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Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas
11 de Agosto de 2022
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 14
Sumário
1 - Tópicos Específicos e Temas Aprofundados ................................................................................................. 4
1.3.1 - Dano Moral Por Abandono Afetivo e Abandono Afetivo Inverso ....................................................................... 18
1.6.1 - Atuação do Ministério Público na ação penal exclusivamente privada e privada subsidiária da pública........... 43
1.6.2 - Habeas corpus contra decisões monocráticas de ministros do STF e o entendimento da Suprema Corte ........ 50
1097228
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 14
RODADA 14 – PROMOTORIA
1 - TÓPICOS ESPECÍFICOS E TEMAS APROFUNDADOS
Segundo a nossa Constituição Federal (Art. 5º) “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. Os incisos XLI e XLII dão
conta de assentar que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais” e “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei”.
Pois bem. Um certo partido político promoveu uma ADI no STF alegando inércia legislativa do Congresso
Nacional em apreciar proposições legislativas apresentadas com o objetivo de incriminar todas as formas de
homofobia e transfobia e, assim, garantir efetiva proteção jurídico-social aos integrantes da comunidade
LGBT. Houve ainda um mandado de injunção que apontou tal alegada mora do Congresso no sentido de
proceder à criminalização específica de todas as formas de homofobia e transfobia, especialmente das
ofensas individuais e coletivas, bem como de homicídios, agressões, ameaças e discriminações motivadas
pela orientação sexual ou identidade de gênero.
E aí coube ao STF realizar o julgamento dessas ações em face de alegada omissão legislativa do Congresso
Nacional em editar lei que criminalize os atos de homofobia e transfobia (ADO 26/DF, Plenário, rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 13.6.2019 e MI 4733/DF, Plenário, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em
13.6.2019).
Sigamos!
De todo modo, o alegado DIREITO À LEGISLAÇÃO, só pode ser legitimamente invocado quando também
existir a previsão do dever estatal de criar normas legais, imposta pelo texto constitucional.
Nessa medida, é possível concluir que a omissão do Congresso Nacional em produzir normas
legais de proteção penal à comunidade LGBT, numa atitude de inadimplemento manifesto de
indeclinável obrigação jurídica, traduz situação configuradora de ilicitude, em afronta ao texto
da CF.
Na tipologia das SITUAÇÕES INCONSTITUCIONAIS inclui-se aquela derivada do descumprimento, por inércia
estatal, de norma impositiva de determinado comportamento atribuído ao poder público pela própria
Constituição. A situação de omissão abusiva no adimplemento da prestação legislativa – caracterizada diante
do estado de mora do legislador pela superação excessiva de prazo razoável – e a imposição constitucional
de legislar qualificam-se como requisitos condicionantes da declaração de inconstitucionalidade por
omissão.
A ação direta por omissão deve ser vista como instrumento de concretização das cláusulas constitucionais
frustradas, em sua eficácia, pela inaceitável omissão do poder público, impedindo-se que se degrade a
Constituição à inadmissível condição subalterna de um estatuto subordinado à vontade ordinária do
legislador comum.
Uma vez reconhecida a existência de mora imputável ao Congresso Nacional e diante do contexto do
presente caso, desenham-se, fundamentalmente, as seguintes possibilidades de solução da mora legislativa:
a) a CIENTIFICAÇÃO do Congresso Nacional, para que adote, em prazo razoável, as medidas necessárias à
efetivação da norma constitucional (CF, art. 103, § 2º, c/c Lei 9.868/1999, art. 12-H, caput); ou b) o
RECONHECIMENTO imediato de que a homofobia e a transfobia, quaisquer que sejam as formas pelas quais
se manifestem, enquadram-se, mediante interpretação conforme à Constituição, na noção conceitual de
racismo prevista na Lei 7.716/1989.
O mero APELO ao legislador nem sempre tem sido solução eficaz, em razão da indiferença do Poder
Legislativo, que, em determinadas decisões anteriormente emanadas do STF, tem persistido em permanecer
em estado de inadimplemento da prestação legislativa que lhe incumbe promover.
Ao longo dos últimos trinta anos, para os ministros da Suprema Corte, a jurisprudência do STF evoluiu (será
mesmo uma evolução kkkk?) na busca da construção de soluções que pudessem fazer cessar esse estado de
inconstitucional omissão normativa. Isso se deu, por exemplo, na possibilidade de o Tribunal formular
solução jurisdicional para viabilizar a aplicação da norma constitucional dotada de eficácia limitada,
enquanto não sobrevier a legislação reclamada. Foi essa a solução adotada em relação ao exercício do direito
de greve por servidores públicos civis (CF, art. 37, VII) no julgamento conjunto do MI 670, do MI 708 e do
MI 712.
O procedimento hermenêutico realizado pelo Poder Judiciário, ao que entendem os ministros, objetiva
extrair a necessária interpretação dos diversos diplomas legais vigentes para, em razão da inteligência e do
sentido exegético que lhes der, obter os elementos pertinentes à exata aplicação do direito. Isso em nada se
confunde com o processo de elaboração legislativa. Ou seja, para o STF, o processo de interpretação dos
textos legais e da Constituição NÃO importa em usurpação das atribuições normativas dos demais poderes
da República.
Na espécie, o conceito de “RAÇA”, que compõe a estrutura normativa dos tipos penais incriminadores
previstos na Lei 7.716/1989, tem merecido múltiplas interpretações, revestindo-se, por isso, de inegável
conteúdo polissêmico.
No julgamento do HC 82.424 (caso Ellwanger), o STF assentou que “a divisão dos seres humanos em raças
resulta de um processo de conteúdo meramente político-social”. Assim, a noção de RACISMO – para efeito
de configuração típica dos delitos previstos na Lei 7.716/1989 – não se resume a um conceito de ordem
estritamente antropológica ou biológica. Projeta-se, ao contrário, numa dimensão abertamente cultural e
sociológica, a abranger até mesmo situações de agressão injusta resultantes de discriminação ou de
preconceito contra pessoas por sua orientação sexual ou sua identidade de gênero.
subalternas, disseminar criminosamente o ódio público contra outras pessoas em razão de sua orientação
sexual ou de sua identidade de gênero.
A Constituição é muito clara: “Art. 5º (...) XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal”.
Pelo que se estabeleceu, a solução propugnada NÃO sugere a aplicação analógica das normas penais
previstas na Lei 7.716/1989 nem implica a formulação de tipos criminais ou cominação de sanções penais
(eihn?!)
É certo que, considerado o princípio constitucional da reserva ABSOLUTA de lei formal, o tema pertinente à
definição de TIPO PENAL e à cominação de sanção penal subsume-se ao âmbito das normas de direito
material, de natureza eminentemente penal, regendo-se, em consequência, pelo postulado da reserva de
parlamento.
Na verdade, a solução ora proposta LIMITA-SE à mera subsunção de condutas homotransfóbicas aos diversos
preceitos primários de incriminação definidos em legislação penal já existente (Lei 7.716/1989), pois os atos
de homofobia e de transfobia constituem concretas manifestações de racismo, compreendido em sua
dimensão social, ou seja, o denominado racismo social.
Em suma, enquanto o Congresso Nacional não atuar, incide a Lei do Racismo, não por analogia ou
interpretação extensiva, mas porque, no conceito de racismo firmado pelo STF, estão colhidas as situações
tipificadas na lei. Ademais, a homofobia deve ser tratada como motivo fútil ou torpe nos outros tipos penais
previstos no Código Penal.
Houve divergência!
Eles entendiam que se deveria apenas para reconhecer a mora legislativa e dar ciência ao Congresso Nacional
para a adoção das providências necessárias. Para eles, não obstante a repugnância que provocam as
condutas preconceituosas de qualquer tipo, somente o Poder Legislativo pode criminalizar condutas, sendo
imprescindível lei em sentido formal. Portanto, a extensão do tipo penal para abarcar situações não
especificamente tipificadas pela norma penal incriminadora atenta contra o princípio da reserva legal.
O ministro Marco Aurélio entendeu que a Constituição não assenta, peremptoriamente, que se tenha
“CRIMINALIZAR” no vocábulo “punirá”, contido no inciso XLI do art. 5º da CF.
Em decorrência disso, NÃO haveria omissão legislativa quanto à criminalização específica da homofobia e da
transfobia. Deveria, assim, ser respeitada a liberdade legiferante franqueada ao legislador ordinário, espera-
se que a sinalização do STF quanto à necessária proteção das minorias e dos grupos socialmente vulneráveis
contribua para a formação de uma cultura livre de todo e qualquer preconceito e discriminação, preservados
os limites da separação dos Poderes e da reserva legal em termos penais.
Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à
identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua
dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários
de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio
doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”).
Desde 2019, os Ministros do STF sustentam que existe um problema relativo às fake news, disseminadas
especialmente pelas mídias sociais. Nesse contexto, não há mais propriamente sujeitos de direito, mas
algoritmos que espalham algum tipo de informação. Portanto, mesmo com a preponderância que a liberdade
de expressão (e de sua posição preferencial), seu uso em casos concretos pode se tornar abusivo.
Em vista disso, instauraram inquérito com o intuito de apurar a existência dessas supostas notícias
fraudulentas, denunciações caluniosas, ameaças e atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir
a honorabilidade e a segurança do STF, de seus membros e familiares.
Acontece que a manobra deixou muita gente (com razão) de queixo caído! Como assim o STF investigar
(sendo a própria vítima) e ainda depois vai julgar esses fatos??!!!
Pois é... não sem razão o procedimento foi questionado, pretendendo-se a declaração de
inconstitucionalidade da portaria que determinou a instauração do procedimento investigatório, assim como
declarar a constitucionalidade do art. 43 do RISTF.
Confira (acredite se quiser): ADPF 572 MC/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 17 e 18.6.2020.
O Ministro Edson Fachin (relator) ressaltou que o art. 43 do RISTF trata de hipótese de investigação, e deve
ser lido sob o prisma do devido processo legal; da dignidade da pessoa humana; da prevalência dos direitos
humanos; da submissão à lei; e da impossibilidade de existir juiz ou tribunal de exceção.
Além disso, deve ser observado o princípio da separação de Poderes, uma vez que, via de regra, aquele que
julga não deve investigar ou acusar. Ao fazê-lo, como permite a norma regimental, esse exercício excepcional
submete-se a um elevado grau de justificação e a condições de possibilidade sem as quais não se sustenta.
Reconheceu que, ordinariamente, compete ao MP promover, privativamente, a ação penal pública, na forma
da lei. Dentro do sistema constitucional, a regra é: a autoridade policial investiga, o MP acusa e o juiz julga,
e nesse ambiente interagem a advocacia e as defensorias como funções essenciais.
Só que o MP não tem exclusividade na investigação preliminar. Em regra, é a polícia judiciária quem conduz
a investigação, acompanhada pelo MP, titular da acusação. Segundo a Lei 8.038/1990, o MP oferecerá
denúncia ou pedirá arquivamento do inquérito ou das peças informativas.
Não há ordem democrática sem respeito a decisões judiciais. Não há direito que justifique o
descumprimento de uma decisão da última instância do Poder Judiciário. Afinal, é o Poder Judiciário o órgão
responsável por afastar, mesmo contra maiorias, medidas que suprimam os direitos constitucionais. São
inadmissíveis, portanto, a defesa da ditadura, do fechamento do Congresso ou do STF. Não há liberdade de
expressão que ampare a defesa desses atos.
Por essa razão, o equilíbrio e estabilidade entre os Poderes e a preservação da supremacia da Constituição
estão ameaçados. Nesse contexto, ausente a atuação dos órgãos de controle com o fim de apurar o intuito
de lesar ou expor a perigo de lesão a independência do Judiciário e o Estado de Direito, INCIDE o art. 43 do
RISTF.
RISTF: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente
instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta
atribuição a outro Ministro.”
Esse dispositivo é REGRA EXCEPCIONAL que confere ao Judiciário função atípica na seara da investigação, de
modo que seu emprego depende de rígido escrutínio. É um instrumento de defesa da própria Constituição,
utilizado se houver INÉRCIA ou OMISSÃO dos órgãos de controle. Ainda que sentidos e práticas à luz desse
artigo possam ser inconstitucionais, há uma interpretação constitucional.
O STF pode, diante da ciência da ocorrência em tese de um crime, determinar a instauração de inquérito,
mesmo que não envolva autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição. Muito embora o dispositivo
regimental exija que os fatos apurados ocorram na sede ou dependência do próprio STF, o CARÁTER DIFUSO
dos crimes cometidos por meio da internet permite estender o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce
jurisdição em todo o território nacional.
Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual,
podem ser considerados como cometidos na sede ou dependência do STF.
Uma das razões para a instauração do inquérito é justamente evitar que matérias próprias do STF sejam
submetidas a jurisdições incompetentes; e para impedir que suas ordens, autoridade e honorabilidade sejam
desobedecidas ou ignoradas (kkkk). Ou seja: para preservar (obrigar) a etapa de coleta de provas.
Assim sendo, é imprescindível a obediência ao “juiz natural”. De acordo com a regra regimental, o ministro
competente para presidir o inquérito é o presidente da Corte, ou seu delegatário. Nesse caso, a delegação
pode afastar a distribuição por sorteio, embora esta também seja uma via legítima.
E quem denuncia?
A apuração inaugurada com fundamento nesse dispositivo regimental destina-se a reunir elementos que
subsidiarão a representação ou encaminhamento ao MP. Os elementos reunidos pelo STF justificam a
propositura da ação penal mediante o encaminhamento ao MP com os elementos NECESSÁRIOS para essa
propositura. As informações equivalem às que são coligidas em um inquérito. Como as ofensas são em massa
e difusas, o inquérito se justifica para coligir esses elementos.
1) oferecerá denúncia; ou
2) pedirá arquivamento do inquérito ou das peças informativas.
Portanto, ao MP competirá, derradeiramente, diante dos elementos colhidos, propor eventual ação penal
ou promover o arquivamento respectivo.
Então o STF tem carta branca para ficar abrindo investigações e procedê-las (tocá-las) como bem entender?
Assim, em tese, o art. 43 do RISTF pode dar ensejo à abertura de inquérito, contudo, NÃO é e nem pode ser
uma espécie de salvo conduto genérico, tornando-se necessário delimitar seu significado.
O STF tenta pontuar que a referida regra regimental trata de hipótese de investigação, e deve ser lida sob o
prisma do devido processo legal; da dignidade da pessoa humana; da prevalência dos direitos humanos;
da submissão à lei; e da impossibilidade de existir juiz ou tribunal de exceção.
Desse modo, as investigações não têm como objeto qualquer ofensa ao agente público, mas devem se limitar
às manifestações que denotam risco efetivo à independência do Judiciário, pela via da ameaça a seus
membros e, assim, risco aos Poderes instituídos, ao Estado de Direito e à democracia.
Atos atentatórios contra o STF, que incitem seu fechamento, a morte e a prisão de seus membros, a
desobediência a seus atos, o vazamento de informações sigilosas, NÃO são manifestações protegidas pela
liberdade de expressão. O dissenso intolerável é aquele que visa a impor com violência o consenso.
A LIBERDADE DE EXPRESSÃO atua como exercício de direitos políticos e de controle da coisa pública. Isso
porque NÃO pode haver privilégios ou tratamentos desiguais com o escopo de beneficiar agentes públicos
que exercem o poder em nome do povo.
Por outro lado, as exceções à liberdade de expressão são restritas, e seus limites estão na alteridade e na
democracia. Nesse sentido, são VEDADOS discursos racistas, de ódio, supressores de direitos e tendentes a
excluir determinadas pessoas da sociedade.
E sob esse aspecto, nenhuma disposição constitucional pode ser interpretada ou praticada no sentido de
permitir a grupos ou pessoas suprimirem o exercício dos direitos e garantias fundamentais. Assim, por
exemplo, um partido político, cujos líderes incitam a violência, defendem políticas que não respeitam a
democracia e tentam destruí-la, NÃO pode invocar a proteção contra penalidades impostas por atos
praticados com essas finalidades.
Ao menos, NÃO...
Ficou vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou procedente o pedido formulado na ADPF para fulminar
o inquérito.
Segundo ele, o inquérito resultou de ato individual do presidente do STF e não passou pelo crivo do
colegiado. Além disso, o relator do inquérito foi escolhido a dedo, sem a observância do sistema democrático
de distribuição.
Como se não bastasse, a portaria foi editada com base no art. 43 do RISTF. Ocorre que a Constituição Federal
de 1988, ao consagrar sistema acusatório, NÃO recepcionou o referido artigo do RISTF.
Pontuou que, em Direito, o meio justifica o fim, jamais o fim justifica o meio utilizado.
Mas... ao final do dia, julgou-se que é (inacreditavelmente) constitucional a Portaria GP 69/2019, que
instaurou o inquérito das fake news, e também o art. 43 do Regimento Interno do STF (RISTF), que lhe serviu
de fundamento legal.
A Lei 13.303/2016, a qual dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, autoriza
a venda de ações de empresas públicas, sociedades de economia mista ou de suas subsidiárias ou
controladas SEM prévia autorização legislativa e ainda que se cuide de alienar o controle acionário
(PRIVATIZAÇÃO).
O modelo foi questionado, claro, no STF (ADI 5624 MC-Ref/DF, Plenário, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 5 e 6.6.2019).
1) NÃO pode!
Nos termos do art. 37, XIX, da CF, somente por lei específica poderá ser autorizada a instituição de empresa
pública e de sociedade de economia mista. O texto constitucional ainda prevê que a criação das respectivas
subsidiárias, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada, depende de autorização
legislativa (CF, art. 37, XX).
Logo, a CF exige sempre a aquiescência do Poder Legislativo a esses processos de criação. No entanto, a
autorização concedida pelo Legislativo NÃO vincula o Poder Executivo.
Por força do princípio do PARALELISMO DAS FORMAS, aplica-se a dicção também à alienação do controle
acionário.
O Estado NÃO pode abrir mão da exploração de determinada atividade econômica, expressamente
autorizada por lei, sem a necessária participação do Parlamento, porque a decisão não compete apenas ao
chefe do Poder Executivo — a imprescindibilidade da autorização do Legislativo para a transferência de
poder de controle de sociedades de economia mista tem arrimo na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal: ADI 1.703, ADI 1.348, ADI 234 QO.
Aliás, a ausência de menção, pela Lei 13.303/2016 (Lei das Estatais), à indispensabilidade da autorização
legislativa pode gerar expectativas ilegítimas e, consequentemente, insegurança jurídica, sobretudo no
contexto da flexibilização da alienação de ações de que trata.
Em suma: embora seja possível a venda de parte das ações na Bolsa de Valores, a alienação do controle
acionário precisa de lei autorizativa e de algum processo LICITATÓRIO.
A Constituição NÃO autoriza a alienação direta de controle acionário de empresas estatais. Concluiu que
permitir a aludida venda direta, de maneira a impossibilitar a competição pública, atenta contra o texto
constitucional.
A CF demanda lei porque as empresas estatais são instrumentos de política pública do Estado. NÃO se trata
de intervenção do Estado na economia, e sim intervenção do Estado para realizar determinados FINS,
nomeadamente segurança nacional ou interesse coletivo.
A Lei 9.491/1997, disciplinadora do programa de desestatização dos ativos da União, incide na matéria. Essa
legislação NÃO foi revogada pelo art. 29, XVIII, da Lei 13.303/2016, nem foi afastada pela Lei das Estatais.
Pois bem. A Lei 9.491/1997 indica faculdade atinente à licitação na modalidade LEILÃO. Logo, a faculdade
prevista na norma diz respeito às modalidades licitatórias pelas quais o gestor poderá optar. Seja como for,
à míngua de especificação legal, é dever da administração pública direta ou indireta licitar.
Os ministros Cármen Lúcia, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Dias Toffoli concordaram com a
necessidade de lei prévia a autorizar a criação e alienação de empresas públicas e sociedades de economia
mista. Entretanto, dissentiram quanto às empresas subsidiárias, coligadas ou controladas.
Assim, é DESNECESSÁRIA a autorização legislativa expressa para a criação de subsidiárias quando houver
autorização legislativa da criação de empresa pública ou sociedade de economia mista e nesta constar
permissão genérica da possibilidade de criação de subsidiárias.
NÃO se exige lei específica a autorizar a criação de subsidiária e, pelo princípio do PARALELISMO
das formas, tampouco para sua alienação.
O Estado não está obrigado a valer-se da autorização para a criação de estatais, porque não está a ela
vinculado. Por conseguinte, o Poder Público pode posteriormente deixar de dar efetividade à autorização
concedida e, assim, afastar-se e desinvestir em certa área.
3) PODE sim!
Os ministros Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Luiz Fux e Celso de Mello chutaram o balde.
Para esses ministros, em eu voto vencido, a Lei 13.303/2016 não trata de privatização, mas sim estabelece o
estatuto jurídico das empresas públicas com base no art. 173, § 1º, da CF. Ademais, no art. 29, XVIII, o
diploma legal traz hipótese de dispensa licitatória.
A CF não exige autorização legislativa para a venda de ações, mesmo que corresponda ao controle acionário.
A submissão das estatais e de suas subsidiárias ao regime jurídico próprio das empresas privadas não admite
a acepção de que é necessária a edição de lei para vender ações, uma vez que essa exigência não se aplica à
iniciativa privada.
O argumento do paralelismo das formas NÃO possui lastro jurídico, até porque criar é diferente de vender
ações. O texto constitucional determina que haja lei para a criação de empresa estatal e subsidiária, porque
a intervenção do Estado no domínio econômico é exceção. Por ser EXCEÇÃO, é preciso ter a participação do
Congresso Nacional. Entretanto, o cumprimento da regra constitucional de não intervir na ordem econômica
ou desinvestir, quando agir intervindo, PRESCINDE de lei. Na espécie, volta-se à regra constitucional.
Deste modo, a alienação do controle acionário de empresas subsidiárias por empresas públicas e sociedades
de economia mista não exige autorização legislativa, menos ainda lei específica.
Bem, agora que você já conhece os argumentos, a pergunta: QUAL FOI A DECISÃO?
Nesses casos em que o Plenário se divide, prevalece o VOTO MÉDIO, que reproduz o entendimento
majoritário extraído dos pronunciamentos dos ministros em juízo de delibação.
Assim, o STF conferiu ao art. 29, caput, XVIII, da Lei 13.303/2016 (1) interpretação conforme à Constituição
Federal, nos seguintes termos:
ii) a exigência de autorização legislativa, todavia, não se aplica à alienação do controle de suas
subsidiárias e controladas.
Nesse caso último caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga
procedimentos que observem os princípios da administração pública inscritos no art. 37 da CF, respeitada,
sempre, a exigência de necessária competitividade.
A constitucionalização do direito pode ser vista como uma das consequências do neoconstitucionalismo,
que, considerando a força normativa da Constituição, reconheceu que as normas constitucionais se irradiam
por todo o sistema jurídico.
Efeito
Força
expansivo das
Neoconstitucionalismo normativa da
normas
Constituição
constitucionais
Desse modo, a Constituição, dotada de supremacia formal e material, além de ser o fundamento de validade
de todas as demais normas do sistema normativo, passa a ser compreendida como o vetor hermenêutico
de todo o ordenamento jurídico, influenciando a interpretação de todas as normas infraconstitucionais.
Cumpre registrar, nesse ponto, as lições de Luís Roberto Barroso1, para quem a constitucionalização do
direito, no que tange à Administração Pública, produz os seguintes efeitos:
1
Barroso, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O triunfo tardio do direito constitucional no
Brasil). Disponível: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/43618/44695
Limitação da discricionariedade;
Esse princípio preconiza que a atuação da administração pública, além de se vincular à lei em sentido estrito,
deve observância às normas constitucionais que regem a gestão da coisa pública. Em suma, trata-se de uma
releitura do princípio da legalidade à luz da força normativa da Constituição e dos princípios
constitucionais.
Sobre a imposição de deveres de atuação, cabe registrar o entendimento doutrinário segundo o qual a
Administração Pública pode editar regulamentos autônomos a respeito de matéria sobre as quais ainda não
foi editada a respectiva lei, quando houver urgência na regulamentação do assunto, a fim de atender o
interesse público.
Já quanto ao fornecimento de fundamentos de validade para a prática de atos de aplicação direta e imediata
da CF/88, podemos apontar o paradigmático caso do nepotismo, julgado pelo STF em sede de repercussão
geral, em que foi sedimentado o entendimento de que a vedação ao nepotismo não exige a edição de lei
formal, pois a proibição decorre diretamente dos princípios constitucionais que regem a administração
pública, tais como os da impessoalidade, moralidade e eficiência. Vejamos:
Tema 66: A vedação ao nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática, dado
que essa proibição decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição
Federal. (RE 579951, j. 20/8/2008)
Na voz da doutrina, para que haja responsabilidade civil, é necessária a verificação da presença de seus
elementos, quais sejam, a ação ou omissão juridicamente qualificada (ato lícito ou ilícito), o dano patrimonial
ou extrapatrimonial e o nexo de causalidade.
Partindo desse pressuposto, vejamos a questão da responsabilização civil pelo que se convencionou chamar
de “abandono afetivo”, dentro da construção de uma possível “teoria do desamor”.
O “abandono afetivo”, a par da ausência de conceito único e da subjetividade da aferição, tem um aspecto
mais palpável e objetivo que vem sendo reconhecido na jurisprudência. De fato, aferir se há amor ou não é
exercício intangível à realidade processual. No entanto, é possível aferir se houve ou não o cumprimento dos
deveres de cuidado, de criação, de educação e de companhia. Assim, “amar é faculdade, cuidar é dever”
(Min. Nancy Andrighi).
No plano constitucional, é no art. 227 da CF/882 que reside o lastro inicial do tema. Note-se que o comando
constitucional, ao instituir um dever, atribui à criança e adolescente um direito ao convívio familiar. No
mesmo sentido, o art. 229 da CF/883 normatiza o dever do pai em assistir, criar e educar os filhos. Em termos
gerais, há um movimento de constitucionalização dos vínculos parentais, com foco na dignidade da pessoa
humana (CF, art. 1°, III) e no direito à busca da felicidade (STF, RE 898.060/SC) e a tese do abandono afetivo
é também consequência dessa releitura do direito de família.
No plano legal, é importante lembrar do princípio da proteção integral (ECA, art. 3°), do direito da criança e
do adolescente ao desenvolvimento sadio e harmonioso (ECA, art. 7.º), bem assim o direito a ser criado e
educado no seio de sua família (ECA, art. 19). Por fim e não menos importante, o art. 1.634 do CC fixa o dever
dos pais de gerir a criação e educação dos filhos. Tudo isso quer dizer que, seja pela concepção, seja por meio
2
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
3
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
os pais na velhice, carência ou enfermidade.
da adoção, os pais assumem deveres jurídicos em relação à sua prole. Estas obrigações vão além das
chamadas “necessarium vitae” (alimentos necessários para que a pessoa sobreviva).
Nesse contexto, fica claro que, a depender do caso concreto, a conduta omissiva e desidiosa do genitor(a),
com gravíssimo descaso em relação ao filho, poderá sim configurar ato ilícito. No ponto, ainda que em tom
de excepcionalidade, a jurisprudência atual do STJ reconhece a possibilidade do dano moral, como ficou
assentado na afirmação n. 7, constante da Edição n. 125, da ferramenta Jurisprudência em teses da corte,
publicada em 2019:
“o abandono afetivo de filho, em regra, não gera dano moral indenizável, podendo, em hipóteses
excepcionais, se comprovada a ocorrência de ilícito civil que ultrapasse o mero dissabor, ser
reconhecida a existência do dever de indenizar”
Outra importante baliza jurisprudencial do tema é o REsp 1.159.242/SP, veiculado no inf. 496 do STJ:
“Civil e processual civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por dano moral. Possibilidade.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o
consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor
jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão,
mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do art.
227 da CF/1988. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica
em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere,
que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e
companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar
das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores
em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero
cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a
existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de
matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A
alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso
especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória
ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido” (STJ, REsp 1.159.242/SP, 3.ª Turma, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 24.04.2012,DJe 10.05.2012).
Enunciado 8 do IBDFAM: O abandono afetivo pode gerar direito à reparação pelo dano causado.
Assim, para que haja responsabilidade civil, conjugando os entendimentos jurisprudenciais, percebe-se que
a dificuldade não é a caracterização do ato ilícito, mas a verificação concreta de um dano psicológico tal que
supere um mero dissabor e viole consideravelmente a dignidade da criança e adolescente. Portanto, não há
fórmula, pois só as circunstâncias fáticas é que levarão ou não à responsabilidade civil.
No ponto, ainda é importante caracterizar o chamado “abandono afetivo inverso”. O “abandono afetivo
inverso” traz os mesmos elementos conceituais já delineados, distinguindo-se pelo autor do dano
extrapatrimonial, que no caso será o próprio ascendente (filho, por exemplo). Aqui, teremos um
inadimplemento dos deveres de cuidado e afeto com nossos ascendentes, conforme aponta o art. 229 da
CF, in fine4. Sobre o tema, temos também há enunciado publicado pelo IBDFAM:
De toda forma, em que pese toda essa argumentação, é necessário citar que há entendimentos contrários
ao dano moral pelo “abandono afetivo”, como assim tem se posicionado a 4° turma do STJ5. Para a 4° turma,
haveria uma distinção entre um “dever de cuidar” e um “dever de cuidar afetuosamente”, argumentando-
se ainda que o Direito de Família seria regido por princípios próprios que afastariam a responsabilidade civil
extracontratual decorrente de ato ilícito.
Sem receio, diga-se que a tese do “abandono afetivo” tem forte ligação com a atuação da Defensoria Pública
no seu mister de defender os interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente (LC n° 80/94, art.
4°, XI)6. Logo, é tema ínsito aos concursos da DPE e pode ser cobrado como tese institucional.
Quanto à prescrição da pretensão reparatória, esta ocorrerá no prazo de 3 anos a contar da maioridade do
filho, forte no art. 206, § 3.º, inc. V, do CC7, salvo o caso de emancipação civil. Assim é, pois, dispõe o art.
197, II, do CC8 que não corre prescrição entre ascendente e descendente durante o poder familiar. Esse é,
inclusive, o entendimento do STJ9. Note-se ainda que o prazo prescricional destas demandas na vigência do
CC/16 era de 20 anos.
4
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
os pais na velhice, carência ou enfermidade.
5 STJ. 4ª Turma. REsp 492.243-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 12/06/2018.
6
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: (...) XI – exercer a defesa dos interesses individuais e
coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência
doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado;
7
Art. 206. Prescreve: § 3 o Em três anos: V - a pretensão de reparação civil;
8
Art. 197. Não corre a prescrição: II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
9
STJ, REsp 1.579.021/RS, 4.ª Turma, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 19.10.2017, DJe 29.11.2017
No sistema do Código de Processo Civil não há revelia ou arquivamento dos autos na hipótese de ausência
injustificada da parte à audiência de conciliação/mediação, mas sim sanção de natureza administrativa,
consiste na aplicação de multa por ato atentatório à dignidade da justiça.
Essa multa será fixada em até 2% (dois por cento) da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa,
revertida em favor da União ou do Estado e não da parte contrária;
Não se considera como justificada a ausência decorrente da recusa unilateral, pois como já dito, somente a
recusa de ambas as partes permite o cancelamento do ato. Nesse sentido, é o Enunciado 61 da ENFAM:
Ainda que o Código de Processo Civil faça referência somente ao termo “conciliação” no §8º do art. 334, por
certo a multa pela ausência injustificada se aplica indistintamente tanto às sessões de conciliação como de
mediação. É essa a lição de Eduardo Cambi10 (Et al.):
“Ademais, embora o art. 334, § 8º, do NCPC tenha se referido apenas à audiência de conciliação,
o legislador disse menos do que pretendia (minus scripsit quam voluit), pois a sanção também
deve ser imposta ao não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência designada
para mediação. Afinal, a interpretação sistemática do NCPC impede a existência de tratamento
diferenciado entre ambos os meios, igualmente relevantes, de autocomposição, não havendo
correlação lógica entre o fator discrímen (exclusão da sanção para o não comparecimento em
audiência de mediação) e a desequiparação pretendida (aplicação da sanção apenas para a
ausência em audiência de conciliação). Desse modo, o termo “conciliação”, contido no art. 334,
§ 8º, do NCPC, está sendo utilizado em sentido genérico, englobando igualmente a sanção por
eventual ausência das partes na audiência de mediação”
É requisito para a aplicação da multa que expressamente conste do mandado de citação a advertência da
possibilidade de aplicação da sanção ao réu ausente. Nesse sentido é o enunciado 273 do FPPC:
10
Ob cit. 430
“Ao ser citado, o réu deverá ser advertido de que sua ausência injustificada à audiência de
conciliação ou mediação configura ato atentatório à dignidade da justiça, punível com a multa
do art. 334, § 8º, sob pena de sua inaplicabilidade.”
Não se exige o comparecimento pessoal da parte, que poderá constituir representante com poderes para
negociar e transigir, o que deve ser feito por meio de procuração específica (art. 334, § 10). De outro lado o
comparecimento das partes deve se dar com acompanhamento de advogado ou de defensor público (art.
334, § 9º), contudo, ausente este ao ato, não haverá qualquer sanção processual ao causídico, sem prejuízo,
contudo da atuação disciplinar da OAB. Como ensina Eduardo Cambi (Et al.):
É essencial que conste no mandado/carta de citação expressa referência à sanção do art. 334, §8º do Código
de Processo Civil dando plena ciência ao requerido dos efeitos do seu não comparecimento ao ato.
O atual Código de Processo Civil tratou pela primeira vez da ata notarial como meio de prova típico, ainda
que já houvesse previsão em legislação especial (Lei 8.953/94).
Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados,
a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião.
Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos
poderão constar da ata notarial.
IV - reconhecer firmas;
V - autenticar cópias.
Parágrafo único. É facultado aos tabeliães de notas realizar todas as gestões e diligências
necessárias ou convenientes ao preparo dos atos notariais, requerendo o que couber, sem ônus
maiores que os emolumentos devidos pelo ato.
A ata notarial serve para documentação, para a prova da existência e o modo de existir de algum fato.
A ata notarial não é a atestação de uma declaração de vontade, como são as escrituras públicas, mas de um
fato cuja existência ou forma de existir é apreensível pelos sentidos (pela visão, pela audição, pelo tato etc.).
Ex2: documentar a opinião injuriosa, difamatória ou caluniosa proferida por alguém em redes sociais, muito
embora o enunciado 636 do FPPC diga que mensagens instantâneas e redes sociais podem ser utilizadas no
processo sem necessitar de ata notarial;
Enunciado 636, FPPC: (arts. 439, 440, 369 e 384) As conversas registradas por aplicativos de
mensagens instantâneas e redes sociais podem ser admitidas no processo como prova,
independentemente de ata notarial.
Ex3: documentar a perturbação do condomínio pelo uso indevido do som. Ex4: em assembleias de
sociedades empresariais e associações civis é comum que todas as discussões, que serão apenas resumidas
na ata, constem de ata notarial.
Ex5: comprovar que o sujeito A está vivo para fins previdenciários, por exemplo. O que mais vem se
popularizando como meio de prova, em especial, são os feitos em que se faz necessária a comprovação de
atos praticados pela internet e que podem sumir com a mesma velocidade em que aparecem.
“Na ata notarial, o tabelião escreve a narrativa dos fatos ou materializa em forma narrativa tudo
o que presencia ou presenciou, vendo ou ouvindo com seus sentidos. Já na escritura pública, o
tabelião recebe a manifestação de vontade, qualifica-a, fazendo incidir um instituto jurídico
pertinente, presta assessoria, tem poder discricionário, obstando manifestações que estiverem
em desacordo com o direito e, por fim, redige o instrumento jurídico adequado.”
Uma vez lavrada, ela constitui, segundo Didier, um documento público, de conteúdo narrativo ou
testemunhal – já que o tabelião simplesmente narra o que sentiu (viu, ouviu, cheirou, tateou etc.).
Art. 405. O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o
escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor declarar que ocorreram em sua presença.
11
Ata Notarial – doutrina, prática e meio de prova, p. 112-113.:
Art. 384, Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos
eletrônicos poderão constar da ata notarial.
No procedimento de usucapião extrajudicial, a ata notarial é indispensável de acordo com a Lei 6.015/73:
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial
de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da
comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado,
representado por advogado, instruído com: (Incluído pela Lei nº 13.105, de 2015)
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e de seus
antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias, aplicando-se o disposto no art. 384 da Lei
no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil); (Redação dada pela Lei nº 13.465,
de 2017)
Considerando que o tabelião goza de fé-pública, não é necessária a assinatura de testemunhas na ata
notarial, que, observando o art. 192, CPC, deve estar escrita em língua portuguesa.
No Capítulo I do Título VII, o Código Penal trata dos crimes contra a família, que se dividem em: a) crimes
contra o casamento; b) crimes contra o estado de filiação; c) crimes contra a assistência familiar e; d) crimes
contra o pátrio poder, tutela e curatela.
Bigamia
Art. 235 – Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena – reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º – Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
Este tipo penal tutela a instituição do casamento que, segundo a legislação brasileira, é regido pelo princípio
monogâmico.
