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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.

SÉRGIO TATI
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ENSAIO AO
PROCESSO EXECUTIVO

LUANDA/2021
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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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PRINCIPAIS ABREVIATURAS E SIGLAS

- AGT- Agência Geral Tributária.


- Apud- Citado(a)
- C.E.F – Código das Execuções Fiscais.
- CRA- Constituição da República de Angola
- CRP- Código de Registo Predial
- C.Civil- Código Civil
- C.C.J- Código das Custas Judiciais
- C.P.Civil- Código de Processo Civil
- C.E.F- Código de Execução Fiscal
- C.F- Código da Família
- EAJM- Estatuto da Assistência Jurisdicional dos Menores
- FDUAN- Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto.
- FDUC- Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
- Op. Cit- Na obra citada
- P. I- Petição Inicial
- Págs.- Páginas
- Kz- Kwanza
- UAN- Universidade Agostinho Neto
- V.g- Como tal, por exemplo

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ÍNDICE
NOTA DE ADVERTÊNCIA ................................................................................................... 7
I PARTE ................................................................................................................................... 8
TEORIA GERAL DA ACÇÃO EXECUTIVA ...................................................................... 8
1- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS .......................................................................................... 8
1.2- Finalidade e Estrutura da acção executiva ......................................................... 10
1.3- Regulamentação ......................................................................................................... 11
1.5- Legislação aplicável .................................................................................................. 11
2- IMPORTÂNCIA DA ACÇÃO EXECUTIVA ................................................................. 11
2.1- Importância teórica .................................................................................................... 11
2.2- Importância prática .................................................................................................... 12
3- ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONCEITO DE ACÇÃO EXECUTIVA .............. 13
3.1- Conceito, autonomia e natureza jurídica do direito de execução ................. 14
a)- Conceito de direito de execução.............................................................................. 14
b)- Autonomia da acção executiva em relação ao direito subjectivo .................. 15
d)- Natureza jurídica .......................................................................................................... 17
3.2- Características do processo executivo ................................................................ 18
3.2.1-Enfraquecimento ou mitigação do princípio do contraditório ..................... 18
3.2.2-A acção executiva está na quase total disponibilidade do exequente ...... 18
3.2.3-Na acção executiva verifica-se inúmeros despachos discricionários do
juiz .......................................................................................................................................... 19
3.2.4-O regime de nulidade dos actos processuais é menos rígido .................... 19
4- PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PROCESSO EXECUTIVO .......................... 19
 Princípio do dispositivo............................................................................................ 20
 Princípio da estabilidade da instância .................................................................. 20
 Princípio da tutela provisória da aparência ........................................................ 20
 Princípio do contraditório ........................................................................................ 21
 Princípio do inquisitório ........................................................................................... 21
 Princípio da igualdade das partes ......................................................................... 22
 Princípio da judicialidade ......................................................................................... 22
 Princípio da auto-responsabilidade do exequente............................................ 22
 Princípio da patrimonialidade ................................................................................. 22
 Princípio da coisificação .......................................................................................... 22
 Princípio da proporcionalidade .............................................................................. 23
 Princípio do seguimento .......................................................................................... 23
 Princípio da prioridade cronológica...................................................................... 24

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 Princípio da legitimidade formal ............................................................................ 24


5- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA ACÇÃO EXECUTIVA .............................. 24
5.1- Generalidades. Diferenciação com outras figuras ............................................ 24
5.2- Classificação dos pressupostosprocessuais..................................................... 25
PRESSUPOSTOS DE CARÁCTER GERAL ................................................................... 25
PRESSUPOSTOS DE CARÁCTER ESPECÍFICO ......................................................... 26
PRESSUPOSTOS FORMAIS E MATERIAIS .................................................................. 26
PRESSUPOSTOS RELATIVOS AOS SUJEITOS E AO OBJECTO............................ 26
PRESSUPOSTOS POSITIVOS E NEGATIVOS ............................................................. 26
6- CLASSIFICAÇÃO GERAL DO PROCESSO CIVIL .................................................. 27
6.1- Processo de jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária ......................... 27
6.2- Jurisdição Definitiva e Jurisdição provisória ..................................................... 27
Relevância das providências cautelares na acção executiva ................................ 28
6.3- Jurisdição Permanente e jurisdição arbitral ....................................................... 30
7- MODALIDADES OU CLASSIFICAÇÃO DAS ACÇÕES EXECUTIVAS ............... 31
7.1- Classificação do processo executivo quanto a forma ..................................... 31
Execução por custas. Notas breves.............................................................................. 32
Execuções fiscais. Notas breves ................................................................................... 33
7.2- Classificação do processo executivo quanto ao fim ........................................ 36
7.2.1- Acção de execução para pagamento de quantia certa:................................ 36
7.2.2- Acção de execução para entrega de coisa certa: .......................................... 36
7.2.3- Acção de execução para prestação de um facto positivo ou negativo.... 37
7.3- Estrutura do processo executivo ........................................................................... 37
8- OBJECTO DA EXECUÇÃO .......................................................................................... 39
I- Pressupostos relativos ao objecto imediato: ......................................................... 39
II- Pressupostos relativos ao objecto Mediato: .......................................................... 39
9- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS RELATIVOS AS PARTES ............................. 40
9.1- Personalidade e capacidade judiciária ................................................................. 40
9.2- Legitimidade das partes ........................................................................................... 41
9.2.1- Legitimidade do MinistérioPúblico..................................................................... 43
9.3- Pluralidade de partes ................................................................................................ 43
9.4- Patrocínio Judiciário ................................................................................................. 44
9.5- Interesse Processual ................................................................................................. 45
10- PRESSUPOSTO PROCESSUAL RELATIVO AO TRIBUNAL ............................. 45
10.1- A competência .......................................................................................................... 45
10.1.1- Competência internacional ................................................................................ 45

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10.1.2- Competência Interna ............................................................................................ 46


a) Competência absoluta .............................................................................................. 47
b) Competência relativa ................................................................................................. 47
11- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ESPECIFICOS DA ACÇÃO EXECUTIVA 48
11.1- O título executivo ..................................................................................................... 48
a) Uso da acção declarativa havendo título ............................................................. 49
b) Conformidade do pedido com o título .................................................................. 49
c) Conceito de título executivo .................................................................................... 50
d) Natureza Jurídica do título executivo ................................................................... 51
A TESE DE LIEBMAN: ........................................................................................................ 51
A TESE DE FRANCESCO CARNELUTTI: ...................................................................... 52
e) Evolução histórica dos títulos executivos .......................................................... 53
f) Espécies de título executivo ................................................................................... 54
Títulos executivos judiciais: ................................................................................................ 54
Títulos executivos extrajudiciais:........................................................................................ 55
g) Função do título executivo ...................................................................................... 56
11.2- Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação exequenda ........................... 56
II PARTE ................................................................................................................................ 59
A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO ........................................................... 59
ACÇÃO EXECUTIVA PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA SOB A FORMA
DE PROCESSO ORDINÁRIO............................................................................................ 59
1- REQUERIMENTO INICIAL ......................................................................................... 59
Possíveis Despachos do juiz .......................................................................................... 59
Atitudes do executado (face o despacho de citação): ............................................. 60
Marcha dos embargos: ........................................................................................................ 61
2- A PENHORA .................................................................................................................... 63
Conceito................................................................................................................................ 63
Natureza Jurídica: .............................................................................................................. 63
LIMITES DA PENHORABILIDADE .................................................................................. 64
1- IMPENHORABILIDADE SUBSTANTIVA ................................................................... 64
2- IMPENHORABILIDADE PROCESSUAL .................................................................... 64
Funções da penhora: ........................................................................................................ 64
Diferença entre penhora e outras garantias reais (hipoteca/penhor): ................. 64
Efeitos da penhora: ............................................................................................................ 65
Fases da Penhora: ............................................................................................................. 65
a)- Escolha ou Nomeação de bens ................................................................................... 66

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b)- Decisão do juiz sobre a penhora ou conversão do arresto em penhora ............... 66


c)- Efectivação da penhora ................................................................................................. 66
d)- Publicidade da penhora................................................................................................. 67
Renovação e levantamento da penhora: ..................................................................... 67
Embargos de terceiros ..................................................................................................... 68
3- CONCURSO DE CREDORES ...................................................................................... 69
4- PAGAMENTO .................................................................................................................. 71
Formas de pagamento: ....................................................................................................... 71
Modalidades de venda: ....................................................................................................... 72
Anulação da venda............................................................................................................... 72
Casos especiais de anulação da venda ........................................................................... 72
Exercício do direito de remição .......................................................................................... 73
5- EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO ......................................................................................... 73
6- RENOVAÇÃO DA EXECUÇÃO .................................................................................... 74
ACÇÃO EXECUTIVA PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA SOB A FORMA
DE PROCESSO SUMÁRIO................................................................................................ 75
ACÇÃO EXECUTIVA PARA ENTREGA DE COISA CERTA ...................................... 78
GENERALIDADES ............................................................................................................... 80
QUESTIONÁRIO PARA EXERCITAR ............................................................................. 84
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 88

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NOTA DE ADVERTÊNCIA
Os presentes sumários constituem a súmula (trechos) das matérias que temos
vindo a leccionar na cadeira de direito processual civil II- acção executiva, aos
estudantes do 4º ano do curso de Direito da UnIA.

O presente ensaio a temática do processo executivo, apresenta-se com alguma


limitação e, exactamente por não se tratar de uma obra com carácter definitivo,
procuramos apenas incluir e abordar as questões que consideramos
essenciais, e muitas delas não com a devida abrangência, à compreensão do
processo executivo

Este ensaio carece também de uma revisão legislativa profunda, face ao


processo de reforma da justiça e do direito em curso no país.

Estamos por isso cônscios que daqui resultará em torno da organização,


estruturação e sistematização do trabalho, críticas que sejam construtivas e
que desde já agradecemos.

Destarte, longe de concorrer para a realização ou elaboração de uma obra


perfeita e, muito menos um trabalho acabado, é sobretudo um contributo para
auxiliar os estudantes de direito, para uma melhor compreensão e abordagem
diferenciada do estudo processo executivo.

Luanda, Março de 2021

Elaborado por,
João Sérgio Tati

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I PARTE
TEORIA GERAL DA ACÇÃO EXECUTIVA

1- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
O processo executivo é um processo cível. A palavra processo transmite-nos a
ideia de um determinado percurso, da realização contínua e prolongada de
uma actividade. Como afirma Pais de AMARAL1 o processo civil, traduz uma
sequência de actos ou operações que apresentam uma certa unidade. O
processo é pois em sentido jurídico uma sequência de actos destinados à justa
composição, por um órgão imparcial de autoridade (o tribunal), de um litígio, ou
seja, de um conflito de interesses. É um conjunto de peças apresentadas por
uma e outra parte para servir à instrução e julgamento de uma questão. O
resultado para que tende a actividade processual constitui a decisão.

Quando o conflito a decidir diz respeito a interesses privados ou particulares,


estamos no domínio do processo civil2

As pessoas nas suas relações com os seus pares3 entram muitas vezes,
voluntaria ou involuntariamente em rota de colisão com os demais. As relações
humanas são constituídas por recurso ao direito substantivo (relações
conjugais, obrigacionais, reais, sucessórias, comerciais, etc.). Mas o recurso ao
direito substantivo não se mostra muitas vezes capaz e eficiente por si só de
dirimir conflitos, pelo que deverá fazer recurso ao direito adjectivo para a
sanação do problema existente. Aliás, é através do direito adjectivo que se
concretiza o direito substantivo. Pode-se mesmo dizer que o adjectivo é o
caminho para se alcançar o substantivo. Como afirma Evaristo SOLANO4, o
direito adjectivo está para o direito substantivo, tanto quanto a linha férrea está
para a locomotiva; tão importante quanto a meta é o odos.

1
Direito Processual Civil, 12ª Edição, Editora Almedina, 2015, pág. 11
2
Jorge Augusto Pais de Amaral, ob cit, pág. 11.
3
Entenda-se relações de paridade, aquelas que envolvem quer pessoas singulares como
pessoas colectivas e vice-versa.
4
Processo Executivo Angolano (Noções fundamentais), Edição do Autor, 2011, pág. 15.

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Vide o seguinte exemplo: se A viola o direito de B, as normas substantivas


dizem que A, deve reintegrar o direito de B. Mas se A, voluntariamente não
reintegrar o direito de B, B está impedido de recorrer a justiça privada, salvo
excepções previstas na lei (estado de necessidade, acção directa, legitima
defesa). Nesse caso, por meio da justiça pública, implicará que B, através de
meios próprios execute se necessário for o património de A.

1.1- Processo declarativo vs. Processo executivo

A materialização do direito carece quase sempre da existência de um tribunal.


O tribunal deve obedecer vários procedimentos, o juiz deve percorrer vários
caminhos para a realização da justiça, por aplicação do direito.Esses
procedimentos a que o juiz deve obedecer, nas acções cíveis, têm lugar na
acção declarativa ou executiva.

Na acção Declarativa visa-se obter a declaração judicial da solução concreta


que resulta da lei substantiva civil para a situação real trazida a juízo pelo
autor, ou seja, traduz-se em decisões sem recurso ao património do devedor.
Nestas acções o juiz declara ou confirma a existência do direito invocado pelo
autor. Porém se o condenado não cumprir voluntariamente, ou resistir o
cumprimento da decisão do tribunal, o lesado tem a possibilidade de intentar
uma acção executiva.

Já a acção Executiva emprega-se para requerer as providências adequadas à


reparação efectiva de um direito substantivo que está a ser violado, ou seja,
traduz-se fundamentalmente em operações de desapossamento do devedor de
coisas do seu património (penhora); entrega, venda forçada, seguindo-se o
pagamento com o preço da venda. Ela é agressiva, e visa a reintegração
efectiva do direito do credor.

O Professor Jorge Augusto Pais de AMARAL5 refere que a distinção entre


acções declarativas e acções executivas equivale à diferença entre simples
declarar eexecutar, entre o dizer e o fazer. No processo declarativo é declarada
a vontade concreta da lei, visando o executivo a execução dessa vontade.

5
Direito Processual Civil, 12ª Edição, Editora Almedina, 2015, pág. 32

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Enquanto na acção declarativa o juiz diz o que a lei ordena, em função do


comportamento do devedor, nas acções executivas o juiz executa (faz),
concretizando o que a lei ordena em função daquele mesmo comportamento.

1.2- Finalidade e Estrutura da acção executiva


a)-Finalidade:

A acção executiva serve para realizar o direito através de actuaçõescoercivas,


ou seja, apreensão forçada de bens do executado- artigo 817º do C.Civil- ou de
“terceiro”- artigo 818º do C.Civil, e sua entrega ao exequente ou na sua
alienação e entrega do produto ao exequente.

Através da acção executiva o credor/exequente/requerente requer as


providências adequadas à reparação efectiva do direito violado, conforme
artigo 4º, nº 3, do C.P.C.

A reparação efectiva do direito violado do credor, não se liga ao sentido de


indemnização mas sim ao de realização de direitos de estrutura creditórias
decorrentes da finalidade da execução, consagrada nos termos do artigo 45º nº
2, do C.P.C.

Nos casos da execução para prestação de facto negativo, isto é, em que o


devedor estiver obrigado a não praticar algum acto e vier a praticá-lo, tem o
credor o direito de exigir a demolição da obra à custa do devedor. Contudo se o
prejuízo da demolição para o devedor for consideravelmente superior ao
prejuízo sofrido pelo credor, fica sem efeito a demolição, estando aquele
obrigado somente a indemnizar o credor.

b)-Estrutura:

O ensino da acção executiva, para o presente estudo, será dividido em duas


grandes partes essenciais:

- A primeira parte compreenderá a exposição da teoria geral do processo


executivo, destinada a fornecer conceitos básicos fundamentais que permitem
a compreensão unitária e sistemática do direito processual civil, aplicável a
esta acção, segundo o critério da finalidade previsto no artigo 4º nº 3 do C.P.C.,
tais como: a caracterização da acção executiva, conceito, natureza jurídica,
pressupostos processuais, gerais e específicos, estrutura, etc.
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- A segunda parte abarcará a exposição dos trâmites do processo executivo,


segundo as várias espécies da sua classificação quanto ao fim previsto no
artigo 45º, nº 2 do C.P.C.

1.3- Regulamentação
A regulamentação específica da acção executiva, encontra-se dispersa pelo
Código de Processo Civil e em legislação avulsa. Assim a guisade exemplo
temos:

- Matéria sobre o título executivo: artigos 45º à 54º do C.P.C.

- Matéria sobre as partes: artigos 55º à 60º do C.P.C

- Matéria sobre a pluralidade de partes: artigo58º e ss. C.P.C

- Matéria sobre o Patrocínio judiciário: artigo60º do C.P.C.

- Matéria sobre a competência do tribunal: artigos 90º à 95 do C.P.C

- Matéria sobre as formas de processo: artigos 465º e 466º do C.P.C

- Matéria sobre regulação do processo executivo comum: artigos 801º à 943º


do C.P.C.

- Matéria sobre a regulação do processo executivo especial: artigos 1008ºss,


1044 e ss, 1118º e ss e demais previstas no C.C.J e C.E.F

1.5- Legislação aplicável


É vasta a legislação aplicável ao estudo da acção executiva, dentre as quais se
destacam: o código de processo civil, o código civil, o código das custas
judiciais, código das execuções fiscais, lei nº 9/05 - sobrea actualização das
alçadas dos tribunais e custas judiciais, lei nº 5-A/2021, de 05 de Março –
sobre alteração e actualização da lei das alçadas dos tribunais e das custas
judiciais, lei sobre a arbitragem voluntária, etc.

2- IMPORTÂNCIA DA ACÇÃO EXECUTIVA


2.1- Importância teórica
Sabe-se já que a acção executiva é um processo civil e como tal, adjectivo ou
instrumental ao direito substantivo. Assim, o deficiente conhecimento das
normas processuais pode comprometer o êxito da pretensão deduzida por

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quem propõe uma acção ou por quem tem interesse em opor-se a mesma
acção.

Tomemos como exemplo a seguinte situação: numa acção executiva para


pagamento de quantia certa, o executado pode opor-se a execução utilizando
um dosfundamentos previstos nos artigos 813º à 815º do C.P.C, no prazo de
dez (10) dias, conforme flui do artigo 816º do C.P.C.A entrega dos embargos
fora do prazo previsto, tem como efeito a sua rejeição, e consequentemente
indeferimento- cfr. artigos 817º nº 1 al. a), conjugado com o artigo 474º, este
último aplicável por força do artigo 801º todos do C.P.C.

Teoricamente também se pode dizer que a acção executiva, visa ajudar a


caracterização, bem como definir a natureza e autonomia do próprio processo
civil, matéria cujo desenvolvimento retomaremos em sede do estudo da
natureza jurídica do processo executivo.

2.2- Importância prática


Do ponto de vista prático, a acção executiva constitui o meio processual por
excelência consagrado pelo direito processual civil, para solucionar as
situações de crise mais acentuadas no direito objectivo material em que
ocorreu efectivamente a violação de um direito subjectivo a carecer de rápida
reparação ou integração.

A acção executiva deverá, portanto, assegurar em termos práticos e eficazes, a


reparação efectiva do direito do credor, fazendo cessar a situação ilícita, por
intermédio do Estado, através do tribunal competente utilizando os meios
executórios característicos dessa acção.

Em outras palavras, visa garantir a paz social, ou seja, a eficácia da justiça


pública. Só com uma boa regulamentação da acção executiva é que podemos
ter uma salvaguarda completa dos direitos subjectivos das partes.

Ora, verdade incontestável é que o homem é pela sua natureza um ser não
codificado que se caracteriza pela sua natural dispersão, indeterminação e
mutabilidade e como tal a ordem jurídica existe para regular essa
indeterminação. A ordem jurídica existe pois para evitar o caos social, razão
pela qual também a justiça continua a ser monopólio do Estado.

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Na acção de execução, o exequente tem interesse que a execução seja célere


e clara, já o executado tem interesse numa execução justa, pois há casos em
que o executado já efectuou o pagamento da divida e ainda assim, pode ser
executado, porque por exemplo, não elaborou um termo de quitação, tal como
prevê o artigo 787º do C.C. Pois o credor estando ainda no posse ou munido
de um titulo com manifesta força jurídica executória (a declaração da divida),
pode executar o devedor- artigo 45º do C.P.C.

3- ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONCEITO DE ACÇÃO EXECUTIVA


No conceito de acção executiva, encontramos três elementos fundamentais a
saber: elemento pressuposto, elemento fim e o elemento meio.

