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Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque
18 de Março de 2021
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 13
Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4
1097228
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 13
1.7.1 - Considerações acerca dos crimes previstos nos artigos 33 e 34, da Lei n.º 11.343/2006 .................................. 53
1.7.2 - Breves comentários sobre os crimes contra a ordem tributária praticados por particulares, com base na Lei n.º
8.137/1990 ..................................................................................................................................................................... 55
1.11.2 - A importância dos princípios universais do processo no âmbito do processo coletivo .................................... 69
49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e
15 questões discursivas.
Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
ecj@estrategiaconcursos.com.br
Boa leitura!
Os direitos fundamentais são conceituados como direitos subjetivos, assentes no direito objetivo,
positivados no texto constitucional, ou não, com aplicação nas relações das pessoas com o Estado ou na
sociedade.
A inalienabilidade informa que os direitos fundamentais não são subordinados à disposição jurídica, pelos
institutos da alienação e renúncia, ou disposição material, pelos instrumentos do abandono e destruição da
coisa, de maneira que são nulos, por ilicitude do objeto, os negócios jurídicos que importem transmissão, a
qualquer título, dos direitos que visem resguardar a vida biológica, assim como a integridade moral e física.
A tipologia dos direitos fundamentais gira em torno dos critérios formal e material, à luz da sistemática do
Título II da Constituição da República.
O critério formal é adstrito à origem da qual promana os direitos fundamentais, decompostos em direitos
fundamentais enumerados na Constituição da República, direitos fundamentais decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados e direitos fundamentais derivados dos acordos, tratados e convenções
internacionais dos quais o Brasil seja parte, a teor do art. 5º, §§ 2º e 3º.
O critério material é atrelado ao objeto de tutela dos direitos fundamentais, desmembrados em direitos
individuais, coletivos, sociais, políticos e à nacionalidade, à vista dos arts. 5º a 14, todos da Constituição
Federal.
Também vamos passar em diversas jurisprudências do STF e do STJ acerca da temática Agentes Públicos e
Concurso Público.
Por fim, estudaremos os Direitos trabalhistas extensíveis aos servidores públicos, conforme dispõe a
Constituição da República.
Vamos lá?
Os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente
a exigir.
Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua realização
e a assinatura da autoridade responsável.
Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente será exigido quando houver dúvida de
autenticidade.
Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, no horário normal de funcionamento da repartição na
qual tramitar o processo.
Serão concluídos depois do horário normal os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular
do procedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração.
Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou autoridade responsável pelo processo e dos administrados
que dele participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força maior. Este prazo pode
ser dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação.
A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto à data de comparecimento.
No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser
efetuada por meio de publicação oficial.
As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais, mas o comparecimento
do administrado supre sua falta ou irregularidade.
O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a
direito pelo administrado. Observe, portanto, que não há a produção dos efeitos da revelia no processo
administrativo.
3. Do Dever de Decidir
A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos administrativos e sobre
solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.
Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir,
salvo prorrogação por igual período expressamente motivada.
4. Da Motivação
Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
quando:
A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte
integrante do ato.
Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os
fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.
O interessado poderá, mediante manifestação escrita, desistir total ou parcialmente do pedido formulado
ou, ainda, renunciar a direitos DISPONÍVEIS..
Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia atinge somente quem a tenha formulado.
O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto da
decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco
dias, o encaminhará à autoridade superior.
Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria enunciado da súmula vinculante, caberá à
autoridade prolatora da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso
à autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.
O recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias administrativas, salvo disposição legal
diversa.
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela decisão recorrida;
Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo para interposição de recurso administrativo, contado
a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida.
Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de
trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo órgão competente.
O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser prorrogado por igual período, ante justificativa
explícita.
O recurso interpõe-se por meio de requerimento no qual o recorrente deverá expor os fundamentos do
pedido de reexame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade
recorrida ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.
Interposto o recurso, o órgão competente para dele conhecer deverá intimar os demais interessados para
que, no prazo de cinco dias úteis, apresentem alegações.
I - fora do prazo;
Neste caso, será indicada ao recorrente a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.
O não conhecimento do recurso não impede a Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde que não
ocorrida preclusão administrativa.
O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou
parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua competência.
Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser
cientificado para que formule suas alegações antes da decisão.
Se o recorrente alegar violação de enunciado da súmula vinculante, o órgão competente para decidir o
recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.
Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fundada em violação de enunciado da súmula
vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o julgamento do recurso,
que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos semelhantes, sob pena de
responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e penal
Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de
ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da
sanção aplicada.
7. Dos Prazos
Os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do
começo e incluindo-se o do vencimento.
Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não
houver expediente ou este for encerrado antes da hora normal.
Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a data. Se no mês do vencimento não houver o dia
equivalente àquele do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.
Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, os prazos processuais não se suspendem.
8. Comentários Finais
Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas
subsidiariamente os preceitos desta Lei.
III - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia maligna, hanseníase,
paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget
(osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de imunodeficiência adquirida, ou
outra doença grave, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença
tenha sido contraída após o início do processo
A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à
autoridade administrativa competente, que determinará as providências a serem cumpridas
Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de tramitação
prioritária.
STF reafirma sua jurisprudência de que não cabe controle judicial referente à correção das
questões em concurso público, uma vez que isso seria controle de mérito, que não pode ser feito
pelo Poder Judiciário.
Cabe apenas controle para se verificar se a matéria cobrada na questão está ou não no programa
do edital do concurso, por se tratar, aqui, de controle de legalidade
No entanto, o STF entendeu que devem ser levadas em conta "situações excepcionalíssimas" que
justifiquem soluções diferenciadas devidamente motivadas de acordo com o interesse público.
Segundo ele, tais situações devem apresentar as seguintes características: Superveniência -
eventuais fatos ensejadores de uma situação excepcional devem ser necessariamente
posteriores à publicação de edital do certame público; Imprevisibilidade - a situação deve ser
determinada por circunstâncias extraordinárias à época da publicação do edital; Gravidade – os
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis devem ser extremamente graves, implicando
onerosidade excessiva, dificuldade ou mesmo impossibilidade de cumprimento efetivo das
regras do edital; Crises econômicas de grandes proporções; Guerras; Fenômenos naturais que
causem calamidade pública ou comoção interna; Necessidade – a administração somente pode
adotar tal medida quando não existirem outros meios menos gravosos para lidar com a situação
excepcional e imprevisível.
Sobre esse tema, a jurisprudência dos tribunais superiores está longe um posicionamento pacífico. Veja
abaixo os diversos julgados e contradições dos tribunais.
Em suma, se seria verdade que a nomeação dos candidatos aprovados em concurso público, além
do número de vagas do edital, estaria sujeita à discricionariedade da Administração Pública, não
menos verdadeiro seria que essa discricionariedade deveria ser exercida legitimamente. Desse
modo, nenhum candidato, estivesse ele dentro ou fora do número de vagas do edital, poderia
ficar refém de condutas que, deliberadamente, deixassem escoar, desnecessariamente e, por
vezes, de modo reprovável, o prazo de validade do concurso para que fossem nomeados, apenas,
os aprovados em novo concurso. Se a Administração decidisse preencher imediatamente
determinadas vagas por meio do necessário concurso, e existissem candidatos aprovados em
cadastro de reserva de concurso válido, o princípio da boa-fé vincularia a discricionariedade da
Administração e lhe imporia o necessário preenchimento das vagas pelos aprovados no certame
ainda em validade. Desse modo, quem fosse aprovado em concurso além das vagas previstas no
edital não ostentaria um direito subjetivo de ser nomeado, mesmo que aberto novo edital
durante a validade do certame (CF, art. 37, IV). Possuiria, ao revés, mera expectativa de direito
que seria convolada em direito adquirido à nomeação, apenas, na excepcional circunstância de
ficar demonstrado, de forma inequívoca, a necessidade de novas nomeações durante a validade
do concurso. Uma coisa seria a vacância do cargo, outra a vacância acompanhada do manifesto
comportamento da Administração destinado a prover os cargos durante a validade do concurso,
e isso, contudo, não ficaria caracterizado pela mera publicação de novo edital de concurso.
OBS: No julgamento da ARE 774137, declarou o STF que: “A jurisprudência do STF seria pacífica
no sentido de que a ocupação precária por terceirização para desempenho de atribuições
idênticas às de cargo efetivo vago, para o qual houvesse candidatos aprovados em concurso
público vigente, configuraria ato equivalente à preterição da ordem de classificação no
certame, a ensejar o direito à nomeação”
3.2. Direito Administrativo. Desistência de candidato aprovado em concurso público dentro do número de
vagas
O candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem
direito subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de
classificação, aprovado dentro do número de vagas, for convocado e manifestar desistência. O
posicionamento do STJ (RMS 33.875-MT, Primeira Turma, DJe 22/6/2015; e AgRg nos EDcl nos
EDcl no Ag 1.398.319-ES, Segunda Turma, DJe 9/3/2012) induz à conclusão de que o candidato
constante de cadastro de reserva, ou, naqueles concursos em que não se utiliza essa expressão,
aprovado fora do número de vagas previsto no edital, só terá direito à nomeação nos casos de
comprovada preterição, seja pela inobservância da ordem de classificação, seja por contratações
irregulares. Contudo, deve-se acrescentar e destacar que a desistência de candidatos aprovados
dentro do número de vagas previsto no edital do certame é hipótese diversa e resulta em direito
do próximo classificado à convocação para a posse ou para a próxima fase do concurso, conforme
o caso. É que, nessa hipótese, a necessidade e o interesse da Administração no preenchimento
dos cargos ofertados estão estabelecidos no edital de abertura do concurso, e a convocação do
candidato que, logo após, desiste, comprova a necessidade de convocação do próximo candidato
na ordem de classificação. Precedentes do STF citados: ARE 866.016 AgR, Primeira Turma, DJe
29/10/2013; ARE 661.760 AgR, Primeira Turma, DJe 29/10/2013; RE 643.674 AgR, Segunda
Turma, DJe 28/8/2013; ARE 675.202 AgR, Segunda Turma, DJe 22/8/2013. AgRg no ROMS
48.266-TO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/8/2015, DJe 27/8/2015.
3.3. Direito Administrativo. Desistência de candidato aprovado em concurso público fora do número de
vagas
O candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem direito
subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação,
embora aprovado fora do número de vagas, for convocado para vaga surgida posteriormente e
manifestar desistência. O posicionamento do STJ (RMS 33.875-MT, Primeira Turma, DJe
22/6/2015; e AgRg nos EDcl nos EDcl no Ag 1.398.319-ES, Segunda Turma, DJe 9/3/2012) induz à
conclusão de que o candidato constante de cadastro de reserva, ou, naqueles concursos em que
não se utiliza essa expressão, aprovado fora do número de vagas previsto no edital, só terá direito
à nomeação nos casos de comprovada preterição, seja pela inobservância da ordem de
classificação, seja por contratações irregulares. Contudo, deve-se acrescentar e destacar que a
desistência de candidatos aprovados dentro do número de vagas previsto no edital do certame
é hipótese diversa e resulta em direito do próximo classificado à convocação para a posse ou
para a próxima fase do concurso, conforme o caso. É que, nessa hipótese, a necessidade e o
interesse da Administração no preenchimento dos cargos ofertados estão estabelecidos no edital
de abertura do concurso, e a convocação do candidato que, logo após, desiste, comprova a
necessidade de convocação do próximo candidato na ordem de classificação. Embora exista
diferença entre as situações fático-jurídicas daqueles que se encontram classificados
imediatamente após o candidato desistente de vaga disponibilizada no edital do concurso e
daqueles classificados imediatamente após o candidato desistente classificado fora das vagas
ofertadas, deve-se reconhecer que o ato administrativo que convoca candidato para preencher
outras vagas, oferecidas após o preenchimento daquelas previstas pelo edital, gera o mesmo
efeito do ato de convocação dos candidatos aprovados dentro de número de vagas quando há
desistência. É que, também nessa hipótese, a Administração, por meio de ato formal, manifesta
necessidade e interesse no preenchimento da vaga. O ato administrativo que prevê novas vagas
para o certame adita o edital inaugural, necessitando preencher os mesmos requisitos de
validade e produzindo os mesmos efeitos jurídicos com relação aos candidatos. Assim, se o ato
de convocação, perfeito, válido e eficaz, encontra motivação nas novas vagas ofertadas, não há
fundamentopara se diferenciar o entendimento aplicável às mencionadas categorias de
candidatos, à luz dos princípios constitucionais da isonomia, da moralidade e da legalidade. AgRg
noRMS 41.031-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/8/2015, DJe 27/8/2015.
3.4. Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo
prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.
A controvérsia cinge-se a definir acerca do prazo prescricional aplicável, e seu termo a quo, nos
casos de preterição de nomeação de candidato aprovado em concurso público.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (CF, art. 37, II), valor constitucional que prepondera sobre o
interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da
confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial. Com base nessa orientação,
o Plenário, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário para reformar acordão que,
com base na “teoria do fato consumado”, concluíra pela permanência da recorrida no cargo
público por ela ocupado desde 2002. Discutia-se a possibilidade de manutenção de candidato
investido em cargo público em decorrência de decisão judicial de natureza provisória. Na espécie,
a recorrida tomara posse no cargo de agente da polícia civil em virtude de medida liminar
deferida em ação cautelar, embora ela tivesse sido reprovada na segunda etapa do certame
(teste físico) e não tivesse se submetido à terceira fase (exame psicotécnico).
O Tribunal destacou, de início, a existência de conflito entre duas ordens de valores que, ante a
incompatibilidade, deveriam ser sopesadas. De um lado, o interesse individual da candidata em
permanecer no cargo público que, por força de liminar, exerceria há mais de 12 anos. De outro
lado, o interesse público no cumprimento do art. 37, II, da CF e de seus consectários. Em seguida,
mencionou que a jurisprudência predominante da Corte seria no sentido da prevalência à estrita
observância das normas constitucionais. Asseverou que, na questão em debate, não seria cabível
o argumento da boa-fé ou do princípio, a ela associado, da proteção da confiança legítima do
administrado. No ponto, aduziu que essa alegação seria viável quando, por ato de iniciativa da
própria Administração, decorrente de equivocada interpretação da lei ou dos fatos, o servidor
seria alçado a determinada condição jurídica ou seria incorporada determinada vantagem ao seu
patrimônio funcional, de modo que essas peculiares circunstâncias provocassem em seu íntimo
justificável convicção de que se trataria de um “status” ou de uma vantagem legítima. Assim,
superveniente constatação da ilegitimidade desses proveitos configuraria comprometimento da
boa-fé ou da confiança legítima provocada pelo primitivo ato da Administração, o que poderia
autorizar, ainda que em nome do “fato consumado”, a manutenção do “status quo”, ou, pelo
menos, a dispensa de restituição de valores. O Colegiado frisou, no entanto, a excepcionalidade
dessa hipótese.
A Corte salientou, ainda, que a situação dos autos seria distinta, porquanto a nomeação e posse
no cargo teriam ocorrido por provocação da recorrida e contra a vontade da Administração, a
qual apresentara resistência no plano processual. Explicitou, também, que o acórdão recorrido
não afirmara a plausibilidade do direito de a recorrida permanecer no cargo, mas somente se
limitara a aplicar a “teoria do fato consumado”, tendo em conta que a liminar vigoraria, à época,
há mais de sete anos. O Colegiado observou que, na espécie, não faria sentido invocar-se o
princípio da proteção da confiança legítima nos atos administrativos, haja vista que a beneficiária
não desconheceria, porque decorrente de lei expressa, a natureza provisória do provimento, cuja
revogação poderia se dar a qualquer momento e acarretar automático efeito retroativo.
Acrescentou que a concessão das medidas antecipatórias correria por conta e responsabilidade
do requerente. Assim, afastado o princípio da proteção da confiança legítima, o Plenário
registrou que apenas o interesse individual na manutenção do cargo sobejaria como fundamento
para sustentar a conclusão do acórdão impugnado. Considerou, todavia, que a pretensão da
recorrida não poderia justificar o desatendimento do superior interesse público no cumprimento
das normas constitucionais. Frisou, ademais, que esse interesse individual se oporia, inclusive,
ao interesse de mesma natureza de candidato que, aprovado no concurso, fora alijado do cargo,
ocupado sem observância das regras constitucionais. Por fim, o Tribunal assegurou à recorrida
os vencimentos e as vantagens percebidos até a data do julgamento.
Os candidatos em concurso público não têm direito à prova de segunda chamada nos testes de
aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força
maior, salvo contrária disposição editalícia.
É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época
de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. (...)
A Corte entendeu que o interesse de que a grávida leve a gestação a termo com êxito exorbita
os limites individuais da genitora, a alcançar outros indivíduos e a própria coletividade. Enquanto
a saúde pessoal do candidato em concurso público configura motivo exclusivamente individual e
[RE 1.058.333, rel. min. Luiz Fux, j. 23-11-2018, P, Informativo 924, Tema 973.]
RE 528684/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.9.2013. (RE-528684) (Informativo 718, 2ª Turma)
O Supremo observou que a fixação de cláusula não implica quebra do princípio da isonomia. O
relator do recurso, ministro Gilmar Mendes, apontou que, com o crescente número de pessoas
que buscam ingressar nas carreiras públicas, é cada vez mais usual que os editais estipulem
critérios para restringir a convocação de candidatos de uma fase para outra. Ele destacou, ainda,
que as regras restritivas em editais, sejam elas eliminatórias ou de barreira, desde que fundadas
em critérios objetivos relacionados ao desempenho dos candidatos, concretizam o princípio da
igualdade e da impessoalidade no âmbito dos concursos públicos.
A norma é razoável e necessária em razão das dificuldades que a administração pública encontra
para selecionar os melhores candidatos entre um grande número de pessoas que buscam ocupar
cargos públicos.
Ainda que o requisito da idade mínima de 18 anos conste em lei e no edital de concurso público,
é possível que o candidato menor de idade aprovado no concurso tome posse no cargo de
auxiliar de biblioteca no caso em que ele, possuindo 17 anos e 10 meses na data da sua posse,
já havia sido emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses. De fato, o STF consolidou
sua jurisprudência quanto à constitucionalidade de limites etários na Súmula n. 683, segundo a
qual "O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º,
XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser
preenchido". No caso em análise, o requisito da idade mínima de 18 anos deve ser flexibilizado
pela natureza das atribuições do cargo de auxiliar de biblioteca, tendo em vista que a atividade
desse cargo é plenamente compatível com a idade de 17 anos e 10 meses do candidato que já
havia sido emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses. Além disso, o art. 5º, parágrafo
único, do CC, ao dispor sobre as hipóteses de cessação da incapacidade para os menores de 18
anos - entre elas, a emancipação voluntária concedida pelos pais (caso em análise) e o exercício
de emprego público efetivo -, permite o acesso do menor de 18 anos ao emprego público
efetivo. REsp 1.462.659-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1º/12/2015, DJe 4/2/2016.
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de
edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de
responder a inquérito ou a ação penal.
Na espécie, foi inadmitida a participação de soldado da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)
— acusado pela suposta prática do delito de falso testemunho — em seleção para o Curso de
Formação de Cabos no Quadro de Praças Policiais e Militares Combatentes (QPPMC). O ato de
exclusão do candidato foi fundamentado no edital de convocação do referido processo seletivo,
que vedaria a participação de concorrente “denunciado por crime de natureza dolosa”. Em sede
de mandado de segurança, o magistrado de piso assegurou a matrícula e a frequência do soldado
no Curso de Formação. Posteriormente, a decisão foi mantida pelo tribunal a quo no acórdão ora
recorrido.
Assim, a questão não poderia ser solucionada a partir de um tradicional raciocínio silogístico, ou
dos critérios usuais para resolução de antinomias — hierárquico, de especialidade e cronológico
—, haja vista a existência de normas de mesma hierarquia indicando soluções diferentes.
Nessas situações, o raciocínio deve percorrer três etapas: a) identificar as normas que postulam
incidência na hipótese; b) identificar os fatos relevantes ou os contornos fáticos gerais do
problema; e c) harmonizar as normas contrapostas, calibrando o peso de cada qual e
restringindo-as no grau mínimo indispensável, de modo a fazer prevalecer a solução mais
adequada à luz de todo o sistema jurídico.
O ministro Roberto Barroso apresentou duas regras para a ponderação dos valores em jogo e a
determinação objetiva de idoneidade moral, quando aplicável ao ingresso no serviço público
mediante concurso. A primeira, apta a estabelecer parâmetro pelo qual se pode recusar a alguém
a inscrição em concurso público, é a necessidade de condenação por órgão colegiado ou de
condenação definitiva. Há analogia com a Lei da “Ficha Limpa” (LC 135/2010), critério que já foi
aplicado mesmo fora da seara penal.
Entretanto, para concorrer a determinados cargos públicos, pela natureza deles, é possível, por
meio de lei, a exigência de qualificações mais restritas e rígidas ao candidato. Por exemplo, as
carreiras da magistratura, das funções essenciais à justiça — Ministério Público, Advocacia
Pública e Defensoria Pública — e da segurança pública.
O relator concluiu que a solução mediante o emprego dessas regras satisfaz o princípio da
razoabilidade ou proporcionalidade, visto que é: a) adequada, pois a restrição imposta se mostra
idônea para proteger a moralidade administrativa; b) não excessiva, uma vez que, após a
condenação em segundo grau, a probabilidade de manutenção da condenação é muito grande e
a exigência de relação entre a infração e as atribuições do cargo mitiga a restrição; e c)
proporcional em sentido estrito, na medida em que a atenuação do princípio da presunção de
inocência é compensada pela contrapartida em boa administração e idoneidade dos servidores
públicos.
Para ele, a negativa de provimento ao recurso é reforçada pelo fato de ter havido a suspensão
condicional do processo. Não fosse o longo período entre o oferecimento da denúncia e a
audiência de suspensão condicional, provavelmente o processo criminal não estaria em curso no
momento em que o recorrido foi excluído do aludido curso.
Por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional a proibição de
tatuagens a candidatos a cargo público estabelecida em leis e editais de concurso público. Foi
dado provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 898450, com repercussão geral reconhecida,
em que um candidato a soldado da Polícia Militar de São Paulo foi eliminado por ter tatuagem
na perna. “Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem,
salvo situações excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais”, foi a tese
de repercussão geral fixada.
O relator do RE, ministro Luiz Fux, observou que a criação de barreiras arbitrárias para impedir o
acesso de candidatos a cargos públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e da
razoabilidade. Em seu entendimento, qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar
relacionado unicamente ao exercício das funções como, por exemplo, idade ou altura que
impossibilitem o exercício de funções específicas. Salientou que a jurisprudência do STF
prevê que o limite de idade previsto em lei é constitucional, desde que justificável em relação à
natureza das atribuições do cargo a ser exercido.
O ministro destacou que a tatuagem, por si só, não pode ser confundida como uma transgressão
ou conduta atentatória aos bons costumes. Segundo ele, a tatuagem passou a representar uma
autêntica forma de liberdade de manifestação do indivíduo, pela qual não pode ser punido, sob
pena de flagrante violação dos princípios constitucionais. Para o ministro Fux, o respeito à
democracia não se dá apenas na realização de eleições livres, mas também quando se permite
aos cidadãos se manifestarem da forma que quiserem, desde que isso não represente ofensa
direta a grupos ou princípios e valores éticos.
Em seu entendimento, o desejo de se expressar por meio de pigmentação definitiva não pode
ser obstáculo a que um cidadão exerça cargo público. “Um policial não se torna melhor ou pior
em suas funções apenas por ter tatuagem”, afirmou.
O relator destacou que o Estado não pode querer representar o papel de adversário da liberdade
de expressão, impedindo que candidatos em concurso ostentem tatuagens ou marcas corporais
que demonstrem simpatia por ideais que não sejam ofensivos aos preceitos e valores protegidos
pela Constituição Federal. “A máxima de que cada um é feliz à sua maneira deve ser preservada
pelo Estado”, ressaltou o ministro.
Em seu voto, o ministro Fux assinalou que tatuagens que prejudiquem a disciplina e a boa ordem,
sejam extremistas, racistas, preconceituosas ou que atentem contra a instituição devem ser
coibidas. Observou, por exemplo, que um policial não pode ostentar sinais corporais que
signifiquem apologias ao crime ou exaltem organizações criminosas. Entretanto, não pode ter
seu ingresso na corporação impedido apenas porque optou por manifestar-se por meio de
pigmentação definitiva no corpo.
O relator explicou que as Forças Armadas vedam o ingresso de pessoas com tatuagens que
transmitam mensagens relacionadas à violação da lei e da ordem, tais como as que discriminem
grupos por sua cor, origem, credo, sexo, orientação sexual ou que incitem o consumo de drogas
ou a prática de crimes, por entender que são incompatíveis com a função militar.