Sujeitos: o crime em análise é considerado próprio, vez que o sujeito ativo deve ser casada. O sujeito passivo
é o Estado e, de forma indireta, poderá ser considerado vítima o cônjuge do primeiro casamento ou o cônjuge
do segundo, se estiver de boa-fé.
Tipo objetivo: é o ato de contrair alguém, sendo casado, novo casamento. Nesse sentido, é pertinente fazer
algumas considerações:
O casamento religioso não caracteriza o delito, exceto no caso de casamento religioso com
efeito civil (art. 226, §2º, da CF/88).
Aquele que estiver separado judicialmente poderá cometer o crime, vez que a separação
judicial não extingue o casamento anterior.
Não subsistirá o crime se o casamento anterior for declarado nulo, ou se o segundo
casamento for anulado (desde que o motivo da anulação não seja a existência de casamento
anterior).
Verifica-se que o §1º traz uma figura típica privilegiada, na qual o agente contrai casamento com pessoa já
casada, conhecendo desta circunstância. Trata-se de hipótese de crime de concurso necessário.
Tipo subjetivo: é o dolo de contrair novo casamento, já sendo casado. Se o sujeito ativo não tiver consciência
do impedimento, o fato será atípico (erro de tipo).
Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que for celebrado o segundo casamento.
Existe divergência doutrinária acerca da possibilidade de tentativa.
Prescrição: em atenção ao disposto no art. 111, IV, do Código Penal, antes de transitar em julgado a sentença
final, a prescrição começará a correr da data em que o fato se tornou conhecido.
Art. 236 – Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-
lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Sujeitos: é crime comum, podendo qualquer um ser o sujeito ativo. O sujeito passivo é o Estado e,
indiretamente, a vítima que contrai o matrimônio de boa-fé.
Tipo objetivo: é o ato de contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-
lhe impedimento que não seja casamento anterior.
o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida
conjugal;
a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e
transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de
sua descendência;
a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.
Tipo subjetivo: é o dolo de contrair casamento induzindo em erro essencial o outro contraente ou ocultando-
lhe impedimento que não seja casamento anterior.
Ação penal: privada personalíssima, podendo ser proposta somente pelo cônjuge enganado. É condição para
o exercício da ação penal o trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento,
anulou o casamento.
Ação penal: o termo inicial da prescrição é o dia do trânsito em julgado da sentença anulatória do casamento.
Art. 237 – Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a
nulidade absoluta: Pena – detenção, de três meses a um ano.
Sujeitos: é crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. Se ambos os cônjuges tiverem ciência
do impedimento, responderão pelo crime em coautoria. O sujeito passivo é o Estado.
Tipo objetivo: constitui em contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a
nulidade absoluta. Este delito é subsidiário em relação ao crime do art. 237. A distinção entre os dois crimes
é que, neste caso, não há necessidade de que o agente tenha ocultado o impedimento, consumando-se
com a simples omissão.
As possíveis causas de nulidade do casamento estão previstas no art. 1.521 do Código Civil, e já foram
mencionadas no tópico referente ao crime do art. 236 do Código Penal. Há de se ressaltar que, caso a
nulidade seja referente à existência de casamento anterior, será configurado o crime de bigamia.
Tipo subjetivo: é o dolo direto, caracterizado pela vontade de contrair casamento conhecendo a existência
de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta.
Forma majorada: a pena será aumentada de um sexto a um terço se a exposição ao perigo decorre do
transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimento de qualquer natureza, em
desacordo com as normas legais.
Art. 238 – Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento: Pena – detenção, de
um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Sujeitos: é crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. Os sujeitos passivos são os cônjuges
de boa-fé e o Estado.
Tipo subjetivo: É o dolo, caracterizado pela vontade de atribuir-se autoridade para celebração de casamento,
ciente o agente da falsidade de tal declaração.
Consumação e tentativa: o crime é consumado quando o agente se atribui a autoridade para celebração do
casamento, ainda que o casamento não seja celebrado. É admissível a tentativa.
Simulação de casamento
Art. 239 – Simular casamento mediante engano de outra pessoa: Pena – detenção, de um a três
anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
O tipo penal mencionada tutela a ordem jurídica matrimonial e a regular formação da família.
Sujeitos: trata-se de crime comum, de modo que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Os sujeitos
passivos são os cônjuges enganados e o Estado.
Tipo objetivo: é o ato de simular casamento mediante engano de outra pessoa. O engano de outra pessoa
é elemento normativo do tipo, consistente no emprego de fraude, razão pela qual a mera representação
de estar casando não constitui o crime.
Há de se destacar que este crime é subsidiário, configurando-se apenas caso não constitua crime mais
grave (por exemplo, estelionato ou violação sexual mediante fraude).
Tipo subjetivo: o crime é doloso, sendo necessária a vontade e consciência de simular casamento mediante
engano de outra pessoa. Não há previsão de modalidade culposa.
Art. 241 – Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: Pena – reclusão, de
dois a seis anos.
Sujeitos: é um crime comum, podendo qualquer pessoa ser considerada sujeito ativo. Os sujeitos passivos
são aqueles prejudicados pelo registro falso e o Estado.
Tipo objetivo: consiste na realização, no registro civil, de inscrição de nascimento inexistente. Tal conduta
pode ser levada a efeito, por exemplo, pela declaração de nascimento com vida de natimorto, ou pela
declaração de nascimento de criança que sequer foi concebida.
Ressalto ser aplicável a este tipo penal o princípio da consunção, de modo que o crime de falsidade
ideológica ficará absorvido pelo crime de registro de nascimento inexistente.
Tipo subjetivo: é o dolo de promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente. Somente é
punível na modalidade dolosa.
Art. 242 – Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-
nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: Pena – reclusão,
de dois a seis anos. Parágrafo único – Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:
Pena – detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
Sujeitos: em relação à conduta de dar parto alheio como próprio, somente a mulher poderá figurar como
sujeito ativo. Nas demais modalidades, o crime é comum. O sujeito passivo é o Estado.
Considerando que as condutas previstas no tipo penal são autônomas, a prática de mais de uma destas
condutas acarretará a responsabilização por todas elas, em concurso material.
Por ausência de previsão legal, não configura crime a conduta de dar parto próprio como alheio.
Eventual falsidade utilizada na prática do crime será por ele absorvida, aplicando-se o princípio da
consunção.
Tipo subjetivo: é o dolo. No caso da conduta de ocultar recém-nascido ou substituí-lo, é exigido o dolo
específico consistente na finalidade de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil do neonato.
Forma privilegiada e perdão judicial: o parágrafo único do art. 242 prevê que, se o crime é praticado por
motivo de reconhecida nobreza, a pena será de detenção de um a dois anos, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena. Motivo de reconhecida nobreza é o que demonstra altruísmo, generosidade e solidariedade
por parte do autor.
Art. 243 – Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio,
ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao
estado civil: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Sujeitos: é um crime comum, haja vista que pode ser praticado por qualquer pessoa, contra filho próprio ou
alheio. Os sujeitos passivos são o Estado e o infante abandonado.
Tipo objetivo: a conduta típica consiste em deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência
filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito
inerente ao estado civil.
Para a configuração do crime, é imprescindível que a criança seja abandonada em asilo de expostos ou
outra instituição de assistência, pública ou privada. Ademais, é necessária a supressão ou alteração do seu
estado civil.
Tipo subjetivo: é o dolo. É exigida a finalidade especial do agente de querer prejudicar direito inerente ao
estado civil do infante. Não há previsão de modalidade culposa.
Abandono material
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18
(dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta)
anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão
alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer
descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos
e multa, de uma a dez vezes o maior salário-mínimo vigente no País. Parágrafo único – Nas
mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por
abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fixada ou majorada.
O cônjuge, os pais ou descendentes da vítima, nas hipóteses de “deixar, sem justa causa, de
prover à subsistência” e “faltar ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada,
fixada ou majorada”.
Os descendentes ou ascendentes da vítima, na modalidade “deixar de socorrer ascendente
ou descendente gravemente enfermo”.
Tipo objetivo: a conduta típica pode ser praticada das seguintes formas:
Deixar, sem justa causa, de prover à subsistência do cônjuge ou de filho menor de 18 anos ou
inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos, não lhes proporcionando
os recursos necessários.
Faltar ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.
Deixar de socorrer ascendente ou descendente gravemente enfermo. A enfermidade pode ser
física ou psíquica, não havendo necessidade que seja permanente ou incurável.
As diversas condutas típicas previstas são autônomas, sendo possível a responsabilização do agente por mais
de uma delas, em concurso material.
O Superior Tribunal de Justiça entende que “cabe ao Ministério Público demonstrar o descumprimento da
obrigação e apenas apontar a ausência de justa causa, pois tecnicamente se mostra inviável a produção de
prova negativa” (STJ, 5' T., HC 194.225/GO, j. 16/04/2013).
Para a configuração do crime, é imprescindível que a criança seja abandonada em asilo de expostos ou
outra instituição de assistência, pública ou privada. Ademais, é necessária a supressão ou alteração do seu
estado civil.
Tipo subjetivo: é o dolo. Há de se destacar que o mero inadimplemento da pensão alimentícia não configura
o tipo penal, devendo ser demonstrado que o agente, possuindo recursos, propositalmente deixa de cumprir
a obrigação.
Consumação e tentativa: o crime é consumado quando o agente deixa de prover a subsistência ou de prestar
socorro à vítima. Trata-se de crime permanente. Por ser um crime omissivo puro, a tentativa é inadmissível.
Forma equiparada: o parágrafo único do art. 244 equipara à conduta do caput o ato do agente de, sendo
solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.
Art. 245 – Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva
saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
anos.
O tipo penal protege o dever de assistência familiar destinado aos filhos menores.
Sujeitos: é um crime próprio, vez que somente pode ser praticado pelos pais, exceto em relação à figura
equiparada prevista no §2º, que se trata de crime comum. O sujeito passivo é o filho menor de 18 anos.
Tipo objetivo: é o ato de entregar (deixar sob os cuidados, guarda ou vigilância) o filho menor de 18 (dezoito)
anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo.
A entrega da vítima deve ser realizada a pessoa que possa colocá-lo em perigo, o qual é presumido em
face das condições pessoais daquele a quem é entregue a criança ou o adolescente.
Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a entrega da vítima à pessoa inidônea, ainda que o
menor não venha a sofrer nenhum mal.
Formas qualificadas: a pena será de um a quatro anos de reclusão, nas seguintes hipóteses:
Abandono intelectual
Art. 246 – Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena
– detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Sujeitos: é um crime próprio. Os sujeitos ativos somente poderão ser os pais da vítima e o sujeito passivo
somente será o filho em idade escolar obrigatória (07 a 14 anos).
Tipo objetivo: é deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária do filho em idade escolar. O tipo
penal restará configurado ainda que o filho não more com os pais.
É necessário que a omissão do agente seja injustificada. Assim, a doutrina entende ser atípica a conduta do
pai que deixa de matricular o filho em escola pública ou particular, para ministrar a educação do menor
em casa.
Consumação e tentativa: o crime é consumado quando o agente se omite, por tempo juridicamente
relevante, deixando de garantir a educação básica do filho em idade escolar. A tentativa é inadmissível.
Abandono moral
Art. 247 – Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua
guarda ou vigilância: I – frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa
ou de má vida; II – frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou
participe de representação de igual natureza; III – resida ou trabalhe em casa de prostituição; IV
– mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: Pena – detenção, de um a
três meses, ou multa.
Sujeitos: podem ser sujeitos ativos os pais do menor, ou qualquer pessoa a quem tenha sido confiada a
guarda ou vigilância. O sujeito passivo é o menor de 18 anos.
Tipo objetivo: a conduta consiste em permitir que alguém, menor de 18 anos, que esteja sob seu poder,
guarda ou vigilância:
É necessário que a omissão do agente seja injustificada. Assim, a doutrina entende ser atípica a conduta do
pai que deixa de matricular o filho em escola pública ou particular, para ministrar a educação do menor
em casa.
Consumação e tentativa: o crime é consumado quando o agente se omite, por tempo juridicamente
relevante, deixando de garantir a educação básica do filho em idade escolar. A tentativa é inadmissível.
Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por
determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial;
confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou
interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame: Pena -
detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Sujeitos: o crime é comum, podendo qualquer pessoa figurar como sujeito ativo. Os sujeitos passivos são os
pais, tutores e curadores, bem como o incapaz.
Induzir a fuga de incapazes: para que seja configurada a conduta, é essencial que o incapaz
realmente fuja.
Entrega arbitrária de incapazes: quem recebe o incapaz também responde pelo crime, desde
que tenha ciência da ausência de consentimento do responsável legal.
Sonegação de incapazes: é a recusa injustificada de entregar o incapaz. É exigido o elemento
normativo “sem justa causa”.
Subtração de incapazes
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não
constitui elemento de outro crime.
Sujeitos: Trata-se de crime comum. Os sujeitos passivos são os pais, tutores e curadores, bem como o
incapaz.
Tipo objetivo: conduta típica consiste em subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o
tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial. Tendo em vista que o tipo penal prevê o termo
“subtração”, é necessário que o incapaz seja retirado da esfera de vigilância do representante legal.
O §1º do artigo determina que: “O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não
o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda”.
Tipo subjetivo: é o dolo de subtrair o incapaz, devendo o agente ter a consciência de que o incapaz está sob
o poder ou guarda de outrem, em virtude de lei ou de ordem judicial.
Perdão judicial: o juiz poderá deixar de aplicar a pena em caso de restituição do incapaz, se este não sofreu
maus-tratos ou privações.
Dentro do conceito de sanção penal previsto no Código Penal, estão previstas as medidas de segurança. As
medidas de segurança têm função preventiva e terapêutica, com a finalidade de curar ou tratar o agente
que praticou fato típico e ilícito.
Nesse sentido, o art. 97 do Código Penal dispõe: “Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua
internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz
submetê-lo a tratamento ambulatorial”.
O art. 319, VII, do Código de Processo Penal, prevê a internação provisória do acusado como medida cautelar
diversa da prisão, em caso de crime praticado com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem
ser o agente inimputável ou semi-imputável, e houver risco de reiteração.
Inimputável: o art. 26 do Código Penal estabelece ser isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Desse modo, verificada a inimputabilidade do agente, será proferida uma sentença absolutória imprópria,
momento em que não será aplicada a pena, mas sim a medida de segurança adequada.
Semi-imputável: é aquele que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. Neste caso, não há isenção de pena, mas somente uma causa de
diminuição da pena, de 1/3 a 2/3.
Ainda que o agente seja condenado, o art.98 do Código Penal prevê que, necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade poderá ser substituída pela internação, pelo
prazo mínimo de 01 (um) a 03 (três) anos. Assim, a pena privativa de liberdade não poderá ser aplicada
cumulativamente à internação, devendo o juiz aplicar a pena e, em seguida, analisar a necessidade de
substituição pela internação.
Se, durante a execução da pena, o executado passar a sofrer de doença mental, poderá o juiz substituir a
pena por medida de segurança, devendo ser observado o tempo de cumprimento da pena privativa de
liberdade fixada na sentença condenatória (STJ – HC 249790/MG). Havendo recuperação da saúde mental,
o condenado deverá voltar a cumprir a pena.
Caso seja extinta a punibilidade do agente, não se impõe a medida de segurança, nem subsiste a que tenha
sido imposta.
A medida de segurança deverá ser aplicada com prazo mínimo determinado, que deverá ser de 01 (um) a 03
(três) anos. Findo o prazo fixado, o indivíduo deverá ser submetido a perícia médica para averiguação da
periculosidade. Caso persista a periculosidade, a medida de segurança voltará a ser cumprida.
A perícia médica deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da
execução.
Segundo determina o Código Penal, a internação ou o tratamento ambulatorial será por tempo
indeterminado, até que seja verificada, por perícia médica, a cessação da periculosidade. A tal respeito, o
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 527, a qual determina que:
“O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado”.
O juiz poderá determinar a internação do agente em qualquer fase do tratamento ambulatorial do agente,
se tal medida for necessária para fins curativos.
Uma vez concluída a cessação da periculosidade através de perícia médica, o juiz concederá a liberação ou
desinternação do agente, que será condicional. Assim, se o agente praticar fato indicativo de persistência
da periculosidade, antes do decurso de 01 (um) ano, será reestabelecida a medida de segurança.
As medidas de segurança se submetem ao regime da prescrição penal, e a contagem será regulada pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime (STJ – RHC 30915).
A grande questão aqui é se o art. 283 do CPP, no que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito
em julgado do título condenatório, tendo em vista o figurino do art. 5º, LVII, da CF, é constitucional.
Com uma pergunta dessas, ficou mais fácil para o STF: o artigo é constitucional!
Confira a decisão: Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em
7/11/2019.
MARCO AURÉLIO
O ministro Marco Aurélio (exultante) afirmou que as ações declaratórias versam o reconhecimento da
constitucionalidade do art. 283 do CPP, no que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito em
julgado do título condenatório, tendo em vista o figurino do art. 5º, LVII, da CF.
Assim, de acordo com o referido preceito constitucional, ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória. A literalidade do preceito não deixa margem a dúvidas: a culpa
é pressuposto da sanção, e a constatação ocorre apenas com a preclusão maior.
A exceção corre à conta de situações individualizadas nas quais se possa concluir pela aplicação do art. 312
do CPP e, portanto, pelo cabimento da prisão preventiva.
O abandono do sentido unívoco do texto constitucional gera perplexidades, observada a situação veiculada:
pretende-se a declaração de constitucionalidade de preceito que reproduz o texto da CF.
Ao editar o dispositivo em jogo, o Poder Legislativo, por meio da Lei 12.403/2011, limitou-se a concretizar,
no campo do processo, garantia explícita da CF, adequando-se à óptica então assentada pelo próprio STF no
julgamento do HC 84.078, julgado em 5 de fevereiro de 2009, segundo a qual “a prisão antes do trânsito em
julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar”.
Também não merece prosperar a distinção entre as situações de inocência e não culpa. A execução da pena
fixada por meio da sentença condenatória pressupõe a configuração do crime, ou seja, a verificação da
tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade. Assim, o implemento da sanção não deve ocorrer enquanto não
assentada a prática do delito. Raciocínio em sentido contrário implica negar os avanços do
constitucionalismo próprio ao Estado Democrático de Direito.
O princípio da não culpabilidade é garantia vinculada, pela CF, à preclusão, de modo que a
constitucionalidade do art. 283 do CPP não comporta questionamentos. O preceito consiste em reprodução
de cláusula pétrea cujo núcleo essencial nem mesmo o poder constituinte derivado está autorizado a
restringir.
A determinação constitucional não surge desprovida de fundamento. Coloca-se o trânsito em julgado como
marco seguro para a severa limitação da liberdade, ante a possibilidade de reversão ou atenuação da
condenação nas instâncias superiores.
Deve-se buscar a solução consagrada pelo legislador nos arts. 312 e 319 do CPP, em consonância com a CF e
ante outra garantia maior – a do inciso LXVI do art. 5º: “ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”.
Uma vez realinhada a sistemática da prisão à literalidade do art. 5º, LVII, da CF – no que direciona a apurar
para, em virtude de título judicial condenatório precluso na via da recorribilidade, prender, em execução da
pena –, surge inviável, no plano da lógica, acolher o requerimento formalizado, em caráter sucessivo, nas
ADCs 43 e 54, concernente ao condicionamento da execução provisória da pena ao julgamento do recurso
especial pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), como se esse tribunal fosse um “Supremo Tribunal de
Justiça”, nivelado ao verdadeiro e único Supremo.
ROSA WEBER
A ministra Rosa Weber esclareceu que, diante do indeferimento das medidas cautelares nessas ações
declaratórias e da tese fixada em repercussão geral segundo a qual a execução antecipada da pena não
compromete a presunção de inocência, adotou, em momento anterior, o entendimento majoritário da
Corte.
Entendimento este mantido em processo de feição subjetiva, como no caso de habeas corpus. Porém, ao se
julgar o mérito das ADCs, processo de índole objetiva, explicou estar apta a reapreciar o tema de fundo.
Asseverou que o 5º, LVII, da CF, além de princípio, representa também regra específica e expressamente
veiculada pelo constituinte – a fixar, objetivamente, o trânsito julgado como termo final da presunção de
inocência, o momento em que passa a ser possível impor ao acusado os efeitos da atribuição da culpa.
Para a ministra, o texto do art. 283 do CPP guarda higidez frente à ordem objetiva de princípios, valores e
regras inscritos na Carta constitucional de 1988.
A Constituição de 1988 não assegura uma presunção de inocência meramente principiológica. Ainda que não
o esgote, ela delimita o âmbito semântico do conceito legal de culpa, para fins de condenação criminal, na
ordem jurídica por ela estabelecida. E o faz ao afirmar categoricamente que a culpa supõe o trânsito em
julgado.
em relação a ordenamentos jurídicos que, por mais merecedores de admiração que sejam, não
contemplam figura normativa-constitucional análoga.
De outra parte, ainda que se pretendesse relativizar a densidade normativa do art. 5º, LVII, da CF, despindo-
o da sua literalidade, não seria possível identificar, no art. 283 do CPP, qualquer ofensa a este ou a qualquer
outro preceito constitucional.
Em face de ato normativo editado pelo Poder Legislativo com exegese plenamente compatível com o
parâmetro constitucional de controle, a tônica do exame de constitucionalidade deve ser a deferência da
jurisdição constitucional à interpretação empreendida pelo ente legislativo.
Não cabe ao Poder Judiciário, no exercício do controle jurisdicional da exegese conferida pelo Legislador a
uma garantia constitucional, simplesmente substituí-la pela sua própria interpretação da Constituição.
Embora fortes razões de índole social, ética e cultural amparem seriamente a necessidade de que sejam
buscados desenhos institucionais e mecanismos jurídico-processuais cada vez mais aptos a responder, com
eficiência, à exigência civilizatória que é o debelamento da impunidade, não há como, do ponto de vista
normativo-constitucional vigente – cuja observância irrestrita também traduz em si mesma uma exigência
civilizatória –, afastar a higidez de preceito que institui garantia, em favor do direito de defesa e da garantia
da presunção de inocência, plenamente assimilável ao texto magno.
RICARDO LEWANDOWSKI
O ministro Ricardo Lewandowski pontuou que a presunção de inocência integra a cláusula pétrea alusiva aos
direitos e garantias individuais que representa a mais importante das salvaguardas do cidadão.
Segundo o ministro, é vedado, até mesmo aos deputados e senadores, ainda que no exercício do poder
constituinte derivado do qual são investidos, extinguir ou minimizar a presunção de inocência, plasmada na
Constituição de 1988, porquanto foi concebida como um antídoto contra a volta de regimes ditatoriais. Com
maior razão não é dado aos juízes fazê-lo por meio da estreita via da interpretação, eis que esbarrariam
nos intransponíveis obstáculos das cláusulas pétreas, verdadeiros pilares das instituições democráticas.
Afirmou que não se mostra possível superar a taxatividade do inciso LVII do art. 5° da CF, salvo em situações
de cautelaridade, por tratar-se de comando constitucional absolutamente imperativo, categórico, com
relação ao qual não cabe qualquer tergiversação. Ademais, o texto do dispositivo constitucional, além de ser
claríssimo, jamais poderia ser objeto de uma inflexão jurisprudencial para interpretá-lo in malam partem, ou
seja, em prejuízo dos acusados em geral.
Por fim, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, elaborada sob os auspícios da Organização
das Nações Unidas e subscrita pelo Brasil, de observância obrigatória por todos os Estados que a assinaram,
consagrou, em seu art. 30, o princípio da proibição do retrocesso em matéria de direitos e garantias
fundamentais, plenamente aplicável à espécie.
GILMAR MENDES
O ministro Gilmar Mendes (oh homem para gostar de uma mudança de entendimento) destacou que, nos
últimos anos, o CPP sofreu alterações, com o objetivo de se adequar à CF/1988. No mesmo sentido, o STF
tem se posicionado contra a prisão abusiva, como, por exemplo, a fundada no clamor público, ou a prisão
aplicada de modo automático, sem fundamentação.
A execução penal antes do trânsito em julgado não é compatível com a CF, e a ordem de prisão decretada
antes desse marco processual deve se revestir dos requisitos da prisão preventiva, sob pena de ofensa ao
princípio de presunção de não culpabilidade.
Ainda que existam graves disfuncionalidades no sistema processual penal, que levam à prescrição e à não
aplicação da pena, elas não legitimam a prática de medidas abusivas por parte do Poder Judiciário, como
prisões processuais infundadas ou baseadas na manutenção da ordem pública e na gravidade do delito, como
a denominada “prisão provisória de caráter permanente”.
A problemática da prescrição, ademais, pode ser solucionada de maneira mais satisfatória a depender de
medidas administrativas tomadas pelos tribunais. Desse modo, é preciso tornar o sistema mais eficiente; e
não promover a ablação de uma norma constitucional.
O combate a qualquer tipo de criminalidade deve sempre ser feito dentro dos limites da
Constituição e da lei.
CELSO DE MELLO
O ministro Celso de Mello, em mais um de seus longos votos (alguns diriam enfadonhos, mas não eu), o fez
com os seguintes fundamentos:
b) o estado de inocência, que sempre se presume, cessa com a superveniência do efetivo e real trânsito em
julgado da condenação criminal, não se admitindo, por incompatível com a cláusula constitucional que o
prevê, a antecipação ficta do momento formativo da coisa julgada penal;
c) a presunção de inocência não se reveste de caráter absoluto, em razão de constituir presunção juris
tantum, de índole meramente relativa;
e) o postulado do estado de inocência não impede que o Poder Judiciário utilize, quando presentes os
requisitos que os legitimem, os instrumentos de tutela cautelar penal, como as diversas modalidades de
prisão cautelar (entre as quais, p. ex., a prisão temporária, a prisão preventiva ou a prisão decorrente de
condenação criminal recorrível) ou, então, quaisquer outras providências de índole cautelar diversas da
prisão (CPP, art. 319);
f) a Assembleia Constituinte brasileira, embora lhe fosse possível adotar critério diverso (como o do duplo
grau de jurisdição), optou, conscientemente, de modo soberano, com apoio em escolha política
inteiramente legítima, pelo critério técnico do trânsito em julgado;
g) a exigência de trânsito em julgado da condenação criminal, que atua como limite inultrapassável à
subsistência da presunção de inocência, não traduz singularidade do constitucionalismo brasileiro, pois foi
também adotada pelas vigentes Constituições democráticas da República Italiana de 1947 (art. 27) e da
República Portuguesa de 1976 (art. 32, n. 2);
h) a execução provisória (ou antecipada) da sentença penal condenatória recorrível, por fundamentar-se,
artificiosamente, em uma antecipação ficta do trânsito em julgado, culmina por fazer prevalecer, de modo
indevido, um prematuro juízo de culpabilidade, frontalmente contrário ao que prescreve o art. 5º, LVII, da
CF;
l) a soberania dos veredictos do júri, que se reveste de caráter meramente relativo, não autoriza nem
legitima, por si só, a execução antecipada (ou provisória) de condenação ainda recorrível emanada do
Conselho de Sentença.
DIAS TOFFOLI
Por fim, o ministro Dias Toffoli demonstrou indicadores no sentido de que a morosidade da justiça, que
porventura leva à impunidade de criminosos, tem relação com erros, omissões e abusos cometidos em
diversas fases, processuais e pré-processuais, e não se pode imputar esse fenômeno exclusivamente ao
intervalo entre a condenação em segundo grau e o trânsito em julgado, que tem um papel residual nesses
números. A estatística é ainda mais alarmante em relação aos procedimentos relativos a processo e
julgamento pelo tribunal do júri, tendo em vista sua inerente complexidade.
Além disso, existem mecanismos processuais à disposição das partes e do juiz, que podem ser aplicados para
que se evite a superveniência da prescrição.
Registrou, ainda, o elevado e crescente número de presos no país cujo decreto prisional não está fundado
em decisão condenatória transitada em julgado.
Assim, cabe ao Legislativo dispor sobre a temática de maneira diversa da que está no art. 283 do CPP, desde
que o faça em respeito ao postulado da presunção de inocência.
Enquanto não houver essa mudança, a prisão que não estiver fundada nos requisitos de prisões cautelares
somente poderá subsistir se baseada no trânsito em julgado do édito condenatório. Em outras palavras, a
presunção de inocência não impede a prisão em qualquer fase, processual ou pré-processual, desde que
preenchidos os requisitos da prisão cautelar.
Mas não que a coisa tenha sido fácil.... Foram 6 votos conta 5! Apertado...
DIVERGÊNCIA.
Vencidos os ministros Edson Fachin, que julgou improcedentes os pedidos formulados; e os ministros
Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia, que julgaram os pedidos parcialmente
procedentes, no sentido de dar interpretação conforme ao art. 283 do CPP.
Admitiram a execução da pena após decisão em segundo grau de jurisdição, ainda que sujeita a recurso
especial ou extraordinário.
SÓ SE ADMITE A EXECUÇÃO DA PENA APÓS O TRÂNSITO EM POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DA PENA APÓS DECISÃO EM
JULGADO DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA, SENDO SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO, AINDA QUE SUJEITA A
VEDADA A EXECUÇÃO PROVISÓRIA. RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIO.
Marco Aurélio (relator)
Edson Fachin
Rosa Weber
Alexandre de Moraes
Ricardo Lewandowski
Roberto Barroso
Gilmar Mendes
Luiz Fux
Celso de Mello
Cármen Lúcia
Dias Toffoli
Como regra, as ações penais no ordenamento jurídico brasileiro são públicas e incondicionadas; é dizer, são
encetadas, independentemente de provocação, pelo órgão oficial incumbido constitucional e
infraconstitucionalmente desse mister: o Ministério Público:
CP. Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido.
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
Como bem se sabe, eventualmente a lei exigirá o implemento de determinadas condições (específicas) para
que o Ministério Público possa dar início à ação penal (e, ainda antes disso, para que a autoridade policial
instaure inquérito policial), como é o caso das hipóteses de requisição do Ministro da Justiça e de
representação do ofendido ou seu representante.
Mas qual é a relação do Ministério Público com as ações penais privadas (exclusivamente privadas e
subsidiárias da pública)? Em que grau caberá ao Parquet intervir no processo?
É exatamente porque o particular, ao exercer o direito de ação, defende um direito público que se
justifica a obrigatória atuação do Ministério Público durante toda a marcha processual. O órgão do
Parquet, embora em princípio não atue no processo na qualidade de parte, atuará constantemente na
condição de custos legis (fiscal da lei), velando pela legalidade do processo, sendo irrelevante, nesse
caso, se a ação penal tenha sido ajuizada por ser a única cabível (ação penal privada exclusiva) ou se
tenha ela sido ajuizada em caráter subsidiário (ação penal privada subsidiária da pública) (Bonfim,
2015).
A ação penal exclusivamente privada constitui exceção no âmbito da legitimidade para a instauração de
processo-crime na processualística penal brasileira. Como cediço, não será ela instaurada pelo Ministério
Público, mas sim pelo próprio ofendido – querelante –, por meio de advogado (capacidade postulatória) e
mediante oferecimento de ‘queixa-crime’ (peça acusatória formal inicial). Ocorre que, também nessa espécie
de ação a lei prevê a atuação do Parquet. Evidente que será uma atuação diferenciada, não mais como
autor/parte principal, mas como custos legis, fiscal da lei.
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo
Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o
Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
É de se notar que a atuação do MP nas ações penais exclusivamente privadas é sobremaneira restrita.
Assentam BADARÓ et al.:
Em razão dos princípios inerentes a tal ação, não pode o MP alterar os fatos delimitados pelo
querelante na queixa-crime, pois a decisão sobre a imputação, nesse caso, é do autor da ação
penal privada, por ser ele o legitimado ativo e em razão do princípio da discricionariedade. Em
outras palavras, não pode o MP imiscuir-se em seara alheia, sendo certo que a delimitação da
imputação, tanto no aspecto objetivo (fatos imputados) quanto no subjetivo (pessoas imputadas)
é atribuição exclusiva do querelante (Filho, et al., 2018).
Em relação à incumbência de velar pela indivisibilidade da ação penal de iniciativa privada, os autores
registram ser indevido que o próprio Parquet promova o aditamento da queixa-crime, cabendo-lhe, no
máximo, solicitar ao querelante (este sim titular da ação) que se pronuncie acerca dos demais agentes que
não compuseram o polo passivo da queixa-crime:
Embora o MP deva zelar pelo princípio da indisponibilidade, nos termos do art. 48 do CPP, isso
não significa, conforme trataremos naquele dispositivo, que o MP possa incluir na queixa pessoas
não expressamente incluídas pelo querelante. Sua atribuição, como zelador do princípio da
indivisibilidade, limita-se a, no máximo, solicitar que o querelante se manifeste sobre os demais
autores e, em caso de omissão, pedir ao juiz, em caso de violação ao princípio da indivisibilidade,
a extinção da punibilidade (Filho, et al., 2018)
No mesmo sentido, FERNANDO CAPEZ (ao menos em relação à inclusão de novos agentes ou crimes):
Não poderá, entretanto, aditar a queixa para imputar aos querelados novos crimes, ou para nela
incluir outros ofensores, além dos já existentes, pois desse modo estaria invadindo a legitimidade
do ofendido, que optou por não processar os demais. Nesse caso, opera-se a renúncia tácita do
direito de queixa, com a extinção da punibilidade dos que não foram processados (CP, art. 107,
V, primeira parte), que se estende a todos os querelados, por força do princípio da indivisibilidade
da ação penal (não quis processar um, não pode processar ninguém), desde que a exclusão de
um ou de alguns dos ofensores tenha sido feita injustificadamente (Capez, 2018).
PACELLI & FISCHER, no ponto, registram haver dois possíveis caminhos para que o Ministério Público vele pela
indivisibilidade da ação penal privada:
ii) Aditamento da queixa-crime pelo próprio MP para inclusão dos demais agentes – posição minoritária,
adotada pelos referidos autores, mas que certamente vale a referência:
O segundo caminho, que nos parece o mais ajustado ao sistema de tutela penal dos direitos
fundamentais, seguiria outro rumo. O Ministério Público, precisamente porque autorizado não
só a velar pela indivisibilidade da ação penal (art. 48), mas, também e expressamente, autorizado
a aditar a queixa (art. 45), deveria promover a inclusão das pessoas que entendesse autores do
fato, via aditamento, ainda que dele discordasse o querelante, autor da ação. Dessa maneira,
São incomuns precedentes dos tribunais superiores sobre o assunto; todavia, confira-se um julgado do STJ
que adotou a segunda posição, mas de maneira mitigada, admitindo o aditamento da queixa-crime pelo
próprio MP, desde que não o faça para incluir agentes no polo passivo ou para inovar quanto aos fatos
narrados:
Nos termos do artigo 45 do CPP, a queixa poderá ser aditada pelo Ministério Público, ainda que
se trate de ação penal privativa do ofendido, desde que não proceda à inclusão de coautor ou
partícipe, tampouco inove quanto aos fatos descritos, hipóteses, por sua vez, inocorrentes na
espécie (STJ, HC 85.039/SP, rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 05.03.2009).
O seguinte trecho do voto vencedor ilustra a atuação ministerial chancelada pela Corte Superior:
Calha acentuar que, na hipótese dos autos, o aditamento à queixa promovido pelo Ministério
Público se prestou apenas a melhor esclarecer as circunstâncias em que ocorreram o fato
criminoso, limitando-se, destarte, aos fatos e querelados já apontados, originalmente, na queixa.
Ao demais, entende também a doutrina ser inadmissível que o MP, substituindo-se ao querelante, recorra
de eventual sentença absolutória proferida em ação penal exclusivamente privada quando este, o efetivo
legitimado, não o tenha feito:
Por fim, registre-se que o Ministério Público, na ação penal exclusivamente privada, mão pode
oferecer recurso contra a absolvição do querelado se o querelante não recorreu, sob pena de
violação do princípio da disponibilidade (Alves, 2017).
BADARÓ et al. caminham no mesmo sentido; vão além, ao assentarem a possibilidade de que o MP recorra
em favor do querelado, na condição de custos legis:
Ademais, da mesma forma, não pode o MP interpor recurso em substituição ao querelante, pois
a decisão de recorrer, em caso de improcedência da queixa, é apenas e exclusivamente do
querelante. Somente poderá recorrer em caso de procedência da queixa, mas, nesse caso,
defendendo eventualmente os interesses do querelado, na qualidade de custos legis (Filho, et
al., 2018).
Se a atuação do MP nas ações penais exclusivamente privadas é deveras restrita, o mesmo não pode ser dito
em relação à ação penal privada subsidiária da pública.
Apenas para lembrar, a ação penal privada subsidiária da pública tem lugar quando o próprio ofendido,
constatada a inércia do MP, acaba por dar início à ação penal (que não deixa de ser pública), mediante o
manejo de uma queixa-crime subsidiária:
CF. Art. 5º LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada
no prazo legal;
CP. Art. 100 § 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o
Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.