Vamos agora ao estudo de cada um deles:

I- ELEMENTO PRESSUPOSTO: Este elemento está constituído por dois


subelementos que são

a)- Pressuposto Material: consiste na existência de um direito de crédito


(elemento objectivo) e na certificação da violação deste mesmo direito
(elemento subjectivo).

A Acção executiva pressupõe uma resposta a esta violação, ou seja, em regra


um acto ilícito que se traduz no não cumprimento de uma prestação devida. O
direito de crédito violado pode surgir numa relação de (direito das obrigações,
reais, família, sucessões, etc.).

Suscita-se muitas vezes a questão de se saber então se o direito de execução


é independente do direito subjectivo. Para os processualistas sim, mas para os
civilistas não. A esta questão retomaremos quando tratarmos da natureza
jurídica.

b)- Pressuposto Formal: constituído pelo título executivo, isto é, um documento


revestido de certo formalismo, com força executiva própria.

II- ELEMENTO FIM: Consiste na reparação do direito violado. O fim da


execução pode ter como fundamento as seguintes situações:

a)- Execução Especifica: o credor obtém o benefício que lhe traria se o devedor
cumprisse voluntariamente com a sua prestação. Ex: numa execução para

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entrega coisa certa, o que o credor pretende é que lhe seja entregue a coisa,
isto é, o carro, o barco, etc.Vide artigo 827º do C.C.

b)- Execução por Sucedâneo: o credor obtém o benefício equivalente em


dinheiro ou da prestação do devedor remisso. Consiste no pagamentodo valor
correspondente a coisa que devia ter sido entregue.

Exemplo: na situação aflorada no exemplo anterior, isto é, numa execução para


pagamento de quantia certa, em que se pede a entrega de um barco ou carro,
pode o devedor pagar um montante em dinheiro equivalente ao valor do barco
ou do carro.

III- ELEMENTO MEIO: São dois os meios para a concretização ou reintegração


do direito violado do credor:

a)- Meios de Coação propriamente ditos: consistem em multas, e prisões


aplicáveis ao devedor que não cumpre com a sua obrigação. Estes meios têm
origem no sistema Francês, Inglês e Alemão). O direito positivo angolano
prescindi dos meios de coação, não estando os devedores sujeitos a prisão em
caso de incumprimento, ou seja, no ordenamento jurídico angolano não há a
admissão da prisão por dívida.

b)- Meios de sub-rogação: traduzem-se na substituição do Estado a vontade do


devedor, indo-se contra a vontade deste, para se realizar o interesse do credor.
Por isso, o direito do credor é realizado na acção executiva por meio de sub-
rogação. Para tanto, o Estado através do tribunal revestido de poder de
soberania, em certos casos uma espécie de expropriação do património do
devedor, para garantir o direito material do credor.

3.1- Conceito, autonomia e natureza jurídica do direito de execução


a)- Conceito de direito de execução
O termo execução na linguagem legal como na doutrinária adopta vários
sentidos: pode significar cumprimento voluntário da prestação pelo devedor.
Pode significar apreensão de bens do devedor ou de terceiros (artigos 821º do
C.P.C). Pode significar cumprimento de uma decisão judicial, mas que nada
tem a ver com a acção executiva, propriamente dita. Ex: registo ou transcrição
no registo civil da sentença que ordenou a dissolução de casamento, inscrição

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no registo predial da sentença que ordenou um acto de registo, respeitante ao


prédio, etc. Pode ainda significar, o pedido formulado na acção executiva, nos
termos do artigo 53º nº 1, do C.P.C, a chamada cumulação de execuções.

Na situação em concreto, sempre que o credor titular de um direito de crédito


ou real, face ao incumprimento voluntário do devedor (acto ilícito), pode aquele
recorrer ao tribunal desde que disponha de um título executivo (judicial ou
extrajudicial), a lei concede-lhe o chamado direito de execução.

Assim, o DIREITO DE EXECUÇÃO consistirá na faculdade de intentar uma


acção tendo como base um título, com a finalidade de se obter através dos
meios sub-rogatórios a reintegração efectiva do direito material violado do
credor.

b)- Autonomia da acção executiva em relação ao direito subjectivo


A nível da doutrina, há uma grande e forte divergência sobre a autonomia da
acção executiva face ao direito subjectivo violado.

Para os Processualistas, a acção executiva não se confunde, com o direito


subjectivo violado. Advogam que a acção executiva pode ter lugar mesmo sem
existir a violação de um direito subjectivo.

Tomemos como exemplo as chamadas decisões injustas, ou seja, situações


em que o devedor, embora tenha já voluntariamente cumprido com a
prestação, mas porque não foi diligente, em exigir uma declaração de quitação
(artigo 787º do C.Civil)6, que justifica a extinção da obrigação, vê o credor,
porque este ainda munido de um título com força executiva, mover-lhe uma
acção executiva.

6
É reconhecida ao autor do cumprimento da obrigação recusar de efectuar a prestação,
enquanto, o credor não lhe der quitação, bem como pode exigir a quitação depois do
cumprimento - vide nº 2, do artigo 787º do C.C.

Exemplo de declaração de quitação “F. solteiro maior, natural de Ingombota, município de


Luanda, província de Luanda, residente na rua …., nº …., filho de…., e de…., portador do B.I.
nº…., emitido em…, de,… de 2014, pela Direcção Nacional de Identificação Civil de Luanda,
declara, por meio deste documento, ter recebido de …, solteiro, natural de …, residente…, na
rua …, nº…, titular do B.I. Nº…, passado pelo sector de identificação civil de…., contribuinte
nº…, através de transferência bancária para o IBAN…, a quantia de…… kwanzas, referentes
a…..

Luanda, em….

O Declarante

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Ora, nestas situações, perguntam os processualistas: qual é o direito subjectivo


violado, se o devedor já cumpriu com a obrigação voluntariamente? Visto a
situação neste prisma, face a dificuldade de responder a questão, conclui-se
que a acção executiva é autónoma em relação ao direito subjectivo violado.

Segundo os Civilistas; a acção executiva tem sempre por base a violação de


um direito subjectivo fundado numa relação jurídica do direito que pode ser:
obrigacional, real, familiar, sucessória, comercial, fiscal, etc.

Alguns autores Civilistas(na Alemanha e também Itália) sustentaram que o


direito de execução é dependente do direito subjectivo, e argumentam as suas
posições recorrendo a conhecida doutrina de “SCHULD UND HAFTUNG”,
conhecida em português como a TEORIA da DÍVIDA e
RESPONSABILIDADE.Segundo esta teoria a obrigação se desdobra em dois
momentos:

O primeiro momento é de natureza pessoal - a dívida (Schuld); que


corresponde à prestação. O segundo momento é de natureza patrimonial- a
responsabilidade (haftung); que corresponde ao direito de execução. A
responsabilidade representaria o estado de sujeição do património do devedor
resultante deste ter contraído a dívida, ou seja, o executado por causa da
responsabilidade coloca todo o seu património ao dispôr do exequente (artigo
601º do C.C.)

Ora, esta doutrina é inaceitável, porquanto, num sistema de justiça pública é


inadmissível a configuração de um direito substantivo do credor dirigido ao
património do devedor, susceptivel de ser exercido coercivamente pelo próprio
credor. A justiça é pois monopólio do Estado, e cabe ao Estado, através dos
meios sub-rogatórios, mediante o seu poder de autoridade, reintegrar de forma
efectiva o direito violado pertencente ao credor.

c)- Autonomia da acção executiva em relação a acção declarativa

Para se promover a acção executiva é necessário que haja um título executivo,


que demonstre a existência da obrigação. Muitas vezes esse título é resultante
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de uma decisão proferida em acção declarativa (sentença condenatória), ou


seja, os chamados títulos executivos judiciais. Todavia, os títulos executivos
também podem ser extrajudiciais, ou seja, resultantes de documentos
negociais que provem a existência de uma obrigação. Neste último caso, a
execução não precedeu de uma acção declarativa, logo a acção executiva é
autónoma em relação ma acção declarativa, nas situações em que o titulo é
extrajudicial.

d)- Natureza jurídica


O direito de execução é um direito dirigido ao Estado para que este faça actuar
os meios sub-rogatórios, pelo uso da sua autoridade e soberania. Trata-se de
um direito público,porque regula o exercício da função do Estado, representado
pelos tribunais, que são órgãos de soberania. Ao exercer a função jurisdicional,
o Estado não se encontra no mesmo plano em que se colocam as partes. O
Estado está revestido do seu jusimperi, e é esta relação de subordinação das
partes perante ao Estado que explica a força vinculativa de que gozam as
decisões judiciais. É um direito complementar, adjectivo ou instrumental do
direito subjectivo, porque visa garantir a realização do direito substantivo.

Apesar do que se disse, existem situações em que os meios sub-rogatórios


não actuam sobre o património do devedor, mas sobre uma coisa na detenção
ilícita do devedor pertencente ao património do credor ou que este deverá ser
entregue ou restituído, por força de um direito real ou de crédito (execução
para entrega de coisa certa).

Exemplo: entrega de coisa certa em execução da sentença proferida em acção


de despejo ou de reivindicação.

Mesmo nos casos em que a coisa não pode ser entregue ao credor, este
poderá obter em dinheiro o valor equivalente, fazendo actuar os meios sub-
rogatórios sobre o património do devedor (convolação ou conversão da acção
executiva- artigo 931º do C.P.C), o emprego de tais meios sub-rogatórios
incidente ou não sobre o património do devedor, traduz o cumprimento de uma
obrigação assumida pelo Estado, no exercício da sua função jurisdicional e não
o cumprimento por parte do devedor voluntário e incoercível.

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3.2- Características do processo executivo


Apontam-se como características do processo executivo as
seguintes:enfraquecimento do princípio do contraditório,quase total
disponibilidade da acção executiva ao exequente, existência na acção
executiva de inúmeros despachos discricionários e regime de nulidades
processuais menos rígido.

3.2.1-Enfraquecimento ou mitigação do princípio do contraditório


Na acção executiva, o executado está limitado na sua intervenção ao controlo
da legalidade e regularidade dos actos executados ou na prática de actos
restritos (nomeação de bens á penhora, escolha dos bens a serem
penhorados, etc.). Na verdade, aqui o princípio do contraditório é praticamente
inexistente. O enfraquecimento do contraditório é muito mais sentido nos casos
em que a execução é movida com base num título executivo judicial, porquanto
nestes casos, o direito já foi discutido na acção declarativa.

Todavia, e independentemente do já dito, o legislador conferiu ao executado


alguns meios de defesa, no caso de execução infundada (vide artigo 771º do
C.C), através do embargo de executado- artigo 812º do C.P.C, ou até a
arguição da nulidade nos termos do regime geral.

3.2.2-A acção executiva está na quase total disponibilidade do exequente


O exequente pode desistir da execução quando quiser. Refira-se que, se a
execução estiver suspensa por embargo de executado, a desistência carecerá
sempre de aceitação do executado. Mas esta disponibilidade conferida ao
exequente de desistir quando quiser, lhe impõe a obrigação de não praticar
actos ilícitos, e nem usar o processo para fins contrários a lei. A esta obrigação
chama-se Principio da auto-responsabilidade do exequente. Segundo a
doutrina, trata-se de uma responsabilidade objectiva do exequente, vide como
exemplos os artigos 847º e 864º al. c) ambos do C.P.C.

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3.2.3-Na acção executiva verifica-se inúmeros despachos discricionários


do juiz7
Na acção executiva, o juiz não decide sobre existência ou não do direito. Já o
dissemos que em tese a discussão do direito faz-se na acção declarativa. Aqui,
o direito já está contido no título, tendo assim o juiz uma maior liberdade, e os
despachos são menos vinculativos, até porque não há um contraditório
rigoroso.

3.2.4-O regime de nulidade dos actos processuais é menos rígido


A regra geral é que os actos considerados nulos não podem ser renovados, se
o prazo em que deviam ser praticados já tenha expirado. Há, porém, situações
possíveis de renovação em que se permite que determinados actos
processuais considerados nulos, possam ser renovados- vide 2ª parte do artigo
208º do C.P.C.

Podemos tomar na acção executiva o seguinte exemplo: renovação da penhora


ferida de nulidade, ou renovação da penhora por insuficiência de bens, ou
ainda porque o bem indicado para a penhora extraviou-se.

4- PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PROCESSO EXECUTIVO


Os princípios constituem regras ou conhecimentos fundamentais e, mais gerais
sobre determinada matéria. Alguns destes princípios são transversais a todo
direito processual civil sem, contudo, perder-se de vista os desvios a que estão
subjacentes, de acordo com a sua própria enunciação. Outros são, obviamente
específicos e aplicáveis à acção de execução propriamente dita. Eles são na
essência, uma elaboração da doutrina e podem não ter acolhimento expresso
na legislação.

A doutrina, não é unânime quanto a sistematização e até a integração destes


princípios na acção de execução. Poucos são os autores que se dedicam a
pesquisa e estudo das matériasdos princípios que norteiam o ensino específico
do processo executivo. Para muitos, pelo facto de os princípios gerais do
processo civil aplicarem-se ao processo executivo, com as devidas
adaptações.

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Nos despachos discricionários, a lei confere ao julgador duas ou mais possibilidades de
decidir sobre uma situação, podendo o juiz escolher, dentro dos limites estabelecidos.

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Os princípios que agora expomos têm como pano de fundo o Manual do Prof.
Dr. Evaristo Solano, intitulado- O processo Executivo angolano (noções
fundamentais), 2011, págs. 23 -26.

Eis então, os principais princípios estruturantes do processo executivo:

 Princípio do dispositivo

A sua consagração em termos gerais vem prevista em diversas normas,


destacando-se os artigo 264º nº 2, 265º e 456º todos do C.P.Civil. Este
princípio em qualquer das suas modalidades comporta certos limites, sendo os
mais importantes os definidos pelo dever de litigância de boa-fé, que proíbe
que a parte faça do processo um uso manifestamente reprovável, formule
pedidos ou apresente oposições destituídos de fundamento, falte à verdade ou
não coopere com o tribunal, recusando-se nomeadamente a esclarecer o
tribunal sobre aspectos essenciais para a decisão da causa. Na acção
executiva é ao autor (exequente, requerente), que incumbe a iniciativa da
acção. É expresso o artigo 3º do C.P.Civil. Por aqui e, como assinala, Prof.
Alberto dos Reis, se vê que o nosso processo civil pertence ao tipo dispositivo.
O credor tem possibilidade de recorrer ao Tribunal e solicitar providências
adequadas para com base num título impor ao credor a obrigação de pagar ou
ressarcir o direito violado. Contudo, se não o fizer em prazos razoáveis, corre o
risco, por exemplo de ver transformada a sua obrigação civil (artigo 817º do
C.Civil) em obrigação natural (artigo 402º do C.Civil), por força do prazo de
prescrição prevista no artigo 309º do C. Civil.

 Princípio da estabilidade da instância


A estabilidade da instância em princípio verifica-se com a citação. Na acção de
execução a estabilidade da instância é uma consequência do próprio titulo
executivo. O título determinará a estabilidade quanto as pessoas, nos termos
do artigo 55º nº 1, do C.P.Civil e quanto ao objecto, pedido e a causa de pedir,
nos termos do artigo 45º do C.P. Civil.

 Princípio da tutela provisória da aparência


Como se sabe, o título executivo é condição suficiente e necessária para que
se possa promover uma execução. O título determina os limites e os fins da
execução- artigo 45º nº 1, do C.P.C. Pretende-se com isso dizer, que o titulo

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executivo é condição “sine qua non”, para o processo executivo. A existência


do título executivo, permite o tribunal estar convicto sobre a obrigação.
Qualquer credor munido de um título executivo, goza de tutela legal, para
promover a execução. Mas a concreta convicção do tribunal, só é formada,
depois que o executado é citado, nos termos do artigo 811º do C.P.C. Pode
acontecer que o executado, depois de citado, venha embargar a execução e
está procede, isto faz enfraquecer ou decair a tutela provisória da aparência.

 Princípio do contraditório

Trata-se de um princípio corolário do princípio da igualdade das partes. Define


na sua génese que a parte contra quem é proposta uma acção ou requerida
uma providência é atribuído o direito ao conhecimento de que contra ele foi
intentada a referida acção ou requerida a providência e, portanto, o direito á
audiência prévia, ao conhecimento de todas as condutas assumidas pela arte
contrária e a tomar posição sobre elas, ou seja, um direito a resposta, com
expressão legal na possibilidade de contestar a acção.

Em sede do estudo das características do processo executivo, havíamos


afirmado que na acção de execução o contraditório é mitigado, porquanto ao
executado é reservado uma intervenção mínima no processo. Todavia, se lhe
assiste opor-sea execução através de embargos de executado e o agravo do
despacho de citação. (vide artigo 812º do C.P.Civil).

 Princípio do inquisitório

Cabe ao juiz tornar pronta a justiça. Na verdade com o principio do inquisitório


cabe ao juiz os poderes-deveres de: instrução, disciplina e impulso. Vale por
isso dizer que estão também subjacentes os princípios da livre apreciação da
prova e o da oficiosidade. Segundo o princípio do inquisitório, o juiz goza de
prorrogativas de ordenar diligências necessárias com vista ao asseguramento
do normal curso do processo, de conhecer livremente a prova e conhecer ex-
ofício certas situações que vão surgindo.

A real dimensão da vigência do princípio do inquisitório avalia-se distinguindo


os factos essenciais, que são os que participam da causa de pedir ou do

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fundamento da excepção e os factos instrumentais, que são os que indiciam


aqueles factos essenciais e que, por isso, podem auxiliar a sua demonstração8

 Princípio da igualdade das partes

Pretende-se com este princípio que o juiz seja imparcial no tratamento das
partes. Ou seja, ao longo do processo devem as partes, exequente e
executado, serem substancialmente tratados de forma igual.

 Princípio da judicialidade

A acção executiva é do princípio ao fim levada a cabo pelo poder judicial do


Estado, ou seja, é o Estado através dos meios sub-rogatórios e de autoridade
que dispõe, faz intervir o tribunal enquanto órgão de soberania e titular do
poder jurisdicional a práticade actos tendentes a reintegração do direito do
credor violado.

 Princípio da auto-responsabilidade do exequente

Porque o processo executivo, se encontra na quase total disponibilidade do


exequente, este deve abster-se de praticar nos autos actos ilícitos, ou deve
abster-se de utilizar o processo para fins contrários a ordem moral e pública
sob pena de ser responsabilizado. Exemplo, artigos847º e 864º nº 3, ambos do
C.P.C.

 Princípio da patrimonialidade

Refere que a penhora dos bens para a execução, deve recair sobre o
património, isto é, sobre as relações jurídicas susceptíveis de avaliação
pecuniária. Todavia, devemos considerar que nas acções de execução para
prestação de facto, a penhora poderá recair sobre coisas não avaliáveis em
dinheiro, pelo que de certo modo, poderíamos estar aqui perante um desvio.

 Princípio da coisificação

A penhora incidirá sobre coisas em sentido jurídico. Bens de carácter estático


carecidas de personalidade jurídica susceptíveis de apropriação individual
(artigo 202º C.Civil). Ensina o Prof. ORLANDO DE CARVALHO que as coisas

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Neto da Costa - Princípios de Direito Processual Civil, Lições policopiadas, FDUAN -
LUANDA-2004.

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podem ser corpóreas e incorpóreas. Na mesma esteira o Prof. RUI PINTO,


afirma que a penhora tem como objecto, toda e qualquer situação jurídica
activa, disponível de carácter patrimonial

Podemos por isso dizer, que além das coisas, objectos físicos, a penhora pode
recair sobre direito (artigo 856º do C.P.Civil).

 Princípio da proporcionalidade

De acordo com o mesmo, o valor dos bens penhorados, não deve estar aquém
ou além do valor das custas e da dívida. Quer isto dizer que, só se deve
penhorar o que for necessário para garantir o cumprimento da obrigação ou o
pagamento da dívida – artigo 833º C.P.Civil

Todavia, este princípio não é linear. Uma excepção a este princípio tem a ver
com a situação em que o bem (património) penhorado seja o único do
executado.

Tomemos como analise a seguinte situação hipotética: A deve B, 200.000,


dólares. Considerando que A tem um património variado, constituído por: Uma
casa no valor de 1.000.000 dólares, acções na empresa XX no valor de
700.000, dólares e um automóvel no valor de 250.000,00dólares, de acordo
com o princípio da proporcionalidade, bastará por exemplo penhorar o
automóvel (250.000,00, USD.) para pagar a dívida. Porquanto, o valor do
mesmo cabe para o cumprimento ou pagamento da dívida.

