1993, especialmente dos arts. 40, inciso X, e 48, §§
1º e 2º, conduz à conclusão de que o ente público não pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão
prevendo percentual mínimo referente à taxa de administração, havendo outros mecanismos na legislação
aptos a resguardar a Administração Pública de eventuais propostas inexequíveis.

Letra D – Errada – De acordo com o STJ, Não implica nulidade do processo administrativo, decorrente da
inobservância do direito à não autoincriminação, quando a testemunha, até então não envolvida, noticia
elementos que trazem para si responsabilidade pelos episódios em investigação.

Cinge-se a controvérsia em saber se o fato de o impetrante ter prestado, inicialmente, depoimento na


qualidade de testemunha (dando conta de seu ilícito funcional), mas vindo, depois, a ser sancionado pela
autoridade impetrada, erige-se em ocorrência capaz de gerar a nulidade do respectivo PAD, por alegada
violação à cláusula vedatória da autoincriminação (nemo tenetur se detegere).

Consoante anotou o Ministro Herman Benjamin, em hipótese assemelhada, no âmbito do MS 20.693/DF: "a
questão não é saber se deveria ou não ter sido assegurado direito a não incriminação àquele que já se sabe
implicado nos fatos, quando da tomada do depoimentos", mas sim "se é caso de anulação de processo
administrativo quando a testemunha, até então não envolvida, noticia elementos que trazem para si
responsabilidade pelos episódios em investigação."

Quando do julgamento do mencionado MS 20.693/DF, a Primeira Seção concluiu ser "inconcebível que
aquele que depõe na qualidade de testemunha, sem esgrimir previamente qualquer elemento de
irresignação, e nessa qualidade narra sua participação no acontecimento, possa, depois de apuradas as lindes
de seu atuar, querer dessa inércia se valer para afastar sua responsabilidade."

Assim, entendendo o impetrante que prestar depoimento agora criticado poder-lhe-ia ser prejudicial, era
seu dever invocar, a tempo e modo, o direito de não autoincriminação, a fim de se eximir de depor na
condição de testemunha. Razão pela qual não lhe é lícito invocar, tardiamente, o direito ao silêncio, vez que,
por sua própria vontade, apontou, durante sua oitiva, fatos que atraíram para si a responsabilidade solidária
pelos ilícitos em apuração.

Gabarito: B

Questão 2. Ainda de acordo com os recentes posicionamentos do STJ, julgue os itens abaixo:
I - Veículo de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados públicos sobre óbitos
relacionados a ocorrências policiais.
II - A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer
mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação.

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III - As fundações públicas de direito privado fazem jus à isenção das custas processuais.
Está (ão) corretos:
a) I e III
b) II e III
c) Todos os itens estão corretos
d) I e II

Comentários

Item I – Correto – Trata-se de entendimento do STJ fixado no REsp 1.852.629-SP

Item II – Correto – Trata-se de entendimento do STJ fixado no REsp 1.813.255-SP

Item III – Errado – De acordo com o STJ, no julgamento do REsp 1.409.199-SC, As fundações públicas de
direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.

Gabarito: D

Questão 3. De acordo com os recentes entendimentos do STF sobre o Direito Administrativo, marque a
assertiva correta:
A) É inconstitucional o aproveitamento de servidor, aprovado em concurso público a exigir formação de nível
médio, em cargo que pressuponha escolaridade superior.
B) É legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples
fato de responder a inquérito ou ação penal.
C) Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional nº
19/1998, o teto constitucional previsto no inciso XI do artigo 37 da Constituição Federal incide
individualmente sobre a remuneração ou provento e a pensão percebida por servidor.
D) O Estado responde diretamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são
cancelados por indícios de fraude.

Comentários

Letra A – Correto - O enquadramento de servidor público ocupante de cargo, cujo requisito de investidura
era a formação no ensino médio, em outro, relativamente ao qual é exigido a formação em curso superior,
constitui burla à exigência constitucional de concurso público, bem como ao disposto no art. 39, § 1º, II, da
Constituição Federal.

Letra B – Errado – De acordo com o STF, Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei,
não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples
fato de responder a inquérito ou ação penal (RE 560900)

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Letra C – Errada – Segundo fixado pelo STF, Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior
ao da Emenda Constitucional nº 19/1998, o teto constitucional previsto no inciso XI do artigo 37 da
Constituição Federal incide sobre o somatório de remuneração ou provento e pensão percebida por servidor.
(RE 602584)

Letra D – Errada – De acordo com o STF, no julgamento do RE 662405, O Estado responde subsidiariamente
por danos materiais causados a candidatos em concurso público organizado por pessoa jurídica de direito
privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são cancelados por indícios de fraude.

Gabarito: A

Questão 4. Ainda de acordo com o STF, julgue os itens abaixo:


I – É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
II - Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço
constitucional, salvo (I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado
desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas
renovações e/ou prorrogações.
III – Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores
públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou
indenizatório.
IV - O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de
projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco
para fixar o respectivo índice de correção.
A) Os itens I e II estão errados
B) Todos os itens estão corretos
C) Os itens II e IV estão errados
D) Apenas o item III está correto.

Comentários

Item I – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 633782

Item II – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 1066677

Item III – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 710293

Item IV – Correto – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 843112

Gabarito: B

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Questão 5. Servidor público que, no exercício da função pública, concorrer para que terceiro enriqueça
ilicitamente estará sujeito a responder por ato de improbidade administrativa que
A) atenta contra os princípios da administração pública, se sua conduta for dolosa.
B) atenta contra os princípios da administração pública, ainda que sua conduta seja culposa.
C) importa enriquecimento ilícito, se sua conduta for dolosa.
D) importa enriquecimento ilícito, ainda que sua conduta seja culposa.
E) causa prejuízo ao erário, ainda que sua conduta seja culposa.

Comentários

Trata-se de ato que causa prejuízo ao erário, nos termos do art. 10, XII, da Lei nº 8.429/92.

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

Gabarito: E

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Em relação ao contrato de mandato e suas hipóteses de revogação, assinale a alternativa
incorreta:
a) A morte do mandante ou do mandatário não enseja a extinção do mandato conferido em causa própria,
assim como a sua revogação não possui eficácia.
b) A mera comunicação ao mandatário sobre a nomeação de outro, para o mesmo negócio, constitui causa
de revogação do mandato anterior, mas se a notificação desta ocorrer somente àquele, não será oponível
aos terceiros que, ignorando-a, de boa-fé com ele trataram.
c) A vinculação do mandato ao cumprimento ou confirmação de negócios principiados, para os quais nele se
contenha poderes, implica a sua irrevogabilidade.
d) Os atos ajustados em nome do mandante pelo mandatário são válidos em relação aos contratantes de
boa-fé, ainda que já ocorrida a morte do constituinte ou extinto o mandato, se - e enquanto - o procurador,
por qualquer causa, ignorar tais circunstâncias.
e) É inválida a cláusula de irrevogabilidade que tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque, conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua
revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário

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dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato,
obedecidas as formalidades legais, nos termos do artigo 685 do Código Civil.

A alternativa B é verdadeira, porque tanto que for comunicada ao mandatário a nomeação de outro, para o
mesmo negócio, considerar-se-á revogado o mandato anterior (art. 687 do CC). Ademais, a revogação do
mandato, notificada somente ao mandatário, não se pode opor aos terceiros que, ignorando-a, de boa-fé
com ele trataram; mas ficam salvas ao constituinte as ações que no caso lhe possam caber contra o
procurador, conforme o artigo 686, “caput”, do Código Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque é irrevogável o mandato que contenha poderes de cumprimento ou


confirmação de negócios encetados, aos quais se ache vinculado, com base no artigo 686, parágrafo único,
do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque são válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes
ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do
mandato, por qualquer outra causa. É o que prevê o artigo 689 do Código Civil.

A alternativa E é falsa, porque, do contrário, quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um


negócio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato
será ineficaz, na linha do artigo 684 do Código Civil.

Questão 2. A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o


aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de
tutela (Enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil – CJF). No que se refere aos efeitos desse direito
autônomo, assinale a alternativa incorreta:
a) Em via de exceção, a autotutela é admitida pela legislação brasileira para a prática de atos de defesa ou
de desforço destinados à manutenção ou restituição da posse, desde que o possuidor o faça por sua própria
força, isto é, de modo pessoal, não sendo possível a utilização de prepostos ou empregados para o seu
exercício.
b) Entende-se por subjetiva a responsabilidade civil do possuidor de boa-fé, ao passo que o de má-fé
responde objetivamente pela perda ou deterioração da coisa, mesmo que essas decorram de caso fortuito
ou força maior.
c) O direito de ajuizar a ação possessória pertinente para se proteger de ataque de terceiro que não o
possuidor justo e o direito às despesas da produção e custeio em relação aos frutos, bem como ao
ressarcimento das benfeitorias necessárias, não se prejudicam pela má-fé do possuidor.
d) Admite-se o ajuizamento de ação possessória por particulares com vistas a resguardar a utilização de bem
público de uso comum do povo instituído como servidão de passagem.
e) É possível a perda da posse mesmo por aquele que não haja presenciado o esbulho, se, tendo notícia
deste, abstiver-se da retomada da coisa.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o possuidor turbado ou esbulhado poderá manter-se (legítima defesa) ou
restituir-se (desforço imediato) por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de

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desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. Não obstante, a lei
autoriza a utilização de prepostos ou empregados para a autotutela, especificamente quando menciona o
manejo das medidas por sua própria força – a responsabilidade do possuidor, porém, será objetiva indireta
ou por atos de outrem, provando-se a culpa de seus prepostos. É o exemplo da autotutela por parte do
caseiro.

A alternativa B é verdadeira, porque, nos moldes do artigo 1.217 do CC, O possuidor de boa-fé não responde
pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. De outro lado, o possuidor de má-fé responde
pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado,
estando ela na posse do reivindicante, com fulcro no artigo 1.218 do Código Civil. A responsabilidade em
caso de posse de má-fé, portanto, é objetiva, respondendo, inclusive, por caso fortuito e força maior.

A alternativa C é verdadeira, porque a diferenciação entre possuidor de boa ou má-fé gera efeitos quanto
aos frutos, às benfeitorias e às responsabilidades dos envolvidos com a devida análise do caso concreto, mas
não retira do segundo o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque de
terceiro que não o possuidor justo. Além disso, o possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos
e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se
constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. Ainda, a ele serão ressarcidas somente
as benfeitorias necessárias, consoante dispõem os artigos 1.216 e 1.220 do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre
exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de
passagem - STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590).

A alternativa E é verdadeira, porque só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente
repelido (artigo 1.224 do Código Civil).

Questão 3. A par das inovações legislativas mais recentes, classificam-se como espécies autônomas de
direito real, exceto:
a) A multipropriedade, consistente, enquanto direito real destacado da propriedade singular, em um regime
de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à
qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos
proprietários de forma alternada.
b) A laje, entendida como unidade imobiliária autônoma sobreposta a uma construção base, mas constituída
em matrícula própria.
c) O direito do promitente comprador do imóvel, que se adquire mediante promessa de compra e venda, em
que não se pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular e registrada no
Cartório de Registro de Imóveis.
d) A concessão de uso especial para fins de moradia; instrumento que visa a conferir ao seu titular o uso de
um imóvel público, em caráter real, com a finalidade de morar.
e) A habitação, por meio da qual o uso do bem cinge-se ao direito de habitar, de modo gratuito, casa alheia,
não podendo o seu titular aluga-la nem a emprestar, mas simplesmente ocupa-la com a sua família.

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A alternativa A é falsa, porque a multipropriedade não constitui direito real autônomo destacada do direito
de propriedade, mas, sim, componente desta, enquanto regime de condomínio regulado pelos artigos 1.358-
B a 1.358-U do Código Civil.