O fato de o ofendido dar início à ação penal nessa hipótese não afasta o núcleo ‘público’ (natureza estatal)
da ação, tampouco afasta a natural posição do MP como seu dominus litis; isto, é, como titular da ação penal
pública. É por esta razão que o CPP, em seu art. 29, elenca um robusto rol de atribuições ministeriais no
desenvolvimento do processo:
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal.
Recortando as hipóteses legais, temos as seguintes atribuições cabíveis ao MP nessa espécie de ação:
a) Aditamento da queixa: neste aditamento não há as mesmas restrições presentes nas ações penais
exclusivamente privadas. O Ministério Público dispõe, aqui, das mesmas faculdades que teria para o
oferecimento da denúncia, como decorrência do princípio da obrigatoriedade, podendo suprir “qualquer
omissão da peça acusatória, seja para incluir outros autores da infração, seja para adicionar novos elementos
ou circunstâncias olvidados pelo querelante” (Bonfim, 2015).
Aqui é necessário destacar que o MP não pode repudiar a queixa sem fundamento. Ou seja, não
pode repudiá-la apenas como retaliação à propositura da queixa subsidiária ou porque quer
assumir a ação penal. Preenchido o pressuposto constitucional – inércia do MP –, a ação privada
subsidiária da pública é uma garantia constitucional e um direito potestativo do ofendido.
Portanto, o MP somente poderá repudiar a queixa subsidiária se esta, fundamentadamente, não
preencher os requisitos formais indicados no art. 41, ou seja, tratar-se de inicial inepta e
imprestável, ou estiverem ausentes os requisitos substanciais indicados no art. 395. Deve o MP,
sempre que suficiente, buscar apenas aditar a queixa subsidiária, caso essa medida seja
suficiente. Somente quando completamente imprestável que deve repudiar a queixa subsidiária
(Filho, et al., 2018).
excepcionalmente, estendida ao ofendido), o MP detém liberdade para atuar ativamente no processo. Aliás,
dispõe o art. 564, III, ‘d’ do CPP que a não intervenção ministerial nessa espécie de ação configura nulidade:
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
Doutrina e jurisprudência têm se posicionado pela natureza relativa da nulidade nessa situação (ausência do
MP nos atos de ação penal), cabendo analisar, precipuamente, se houve ou não prejuízo à acusação por esta
não intervenção, e se foi ela suscitada em tempo oportuno:
Esta previsão refere-se à ausência de intervenção do Ministério Público na ação penal privada
subsidiária da pública. Desimporta se foi ou não o promotor notificado para intervir, ocorrendo,
em qualquer das hipóteses, “nulidade relativa”, sujeita à arguição em tempo oportuno e à efetiva
comprovação de prejuízo para que seja reconhecida. É que nesse tipo de ação penal titular é o
particular que a intentou, não implicando a falta de intervenção do promotor, necessariamente,
em cerceamento de acusação. Exemplo: Considere-se que, por não ter sido intimado, o
Ministério Público deixa de comparecer à audiência de oitiva das testemunhas de acusação. Ao
ato, também não se faz presente o querelante, apesar de cientificado. Se assim mesmo a
audiência for realizada, será evidente o prejuízo causado pelo não chamamento do Parquet, visto
que, se estivesse presente, teria reassumido a titularidade da ação penal em razão da negligência
do particular que a deduziu. Em consequência, a audiência deverá ser anulada, renovando-se os
testemunhos colhidos. Agora, se, no mesmo caso, o particular autor da ação penal tivesse
comparecido à solenidade, não haveria, em tese, prejuízo à acusação capaz de conduzir à
anulação da audiência em face da ausência do promotor (Avena, 2017).
[...] Nos termos do posicionamento jurisprudencial firmado neste Superior Tribunal de Justiça, a
simples ausência do órgão acusatório na audiência de oitiva de testemunhas não enseja a
nulidade do ato, quando não restar devidamente demonstrada a ocorrência de prejuízos.
Precedentes. [...] (AgRg no REsp 1712039/RO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 03/05/2018, DJe 09/05/2018)
d) Retomada da ação, como parte principal: como decorrência do princípio da indisponibilidade da ação
penal pública, o Ministério Público deverá retomar a titularidade principal da ação penal caso seja constatada
desídia, negligência ou mesmo o abandono do querelante durante a sua condução. Implica reconhecer, por
consequência, que não há se falar em ‘perempção’ na ação penal privada subsidiária da pública.
III – Síntese.
Em suma, podemos elencar as seguintes atribuições e incumbências do Ministério Público no âmbito das
ações penais:
✓ a atuação, como custos legis, é deveras restrita e se limita, basicamente, a velar pela sua
indivisibilidade;
✓ a doutrina se posiciona pela inadequação de que o próprio MP adite queixa-crime, não obstante o
permissivo legal constante do art. 45 do CPP, cabendo-lhe, no máximo, manifestar-se para que o
querelante promova as devidas adições e correções na peça acusatória;
✓ parte minoritária sustenta ser possível que o MP adite a queixa-crime, inclusive para adição de novos
agentes no polo passivo;
✓ há precedente do STJ em um meio-termo, reconhecendo o poder de aditamento pelo MP, desde que
em caráter complementar, sem incluir novos agentes nem inovar nos fatos descritos;
✓ segundo a doutrina, também não poderá o MP recorrer de sentença absolutória quando não o fizer
o querelante.
Para contextualização inicial, questiona-se: admite-se o manejo de habeas corpus contra decisão
monocrática proferida por ministros do Supremo Tribunal Federal? A questão tem sido objeto de
controvérsias nos últimos tempos dentro da Suprema Corte, como veremos.
Da jurisprudência do STF dos últimos anos é possível colher decisões nos dois sentidos: pela admissibilidade
e pela inadmissibilidade do writ nesses casos. Confira-se, a título de ilustração, precedente da Corte de 2007,
no primeiro sentido:
[...] Não cabe, para o Plenário, impetração de "habeas corpus" contra decisão colegiada de
qualquer das Turmas do Supremo Tribunal Federal, ainda que resultante do julgamento de outros
processos de "habeas corpus" (Súmula 606/STF) ou proferida em sede de recursos em geral,
inclusive aqueles de natureza penal (RTJ 88/108 - RTJ 95/1053 - RTJ 126/175). Precedentes. - A
jurisprudência prevalecente no Supremo Tribunal Federal reconhece possível, no entanto, a
impetração de "habeas corpus", quando deduzida em face de decisões monocráticas
proferidas pelo Relator da causa. Precedentes (HC 84444 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, julgado em 09/08/2007).
Logo em 2008, caminhando em sentido contrário ao precedente citado, o STF entendeu pela aplicação
analógica da vedação da Súmula 606 do mesmo Tribunal (Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal
Pleno de decisão de Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso) também
aos casos de decisão monocrática de ministro relator:
HABEAS CORPUS. Ação de competência originária. Impetração contra ato de Ministro Relator do
Supremo Tribunal Federal. Decisão de órgão fracionário da Corte. Não conhecimento. HC não
conhecido Aplicação analógica da súmula 606. Precedentes. Voto vencido. Não cabe pedido de
habeas corpus originário para o tribunal pleno, contra ato de ministro ou outro órgão
fracionário da Corte. (HC 86548, Relator(a): CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em
16/10/2008).
Em 2015, novamente o STF acabou por entender cabível o remédio constitucional contra
decisão monocrática de Ministro; todavia, a conclusão derivou de empate entre os
componentes a respeito da (in)admissibilidade, do que prevaleceu a orientação mais favorável
ao paciente, nos termos do art. 146, parágrafo único do Regimento Interno do STF:
Importante ponto de inflexão neste tema ocorreu em 2016, com o julgamento do HC 105.959/DF, no qual
se assentou, novamente, a inadmissibilidade do writ:
Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de ministro ou
outro órgão fracionário da Corte. 2. Writ não conhecido (HC 105959, Relator(a): MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 17/02/2016).
Esse julgado foi referido por várias vezes, pela própria Corte, como evidência da ‘reafirmação do antigo
posicionamento’ pelo não cabimento do HC:
[...] Ocorre, no entanto, que essa diretriz jurisprudencial modificou-se, pois o Plenário desta Corte
não mais tem admitido "habeas corpus", quando impetrado contra Ministros do Supremo
Tribunal Federal (...). Impende destacar, por relevante, que o Plenário do Supremo Tribunal
Federal, em julgamento realizado em 17/02/2016, deliberou, uma vez mais, não conhecer de
"habeas corpus" nos casos em que esse remédio constitucional seja impetrado contra o Relator
da causa nesta Corte Suprema (HC 105.959/DF, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin), tal como
ocorre neste "writ". (HC 148.373 AgR, rel. min. Celso de Mello, 2ª T, j. 10-11-2017, DJE 270 de
28-11-2017).
Não nos interessam aqui, propriamente, as demais oportunidade que o Pretório Excelso teve de se
pronunciar sobre a matéria e não o fez por questões diversas; de todo modo, é de bom alvitre registrar que
nunca houve consenso dos ministros acerca dessa questão, não sendo incomuns os casos de ressalvas
quanto a entendimentos particulares dos ministros, sem prejuízo da adesão ao posicionamento diverso pelo
‘princípio da colegialidade’.
Fato é que, ao final de abril/2020, adveio novo precedente decorrente do Pleno do STF admitindo o habeas
corpus contra decisão monocrática de ministro. Assentou-se, basicamente, que a vedação da Súmula 606 do
STF abrangeria apenas os julgamentos colegiados, e não os individuais:
O habeas corpus é cabível contra decisão formalizada por integrante do Supremo, valendo notar
que o verbete nº 606 da Súmula alcança ato de Colegiado, e não individual. (HC 130.620/RO, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 30/04/2020).
Sem prejuízo desse encaminhamento, deixo consignada a minha posição quanto à inadequação
da via eleita, tendo em vista o não cabimento de habeas corpus contra decisão proferida por
Ministro ou Turma do Supremo Tribunal Federal (Súmula 606 do STF) (Trecho do voto do Min.
Luiz Roberto Barroso, HC 130.620/RO).
Ou ainda no mesmo sentido que o Relator, mas com ressalvas quanto à extensão e limites desse cabimento:
Reitero que já consignei meu entendimento pessoal pelo cabimento de habeas corpus contra
decisão individual de seus membros com fundamento no art. 102, I, i, da Constituição Federal,
segundo o qual “compete ao Supremo Tribunal processar e julgar habeas corpus [...] quando o
coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário
cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal”. Mantenho,
portanto, esse ponto de vista já externado na Corte no julgamento HC nº 127.483/SP, de minha
relatoria.
Penso, todavia, ser necessário impor determinadas balizas a seu emprego, sob pena de sua
utilização indiscriminada não apenas subverter o sistema recursal, mas também inviabilizar o
funcionamento do Supremo, como já externei no julgamento do HC nº 152.707-MC-Ref, também
de minha relatoria (Trecho do voto do Min. Dias Toffoli no HC 130.620/RO).
Sua Excelência (Min. Dias Toffoli), ainda, fez importante observação quanto ao carecimento de discussão
presencial do tema pelo Pleno do STF (que se mantém até hoje), a qual evidencia a falta de uma conclusão
robusta acerca do tema:
Não bastasse, alguns Ministros acabaram por seguir o relator apenas quanto à conclusão do julgamento,
consignando expressa ressalva do entendimento pela inadmissibilidade do writ contra decisões
monocráticas de ministros12.
12
Como se verá no trecho do voto do Min. Celso de Mello no HC 170.263 colacionado adiante, que melhor
detalha as condições peculiares do julgamento do HC 130.620 e o prevalecimento da tese
cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de Ministro ou outro
órgão fracionário da Corte. 2. Não conhecimento do habeas corpus (HC 170263, Relator(a):
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2020).
O voto do decano, Min. Celso de Mello, muito bem sintetiza o panorama atual da matéria:
É de ressaltar-se que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, na sessão virtual realizada entre
os dias 24/04/2020 e 30/04/2020 , apreciou o HC 130.620/RR , Rel. Min. MARCO AURÉLIO,
impetrado contra eminente Ministra deste Tribunal, vindo a maioria dos Juízes desta Suprema
Corte, naquele julgamento , a acompanhar o voto proferido pelo eminente Relator da causa, em
ordem a indeferir o pedido deduzido por meio do remédio constitucional do “habeas corpus”.
Ocorre, no entanto, que os Ministros ALEXANDRE DE MORAES e LUIZ FUX, não obstante
acompanhando, quanto ao fundo da controvérsia, a conclusão manifestada pelo Ministro Relator
da causa, fizeram consignar, nos votos que proferiram naquele julgamento (HC 130.620/RR),
expressa ressalva quanto ao entendimento por eles perfilhado no sentido da inadmissibilidade
da utilização do “habeas corpus” contra atos proferidos por Ministros do Supremo Tribunal
Federal, cabendo destacar , ainda , que também os Ministros GILMAR MENDES e DIAS TOFFOLI
limitaram-se a acompanhar o eminente Relator apenas e tão somente quanto ao indeferimento
do pedido formulado naquele “writ” constitucional, registrando , nas razões por eles expendidas
em referido julgamento, a necessidade de que a discussão em torno da viabilidade, ou não, da
utilização da ação de “habeas corpus” em face de Juízes do Supremo Tribunal Federal venha a
ser apreciada em sessão presencial deste Egrégio Plenário a ser oportunamente realizada.
Vê-se , desse modo , que o precedente que venho de referir (HC 130.620 /RR) não significou a
superação da diretriz jurisprudencial firmada – e reafirmada – pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal, que se pronuncia no sentido da incognoscibilidade do “habeas corpus “, quando
impetrado , como no caso , contra atos praticados por Ministros desta Suprema Corte. (Trecho
do voto do Min. Celso de Mello no HC 170.263).
Ante todo o exposto, importa compreender que, consoante os mais recentes julgados do STF acerca do tema,
reputa-se inadmissível o manejo de habeas corpus contra decisões monocráticas proferidas pelos ministros
da Corte Suprema.
Por outro lado, há se ter em mente que o tema carece de uma aprofundada e conclusiva discussão presencial
pelo Plenário do STF, sendo forçoso admitir que a questão não resta pacificada; há se acompanhar, portanto,
os posicionamentos vindouros da Suprema Corte.
Sob o ponto de vista funcional do sistema, a progressão de regime se justifica pela necessidade de se evitar
rupturas, uma vez que, como temos afirmado a prisão não “ressocializa”, pelo contrário, como esclarece
Erving Goffman13 as instituições totais são fatais para o eu civil do internado. As pessoas desaprendem a
conviver na sociedade.
O novato chega ao estabelecimento com uma concepção de si mesmo que se tornou possível por algumas
posições sociais estáveis no seu mundo doméstico. Ao entrar, é imediatamente despido do apoio dado por
tais disposições. Na linguagem exata de algumas de nossas mais antigas instituições totais, começa uma série
de rebaixamentos, degradações, humilhações e profanações do eu. O seu eu é sistematicamente
mortificado. A barreira que as instituições totais colocam entre o internado e o mundo externo assinala a
primeira mutilação do eu.
A ideia da progressão seria então de readaptar aos poucos o condenado ao convívio social, uma vez que no
regime semiaberto é possível a visita periódica ao lar, a saída para os estudos e para o trabalho.
Do ponto de vista jurídico, a progressão de regime é direito público subjetivo do condenado. Exige que sejam
cumpridos requisitos objetivos e subjetivos.
Em um sistema que prime pela absoluta segurança jurídica, que rechace a flexibilidade (negativa)
da pena e que não se curve perante os discursos disciplinar (faltas) e criminológico (exames
criminológicos), a avaliação judicial dos direitos deveria se basear em elementos estritamente
objetivos (fração de cumprimento de pena), restando a análise dos requisitos subjetivos apenas
para efeito dos direitos domésticos do apenado.
A LEP afirma que “em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa
conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a
progressão”. Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019 (”pacote anticrime”). Prevalece que boa conduta
carcerária equivale a não ter cometido falta grave nos 12 meses anteriores. Antes por analogia aos decretos
de indulto e comutação, que previam tal lapso temporal. Agora com analogia com o livramento condicional.
Frise-se: faltas graves, não faltas médias ou leves.
Em relação aos requisitos objetivos a Lei n. 13.964 de 2019 (“pacote anticrime”) alterou significativamente
a matéria. Antes a progressão de regime ocorria com o cumprimento, em regra, de 1/6 da pena (art. 112
LEP). No caso de crimes hediondos, a progressão se dava com o cumprimento de 2/5 se primário ou 3/5 se
reincidente (art. 2º, §2º, da Lei 8.072 de 1990). Além da progressão prevista no §3º do art. 112 da LEP.
O “pacote” revogou o art. 2º, §2º, da Lei 8.072 de 1990 e deu nova redação ao art. 112 da LEP.
13
Goffman, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Tradução Dante Moreira Leite. São Paulo.
Perspectiva. 2015. p. 24
14
Roig, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria crítica – 2ed. – São Paulo: Saraiva, 2016, p. 340.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido
sem violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência
à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido
com violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com
violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for
primário, vedado o livramento condicional; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta
carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a
progressão. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida
de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado
§ 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente: (Incluído pela Lei
nº 13.769, de 2018)
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; (Incluído pela Lei nº 13.769,
de 2018)
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente; (Incluído pela Lei nº 13.769, de
2018)
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior; (Incluído pela Lei nº
13.769, de 2018)
V - não ter integrado organização criminosa. (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018)
§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de
drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
A primeira observação é a de que essa alteração por lidar diretamente com o status libertatis do indivíduo
não pode retroagir para prejudicá-lo, mas retroage no que for benéfica ao condenado (art. 5º, XL - a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu).
Cabendo ao juízo da execução aplicá-la nesses casos, conforme art. 66, I, da LEP (Compete ao Juiz da
execução: aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado).
Como exemplo de tratamento mais benéfico, pode-se citar que o percentual de 16% é menos gravoso do
que a fração de 1/6 (aproximadamente 16,66%).
Outro exemplo é de que, anteriormente, a progressão para os condenados por crimes hediondos se dava em
2/5 (40%) se primário e 3/5 (60%) se reincidente, prevalecia que não era necessário que fosse reincidente
em crimes hediondos. Porém, pela nova redação, entendemos que a lei exige a reincidência específica.
Importante notar que o §3º do art. 112 da LEP não foi revogado. Ou seja, no caso de mulher gestante ou que
for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, que não tenha cometido crime com
violência ou grave ameaça a pessoa, não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente, seja
primária e tenha bom comportamento carcerário e não integre organização criminosa, o requisito objetivo
é de 1/8 da pena. O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação da progressão.
Porém, a lei não veda que seja obtido nova progressão após novo lapso de 1/8, logo, em razão do princípio
da legalidade, não se pode obstar o gozo de tal direito com base em analogia com o livramento condicional,
em que a lei expressamente veda.
O lapso temporal para a segunda progressão de regime inicia-se na data em que os requisitos da primeira
foram atingidos, pois a decisão judicial sobre progressão de regime tem natureza declaratória. Logo, o
cumprimento do requisito objetivo não necessariamente será cumprido no regime imediatamente anterior
e isso se dá, geralmente, por violações cometidas pela própria morosidade estatal. Dessa forma, a vedação
da progressão “per saltum” imposta pelo enunciado de súmula 491 do STJ (“É inadmissível a chamada
progressão per saltum de regime prisional”) é flagrantemente inconstitucional. Outro argumento para
sustentar a dita progressão “per saltum” é trazido pela Defensora Pública Bruna Dutra e pelo Defensor
Público William Akerman, ao defenderem que se é permitido até mesmo o livramento condicional aos presos
que se encontram no regime fechado, com mais razão deve ser permitida a progressão ao regime aberto
casos preenchidos os requisitos legais.
Outro precedente importante sobre o assunto foi proferido pelo STJ no ProAfR no REsp 1.753.509-PR, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, DJe 11/03/2019 (Tema 1.006), ao entender que
a unificação de penas não enseja a alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios.
Importante conhecer a fundamentação desse julgado, veiculado no Informativo 644, de abril de 2019:
Sobre o tema, é imperioso salientar que as Turmas que compõem a Terceira Seção deste Superior
Tribunal possuíam o entendimento pacificado de que, sobrevindo condenação definitiva ao
apenado, por fato anterior ou posterior ao início da execução penal, a contagem do prazo para
concessão de benefícios é interrompida e deve ser feito novo cálculo, com base no somatório
das penas. Ademais, o termo a quo para concessão de futuros benefícios seria a data do trânsito
em julgado da última sentença condenatória. Consoante o entendimento do Supremo Tribunal
Federal, a determinação de reinício do marco para concessão de novos benefícios, após a
unificação das reprimendas impostas ao sentenciado, advém da possibilidade de que,
determinada a regressão de regime, o apenado possa, em seguida, progredir, apenas diante do
cumprimento da fração necessária em relação ao quantum da pena recém incluída na guia de
execução. Portanto, verifica-se que não há previsão legal expressa que permita a alteração da
data-base para concessão de novas benesses, caso, depois de efetuada a soma das penas, o
resultado não permita a manutenção do regime atual. Da leitura dos arts. 111, parágrafo único,
e 118, II, ambos da Lei de Execução Penal, conclui-se que, diante da superveniência do trânsito
em julgado de sentença condenatória, caso o quantum de pena obtido após o somatório não
permita a preservação do regime atual de cumprimento da pena, o novo regime será então
determinado por meio do resultado da soma, de forma que estará o sentenciado sujeito à
regressão. Desse modo, não se infere que, efetuada a soma das reprimendas impostas ao
sentenciado, é mister a alteração da data-base para concessão de novos benefícios,
especialmente, ante a ausência de disposição legal expressa. Aliás, mesmo diante das razões
suscitadas pelo Supremo Tribunal Federal, percebe-se que a regressão não é consequência
imediata da unificação das penas, de maneira que o somatório não implicaria necessariamente
alteração da data-base. É imperioso consignar que a alteração da data-base, em razão da
superveniência do trânsito em julgado de sentença condenatória, procedimento que não possui
respaldo legal e é embasado apenas na regressão de regime, implica conjuntura incongruente,
na qual o condenado que já havia progredido é forçado a cumprir lapso superior àquele em que
permaneceu em regime mais gravoso para que novamente progrida. Por conseguinte, deduz-se
da exposição supra que a alteração do termo a quo referente à concessão de novos benefícios
no bojo da execução da pena constitui afronta ao princípio da legalidade e ofensa à
individualização da pena, motivos pelos quais se faz necessária a preservação do marco
interruptivo anterior à unificação das penas, pois a alteração da data-base não é consectário
imediato do somatório das reprimendas impostas ao sentenciado. No entanto, ainda que assim
não fosse, o reinício do marco temporal permanece sem guarida se analisados seus efeitos na
avaliação do comportamento do reeducando. Caso o reeducando viesse a ser condenado pela
prática de delito cometido no curso da execução, a superveniência do trânsito em julgado da
sentença condenatória, segundo a atual jurisprudência desta Egrégia Corte, acarretaria a
unificação das penas a ele impostas e a alteração da data-base para concessão de novos
benefícios, o que já haveria ocorrido em momento anterior, dada o registro da respectiva falta
grave, implicando indevido bis in idem. Aliás, se a condenação definitiva por delito praticado após
o início da execução da pena não se presta a ensejar a modificação da data-base para concessão
de novos benefícios, com maior razão não pode o trânsito em julgado de sentença condenatória
prolatada em face de delito anterior implicar o reinício do marco temporal, porquanto se trata
de fato que nem sequer fora praticado no curso do resgate das reprimendas impostas ao
reeducando. Dessa maneira, não se pode alegar que um fato praticado antes do início da
execução da pena constitua parâmetro de avaliação do mérito do apenado, uma vez que evento
anterior ao início do resgate das reprimendas impostas não desmerece hodiernamente o
comportamento do sentenciado. Assim, um delito cometido antes de iniciar-se o cumprimento
da pena não possui o condão de subsidiar a análise do desenvolvimento da conduta do
condenado e, por conseguinte, não deve ser utilizado como critério para que se proceda ao
desprezo do período de pena cumprido antes do trânsito em julgado da sentença condenatória,
em face do reinício do marco temporal relativo aos benefícios executórios. Por tanto, assim como
já delimitado no julgado do REsp n. 1.557.461/SC, Terceira Seção, julgado em 22/02/2018, DJe
15/03/2018, é preciso ressaltar que a unificação de nova condenação definitiva já possui o
condão de recrudescer o quantum de pena restante a ser cumprido pelo reeducando; logo, a
alteração da data-base para concessão de novos benefícios, a despeito da ausência de previsão
legal, configura excesso de execução, com base apenas em argumentos extrajurídicos. O período
de cumprimento de pena desde o início da execução ou desde a última infração disciplinar não
pode ser desconsiderado, seja por delito ocorrido antes do início da execução da pena, seja por
crime praticado depois e já apontado como falta grave.
Em relação à progressão de regime para presos estrangeiros, afirma Roig que as execuções penais dos
nacionais e das pessoas estrangeiras submetem-se aos mesmos ditames constitucionais, qualquer vedação
Nesse sentido, a jurisprudência do STF (STF, Ext 947, QO, Rel Min Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJe
30.10.2014) (HC 97.147/MT, 2ª T., j. 04.08.2009) e também do STJ (HC 217.149/SP, 6ª T., j. 16.08.2012).
A Lei n. 13.964 de 2019 também alterou a redação a Lei n. 12.850 de 2013, que trata da organização
criminosa.
“Art. 2º
Com a redação dada, as lideranças das ditas organizações criminosas armadas deverão iniciar o cumprimento
da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima. Além disso, de acordo com a redação dada, fica
vedada a progressão de regime e o livramento condicional se houver elementos que indiquem a manutenção
do vínculo associativo.
Algumas observações:
Primeiro: o STF já entendeu inconstitucional no HC 82.959/SP a vedação legal de progressão de regime, que
ensejou a própria súmula vinculante 26, por ferir a individualização da pena e a isonomia. Logo, pelos motivos
defendidos em momento anterior em relação às leis que contrariam posicionamento do Supremo, essa
redação legal já nasce com presunção de inconstitucionalidade.
15
Caso Castillo Petruzzi e Outros vs. Peru na Corte IDH. O juiz Cançado Trindade utilizou a expressão
desnacionalização da proteção internacional dos direitos humanos para explicar que a nacionalidade não
é um requisito para demandar internacionalmente contra o Estado, sendo o bastante que o indivíduo se
encontre sob a jurisdição daquele. Paiva, Caio. Heemann, Thimotie Aragon. Jurisprudência Internacional
de Direitos Humanos, 3ª Ed. Belo Horizonte. CEI, 2020, p. 75.
Segundo: o mesmo STF possui precedente no sentido de que o cumprimento de pena em estabelecimentos
penais de segurança máxima é incompatível com a progressão de regime.
Tal posicionamento fere o princípio da legalidade, pois não há qualquer vedação nesse sentido em lei. E
mesmo que houvesse, provavelmente seria inconstitucional, pelas mesmas razões acima expostas.
Esse posicionamento tem precedente proferido no HC 131.649/RJ veiculado no Informativo 838 de setembro
de 2016:
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, não conheceu de “habeas corpus”
em que se discutia a possibilidade da concessão do benefício em face de seu deferimento por
juiz federal sem que houvesse a impugnação da decisão pela via recursal.
No caso, o juízo da execução penal suscitou conflito de competência ao ser comunicado de que
a benesse da progressão de regime fora concedida ao paciente. O Superior Tribunal de Justiça
(STJ), ao resolver o conflito, cassou a progressão.
A Segunda Turma afirmou que a transferência do apenado para o sistema federal tem, em regra,
como fundamento razões que atestam que, naquele momento, o condenado não tem mérito
para progredir de regime. Observou que a transferência seria cabível no interesse da segurança
pública ou do próprio preso (Lei 11.671/2008, art. 3º).
Frisou que o paciente seria líder de organização criminosa. Ademais, mesmo sem cometer
infrações disciplinares, o preso que pertencesse à associação criminosa não satisfaria aos
requisitos subjetivos para a progressão de regime. A pertinência à sociedade criminosa seria
crime e também circunstância reveladora da falta de condições de progredir a regime prisional
mais brando. A Segunda Turma ainda registrou que a manutenção do condenado em regime
fechado, com base na falta de mérito do apenado, não seria incompatível com a jurisprudência
do STF.
Vencida a ministra Cármen Lúcia, que concedia a ordem para que fosse assegurado ao
condenado o regime semiaberto. Pontuava configurar constrangimento ilegal o afastamento
pelo STJ, em conflito de competência, da decisão transitada em julgado que deferira ao paciente
a progressão de regime.
HC 131.649/RJ, rel. orig. min. Cármen Lúcia, rel. p/ac. min. Dias Toffoli, julgamento em 6-9-2016.
Terceiro: a nova redação legal veda a progressão “se houver elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo (na organização criminosa)”. Ora, integrar organização criminosa é crime
e, em um Estado Democrático de Direito, uma pessoa só pode ser punida após decisão condenatória
transitada em julgado após o devido processo legal. Vedar um direito público subjetivo do réu sem o devido
processo, com base em mera probabilidade fere o princípio do Estado de inocência. E mais: é o Estado
reconhecendo a falência do próprio sistema prisional, que se diz com a função de prevenir crimes por meio
do encarceramento.
Portanto, essa previsão legal deve ser rechaçada pelos operadores do direito.
Ainda em relação à Lei de Organização Criminosa, é possível que os requisitos objetivos sejam relativizados,
nos termos do art. 4º, § 5º: “Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a
metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos”.
Há ainda uma discussão se a progressão de regime seria um direito ou um dever do condenado, que se
acentuou na iminência do cumprimento do requisito objetivo para progressão de regime do ex presidente
Lula, que afirmava ter interesse em permanecer onde se encontrava preso, com uma estrutura mais
confortável. Ocorreu também no caso da Suzane Von Richthofen, pois não queria se separar da companheira
com quem mantinha uma relação afetiva e ainda não possuía direito para progressão.
A progressão pode ser recusada pelo condenado? Duas correntes dividem o tema.
A primeira de que a progressão seria um dever do preso, não podendo ser recusada.
A segunda no sentido de que, sendo a progressão um direito público subjetivo do preso, é uma faculdade do
condenado aceitá-la ou não. Entendemos pelo acerto da segunda posição.
Fora as razões dos casos citados anteriormente, Rafael Tristão nos lembra que o indivíduo pode ter outras
razões para permanecer em regime em tese mais gravoso: a proximidade com a família, a disponibilidade de
trabalho (e com isso de remissão, já que sabemos da omissão do Estado em propiciar oportunidades de
emprego para todos os apenados), a sua própria integridade física etc. O apenado é sujeito de direitos, possui
autonomia e deve decidir o que é melhor para si, devemos rechaçar a lógica paternalista de que o Estado
deve decidir o que é melhor para cada um de nós.
Outra questão interessante sobre a progressão de regime trazida pelo Defensor Público do Estado do Rio de
Janeiro Daniel Diamantaras:
Em tese, o condenado REINCIDENTE pelo crime de organização criminosa para prática de crime hediondo ou
equiparado progride com 60% de cumprimento da pena (art. 112, inciso VII, da LEP).
No entanto, é viável arguir como tese defensiva, principalmente em uma prova da Defensoria, que a
porcentagem aplicada deve ser de 50% (aquela do art. 112, inciso VI, “b”), uma vez que viola o princípio da
proporcionalidade e igualdade, impor ao indivíduo reincidente, MAS SEM PODER DE COMANDO,
porcentagem maior para progressão de regime do que aquele que exerce efetivamente o comando sobre os
membros da organização criminosa.
Tese interessante para a defesa é a de que os requisitos objetivos elencados no art. 112 são apenas para a
primeira progressão de regime e a partir daí qualquer progressão posterior poderia ser deferida com lapso
temporal menos gravoso com base na individualização da pena.
Além disso, a nova progressão terá como base o restante da pena a cumprir e não o total de pena aplicado
na sentença condenatória.
Sobre esse tema, essas são as principais observações que gostaria de passar a vocês.
O RDD é a forma mais grave de SANÇÃO DISCIPLINAR, devendo ser utilizada como ultima ratio, restringindo,
como nenhuma outra, a já limitada liberdade de locomoção do preso e alguns dos seus direitos.
O RDD não é regime de cumprimento de pena (fechado, aberto, semiaberto) e está previsto
no artigo 52 da Lei 7.210/84 (LEP)
I. Duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de
mesma espécie;
II. Recolhimento em cela individual;
III. Visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro,
autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas;
IV. Direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4
(quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
V. Entrevistas SEMPRE monitoradas, EXCETO aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, SALVO expressa autorização judicial em contrário;
VI. Fiscalização do conteúdo da correspondência;
VII. Participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a
participação do defensor no mesmo ambiente do preso
A visita acima mencionada será gravada em sistema de áudio ou de áudio e vídeo e, com
autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.
Além disso, após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso
que NÃO receber visita poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será
gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.
2. Jurisprudência/Súmula Relevantes
Aqui vai um bônus: memorizem as súmulas e os entendimentos abaixo. Eles irão cair em sua prova!
➢ Súmula 639, STF: Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem
ouvida prévia da defesa, determine transferência ou permanência de custodiado em
estabelecimento penitenciário federal.
➢ Recusar-se em a adentrar à cela consiste em falta grave, pois é ato lesivo e grave em
descumprimento de ordem legítima e com base no art. 50, inciso VI, c/c art. 39,
incisos II e V, ambos da Lei de Execuções Penais – LEP, observando-se, inclusive, o
pleno exercício do contraditório e da ampla defesa no processo administrativo
disciplinar. STJ. 6ª Turma, AgRg no HC 618.666, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
02/03/2021
1.8.1 - Da Prevenção
1. Prevenção
O ECA, em linha com a doutrina da proteção integral e sob o pressuposto de que a criança e o adolescente,
por sua condição, possuem a personalidade maleável e suscetível a toda sorte de influências sociais,
concedeu-lhes um cuidado especial de prevenção e tratamento por parte da família, da sociedade e do Poder
Público, para que possam se desenvolver de forma plena.
Assim, a prevenção geral trata de regras gerais de proteção, principalmente relacionadas a informação,
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços; a prevenção especial, por sua vez, trata
de especificar as vedações impostas à criança e ao adolescente, principalmente no que diz espeito às
diversões infanto-juvenis.
Na esteira do que dispõe o artigo 227 da Constituição Federal, o artigo 70 do ECA impõe não apenas ao Poder
Público, mas a todos, o dever de prevenção:
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e
do adolescente.
A Lei 13.010/14, conhecida como a “Lei Menino Bernardo” ou a “Lei da Palmada”, acrescentou ao ECA os
artigos 70-A e 70-B, que tratam do direito das crianças e dos adolescentes a serem protegidos de tratamento
cruel ou degradante, inclusive da aplicação de castigos físicos como forma de educação e correção, assunto
sobre o qual tratamos na rodada passada. As disposições reforçam os deveres do Poder Público em relação
a esta proteção específica e o dever das entidades de comunicarem ao Conselho Tutelar os casos suspeitos
de maus tratos contra as crianças e os adolescentes:
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma
articulada na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de
educação de crianças e de adolescentes, tendo como principais ações:
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a garantir os direitos da criança e do
adolescente, desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o
objetivo de promover a informação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo educativo;
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com deficiência terão prioridade de
atendimento nas ações e políticas públicas de prevenção e proteção.
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas áreas a que se refere o art. 71, dentre
outras, devem contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar ao
Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela comunicação de que trata este artigo, as
pessoas encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do
cuidado, assistência ou guarda de crianças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o
injustificado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.
Segundo o artigo 71 do ECA, “a criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes,
diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento”. Importante ressaltar que o próprio dispositivo legal impõe que o acesso a todos esses
eventos ou a esses serviços deve atender à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento: ou seja, o
exercício dos direitos pelas crianças e adolescentes não pode acarretar em danos ao seu próprio
desenvolvimento.
Na mesma linha, o artigo 72 do ECA dispõe que “as obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção
especial outras decorrentes dos princípios por ela adotados”. Assim, a prevenção especial é um limitador do
próprio acesso das crianças e adolescentes a esses eventos, atividades e serviços.
2. Prevenção Especial
Os artigos 74 a 80 tratam da prevenção especial em relação a informação, cultura, lazer, esportes, diversões
e espetáculos. Em relações às diversões e aos espetáculos públicos, os artigos 74 e 75 impõem o dever de
informação clara acerca de sua natureza e de sua classificação de acordo com a faixa etária recomendável,
horários e locais em que sua apresentação se mostre inadequada.
O termo espetáculo público é expressão ampla, na qual estão inseridos todos os eventos onde o público em
geral tenha acesso no momento de sua realização, como peças teatrais, espetáculos circenses, shows
musicais, bailes etc.
As crianças e os adolescentes têm direito de acessar essas diversões e esses espetáculos públicos que sejam
adequados à sua faixa etária; no entanto, crianças menores de 10 (dez) anos somente poderão ter acesso a
esses locais e neles permanecerem se acompanhados dos pais ou responsáveis.
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos
públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais
e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar
visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza
do espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação.