Mas se por outro lado A,tiver um património constituído por apenas uma casa
no valor 1.000.000, 00 USD. (um milhões de dólares), será esta penhorada
para pagar a divida no valor de 200.000 dólares, independentemente do valor
da dívida ser quase cinco vezes menos que o valor do bem a penhorar.

 Princípio do seguimento

Funciona como a sequela nos direitos reais, ou seja, os credores que gozam
de garantia real sobre os bens penhorados, têm a possibilidade de seguir a
coisa e serem pagos após a venda. Recai sobre o juiz, a obrigação de dar a
conhecer aos credores sobre a apreensão desses bens e convoca-los para
confirmar, alterar ou negar o crédito- artigo 864º nºs 2 e 3 do C.P.Civil.

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 Princípio da prioridade cronológica

É reconhecida aos credores que intervirem na acção de execução o direito de


serem graduados (pagos) tendo em conta, a antiguidade do seu crédito - priori
tempori potior in iure -. A este principio é reconhecida excepções, no que tange
aos direitos de preferência- artigo 822º do C.P.C, e os chamados privilégios
creditórios artigo 733º do C.C, e ainda o direito de retenção- artigo 754º ss
C.Civil, principalmente nos casos de retenção de coisas imóveis, como flui do
artigo 759º do C.Civil, pois os titulares destes direitos têm preferência no
pagamento, em relação aos demais.

 Princípio da legitimidade formal

A legitimidade na acção executiva determina-se pelo título executivo. Nos


termos do artigo 55º nº 1, do C.P.C, dispõe-se que “a acção deve ser proposta
por aquele que no título figure como credor, contra aquele que no título conste
como devedor”, a esta consagração chama-se, o princípio da legitimidade
formal.

O princípio da legitimidade formal comporta desvios, que estudaremos mas


adiante, isto é, no capítulo dos pressupostos processuais da acção executiva,
mas precisamente sobre o pressuposto legitimidade.

5- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA ACÇÃO EXECUTIVA


5.1- Generalidades. Diferenciação com outras figuras
Os pressupostos processuais: são os requisitos ou condições sem os quais o
juiz não pode entrar na verificação do mérito da causa (Acção declarativa). A
ausência de um dos pressupostos, se for antes do despacho de citação dá
lugar ao indeferimento liminar da P.I (artigo 474º do C.P.C).

Se a inexistência do pressuposto for verificada depois do despacho saneador,


a consequência será absolvição do réu da instância, tal como reza o artigo
288º do C.P.C.

Na acção executiva não se vai buscar o conhecimento do mérito da causa,


porque o direito já foi discutido (titulo judicial) e, está plasmado no título

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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executivo. Aqui os pressupostos processuais constituem requisitos essenciais


da regular constituição e desenvolvimento da instância executiva. Portanto, a
importância dos pressupostos processuais na acção declarativa é de certo
modo, diferente na acção executiva.

Os pressupostos processuais, distinguem-se de:

1.- Condições de acção: integram os fundamentos de direito substantivo,


indispensáveis a precedência da acção. Exemplo: Invocação de um
determinado instituto jurídico inexistente no ordenamento jurídico angolano 9.

Só se pode invocar o direito ao divórcio, porque está objectivamente


consagrado no ordenamento jurídico angolano.

2.- Incidentes da instância: constituído por toda e qualquer situação de


natureza substantiva que desvia o curso normal da acção. Exemplo: a morte de
uma das partes, a falsidade de um documento, a intervenção de uma parte no
processo, etc.- artigo 302º e ss do C.P.C.

3.- Actos processuais: respeitam somente os actos que o próprio processo.


Exemplo: Despachos, promoções, requerimentos, termos, etc., enquanto os
pressupostos processuais respeitam o processo no seu todo- artigo 137º do
C.P.C.

4.- Questões prejudiciais: São situações de natureza substantiva, cuja decisão


depende do julgamento do mérito, ou seja, questões cuja resolução depende o
conhecimento e resolução de uma outra.

A afinidade destas figuras com os pressupostos processuais, reside no facto de


todas elas carecerem de serem resolvidas previamente antes da decisão sobre
o objecto da acção, ou seja, devem ser conhecidos antes do mérito da causa.

5.2- Classificação dos pressupostosprocessuais


PRESSUPOSTOS DE CARÁCTER GERAL
a)- Quanto às partes: Personalidade judiciária, Capacidade judiciária,
Legitimidade, Patrocínio judiciário e Interesse processual.

9
Invocação do contrato de namoro, instituto previsto no direito do civil brasileiro, ou a
invocação da lei do apadrinhamento civil, instituto existente no direito da família português.

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b)- Quanto ao tribunal: Competência Internacional e Interna (em razão da


Nacionalidade, Matéria, Hierarquia, Valor e Território).

c)- Quanto ao objecto: Litispendência e Compromisso arbitral.

PRESSUPOSTOS DE CARÁCTER ESPECÍFICO


a)- O título executivo

b)- Certeza, Exigibilidade e Liquidez da acção exequenda.

PRESSUPOSTOS FORMAIS E MATERIAIS


a)- Formais: O Título executivo e a Legitimidade das partes

b)- Materiais: Certeza, Exigibilidade e Liquidez da obrigação exequenda.

PRESSUPOSTOS RELATIVOS AOS SUJEITOS E AO OBJECTO


a)- Sujeito: Personalidade, capacidade, Legitimidade, Patrocínio, Interesse
Processual e a Competência

b)- Objecto: O Título executivo, a certeza, exigibilidade e liquidez da acção


exequenda.

PRESSUPOSTOS POSITIVOS E NEGATIVOS


a)- Positivos: Todos com excepção da Litispendência e do Compromisso
arbitral.

b)- Negativos: Litispendência, Caso julgado e Compromisso arbitral.

Na acção executiva reveste-sede particular importância o estudo dos


pressupostos específicos da acção executiva, ou seja, otítulo executivo, a
certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação exequenda.

Também têm importância específica os seguintes pressupostos: alegitimidade,


o patrocínio judiciário e a competência dos tribunais, porque embora sejam
pressupostos gerais de qualquer acção judicial, possuem características
específicas nas acções executivas.

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6- CLASSIFICAÇÃO GERAL DO PROCESSO CIVIL


6.1- Processo de jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária
As regras dos processos de jurisdição voluntária, estão dispostos nos artigos
1409º à 1413º do C.P.C. São na sua essência processos declarativos. Nestes
processos não há um verdadeiro conflito. O que existe é uma visão diferente
das partes em relação a uma mesma matéria, cujas partes pretendem
omesmoefeito. Exemplo: Divórcio por Mútuo acordo- artigo 83º e ss do Código
da Família, a regulação do exercício da autoridade paternal, artigo 134º do
Código da Família, etc.

Aqui as decisões designam-se por resoluções, ao contrário da jurisdição


contenciosa onde as decisões chamam-se sentenças. Nos processos de
jurisdição voluntária as resoluções podem ser alteráveis de acordo com as
circunstancias, mais constituem título executivo. Exemplo:decisão condenatória
a um dos pais para a prestação de alimentos ao filho menor, decisão
condenatória sobre a atribuição do direito a casa de morada de família a um
dos ex-cônjuges, etc. Estas decisões podem ser objecto de alteração sempre
que as circunstâncias que motivaram a sua fixação se modifiquem.

Se o pai condenado a prestar alimentos no valor de Kz. 50.000, (cinquenta mil


kwanzas) em razão de ter um salário e Kz. 150.000,00 (cento e cinquenta mil
kwanzas) e um único filho, o credor de alimentos, poderá a medida ser alterada
se o salário reduzir eventualmente a Kz. 100.000,00 (cem mil kwanzas) ou se
vierem a existir outros filhos no futuro.

Nos processos de jurisdição voluntária prevalece o princípio da oportunidade


em detrimento do princípio da legalidade estrita.

As decisões proferidas em sede de processo de jurisdição voluntária só cabem


recurso para a Relação, sendo esta a última instância de recurso- vide artigo
1411ºnº 2 do C.P.C.

6.2- Jurisdição Definitiva e Jurisdição provisória


Nos processos de jurisdição provisória está em causa a resolução de uma
situação urgente e imediata, visando acautelar o efeito útil da acção principal.
Tal é o caso das providências cautelares, previstos no artigo 381º e 399º do
C.P.C.

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Porém, na acção executiva, as providências cautelares, são um tanto quantos


irrelevantes, porquanto no título, já o direito está declarado e como se sabe as
providências decorrem antes ou na pendência da acção e nunca depois de
finda a acção principal.

Relevância das providências cautelares na acção executiva


O processo civil, como se sabe, é uma sequência de actos com vista a
solucionar conflitos de interesses por meio do exercício da jurisdição. Esse
processo é, muitas vezes, inevitavelmente demorado. Esta demora das acções
propriamente dita pode em certas circunstâncias criar um estado de perigo,
pois podem colocar o titular do direito exposto a danos irreparáveis.

Portanto, para evitar este pericullum in mora, previsto no artigo 2º do C.P.C é


que se prevê para além das acções, outras medidas que podem acautelar o
efeito útil da acção principal, ou seja, os Procedimentos Cautelares, que estão
consagrados no nosso Códigode Processo Civil nos artigos 301º a 427º do
C.P.C.

Na acção declarativa o Juiz declara/confirma o autor como titular ou não de um


direito e condena ou não o réu ao cumprimento de determinado
comportamento, essa condenação (sentença judicial),constitui títuloexecutivo
(artigo 45º e 46º C.P.C).

A falta de cumprimento voluntário da obrigação por parte do devedor confere


ao credor o poder de invocar o incumprimento e fazer com que o tribunal de
forma coerciva obriga-o a pagar, sob pena do seu património ser executado.
Contra esse título, atendendo a sua natureza, o devedor, quase nada pode
fazer para contestar, salvo invocando os fundamentos previstos nos artigos
813º à 815ºdo C.P.C.

Existem, porém, outros tipos de títulos executivos que não provêm da acção
declarativa, ou seja, que não provêm do tribunal, os chamados títulos
executivos extrajudiciais, como por exemplo um contrato de compra e venda,
um documento autêntico assinado por ambas as partes, ou uma condenação
de um tribunal adhoc (tribunais arbitrais). Contra esses o devedor pode
contestar (vide artigos 814º e 815º ambos do C.P.C), mas muito raramente.

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Embora o no nosso ordenamento jurídico não é muito comum, e o nosso


Código de Processo Civil,quase não consagra. A doutrina e o direito
comparado também muito pouco abordam acerca dos procedimentos
cautelares em sede da acção executiva.

No processo executivo desde a sua origem estabelece-se um regime peculiar


para as medidas urgentes que se fizeram necessáriasjá no curso da execução.

Ele concede ao credor a possibilidade, de já noprópriorequerimento inicial da


acção de execução pleitear algumas medidas urgentes para acautelar a
concretização da sua pretensão.

Tomemos como exemplo, na execução para pagamento de quantia certa: que


se consubstancia na penhora dos bens do executado; na execução para
entrega de coisa certa: que se consubstancia na existência ou entrega do bem
que se encontra na esfera jurídica do devedor; e por fim na execução para
prestação de facto, que também se consubstancia na penhora de bens do
executado.

Embora estas medidas possam ser tomadas logo depois do despacho de


citação- artigo 811º e 833º do C.P.C -nada impede que sejam no decurso do
processo.

Cumpre ressaltar que o processo de execução é na sua essência célere, salvo


muito, quando se apresenta com os apensos (embargos de executado,
embargos de terceiro, reclamação de créditos, etc.), essa própria celeridade
afasta a possibilidade de haver danos de dificil reparação por parte do credor-
exequente.

Dito isto, é necessario que exista algum risco muito urgente para se o fazer, ou
nos casos em que o processo executivo é interrompido em detrimento de
quaisquer situações que impeçam o seu avanço, por exemplo a declaracão de
falsidade de um titulo executivo extra-judicial dá origem a um outro processo
para se provar a autenticidade ou não autenticidade do mesmo, nesses casos
a lei admite que na pendência desse processo se intente um procedimento
cautelar para assegurar determinados direitos do credor-exequente.

29
ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
______________________________________________________________________________________________

Assim, os procedimento cautelares mais comuns a serem intentados ou o que


mais me parecem sensatos na acção executiva, são o de Arresto10 e o de
Arrolamento11.

Resta referir que o autor/exequente pode requerer como preliminar(no inicio da


acção) ou como incidente(no decurso da acção) qualquer medida para
assegurar o efeito util da acçao principal. Os procedimentos cautelares devem
ser sempre acessórios e nunca principais, ou seja, são sempre dependentes de
uma acção principal. Para o devedor/executado, as possibilidades de contestar
são muito reduzidas.

6.3- Jurisdição Permanente e jurisdição arbitral


A jurisdição é permanente quando se ala dos tribunais integrados na
organização judiciária, regendo-se pelas regras gerais da lei processual. A
jurisdição é arbitral quando constituído por tribunais extrajudiciais (chamados
também por tribunais ad hoc). As partes socorrem-se aos tribunais arbitrais
pelo facto da demora dos processos judiciais.

Os tribunais, arbitrais, porém não têm competência para execução, mas o


processo arbitral, pode originar um titulo executivo equiparado as decisões
condenatórias dos tribunais permanentes, nos termos do artigo 48º nº 2, do
C.P.C-

10
Dá-se o arresto quando o credor que tenha justo receio de perder a garantia patrimonial do
seu credito, requer apreensão dos bens do devedor - artigo 402º e ss C.P.C. É uma
providência cautelar de caracter preventivo a fim de assegurar a respectiva execução. Ele pode
ser dependente duma acção declarativa cujo objectivo seja a condenação no cumprimento de
certa obrigação ou de uma acção executiva destinada ao cumprimento coercivo da obrigação
imposta por sentença ou derivada de qualquer titulo executivo. Aliás uma das fases da
penhora é a decisão do juiz sobre a penhora dos bens ou sobre a conversão do arresto em
penhora.
11
Dispõe o artigo 421º do C.P.C que “tendo justo receio de extravio, ocultação ou dissipação
de bens moveis ou imóveis, ou de documentos pode requerer-se o arrolamento deles. É
aceitável que o devedor, sabendo que está a decorrer contra si um processo executivo e logo
que for citado para pagar ou nomear bens a penhora tente desfazer-se deles ou alguns deles.
Por isso, o credor pode requerer essa providencia, para no caso de documentos evitar o
desaparecimento da prova que deles possa emanar; ou no caso de bens imóveis que estejam
susceptíveis a extravio, por exemplo os descritos no artigo 204º do C.Civil.

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______________________________________________________________________________________________

7- MODALIDADES OU CLASSIFICAÇÃO DAS ACÇÕES EXECUTIVAS


7.1- Classificação do processo executivo quanto a forma
Legalmente a acção executiva classifica-se quanto á forma e quanto ao fim
(finalidade).

Quanto a forma a acção executiva, pode ser: comum ou especial. A forma


comum encontra-se regulada nos artigos 811º a 943º, ambos do C.P.C e
aplicam-se em casos especiais expressos – vide artigo 460º do C.P.C.

O processo comum de execução pode ser: Ordinário, sumário e sumaríssimo,


nos termos do artigo 465º do C.P.C.

Nas acções executivas, o critério para se determinar a forma de processo


comum (ordinário, sumário e sumaríssimo), prende-se com dois critérios: o
primeiro resulta da relação existente entre o valor da causa e a alçada do
tribunal e o segundo resulta da natureza do título executivo- vide artigo 465º nº
1 e 2 do C.P.C.

Para se definir a forma do processo é necessário saber se o valor da causa é


ou não superior a alçada do tribunal da Relação e de Comarca.

Quando a execução tiver como base um título executivo, fundado numa


sentença judicial, a forma de processo será aquele que tramitou na acção
declarativa. - vide artigo 465º nº 2 do C.P.C.

De acordo com disposto nos termos do nº 3 do artigo 465º do C.P.C, só haverá


execução em processo sumaríssimo, baseada em título judicial (sentença), ou
seja, a execução sob a forma de processo sumaríssimo só é possível se o
título executivo for uma sentença.

Relativamente a forma especial apontam-se os seguintes processos


executivos:

a)- Venda e adjudicação do penhor----- artigos 1008º-1013º do C.P.C

b)- Posse ou entrega judicial---------------artigos 1044º- 1051º do C.P.C

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c)- Mandato de despejo---------------------artigos 985º e ss do C.P.C12.

d)- Execução especial por alimentos-----artigos 1118º- 11121º do C.P.C.

e)- Execução por custas-------------------- artigo 110º e ss do C.C.J.

f)- Execução por dívidas fiscais ----------- C.E.F- aprovado pela lei nº 20/14, de
22 de Outubro

Os três primeiros processos especiais, ou seja, de venda e adjudicação do


penhor, da posse ou entrega judicial e da execução de despejo, constituem um
misto de acção declarativa e acção executiva.

Execução por custas. Notas breves


Legitimidade activa

A legitimidade para demandar é do Ministério público nos termos do artigo 59º


do C.P.C.

Tramitação

O processo de execução especial por custas segue a forma de processo


sumaríssimo cuja tramitação vem disposto no artigo 927º do C.P.C.

A execução especial por custas funda-se em título executivo judicial., ou seja,


uma sentença transitada em julgado (artigo 927º nº 1 do C.P.C.) Aliás as
execuções fundadas em processo sumaríssimo têm sempre como base um
título judicial – artigo 465º nº 3 do C.P.C.

Para que a obrigação ocorra é necessário que a obrigação esteja liquidada,


caso contrário, a liquidação deverá ser feita nos termos do artigo 806º do
C.P.C.

A execução por custas corre no mesmo processo em que corre o processo de


incumprimento do devedor para com o credor. Proferida sentença e feita a
conta é notificada o obrigado que em dez dias deverá pagar voluntariamente.

O direito de nomear bens a penhora pertence ao exequente.

12
A aceitação do mandato de despejo como uma forma de processo executivo especial é
discutível, porém, a autora que assim o consideram com bastante clareza. Tal é o caso do
Profº Evaristo Solano - Processo Executivo Angolano (Noções Fundamentais) pág. 18

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______________________________________________________________________________________________

A penhora é feita independentemente da citação. O prazo de oposição de cinco


dias a contar da data da notificação do despacho que ordena a penhora

A oposição pode ser feita mediante embargos.

Execuções fiscais. Notas breves


a)-Tipos de bens e motivos da penhora

O processo de execução fiscal visa a cobrança coerciva com base em um título


executivo de uma quantia que seja certa, líquidae exigível., nos termos do
Código das Execuções Fiscais (C.E.F), aprovado pela lei nº 20/14 de 22 de
Outubro.

Tal como nos processos executivos comuns, também aqui para que haja um
processo executivo, é condição sine qua nom que se verifiquem os
pressupostos específicos da acção executiva, ou seja, existência do título, e
que a obrigação seja certa, exigível e líquida.

A penhora de bens nas execuções fiscais tem natureza híbrida, porquanto, o


princípio da judicialidade aqui é mitigado, ou seja, a penhora é um acto que
pode ser efectivado pelo tribunal ou por um órgão administrativo, isto é, a
própria administração tributária.

Quando a penhora de bens é feita pelo órgão administrativo de execução fiscal


ela é anterior a instauração do processo executivo propriamente dito. O que se
quer aqui dizer é que verificada o não pagamento da dívida fiscal, dentro do
prazo, é logo feita a penhora pelo órgão administrativo, subsequentemente é
instaurado o processo executivo, junto do tribunal competente que confirma o
acto da penhora e notifica o executado para querendo opor-se. Nos termos da
execução fiscal, a penhora tem natureza de um procedimento cautelar.

A execução fiscal incide sobre bens que possuem ônus ou encargos a favor do
Estado. Para os devidos efeitos os bens classificar-se-ão de seguinte modo:

a)- Móveis: aqueles que podem ser transportados, susceptíveis de


movimentação própria ou de locomoção por força alheia.