2. A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois
inexiste tal requisito na Constituição Federal.1
3. Da Indenização por danos materiais em decorrência de nomeação tardia para cargo púlico em razão de
decisão judicial
É indevida a indenização por danos materiais a candidato aprovado em concurso público cuja
nomeação tardia decorreu de decisão judicial. O STJ mudou o entendimento sobre a matéria e
passou a adotar a orientação do STF no sentido de que não é devida indenização pelo tempo em
que se aguardou solução judicial definitiva para que se procedesse à nomeação de candidato
para cargo público. Assim, não assiste ao concursado o direito de receber o valor dos
vencimentos que poderia ter auferido até o advento da nomeação determinada judicialmente,
pois essa situação levaria a seu enriquecimento ilícito em face da inexistência da prestação de
serviços à Administração Pública. Precedentes citados: EREsp 1.117.974-RS, DJe 19/12/2011, e
AgRg no AgRg no RMS 34.792-SP, DJe 23/11/2011. AgRg nos EDcl nos EDcl no RMS 30.054-SP,
Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/2/2013 (Informativo nº 0515).
1
STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937)
Configura ato ilícito o saque de dinheiro disponibilizado, a título de remuneração para servidora
falecida, por seus herdeiros. Como essa remuneração não tem razão de ser, o pagamento é
indevido, gera o enriquecimento de quem não era titular da quantia e o dever de restituição.
Pessoas naturais possuem personalidade jurídica entre seu nascimento com vida e o momento
de sua morte. Com efeito, o ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o
ente federativo depositou a quantia ora pleiteada.
Assim, para que se possa ser titular de direitos e obrigações (deveres), necessita-se de
personalidade jurídica. Se o de cujus não tinha mais personalidade, não poderia se tornar titular
de deveres. Ademais, o falecimento é causa de vacância do cargo público, de modo a não existir
mais vínculo jurídico-administrativo entre a Administração Pública e o servidor, após o
falecimento deste.
Nesse contexto, o espólio responde pelas dívidas do falecido e, por isso, não deve responder pelo
enriquecimento sem causa dos herdeiros que não é atribuível ao falecido.
Logo, se o espólio não pode ser vinculado, nem mesmo abstratamente, ao dever de restituir,
também não pode ser considerado parte legítima na ação nos termos do art. 17 do CPC/2015.
(REsp 1.805.473-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade,
julgado em 03/03/2020, DJe 09/03/2020)
Muito cuidado, pois o STJ, no REsp 1.769.306/AL, fixou o seguinte entendimento: Os pagamentos
indevidos aos servidores públicos decorrentes de erro administrativo (operacional ou de
cálculo), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração,
estão sujeitos à devolução, ressalvadas as hipóteses em que o servidor, diante do caso concreto,
comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com demonstração de que não lhe era possível
constatar o pagamento indevido.
C) É devida a restituição ao erário dos valores de natureza alimentar pagos pela Administração
Pública a servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária posteriormente
revogada. Não é possível, em tais casos, aplicar o entendimento de que a restituição não seria
devida, sob o argumento de que o servidor encontrava-se de boa fé, porquanto sabedor da
fragilidade e provisoriedade da tutela concedida. Precedente citado: EREsp 1.335.962-RS,
Primeira Seção, DJe 2/8/2013. EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
8/10/2014
As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não configuram prova
ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da Administração Pública e da
própria coletividade, especialmente quando exista, nas disposições normativas acerca do seu uso, expressa
menção da sua destinação somente para assuntos e matérias afetas ao serviço, bem como advertência sobre
monitoramento e acesso ao conteúdo das comunicações dos usuários para cumprir disposições legais ou
instruir procedimento administrativo (STJ. 2ª Turma. RMS 48.665-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
15/9/2015 (Info 576).
A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor público
destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita,
ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não
confirmada por ocasião do julgamento de mérito
2
STF. (MS 32185 ED, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado
em 24/10/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-169 DIVULG 02-08-2019 PUBLIC 05-08-2019).
aplicável a teoria do fato consumado, distinguir duas situações que podem ocorrer quando se
pratica um ato equivocado. A primeira situação corresponde à hipótese em que um ato contrário
à lei é praticado sem dolo e sem contestação, tendo vigência por anos a fio, e assim atribuindo à
situação fática ares de legalidade, atraindo para si o valor da segurança jurídica. Há, nesses casos,
de ser preservada a estabilidade das relações geradas pelo ato inválido, cuja regularidade
manteve-se inconteste por anos, fazendo convalescer o vício que originalmente inquinava sua
validade. Protege-se, com isso, a boa-fé e o princípio da confiança legítima do administrado, a
ela associado. Situação diversa é aquela em que determinado ato é praticado sob contestação
das pessoas envolvidas, que o reputam irregular e manifestam a existência de tal irregularidade
nas vias adequadas, mas que, por causa da demora no transcurso do procedimento destinado à
apuração da legalidade do ato, termina por gerar efeitos no mundo concreto. Nessa última
hipótese, verificada ou confirmada a ilegalidade, sendo ainda possível, o ato deve ser desfeito,
preservando-se apenas aquilo que, pela consolidação fática irreversível, não puder ser restituído
ao status quo ante. Mesmo nesses casos, se ficar configurado prejuízo decorrente do fato
irreversível, deve ser ressalvada à parte prejudicada o direito de exigir perdas e danos. E, embora
se reconheça o relevante valor social da família, cuja proteção encontra-se determinada pela
própria Constituição Federal, o STF já assentou que o artigo 226 da Lei Fundamental não é motivo
suficiente, por si só, para garantir ao servidor o direito a lotação na cidade em que possui vínculos
afetivos. Por outro lado, a remoção de servidor fora das hipóteses legais termina por
desbalancear o quadro de lotação dos órgãos públicos, retirando da Administração a
discricionariedade que a lei lhe outorgou na distribuição de sua força de trabalho, segundo as
reais necessidades do serviço público. A teoria do fato consumado não se presta, assim, para
mitigar a interpretação do art. 36, III, "a", da Lei n. 8.112/90, assegurando ao servidor lotação
para acompanhamento de cônjuge fora da estrita moldura normativa. Não se deve perder de
vista que a teoria do fato consumado é de aplicação excepcional e deve ser adotada com cuidado
e moderação, para que não sirva de mecanismo para premiar quem não tem direito pelo só fato
da demora no julgamento definitivo da causa em que fora deferida uma decisão liminar, cuja
duração deve ser provisória por natureza. Com essas considerações, tem-se por inaplicável a
teoria do fato consumado para consolidar remoção destinada a acompanhamento de cônjuge,
em situação que não se adéqua à legalidade estrita, mitigando a interpretação do artigo 36, III,
"a", da Lei n. 8.112/90, ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de
decisão liminar não confirmada quando do julgamento de mérito. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min.
Raul Araújo, por maioria, julgado em 7/12/2016, DJe 15/2/2017.
Cingiu-se a discussão, entre outras questões, a definir a competência para instaurar e julgar
processo disciplinar, bem como para aplicar a respectiva sanção a servidor público federal que
praticou falta funcional no exercício de cargo em comissão em órgão para o qual foi cedido.
“Tratando-se de conduta praticada pelo agente público durante o período em que esteve cedido,
é legítima a instauração do processo administrativo disciplinar pelo órgão em que foi praticada a
irregularidade. Nesse sentido, extrai-se do Manual Prático de Processo Administrativo Disciplinar
da Controladoria Geral da União: 'No aspecto espacial, o processo disciplinar será instaurado,
preferencialmente, no âmbito do órgão ou instituição em que supostamente tenha sido
praticado o ato antijurídico, facilitando-se a coleta de provas e a realização de diligências
necessárias à elucidação dos fatos. No caso de infrações cometidas por servidores cedidos a
outros órgãos, a competência é do órgão onde ocorreu a irregularidade para a instauração do
processo disciplinar. Todavia, como o vínculo funcional do servidor se dá com o órgão cedente,
apenas a este incumbiria o julgamento e a eventual aplicação da penalidade (Nota
Decor/CGU/AGU n. 16/2008-NMS).' Cessada, contudo, toda relação do servidor com o órgão
cessionário, é natural que qualquer aplicação de penalidade se dê pelo órgão cedente. Nesse
caso, caberia ao órgão cessionário tão somente rescindir o contrato de cessão e devolver o
servidor, além de instaurar o procedimento administrativo disciplinar, que, como salientado, será
julgado pelo órgão cedente. Por fim, cabe esclarecer que o julgamento e aplicação da sanção são
um único ato, que se materializa com a edição de despacho, portaria ou decreto, proferidos pela
autoridade competente, devidamente publicado para os efeitos legais, conforme se dessume do
disposto nos artigos 141, 166 e 167 do RJU.”
Os servidores estatutário, de acordo com a Constituição da República, possuem alguns direitos trabalhistas.
Segue abaixo a lista de direitos a eles assegurados.
1. salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
2. garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
3. décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
4. remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
5. salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
6. duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada
a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho;
7. repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
8. remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqUenta por cento à do normal;
9. gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
10. licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
11. licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
12. proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
13. redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
14. proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil;
O instituto condomínio edilício foi apenas introduzido no ordenamento jurídico brasileiro – especificamente
– pelo Código Civil de 2002. A terminologia foi adotada por Miguel Reale, conforme relata a doutrina3, por
se tratar de uma expressão nova de incontestável origem latina, muito utilizada, por exemplo, pelos italianos.
Ainda são usados os termos condomínio em edificações e condomínio horizontal4.
Para melhor entendimento sobre o tema, é necessário que se distinga condomínio edilício do condomínio
geral – aquele é espécie deste. Em linhas gerais, o condomínio geral se caracteriza pelo fato de existir,
simultaneamente, dois (ou mais) direitos de propriedade incidindo sobre um mesmo bem, móvel ou imóvel5.
O condomínio edilício, ao contrário,
refere-se exclusivamente aos imóveis onde coexistem partes comuns e partes exclusivas, por
exemplo: num edifício residencial, o apartamento é propriedade exclusiva e partes como
elevadores, piscinas, portaria etc., são partes comuns, sendo que cada condômino é dono de seu
apartamento mais uma fração ideal nas partes comuns.6
(...) caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja
ele próprio dotado de honra objetiva, senão admitir que qualquer ofensa ao conceito que possui
perante a comunidade representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um
dos condôminos, pois quem goza de reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda
que o ato lesivo seja a este endereçado. Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas,
qualquer repercussão econômica negativa será suportada, ao fim e ao cabo, pelos próprios
condôminos, a quem incumbe contribuir para todas as despesas condominiais, e/ou pelos
respectivos proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado
imobiliário. (...) hipótese em que se afasta o dano moral do condomínio, ressaltando que, a par
3
“Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado, doutrinadores que participaram no processo de elaboração da atual lei civil”. In:
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1743.
4
Idem.
5
COLANI, Camilo apud GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil – volume único. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2020. p. 1653.
6
Idem.
da possibilidade de cada interessado ajuizar ação para a reparação dos danos que eventualmente
tenha suportado, o ordenamento jurídico autoriza o condomínio a impor sanções administrativas
para o condômino nocivo e/ou antissocial, defendendo a doutrina, inclusive, a possibilidade de
interdição temporária ou até definitiva do uso da unidade imobiliária (STJ, REsp 1.736.593/SP,
3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11.02.2020, DJe 13.02.2020)7.
É importante que se anote, contudo, que há forte entendimento entre os doutrinadores contemporâneos8
no sentido de considerar o condomínio edilício como pessoa jurídica – para esta corrente, o rol das pessoas
jurídicas de direito privado, do artigo 44 do Código Civil, é exemplificativo9. Ao encontro desse entendimento,
cite-se o Enunciado nº 90 do CJF/STF, da I Jornada de Direito Civil (2002): deve ser reconhecida personalidade
jurídica ao condomínio edilício nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse.
Igualmente, na III Jornada (2004), aprovou-se o Enunciado nº 246: Fica alterado o Enunciado n. 90, com
supressão da parte final: ‘nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse’. Prevalece
o texto: ‘Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício’” 10.
O artigo 1.331 do Código Civil prevê que pode haver, em edificações, duas modalidades de partes: as que
são propriedade exclusiva (áreas autônomas ou exclusivas – como, v.g., os apartamentos, os escritórios, as
salas ou lojas, os abrigos para veículos11, com as respectivas frações ideais no solo etc.) e partes que são
propriedade comum dos condôminos (áreas comuns – o solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral
de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, a calefação e refrigeração centrais, e as demais partes
comuns, inclusive o acesso ao logradouro público)12.
No que tange aos componentes da propriedade exclusiva, havendo uma fração real, certo é que podem ser
alienados e gravados livremente por seus proprietários, não havendo direito de preferência a favor dos
outros condôminos. Já quanto às partes comuns, não poderão ser alienados separadamente, ou divididos:
em relação a tais áreas, a cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração
ideal no solo e nas outras partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária
no instrumento de instituição do condomínio. Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do
acesso ao logradouro público. Anote-se que, pela lei, o terraço de cobertura é parte comum,
salvo disposição contrária da escritura de constituição do condomínio. Além disso, segundo a
doutrina, no condomínio edilício é possível a utilização exclusiva de área “comum” que, pelas
próprias características da edificação, não se preste ao “uso comum” dos demais condôminos
(Enunciado n 247 do CJF/STJ). Como exemplos, mencionem-se as vigas e pilares existentes nos
7
In: TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1762.
8
Principal expoente: Frederico Henrique Viegas de Lima. Gustavo Tepedino também adota essa corrente.
9
Enunciado n. 144 do CJF/STJ da III Jornada de Direito Civil: A relação das pessoas jurídicas de direito privado constante do art. 44,
incisos I a V, do Código Civil não é exaustiva.
10
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1762.
11
A lei 12.607/2012 alterou o §1º do artigo 1.331 do Código Civil, passando a prever que os abrigos de veículo não poderão ser
alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização expressa na convenção do condomínio. Justifica-se a
alteração na proteção da segurança do condomínio, bem como na sua funcionalidade. Ainda que conste autorização na convenção
de condomínio, é necessário que se ressalve o direito de preferência para locação da vaga de garagem.
12
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1762.
apartamentos. Para a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, (...) não há óbice para que
um condômino reforme ou utilize, de forma exclusiva, área comum do condomínio, desde que
exista autorização da assembleia geral (...)13.
Quanto às categorias similares, a doutrina entende pela aplicação das regras do condomínio edilício. E esse
posicionamento foi também adotado no Enunciado nº 89 da I Jornada de Direito Civil: o disposto nos arts.
1.331 e 1.358 do novo Código Civil aplica-se, no que couber, aos condomínios assemelhados, tais como
loteamentos fechados, multipropriedade imobiliária e clubes de campo.
Em contrapartida, o Supremo Tribunal Federal já concluiu pela não incidência das regras relativas ao
condomínio edilício no tocante à cobrança de taxas de administração para os condomínios fechados de casas,
tratados como associações de moradores (condomínio de fato ou condomínio de lotes)14 (...):
O Superior Tribunal de Justiça possui diversas decisões no mesmo sentido (Resp 1.280.871/SP e Resp
1.430.163/SP, 2ª seção, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Marco Buzzi, j.
11.03.2015, publicado no Informativo n. 562)15.
Contudo, em que pese a questão ter sido considerada pacificada, é certo que a Lei 13.465/2017 introduziu
tratamento relativo ao condomínio de lotes no Código Civil, passando o §2º do novo art. 1358-A a estabelecer
que “aplica-se, no que couber, ao condomínio de lotes o disposto sobre o condomínio edilício neste Capítulo,
respeitada a legislação urbanística”.
Sendo assim, a disposição aplica-se aos loteamentos fechados que fizerem a opção de conversão para o
regime de condomínio de lotes; ou para os novos condomínios que surgirem com a adoção desse caminho de
instituição16. Quanto aos loteamentos fechados anteriores e que não alterarem sua situação jurídica,
aplicam-se os precedentes acima mencionados.
O condomínio edilício será instituído por ato entre vivos ou por testamento, registrado no Cartório de
Registro de Imóveis (art. 1.332 do Código Civil). Deve constar do ato: a discriminação e individualização das
unidades de propriedade exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns; a determinação da
13
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1747.
14
Ibidem, p. 1744.
15
Idem.
16
Ibidem.
fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns; e o fim a que as unidades
se destinam.
Sobre a convenção de condomínio, Flávio Tartuce entende que há um típico negócio jurídico decorrente do
exercício da autonomia privada17. Estabelecem os artigos 1.333 e 1.334 do CC/2002:
Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares
de, no mínimo, dois terços das frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os
titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção.
Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do condomínio deverá ser
registrada no Cartório de Registro de Imóveis. (grifamos)
Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no art. 1.332 e das que os interessados houverem por
bem estipular, a convenção determinará:
III — a competência das assembleias, forma de sua convocação e quorum exigido para as
deliberações;
V — o regimento interno.
§ 1º A convenção poderá ser feita por escritura pública ou por instrumento particular.
§ 2º São equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, salvo disposição em contrário,
os promitentes compradores e os cessionários de direitos relativos às unidades autônomas.
(grifamos)
Como exigido no dispositivo acima, para ser oponível erga omnes é necessário o registro da convenção no
Cartório de Imóveis. No entanto, dispensa-se o registro para que valham os efeitos jurídicos entre os próprios
condôminos (inter partes). Este é o entendimento do STJ:
17
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1748.
Súmula 260. A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular
as relações entre os condôminos.
II – usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização
dos demais compossuidores;
I – contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo
disposição em contrário na convenção;
III – não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
IV – dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira
prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes.
§1º O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios
convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por
cento sobre o débito.
§2º O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagará
a multa prevista no ato constitutivo ou na convenção, não podendo ela ser superior a cinco vezes
o valor de suas contribuições mensais, independentemente das perdas e danos que se apurarem;
não havendo disposição expressa, caberá à assembleia geral, por dois terços no mínimo dos
condôminos restantes, deliberar sobre a cobrança da multa.
Embora caiba ao próprio condomínio responder por suas dívidas, eventualmente a responsabilidade poderá
recair sobre os condôminos:
O pagamento da taxa condominial, cuja natureza jurídica é de obrigação propter rem, visa garantir a
continuidade da própria relação condominial. Assim, o seu inadimplemento poderá resultar na própria
penhora do imóvel residencial, não se afigurando possível invocar a proteção do bem de família18.
O Código Civil previu, ainda, a imposição de multa para o condômino com comportamento antissocial. Trata-
se de sanção, com caráter essencialmente punitivo e pedagógico:
Art. 1.337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres
perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser
constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição
para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração,
independentemente das perdas e danos que se apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antissocial,
gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser
constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as
despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia. (grifamos).
Veja-se que o condômino em nenhum momento será expropriado de sua unidade residencial; busca-se uma
ordem judicial condenatória que imponha uma obrigação negativa ou de não fazer – no caso, de não morar
naquele ambiente. O condômino expulso poderá, somente, alugar, empresar e ceder seu apartamento, não
18
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 1748.
residir. É necessário que haja a observância da função social da propriedade, razão pela qual não se vislumbra
inconstitucionalidade desta disposição.
No tocante à administração do condomínio, ficará a cargo do síndico, que será escolhido pela Assembleia
Geral19 – instância máxima, com poderes suficientes para, igualmente, destituir o administrador.
Para a realização de obras no condomínio, a anuência dos condôminos será essencial. Acaso voluptuárias,
requerer-se-á o voto de dois terços dos condôminos; se úteis, de voto da maioria dos condôminos (artigos
1.341 e 1.342). Outrossim, o legislador previu que, no caso de construção de outro pavimento, ou, no solo
comum, de outro edifício, destinado a conter novas unidades imobiliárias, depende da aprovação da
unanimidade dos condôminos.
Art. 1.358. Se ocorrer desapropriação, a indenização será repartida na proporção a que se refere
o § 2º do artigo antecedente.
O legislador civil, ao abordar a teoria geral do negócio jurídico, optou por não tratar sobre a inexistência dos
atos, mas somente sobre a nulidade absoluta e a nulidade relativa. Quanto ao casamento, adotou a mesma
linha de pensamento, remetendo apenas às hipóteses de casamento nulo e anulável20.
No entanto, como bem salienta Flávio Tartuce21, a teoria da inexistência do casamento é bastante prestigiada
entre os civilistas, razão pela qual merece análise. E a doutrina defende a existência de duas hipóteses que
19
Órgão deliberativo dos condôminos, e pode ser ordinária ou extraordinária. Suas deliberações têm força obrigatória para os
condôminos, até sua anulação judicial ou por deliberação tomada em outra Assembleia. In: PEREIRA, Caio Mário da Silva apud
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil – volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1660.
20
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2072.
21
Idem, p. 2073.
se encaixam nessa teoria22: a ausência de vontade e o casamento celebrado por autoridade totalmente
incompetente (incompetência ratione materiae).
Assim, o casamento será considerado inexistente acaso celebrado sem vontade do nubente – eis que
elemento mínimo essencial para o ato. Veja-se que a manifestação ou declaração de vontade no casamento
deverá sempre ser expressa e recíproca (bilateral)23. Não há espaço para o silêncio ser considerado
aquiescência. Nos casos em que houver
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho também suscitam como hipótese de inexistência a atuação de
procurador cujo instrumento de mandato, aparentemente normal, não contenha a assinatura do noivo
(representado)25.
Quanto ao casamento celebrado por autoridade totalmente incompetente, atente-se que o Código Civil não
conceitua autoridade competente. Com efeito,
considerando-se que o casamento pode ser civil ou religioso com efeitos civis, poderão figurar
como autoridades celebrantes o juiz de direito, o juiz de paz – segundo a Lei de Organização
Judiciária de cada Estado – ou a autoridade religiosa. (...) caso a autoridade celebrante careça de
jurisdição ou de competência material, o matrimônio celebrado será considerado inexistente; no
entanto, se for dotada de jurisdição ou competência legal e faltar-lhe mera competência relativa,
o ato será considerado simplesmente anulável.
E, nesse sentido, é o que estabelece o artigo 1.554 do Código Civil: subsiste o casamento celebrado por
aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos
e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.
22
Antes da alteração de entendimento quanto ao casamento de pessoas do mesmo sexo, esta era uma hipótese de inexistência
do casamento. Sabe-se, contudo, que a união homoafetiva é admitida no Brasil desde 2011, quando o STF reconheceu a
equiparação da união homoafetiva à união estável para todos os efeitos, inclusive para a conversão em casamento, aplicando-se
o artigo 1726 do Código Civil. Em seguida, inúmeras decisões judiciais de conversão já foram proferidas. E, em 2012, “a
Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo acabou por regulamentar a possibilidade do casamento homoafetivo
diretamente nos Cartórios de Registro Civil, por meio do seu Provimento CG 41/2021, que disciplina: ‘Aplicar-se-á ao casamento
ou a conversão de união estável em casamento de pessoas do mesmo sexo as normas disciplinadas nesta Seção’. Fez o mesmo,
em âmbito nacional, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da sua Resolução n. 175 de 2013, que veda às autoridades
competentes, caso dos responsáveis pelos Cartórios de Registro Civil de todo o País, a recusa de habilitação, celebração de
casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo”. In: TARTUCE, Flávio. Manual
de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2075.
23
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil – volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1812.
24
Idem, p. 1813.
25
Ibidem.
Para os adeptos da teoria de inexistência, aplicam-se as mesmas regras previstas para a ação de nulidade
absoluta nas situações em que se fizer necessária ação específica para afastar os efeitos do ato não existente
–como nos casos em que há aquisição de bens26. Nessa linha, há a possibilidade de propositura da ação pelo
Ministério Público; ausência de prazos para a declaração da inexistência; e efeitos retroativos da sentença.
Vale salientar que a jurisprudência tem admitido que a inexistência do casamento também pode ser
reconhecida de ofício pelo juiz – como nas hipóteses de casamento celebrado por autoridade absolutamente
incompetente, em razão da matéria27.
Deixando a análise sob a ótica do plano de existência do casamento, passemos ao estudo sob o prisma do
plano de validade com as hipóteses de casamento nulo e anulável – ou de nulidade absoluta e relativa.
Pois bem.
O artigo 1.548 do Código Civil determina que é nulo o casamento por infringência de impedimento – cujas
hipóteses estão previstas no artigo 1.521:
III — o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
VI — as pessoas casadas;
VII — o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte.
Antes da alteração promovida pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que revogou o
inciso I do artigo 1.548 do CC, a codificação privada também consagrava como hipótese de nulidade absoluta
o casamento contraído por enfermo mental sem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida
civil. Atualmente, estas pessoas não são mais consideradas absolutamente incapazes e, desta forma, podem
se casar livremente.
26
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2079.
27
Idem.
Os impedimentos podem ser opostos até o momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa
capaz. Inclusive, é por esta razão que
o local de celebração do matrimônio deve ser aberto ao público, não se permitindo solenidade
de portas fechadas.