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados
como adequados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos
locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
Importante salientar que o ECA, nestes dispositivos, pretendeu permitir aos pais a valoração dos conteúdos
das diversões e dos espetáculos públicos, para que, no exercício da liberdade familiar, possam decidir de
forma embasada sobre o acesso e a permanência de seus próprios filhos: não há proibição ao acesso, mas
obrigação de clara informação sobre o conteúdo. Nesse sentido, a Portaria 1.100/06, do Ministério da Justiça,
que “regulamenta o exercício da Classificação Indicativa de diversões públicas, especialmente obras
audiovisuais destinadas a cinema, vídeo, dvd, jogos eletrônicos, jogos de interpretação (RPG) e congêneres”,
dispõe:
Art. 18. A informação detalhada sobre o conteúdo da diversão pública e sua respectiva faixa
etária é meramente indicativa aos pais e responsáveis que, no regular exercício de sua
responsabilidade, podem decidir sobre o acesso de seus filhos, tutelados ou curatelados a obras
ou espetáculos cuja classificação indicativa seja superior a sua faixa etária.
Parágrafo único. O acesso de que trata o caput deste artigo está condicionado ao conhecimento
da informação sobre a classificação indicativa atribuída à diversão pública em específico.
Art. 19. Cabe aos pais ou responsáveis autorizar o acesso de suas crianças e/ou adolescentes a
diversão ou espetáculo cuja classificação indicativa seja superior a faixa etária destes, porém
inferior a 18 (dezoito) anos, desde que acompanhadas por eles ou terceiros expressamente
autorizados.
§ 1º A autorização de que trata o caput deste artigo, expedida pelos pais ou responsáveis legais,
deverá ser retida no estabelecimento de exibição, locação ou venda de diversão pública regulada
por esta Portaria.
I - identificação completa:
II - menção expressa:
Determinação similar é feita pelo artigo 76 em relação à programação de rádio e de televisão: os programas
apresentados em horário compatível com o público infanto-juvenil deverão ter finalidade educativas,
artísticas, culturais e informacionais; além disso, a sua classificação etária deve ser sempre informada antes
da apresentação.
Neste específico, a preocupação do legislador diz respeito especialmente ao excesso de violência e às cenas
de sexo na televisão, as quais podem influenciar negativamente no desenvolvimento da criança e do
adolescente, seja como um gatilho para a agressividade decorrente da banalização da violência, seja pela
sexualização precoce, fator que pode desencadear abusos sexuais na infância e na juventude.
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o
público infanto juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua
classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
O artigo 77 do ECA prevê a obrigação daqueles que vendem ou alugam “fitas de programação em vídeo” de
cuidarem para que a venda ou a locação respeite as limitações etárias, devendo haver indicação clara acerca
desta indicação em seu invólucro. O dispositivo, claramente, caiu em desuso, tendo em vista que não mais
se encontram esses tipos de estabelecimentos em tempos de “streaming”.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens
pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter
ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e
munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
O artigo 80, por seu turno, impõe a proibição de crianças e adolescentes de entrem e permaneçam em locais
que “explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que
realizem apostas, ainda que eventualmente”, impondo aos responsáveis o dever de afixar em local visível
aviso de orientação ao público.
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou
congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que
eventualmente, cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e
adolescentes no local, afixando aviso para orientação do público.
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de
fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão
ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem
indicar os limites de idade a que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência, aplicável,
separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado
ou sem aviso de sua classificação: (Expressão declarada inconstitucional pela ADI 2.404).
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão competente
como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em desacordo
com a classificação atribuída pelo órgão competente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de reincidência,
sem prejuízo de apreensão da revista ou publicação.
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe
esta Lei sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
participação no espetáculo:
Na seção que trata dos produtos e serviços, o artigo 81 aponta proibições no que concerne à venda de
determinados produtos às crianças e aos adolescentes:
II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por
utilização indevida;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam
incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
O ECA tipifica como crime o descumprimento de algumas das proibições previstas no artigo 81:
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente arma, munição ou explosivo:
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer
forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial,
sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida:
Em relação à proibição de venda de bebidas alcoólicas, o ECA tipifica a conduta também como infração
administrativa, possibilitando a imposição de penalidades também ao estabelecimento responsável:
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais);
Por fim, o artigo 82 do ECA proíbe a hospedagem de crianças e adolescentes em hotel, motel, pensão ou
estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável. A intenção do
dispositivo é, principalmente, criar obstáculos à prostituição infanto-juvenil. O descumprimento desta
proibição representa infração administrativa, nos termos do artigo 250:
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem
autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:
Pena – multa.
1.9.1 - Inelegibilidades
Após estabelecer algumas hipóteses de inelegibilidade, a Constituição, no art. 14, § 9º, autoriza lei
complementar a estabelecer outros casos de inelegibilidade, denotando que o rol de inelegibilidades
previsto na Constituição não é exaustivo.
Do exame do preceito se extrai que a Constituição autorizou o legislador a instituir novos casos de
inelegibilidade, mas fez uma reserva legal qualificada, que ocorre quando a Constituição pré-ordena a
atividade do legislador, impondo limites, quanto à forma e/ou ao conteúdo, e, no caso, houve pré-ordenação
tanto de forma como de conteúdo.
Quanto à forma, o legislador deve se valer de Lei Complementar, não se admitindo a instituição de
inelegibilidade por lei ordinária, e, por conseguinte, nem por medida provisória nem por lei delegada,
espécies normativas que não podem dispor sobre matéria reservada à lei complementar.
Quanto ao conteúdo, as inelegibilidades instituídas devem ter prazos de cessação, e, demais, só podem ser
instituídas hipóteses de inelegibilidades que guardem relação com a proteção da probidade administrativa,
da moralidade para o exercício do mandato e da normalidade e legitimidade das eleições contra a influência
do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta.
A Lei que trata do tema é a Lei Complementar 64/1990, que, em 2010, foi alterada pela Lei Complementar
135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, que promoveu mudanças significativas no regime das
inelegibilidades infraconstitucionais.
A Lei 135/2010 instituiu novas hipóteses de inelegibilidade, ampliou prazos de inelegibilidade já existentes,
e dispensou o trânsito em julgado das condenações por atos ilícitos que geram inelegibilidades (ilícito penal,
ilícito eleitoral, ilícito de improbidade), estabelecendo como marco inicial para inelegibilidade decorrentes
de condenações a decisão de órgão colegiado, como detalharemos adiante.
As hipóteses de inelegibilidade instituídas pela LC 64/1990 estão previstas no artigo primeiro da lei, que
contém sete incisos, sendo que o primeiro inciso prevê situações de inelegibilidade para quaisquer cargos e
os incisos II a VII preveem situações de inelegibilidade apenas para os cargos especificados em cada inciso.
Já as hipóteses previstas nos incisos II a VII podem ser consideradas situações de inelegibilidade relativa, pois
incidem apenas em relação ao cargo descrito em cada inciso; em verdade, as hipóteses previstas nos incisos
II a VII podem ser compreendidas como prazos de desincompatibilização, no sentido de que a pessoa que se
encontre na situação prevista no inciso precisa se desincompatibilizar no prazo ali fixado, sob pena de ficar
inelegível para aquela eleição.
As hipóteses de inelegibilidades instituídas pela lei são muitas; o inciso primeiro do artigo primeiro é extenso,
vai até a alínea “q”. Eis o teor do dispositivo legal:
a) os inalistáveis e os analfabetos;
d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em
decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de
abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido
diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento
da pena, pelos crimes:
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 8
(oito) anos;
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por
irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder
Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da
data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos
os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa
condição;
j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado
da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação
ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públicos em
campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito)
anos a contar da eleição;
l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado
ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que
importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito
em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena;
n) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, em razão de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de união estável
para evitar caracterização de inelegibilidade, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que
reconhecer a fraude;
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas responsáveis por doações eleitorais tidas
por ilegais por decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça
Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, observando-se o procedimento previsto no
art. 22;
Analisando o dispositivo legal é possível identificar que algumas das hipóteses de inelegibilidades instituídas
pela lei possuem um fundamento comum, decorrem de uma racionalidade similar, como a perda de mandato
eletivo, a condenação por atos ilícitos (ilícito penal, ilícito eleitoral e ilícito de improbidade administrativa) e
a exclusão do exercício da atividade profissional.
Analisaremos a seguir cada uma das hipóteses de inelegibilidade, agrupando-as, quando possível, em torno
de um fundamento comum.
A lei estabelece que são inelegíveis para qualquer cargo os inalistáveis e os analfabetos.
O preceito legal reproduz inelegibilidade já prevista na Constituição, no art. 14, § 4º, de modo que, ainda que
não houvesse essa previsão legal, os inalistáveis e os analfabetos seriam inelegíveis, por força do preceito
constitucional.
A perda de mandato eletivo é um dos fundamentos legais adotados pelo legislador na instituição dos novos
casos para de inelegibilidades, reunindo duas alíneas no art. 1º, I da LC 64/1990, que são as alíneas “b” e “c”.
As alíneas “b” e “c” do inciso I do art. 1º da LC 64/1990 estabelecem situações em que a perda do mandato
eletivo ocasiona a inelegibilidade; é dizer, o agente político, além de ser destituído de seu mandato, ficará
inelegível para disputar novos mandatos durante todo o período em que a inelegibilidade perdurar.
A alínea “b” se direciona a membros do Poder Legislativo e a alínea “c” se direciona a membros do Poder
Executivo.
Conforme decorre do preceito legal, o parlamentar que tiver seu mandato cassado em virtude do previsto
nos incisos I e II do art. 55/CF, ou equivalente nas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais ou do
Distrito federal, ficará inelegível.
O inciso I do art. 55/CF prevê como causa de perda de mandato parlamentar a violação de uma das situações
de impedimento ao exercício do mandato, previstas no art. 54/CF, o que é raro ocorrer; já o inciso II do art.
55/CF estabelece como causa de perda de mandato parlamentar a quebra de decoro, situação já ocorrida
algumas vezes no cenário político nacional.
Assim, simplificando o preceito legal, é possível dizer que o parlamentar que for cassado por quebra de
decoro ficará inelegível.
Exemplifiquemos com o Caso Eduardo Cunha. No dia 12.09.2016, Eduardo Cunha, então Deputado Federal,
teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados sob o fundamento de quebra de decoro parlamentar
(art. 55, II/CF). Em virtude da cassação, ficou inelegível, por força do preceito legal que estamos analisando
agora (art. 1º, I, “b” da LC 64/1990). Como a legislatura em curso à época da cassação se encerraria no dia
31.01.2019, ele permanece inelegível até o dia 31.01.2027.
Simplificando o preceito, tem-se que os Governadores, Prefeitos e respectivos Vices que tiverem seus
mandatos cassados por violação da Constituição Estadual ou da Lei Orgânica do Distrito Federal ou do
Município ficarão inelegíveis.
Chama atenção o fato de que o preceito legal não comina inelegibilidade para hipótese de cassação de
Presidente ou Vice-Presidente da República; é dizer, se o Presidente for cassado, como ocorreu com Dilma
Rousseaff e com Fernando Collor de Melo, não ficará inelegível.
A Constituição até prevê, para a hipótese de impeachment do Presidente, a sanção de inabilitação para o
exercício de função pública por 8 anos (CF, art. 52, p.u.), mas inabilitação para o exercício de função pública
e inelegibilidade são institutos distintos, com abrangências distintas.
No caso da inabilitação, o inabilitado fica impedido de exercer toda e qualquer função pública, o que abrange
as funções que decorrem de mandato eletivo, mas não se exaurem nelas; já no caso da inelegibilidade, o
inelegível fica impedido apenas de se candidatar aos cargos eletivos.
No caso de Dilma Rousseaff, como o Senado, ao decretar o impeachment, não aplicou a sanção de
inabilitação, e como não há previsão legal de inelegibilidade, ela pôde disputar a eleição de 2018.
Quanto ao período de inelegibilidade, que recai apenas sobre Governadores, Prefeitos e Vices que forem
cassados, a inelegibilidade inicia no momento da cassação do mandato e perdura até 8 anos após o término
do mandato em curso quando da cassação, cabendo enfatizar que o marco inicial para o prazo de 8 anos é o
término do mandato, e, não, o dia da cassação do mandato ou o dia eleição.
A alínea “k” do inciso I do art. 1º da LC 64/1990 estabelece que são inelegíveis, para qualquer cargo,
O preceito legal estabelece que, uma vez provocada a abertura de processo que pode ocasionar a cassação
de mandato, se o titular do mandato renunciar, ficará inelegível. A finalidade da norma é tornar sem efeito,
para fins de inelegibilidade, o ato de renúncia ao mandato levado a cabo com intuito de evitar uma cassação,
a qual, como já vimos, ocasiona a inelegibilidade.
Retornando ao caso Eduardo Cunha, se o então Deputado, uma vez oferecida a representação que pedia a
abertura de processo de cassação contra ele, renunciasse ao mandato, a renúncia não evitaria a
inelegibilidade; pelo contrário, ele já ficaria inelegível a partir do próprio ato de renúncia.
Importante destacar que não incide a inelegibilidade se a renúncia ao mandato ocorrer para atender o dever
de desincompatibilização com vistas a candidatura, conforme previsto no § 5º do mesmo art. 1º, da LC
64/1990, que estabelece que “a renúncia para atender à desincompatibilização com vistas a candidatura a
cargo eletivo ou para assunção de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, a menos que a
Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto nesta Lei Complementar”.
Assim, por exemplo, um Governador que pretende se candidatar ao Senado Federal renuncia ao mandato
que exerce 6 meses antes do pleito, em cumprimento ao disposto no art. 14, § 6º/CF. Se, ao renunciar, ele
estiver respondendo a um processo de impeachment na Assembleia, a renúncia não vai ocasionar sua
inelegibilidade, não incidindo a alínea “k”, por força do parágrafo quinto.
Resumo
INELEGIBILIDADES - PARTE 03
• A Constituição autoriza lei complementar a estabelecer outros casos de inelegibilidade.
• As inelegibilidades infraconstitucionais devem ser instituídas por lei complementar e devem ter prazos
de cessação.
• A Lei que trata do tema é a Lei Complementar 64/1990, que, em 2010, foi alterada pela Lei
Complementar 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, que promoveu mudanças significativas
no regime das inelegibilidades infraconstitucionais.
• As hipóteses de inelegibilidade instituídas pela LC 64/1990 estão previstas no artigo primeiro da lei,
que contém sete incisos, sendo que o primeiro inciso prevê situações de inelegibilidade para quaisquer
cargos e os incisos II a VII preveem situações de inelegibilidade apenas para os cargos especificados em
cada inciso.
• São inelegíveis para qualquer cargo os inalistáveis e os analfabetos.
• Agentes políticos que tiverem seus mandatos cassados, em regra, estarão inelegíveis.
• O parlamentar que for cassado por quebra de decoro ficará inelegível do momento da cassação até 8
anos após o término da legislatura em curso quando da cassação.
• Governadores, Prefeitos e respectivos Vices que forem cassados por violação da Constituição Estadual
ou da Lei Orgânica do Distrito Federal ou do Município ficarão inelegíveis do momento da cassação até
8 anos após o término do mandato em curso quando da cassação.
• Uma vez provocada a abertura de processo que pode ocasionar a cassação de mandato, se o titular do
mandato renunciar, ficará inelegível, salvo se a renúncia for feita para atender a desincompatibilização
visando candidatura a cargo eletivo.
Podem ser definidos como atos administrativos de competência exclusiva do Chefe do Poder Executivo,
expedidos para a regulamentação de uma lei (Decretos Regulamentares) ou prover situações individuais
(Decretos Singulares) ou, ainda, diante dos termos da EC 32/2001 para regular as situações previstas no Art.
84, VI da CF/88 (Decreto Autônomo).
No âmbito tributário (CTN, art. 99), os decretos tem relevância especialmente na regulamentação das leis
tributárias, estabelecimento de obrigações tributárias acessórias (CTN art. 113, § 2º), bem como para
proceder a atualização monetária da base de cálculo de determinados tributos como o IPTU.
A legalidade exigida para a imposição da obrigação tributária instrumental não é estrita, ou seja,
pode advir de ato normativo que não a lei em sentido formal. Todos aqueles veículos normativos
previstos no art. 96 do CTN, tais como decretos e regulamentos, entre outros contidos no art.
100, são aptos a formar vínculo jurídico tributário acessório. No caso, a exigência da obrigação
acessória de que ora se cuida - anotação nas notas fiscais do número do lote dos medicamentos
- não viola o princípio da legalidade, já que encontra previsão expressa no Decreto n.º
43.128/2002, amparado pelo acordo do CONFAZ entabulado por meio do AJUSTE SINIEF n.º
07/2002. (STJ RMS 20.587/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em
09/11/2010, DJe 23/11/2010)
--
Sumula STJ n.º 160 - É defeso, ao município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual
superior ao índice oficial de correção monetária.
Contudo, por maior que seja a relevância que os decretos regulamentares trazem para o direito tributário
nunca é demais lembrar que são meros instrumentos de regulação de uma lei pré-existente, não podendo
inovar no cenário jurídico criando direitos ou obrigações além daquelas que a própria lei criou ou autorizou,
conforme, aliás, preconiza o art. 99 do CTN:
Art. 99. O conteúdo e o alcance dos decretos restringem-se aos das leis em função das quais
sejam expedidos, determinados com observância das regras de interpretação estabelecidas
nesta Lei.
Ainda que sejam limitados, em última instância pela lei que lhe dá origem, em direito tributário, a
importância do decreto (e demais atos complementares do art. 100 do CTN) não pode ser relegada ante o
rol relativamente grande de hipóteses de sua utilização, como a atualização monetária, nos limites dos
índices oficiais (conceito diverso de majoração, conforme súmula 160 do STJ), da base de cálculo do IPTU
(STF, RE 648245), a fixação do incide oficial para esta atualização (RE 188391), o estabelecimento de
obrigações acessórias (CTN, art. 113, § 2º.
É sabido que o regulamento, categoria na qual o decreto está incluído, não pode alterar
disposição legal, tampouco criar obrigações diversas daquelas previstas na lei a qual ele se refere,
considerando que finalidade precípua é completar a lei, especificar situações por ela previstas de
forma genérica. Por outro lado, o exercício da atividade regulamentar comporta uma certa
discricionariedade. No caso, observa-se que o decreto apenas especificou a lei no que tange aos
requisitos da complementação da aposentadoria por tempo de serviço. A lei regulamentada
permitia essa especificação, haja vista que não proibiu o limitador etário, sendo essa exigência,
inclusive, razoável e amparada pelo poder discricionário concedido ao administrador público. A
limitação decorre de todo o sistema de previdência complementar, cujos planos são elaborados
com base em estudos atuariais que consideram o número de participantes, os valores, o tempo
de contribuição e o tempo de gozo do benefício. Assim, faz-se necessária a preservação do
equilíbrio atuarial, sob pena de falência de todo o sistema. Dessa forma, não houve inovação
proibida por parte do Dec. n. 81.240/1978, uma vez que a limitação etária já podia ser
identificada na própria lei regulamentada. Precedente citado: REsp 1.125.913-RS, DJe
12/11/2010. ( STJ, REsp 1.151.739-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/11/2012.
A Constituição Federal no art. 153, § 1, permite ao Poder Executivo alterar as alíquotas dos Impostos sobre
Importação, Exportação e Produtos Industrializados por ato administrativo, que não será, necessariamente
decreto, admitindo-se que seja esta competência exercida por órgão que integre a estrutura deste Poder,
desde que devida autorizada por lei ou por delegação (STF, RE 570680/RS Informativo 565), dispensando-se,
portanto a forma do decreto e admitindo-se a utilização de outros instrumentos normativos conforme o art.
100, I do CTN.
O art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, inserido no capítulo que trata da qualidade de produtos e
serviços, da prevenção e da reparação dos danos, assim estabelece:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
Portanto, segundo entendimento do STJ, o art. 26 do CDC não trata sobre o prazo que o consumidor tem
para ajuizar ação de indenização por vício do produto ou serviço, mas sim do prazo que ele possui para exigir
uma das alternativas previstas no art. 20 do código consumerista, quais sejam:
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios
ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com
Lado outro, quando a pretensão do consumidor for de natureza indenizatória, não há incidência de prazo
decadencial, uma vez que a ação será tipicamente condenatória, sujeitando-se a prazo de prescrição.
Então, o prazo prescricional de 5 anos do art. 27 do CDC será aplicável para as ações
indenizatórias decorrentes das relações consumeristas?
Não exatamente, pois, no mesmo julgado, acima exposto, o STJ revela o entendimento de que o prazo
prescricional de cinco anos previsto no art. 27 do CDC é aplicável somente em caso de indenização
decorrente por fato do produto ou serviço.
Nos casos de ação indenizatória por inadimplemento contratual, por exemplo, como o código consumerista
não determina prazo específico, deve incidir o prazo geral decenal previsto no art. 205 do CC/02.
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
No entanto, ressalta-se que o STJ também já se posicionou no sentido de que quando restar configurada
falha na prestação de serviço e não o mero inadimplemento contratual, prevalecerá o prazo prescricional
quinquenal.
contratual, devendo incidir o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para as ações de indenização,
previsto no art. 27 do Código de Defesa do Consumidor. 5. Recurso especial provido. (REsp
1.369.579/PR, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª T., j. 24- 10-2017, DJe 23-11-2017)
Trata-se de verdadeiro cumprimento da Teoria do Diálogo das Fontes, expressão criada por Erik Jayme,
significando a atual aplicação simultânea, coerente e coordenada das plúrimas fontes legislativas, leis e
gerais, com campos de aplicação convergentes, mas não mais iguais.
Claudia Lima Marques, principal expoente dessa Teoria no ordenamento jurídico brasileiro, explica os três
tipos de “diálogo” possíveis entre CDC e Código Civil:
“1) na aplicação simultânea das duas leis, uma lei pode servir de base conceitual para a outra
(diálogo sistemático de coerência), especialmente se uma lei é geral e a outra especial, se uma é
a lei central do sistema e a outra um microssistema específico, não completo materialmente,
apenas com completude subjetiva de tutela de um grupo da sociedade;
2) na aplicação coordenada das duas leis, uma lei pode complementar a aplicação da outra, a
depender de seu campo de aplicação no caso concreto (diálogo sistemático de
complementaridade e subsidiariedade em antinomias aparentes ou reais), a indicar a aplicação
complementar tanto de suas normas, quanto de seus princípios, no que couber, no que for
necessário ou subsidiariamente;
3) ainda há o diálogo das influências recíprocas sistemáticas, como no caso de uma possível
redefinição do campo de aplicação de uma lei (assim, por exemplo, as definições de consumidor
stricto sensu e de consumidor equiparado podem sofrer influências finalísticas do Código Civil,
uma vez que esta lei vem justamente para regular as relações entre iguais, dois iguais-
consumidores ou dois iguais-fornecedores entre si — no caso de dois fornecedores, trata-se de
relações empresariais típicas, em que o destinatário final fático da coisa ou do fazer comercial é
um outro empresário ou comerciante —, ou, como no caso da possível transposição das
conquistas do Richterrecht (direito dos juízes), alçadas de uma lei para a outra. É a influência do
sistema especial no geral e do geral no especial, um diálogo de double sens (diálogo de
coordenação e adaptação sistemática)”
Desse modo, em qualquer outra situação que não envolva acidente de consumo ou falha na prestação de
serviço, conforme decidido pelo STJ, deverá prevalecer o prazo prescricional disposto no Código Civil,
havendo uma aplicação coordenada das duas leis, uma lei podendo complementar a outra.
O Superior Tribunal de Justiça reconhece o prazo prescricional ânuo do Código Civil no tocante à pretensão
do consumidor em propor ação de cobrança de valor complementar de indenização securitária.
Todavia, destaca-se que, se o tema envolver contrato de plano/seguro saúde e tiver por objeto a pretensão
condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele prevista, a prescrição será
trienal e não ânua, conforme a regra acima apresentada.
Será aplicável também o prazo prescricional da lei civil em relação ao prazo para a repetição do indébito em
caso de cobrança indevida, previsto no parágrafo único do art. 42 do CDC, que estabelece:
Art. 42. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.
O Superior Tribunal de Justiça entende que, por se tratar de cobrança indevida e não de acidente de
consumo, o prazo prescricional a prevalecer no caso é o do Código Civil, e não o do CDC. Vejamos:
Súmula 412 do STJ: “A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao
prazo prescricional estabelecido no Código Civil”.
Além disso, o Superior Tribunal de Justiça decidiu, pelo regime dos Recursos Repetitivos, que o prazo
prescricional do Código Civil incidirá nas ações de prestação de contas.
Súmula 477 do STJ: “A decadência do art. 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para
obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários”.
Por fim, quanto ao prazo de prescrição da pretensão condenatória decorrente de nulidade de cláusula de
reajuste de plano ou seguro de assistência à saúde, entendeu o Superior Tribunal de Justiça pelo regime de
recurso repetitivo que a pretensão condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de
reajuste nele prevista prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV, do
CC/2002), observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002.
É denominado resíduo sólido o material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou
exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
Em 2010 foi aprovada a Lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual passa
a ser integrante da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Tal lei é aplicável às pessoas físicas ou
jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos
sólidos, e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos
sólidos.
Contudo, há exclusão expressa da aplicação da referida lei aos rejeitos radioativos, que já são
regulamentados pela Lei nº 10.308/2001.
O objetivo geral da Política Nacional de Resíduos Sólidos é a proteção da saúde pública e da qualidade
ambiental. Para atingir tal fim, o art. 7º da Lei nº 12.305/2010 estabeleceu uma série de objetivos
específicos, vejamos:
Não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. A lei supracitada estabelece, ainda, que tais
objetivos serão observados nesta mesma ordem de prioridade.
Articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com
vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos.
Integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
A lei supracitada estabeleceu a aplicação de determinados princípios para a execução da Política Nacional
de Resíduos Sólidos, dentre eles princípios gerais do Direito Ambiental e outros específicos, vejamos:
Prevenção e precaução.
Poluidor-pagador e protetor-recebedor.
Desenvolvimento sustentável.
Razoabilidade e proporcionalidade.
Visão sistêmica na gestão dos resíduos sólidos: deverão ser consideradas as variáveis ambientais,
sociais, culturais, econômicas, tecnológicas e de saúde pública.
impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos
produtos.
Foram previstos diversos instrumentos para a consecução da Política Nacional de Resíduos Sólidos, voltados
à responsabilização compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a educação ambiental, a pesquisa e o
monitoramento.
Dentre tais instrumentos, destacam-se os planos de resíduos sólidos, que são os seguintes:
Plano Nacional de Resíduos Sólidos: será elaborado pela União, mediante processo de mobilização
e participação social, incluindo a realização de audiências e consultas públicas, com vigência por
prazo indeterminado e horizonte de 20 anos, a ser atualizado a cada quatro anos. Dentre outras
disposições, deverá conter o diagnóstico atual da situação dos resíduos sólidos, e a proposição de
cenários e metas de execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Planos Estaduais de Resíduos Sólidos: elaborados pelos Estados e pelo Distrito Federal, com prazo
indeterminado, e revisões a cada quatro anos. A aprovação dos planos estaduais é condição para
que os estados tenham acesso aos recursos da União, ou por ela controlados, destinados a
empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados
por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade.
Planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos: também funcionarão como condição
para que os municípios tenham acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a
empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para
serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento
para tal finalidade. De acordo com o art. 18 da Lei nº 12.305/2010, o Distrito Federal deverá elaborar
o seu plano municipal.
Planos intermunicipais de resíduos sólidos: sua elaboração é facultada aos municípios, em regime
de consórcios públicos que terão prioridade na percepção de recursos da União, podendo neste caso
ser dispensada a elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.
Resíduos industriais.
Resíduos de mineração.
Outro instrumento previsto é a logística reversa, caracterizada por um conjunto de ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente
adequada.
Catação.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos instituiu a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos, que engloba os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os
titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, a ser implementada de
forma individualizada e encadeada, que independe da existência de culpa. Nesse sentido, há de se destacar
a distribuição de responsabilidades:
Caberá à Administração Pública prestadora dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo
de resíduos sólidos a responsabilidade pela organização e prestação direta ou indireta desses
serviços.
O gerador de resíduos sólidos domiciliar terá cessada a sua responsabilidade pelos resíduos com
a disponibilização adequada para a coleta ou pela devolução.
Os consumidores estão obrigados a devolver os referidos produtos e embalagens após o uso aos
comerciantes ou distribuidores, assim como outros produtos ou embalagens objeto de logística
reversa.
Como todos os demais ramos do Direito, o Processual Coletivo se desenvolve com a observação de certos
princípios (implícitos ou expressos) que nortearão as disposições processuais.
Estes princípios regem todas as modalidades de processo coletivo, sendo importante ressaltar que as
principais são aquelas regidas pelas Leis n° 4.717/65 (Lei da Ação Popular - LAP) e n°7.347/85 (Lei da Ação
Civil Pública - LACP), e o CDC, havendo, contudo, outros diplomas legais que as tutelam.
Este princípio determina que o abandono ou a desistência imotivada não implicam na extinção do processo,
mas tão somente na sucessão processual, está expresso na legislação.
A desistência motivada, por sua vez, pode ser homologada pelo juiz.
LAP
Art. 9º Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados
editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer
cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa)
dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.
LACP
Art. 5° Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
[...]
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o
Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, se em 60 (sessenta) dias a associação autora tenha
promovido a execução, é dever do MP prosseguir com a execução, isto é, de uma forma ou outra a execução
será realizada.
LACP
Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a
associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual
iniciativa aos demais legitimados.
Este princípio expresso no CPC determina que o juiz deverá usar todas as ferramentas processuais possíveis
para tutelar, de forma efetiva, os interesses da coletividade, razão pela qual deve adotar uma postura que
busque a tutela do mérito da ação.
Está ligado à ideia de que dada a relevância transindividual do litígio, é necessária sua tutela efetiva.
CPC
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
[...]
As ações coletivas têm prioridade de tramitação, dado o interesse transindividual que buscam tutelar.
Por força deste Princípio, a coisa julgada coletiva apenas beneficia os indivíduos, não podendo nunca os
prejudicar.
A decisão coletiva improcedente não vincula o indivíduo, sendo possível a propositura de sua própria ação
individual, pelo mesmo direito, posteriormente.
Trata-se, portanto, de transporte in utilibus da coisa julgada coletiva, isto é, nas ações coletivas, mesmo que
negado o direito, o particular poderá propor ação individual buscando sua tutela.
CDC
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
[...]
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos
individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que
não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a
título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347,
de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente
sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Exceção: Por força do artigo 94 do CDC, o indivíduo que se habilita como litisconsorte no processo coletivo
é abarcado por ele, não podendo propor ação individual posterior em caso de improcedência.
Com base neste princípio ocorre um aumento dos poderes do órgão jurisdicional no processo coletivo, isso
se dá pelo interesse público que envolve a lide.
O juiz, nesses casos, agirá de acordo com a determinação da Constituição a fim de concretizar, de fato, as
expectativas da coletividade, ultrapassando, por vezes, o simples impulso oficial.
O STF entende que não há que se falar em violação à tripartição dos poderes decorrente do ativismo judicial
pelo controle judiciário das políticas públicas, tendo em vista que o Judiciário apenas determina que se
cumpra a CF.
Não também violação à discricionariedade, pois o ato administrativo de política pública é vinculado e não
discricionário.
Este princípio assegura que, em sede de ação coletiva, quaisquer formas de tutela processual serão
admitidas para a efetividade dos direitos coletivos, podendo qualquer tipo de ação ser adaptada à tutela
de tais interesses.
Qualquer ação que tutele direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos poderá ser considerada ação
coletiva.
A definição de uma determinada ação enquanto coletiva se dá por seu objeto, e não pelo procedimento
adotado.
CDC
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas
as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
ECA
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as
espécies de ações pertinentes.
Sempre que distribuída ação para tutela dos interesses individuais homogêneos, deverão ser publicados
editais para ciência dos interessados legitimados, para que possam intervir no processo como litisconsortes.
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios
de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Este princípio define que só estaria legitimado quem, após verificação da legitimidade pelo ordenamento
jurídico e pelo Judiciário, apresentar condições de adequadamente desenvolver a defesa judicial dos direitos
afirmados.
A finalidade deste princípio é a defesa do interesse coletivo seja exercida em sua integralidade, e que o
processo seja conduzido com recursos financeiros adequados, boa técnica e de maneira proba.
De maneira diversa à adotada pelo sistema norte-americano (onde que qualquer indivíduo pode propor ação
coletiva, desde que prove ao juiz, ser o representante adequado), no Brasil existem dois posicionamentos:
i) Não há no Brasil controle de representação, pois o controle já foi feito pelo legislador, por meio do rol de
legitimados do artigo 5° da LACP; (Posição minoritária)
ii) Existe no Brasil controle de representação por meio de critérios doutrinários e jurisprudenciais, como a
pertinência temática com a finalidade institucional (STJ, Resp. 1.192.577). (Posição majoritária)
A representação inadequada integra a legitimidade, sendo condição para a ação e pressuposto processual
de validade da relação jurídica. O efeito prático é a extinção sem julgamento de mérito.
A partir deste princípio se compreende que, embora não haja um código de processo coletivo, as normas
protetivas do direito coletivo constantes em um determinado diploma se aplicam, sempre que possível, a
outras relações jurídicas que não aquelas específicas.
Tendo como base a teoria do diálogo das fontes, o microssistema processual coletivo representaria um
conjunto sistêmico composto de diversas leis que sustentariam todo o desenvolvimento do direito
processual coletivo, sendo as principais bases deste microssistema a LACP e o CDC, enquanto as demais
gravitem em torno destas.
Neste sistema existem as figuras das normas de reenvio, sendo elas aquelas que determinam a aplicação de
uma normativa em outra, sendo a aplicação destas integrada e a do CPC subsidiária.
Lei
8.429/
92
LAP
ECA
LACP (artigo 21) e
CDC (artigo 90)
Lei
12.016/0
9 (MS
Coletivo)
Lei
7.853/
89
Independentemente de provocação formal por terceiros, o membro do Ministério Público pode tomar
conhecimento de determinado fato lesivo a direitos que estejam sob sua alçada protetiva, deste modo,
poderá este membro tomar algumas iniciativas buscando a satisfação da tutela destes direitos e interesses,
dentre os meios possíveis está o inquérito civil.
Acerca do inquérito civil, são três as principais normativas que utilizaremos: a CF, a LACP e a
Resolução n° 23/2017 do CNMP
Natureza e finalidade
[...]
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
A resolução do CNMP sobre o inquérito civil traz uma descrição ontológica do procedimento, bem como sua
finalidade direta.
Art. 1º O inquérito civil, de natureza unilateral e facultativa, será instaurado para apurar fato que
possa autorizar a tutela dos interesses ou direitos a cargo do Ministério Público nos termos da
legislação aplicável, servindo como preparação para o exercício das atribuições inerentes às suas
funções institucionais.
Representação e instauração
Ainda que seja um procedimento facultativo, a produção de provas em sede de inquérito civil é muito rica
para a instrução de inicial em ACP, deste modo, os arts. 6°, 7° e 8° da LACP trazem algumas considerações
relevantes sobre o inquérito.
O art. 6° determina que qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do MP sobre fatos objeto de ACP,
deste modo, a representação ou requerimento apresentado, se consubstanciada em robusto conjunto
probatório, poderá imediatamente ser fundamento de propositura da ação.
Se, por outro lado, o requerimento ou representação não possuir conjunto probatório suficiente para
demonstrar os fatos lesivos, o membro do MP poderá levar à investigação os fatos, o que far-se-á por meio
de inquérito civil.
Art. 6º Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério
Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e
indicando-lhe os elementos de convicção.
Complementarmente a este artigo, a Res. 23/2007 traz outras hipóteses de instauração do inquérito:
I – de ofício;
De semelhante modo ao que dispõe o art. 6°, sobre a obrigação do servidor, o art. 7° impõe que juízes e
Tribunais, ao conhecerem fatos dessa mesma natureza, deverão oficiar o Ministério Público. Foi uma forma
que o legislador encontrou de promover uma maior e mais efetiva tutela aos interesses coletivos.
Art. 7º Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que
possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as
providências cabíveis.
O CPC (ainda que não seja parte do microssistema de tutela coletiva) também caminhou no mesmo sentido
ao determinar que se deparando com diversas demandas individuais repetitivas, deverá o juiz oficiar o
Ministério Público, a Defensoria Pública, e, na medida do possível, outros legitimados, para a propositura de
ação coletiva.
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
[...]
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público,
a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da
Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para,
se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
O art. 8° da LACP determina, ao tratar das provas em inicial de ACP, que o Ministério Público poderá instaurar
sob sua presidência o inquérito civil, ou ainda requisitar de qualquer organismo, público ou particular, todas
as informações e documentos necessários.
§ 1° O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de
qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo
que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
Dada sua natureza facultativa, tanto o art. 8°, §1° da LACP quanto o parágrafo único do art. 1° da Res. 23/2007
deixam evidente que não é procedimento obrigatório para a propositura de ACP ou tomada de outras
medidas cabíveis.
Parágrafo único. O inquérito civil não é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações
a cargo do Ministério Público, nem para a realização das demais medidas de sua atribuição
própria.