A alternativa B é verdadeira, na linha do artigo 1.225, XIII, do Código Civil (rol dos direitos reais).

A alternativa C é verdadeira, conforme o artigo 1.225, VII, do Código Civil (rol dos direitos reais).

A alternativa D é verdadeira, com base no artigo 1.225, XI, do Código Civil (rol dos direitos reais).

A alternativa E é verdadeira, com amparo no artigo 1.225, VI, do Código Civil (rol dos direitos reais).

Questão 4. A respeito dos direitos e deveres decorrentes do uso anormal da propriedade, no âmbito das
relações de vizinhança, marque a alternativa verdadeira:
a) Ao vizinho não cabe exigir a redução ou a eliminação de interferências cuja tolerância foi determinada por
decisão judicial, mesmo que tais medidas se tornem possíveis.
b) Havendo iminência na ruína de um prédio, pode o proprietário ou possuidor do prédio vizinho pedir a sua
reparação ou mesmo demolição, conforme o caso, mas a ele não é possível exigir caução pelo dano iminente.
c) A viabilidade de realização de interferências prejudiciais à segurança, sossego e saúde dos que habitam
prédio ou propriedade vizinha, quando pautada em interesse público, sobrepõe-se ao direito de fazer cessá-
las, mas não elide o dever de pagamento de indenização cabal por seu causador.
d) O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, não pode, no
caso de dano iminente, exigir do autor delas garantias contra o prejuízo eventual, visto que este as realiza
no exercício regular de seu direito.
e) A verificação da possibilidade de se proibir interferência em propriedade vizinha prescinde da natureza de
sua utilização, bastando que ocorra a mera intromissão.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque, ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá
o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis, nos termos do artigo 1.279
do Código Civil.

A alternativa B é falsa, porque o proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a
demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano
iminente (art. 1.280 do Código Civil).

A alternativa C é verdadeira, porque leciona o artigo 1.278 do Código Civil que o direito a que se refere o
artigo antecedente (direito de proibir as interferências) não prevalece quando elas forem justificadas por
interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização
cabal.

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A alternativa D é falsa, porque prevê o artigo 1.281 do Código Civil que o proprietário ou o possuidor de um
prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas
as necessárias garantias contra o prejuízo eventual. Isso porque o exercício do direito de realização de obras,
neste caso, não exime o seu titular de responsabilidade sobre eventuais danos delas decorrentes, na linha
do artigo 187 do Código Civil, que consigna: também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.

A alternativa E é falsa, porque o proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as
interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização
de propriedade vizinha. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização
do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância
dos moradores da vizinhança, conforme intelecção do artigo 1.277 do Código Civil.

Questão 5. Sobre as causas e efeitos da indignidade e da deserdação no âmbito das sucessões, assinale a
alternativa correta:
a) Configura hipótese de indignidade, a ensejar a exclusão da sucessão, a prática de ofensa pelo herdeiro ou
legatário contra a integridade física do autor da herança, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente.
b) A contemplação do indigno em testamento pelo ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a
causa da indignidade, possui o condão de admiti-lo a suceder, contanto que a reabilitação se opere
expressamente no ato de disposição de última vontade.
c) A sentença que declara a indignidade de herdeiro ou legatário opera efeitos ex tunc até o limite do
momento em que se deu a prática determinante da exclusão, do que decorre a invalidade das alienações
onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé e dos atos de administração praticados pelo excluído
durante esse intervalo temporal.
d) A ordenação de deserdação em testamento não prescinde da declaração expressa de sua causa, cuja
veracidade deve ser comprovada pelo herdeiro instituído ou por aquele a quem aproveite a deserdação.
e) O Ministério Público possui legitimidade para demandar a exclusão de herdeiro ou legatário que, por
violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque a prática de ofensa física constitui hipótese específica de deserdação, e não
de indignidade, e se verifica pelos descendentes em relação aos ascendentes e pelos ascendentes em relação
aos descendentes, na forma dos artigos 1.962, I, e 1.963, I, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será
admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato
autêntico. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando
o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária,
com amparo no artigo 1.818 do Código Civil.

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A alternativa C é falsa, por que são válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-
fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos
herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos, consoante o artigo
1.817 do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser
ordenada em testamento. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar
a veracidade da causa alegada pelo testador. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo
de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento (arts. 1.964 e 1.965 do CC).

A alternativa E é falsa, porque prevê o artigo 1.815, §2º, do Código Civil, que, na hipótese do inciso I do art.
1.814 do mesmo Código (são excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que houverem sido autores,
coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente), o Ministério Público tem legitimidade para
demandar a exclusão do herdeiro ou legatário.

2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. O diploma processual civil elenca algumas hipóteses em que, em razão da ausência do exercício
de defesa/contraditório ou de seu exercício generalizado, presumem-se verdadeiras as alegações de fato
formuladas pela parte autora, o que constitui verdadeira técnica de julgamento. Entretanto, tal efeito não
é absoluto, havendo casos em que, mesmo diante das referidas circunstâncias, não há que se falar na sua
incidência. Com base nisso, é possível afirmar que é afastada a presunção de veracidade das alegações de
fato constantes da petição inicial, quando, exceto:
a) A petição inicial estiver desacompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato.
b) Havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação.
c) A defesa tiver de ser formulada por defensor público, promotor de Justiça, advogado dativo ou curador
especial.
d) Não for admissível, a seu respeito, a confissão, ou versar o litígio sobre direitos indisponíveis.
e) Estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações
de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se a petição inicial
não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato, com fulcro no artigo
341, “caput”, II, do Código de Processo Civil. É dizer, neste caso, tem-se por afastada a presunção de
veracidade.

A alternativa B é verdadeira, porque dispõe o artigo 344 do Código de Processo Civil que, se o réu não
contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo
autor. Na sequência, prevê o artigo 345 do mesmo diploma que a revelia não produz o efeito mencionado

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no artigo anterior se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação. É dizer, neste caso, tem-se
por afastada a presunção de veracidade.

A alternativa C é falsa, porque ao promotor de Justiça não se concebe, nesta condição, o ingresso na posição
de réu. O Ministério Público, enquanto instituição, terá o estado ou a União como ré ao ser demandado. E
são os procuradores do respectivo ente que figurarão como seus representantes.

A alternativa D é verdadeira, porque incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações
de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se não for
admissível, a seu respeito, a confissão, com amparo no artigo 341, “caput”, I, do Código de Processo Civil. A
seu turno, prevê o artigo 345, II, do mesmo diploma que a revelia não produz o efeito em referência quando
o litígio versar sobre direitos indisponíveis. É dizer, nestes casos, tem-se por afastada a presunção de
veracidade.

A alternativa E é verdadeira, porque, na forma do artigo 341, “caput”, III, do Código de Processo Civil,
incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição
inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se estiverem em contradição com a defesa,
considerada em seu conjunto. É dizer, neste caso, tem-se por afastada a presunção de veracidade.

Questão 2. Em relação ao incidente de desconsideração da personalidade jurídica, assinale a alternativa


correta:
a) O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial, exceto no âmbito dos
Juizados Especiais, dada a complexidade de sua natureza.
b) A instauração do incidente, requerida a qualquer tempo, suspenderá o processo, devendo o sócio ou a
pessoa jurídica ser citado(a) para se manifestar e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
c) Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação
da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
d) O incidente de desconsideração, após concluída a instrução, será resolvido por sentença, da qual cabe
recurso de apelação.
e) O acolhimento do pedido de desconsideração acarreta, por si, a condenação do sócio/empresa cuja
personalidade fora desprezada para o alcance de seu patrimônio.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao


processo de competência dos juizados especiais, nos termos do artigo 1.062 do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque se dispensa a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade


jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica (art. 134,
§2º, do Código de Processo Civil). A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do §
2º (art. 134, §3º, Código de Processo Civil).

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A alternativa C é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto no artigo 792, §3º, do Código de Processo
Civil.

A alternativa D é falsa, porque, concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno, tudo conforme o artigo 136 do
Código de Processo Civil.

A alternativa E é falsa, porque o acolhimento do pedido não ensejará na condenação do sócio/empresa.


Declarará a responsabilidade deste, de modo que poderão ser excutidos os seus bens na fase de execução
ou cumprimento de sentença.

Questão 3. A faculdade de se ajustar e regular o ordenamento dos atos processuais a serem praticados,
conferida às próprias partes, em determinados feitos, foi realçada pelo atual CPC por meio dos intitulados
negócios jurídicos processuais, o que serve para prestigiar, sobremaneira, o princípio da eficiência,
enquanto se destina a atender às especificidades da causa. Sobre o assunto, assinale a alternativa
incorreta:
a) A possibilidade de recusa pelo juiz de aplicação das convenções estipuladas em negócio jurídico processual
restringe-se aos casos de nulidade, inserção abusiva em contrato de adesão e em que alguma parte se
encontre em situação de manifesta vulnerabilidade.
b) É lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais,
antes ou durante o processo, contanto que este verse sobre direitos disponíveis, isto é, que admitam
autocomposição.
c) Para além das partes celebrantes, o negócio jurídico processual obriga também herdeiros e sucessores.
d) É admissível a celebração de convenção processual coletiva, ainda que os direitos difusos e coletivos sejam
indisponíveis e o autor da ação seja o Ministério Público.
e) O calendário fixado de comum acordo para a prática de atos processuais vincula não apenas as partes
como também o juiz e os prazos nele previstos somente podem ser modificados em casos excepcionais,
devidamente justificados.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, pois, de ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções
previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em
contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade, segundo
dispõe o artigo 190, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque não se confundem direitos que admitem autocomposição com a (in)
disponibilidade do direito. Conforme entendimento doutrinário uníssono, o legislador foi extremamente feliz
em não confundir direito indisponível com direito que não admita autocomposição, porque mesmo nos
processos que versam sobre direito indisponível é cabível a autocomposição. Naturalmente, nesse caso, a
autocomposição não tem como objeto o direito material, mas sim as formas de exercício desse direito, tais
como os modos e momentos de cumprimento da obrigação.

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A alternativa C é verdadeira, porque o Enunciado 115 do FPPC prevê que “o negócio jurídico celebrado nos
termos do art. 190 obriga herdeiros e sucessores".

A alternativa D é verdadeira, porque registra o Enunciado 255 do FPPC que “é admissível a celebração de
convenção processual coletiva”, isto justamente em razão da necessária distinção entre direitos que
admitem autocomposição e a (in) disponibilidade do direito. Ademais, consigna o Enunciado 253 do FPPC
que “o Ministério Público pode celebrar negócio processual quando atua como parte”.

A alternativa E é verdadeira, porque, de comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a
prática dos atos processuais, quando for o caso. O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele
previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados, consoante o artigo
191, “caput” e §1º, do Código de Processo Civil.

2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. A respeito do homicídio doloso, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I Constitui forma privilegiada desse crime o seu cometimento por agente impelido por motivo de relevante
valor social ou moral, ou sob influência de violenta emoção provocada por ato injusto da vítima.
II A qualificadora do feminicídio, caso envolva violência doméstica, menosprezo ou discriminação à condição
de mulher, não é incompatível com a presença da qualificadora da motivação torpe.
III A prática do homicídio contra autoridade ou agente das forças de segurança pública é causa de aumento
de pena.
IV É possível a aplicação do privilégio ao homicídio qualificado independentemente de as circunstâncias
qualificadoras serem de ordem subjetiva ou objetiva.
V Constitui forma majorada desse crime o seu cometimento por milícia privada, sob o pretexto de prestação
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

I O Código Penal prevê que o agente deve estar sob o domínio, não sob a influência de violenta emoção (Art.
121, § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço.)