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b)- Imóveis: constituído pelas coisas que não podem ser removidas de um
lugar para outro sem destruição, denominados bens de raiz.

c)- Divisíveis: aqueles que podem ser repartidos, sendo que após essa
fragmentação será possível apenas ter a parte económica do todo. Ex: um
terreno, barra de ouro, etc.

d)- Indivisíveis: são aqueles que não podem ser repartidos, caso contrário o
bem perderá o seu valor económico. Ex: barco, relógio, etc.

b)-Motivação da penhora

A penhora como acto de apreensão de bens resultante de uma divida fiscal,


ocorre quando se verifica o não pagamento dentro dos prazos legais do
imposto, da taxa, multa ou juros aplicados pela administração tributária.

c)-Competência para penhorar

Em Angola as execuções fiscais são da competência de um tribunal (sala)


especializado, a Sala do Contencioso Fiscal e Aduaneiro. Nos termos do artigo
97º do C.E.F, são competentes para penhora os bens do executado:

a)- O tribunal, nos seguintes casos

 - Quando tratar-se de bem imóvel que constitua habitação (residência de


família) principal do executado;

 - Quando tratar-se de bens móveis localizados na habitação (residência


de família) do executado;

 - Quando tratar-se de estabelecimento comercial ou industrial;


 - Quando tratar-se de concepção mineira.

b)- Órgão administrativo de execução fiscal, nos seguintes casos:

 - Quando se tratar de qualquer outros bens imóveis;

 - Quando se tratar de qualquer outro bem móvel;

 - Quando se tratar de valores monetários;

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 - Quando tratar-se de créditos bancários;

 - Quando tratar-se de partes sociais.

d)-Bens Impenhoráveis

1- Bens totalmente impenhoráveis. Exemplos:

- Edifícios e objectos destinados ao exercício do culto público

- Os túmulos

- Utensílios imprescindíveis a qualquer economia doméstica.

2- Bens parcialmente impenhoráveis: Exemplo:

- Bens do Estado, salvo se a execução for para pagamento de quantia certa


com garantia real;

- Os livros, utensílios, ferramentas e quaisquer objectos estritamente


indispensáveis ao exercício da função ou da profissão.

3- Durante a penhora há bens prioritários em relação aos outros. A prioridade


vem estabelecida no artigo 100º do C.E.F, nomeadamente:

- Os bens de valor pecuniário de mais fácil realização;

- Bens imobiliários

- Bens imóveis.

e)-Efectivação da penhora

a)- Penhora de bens imóveis – artigo 110º do C.E.F

b)- Penhora de bens móveis – artigo 111ºº do C.E.F

f)-Modalidades da venda

1- Venda por negociação particular – artigo 125º e ss do C.E.F

2- Venda por arrematação – artigo 127º do C.E.F.

3- Venda em depósito público – artigo 129º a 134º do C.E.F

g)-Meios de oposição a execução (artigo 76º e 89º do C.E.F)

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- Oposição por requerimento

- Oposição por embargos

h)-Levantamento da penhora e extinção da execução(artigo 108º C.E.F)

- Pagamento da dívida

- Decisão judicial favorável ao executado;

- Reconhecimento de um crédito fiscal.

7.2- Classificação do processo executivo quanto ao fim


Quanto a sua finalidade13 (determinada pelo titulo executivo), a acção
executiva, distingue-se em três tipos: para pagamento de quantia certa, para
entrega de coisa certa, e para prestação de um acto positivo ou negativo.
(artigo 45º nº 2 do C.P.C.).

7.2.1- Acção de execução para pagamento de quantia certa:


a)-Processo ordinário: aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º do
C.P.C, e as regras específicas do artigo 811º- 923º do C.P.C.

b)-Processo sumário:aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º do


C.P.C, e as regras específicas do artigo 924º-926º do C.P.C.

c)-Processo Sumaríssimo: aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º


do C.P.C, e as regras específicas do artigo 927º do C.P.C.

7.2.2- Acção de execução para entrega de coisa certa:


a)-Processo ordinário: aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º do
C.P.C, e as regras específicas do artigo 928º-932º do C.P.C.

b)-Processo sumário:aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º do


C.P.C, e as regras específicas do artigo 466º nº 2 do C.P.C. (928º-932º)

c)-Processo Sumaríssimo: aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º


do C.P.C, e as regras específicas do artigo 466º nº 3 do C.P.C

13
Dispõe o artigo 4º nº 3 do C.P.C. que “dizem-se executivas aquelas acções em que o autor
requer as providências adequadas à reparação efectiva do direito violado”

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7.2.3- Acção de execução para prestação de um facto positivo ou negativo


a)-Processo ordinário: aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º-810º do
C.P.C, e as regras específicas do artigo 933º-942º do C.P.C.

b)-Processo sumário:aplicam-se as normas gerais dos artigos 802º- 810º do


C.P.C, e as regras específicas do artigo 933º-943º

c)-Processo Sumaríssimo:Dispõe o artigo 465º nº 3 do C.P.C, que “seguem a


forma sumaríssima as execuções fundadas em sentenças proferidas em
acções de processo sumaríssimo”.

O que define a forma de processo sumaríssimo na acção executiva é a


natureza do título executivo. Ora, pressupõe isso dizer que só se executam
acções sumaríssimas que tenham por base um título judicial, ou seja, não há
acção executiva sob a forma de processo sumaríssimo cujo título tenha
natureza extrajudicial.

7.3- Estrutura do processo executivo


Na acção executiva tal como na acção declarativa, há uma relação jurídica que
se estabelece, em que são sujeitos: O tribunal e as partes (exequente e
executado).

O exequente e o executado são considerados partes principais14. Porém,


existem também outras partes principais para além do exequente e do
executado, cujo poder é reduzido ou limitado, conforme reza o artigo 864º nº 1,
do C.P.C. São eles: o cônjuge do executado, os credores do executado e a
Fazenda Nacional15.Estes são partes principais e por isso são citados, ou seja,
chamados ao processo para contradizerem. Os seus poderes são limitados em
relação ao exequente e executado, porque só em situações especiais é que
são chamados e intervêm no processo para defenderem um interesse próprio.

Na verdade, feita a penhora e junta a certidão dos direitos ônus ou encargos,


verificando-se que determinada pessoa ou entidade referida supra, como parte

14
Entende-se por parte principal, todo aquele cuja posição é independente da de outros
particulares (demandante e demandado). Denomina-se exequente a pessoa que propõe a
acção e executado é a pessoa contra quem a acção é proposta.
15
A Fazenda Nacional, no âmbito da nova organização da administração fiscal angolana, pode
ser considerada como a agência geral tributária -AGT, tutelada pelo Ministério das Finanças.

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principal com poderes reduzidos, possui algum direito sobre o bem penhorado
é feita a sua citação. Do contrário, não há necessidade de citá-los.

Para além das partes principais existem ainda as partes auxiliares que são: o
fiel depositário, Policia nacional, estabelecimento de leilão e outros órgãos da
administração pública.

Relativamente as partes acessórias importa esclarecer que as partes


acessórias ou assistentes (artigo 335º do C.P.C); são admissíveis no âmbito da
acção executiva, quando nesta se enxerte um processo declarativo.

Exemplo: embargo de executado, ou quando o titulo é extrajudicial. Porque as


partes acessórias ou assistentes subordinam-se as partes principais.

Há contudo quem entenda que as pessoas que adquirem bens na acção


executiva como exemplo: os arrematantes, os titulares de direito de
preferência, sejam partes acessórias. As partes acessórias são pessoas
portadoras de certos interesses subordinados ao de alguma das partes
principais que a lei admite a intervirem no processo para coadjuvar essa parte,
mantendo-os numa posição subalterna em relação à do mesmo pleiteante16.

Ora, os arrematantes e os titular do direito de preferência, não são partes


acessórias porque se tratamde terceiros que não se subordinam, não se
subalternam e nem estão para coadjuvar as partes principais.

Para o professor CASTRO MENDES, estes terceiros (arrematantes, titulares de


direito de preferência e até os titulares do direito de remição – cônjuge do
executado, descendentes e ascendentes), ou são colaboradores na realização
dos fins da acção executiva e ainda interessados (arrematantes), ou então são
titulares de direitos que a lei lhes confere para serem exercidos na ocasião da
alienação dos bens no processo executivo (titulares de direitos de preferência e
de remição- nos termos dos artigos 892º e 912º ambos do C.P.C.

16
As partes acessórias, são todas as pessoas com interesses conexos aos interessados em
causa num processo e que a lei admite a intervir numa posição subordinada à da parte
principal. Exemplo: Cfr. O artigo 335º do C.P.C.

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8- OBJECTO DA EXECUÇÃO
Nas acções declarativas o objecto é delimitado pelo pedido17 e pela causa de
pedir18.Nas acções executivas o objecto é delimitado pelo título executivo, que
tem que reportar a uma obrigação19. Assim o limite da acção executiva é
determinado pelo fim da execução que só pode obedecer três formas, previstas
nos termos do artigo 45º nº 2, do C.P.C.

O objecto pode então ser: imediato ou mediato.

1.- OBJECTO IMEDIATO: constituído pelo próprio pedido quedeve estar de


acordo com os fins e limites contidos no título executivo e reportar a obrigação
exequenda- certeza, exigibilidade e liquidez.

2.- OBJECTO MEDIATO: constituído por situações que em concreto incidiram


os actos sub-rogatórios, que o Estado irá praticar, isto é, os bens.

Exemplo: na acção executiva para Pagamento de quantia certa, serão os bens


executados para a venda. Na acção executiva para entrega de coisa certa será
o carro, o barco, conforme aquilo que se pretende.

Dito isto, passaremos a ter os pressupostos relativos ao objecto imediato e ao


objecto mediato:

I- Pressupostos relativos ao objecto imediato:


a)-Existência do título

b)- Conformidade objectiva entre o que se pede e o que consta no título

c)- Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação.

II- Pressupostos relativos ao objecto Mediato:


a)- Na execução para pagamento de quantia certa; será a penhora de bens
para obter liquidez

17
Pedido; é o efeito jurídico pretendido normalmente pelo autor. - Artigo 498º nº 3 do C.P.C.
Nos casos de reconvenção o réu pode também formular pedidos.- Artigo 501º do C.P.C.
18
Causa de pedir será, portanto, o conjunto de factos jurídicos que servem de base ao pedido.-
Artigo 498º nº 4, do C.P.C.
19
Dispõe o artigo 45º nº 1 do C.P.C, que “ toda a execução tem por base um título, pelo qual
se determinam o fim e os limites da acção executiva”.

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b)- Na execução para entrega de coisa certa; será a existência da coisa ou a


entrega da coisa que indevidamente encontra-se na posse do devedor.

c)- Na execução para prestação de facto; será a penhora de bens para obter
liquidez.

9- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS RELATIVOS AS PARTES


9.1- Personalidade e capacidade judiciária
O Estudo da personalidade judiciária e da capacidade judiciária de direitos, no
âmbito do processo executivo, assemelha-se ao estudo que se faz na acção
declarativa, pelo aqui, muito superficialmente teceremos algumas ideias,
remetendo as demais considerações ao estudo efectuado na acção declarativa.

a)- Personalidade judiciária

Dispõe o artigo 5º nº 1 do C.P.C., que a personalidade judiciária consiste na


susceptibilidade de ser parte. Na acção executiva as partes são exequente e
executado, ou seja, as pessoas que requerem ou contra os quais é requerida a
execução do património.

A lei define a personalidade, segundo o critério da coincidência, ou seja, quem


tiver personalidade jurídica, tem personalidade judiciária.- Artigo 5º nº 2 do
C.P.C. Este critério sofre excepções como é o caso da herança jacente e dos
patrimónios autónomos semelhantes.

Pessoa em sentido jurídico é todo o sujeito de direitos. Assim, têm


personalidade judiciária todas as pessoas singulares, colectivas que sejam
reconhecidas.

A falta de personalidade jurídica, consoante o momento em que é aferida, pode


dar lugar ao indeferimento liminar, nos termos do artigo 474º, nº 1 alínea b), ou
a absolvição do executado da instância- artigo 288º, al. c), do C.P.C.

b)- Capacidade judiciária

A capacidade judiciária é a aptidão para adquirir direitos e para os exercer, ou


seja, a susceptibilidade de estar, por si, em juízo.Artigo 9º nº 1 do C.P.C. A
capacidade pode ser de Gozo ou de Exercício. A capacidade de gozo coincide
com a capacidade jurídica- artigo 67º do C.Civil.

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9.2- Legitimidade das partes


Na acção declarativa, a legitimidade determina-se pelo critério do interesse, ou
seja, o autor é aquele que tem interesse em demandar e o réu aquele que tem
interesse em contradizer- artigo 26º do C.P.C.

A legitimidade na acção executiva determina-se pelo título executivo. Nos


termos do artigo 55º nº 1, do C.P.C, dispõe-se que “a acção deve ser proposta
por aquele que no título figure como credor, contra aquele que no título conste
como devedor”, isto é, o princípio da legitimidade formal.

A este princípio da legitimidade formal, porém, são apontados algumas


excepções ou desvios a saber:

1- Quando o título seja ao portador:

Nos termos do nº 2 do artigo 55º do C.P.C.A execução será promovida pelo


portador do título contra o assinante do título. Exemplo: cheques- artigo 46º
alínea c) do C.P.C.

2- Quando haja sucessão no direito e na obrigação:

Dispõe o artigo 56º nº 1, do C.P.C, que nestas situações a execução correrá


entre os sucessores das pessoas que no título figuram como credor e devedor
da obrigação.

A palavra sucessão aqui está empregada em sentido genérico, para designar


qualquer espécie de transmissão quer seja inter vivos ou mortis causa. A
sucessão no direito ou na obrigação equivale a sucessão na posição activa ou
passiva, expressa do título.

Assinala, o Prof. Alberto dos REIS, com o seguinte exemplo: uma sociedade
comercial em Nome Colectivo, condenada ao pagamento de certa quantia que
depois se transformou por acordo dos credores em Sociedade por quotas, está
é parte legitima como sucessora daquela para ser executada- (Código de
Processo Civil Anotada, vol. I, pág. 182, ano de 2004).

Há porém, na doutrina, quem tente restringir a questão sucessão no direito e


na obrigação a questão da transmissão de direito e obrigações mortis causa.
Restringindo a questão a sucessão mortis causa. É o caso do Prof.Anselmo de

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CASTRO queentende que a sucessão tem de constar no título, para que o


mesmo seja exequível.

Ora, não é de se aceitar tal posição, primeiro porque a morte é um facto natural
e imprevisível, não podendo as partes na altura da celebração do negócio
prever, quando irão falecer. Ademais, permite a lei que no requerimento inicial
o exequente deverá deduzir os factos constitutivos da sucessão. Outrossim,
havendo morte de uma das partes, levanta-se o incidente de habilitação nos
termos do artigo 371º do C.P.C.

3- Quando a execução seja provida de garantia real:

Previsto no artigo 56º nº 2, do C.P.C. Tem lugar, quando o bem dado de


garantia é pertença de um terceiro e não do devedor ou executado.

Exemplo:A, empresta a B um montante de Kz. 10.000.000,00, e B, dá como


garantia real da obrigação, um prédio pertencente a C. Ora, em caso de
execução A, pode intentar a acção directamente contra C.

4- Exigibilidade da sentença contra terceiros (artigo 57º do C.P.C):

Tratam-se de sentenças resultantes de processo declarativo. Aplicam-se as


obrigações cuja prestação seja de entrega de coisas certas (artigo 273º nº 3).
Também nos casos de incidentes de nomeação a acção (artigo 320º C.P.C) e
ainda nos casos de incidentes de intervenção principal (artigo 359º nº 2 do
C.P.C).

5- Quando hajaacção executiva sub-rogatória:

É aceitável que o credor instaure a acção executiva contra o devedor do seu


devedor.

Exemplo: Supondo que A celebra um contrato com B e, este fica obrigado a


restituir a quantia mutuada. B, no entanto, também é credor de C, no mesmo
valor do contrato que tem com A. Pode efectivamente A demandar C.

Mas dada a possibilidade do credor poder penhorar o crédito do devedor sobre


o terceiro, torna-se desnecessário este recurso. Vide artigo 856º do C.P.C.

6- Quando a execução é promovida pelo Ministério Público:

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Este tipo de execução aplica-se a forma de processo sumaríssima, nos termos


do artigo 927º do C.P.C.

9.2.1- Legitimidade do MinistérioPúblico


A intervenção do Ministério Público nos processos executivos é muito ténue, ou
seja fraca, com excepção aos casos de execução por custas e nos casos de
pagamento de multas no processo, vide artigo 59º e 927º do C.P.C.

Há porem, as situações de execução especial por alimentos (artigo 1118º e ss


do C.P.C), em que o Ministério Público, enquanto representante do menor, nos
termos do artigo 15º do C.P.C, tem uma actuação activa.

9.3- Pluralidade de partes


Normalmente o processo executivo apresenta-se de forma simples, ou seja,
com um único exequente e um único executado. Pode porém, existir situações
em que quer do lado activo como do lado passivo, se apresentem composto
por mais de uma pessoa. Em situações desta natureza, estaremos perante a
chamada pluralidades de partes.

A pluralidade de partes pode ser por: Coligação ou litisconsórcio

Há Coligação20 (artigo 58º do C.P.C), quando existe uma pluralidade activa ou


passiva subjectiva e uma unicidade de pedido.

Há litisconsórcio21, quando existe uma pluralidade activa ou passiva e uma


pluralidade de pedidos. O litisconsórcio pode ser Voluntário (Inicial22 e
Sucessivo23) ou Necessário (Inicial-activo e passivo ou sucessivo).

20
António e Maria intentam acção de execução contra João e Pedro, pedindo que lhes seja
entregue uma quantia em dívida no valor de Kz. 800.000,00.
21
António e Maria intentam acção de execução contra João e Pedro, pedindo que lhes seja
entregue a quantia em divida no valor de Kz. 800.000,00 e, ainda um automóvel da marca
Hyundai i10.
22
O litisconsórcio é voluntário inicial; quando a acção executiva for intentada desde logo por
vários credores ou contra vários credores que figuram no título independentemente da acção
ser conjunta ou solidária.
23
O litisconsórcio é voluntário sucessivo; quando o exequente demanda inicialmente um
terceiro possuidor de bens onerados pela garantia real e posteriormente pode prosseguir a
acção contra o devedor, dado a insuficiência daqueles bens.

43
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9.4- Patrocínio Judiciário


Nas acções executivas, o patrocínio judiciário, ou seja, a constituição
obrigatório de advogado, está previsto no artigo 60º do C.P.C.

O patrocínio judiciário consiste na assistência prestada às partes (embora


plenamente capazes) por profissionais do foro (advogados) para a condução
do pleito mediante a prática em termos adequados dos respectivos actos
processuais.

O patrocínio judiciário efectua-se através de mandato judicial (procuração ou


declaração verbal) conferido as partes aos seus advogados, nos termos do
artigo 35º do C.P.C. A falta de mandato é sanável nos termos da lei, mas a sua
não existência, insuficiência ou irregularidade implicará que fica sem efeito tudo
o que viver sido praticado pelo mandatário devendo este ser condenado nas
custas respectivas e na indemnização dos prejuízos a que tenha dado causa-
Cfr artigo 40º do C.P.C.

Se a parte obrigada a constituir advogado não o puder por razoes financeiras


ou outras devidamente justificadas, deverá requerer para que lhe seja
nomeado defensor oficioso através da Ordem dos Advogados ou pelo próprio
Juiz, nos termos do artigos 43º e 44º ambos do C.P.C.

Na acção executiva, o patrocíniojudiciário é obrigatório nos seguintes casos:

- Nas execuções de valor superior a alçada24do tribunal da Relação.

- Nas execuções inferiores a alçada da Relação, mas excedentes a alçada do


tribunal de Comarca, quando haja embargado de executado25.

- Nos apensos de verificação e reclamação de créditos, na fase do concurso de


credores.

- Quando haja recurso- artigo 32º, aplicável por força do artigo 801º do C.P.C.

24
Com a entrada em vigor dos tribunais da Relação, os recursos passam a ser julgados pela
Relação enquanto tribunal de recurso por excelência. De acordo com a lei nº 5-A/2021, de 05
de Março, sobre a actualização e alteração das alçadas, o valor da alçada do tribunal da
Relação é de Kz. 6.160.000,00 e a alçada do tribunal de Comarca é de Kz. 3.080.000,00
25
Requisitos cumulativos.

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a)- Falta de patrocínio judiciário. Consequências.

Se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a constituição sucederá o


seguinte:

a)- O tribunal ex officio marcará prazo e notificará a parte a constituir;

b)- A parte contrária requererá para que o tribunal fixe prazo para a sua
constituição

c)- Findo o prazo estabelecido, e a parte não constituir, sendo o autor, o réu
será absolvido da instância. Se a parte que não constituiu for o réu ficará sem
efeito a defesa

d)- Havendo recurso, fica sem seguimento por parte daquele que não constitui
o advogado.

9.5- Interesse Processual


Remetemos o estudo deste pressuposto para o dito em sede da acção
declarativa.

10- PRESSUPOSTO PROCESSUAL RELATIVO AO TRIBUNAL


10.1- A competência
A competência de um tribunal em abstracto é a medida da sua jurisdição, ou
seja, é a parcela de jurisdição que é atribuída a cada um dos tribunais26. Por
outro lado, entende-se por jurisdição o poder que cada tribunal tem para julgar.