Se o juiz ou o oficial de registro, por seu turno, tiver conhecimento da existência de algum
impedimento, será obrigado a declará-lo (parágrafo único do art. 1.522 do CC/2002), por se tratar
de matéria de ordem pública.
(...) se a oposição se der no bolo do procedimento de habilitação, a teor do art. 1.529 do CC/2002
– que também se aplica às causas suspensivas –, deverá ser documentada por meio de declaração
escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde
possam ser obtidas28.
Para que se declare a nulidade do casamento, é imperioso que se ingresse com a competente ação.
Imprescritível, já que a nulidade não convalesce pelo decurso do tempo, a ação declaratória de nulidade
pode ser promovida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público – envolve preceitos de ordem
pública (artigo 1.549 do CC)29. Em observância ao princípio da não intervenção, não obstante o impedimento
matrimonial poder ser reconhecido de ofício pelo juiz, a nulidade do casamento não o poderá:
Com efeito, os efeitos da ação retroagem à celebração do casamento (ex tunc) (artigo 1.563) – e não poderá
prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem resultante de sentença
transitada em julgado30.
No que tange às hipóteses de casamento anulável, o artigo 1.550 do Código civilista estabelece:
28
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil – volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1834.
29
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida
mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
30
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho citam como exemplo a hipótese de os cônjuges, conjuntamente, na constância do
matrimonio ainda não impugnado, venderem determinado bem do patrimônio comum. Salientam, contudo, que caso a alienação
seja gratuita, como uma doação, ou o terceiro esteja de má-fé, o ato praticado perderia a eficácia, retornando ao status quo ante.
In: GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil – volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
p. 1837.
II — do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III — por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
V — realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio,
expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.
Com a alteração promovida pela Lei 13.811/2019, que modificou o artigo 1.520 do Código Civil 31, o menor
que tiver menos idade do que o limite mínimo para casar – 16 anos completos32 – está totalmente impedido
de contrair matrimônio. Caso não tenham atingido essa idade, mas contraído matrimônio, este será anulável.
Outrossim, o casamento poderá ser convalidado em duas hipóteses: I – não se anula o casamento, por motivo
de idade, se dele resultou gravidez, não sendo necessária sequer a autorização do seu representante legal
(artigo 1.551); e II – o menor poderá, depois de completar a idade núbil, confirmar o seu casamento, com a
autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial (art. 1.553).
O prazo para eventual ação anulatória é de 180 dias, decadencial, podendo ser proposta pelo próprio menor,
por seus representantes legais ou por seus ascendentes (art. 1.522). No primeiro caso, o prazo será contado
a partir do momento em que o menor completar a idade núbil; e, nas outras duas situações, a partir do
momento em que o casamento foi celebrado.
No casamento contraído por menor em idade núbil (entre 16 e 18 anos), mas sem a autorização de seu
representante legal, a propositura da ação anulatória também será decadencial de 180 dias, contados: I – se
a ação for proposta pelo menor, a partir do momento em que completar 18 anos; II – se proposta pelo
representante legal, a partir da celebração do casamento; e III – se proposta por herdeiro necessário, da data
do óbito do menor (cf. artigo 1.555, caput e §1º, do CC). Aqui, como hipótese de convalidação, não se anulará
31
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art.
1.517 deste Código.
32
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus
representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1.631.
esse casamento quando à sua celebração tiverem assistido – no sentido de presenciado –, os representantes
legais do menor, ou se esses representantes tiverem manifestado a sua aprovação (...) 33.
Quanto à coação moral (vis compulsiva), confira-se o artigo 1.558: é anulável o casamento em virtude de
coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado
temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares. O prazo para
anular o casamento será decadencial de quatro anos, contados da celebração – a ação será personalíssima,
apenas podendo ser proposta pelo cônjuge que sofreu a coação.
O inciso IV do artigo 1.550 prevê a anulabilidade do casamento celebrado havendo erro essencial quanto à
pessoa do outro cônjuge – ou, error in persona. Para melhor compreensão do tema, o legislador estabeleceu
no artigo 1.557 as situações ensejadoras deste erro:
I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a
vida conjugal;
III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de por em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
IV – (Revogado).
O inciso IV foi revogado pela Lei 13.146/17, que mencionava sobre a ignorância, anterior ao casamento, de
doença mental grave que, por sua natureza, tornasse insuportável a vida em comum. Com o advento do
Estatuto da Pessoa com Deficiência, como é sabido, o casamento destas será valido.
Nessas situações descritas no dispositivo acima, o prazo decadencial para a ação anulatória será de três anos,
contados da celebração do casamento. A ação apenas caberá ao cônjuge que incidiu no erro, sendo, pois,
personalíssima. Saliente-se que a coabitação posterior, havendo ciência do vício, convalida o casamento –
salvo a hipótese do inciso III.
33
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2088.
decadencial para a ação anulatória é de 180 dias, contados do casamento, nos termos do artigo 1.560, caput,
e §1º, do CC.
Também é passível de anulação o casamento celebrado por procuração, acaso o mandato seja revogado sem
que o representante e o outro cônjuge tenham conhecimento da extinção do contrato – e desde que a
revogação tenha ocorrido antes da celebração do casamento. Aqui, a ação anulatória deve ser proposta no
prazo decadencial de 180 dias, contados do momento em que chegue ao conhecimento do mandante a
realização do casamento. Por força da lei, equipara-se à revogação a invalidade do mandato reconhecida
judicialmente, caso da sua nulidade absoluta ou relativa. A ação será personalíssima – mas o ato poderá ser
convalidado se houver coabitação entre os cônjuges.
A última hipótese trazida pelo artigo 1.550 é acerca do casamento celebrado perante autoridade
relativamente incompetente. O prazo para ação anulatória será decadencial de 2 anos, contados da data da
celebração do casamento. Igualmente, como já visto anteriormente, o artigo 1.554 permite a convalidação
do casamento: Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei,
exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro
Civil.
Por fim, tem-se a questão atinente ao casamento putativo. Trata-se do casamento que, embora nulo ou
anulável, gera efeitos em relação ao cônjuge que esteja de boa-fé subjetiva34. Em tais casos:
I – Havendo boa-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos em relação a estes e aos
filhos, até o trânsito em julgado da sentença de nulidade ou anulação. Por isso, eventuais bens
adquiridos no período devem ser partilhados entre os cônjuges de acordo com o regime de bens
adotado.
II – Havendo boa-fé de apenas um dos cônjuges, o casamento somente gera efeitos par este e
para os filhos do casal.
III – Havendo má-fé de ambos os cônjuges, o casamento somente gera efeitos para os filhos.
Eventualmente, se bens forem adquiridos durante a união, deverão ser partilhados de acordo
com as regras obrigacionais que vedam o enriquecimento sem causa35.
O artigo 1.851 do Código Civil define que o direito de representação é observado quando a lei chama certos
parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse – ou seja, um
herdeiro substitui outro por força de convocação da lei.
34
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2097.
35
Idem, p. 2098.
O Superior Tribunal de Justiça, sobre o tema, entende que a herança por representação tem clara finalidade
de reparar o mal sofrido pelos filhos em razão da morte prematura de seus pais (...)36.
Representação na linha reta descendente (art. 1.852): se o falecido deixar três filhos e dois netos,
filhos de um outro filho premorto, os netos terão direito de representação. (...) nunca há direito
de representação na linha reta ascendente37.
Representação na linha reta colateral ou transversal (art. 1.853): apenas em favor dos filhos de
irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem. Ex.: se o falecido deixar dois irmãos
vivos e um sobrinho, filho de outro irmão premorto, o sobrinho tem direito de representação.
(...) o direito de representação não se estende aos sobrinhos-netos do falecido, mas somente
quanto aos sobrinhos. E este é o entendimento sustentado pelo STJ, conforme o Informativo 485:
A Turma negou provimento ao recurso com o entendimento de que, embora fosse o pai da
recorrente sobrinho da inventariada, ele já havia falecido, e o direito de representação, na
sucessão colateral, por expressa disposição legal, limita-se aos filhos dos irmãos, não se
estendendo aos sobrinhos-netos, como é o caso da recorrente (STJ, REsp 1.064.363/SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 11.10.2011).
Em todo o caso, os representantes só herdarão, como tais, o que seria herdado pelo representado se fosse
vivo – artigo 1.854 do Código Civil. Assim, há uma verdadeira substituição sucessória nos mesmos direitos.
Segundo o Enunciado 610, aprovado na VII Jornada de Direito Civil, também nos casos de comoriência entre
ascendentes e descendentes, ou entre irmãos, reconhece-se o direito de representação aos descendentes e
aos filhos dos irmãos.
Esse entendimento não tem sido aceito por grande parte da doutrina, contudo, a jurisprudência continua a
se posicionar quanto à possibilidade: defende-se que, pela leitura do artigo 1.851, é perfeitamente cabível o
direito de representação nos casos de comoriência, eis que o dispositivo não menciona a necessidade de
pré-morte, limitando-se a prever que os parentes do falecido podem suceder em todos os direitos em que
ele sucederia se vivo fosse. Isto é, (...) ele pode ter morrido conjuntamente com o autor da herança, não
havendo necessidade de ter morrido antes. E o enunciado conclui que:
Não reconhecer o direito de representação aos filhos de herdeiro falecido em concomitância com
o autor da herança gera uma situação de verdadeira injustiça.38
Com efeito, o artigo 1.855 da lei civil determina que o quinhão do representado deve ser partilhado de forma
igualitária entre os representantes. Como exemplo, se o falecido A deixar três filhos B, C e D e dois netos F e
36
STJ, Resp 1.627.110/GO, 3ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellize, j. 12.09.2017, DJe 15.09.2017).
37
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2629.
38
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021. p. 2630.
G, filhos de E (premorto), o quinhão do último deve ser dividido igualmente entre seus sucessores, que têm
direito de representação39.
Outrossim, importa ressaltar que o renunciante à herança de uma pessoa não está impedido de representá-
la na sucessão de outra. Sobre essa possibilidade, Maria Helena Diniz exemplifica:
a poderá representá-la na sucessão de outra. Vale o exemplo de Maria Helena Diniz: “se um dos
filhos do auctor sucessionis renunciar à herança, seus descendentes, netos do finado, não
herdarão por representação, pois o renunciante é tido como estranho à herança. Entretanto, o
renunciante poderá representar o de cujus (seu pai) na sucessão de terceira pessoa (seu avô, p.
ex., CC, art. 1.851), pois o repúdio não se estende a outra herança. O filho, assim, herdará por
direito de representação. Representará seu pai, na sucessão do avô, embora tenha repudiado a
herança de seu genitor40.
O Novo Código de Processo Civil criou o incidente de assunção de competência como novo mecanismo que
objetiva a uniformização da jurisprudência dos tribunais41. Foi, pois, concebido em substituição ao sistema
de prevenção ou composição de divergência outrora previsto no artigo 555, §1º, do CPC/73.
Outrossim, desde o advento do novo CPC, não há mais previsão do incidente de uniformização de
jurisprudência – e a assunção de competência visa, então, a dar operatividade ao art. 926, que determina
aos tribunais que uniformizem sua jurisprudência e a mantenham estável, íntegra e coerente42.
Pelo incidente de assunção de competência, permite-se que relevantes questões de direito, com grande
repercussão social, nas causas em trâmite no tribunal, sem repetição em múltiplos processos, e que sejam
objeto de recurso, remessa necessária ou causa de competência originária, sejam examinadas não pelo órgão
fracionário a quem competiria o julgamento, mas por órgão colegiado indicado pelo Regimento Interno, com
força vinculante sobre os juízes, órgãos fracionários e tribunais subordinados43. Assegura-se, assim, a
uniformidade da jurisprudência do tribunal sobre as questões levantadas.
39
Idem.
40
DINIZ, Maria Helena apud TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 11 ed. Rio de Janeiro: Editora Método, 2021.
p. 2631.
41
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 1396.
42
Idem.
43
Ibidem.
Previsto no artigo 947 do Código de Processo Civil, para o processamento do incidente é necessário que
estejam presentes, portanto, os seguintes pressupostos: relevante questão de direito; grande repercussão
social; sem repetição em múltiplos processos; e interesse público na assunção da competência.
In verbis:
O IAC poderá ser instaurado em qualquer tribunal – inclusive nos superiores. Por meio dele, o relator do
recurso, da remessa necessária ou causa de competência originária, de ofício ou a requerimento da parte,
do Ministério Público ou da Defensoria Pública, constatando a existência44 dos pressupostos acima
apontados, proporá o julgamento pelo órgão colegiado, a quem competirá reconhecer se há ou não o
interesse público alegado45. E, em caso afirmativo, assumirá a competência e procederá ao julgamento; em
caso negativo, não assumirá a competência, e o julgamento será feito pelo órgão originário46.
Mencione-se que é plenamente possível que o relator do incidente admita a intervenção de amicus curiae e
que determine a realização de audiências públicas – como nos demais incidentes que visam a constituir o
precedente vinculante.
A decisão resultante do incidente admite recurso especial ou extraordinário, desde que preenchidos os
requisitos; também são cabíveis embargos de declaração.
É necessário repisar que o objetivo do incidente de assunção de competência é, justamente, impedir que
haja divergência entre órgãos fracionários sobre determinadas questões de direito que apresentem,
portanto, grande relevância e repercussão social. Justamente pelo caráter de assegurar uma solução
uniforme, a lei determina que ela terá força vinculante sobre juízes e órgãos fracionários – que não poderão
dar à questão de direito solução distinta, sob pena de caber reclamação 47, a teor do artigo 988, inciso IV, do
CPC.
Trata-se de provimento jurisdicional que busca prevenir a prática de ato contrário ao direito, ou, quando já
praticado, impedir a sua reiteração ou continuidade. Com efeito, por meio de cognição exauriente ou mesmo
sumária, possibilita ao autor da ação a proteção ao núcleo de seu direito, impedindo a sua lesão ou cessando
novas ameaças.
44
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 1396.
45
Idem.
46
Ibidem.
47
Idem, p. 1397.
É a mais perfeita das tutelas judiciais, porque preserva o direito ameaçado, mantendo a esfera jurídica do
seu titular salvaguardada da destruição. Consiste em poderoso instrumento de evitação de lesões
infungíveis, especialmente, nas quais o bem jurídico, se violado, não poderá ser restituído, por
impossibilidade fática e/ou jurídica.
Em suma, é
tutela adquirida pelo titular do direito por meio de processo de conhecimento voltado para o
futuro, requerendo ao réu o cumprimento de uma obrigação de fazer (inibitória positiva) ou não
fazer (inibitória negativa), sob pena de imputação de multa ou outras medidas necessárias que
garantam o resultado prático equivalente – ou seja, a inibição do ato ilícito (...).
O principal fundamento jurídico para a tutela inibitória é o princípio constitucional previsto no artigo 5º,
inciso XXXV, da Constituição Federal, pelo qual a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou
ameaça a direito. Garante-se o acesso à justiça (por meio do direito de ação), antes da ocorrência do dano,
bem como os meios efetivos à prestação da tutela jurisdicional adequada a evitar a ameaça ao direito do
autor49.
há a previsão de uma tutela que objetiva afastar o ilícito preventivamente ao dando, sendo para
tal tutela irrelevante, sequer a comprovação da ocorrência de tal elemento.
O art. 497 do CPC/2015 prevê que “na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não
fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providencias
que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente”.
48
PINTO, Edson Antônio Sousa. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil. Revista dos Tribunais
Online. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3276906/mod_resource/content/1/A%20TUTELA%20INIBIT%C3%93RIA%20E%20OS%2
0SEUS%20FUNDAMENTOS%20NO%20NOVO%20C%C3%93DIGO%20DE%20PROCESSO%20CIVIL.pdf#:~:text=Em%20conclus%C3%
A3o%2C%20como%20se%20viu,da%20tutela%20espec%C3%ADfica%20destinada%20a. Acesso em 13 de março de 2021.
49
Idem.
Desta forma, traz o legislador a previsão de uma tutela mandamental que visa ordenar ao sujeito
passivo que cumpra obrigações de fazer e/ou não fazer, seja repressiva, ou preventivamente, por
intermédio de uma ação ordinária.50
Pois bem. A tutela inibitória não depende da alegação ou da prova do dano para que seja deferida; basta que
haja uma ameaça de lesão – cabe o uso da inibitória em face de alguém que mesmo sem culpa estiver na
iminência de praticar um ilícito51. Aliás, a doutrina salienta que a melhor definição legislativa da inibitória é
aquela que admite a tutela na forma pura (antes que se tenha ocorrido o ilícito) e não apenas para impedir
a continuação ou repetição do ilícito52.
Outrossim, independe da demonstração de culpa ou dolo – que somente será importante para a imputação
da responsabilidade nos casos em que a lei não dispensa o elemento volitivo:
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração
ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de
dano ou da existência de culpa ou dolo.
Para o interesse processual, é necessário que o demandante alegue, além do fato constitutivo do direito, a
ameaça/risco/perigo de violação a esse direito. Em outras palavras,
a causa de pedir remota das demandas inibitórias é, assim, composta (i) pela afirmação do fato
jurídico gerador do direito prevenido e (ii) pelo fato do qual decorre a impositividade do direito
à prevenção, vale dizer, o efetivo risco de violação ao direito prevenido53.
Esse tipo de demanda tem como causa de pedir próxima a afirmação do direito em relação ao qual há risco
de lesão e do direito à prevenção54. E veja que é necessário que o demandante deixe provado que o perigo
de ilicitude é sério e iminente, justificando-se pela conduta pretérita ou atual do requerido – que pratica atos
preparatórios do ilícito ou que já praticou o mesmo ilícito em outras oportunidades, por exemplo.
50
PINTO, Edson Antônio Sousa. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil. Revista dos Tribunais
Online. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3276906/mod_resource/content/1/A%20TUTELA%20INIBIT%C3%93RIA%20E%20OS%2
0SEUS%20FUNDAMENTOS%20NO%20NOVO%20C%C3%93DIGO%20DE%20PROCESSO%20CIVIL.pdf#:~:text=Em%20conclus%C3%
A3o%2C%20como%20se%20viu,da%20tutela%20espec%C3%ADfica%20destinada%20a. Acesso em 13 de março de 2021.
51
VILAS BÔAS, Rodrigo Lessa. Aplicabilidade da tutela inibitória no sistema processual civil pátrio. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/aplicabilidade-da-tutela-inibitoria-no-sistema-processual-civil-
patrio/. Acesso em 13 de marços de 2021.
52
MARINONI, Luiz Guilherme apud VILAS BÔAS, Rodrigo Lessa. Aplicabilidade da tutela inibitória no sistema processual civil
pátrio. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/aplicabilidade-da-tutela-inibitoria-no-
sistema-processual-civil-patrio/. Acesso em 13 de marços de 2021.
53
DIDIER JR., Fredie; BOMFIM, Daniela Santos. Pareceres. Editora Juspodivm: Salvador, 2014. p. 188.
54
Idem.
Por fim, mencione-se que a doutrina diverge em relação à tipologia da ameaça. É dizer, se se tratar de
requisito, inerente ao interesse, implicará a extinção sem resolução do mérito, se ausente, ao passo que
poderá se relacionar ao mérito e sua falta implicar a improcedência da demanda.
Consoante as diretrizes do Código Penal: "Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata
cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se
assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa".
A retratação, admitida nos crimes de calúnia e difamação, não é ato bilateral, ou seja, não pressupõe
aceitação da parte ofendida para surtir seus efeitos na seara penal, porque a lei não exige isso. O Código,
quando quis condicionar o ato extintivo da punibilidade à aceitação da outra parte, o fez de forma expressa,
como no caso do perdão ofertado pelo querelante depois de instaurada a ação privada.
Como é sabido, não há como se fazer analogia in malam partem, contra o réu, para lhe impor condição para
causa extintiva da punibilidade que a Lei Penal não exigiu.
Na verdade, basta que a retratação seja cabal. Vale dizer: deve ser clara, completa, definitiva e irrestrita, sem
remanescer nenhuma dúvida ou ambiguidade quanto ao seu alcance, que é justamente o de desdizer as
palavras ofensivas à honra, retratando-se o ofensor do malfeito.
Ademais, em se tratando de ofensa irrogada por meios de comunicação - como no caso, que foi por postagem
em rede social na internet -, o parágrafo único do art. 143 do Código Penal dispõe que "a retratação dar-se-
á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa".
A norma penal, ao abrir ao ofendido a possibilidade de exigir que a retratação seja feita pelo mesmo meio
em que se praticou a ofensa, não transmudou a natureza do ato, que é essencialmente unilateral. Apenas
permitiu que o ofendido exerça uma faculdade.
Portanto, se o ofensor, desde logo, mesmo sem consultar o ofendido, já se utiliza do mesmo veículo de
comunicação para apresentar a retratação, não se afigura razoável desmerecê-la, porque o ato já atingiu sua
finalidade legal.
A Súmula Vinculante 24 do Supremo Tribunal Federal prevê que não se tipifica o crime material contra a
ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do
tributo.
As jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, no entanto, não aplicam
tal entendimento ao crime de descaminho; não se exigindo o exaurimento da via administrativa, com o
lançamento tributário para a apuração do delito de descaminho.
O crime de descaminho, previsto no art. 334 do Código Penal, se configura no ato da importação irregular
de mercadorias, sendo desnecessário, portanto, o exaurimento das vias administrativas e constituição
definitiva do crédito tributário para a sua apuração criminal.
O Diploma Processual Penal brasileiro possibilita que, uma vez deflagrada a ação penal pública, e enquanto
não sobrevindo o trânsito em julgado da sentença, o ofendido poderá figurar como assistente do Ministério
Público, propondo meios de prova, requerendo perguntas às testemunhas, aditando o libelo e os articulados,
participando do debate oral e arrazoando os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio
(nos termos do artigo 271, do CPP). Veja-se:
Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério
Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas
no Art. 31.
[...]
Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às
testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos
interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598.
Assim, verifica-se que podem figurar como assistentes da acusação o ofendido ou o seu representante legal,
ou, ainda, na sua falta, quaisquer das pessoas mencionadas pelo artigo 31 do Código de Processo Penal
(cônjuge, ascendente, descendente ou irmão).
Ademais, o autor enfatiza que também é admitida a habilitação, como assistente de acusação, do filho da
vítima falecida, pouco importando que tenha figurado como testemunha na fase investigatória.
No mais, o artigo 530-H, do Código de Processo Penal dispõe que também são legitimadas a funcionar como
assistentes de acusação as associações de titulares de direitos de autor e os que lhe são conexos, nos crimes
previstos no art. 184, do Código Penal, quando praticados em detrimento de qualquer de seus associados.
Quanto à possibilidade de legitimação de pessoa de direito público como assistente de acusação, Eugênio
Pacceli assevera que existem divergências doutrinárias e jurisprudenciais sobre o assunto, e em alguns casos,
argumenta-se que o interesse público já estaria representado pelo Estado, na pessoa do Ministério Público,
sendo descabida a presença de outro organismo estatal na ação penal. Todavia, o autor discorda de tal
posicionamento, enfatizando ser possível a participação assistencial de pessoa jurídica de direito público na
ação penal pública quando os interesses do Ministério Público e do assistente forem distintos 56.
Renato Brasileiro de Lima também destaca ser plenamente possível a habilitação do Poder Público como
assistente de acusação, notadamente nos casos de processos instaurados contra Prefeitos por crimes de
responsabilidade (conforme art. 2º, § 1º, do Decreto-Lei nº 201/67) e em processos instaurados em face de
crimes contra o sistema financeiro nacional (nos termos do art. 26, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86).
Importante destacar que a habilitação de assistente da acusação só é possível se a infração penal tiver sujeito
passivo determinado. Ademais, nada impede que tal modalidade de assistência seja aplicada nos processos
em que se apura a prática de contravenções penais57.
Por sua vez, a legitimidade do assistente de acusação não ocorre apenas de maneira supletiva à do Ministério
Público, mas também de forma concomitante. Nesse sentido:
55
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único - 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
56
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 24. ed. – São Paulo: Atlas, 2020.
57
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único - 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
(AgRg nos EDcl no AREsp 1565652/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
16/06/2020, DJe 23/06/2020)
Todavia, insta salientar que os pressupostos de existência e validade do processo penal independem da
habilitação do ofendido como assistente de acusação, considerando que tal intervençõ ocorre de forma
facultativa (sendo, portanto, desnecessária).
Por outro lado, a possibilidade de assistência visa consagrar a participação da vítima no processo penal.
Porém, já gerou importantes discussões, notadamente sobre a natureza do interesse do assistente da
acusação no processo penal.
Lima58 indica que uma primeira posição sustenta a incompatibilidade da assistência com a Constituição, sob
o argumento de que a participação do ofendido transformaria o processo num espaço de vingança privada.