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II Nos termos do art. 121, § 2º-A, II, do CP, é devida a incidência da qualificadora do feminicídio nos casos em
que o delito é praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar, possuindo, portanto,
natureza de ordem objetiva, o que dispensa a análise do animus do agente. Assim, não há se falar em
ocorrência de bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio,
porquanto, a primeira tem natureza subjetiva e a segunda objetiva. (HC 433.898/RS, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018)

III A hipótese é de reconhecimento da circunstância como qualificadora, já que altera a pena-base prevista
para o crime. Na causa especial de aumento de pena, aumenta-se a pena-base, prevista no caput, da fração
cominada pelo legislador; a exemplo do §6º do mesmo artigo.

IV O homicídio denominado qualificado-privilegiado é possível se concorrerem as causas de privilégio (que


têm natureza subjetiva) com qualificadoras de natureza objetiva: a) emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; b) à traição, de
emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido.

As qualificadoras relativas ao motivo torpe, ao motivo fútil, ao vínculo finalístico, ao feminicídio e ao


homicídio contra agentes de segurança pública têm natureza subjetiva, e, portanto, não convivem com o
privilégio.

V Cuida-se da hipótese prevista no art. 121, §6º, do Código Penal (§ 6o - A pena é aumentada de 1/3 (um
terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio).

Gabarito: b

Questão 2. Acerca do crime de lesão corporal, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:
I Na lesão corporal praticada no ambiente doméstico é inaplicável a suspensão condicional do processo,
independentemente da condição da vítima, ainda que de natureza leve.
II Na lesão corporal praticada no ambiente doméstico, a ação penal é sempre pública condicionada.
III É crime hediondo a lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida
de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição.
IV O comportamento da vítima é incapaz de influenciar a pena no crime de lesão corporal.
V a prática de lesão corporal leve em situação de lesões recíprocas pode ensejar a substituição da pena de
detenção pela de multa.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas

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d) Estão corretas 3 assertivas


e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

I Lei nº 11.340/06: Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Veja que o
item fala “independentemente da qualidade da vítima”; assim, se a vítima for do sexo masculino, nada
impede o sursis processual.

II Súmula 542/STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.

III Cuida-se do previsto no art. 1º, I-A, da Lei nº 8.072/90.

IV A afirmação contraria o disposto no art. 129, §4º, do Código Penal(§ 4° Se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço).

V Cuida-se do disposto no art. 129, §5º, do Código Penal ( § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: (...)II - se as lesões
são recíprocas).

Gabarito: c

Questão 3. A respeito das causas impeditivas da prescrição, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto o agente cumpre pena no
exterior;
II Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre na pendência de embargos de
declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, em qualquer hipótese;
III Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto não cumprido ou não
rescindido o acordo de não persecução penal.
IV - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto não resolvida, em outro
processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime.
V Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que
o condenado está preso por outro motivo.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições III e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, III, IV e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.

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Comentários

I CP, Art. 116, I, com a redação que lhe fora conferida pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19).

II O Art. 116, III, traz a previsão de que, somente quando inadmissíveis os embargos de declaração, impede-
se a contagem do prazo prescricional.

III CP, Art. 116, IV, com a redação que lhe fora conferida pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19).

IV CP, Art. 116, I.

V CP, Art. 116, Parágrafo único.

Gabarito: c

Questão 4. A propósito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O crime de roubo é majorado se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
II Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista para o roubo simples;
III Há continuidade delitiva entre roubo e furto, já que considerados delitos do mesmo gênero e espécie;
IV Para reconhecimento do crime de furto privilegiado é necessário que o bem furtado tenha sido restituído
à vítima.
V O reconhecimento das qualificadoras da escalada e rompimento de obstáculo, previstas no art. 155, § 4º,
I e II, do CP, exige a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de inexistência ou desaparecimento de
vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

I Cuida-se da redação dada ao Art. 157, §2º, VII, do Código Penal, dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19)

II Cuida-se da redação dada ao Art. 157, §2º-B, do Código Penal, dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19)

III É consolidado nesta Corte o entendimento de que não há falar em continuidade delitiva entre roubo e
furto, porquanto, ainda que possam ser considerados delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie
(STJ/HC n. 202.792/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 19/9/2013).

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IV Para o reconhecimento do furto privilegiado, a lei não prevê a necessidade de restituição do bem subtraído
- CP, Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

V FURTO QUALIFICADO PELA ESCALADA. AUSÊNCIA DE PERÍCIA. INEXISTÊNCIA DE JUSTIFICATIVAS


PARA A NÃO REALIZAÇÃO DO EXAME. IMPOSSIBILIDADE DE SUPRIMENTO DA PROVA TÉCNICA
POR OUTROS ELEMENTOS DE CONVICÇÃO. COAÇÃO ILEGAL CARACTERIZADA. CONCESSÃO DA
ORDEM DE OFÍCIO.

1. Da leitura dos artigos 158 e 167 do Código de Processo Penal, extrai-se que a perícia somente
é essencial para comprovar a materialidade delitiva quando o crime deixa vestígios, admitindo-
se a prova testemunhal quando estes não estiverem mais presentes.

2. Por sua vez, o artigo 171 da Lei Penal Adjetiva confirma a necessidade de realização de perícia
para a comprovação da qualificadora da escalada, que pode ser substituída por outras provas
apenas quando os vestígios desaparecerem, não existirem, ou o exame técnico não for passível
de implementação. (HC 330.156/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
03/11/2015, DJe 10/11/2015)

Gabarito: c

Questão 5. No que toca ao crime continuado, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I Para a caracterização da continuidade delitiva é imprescindível o preenchimento de requisitos de ordem
objetiva - mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução - e de ordem subjetiva - unidade de
desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos (Teoria Mista ou Objetivo-subjetiva).
II A continuidade delitiva, em regra, não pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos praticados em
período superior a 60 (sessenta) dias.
III A continuidade delitiva pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos ocorridos em comarcas
limítrofes ou próximas.
IV Admite-se a continuidade delitiva mesmo quando configurada a habitualidade ou a reiteração criminosa.
V A continuidade delitiva não pode ser reconhecida quando se tratarem de delitos cometidos com modos de
execução diversos.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, III e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.

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I Este Superior Tribunal de Justiça vem adotando a teoria mista, segundo a qual, para a caracterização da
continuidade delitiva, afigura-se imprescindível o preenchimento de requisitos de ordem objetiva (mesmas
condições de tempo, lugar e forma de execução) e subjetiva (unidade de desígnios ou vínculo subjetivo
entre os eventos) – STJ - RHC 43601 / DF.

II Embora a lei não estabeleça parâmetros para o reconhecimento da unidade temporal entre as condutas,
este Colegiado firmou entendimento no sentido da impossibilidade de aplicação da continuidade delitiva se
os delitos foram praticados com mais trinta dias de diferença (Precedentes). STJ - HC 206.227/RS.

III Não obstante o fato de o reconhecimento da continuidade delitiva não exigir que as condutas tenham sido
praticadas no mesmo município, podendo ser admitida quando se tratarem de delitos ocorridos em
comarcas limítrofes ou próximas, na hipótese, os estupros foram praticados em comarcas territorialmente
distantes. STJ - HC 206.227/RS.

IV O entendimento adotado pela Corte de origem está de acordo com a orientação pacífica deste Sodalício,
pela qual a habitualidade criminosa impede o reconhecimento da continuidade delitiva. STJ - HC 249912 /
SP.

V A mera circunstância de os fatos terem sido praticados no mesmo dia não é suficiente para a configuração
do crime continuado. Considerando que em um dos roubos o estabelecimento comercial foi invadido pelos
agentes criminosos, enquanto no outro o grupo rendeu funcionária da joalheria em sua própria residência,
e, após subtrair diversos bens dela e de sua família, obrigou-a a se deslocar ao seu local de trabalho para
consumar novo crime, não há que se falar em crime continuado. STJ - AgRg no HC 184814 / SP.

Gabarito: C

2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência
da lei anterior.
b) A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.
c) O processo penal terá estrutura acusatória, sendo permitida a iniciativa do juiz apenas em relação à
decretação das medidas cautelares.
d) A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições
e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
e) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.

Comentários

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O processo penal tem estrutura acusatória, significando que o magistrado deve se manter inerte no curso da
persecução penal, reservando-se às partes a iniciativa em relação à deflagração da ação penal, às cautelares,
bem assim em relação às provas.

O §2º, do artigo 282, do CPP veda expressamente que o juiz conceda as medidas cautelares de ofício, assim
como o artigo 311, veda a decretação da prisão preventiva.

Um registro se faz necessário, porém, que é em relação à produção probatória. O artigo 156, do CPP, autoriza
que o juiz determine a produção de prova para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Resposta: alternativa C.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


a) A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições
e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
b) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
c) Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal
exclusivamente por meio de inquérito, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.
d) Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações,
documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.
e) O inquérito policial em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico,
mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos
procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.

Comentários

A investigação no sistema processual brasileiro é plural, significando que órgãos diversos podem
desempenhá-la, por meio de variados instrumentos, como o inquérito parlamentar (CPI), o inquérito policial,
o procedimento investigatório criminal (MP).

O Delegado de Polícia tem à sua disposição ferramentas outras para investigar, que não o inquérito, a
exemplo da VPI (§3º, do artigo 5º, do CPP) e o termo circunstanciado de ocorrência (Lei 9.099/95).

Resposta: alternativa C.

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
b) O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
c) Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado sempre de ofício.

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d) Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado mediante requisição da autoridade judiciária
ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
e) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
Comentários

Nos crimes de ação penal pública o inquérito será iniciado, como regra, de ofício, em decorrência do princípio
da oficiosidade.

Não se pode olvidar que dentro desta modalidade de ação penal há a ação penal pública condicionada, cuja
persecução penal depende da provocação de quem de direito.

Resposta: alternativa C.

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Com base no Código Eleitoral, analise a afirmativa a seguir:
A conduta do servidor público de valer-se da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar em
determinado candidato ou partido configura crime com pena de detenção até seis meses e pagamento de
60 a 100 dias-multa.

Comentários

A conduta descrita na assertiva constitui crime, conforme prevê o artigo 300, caput, do Código Eleitoral:

Art. 300. Valer-se o servidor público da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar
em determinado candidato ou partido:

Pena - detenção até seis meses e pagamento de 60 a 100 dias-multa.

Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário da Justiça Eleitoral e comete o crime


prevalecendo-se do cargo a pena é agravada.

Gabarito: Certo

Questão 2. Com base no Código de Trânsito Brasileiro (Lei n.º 9.503/1997), analise as informações a seguir:
São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo
cometido a infração...
I – Com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros
II – Utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III – Sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV – Com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;

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V – Quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de
carga;
Estão corretas as assertivas:
A) I e II.
B) I, II, III e V.
C) I, II, III, IV e V.
D) I, apenas.
E) III, apenas.

Comentários

As assertivas são alguns dos incisos do art. 298, do CTB:

Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o
condutor do veículo cometido a infração:

I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial
a terceiros;

II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;

III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;

V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros
ou de carga;

VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que


afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade
prescritos nas especificações do fabricante;

VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.

Gabarito: C

Questão 3. Com base na Lei n.º 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), analise a afirmativa a seguir:
Constitui crime discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos
meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício da cidadania, por motivo de idade.

Comentários

A conduta descrita na assertiva constitui crime, conforme prevê o artigo 96, caput, do Estatuto do Idoso:

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Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Não podem propor a ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura:
a) MP Eleitoral.
b) Partido político.
c) Qualquer candidato.
d) Coligação partidária.
e) Cidadãos em geral.

Comentários

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura não pode ser proposta por cidadãos em geral.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa E.