A competência do tribunal pode ser: internacional ou interna.

10.1.1- Competência internacional


A competência internacional consiste na atribuição do poder de julgar aos
tribunais angolanos, no seu conjunto, em face dos tribunais estrangeiros. Trata-
se de definir, quando é que o estado angolano, se arroga o direito e se impõe o
dever, de exercitar a sua função jurisdicional

Ela vem regulada no artigo 65º do C.P.C. Só se reputa importante a questão da


competência internacional, quando exista um facto que sirva de conexão entre

26
A competência consiste no fraccionamento do poder jurisdicional que cabe a cada tribunal-
Jorge A. P de Amaral- ob. cit, pág. 144.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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a ordem jurídica nacional e outra ordem jurídica estrangeira. S regras que a


determinam são:

- O princípio da coincidência- art.º 65º/1,2 e 3.

- O princípio da causalidade- art.º 65º/1 b).

- O princípio da reciprocidade- art.º 65º/1 c).

- O princípio da necessidade- art.º 65º/1 d).

Estes princípios são autónomos. Cada um deles funciona em completa


independência relativamente aos outros, sendo bastante para suscitar a
competência dos nossos tribunais.

Em sede da acção executiva, falar de competência internacional, releva o


chamado princípio da coincidência, previsto o nº1, alínea a) do citado artigo.

10.1.2- Competência Interna


A competência interna, traduz-se na repartição, do poder de julgar entre os
diversos tribunais angolanos. As regras gerais da competência interna em
matéria de execução, constam do artigo 94º do C.P.C, sendo que as regras
especiais constam do artigo 90º e ss do C.P.C. relevam para esta matéria a
competência territorial, valor e matéria.

Existem três situações a considerar quanto à determinação das regras gerais


de competência em matéria de execução, a saber:

- É competente para execução o tribunal do lugar onde a execução deva ser


cumprida. Ora, a questão da determinação do lugar do cumprimento é uma
matéria de direito substantivo, pelo que deve ser aferida nos termos dos artigos
772º à 776º do C.C.

Se a execução tiver de ser instaurada no lugar do domicílio do executado, mas


este não tiver domicílio em Angola, mas tiver bens no território Nacional, será
competente o tribunal da situação dos bens (artigo 94º/3 C.P.C). Todavia,
havendo uma universalidade de bens e, distribuídos em várias partes do
território Nacional, será competente o tribunal onde estiver localizado o bem de
maior valor económico. (vide artigo 73º/3 do C.P.C).

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- Se a execução for para entrega de coisa certa, será competente o tribunal do


lugar onde a coisa se encontre.

- Se a execução for por divida com garantia real, será competente o tribunal do
lugar da situação dos bens onerados

Do ponto de vista interno a competência dos tribunais angolanos pode ser:


Absoluta: em razão da matéria, em razão da hierarquia, em razão da
nacionalidade, e Relativa: em razão do valor e em razão do território.

a) Competência absoluta
O tribunal tem competência absoluta quando julga em razão da matéria,
nacionalidade e hierarquia.

- Em razão da Matéria:É a competência das diversas espécies de tribunais


dispostos horizontalmente, não havendo entre eles relação alguma de supra -
ordenação ou subordinação.

- Em razão da Hierarquia:Dentro de cada espécie de tribunais, há várias ordens


de tribunais dispostos verticalmente. Portanto a hierarquia pretende-se com o
escalonamento dos tribunais de forma vertical.

Hierarquicamente a competência para a execução compete aos tribunais


Provinciais.

b) Competência relativa
O tribunal tem competência relativa, quando julga em razão do valor e do
território.

- Em razão do Valor:É a competência das diversas categorias de tribunais,


determinada em atenção ao valor da causa

- Em razão do Território: Corresponde ao espaço geográfico ao qual


determinado tribunal tem jurisdição.

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11- PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ESPECIFICOS DA ACÇÃO


EXECUTIVA
11.1- O título executivo
Dispõe o artigo 45º nº 1 do C.P.C, que a acção executiva não pode ser
intentada sem que o autor se apresente munido de um título executivo.

E se a acção for movida sem o título quid júris? Em resposta a esta questão a
doutrina é divergente:

- Para o Professor ALBERTO DOS REIS, o juiz deve indeferir liminarmente a


petição Inicial, nos termos do artigo 474º nº 1, al. c) do C.P.C.

- Para EURICO LOPES CARDOSO, o juiz deve indeferir liminarmente a


Petição inicial, nos termos do artigo 193º nº 2, alínea a), conjugado com o
artigo 474º nº 1, alínea a), ambos do C.P.C, ou seja, invocando a ineptidão da
petição Inicial, porquanto o título executivo corresponde na acção executiva à
causa de pedir.

- Para o Professor CASTRO MENDES, o juiz deve mandar aperfeiçoar a


Petição Inicial, nos termos do artigo 477º do C.P.C.

Ora o título executivo é normalmente apontado uma dupla condição:

a) Condição necessária; porque não pode haver acção executiva sem que
haja um título executivo.

b) Condição suficiente; porque a simples existência basta para promover a


execução, sem necessidade de indagação da existência do direito
material que se pretende fazer valer.

Em nosso entendimento, se o executado não estar munido de título executivo,


circunstancialmente pode ocorrer o seguinte:

- Se porém, na petição inicial, o exequente nada mencionar sobre a existência


de título ou de algum modo nada dar entender sobre a sua existência, devera o
juiz indeferir nos termos do artigo 474º, nº 1, alínea c) do C.P.C27.

27
DESPACHO DO JUIZ. Exemplo: F… veio intentar a presente execução para pagamento da
quantia de… Sucede que não apresentou qualquer título donde conste a dita obrigação

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- Se contudo, na petição inicial a execução for para pagamento de quantia


certa, e o exequente juntar o título o qual se refere a entrega de coisa certa,
deverá o juiz indeferir na petição inicial, nos termos do artigo 474º, nº 1 alínea
a) do C.P.C.

- Se na petição inicial, o exequente fizer menção do título (principalmente no


caso de sentença condenatória), mas não o juntar o juiz deverá nos termos do
artigo 477º do C.P.C, ordenar o aperfeiçoamento da petição inicial28;

a) Uso da acção declarativa havendo título


Essa situação coloca-se somente nos casos em que o título é extrajudicial.
Pois, sendo o titulo judicial e intentar-se a acção declarativa estaremos perante
a excepção do caso julgado-artigo 497º e 498º do C.P.C.

Mas se o credor dispondo de um título extrajudicial ainda assim, propõe uma


acção declarativa? Ora em princípio, dispondo de um título executivo, o credor
não tem normalmente necessidade de propor a acção declarativa. Todavia, se
o fizer, fica obrigado a pagar as custas do processo (artigo 449º nº 1, alínea c)).

b) Conformidade do pedido com o título


A conformidade pode ser: objectiva e subjectiva.

1-Conformidade Objectiva: o título determina os limites e o fim da execução.

Quando o título não esteja em consonância com os limites e o fim da execução,


estaremos perante a desconformidade absoluta ou relativa.

- Desconformidade objectiva absoluta29: Verifica-se nas situações em que se


pede um objecto diferente daquele que consta no título. Exemplo: Nos casos

pecuniária. Ora, nos termos do artigo 45º nº 1 do C.P.C, toda a execução tem por base um
título pelo qual se determina o fim e os limites da acção executiva e nos termos do artigo 55º do
C.P.C, pelo qual se determine quem é credor e o devedor, isto é, quem tem legitimidade para
promover a execução e contra quem deve ser movida. Assim, é evidente que a pretensão do
exequente não pode proceder, nos termos do artigo 474º nº 1 c) do C.P.C. Consequentemente,
indefiro liminarmente a presente execução. Custas pelo Exequente. Notifique.
28
DESPACHO DO JUIZ. Exemplo: F… veio intentar a presente execução para pagamento de
quantia certa de…Sucede que não apresentou qualquer título executivo donde conste a dita
obrigação pecuniária. Dele faz, no entanto, menção no requerimento inicial. Assim, convido o
exequente a apresentar o título executivo no prazo de 5 dias, sob pena de indeferimento
liminar. Notifique.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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em que o devedor deve entregar um carro (X), mas o credor pede uma casa
(Y).

A desconformidade objectiva absoluta, equivale a ineptidão da petição inicial,


nos termos do artigo 193º, nº 2, alínea b) do C.P.C, e tem como consequência
o indeferimento liminar do requerimento inicial, nos termos do artigo 474º nº 1,
alínea a) do C.P.C.

- Desconformidade objectiva relativa30: verifica-se nos casos de excesso do


pedido. Exemplo: o devedor deve Y, mas o credor pede Ye Z

Dispõe o artigo 474º nº 2, do C.P.C, que não é possível o indeferimento liminar


parcial da P.I. Assim, a desconformidade objectiva relativa equipara-se a
inexequibilidade do título e tem como consequência o indeferimento liminar do
requerimento inicial, nos termos do artigo 474º, nº 1, alínea c), do C.P.C.

2-Conformidade Subjectiva: É determinada pelas partes- exequente e


executado, determinados nos termos do artigo 55º nº 1 do C.P.C. A falta de
conformidade subjectiva, ou seja, a desconformidade subjectiva, equipara-se a
falta de legitimidade, e tem como consequência o indeferimento liminar do
requerimento inicial, nos termos do artigo 474º nº 1, alínea b) do C.P.C.,
aplicável por força do artigo 801º do C.P.C.

c) Conceito de título executivo31


É um documento constitutivo ou certificativo de um direito que mercê da força
probatória especial de que está munido, torna dispensável uma acção
declarativa para certificar a existência desse direito.

29
Há desconformidade objectiva absoluta, quando o pedido do exequente é manifestante
contrário ou diferente ao que consta do título executivo. O fim da execução não está em
conformidade com o título.
30
Há desconformidade objectiva relativa, quando aquilo que o exequente pede é manifestante
superior ao que consta do título executivo. Os limites da execução não estão em conformidade
com o título.
31
Para o Desembargador JORGE SANTOS - juiz jubilado do tribunal da Relação de Lisboa
(Portugal), o título executivo é o acto constante de documento escrito, constitutivo ou
meramente declarativo de um direito a uma prestação, isto é, de uma obrigação. Acrescenta
que em face a lei angolana, o título executivo é sempre um acto jurídico, negocial ou
administrativo vertido em documento escrito. Exemplos: artigos 1143º e 219º do C.C.

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Modalidades de documentos escritos32

De acordo com o artigo 362º do C.Civil, os documentos podem ser: autênticos


ou particulares. Os particulares podem ainda ser: autenticados, com
reconhecimento notarial e não autenticados.

1- Documentos autênticos: são aqueles exarados com as formalidades legais,


pelas autoridades públicas nos limites da sua competência, ou dentro do
círculo de actividades que lhes é atribuído pelo notário, ou outro oficial público
provido de boa-fé.

2- Documentos particulares: São os documentos escritos ou assinadas por


qualquer pessoa privada.

a)- Documentos particulares autenticados: são aqueles aditados por um


reconhecimento notarial autêntico (o notário atesta a conformidade do
documento com a vontade das partes9 e por isso memo, revestido de especial
força probatória.

b)- Documentos particulares com reconhecimento notarial: consiste em


qualquer das formas (simples ou presencial), que certificam apenas a
autenticidade formal do documento.

c)- Documentos particulares não autenticados: são os vales, extractos de


contas, letras livranças, cheques…

d) Natureza Jurídica do título executivo


Dissemos supra, que o título executivo é um documento. Todavia, coloca-se a
questão de se saber, o que releva neste documento? Será o elemento interno
(conteúdo) ou será o elemento externo (formalismo)? Para responder a esta
questão, destacam-se duas posições doutrinárias essenciais:

A TESE DE LIEBMAN:
Para este autor o título executivo é o próprio acto contido no documento. O que
importa não é o formalismo observado no negócio mas sim o conteúdo do
documento. O título tem eficácia constitutiva e releva o aspecto interno.

32
Documento é todo e qualquer objecto elaborado pelo homem, para representar coisa ou
facto. – Artigo 362º do C.Civil. Numa noção restrita, significa todo o escrito que corporiza uma
declaração de vontade ou de ciência, ou mera declaração de vontade.

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- Críticas a tese de LIEBMAN: Se o título fosse o acto contido no documento


jamais teríamos uma situação de litispendência ou de caso julgado, porque os
actos são autónomos e nada têm a ver um com outro. Um acto pode ser válido
num processo e ser inválido num outro.

A TESE DE FRANCESCO CARNELUTTI:


Entende que o título executivo é o documento, com força probatória, porque o
negócio jurídico contido no documento vem provar se a relação entre as partes
é suficientemente idónea para dar lugar a execução, Carnelutti releva o
aspecto formal e externo (o título executivo é um documento e que obedece
determinados pressupostos traçados na lei).

- Críticas a tese de CARNELUTTI: Aceitar que o título é tão-somente um


documento, levaria a que existisse execuções injustas, porquanto, bastava ter
um documento forjado para ser possível intentar a acção executiva.

Conclusão: Independentemente das críticas, entre uma e outra tese, parece-


nos ter razão Carnelutti, pois é o aspecto formal que dá consistência ao título,
garantia e segurança porque o formalismo é determinado por lei. O mesmo
acto num mesmo documento pode ser título executivo ou não, de acordo com o
formalismo legal exigido por lei.

Exemplo: O contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se for


celebrado por escritura pública- artigo 875º do C.Civil. No mesmo sentido ver
também, os artigos 947º e 1143º ambos do C.Civil, sobre os contratos de
Doação e Mútuo.

Dispõe o artigo 220º do C.C, que a falta de observância do formalismo legal


prescrito tem como consequência a nulidade do negócio jurídico. Logo se a lei
impõe que determinado documento, para produzir efeitos deve obedecer um
certo formalismo, a inobservância deste formalismo, faz com que o documento
em causa não seja considerado como título executivo, ou seja, torna-se
inexequível.

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e) Evolução histórica dos títulos executivos


A classificação dos títulos executivos, que hoje temos, sofreu evolução ao
longo dos tempos, muito pela confrontação entre o interesse do credor a uma
execução célere e o interesse do devedor a uma execução justa.

A exigência de um título executivo representa uma solução de compromisso


entre dois princípios:

- O princípio da cognição prévia (direito romano) impõe que a acção executiva


só pode ter lugar depois de a existência do direito do credor exequente ser
declarada jurisdicionalmente através de acção declarativa, isto é, depois de
definido por sentença. Visa a defesa do devedor. Na antiga Roma, por
exemplo, prevalecia o interesse do devedor em relação ao interesse do credor:
se o executado, face a um e3xecução com base num tituloextra-judicial,
alegasse que já pagou a dívida o exequente era obrigado a ir intentar uma
acção declarativa.

- O princípio da execução (direito germano e suíço), impõe que a acção


executiva seja movida sem necessidade de uma declaração jurisdicional prévia
da existência do direito do credor, dando-se, no entanto, ao devedor/requerido,
a possibilidade de discutir a justeza da acção executiva no próprio processo de
execução, ou seja, a existência do título como requisito prévio era irrelevante.

O tribunal adquirirá a certeza da existência do direito exequendo quando o


executado não deduza qualquer oposição ao pedido do exequente ou quando,
tendo sido deduzida, seja julgado improcedente. Visa a defesa do credor. No
direito Germano-suíço, privilegiava-se o interesse do credor (exequente), a
ponto de admitirem execuções sem título, tudo para salvaguardar razões
comerciais. Basta o exequente alegar que determinada pessoa tinha uma
dívida para ser executado.

Essa evolução continuou, até haver uma aproximação dos dois sistemas, por
um lado, o reforço do interesse do credor e o aparecimento dos títulos
executivos judiciais e extrajudiciais.

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No sistema angolano, é notória a grande protecção de que a lei reconhece aos


títulos executivos extrajudiciais (vide artigo 46º do C.P.C)33. Em alguns
sistemas admitem-se apenas títulos executivos extrajudiciais quando sejam
escrituras públicas.

f) Espécies de título executivo


A enumeração dos títulos executivos é taxativo, e como tal obedecem ao
princípio da tipicidade, nos termos do artigo 46º do C.P.C. Portanto, em
princípio, nem a vontade das partes nem o juiz pode criar outros títulos nem
negar a exequibilidade aos títulos enumerados no artigo supra citado.

Todavia, a tipicidade referida é aberta podendonaturalmente admitir-se aqui por


força da chamadaanalogia legis outros títulos. O próprio artigo 46º do C.P.Cna
sua alínea d)dá-nos essa abertura, admitindo ser possível existir títulos
executivos por força de lei especial.

A classificação dos títulos executivos pode ser variada. Contudo, vamos


adoptar aquela que classifica os títulos em: Judiciais, extrajudiciais ou ainda
parajudiciais.

Títulos executivos judiciais:


São aqueles que resultam de uma decisão judicial, ou seja, decisão proferida
pelo tribunal. A lei refere – artigo 46º al. a) do C.P.C- como título executivos
judiciais, somente as sentenças condenatórias. Porém, para além das
sentenças condenatórias existem outras, os quais passamos a mencionar:

- Sentenças de confirmação e revisão

- Sentenças homologatórias,

- Despachos que conheçam do mérito da causa. Exemplo: Despacho saneador


sentença (artigo 510º nº 4 do C.P.C).

33
Como se vê, o nosso legislador adoptou uma solução de compromisso-necessidade de
apresentação e um título executivo, considerado como pressuposto processual específico da
acção executiva. A acção executiva pode ser instaurada sem necessidade de uma declaração
jurisdicional prévia da existência do direito do credor. Mas terá de apresentar algum dos
documentos enumerados, no artigo 46º do C.P.C, taxativamente e que demonstrem a
probabilidade séria da existência do direito de crédito cuja realização efectiva se solicita.

É importante referir que o recebimento dos embargos de executado não suspende o


andamento do processo de execução, a solução consagrada pelo nosso legislador acaba no
fundo por se aproximar ao princípio de execução

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Títulos executivos extrajudiciais:


São aqueles cuja sua origem emana do princípio da autonomia de vontade das
partes. Como títulos executivos extra judiciais apontam-se os constantes das
alíneas b) c) e, d) do artigo 46º, nomeadamente:

- Documentos exarados ou autenticados pelo notário

- As letras livranças, cheques, extractos de facturas, vales ou qualquer outros


documentos particulares, assinados pelo devedor, dos quais consta a
obrigação de pagamento de quantias determinadas ou de entrega de coisas
fungíveis.

- Outros títulos que por disposição especial sejam atribuídos força executiva
(títulos executivos administrativos: notas passadas pelas alfândegas,
documentos exarados pela administração estadual, etc.)

Coloca-se muitas vezes a seguinte questão: sendo o título executivo


extrajudicial, como adquire o tribunal a garantia da existência do direito do
credor/exequente no momento em que é instaurada a execução? Ora, o
tribunal adquire a garantia da existência do direito, através da faculdade
conferida ao executado de pôr em causa a existência ou a validade do direito
por meio de embargos de executado, antes mesmo de ser iniciada as
actuações coercivas (excepto no processo executivo sumaríssimo- artigo 927º
do C.P.C).

Títulos executivos parajudiciais:

Os títulos parajudiciais são aqueles que são formalmente judiciais, mas


substancialmente negociais, isto é, obedecem a forma e têm a mesma força
executória dos títulos judiciais, mas têm origem na declaração de vontade das
partes.

Como exemplo mais acabado dos títulos executivos parajudiciais, podemos


apontar as decisões proferidas pelos tribunais arbitrais e as sentenças
homologatórias.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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g) Função do título executivo


A função do título executivo, visa sobretudo demonstrar ao tribunal a
legitimidade do recurso à acção executiva.

O recurso ao direito de execução é um meio necessário que o credor terá de


usar para certificar ao tribunal a probabilidade seria da existência do seu direito
de crédito, ainda insatisfeito ou violado. Em rigor, o título executivo demonstra
ou certifica apenas a existência da obrigação exequenda no momento em que
o mesmo foi emitido. Pode bem suceder que, no momento em que a execução
é movida a obrigação já esteja extinta total ou parcialmente(vide o caso das
chamadas execuções injustas).

O tribunal só adquire a convicção da existência do crédito titulado e da sua


insatisfação ou violação, depois de o executado ter sido citado, no mesmo
prazo que lhe é concedido para pagar ou nomear bens à penhora, e este não
deduz oposição ou a mesma seja julgada improcedente (vide artigo 811º nº 1 e
816º do C.P.C.