A instauração do inquérito civil se dará, obrigatoriamente por meio de portaria, na qual constem as
informações indicada nos incisos do art. 4° da Res. 23/2007:
Art. 4º O inquérito civil será instaurado por portaria, numerada em ordem crescente, renovada
anualmente, devidamente registrada em livro próprio e autuada, contendo:
I – o fundamento legal que autoriza a ação do Ministério Público e a descrição do fato objeto do
inquérito civil;
II – o nome e a qualificação possível da pessoa jurídica e/ou física a quem o fato é atribuído;
Parágrafo único. Se, no curso do inquérito civil, novos fatos indicarem necessidade de
investigação de objeto diverso do que estiver sendo investigado, o membro do Ministério Público
poderá aditar a portaria inicial ou determinar a extração de peças para instauração de outro
inquérito civil, respeitadas as normas incidentes quanto à divisão de atribuições.
Algumas últimas observações são necessárias sobre a representação e instauração do inquérito civil:
Como vimos, o membro do MP poderá, de ofício, instaurar inquérito civil para apurar fatos que tenha tomado
conhecimento, deste modo, seria desarrazoado ignorar provocação recebida por ter sido feita por meio de
denúncia anônima, desta forma, a jurisprudência do STJ entende pela inexistência de óbice à instauração
decorrente deste tipo de denúncia:
para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos
e coletivos (art. 129, III). 6. Nos termos do art. 22 da Lei 8.429/1992, o Ministério Público pode,
mesmo de ofício, requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo
para apurar qualquer ilícito previsto no aludido diploma legal. 7. Assim, ainda que a notícia da
suposta discrepância entre a evolução patrimonial de agentes políticos e seus rendimentos tenha
decorrido de denúncia anônima, não se pode impedir que o membro do Parquet tome medidas
proporcionais e razoáveis, como no caso dos autos, para investigar a veracidade do juízo
apresentado por cidadão que não se tenha identificado. 8. Em matéria penal, o STF já assentou
que "nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação anônima ('disque-
denúncia', p. ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação
sumária, 'com prudência e discrição', a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude
penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados,
em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis,
mantendo-se, assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças
apócrifas" (Inq 1.957, Rel. Min. Carlos Velloso, voto do Min. Celso de Mello, julgamento em
11.5.2005, Plenário, DJ de 11.11.2005). 9. Em se tratando de suposto ato de improbidade que só
pode ser analisado mediante documentos, descabe absolutamente adotar medidas informais
para examinar a verossimilhança, ao contrário do que se passa, por exemplo, em caso de
denúncia anônima da ocorrência de homicídio. 10. O STJ reconhece a possibilidade de investigar
a veracidade de denúncia anônima em Inquérito Civil ou Processo Administrativo, conforme se
observa nos seguintes precedentes, entre os quais se destacam a orientação já firmada por esta
Segunda Turma e uma recente decisão da Primeira Turma: RMS 37.166/SP, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 15.4.2013; RMS 30.510/RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJe 10.2.2010; MS 13.348/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, DJe
16.9.2009. 11. Recurso Ordinário não provido.
(RMS 38.010/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/05/2013,
DJe 16/05/2013)
Nesse sentido, tanto doutrina quanto jurisprudência entendem pela desnecessidade de observância dos
princípios do contraditório e da ampla defesa:
(RE 481955 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 10/05/2011, DJe-099
DIVULG 25-05-2011 PUBLIC 26-05-2011 EMENT VOL-02530-02 PP-00230)
Via de regra, o inquérito civil servirá para instruir a petição inicial da ACP, contudo, é plenamente possível
que a esta sejam juntadas somente as provas produzidas em sede da investigação, não havendo necessidade
de se juntar aos autos toda a documentação do procedimento.
Nesse sentido, é entendimento solidificado do STJ pela possibilidade de que se descarte aquilo que não é
relevante, dada a natureza do procedimento, não havendo que se falar em má-fé do Ministério Público ao
proceder de tal maneira.
(REsp 448.023/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/05/2003, DJ
09/06/2003, p. 218)
Atenção! Ainda que a finalidade do inquérito civil seja a tutela de direitos transindividuais, há possibilidade
de que se instaure o procedimento para a defesa de determinados interesses individuais de maneira
individualizada:
ECA
[...]
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais,
difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º
inciso II, da Constituição Federal;
Estatuto do Idoso
I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos
ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;
Ainda que possível, raramente é utilizado o procedimento para estes fins, dando-se preferência a outros
meios, menos burocráticos, de tutela.
Medidas
Conhecimento do Instauração do cabíveis (ACP,
fato inquérito TAC...)
a) Interrupção da decadência
Desde a instauração até o encerramento do inquérito civil, fica obstada a decadência do direito de o
consumidor reclamar contra vícios aparentes ou de fácil constatação no fornecimento de serviço ou produto,
nos termos do CDC.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
[...]
§ 2° Obstam a decadência:
[...]
Nesse sentido, o retardamento ou omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura de Ação Civil
Pública, quando requisitados pelo MP, constitui crime punível com reclusão e multa, nos termos do art. 10
da LACP:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de
10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o
O recurso administrativo em sede de inquérito civil não tem previsão geral, ficando a cargo do MP de cada
Estado optar pela possibilidade (ou) não de interposição de recurso.
De forma geral, o que se entende, pela jurisprudência do STF é que o interessado no arquivamento do
inquérito civil deverá fazê-lo por meio de Mandado de Segurança, uma vez que o Habeas Corpus não poderá
ser utilizado para questionar aspectos de procedimentos civis:
HABEAS CORPUS - OBJETO. O habeas corpus visa a preservar a liberdade de ir e vir presente
articulação em torno de ato que se repute ilegal a alcançá-la. A configuração, ou não, do quadro
diz respeito não à propriedade da medida, mas à procedência do que nela veiculado. HABEAS
CORPUS - OBJETO - INQUÉRITO E AÇÃO CIVIL PÚBLICA. O habeas corpus não é meio hábil para
questionar-se aspectos ligados quer ao inquérito civil público, quer à ação civil pública,
porquanto, nesses procedimentos, não se faz em jogo, sequer na via indireta, a liberdade de ir e
vir.
(HC 90378, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 13/10/2009, DJe-208
DIVULG 05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-03 PP-00721 LEXSTF v. 31, n. 372,
2009, p. 413-418)
Conclusão
O prazo para a conclusão do inquérito civil é de 1 (um) ano, sendo prorrogável por igual prazo quantas vezes
forem necessárias, nos termos do art. 9°, caput, da Res. 23/2007, contudo, seu §1° determina que cada MP
poderá estabelecer prazo inferior, bem como limitar a prorrogação.
Art. 9º O inquérito civil deverá ser concluído no prazo de um ano, prorrogável pelo mesmo prazo
e quantas vezes forem necessárias, por decisão fundamentada de seu presidente, à vista da
imprescindibilidade da realização ou conclusão de diligências, dando-se ciência ao Conselho
Superior do Ministério Público, à Câmara de Coordenação e Revisão ou à Procuradoria Federal
dos Direitos do Cidadão.
Arquivamento
Nos termos da LACP, ante a inexistência de fundamento para a propositura de ACP, o membro (órgão) do
MP promoverá o arquivamento do inquérito, o fazendo de maneira fundamentada, devendo remeter, no
prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público para homologação, sob pena de
cometimento de falta grave. De forma semelhante dispõe a Res. 23/2007.
LACP
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena
de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério
Público.
[...]
Res. 23/2007
Art. 10. Esgotadas todas as possibilidades de diligências, o membro do Ministério Público, caso
se convença da inexistência de fundamento para a propositura de ação civil pública, promoverá,
fundamentadamente, o arquivamento do inquérito civil ou do procedimento preparatório.
O arquivamento apenas produzirá efeitos a partir da homologação pelo Conselho superior, podendo, até
este momento, as colegitimadas apresentar razões e documentos a serem juntados aos autos do inquérito.
LACP
Art. 9° [...]
escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de
informação.
Res. 23/2007
Art. 10 [...]
LACP
Res. 23/2007
Art. 10 [...]
Por fim, importa ressaltar que o arquivamento do inquérito não obsta a propositura de Ação Civil
Pública, seja por outo colegitimado, seja pelo próprio Ministério Público.
Desarquivamento
Ante o surgimento de novas provas, poderá promover-se o desarquivamento do inquérito, desde que este
ocorra até 6 (seis) meses do arquivamento.
De maneira semelhante, poderá ocorrer o desarquivamento nos casos onde haja a necessidade de se
investigar um fato novo relevante e que tenha relação com o fato investigado no inquérito.
Res. 23/2007
Art. 12. O desarquivamento do inquérito civil, diante de novas provas ou para investigar fato
novo relevante, poderá ocorrer no prazo máximo de seis meses após o arquivamento.
Transcorrido esse lapso, será instaurado novo inquérito civil, sem prejuízo das provas já colhidas.
Parágrafo único. O desarquivamento de inquérito civil para a investigação de fato novo, não
sendo caso de ajuizamento de ação civil pública, implicará novo arquivamento e remessa ao
órgão competente, na forma do art. 10, desta Resolução.
Caso qualquer destes eventos ocorra após o prazo de 6 (seis) meses do arquivamento, não será possível o
desarquivamento, podendo, contudo, ser instaurado novo inquérito para a investigação do fato em questão,
sem prejuízo das provas já colhidas no inquérito anterior.
Conforme dispõe o parágrafo único, caso do desarquivamento não resulte a propositura de Ação Civil
Pública, promover-se-á novo arquivamento, seguindo-se aquilo que determinam os dispositivos acerca do
tema.
Considerações finais
O inquérito civil é um instrumento altamente necessário para a consecução das funções institucionais do
Ministério Público, e ainda que facultativo deve receber atenção, pois a partir dele há a facilitação dos
procedimentos e da comprovação dos fatos lesivos e danosos em sede de Ação Civil Pública, o principal
instrumento de atuação do MP.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:
MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Vamos lá!
Comentários
A Assertiva A está errada. O STF, por sua maioria, entendeu que quando a Constituição fala que “a lei punirá
qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” (CF, art. 5º, XLI), determinou-se
a criminalização da homofobia.
A Assertiva B está errada para a maioria do STF. Sei que é inacreditável, mas a suprema corte assinalou que
a solução propugnada NÃO sugere a aplicação analógica das normas penais previstas na Lei 7.716/1989 nem
implica a formulação de tipos criminais ou cominação de sanções penais. Segundo eles, utilizou-se
meramente do método da interpretação conforme, no que se refere ao conceito de “raça”, para os fins a
que se refere a Lei 7.716/1989.
A Assertiva C está CORRETA. Para o STF, conceito de “RAÇA”, que compõe a estrutura normativa dos tipos
penais incriminadores previstos na Lei 7.716/1989, tem merecido múltiplas interpretações, revestindo-se,
por isso, de inegável conteúdo polissêmico.
A Assertiva D também está errada na concepção particular do STF. Para os ministros, noção de RACISMO –
para efeito de configuração típica dos delitos previstos na Lei 7.716/1989 – não se resume a um conceito de
ordem estritamente antropológica ou biológica. Projeta-se, ao contrário, numa dimensão abertamente
cultural e sociológica, a abranger até mesmo situações de agressão injusta resultantes de discriminação ou
de preconceito contra pessoas por sua orientação sexual ou sua identidade de gênero.
A Assertiva E está “subestimando” o STF. Que princípio da legalidade coisa nenhuma! Em suma, enquanto o
Congresso Nacional não atuar, incide a Lei do Racismo, não por analogia ou interpretação extensiva, mas
porque, no conceito de racismo firmado pelo STF, estão colhidas as situações tipificadas na lei. Mas não só!
A homofobia deve ser tratada como motivo fútil ou torpe nos outros tipos penais previstos no Código Penal.
Tá tudo liberado!
Gabarito: C
Comentários
A Assertiva A está equivocada. Somente por lei específica poderá ser criada autarquia. Porém, a lei específica
não cria, mas AUTORIZA a criação de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação (CF,
art. 37, XIX).
A Assertiva B contraria a constituição. CF, art. 37, XX: “depende de autorização legislativa, em cada caso, a
criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer
delas em empresa privada”.
A Assertiva C contraria a jurisprudência do STF, que afirma que a Constituição NÃO autoriza a alienação direta
de controle acionário de empresas estatais.
A Assertiva D também vai contra o STF, que entende ser é DESNECESSÁRIA a autorização legislativa expressa
para a criação de subsidiárias quando houver autorização legislativa da criação de empresa pública ou
sociedade de economia mista e nesta constar permissão genérica da possibilidade de criação de subsidiárias.
Gabarito: E
Questão 3. Na ADPF 572 MC/DF, o STF entendeu constitucional o art. 43 do RISTF, que permite à Suprema
Corte instaurar investigação de ofício. Sobre os termos desta decisão, marque a opção CORRETA:
a) Dentro do sistema constitucional, a regra inafastável é que a autoridade policial investiga, o MP acusa e o
juiz julga.
b) a possibilidade do STF investigar, como instrumento de defesa da própria Constituição, deve ser utilizado
se houver inércia ou omissão dos órgãos de controle.
c) O STF pode instaurar o procedimento investigatório exclusivamente no caso de crimes cometidos nas
dependências do STF.
d) O ministro investigador deverá necessariamente ser escolhido por sorteio.
e) O artigo 43 do RISTF concede autorização ampla ao Judiciário para investigar os fatos de seu interesse.
Comentários:
A Assertiva A está incorreta (impressionante, mas está, segundo o STF): ordinariamente, dentro do sistema
constitucional, a regra é: a autoridade policial investiga, o MP acusa e o juiz julga, e nesse ambiente
interagem a advocacia e as defensorias como funções essenciais. Só que o MP não tem exclusividade na
investigação preliminar — à polícia cabe investigar... ao STF cabe investigar...
A Assertiva B está correta. O artigo 43 do RISTF é EXCEPCIONAL e confere ao Judiciário função atípica na
seara da investigação, de modo que seu emprego depende de rígido escrutínio. É um instrumento de defesa
da própria Constituição, utilizado se houver INÉRCIA ou OMISSÃO dos órgãos de controle.
A Assertiva C está incorreta. O artigo fala que “ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do
Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou
delegará esta atribuição a outro Ministro.” Mas para não deixar passar nada, o STF ainda disse que O STF
pode, diante da ciência da ocorrência em tese de um crime, determinar a instauração de inquérito, mesmo
que não envolva autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição. Muito embora o dispositivo regimental exija
que os fatos apurados ocorram na sede ou dependência do próprio STF, o CARÁTER DIFUSO dos crimes
cometidos por meio da internet permite estender o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição
em todo o território nacional. Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto, formais,
cometidos em ambiente virtual, podem ser considerados como cometidos na sede ou dependência do STF.
A Assertiva D seria uma boa, mas aí limitaria os interesses de alguns ministros, né? Vai que o procedimento
cai nas mãos “erradas”. De acordo com a regra regimental, o ministro competente para presidir o inquérito
é o presidente da Corte, ou seu delegatário. Nesse caso, a delegação pode AFASTAR a distribuição por
sorteio, embora esta também seja uma via legítima. Ou seja: pode escolher a dedo!
A Assertiva E errada (essa era fácil, né?!). Limite-se o objeto do inquérito a manifestações que, denotando
risco efetivo à independência do Poder Judiciário (CF, art. 2º), pela via da ameaça aos membros do STF e a
seus familiares, atentam contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a democracia.
Veja que em teoria a opção está incorreta... mas na prática...
Gabarito: B
Comentários
A Assertiva B é questão maldosa. Eu sei: decoreba braba... CF, art. 136, § 3º “Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada
imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de
corpo de delito à autoridade policial; [...] III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser
superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário.
A Assertiva C está errada. “A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
IMEDIATAMENTE ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada” (CF, art. 5º, LXII).
A Assertiva D está imprecisa. “A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade JUDICIÁRIA” (CF,
art. LXV). Isso porque a autoridade policial é a responsável por formalizar a prisão (em flagrante, nesse caso).
Se for do seu entendimento, o delegado pode deixar de realizar a prisão, mas não cabe a ele o relaxamento.
A Assertiva E é pegadinha: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
VOLUNTÁRIO e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”.
Gabarito: A
Questão 5. São argumentos citados pela maioria STF para vedar a prisão em segunda instância, EXCETO:
a) Proibição do retrocesso.
b) Inexistência de abertura semântica.
c) A não culpabilidade é cláusula pétrea.
d) Progressividade reversa da presunção de inocência.
e) Autocontenção judicial.
Comentários
A Assertiva A está ok para o Min. Gilmar Mendes: “a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948,
elaborada sob os auspícios da Organização das Nações Unidas e subscrita pelo Brasil, de observância
obrigatória por todos os Estados que a assinaram, consagrou, em seu art. 30, o princípio da proibição do
retrocesso em matéria de direitos e garantias fundamentais, plenamente aplicável à espécie”.
A Assertiva B também está certinha. “O dispositivo (CPP, art. 283) não abre campo a controvérsias
semânticas. A CF consagrou a excepcionalidade da custódia no sistema penal brasileiro, sobretudo no
tocante à supressão da liberdade anterior ao trânsito em julgado da decisão condenatória.
A Assertiva C está correta. O princípio da não culpabilidade é garantia vinculada, pela CF, à preclusão, de
modo que a constitucionalidade do art. 283 do CPP não comporta questionamentos. O preceito consiste em
reprodução de cláusula pétrea cujo núcleo essencial nem mesmo o poder constituinte derivado está
autorizado a restringir.
A Assertiva E está certa. Não cabe ao Poder Judiciário, no exercício do controle jurisdicional da exegese
conferida pelo Legislador a uma garantia constitucional, simplesmente substituí-la pela sua própria
interpretação da Constituição.
Gabarito: D
Comentários
Gabarito: D
Comentários
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. A questão cobrou o conhecimento da letra fria da lei,
especialmente o art. 4º, III, da lei 13.448/17. Vale destacar que a FCC cobrou esta lei no concurso público
para juiz estadual do TJ-AL, pelo que as chances de nova cobrança são grandes.
Atenção! É importante memorizar que esta lei se aplica apenas às parcerias realizadas nos setores rodoviário,
ferroviário e aeroportuário.
Art. 2º A prorrogação e a relicitação de que trata esta Lei aplicam-se apenas a empreendimento
público prévia e especificamente qualificado para esse fim no Programa de Parcerias de
Investimentos (PPI).
Com este dispositivo já eliminamos a alternativa B. A prorrogação e a relicitação, embora se apliquem aos
empreendimentos dos setores rodoviário, ferroviário e aeroportuário da administração pública federal, só
terá aplicação se o empreendimento estiver prévia e especificamente qualificado para esse fim no Programa
de Parcerias de Investimentos (PPI).
Pelo inciso II, eliminamos a alternativa C, pois, para que seja viável a prorrogação antecipada, é necessário
que esteja expressamente admitida a prorrogação contratual no respectivo edital ou no instrumento
contratual original.
Art. 6º A prorrogação antecipada ocorrerá por meio da inclusão de investimentos não previstos
no instrumento contratual vigente, observado o disposto no art. 3º desta Lei.
Ou seja, a prorrogação antecipada ocorre por meio da inclusão de investimentos não previstos no contrato
original. Por esta razão, está eliminada a alternativa D.
De acordo com o art. 4º, III, a alternativa E está correta. Isto porque a relicitação é um procedimento que
envolve a extinção amigável do contrato de parceria, com a celebração de outro contrato com novo parceiro
em novas condições, mediante uma nova licitação.
De acordo com parte da doutrina, a nomenclatura “relicitação” não é técnica, uma vez que se trata de
verdadeira extinção consensual do contrato.
Esse instrumento é relevante, uma vez que o parceiro que vislumbrar a possibilidade de não mais ter
condições de cumprir o contrato, em vez de esperar a rescisão unilateral pela Administração, com a aplicação
das inúmeras sanções previstas em lei, poderá procurar o Poder Público para que este realize a “relicitação”
que será benéfica para as duas partes.
Gabarito: E
Comentários
A alternativa A está incorreta. Os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica, pois não são sujeitos
de direitos e obrigações. Seus atos são imputados ao ente político a que estão vinculados.
Entretanto, excepcionalmente, é possível que determinados órgãos possam ingressar com ação judicial para
defesa de suas prerrogativas institucionais, sendo dotados de capacidade processual ou personalidade
judiciária excepcional
Em primeiro lugar, a lei pode atribuir capacidade processual a determinados órgãos públicos. É o que ocorre
no caso do Ministério Público e da Defensoria Pública.
Por outro lado, a jurisprudência estabelece a capacidade processual de determinados órgãos públicos que
preenchem os seguintes requisitos cumulativos, independentemente de lei expressa autorizando:
Trata-se de instrumento para dirimir eventuais conflitos entres esses órgãos de cúpula e o ente federativo a
que estão vinculados, já que, entre estes, não há hierarquia.
Neste sentido, o STJ pacificou sua jurisprudência por meio do enunciado 525 do STJ, vejamos:
Súmula 525, STJ: A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.
A alternativa B está correta. Trata-se de recente alteração promovida na lei de improbidade administrativa
(lei 8.429/92) pela Em regra, os órgãos públicos devem ser criados e extintos por meio de lei. Os arts. 48,
XI e 84, VI, alínea a, da Constituição Federal preveem, de forma conjugada, a necessidade de lei para a criação
de órgãos na estrutura da Administração Pública. Vejamos:
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta
para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da
União, especialmente sobre:
IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União
e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal;
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de
despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
Destaque-se que o art. 84, XI, a, CF, ao prever hipótese de decreto autônomo do Presidente da República,
exclui expressamente a criação e a extinção de órgãos públicos, o que deixa claro a intenção do constituinte
de que essas unidades administrativas sejam criadas e extintas exclusivamente mediante lei.
A iniciativa para o projeto de lei para criação e extinção de órgãos públicos é, em regra, do Chefe do Poder
Executivo, nos termos do art. 61, §1º, II, e, da CF. Todavia, em alguns casos a Lei Maior confere a iniciativa
de lei aos órgãos independentes para a criação de órgãos públicos em suas respectivas estruturas. É o caso
do Poder Judiciário (art. 96, II, c e d, CF) e do Ministério Público (art. 127, §2º, CF), cuja iniciativa pertence
aos chefes destas instituições.
A alternativa C está incorreta. Não são todos os órgãos que possuem personalidade judiciária, mas apenas
os órgãos de cúpula e para a defesa de suas prerrogativas institucionais. Vide comentários da alternativa A.
A alternativa D está incorreta. O erro da alternativa está em afirmar que os órgãos públicos são criados por
meio da técnica da descentralização, quando, na verdade, sua criação decorre da desconcentração.
O conceito de órgão público está correto. Podemos conceituar órgãos públicos como:
Unidades integrantes da estrutura de uma pessoa jurídica, que recebem parcela das
competências da entidade que integram para exercício de forma especializada, por meio de
agentes públicos.
São o conjunto de competências agrupadas em espécies de núcleos específicos dentro de um ente político
ou entidade administrativa.
A alternativa E está incorreta. O erro está em afirmar que os órgãos citados são considerados autônomos,
quando, na verdade, são órgãos independentes. Na tradicional classificação de Hely Lopes Meirelles, temos
a seguinte classificação dos órgãos segundo a hierarquia:
Independentes
Autônomos
Superiores
Subalternos
Gabarito: B
Questão 3. Acerca dos consórcios públicos e da lei 11.107/2005, assinale a alternativa correta
a) O contrato de rateio é o único instrumento jurídico que permite que os Entes consorciados compartilhem
recursos financeiros com o Consórcio Público.
b) Quando criado com personalidade jurídica de direito privado, estará dispensado da realização de licitação
para contratação e obras, serviços, aquisição de bens e alienação, bem como, da realização de concurso
público para admissão de pessoal.
c) A gestão associada de serviço público envolve atividades de planejamento, regulação ou fiscalização de
serviços públicos por meio de consórcio público ou de convênio de cooperação entre entes federados,
sempre acompanhadas da prestação de serviços públicos pelo consórcio ou convênio.
d) É vedada a subscrição parcial do protocolo de intenções.
e) Quando possuir personalidade jurídica de direito público, será uma espécie de autarquia, integrando a
Administração Indireta de todos os entes federados consorciados, bem como, os agentes públicos
contratados serão regidos pelo regime estatutário.
Comentários
Para que seja celebrado este contrato, o ente federado deve prever os valores a serem entregues ao
consórcio em sua lei orçamentária ou em créditos adicionais. Caso não haja a referida previsão, o ente
consorciado poderá ser excluído do consórcio, desde que haja prévia suspensão (Art. 8º, §5º).
Além disso, os recursos recebidos pelo consórcio público, mediante contrato de rateio, não podem ser
aplicados em despesas genéricas (art. 8º, §2º).
Qualquer ente consorciado, isoladamente ou em conjunto, bem como o próprio consórcio público, são
partes legítimas para exigir o cumprimento de obrigação assumida mediante contrato de rateio (art. 8º, §3º).
Em regra, o prazo do contrato de rateio deve ser de um ano, devendo ser celebrado em cada exercício
financeiro (ou seja, em cada ano). Excepcionalmente, poderão ter vigência superior a um ano, desde que: a)
os projetos definidos no contrato de rateio estejam previstos na lei do plano plurianual do ente federado
contratante; ou b) o projeto seja gestão associada de serviços públicos custeada por tarifas ou outros preços
públicos (art. 8º, §1º).
Importa destacar que a celebração de contrato de rateio sem a suficiente e prévia dotação orçamentária ou
sem as formalidades previstas na lei, configura ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
(Art. 10, XV, lei 8.429/92).
A alternativa B está incorreta. A alternativa também exigiu o conhecimento da letra de lei, especialmente o
art. 6º §2º, lei 11.107/2005, que foi alterada pela lei 13.822/2019:
A alternativa C está incorreta. Um dos objetivos da criação do consórcio público pode ser a gestão associada
de serviços públicos. O decreto 6.017/07 define gestão associada de serviços públicos da seguinte forma:
Art. 2º (...)
Desta maneira, percebe-se que a gestão associada de serviços públicos não envolve, necessariamente, a
prestação de serviços públicos, trata-se, de uma forma geral, da administração de determinado serviço,
podendo delegar a prestação do serviço a pessoa que não integre o consórcio público. Por este motivo, o
consórcio pode ser autorizado a realizar licitação visando à concessão ou permissão do serviço público sob
sua gestão.
Veja que a gestão associada do serviço público pelo consórcio pode envolver ou não a prestação direta do
serviço por este ente.
A alternativa D está incorreta. A lei 11.107/2005 admite a subscrição parcial do protocolo de intenções,
desde que observados alguns requisitos, ou seja, deve ser aceira pelos demais entes subscritores e implicará
em consorciamento parcial ou condicional:
Art. 5º O contrato de consórcio público será celebrado com a ratificação, mediante lei, do
protocolo de intenções.
§ 1º O contrato de consórcio público, caso assim preveja cláusula, pode ser celebrado por apenas
1 (uma) parcela dos entes da Federação que subscreveram o protocolo de intenções.
§ 2º A ratificação pode ser realizada com reserva que, aceita pelos demais entes subscritores,
implicará consorciamento parcial ou condicional.
A alternativa E está incorreta. A alternativa também cobrou o conhecimento do art. 6º, §2º da lei
mencionada. Entretanto, o aluno deve ficar atento porque o dispositivo prevê uma importante exceção à
regra do ordenamento jurídico, de que os agentes públicos das pessoas jurídicas de direito público devem
ser contratados pelo regime estatutário. No caso dos Consórcios Públicos criados pelo regime jurídico de
direito público, os seus agentes públicos serão regidos pela CLT:
Gabarito: A
Comentários
A lei 13.867 de 2019 promoveu diversas alterações no decreto-Lei 3.365/41, alterando o procedimento de
desapropriação.
A questão busca, portanto, medir o conhecimento do aluno quanto às alterações legislativas, que são muito
cobradas em provas de concursos públicos, especialmente por bancas que possuem predileção pela
cobrança da letra de lei, tal como a FCC.
Além disso, a questão cobrou conhecimento da jurisprudência mais recente dos Tribunais Superiores acerca
da referida lei.
A alternativa A está correta. A alternativa cobrou o conhecimento das alterações introduzidas no decreto-
lei 3.365/41 pela lei 13.867/2019. Neste sentido, foi regulamentado o procedimento administrativo prévio à
ação judicial de desapropriação, determinando a notificação do proprietário para se manifestar quanto à
oferta de indenização do poder público.
Conjugando-se o art. 10-A com o §3º, tem-se que a ação judicial de desapropriação somente poderá ser
proposta após a recusa da proposta de indenização pelo proprietário:
Art. 10-A. O poder público deverá notificar o proprietário e apresentar-lhe oferta de indenização.
(Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
Vale destacar que, uma vez aceita a proposta de indenização, o valor será pago ao proprietário e será lavrado
acordo, que servirá como título hábil para a transcrição do registro de imóveis:
§ 2º Aceita a oferta e realizado o pagamento, será lavrado acordo, o qual será título hábil para a
transcrição no registro de imóveis.
O art. 10-B do decreto-lei 3.365/41, incluído pela Lei nº 13.867, de 2019, prevê a possibilidade de que a
indenização pela desapropriação seja definida em procedimento de mediação ou arbitragem.
Entretanto, o erro da questão está em afirmar que é o poder público quem indica o órgão ou instituição de
medicação ou arbitragem para realização do procedimento. Na verdade, é o particular quem deverá realizar
a indicação, dentre os órgãos ou instituições especializadas previamente cadastrados pelo órgão do poder
público responsável pela desapropriação:
Art. 10-B. Feita a opção pela mediação ou pela via arbitral, o particular indicará um dos órgãos
ou instituições especializados em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo órgão
responsável pela desapropriação.
A alternativa C está correta. É exatamento o que dispõe o art. 10-A, inciso IV do decreto-lei 3.365/41, incluído
pela lei nº 13.867, de 2019:
IV - informação de que o prazo para aceitar ou rejeitar a oferta é de 15 (quinze) dias e de que o
silêncio será considerado rejeição;
A alternativa D está correta. O art. 10-B do decreto-lei 3.365/41, incluído pela Lei nº 13.867, de 2019, previu
expressamente a possibilidade de que a indenização pela desapropriação seja definida em procedimento de
mediação ou arbitragem.
Trata-se de alteração legislativa importantíssima para provas de concursos públicos. Essa disposição com
certeza vai cair nas próximas provas:
Art. 10-B. Feita a opção pela mediação ou pela via arbitral, o particular indicará um dos órgãos
ou instituições especializados em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo órgão
responsável pela desapropriação.
A alternativa E está correta. Trata-se da cobrança da letra de lei quanto aos parágrafos 1º e 2º do art. 15-A
do decreto-lei 3.365/41, declarados constitucionais pelo STF:
§ 2o Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel possuir graus de utilização da
terra e de eficiência na exploração iguais a zero.
(...)
(ADI 2332, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 17/05/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 15-04-2019 PUBLIC 16-04-2019)
Gabarito: B
Questão 5. A Lei 13.019/2014 estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e
as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, nos termos lá retratados. Pela lei, o
instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com
organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco
propostas pelas organizações da sociedade civil, que envolvam a transferência de recursos financeiros é
denominado:
a) Contrato de gestão
b) Termo de parceria
c) Termo de fomento
d) Termo de colaboração
e) Acordo de cooperação
Comentários
Letra A. Incorreta. O contrato de gestão está previsto na Lei 9.637/98, e é entendido como o instrumento
firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social (OS), com vistas à formação
de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1o
(art. 5º).
Por meio desses contratos de gestão, podem ser destinados às organizações sociais recursos orçamentários
e bens públicos necessários ao cumprimento do disposto no instrumento (art. 12), bem como podem ser
cedidos servidores públicos, com ônus para a origem (art. 14).
É possível falar em contrato de gestão, ainda, em outros cenários, como no âmbito das agências executivas
(a partir da edição de Lei 13.934/19, passa a ser denominado “contrato de desempenho”) e no âmbito da Lei
14.011/20 (pelo art. 7º, a administração pública poderá celebrar contrato de gestão para ocupação de
imóveis públicos).
Letra B. Incorreta. O conceito indicado no cabeçalho da questão não diz respeito ao termo de parceria, pois
este corresponde ao vínculo jurídico entre a OSCIP (e não a OSC) e o Poder Público. É o que se extrai do art.
9º da Lei 9.790/99.
Letras D e E. Incorretas. A Lei 13.019/2014 trouxe disciplina mais rigorosa para as parcerias entre o Poder
Público e as entidades do terceiro setor, que recebem genericamente a denominação Organizações da
Sociedade Civil (OSC).
Os instrumentos de parceria disciplinados pela lei são três: termo de colaboração, termo de fomento e acordo
de cooperação.
O conceito indicado no cabeçalho da questão não corresponde ao termo de colaboração, sendo este o
“instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com
organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco propostas
pela administração pública que envolvam a transferência de recursos financeiros (art. 2º, VII).
Também não diz respeito ao acordo de cooperação, pois este é o “instrumento por meio do qual são
formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil para
a consecução de finalidades de interesse público e recíproco que não envolvam a transferência de recursos
financeiros” (art. 2º, VIII-A).
Letra C. Correta. O conceito indicado no cabeçalho da questão não diz respeito ao termo de fomento, pois
este é o “instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração
pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e
recíproco propostas pelas organizações da sociedade civil, que envolvam a transferência de recursos
financeiros” (art. 2º, VIII).
Questão 6. Assinale a assertiva que NÃO apresenta uma tendência atual do Direito Administrativo:
a) Constitucionalização do Direito Administrativo.
b) Democratização da Administração Pública.
c) Crise na noção de serviço público.
d) Aplicação do princípio da subsidiariedade.
e) Expansão do princípio da supremacia do interesse público.
Comentários
A lista de tendências atuais do Direito Administrativo é definida pela professora Di Pietro, e inclui:
4. Agencificação;
7. Consensualidade;
O equívoco está, portanto, na letra E. É que o princípio da supremacia do interesse público é, atualmente,
objeto de importantes críticas e relativizações, ou ao menos de uma releitura (autores importantes falam
em “desconstrução”, mas parece mais correto apontar a “reconstrução” do princípio). Fala-se em
ponderação de interesses, em prol da garantia de direitos fundamentais e da centralidade da pessoa
humana, e em razoabilidade no âmbito da atuação estatal.
Alternativa INCORRETA: Letra E.
Comentários
Exceto em caso de previsão legal, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou
interrompem a prescrição. Exemplo de exceção legal é a norma que determina que a decadência não corre
contra os absolutamente incapazes. Portanto, o item A está errado, nos termos do art. 208, do Código Civil.
O item B está errado, pois a prescrição não corre contra os que estiverem ausentes do país em serviço público
da União, dos Estados ou dos Municípios (art. 198, II, do Código Civil).
O item C está errado, pois o direito não se extingue com a prescrição, mas a pretensão, o que deixa o direito,
em si, intocado. Além disso, o casamento é causa suspensiva da prescrição, mas apenas durante a constância
da sociedade conjugal.
O item D está correto, pois a decadência legal é tida como matéria de ordem pública, enquanto que a
decadência convencional não o é.
O item E está errado, uma vez que a renúncia só é admitida uma vez transcorrido o respectivo prazo (art.
191, do Código Civil).
Gabarito: D
Comentários
O item A está correto, pois é a regra que se estra do art. 882 do Código Civil.
O item B está correto, pois é a regra que se estra do art. 189 do Código Civil.
O item C está correto, pois é a regra que se estra do art. 205 do Código Civil.
O item D está correto, pois é a regra que se estra do art. 190 do Código Civil.
O item E está errado, pois a prescrição não corre entre ascendentes e descendentes, durante o poder
familiar, nos termos do art. 197 do Código Civil.
Gabarito: E
Questão 3. Julgue as assertivas abaixo em verdadeiro (V) ou falso (F) e depois marque a alternativa
CORRETA:
I. É válida a cláusula existente em contrato de seguro em que as partes modifiquem o prazo prescricional
para 2 anos.
II. A prescrição é matéria que se pode alegar em grau de apelação, mas não em caso de REsp ou RE, situações
em que é vedado conhecer de matéria de fato.
III. A prescrição suspensa em favor de um dos credores solidários aproveita aos demais, mesmo em caso de
obrigação divisível.
IV. Não corre o prazo de prescrição contra os ébrios habituais e os viciados em tóxico.
V. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita.
a) V, V, V, V, V.
b) F, F, F, F, V.
c) V, F, F, F, V.
d) F, F, V, F, V.
e) F, F, F, V, V.
Comentários
O item I está errado, pois os prazos prescricionais não podem ser alterados pelas partes, nos termos do art.
192 do Código Civil.
O item II está errado, pois, nos termos do art. 193, do Código Civil, a prescrição é matéria que pode ser
alegada em qualquer grau de jurisdição.
O item III está errado, pois o aproveitamento em favor dos demais credores solidários só existe quando a
obrigação é indivisível, nos termos do art. 201, do Código Civil.
O item IV está errado, pois a prescrição não corre contra os absolutamente incapazes (art. 3), nos termos do
art. 198, I, do Código Civil, categoria que não abrange os ébrios habituais e os viciados em tóxico (art. 4), que
são relativamente incapazes.
O item V está correto, pois é o que se extrai do art. 191 do Código Civil.