“Consulta. Legitimidade dos órgãos partidários. Impugnação. Registro de candidatura. Período


eleitoral. Início. Não conhecimento (...). Quanto à legitimidade para impugnação do registro de
candidatura, diz a LC 64/90, em seu art. 3°, diz que ‘caberá a qualquer candidato, partido
político, coligação ou Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do
pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada’. Também o CPC/15, nos
arts. 17 e 18 afirmam que, ‘para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade’ e
que ‘ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo
ordenamento jurídico’. (TSE, CtaEl no 60.129.434, Rel. Min. Sérgio Banhos, DJU 14.10.2000).

Questão 2. Quanto à ação de impugnação de registro de candidatos, é correto afirmar:


a) Em homenagem ao princípio da imparcialidade do Juiz e visando o equilíbrio entre as partes, o Juiz Eleitoral
não poderá determinar diligências de ofício.
b) Poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público, mesmo que tenha
integrado diretório de partido ou exercido atividade político-partidária, desde que não mais filiado a partido
político.
c) A impugnação de registro de candidato por partido político ou coligação veda a ação do Ministério Público
nesse sentido.
d) Trata-se de veículo processual adequado para a discussão das condições de elegibilidade, registrabilidade
e inelegibilidades.

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e) Em homenagem ao princípio da celeridade processual que norteia o processo eleitoral, deverá ser
deduzida no prazo decadencial de três dias contados da publicação do pedido de registro do candidato.

Comentários

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura é destinada, em especial, à discussão sobre a


inexistência de condições de elegibilidade e, bem assim, e existência de causas de inelegibilidade, absolutas
e relativas, de natureza constitucional ou legal.

Em razão disso, a alternativa D está correta.

Questão 3. A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura ao cargo de Governador de Estado


deve ser promovida perante:
A) JUÍZO ELEITORAL.
b) Zona Eleitoral.
c) Corregedoria Regional Eleitoral.
d) Tribunal Regional Eleitoral.
e) Tribunal Superior Eleitoral.

Comentários

A ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura ao cargo de Governador de Estado deve ser
promovida perante o Tribunal Regional Eleitoral da unidade da federação respectiva, em atenção ao art. 2º,
parágrafo único, inc. II, da Lei Complementar nº 64/90.

O candidato deve assinalar a alternativa D, pois.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (CESPE – Promotor de Justiça – MPE – CE/2020) De acordo com as disposições do Estatuto da
Criança e do Adolescente, a garantia da prioridade absoluta compreende
a) a corresponsabilidade da família, do Estado e da sociedade em assegurar a efetivação dos direitos
fundamentais a crianças e adolescentes.
b) a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias.
c) a efetivação de direitos especiais em razão da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
d) o alcance dos direitos a todas as crianças e adolescentes, sem qualquer distinção.
e) a implementação de políticas públicas de forma descentralizada.

Comentários

Alternativa correta: letra “B”.

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Comentário: vide art. 4º, do Estatuto – prioridade absoluta.

Questão 2. (CESPE – Promotor de Justiça – MPE – CE/2020) Um grupo de moradores de um município


fundou uma associação para propor ação civil pública com pedido de reparação de danos morais e
materiais causados pela exposição a contaminação ambiental decorrente da exploração de jazida de
chumbo no município. Lia, que faz parte da associação, pretende propor, ainda, uma ação individual,
porque a contaminação lhe causara cegueira.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) Lia não poderá pleitear a reparação dos danos a si em ação individual, pois a questão deverá ser decidida
na ação civil pública coletiva.
b) Lia poderá pleitear a reparação dos danos a si em ação individual e manter-se como uma das beneficiárias
da ação civil pública proposta pela associação mesmo que não tome nenhuma medida processual.
c) O pedido de reparação de danos morais e materiais formulado pela associação trata de direitos individuais
homogêneos, ante a indivisibilidade de seu objeto.
d) O pedido de reparação de danos morais e materiais formulado pela associação trata de direitos individuais
homogêneos, o que ensejará uma sentença genérica.
e) O pedido de reparação de danos morais e materiais formulado pela associação trata de direitos difusos,
ante a divisibilidade do seu objeto.

Comentários

Correta: letra “D”. A questão foi lançada para chamar a atenção de que o Estatuto também trata de
interesses difusos, coletivos e individuais (estes homogêneos e indisponíveis). Aliás, o Estatuto compunha o
tripé legislativo da tutela coletiva, juntamente com a Lei nº 7.347/1985 e Código de Defesa do Consumidor.
Atualmente, existem muitas outras leis que fazem parte do Sistema Único Coletivo.

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. No que tange à imunidade tributária, julgue os itens a seguir, conforme o entendimento do
Supremo Tribunal Federal, julgue os itens abaixo:
I) Goza de imunidade a sociedade de economia mista cujas ações são negociadas na bolsa de valores.
II) Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de
direito público.
III) As Caixas de Assistência de Advogados gozam de imunidade tributária recíproca.
a) Apenas a “III” está correta
b) Apenas a “II” está correta

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c) Apenas a “I” está correta


d) As assertivas “II” e “III” estão corretas
e) Todas as assertivas estão corretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “d”.

I. Incorreta. STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em
29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 508).

II. Correta. STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral – Tema
685).

III. Correta. STF. Plenário. RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/9/2018.

Questão 2. Acerca do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), julgue as assertivas
abaixo:
I) O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU -
inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
II) A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de
expansão urbana não está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do CTN.
III) O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas
referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.
a) Apenas a “III” está correta
b) Apenas a “II” está correta
c) Apenas a “I” está correta
d) As assertivas “II” e “III” estão corretas
e) Todas as assertivas estão corretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “e".

I) Assertiva correta. STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
14/11/2018 (recurso repetitivo).

II) Assertiva correta. Súmula 626 do STJ.

III) Assertiva correta. Súmula 614 do STJ.

Questão 3. Quanto ao ISSQN, julgue os itens abaixo.

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I) Incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação sob
encomenda.
II) Não é possível a cobrança de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais produtos de
loteria e similares.
III) É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal,
admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em lei
em razão da interpretação extensiva.
a) Apenas a “I” está incorreta
b) Apenas a “II” está incorreta
c) Apenas a “I” está incorreta
d) As assertivas “II” e “III” estão incorretas
e) As assertivas “I” e “II” estão incorretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “d".

I) Assertiva correta. STF. Plenário. RE 605552, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral –
Tema 379).

II) Assertiva incorreta. STF. Plenário. RE 634764, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 08/06/2020 (Repercussão
Geral – Tema 700). É possível a cobrança de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais
produtos de loteria e similares, sendo a base de cálculo o valor da remuneração da prestação do serviço.

III) Assertiva correta. STF. Plenário. RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral
– Tema 296).

2.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. Sobre as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais regidas pela Lei 7.347/85,
é correto afirmar:
a) A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro, o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer ou de dar coisa certa ou incerta.
b) Possuem legitimidade para propor ação principal e ação cautelar previstas nesta Lei, entre outros: o
Ministério Público, a Defensoria Pública, a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios.
c) Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o processo será extinto,
e nova ação versando sobre o mesmo fato somente poderá ser proposta após 6 (seis) meses da extinção do
processo.
d) Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora
lhe promova a execução, ocorrerá a prescrição do cumprimento de sentença.

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e) A sentença civil prolatada fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que somente
o Ministério Público poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Comentários

a) Alternativa incorreta, pois a condenação prevista será em dinheiro ou obrigação de fazer ou não fazer.
(art. 3º)

b) Alternativa correta. Entre todos os legitimados para propor a Ação principal e cautelar previstas pela Lei
7.347/85 estão os citados na alternativa (art. 5º, I a V)

c) Alternativa incorreta, pois havendo desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada,
o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa (art. 5º, § 3º);

d) Alternativa incorreta. O artigo 15 diz que não havendo a promoção da execução da sentença condenatória
nos 60 dias contados a partir do trânsito em julgado da sentença, o Ministério Público deverá fazê-lo, sendo
facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

e) Alternativa incorreta, pois na hipótese do pedido julgado improcedente por insuficiência de provas,
qualquer legitimado poderá propor outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de prova nova. (art.
16)

Questão 2. Sobre a proteção às pessoas portadoras de deficiência, é incorreto afirmar que:


a) Compete à CORDE manter estreito relacionamento com os Estados, Municípios, Territórios, o Distrito
Federal, e o Ministério Público, objetivando a concorrência de ações destinadas à integração social das
pessoas portadoras de deficiência.
b) Constitui crime, punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos recusar, cobrar valores adicionais,
suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de
qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência.
c) Nos termos da Lei n.º 7.853/1989, o Ministério Público, ao instaurar inquérito civil sob sua presidência,
poderá requisitar informações de qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou particular, certidões,
informações, exame ou perícias, no prazo que assinalar, não inferior a 10 (dez) dias úteis.
d) De acordo com o disposto na Lei n.º 7.853/1989, não pratica crime aquele que omite dados técnicos
indispensáveis à propositura de Ação Civil Pública, quando requisitado pelo Ministério Público.
e) A Lei 7.853/89 dispõe que a conduta de obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a
qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua deficiência é punível com reclusão de 2 a 5 anos e
multa.

Comentários

a) Alternativa correta, conforme narrativa do artigo 12, inciso V, da Lei 7.853/89

b) Alternativa correta, conforme artigo 8º, inciso I, da Lei 7.853/89

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c) Alternativa correta, conforme artigo 6º da Lei 7.853/89

d) Alternativa incorreta, a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura de Ação Civil Pública,
quando requisitado pelo Ministério Público, constitui crime, conforme redação do artigo 8º, inciso VI.

e) Alternativa correta, conforme artigo 8º, inciso II.

Questão 3. Em relação ao Direitos da Criança e do Adolescente, é correto afirmar:


a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
aos seus direitos fundamentais, salvo com a concordância dos pais ou responsáveis.
b) Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-
tratos contra criança ou adolescente poderão ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade,
sem prejuízo de outras providências legais. A comunicação ao Conselho Tutelar depende de autorização dos
pais ou responsável legal da criança ou adolescente.
c) A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico que lhe
imponha sequelas físicas irreversíveis, ou de tratamento cruel ou degradante, salvo se for utilizado como
forma de correção, disciplina ou educação. Aos pais ou responsáveis é permitida a utilização de castigos
físicos para educar, corrigir e disciplinar quando julgarem necessário.
d) Para os fins do Estatuto da Criança e do Adolescente considera-se castigo físico toda ação de natureza
disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em
lesão corporal grave.
e) Para os fins do Estatuto da Criança e do Adolescente considera-se tratamento cruel ou degradante:
conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que humilhe; ameace
gravemente; ou ridicularize a criança ou o adolescente.

Comentários

a) Alternativa incorreta: a concordância dos pais ou responsáveis não autoriza a submissão às condutas
descritas no artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

b) Alternativa incorreta: os casos de suspeita ou confirmação das condutas descritas na alternativa “deverão”
ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, independentemente da autorização dos pais
ou responsável legal da criança ou adolescente. Artigo 13 do ECA.

c) Alternativa incorreta: é direito da criança e do adolescente não serem submetidos a castigos físicos ou
tratamento cruel ou degradante para correção, disciplina educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
integrantes da família ampliada, responsáveis, agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou
qualquer pessoa encarregada dos cuidados e proteção a eles dispensados. Artigo 18-A do ECA.

d) Alternativa incorreta: conforme artigo 18-A, parágrafo único, inciso I, considera-se castigo físico: ação de
natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que
resulte em sofrimento físico e lesão.

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e) Alternativa correta: previsão legal no artigo 18-A, inciso II, “a, b e c”.

2.12 - DIREITO EMPRESARIAL


Questão 1. É vedado ao gerente figurar em juízo em nome do preponente pelas obrigações que resultem
do exercício de sua função na empresa.

Comentários

Ao contrário, o art. 1.176 permite que o gerente o faça!