Ademais, prescindível essa intromissão, já que o Ministério Público é plenamente capaz de exercer o seu
munus, prescindindo da atuação de qualquer coadjuvante. Neste norte está o magistério de Alencar e
Tavora:
58
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único - 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020
Uma segunda corrente sustenta que a intervenção do assistente se justifica única e exclusivamente para fins
patrimoniais, buscando a adequada reparação dos danos sofridos. Neste sentido, Tourinho Filho assevera
que “a razão de se permitir a ingerência do ofendido em todos os termos da ação penal pública, ao lado do
Ministério Público, repousa na influência decisiva que a sentença da sede penal exerce na sede civil.”
Para uma terceira posição, inclusive partilhada por Lima, a vítima tem direito a uma “justa e proporcional
aplicação da lei”. A intervenção se legitima não apenas por questões patrimoniais, já que essa pretensão
pode ser exercida independentemente da resposta penal, e mesmo sem prévia habilitação, por meio de ação
de indenização. Neste sentido também Greco Filho, que sustenta que:
(STJ - REsp: 135549 RJ 1997/0040021-2, Relator: Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Data de
Julgamento: 02/04/1998, T6 - Sexta Turma, Data de Publicação: DJ 26.10.1998 p. 168).
Noutro julgado, o mesmo STJ reconheceu como admissível a possibilidade de o assistente interpor recurso
com o fim de majorar a pena aplicada, o que reafirma que a participação do assistente não se resume a
questões patrimoniais, verbis:
1. O Ministério Público, na qualidade de dominus litis, não está vinculado ao pedido feito na
denúncia e pode requerer a condenação do réu por outro delito nas alegações finais.
59
Greco Filho, Vicente. Manual de processo penal. 9. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2012.
2. A jurisprudência do STJ assentou que o assistente da acusação pode recorrer nas hipóteses do
art. 271 do CPP - absolvição, extinção da punibilidade e impronúncia - e para majorar a
reprimenda fixada na sentença.
(grifado)
Por fim, em relação às atribuições pertinentes ao assistente da acusação, Lima destaca que, após a sua
habilitação, ele poderá, dentre outras atividades, propor meios de prova, requerer perguntas às
testemunhas, aditar o libelo, aditar os articulados, participar do debate oral, arrazoar recursos interpostos
pelo Ministério Público (ou por ele próprio, nos casos dos artigos 584, §1º e 598 do CPP), além de requerer
a decretação da prisão preventiva ou de medidas cautelares diversas da prisão e requerer o desaforamento
do processo60.
Inicialmente, é necessário recordar que as ações penais são divididas em dois grupos, podendo ser ação
penal pública ou ação penal privada, a depender da natureza do crime praticado. Tal classificação possui
como diferencial a titularidade de exercício, ou seja, cada uma delas possui um titular com atribuições para
propor a demanda.
Além disso, ambas as classificações supramencionadas possuem subdivisões. A ação penal pública se
subdivide em: a) incondicionada; b) condicionada. Por sua vez, a ação penal privada se divide em: a)
exclusiva; b) personalíssima; c) subsidiária da pública.
O Código Penal, em seu art. 100, caput, estabelece como regra que as ações serão públicas, e
excepcionalmente, quando a lei mencionar, deverá ser intentada pelo particular. Assim sendo, haverá
previsão legal quando o crime exigir que o particular ingresse com a ação.
60
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único - 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020
Nesse sentido, as ações públicas são aquelas propostas pelo Ministério Público, logo, ele é o titular da ação,
nos termos dos artigos 24, do CPP e 100, caput e §1º do CP. De outro lado, as ações privadas são aquelas de
titularidade do particular, de acordo com as regras dos artigos 29 e 30 do CPP e artigo 100, §§2º e 3º, do CP.
No entanto, existe uma exceção quanto à regra de titularidade do Ministério Público. A legislação prevê uma
situação em que poderá ser proposta a ação privada em crime de ação pública quando esta não for intentada
pelo Ministério Público no prazo legal, é a chamada ação penal privada subsidiária da pública.
Essa espécie de ação penal está incluída no rol de direitos e garantias fundamentais do cidadão, possuindo
previsão constitucional no artigo 5º, inciso LIX, da CF, assim como no artigo 29, do CPP, com o objetivo de
tutelar de maneira ampla o interesse da vítima no processo penal, a qual almeja uma resposta ao ilícito
contra ela praticado.
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal (Código de Processo Penal, 1941).
Diante disso, o requisito essencial para que se possibilite a ação penal privada subsidiária da pública é a
inércia do Ministério Público, o qual possui um prazo legal para oferecer a denúncia, e, em razão da ausência
de manifestação abre-se a possibilidade de o particular (ou representantes) ingressarem com a ação.
Na lição de Eugenio Pacceli (2019), para caracterizar a inércia do órgão ministerial não basta a ausência de
denúncia. Isso porque, é possível que o Promotor de Justiça ainda não tenha oferecido a denúncia, mas em
razão de alguma diligência solicitada à autoridade policial ou tenha entendido pelo arquivamento dos autos,
o que não caracteriza a desídia.
Nessa perspectiva, não havendo qualquer tipo de manifestação por parte do Ministério Público poderá o
particular ingressar com a ação. Diante disso, vale destacar que a manifestação do parquet pedindo o
arquivamento do inquérito posterior ao ingresso da queixa-subsidiária é irrelevante:
Posto isso, observa-se que a lei estipula um prazo para o Ministério Público propor a ação, ou seja, um prazo
para oferecer a denúncia sob pena da ação ser intentada mediante queixa-crime (pelo particular). Dessa
forma, conforme o artigo 46, do CPP o prazo é de 5 (dias) para réu preso, e de 15 (quinze) dias para réu solto.
Não obstante aos prazos previstos no Código de Processo Penal, vale destacar alguns prazos especiais para
o oferecimento da denúncia:
a) Art. 10 da Lei nº 1.5021/51 (Lei de Economia Popular): prazo de 2 (dois) dias para réu solto ou preso;
b) Art. 54, inciso III, da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas): 10 (dez) dias, estando o réu preso ou solto.
No entanto, tratam-se de prazos impróprios e o seu escoamento não acarreta preclusão. Assim, o Promotor
de Justiça poderá oferecer a denúncia mesmo após o prazo, desde que antes da extinção da punibilidade.
Portanto, após o fim do lapso previsto na lei a legitimidade para propor a ação é concorrente, podendo ser
proposta pelo Ministério Público e ofendido ou seus representantes.
No que diz respeito aos legitimados para propor a demanda, considerando que se trata de ação privada
(subsidiária da pública), são os mesmos que poderiam propor a queixa-crime nos crimes de ação penal
privada, previsto no artigo 31, do CPP, quais sejam: o ofendido, e na falta deste, o cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.
Desse modo, a possibilidade para que o ofendido ou seus representantes postulem a ação privada subsidiária
surgirá apenas quando escoado o prazo do parquet oferecer a denúncia, salvo se houver postulado pelo
arquivamento ou pela remessa do procedimento investigatório a outro juízo ou quando solicitar diligências
à autoridade policial. Cuida-se que, o marco inicial não é do conhecimento da autoria do crime pelo ofendido,
tal como a regra que regula a ação privada.
Ademais, o prazo para que ingressem com a demanda é decadencial 6 (seis) meses, nos termos do artigo 38,
do CPP. No entanto, esgotado este prazo os legitimados decaem no direito de formular a queixa-crime, o
que não ocorre com o Ministério Público, que, por ser uma ação pública e com prazo impróprio, ainda possui
legitimidade para propor a ação até que seja extinta a punibilidade do agente, como mencionado
anteriormente.
Nota-se, na ação penal privada subsidiária da pública o fim do prazo decadencial não extingue a punibilidade
do agente, que ainda pode integrar o polo passivo da ação se oferecida a denúncia pelo Promotor de Justiça.
Caso seja oferecida a queixa-crime subsidiária, o Ministério Público poderá aditar, repudiá-la, intervir em
todos os atos ou retomar a titularidade da ação se houver negligência do particular na condução da
demanda, e interpor recurso contra ou a favor do réu, conforme dispõe o artigo 29, do CPP.
No que diz respeito ao aditamento o órgão ministerial tem o prazo de 3 (três) dias para fazê-lo, nos termos
do artigo 46, §2º do CPP, e poderá incluir novos réus e outros delitos. Ainda, o repúdio a queixa-crime será
possível apenas quando o Promotor de Justiça verificar a inépcia da peça (ausência dos requisitos do artigo
41, do CPP), e diante disso, segundo entendimento doutrinário, havendo concordância do juiz com a peça
inepta, o parquet fica obrigado a oferecer a denúncia substitutiva.
Por fim, ressalta-se que o regime jurídico dessa ação privada subsidiária é o mesmo da ação pública, com
exceção do princípio da obrigatoriedade, uma vez que o particular não é obrigado a ingressar com a ação.
Assim sendo, não é cabível o perdão do ofendido, a renúncia e perempção, os quais são institutos que regem
as ações exclusivamente privadas. Nesse sentido é o que preconiza inclusive o artigo 105, do Código Penal
ao dispor que o perdão do ofendido obsta o prosseguimento da ação nos crimes em que se procede somente
mediante queixa, o que não se enquadra na ação penal privada subsidiária da pública, uma vez que os crimes
se procedem mediante iniciativa do Ministério Público, portanto, através do oferecimento da denúncia.
O art. 33, da Lei de Drogas, prevê o crime de tráfico de drogas, enquanto o art. 34 prevê como crime as
condutas de fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título,
possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Tratando-se, assim, de um crime subsidiário, somente poderá ser responsabilizado o agente que praticar os
atos preparatórios para o tráfico (art. 34) sem iniciar a execução de qualquer uma das condutas previstas no
art. 33, da Lei de Drogas.
Esse entendimento tem por base o princípio do non bis in idem, visto que o autor não poderia ser punido
pelos atos preparatórios e pela traficância em si.
Lado outro, o Superior Tribunal de Justiça entende que não é possível a aplicação do princípio da consunção
quando configurada a independência entre as condutas tipificadas no art. 33 e no art. 34, da Lei de Drogas:
- Agravo regimental não provido. (AgRg no HC 616.444/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 15/10/2020) (negritou-se).
om efeito, embora os crimes do artigo 33, § 1º, inciso I, e 34, ambos da Lei 11.343/06, sejam
subsidiários do crime de tráfico de drogas, somente é possível a aplicação do princípio da
consunção se ficar demonstrado que os crimes não foram praticados em contextos autônomos
e coexistentes, ou seja, que não vulneraram o bem jurídico tutelado de forma distinta. […] Na
hipótese dos autos, porém, não há dúvida de que os delitos foram cometidos em contextos
diversos, devendo ser reconhecido o concurso material de infrações. Isto porque, de acordo
com a prova dos autos, a posse desses utensílios não se prestava apenas a viabilizar a prática do
delito de tráfico que se desenvolvia no momento da apreensão. Ia além disso. […] As
investigações duraram dois meses até o dia em que o réu foi preso em flagrante (fls. 197 e 198).
A existência desse laboratório fica ainda mais notória quando se verifica que, segundo o auto da
apreensão realizada no local, os diversos utensílios encontrados tinham volume significativo. É
evidente, portanto, que a posse dos apetrechos apreendidos não se limitava a integrar o crime
de tráfico, mostrando-se apta a vulnerar tipo penal autônomo, dos artigos 33, § 1º, inciso I, e 34,
ambos da Lei nº 11343/06, na medida em que o réu se utilizava deles para o preparo e a
transformação de grandes quantidades de estupefacientes. Assim, tendo-se em conta que os
crimes dos artigos 33, § 1º, inciso I, e 34 da Lei de Drogas visam coibir a produção de drogas,
enquanto o artigo 33 do mesmo Diploma Legal objetiva evitar a disseminação de substâncias
entorpecentes, importa considerar, na hipótese, que os diversos utensílios e produtos e insumos
químicos apreendidos permitiam que o acusado preparasse e transformasse estupefacientes em
escala industrial. Anota-se que o precedente deste Relator indicado nas razões de recurso
(apelação nº 0102893-31.2014.8.26.0050, julgada no dia 25.11.2015), apesar de dizer respeito à
consunção do crime do artigo 34 pelo artigo 33, da Lei 11.343/06, refere-se a situação fática
diversa. Lá, atribuía-se ao réu a posse de balança de precisão, rolos plásticos e pratos, objetos
que serviam apenas para a separação individual do narcótico. Aqui, os produtos destinavam-se
à preparação de droga em ampla escala, voltada para a distribuição de entorpecente em diversas
cidades, conforme noticiado pelos policiais. Assim, é inviável a absolvição (fls. 14-17, grifei).
Assim, depreende-se que deve ser analisado o contexto fático probatório para então decidir pela aplicação
ou não do princípio da consunção quando diante da suposta ocorrência dos crimes dos artigos 33 e 34, da
Lei de Drogas.
Isto porque, o princípio da consunção terá lugar quando “um fato definido por uma norma incriminadora é
meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui
conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime”
(JESUS, 2020, 174).
Há três artigos na Lei n.º 8.137/1990 que descrevem os crimes contra a ordem tributária, os quais não
possuem modalidade culposa e são de ação penal pública incondicionada.
Os dois primeiros artigos consistem em crimes praticados por particulares e o terceiro em crimes funcionais
contra a ordem tributária, ou seja, praticados por funcionários públicos.
Preliminarmente, frisa-se que pessoas jurídicas não praticam crimes contra a ordem tributária – somente
será reconhecida sua capacidade penal quando tratar-se de crimes contra o meio ambiente –, mas seus
sócios, pessoas físicas, podem ser responsabilizados, desde que comprovada sua efetiva participação na
gestão da empresa.
O artigo 1º, da Lei n.º 8.137/1990, tipifica a conduta daquele que reduz ou suprime tributos ou seus
acessórios (objeto material) por meio da realização das condutas de: omitir informação, ou prestar
declaração falsa às autoridades fazendárias; fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos,
ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; falsificar ou alterar
nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável;
elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; ou
negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de
mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.
Atenção! Embora a contribuição previdenciária seja tributo, a sua sonegação ou apropriação indébita
configuram os crimes tipificados nos artigos 337-A61 e 168-A62, do Código Penal, respectivamente.
O delito do art. 1º é crime material, cuja consumação dependerá da efetiva supressão ou diminuição do
tributo, que ocorrerá com o seu lançamento definitivo, conforme prevê a Súmula Vinculante n. 24: “Não se
tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes
do lançamento definitivo do tributo”63.
Além desses critérios, havia uma divergência entre os Tribunais Superiores com relação a um critério mais
objetivo para a aplicação do princípio da insignificância. Atualmente, pode-se afirmar que o STF e o STJ
adotam o parâmetro fixado nas Portarias n.º 75 e n.º 130/MF, de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) (ROQUE,
TÁVORA e ALENCAR, 2020, p. 285).
Confira o entendimento do STJ sobre a aplicação do critério objetivo nos casos do ICMS (tributo estadual):
61
Sonegação de contribuição previdenciária Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório,
mediante as seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela
legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado
que lhe prestem serviços; II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; III – omitir, total ou parcialmente, receitas
ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. [...]
62
Apropriação indébita previdenciária Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
63
A Súmula Vinculante n.º 24 pode ser aplicada a fatos ocorridos antes da sua publicação, isto porque se trata de consolidação da
interpretação jurisprudencial, e não de caso de retroatividade da lei mais gravosa. Nesse sentido: Jurisprudência em Teses – STJ.
Edição n. 90, AgRg no AREsp 1708693/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe 26/02/2021
e RHC 83.993/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe 25/08/2017.
64
Súmula 599 - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. (Súmula 599, CORTE ESPECIAL,
julgado em 20/11/2017, DJe 27/11/2017)
Com relação às previsões do art. 2º da Lei 8.137/1990, tem-se tipificadas as condutas de: fazer declaração
falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou
parcialmente, de pagamento de tributo; deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de
contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria
recolher aos cofres públicos; exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer
percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;
deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas
por órgão ou entidade de desenvolvimento; e de utilizar ou divulgar programa de processamento de dados
que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é,
por lei, fornecida à Fazenda Pública.
A principal diferença entre os crimes dos artigos 1º e 2º está na classificação doutrinária, ao contrário dos
crimes do artigo primeiro, o artigo segundo prevê crimes formais, ou seja, não exigem a produção do
resultado material para a consumação.
Além disso, a pena cominada ao crime do artigo segundo é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa. Assim, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, com cabimento de propostas dos
benefícios despenalizadores da Lei n.º 9.099/95 e de Acordo de Não Persecução Penal.
De mais a mais, faz importante o estudo das causas de extinção de punibilidade dos crimes em comento.
Tem-se que o parcelamento do tributo acarreta a suspensão da pretensão punitiva estatal e o seu pagamento
é causa de extinção da punibilidade, nos termos do art. 9º, da Lei n.º 10.684/2003 65.
65
Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de
dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período
em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento.
§1oA prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§2oExtingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.
Outra causa de extinção de punibilidade está prevista na Lei n.º 13.254/2016, que será aplicada aqueles que
aderirem ao Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) e que, antes da decisão criminal,
entregarem a declaração dos recursos, bens e direitos sujeitos à regularização, e pagarem o imposto e a
multa previstos na Lei supramencionada. Salienta-se que essa causa de extinção de punibilidade somente
poderá ser aplicada, dentro outros casos, aos crimes previstos no art. 1º e nos incisos I, II e V do art. 2º da
Lei nº 8.137/90, e no art. 337-A do CP.
Por fim, o art. 12, da Lei n.º 8.137/1990 elenca circunstâncias agravantes aos crimes previstos nos artigos 1º
e 2º (crimes contra a ordem tributária) e artigos 4º ao 7º (crimes contra a economia e as relações de
consumo), quais sejam: ocasionar grave dano à coletividade; ser o crime cometido por servidor público no
exercício de suas funções; ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens
essenciais à vida ou à saúde.
O entendimento do STJ quanto a essas agravantes, em concorrência com as previstas no art. 59, do Código
Penal, é no seguinte sentido:
RECURSO ESPECIAL. PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART.
1.º DA LEI N.º 8.137/90). […] TERMO A QUO DO PRAZO PRESCRICIONAL: LANÇAMENTO
DEFINITIVO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PENA-BASE. VALORAÇÃO NEGATIVA DAS
CONSEQUÊNCIAS DO DELITO. EXPRESSIVO VALOR DA SONEGAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
DEFINIÇÃO DO VALOR. CONSIDERAÇÃO DOS JUROS E MULTAS INCIDENTES. POSSIBILIDADE.
CONTINUIDADE DELITIVA. CRIMES IDÊNTICOS E COMETIDOS EM CIRCUNSTÂNCIAS SIMILARES.
CÁLCULO DOSIMÉTRICO INDIVIDUAL PARA CADA CONDUTA. DESNECESSIDADE. OBSERVADAS AS
DIRETRIZES DO ART. 68 DO CÓDIGO PENAL. SANÇÃO BASILAR ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. VALOR DO DÉBITO. FUNDAMENTO VÁLIDO. CONTINUIDADE
DELITIVA. CRITÉRIOS DISTINTOS. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. […] CONSEQUÊNCIAS DO DELITO.
MONTANTE SONEGADO SIGNIFICATIVO. JUSTIFICATIVA APTA. SUPOSTA AFRONTA AO ART. 12,
INCISO I, DA LEI N.º 8.137/90. INEXISTENTE. ARGUMENTAÇÃO DE QUE NÃO HÁ FALAR EM
CONTINUIDADE DELITIVA, NA MEDIDA EM QUE HOUVE APENAS UM AUTO DE INFRAÇÃO PARA
AVERIGUAR AS SUPOSTAS CONDUTAS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS N. 282
E 356/STF. CONTINUIDADE DELITIVA. COMETIDAS MAIS DE 7 (SETE) CONDUTAS. FRAÇÃO
ADEQUADA: 2/3 (DOIS TERÇOS). [...] 1.10. Nos crimes contra a ordem tributária, o prazo
prescricional somente se inicia com o encerramento do procedimento administrativo-fiscal e o
lançamento definitivo do crédito tributário. [...] 1.13. Na espécie, a fixação da pena-base acima
do mínimo legal foi suficientemente fundamentada, tendo sido declinado elemento que
emprestou à conduta especial reprovabilidade e que não se afigura inerente ao próprio tipo
penal, qual seja, o significativo valor sonegado, isto é, R$ 449.839,67 (quatrocentos e quarenta e
nove mil, oitocentos e trinta e nove reais e sessenta e sete centavos). Desse modo, a exasperação
da reprimenda foi devidamente justificada na valoração negativa do vetor consequências do
crime, que se afastou do normal à espécie. 1.14. O Superior Tribunal de Justiça possui
Assim, concluímos nosso breve estudo dos crimes contra a ordem tributária praticados por particulares. Na
próxima Rodada, estudaremos os crimes contra a ordem tributária praticados por funcionários públicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria,
jurisprudência e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.
Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 90: DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, ECONÔMICA E
CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO – I. Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.
Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 131: COMPILADO: LEI DE DROGAS. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.
ROQUE, Fábio et al. Legislação Criminal para concursos. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm,
2020.
JESUS, Damásio de. Parte geral/Damásio de Jesus; atualização André Estefam. – Direito penal vol. 1-37. ed.
– São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
A investigação judicial eleitoral é definida, primordialmente, para impugnação de fatos ocorridos durante a
campanha eleitoral, no período entre o deferimento do pedido de registro de candidatura e a diplomação.
A investigação judicial eleitoral sobre a qual versam os arts. 19 a 23 da Lei Complementar nº 64/90 pode ser
investigada sob seis aspectos.
Hipótese de cabimento: abuso de poder econômico ou político ou captação ilícita de sufrágio. O abuso de
poder econômico ou político é configurado em favor de candidato, partido político ou coligação, com
potencialidade lesiva sobre o pleito, resguardada a normalidade da eleição, sob pena de declaração de
inelegibilidade e cancelamento do registro de candidatura ou declaração de nulidade da diplomação, tendo
em conta a prescrição na Lei Complementar nº 64/90. A captação ilícita de sufrágio é consumada entre
candidato e eleitor, sem potencialidade lesiva sobre o pleito, resguardada a vontade do eleitor, sob pena de
multa e cancelamento do registro de candidatura ou declaração de nulidade da diplomação, tendo em vista
a previsão na Lei nº 9.504/97.
Legitimidade ativa: qualquer candidato, partido político ou coligação e Ministério Público Eleitoral.
A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igualmente titular do mesmo
poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente (art. 23, § 2º, do Estatuto, alterado pela Lei nº
13.715/2018.
A família extensa vai além da unidade pais e filhos, para encampar também outros parentes, com quem a
criança mantenha vínculo de afinidade ou de afetividade.
A família substituta é aquela que, de forma excepcional e necessária, assumiu o lugar da original. É
possibilitada através dos institutos jurídicos da guarda, tutela ou adoção, cada qual com suas características
próprias e inconfundíveis, que não podem ser mescladas para formação de institutos diferenciados. É
deferida, via de regra, a famílias nacionais, salvo no caso de adoção, em que é permitida a famílias
estrangeiras excepcionalmente (princípio da excepcionalidade da adoção internacional – a adoção nacional
é prioritária). Para a apreciação do pedido, o juiz levará em conta o grau de parentesco e a relação de
afinidade ou de afetividade, como meio de minorar as consequências da medida.
A tutela constitui o conjunto de direitos e obrigações conferidas a um terceiro (tutor), para que proteja a
pessoa de uma criança ou adolescente que não se acha sob o poder familiar. Poderá o tutor administrar os
bens do tutelado, bem como representá-lo ou assisti-lo nos atos da vida civil.
A tutela pressupõe a extinção do poder familiar, o que pode ocorrer em virtude da morte dos pais ou a
decretação de sua perda (art. 1638 do CC) ou suspensão (art. 1637 do CC), em razão de sentença judicial
proferida em procedimento próprio.
A adoção implicará no desligamento dos vínculos familiares existentes, salvo em relação aos impedimentos
matrimoniais, que permanecem preservados.
Quer seja a adoção de crianças e de adolescentes, quer seja a de adultos, será exigida a sentença judicial,
muito embora o STJ admita a adoção por escritura pública nas restritas hipóteses em que, à época da
lavratura do ato, era vigente o CC de 1916.
Podem adotar os maiores de dezoito anos, havendo a necessidade de que entre o adotante e adotando haja
diferença mínima de dezesseis anos.
A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, dispensado, porém,
em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder
familiar.
Adoção internacional: assim considerada aquela na qual o pretendente possui residência habitual em país-
parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em
Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja adotar
criança em outro país-parte da Convenção.
Caráter subsidiário da adoção internacional: somente será deferida se, a colocação em família adotiva for
a solução adequada ao caso concreto, se forem esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança
ou adolescente em família adotiva brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistência de
adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta
aos cadastros e, em se tratando de adoção de adolescente, que este seja consultado, por meios adequados
ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer
elaborado por equipe interprofissional.
A Lei nº 13.509/2017 foi responsável pela formalização do procedimento de entrega de criança para fins de
adoção.