O título executivo é, pois, o meio necessário para garantir a promoção da


execução, e condição suficiente, salvo o previsto no artigo 804º do C.P.C.

11.2- Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação exequenda


Estes pressupostos constituem as características da obrigação34exequenda. O
legislador refere-se exactamente a certeza e exigibilidade como sendo
caracteres da obrigação exequenda35. O seu regime jurídico destes encontra-
se previsto nos artigos 802º à 810º do C.P.C. e aplicam-se a todas as formas
de processo executivo.

Na acção declarativa, é aceitável o autor formular pedidos incertos, inexigíveis


e ilíquidos, já na acção executiva não é possível, pois para que se conheça do
mérito da causa, é necessário que a obrigação seja; certa, exigível e líquida.

34
Obrigação- ver artigo 397º do C.Civil.
35
Vide artigo 802º do C.P.C.

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1- CERTEZA: a obrigação é certa, quando em face do título não haver dúvidas


sobre a sua existência ou quanto ao seu objecto. Como exemplos de
obrigações incertas temos:

- Obrigações alternativas: são aquelas em que a obrigação compreende duas


ou mais prestações, mas que o devedor se exonera efectuando aquela que por
escolha, vier a ser designada- vide artigo 543º do C.Civil.

-Obrigações genéricas: são aquelas em que o objecto da prestação se


encontra determinado apenas ao género e quantidade (Ex:C aluga a D um
cavalo não especificado;36A vende a B 200 sacos de feijão não identificados o
tipo) – videartigo 539º do C.Civil.

Nas acções executivas quando se trata de obrigações alternativas e


pertencendo ao devedor a escolha da prestação, este será notificado para
declarar por qual das prestações opta, fixando-se prazo pelo tribunal. Findo o
prazo, se o executado nada declarar, a escolha recai ao exequente - Artigo
803º/1 e 2 do C.P.C.

2- EXIGIBILIDADE: a obrigação é exigível quando estiver vencida, ou seja,


quando vence o prazo de cumprimento, ou quando não depender de condição
suspensiva.

Mas se a obrigação dependa de condição suspensiva37, nos termos do artigo


270º do C.Civil, incumbe ao credor (exequente), provar que se verificou a
condição. A prova da verificação da condição é feita por documento e, na falta
deste por testemunhas, podendo ser ouvido o devedor, quando se julgue
necessário e a audição nada prejudique - Artigo 804º do C.P.C.

3- LIQUIDEZ: verifica-se quando a obrigação se encontra quantitativamente


determinada o seu montante, ou quando o seu objecto constante do título não

36
Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, 11ª edição revista e actualizada,
Almedina 2008.
37
Exemplo: Num contrato de arrendamento, em que se estipula que o arrendatário só se obriga
ao pagamento das rendas referentes aos meses de Outubro à Dezembro de 2019, se o credor,
instalar na residência o sistema de segurança e água canalizada. Portanto, o arrendatário só
se constitui em mora, se o senhorio instalar o sistema de segurança e agua canalizada, está é
condição suspensiva.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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for uma universalidade, ou seja,não estar indeterminada (exemplo: o rebanho


da fazenda AA).

A liquidez da obrigação, muitas vezes, pode depender do seguinte:

a)- Liquidação por mero cálculo aritmético (artigo 805º nº1, do C.P.C.)

b)- Liquidação pelo tribunal- artigo 806º e 805º/2 do C.P.C.

c)- Liquidação por árbitros- artigo 809º do C.P.C.

Nos casos de liquidação por simples cálculo aritmético e pelo tribunal, ela deve
ser dada a conhecer ao executado, para querendo, contestardentro do prazo
fixado pelos embargos, isto é, no prazo de dez (10) dias, conforme reza o
artigo 816º do C.P.C.

Se o executado não contestar a liquidação, considera-se fixado a obrigação


nos termos requeridos pelo exequente ou fixados pelo tribunal, e de seguida,
ordenar-se-á o seguimento da execução.

Porém, se o executado contestar a liquidação, seguir-se-ão os termos do


processo sumário de declaração, nos termos do artigo 783º e ss do C.P.C.

Conclui-se pois que o processo de liquidação é um processo declarativo


enxertado na acção executiva e quem natureza de incidente de instância,
obedecendo o disposto n os artigos 379º e 380º do C.P.C

Nas situações em que a obrigação for em parte ilíquida e parte líquida, pode-se
executar imediatamente a parte líquida, tal como reza o artigo 810º do C.P.C.

Se a obrigação não for líquida e nem exigível, é porque o documento não é


digno de ser designado de título executivo.

A falta de algum destes pressupostos específicos (certeza, exigibilidade e


liquidez), ou dessas características da obrigação exequenda, quando não
possa ser sanada, tem como consequência o indeferimento liminar da petição
inicial, nos termos do artigo 474º nº 1, alínea c), do C.P.C.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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II PARTE
A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO

ACÇÃO EXECUTIVA PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA SOB A


FORMA DE PROCESSO ORDINÁRIO
A acção executiva para pagamento de quantia certa sob a forma ordinária
constitui em termos de tramitação, o processo modelo quer para outros tipos
(fins) de execução, como também outras formas de processo. Esta espécie de
execução visa a realização coactiva da obrigação, isto é, o cumprimento
forçado da prestação. Ela é adjectiva a acção de cumprimento e execução
prevista nos artigos 817º a 826º do C.Civil.

De acordo com a execução em causa, apontam-se cinco (05) fases a


saber:Requerimento Inicial, Penhora, Concurso de Credores, Pagamento e
Extinção da Execução

1- REQUERIMENTO INICIAL
É óbvio que em termos processuais, rigorosamente falando, o requerimento
inicial não é uma fase, mas sim o primeiro acto da fase dos articulados. O
requerimento inicial deve estar sempre acompanhado com o título executivo,
em anexo.

A acção considera-se proposta a partir do momento em que o exequente, dá


entrada do requerimento na Secretaria do tribunal e de seguida é o processo
distribuído. Se o título executivo for uma sentença condenatória, proferida em
tribunal angolano, o processo não merecerá distribuição, devendo ser o juiz da
causa, o mesmo que da acção declarativa- vide artigo 90º nº 1 e 93º nº 3 do
C.P.C.

O requerimento inicial, deve obedecer os requisitos de forma- artigo 152º, e


requisitos de conteúdo- artigo 467º ambos do C.P.C.

Possíveis Despachos do juiz


Distribuído o processo e concluso aos autos ao juiz que couber, de acordo com
a situação que se apresente, este pode tomar uma das seguintes atitudes:

- Indeferimento liminar: artigos 474º e 193º, por força do artigo 801ºdo C.P.C

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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- Aperfeiçoamento: artigo 477º, por força do artigo 801º do C.P.C.

- Citação do executado38: artigo 811º do C.P.C.

Se a execução for provida por dívida com garantia real (v.g. Hipoteca), deverá
esta promover-se a citação dos credores, nos termos do artigo 864º, nº 3 do
C.P.C39.

Atitudes do executado (face o despacho de citação):


Face a eminente execução, o executado através dos meios de oposição, que
lhe são assistidos, pode tomar uma das seis atitudes possíveis:

1- Pagar a quantia exequenda (havendo pagamento a execução extingue-se).

2- Nomear bens a penhora: nos termos do artigo 833º do C.P.C. Havendo


nomeação prossegue a execução nos seus ulteriores termos.

A nomeação recairá em primeira instância, sobre coisas corpóreas (móveis ou


imóveis), situados na circunscrição administrativa (província), onde a execução
estiver a decorrer, seguir-se-ão os bens, ou seja, coisas corpóreas situados
nas outras províncias do país.

Na nomeação dos bens imóveis ou móveis sujeito a registo40, o executado


deverá apresentar os documentos que correspondem a sua titularidade sobre
os mesmos, ou não tendo, indicará a proveniência desses bens. Os títulos de
propriedade apresentados ficarão depositados na secretaria do tribunal, para
serem entregues ao adquirente ou arrematante.

Na falta ou insuficiência, de bens móveis e imóveis, a penhora recairá sobre


direitos. A indicação em último lugar sobre direitos deve-se ao facto do seu
presumível menos valor. (Cfr., artigo 834º do C.P.C).

38
Exemplo: Cite o executado para em 10 dias pagar a quantia exequenda ou nomear bens à
penhora, sob pena de se devolver ao exequente o direito de nomeação de bens à penhora, e
ainda para em igual prazo deduzir oposição à execução por embargos e/ou por recurso de
agravo, nos termos dos artigos 811º nº 1, 836º nº 1 e 812º todos do C.P.C.
39
Tenha-se especial atenção para a validade da citação, evitando-se a nulidade de todo o
processo e para que não ocorra o caso previsto no artigo 921º do C.P.C.
40
Veja a este propósito o regime dos registos automóveis, aprovado pelo Decreto-Lei nº47.952,
de 27 de Setembro de 1967. Alterado e tornado extensivo a Angola pela Portaria nº23.089, de
26.12.1967.

60
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Se os bens a serem penhorados tiverem sido dados como garantia real, para o
cumprimento da dívida, não careceram de nomeação e a penhora começara
sobre estes, e só poderá penhorar-se outros, quando se reconhecer que os
dados como garantia são insuficientes para se conseguir o fim da execução-
(Cfr., artigo 835º do C.P.C).

3- Agravar o despacho de citação: artigo 812º e 923º nº 1 al. c) do C.P.C.


Verificando-se uma das situações previstas no artigo 474º e 193º do C.P.C, o
executado pode lançar mão do agravo

4- Embargar a execução: Os embargos seguem os termos do processo


declarativo sob a forma de processo ordinário ou sumário, conforme se trate de
execução para pagamento de quantia certa em processo ordinário ou sumário
(P.I, Contestação, Saneador, julgamento e sentença), e correm por apenso.

Marcha dos embargos:


Os requisitos da interposição do embargo são os da P.I. Eles são deduzidos no
prazo de dez (10) dias a contar da data da citação da execução.

Os fundamentos dos embargos variam conforme a natureza do título executivo


(judicial, para judicial ou outro) e constam dos artigos 813º a 815º do C.P.C.

A marcha dos embargos vem disposto no artigo 817º a 820º do C.P.C. Na


verdade havendo embargo, as posições das partes invertem-se o
executado/Embargante contra o exequente/Embargado.

Recebida a petição do embargo o juiz pode tomar uma das seguintes atitudes:

a)-Despacho de rejeição41: artigo 817º nº 1, alínea a) b) e c) do C.P.C.

b)- Despacho de recebimento42: 817º nº 1 do C.P.C. Recebidos os embargos,


os efeitos produzem-se conforme reza o artigo 818º e 819º do C.P.C.
conjugado com o artigo 433º e 435º do C.P.Civil.

41
Exemplo sobre despacho de rejeição da penhora: Dado que os presentes embargos de
executado foram deduzidos fora de prazo, isto é, para além dos 10 dias a contar da citação,
rejeito-os liminarmente. Custas pelo embargante. Notifique.

Exemplo 2: Dado que o fundamento invocado pelo embargante não se enquadra em qualquer
dos fundamentos taxativos enumerados nos artigos 813º a 815º do C.P.C, rejeito-os
liminarmente. Custas pelo embargante. Notifique.

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Os embargos só admitem dois articulados, a P.I e a contestação. Se os


embargos procederem, produzira os seguintes efeitos43:

-Declara-se extinta a execução,

- Ordena-se o levantamento da penhora,

- Ordena-se o cancelamento do registo da penhora,

- Dá-se sem efeito a venda executiva.

Nota: Em qualquer dos casos, nunca se pode admitir nem deixar prosseguir
execução sobre questões de direitos indisponíveis-artigo 820º do C.P.C.

5- Arguir quaisquer nulidades: nos termos do artigo 193º e ss do C.P.C.

6- Nada responder: se o executado não agir de qualquer forma, é o direito de


nomear bens a penhora transferido ao exequente.

Se a execução se fundar em sentença transitado em julgamento há mais de um


ano, o direito de nomeação cabe ao exequente, que indicará à penhora logo no
requerimento inicial, sendo a citação substituída por notificação, após a
penhora. Há concedido ao executado, dez (10) dias para requerer a
substituição dos bens nomeados pelo exequente.

Outros casos de nomeação dos bens pelo exequente constam do artigo 836º/1
do C.P.C., e são os seguintes:

- Quando o executado não nomeie, no prazo de dez (10) dias;

- Quando, na nomeação o executado não observa o disposto no artigo 834º do


C.P.C

- Quando o executado nomear, e não forem encontrados os bens.

42
Exemplo: Face ao fundamento invocado, pagamento da quantia exequenda, que se
enquadra no artigo 813º al. h) do C.P.C., recebo os presentes embargos. Notifique o
exequente/embargado, para em 10 dias, querendo contestar os embargos.
43
Exemplo de Decisão havendo procedência dos embargos: Tendo transitado a sentença que
julgou procedentes os embargos de executado apenas declaro extinta a execução que F…
moveu contra F… consequentemente, ordeno o levantamento da penhora feita a fls…., ordeno
o cancelamento do registo da penhora o imóvel descrito na conservatória do registo predial de
…., com o nº …., feita pelo averbamento…dou sem efeito a venda do bem penhorado feita a
fls… e ordeno a restituição ao arrematante o preço da venda depositada a fls… Custas pelo
exequente. Registe e notifique.

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2- A PENHORA
Conceito44
Consiste na apreensão judicial dos bens do executado ou de terceiro, para
satisfazer o direito material violado do credor. Trata-se de um acto judicial que
tem de ser confirmado pelo juiz.

Há situações em que os bens podem ser do exequente nos casos de execução


para entrega de coisa certa, quando o bem está indevidamente na posse do
executado.

O artigo 821º do C.P.C, dispõe que “ estão sujeitos á execução todos os bens
que nos temos da lei substantiva, respondem pela divida, quer pertençam ao
devedor, quer a terceiro”. Podemos então concluir que:

a)- O objecto da execução não é a pessoa do devedor, mas o seu património,


isto é a execução é patrimonial e não pessoal

b)- A execução incide sobre a totalidade do património do devedor- artigo 601º


do C.Civil, estando ou não em poder de terceiro-artigo 831º do C.P.C.

c)- A execução pode incidir sobre o património de terceiros, quando este tenha
dado como garantia para o cumprimento da obrigação- artigo 818º do C.Civil.

Natureza Jurídica:
A penhora tem natureza de garantia real, de tipo judicial decretada pelo
tribunal. Sem ela não se consegue satisfazer o direito material violado do
credor/exequente, pois sem essa garantia, o executado pode desfazer-se dos
bens que tem.

44
Para o professor Castro Mendes, citado por Evaristo Solano, ob. cit, pág. 60, a penhora é um
acto de desapossamento de bens do devedor que ficam na posse do tribunal a fim de este os
usar para realização dos fins da acção executiva.

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LIMITES DA PENHORABILIDADE45
Os limites da penhorabilidade podem ser de natureza substantiva ou de
natureza processual.

1- IMPENHORABILIDADE SUBSTANTIVA
a)- Absoluta: artigo 602º, 603º, 833º, 1488º do C.Civil.(uso e habitação),
servidão, artigo 259º do C.F. (direito à alimentos).

b)- Subsidiária: artigos 638º, 639º do C.Civil., os bens da meação, artigo 63º
do C.F (os bens próprios de cada um dos cônjuges quando a divida é comum).

2- IMPENHORABILIDADE PROCESSUAL
a)- Absoluta: artigo 822º do C.P.C, bens inalienáveis (direitos de
personalidade)

b)- Subsidiária: artigos 822º nº 3 e 823º nº 3 ambos do C.P.C.

c)- Relativa: 823º e 1118º nº 1, al. d).

Funções da penhora:
- Concentrar e determinar o objecto imediato da execução

- Garantir a prática dos actos subsequentes

- Salvaguardar os bens da acção executiva

Diferença entre penhora e outras garantias reais (hipoteca/penhor):


1- A penhora é judicial. A hipoteca e o penhor são materiais (resultam da
vontade das partes)

2- A penhora abrange bens móveis, imóveis, direitos, etc. A hipoteca só


abrange ou incide sobre bens imóveis e o penhor sobre bens móveis.

3- A penhora produz efeitos diferentes. Sobre um bem penhorado não pode


haver mais actos de disposição a serem praticados. A hipoteca46 sobre um
imóvel pode dar-se como garantia a vários credores.

45
A impenhorabilidade consiste naquilo que não pode ser apreendido pelo tribunal, no
processo de execução, para satisfazer uma dívida a que está vinculado o seu proprietário- por
razões de ordem pública, de humanidade, de ordem moral etc.

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Efeitos da penhora:
- Confere ao exequente o direito de preferência no pagamento do seu crédito
(em relação aos credores com garantia real posterior) - artigo 822º C. Civil -
Excepção aos processos de falência (artigo 1235º nº 3 do C.P.C)

- Confere Indisponibilidade material absoluta ao executado: o executado fica


privado da posse dos seus bens.

A indisponibilidade material produz efeitos tão logo o executado seja notificado


sobre o despacho da penhora (artigo 838º do C.P.C).

- Confere Indisponibilidade Jurídica relativa: o executado fica privado de


praticar determinados actos jurídicos, que possam prejudicar aquela penhora.
Artigo 819º do C.Civil. Exemplo: A venda dos bens penhorados.

Fala-se em indisponibilidade relativa porque apesar dos bens estarem já


penhorados, o executado pode praticar actos de disposição(alienação), desde
que tais actos não prejudiquem a execução47. Também quando se verifica o
concurso de penhoras- artigo 871º do C.P.C- podem praticar-se actos de
disposição.

A indisponibilidade relativa produz efeitos a partir do momento do registo do


bem penhorado, tratando-se de bens não sujeito a registo a partir do momento
que se efectiva a penhora (artigo 819º do C.Civil).

Todavia, independentemente dos efeitos já mencionados há situações em que


a penhora pode produzir efeitos antecipadamente- artigo 1041º do C.P.C.

Fases da Penhora:
São apontadas a penhora as seguintes fases: Escolha ou nomeação de bens,
Decisão do juiz sobre a penhora, Efectivação da penhora e Publicidade da
penhora.

46
Exemplo: F…proprietário de um imóvel equivalente a Kz. 1.000.000,00, pode constituir
Hipoteca a favor de X… no valor de Kz.600.000,00 e a favor de Y… no valor de Kz.
400.000,00.
47
F…, está a ser executado para pagamento de quantia no valor de Kz. 750.000,00, mas este
consegue vender o bem embora penhorado ao valor de Kz. 900.0000,00, podendo assim,
satisfazer a obrigação exequenda.

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a)- Escolha ou Nomeação de bens


A nomeação dos bens a penhora vem previsto nos artigos 833º à 837º do
C.P.C. Esta faculdade é atribuído ao executado e decorre logo do despacho
que ordene a citação- artigo 811º nº 1 do C.P.C

Se a execução se fundar em sentença de condenação transitada em julgado há


mais de um ano, o direito cabe ao exequente, que indicará à penhora logo no
requerimento inicial, sendo a citação do executado substituída, após a penhora
pela notificação do requerimento e do despacho que ordena a penhora. O
Executado terá 10 dias para embargar ou requerer a sub-rogação dos bens
penhorados por outros de valor suficiente para o pagamento da divida.

Tratando-se de divida com garantia real, a penhora começara,


independentemente de nomeação pelos bens onerados-artigo 835º do C.P.C.

O direito de nomeação à penhora será atribuído ao exequente, nos termos do


artigo 836º do C.P.C.

A nomeação de bens pelo executado é feito por termo e pelo exequente é feita
por requerimento- artigo 837º do C.P.C.

b)- Decisão do juiz sobre a penhora ou conversão do arresto em penhora


Consiste em ordenar que se proceda ao acto da penhora, uma vez verificada a
legalidade e se os bens são penhoráveis ou não nos termos ad lei substantiva
e processual. O despacho que ordene a penhora é notificado ao executado-
artigo 838º nº 1, do C.P.C.

Se os bens estiverem arrestados (artigo 402º do C.P.C), é o arresto-


providência cautelar- convertido em penhora, nos termos do artigo 846º do
C.P.C.

c)- Efectivação da penhora


Para a efectivação da penhora há que distinguir três situações a saber:

- Penhora de imóveis: (artigos 838º -847º do C.P.C)

- Penhora de móveis- (artigos 848º- 855º do C.P.C)

- Penhora de direitos- (artigos 856º-863º do C.P.C)

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- Penhora de bens indivisos48 (compropriedade49- artigo 842º do C.P.C e 1403º


do C.C, quota em sociedade, quinhão em herança a partilhar, meação de bens
comuns do casal, etc.).