Gabarito: Errada

Questão 2. É possível ao preposto:


a) Negociar por conta própria, independente de autorização expressa.
b) Negociar por conta própria, desde que conte com autorização expressa.
c) Participar de operações do mesmo gênero da que lhe foi cometida.
d) Nenhuma das anteriores.

Comentários

Conforme as disposições do art. 1.170 do Código Civil, é vedado ao preposto, a não ser que conte com
autorização expressa, negociar por conta própria ou de terceiro, nem participar, embora indiretamente, de
operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida, sob pena de responder por perdas e danos e de serem
retidos pelo preponente os lucros da operação.

Gabarito: B

2.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. De conformidade com o Código de Processo Penal, não se inclui dentre os requisitos
obrigatórios da denúncia:
a) A classificação do crime.
b) O rol de testemunhas.
c) A exposição do fato criminoso.
d) A qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais possa ser identificado.
e) As circunstâncias do fato criminoso.

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Por força do art. 41 do Código de Processo Penal, a denúncia deve conter a exposição do fato criminoso, com
todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-
lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa B.

JURISPRUDÊNCIA

“Denúncia. Requisitos legais. A teor do disposto nos arts. 41 e 395 do Código de Processo Penal,
a denúncia há de revelar o fato criminoso, com todas as circunstâncias, a qualificação do acusado
ou os esclarecimentos pelos quais não se pode identificá-lo, a classificação do crime e, quando
for o caso, o rol de testemunhas, devendo estar presentes os pressupostos processuais e
condições da ação bem como a prova mínima de materialidade e autoria, viabilizando-se, a partir
da imputação penal, o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa” (STF, Inq nº 2.966,
Rel. Min. Marco Aurélio, J. 15.05.2014, DJU 10.06.2014).

Questão 2. Quanto à representação, assinale a alternativa correta:


a) A representação admite retratação, que pode ser exercida pela própria vítima até a sentença final.
b) A representação deve ser expressa, depende de forma específica para produzir efeitos.
c) A representação deve ser manifestada na presença do juiz, nos casos de violência doméstica.
d) A representação é direito renunciável, pode ser exercida por procurador com poderes especiais e sujeita-
se à decadência.
e) Todas são incorretas.

Comentários

A representação é direito renunciável, pode ser exercida por procurador com poderes especiais e sujeita-se
à decadência, como dispõem os arts. 25, 38 e 39, caput, do Código de Processo Penal.

Em razão disso, a alternativa D está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Agravo regimental. Inquérito. Estupro (art. 213, CP). Crime de ação penal pública condicionada
(art. 225, CP). Representação da vítima. Retratação. Efeito. Renúncia àquele direito. Lesões
corporais de natureza leve. Irrelevância. Crime de ação penal pública condicionada (art. 88 da Lei
nº 9.099/95). Inaplicabilidade da Súmula nº 608 do Supremo Tribunal Federal. Extinção da
punibilidade do agente. Admissibilidade. Aplicação analógica do art. 107, inc. V, do Código Penal
(...). A vítima, após representar dentro do prazo decadencial de 6 (seis) meses, retratou-se. Essa
retratação importa renúncia ao direito de representar e conduz à extinção da punibilidade do
agente, por força do art. 107, inc. V, do Código Penal, aplicável analogicamente à espécie. Agravo
regimental não provido” (STF, Inq-AgR nº 4.108, Rel. Min. Dias Toffoli, J. 06.03.2018, DJU
26.03.2018).

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Questão 3. São princípios que regem a ação penal privada:


a) Intranscedência e indisponibilidade.
b) Obrigatoriedade e intranscendência.
c) Indivisibilidade e obrigatoriedade.
d) Oportunidade e indisponibilidade.
e) Disponibilidade e indivisibilidade.

Comentários

A ação penal pública é informada pelos princípios da oportunidade ou conveniência, disponibilidade,


indivisibilidade e intranscendência (TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. v. I. 19ª ed. São
Paulo: Saraiva, 1997, p. 409).

O candidato deve assinalar a alternativa E, pois.

JURISPRUDÊNCIA

“Ação penal privada. Possibilidade de desistência unilateral da queixa, antes do recebimento


dela, independentemente da realização da audiência de conciliação: aplicação extensiva do art.
520, § 2º, do Código de Processo Penal” (STF, Inq-QO nº 566, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, J.
05.06.2002, DJU 25.10.2002).

2.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR


Questão 1. Em relação aos direitos consumidor, é correto afirmar:
a) Interesses ou direitos difusos são definidos pelo Código de Defesa do Consumidor como os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato.
b) Constituem interesses ou direitos coletivos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
c) São Interesses ou direitos difusos, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular um grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.
d) Constituem interesses ou direitos coletivos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas determinadas e ligadas por circunstâncias de fato.
e) Os interesses ou direitos individuais homogêneos são os decorrentes de um mesmo fato, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas.

Comentários

a) Definição Correta conforme artigo 81, parágrafo único, inciso I, do código de Defesa do Consumidor.

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b) Alternativa incorreta: Interesses ou direitos coletivos são os transindividuais de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base;

c) Alternativa incorreta: interesses ou direitos difusos são os transindividuais de natureza indivisível de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por cinrcunstâncias de fato.

d) Alternativa incorreta: Interesses ou direitos coletivos, são os transindividuais de natureza indivisível de


que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;

e) Alternativa incorreta: Interesses ou direitos individuais homogêneos são os decorrentes de origem


comum.

Questão 2. Em relação à defesa coletiva dos direitos do Consumidor, é incorreto afirmar:


a) O Ministério Público, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal possuem legitimidade
concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do Consumidor.
b) As entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do
Consumidor e o Ministério Público, possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos
direitos do Consumidor.
c) Possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do Consumidor as
associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, dispensada a autorização
assemblear e a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal.
d) O Ministério Público e as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a
autorização assemblear possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do
Consumidor.
e) Somente o Ministério Público e os órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código
de Defesa do Consumidor possuem legitimidade concorrente para atuar na defesa coletiva dos direitos do
Consumidor.

Comentários

a) Alternativa correta: previsão no artigo 82, incisos I e II, do Código de Defesa do Consumidor.

b) Alternativa Correta: previsão no artigo 82, incisos I e III, do Código de Defesa do Consumidor.

c) Alternativa correta: previsão no artigo 82, incisos II e IV, do Código de Defesa do Consumidor.

d) Alternativa Correta: previsão no artigo 82, incisos I e IV, do Código de Defesa do Consumidor.

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e) Alternativa Incorreta: além do Ministério Público e dos órgãos da Administração Pública, direta ou indireta,
ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, também possuem legitimidade concorrente: associações
legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos
interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, dispensada a autorização assemblear
e a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, conforme artigo 82 e seus incisos, do Código de
Defesa do Consumidor.

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA PROFESSOR QUESTÕES


Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes 2
Direito Administrativo Bruno Betti 2
Direito Civil Edon Rodarte 2
Direito Processual Civil Edon Rodarte 1
Direito Penal Flávio Milhomem 2
Direito Processual Penal Guilherme Rezende 1
Legislação Penal Especial Alex Fadel 1
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes 1
Direito Tributário Mateus Pontalti 1
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa 1
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Discorra sobre os limites impostos ao Conselho Nacional de Justiça, a teor da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, para o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Resposta objetivamente justificada.

Comentários

O Supremo Tribunal Federal, ao avaliar a constitucionalidade de atos normativos do Conselho Nacional de


Justiça, houve por bem delinear 3 (três) linhas jurisprudenciais.

Primeira: o Conselho Nacional de Justiça, sob pena de atividade ultra vires, não pode interferir em atos de
conteúdo jurisdicional, emanados de quaisquer tribunais ou juízes, nem determinar que eles se abstenham
de cumprir leis e atos normativos por aparente vício de inconstitucionalidade.

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Segunda: ainda que não interfira em atos de conteúdo jurisdicional, o Conselho Nacional de Justiça deveria
observância ao princípio da subsidiariedade, pelo qual aos tribunais seria atribuído o exercício prioritário do
poder correcional sobre os juízes a eles funcionalmente vinculados, de tal forma que a intervenção do órgão
de controle administrativo, disciplinar e financeiro do Poder Judiciário requereria, para legitimar-se, a
ocorrência de situações anômalas e excepcionais, como, por exemplo, hipóteses de inércia, simulação
investigatória, procrastinação indevida e/ou incapacidade de atuação.

Terceira: mesmo que não intervenha no exercício do poder correcional dos tribunais em geral, o Conselho
Nacional de Justiça não pode deixar de levar em consideração os costumes locais e as peculiaridades da
atividade judicial.

Questão 2. Ao julgar um caso concreto, pode o órgão do Poder Judiciário deixar de aplicar o Verbete de
Súmula de efeito vinculante do Supremo Tribunal Federal? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

Os verbetes da súmula da jurisprudência predominante com eficácia vinculante são definidos como
enunciados jurídicos aprovados, revisados ou cancelados, de ofício ou por iniciativa de legitimado para ação
direta de inconstitucionalidade, por dois terços dos membros do Supremo Tribunal Federal, quanto à
interpretação, validade e eficácia de normas determinadas, em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à Administração Pública, direta ou indireta, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal,
sob pena de reclamação.

Dentro dessa perspectiva, consoante o art. 103-A, §§ 2º e 3º, da Constituição da República, ao julgar um caso
concreto, pode o órgão do Poder Judiciário deixar de aplicar o enunciado ou verbete de súmula de efeito
vinculante do Supremo Tribunal Federal, não devendo ser olvidada, no Direito brasileiro, a distinção entre
overruling e distinguishing.

De um lado, o Supremo Tribunal Federal deve proceder à revisão da súmula da jurisprudência, quando
vislumbrar a mudança do parâmetro anteriormente firmado no precedente judiciário (overruling).

De outro lado, os Juízos e Tribunais podem deixar de aplicar o enunciado ao caso concreto, quando
verificarem que a questão submetida à apreciação judicial não é igual ao precedente judiciário
(distinguishing).

JURISPRUDÊNCIA

“Agravo interno em ação rescisória. Direito Processual Civil e Administrativo. Concurso público.
Candidatos aprovados fora do número de vagas. Aplicação do tema 784 da repercussão geral.
Violação manifesta à norma jurídica. Inocorrência. Cabimento com base no art. 966, § 5º, do
CPC. Distinguishing. Ausência dos requisitos legais. Incidência da Súmula 343/STF. Ação
rescisória não é instrumento para a correção de eventual erro de direito ou suposta injustiça da
decisão. Precedentes. Agravo interno não provido. Majoração dos honorários advocatícios (art.
85, § 11, do CPC). Manutenção da reversão do depósito prévio à União (parágrafo único do art.
974 do CPC)” (STF, AR-AgR nº 2.702, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 30.08.2019, DJU 16.09.2019).

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3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Disserte sobre o Princípio da Continuidade do Serviço Público, passando pelos aspectos
jurisprudenciais e doutrinários mais relevantes.

Comentários

De acordo com este princípio, os serviços públicos não devem sofrer interrupções, isto é, a prestação do
serviço deve ser contínua, de modo a evitar que a interrupção “provoque colapso nas múltiplas atividades
particulares” 51.

É por este princípio que se legitima a existência de institutos como a suplência, a delegação e a substituição
para ocupar as funções públicas que estejam temporariamente vagas.