Entrega Voluntária
Como o novo Código de Processo Civil não previu o processo cautelar como espécie processual autônoma,
há dúvidas sobre a manutenção da Lei 8.397/1992, pelo menos em sua inteireza.
Segundo Cláudio Carneiro, “[...] a medida cautelar fiscal ajuizada antes da execução assume um caráter
cautelar e deve ser substituída pela tutela provisória de urgência de caráter cautelar. Por outro lado, a
medida cautelar ajuizada dentro da execução deve continuar.”66
Dito isso, voltemos nossa atenção para o que diz os artigos 1º a 3º da Lei 8.397/92:
Art. 1° O procedimento cautelar fiscal poderá ser instaurado após a constituição do crédito,
inclusive no curso da execução judicial da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios e respectivas autarquias. (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997)
Parágrafo único. O requerimento da medida cautelar, na hipótese dos incisos V, alínea "b", e VII,
do art. 2º, independe da prévia constituição do crédito tributário.(Incluído pela Lei nº 9.532, de
1997)
Art. 2º A medida cautelar fiscal poderá ser requerida contra o sujeito passivo de crédito tributário
ou não tributário, quando o devedor: (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de
efeito)
I - sem domicílio certo, intenta ausentar-se ou alienar bens que possui ou deixa de pagar a
obrigação no prazo fixado;
III - caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens; (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997)
(Produção de efeito)
IV - contrai ou tenta contrair dívidas que comprometam a liquidez do seu patrimônio; (Redação
dada pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito)
V - notificado pela Fazenda Pública para que proceda ao recolhimento do crédito fiscal: (Redação
dada pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito)
a) deixa de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa sua exigibilidade; (Incluída pela Lei nº 9.532,
de 1997) (Produção de efeito)
66
CARNEIRO, Cláudio. Processo Tributário: administrativo e judicial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
b) põe ou tenta por seus bens em nome de terceiros; (Incluída pela Lei nº 9.532, de 1997)
(Produção de efeito)
VI - possui débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassem trinta por cento
do seu patrimônio conhecido; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito)
VII - aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública
competente, quando exigível em virtude de lei; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção
de efeito)
VIII - tem sua inscrição no cadastro de contribuintes declarada inapta, pelo órgão fazendário;
(Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito)
IX - pratica outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do crédito. (Incluído pela Lei nº
9.532, de 1997) (Produção de efeito)
Pois bem, por se tratar de uma medida cautelar, exige-se a existência da probabilidade do direito e do risco
ao resultado útil do processo.
A probabilidade do direito deve ser demonstrada com a prova literal da constituição do crédito fiscal,
conforme enuncia o artigo 3º, inciso I, do diploma legislativo, o que ocorre mediante a apresentação ao juízo
da cópia integral do processo administrativo que lhe deu origem ou mediante comprovação de que foi o
próprio sujeito passivo quem constituiu o crédito. Embora não conste de modo expresso do texto da lei, a
interpretação que se tem dado à expressão é o da necessidade da constituição definitiva do crédito
tributário.
Excepcionalmente, admite-se a utilização da cautelar fiscal também nos casos em que o crédito ainda não
foi constituído de modo definitivo, conforme determina o parágrafo único do artigo 1º. Isso se dá nos casos
em que o sujeito passivo é notificado para proceder ao recolhimento do crédito fiscal e põe ou tenta por
seus bens em nome de terceiros; ou quando aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao
órgão da Fazenda Pública quando exigível em virtude de lei67.
O risco ao resultado útil do processo resta presente quando constatada alguma das situações elencadas pelo
artigo 2º, cujo rol é exemplificativo. De fato, o inciso IX do artigo 2º possibilita essa interpretação mais
67
AgInt no AgInt no AREsp 939.120/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/10/2017,
DJe 27/11/2017)
alargada, ao dizer que a medida cautelar fiscal pode ser utilizada quando o sujeito passivo praticar outros
atos que dificultem ou impeçam a satisfação do crédito. Nesse sentido, é possível interpretar a lei da seguinte
forma: os incisos I a VIII trazem situações cuja periculosidade é presumida; nas demais hipóteses, a Fazenda
deve demonstrar que a conduta do sujeito passivo tem o condão de colocar em risco a satisfação do crédito,
conforme dispõe o inciso IX da Lei 8.397/92 e artigo 300 do CPC.
Como se observa do dispositivo, tratando-se de pessoa jurídica, a indisponibilidade dos bens também pode
recair sobre o patrimônio dos seus administradores, desde que a Fazenda Pública traga indícios consistentes
da ocorrência de alguma situação que justifique a sua responsabilização.
O parágrafo primeiro também enuncia que a indisponibilidade deve recair somente sobre os bens do ativo
permanente. Apesar da dição legal, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido como possível o bloqueio
de bens estranhos ao ativo permanente, desde que demonstrada a inexistência de outros bens capazes de
garantir o crédito fiscal.68
68
AgInt no REsp 1666373/SE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/09/2017,
DJe 27/09/2017
O artigo 5º dispõe sobre a competência para processar e julgar a medida cautelar fiscal, e o artigo 6º traz os
requisitos necessários para recebimento da inicial:
Art. 5° A medida cautelar fiscal será requerida ao Juiz competente para a execução judicial da
Dívida Ativa da Fazenda Pública.
Parágrafo único. Se a execução judicial estiver em Tribunal, será competente o relator do recurso.
Como se pode observar, a Fazenda deve indicar na inicial, desde logo, as provas que pretende produzir.
Art. 7° O Juiz concederá liminarmente a medida cautelar fiscal, dispensada a Fazenda Pública de
justificação prévia e de prestação de caução.
Parágrafo único. Do despacho que conceder liminarmente a medida cautelar caberá agravo de
instrumento.
Por óbvio, a medida cautelar só deve ser deferida nos casos em que efetivamente restar demonstrada a
ocorrência dos pressupostos acima enunciados. Da decisão que deferir ou indeferir o pedido, cabe o recurso
de agravo de instrumento, nos termos do artigo 1.015, inciso I, do CPC.
Decidida a liminar, deve o requerido ser citado, conforme enuncia o artigo 8º e 9º da Lei 8.397/92:
Art. 8° O requerido será citado para, no prazo de quinze dias, contestar o pedido, indicando as
provas que pretenda produzir.
Art. 9° Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido, como
verdadeiros, os fatos alegados pela Fazenda Pública, caso em que o Juiz decidirá em dez dias.
Parágrafo único. Se o requerido contestar no prazo legal, o Juiz designará audiência de instrução
e julgamento, havendo prova a ser nela produzida.
O artigo 10 regulamenta a substituição de bem que foi tornado indisponível por força da cautelar:
Art. 10. A medida cautelar fiscal decretada poderá ser substituída, a qualquer tempo, pela
prestação de garantia correspondente ao valor da prestação da Fazenda Pública, na forma do
art. 9° da Lei n° 6.830, de 22 de setembro de 1980.
Parágrafo único. A Fazenda Pública será ouvida necessariamente sobre o pedido de substituição,
no prazo de cinco dias, presumindo-se da omissão a sua aquiescência.
Analogicamente, também incide à hipótese o artigo 15 da LEF, que dispõe no seguinte sentido:
Assim, se o sujeito passivo oferecer depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia, a substituição
do bem independe da aquiescência da Fazenda Pública.
Quando a medida cautelar for concedida em caráter preparatório, incide os artigos 11 e 12 da Lei 8.397/92:
Art. 11. Quando a medida cautelar fiscal for concedida em procedimento preparatório, deverá a
Fazenda Pública propor a execução judicial da Dívida Ativa no prazo de sessenta dias, contados
da data em que a exigência se tornar irrecorrível na esfera administrativa.
Art. 12. A medida cautelar fiscal conserva a sua eficácia no prazo do artigo antecedente e na
pendência do processo de execução judicial da Dívida Ativa, mas pode, a qualquer tempo, ser
revogada ou modificada.
Parágrafo único. Salvo decisão em contrário, a medida cautelar fiscal conservará sua eficácia
durante o período de suspensão do crédito tributário ou não tributário.
Desse modo, deve a Fazenda Pública propor a execução fiscal no prazo de 60 dias. O parágrafo único do
artigo 12 esclarece que a medida cautelar conserva sua eficácia durante o período de suspensão do crédito
tributário ou não tributário. Assim, por exemplo, se depois da cautelar o contribuinte aderir ao
parcelamento, isso, por si só, não autoriza o levantamento dos bens tornados indisponíveis.
Ademais, nos termos do artigo 14, os autos do procedimento cautelar fiscal devem ser apensados aos do
processo de execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública.
I - se a Fazenda Pública não propuser a execução judicial da Dívida Ativa no prazo fixado no art.
11 desta lei;
III - se for julgada extinta a execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública;
Parágrafo único. Se, por qualquer motivo, cessar a eficácia da medida, é defeso à Fazenda Pública
repetir o pedido pelo mesmo fundamento.
Os artigos 15 e 16, por sua vez, tratam das consequências do indeferimento da medida cautelar fiscal:
Art. 15. O indeferimento da medida cautelar fiscal não obsta a que a Fazenda Pública intente a
execução judicial da Dívida Ativa, nem influi no julgamento desta, salvo se o Juiz, no
procedimento cautelar fiscal, acolher alegação de pagamento, de compensação, de transação,
de remissão, de prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer
outra modalidade de extinção da pretensão deduzida.
Art. 16. Ressalvado o disposto no art. 15, a sentença proferida na medida cautelar fiscal não faz
coisa julgada, relativamente à execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública.
Como se pode observar, o julgamento da cautelar não influi no crédito do fisco, salvo se reconhecida a
existência de alguma hipótese extintiva.
Por fim, o artigo 17 traz o recurso cabível contra a sentença que julgar a cautelar fiscal:
Art. 17. Da sentença que decretar a medida cautelar fiscal caberá apelação, sem efeito
suspensivo, salvo se o requerido oferecer garantia na forma do art. 10 desta lei.
Avançando na importância sobre o alcance da coisa julgada, a questão vai além do art. 16 da lei 7.347/85,
cuja constitucionalidade está sendo decidida pelo Supremo Tribunal Federal, conforme o tema aprofundado
da edição anterior. Um dos grandes problemas sobre a discussão do alcance do art. 16 da LACP reside na
estabilidade do microssistema processual coletivo. Isso porque, sabe-se que no microssistema processual
coletivo, há a possibilidade de se utilizar uma lei de determinado tema em outro, desde que não o contrarie.
Coisa julgada, em síntese, é o fenômeno que torna imutável os efeitos da sentença. Nesse escopo e a
preservar a estabilidade do microssistema processual, coletivo, há diversos dispositivos legais que caminham
no mesmo sentido.
Assim, na lei 7.357/85: Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
Na lei 4.717/65: Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto
no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer
cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Na lei 7.853/89: Art. 4º A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível erga omnes, exceto no
caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova
prova.
Na lei 8.078/90: Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada: I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
Nesse sentido, observa-se que, em que pese o art. 16 da LACP seja o único a tratar da limitação da coisa
julgada erga omnes, a jurisprudência já vinha se encarregando de conferir uma interpretação conforme o
microssistema processual coletivo, mitigando a limitação. Desta forma, ante as leis mencionadas, resta clara
a ideia em relação ao alcance da coisa julgada em ações coletivas que, caso fosse, de fato, considerada
constitucional a redação alterada do art. 16 da LACP, isso geraria instabilidade no microssistema processual
coletivo.
O processo coletivo brasileiro não constitui um ramo processual à parte, estando inserido no contexto do
direito processual civil. A par disto, importante mencionar que o processo coletivo deve obediência, por
certo, a todos os princípios constitucionais que permeiam o direito processual como um todo, como o devido
processo legal, contraditório e ampla defesa, juiz natura, dentre outros. Com efeito, há uma série de outros
princípios, chamados de universais, que denotam a verdadeira essência do processo coletivo. Assim,
destacam-se:
Princípio lógico: escolha dos atos e formas mais aptas para descobrir a verdade e evitar erros;
Princípio político: prover os direitos privados de máxima garantia social com o mínimo sacrifício
de liberdade individual;
Princípio econômico: fazer com que as lides não sejam tão dispendiosas a ponto de se poder dizer
que a justiça civil é feita só para os ricos. (Paulo Roberto de Gouvêa Medida – Teoria Geral do
Processo. Juspodivm 3ª ed. 2017. p. 80)
Da leitura dos princípios selecionados, verifica-se que esses traduzem, em boa parte a verdadeira essência
de formatação do processo coletivo brasileiro. As ideias de igualdade, economia, logicidade, dentre outras,
vão ao encontro dos fundamentos do processo coletivo, seno forçoso, ao se fazer uma leitura do
microssistema processual coletivo, enxergá-lo à luz também dos referidos princípios.
• Autonomia da vontade das partes: surge como fonte de direitos e obrigações, representando a
possibilidade reconhecida aos contratantes, para adotar, em seus relacionamentos na ordem privada,
as estipulações que julgarem mais convenientes. Permite que as partes escolham as cláusulas sobre
assuntos que não são mencionadas na lei ou, ainda, escolham pela criação de um contrato que sequer
estejam previstos no arcabouço jurídico brasileiro. Está limitada pela função social do contrato, nos
termos do art. 421 do Código Civil, e pela Supremacia da Ordem Pública. É possível dizer, ainda, que:
(c) têm ampla liberdade para estipular, de comum acordo, as cláusulas do contrato, desde que não haja
impedimento legal.
• Supremacia da Ordem pública: limitador à autonomia de vontade das partes. Todavia, cabe frisar que
o Estado deverá intervir minimamente, nos moldes do parágrafo único do art. 421.
Artigo 421. [...] Parágrafo único CC. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio
da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.
• Função Social do Contrato: também limita a autonomia contratual, visando manter o equilíbrio social
e evitar que a liberdade contratual seja exercida de maneira abusiva. É possível dizer, então, que
contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a direitos ou
interesses, sejam eles difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da relação
negocial. Sua não observância leva à nulidade do contrato.
• Onerosidade excessiva ou princípio da revisão dos contratos: se contrapõe à obrigatoriedade dos
contratos, permitindo aos contratantes, em casos excepcionais, pleitearem a intervenção do Poder
Artigo 422. CC Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
2. Regras Gerais
Os contratos civis e empresariais se presumem paritários e simétricos, de modo que os empresários são
considerados iguais, não havendo parte vulnerável na relação contratual empresarial. A legislação
estabelece, deste modo, as seguintes garantias:
• as partes negociantes podem estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas
negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução;
• a alocação de riscos definida pelas partes deverá ser respeitada e observada;
• a revisão contratual somente se realizará excepcionalmente.
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também
presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta
ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
No que tange à aceitação, quando feita fora do prazo e apresente modificações, importará em nova
proposta. Contudo, se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o
proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Art. 433. CC Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente
a retratação do aceitante.
3 - Da Extinção do Contrato
• Distrato: acordo entre as partes contratantes para extinguir o vínculo criado pela realização do
contrato.
Artigo 472. CC O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.
Exceção de Contrato não Cumprido: nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida
a sua obrigação, pode exigir o adimplemento da do outro. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a
uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a
prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela
satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
Resolução por Onerosidade Excessiva: se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa,
com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá
o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Se, no contrato, as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação
seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
Artigo 479. CC A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente
as condições do contrato.
Aos membros do Ministério Público são destinadas as garantias funcionais da vitaliciedade, inamovibilidade
e irredutibilidade de subsídio.
A respeito, vitalícios são os cargos públicos dos quais deriva a maior segurança, uma vez que os titulares que
houverem adquirido a vitaliciedade pelo exercício do cargo vitalício durante dois anos podem perdê-lo por
decisão judicial transitada em julgado de natureza cível, não se lhe aplicando a decretação da sua perda
como efeito secundário da condenação penal definitiva.
Os membros do Ministério Público têm a garantia que lhes nega a possibilidade de remoção compulsória de
um órgão de execução para outro, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão de organismo
colegiado, pelo voto da maioria absoluta de seus membros.
O subsídio, com fundamento nos arts. 37, § 11, in fine, e 39, § 4º, da Constituição da República, é definido
como modalidade de retribuição pecuniária fixada em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer outra
espécie remuneratória, exceto as de natureza indenizatória. Nosso entendimento é de que a irredutibilidade
não se limita ao valor nominal, mas projeta-se sobre o valor real, tanto que o subsídio deve ser objeto de
reajustes periódicos, em ordem a preservar a retribuição pecuniária da inflação.
O decreto 6.523/2008 regulamenta o serviço de atendimento ao consumidor, conhecido como SAC. Trata-
se de um decreto que visa a observância de direitos básicos do consumidor, como o direito à informação,
assim como sua proteção a práticas abusivas.
Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, e fixa normas gerais
sobre o Serviço de Atendimento ao Consumidor - SAC por telefone, no âmbito dos fornecedores
de serviços regulados pelo Poder Público federal, com vistas à observância dos direitos básicos
do consumidor de obter informação adequada e clara sobre os serviços que contratar e de
manter-se protegido contra práticas abusivas ou ilegais impostas no fornecimento desses
serviços.
O decreto em apreço impõe aos prestadores de serviços uma padronização de protocolos e atendimento, na
finalidade de observar os direitos do consumidor e sua liberdade de escolha. Assim, temas referentes à
informação, cancelamento de serviços e outras informações podem ser realizados via SAC. Na forma do art.
2º do decreto 6.523/2008, a finalidade do SAC:
Art. 2o Para os fins deste Decreto, compreende-se por SAC o serviço de atendimento telefônico
das prestadoras de serviços regulados que tenham como finalidade resolver as demandas dos
consumidores sobre informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento de contratos
e de serviços.
Com efeito, trata-se de uma importante regulamentação que vem a dar vida aos direitos básicos estipulados
por lei, desincentivando práticas abusivas no mercado e nas relações de consumo.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
Vamos lá!
Comentários
A eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas é designada de “horizontalidade” ou “aplicação
entre particulares” dos direitos fundamentais, como, por exemplo, pode ser detectado no julgamento da
Reclamação nº 44.008, sob a relatoria do Min. Ricardo Lewandowski.
JURISPRUDÊNCIA
“SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO DECORREM DE PACTO INTERNACIONAL SUBSCRITO PELO BRASIL, O QUAL NÃO FAZ
DISTINÇÃO, PARA ESSE FIM, ENTRE SETOR PÚBLICO E PRIVADO. DE OUTRA PARTE, O PRINCÍPIO DA HORIZONTALIDADE DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS PÕE NO COSTADO, EMPARELHADA, A PROTEÇÃO DO OBREIRO EXERCENTE DE TRABALHO DE QUALQUER
NATUREZA. ASSIM, O BRAÇO DA REGULAMENTAÇÃO APROPRIADA, EMITIDA PELO MINISTÉRIO DO TRABALHO (...), COM STATUS
DE LEI, EM VIRTUDE DO FENÔMENO DA DESLEGALIZAÇÃO, EM QUE O PODER LEGISLATIVO OUTORGA A ÓRGÃO TÉCNICO A
ATRIBUIÇÃO REGULAMENTADORA, ALCANÇA O SETOR PÚBLICO” (STF, RCL-MC Nº 44.008/PI, REL. MIN. RICARDO
LEWANDOWSKI, J. 22.10.2020, DJU 26.10.2020).
Questão 2. Assinale, dentre as opções abaixo, aquela que indica uma característica incorreta dos direitos
e garantias tidos como fundamentais previstos na Constituição da República:
a) Históricos.
b) Cumuláveis ou concorrentes.
c) Inalienáveis.
d) Absolutos.
e) Irrenunciáveis.
Comentários
Nessa ordem de ideias, a relatividade informa a fenomenologia da colisão de direitos fundamentais, que
deve ser solucionada na dimensão do peso, pelo mecanismo da ponderação, com a finalidade de obter a
harmonização entre os direitos em conflito.
Comentários
Em regra, os direitos prestacionais são encontrados dentre os direitos sociais, definidos como direitos
fundamentais próprios do homem-social, porque dizem respeito a um complexo de relações sociais,
econômicas ou culturais que o indivíduo desenvolve para a realização da vida em todas as suas
potencialidades, sem as quais o seu titular não poderia alcançar e fruir dos bens de que necessita, tais como
os direitos sociais em sentido estrito, econômicos e culturais.
JURISPRUDÊNCIA
Comentários
Os direitos individuais de que trata o art. 5º da Constituição da República englobam o direito à liberdade, o
direito de propriedade, o direito à vida e o direito à segurança.
Em razão disso, não consiste em exemplo de direito individual o direito à nacionalidade sobre o qual versa a
alternativa B.
Comentários
São privativos de brasileiro nato os cargos de: (i) Presidente e Vice-Presidente da República; (ii) Presidente
da Câmara dos Deputados; (iii) Presidente do Senado Federal; (iv) Ministro do Supremo Tribunal Federal; (v)
carreira diplomática; (vi) oficial das Forças Armadas e (vii) Ministro de Estado da Defesa, a teor do art. 12, §
3º, da Constituição Federal.
JURISPRUDÊNCIA
“OS BRASILEIROS NATURALIZADOS, SALVO ALGUMAS EXCEÇÕES, POSSUEM OS MESMOS DIREITOS DOS BRASILEIROS NATOS,
CONSOANTE DISPÕE O ARTIGO 12, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. IN CASU, O CARGO PÚBLICO EFETIVO PARA O QUAL O
IMPETRANTE FOI APROVADO NÃO SE ENCONTRA ELENCADO NO ROL DOS CARGOS PRIVATIVOS DE BRASILEIROS NATOS, DE MODO
QUE INEXISTE NORMA EXPRESSA QUE, DEFERIDA A NATURALIZAÇÃO, CONSTITUA ÓBICE PARA A POSSE DO IMPETRANTE” (STF, ARE
Nº 756.172/ES, REL. MIN. DIAS TOFFOLI, J. 25.11.2013, DJU 04.12.2013).
Comentários
Gabarito: B
a) ERRADA. A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo
das irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição
ao crédito organizados e mantidos pela União. O processo de contas é essencial para a apuração de
responsabilidades. Não se pode impor sanção sem anterior identificação de responsáveis. STF. Plenário. ACO
2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988).
b) CORRETA.
c) ERRADA.
Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral
ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de
cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública
direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal.
d) ERRADA.
Súmula 339 STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.
e) ERRADA.
Este princípio não impede a arbitragem da Administração visto que em alguns casos previstos em lei é
facultado ao agente a liberdade de atuação, dentro dos limites previstos em lei. A Lei 13.129/15 alterou a lei
de arbitragem (Lei 9.307/96), que passou a prever expressamente a possibilidade de utilização da arbitragem
por entidades da Administração Pública Direta e Indireta para dirimir conflitos relativos a direitos
patrimoniais disponíveis.
Comentários
Gabarito: A
I - CORRETA. A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto,
se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim,
a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do
contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732).
II-CORRETA. Aqui aborda-se o princípio da autotutela, que prevê a possibilidade de a Administração Pública
anular os seus atos quando ilegais, ou revogá-los quando são inoportunos ou inconvenientes, sem que seja
necessária a interferência do Poder Judiciário. Neste sentido, a Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal
dispõe que: "A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial".
III-ERRADA. Os conflitos entre princípios são solucionados à luz do critério da ponderação de valores e
interesses no caso concreto, de forma a definir qual a melhor solução a ser adotada em cada situação. Já os
conflitos entre as regras devem ser resolvidos no plano da validade das normas (antinomia jurídica), ou seja,
se uma regra é válida, deve-se fazer o que ela exige, excluindo qualquer outra que disponha em contrário.
IV- ERRADA. Não se admite a aplicação do princípio da insignificância quando se tratar de crimes contra a
Administração Pública, por estarmos diante de bem jurídico indisponível.
Comentários
Gabarito: E.
A-INCORRETA. Em regra, o silêncio não é um ato, e sim um fato administrativo, pois pode acarretar efeitos
no Direito Administrativo. Contudo, o silêncio pode se revelar como uma manifestação de vontade, isto é,
um ato administrativo, quando assim a lei determinar. Ocorrendo o silêncio administrativo em atos
discricionários, o Poder Judiciário não pode substituir o administrador, pois o Poder Judiciário não pode
dispor sobre o mérito administrativo do ato, podendo tão somente conceder prazo para que a Administração
se manifeste. Todavia, caso esteja diante de um ato vinculado, o Poder Judiciário pode conferir o que foi
==10be0c==
O STJ possui decisões no sentido de que, mesmo se tratando de ato discricionário, o Poder Judiciário pode
conferir a autorização pretendida pelo interessado em caso da mora administrativa.
B-INCORRETA. Os atributos do ato administrativo são características que permitem afirmar que tais atos se
submetem a um regime jurídico de direito público, distinguindo-os dos atos de direito privado.
D-INCORRETA. A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei (decorre do
princípio da legalidade), presume-se até prova em contrário – presunção relativa ou ainda presunção juris
tantum – que os atos administrativos foram admitidos com observância da lei.