Gabarito: B
Comentários
Letra a: Incorreta: Além dos beneficiários da gratuidade de justiça (CPC, art. 98, §1º, VIII), o §1º do art. 968
do CPC dispensa União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, às suas respectivas autarquias e
fundações de direito público, ao Ministério Público, à Defensoria Pública do depósito da importância de cinco
por cento sobre o valor da causa.
Art. 968. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art. 319 ,
devendo o autor:
II - depositar a importância de cinco por cento sobre o valor da causa, que se converterá em
multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou improcedente.
§ 1º Não se aplica o disposto no inciso II à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios,
às suas respectivas autarquias e fundações de direito público, ao Ministério Público, à Defensoria
Pública e aos que tenham obtido o benefício de gratuidade da justiça.
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e
fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
Art. 184. O membro da Advocacia Pública será civil e regressivamente responsável quando agir
com dolo ou fraude no exercício de suas funções
Não se deve confundir a representação processual com a aptidão para receber a citação inicial, que o atual
Código de Processo Civil determina seja realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável pela
representação judicial da pessoa jurídica de direito público conforme §3º do art. 242:
Art. 242. A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do representante legal
ou do procurador do réu, do executado ou do interessado.
§ 2º O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário de que deixou, na localidade
onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes para receber citação será citado na
pessoa do administrador do imóvel encarregado do recebimento dos aluguéis, que será
considerado habilitado para representar o locador em juízo.
§ 3º A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas respectivas
autarquias e fundações de direito público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública
responsável por sua representação judicial.
Art. 438. O juiz requisitará às repartições públicas, em qualquer tempo ou grau de jurisdição:
§ 1º Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máximo e improrrogável de 1 (um) mês,
certidões ou reproduções fotográficas das peças que indicar e das que forem indicadas pelas
partes, e, em seguida, devolverá os autos à repartição de origem.
Gabarito: A
Questão 2. A respeito de mediação e conciliação no atual Código de Processo Civil, assinale a opção
correta.
a) A mediação é realizada, necessariamente, por juiz togado; a conciliação pode ser realizada por mediador
judicial.
b) O conciliador deve ser servidor efetivo do tribunal; o mediador pode ser um trabalhador voluntário ou
estagiário do tribunal.
c) Acordo estabelecido na conciliação deverá ser homologado por sentença; na mediação, não haverá
homologação de acordo por sentença, em nenhuma hipótese.
d) A conciliação é realizada, necessariamente, pelo juiz togado; a mediação pode ser realizada somente por
mediador judicial.
e) O conciliador interfere diretamente no litígio e pode sugerir opções de solução para o conflito; o mediador
facilita o diálogo entre as partes, para que elas mesmas proponham as soluções.
Comentários
Letra a: errada: Ainda que seja dever do juiz estimular a solução consensual dos conflitos (CPC, art. 3º, §3º)
e promover, a qualquer tempo, a autocomposição (CPC, art. 139, V) não há exclusividade do juiz em realizar
essa atribuição, aliás, o art. 139, V determinar que sejam realizadas preferencialmente com auxílio de
conciliadores e mediadores judiciais.
Letra b: errada: Não há essa obrigatoriedade de que os conciliadores ou mediadores integrem o quadro
efetivo dos tribunais, podendo ser ambos voluntários ou mesmo integrantes de câmaras privadas escolhidas
pelas partes, sendo uma faculdade do tribunal a criação de quadro próprio na forma do §6º do art. 167 do
CPC:
§ 1º Preenchendo o requisito da capacitação mínima, por meio de curso realizado por entidade
credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo Conselho Nacional de Justiça em
conjunto com o Ministério da Justiça, o conciliador ou o mediador, com o respectivo certificado,
poderá requerer sua inscrição no cadastro nacional e no cadastro de tribunal de justiça ou de
tribunal regional federal.
§ 2º Efetivado o registro, que poderá ser precedido de concurso público, o tribunal remeterá ao
diretor do foro da comarca, seção ou subseção judiciária onde atuará o conciliador ou o mediador
os dados necessários para que seu nome passe a constar da respectiva lista, a ser observada na
distribuição alternada e aleatória, respeitado o princípio da igualdade dentro da mesma área de
atuação profissional.
§ 6º O tribunal poderá optar pela criação de quadro próprio de conciliadores e mediadores, a ser
preenchido por concurso público de provas e títulos, observadas as disposições deste Capítulo.
Além do mais, o Código de Processo Civil permite que as partes escolham, de comum acordo, o conciliador,
o mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação que poderá ou não estar cadastrado no
tribunal:
Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara
privada de conciliação e de mediação.
Letra c: errada: O §11 do art. 334 deixa claro que a autocomposição obtida será reduzida a termo e
homologada por sentença independente de tratar-se de mediação ou conciliação.
Letra e: certa: De forma resumida a alternativa reflete os conceitos de mediador e conciliador fornecidos
pelos §§ 2º e 3º do art. 165 do CPC:
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis
pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.
§ 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo
de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre
as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de
modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios,
soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
Gabarito: E
Comentários
Assertiva I errada: De acordo com o art. 281 do CPC anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos
os subsequentes que dele dependam.
Assertiva II – errada: Na forma do §1º do Art. 279 se o processo tiver tramitado sem conhecimento do
membro do Ministério Público, o juiz invalidará os atos praticados a partir do momento em que ele deveria
ter sido intimado, e não da distribuição.
Assertiva III – errada: Em tais casos o art. 280 do CPC sanciona com a nulidade os atos realizados sem as
formalidades legais.
Assertiva IV – errada: De acordo com o art. 276 do CPC em tal caso a decretação da nulidade não pode não
pode ser requerida pela parte que lhe deu causa, portanto, todas as afirmativas estão errada.
Gabarito: E
Questão 4. Acerca do regime aplicável às ações de família no Código de Processo Civil assinale a alternativa
correta:
a) A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias da data designada para a audiência.
b) Nas ações de família é sempre obrigatória a intervenção do Ministério Público.
c) A ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança ou de adolescente observarão o
procedimento estabelecido pelo Código de Processo Civil.
d) O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar acompanhado de
cópia da petição inicial.
e) Na audiência é facultativo que as partes estejam acompanhadas de seus advogados ou de defensores
públicos.
Comentários
Letra a: certa: O §2º do art. 695 do CPC determina que o prazo de antecedência da citação em relação à
audiência será de 15 (quinze) dias, e não de 20 dias como prevê o art. 334 do CPC.
Letra b: errada: Ao contrário do afirmado, o art. 698 determina que o Ministério Público somente intervirá
nas ações de direito de família quando houver interesse de incapaz.
Art. 698. Nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando houver interesse
de incapaz e deverá ser ouvido previamente à homologação de acordo.
Parágrafo único. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas ações de família em
que figure como parte vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de
7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).
Letra c: errada: O parágrafo único do art. 693 dispõe que as ações de alimentos e sobre interesse de criança
ou de adolescente observarão a legislação específica, no caso dos alimentos a Lei 5.478/68 e no interesse de
crianças e adolescentes a Lei 8.069/90.
Art. 693. As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos contenciosos de divórcio,
separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação.
Parágrafo único. A ação de alimentos e a que versar sobre interesse de criança ou de adolescente
observarão o procedimento previsto em legislação específica, aplicando-se, no que couber, as
disposições deste Capítulo.
Letra d: errada: Como medida de prevenção contra o agravamento do conflito e garantia da intimidade das
partes, o § 1º do art. 695 determina que o mandado de citação será remetido desacompanhado de cópia da
petição inicial.
Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela
provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e
conciliação, observado o disposto no art. 694.
§ 2º A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias da data designada para a
audiência.
Letra e: errada: A presença de advogados ou de defensores públicos das partes é obrigatória de acordo com
o §4º do art. 695 do Código de Processo Civil.
Gabarito: A
Questão 5. Os juizados especiais da fazenda pública previstos na Lei 12.153/09 possuem competência para
processar e julgar:
a) ação de desapropriação de imóvel cujo valor não exceda sessenta salários mínimos.
b) ação cujos sujeitos ativos sejam entes públicos da administração pública direta, autárquica e fundacional
dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
c) ação rescisória para desconstituir as suas próprias decisões de mérito.
d) ação de improbidade administrativa praticada por secretário municipal, cujo valor do dano ao erário não
ultrapasse sessenta salários mínimos.
e) mandado de segurança contra suas decisões interlocutórias proferidas, considerando a irrecorribilidade
imediata de decisões dessa natureza.
Comentários
Letra a: errada: O inciso I do §1º do art. 2º da Lei 12.153/09 expressamente exclui as demandas de
desapropriação do rol de competência dos juizados.
Letra b: errada: O art. 5º da Lei 12.153/09 não inclui as pessoas jurídicas de direito público como legitimadas
ativas para o sistema dos juizados fazendários, somente podendo atuar como rés.
Letra c: errada: Nos termos do art. 59 da Lei nº 9.099/1995, aplicável ao Juizado Especial da Fazenda Pública
por força do art. 27 da Lei nº 12.153/2009 “não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao
procedimento instituído por esta Lei.
Letra d: errada: O inciso I do §1º do art. 2º da Lei 12.153/09 expressamente exclui as demandas envolvendo
improbidade administrativa do rol de competência dos juizados.
Letra e: correta: Ainda que o inciso I do §1º do art. 2º da Lei 12.153/09 expressamente exclua o mandado
de segurança do rol de competência dos juizados, a súmula 376 do STJ admite o uso do mandado de
segurança como sucedâneo recursal : Súmula 376 - Compete a turma recursal processar e julgar o mandado
de segurança contra ato de juizado especial.
Gabarito: E
Questão 6. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. Esse interesse pode limitar-se
à:
a) declaração de existência de uma relação jurídica;
b) declaração da inexistência de uma relação jurídica;
c) declaração do modo de uma relação jurídica;
d) declaração da autenticidade ou falsidade de documento;
e) todas as alternativas estão corretas.
Comentários
Gabarito: alternativa E
CPC/15 - Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
(...)
a) O exame pericial para verificar a cessação da periculosidade do agente deverá ser realizado a cada 03
(três) anos.
b) A medida de segurança poderá ser aplicada, ainda que reconhecida a extinção da punibilidade do agente.
c) A desinternação do agente, constatada a cessação da periculosidade, será sempre condicional.
Restabelece-se a situação anterior se o agente, a qualquer tempo, pratica fato que indique persistir a
periculosidade.
d) Caso não seja verificada a cessação da periculosidade do agente, a medida de segurança poderá durar
perpetuamente.
e) É possível submeter o agente inimputável a tratamento ambulatorial se o ato criminoso por ele praticado
for punível com pena de detenção.
Comentários
a) Nos termos do art. 97, §2º, do Código Penal: “A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo
fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução”.
b) A extinção da punibilidade afasta a aplicação de medida de segurança (art. 96, parágrafo único do Código
Penal).
c) Está incorreta, vez que a medida de segurança somente será estabelecida se o agente praticar fato que
indique a periculosidade no prazo de 01 (um) ano (art. 97, §3º, do Código Penal).
e) Está correta a alternativa, com base no art. 97, caput, do Código Penal.
Gabarito: E
Questão 2. Leandro, inimputável por doença mental, foi liberado pelo juízo da execução, após 06 (seis)
anos internado em hospital de custódia. 08 (oito) meses após a liberação, foi detido pela prática de
conduta delitiva com violência.
Nesse caso:
a) É cabível o reestabelecimento da internação, haja vista ser possível sua determinação se o agente praticar
fato novo a qualquer tempo.
b) É cabível o reestabelecimento da internação, desde que não tenha ocorrido a prescrição da medida de
segurança anterior.
c) É cabível o reestabelecimento da internação, haja vista que foi praticado fato que indica a periculosidade
do agente, em menos de 01 (um) ano após a internação.
d) Não é cabível o reestabelecimento da internação, haja vista que o fato novo foi praticado após 06 (seis)
meses da liberação.
e) Não é cabível o reestabelecimento da internação, haja vista que o agente já havia sido liberado da
internação anterior, de maneira incondicional.
Comentários
O art. 97, §2º do Código Penal dispõe que: “A desinternação será sempre condicional e se restabelecerá caso
o agente, antes do decurso de 01 (um) ano, praticar fato indicativo de periculosidade, ainda que não
criminoso”. Assim, a desinternação é cabível no caso narrado.
Gabarito: C
Questão 3. Assinale a alternativa correta em relação ao crime de parto suposto. Supressão ou alteração
de direito inerente ao estado civil de recém-nascido
a) Não configura crime a conduta de dar parto próprio como alheio.
b) Se o agente praticar mais de uma das condutas previstas no tipo penal, responderá por apenas um crime.
c) Se for utilizada eventual falsidade na prática do crime, o agente responderá também pela falsidade
praticada.
d) Ainda que inexista o dolo de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil do neonato, o agente
responderá pelo crime se ocultar recém-nascido ou substituí-lo.
e) Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza, a pena será reduzida em 1/3.
Comentários
b) As condutas previstas no tipo penal são autônomas, podendo o agente responder por mais de uma delas
em concurso material.
d) Está incorreta a alternativa, eis que o tipo penal exige o dolo específico.
e) Tal circunstância configura hipótese privilegiada do crime, em que a pena será de um a dois anos, podendo
o juiz deixar de aplicar a pena, não havendo se falar em causa de diminuição.
Gabarito: A
Questão 4. A respeito das condutas de semear, cultivar e colher plantas que possam servir de matéria
prima para a produção de drogas, assinale a alternativa que não consta da Lei de Drogas - Lei 11.343/2006
a) Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a
exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a
hipótese de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.
b) Quem semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas.
c) Quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica, pratica crime na
modalidade privilegiada.
d) As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia, que recolherá quantidade
suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a
delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova.
e) As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas.
Comentários
A - Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita
e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a
hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das
Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente
ritualístico-religioso. Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais
referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo
predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.
B - Art. 33. II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
D - Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia na forma do art.
50-A, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das
condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação
da prova.
E - Art. 32. (...) § 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no
art. 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.
Gabarito: C
Questão 5. A respeito da ação controlada na Lei das Organizações Criminosas (12.850/2013), assinale a
alternativa correta:
a) Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, não poderá haver, em nenhuma hipótese, o
retardamento da intervenção policial, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto,
instrumento ou proveito do crime.
b) A comunicação a respeito da opção policial pela ação controlada será sigilosamente requisitada ao
representante do Ministério Público competente de forma a não conter informações que possam indicar a
operação a ser efetuada.
c) Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada.
d) Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público, ao
Defensor Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
e) Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada
por organização criminosa ou a ela vinculada, motrando-se indiferente o acompanhamento ininterrupto.
Comentários
Seção II
Da Ação Controlada
§ 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
Gabarito: C
Questão 6. A respeito das penas restritivas de direito impostas à pessoa jurídica pela condenação criminal
por crime ambiental, aponte a alternativa correta:
a) A suspensão de atividades só será aplicada em caso de reincidência específica em crimes ambientais.
b) A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida
autorização, ressalvada a situação de não degradação ambiental.
c) A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá
exceder o prazo de cinco anos.
d) A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica poderá consistir em contribuições a entidades
ambientais ou culturais públicas.
e) Não se admite a imposição da manutenção de espaços públicos como pena por ausência de previsão legal.
Comentários
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou
doações.
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações
não poderá exceder o prazo de dez anos.
Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:
Gabarito: D
Questão 7. Acerca da ação penal, pública ou privada, marque a alternativa INCORRETA à luz do Código
Penal e da jurisprudência dos tribunais superiores.
a) É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação fiscal.
b) É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à
representação do ofendido, para ação penal por crime contra honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.
c) A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não
oferece denúncia no prazo legal.
d) A renúncia ao direito de queixa pode ser feita de forma tácita ou expressa, sendo que o recebimento de
indenização pelo ofendido em razão do dano causado pelo crime não caracteriza renúncia tácita ao direito
de queixa.
e) O perdão do ofendido, nos crimes de ação penal privada, somente pode ser feito mediante termo nos
autos do processo e de forma expressa, produzindo efeitos ainda que o querelado não o aceite.
Comentários
A alternativa A não pode ser o gabarito da questão, pois está de acordo com a súmula 609 do STF, segundo
a qual: “É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação fiscal.”.
A alternativa B não pode ser o gabarito da questão, na medida em que reproduz a súmula 714 do STF: “É
concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à
representação do ofendido, para ação penal por crime contra honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.”. Essa súmula caiu nas provas objetivas para juiz substituto do TJAL/2019 e e do
TJMS/2020, elaboradas pela FCC.
A alternativa C não pode ser o gabarito da questão, visto que apresenta proposição correta acerca da ação
penal privada subsidiária da pública, espécie de ação penal privada ajuizada nas hipóteses de ação penal
pública, quando o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. Está prevista no art. 100, §3º, do
CP: Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. §3º
- A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece
denúncia no prazo legal.”.
A alternativa D não pode ser o gabarito da questão, tendo em vista que, de fato, a renúncia ao direito de
queixa pode ser feita expressa ou tacitamente, não se considerando renúncia tácita o mero recebimento,
pelo ofendido, da indenização em virtude do dano causado pelo delito. É o que se extrai do art. 104 do Código
Penal: “Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade
de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo
crime.”.
Gabarito: letra E.
a) Segundo a doutrina majoritária, o atual Código Penal adotou a teoria monista ou monística, no que tange
ao concurso de pessoas, de modo que não há qualquer influência das teorias dualista e pluralista em nosso
Direito Penal.
b) Na participação de menor importância, um dos agentes quis participar do crime menos grave, sendo-lhe
aplicada a pena deste.
c) São requisitos necessários para existência de concurso de pessoas a pluralidade de agentes, a relevância
causal de suas condutas, o liame subjetivo entre eles e a identidade de infração penal.
d) Na análise do concurso de pessoas, como previsto no atual Código Penal, não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, ainda quando elementares do crime.
e) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a
se consumar.
Comentários
A alternativa A está incorreta, visto que, conquanto a maior parte da doutrina sustente que o Código Penal
adotou a teoria monista ou unitária quanto ao concurso de pessoas, isso não significou o completo
abandono das demais teorias que tentam explicar o “concursus delinquentium”. Tanto isso é verdade que é
possível extrair a teoria dualista do § 1º do Código Penal, o qual trata da participação de menor importância,
permitindo concluir pela existência de um crime para o autor (ação principal) e outro crime para o partícipe
(ato acessório). Outrossim, a doutrina defende que a teoria pluralista foi contemplada, excepcionalmente,
pelo Código Penal, como no caso do crime de aborto praticado por terceiro com o consentimento da
gestante, em que esta responderá pelo crime do art. 124 do CP enquanto o terceiro responderá pelo art. 126
do CP, ainda que se trate do mesmo evento criminoso.
A alternativa B está incorreta, na medida em que se referiu à participação de menor importância, mas
apresentou a hipótese de cooperação dolosamente distinta. Na participação de menor importância, como o
próprio nome indica, o agente concorre para o crime, porém sua conduta tem menor relevância, o que
permite a incidência de causa de diminuição de pena para o agente, nos termos do art. 29, §1º, do CP: “Art.
29 (...) §1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.”.
Por sua vez, a cooperação dolosamente distinta está ligada ao âmbito psíquico do agente (elemento
subjetivo), o qual quis participar do crime menos grave, o que autoriza o juiz a aplicar a pena do crime menos
grave ao agente, conforme previsto no art. 29, §2º, do CP: “Art. 29 (...). §2º - Se algum dos concorrentes quis
participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.”.
A alternativa C é a correta, haja vista a doutrina costuma apontar exatamente 4 (quatro) requisitos para
configuração do concursos de pessoas, em conformidade com o que foi apresentado na alternativa 16.
16
Cunha, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (art. 1º a 120). 8.ed.rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVMP,
2020.456.
A alternativa D está incorreta, pois a regra, segundo o concurso de pessoas previsto no Código Penal, é que
as circunstância e condições de caráter pessoal dos agentes não se comuniquem entre eles. Todavia, se tais
circunstâncias e condições, mesmo que de caráter pessoal, representarem elementares do tipo penal, haverá
sim comunicação, de modo que atingirão todos os agentes. É o caso da elementar “funcionário público” no
crime de peculato. Ela se comunicará com todos os agentes que concorrerem para o crime, ainda que nem
todos eles sejam funcionários públicos, sendo imprescindível o conhecimento acerca da condição de
funcionário público de um deles. É o que se extrai do art. 30 do Código Penal: “Art. 30 - Não se comunicam
as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.”.
A alternativa E está incorreta, pois abordou equivocadamente o ajuste, a determinação e o auxílio ao crime.
Essas condutas não serão punidas se o crime não for, ao menos, tentado. Ou seja, não se exige que o crime
seja consumado para que haja punição, bastando que seja tentado. Nesse sentido, o art. 31 do Código Penal:
“Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.”.
Gabarito: letra C.
Comentários
A alternativa A é a correta, porque reproduziu o entendimento fixado na súmula 599 do STJ: “O princípio da
insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.”. Essa súmula caiu na prova objetiva
para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa B está incorreta, na medida em que afronta o entendimento fixado na Súmula 636 do STJ: “A
folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a
reincidência”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa C está incorreta, visto que afronta o entendimento fixado na Súmula 631 do STJ: “O indulto
extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários,
penais ou extrapenais.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela
FCC.
A alternativa D está incorreta, haja vista que afronta o entendimento fixado na Súmula 630 do STJ: “A
incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige
reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para
uso próprio.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa E está incorreta, dado que é incompatível com o entendimento fixado na Súmula 607 do STJ:
“A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006) configura-se com a prova
da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras”.
Gabarito: letra A.
Comentários
A alternativa A está errada, na medida em que a modalidade de citação correta (por ocultação do réu) seria
‘por hora certa’:
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a
ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
A alternativa B está errada. A citação, nesse caso (e como regra geral), será realizada por mandado (pessoal),
a ser cumprido por oficial de justiça:
Art. 351. A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território sujeito à
jurisdição do juiz que a houver ordenado.
Art. 353. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será citado
mediante precatória.
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
A alternativa E está errada. A assertiva está, em verdade, referindo-se aos requisitos da citação por edital:
Art. 365. Parágrafo único. O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será
publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver
feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão, da qual conste a
página do jornal com a data da publicação.
Gabarito: D
Questão 2. A respeito da aplicação da lei penal e processual penal, julgue as seguintes proposições:
I. Em relação à aplicação da lei processual penal no espaço, vigora o princípio da ubiquidade.
II. De acordo com o princípio da aplicação imediata da lei processual penal, os atos já realizados sob a vigência
de determinada lei devem ser convalidados pela lei que a substitua.
III. O trânsito em julgado de sentença penal condenatória não representa óbice à aplicação de lei penal nova
mais benéfica ao agente.
IV. A lei processual penal não veda a interpretação extensiva que possa ser desfavorável ao réu.
Estão corretas as proposições:
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I e IV.
e) III e IV.
Comentários
A proposição I está errada, na medida em que vigora o princípio da territorialidade da lei processual penal:
Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
A proposição II está errada. De acordo com o princípio da aplicação imediata da lei processual penal (tempus
regit actum), não há qualquer prejuízo aos atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior:
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior.
A proposição III está correta, nos termos do art. 2º, parágrafo único do CP:
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
A proposição IV está correta, na medida em que art. 3º do CPP permite a interpretação extensiva no processo
penal e não restringe sua aplicabilidade; logo, ela pode, inclusive, prejudicar o acusado:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como
o suplemento dos princípios gerais de direito.
Gabarito: C
Comentários
A alternativa A está errada, na medida em que não há citação por edital no âmbito do juizado especial
criminal. Neste caso, deverá ser procedido nos termos do art. 66, parágrafo único da Lei 9.099/95:
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças
existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.
A alternativa B está errada. Em verdade, trata-se de hipótese de revogação facultativa, conforme art. 89, §
4º da Lei 9.099/95:
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por
outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
A alternativa D está errada. A assertiva peca no limite de pena em relação à competência do juizado especial
criminal, uma vez que, em verdade, se perfaz em 2 anos:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa
Art. 74. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.
Gabarito: E
Comentários
A alternativa A está errada. O MP não poderá desistir da ação penal (indisponibilidade), embora nada obste
(pelo contrário, tudo recomende) que pugne pela absolvição do acusado caso constate a ausência de
elementos e provas para sua condenação:
A alternativa C está errada. A decadência se perfaz no prazo de 6 (seis) meses, e não 1 (um) ano:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito
de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia
em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o
prazo para o oferecimento da denúncia.
A alternativa D está errada. Conforme se nota do art. 38, in fine, do CPP (acima transcrito), a decadência
também atinge a ação penal privada subsidiária da pública (prevista no art. 29 do CPP).
A alternativa E está errada. Nos termos do art. 45 do CPP, o MP poderá tanto aditar a queixa-crime quanto
intervir nos termos subsequentes do processo:
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo
Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
Gabarito: B
Comentários
A proposição I está errada. Não há um momento certo e definido pela lei para que o laudo pericial seja
apresentado/juntado no processo. A própria denúncia, de regra, pode ser recebida sem ele e isso muito
constantemente acontece, principalmente nos procedimentos com réus presos, que devem tramitar mais
rapidamente. Por outro lado, em regime de exceção, há se atentar a duas hipóteses que exigem o laudo
antecipadamente:
A proposição II está correta. Como decorrência do sistema da ‘persuasão racional do juiz’ (livre
convencimento motivado) que vigora em relação à avaliação das provas (art. 156 do CPP), o magistrado não
está vinculado ao resultado da perícia (sistema liberatório), podendo mesmo rejeitá-lo no todo ou em parte:
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
A proposição III está errada. Também o perito não oficial está sujeito:
Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.
Gabarito: C
Questão 6. Para qual das figuras típicas abaixo apresentadas não se aplica a suspensão do processo e da
prescrição em caso de citação por edital infrutífera:
a) Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens,
direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
b) Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente, relativamente a operação
ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente.
c) Vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em
desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial.
d) Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica,
qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços.
e) Cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida
por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou,
ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito.
Comentários
Lei 9.613/98
§ 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-
Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não
comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o
julgamento, com a nomeação de defensor dativo. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012).
B - Lei 7.492/86. (...) Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente,
relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente.
C - Lei 8.137/90. (...) Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: II - vender ou expor à venda
mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as
prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial.
D - Lei 8.078/90. (...) Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de
produtos ou serviços.
E - Lei 1.521/51. (...) Art. 4º. a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro
superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada
por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito.
Gabarito: A
e) A prisão domiciliar não deixa de ser uma forma de restrição da liberdade do indivíduo, consistindo em
uma verdadeira espécie de prisão. Dessa forma, por entender que é em essência uma prisão, nos casos de
prisão domiciliar substitutiva da prisão preventiva, não poderá incidir as medidas cautelares diversas da
prisão, sob pena de se impor restrições maiores do que a própria prisão preventiva.
Comentários
A) Incorreta. A afirmativa traz a possibilidade de o juiz fundamentar a concessão da prisão domiciliar tanto
no CPP como na LEP para qualquer fase da persecução penal, quando, na verdade, as hipóteses do CPP são
adotadas para quando se tratar de prisão domiciliar em substituição a prisão preventiva e a LEP traz
hipóteses de substituição da prisão-pena por prisão domiciliar em caso de regime aberto.
B) Incorreta. A principal diferença não está no fato de trazer hipóteses específicas para o encarceramento de
mulheres. Além disso, o Código de Processo Penal, em seu Art. 318-A traz hipóteses de prisão domiciliar para
os casos de mulheres.
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
(Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; (Incluído pela Lei nº
13.769, de 2018).
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente. (Incluído pela Lei nº 13.769,
de 2018).
D) CORRETA. O CPP trata de prisão domiciliar substitutiva da prisão preventiva. Já a LEP trata de hipóteses
em que a prisão-pena será cumprida em residência do condenado. No caso da LEP, há o requisito específico
de que a pena esteja sendo cumprida em regime aberto.
E) Incorreta. A prisão domiciliar decorrente da prisão preventiva, segundo o CPP, pode ser aplicada
concomitantemente com medidas cautelares diversas da prisão. Vejamos:
Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem prejuízo
da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste Código. (Incluído
pela Lei nº 13.769, de 2018).
Comentários
A) Verdadeira. É desnecessária a realização de PAD para aplicação de falta grave, desde que exista audiência
de justificação realizada com participação da defesa e do MP.
(RE 972598, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-196 DIVULG 05-08-2020 PUBLIC 06-08-2020).
B) Falsa. Mesmo que a reincidência não seja citada na sentença condenatória, poderá o juiz da execução
considera-la quando da concessão dos benefícios da execução penal.
(EREsp 1738968/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/11/2019, DJe
17/12/2019).
(RMS 48.818/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019,
DJe 29/11/2019)
E) Falsa. De acordo com o STJ, a prática de falta grave justifica a realização de exame criminológico.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 396439/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
19/06/2018.
Comentários
(HC 124520, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 15/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-127 DIVULG 26-06-2018
PUBLIC 27-06-2018)
B) Verdadeira. Trata-se de posicionamento sumulado pelo STJ, caso não seja aplicada a revogação ou
suspensão do livramento condicional, ao término do período de prova será extinta a punibilidade.
(AgRg no HC 423.979/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado
em 06/03/2018, DJe 14/03/2018).
D) Falsa. O preso, ainda que em prisão domiciliar, faz jus a remição de pena pelo trabalho.
(AgRg no REsp 1689353/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
06/02/2018, DJe 15/02/2018)
(STJ; AgRg-HC 467.001; Proc. 2018/0223844-6; SP; Sexta Turma; Rel. Min. Nefi Cordeiro; Julg.
04/12/2018; DJE 19/12/2018; Pág. 4887)
Questão 4. À luz das disposições da Lei n.º 9.099/95, assinale a alternativa CORRETA:
a) Com relação aos Juizados Especiais Criminais, consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima
não superior a 2 (dois) anos, desde que não cumulada com multa.
b) As disposições da Lei n.º 9.099/95 são aplicáveis no âmbito da Justiça Militar.
c) Admite-se citação por edital.
d) É cabível a composição dos danos civis no âmbito dos Juizados Especiais Criminais em ações penais
públicas condicionadas à representação.
e) Não obtida a composição dos danos civis no âmbito dos Juizados Especiais Criminais, o não
oferecimento da representação na audiência preliminar implica decadência do direito, ainda que dentro
do prazo legal.
Comentários
Gabarito D
a) Incorreta. Art. 61 da Lei n.º 9.099/95: “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,
para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”.
b) Incorreta. Art. 90-A, da Lei n.º 9.099/95: “As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça
Militar”.
c) Incorreta. Art. 66, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/95: “A citação será pessoal e far-se-á no próprio
Juizado, sempre que possível, ou por mandado. Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser
citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto
em lei”.
e) Incorreta. Art. 75, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/95: “Não obtida a composição dos danos civis,
será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que
será reduzida a termo. Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar
não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei”.
Questão 5. À luz das disposições da Lei n.º 9.099/95 e do entendimento dos Tribunais
Superiores, assinale a alternativa INCORRETA:
a) É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por turma recursal de juizado especial cível
e criminal.
b) Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação.
c) É inadmissível a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima
da infração mais grave, com o aumento mínimo de um sexto, for superior a um ano.
d) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial
da pretensão punitiva.
e) Se diante de hipótese de cabimento da suspensão condicional do processo, o Promotor de Justiça se
recusar a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Desembargador do tribunal
correspondente, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
Comentários
Gabarito E
a) Correta. Súmula 640, STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de
primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”.
b) Correta. Art. 82, caput, da Lei n.º 9.099/95: “Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da
sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no
primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado”.
c) Correta. Súmula 723, STF: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado,
se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a
um ano”.
d) Correta. Súmula 337, STJ: “É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime
e na procedência parcial da pretensão punitiva”.
e) Incorreta. Súmula 696, STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional
do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão
ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”.
==10be0c==
Comentários
Gabarito B
a) Incorreta. A conduta descrita na alternativa era crime previsto no art. 89, da Lei n.º 8.666/93, mas
com o advento da Lei n.º 14.133/2021, conhecida como a nova lei de licitações, esse e outros artigos
que tipificavam condutas foram revogados.
b) Correto. Comete o crime previsto no art. 337-I, do Código Penal: “Impedir, perturbar ou fraudar a
realização de qualquer ato de processo licitatório: (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021) Pena –
detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.”
c) Incorreta. Constitui crime previsto no art. 337-H, do Código Penal: “Admitir, possibilitar ou dar causa
a qualquer modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do contratado, durante
a execução dos contratos celebrados com a Administração Pública, sem autorização em lei, no edital da
licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem
cronológica de sua exigibilidade: (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021) Pena – reclusão, de 4 (quatro)
anos a 8 (oito) anos, e multa.”
e) Incorreta. É a previsão legal do art. 337-P, do Código Penal, que foi incluído pela Lei n.º 14.133/2021:
“A pena de multa cominada aos crimes previstos neste Capítulo seguirá a metodologia de cálculo
prevista neste Código e não poderá ser inferior a 2% (dois por cento) do valor do contrato licitado ou
celebrado com contratação direta.” (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021).
Comentários
A alternativa A está correta, nos termos do artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente, com redação
dada pela Lei 13.106/2015:
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer
forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Gabarito: A
Comentários
A alternativa A está errada. A venda é proibida por força do artigo 81, V, do ECA.
A alternativa B está errada. O descumprimento desta proibição não é tipificado como crime.
A alternativa D está errada. A proibição inexiste, mas a hipótese importa na obrigação de se utilizar
embalagens opacas, nos termos do artigo 78, parágrafo único, do ECA.
A alternativa E está incorreta. A utilização da embalagem opaca é obrigatória caso a capa traga mensagens
pornográficas ou obscenas.
Gabarito: C
Questão 3. Sobre a prevenção especial aplicável às crianças e dos adolescentes, julgue as assertivas abaixo
em verdadeiro (V) ou falso (F) e depois marque a alternativa CORRETA:
I. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados como adequados
à sua faixa etária, mas é vedado o seu acesso a espetáculos classificados como inadequados à sua idade;
II. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável;
III. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais, responsável ou parente maior de idade até o
segundo grau.
a) F, V, F.
b) V, V, F.
c) F, F, F.
d) V, V, V.
e) V, F, V.
Comentários
A alternativa I é falsa. Segundo a Portaria 1.100/06 do Ministério da Justiça, o acesso das crianças e
adolescentes não é proibido, cabendo aos pais decidirem.
A alternativa II está correta e repete a dicção do artigo 75, parágrafo único, do ECA.
A alternativa III está errada. O artigo 82 não permite a hospedagem quando a criança ou adolescente esteja
acompanhada de parentes.
Gabarito: A
c) As hipóteses infraconstitucionais de inelegibilidade devem ser instituídas por lei complementar, que
deverá prever ainda os prazos de cessação da inelegibilidade
d) As hipóteses infraconstitucionais de inelegibilidade devem ser instituídas por lei complementar, que
deverá poderá, ante a gravidade da situação, estabelecer hipótese de inelegibilidade por prazo
indeterminado.
e) a lei da ficha limpa alterou a Lei Complementar 64/1990, restringindo as hipóteses legais de
inelegibilidade.
Comentários
A questão passa pelo art. 14, § 9º da Constituição, que prevê que “Lei complementar estabelecerá outros
casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a
moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e
legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta.”
A alternativa “a” está errada, pois a Constituição autorizou lei complementar a estabelecer novos casos de
inelegibilidade.
A alternativa “b” está errada porque as hipóteses infraconstitucionais de inelegibilidade devem ser
instituídas por lei complementar.
A alternativa “d” está errada, pois as hipóteses infraconstitucionais de inelegibilidade devem ter prazo de
cessação.
A alternativa “e” está errada, pois a lei da ficha limpa, ao alterar a LC 64/1990, ampliou as hipóteses legais
de inelegibilidade.
Gabarito: D
Comentários
A questão aborda as inelegibilidades previstas no art. 1º, I, alíneas “b” e “c” da LC 64/1990.
A alternativa “a” está errada, pois a cassação do mandato de Presidente ou Vice Presidente da República não
ocasiona inelegibilidade.
A alternativa “b” está errada, porque a perda do mandato parlamentar só ocasiona a inelegibilidade se
ocorrer com fundamento no art. 55, I e II da Constituição e dispositivos equivalentes nas Constituições
estaduais e lei orgânica do Distrito Federal e dos Municípios (art. 1º, I, “b” da LC 64/1990).
A alternativa “c” está errada, pois parlamentar que tiver o mandato cassado por quebra de decoro ficará
inelegível para as eleições que se realizarem nos 8 anos após o término da legislatura em curso quando da
cassação do mandato. (art. 1º, I, “b” da LC 64/1990).
A alternativa “d” está correta, conforme previsto no art. 1º, I, “b” da LC 64/1990.
A alternativa “e” está errada, pois a perda do mandato do Presidente da República por infringência a
dispositivo da Constituição Federal não ocasiona a inelegibilidade, conforme previsto no art. 1º, I, “C” da LC
64/1990.