- Penhora contra herdeiros-artigo 827º do C.P.C.

- Penhora de bens de terceiros- artigo 828º do C.P.C.

d)- Publicidade da penhora


Efectivada a penhora, e tratando-se de bens imóveis, automóveis, navios,
aeronaves, quotas de uma sociedade, créditos com garantia de hipoteca, é
necessário que se registe na competente conservatória, para efeitos de eficácia
e oponibilidade contra terceiros. (vide artigo 838º nº 3 do C.P.C e artigo 71º do
CRP). O registo possui carácter meramente declarativo e publicitário e não
constitutivo, não sendo portanto, condição de validade da penhora.

Renovação e levantamento da penhora:


A penhora pode ser renovada nos seguintes casos (artigo 208º do C.P.C):

- Perda ou deteorização da coisa penhorada,

- Desistência da penhora,

- Insuficiência de bens penhorados

- Declaração de nulidade ou anulação a penhora

A lei não fixa prazo para o exequente nomear bens a penhora, ao contrário do
executado que tem dez dias para o fazer. Porém, a penhora ser levantada nos
casos em que por culpa do exequente a execução esteja parada por mais de
seis meses(conforme reza artigo 847º do C.P.C).

48
Exemplo de D: Penhore-se o bem indiviso nomeado a fls… Para o efeito, notifique a …., de
que a quota/quinhão/meação, pertença do executado, fica penhorada e á ordem deste tribunal
(artigo 862º do C.P.C). Deste despacho notifique o executado e os restantes
sócios/herdeiros/condóminos.
49
Evaristo Solano, ob cit, págs. 69, entende que a penhora em caso de compropriedade não
incide sobre o bem (móvel ou imóvel), mas sim sobre a quota ideal do bem indiviso pertencente
ao executado. Os outros comproprietários não terão a sua posição comprometida por força da
penhora. Estar-se-á a penhorar um direito e não uma coisa.

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Embargos de terceiros50
Trata-se de um meio de oposição a execução, conferido ao terceiro que vê os
seus bens a serem executados- vide artigo 1307º do C.P.C.

A regra é que os bens do executado é que estão sujeitos a execução-artigo


817º do C.Civil. Todavia é também possível executar o património de terceiros,
nos casos em que este tenha dado como garantia para o cumprimento da
obrigação, tal como nos apontam os artigos818º do C.Civil, 821º do C.P.C e
56º nº 2 do C.F.

Ora, incidindo a penhora sobre bens de terceiros que não tenha dado como
garantia para o cumprimento da obrigação, como pode este defender-se?

Pode o terceiro defender-se mediante embargos de terceiro previsto no artigo


1037º - 1043º do C.P.C. Os embargos também estão contemplados no direito
substantivo no artigo 1285º e ss do C.Civil.

O terceiro pode ainda em casode execução injusta, contra o seu património,


lançar mão como meio de defesa da acção de reivindicação da propriedade,
nostermos do artigo 1311º do C.Civil. Este meio confere ao executado um
prazo mais longo em relação ao embargo de terceiro.

Têm legitimidade para requerer o embargo de terceiro: os terceiros, o próprio


obrigado executado e o cônjuge51 do obrigado- artigo 1037º nº 2, e artigo 1038º
nº 1, ambos do C.P.C.

Ineficácia dos embargos por parte do cônjuge:

- Quando a diligência incidir sobre o direito a meação do executado- artigo


1038º nº 1, alínea a) do C.P.C.

- Quando a diligencia incidir sobre bens próprios do executado de que este


podia dispor livremente- artigo 1038º nº 1 alínea b), do C.P.C.

50
Considera-se terceiro, aquele que não tenha intervindo no processo ou no acto jurídico de
que emana a diligência judicial, nem represente quem foi condenado no processo ou quem no
acto se obrigou.
51
O cônjuge pode sem autorização do obrigado, defender por meio de embargo a sua posse,
quanto aos seus bens próprios e quanto aos bens comuns. Dispõe a lei que o reconhecimento
da união de facto produz os mesmos efeitos da celebração do casamento, tal como reza o
artigo 119º do C.F. Assim, é de estender a faculdade de requerer o embargo de terceiros aos
companheiros de união facto reconhecida.

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Não havendo razões para o indeferimento, e recebidos os embargos, é


notificado o réu/exequente/embargado, para contestar, seguindo-se os demais
termos do processo declarativo de condenação.- Artigo 1040º do C.P.C.

3- CONCURSO DE CREDORES
O Código de Processo Civilregula a matéria sobre o concurso de credores nos
artigos 864º- 871º.

Depois de registada a penhora (fase da publicidade), é chegada a fase do


concurso de credores, que começa com extracção da certidão de direitos ônus
e encargos.

Os credores são titulares de garantias e têm um direito real sobre os bens


penhorados do executado, logo os bens não podem ser vendidos e nem o
exequente pago, sem que os credores exerçam os seus direitos. O credor só é
convidado (citado), a participar na execução quando a sua garantia é posta em
causa.

A lei determina os requisitos para se participar no concurso de credores, nos


termos do artigo 865º do C.P.C. Os requisitos são:

a)- Ser um credor que goze de garantia real sobre os bens penhorados;

b)- O título executivo deve ser exequível52;

c)-A obrigação deve ser certa e líquida.

O concurso de credores está constituído pelas seguintes etapas: citação,


reclamação, verificação e graduação de créditos.

- Citação dos credores: faz-se nos termos do artigo 864º nº 1 do C.P.C. O


presente artigo descrimina as pessoas a serem citadas (cônjuge do executado,
credores e fazenda nacional- AGT). Os credores que não puderem ser citados
pessoalmente deverão ser citados por éditos no prazo de 20 dias. Se o credor
citado não fizer a reclamação do crédito, coloca-se numa situação de revelia e
52
O credor que não esteja munido de título executivo exequível pode requerer dentro do prazo
facultado para a reclamação de crédito (dez dias a contar da citação do reclamante, e vinte
dias a contar da citação da Fazenda nacional ou do Ministério Público- artigo 865º nº 2, do
C.P.C.), que a graduação dos créditos relativamente aos bens abrangidos pela sua garantia
aguarde que o requerente obtenha na acção própria sentença exequível- artigo 869º nº 1 do
C.P.C.

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perde a garantia real, tornando-se num credor comum- artigo 824º nº 2 do


C.Civil.

Com o efeito decorrente da citação dos credores é que as garantias caiem com
o exercício do direito dos credores e só assim podemos atrair os compradores
para estes bens, a não ser que o comprador ainda assim compraria o bem com
os encargos existentes- artigo 824º do C.Civil

Sempre que houver de citar o cônjuge do executado, presume-se que a acção


executiva foi intentada contra apenas um deles. O cônjuge é citado sempre que
a penhora abrange bens comuns ou que abrange bens que o executado não
possa alienar livremente-artigo 56º nº 3 do C.F.

Havendo falta de citação53, os efeitos estão previstos no nº 3 do artigo 864º do


C.P.C, ou seja, o mesmo efeito que a falta de citação do réu na acção
declarativa, consubstanciada na anulação do processo desde a fase posterior a
citação, nos termos do artigo195º C.P.C.

- Reclamação de crédito: - artigo 865º-867º do C.P.C. A petição de reclamação


de crédito obedece os requisitos de forma e conteúdo, nos termos do artigo
151º/2 e 467º ambos do C.P.C.

Trata-se pois de um processo declarativo enxertado, que corre por apenso a


processo executivo. Nele se discute o direito, logo os credores têm de fazer
prova da existência do seu crédito, fazendo-a face ao executado e ao
exequente de acordo com a satisfação do seu interesse.

Nestes processos não é exigível a constituição de advogado, salvo se os


créditos forem contestados. Nestas situações aplicar-se-á, o regime previsto
para a execução quando haja embargos, nos termos do artigo 60º do C.P.C.

A lei prevê situações ou casos especiais de reclamação de crédito que são:


artigo 871º do C.P.C e artigo 869º do C.P.C.

53
Se por falta de citação, o credor com garantia real não participar da execução e lhe ser
causado prejuízos, é o executado obrigado a indemnizar o credor, pois o processo executivo
como se sabe está na quase total disponibilidade do exequente - princípio da auto
responsabilidade do exequente.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
______________________________________________________________________________________________

Havendo impugnação de crédito pelo exequente e pelo executado, estaremos


perante um processo declarativo incidental, que corre por apenso a execução -
Artigo 866º do C.P.C. (incidente de reclamação de créditos).

- Verificação e Graduação de Crédito- artigos 868º-871º do C.P.C. A graduação


dos créditos faz-se por antiguidade (artigo 871º do C.Civil), mas antes da
graduação entre os credores, paga-se primeiramente as custas, nos termos do
artigo 455º do C.P.C., e também é necessário ter atenção aos privilégios
creditórios- artigo 733º do C.Civil.

4- PAGAMENTO
Regulado no artigo 872º a 911º do C.P.C., esta fase vem depois da graduação
de créditos- última fase do concurso de credores. Porém, se por exemplo o
executado efectuar o pagamento logo depois de citado-artigo 811º do CP.C. a
execução é logo extinta, não sendo necessária a penhora ou o concurso de
credores.

O grande interesse do exequente com a instauração da acção de execução


consiste no pagamento. O pagamento é feito nos termos do artigo 873º do
C.P.C.

Em tese a fase do pagamento tem o seu início, a partir do momento em que o


juiz aceita o despacho de reclamação de crédito, nos termos do artigo 874º do
C.P.C., pois o executado perdeu a posse- indisponibilidade material absoluta- a
partir do despacho que ordena a penhora.

Formas de pagamento:
As formas de pagamento na acção executiva está disposto no artigo 872º do
C.P.C, e pode consistir em:

1- Entrega de dinheiro:

A venda poderá recair sobre bens móveis, imóveis ou sobre direitos

2- Venda de bens penhorados:

A venda constitui uma das modalidades ou formas de pagamento. Esta


modalidade está prevista no artigo 882º e ss do C.P.C.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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Modalidades de venda:
a)- Venda antecipada54: artigo 851º do C.P.C

b)- Venda judicial: (proposta em carta fechada e arrematação em hasta


pública) - artigo 883º nº 1 e 889º do C.P.C

c)- Venda extrajudicial: (vendas em bolsas de capital ou mercadorias, venda


directa a entidades que tenham direito a adquirir determinados bens55, Venda
por negociação particular e venda em estabelecimento de leilões) - artigo 883º
nº 2 do C.P.C.

Anulação da venda
Sobre a anulação da venda, Cfr. Artigos908º, 909º nº 3.

Casos especiais de anulação da venda


Ver os artigos 864º nº 3 do C.P.C, artigos 579º, 580º do CC, e os casos de
indisponibilidade relativa.

3- Adjudicação de bens penhorados:

Se o bem não estiver sujeito a venda directa ou não se tratar de títulos de


crédito pode, o exequente requerer que o bem lhe seja adjudicado- artigo 875º
nº 1, do C.P.C.

Requerida a adjudicação, procedesse ao anúncio tal como na venda por


negociação particular com a particularidade de nesta saber-se de antemão o
preço do bem- artigo 876º do C.P.C. Ver ainda o artigo 877º.

4- Consignação de rendimentos:

É legítimo ao exequente requerer que o seu crédito possa ser pago mediante
rendimentos periódicos de determinado bem pertencente ao executado, desde

54
Dá-se venda antecipada, quando os bens penhorados estiverem sujeitos à deteorização,
depreciação ou quando haja manifesta vantagem na antecipação da venda.
55
Penhorado um diamante, pertencente ao executado, a modalidade de venda extrajudicial
será a do artigo 883º nº 2 alínea b), porquanto, a venda só pode ser feita a empresa Sodiam.
E.P, por ser a única entidade a quem compete comprar os diamantes, por força do Decreto nº
7-B/00, de 11 de Fevereiro.

No entendimento do Professor Evaristo Solano - ob cit, nota nº 45, pág. 84, a venda forçada a
SODIAM, só se opera no caso de o diamante ser bruto, pois se, se tratar de diamante lapidado,
a comercialização cai no âmbito do regime geral e assim a venda será feita noutra modalidade.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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que o pedido seja feito antes da fase da venda e os bens sejam: bens imóveis
ou móveis penhorados e sujeitos a registoe que o executado tenha
consentido.Os requisitos apontados são cumulativos.

Havendo a consignação de rendimentos, coloca-se a questão de se saber se a


execução se extingue de imediato, principalmente quando se tratarem de
pagamentos por um longo período. Ora, por uma questão de lógica, sendo que
a consignação é umas etapas da fase do pagamento, mas sensato será
considerar que a extinção é imediata. Todavia, nada impede que a execução
se possa renovar, por exemplo, se o bem deixar de produzir os rendimentos
necessários a consignação, seja por qualquer razão.

Exercício do direito de remição


O direito de remição consiste na preferência que lei confere a determinadas
pessoas de pagarem a divida do executado e ficarem com a coisa penhorada.

O direito de remição é um instrumento fundamental que visa a manutenção de


determinado bem na esfera jurídica familiar do executado.

Têm legitimidade para exercer o direito de remição os cônjuge do executado,


os descendentes e ascendentes- artigo 912º do C.P.C. Havendo conflito entre
um preferente e os titulares do direito de remição, estes são privilegiados e
relação os primeiros- artigo 914º do C.P.C.

O direito de remição pode ser exercido, nos termos do artigo 913º do C.P.C., e
a preferência entre os titulares do direito é resolvido pelo artigo 915º do C.P.C.

5- EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO
Percorridas todas as fases, chega-se portanto a fase da extinção da execução,
regulado no artigo 916º ess do C.P.C.

Dissemos já, aquando do estudo das características da acção executiva que


ela encontra-se na quase total disponibilidade do exequente, tendo o
exequente o poder de desistir da mesma.

Assim, podemos aferir como formas de extinção da acção executiva as


seguintes:

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- Pagamento voluntário: Quando o executado é citado nos termos do artigo


811º, para pagar ou nomear bens a penhora, uma das atitudes que este pode
tomar é efectivamente efectuar o pagamento. Ora se assim o fizer, extingue a
execução.

- Incumprimento das leis fiscais (falta de preparos): artigo 287º do C.P.C.

- Pagamento Coercivo: constitui por excelência o meio de extinção da


execução.

- Desistência do exequente: artigo 918º do C.P.C. Se, porém, estiver execução


pendente por embargos de executado, a desistência dependerá da aceitação
do executado.

- Deserção: conferir os artigos 291º e 287º, ambos do C.P.C.

- Decisão favorável na oposição da execução, ou seja procedência dos


embargos.

6- RENOVAÇÃO DA EXECUÇÃO
A lei prevê que a execução já extinta possa ser renovada, tal como reza o
artigo 920º do C.P.C. A legitimidade para a renovação da execuçãocabe:

a)- Ao exequente:

- Quando a obrigação contida no título executivo for de trato sucessivo


(execução duradoura) - artigos 472º e 920º nº 1do C.P.C.

- Quando o valor dos bens penhorados não sejam suficientes para garantir o
cumprimento total da obrigação exequenda.

b)-Ao credor:

- Quando o credor que tenha um crédito vencido e que tenha sido graduado
(concurso de credores), para ser pago pelo produto de bens penhorados que
não chegaram a ser adjudicados ou vendidos, pode este requer que a
execução se renove, desde que seja antes do trânsito em julgado da sentença-
artigo 920º nº 2 do C.P.C.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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ACÇÃO EXECUTIVA PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA SOB A


FORMA DE PROCESSO SUMÁRIO
No Código de Processo Civil, o regime da acção executiva para pagamento de
quantia certa, sob a forma de processo sumário, salvo as situações das normas
especiais, comporta apenas três artigos, isto é, do artigo 924º à 926º.

Nos termos do disposto no artigo 465º nº 2 do C.P.C, estão sujeitos à forma


sumária as execuções fundadas em:

a)- sentenças proferidas em acções declarativas com a forma de processo


sumário

b)- sentenças fundadas noutros títulos elencados no artigo 45º do C.P.C,


quando o valor da causa estiver dentro da alçada do Tribunal de comarca
(artigo 46º alínea b)).

As regras já estudadas sobre a execução em processo ordinárioaplicam-se


supletivamente ao processo sumário, conforme rezam as disposições
combinadas dos artigos 466º nº 2, 1ª parte e 463º nº 1 do C.P.C, com as
devidas ressalvas às regras específicas aplicáveis a este processo

Nas acções executivas para pagamento de quantia certa sob a forma de


processo sumário, os prazos e o regime dos agravos nos embargos de
executado são diferentes do processo ordinário, senão vejamos:

Quanto aos prazos:

O executado é citado para em cinco (05) dias, pagar ou nomear bens a


penhora, ou ainda para deduzir oposição em igual prazo. Vide artigo 924º nº 1
do C.P.C.

A oposição é deduzida através de embargos de executado ou recurso de


agravo- artigo 924º nº 2 do C.P.C.

Tramitação dos embargos de executado:

O prazo para contestação nos embargos de executado- como se sabe é um


processo declarativo que corre por apenso à execução- é de cinco dias.- Artigo
925º do C.P.C.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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Relativamente ao regime dos agravos nos embargos de executado, aplicam-se


o regime estabelecido para o processo sob a forma sumária, nas acções
declarativas (artigos 792º nº2 e 735º, ambos do C.P.C.), conforme dispõe o
artigo 926º do C.P.C.

ACÇÃO EXECUTIVA PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA SOB A


FORMA DE PROCESSO SUMARÍSSIMO

O regime da acção executiva para pagamento de quantia certa, sob a forma de


processo sumaríssimo, comporta apenas um único artigo, 927º com quatro (4)
alíneas.

Estão sujeitas a forma sumaríssima as execuções fundadas nos seguintes


títulos:

a)- sentenças proferidas em acções declarativas sob a forma sumaríssima que


condenem em quantia certa ou na entrega de coisa certa.- artigo 465º nº 3 e
462º nº 1 do C.P.C.

b)-as execuções por custas que são promovidas pelo Ministério Público.- Artigo
927º do C.P.C.

A execução sob a forma de processo sumaríssimo, só tem lugar, quando o


título executivo se funda em uma sentença judicial.

Aplicam-se supletivamente ao processo sumaríssimo, primeiramente as regras


do processo sumário, e em segundo lugar o que estiver estabelecido para o
processo ordinário, conforme rezam as disposições combinadas dos artigos
466º nº 2, 1ª parte e 464º do C.P.C.

A forma sumaríssima apresenta algumas especificadas próprias á saber:

Quanto a legitimidade activa:

A execução sumaríssima é promovida pelo Ministério Público56 quanto às


custas liquidadas mas não pagas e também quanto à quantia constante da

56
Nos processos de execução sumaríssima, ao se conferir legitimidade activa ao Ministério
Publico para promover a acção executiva por custas constitui um desvio ao princípio da
legitimidade formal, previsto no artigo 55º nº 1 do C.P.C. Como se sabe, a legitimidade na

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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sentença se o autor lho requerer até 24 horas depois do termo do pagamento-


artigo 927º nº 1 do C.P.C.

Porém, se o autor não requerer, então o Ministério Público instaura a execução


por custas enquanto o autor instaura a execução para pagamento de quantia
certa separadamente- artigo 927º nº 1 do C.P.C.

Outras especificidades:

Instaurada a execução, o executado é notificado para no prazo de cinco (05),


opor-se a execução, ao contrário dos processos ordinários e sumários em que
é citado. A notificação do executado para deduzir oposição é feita depois da
penhora. Só é admissível a oposição por embargos.5758 O termo de penhora
também lhe é notificado. A falta de notificação do executado, não constitui
causa de anulação da venda- artigo 909º e 921º do C.P.C.

O direito de nomear bens a penhora, pertence exclusivamente ao exequente e


a nomeação de bens consta logo do requerimento inicial de execução.- Artigo
927º nº 2 do C.P.C.

Marcha dos embargos:

Os embargos de executado seguem os termos do processo sob a forma


sumaríssimo da acção declarativa- artigo 927º nº 4 do C.P.C, isto é os artigos
794º e 796º do C.P.C.

acção executiva determina-se pelo título executivo. Dispõe o artigo já citado que “a acção deve
ser proposta por aquele que no título figure como credor, contra aquele que no título conste
como devedor”, isto é, o princípio da legitimidade formal.
57
Exemplo de despacho: penhore e notifique o executado do auto de penhora e para em cinco
dias, querendo embargar a execução- artigo 927º nº 3 do C.P.C.
58
Atendendo ao valor da execução, não é admissível o recurso de agravo.