E-CORRETA. Servidor público. Aposentadoria. Ato complexo. Súmula Vinculante 3. Controle Externo pelo
TCU. Decurso superior a cinco anos. Violação da ampla defesa e do contraditório.
se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, criadas para prestação de serviços
públicos não exclusivos de Estados, nas áreas definidas legalmente, é correto:
a) A Lei nº 9.790/99 veda, expressamente, a qualificação de determinas entidades como OSCIPs. Dentre elas:
as sociedades comerciais; os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria
profissional; as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações; as entidades de benefício
mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; as entidades
e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados; e as instituições hospitalares privadas não
gratuitas e suas mantenedoras.
b) Constituem impedimento à qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público as
operações destinadas a microcrédito realizadas com instituições financeiras na forma de recebimento de
repasses, venda de operações realizadas ou atuação como mandatárias.
c) Não é permitida a participação de servidores públicos na composição de conselho ou diretoria de
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
d) A OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) celebra contrato de gestão.
e) Os responsáveis pela fiscalização do Termo de Parceria, ao tomarem conhecimento de qualquer
irregularidade ou ilegalidade na utilização de recursos ou bens de origem pública pela organização parceira,
darão imediata ciência ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público, sob pena de responsabilidade
subsidiária.
Comentários
Gabarito: A
A-CORRETA.
Art. 2o Não são passíveis de qualificação como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público, ainda que se dediquem de qualquer forma às atividades descritas no art. 3o desta Lei:
I - as sociedades comerciais;
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria profissional;
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, práticas e visões
devocionais e confessionais;
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações;
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo
restrito de associados ou sócios;
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados;
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras;
VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas mantenedoras;
IX - as organizações sociais;
X - as cooperativas;
XI - as fundações públicas;
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por órgão público
ou por fundações públicas;
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema
financeiro nacional a que se refere o art. 192 da Constituição Federal.
B-INCORRETA.
Art. 2º, Parágrafo único, Lei nº 9.790/1999. Não constituem impedimento à qualificação como
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público as operações destinadas a microcrédito
realizadas com instituições financeiras na forma de recebimento de repasses, venda de
operações realizadas ou atuação como mandatárias. (Incluído pela Lei nº 13.999, de 2020)
C- INCORRETA.
Art. 4º, Parágrafo único, Lei nº 9.790/1999. É permitida a participação de servidores públicos na
composição de conselho ou diretoria de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
(Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
D- INCORRETA.
A OSCIP celebra termo de parceria (art.9º, Lei nº 9.790/1999), enquanto a OS celebra contrato de gestão.
E- INCORRETA.
Art. 12, Lei nº 9.790/1999. Os responsáveis pela fiscalização do Termo de Parceria, ao tomarem
conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na utilização de recursos ou bens de
origem pública pela organização parceira, darão imediata ciência ao Tribunal de Contas
respectivo e ao Ministério Público, sob pena de responsabilidade solidária.
Questão 5. Assinale a alternativa INCORRETA considerando o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça sobre a intervenção do Estado na propriedade privada.
a) O ato de tombamento geral não precisa individualizar os bens abarcados pelo tombo, pois as restrições
impostas pelo Decreto-Lei n. 25/1937 se estendem à totalidade dos imóveis pertencentes à área tombada.
b) Inexistindo ofensa à harmonia estética de conjunto arquitetônico tombado, não há falar em demolição de
construção acrescida.
c) Os juros compensatórios incidem pela simples perda antecipada da posse, no caso de servidão
administrativa.
d) Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de limitações administrativas.
e) Admite-se a possibilidade de construções que não afetem a prestação do serviço público na faixa de
servidão (art. 3º do Decreto n. 35.851/1954).
Comentários
Gabarito: C
A-CORRETA.
O ato de tombamento geral não precisa individualizar os bens abarcados pelo tombo, pois as
restrições impostas pelo Decreto-Lei n. 25/1937 se estendem à totalidade dos imóveis
pertencentes à área tombada.
STJ. Jurisprudência em Teses, edição n. 127 (intervenção do estado na propriedade privada).
B-CORRETA.
C-INCORRETA.
e, nessa extensão, negar-lhe provimento. (STJ. AREsp 927490/RS, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/06/2018, DJe 27/06/2018).
D-CORRETA.
E-CORRETA.
Admite-se a possibilidade de construções que não afetem a prestação do serviço público na faixa de servidão
(art. 3º do Decreto n. 35.851/1954).
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. AFASTAMENTO DE PERÍCIA ANTERIOR. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO. CONSTRUÇÃO DE PEQUENO PORTE. EXAME DA COMPATIBILIDADE ENTRE A
CONSTRUÇÃO E A FINALIDADE DA SERVIDÃO. DESCABIMENTO. SÚMULA 7/STJ.
1. Inexiste a omissão sobre o afastamento de perícia anterior,
matéria expressamente tratada pelo acórdão recorrido.
2. Esta Corte admite a possibilidade de construções de pequeno porte
ou que não afetem a prestação do serviço público na faixa de
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo
feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume
de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição, de acordo com o artigo 191 do Código Civil.
A alternativa B é verdadeira, porque, como visto acima, os prazos de prescrição podem ser objeto de
renúncia, mas, segundo o artigo 192 do Código Civil, não podem ser alterados por acordo das partes.
A alternativa C é falsa, porque quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, conforme intelecção do artigo 200 do Código
Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque a interrupção da prescrição pode se dar por despacho do juiz, mesmo
incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual, na
linha do artigo 202, I, do Código Civil.
A alternativa E é verdadeira, porque preceitua o artigo 202, “caput”, do Código Civil que a interrupção da
prescrição somente poderá ocorrer uma vez.
Questão 2. No que se refere aos elementos do pagamento (objeto, tempo, lugar e prova), marque a
alternativa incorreta:
a) Na hipótese de perda do título cuja devolução constitua quitação, pode o devedor reter o pagamento sob
a exigência de declaração do credor que inutilize o título desaparecido.
b) É possível a desconsideração da quitação do débito quando, mesmo ocorrida a devolução do título que o
originou, o credor provar, em sessenta dias, o inadimplemento.
c) A penhora de bem hipotecado em execução por outro credor torna legítima a cobrança do débito, ainda
que não implementado o prazo de seu vencimento.
d) A realização do pagamento, de forma reiterada, em local diverso do convencionado, implica presunção
de renúncia do credor quanto ao previsto no contrato.
e) São nulas as convenções de aumento progressivo de prestações sucessivas, podendo o juiz, a pedido da
parte, corrigir o seu valor, de modo a assegurar, quanto possível, o valor real da prestação.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este,
poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido (art.
321 do CC).
A alternativa B é verdadeira, porque a entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Ficará,
contudo, sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento
(art. 324 do CC).
A alternativa C é verdadeira, porque ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo
estipulado no contrato ou marcado no Código Civil se os bens, hipotecados ou empenhados, forem
penhorados em execução por outro credor, conforme o art. 333, “caput”, II, do Código Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia
do credor relativamente ao previsto no contrato (art. 330 do CC).
A alternativa E é falsa, porque é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas (art.
316 do CC). Trata-se, aliás, de convenção firmada na formação do contrato, o que não se confunde com a
superveniência de desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua
execução, por motivos imprevisíveis, hipótese esta, sim, que confere ao juiz o poder de corrigi-lo, a pedido
da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação (art. 317 do CC).
c) A insolvência do devedor principal não afasta o benefício de ordem em favor do fiador, o qual pode, ao
ser demandado para pagamento da dívida, exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados
os bens do devedor, respeitando-se, nesse caso, a classificação do respectivo crédito no rol de preferências.
d)Em regra, a obrigação do fiador não passa aos herdeiros, vez que a fiança representa contrato
personalíssimo, destinado a garantir dívida de titularidade originária de outrem.
e) Não pode o fiador opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, visto que seu vínculo pessoal cinge-
se ao afiançado, com quem firmou relação jurídica direta.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque, nos termos do artigo 820 do Código Civil, pode-se estipular a fiança,
ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade.
A alternativa B é falsa, porque as dívidas futuras podem ser objeto de fiança; mas o fiador, neste caso, não
será demandado senão depois que se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor (art. 821 do CC).
A alternativa C é falsa, porque, em regra, o fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir,
até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor (art. 827, “caput”, do CC).
Entretanto, não aproveita este benefício ao fiador se o devedor for insolvente, ou falido (art. 828, III, do CC).
A alternativa D é falsa, porque a obrigação do fiador passa aos herdeiros; mas a responsabilidade da fiança
se limita ao tempo decorrido até a morte do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança (art. 836 do
CC). Com isso, entende-se que, de fato, o contrato de fiança é personalíssimo, o que denota, portanto, que
se extingue com a morte do fiador, mas as obrigações vencidas enquanto era ele vivo transmitem-se aos
herdeiros, até os limites da herança.
A alternativa E é falsa, porque o fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, e as
extintivas da obrigação que competem ao devedor principal, se não provierem simplesmente de
incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa menor (art. 837 do CC). Demais disso, tem-se
que o contrato de fiança é complexo, pois envolve duas relações jurídicas: uma, entre o fiador e o afiançado;
outra, entre o fiador e o credor.
Questão 4. Considere a seguinte situação hipotética: Marcelo, após cometer crime de homicídio contra
Márcia, foi condenado, por sentença definitiva, ao pagamento de pensão mensal aos filhos da vítima.
Ocorre que, ultrapassado o prazo para realização da obrigação, Marcelo não adimpliu a prestação devida
aos descendentes da ofendida, ora credores, motivo pelo qual estes promoveram o cumprimento da
sentença condenatória e postularam a decretação de sua prisão civil. Com base nisso, marque a alternativa
que discorre corretamente sobre a viabilidade do emprego desse meio coercitivo no caso em espécie, à
luz do entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
a) Tendo em vista a natureza alimentar da prestação devida, mostra-se perfeitamente cabível a decretação
da prisão civil de Marcelo, a fim de compeli-lo à satisfação da obrigação.
b) Ainda que decorrente de ato ilícito, por se tratar de prestação alimentícia, a qual se presta a garantir a
sobrevivência dos credores, pode o juiz decretar a prisão civil de Marcelo, desde que doloso, excluído o ato
culposo, em razão da gravidade minorada do ato.
c) Muito embora possua o débito caráter alimentar, a decretação da prisão civil de Marcelo sujeita-se à
comprovação pelos filhos da vítima de que do respectivo valor efetivamente dependa a sua subsistência.
d) A decretação da prisão civil de Marcelo impõe-se ao adimplemento da prestação alimentícia, cujo
arbitramento, nesta hipótese, segue uma quantia fixa, segundo a extensão do dano suportado por Márcia, e
não com base no binômio necessidade-possibilidade.
e) É descabida a decretação da prisão civil de Marcelo, uma vez que os alimentos devidos em decorrência de
ato ilícito possuem natureza indenizatória, o que afasta a possibilidade de emprego desse meio coercitivo.
Comentários
A alternativa E é a verdadeira, pois “não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos devidos
em razão da prática de ato ilícito”. STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
01/09/2020 (Info 681). Isso porque a possibilidade de emprego desse meio coercitivo deve observância à
origem do débito alimentar, se legítimos (devidos por força de vínculo familiar estabelecido em lei);
voluntários/negociais (derivados de negócio jurídico); ou indenizatórios (em razão de ato ilícito), sendo que
somente os primeiros autorizam a imposição de prisão civil, mormente por se tratar de medida excepcional
e taxativa. A natureza indenizatória dos alimentos decorrentes de ato ilícito é demonstrada pelos artigos
948, 950 e 951 do Código Civil.
Questão 5. A par das distinções entre as hipóteses de nulidade e anulabilidade do matrimônio, pode-se
afirmar que é nulo o casamento:
a) De quem não completou a idade mínima para casar.
b) Do incapaz de consentir ou de manifestar, de modo inequívoco, o consentimento.
c) Por incompetência da autoridade celebrante.
d) Do enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil.
e) Por infringência de impedimento.
Comentários
A alternativa E é a verdadeira, pois em consonância com o artigo 1.548, II, do Código Civil. As hipóteses
contidas nas alternativas A, B e C constituem, na realidade, causas de anulabilidade do casamento, conforme
o artigo 1.550, I, IV e VI, respectivamente. Por fim, a hipótese prevista na alternativa D, antes disposta no
artigo 1.548, I, do Código Civil, foi revogada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15). Trata-
se de questão que estimula a absorção do tema aprofundado que acima se expôs.
b) É possível a formulação de reconvenção contra a parte autora que figure meramente como substituta
processual, contanto que o réu se apresente como titular de direito em face do substituído.
c) A propositura da reconvenção pode se embasar na existência de conexão entre a pretensão própria a ser
deduzida e o fundamento da defesa, não se fazendo imprescindível a existência de conexão entre aquela e
a ação principal.
d) Embora não condicionada ao prosseguimento ou sucesso da ação principal, a reconvenção deve estrita
obediência aos limites subjetivos determinados por aquela, não podendo haver, em seu âmbito, ampliação
do polo ativo ou passivo.
e) As ações meramente declaratórias, apesar de materialmente dúplices, não impedem a propositura de
reconvenção.
Comentários
A alternativa A é verdadeira. Veja-se: STJ. 3ª Turma. REsp 1.690.216-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680).
A alternativa B é verdadeira, porque, se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar ser
titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na
qualidade de substituto processual, com fulcro no artigo 343, §5º, do Código de Processo Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque, na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar
pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa, de acordo com o artigo
343, “caput”, do Código de Processo Civil.
A alternativa D é falsa, porque, de fato, a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça
o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção (art. 343, §2º, CPC).
Todavia, a reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro e pelo réu em litisconsórcio com terceiro
(art. 343, §3º e §4º, Código de Processo Civil).
A alternativa E é verdadeira, porque cabe reconvenção em ação declaratória, segundo teor da súmula 258
do Supremo Tribunal Federal, devendo-se ponderar, não obstante, que, na reconvenção, deve o reconvinte
formular pedido que não tenha a natureza declaratória, dado que as ações declaratórias são materialmente
dúplices, o que esvaziaria a existência de interesse processual quanto à reconvenção, enquanto ação
autônoma.
d) É desnecessária a citação de interessados na produção da prova ou no fato a ser provado, quando não se
verificar a existência de caráter contencioso.
e) No campo da antecipação da prova, não é dado ao juiz se pronunciar sobre a ocorrência ou a inocorrência
do fato, mas tão somente advertir os interessados sobre as respectivas e possíveis consequências jurídicas.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a produção antecipada de prova será admitida nos casos, dentre outros,
em que a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de
solução de conflito e o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação, na
forma do artigo 381, “caput”, II e III, do Código de Processo Civil.
A alternativa B é verdadeira, porque a produção antecipada da prova não previne a competência do juízo
para a ação que venha a ser proposta, nos moldes do artigo 381, §3º, do Código de Processo Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque, neste procedimento, não se admitirá defesa ou recurso, salvo contra
decisão que indeferir totalmente a produção da prova pleiteada pelo requerente originário, consoante o
artigo 382, §4º, do Código de Processo Civil.
A alternativa E é falsa, porque o juiz não se pronunciará sobre a ocorrência ou a inocorrência do fato, nem
sobre as respectivas consequências jurídicas. É o que prevê o artigo 382, §2º, do Código de Processo Civil.
Comentários
A alternativa A é verdadeira. Veja-se: STJ. 2ª Seção. REsp 1.717.213-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 03/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1022) (Info 684).
A alternativa B é falsa. Veja-se: STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 10/03/2020 (Info 668).
A alternativa C é verdadeira. Veja-se: STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.800-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 18/02/2020 (Info 666).
A alternativa D é verdadeira. Veja-se: STJ. 3ª Turma. REsp 1.717.387-PB, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 08/10/2019 (Info 658).
A alternativa E é verdadeira. Veja-se: STJ. 3ª Turma. REsp 1.757.123-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
13/08/2019 (Info 654).
Comentários
Gabarito: D
I A Súmula 599/STJ prevê que o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração
pública; todavia, a jurisprudência do mesmo tribunal entende cabível o princípio da insignificância aos crimes
tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$
20.000,00 (vinte mil reais) – STJ/ REsp 1.688.878-SP/Informativo 622.
II "Em se tratando de elementar do crime de peculato, é perfeitamente admissível, segundo o texto do art.
30 do Código Penal, a comunicação da circunstância da função pública aos co-autores e partícipes do crime,
inclusive quanto àquele estranho ao serviço público" (HC 30.832/PB, Rel. Min. LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, DJ 19/04/2004, p. 219), desde que esses tenham ciência da condição de funcionário público
daqueles.
III O bem jurídico tutelado pelo art. 312 do Código Penal é a própria Administração Pública, em especial, o
erário e a moralidade pública. O delito de peculato não possui cunho exclusivamente patrimonial, objetiva,
outrossim, o resguardo da probidade administrativa, a qual não pode ser ressarcida (HC n. 88.959/RS,
Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 6/10/2009).
V O crime de corrupção passiva, delito formal que se consuma com a prática de um dos verbos nucleares
previstos no art. 317 do Código Penal, refere-se ao crime praticado por funcionário público, lato sensu, contra
a administração pública e ocorre quando este, no exercício de suas funções ou em razão delas e até mesmo
antes de assumi-la, solicita ou recebe vantagens, mesmo que seja por promessas, para praticar, omitir ou
retardar determinado ato de ofício. (STJ - AgRg no REsp 1519531 / SP)
Questão 2. A propósito dos crimes contra a DIGNIDADE SEXUAL, analise as proposições abaixo e, em
seguida, assinale a opção correta:
I. O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos, salvo se realizado com consentimento para a prática do ato, tendo ambos os envolvidos
experiência sexual anterior.
II. O estado de sono, que diminua a capacidade da vítima de oferecer resistência, caracteriza a
vulnerabilidade prevista no art. 217-A, § 1º, do Código Penal (Estupro de vulnerável).
III. No crime de estupro em que a vulnerabilidade é decorrente de enfermidade ou deficiência mental (art.
217-A, § 1º, do CP), o magistrado não está vinculado à existência de laudo pericial para aferir a existência de
discernimento ou a possibilidade de oferecer resistência à prática sexual, desde que a decisão esteja
devidamente fundamentada, em virtude do princípio do livre convencimento motivado.
IV. O beijo lascivo integra o rol de atos libidinosos e configura o crime de estupro se obtido mediante
emprego de força física do agressor contra vítima maior de 14 anos.
V. Após o advento da Lei n. 12.015/2009, que tipificou no mesmo dispositivo penal (art. 213 do CP) os crimes
de estupro e de atentado violento ao pudor, é possível o reconhecimento de crime único entre as condutas,
desde que tenham sido praticadas contra a mesma vítima e no mesmo contexto-fático.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II, III e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
Comentários
Gabarito: A
I Súmula 593 do STJ: “O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de
ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática
do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”.
II Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, o estado de sono pode significar circunstância que
retira da vítima a capacidade de oferecer resistência. (STJ - AgRg no HC 489684 / ES)
III Para fins de caracterização da vulnerabilidade da vítima maior de idade e portadora de enfermidade
mental, é permitido ao Magistrado, mesmo que sem a presença de laudo pericial, aferir a existência do
necessário discernimento para a prática do ato ou a impossibilidade de oferecer resistência à prática sexual,
desde que mediante decisão devidamente fundamentada, atendendo ao princípio do livre convencimento
motivado. (STJ - HC 542030 / MS)
IV O beijo lascivo ingressa no rol dos atos libidinosos e, se obtido mediante violência ou grave ameaça,
importa na configuração do crime de estupro. Evidentemente, não são lascivos os beijos rápidos lançados
na face ou mesmo nos lábios, sendo preciso haver beijos prolongados e invasivos, com resistência da pessoa
beijada, ou então dos beijos eróticos lançados em partes impudicas do corpo da vítima. Por conseguinte,
verificar-se-á estupro mediante violência caso a conduta do beijo invasivo busque a satisfação da lascívia,
desde que haja intuito de subjugar, humilhar, submeter a vítima à força do agente, consciente de sua
superioridade física. (STJ - RHC 93906 / PA)
V A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica de que os crimes previstos nos arts. 213 e 214
do Código Penal - CP, após a redação dada pela Lei n. 12.015/09, configuram crime único. Todavia, devem
as diversas condutas praticadas serem valoradas na primeira fase do cálculo da pena, ficando estabelecido
como limite máximo para a nova sanção, a totalidade da pena anteriormente aplicada ao estupro e ao
atentado violento ao pudor, de forma a se evitar a reformatio in pejus. Por se tratar de inovação benéfica,
novatio legis in mellius, a Lei n. 12.015/09 alcança todos os fatos ocorridos anteriormente à sua vigência.
Na hipótese dos autos, considerando que a vítima foi submetida a conjunção carnal e atos libidinosos
diversos, no mesmo contexto fático, deve ser concedida a ordem para reconhecer a ocorrência de crime
único. (STJ - HC 441523 / BA)
Questão 3. A respeito dos crimes contra a administração pública, analise as proposições abaixo e, em
seguida, assinale a opção correta:
I. Configura crime de contrabando (art. 334-A, CP) a importação não autorizada de arma de pressão por ação
de gás comprimido ou por ação de mola, independentemente do calibre.
II. A importação não autorizada de cigarros ou de gasolina constitui crime de contrabando, admitindo-se a
aplicação do princípio da insignificância.
Comentários
Gabarito: D
I A jurisprudência deste Superior Tribunal tem-se posicionado no sentido de que, a importação não
autorizada de arma de pressão, ainda que de calibre inferior a 6 (seis) mm, configura crime de
contrabando, cuja prática impede a aplicação do princípio da insignificância. (STJ - AgRg no REsp 1479836
/ RS)
III Esta Corte de Justiça vem entendendo, em regra, que a importação de cigarros, gasolina e medicamentos
(mercadorias de proibição relativa) configura crime de contrabando. Todavia, a importação de pequena
quantidade de medicamento destinada a uso próprio denota a mínima ofensividade da conduta do agente,
a ausência de periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento
e a inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional aplicação do princípio da
insignificância (STJ - REsp 1346413/PR, Rel. p/ Acórdão Ministra MARILZA MAYNARD - Desembargadora
convocada do TJ/SE -, Quinta Turma, DJe 23/05/2013). No mesmo diapasão: REsp 1341470/RS, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 07/08/2014, DJe 21/08/2014.
V Esta Corte vem enfatizando, em sucessivos julgados, que o crime de falso, quando cometido única e
exclusivamente para consumar a sonegação de tributos, é absorvido pelo segundo delito, consoante
diretrizes do princípio penal da consunção. (STJ - AgRg no AREsp 386863 / MG)
Questão 4. Acerca dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:
I. O crime de extorsão é formal e consuma-se no momento em que a violência ou a grave ameaça é exercida,
independentemente da obtenção da vantagem indevida.
II. No crime de extorsão, a ameaça a que se refere o caput do art. 158 do CP, exercida com o fim de obter a
indevida vantagem econômica, pode ter por conteúdo grave dano aos bens da vítima.
III. O delito de dano ao patrimônio público, quando praticado por preso para facilitar a fuga do
estabelecimento prisional, demanda a demonstração do dolo genérico.
IV. O crime de dano contra o patrimônio do Distrito Federal não pode receber o tratamento de dano
qualificado, face à ausência de previsão legal.
V. Não é possível a aplicação do princípio da insignificância nas hipóteses de dano qualificado, quando o
prejuízo ao patrimônio público atingir outros bens de relevância social e tornar evidente o elevado grau de
periculosidade social da ação e de reprovabilidade da conduta do agente.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I, II e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: B
III O dano praticado contra estabelecimento prisional, em tentativa de fuga, não configura fato típico, haja
vista a necessidade do dolo específico de destruir, inutilizar ou deteriorar o bem, o que não ocorre
quando o objetivo único da conduta é fugir. (AgRg no AREsp 578521 / GO)
IV CP Art. 163, parágrafo único, III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município
ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
V A conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar a coisa alheia, restrita ao tipo simples do crime de dano,
afronta unicamente o patrimônio privado, sendo plenamente possível o reconhecimento de sua atipicidade
material. Entrementes, nos termos do art. 163, parágrafo único, do Código Penal, o crime de dano
qualificado porta acréscimo substancial de reprovabilidade, diante da maior periculosidade dos meios
utilizados (incisos I e II), a maior relevância social de seu objeto atingido (inciso III) ou pelas
consequências para a vítima e mesquinhez do motivo (inciso IV). Nas hipóteses de dano qualificado,
independente do valor patrimonial do bem, havendo transcendência do bem jurídico patrimonial, atingindo
bens jurídicos outros, de relevância social, incabível a aplicação da bagatela, diante da evidente
periculosidade social da ação e maior grau de reprovabilidade da conduta. (HC 324550 / MT)
Questão 5. Acerca dos crimes contra a liberdade pessoal, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I. O crime de ameaça é de ação penal pública condicionada à representação, mesmo nos casos que envolvem
violência doméstica contra a mulher.