Embora vigore o princípio da continuidade, faz-se necessário o estudo da suspensão do serviço público. De
acordo com o art. 6º, § 3º da Lei nº 8.987/95, não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua
interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

No que tange ao não pagamento pelo usuário do serviço, deve-se diferenciar os serviços compulsórios e os
facultativos. Estes são aqueles que o particular pode ou não requerer a sua prestação. Dessa forma, em razão
da facultatividade do serviço, o Poder Público pode suspender-lhe a prestação no caso de não pagamento.
Ex.: suspensão do serviço de fornecimento de energia elétrica52, bem como os serviços de uso de linha
telefônica. Àqueles, por sua vez, não serão permitidas a suspensão, afinal o Estado o impôs coercitivamente
ao particular. Ademais, é motivo pela impossibilidade de interrupção do serviço ser ele remunerado por taxa,
uma vez que a Fazenda Pública tem mecanismos privilegiados para a cobrança da dívida. Ex.: Taxa de
incêndio, taxa de coleta de lixo.

Portanto, é de se concluir que serviços remunerados por taxa não podem ser suspensos, ao passo que os
remunerados por tarifa podem ser suspensos.

51
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p335.

52
STJ – Resp 510.478-PB.

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ATENÇÃO!! É possível a interrupção de serviços públicos essenciais quando o inadimplente for o


particular.

O primeiro fundamento para o corte é o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse
privado, que estabelece a verticalidade na relação entre o particular (administrado) e a administração
pública, permitindo que este poder da administração calcado na verticalidade interrompa o serviço do
particular que não paga.

O segundo fundamento é o princípio da continuidade dos serviços públicos para a coletividade. Acontece
que o princípio da continuidade sob a ótica da coletividade revela que obrigar o prestador do serviço público
a continuar a prestação do serviço público ao usuário inadimplente poderá gerar, no futuro, a
impossibilidade de atender aos demais usuários por não haver como cobrir os custos. Dito de outra forma,
a prestação do serviço sem a contraprestação do usuário poderia levar à inviabilização do serviço público.
Portanto, poderia levar a um desequilíbrio das cláusulas econômico-financeiras.

O terceiro fundamento é a vedação ao enriquecimento sem causa por parte do usuário inadimplente.

O quarto fundamento é o princípio da isonomia, de modo que se deve dar a todos o mesmo tratamento a
partir da forma como se comportam.

Observe o posicionamento do STJ: É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito
irrisório, por configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sendo
cabível a indenização ao consumidor por danos morais.53

Importante também o seguinte julgado: é ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais
quando o débito decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada
unilateralmente pela concessionária.54

ATENÇÃO 2!! A suspensão do serviço só é admissível no caso de débitos atuais, isto é, aqueles
que provêm do próprio mês de consumo ou, ao menos, dos anteriores próximos. Quando se fala
em débitos pretéritos não deve o concessionário suspender o serviço. Na verdade, deve-se
utilizar das ações de cobrança a que fizer direito55.

Ademais, o novo usuário não pode sofrer a suspensão do serviço por débito de usuário antecedente. O
serviço remunerado por tarifa gera uma obrigação de natureza pessoal, e não propter rem.5657

53
REsp 811690/RR,Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 18/05/2006,DJ 19/06/2006
54
AgRg no AREsp 346561/PE,Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 25/03/2014,DJE 01/04/2014
55
STJ - REsp nº 1336889/RS
56 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. –p.337
57 STJ - AgRg no Ag de nº 1399175/RJ:

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ATENÇÃO 3!! Há decisões judiciais de que entendem inadmissível a suspensão do serviço público,
mesmo pago por tarifa, quando o usuário é o Poder Público.

De acordo com o STJ, é legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando
inadimplente pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não
atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.58

ATENÇÃO 4!! A jurisprudência do STJ também tem julgado no sentido de que não é possível a
interrupção no fornecimento do serviço público que coloque em risco a vida do usuário. Exemplo:
pessoa que depende de energia elétrica para manter máquina que mantenha função vital.
Mesmo que essa pessoa não pague a conta, o direito à vida, em virtude da ponderação de
interesses, prevaleceria ao direito de crédito.

ATENÇÂO 5!! Sobre o dano moral em razão do corte indevido de serviço público, a jurisprudência
do STJ possui precedente indicando que esse dano moral também é presumido.

Nesse ponto vale trazer a ementa do AgRg no AREsp 239.749/RS:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


IMPOSSIBILIDADE DE CORTE POR DÉBITOS PRETÉRITOS. SUSPENSÃO ILEGAL DO FORNECIMENTO.
DANO IN RE IPSA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior pacificou o
entendimento de que não é lícito à concessionária interromper o fornecimento do serviço em
razão de débito pretérito; o corte de água ou energia pressupõe o inadimplemento de dívida
atual, relativa ao mês do consumo, sendo inviável a suspensão do abastecimento em razão de
débitos antigos. 2. A suspensão ilegal do fornecimento do serviço dispensa a comprovação de
efetivo prejuízo, uma vez que o dano moral nesses casos opera-se in re ipsa, em decorrência da
ilicitude do ato praticado. 3. Agravo Regimental da AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia S/A
desprovido. (AgRg no AREsp 239.749/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 01/09/2014)

58
AgRg no AgRg no AREsp 152296/AP,Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,Julgado em 15/08/2013,DJE
11/12/2013

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ATENÇÃO 6!! A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio
de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no
art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995.59

Questão 2. Quais são os efeitos da fase declaratória da desapropriação?

Comentários

A fase declaratória é aquela em que o desapropriante declara o bem de utilidade pública ou de interesse
social para fins de desapropriação. Esta fase exterioriza um ato de soberania, um ato de império.

De acordo com o art. 2º do DL 3.365/41, a declaração é de competência da União, Estados, Distrito Federal,
Municípios e Territórios. Essa é a regra estabelecida para a declaração de desapropriação. Observe, contudo,
que há algumas exceções, nas quais algumas autarquias poderão declarar um bem para fins de
desapropriação, desde que possuam autorização legislativa.

Atente-se ao fato do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) pode declarar um bem
para fins de desapropriação visando à implantação do Sistema Nacional de Viação. – Art. 82, IX da Lei
10.233/01.

A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) também possui a competência declaratória, com o objetivo
de serem desapropriadas áreas para a instalação de concessionários e permissionários de energia elétrica. -
Art. 10 da Lei 9.074/95

O particular não pode declarar o bem para fins de desapropriação ainda que prestador de serviço público.

Observe que de acordo com o art. 6º e o art. 8º do DL 3.365/41, a declaração de utilidade pública pode
ocorrer por meio de Decreto dos Chefes do Poder Executivo; ou por meio de Lei do Poder Legislativo. Este
decreto e esta lei são os chamados decreto e lei de efeitos concretos, uma vez que não possuem o caráter
da generalidade e abstratividade. São decreto e lei em sentido formal, mas são atos administrativos em
sentido material. Dessa forma, pode ser impugnado via Mandado de Segurança.

Atente-se ao Enunciado 4 do CJF, que afirma que o ato declaratório da desapropriação, por utilidade ou
necessidade pública, ou por interesse social, deve ser motivado de maneira explícita, clara e congruente, não
sendo suficiente a mera referência à hipótese legal

a) Efeitos da Declaração

A declaração de desapropriação não tem o condão de suprimir a propriedade do particular.

59
REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, por unanimidade, julgado em 15/12/2016, DJe 17/2/2017.

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A Declaração Fixa o Estado do Bem

É com a declaração que se saberá o valor da indenização a ser paga pelo poder público.

De acordo com o art. 26, § 1º do DL 3.365/41, as benfeitorias necessárias serão indenizadas, ainda que feitas
após a declaração de desapropriação. Por sua vez, as benfeitorias úteis serão indenizadas somente se
autorizadas pelo poder público. Por fim, as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas.

Ainda, o art. 2º, § 4º da Lei nº 8629/93 afirma que, no caso de reforma agrária, não será considerada qualquer
modificação introduzida ou ocorrida até 6 meses após a data da comunicação da desapropriação. As
modificações poderão ocorrer após esses 6 meses.

SÚMULA Nº 23 - VERIFICADOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA O LICENCIAMENTO DA OBRA,


NÃO O IMPEDE A DECLARAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA PARA DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL,
MAS O VALOR DA OBRA NÃO SE INCLUIRÁ NA INDENIZAÇÃO, QUANDO A DESAPROPRIAÇÃO FOR
EFETIVADA.

Direito de Penetração – art. 7º do DL 3.365/41

Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas autorizadas a penetrar nos prédios
compreendidos na declaração, podendo recorrer, em caso de oposição, ao auxílio de força policial.

O direito de penetração não transfere a posse. O poder público entra, mas sai do bem, exatamente por não
haver a posse. A penetração ocorre para que o expropriante adentre no bem para realizar determinadas
atividades.

Início do prazo decadencial para que a fase executória tenha Início

A desapropriação deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se judicialmente, dentro de 5 anos,


contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. Neste caso, somente
decorrido um ano, poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração. Em outras palavras, tem-se o prazo
de 5 anos da data da expedição do decreto para iniciar a fase executória. Passado o prazo, somente depois
de 1 ano é que o bem poderá ser objeto de nova declaração. Isto de acordo com o art. Art. 10 do DL 3.365/41.

O prazo de 5 anos refere-se para a declaração de utilidade pública. No caso de interesse social, o prazo de
caducidade será de 2 anos, de acordo com o art. 2º da Lei nº 4.132/62.

Preferência daquele ente que declara um bem para desapropriação em 1º lugar, quando 2 entes de mesma
hierarquia desejam desapropriar um bem móvel

Observe que a preferência ocorre somente do bem móvel, afinal, em relação ao bem imóvel somente o ente
em que este se situa poderá proceder com a declaração de desapropriação.

Imissão Provisória na Posse

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Para que haja a imissão provisória na posse é necessário a presença de 2 requisitos, quais sejam, 1) a
declaração de urgência e 2) que seja depositado o valor de acordo com o que a lei estabelecer, independente
da citação do réu.60

Observe que presente ambos os requisitos, o expropriante tem direito subjetivo à imissão provisória na
posse, não podendo o juiz indeferi-la.

A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão provisória
dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias. Excedido o prazo não será concedida a imissão
provisória.

A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente.

Se houver concordância, reduzida a termo, do expropriado, a decisão concessiva da imissão provisória na


posse implicará a aquisição da propriedade pelo expropriante com o consequente registro da propriedade
na matrícula do imóvel.

A concordância escrita do expropriado não implica renúncia ao seu direito de questionar o preço ofertado
em juízo.

Na hipótese deste artigo, o expropriado poderá levantar 100% (cem por cento) do depósito.

Do valor a ser levantado pelo expropriado devem ser deduzidos os valores dispostos nos §§ 1o e 2o do art.
32 deste Decreto-Lei, bem como, a critério do juiz, aqueles tidos como necessários para o custeio das
despesas processuais.

Observe que a imissão é uma situação facultada ao expropriante. Não é obrigatório requerer a imissão
provisória. Contudo, na desapropriação por reforma agrária, a imissão provisória é fase obrigatória, nos
termos do art. 6º, I da LC nº 76/93.

Por fim, observe que o art. 1º do DL 1.075/70, que versa sobre a desapropriação de prédio urbano residencial
possibilita também a imissão provisória na posse, mediante o depósito do preço oferecido. Este depósito
pode ser impugnado. Havendo a impugnação, o juiz fixará, em 48 horas, o valor provisório do imóvel. Quando
o valor arbitrado for superior à oferta, o juiz só autorizará a imissão provisória na posse do imóvel, se o
expropriante complementar o depósito para que este atinja a metade do valor arbitrado.

3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. No contexto de multidão, discorra sobre a proteção à imagem da pessoa humana.