Gabarito: D
Comentários
Alternativa A: incorreta. O art. 42, parágrafo único do Código Eleitoral afirma que, para inscrição, “é
domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma,
considerar-se-á domicílio qualquer delas”. Portanto, o conceito é diferente do apresentado no Código Civil
(“art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo”).
Alternativa B: correta. Segundo o art. 71, V do Código Eleitoral, é causa de cancelamento da inscrição deixar
de votar em 3 eleições consecutivas. Já seu § 1º afirma que esse cancelamento poderá ser promovido a
requerimento de qualquer eleitor.
Alternativa C: correta. É o que afirma o art. 74 do Código Eleitoral: “A exclusão será mandada processar ex
officio pelo juiz eleitoral, sempre que tiver conhecimento de alguma das causas do cancelamento.”
Alternativa D: correta. Inicialmente, o art. 73 do Código eleitoral prevê que, “no caso de exclusão, a defesa
pode ser feita pelo interessado, por outro eleitor ou por delegado de partido”. Já o art. 72 do mesmo
diploma dispõe que “durante o processo e até a exclusão pode o eleitor votar validamente”.
Alternativa E: correta. O art. 55, § 1º, II do Código Eleitoral prevê como exigência para transferência da
inscrição o transcorrer de pelo menos 1 ano da inscrição primitiva. Contudo, o § 2º do mesmo artigo dispõe
que essa imposição não se aplica “quando se tratar de transferência de título eleitoral de servidor público
civil, militar, autárquico, ou de membro de sua família, por motivo de remoção ou transferência”.
Comentários
Letra a. Incorreta. Ainda que a súmula nº 213 do Superior Tribunal de Justiça disponha que “o mandado de
segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária” a segunda parte
da afirmação contraria o disposto na súmula nº 460 do Superior Tribunal de Justiça que afirma que “é
incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada pelo contribuinte.”
Letra b. Incorreta. O prazo está errado, pois o art. 11 da Lei 8.397/92, estabelece que o prazo para o
ajuizamento da ação de execução fiscal será de sessenta dias.
Letra c. Incorreta. A opção transcreve a Súmula 392 do Superior Tribunal de Justiça, que ao contrário do
afirmado, fixa o termo final de substituição da CDA como sendo a prolação da sentença: Súmula 392. A
Fazenda Publica pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos,
quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da
execução.
Letra d. Incorreta. A alternativa contraria a literalidade da súmula 558 do STJ: Em ações de execução fiscal,
a petição inicial não pode ser indeferida sob o argumento da falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ
da parte executada.
Gabarito: E
Questão 2. Assinale a alternativa correta om base na jurisprudência atual do Supremo Tribunal Federal
acerca do sistema tributário nacional:
a) Prescinde de lei em sentido formal a instituição de regime de recolhimento do ICMS por estimativa.
b) É inconstitucional a incidência do ISS sobre a prestação de serviços de registros públicos, cartorários e
notariais.
c) São constitucionais a instituição e a cobrança de taxas por emissão ou remessa de carnês/guias de
recolhimento de tributos.
d) Os bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento
Residencial - PAR, criado pela Lei 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150,
VI, a, da Constituição Federal.
e) Não incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a pessoa jurídica de
direito privado.
Comentários
Letra a: Errada: Ao contrário do afirmado pela opção, o Supremo Tribunal Federal ao julgar o tema 830 com
Repercussão Geral (RE 632265) fixou a tese de que a criação de nova maneira de recolhimento do tributo,
partindo-se de estimativa considerado o mês anterior, deve ocorrer mediante lei no sentido formal e
material já que na forma do art. 150, I da Constituição a exigibilidade de tributo pressupõe lei que o
estabeleça.
Letra b: Errada. Ao julgar a tese 688, com repercussão Geral (RE 756915), o STF entendeu que ainda que s
emolumentos cobrados pelos agentes delegados tenham natureza jurídica tributária, não se aplica a tais
agentes a imunidade recíproca estando a incidência do ISS sobre Serviços de registros públicos, cartorários
e notariais prevista nos itens 21 e 21.1 da Lista de serviços anexa à Lei Complementar nº 116, de 31 de julho
de 2003, sendo que o Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI 3.089 já havia considerado como
constitucionais tais itens.
Não se pode deixar de considerar que a imunidade recíproca tem natureza subjetiva, isto é, é dirigida
especificamente levando em conta as condições pessoais de seu destinatário, logo, é uma garantia ou
prerrogativa exclusiva das entidades políticas federativas, e não dos particulares que executem, com
inequívoco intuito lucrativo, serviços públicos mediante concessão ou delegação, devidamente
remunerados.
Letra c: Errada: O Supremo Tribunal Federal no julgamento da Tese 0721 (RE789218) afirmou que “são
inconstitucionais a instituição e a cobrança de taxas por emissão ou remessa de carnês/guias de
recolhimento de tributos” ao argumento que em tais situações não se faz presente a regra-matriz de
incidência das taxas já que não há qualquer prestação de serviços em relação ao sujeito passivo já que em
tais casos a emissão os remessa de carnês/guias de recolhimento de tributos é atividade de interesse
exclusivo da administração tributária já que fazem parte do próprio procedimento de constituição definitiva
do crédito tributário já que representam a sua perfectibilização na forma do art. 145 do CTN.
Letra D: Certa. De fato, ao julgar o tema/tese 0884 (RE928902) o Supremo Tribunal Federal entendeu os
bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial -
PAR, criado pela Lei 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, a, da
Constituição Federal.
Letra E. Errada. A imunidade recíproca é de natureza subjetiva, sendo uma prerrogativa apegada
diretamente às pessoas políticas, por essa razão o Supremo Tribunal Federal ao julgar o tema/tese 437 (RE
601720) entendeu que “incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a
pessoa jurídica de direito privado, devedora do tributo” pois em sendo a posse uma dos fatos geradores do
IPTU (CTN, art. 32) conforme definido na legislação local (STJ, Sum 399) em havendo a cessão da posse para
particular, que não goza da imunidade do art. 150, VI, “a”, da Constituição, este será contribuindo do tributo;
Gabarito: D
Questão 3. Uma criança de 02 anos de idade no que diz respeito à capacidade tributária passiva prevista
no Código Tributário Nacional
a) possui plena capacidade tributária.
b) possui capacidade tributária restrita, por se tratar de menor absolutamente incapaz.
c) possui capacidade tributária relativa até completar 16 (dezesseis) anos de idade.
d) possui capacidade tributária relativa até completar 18 (dezoito) anos de idade.
e) somente pode ser imputada em conjunto com seu representante legal
Comentários
Letra A: Correta. No direito tributário o plano de validade dos atos independe da efetiva capacidade civil da
pessoa natural ou regular constituição da pessoa jurídica, por isso, na forma do art. 126 do CTN, mesmo os
fatos geradores praticados por absolutamente incapazes produzem plenamente seus efeitos tributários:
III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade
econômica ou profissional.
Letra B: Errada. Como dito acima a capacidade civil não é requisito para o nascimento da obrigação tributária,
que nasce independente de capacidade civil do sujeito passivo.
Letra C: Errada. A capacidade como dito acima a capacidade civil não é requisito para o nascimento da
obrigação tributária, que nasce independente de capacidade civil do sujeito passivo.
Letra D: Errada. Como dito acima a capacidade civil não é requisito para o nascimento da obrigação tributária,
que nasce independente de capacidade civil do sujeito passivo.
Letra e: Errada. Como dito acima a capacidade civil não é requisito para o nascimento da obrigação tributária,
que nasce independente de capacidade civil do sujeito passivo e a da presença de seu representante legal
nos atos.
Gabarito: A
Comentários
a) Os planos intermunicipais de resíduos sólidos são elaborados pelos municípios, estando incorreta
alternativa.
b) A alternativa está correta, com base no art. 19, §3º, I da Lei nº 12.305/2010.
c) O número máximo de habitantes do município deve ser 20.000 (art. 19, §2º, da Lei nº 12.305/2010).
e) A inexistência do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não obsta a elaboração, a
implementação ou a operacionalização do plano de gerenciamento de resíduos sólidos (art. 21, §2º, da Lei
nº 12.305/2010).
Gabarito: B
Questão 2. No âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos, não estão legalmente obrigados a
estruturar e implementar sistemas de logística reversa, os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes de:
a) Produtos eletrônicos.
b) Pilhas e baterias.
c) Pneus.
d) Lâmpadas.
e) Óleos de cozinha
Comentários
O único produto não previsto no rolo do art. 33 da Lei nº 12.305/2010 é o óleo de cozinha, sendo dispensada
a implementação de sistemas de logística reversa neste caso.
Gabarito: E
Comentários
Nos termos do art. 2º, §2º, da Lei nº 12.305/2010, a assertiva I está incorreta, vez que o referido diploma
não se aplica aos resíduos sólidos radioativos.
Está incorreta a assertiva II, vez que o art. 9º, da Lei nº 12.305/2010, estabelece que deve ser observada a
seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos
sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
Também está incorreta a assertiva III, sendo a referida lei aplicável às pessoas físicas (art. 1º, §1º).
Gabarito: D
Questão 4. (FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) Márcia adquiriu um apartamento da construtora Felizes
S/A, ainda na fase de construção. Entregue o apartamento e passados 03 meses, os azulejos de sua cozinha
começam a cair e ela nota algumas rachaduras na parede. Neste mesmo período, sua mãe é internada e
Márcia somente entra em contato com a construtora para reclamar 08 meses após a constatação dos
defeitos. Nesse caso,
a) Márcia poderá requerer a reforma do apartamento, mas não terá direito à indenização.
b) decaiu o direito de Márcia de reclamar nos termos do art. 26 do CDC, mas terá direito à indenização.
c) a empresa tem o dever de resolver o problema em 30 dias, sob pena de rescisão do contrato.
d) Márcia poderá optar pela devolução do seu dinheiro e perdas e danos ou pela reforma no bem.
e) o direito de Márcia, com relação aos vícios, decaiu e não há direito de indenização.
Comentários
A alternativa B está correta, pois, muito embora tenha transcorrido o prazo decadencial de 90 dias para
Márcia reclamar do vício, previsto no art. 26 do CDC, nada obsta que ela ajuíze ação indenizatória, conforme
entendimento do STJ: “(...)Sendo assim, o prazo decadencial previsto no art. 26 do CDC se relaciona ao
período de que dispõe o consumidor para exigir em juízo alguma das alternativas que lhe são conferidas
pelos arts. 18, § 1º, e 20, caput do mesmo diploma legal, não se confundindo com o prazo prescricional a
que se sujeita o consumidor para pleitear indenização decorrente da má-execução do contrato. E, à falta de
prazo específico no CDC que regule a hipótese de inadimplemento contratual – o prazo quinquenal disposto
no art. 27 é exclusivo para as hipóteses de fato do produto ou do serviço – entende-se que deve ser aplicado
o prazo geral decenal do art. 205 do CC/02.” (REsp 1.534.831-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel.
Acd. Min. Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 20/02/2018, DJe 02/03/2018. Informativo 620 do STJ)
Gabarito: B
Questão 5. (CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) No que se refere a responsabilidade por vício
do serviço, legitimidade ativa para a propositura de ações coletivas, cláusulas abusivas, prescrição e
decadência, assinale a opção correta, com base no CDC e na jurisprudência do STJ.
a) Associação de defesa de interesses de consumidores possui legitimidade ativa para ajuizar ação civil
pública contra seguradora operadora do seguro DPVAT, a fim de buscar a condenação de indenizar vítimas
de danos pessoais ocorridos com veículos automotores.
b) O furto de joias que sejam objetos de penhor constitui falha do serviço prestado pela instituição financeira,
e não mero inadimplemento contratual, devendo incidir o prazo prescricional de cinco anos para o
ajuizamento das competentes ações de indenização, conforme previsto no CDC.
c) Desde que destacada, será válida cláusula contratual de prestação de serviços de cartão de crédito que
autorize o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores com outras entidades financeiras,
ainda que não seja dada ao cliente opção de discordar desse compartilhamento.
d) O saque indevido de numerário em conta-corrente mantida por correntista em determinado banco
configura dano moral in re ipsa ao direito do correntista à segurança dos valores lá depositados ou aplicados.
e) A reclamação obstativa da decadência feita verbalmente pelo consumidor para protestar vícios do produto
não tem validade.
Comentários
A alternativa A está incorreta, segundo posição do STJ: “Associação com fins específicos de proteção ao
consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar
interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT.” (REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd.
Min. Marco Aurélio Bellizze, por maioria, julgado em 13/12/2017, DJe 05/02/2018. Informativo 618 STJ.)
A alternativa B está correta, conforme entendimento do STJ: “Contrato de mútuo garantido por penhor de
joias subtraídas na constância do contrato. Falha no serviço. Ação de indenização. Prescrição quinquenal.
Art. 27 do CDC. As pretensões indenizatórias decorrentes do furto de joias, objeto de penhor em instituição
financeira, prescrevem em 5 (cinco) anos, de acordo com o disposto no art. 27 do CDC.” (REsp 1.369.579-PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe 23/11/2017)
A alternativa C está incorreta, de acordo com decisão do STJ: “Ação civil pública. Cartão de crédito. Cláusulas
abusivas. Compartilhamento de dados pessoais. Necessidade de opção por sua negativa. Desrespeito aos
princípios da transparência e confiança. É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de
serviços de cartão de crédito que autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores com
outras entidades financeiras ou mantenedoras de cadastros positivos e negativos de consumidores, sem que
seja dada opção de discordar daquele compartilhamento.” (REsp 1.348.532-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
por unanimidade, julgado em 10/10/2017, DJe 30/11/2017.)
A alternativa D está incorreta, segundo STJ: “Ação de indenização por danos morais. Saque indevido de
numerário na conta corrente do autor. Ressarcimento dos valores pela instituição bancária. Ausência de
dano moral in re ipsa. O saque indevido de numerário em conta corrente, reconhecido e devolvido pela
instituição financeira dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral in re ipsa.” (REsp
1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 07/11/2017, DJe 13/11/2017)
A alternativa E está incorreta, conforme decisão do STJ: “Ação redibitória. Reclamação que obsta a
decadência. Forma documental ou verbal. Admissão. Comprovação pelo consumidor. A reclamação obstativa
da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC pode ser feita documentalmente ou verbalmente.” (REsp
1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe 30/10/2017)
Gabarito: B
Comentários
Letra A. Incorreta. Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade,
com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
Letra B. Incorreta. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do
produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
Letra C. Incorreta. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
Letra D. Correta. Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade,
com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente
e à sua escolha:
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de
indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela
reparação prevista nesta e nas seções anteriores.
Gabarito: D
Comentários
O item I está correto. Tanto conexão quanto continência podem ser suscitadas pelas partes ou reconhecidas
de ofício pelo juiz. Por ser de interesse público que os feitos conexos tenham decisões harmonizadas
(pacificação social) o juiz poderá reconhecer conexão ou continência de ofício. As partes podem suscitar a
conexão ou a continência até a sentença, pois, uma vez prolatada, não haverá mais possibilidade da reunião
de processos, nos termos do art. 55, §1° do CPC e da Súmula 232 do STJ.
O item II está correto. Nos termos do art. 59 do CPC, havendo conexão e continência e podendo ocorrer a
reunião das demandas, as causas serão reunidas no juízo prevento que, segundo o CPC/15, é aquele em que
primeiro tiver havido o registro ou registro e a distribuição (juízo prevento).
O item III está correto. Em regra, a ação coletiva atrai para si a individual. Há, contudo, algumas hipóteses
de exceção à regra da reunião de processos, que podem ser por impossibilidade ou inoportunidade da
reunião processual: a reunião causar prorrogação de competência absoluta; a reunião dificultar à pessoa
lesada o acesso à Justiça; os processos estiverem em estágios muito distantes; quando importar na reunião
excessiva de processos.
Resposta: alternativa a
Questão 2. O NCPC superou o entendimento da Súmula 345 do STJ, que prevê o pagamento de honorários
pela Fazenda Pública em execuções individuais de processo coletivo.
Comentários
A previsão do art. 85, §7º do CPC (trazido acima) gerou discussão acerca do entendimento trazido pela
Súmula 345 (também trazida acima), de modo a questionar se o entendimento permaneceria o mesmo ou
estaria superado.
A Corte Especial do STJ admitiu três Recursos Especiais para julgamento pelo rito dos recursos repetitivos,
com o objetivo de definir tese sobre a aplicabilidade da Súmula 345 diante da superveniência do artigo 85,
parágrafo 7º, do CPC, determinando a suspensão, em todo território nacional, os processos individuais ou
coletivos que discutam o assunto.
O entendimento após os julgamentos foi de que o art. 85, § 7º do CPC não afasta a aplicação da Súmula 345.
(REsp 1.648.238-RS - Tema 973)
Tese firmada
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na Súmula 345
do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos individuais de
cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos
em litisconsórcio.
Resposta: Falso
Comentários
O item III está errado. Nos termos do art. 22, §4° do EOAB, para que haja a retenção é imprescindível a
previsão contratual, uma vez que o contrato pactuado entre o sindicato e o advogado não vincula os filiados
substituídos, tendo em vista a ausência de relação jurídica contratual entre estes e o advogado.
Resposta: alternativa b
Comentários
A alternativa a está incorreta. Não existe qualquer previsão sobre prazo prescricional de ação civil pública
nos diplomas que compõem o núcleo do microssistema da tutela coletiva (LACP e CDC), impondo apenas o
art. 27 do CDC prazo prescricional de 5 anos para a pretensão de reparação de danos causados por fato do
produto ou serviço.
A alternativa b está incorreta. Nos termos do art. 21 da LAP, o prazo prescricional para a propositura de ação
popular é de 5 (cinco) anos.
A alternativa c está correta. Ante a ausência de previsão normativa específica formaram-se três correntes
sobre o tema.
A alternativa d está incorreta. O atual entendimento da 3ª Turma do STJ é pela superação do entendimento
da 2ª corrente, decidindo que o prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às
relações de consumo.
Resposta: alternativa c
Questão 5. Dada sua natureza, a tutela do patrimônio público é comum a todas as espécies de ação
coletiva, podendo se dar por ação popular, ação civil pública e outras. Com base nesta ideia, assinale a
alternativa que apresenta hipótese em que não é imprescritível a pretensão.
a) Ações para ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato dolosos tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa.
b) Ação civil pública para reparação de danos ambientais
c) Ação coletiva de consumo
d) Ações de improbidade administrativa.
Comentários
[...] 3.O texto constitucional é expresso (art. 37, § 5º, CRFB) ao prever que a lei estabelecerá os
prazos de prescrição para ilícitos na esfera cível ou penal, aqui entendidas em sentido amplo, que
gerem prejuízo ao erário e sejam praticados por qualquer agente. 4. A Constituição, no mesmo
dispositivo (art. 37, § 5º, CRFB) decota de tal comando para o Legislador as ações cíveis de
ressarcimento ao erário, tornando-as, assim, imprescritíveis. 5. São, portanto, imprescritíveis as
ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de
Improbidade Administrativa. [...]
(RE 852475, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, julgado em 08/08/2018, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-058
DIVULG 22-03-2019 PUBLIC 25-03-2019)
A alternativa b está correta. O STJ entende que "é imprescritível a pretensão reparatória de danos
ambientais, na esteira de reiterada jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça". (REsp 1559396/MG)
A alternativa c está correta. Ao propor que o prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular
não se aplica às relações de consumo, a 3ª Turma do STJ mostrou uma tendência ao reconhecimento da
imprescritibilidade destas ações. (REsp 1736091/PE)
A alternativa d está incorreta. O STJ entende ser 5 anos a pretensão para a reparação de danos fundada em
ações de improbidade administrativa. (AgRgno AREsp 768.400)
Resposta: alternativa d
Questão 6. Sobre a decadência em sede de direito processual coletivo, analise os seguintes itens:
I- O prazo para impetrar Mandado de Segurança coletivo é de natureza decadencial.
II- Se o marco final do prazo para impetrar Mandado de Segurança for em dia não útil, deve-se
obrigatoriamente fazê-lo em data anterior, sob risco de perda do direito.
III- Segundo entendimento do STJ, ao perder o prazo de 1 (um) ano sem habilitação para a execução
individual lastreada em sentença coletiva, decai o direito à indenização.
É errado aquilo que se afirma em:
a) I e II
b) II e III
c) I, II e III
d) Nenhum
Comentários
O item I está certo. Nos termos do art. 23 da Lei do Mandado de Segurança, o direito de requerê-lo extingue
em 120 (cento e vinte) dias, não havendo diferença entre MS coletivo ou individual. De maneira semelhante,
a Súmula 632 do STF reconhece o prazo como decadencial.
O item II está errado. Se o marco final do prazo do MS terminar em sábado, domingo ou feriado, em se
tratando de prazo de natureza decadencial, deveria o impetrante deveria impetrar o MS até sexta-feira.
Contudo, o STJ flexibiliza esse prazo, entendendo que deverá haver prorrogação do prazo decadencial de
120 dias para o primeiro dia útil seguinte ao vencimento. (MS 14.828/DF)
O item III está errado. O transcurso do prazo de um ano não importa em prejuízo aos indivíduos, uma vez
que eles podem propor as execuções individuais dentro do prazo prescricional de 5 anos, conforme
entendimento do STJ. (REsp 1273643/PR)
Resposta: alternativa b
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2
Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Direito Processual Civil 2
Direito Processual Penal 2
Direito Civil 1
Direito da Criança e do Adolescente 1
Direito eleitoral 1
Vamos lá!
Comentários
Na oportunidade, ficou vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou procedente o pedido formulado na
ADPF para fulminar o inquérito. Segundo o ministro, o inquérito resultou de ato individual do presidente do
STF e não passou pelo crivo do colegiado. Além disso, o relator do inquérito foi escolhido sem a observância
do sistema democrático de distribuição. Ademais, a portaria foi editada com base no art. 43 do RISTF. Ocorre
que a Constituição Federal de 1988, ao consagrar sistema acusatório, NÃO recepcionou o referido artigo do
RISTF. Pontuou que, em Direito, o meio justifica o fim, jamais o fim justifica o meio utilizado.
Antes do advento da CF/88 existia no Brasil o processo judicialiforme nos casos de contravenções penais
(CPP, art. 26), homicídio culposo e lesões corporais culposas, hipóteses em que o próprio juiz podia dar início
ao processo. O artigo 129, inciso I, da Constituição Federal outorgou ao Ministério Público a exclusividade da
propositura da ação penal pública, extinguindo a possibilidade de o juiz dar início a qualquer processo penal
ex officio.
Ora, se esse processo judicialiforme — a possibilidade de a ação pública ser exercida por Portaria baixada
pelo delegado ou juiz (ação penal de ofício no caso das contravenções penais e crimes de homicídio ou lesão
corporal culposos - art. 1º da Lei n. 4.611/65) — não recepcionado pela CF/88 (o art. 26 do CPP foi
tacitamente revogado), não haveria como se assentar a constitucionalidade do art. 43 do RISTF.
Por sinal, o sistema acusatório é certamente uma evolução humanitária em relação ao inquisitivo. Nele não
apenas há publicidade (o procedimento é escrito), como há separação entre as funções de acusar, defender
e julgar (o é juiz imparcial), sendo as partes (acusação e defesa) tratadas com relativa igualdade (há privilégios
justificáveis: in dubio pro reo e direito de a defesa falar sempre após a acusação).
É possível citar ainda o juiz natural, ou melhor, o Juízo natural (não se trata da pessoa física do juiz, mas do
órgão jurisdicional competente, que deve ser ocupado por quem de direito), referindo-se aqui àquele
previamente estabelecido em lei. Ficam vedados os tribunais de exceção (CF, art. 5º, XXXVII), que são aqueles
constituídos posteriormente ao fato, direcionados a julgá-lo (ex: Tribunal de Nuremberg).
RÉGUA de correção:
COMPOSIÇÃO DA
QUESTÃO FUNDAMENTO
NOTA
Teor do voto vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou procedente
Voto vencido 1/3
o pedido formulado na ADPF para fulminar o inquérito.
Sistema Há separação entre as funções de acusar, defender e julgar (o é juiz
1/3
Acusatório imparcial).
Juiz Natural Vedação aos tribunais de exceção (CF, art. 5º, XXXVII). 1/3
Questão 2. João foi condenado por crime. O magistrado de primeiro grau, ao condenar João, concedeu-
lhe o direito de recorrer em liberdade, mas aplicou uma série de medidas restritivas. Ou seja, substituiu a
prisão preventiva por medidas diversas. Na sentença, o juiz deixou claro que qualquer descumprimento
seria imediatamente convertido em prisão.
Em segunda instância, sem avaliar se os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal estavam
presentes, o tribunal determinou a execução antecipada da pena, pois, à época, o Supremo Tribunal Federal
ainda entendia ser possível a execução provisória.
A defesa de João impetrou habeas corpus no STF pedindo a liberdade imediata do condenado.
Discorra sobre a melhor resolução do caso, abordando as possibilidades existentes.
Comentários
Segundo uma primeira corrente, deve ser concedida a ordem para assegurar ao paciente a liberdade até a
preclusão maior da condenação (trânsito em julgado). É essa a posição, por exemplo, dos Ministros Marco
Aurélio e Ricardo Lewandowski.
Porém, tem prevalecido posição diversa no STF, no sentido de que a liberação de réu condenado em segunda
instância não é automática, sendo for o caso cabendo reanálise dos requisitos da preventiva pelo Tribunal
ad quo (HC 175405/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em
17.12.2019).
Se o tribunal de origem não examinou a necessidade de manutenção das medidas cautelares ou mesmo de
decretação de prisão preventiva porque havia a possibilidade da execução provisória àquele tempo, tal
reanálise é medida necessária em virtude da alteração de posicionamento do STF, principalmente para
crimes graves, com violência ou grave ameaça, e aqueles em que a primeira instância havia determinado
restrições.
Assim, cabe o mero retorno dos autos à origem para que o tribunal analise eventual necessidade de prisão
preventiva ou a aplicação de medidas cautelares diversas. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. HC 174875/MG, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/12/2019.
RÉGUA de correção:
COMPOSIÇÃO DA
QUESTÃO FUNDAMENTO
NOTA
Minoritária É o caso de concessão de HC para liberação imediata. 30%
Majoritária É o caso de devolução do feito à origem 40%
A reanálise é medida necessária em virtude da alteração de
Fundamentos 30%
posicionamento do STF.
Comentários
Diante disto, surge a preocupação com a “captura” da agência por agentes regulados, em virtude de seu
poder econômico, fazendo com que o ente regulador passe a atuar em favor dos interesses desses agentes.
A teoria da captura nada mais é, portanto, que o exercício de influência dos agentes econômicos regulados
sobre a agência reguladora, que, em decorrência do poder econômico daquele, passa a atuar em seu favor,
beneficiando-os em detrimento da sociedade.
Os principais instrumentos para evitar a captura são a quarentena de saída, a participação popular na tomada
de decisões e no controle dos atos da agência, a transparência do processo regulatório, com a divulgação
das informações importantes, a aprovação da indicação do dirigente pelo Poder Legislativo, dentre outros.
Além disso, também há uma preocupação quanto à influência política sobre os atos e decisões da agência,
uma vez que a atuação dessa entidade deve ser pautada exclusivamente em critérios técnicos e não políticos.
Quanto ao primeiro instrumento, trata-se da aprovação do dirigente, indicado pelo Chefe do Executivo, pelo
Poder Legislativo. Neste caso, após a indicação do indivíduo a assumir o cargo, o indicado passará por uma
sabatina no órgão legislativo indicado na lei (normalmente o Senado Federal, se a agência for federal), que
aprovará ou não a sua nomeação.
É um instrumento apto, em tese, a garantir que a indicação seja técnica e não política.
Quanto à estabilidade reforçada dos dirigentes, a lei de criação da agência reguladora prevê que o mandato
do dirigente será por prazo determinado, estabelecido na lei, não havendo possibilidade de sua exoneração
ad nutum, ao contrário do que ocorre com os dirigentes das demais autarquias, muito embora se trate de
cargo público em comissão.
Além disso, em regra, o mandato do dirigente não coincidirá com o mandato do Chefe do Poder Executivo.
Pode até ser o mesmo prazo (4 anos), mas os mandatos terminarão em datas diferentes.
Por este motivo, o dirigente da agência reguladora somente poderá perder o cargo por: i) condenação
criminal transitada em julgado; ii) processo administrativo disciplinar (por falta funcional prevista em lei); e
iii) renúncia.
Já com relação à quarentena de saída, instrumento importante para o combate da captura, consiste em um
prazo, a ser estabelecido na lei, em que o dirigente da agência reguladora estará impedido de atuar no
setor regulado. Neste período, o ex-dirigente ficará vinculado à agência, recebendo a respectiva
remuneração.
O prazo será estabelecido na lei criadora da agência. Há exemplos, na legislação federal, em que o prazo é
de 6 (seis) meses e 4 (quatro) meses.
Por fim, com relação à ausência de instância revisora dos atos e decisões da agência, trata-se de
instrumento que busca garantir que a agência reguladora dê a última palavra (na esfera administrativa)
nos conflitos entre os entes regulados e nas decisões em geral proferidas em processos administrativos de
matéria do setor regulado.
Quanto às agências reguladoras, as leis criadoras não estabelecem expressamente a possibilidade de recurso
hierárquico impróprio. Neste sentido, a doutrina é controvertida quanto à possibilidade de manejo do
recurso.
A primeira corrente entende ser sempre possível o recurso hierárquico impróprio, tendo em vista o exercício
do controle finalístico da Administração direta sobre a indireta. Essa corrente é minoritária e podemos dizer
que está superada pelos motivos já expostos.
A segunda corrente aduz que os recursos hierárquicos impróprios somente podem ser admitidos quando
houver expressa disposição na lei, tendo em vista o regime especial das autarquias que lhe confere maior
autonomia em relação à Administração direta em questões técnicas.
A terceira corrente, intermediária em relação às anteriores, entende ser possível o recurso hierárquico
impróprio apenas se a decisão da agência reguladora for flagrantemente ilegal ou que violem as políticas
públicas setoriais de competência da Administração direta.
Deve prevalecer o entendimento de que, quando se tratar de decisões eminentemente técnicas, em que
a Administração direta não possui expertise necessária para se manifestar a respeito da matéria, não é
cabível qualquer tipo de revisão da decisão de última instância da agência reguladora, sendo desta a última
palavra em questões técnicas.
COMPOSIÇÃO
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO DA NOTA DA
QUESTÃO
Exercício de influência dos agentes econômicos regulados
sobre a agência reguladora, que, em decorrência do poder
a) Teoria da captura 40%
econômico daquele, passa a atuar em seu favor,
beneficiando-os em detrimento da sociedade.
a) Nomeação do dirigente aprovada pelo Poder
Legislativo;
b) Indicação de três b) Estabilidade reforçada dos dirigentes (mandato por
instrumentos de autonomia prazo determinado); 20%
da agência reguladora. c) Quarentena de saída;
d) Ausência de instância revisora dos atos e decisões
(ausência de recurso hierárquico impróprio).
c) Conceito e características
dos três instrumentos Conforme comentários. 40%
indicados.
Questão 2. Diferencie os dois grandes sistemas de controle da atuação administrativa, indicando qual é o
adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Comentários
Os sistemas de controle da Administração são os regimes adotados pelo Estado para a correção dos atos
administrativos ilegais ou ilegítimos praticados pelo Poder Público. Com efeito, em uma República, a
execução de atividades estatais pressupõe algum tipo de controle, até mesmo porque o administrador
público não é o autêntico titular do interesse público, mas, sim, a sociedade.
Dois são os principais sistemas de controle que surgiram nos ordenamentos jurídicos: o inglês (ou sistema
de jurisdição única) e o francês (ou sistema do contencioso administrativo).
O sistema do contencioso administrativo, acolhido na França, sujeita os atos ilícitos praticados pela
Administração Pública a uma jurisdição especial e diversa do Poder Judiciário, formada por tribunais de
natureza administrativa. Busca-se concretizar, ao máximo, o princípio da separação dos poderes, que, levado
a limites, não admite controle judicial dos atos da Administração Pública.
✓ A jurisdição comum é integrada por órgãos do Poder Judiciário, legitimados a analisar os atos
submetidos à sua apreciação que não digam respeito à atuação da Administração Pública.
Por outro lado, o sistema de jurisdição una ou única, originário da Inglaterra e transposto para diversos
países, como Estados Unidos da América, Bélgica, México e Brasil, sujeita todos os litígios ao Poder Judiciário,
envolvam ou não a Administração Pública. Só os órgãos jurisdicionais possuem competência para proferir
decisões definitivas, com força de coisa julgada material.
Não há vedação à resolução de conflitos na esfera administrativa, mas tais decisões não possuem o caráter
de definitividade, podendo ser levadas à apreciação final do Poder Judiciário.
O Brasil, na época colonial, conheceu ambos os tipos de jurisdição (a una e a dúplice, do contencioso
administrativo). Com a instauração da República, o Brasil adotou de uma vez por todas o sistema de
jurisdição única, tipicamente inglês, em que há controle judicial dos atos administrativos (CF/1891, art. 606).
O texto constitucional vigente manteve o sistema inglês de jurisdição una, consagrando como garantia
fundamental do cidadão a inafastabilidade da jurisdição, ao prescrever no art. 5º, XXXV, que “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
anos, em 01/03/2020, assistido por sua mãe, ajuizou uma ação indenizatória, por danos morais, contra o
motorista displicente, que lhe tolheu o direito de conhecer o pai. Em preliminar de mérito, o motorista
alegou prescrição, ao argumento de que a pretensão de reparação civil perece no prazo de 3 anos previsto
no art. 206, §3, V, do Código Civil. Subsidiariamente, requer a aplicação ao caso da regra prescricional geral
de 10 anos prevista no art. 205 do Código Civil. Pergunta-se: o caso é de prescrição ou de decadência? A
defesa apresentada merece ser acolhida?
Comentários
O Código Civil diferenciou de maneira clara a prescrição e a decadência. Associou a prescrição às ações
condenatórias, aquelas que são veículo do exercício de direitos subjetivos, carregando pretensões pessoais.
A prescrição, assim, faz o contraponto a deveres, obrigações e responsabilidades.
Já a decadência está associada a ações constitutivas, que são instrumento de direitos potestativos, já que
eles veiculam uma situação de poder - sujeição. Os direitos potestativos são insusceptíveis de violação, uma
vez que não estão vinculados a ideia de dever, obrigação ou responsabilidade, mas de submissão da parte
contrária, que fica sujeita a um poder formativo.
No caso colocado para análise, o evento morte atinge um direito da personalidade do infante, que é de ter
os genitores em sua companhia, o que evidentemente tem uma repercussão moral. A ação ajuizada,
portanto, desafia prazo prescricional.
Violado o direito, nasce para o seu titular uma pretensão (art. 189, do Código Civil). A contagem do prazo
prescricional tem início com o surgimento da pretensão, portanto com a prática do ilícito. Essa é a regra geral
do sistema.
Contudo, o curso desse prazo prescricional pode ser impedido, suspenso ou interrompido. Fala-se em
impedimento, quando o prazo não começa a correr. A suspensão designa a simples parada no transcurso do
prazo. Nos dois casos, o prazo continua a correr de onde parou. Já na interrupção, o transcurso do prazo
para e depois retoma sua contagem do início.
No caso do problema, não corre a prescrição contra o infante, enquanto ele for absolutamente incapaz (art.
198, I, do Código Civil). Por este motivo, a pretensão deduzida em juízo não está prescrita.
O caso seria regido, de qualquer maneira, pela regra do art. 206, §3, V, do Código Civil, que prevê o prazo de
3 anos e não pela regra geral prevista no art. 205 do Código Civil, que prevê o prazo de 10 anos.
CPC). Ao fazê-lo, nosso Código concebe a Justiça Civil dispondo não apenas de um único meio para
resolução do conflito – uma única “porta” que deve necessariamente ser aberta pela parte interessada.
Pelo contrário, nosso Código adota um sistema de “Justiça Multiportas” que viabiliza diferentes técnicas
para solução de conflitos – com especial ênfase na conciliação e na mediação.” (MARINONI, Luiz
Guilherme. ARENHART, Sergio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil: teoria do processo
civil, volume 1. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 139) “
Partindo do fragmento de texto apresentado, que tem caráter unicamente motivador, discorra sobre a teoria
do conflito e os sistemas não judiciais de resolução de litígios. Ao elaborar seu texto você deverá:
a) Conceituar e explicar a teoria do conflito.
b) Explique os sistemas não judiciais de resolução de litígios e os caracterize;
c) Indicar e explicar pelo menos três princípios orientadores da atuação do mediador/conciliador.
Comentários
1) No processo moderno, não basta a simples aplicação da lei ao caso concreto para que os escopos (jurídico,
político e social) da jurisdição se realizem, o juiz deve encontrar e concretizar norma geral e abstrata em
respeito aos valores da Constituição Federal e dos Direitos Humanos buscando a efetiva pacificação social
por meio, dentro dos instrumentos processuais que lhe são outorgados, a efetiva solução do conflito levado
ao Judiciário. Mas para que possa o judiciário resolver efetivamente conflitos necessita do instrumental
teórico, que é dado pela teoria do conflito.