II. O crime de sequestro e cárcere privado em regra é material. Entretanto, será crime formal quando
praticado com fins libidinosos, uma das modalidades em que o crime é qualificado.
III. A pena do crime de tráfico de pessoas é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não
integrar organização criminosa. No entanto, opera-se uma qualificadora quando o crime for cometido por
funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las.
IV. O crime específico de tráfico de pessoas consiste em agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
finalidade de remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; submetê-la a trabalho em condições análogas
à de escravo; submetê-la a qualquer tipo de servidão; adoção ilegal ou exploração sexual.
V. O crime de redução a condição análoga à de escravo caracteriza-se por ser a vítima submetida a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, bem como sujeita a condições degradantes de trabalho, restringindo-se,
por qualquer meio, sua locomoção, em razão de dívida contraída com o empregador.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: D
I A Súmula 542 do STJ prevê que a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada; quanto aos demais crimes resultantes de violência
doméstica, mantém-se o que previsto em lei. Neste caso, o Art. 147, Parágrafo único - Somente se procede
mediante representação.
II Ao contrário do caput (crime material), a figura qualificada contém um crime formal, de resultado cortado
ou de consumação antecipada: consuma-se com a privação da liberdade, desde que o sujeito deseje praticar
atos libidinosos com a vítima, pouco importando se alcança ou não o fim almejado. Se envolver-se
sexualmente com a vítima, responderá, em concurso material, pelo delito em apreço e pelo respectivo crime
contra a liberdade sexual, tal como o estupro. (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. Parte Especial.
Volume 2. 9a edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017, p. 269).
III Cuida-se, na realidade, de causa de aumento de pena. CP, Art. 149-A, § 1o A pena é aumentada de um
terço até a metade se: I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las; (...).
V Cuida-se do preceito primário do art. 149 do Código Penal: Reduzir alguém a condição análoga à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes
de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto.
Comentários
Resposta: alternativa D.
De fato o ofendido e o indiciado podem requerer diligência à Autoridade Policial, porém não está ela
vinculada ao seu cumprimento, conforme verbera o artigo 14, do CPP.
Não é demais lembrar que o inquérito tem estrutura inquisitiva, não se submetendo ao contraditório e à
ampla defesa.
Comentários
Resposta: alternativa C.
Os autos do inquérito policial não podem ser arquivados pela Autoridade Policial.
Trata-se de providência que fica ao exclusivo alvedrio do Ministério Público, dominus litis, submetido porém
a fiscalização anômala por parte do Judiciário, até que o STF delibere sobre a validade da proposta
introduzida pelo Pacote Anticrime, que estipula um trâmite exclusivamente interna corporis, no âmbito do
próprio MP.
d) É direito do advogado comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem
procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares,
ainda que considerados incomunicáveis.
e) É direito do advogado ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo
ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais
casos, a comunicação expressa à seccional da OAB.
Comentários
Resposta: alternativa B.
A incomunicabilidade do investigado é vedada até mesmo durante o estado de defesa, conforme artigo 136,
da Constituição Federal, sendo inadmissível em qualquer situação.
Comentários
Gabarito: C
b) Conforme art. 2º, inciso I, da Lei dos Crimes Hediondos: “Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura,
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I – anistia, graça e
indulto;”.
c) Segundo o art. 1º, da Lei dos Crimes Hediondos, também se classificam como hediondos se os crimes
forem tentados: “Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados:[…]”.
e) Conforme art. 2º, §3º, da Lei dos Crimes Hediondos: "§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz
decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade."
Comentários
Gabarito: D
a) Exige-se conhecimento literal da norma expressa no Art. 89, caput, da Lei n.º 9.099/95: “Art. 89. Nos crimes
em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que
o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais
requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).”
b) Conforme o art. 61, da Lei n.º 9.099/95: “Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”.
c) Conforme o art. 90-A, da Lei n.º 9.099/95: “Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito
da Justiça Militar”.
d) A competência será determinada pelo lugar onde foi praticada a infração penal, por força do art. 63, da
Lei n.º 9.099/95.
e) Art. 18, §2º, da Lei n.º 9.099/95: “Art. 18. A citação far-se-á: […] § 2º Não se fará citação por edital”.
Questão 3. Matheus, servidor público, foi condenado pelo crime de tortura qualificada pelo resultado
morte a uma pena de nove anos de reclusão. Essa condenação acarretará a perda do cargo, função ou
emprego público e a interdição para seu exercício pelo prazo de:
a) Nove anos
b) Dez anos
Comentários
Gabarito: D
De acordo com o §5º, do art. 1º, da Lei de Tortura: "§5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada". Assim,
analisando a situação hipotética da questão, Matheus foi condenado a pena de 9 (nove) anos de reclusão,
então a interdição ocorrerá por 18 (dezoito) anos.
Comentários
O objetivo da investigação judicial eleitoral é apurar indícios de autoria e materialidade de atos que, em tese,
configurem abuso do poder econômico ou político ou captação ilícita de sufrágio durante a campanha
eleitoral.
JURISPRUDÊNCIA
a) Pessoas jurídicas podem figurar no polo passivo da demanda, nos casos em que tiverem contribuído para
a prática do ato.
b) O diretório municipal de um partido político não possui legitimidade ativa para a representação visando à
abertura da AIJE de candidato a prefeito, quando não está participando da eleição.
c) Candidato a vereador possui legitimidade para ajuizar AIJE contra candidato a prefeito, desde que ambos
pertençam à mesma circunscrição eleitoral.
d) O prazo final para ajuizamento da AIJE é de 15 (quinze) dias contados da diplomação do eleito, conforme
jurisprudência majoritária do Tribunal Superior Eleitoral.
e) Na demanda em que se postula a cassação do registro ou diploma, não há litisconsórcio passivo necessário
entre os integrantes da chapa majoritária, quando o ato ilícito foi praticado apenas pelo titular, sem a
participação do candidato a vice.
Comentários
A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é firmada no sentido de que candidato a vereador possui
legitimidade para promover a investigação judicial eleitoral contra candidato a prefeito, desde que ambos
pertençam à mesma circunscrição eleitoral.
JURISPRUDÊNCIA
“Agravo regimental. Recurso especial eleitoral. Eleições 2016. Ação de investigação judicial
eleitoral. Abuso do poder econômico. Ausência da oportuna formação do litisconsórcio passivo
necessário. Candidatos majoritários e candidato a vereador. Contratação de cabos eleitorais
("formiguinhas"). Diplomação dos eleitos. Decadência. Extinção do processo” (TSE, RESPE-AgR nº
41.916, Rel. Min. Sergio Banhos, DJU 19.06.2020).
Questão 3. Considere a seguinte situação hipotética. Candidato João obteve o segundo lugar na eleição
para Prefeito no Município de Cantagalo e ajuizou Ação de Investigação Judicial Eleitoral em face dos
vencedores do pleito, o candidato José, e Maria, que com ele compunha a chapa. Na ação, João alegou
que os eleitos ofereceram empregos nas empresas de propriedade de terceiro, Antônio, irmão de Maria,
eleita Vice-Prefeita, em troca de votos. A instrução processual comprovou os fatos, com robustas provas
de que houve efetivamente a promessa de emprego em troca de votos. Diante desse caso, é correto
afirmar que a Ação de Investigação Judicial Eleitoral:
a) Deve ser julgada improcedente, pois embora tenha sido comprovada a oferta de empregos em troca de
votos, como a empresa pertence a Antônio, terceiro estranho ao pleito, que não é candidato, não se
caracteriza abuso de poder econômico.
b) Deve ser julgada improcedente, pois a oferta de emprego não pode ser considerada abuso de poder
econômico, já que o pagamento eventualmente efetuado será uma contraprestação do trabalho, e, para
caracterizar o abuso de poder econômico, é necessário que o valor ofertado esteja nas contas a serem
prestadas pelo candidato.
c) Pode ser julgada procedente, com a sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizar nos 8 (oito)
anos subsequentes à eleição em que se verificaram os fatos, não havendo, todavia, cassação dos diplomas
de José e Maria, se já estiverem no exercício do mandato.
d) Deve ser extinta sem resolução de mérito, pois o candidato que foi eleito em segundo lugar não possui
legitimidade para propor essa ação, que pode ser proposta somente por partido político, coligação, ou pelo
Ministério Público Eleitoral.
e) Deve ser julgada procedente, pois restou comprovada a promessa de emprego em troca de voto, o que
caracteriza abuso de poder econômico na eleição municipal, com a consequente cassação do diploma do
Prefeito José e da Vice-Prefeita Maria.
Comentários
Na questão sob exame, restou comprovada a promessa de emprego em troca de voto, o que caracteriza
abuso de poder econômico na eleição municipal.
Destarte, o pedido veiculado na investigação judicial eleitoral deve ser julgado procedente, com a
consequente cassação do diploma do Prefeito José e da Vice-Prefeita Maria.
JURISPRUDÊNCIA
“Eleições 2016. Agravo regimental. Agravo. Investigação judicial eleitoral. Candidato a Prefeito não eleito.
Questões preliminares e nulidades. Improcedência. Decisões. Instâncias ordinárias. Abuso do poder
econômico e político e captação ilícita de sufrágio. Instâncias ordinárias. Procedência. Imposição. Cassação
de registro, inelegibilidade e multa. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade (...). A Corte de origem
entendeu caracterizados o abuso do poder econômico e político e a captação ilícita de sufrágio, em razão
dos seguintes fatos: (i) intermediação da prestação de serviços junto a órgãos públicos como: marcação
de consultas, encaminhamento de pacientes para realizar exames, promessa de emprego, entre
outros; (ii) atuação do candidato junto às camadas mais carentes do eleitorado, mediante oferecimento
de serviços referentes às suas necessidades básicas, independentemente de projetos e políticas pelo
Poder Público, criando em si a imagem de benfeitor diante do eleitorado (...).Agravo regimental a que se
nega provimento” (TSE, AgR no 22.187, Rel. Min. Sérgio Banhos, DJU 16.09.2019).
quanto aquela formada por pessoas, parentes ou não, com as quais a criança ou adolescente convive e
mantém vínculos de afinidade e afetividade.
c) Família extensa ou ampliada, expressões sinônimas para o parágrafo único do art. 25 do ECA, é aquela que
se estende para além da unidade pais e filhos e é formada por pessoas com grau de parentesco próximo ou
por pessoas com as quais a criança convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
d) Família extensa é aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal e é
formada por parentes próximos, entendidos como os ascendentes e os colaterais até o quarto grau, ao passo
que a família ampliada é aquela formada por pessoas, parentes ou não, que convivem e mantêm com a
criança ou adolescente efetivos laços de afinidade e afetividade.
e) Família extensa ou ampliada, expressões sinônimas para o parágrafo único do art. 25 do ECA, é aquela que
se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com
os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
Comentários
O Estatuto trata das famílias natural, extensa e ampliada (art. 25, parágrafo único). Entende-se por família
natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Entende-se por família
extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal,
formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de
afinidade e afetividade. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente.
Alternativa “E”: correta. Alternativa em conformidade com o art. 25, parágrafo único, do Estatuto, que trata
da família extensa ou ampliada. Exclui automaticamente as demais alternativas.
Questão 2. (Vunesp – Juiz de Direito – TJ – RO/2019) Com relação à adoção, nos termos dos artigos 39 e
seguintes do ECA, é correto afirmar:
a) Conforme art. 46 do ECA, o prazo máximo do estágio de convivência será de 90 dias, improrrogável,
dispensando-se referido estágio se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante
tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
b) Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto
que tenham formalizado o pedido de adoção em juízo enquanto ainda conviviam e acordem sobre guarda e
regime de visitas, independentemente do início do estágio de convivência, conforme § 4 o do art. 42 do ECA.
c) Nos termos do § 6o do art. 42 do ECA, a adoção poderá ser deferida, se comprovadamente benéfica à
criança ou adolescente, ao cônjuge ou companheiro já falecido do adotante supérstite quando da data de
propositura da ação ou formalização do pedido por este, desde que se comprove no curso do processo que
a pessoa falecida tinha inequívoca vontade de adotar e desde que não se tenham passado mais de dois anos
entre o falecimento e a propositura da ação ou formalização do pedido.
d) A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese
prevista no § 6o do art. 42 do ECA, caso em que terá força retroativa à data do óbito, conforme prevê o § 7 o
do art. 47 do ECA.
e) Em se tratando de adotando maior de dez anos de idade, será necessário seu consentimento expresso,
conforme § 2o do art. 45 do ECA. No caso de adolescente maior de doze anos de idade, tal consentimento
deverá ser colhido em audiência, na presença do Ministério Público.
Comentários
Alternativa “A”: incorreta. O prazo para o estágio de convivência foi alterado pela Lei nº 13.509/2017. Assim:
“a adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90
(noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso”. Este prazo poderá
ser prorrogado por até igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária (§ 2º-A).
Alternativa “B”: incorreta. Diferentemente do que foi registrado, o estágio de convivência deve ter ocorrido
quando ainda existia a convivência dos agora divorciados (ou, ex-conviventes).
Alternativa “C”: incorreta. A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de
vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. O Superior Tribunal de
Justiça possui entendimento no sentido de admitir esta adoção também em outras hipóteses, desde que
presente o superior interesse da criança.
Alternativa “D”: correta. De fato, a adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença
constitutiva, exceto na hipótese da adoção nuncupativa, hipótese em que terá força retroativa à data do
óbito.
Alternativa “E”: incorreta. Em se tratando de adotando que já conte com doze anos ou mais, será necessário
o seu consentimento para o deferimento da medida.
Comentários
I) Assertiva correta. Art. 150, § 7º, da CF/88. Trata-se da substituição tributária para frente.
II) Assertiva incorreta. Nos termos do art. 150, § 6º, da CF/88, é necessário lei específica, não sendo requisito
que essa lei seja complementar.
III) Assertiva correta. Trata-se do princípio da irretroatividade, consagrado no Art. 150, III, “a”, da CF/88.
Comentários
b) Alternativa incorreta. Art. 2, §2º, da LC 87/96. (A caracterização do fato gerador independe da natureza
jurídica da operação que o constitua)
c) Alternativa incorreta. Há imunidade tributária com relação a livros, jornais, periódicos e o papel destinado
a sua impressão.
d) Alternativa incorreta. Nesse caso, incide o IOF-Ouro, nos termos do artigo 153, parágrafo quinto, da CF.
Comentários
Comentários
b) Alternativa incorreta: o prazo prescricional da Ação Popular é de 5 (cinco) anos, conforme artigo 21 da Lei
4.717/65.
Questão 2. em relação à Lei 7.853/89 – Lei de apoio às Pessoas Portadoras de Deficiência, é incorreto
afirmar:
a) os órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência
e finalidade, aos assuntos objetos esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem
prejuízo de outras medidas, a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimento
público de ensino.
b) As entidades da administração direta e indireta devem garantir à Pessoa Portadora de Deficiência
atendimento domiciliar de saúde ao deficiente grave não internado.
c) A matrícula em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de
deficiência capazes de se integrarem no sistema regular de ensino é facultativa.
d) Constitui crime recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-
hospitalar e ambulatorial à pessoa com deficiência.
e) O Ministério Público intervirá obrigatoriamente nas ações públicas, coletivas ou individuais, em que se
discutam interesses relacionados à deficiência das pessoas.
Comentários
d) Crime punível com reclusão de 2 a 5 anos, conforme artigo 8º, inciso IV, da Lei 7.853/89.
Comentários
Gabarito: C
O parágrafo único do art. 421 é claro ao destacar que "nas relações contratuais privadas, prevalecerão o
princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual."
Questão 2. O Código Civil dispõe que os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Comentários
Gabarito: C
Comentários
Os membros do Ministério Público detém a garantia funcional da vitaliciedade, após dois anos de exercício,
não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado, em atenção ao art. 128, §
5º, inc. I, “a”, da Constituição Federal.
Questão 2. É garantia institucional dos Ministérios Públicos estaduais, visando a sua independência de
atuação, o modo de nomeação e destituição do Procurador-Geral de Justiça, que será nomeado:
a) Livremente pelo Chefe do Poder Executivo, dentre integrantes da carreira, para mandato de dois anos,
permitida uma recondução e que somente poderá ser destituído por deliberação da maioria absoluta do
Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva.
b) Pelo Chefe do Poder Executivo, a partir de escolha em lista tríplice composta por integrantes da carreira,
na forma da lei respectiva, para mandato de dois anos, permitidas reconduções sucessivas, e que somente
poderá ser destituído por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei
complementar respectiva.
c) Pelo Chefe do Poder Executivo, a partir de escolha em lista tríplice composta por integrantes da carreira,
na forma da lei respectiva, para mandato de dois anos, permitida uma recondução, e que somente poderá
ser destituído por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar
respectiva.
d) Pelo Chefe do Poder Executivo, a partir de escolha em lista tríplice composta por integrantes da carreira,
na forma da lei respectiva, para mandato de dois anos, permitida uma recondução, e que somente poderá
ser destituído por deliberação de 3/5 (três quintos) do Poder Legislativo, na forma da lei complementar
respectiva.
e) Livremente pelo Chefe do Poder Executivo, dentre integrantes da carreira, para mandato de dois anos,
permitidas reconduções sucessivas, e que somente poderá ser destituído por deliberação de 3/5 (três
quintos) do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva.
Comentários
À luz do art. 128, §§ 3º e 4º, da Constituição da República, os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito
Federal e Territórios devem formar lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva,
para escolha de seu Procurador-Geral, que é nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois
anos, permitida uma recondução. Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios
podem ser destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei
complementar respectiva.
Questão 3. Acerca das garantias e prerrogativas dos membros do Ministério Público, aponte a alternativa
incorreta:
a) Nas infrações penais cometidas por membros do Ministério Público, as investigações serão diretamente
presididas pelo Procurador-Geral de Justiça, não havendo qualquer impedimento legal de que este último
designe, para aquele mesmo fim, outro membro da instituição.
b) Caso o crime venha a ser cometido em outro Estado, as investigações e o processo-crime serão conduzidos
pelo Procurador-Geral de Justiça e pelo Tribunal de Justiça do Estado onde o investigado é membro do
Ministério Público.
c) É prerrogativa do membro do Ministério Público não ser indiciado em inquérito policial.
d) O membro do Ministério, arrolado como testemunha em qualquer inquérito ou processo, tem o direito
ao ajuste prévio, com a autoridade processante, do dia, da hora e do local de comparecimento para ser
ouvido. Como essa prerrogativa existe para preservar o exercício da função pública, a jurisprudência firmou
o entendimento de sua aplicação ao membro que figure como réu ou investigado.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.
Comentários
Comentários
e) Alternativa incorreta: será concedida a inversão do ônus da prova sempre que, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências (artigo
6º, inciso VIII, do CDC)
Questão 2. Tendo como base a Lei 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor, assinale a alternativa
incorreta:
a) O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.
b) O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado pelos danos quando
provar que não colocou o produto no mercado.
c) O comerciante é responsável pela reparação dos danos quando não conservar adequadamente os
produtos perecíveis.
d) O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar que,
embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste.
e) O fornecedor de serviços responde, apenas quando comprovada sua culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Comentários
e) Alternativa Incorreta: o fornecedor de serviços responde pela reparação dos danos independentemente
da existência de culpa, conforme artigo 14 do CDC.
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
Vamos lá!
Comentários
Os direitos fundamentais são objeto de transformações ao longo da história, retratadas por três gerações ou
gestações, de acordo com os valores da Revolução Francesa.
A primeira geração é indicada pelo estabelecimento de um dever de omissão, de forma que os direitos de
liberdade são satisfeitos por uma abstenção, em atenção à esfera de ação pessoal própria, inibidora da
atuação do Estado Liberal.
A segunda gestação é identificada pelo estreitamento de um dever de ação, de modo que os direitos de
igualdade são solucionados por uma prestação, em atendimento às necessidades sociais, econômicas ou
culturais para a realização da vida em todas as suas potencialidades, por parte do Estado Social.
Eliana Calmon tem que a quarta geração seria afeta à manipulação do patrimônio genético, inseminação
artificial, fecundação em vidro e intervenção cirúrgica modificativa de sexo, porquanto “o avanço tecnológico
praticamente coloca o mundo em perplexidade com os valores sociais e éticos das três gestações de direitos
fundamentais até aqui delineados. A biodiversidade, como variedade de modelos de vida existentes no
planeta, está provocando debates, haja vista que se tornou possível alterar não somente a constituição do
ser vivo, mas também o equilíbrio ecológico. A transformação do código genético das plantas, animais ou
micro-organismos pelo meio da engenharia genética já é uma realidade” (CALMON, Eliana. Dimensões do
Direito Contemporâneo. São Paulo: IOB, 2001, p. 79).
Paulo Bonavides teoriza que a quarta geração seria aparelhada à globalização da economia, democracia,
informação e pluralismo, porque “a globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os
direitos fundamentais de quarta gestação. Deles depende a concretização da sociedade aberta do futuro,
em sua dimensão de máxima universalidade, para o qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as
relações de convivência” (BONAVIDES, Paulo. Teoria Constitucional da Democracia Participativa. São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 222).
Alberto Nogueira tem que a quarta geração seria atinente à graduação da imposição tributária e justa
tributação, pois que “o tributo integra-se, como um direito fundamental, no Estado Democrático de Direito.
Completa-se o ciclo histórico iniciado com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que se
deflagrou com os postulados libertários de 1789” (NOGUEIRA, Alberto. A Reconstrução dos Direitos
Humanos da Tributação. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 193).
Ricardo Lorenzetti testemunha que a quarta geração seria alusiva à diversidade em geral, homossexualidade,
troca de sexo e recusa a tratamentos médicos que levem à morte, pois que “a diferenciação de um indivíduo
em relação ao outro supõe um comportamento distinto do comportamento dos demais indivíduos, podendo,
por isso, ser englobado sob o rótulo de direito fundamental a ser diferente” (LORENZETTI, Ricardo.
Fundamentos do Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 154).
Questão 2. Discorra sobre a eficácia horizontal dos direitos fundamentais e o seu reconhecimento no
Brasil. Apresente exemplos.
Comentários
Hodiernamente, os direitos fundamentais são também aplicáveis no âmbito do Direito Privado, não restando
a eficácia horizontal imune à controvérsia doutrinária e jurisprudencial.
A doutrina da ação governamental (state action) é traduzida pela vinculação dos órgãos do Poder Público
aos direitos fundamentais, ressalvadas as entidades privadas que desenvolvam atividades de natureza
pública, de maneira a salvaguardar a liberdade individual e a autonomia dos Estados, que disporiam de
competência exclusiva para disciplinar as relações privadas.
A doutrina da eficácia horizontal indireta ou mediata (mittelbare Drittwirkung) afasta a aplicação privada dos
direitos fundamentais, independentemente de mediação dos órgãos legislativos, com a finalidade de
preservar a autonomia da vontade, a harmonia entre os Poderes e a identidade do Direito Privado, que ficaria
absorvido pelo Direito Constitucional.
A doutrina da eficácia horizontal direta ou imediata (unmittelbare Drittwirkung) afirma a aplicação privada
dos direitos fundamentais, invocáveis perante os órgãos jurisdicionais, de sorte a tutelar a pretensão
deduzida, diante dos perigos oferecidos pelas entidades privadas que, nas sociedades de massa, são
revestidas de poder social e econômico, em todos os âmbitos da atuação humana.
Lastreado no art. 5º, § 1º, da Constituição da República, o Supremo Tribunal Federal, “mesmo sem entrar na
discussão das teses a respeito da forma de vinculação dos particulares, vem aplicando diretamente os
direitos fundamentais consagrados na Constituição na resolução de litígios privados” (SARMENTO, Daniel de
Moraes. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 297), como exsurge
do cotejo entre os seguintes pronunciamentos jurisdicionais.
JURISPRUDÊNCIA
“SUBMISSÃO DAS OPERÁRIAS DE INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO A REVISTA ÍNTIMA , SOB AMEAÇA DE DISPENSA. SENTENÇA
CONDENATÓRIA DE PRIMEIRO GRAU FUNDADA NA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA INTIMIDADE E ACÓRDÃO ABSOLUTÓRIO DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, PORQUE O CONSTRANGIMENTO QUESTIONADO À INTIMIDADE DAS TRABALHADORAS, EMBORA EXISTENTE,
FORA ADMITIDO POR SUA ADESÃO AO CONTRATO DE TRABALHO. QUESTÃO QUE JÁ NÃO PODE SER SOLVIDA NESTE PROCESSO, DADA
A PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE, CONTADA DESDE A SENTENÇA DE PRIMEIRA INSTÂNCIA E JAMAIS INTERROMPIDA, DESDE ENTÃO”
(STF, RE Nº 160.222, REL. MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE, J. 11.04.1995, DJU 01º.09.1995).