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ACÇÃO EXECUTIVA PARA ENTREGA DE COISA CERTA


BREVES NOTAS

GENERALIDADES:

A execução para entrega de coisa certa segue a forma do processo ordinário,


sumário ou sumaríssimo, conforme o valor da execução.

Dispõe o artigo 827º do C.C que “se a prestação consistir na entrega de coisa
determinada, o credor tem a faculdade de requerer, em execução, que a
entrega lhe seja feita judicialmente”. A execução para entrega de coisa certa,
corresponde na verdade a chamada execução específica prevista no direito
substantivo.

Finalidade

A execução para entrega de coisa certa destina-se a cumprir as obrigações de


dar, de entregar e de restituir uma determinada coisa, certa e fungível59. O
artigo 930º do C.P.C refere que a entrega da coisa pode ser material ou
jurídica.

Tramitação

A execução começa com o requerimento inicial do exequente, no qual se deve


juntar o respectivo título executivo baseado numa sentença condenatória que
ordena a entrega de determinada coisa, ou até noutros títulos elencados no
artigo 46º do C.P.C, dos quais conste a obrigação de entrega de coisa certa.

Não havendo razões para indeferir ou mandar aperfeiçoar, o requerimento


inicial, o juiz ordena a citação do executado, para que este no prazo de dez
dias faça a entrega da coisa requerida. (artigo 928º do C.P.C.)

Se o executado realizar a prestação, entregando a coisa, a execução dá-se por


extinta.

59
Chama-se obrigação fungível, aquela em que o devedor pode fazer-se substituir por outra
pessoa no respectivo cumprimento. Ex: na falta de feijão preto, pode substituir-se o feijão
manteiga. A fungibilidade também determina-se pelo seu género, quantidade e qualidade, e
que podem ser substituídas indiferentemente umas pelas outras.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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Se porém, o executado não fizer a entrega voluntariamente, o juiz ordenará a


entrega judicialmente, nos termos do artigo 930º do C.P.C.

O procedimento da entrega judicial varia, consoante se trata de bens móveis,


imóveis ou bens em regime de compropriedade, devendo o escrivão ou outro
funcionário ordenado, proceder conforme rezam os nºs 2, 3 e 4 do artigo 930º
do C.P.C.

Todavia, se por exemplo a coisa a ser entregue não for encontrada, o


exequente pode requerer que a execução seja convolada para execução para
pagamento de quantia certa do valor equivalente e do prejuízo resultante da
falta de entrega- (vide artigo 931º do C.P.C).

A conversão é feita por liquidação do valor da coisa que devia ser entregue, e
ao exequente cabe logo nomear bens a penhora, seguindo-se os termos do
processo executivo para o pagamento de quantia certa, sob a forma de
processo ordinário, sumário ou sumaríssimo, consoante o valor da coisa ou a
forma de processo fixada na acção declarativa.

Com a citação do executado para a entrega da coisa, pode este opôr-se a


execução mediante embargos, alegando os motivos previstos no artigo 813º à
815º do C.P.C, e ainda com fundamento nas benfeitorias60 realizadas,
conforme reza o artigo 929º nº 1 do C.P.C. As benfeitorias referidas aqui são as
necessárias (artigos 1256º e 216º do C.C), ou seja, aquelas que têm por fim
evitar a perda da coisa.

Como já atrás estudamos, os embargos de executado, são processos


declarativos, enxertados no processo executivo e de acordo com o fundamento
do embargo podem ou não suster a execução.

Havendo oposição com fundamento na realização de benfeitorias, e se elas


autorizarem a retenção da coisa, o recebimento dos embargos suspende a
execução até ao reembolso da importância das benfeitorias, salvo se o
exequente depositar ou caucionar a quantia pedida. Na verdade poderemos
pois estar aqui perante uma situação de pedido reconvencional.

60
Entende-se por benfeitorias as despesas feitas para a conservação ou melhoramento de
uma coisa.- Ana Prata, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5ª edição, Editora Almedina, 2006, pág. 209.

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O executado pode também opor-se por agravos. Estes em princípio sobem a


final e nos próprios autos, com efeito meramente devolutivo, excepto nos casos
a que se refere o artigo 923º nº 1, alíneas a) e b) do C.P.C.- Vide artigo 932º do
C.P.C.

Especificidades:

Na execução para entrega de coisa certa sob a forma de processo ordinário,


segue-se para além das regras específicas próprias, supletivamente as regras
do processo ordinário da execução para pagamento de quantia certa.

A execução para pagamento de quantia certa sob a forma de processo


sumário, segue supletivamente as regras daquele, excepto nos prazos e
processos de oposição que são as do sumário para pagamento de quantia
certa.

A execução para entrega de coisa certa, sob a forma de processo sumaríssimo


aplicam-se, as regas próprias deste e supletivamente quanto aos prazos e
processo de oposição as regras da execução sumaríssima para pagamento de
quantia certa.

ACÇÃO EXECUTIVA PARA PRESTAÇÃO DE FACTO

GENERALIDADES
O regime da execução para prestação de facto, vem consagrado no artigo 933º
à 943º do C.P.C. Na verdade esta execução destina-se a dar efectivação ao
disposto nos artigos 827º, 828º e 829º ambos do C.C.

A execução para prestação de facto não aplica a forma sumaríssima, ou seja,


não existe a forma sumaríssima, bastando interpretar o disposto no artigo 465º
nº 3, conjugado com 462º nº1 ambos do C.P.C, para se chegar a tal conclusão.

Segundo a classificação apresentada por EVARISTO SOLANO61, a execução


para prestação de facto comporta três modalidades a saber:

a)- Prestação de facto positivo levado acabo por outrem,

b)- Prestação de facto convertido em indemnização


61
Ob. Cit, pág. 109.

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ENSAIO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL J.SÉRGIO TATI
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c)- Prestação de facto negativo.

A prestação de facto positiva levada acabo por outrem, é também designado


como prestação de facto fungível e, consubstancia-se na faculdade do credor
da prestação requerer, em execução, que o facto seja prestado por outrem a
custa do devedor.- Vide artigo 828º do C.C.

Na prestação de facto negativo (artigo 829º do C.C.):

1- Se o devedor estiver obrigado a não praticar algum acto e vier a praticá-lo,


tem o credor o direito de exigir que a obra, se obra feita houver, seja demolida
à custa do que se obrigou a não fazer;

2- Cessa o direito conferido no úmero anterior, havendo apenas lugar a


indemnização, nos termos gerais, se o prejuízo da demolição para o devedor
for consideravelmente superior ao prejuízo sofrido pelo credor.

a)- Execução para prestação de facto positivo

Vem regulado nos artigos 933º a 940º do C.P.C, e correspondem a situação


prevista no artigo 828º do C.P.C.

A execução para prestação de facto positivo, corresponde a obrigação da


prestação de “facere” e pode ser movida nas seguintes situações:

1-Quando a obrigação tem prazo fixo e o devedor descumpriu- artigos 933º a


938º do C.P.C.

O exequente pode requerer, expirado o prazo para o cumprimento da


obrigação voluntariamente, a prestação por terceiro a custa do executado.

2-Quando a obrigação não tem prazo fixo e o devedor descumpriu-artigo 939º


e 940º do C.P.C, e ainda o artigo 777º do C.C.

Caberá ao exequente provar em tribunal o vencimento da obrigação,


considerando que a mesma não tem prazo fixo.

3- Quando a obrigação for infungível por natureza ou convenção das partes e o


devedor não cumpriu- artigo 933º nº 1 do C.P.C.

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O exequente pode apenas exigir uma indemnização pelos danos sofridos pelo
incumprimento da obrigação, porque se trata de uma prestação infungível. Ex.
Contratar um músico para uma apresentação (show).

4-Quando a obrigação for fungível e o devedor não cumpriu- artigo 828º do C.C
e artigo 933º nº 1 do C.P.C.

Nestas situações é lícito ao exequente optar entre a prestação de facto por


outrem à custa do devedor ou indemnização pelo dano sofrido com o
incumprimento da obrigação.

Tramitação

A tramitação apresentada refere-se a execução para prestação de facto


positivo fungível com prazo fixado no título em que o exequente opta pela
prestação de terceiro por incumprimento do devedor. Está tramitação é
certamente a mais solene e completa.

Existe tramitação específica nos casos em não haja prazo fixado, e ainda nas
situações em que a prestação é infungível os quais, não faremos aqui
referência.

Assim, na execução para prestação de facto positivo, sobre uma obrigação


fungível, com prazo fixado, temos a seguintes fases:

a)- Requerimento inicial

b)- Oposição à execução- artigo 812º do C.P.C.

c)- Avaliação do custo da prestação e realização da quantia apurada- artigo


935º nºs 1 e 2 do C.P.C.

d)- Realização da prestação de facto- artigo 935º nº 2 e 936º nº 1 do C.P.C.

e)- Apresentação e aprovação das contas- artigo 936º nºs 1, 2 e 1018º nº 1 do


C.P.C.

f)- Pagamento do crédito apurado a favor do exequente- artigo 937º nº 1 e 455º


do C.P.C.

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b)- Execução para prestação de facto negativo

Vem regulado nos artigos 941º e 942º do C.P.C, e correspondem a situação


prevista no artigo 829º do C.C.

Aqui o credor tem direito a exigir do devedor: demolição da obra, reposição dos
danos sofridos e indemnização.

Tramitação

A execução para prestação de facto negativo comporta as seguintes fases:

a)- Requerimento inicial;

b)- Oposição a execução;

c)- Nomeação de peritos e exames ou vistoria;

d)- Despacho sobre a violação da obrigação;

e)- Termos posteriores

A execução começa com o requerimento inicial, que entre outros factos e


elementos deve conter o seguinte: a verificação da infracção da obrigação por
meio de exame ou vistoria, a demolição da obra (quando houver de ser), a
indemnização pelo prejuízo sofrido, a fixação do dia para nomeação de peritos,
a citação do executado para em dez dias deduzir oposição.

Segue-se depois a fase de oposição, que é deduzida por agravo, e embargos


de executado, com fundamento nos artigos 813º á 815º e ainda 941º nºs 2 e 4
do C.P.C.

Depois da fase de Nomeação de peritos e exame ou vistoria

A fase de Despacho do juiz sobre a violação da obrigação- artigo 942º nº 1 do


C.P.C. Seguindo-se pois os termos posteriores. Se o juiz por meio de despacho
reconhecer que houve violação da obrigação e em consequência ordenar a
demolição da obra á custa do executado e fixar a indemnização pelos danos
sofridos ou fixar apenas os danos sofridos sem a indemnização, seguir-se-á o
disposto nos artigos 933º à 938º do C.P.C., aplicáveis por força do artigo 942º
do C.P.C

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QUESTIONÁRIO PARA EXERCITAR

1- ANTÓNIO, intenta uma acção executiva contra CABREZA, mas no título


executivo consta BRAVO, como devedor. Quid júris?

2- A, foi condenado em acção declarativa, para entrega de uma casa a B, pelo


Tribunal Provincial de Luanda. A casa situa-se em Malanje. Qual é o tribunal
competente para conhecer da acção executiva?

3-António intenta uma acção executiva para pagamento de quantia certa, de


um valor de Kz. 1.000.000,00, contra Bento, no entanto, António não anexa o
título executivo. Quid júris?

4- A, move uma acção executiva para pagamento de quantia certa contra B. No


título executivo consta o valor de Kz. 500,000,00, mas no requerimento inicial
A, pede Kz. 700.000,00. Quid júris?

5- A, move uma acção executiva em 28.01.16 contra B, que o deve Kz.


1.000.000,00, desde Janeiro de 2014, mas no título executivo a obrigação é
somente exigível a partir de 28.03.16. Quid iuris?

6- A, intenta uma acção executiva contra B, e apresenta um escrito particular


como título executivo, quando o formalismo legal exigido para aquele negócio é
uma escritura Pública. Quid júris?

7- A, tendo um título executivo extrajudicial e outro judicial contra o mesmo


devedor, e o mesmo objecto, intenta duas acções executivas. Quid júris?

8- A e B, celebraram um contrato de compra e venda de uma casa, mediante o


valor de Kz. 2.000.000,00. A, entregou de imediato a casa a B, e este ultimo
ficou de pagar a casa em duas prestações, sendo a última a ser pago até 30 de
Março de 2016. B assinou uma declaração de dívida, tendo sido a assinatura
reconhecida presencialmente pelo notário. Passados três meses, B não pagou
se quer ainda a primeira prestação. Quid júris?

9- A move uma acção executiva contra C e D.Nessa acção penhora-se um bem


imóvel que pertence aos dois executados.

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a)- Imagine que um dos executados vem, entretanto, indicar uma conta
bancária domiciliado no Banco Independente, SA, também pertencente aos
dois executados, cujo saldo é susceptível para garantir a quantia exequenda. A
tem receio de aceitar o pedido do executado e de posteriormente constatar que
a conta foi movimentada e que já não tem saldo. O receio de A justifica-se?
b)- Imagine que E vem embargar a penhora de A e que os embargos são
recebidos. Poderá A indicar a penhora outro bem?

10- André vendeu a Berta em Junho de 2016, uma aparelhagem de alta-


fidelidade, por 320 mil kzs. O pagamento deveria ocorrer em Setembro de
2016. Berta assinou uma declaração de dívida, tendo sido a assinatura
reconhecida presencialmente pelo notário. Até a presente data, Berta não
pagou.
a)- Terá André de intentar uma acção declarativa de condenação ou poderá
executar imediatamente Berta?
b)- Supondo ser possível instaurar a acção executiva, qual seria a forma de
processo?
c)- Que requisitos devem constar no requerimento? Poderá André dispensar os
serviços de um profissional do foro?

11- João e Berta residentes no Cuanza Sulpropuseram uma acção declarativa,


que correu termos no Tribunal da Comarca de Luanda, onde pediram que
Castro, agora residente na província do Bengo, fosse condenado a pagar a
quantia de Kz. 1.500.000,00, relativos a 11 meses de rendas do prédio urbano
sito na Vila dos Bonitos-Travessa F (Luanda). A acção foi julgada procedente e
Castro foi condenado a pagar a quantia pedida. Todavia, perante a resistência
de Castro em pagar voluntariamente a quantia, João instaurou a acção de
execução, mas não juntou o título, nem procuração forense e assinou o
requerimento pelo seu próprio punho.
a)- Qual a forma do processo a observar na presente execução?
b)- Qual é o tribunal competente para a execução?
c)- Haverá ilegitimidade de João, por intentar a acção desacompanhado de
Berta? Em caso afirmativo, de que modo deve promover-se a regularização da
instância?
d)- Perante a falta de junção do título, que atitude deve o juiz tomar?
e)- Poderá a execução prosseguir estando o requerimento assinado por João e
com ausência de procuração forense?
f)- Que atitudes poderá Castro tomar, para se defender, face a execução que
lhe movida?

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g)- Imagine que o exequente chamado a nomear bens a penhora, não o faz,
passados nove meses?

12- Em Abril de 2011, A e B, casados em regime de comunhão de adquiridos,


pediram emprestado à J e M, o valor de Kz. 2.000.000,00. O empréstimo foi
formalizado através de um depósito bancário efectuado por J directamente na
conta bancária titulada por B, no banco XXL. Ficou estabelecido que A e B,
restituíam a quantia mutuada acrescida de juros legais no prazo de 2 anos.
Em Abril de 2013, sem que qualquer valor fosse restituído J e M, exigiram que
A e B assinassem uma declaração de divida e assim foi feito. Em Maio de
2015, A entregou um cheque no valor de Kz. 300.000,00, como parte para
amortização do referido mútuo.
Como nenhum outro valor foi pago, até Abril de 2017 J e M, querem saber o
seguinte:
a)- Se podem instaurar uma acção executiva? Em caso afirmativo, qual o tipo
de execução e com base em que titulo?
b)- Admitindo que A e B, se divorciaram por mútuo acordo em Maio de 2016,
contra quem deverá ser instaurada a execução?
c)- Admitindo que por força do divórcio, B ficou numa situação económica muito
débil e desempregada. J e M, entenderam perdoar-lhe a sua quantia da divida.
Nesse pressuposto, mantém-se a resposta dada na alínea anterior? Por quê?
d)- Considerando que foi efectivamente instaurada uma execução apenas
contra A, na qual é tão-somente peticionado o pagamento de metade da divida,
poderão ser penhorados bens de titularidade exclusiva de A?

13- A intentou conta B, uma execução para pagamento de quantia certa em 15


de Março de 2016. Após várias diligências não foram encontrados bens
penhoráveis. Em 15 de Abril de 2017, o executado foi citado para pagar ou
nomear bens a penhora, não o tendo feito. Quid júris?

14- Numaacção executiva proposta em Abril de 2017, suponha que no


momento da venda executiva, o próprio exequente adquiriu o bem penhorado.
A quantia exequenda é de Kz. 1.000.000,00, o exequente adquiriu o bem por
Kz. 1.700.000,00 e as custas prováveis de execução são de Kz. 1.500.000.
Não havendo créditos reclamados, qual é o valor que o exequente deve
depositar?

15- Em 20 de Abril de 2015, A foi citado pelo tribunal de XXL, para responder a
uma execução que lhe movia B, seu compadre e conhecido no bairro como

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“Man Confusas”, em que este pretendia que A, lhe entregasse um terreno sito
no bairro paraíso, resultado de um acordo firmado por ambos em que A
incumpria.
Surpreso com a situação, A procura-o e pretende saber o seguinte:
a)- Por quê motivo resolveu o Tribunal cita-lo, logo ele que nunca fez mal a
uma mosca se quer?
b)- Diante da situação e porque nunca foi a um tribunal, A receia o risco de ser
preso.
c)- Admita que A, opôs-se a acção, alegando que o acordo firmado com B, era
verbal e consistia em ajuda-lo a localizar um terreno para compra nas
imediações do bairro paraíso, porquanto, queria que seu compadre
continuasse seu vizinho. Poderá o tribunal executar A?
d)- Considera que passado um ano, desde a propositura da acção B, não
impulsionou o andamento do processo e também, veio a saber-se que
efectivamente B, tentou ludibriar o tribunal. Quid juris (que atitudes pode o
executado e o tribunal tomar)?
OBS: cingindo-se aos princípios norteadores do processo civil estudados,
responda as preocupações colocadas por A.

16- ARNALDO, solteiro, natural de Malanje, residente em Luanda, bancário de


profissão, celebra um contrato de mútuo por escritura pública com FELICIA,
residente também em Luanda e casada em regime de comunhão de adquiridos
com BENTO. O contrato foi celebrado em Benguela onde ambos encontravam-
se em formação temporária. Como garantia da obrigação, FELÍCIA hipotecou a
sua casa. Neste respectivo contrato, foi convencionado que a quantia mutuada
é de Kz. 3.000.000,00, acrescida de 22% de juros de mora e 10% de juros
legais. No entanto, passado o tempo do cumprimento da obrigação ARNALDO,
quer saber o seguinte:
a)- Se pode intentar uma acção no tribunal, por incumprimento da obrigação?
Qual seria acção e a forma de processo em causa? Qual seria o tribunal
competente?
b)- Quais os requisitos necessários para propor a acção em causa?
c)- Considerando o valor da quantia mutuada, os juros de mora e os juros
legais, qual seria então a quantia liquida?
d)- A quem compete fixar o valor liquidado da obrigação exequenda?
e)- Suponha agora que FELÍCIA contesta o valor liquidado?

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BIBLIOGRAFIA

- AMARAL, Jorge Augusto Pais de- Direito Processual Civil, 12ª edição, Editora
Almedina, 2015
- BAPTISTA, José João - A Acção Executiva, Lisboa, 1993
- COSTA, Mário Júlio de Almeida- Direito das Obrigações, 11ª edição revista e
actualizada, Almedina 2008
- FREITAS, José Lebre - Acção Executiva, 6ª edição, Coimbra Editora, 2014.
-MARQUES, J.P. Remédio-Curso de processo executivo comum, à face do
Código revisto, Coimbra, Almedina, 2000.
- PRATA, Ana- Dicionário Jurídico, Vol. I (Direito civil, direito processual civil e
organização judiciária), 5ª edição, Editora Almedina, 2006.
- REIS, Alberto dos- Código de Processo Civil Anotado, Vol. I (Clássicos
Jurídicos), 2004.
- SANTOS, Jorge - Lições policopiadas de Acção executiva, Instituto Nacional
de Estudos Judiciários (INEJ), 2011.
- SANTOS, José Luís – Noções Fundamentais de Direito Processual Civil
Declarativo, 2ª Edição, Coimbra Editora, 1982.
- SOLANO, Evaristo - Processo Executivo Angolano (Noções fundamentais),
edição do autor, 2011.

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