60
De acordo com o STF, por meio da súmula 652, não há inconstitucionalidade nessa situação.

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Comentários

A imagem compõe a personalidade da pessoa. Na doutrina, há a distinção quanto à imagem-retrato e a


imagem atributo. Confira-se, no ponto:

O posicionamento jurídico moderno apresenta duas espécies de imagens: a imagem-retrato e a


imagem-atributo. Neste particular, Maria Helena Diniz distingue os dois institutos da imagem:
imagem-retrato é a representação física da pessoa, como um todo ou em partes separadas do
corpo (nariz, olhos, sorriso etc.) desde que identificáveis, implicando o reconhecimento de seu
titular, por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura, interpretação dramática,
cinematografia, televisão, sites etc., que requer autorização do retratado (CF, art. 5º, X). A
imagem-atributo é o conjunto de caracteres ou qualidades cultivadas pela pessoa, reconhecidos
socialmente (CF, art. 5º, V), como habilidade, competência, lealdade, pontualidade etc. A
imagem abrange também a reprodução, romanceada em livro, filme, ou novela, da vida de
pessoa de notoriedade61.

Ambas as expressões são tuteladas pelo ordenamento jurídico. De fato, salvo se autorizadas, ou se
necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins (art. 20, caput, do Código Civil).

Há, porém, que se diferenciar a captação da imagem individualizada e da imagem em contexto multitudinário
– ou em ambiente aberto.

A primeira atinge diretamente a pessoa captada. Visa a enfocá-la e a explorar determinado interesse na
gravação. De regra, será exigida a autorização da pessoa para que seja publicada a sua imagem. Violada a
necessidade de consentimento, e na hipótese de interesse financeiro na captação ou mesmo se atingir a
honra (objetiva ou subjetiva, em conceituação ampla), haverá direito à indenização consequente.

A segunda, a seu turno, exige maior cautela no que tange tanto à necessidade de autorização quanto ao
direito à indenização. Trata-se de consectário da vida em sociedade; o registro en passant da pessoa, em
conjunto com a construção cênica de certo evento com pluralidade de pessoas, não possui proteção
equiparada ao registro individual. Fala-se em consentimento presumido, conceituação cuja leitura deve ser
realizada à luz do contrato social por que a pessoa adere, figurativamente, ao conviver no seio da
comunidade.

Neste sentido:

61
Disponível em https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/uma-abordagem-doutrinaria-e-jurisprudencial-do-direito-a-
imagem/. Acesso em 14/2/2021.

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RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. JULGAMENTO: CPC/15.

1. Ação de compensação de dano moral ajuizada em 04/08/2016, da qual foi extraído o presente
recurso especial, interposto em 26/06/2016 e atribuído ao gabinete em 05/11/2018.

2. O propósito recursal consiste em decidir sobre a configuração do dano moral pelo uso da
imagem de torcedor de futebol para campanha publicitária de automóvel, enquanto ele se
encontrava no estádio assistindo à partida do seu time.

3. Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a depender das
circunstâncias, especialmente quando se trata de imagem de multidão, de pessoa famosa ou
ocupante de cargo público, há julgados do STJ em que se admite o consentimento presumível, o
qual deve ser analisado com extrema cautela e interpretado de forma restrita e excepcional.

4. De um lado, o uso da imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes -
associada à partida de futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores, porque costumeiro
nesse tipo de evento; de outro lado, quem comparece a um jogo esportivo não tem a expectativa
de que sua imagem seja explorada comercialmente, associada à propaganda de um produto ou
serviço, porque, nesse caso, o uso não decorre diretamente da existência do espetáculo.

5. Se a imagem é, segundo a doutrina, a emanação de uma pessoa, através da qual ela se projeta,
se identifica e se individualiza no meio social, não há falar em ofensa a esse bem personalíssimo
se não configurada a projeção, identificação e individualização da pessoa nela representada.

6. Hipótese em que, embora não seja possível presumir que o recorrente, enquanto torcedor
presente no estádio para assistir à partida de futebol, tenha, tacitamente, autorizado a recorrida
a usar sua imagem em campanha publicitária de automóvel, não há falar em dano moral porque
o cenário delineado nos autos revela que as filmagens não destacam a sua imagem, senão
inserida no contexto de uma torcida, juntamente com vários outros torcedores.

7. Recurso especial conhecido e desprovido.

(REsp 1772593/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/06/2020,
DJe 19/06/2020)

Questão 2. Aborde a teoria do adimplemento substancial.

Comentários

As obrigações não naturais materializam-se pelos negócios jurídicos. A reciprocidade de direitos e de


obrigações, nos onerosos, é regida pela cláusula pacta sunt servanda, pela qual as partes não podem delir
sponte propria a avença firmada, que passa a reger a relação jurídica de maneira cogente.

Assim, apenas será satisfeito o crédito quanto adimplido o principal e os encargos. O pagamento a menor
preserva o vínculo e atrai a proteção ao crédito.

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Na terminologia latina, porém, est modus in rebus. Há que se valer da ponderação na análise concreta da
relação jurídica que se pretende alegar o inadimplemento.

Isso porque, no ponto, pode haver o chamado adimplemento substancial, consistente na satisfação de parte
elementar do débito, conjugado com uma causa adequada de impedimento do pagamento residual. Aqui,
haverá a atração da boa-fé objetiva e se protegerá a parte com diminuto inadimplemento. Preservar-se-á o
negócio jurídico, embora se abra a possibilidade de indenização pelo residual.

Para Clóvis do Couto e Silva:

Adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão próximo ao resultado final, que,


tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão
somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a
ferir o princípio da boa-fé (objetiva)" (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e Português in
Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português. São Paulo: RT, 1980, p. 56).

Compreendido, pois, que a boa-fé objetiva torna defeso o abuso de direito, exsurge o adimplemento
substancial como instrumento de estabilidade das relações sociais. Na jurisprudência, para fins de
aprofundamento, recomenda-se o estudo do REsp 1200105-AM, STJ. 3ª Turma. Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 19/6/2012.

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, discorra sobre a (des)
necessidade de intimação do réu, sem procurador constituído, que haja sido revel na fase de
conhecimento, para o cumprimento de sentença.

Comentários

Segundo o entendimento exarado pelo Superior Tribunal de Justiça, é devida a intimação pessoal do réu,
sem procurador constituído, para o cumprimento de sentença, ainda que haja sido revel na fase de
conhecimento. Sabe-se que, em regra, a intimação para o cumprimento de sentença é feita na pessoa do
advogado, porém, não o havendo, deve ser realizada ao próprio réu, a despeito de sua revelia na fase de
conhecimento.

Isso porque, não obstante se entender atualmente pela existência de um processo sincrético, o qual reúne
em si as fases cognitiva e satisfativa, não se estende à inauguração desta o efeito da desnecessidade de
intimação do réu para os atos posteriores em decorrência de sua revelia na fase anterior, isto é, nesse
momento, não se aplica a regra de que os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da
data de publicação do ato decisório no órgão oficial, prevista no artigo 346 do Código de Processo Civil.

Tal exigência se pauta na necessidade de fortalecimento do contraditório, mesmo porque se trata de etapa
processual destinada a afetar, efetivamente, o patrimônio do réu, com a realização de diligências mais
invasivas em seu desfavor, e não mais limitada a dizer o direito. Aliás, a intimação do réu para o cumprimento
de sentença consiste em providência prevista pelo próprio diploma processual civil, a seguir, em regra, a

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forma pela qual se realizou a citação na fase de conhecimento, de acordo com o disposto no artigo 513, §2º,
do Código de Processo Civil.

Essa foi a postura jurisprudencial adotada pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do
REsp 1.760.914-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, em 02/06/2020 (Info 673).

3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. ARLINDO ORLANDO, servidor da Prefeitura Municipal de Miracema do Norte, foi investigado
pela violação aos mandamentos proibitivos constantes do art. 312, caput, do Código Penal, por ter, ao
longo do ano de 2020, descontado valores da folha de pagamento dos servidores da prefeitura para
quitacão de empréstimo consignado; não os repassando às instituicões financeiras credoras.
Após o seu indiciamento pela autoridade policial, a defesa do indiciado ajuizou Habeas Corpus, visando ao
trancamento do inquérito policial, sob o argumento da atipicidade da conduta do investigado.
Na qualidade de Promotor de Justiça, instado a se manifestar na ação impugnativa, opinaria pelo seu
deferimento? Fundamente.

Comentários

De início, ressalta-se que a diferenca entre manipulacão de dinheiro público ou particular tem especial
importância na análise da questão do dolo na obtencão de proveito próprio ou alheio com desvio de
finalidade das verbas e da simples aplicacão inadequada dessa mesma verba. Essa discussão, que
eventualmente surge na hipótese de o administrador público dar destino diverso ao previsto para a verba,
mas ainda no âmbito público, a exemplo de deslocar montante que seria aplicado à saúde para a
pavimentacão de rodovia. Contudo, sendo o dinheiro particular, esse tipo de controvérsia se desfaz, pois não
é dado ao administrador deslocar esse dinheiro para nenhuma outra finalidade que não a ajustada. Assim,
tratando-se de aplicacão de dinheiro particular e tendo o administrador público traído, evidentemente, a
confianca que lhe fora depositada, ao dar destinação diversa à ajustada, não é requisito para a configuracão
do crime a demonstracão do proveito próprio ou alheio. Mesmo que necessário fosse, sendo o dinheiro de
servidores, ou seja, particular, o proveito exsurge do fato em si. O peculato-desvio é crime formal que se
consuma no instante em que o funcionário público dá ao dinheiro ou valor destino diverso do previsto. A
obtenção do proveito próprio ou alheio não é requisito para a consumação do crime, sendo suficiente a
mera vontade de realizar o núcleo do tipo. Desse modo, configura peculato-desvio a retenção dos valores
descontados da folha de pagamento dos servidores públicos que recebiam seus vencimentos já com os
descontos dos valores de retencão a título de empréstimo consignado, mas, por ordem de administrador, os
repasses às instituicões financeiras credoras não eram realizados.

Neste sentido, o Ministério Público opina pelo indeferimento da ação de habeas corpus proposta.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO

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Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
A diferença entre manipulação de dinheiro público ou
particular tem especial importância na análise da
questão do dolo na obtenção de proveito próprio ou
alheio com desvio de finalidade das verbas e da simples
aplicação inadequada dessa mesma verba. Essa
discussão, que eventualmente surge na hipótese de o
Manipulação de verba
administrador público dar destino diverso ao previsto 30%
pública ou privada
para a verba, mas ainda no âmbito público, a exemplo de
deslocar montante que seria aplicado à saúde para a
pavimentação de rodovia. Contudo, sendo o dinheiro
particular, esse tipo de controvérsia se desfaz, pois não
é dado ao administrador deslocar esse dinheiro para
nenhuma outra finalidade que não a ajustada.
Tratando-se de aplicação de dinheiro particular e tendo
Necessidade de
o administrador público traído a confiança que lhe fora
demonstração de
depositada, ao dar destinação diversa à ajustada, não é 30%
proveito próprio ou
requisito para a configuração do crime a demonstração
alheio
do proveito próprio ou alheio.
O peculato-desvio é crime formal que se consuma no
instante em que o funcionário público dá ao dinheiro ou
Peculato desvio - valor destino diverso do previsto. A obtenção do
30%
consumação proveito próprio ou alheio não é requisito para a
consumação do crime, sendo suficiente a mera vontade
de realizar o núcleo do tipo.
Questão 2. No dia 05 de novembro de 2020, o ANTÔNIO MANSO PACÍFICO ajuizou Revisão Criminal
visando a desconstituir sentença que o condenara à pena de prisão pelo cometimento do crime de
falsidade ideológica.
Na sentença, consta que o autor cometeu os crimes em 2003 e 2007, quando incluiu 02 (duas) sócias
"laranja" no contrato social da empresa que prestava serviços à administração pública; e que, anos após,
promoveu alterações contratuais sem, no entanto, exclui-las, o que caracterizaria nova prática delitiva
prevista no art. 299 do Código Penal.
A denúncia foi recebida no dia 10 de janeiro de 2013; e a sentença fixou a pena, que restou definitiva, em
01 ano e 02 meses de reclusão.
Na sua opinião, a ação impugnativa merece ser acolhida? Fundamente.