“NO CASO DE EXCLUSÃO DE ASSOCIADO DECORRENTE DE CONDUTA CONTRÁRIA AOS ESTATUTOS , IMPÕE-SE A OBSERVÂNCIA AO
DEVIDO PROCESSO LEGAL, VIABILIZADO O EXERCÍCIO DA DEFESA. SIMPLES DESAFIO DO ASSOCIADO À ASSEMBLEIA GERAL, NO QUE
TOCA À EXCLUSÃO, NÃO É DE MOLDE A ATRAIR ADOÇÃO DE PROCESSO SUMÁRIO. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA DO PRÓPRIO
ESTATUTO DA COOPERATIVA” (STF, RE Nº 158.215, REL. MIN. MARCO AURÉLIO, J. 30.04.1996, DJU 07.06.1996).
“QUESTÃO DA EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS . NECESSÁRIA SUBMISSÃO DAS RELAÇÕES PRIVADAS AO
ESTATUTO JURÍDICO DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS” (STF, RE Nº 683.751, REL. MIN. CELSO DE MELLO, J. 24.06.2015,
DJU 01º.07.2015).
“POR NÃO SER FRANCÊS, NÃO OBSTANTE TRABALHAR PARA A EMPRESA FRANCESA, NO BRASIL, AO RECORRENTE NÃO FOI APLICADO
O ESTATUTO DO PESSOAL DA EMPRESA, QUE CONCEDE VANTAGENS AOS EMPREGADOS, CUJA APLICABILIDADE SERIA RESTRITA AO
EMPREGADO DE NACIONALIDADE FRANCESA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. FATORES QUE AUTORIZARIAM A
DESIGUALIZAÇÃO NÃO OCORRENTES NO CASO CONCRETO” (STF, RE Nº 161.243, REL. MIN. CARLOS VELLOSO, J. 29.10.1996,
DJU 19.12.1997).
“O CARÁTER PÚBLICO OU GERAL DA ATIVIDADE DESEMPENHADA PELA ENTIDADE ASSOCIATIVA, INTEGRANTE DO ESCRITÓRIO
CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO, QUE EXERCE UMA ATIVIDADE ESSENCIAL NA COBRANÇA DE DIREITOS AUTORAIS ,
PARECE DECISIVO PARA LEGITIMAR A APLICAÇÃO DIRETA OU IMEDIATA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS CONCERNENTES AO DEVIDO
PROCESSO LEGAL, AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA AO PROCESSO DE EXCLUSÃO DE SÓCIO DE ENTIDADE PRIVADA ” (STF, RE
Nº 201.819, REL. MIN. GILMAR MENDES, J. 11.10.2005, DJU 27.10.2006).
Comentários
De acordo com o STJ, no julgamento do RESP 1.722.423-RJ, a Pessoa Jurídica de Direito Público tem direito
à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidade
institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente.
A situação que ensejou a fixação desse entendimento é o famoso caso “Jorgina de Freitas”. Ex-procuradora
do INSS, ela organizou, junto com outros, um esquema de desvio de verbas de aposentadoria.
Segundo o STJ, não afasta a pretensão reparatória o argumento de que as pessoas que integram o Estado
não sofrem "descrédito mercadológico".
O direito das pessoas jurídicas à reparação por dano moral não exsurge apenas no caso de prejuízos
comerciais, mas também nas hipóteses, mais abrangentes, de ofensa à honra objetiva. Nesse plano, até
mesmo entidades sem fins lucrativos podem se atingidas.
Assim, não se pode afastar a possibilidade de resposta judicial à agressão perpetrada por agentes do Estado
contra a credibilidade institucional da autarquia, a qual implica em dano reflexo sobre os demais segurados
da Previdência e os jurisdicionados em geral é evidente, tudo consubstanciado por uma lesão de ordem
extrapatrimonial.
Não são todos os atos que ensejam dano moral contra o Estado. Por exemplo, o STJ já afastou, e esse
entendimento se mantém, que não há dano moral o fato de programas de
rádio e TV realizarem críticas ao Poder
Executivo.
Questão 2. Como deve ocorrer a extinção de uma empresa estatal? Quais são os requisitos? Há a
necessidade de lei específica? E como ocorre a extinção das suas subsidiárias?
Comentários
De acordo com o STF, no julgamento da ADI 6241/DF, é desnecessária, em regra, lei específica para inclusão
de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de desestatização.
Para a desestatização é suficiente a autorização genérica prevista em lei que veicule programa de
desestatização.
A autorização legislativa genérica não corresponde a delegação discricionária e arbitrária ao Chefe do Poder
Executivo. Essa autorização é pautada em objetivos e princípios que devem ser observados nas diversas fases
deliberativas do processo de desestatização. A atuação do chefe do Poder Executivo vincula-se aos limites e
condicionantes legais previstos.
A retirada do Poder Público do controle acionário de uma empresa estatal, ou a extinção dessa empresa pelo
fim da sua personalidade jurídica, é consequência de política pública autorizada pelo Congresso Nacional,
em previsão legal pela qual se cria o Programa de Desestatização, objetivando a redução da presença do
Estado na economia e fixando-se, objetivamente, os parâmetros a serem seguidos para a efetivação de
eventual desestatização pelo Poder Executivo.
No entanto, com relação às empresas estatais cuja lei instituidora tenha previsto, expressamente, a
necessidade de lei específica para sua extinção ou privatização, é necessário que o administrador público
observe a norma legal.
Por outro lado, o STF, no julgamento da ADIN 6029, fixou os seguintes requisitos para a extinção ou alienação
de controle acionário de empresa estatal e suas subsidiárias:
Comentários
Espécie de dano extrapatrimonial, o dano existencial pode ser caracterizado como uma lesão a um conjunto
de relações que fazem parte do desenvolvimento da personalidade de um indivíduo, de ordem pessoal ou
social, sendo uma afetação “negativa, total ou parcial, permanente ou temporária” a uma determinada
atividade ou até mesmo mais de uma que faça parte do cotidiano do sujeito69.
Ocorre quando, após a lesão, há uma perda da qualidade de vida do indivíduo, que fica impossibilitado ou
encontra grandes dificuldades em manter suas atividades cotidianas70.
Essa espécie de dano está intimamente relacionada à ideia de frustração e engloba duas subvertentes: o
dano à vida em relação e o dano ao projeto de vida71. O primeiro é aquele em que há a impossibilidade ou
grande dificuldade do indivíduo em se reinserir nas relações sociais, ou mantê-las em sua normalidade.
Quanto ao projeto de vida, trata-se da frustração das legítimas expectativas que o indivíduo tem em relação
à própria existência72 – com sonhos, metas e objetivos de vida.
Em outras palavras, o dano existencial afeta, especialmente, o cotidiano da pessoa, modificando sua relação
com a sociedade, com a família e com amigos, e gerando, inclusive, doenças psicológicas graves – como
ansiedade, depressão, entre outras.
Não se confunde com o dano moral, pois este reside na impossibilidade de exercer uma atividade concreta
na esfera pessoal e familiar, uma renúncia ou um impedimento; enquanto o segundo seria caracterizado
como uma situação de abalo da honra, sofrimento angústia73; ultrapassa o mero aborrecimento.
Contudo, há divergência doutrinária e jurisprudencial sobre se o dano existencial deve ser ou não tratado
como categoria autônoma do dano moral.
Com efeito, para se verificar sua configuração, é necessária a análise do caso concreto – e, inclusive, adentrar
na seara da conceituação de felicidade. Deve-se comparar o antes e o depois do evento danoso e observar,
consequentemente, o comprometimento das realizações da vida e as consequências negativas advindas ao
indivíduo.
69
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/311228/dano-existencial--conceito-e-analise-do-posicionamento-do-
tribunal-paulista. Acesso em 14 de março de 2021.
70
Idem.
71
Ibidem.
72
Idem.
73
https://www.migalhas.com.br/depeso/311228/dano-existencial--conceito-e-analise-do-posicionamento-do-tribunal-paulista.
Questão 2. Discorra sobre a transmissibilidade da indenização por danos morais em caso de falecimento
do lesado.
Comentários
Em que pese a violação moral atingir tão-somente os direitos subjetivos da vítima, é certo que o direito à
respectiva indenização é transmitido com o falecimento do titular do direito. Trata-se, neste caso, da
transmissibilidade de direito de caráter patrimonial – uma vez que o direito de personalidade se extingue
com a morte do titular.
Nesse sentido, o Código Civil, em seu artigo 943, estabelece que o direito de exigir reparação e a obrigação
de prestá-la transmitem-se com a herança. Outrossim, o assunto foi sumulado pelo Superior Tribunal de
Justiça: Súmula 642. O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular,
possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.
Assim, os herdeiros possuem legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais
eventualmente suportados pelo de cujus. Se já ajuizada, os herdeiros detêm a legitimidade para dar
prosseguimento a ela, no polo ativo.
Aliás, vale observar que o STJ proferiu diversos entendimentos no sentido de que tanto os herdeiros como o
espólio detêm a legitimidade ativa ad causam. Contudo, na edição da súmula acima mencionada, optou por
excluir o espólio da transcrição – dando a entender, então, que apenas os herdeiros seriam legitimados.
Deve-se, assim, aguardar os futuros pronunciamentos da Corte.
A posição atual e dominante que vigora nesta c. Corte é no sentido de embora a violação moral
atinja apenas o plexo de direitos subjetivos da vítima, o direito à respectiva indenização
transmite-se com o falecimento do titular do direito, possuindo o espólio ou os
herdeiros legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais, em
virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 978651 SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 15/12/2010.
O espólio e os herdeiros possuem legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória
por danos morais em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1567104/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 29/06/2020.
Tese 5: Embora a violação moral atinja apenas os direitos subjetivos do falecido, o espólio e os
herdeiros têm legitimidade ativa ad causam para pleitear a reparação dos danos morais
suportados pelo de cujus.74
Trata-se a querela nullitatis insanable de instituto processual destinado a desconstituir a coisa julgada, em
razão da verificação de vício que, por tamanha gravidade, compromete até mesmo a consideração da
existência ou eficácia do ato viciado e seus desdobramentos no plano jurídico e cuja arguição pode ocorrer
a qualquer tempo, mesmo após a ultrapassagem do prazo legal para manejo de ação rescisória.
É, pois, meio de impugnação de decisão maculada por vícios transrescisórios, que subsistem, por exemplo,
quando a decisão for proferida em desfavor do réu em processo que correu à sua revelia por falta de citação;
ou quando a decisão for proferida em desfavor do réu em processo que correu à sua revelia por ter sido
defeituosa a citação.
É bem verdade que a ação rescisória, disciplinada pelos artigos 966 a 975 do Código de Processo Civil,
corresponde, semelhantemente, a meio típico de relativização da coisa julgada; contudo, sujeita-se ao prazo,
via de regra, de 02 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo,
havendo, após o transcurso desse prazo, a preclusão do vício.
A querela nullitatis insanable, a seu turno, pressupõe vício ainda mais grave e, por tal razão, suplanta a
limitação temporal imposta à medida rescisória, não havendo se falar na possibilidade de convalidação
daquele, porquanto se refere a ato indispensável, essencial e sem o qual não se pode admitir a existência ou
eficácia do processo e, por conseguinte, conceber a atividade jurisdicional.
Questão 1. Antônio Antenor foi condenado à pena de 01 ano e 06 meses de reclusão, em regime aberto,
por violação aos mandamentos proibitivos constantes do art. 171, caput, do Código Penal. A condenação
transitou em julgado em 05 de março de 2017.
74
Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2021/01/sumula-642-do-stj-comentada.html. Acesso em 14 de março de
2021.
Notificado para comparecer à Vara de Execução Penal, a fim de dar início ao cumprimento da pena,
Antônio não se apresentou. Em 05 de março de 2021, o advogado do condenado requereu-lhe a extinção
da punibilidade, com fundamento no art. 110, c/c art. 109, V, do Código Penal.
Enviados os autos ao Ministério Público para manifestação, o Promotor de Justiça requereu a atualização
da folha penal do condenado, a qual indicava que este se encontrava no cumprimento de pena, em regime
aberto, em outra comarca.
O Promotor de Justiça deverá manifestar-se pelo acolhimento da pretensão defensiva? Fundamente.
Comentários
I) Do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional.
II) Do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na
pena.
De acordo com o parágrafo único, do artigo 116, do Código Penal, "depois de passada em julgado a sentença
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo".
Ao interpretar o referido dispositivo legal, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que o
cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar,
impede o curso da prescrição executória.
Assim, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, o que impede o reconhecimento da extinção
de sua punibilidade.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Prescrição da pretensão executória é a perda da
Prescrição da pretensão
pretensão de executar a punição, devido à ausência de 30%
executória
atuação do Estado durante o prazo definido em lei.
Nos termos do art. 112 do Código Penal, começa a
Termo inicial da
correr: 30%
contagem de prazo
Comentários
No presente caso, o recorrente transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle do
veículo subindo na calçada e atropelando as vítimas.
O homicídio culposo no trânsito encontra previsão no art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro; e aliadas às
elementares constantes do caput, o legislador leva em consideração determinadas circunstâncias que, em
razão do aumento da censurabilidade da conduta do agente, levam ao aumento da pena. São elas: não
possuir CNH; praticar o crime em faixa de pedestre ou na calçada; deixar de prestar socorro quando possível;
ou no exercício da profissão de motorista, no transporte de passageiros.
A defesa alegou que a causa de aumento de pena deve estar dirigida aos casos em que o motorista sabe que,
transitando pela calçada, deve ter maior atenção aos pedestres, e se não aplicando àqueles em que, ao
perder o controle do veículo na rua, termina por atingir pedestre na calçada por mero infortúnio, cuja
previsibilidade não era possível antever.
Ocorre que, sobre o tema, a doutrina leciona que "o aumento previsto no art. 302, parágrafo único, II, do
Código de Trânsito Brasileiro será aplicado tanto quando o agente estiver conduzindo o seu veículo pela via
pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a vítima, como
quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de sua desatenção,
acabar por colher o pedestre".
Nesse contexto, a norma não exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito
ocorra nesse local, o que reveste a conduta de maior reprovabilidade, pois vem atingir o pedestre em lugar
presumidamente seguro.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça reconhece que a causa de aumento prevista no art. 302, §
1°, II, do Código de Trânsito Brasileiro não exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente
que o ilícito ocorra nesse local.
Ante o exposto, o juiz deve a pretensão punitiva do Estado, representada pela classificação fornecida pelo
Ministério Público na denúncia.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
O homicídio culposo no trânsito encontra previsão no
art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro; e aliadas às
elementares constantes do caput, o legislador leva em
consideração determinadas circunstâncias que, em
Homicídio culposo no razão do aumento da censurabilidade da conduta do
30%
trânsito majorado agente, levam ao aumento da pena. São elas: não possuir
CNH; praticar o crime em faixa de pedestre ou na
calçada; deixar de prestar socorro quando possível; ou
no exercício da profissão de motorista, no transporte de
passageiros.
O aumento previsto no art. 302, parágrafo único, II, do
Código de Trânsito Brasileiro será aplicado tanto quando
o agente estiver conduzindo o seu veículo pela via
pública e perder o controle do veículo automotor, vindo
Circunstância majorante 30%
a adentrar na calçada e atingir a vítima, como quando
estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer
manobra e, em razão de sua desatenção, acabar por
colher o pedestre.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
Interpretação
reconhece que a causa de aumento prevista no art. 302, 30%
jurisprudencial
§ 1°, II, do Código de Trânsito Brasileiro não exige que o
Comentários
No caso vertente, a influência exercida pelo denunciado João pode claramente comprometer a
imparcialidade do júri, pelo fato de se tratar de vereador e comerciante em pequena cidade.
Assim, na qualidade de Promotor de Justiça manejaria pedido de desaforamento, com base no caput, do
artigo 427, do CPP, o qual deve ser dirigido ao Tribunal ao qual vinculado o Juízo.
Solicitaria ainda fosse atribuído efeito suspensivo ao requerimento, para fins de suspensão de eventual
sessão de julgamento, considerando que o pedido em si não possui este efeito automático, conforme dicção
do §2º, do artigo 427.
Paralelamente formularia pedido para que o juiz não designasse data para o julgamento, aguardando o
pronunciamento do Tribunal.
Comentários
A remição de pena é um direito do condenado que cumpre pena em regime fechado ou semiaberto, por
meio de trabalho ou estudo, para remir pate do tempo de execução de pena. O condenado que cumpre pena
em regime aberto, semiaberto e o que usufrui de liberdade condicional também poderão remir parte do
tempo de execução da pena ou do período de prova, por meio de frequência a curso de ensino regular ou
de educação profissional, observada a contagem de tempo prevista no art. 126, §1º, inciso I, da LEP.
Esse direito é regulamentado pelos artigos 126, e seguintes, da Lei de Execuções Penais, cujas regras devem
constar em sua resposta para a questão:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por
trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
I – 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino
fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação
profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
§2o As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo poderão ser desenvolvidas de
forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas
autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados.
§3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão
definidas de forma a se compatibilizarem.
§4o O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará
a beneficiar-se com a remição.
§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso
de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde
que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.
§6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade
condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação
profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o disposto
no inciso I do § 1o deste artigo.
§8o A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa.
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido,
observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar
Art. 128. O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos.
Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente
prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.
Ademais, o tempo excedido, na frequência escolar, ao limite legal de 12 horas a cada 3 dias deve ser
considerado para fins de remição da pena.
O Superior Tribunal de Justiça já afirmou que o fato de a LEP limitar as horas de estudo não impede a
equiparação com a situação da remição pelo trabalho, não sendo possível interpretar o art. 126 da LEP como
se o legislador diferenciasse as hipóteses de remição para impedir que apenas as horas excedentes de estudo
não pudessem ser remidas. O que, em verdade, sequer está expressamente proibido em ambas as hipóteses.
Confira-se:
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO POR ESTUDO. LIMITE HORÁRIO DE ATIVIDADE
ESCOLAR ULTRAPASSADO. TEMPO QUE EXCEDEU A CARGA DE 4 HORAS DIÁRIAS QUE DEVE SER
COMPUTADO PARA REMIR A PENA. ISONOMIA COM A HIPÓTESE DE REMIÇÃO POR TRABALHO.
DOUTRINA. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE. ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA.
1. O art. 126 da Lei de Execuções Penais prevê duas hipóteses de remição da pena: por trabalho
ou por estudo.
2. No caso de frequência escolar, prescreve o inciso I, do § 1.º, do art. 126, da LEP, que o
Reeducando poderá remir 1 dia de pena a cada 12 horas de atividade, divididas, no mínimo, em
3 dias.
3. É certo que, para fins de remição da pena pelo trabalho, a jornada não pode ser superior a oito
horas (STF, HC 136.701, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 19/06/2018, DJe
31/07/2018; v.g.). Por isso, no caso de superação da jornada máxima de 8 horas, o Superior
Tribunal de Justiça firmou entendimento de que “eventuais horas extras devem ser computadas
quando excederem a oitava hora diária, hipótese em que se admite o cômputo do excedente
para fins de remição de pena” (HC 462.464/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 20/09/2018, DJe 28/09/2018).
4. O inciso II do art. 126 da Lei de Execuções Penais limita-se a referir que a remição ali regrada
ocorre à razão de "1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho". Diferentemente, para o
caso de estudo, a jornada máxima está prevista na LEP, ao descrever que a remição é de "1 (um)
dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental,
médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional –
divididas, no mínimo, em 3 (três) dias" (que resulta média máxima de 4 horas por dia). Todavia, a
circunstância de a LEP limitar apenas as horas de estudos não pode impedir a equiparação com
a situação da remição por trabalho. A mens legis que mais se aproxima da intenção
ressocializadora da LEP é a de que tal detalhamento, no inciso II, seria na verdade despiciendo,
porque o propósito da norma foi o de reger-se pela jornada máxima prevista pela legislação
trabalhista. Não é possível interpretar o art. 126 como se o Legislador tivesse diferenciado as
hipóteses de remição para impedir que apenas as horas excedentes de estudo não pudessem
ser remidas – o que, a propósito, não está proibido expressamente para nenhuma das duas
circunstâncias.
5. “Nenhum esforço da pessoa presa para reduzir seu grau de vulnerabilidade – em especial em
um ambiente dessocializador por natureza – pode ser desprezado. Em última análise, o princípio
da humanidade demanda que todas as oportunidades redutoras de danos sejam aproveitadas,
evitando-se desperdícios de esforço humano e tempo existencial. […]. [N]ão é razoável, nem
proporcional, admitir-se a interpretação ampliativa da lei para efeito de remição por trabalho e
vedá-la para fins de remição por estudo” (ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução Penal: Teoria
Crítica. 4.ª Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, pp. 419-420).
7. Ordem de habeas corpus concedida para que a atividade escolar que excedeu a carga de 4
horas diárias seja computada para fins de remição, contada conforme a primeira parte do inciso
I, do § 1.º, do art. 126, da Lei de Execução Penal.
(STJ – HC 461.047/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 04/08/2020, DJe
14/08/2020). Negritou-se.
Em defesa do cômputo das horas excedentes, a Ministra Relatora, no relatório e voto, citou o professor
Rodrigo Duque Estrada Roig, segundo o qual “nenhum esforço da pessoa presa para reduzir seu grau de
vulnerabilidade – em especial em um ambiente dessocializador por natureza – pode ser desprezado. Em
última análise, o princípio da humanidade demanda que todas as oportunidades redutoras de danos sejam
aproveitadas, evitando-se desperdícios de esforço humano e tempo existencial”.
O autor completa afirmando que "não é razoável, nem proporcional, admitir-se a interpretação ampliativa
da lei para efeito de remição por trabalho e vedá-la para fins de remição por estudo".
Comentários
Emerson Garcia assevera que a investigação judicial eleitoral dispõe de natureza administrativa, por se tratar
de direito de petição (GARCIA, Emerson. Abuso de Poder nas Eleições. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2004, p. 167).
Pedro Henrique Távora Niess assinala que a investigação judicial eleitoral detém natureza jurisdicional, por
se tratar de direito de ação (NIESS, Pedro Henrique Távora. Direitos Políticos – condições de elegibilidade,
inelegibilidade e ações eleitorais. 2ª ed. Bauru: Edipro, 2000, p. 168).
Em diversos acórdãos, como, por exemplo, no RESPE nº 46.996/SP, o Tribunal Superior Eleitoral tem decidido
sobre a natureza jurídica da “ação de investigação judicial eleitoral”.
JURISPRUDÊNCIA
“Direito Eleitoral. Eleições 2016. Recursos especiais eleitorais. Ação de investigação judicial eleitoral.
Vereador e Prefeito. Gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem autorização judicial em
ambiente público. Licitude da prova. Preliminares afastadas. Captação ilícita de sufrágio. Ausência dos
requisitos para configuração. Abuso do poder econômico. Inexistência de prova robusta. Recurso da
coligação não conhecido” (TSE, RESPE no 46.996, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, DJU 29.08.2019).
Comentários
No âmbito das execuções privadas, os embargos podem ser ajuizados independentemente da garantia do
juízo, conforme determina o artigo 914 do CPC:
Contudo, essa regra não se aplica aos embargos à execução fiscal, que possuem regramento específico. De
fato, dispõe o artigo 16 da Lei 6.830/80:
I - do depósito;
§ 2º - No prazo dos embargos, o executado deverá alegar toda matéria útil à defesa, requerer
provas e juntar aos autos os documentos e rol de testemunhas, até três, ou, a critério do juiz, até
o dobro desse limite.
Como se observa do §1º, são inadmissíveis embargos antes de garantida a execução. O descumprimento
desse dispositivo, que ocorre quando o executado interpõe os embargos sem a garantia da dívida, conduz à
extinção dos embargos sem resolução de mérito.
Comentários
A resposta é positiva, desde que tais interesses se afigurem como indisponíveis, no caso de direitos humanos,
por exemplo, ou então interesses individuais disponíveis, mas com relevância social, na dicção do art. 127,
caput, da Constituição Federal. Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal:
Comentários
A organização funcional do Ministério Público é integrada por cargos vitalícios, de sorte que os membros do
Parquet, uma vez adquirida a vitaliciedade pelo exercício do cargo público durante dois anos, somente
podem perder o cargo vitalício por decisão judicial transitada em julgado de natureza cível, não se lhes
aplicando a decretação da sua perda como efeito secundário da condenação penal definitiva sobre a qual
versa o art. 92, inc. I, do Código Penal, em respeito ao art. 128, § 5º, inc. I, “a”, da Constituição Federal.
Também não deve ser olvidado que o Superior Tribunal de Justiça tem entendido pela possibilidade de
aplicação da sanção de perda do cargo público de membro do Ministério Público, após a aquisição da
garantia da vitaliciedade, em sede de ação civil pública condenatória por ato de improbidade
administrativa, independentemente da promoção de ação cível destinada especificamente à
perda do cargo vitalício.
JURISPRUDÊNCIA