Pois bem, partindo, em síntese, dos principais doutrinadores sobre a teoria do conflito, se pode defini-lo
como sendo uma crise no relacionamento entre indivíduos, afinal o ser humano é por natureza um ser social,
mantendo constantes relações (interações) afetivas, professionais ou institucionais, entretanto nem sempre
essas interações estão alheias à pontos de divergência, já que cada indivíduo possui características pessoais,
sociais e profissionais próprias, que moldam as experiências de cada indivíduo e é justamente essa diferença
de experiências que pode causar questões a serem solucionadas geralmente quando um dos indivíduos
deseja que outra pessoas aja de acordo com os seus desejos ou suas concepções e está se recusa a faze-lo.
Perceba-se que caso essa diferença de concepções seja resolvida pelas próprias partes, por meio de diálogo,
não haverá controvérsia a ser resolvida por uma terceira pessoa (Estado-Juiz), assim, mesmo que
desconfortável, a situação restaria resolvida pelo próprio diálogo, contudo, inviabilizado (por qualquer
motivo) esse diálogo as partes buscarão um terceiro elemento para resolver essa controvérsia, isto é, no
conceito de Carnelutti, estaremos diante de uma lide. A Resolução 125 do Conselho Nacional do Justiça (CNJ)
optou por abordar a teoria do conflito e o próprio conflito de forma construtiva, no sentido de que ele deve
ser tratado como um meio de (auto)conhecimento, de amadurecimento e de aproximação dos indivíduos,
na medida em que venha a ser conduzido e gerenciados por meio de técnicas adequadas, especialmente
buscando a construção de um sistema multiportas por meio do qual seja possível gerenciar os conflitos e
solucioná-los pelos mecanismos de resolução mais aderentes e adequados à crise de direito material
subjacente.
2) O novo Código de Processo Civil valoriza os Meios Alternativos de Resolução de Conflitos, também
chamados ADRs (Alternative Dispute Resolution), tanto que existem vários dispositivos que a incentivam,
como, por exemplo: Art. 3º, §2º, Art. 3º, § 3º, Art. 139, V, Art. 154, VI, Art. 165, Art. 221, § único, Art. 334,
Art. 334, §5º, Art. 381, II, Art. 515, II e II , Art. 515, §2º, Art. 725, VIII, Art. 932, I; Além das previsões citadas,
é interessante mencionar os seguintes sistemas não judiciais de resolução de litígios:
b) MEDIAÇÃO: Há intervenção de um terceiro que se põe no conflito para auxiliar as partes a chegarem à
autocomposição. Ressalte-se que o mediador não decide, apenas estimula a autocomposição.
3) Na forma do art. 166 do Código de Processo Civil, a mediação e a conciliação serão regidos por princípios
próprios, podendo ser destacados os seguintes:
Confidencialidade: O princípio é referido tanto pela Resolução 125/10 do CNJ (art. 1º),
como pelo CPC (art. 166) e a lei de mediação (Lei 13.140/15, arts. 2º, VII, 14 e 30), além de
outros importantes diplomas internacionais (Diretiva nº 2008/52/CE do Parlamento Europeu,
art. 7º) e implica na circunstância de que as informações utilizadas nessas sessões não possam
ser utilizadas no referido processo judicial (CPC, art. 166, §1º) e em outros, isso permite que
as partes se sintam mais à vontade para estabelecer um diálogo aberto. O Enunciado 56 da
ENFAM, em observância ao princípio da confidencialidade, estabelece que:
"nas atas das sessões de conciliação e mediação, somente serão registradas as informações
expressamente autorizadas por todas as partes"
Decisão informada, segundo o qual, o mediador deve prestar esclarecimentos claros e suficientes para as
partes sobre as circunstâncias fáticas e jurídicas que envolvam cada uma de suas decisões ao longo de toda
a mediação, sempre preservando a sua imparcialidade, que também é princípio fundamental de sua atuação.
Imparcialidade, que implica na necessidade de que conciliadores e mediadores deverão ser imparciais,
ou seja, neutros com a situação apresentada pelas partes envolvidas. Não por outra razão aplicam-se aos
conciliadores e mediadores (CPC, art. 148, II) as hipóteses de suspeição (CPC, art. 145) e impedimento (CPC,
art. 144), acrescentando o CPC regras específicas para o controle da imparcialidade dos mediadores e
conciliadores (CPC, arts. 167, §5º, 170, 172 e 173, II)
Questão 2. Lúcio Cornélio Sula ajuizou ação anulatória de negócio jurídico referente a instrumento de
confissão de dívida firmado por Cneu Papírio Carbão afirmando a ocorrência de negócio jurídico simulado.
A referida ação foi distribuída em 05/05/2020. Na data de 06/06/2020 Cneu Papírio Carbão ajuizou ação
de cobrança contra Lúcio Cornélio Sula exigindo o cumprimento do referido instrumento. Por decisão do
Juiz da causa os feitos foram reunidos para julgamento conjunto. Em tal situação mostra-se correta a
conduta adotada pelo magistrado? Justifique a sua resposta:
Comentários
A continência tem previsão no art. 56 do CPC: “dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando
houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange
o das demais”, ante a exigência de identidade (diferente da conexão onde se exige comunhão) de parte e
pedido, parte da doutrina identifica a continência como “litispendência parcial” (RMS 24.196/ES, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2007, DJ 18/02/2008, p. 46).
Como leciona Humberto: “A relação é de continente para conteúdo, de modo que todos os elementos da
causa menor se fazem também presentes na maior. Envolve a continência, pois, os três elementos da lide:
sujeitos, pedido e causa petendi.”
Ante a exigência de identidade de pedidos, não se pode deixar de considerar que a continência é uma forma
qualificada de conexão. Sobre o tema, Fredie Didier Jr. destaca que: "(...) O conceito de continência,
curiosamente, está contido no conceito de conexão, pois para que haja continência é necessária a
identidade de causa de pedir, e se isso ocorre já é causa de conexão; a continência é exemplo de conexão,
sem qualquer tratamento jurídico diferenciado, razão pela qual a partir de agora só nos referiremos à
conexão, como gênero."
Na continência há identidade de pedidos, mas um deles tem uma amplitude maior, englobando os das
demais ações, como é o caso de duas ações de usucapião sobre o mesmo imóvel, contudo, uma abrangendo
parte deste e outra limitada a parcela da área.
Exemplo clássico de continência é a hipótese em que o mesmo credor ajuíza duas ações contra o mesmo
devedor: na primeira cobra algumas prestações vencidas e, na posterior, reclama o total da dívida,
englobando o objeto da primeira.
Pois bem, dito isso temos de discorrer que verificada a continência, para que se possa identificar o efeito se
deve analisar a precedência em relação à ação mais ampla (continente):
a) Se ação continente for precedente, o processo relativo à ação contida será extinto sem resolução de
mérito (art. 57, 1ª parte), reconhecendo aqui o CPC a hipótese de litispendência parcial, sendo o fundamento
da extinção do art. 485, V;
b) Se a ação a contida for precedente os autores serão reunidos para julgamento conjunto (art. 57, in fine).
Na situação narrada na questão, se percebe que a ação de Sula (anulatória) tem pedido mais amplo, já que
a validade do negócio jurídico é pressuposto para a sua exigência, já que somente se pode exigir negócio
válido, assim, a ação continente foi precedente.
E em sendo a ação continente precedente seria caso não de reunião dos processos para julgamento conjunto
mas sim de extinção do processo sem julgamento do mérito, ante a existência de litispendência parcial.
Comentários
A) O Código Penal prevê duas espécies de medidas de segurança: a) detentiva, consistente na internação em
hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e; b) restritiva, que é a sujeição do agente a tratamento
ambulatorial.
B) Se, durante a execução da pena, o condenado passar a sofrer de doença mental, poderá o juiz substituir
a pena por medida de segurança, devendo ser observado o tempo de cumprimento da pena privativa de
liberdade fixada na sentença condenatória (STJ – HC 249790/MG). Havendo recuperação da saúde mental,
o condenado deverá voltar a cumprir a pena.
C) O Superior Tribunal de Justiça entende que as medidas de segurança se submetem ao regime da prescrição
penal, e a contagem será regulada pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime (STJ –
RHC 30915).
COMPOSIÇÃO
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO DA NOTA DA
QUESTÃO
a) quanto às espécies de medidas de
Detentiva e restritiva. 30%
segurança.
b) quanto à aplicação da medida de
É possível (STJ – HC 249790/MG). 35%
segurança durante a execução penal.
A contagem será regulada pelo máximo da
c) quanto à prescrição das medidas de
pena privativa de liberdade cominada ao 35%
segurança.
crime (STJ – RHC 30915).
Questão 2. valendo-se de novidades tecnológicas e da crise econômica causada pela Pandemia, Armando
decide montar um esquema de pirâmida financeira por meio da criptomoeda bitcoin. De forma bem
primária e pouco engenhosa, logo teve seu esquema de "pirâmide financeira" descoberto e denunciado
por alguns dos participantes que perderam todo o dinheiro. Ao ser denunciado pelo Ministério Público
estadual, seu advogado, em preliminar de resposta à acusação, requereu a declaração de incompetência
aboluta da justiça estadual para processar e julgar o eventual esquema.
Velendo-se da atual jurisprudência do STF e do STJ sobre o tema, indaga-se:
a) Como o STF trata essa questão em seu enunciado jurisprudencial específico?
b) Qual é o posicionamento consolidado do STJ a respeito do tema?
Comentários
a) Súmula 498 do STF: Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento
dos crimes contra a economia popular.
b) Informativo n. 673: A Terceira Seção do STJ já se pronunciou no sentido de que a captação de recursos
decorrente de "pirâmide financeira" não se enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual o
deslocamento do feito para a Justiça Federal se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de
divisas ou de lavagem de dinheiro em detrimento de bens e serviços ou interesse da União. Registre-se que
o entendimento da Terceira Seção harmoniza-se com julgados da Quinta e da Sexta Turmas do STJ que
tipificaram condutas análogas às descritas no presente conflito como crime contra a economia popular.No
caso analisado, o juízo estadual declinou de sua competência para a Justiça Federal, entendendo que se
trataria de um crime contra o Sistema Financeiro Nacional, uma vez que se investiga um grupo de
investimentos em criptomoedas ('bitcoin') e que, na verdade, se trataria de pirâmide financeira.No entanto,
ao declinar da competência, o Juízo Estadual deixou de verificar a prática, em tese, de crime contra a
economia popular, cuja apuração compete à Justiça Estadual, nos termos da Súmula n. 498/STF, bem como
não demonstrou especificidades do caso que revelassem conduta típica praticada em prejuízo a bens,
serviços ou interesse da União.Assim, ausentes elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou
lavagem de dinheiro em detrimento de interesses da União, os autos devem permanecer na Justiça Estadual.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA
a) Como o STF trata essa Súmula 498 do STF: Compete à Justiça dos Estados, em
questão em seu enunciado ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes
50%
jurisprudencial específico? contra a economia popular.
Informativo n. 673: A Terceira Seção do STJ já se
pronunciou no sentido de que a captação de recursos
b) Qual é o decorrente de "pirâmide financeira" não se enquadra no
posicionamento conceito de atividade financeira, razão pela qual o
consolidado do STJ a deslocamento do feito para a Justiça Federal se justifica 50%
respeito do tema? apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou
de lavagem de dinheiro em detrimento de bens e serviços
ou interesse da União.
Questão 3. Conceitue, exemplifique, estabeleça a previsão legal e explique sobre a consequência das
causas absolutamente independentes e relativamente independentes.
Comentários
Nos comentários, aproveito e deixo um resumo sobre o tema, que já permite uma resposta completa! Vamos
lá!
As concausas (também podem ser chamadas de causas!) são a junção de causas para a produção de um
resultado ou evento. Nesse caso, busca-se definir, no caso concreto, o que influenciou para que o resultado
ocorresse como ocorreu (Teoria da Conditio Sine Qua Non). Deve-se perquirir, portanto, se a causa rompe
ou não com o nexo de causalidade da conduta, caso em que ela poderá ser considerada como absolutamente
independente ou relativamente independente.
As causas absolutamente independentes rompem o nexo causal, pois não estão vinculadas à conduta do
agente. Elas podem ser:
Já as causas relativamente independentes somente produzirão o resultado, caso conjugadas com a conduta
do agente. Elas originam-se na conduta do autor, podendo ou não romper o nexo de causalidade. Elas podem
ser:
Tício quer matar Caio, sabendo Mévio, senhor já de idade, é Tício quer matar Caio e o
que ele é hemofílico. Tício então surpreendido por susto dado por atropela. Caio, no entanto, não
efetua um golpe de faca contra Tício. No exato momento do morre no momento, sendo
Caio, em região não letal, vindo susto, Mévio teve um ataque socorrido para um hospital. A
este a morrer não em razão da cardiáco. Mévio morreu. enfermaria em que Caio estava
facada, mas sim em razão da internado pega fogo e ele vem a
hemorragia provocada. A perícia feita constata que Mévio morrer em virtude da inalação da
morreu em razão do ataque fumaça provocada pelo incêndio.
Percebam que não há cardíaco, no entanto
rompimento do nexo de demonstrou-se que a conduta de Aqui, o incêndio não pode ser
causalidade, já que Tício tinha Tício contribuiu para o evento considerado como um
conhecimento da condição de morte. desdobramento normal da
saúde de Caio. E a condição de conduta de Tício. Nesse caso, há a
Caio é preexistente à ação de Da mesma forma que o exemplo adoção EXCEPCIONAL da Teoria
Tício. anterior, se tirarmos o susto, a da Causalidade Adequada e é a
morte não teria ocorrido, razão única que possui previsão legal
Se utilizarmos a Teoria da pela qual o susto provocado por (art. 13, §1º, do CP).
Equivalência dos Antecedentes, Tício é causa da morte de Mévio.
complementada pelo processo de Se, por outro lado, Caio morre
eliminação hipotética, chegamos durante uma cirurgia para curar o
à conclusão de que a facada de ferimento, Tício responderá pelo
Tício é causa da morte de Caio. crime de homicídio, já que a
cirurgia após um disparo de arma
de fogo é um desdobramento
natural da conduta inicial de Tício.
Comentários
participar dos atos do processo, escolhendo, inclusive, não comparecer ao seu interrogatório ou, ainda que
compareça, exercer o seu direito ao silêncio.
Em contrapartida, não pode o juiz afastar do acusado o exercício do direito de autodefesa, sob pena de
nulidade absoluta.
Conclui-se que, embora o exercício da autodefesa do réu tenha caráter facultativo, deve ser concedida pelo
juiz a oportunidade de que a exerça. Não tendo o réu interesse em promover sua autodefesa, deverá ser
determinado pelo juiz o prosseguimento do feito, que se desenvolverá apenas com a apresentação da defesa
técnica, não sendo a presença do réu indispensável ao deslinde processual. Vejamos o Código de Processo
Penal:
Embora exista tal previsão legal, o entendimento predominante, segundo o STF, é de que o magistrado não
pode determinar a condução do acusado para que seja realizado seu interrogatório, uma vez que tal atitude
viola o direito que ele tem de não produzir prova contra si mesmo, renunciando à autodefesa a ele conferida.
O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a arguição de
descumprimento de preceito fundamental, para pronunciar a não recepção da expressão “para
o interrogatório”, constante do art. 260 do CPP, e declarar a incompatibilidade com a
Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de ilicitude das
provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. O Tribunal destacou, ainda, que
esta decisão não desconstitui interrogatórios realizados até a data do presente julgamento,
mesmo que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para tal ato. Vencidos,
parcialmente, o Ministro Alexandre de Moraes, nos termos de seu voto, o Ministro Edson Fachin,
nos termos de seu voto, no que foi acompanhado pelos Ministros Roberto Barroso, Luiz Fux e
Cármen Lúcia (Presidente). Plenário, 14.6.2018 (ADPF 444, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 14/06/2018)
A testemunha, por sua vez, que tenha sido regularmente intimada, que não comparece ao ato e nem
apresente justificativa quanto à impossibilidade de comparecimento, pode ser conduzida coercitivamente,
nos termos da disposição do artigo 218.
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado,
o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida
por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
Registre-se que à testemunha, em princípio, não se cogita de direito ao silêncio ou contra a autoincriminação,
daí a possibilidade de sua condução coercitiva.
Comentários
a) Efeito obstativo. Bastante singelo, parte da doutrina nem faz referência a ele. A interposição de recurso
obsta, impede a preclusão temporal e/ou o trânsito em julgado da decisão recorrida até o julgamento dessa
impugnação.
b) Efeito devolutivo. É o efeito mais elementar, dizendo respeito à ‘devolução’ da matéria impugnada, de
regra ao juízo ad quem, para reanálise. Costuma-se dizer que o efeito devolutivo opera a regra tantum
devolutum quantum appellatum, ou seja, que a amplitude da matéria a ser devolvida para reapreciação é,
geralmente, delimitada no corpo do próprio recurso, pelas razões.
Importante ressaltar que essa limitação da matéria deve evidente observância aos princípios que norteiam
o processo penal brasileiro, mormente o sistema recursal, como os princípios da reformatio in mellius e da
vedação à reformatio in pejus. Dessa forma, ainda que não seja objeto do recurso interposto, poderá o juízo
ad quem apreciar ex officio questões que representem possível melhora na situação do acusado (favor rei)
Não se olvide, todavia, da exceção retratada pela Súmula 713 do STF, no âmbito de apelação contra decisões
do júri:
O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição.
Pela via inversa, e em virtude dos mesmos princípios, não poderá o juízo ad quem acolher nulidade contra o
acusado que não tenha sido arguida pelo Ministério Público em seu recurso. Aqui há incidência da regra
tantum devolutum quantum appellatum, ao menos quanto a matérias que sejam prejudiciais à situação do
réu, como se pode perceber do teor da Súmula 160 do STF, in verbis:
É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
c) Efeito suspensivo. Essa espécie de efeito, quando presente (depende de lei), acarreta a suspensão da
eficácia da decisão recorrida; ou seja, não poderá ela ser executada até que seja julgado o respectivo recurso.
Segundo a doutrina, a bem da verdade, o efeito suspensivo não advém da interposição do recurso, mas da
própria previsão legal do cabimento de recurso dotado desse efeito contra a decisão proferida. Em outras
palavras: se é cabível recurso com efeito suspensivo contra determinada decisão, o decisum já ‘nascerá’ com
a eficácia suspensa, que irá perdurar, acaso interposto o recurso, até o seu julgamento; ou, ao menos, até o
decurso in albis do prazo recursal, i.e., sem a sua interposição.
O efeito suspensivo é excepcional e apenas incidirá se houver expressa previsão legal nesse sentido, não
podendo ser presumido.
d) Efeito regressivo, iterativo ou diferido. Refere-se à possibilidade de o juiz prolator da decisão atacada,
em sede de recurso em sentido estrito – RESE (art. 589 do CPP), carta testemunhável (art. 643 do CPP) ou
agravo em execução (que possui o mesmo rito do RESE), realizar juízo de retratação, após o recebimento do
meio impugnatório, reformando parcial ou integralmente o decisum vergastado, ou mantendo-o em sua
inteireza.
e) Efeito expansivo ou extensivo. Existem situações em que a decisão proferida no recurso interposto em
favor de um réu tutela também o interesse de outro acusado (que não recorreu) – essencialmente quando
o objeto do recurso não seja de caráter pessoal. Na eventualidade de provimento de recurso interposto por
um dos acusados do mesmo crime, os seus efeitos se estenderão aos demais, ainda que não tenham
recorrido, contanto que se encontrem em idêntica situação jurídica, objetiva; por isso a denominação “efeito
expansivo ou extensivo”. Aliás, esse efeito advém do art. 580 do CPP, que dispõe:
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto
por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,
aproveitará aos outros.
f) Efeito translativo. Diz respeito à devolução integral da matéria não preclusa ao tribunal ad quem, que
poderá apreciá-la livremente a favor ou contra qualquer das partes. A doutrina elenca como única hipótese
de incidência do referido efeito o (impropriamente) denominado “recurso ex officio”, ou seja, as hipóteses
de reexame necessário ou remessa obrigatória (art. 574, I e II, e art. 746 do CPP).
g) Efeito substitutivo. A decisão proferida pelo juízo recursal, desde que conhecido ou recebido o recurso,
substitui a decisão atacada, pelo menos em relação à matéria objeto de impugnação. Tem previsão do Código
de Processo Civil:
Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver
sido objeto de recurso.
Comentários
a) (20 %) O recurso cabível ao caso descrito no enunciado é o de agravo em execução, previsto na Lei de
Execução Penal (Lei nº 7.210/84):
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.
b) (20 %) O prazo para ingressar com o recurso de agravo em execução é de 5 (cinco) dias conformee
entendimento sumulado pelo STF.
Súmula 700 do STF: É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da
execução penal.
c) (60 %) O recurso de agravo em execução não possui efeito suspensivo, de acordo com o art. 197 da Lei de
Execução Penal (Lei nº 7.210/84).
Não é cabível o manejo de mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo ao recurso de
agravo em execução por vedação expressa na Súmula 604 do STJ:
Súmula 604 - O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso
criminal interposto pelo Ministério Público. (Súmula 604, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
28/02/2018, DJe 05/03/2018)
Sugestão de resposta:
A) O enunciado descreve uma situação em que o Ministério Público recorre de decisão que concedeu
progressão de regime a João (que se encontravam cumprindo pena privativa de liberdade em regime
fechado), o recurso adequado, portanto, é o agravo em execução, previsto no art. 197 da Lei nº 7.210/84
(Lei de Execução Penal).
B) O prazo para interposição do recurso de agravo em execução contra decisão do juiz da execução penal,
de acordo com a jurisprudência do sumulada do STF, é de 5 dias.
C) De acordo com o art. 197 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal), o agravo em execução não possui
efeito suspensivo.
Quanto a possibilidade de manejo de mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo ao recurso de
agravo em execução interposto pelo Ministério Público, o STJ possui súmula no sentido de sua inviabilidade.
Dessa forma, não se admite a utilização de mandado de segurança para atribuir efeito suspensivo a recurso
criminal interposto pelo Ministério Público.
Questão 2. Em entrevista a um programa televisivo, um dos entrevistados disse que “os adolescentes
assumem o BO, porque não dá em nada”.
Na qualidade de membro do Ministério Público, responda de forma técnica se a pessoa adolescente pode
ter sua liberdade cerceada e, em caso positivo, qual o procedimento a ser seguido para tanto.
Comentários
ECA Art. 106 - Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
b) Formalização do flagrante de ato infracional (ECA art. 173): se for ato infracional com violência ou grave
ameaça à pessoa, o delegado deve lavrar auto de apreensão de adolescente (ECA art. 173, caput). Por outro
lado, em se tratando de ato infracional sem violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado pode lavrar: (i)
auto de apreensão de adolescente, ou (ii) boletim de ocorrência circunstanciada (ECA art. 173, parágrafo).
c) Destinação do adolescente (ECA art. 174): formalizado o flagrante, o delegado tem duas opções:
c.1) Liberação do adolescente para os pais ou responsável, sob compromisso de apresentação do infrator
ao MP (ECA art. 174, 1ª Parte): Nesta hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente,
cópia do auto de apreensão ou do BOC ao Ministério Público (ECA art. 176).
c.2) Não liberação do adolescente quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva
o mesmo permanecer sob internação para garantia da sua segurança ou da ordem pública (ECA art. 174, 2ª
Parte): Nessa hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente, o adolescente ao MP,
juntamente com cópia do auto de apreensão ou do BOC, ou, sendo impossível a apresentação imediata,
encaminhará o mesmo à entidade de atendimento (ECA art. 175, caput e §1º).
Caso não haja entidade de atendimento, o delegado poderá deixar o adolescente apreendido por até 24
horas, devendo este permanecer em repartição especializada para menores. Caso esta seja inexistente,
ficará em dependência comum separada da destinada aos maiores (ECA art. 175, §2º).
Noutro giro, caso o cerceamento da liberdade dê-se por ordem judicial, o infante deverá ser encaminhado
diretamente à autoridade judiciária (ECA art. 171).
Comentários
No que diz respeito às crianças menores de 10 anos, o artigo 75, parágrafo único, do ECA, expressamente
proíbe o seu ingresso e permanência no local de apresentação ou exibição quando não acompanhadas de
seus pais ou responsáveis. O desrespeito a esta determinação legal importa em infração administrativa,
prevista no artigo 258 do ECA.
No que diz respeito especificamente à exibição dos filmes, importante verificar o que dispõe a Portaria
1.100/06, do Ministério da Justiça, sobre o assunto. Segundo o artigo 18 desta portaria, “a informação
detalhada sobre o conteúdo da diversão pública e sua respectiva faixa etária é meramente indicativa aos pais
e responsáveis que, no regular exercício de sua responsabilidade, podem decidir sobre o acesso de seus filhos,
tutelados ou curatelados a obras ou espetáculos cuja classificação indicativa seja superior a sua faixa etária”.
Desta forma, os pais ou responsáveis podem optar por permitir aos seus filhos acesso a tais exibições, desde
que conheçam as informações acerca da natureza da exibição e sua classificação indicativa.
Desde que o estabelecimento cumpra com todos esses requisitos, a exibição dos filmes às crianças e aos
adolescentes não representará qualquer infração às normas do ECA. Caso contrário, o estabelecimento
estará incorrendo na infração administrativa prevista no artigo 255 do ECA.
Em relação à venda de bebidas alcoólicas aos adolescentes, a conduta é tipificada como crime pelo artigo
243 do ECA, sujeitando o infrator a pena de 2 a 4 anos, e multa. A mesma conduta tipifica, ainda, infração
administrativa, conforme previsão do artigo 258-C do ECA, passível de aplicação de multa e de medida de
interdição do estabelecimento até o recolhimento da multa aplicada.
No dia 12.09.2016, julgando o processo de cassação, a Câmara dos Deputados condenou Eduardo Cunha por
quebra de decoro e decretou a perda de seus mandatos, o que lhe ocasionou, por força de previsão da LC
64/1990, situação de inelegibilidade.
Considerando que a cassação se deu no dia 12.09.2016, e considerando que a legislatura na qual Eduardo
Cunha estava investido se encerrou em 31.01.2019, responda, fundamentadamente, o que segue:
Nesse contexto, responda, fundamentadamente:
a) A perda do mandato parlamentar sob qualquer fundamento acarreta inelegibilidade?
b) Eduardo Cunha poderá se candidatar a Deputado novamente em 2026?
c) Se Eduardo Cunha tivesse renunciado ao mandato durante o curso do processo de cassação que tramitava
contra ele na Câmara, teria escapado da inelegibilidade?
Comentários
A questão passa pela compreensão do disposto no art. 1º, I, “b” e “k” da LC 64/1990.
Assim, a perda do mandato parlamentar só acarreta inelegibilidade se ocorrer com fundamento no art. 55, I
ou II da Constituição Federal ou equivalentes nas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas do Distrito Federal
e Municípios.
Eduardo Cunha não poderá se candidatar em 2026, pois a inelegibilidade perdura até 8 anos após o término
da legislatura. Considerando que a legislatura em curso quando ele foi cassado se encerrou 31.01.2019, ele
está inelegível até 31.01.2027.
Se ele tivesse renunciado ao mandato durante a tramitação do processo de cassação não escaparia da
inelegibilidade, pois a alínea “k” estabelece que, uma vez provocada a abertura de processo que pode
ocasionar a cassação de mandato, se o titular do mandato renunciar, ficará inelegível.
COMPOSIÇÃO
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO DA NOTA DA
QUESTÃO
a) A perda do mandato Não. Conforme previsto no art. 1º, I, “b” da LC 64/1990, a perda
parlamentar sob do mandato parlamentar só acarreta inelegibilidade se ocorrer
qualquer fundamento com fundamento no art. 55, I ou II da Constituição Federal ou 30%
acarreta equivalentes nas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas do
inelegibilidade? Distrito Federal e Municípios.
b) Eduardo Cunha Não, pois, conforme previsto no art. 1º, I, “b” da LC 64/1990, a
poderá se candidatar a inelegibilidade perdura até 8 anos após o término da legislatura. 40%
Deputado novamente Considerando que a legislatura em curso quando ele foi cassado
em 2026? se encerrou 31.01.2019, ele está inelegível até 31.01.2027.
c) Se Eduardo Cunha Não, ele não teria escapado da inelegibilidade.
tivesse renunciado ao Conforme previsto no art. 1º, I. “k” da LC 64/1990, uma vez
mandato durante o oferecida representação capaz de autorizar abertura de
curso do processo de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, 30%
cassação que tramitava a renúncia torna o renunciante inelegível.
contra ele na Câmara, Assim, se ele tivesse renunciado ao mandato durante a
teria escapado da tramitação do processo de cassação, já ficaria inelegível por
inelegibilidade?
força da alínea “k”.
Comentários
Ao contrário da obrigação tributária que nasce da subsunção do fato imponível (fato gerador in concreto) à
hipótese de incidência (fato gerador in abstracto) o crédito tributário somente passa a existir com a
realização do ato administrativo de lançamento.
Obrigação Crédito
Lançamento
tributária tributário
O lançamento possui dupla função jurídica é ato declaratório da existência da obrigação tributária e é ato
constitutivo do crédito tributário que somente passa a existir com a sua realização.
Efeitos retroativos
Obrigação
Declaratório à data do fato
Tributária
gerador (ex tunc)
Lançamento
Tendo em vista a natureza declaratória do lançamento no que diz respeito a existência da obrigação
tributária no que diz respeito à legislação aplicável a norma tributária (Art. 144), sem que se possa falar em
aplicação retroativa já que o lançamento declara o que já existi (obrigação tributária), determina a aplicação
da legislação vigente na data da concretização do fato gerado (fato imponível).
Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se
pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos lançados por períodos certos de tempo,
desde que a respectiva lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera
ocorrido.
Por essa natureza declaratória aplica-se a legislação vigente no momento da ocorrência do fato gerador,
ainda que modificada ou mesmo revogada. No caso da questão, deve ser observado que no direito das
sucessões vigora o princípio da saisine (CCB, art. 1.784) pelo qual no momento da abertura da sucessão, por
ficção jurídica, transmite-se a integralidade do patrimônio do de cujus aos seus sucessores, sendo, portanto,
esse o momento de ocorrência do fato gerador.
Assim, no caso narrado, observa-se que mesmo aplicar-se-á a legislação vigente no momento da abertura da
sucessão, independentemente de ser essa legislação mais benéfica ou mais gravosa, entendimento
sumulado pelo Supremo Tribunal Federal.
Súmula STF 112 - O Imposto de Transmissão causa mortis e devido pela alíquota vigente ao
tempo da abertura da sucessão.
Comentários
B) Tal princípio, previsto no art 6º, III, da Lei nº 12.305/2010 determina que sejam consideradas, na gestão
dos resíduos sólidos, as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
a) quanto ao princípio da ecoeficiência. Art. 6º, V, da Lei nº 12.305/2010. 35%
b) quanto ao princípio da visão sistêmica na
Art. 6º, III, da Lei nº 12.305/2010. 35%
gestão dos resíduos sólidos.
Comentários
Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos contratos de produtos de
que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei, em razão da idade do consumidor, somente
poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e os percentuais de
reajustes incidentes em cada uma delas, conforme normas expedidas pela ANS, ressalvado o
disposto no art. 35-E.
Parágrafo único. É vedada a variação a que alude o caput para consumidores com mais de
sessenta anos de idade, que participarem dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art.
1o, ou sucessores, há mais de dez anos.
Dessa forma, entendeu o STJ que a norma do art. 15, § 3º, da Lei nº 10.741/2003, que veda "a discriminação
do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade", apenas inibe o
reajuste que consubstanciar discriminação desproporcional ao idoso, ou seja, aquele sem pertinência alguma
com o incremento do risco assistencial acobertado pelo contrato.
A abusividade dos aumentos das mensalidades de plano de saúde por inserção do usuário em nova faixa de
risco, sobretudo de participantes idosos, deverá ser aferida em cada caso concreto. Tal reajuste será
adequado e razoável sempre que o percentual de majoração for justificado atuarialmente, a permitir a
continuidade contratual tanto de jovens quanto de idosos, bem como a sobrevivência do próprio fundo
mútuo e da operadora, que visa comumente o lucro, o qual não pode ser predatório, haja vista a natureza
da atividade econômica explorada: serviço público impróprio ou atividade privada regulamentada,
complementar, no caso, ao Serviço Único de Saúde (SUS), de responsabilidade do Estado.
Em suma, decidiu o STJ que o reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou familiar fundado na
mudança de faixa etária do beneficiário é válido desde que
Dessa forma, será inválida a cláusula, pois, embora expressamente prevista no contrato, impõe ao
consumidor percentual desarrazoado de 100% de aumento, onerando-o excessivamente.
Sendo reconhecida judicialmente a nulidade da cláusula, as parcelas vencidas e pagas em excesso estarão
sujeitas à prescrição de três anos, uma vez que se trata de hipótese de enriquecimento sem causa da
operadora do plano de saúde.
Todo aquele que recebeu o que não lhe era devido fica obrigado a restituir; obrigação que
incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição". A respeito do
tema, há julgados do STJ que, levando em consideração o enriquecimento sem causa até mais
como princípio do que como instituto, entendem que, diante da declaração judicial de ilegalidade
de cláusula contratual, torna-se cabível a devolução ou compensação dos valores pagos a tal
título, independentemente da comprovação de erro no pagamento. Diante de todas essas
ponderações, conclui-se que, em se tratando de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste
prevista em contrato de plano ou seguro de assistência à saúde, com a consequente repetição
do indébito, a ação ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, por isso, o prazo
prescricional aplicável é o trienal, previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002. REsp 1.361.182-RS,
Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado
em 10/8/2016, DJe 19/9/2016.
Comentários
Quanto ao objeto, o processo coletivo pode ser dividido em: i) Processo coletivo especial; e ii) Processo
coletivo comum.
i) Processo coletivo especial: é objeto de estudo do Direito Constitucional, se refere às ações que objetivam
o controle abstrato de constitucionalidade no Brasil
Tem como exemplos a ADI, a ADPF e a ADC, se dá esta classificação a partir da forma assumida
pelos efeitos erga omnes que lhes são característicos.
ii) Processo coletivo comum: este é o objeto, de fato, de estudo do Direito Processual Coletivo. Se presta às
ações para a tutela dos interesses metaindividuais que não se relacionam ao controle abstrato de
constitucionalidade.
São exemplos clássicos a Ação Civil Pública, a Ação Popular, a Ação de Improbidade
Administrativa, dentre outras.
Questão 2. O Ministério Público do Estado do Paraná propôs Ação Civil Pública em face da empresa JM
transportes Ltda. alegando que a grande movimentação de caminhões estava causando grandes
transtornos aos moradores do centro da cidade, uma vez que a fumaça estava deixando o ar com baixa
qualidade e o barulho estava atrapalhando a o bem estar sonoro. Em decorrência dos fatos pleiteou danos
morais coletivos em face dos danos ao meio ambiente (fumaça e barulho). Em sede de contestação, a
empresa alegou não há que se falar em danos ao meio ambiente decorrentes da simples atividade
exercida, além de inexistir possibilidade jurídica de pedido de danos morais coletivos.
Comentários
Inicialmente, em relação ao à agressão ao meio ambiente, importa dividi-lo nas cinco facetas existentes:
• Natural;
• Artificial;
• Cultural;
• Do trabalho;
• Patrimônio Genético.
Este é o tipo de meio ambiente mais conhecido, e geralmente é a ele que nos referimos quando dizemos que
é preciso promover a preservação do meio ambiente.
Também conhecido como meio ambiente físico, diz respeito à fauna e à flora, além dos recursos naturais
necessários à vida no planeta — como o ar, por exemplo.
Desta maneira, a emissão excessiva de fumaça por veículos automotores poderá sim configurar
poluição ao meio ambiente, devendo ser verificado o quantitativo da emissão no caso concreto.
O meio ambiente artificial diz respeito às cidades e tudo que faz parte delas, como os edifícios, os espaços
públicos e equipamentos utilizados como bem comum.
Desta forma, o barulho causado, se superior aos patamares aceitos em determinada localidade, podem
colocar em risco o bem estar das pessoas e configurar agressão ao meio ambiente artificial.
Em relação ao pedido de danos morais coletivos, este é possível, como se verifica na jurisprudência do STJ:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO MORAL COLETIVO. ALIENAÇÃO DE TERRENOS A
CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA EM LOTEAMENTO IRREGULAR. PUBLICIDADE ENGANOSA.
ORDENAMENTO URBANÍSTICO E DEFESA DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO.
CONCEPÇÃO OBJETIVA DO DANO EXTRAPATRIMONIAL TRANSINDIVIDUAL. 1. O dano moral
coletivo caracteriza-se pela prática de conduta antijurídica que, de forma absolutamente
injusta e intolerável, viola valores éticos essenciais da sociedade, implicando um dever de
reparação, que tem por finalidade prevenir novas condutas antissociais (função dissuasória),
punir o comportamento ilícito (função sancionatório-pedagógica) e reverter, em favor da
comunidade, o eventual proveito patrimonial obtido pelo ofensor (função compensatória
indireta). [...]
REsp 1539056/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
06/04/2021, DJe 18/05/2021)