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A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem vir a se protrair no tempo. A
despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar, ela se consuma no momento em que é praticada a
conduta, segundo precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

Neste contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o momento da
consumação do delito, e não da eventual reiteração de seus efeitos.

Se o julgado rescindendo admite que os falsos foram praticados em 2003 e 2007, quando as sócias "laranja"
foram incluídas pela primeira vez no contrato social da empresa, erra ao afirmar que teriam sido reiterados
quando, por ocasião das alterações contratuais ocorridas em anos posteriores, quando o réu deixou de
regularizar o nome dos sócios verdadeiramente titulares da empresa, mantendo o nome dos "laranjas".

Isso porque, não há como se entender que constitui novo crime a omissão do réu em corrigir informação
falsa por ele inserida em documento público quando teve oportunidade para tanto. Tampouco há como se
entender que a lei pune um crime instantâneo porque ele continua produzindo efeitos depois de sua
consumação.

Considerando-se que a pena definitiva foi fixada em 1 ano e 2 meses de reclusão, a prescrição pela pena em
concreto, nos termos dos arts. 109, V, c/c 110, caput, do Código Penal, verifica-se "em 4 (quatro) anos, se o
máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois”; e sabido que a denúncia (primeiro
dos marcos interruptivos da prescrição - art. 117, I, CP) foi recebida em 10/01/2013, tem razão o autor da
revisão criminal quanto afirma que os delitos, praticados em 2003 e 2007, pelos quais foi condenado, estão
prescritos.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo,
cujos efeitos podem vir a se protrair no tempo. A
Falsidade ideológica -
despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar, ela 30%
consumação
se consuma no momento em que é praticada a conduta,
segundo precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
O termo inicial da contagem do prazo da prescrição da
Termo inicial de
pretensão punitiva é o momento da consumação do 30%
contagem da prescrição
delito, e não da eventual reiteração de seus efeitos.
Considerando-se que a pena definitiva foi fixada em 1
Reconhecimento da ano e 2 meses de reclusão, a prescrição pela pena em
30%
prescrição concreto, nos termos dos arts. 109, V, c/c 110, caput, do
Código Penal, verifica-se "em 4 (quatro) anos, se o

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máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior,


não excede a dois”; e sabido que a denúncia (primeiro
dos marcos interruptivos da prescrição - art. 117, I, CP)
foi recebida em 10/01/2013, tem razão o autor da
revisão criminal quanto afirma que os delitos, praticados
em 2003 e 2007, pelos quais foi condenado, estão
prescritos.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Ministério Público oferece denúncia contra Pedro, atribuindo-lhe a prática do crime previsto
no artigo 171, do CP, narrando que ele teria, mediante rompimento de obstáculo, adentrado a residência
da vítima e subtraído, para si, R$ 500.
Comente o enunciado.

Comentários

A primeira observação a ser feita é que houve flagrante equívoco do Ministério Público ao proceder à
tipificação do delito. A narrativa se refere a um crime de furto qualificado, muito embora a tipificação tenha
sido feita como de um crime de estelionato.

Trata-se de típica situação de emendatio libelli, prevista no artigo 383, do CPP:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-
lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.

Assim, deve o juiz, ao proferir a sentença, proceder à correção da tipificação, sem maiores formalidades,
afinal de contas o réu se defende dos fatos e não da capitulação. Nada obstante, o juiz tem a livre dicção do
direito, podendo, pois, proceder à retificação independemente de provocação.

Em sendo Promotor e, constatando o equívoco, interessante observá-lo, corrigindo o teor da denúncia, nos
moldes do artigo 569, do CPP:

Art. 569. As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou, nos processos das
contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a todo
o tempo, antes da sentença final.

3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. À luz da legislação vigente e do entendimento do STJ, discorra acerca da tipicidade, ou não, da
conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha (máximo 15 linhas).

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O entendimento do STJ, em recente julgado, foi no sentido de que é atípica a conduta de importar pequena
quantidade de sementes de maconha. Satisfatórias são as razões tecnicamente elencadas na decisão (EREsp
1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 14/10/2020, DJe
21/10/2020), disponível no informativo n.º 0683, do STJ:

Cinge-se o dissenso quanto ao tema relativo à tipicidade ou não da conduta de importar pouca
quantidade de sementes de maconha. O acórdão embargado, da Quinta Turma, entendem que
“a importação clandestina de sementes de cannabis sativa linneu (maconha) configura o tipo
penal descrito no art. 33, § 1º, I, da Lei n. 11.343/2006” (AgRg no REsp 1.733.645/SP, Rel. Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 05/06/2018, DJe 15/06/2018). Por sua
vez, para o acórdão paradigma, da Sexta Turma, “tratando-se de pequena quantidade de
sementes e inexistindo expressa previsão normativa que criminaliza, entre as condutas do artigo
28 da Lei de Drogas, a importação de pequena quantidade de matéria prima ou insumo destinado
à preparação de droga para consumo pessoal, forçoso reconhecer a atipicidade do fato”.

O conceito de "droga", para fins penais, é aquele estabelecido no art. 1º, parágrafo único, da Lei
n. 11.343/2006: "Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder executivo da União."

A mesma Lei traz no seu art. 66: "Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei,
até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas
substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria
SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998."

Compulsando a lista do referido ato administrativo, do que se pode denominar "droga", vê-se
que dela não consta referência a sementes da planta Cannabis Sativum. No anexo, Lista E, tem-
se as plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas. A primeira delas
é justamente a Cannabis Sativum.

O Tetrahidrocanabinol - THC é a substância psicoativa encontrada na planta Cannabis Sativum,


mas ausente na semente, razão pela qual esta não pode ser considerada "droga", para fins
penais, o que afasta a subsunção do caso a qualquer uma das hipóteses do art. 33, caput, da Lei
n. 11.343/2006.

Os incisos I e II do § 1º do referido artigo, listam uma série de condutas que incorrem nas mesmas
penas. Infere-se do inciso II que "matéria-prima" é a substância utilizada "para a preparação de
drogas", como é o caso da planta Cannabis Sativum, porque dela se extrai a droga. Da semente,
nada se extrai diretamente, nem se misturada com o que quer que seja. Logo, não pode ser
considerada "matéria-prima".

No mais, a norma prevê como conduta delituosa o semeio, o cultivo ou a colheita da planta
proibida. Embora a semente seja um pressuposto necessário para a primeira ação, e a planta
para as demais, a importação (ou qualquer dos demais núcleos verbais) da semente não está
descrita como conduta típica.

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Além disso, a semente também não se enquadra na qualificação de "insumo" ou, muito menos,
"produto químico", porque ambos visam à preparação de drogas.

Também não se antevê possibilidade de subsunção da conduta a qualquer das hipóteses do art.
28 da Lei. As condutas delituosas estão adstritas a ações voltadas para o consumo de droga e aos
núcleos verbais de semear, cultivar ou colher plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de droga, também para consumo pessoal. Sob essa óptica, o ato de importar
pequena quantidade de semente configuraria, em tese, mero ato preparatório para o crime do
art. 28, § 1º, impunível, segundo nosso ordenamento jurídico.

Por fim, apesar da propensão em concordar com o entendimento sufragado pela instância a quo
(que enquadrou a conduta de importar sementes de maconha como crime de contrabando,
previsto no Código Penal, art. 334-A), em homenagem à segurança jurídica e ao princípio da
razoável duração do processo, privilegia-se o entendimento majoritário já formado neste
Superior Tribunal de Justiça, que está em consonância com os precedentes da Suprema Corte e
que consideram atípica a importação de pequena quantidade de sementes de maconha.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Após o advento do termo final do prazo para a propositura da ação de impugnação ao pedido
de registro de candidatura, a existência de causa de elegibilidade em relação a algum candidato pode ser
arguida perante a Justiça Eleitoral? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

Refere-se a questão à preclusão temporal em matéria eleitoral, sob a égide dos arts. 223, § 3º e 259 do
Código Eleitoral, como também do art. 3º da Lei Complementar nº 64/90 e art. 11, § 10, da Lei nº 9.504/97,
incluído pela Lei nº 12.034/09.

As condições de elegibilidades legais estão subordinadas à preclusão temporal, de forma que devem ser
alegadas em ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura.

Ao contrário, as condições de elegibilidade constitucionais não estão sujeitas à preclusão temporal, de modo
que podem ser arguidas até o recurso contra a diplomação ou, então, ação de impugnação de mandato
eletivo, ressalvadas, em qualquer hipótese, as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade
supervenientes.

“Eleições 2012. Agravos regimentais (...). Incide, na espécie, o disposto no art. 11, § 10, da Lei nº
9.504/97, porque constatada alteração jurídica superveniente ao registro de candidatura (...). De
acordo com a jurisprudência desta Corte, cumpre à Justiça Eleitoral, enquanto não cessada a
jurisdição relativamente ao registro de candidato, levar em conta fato superveniente” (STF, AI
nº 35.425, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU 26.08.2014).

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3.9 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Disserte sobre a fraude à execução fiscal. (máximo de 10 linhas)

Comentários

O artigo 185 do CTN versa sobre a fraude à execução fiscal:

Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por
sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito
como dívida ativa. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo
devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita. (Redação dada pela Lcp nº
118, de 2005)

Como se pode observar do dispositivo, o marco temporal utilizado pela Lei para caracterização da fraude à
execução é a inscrição do crédito em dívida ativa, que ocorre antes mesmo do ajuizamento da ação de
execução fiscal, conforme demonstra o gráfico abaixo:

Assim, o regramento aplicável ao fisco com relação aos créditos tributários é mais favorável do que o
existente em favor dos credores privados. Com relação a estes últimos, incide o disposto no artigo 792 do
CPC, que pressupõe para o reconhecimento da fraude à execução a existência de uma demanda judicial ou
de uma constrição judicial.

3.10 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. O princípio da indisponibilidade do processo coletivo é rígido ou flexível?

Comentários

Segundo o entendimento deste autor: Princípio da indisponibilidade, diz que o autor da ação coletiva não
pode abdicar de seu objeto. Este princípio é flexibilizado pela possibilidade de realização de juízo de
conveniência quando da assunção ao polo ativo (ocorre na ação popular e na ação civil pública). (Interesses
e Direitos Difusos e Coletivos 2020. Ziesemer)

Soa estranho mencionar que um princípio é flexível, pois nos princípios se baseiam normas, atuações e
nortes. De qualquer sobre, atualmente há que se admitir uma flexibilidade no princípio da indisponibilidade,
em razão da possibilidade do juízo de conveniência que o Ministério Público pode fazer, o que decorre de
sua independência funcional (art. 127, §1º da CF). Assim, caso o Ministério Público entenda ser a ação
abandonada, infundada, temerária ou natimorta, por exemplo, não está obrigado a assumir a titularidade
ativa, na forma do art. 5º, §3º da Lei 7.347/85. De qualquer modo, toda manifestação nesse sentido deve ser
devidamente fundamentada.

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3.11 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. É cabível a promoção de ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública pelo ofendido,
em caso de arquivamento do inquérito policial ou peça de informação? Resposta objetivamente
justificada.

Comentários

A despeito do posicionamento de Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, que entende ser
“admissível a ação penal privada subsidiária da pública, mesmo em caso de arquivamento do inquérito”
(CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. O Processo Penal em face da Constituição. Rio de Janeiro:
Forense, 1992, p. 98), a doutrina, por maioria, é firmada no sentido do incabimento da promoção de ação
penal de iniciativa privada subsidiária da pública pelo ofendido, em caso de arquivamento do inquérito
policial ou peça de informação (JARDIM, Afranio Silva. Direito Processual Penal – estudos e pareceres. 3ª ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 445).

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